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Heribert Boeder Pensar Logotectonicamente PDF
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PENSAR
LOGOTECTONICAMENTE1
Heribert Boeder
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Conferência pronunciada pelo autor por ocasião da sua jubilação na Universidade de Osnabrück, a 29 de
Novembro de 1996. O original alemão, intitulado Logotektonisch Denken, está publicado em Sapientia,
LIII, Buenos Aires, 1998, pp. 15-24.
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hermenêutica, sentenciou: a antiga Filosofia Primeira passou de vez. Ela cede lugar a
uma meditação que tem, em vez de um Fundamento Primeiro, um solo originário na
vida e na vivência pré-racionais. Que a razão conceptual seja diferente ao ter levado a
cabo as suas tarefas, tal permanece para a meditação moderna inexplicável – apesar da
intelecção nietzschiana de que todas as coisas grandes só por si mesmas perecem.
Se, por outro lado, permanecer traduzível a asseveração kantiana de que a razão
pura tem a ver com totalidades manifestas, então também aquém da sua arquitectónica,
ou seja, na modernidade, será válido que a meditação incide sobre totalidades. Estas são
história, mundo e linguagem, mas de tal modo que não podem ser interpretadas nem
como substância nem como sujeito. Estas três totalidades não são em si mesmas
quaisquer objectos – mesmo que elas se deixem objectivar. Não são da identidade de
algo, mas determinam-se como totalidades apenas na diferenciação umas das outras –
tal como Hesíodo diferenciou os reinos do habitar segundo o padrão do domínio.
Para reproduzir, por agora, apenas os cortes iniciais a partir dos quais a
modernidade se constituiu:
Em primeiro lugar, está a tentativa de Dilthey não de imitar, mas de simular a
Ciência Primeira.
A destinação originária repousa, enquanto mundana, no contexto vital dos
indivíduos; enquanto linguística, no contexto de significação do seu ser interpretado;
enquanto histórica, nos fados [Schicksalen] dos singulares e dos povos.
O pensar correspondente torna-se, por seu lado, histórico, na medida em que se
torna interior à sua vivência, aos seus impulsos, tomando, na meditação, uma
determinada direcção e abrindo voluntariamente o seu mundo.
Por fim, o pensar concretiza-se num entendimento configurado como linguagem,
o qual também anteriormente conseguia configurar como vivência aquilo que era
vivenciado.
É precisamente nessa base que a coisa do pensar é o objecto configurado como
linguagem nas expressões da vida vivenciada.
Historicamente, ele é na emancipação daquilo que valia anteriormente, através
das forças de progresso da sociedade. Isto num mundo do combate vital, do destruir e
criar de valores.
Passamos aqui por cima do empurrão da razão hermenêutica, cunhado por
Husserl e por Wittgenstein, para recordar, à partida, os seus vizinhos que meditam
“tecnicamente”. E isso na sua cunhagem por Frege.
A sua tradução da razão natural toma conta, em primeiro lugar, do pensar, uma
vez que ele está ameaçado de pensar não apenas com a linguagem, mas, antes disso,
dentro da linguagem. Ele só pode escapar da sua sedução numa linguagem acabada de
fórmulas da matemática logicizada e da sua escrita artificial na medida,
designadamente, em que no seu mundo os signos estão imediatamente referidos a
conteúdos – com a exclusão da mediação pelo representar e, assim, pela consciência.
O chamado signo do enunciado afirma a sua logicidade no juízo e no referir de
conteúdos que lhe é peculiar – já não segundo a diferenciação habitual de sujeito e
predicado, mas de função e argumento.
Este rompimento com a tradição gramatical demonstra a sua fecundidade
histórica na destinação recíproca de ciência logicizada e linguagem técnica.
A coisa do pensar artificializado encontra-se, em primeiro lugar, como histórica,
e isso numa crítica a toda a clarificação tradicional da natureza dos princípios
matemáticos. Juntamente com o conceito de número.
Para provar a sua génese, ele desenrola-se num mundo de objectos autónomos.
Partindo do conceito, pode-se de cada vez verificar que objecto é por ele abrangido. Só
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numa função é que ele se aguenta como objecto, e isso como o seu argumento. Na
medida em que sacia uma função, ele tem “um valor”.
Finalmente, a coisa compreendida linguisticamente: o pensamento afirmado no
enunciado é o seu sentido, o objecto assinalado nele é o seu significado.
Mas no que diz respeito à destinação sob a qual esta coisa está, ela é, enquanto
destinação compreendida à partida linguisticamente, o conteúdo da palavra
“verdadeiro”, tal como é dito conjuntamente em todos os enunciados. Nele, enuncia-se a
referência daquilo que afirma ao pensamento essencialmente objectivo. Deve decidir-se
aí o que vale um juízo unicamente em respeito à sua verdade, designadamente se ele é
verdadeiro ou falso.
Historicamente, a destinação vem a ser na medida em que ela corta com a versão
tradicional da verdade no sentido da adequação. Já a separação do conceito em relação à
representação lhe retirou o solo. Até uma definição está aqui excluída. A vida e a sua
vivência são sem verdade; e, com ela, toda a poesia, que só aparentemente fala em
enunciados afirmativos. Quão pouco trivial é este juízo, é o que se pode ler na arte da
modernidade.
Os objectos são, sem limitação, valores funcionais, e isso vale também, bem
entendido, quando o objecto é uma pessoa. Aqui, a destinação de Frege chega ao
mundo. Não há nada que se lhe possa furtar.
A meditação moderna sobre as ciências completa-se, no que ao seu mundo e à
sua história diz respeito, através de Schlick e de Kuhn. Em que vizinhança actua aí a
razão técnica, é o que, à partida, ressalta na posição marxiana.
Em primeiro lugar, aparece aí já não o objecto, mas a coisa. Em que mundo?
Isso é o que ela mostra enquanto mercadoria de determinado valor. No uso, ainda mais
na troca e sobretudo na compra, ele esconde a sua essência de ser trabalho dispendido.
O processo de troca das mercadorias no mercado põe em obra a linguagem do
calcular, as suas equações, como linguagem universal.
Contudo, aquilo que, em sentido último, aí movimenta é a venda e a compra da
mercadoria peculiar que é a força de trabalho ela mesma produtora de mercadorias. O
trabalhador assalariado está aí obrigado a exteriorizar esta sua essência.
A versão histórica da mercadoria revela a destinação sob a qual está a produção,
enquanto produção capitalista: a auto-valorização em que o capital se mantém, e isso
através da produção da mais-valia.
Ele torna-se construtor de mundo, na medida em que exorta à progressiva
divisão do trabalho e à cooperação crescente no processo de produção.
A linguagem que lhe é própria é o cálculo, o qual não apenas mantém em
marcha não só o processo de produção, mas o todo do seu processo de circulação.
Corresponde-lhe o pensar enquanto não meramente económico, mas
economizante. Um “discurso” [Rede], um logismov", sobre a universalidade concreta.
Depois, este pensar, enquanto histórico, é exortado a trazer à consciência a
oposição de classes.
Contudo, ele só chega à concreção mundana através de esta consciência ser
elaborada na forma de ciência e, só assim, fixar a crítica à forma da sociedade
previamente dominante, assim como o repensar o futuro do outro ser humano. Visando-
o, o pensamento marxiano vale para nós, juntamente com o de Nietzsche e o de
Heidegger, como uma formação da razão apocalíptica – desvelando o destino
[Geschick] do capital, da moral cristã e do ser técnico – numa regressão do fim, através
do meio até ao início da história do pensar ocidental.
A recordação das posições inaugurais da modernidade devia apenas salientar as
configurações dos momentos nos quais o nosso mundo, com um primeiro empurrão, se
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despediu da sua história. A respectiva completude destas figuras permite, pelo menos,
suspeitar: a meditação da modernidade fez a sua obra. E se é assim, volta a surgir a
pergunta: «So what?». O pensar ainda não alcançou a diferença que faz a actualidade;
ele permanece, à partida, apenas actualizador. A actualidade só se abre com a
desistência do pensar apocalíptico, tal como a cumpriu o pensar anárquico.
Este é responsável propriamente por suprimir os ajrcai não apenas no sentido
dos princípios metafísicos, mas também no sentido de qualquer domínio. Já as
manifestações correspondentes, mas sobretudo, antes de mais, a relação de Merleau-
Ponty, de Foucault e de Derrida à meditação nuclear da modernidade permite-nos falar
aqui da submodernidade. Ela constitui-se na medida em que também a versão moderna
do pensamento de uma diferenciação futura do homem em relação àquela que foi até
agora a sua essência se suprime passo a passo – seja através da transformação para a
sociedade comunista, seja através da particularização do senhor da terra, seja através da
singularização do mortal próprio do acontecimento de apropriação [ereignishafte
Vereinzelung des Sterblichen]. E com ela, o vestígio das mencionadas figuras da
sabedoria.
O empurrão que aí se exprime inaugura uma esfera que constitui as suas
diferenciações paradigmáticas na totalidade da linguagem. Assim, os respectivos termos
inaugurais são de determinação linguística. Para o compreender, é preciso reparar no
significado fundamental dos chamados “outros” na submodernidade.
Apresentemos aqui apenas a versão da sua primeira ratio através de Merleau-
Ponty. Ele traduz a meditação marxiana de regresso a uma filosofia e às suas questões
convencionais. Pois, para ele, as relações de produção tornam-se nas de comunicação,
relações de corpos que se encontram uns aos outros e são para si a partir daquilo que, de
cada vez, é um outro – não a partir de um eu inicial. Ou seja, que devem abrir-se não a
partir da inter-subjectividade, mas da “inter-corporeidade”. O outro que, à partida, se
exprime corporalmente encontra-se nos seus gestos. Os outros respectivos como que
expõem uns para os outros – no mais expressivo, numa conduta provocante. Não por
último dos corpos sexuados.
Ressalta aqui: com a linguagem corpórea submoderna, não é apenas a diferença
antiga entre a coisa e a imagem que se dissolve, mas também ainda entre a imagem
objectual e o chamado “objecto”. Para ela, a relação a um sujeito – até mesmo ao sujeito
das vivências – tornou-se inessencial. Na medida em que ambos os lados devem ser
compreendidos como um acto de fala, eles fazem parte de um campo homogéneo do
quotidiano da linguagem. Não apenas o discurso acerca do belo, mas até mesmo acerca
da obra de arte perde aí o seu significado diferenciador: pois ele tinha de se tornar num
discurso excludente. O desgaste daquilo que na modernidade é dito é aí esclarecido, o
mais vivamente possível, com a “reflection” de Roy Lichtenstein sobre o “Grito” de
Munch – a sátira, com o ruidoso bebé de um comic-strip.
No termo inaugural da primeira ratio, a comunicação entra em cena, em
primeiro lugar, em versão linguística, depois em versão histórica: todos os estratos do
sentido, sedimentado nos modos do comportamento, tendem a tornar-se liquefeitos e
porosos – ilimitados em expressões multiculturais. No solo da linguagem corpórea,
comum a todos, perdem-se – tal como no mercado mundial marxiano – as diferenças
históricas, e até a sua demarcação de formações pré-históricas e pós-históricas.
Finalmente, no que diz respeito ao singular, tal como a nossa história o
conheceu, ele está aqui já sempre de tal modo socializado que as prévias fronteiras fixas
com o eu puro – e assim também aquelas entre o meu e o não-meu – se tornam porosas.
Enquanto encarnado, o eu é descentrado, e isso de um modo tão decidido que é
originariamente a gente [Man] que percebe em mim.
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Sob que destinação está este a gente e o seu mundo? Submodernamente já não
sob a do capital, mas do chamado “social”. É então aqui também que o mal, no sentido
social, encontra o seu novo sítio: ser insocial é mau. Com a consequência de uma
retrospectiva da moral que a meditação nuclear da modernidade tinha despedido.
Em primeiro lugar, o social como exigência mundana – já não no sentido da
cooperação crescente no processo de produção, mas da vida pública [Öffentlichkeit] sem
barreiras das afecções da gente encarnada.
Compreendido linguisticamente, o social, e o seu dever-ser [Sollen], só se
mantém no discurso, de alcance mundial, da solidariedade da gente com os seus
semelhantes. Contudo, ela só encontra a sua eficácia peculiar na linguagem do protesto
de massas.
Finalmente, o social afirma-se na concreção histórica, e isso com a exigência de
eliminar qualquer circunscrição social e de deixar valorizar-se no ser predominante dos
outros, para os outros, pelos outros. Isso faz toda a diferença não apenas em relação à
liberdade de se formar da personalidade civil burguesa, mas também ainda em relação à
liberdade do capital de se valorizar no processo de produção.
No que diz respeito ao pensar correspondente, deve recordar-se antes de mais: a
perception e o seu traço fundamental “carnal” coincidiram no termo da coisa. É por isso
que o pensar consegue – diferentemente da existência encarnada – retirar-se
“reflectidamente” diante da sua coisa.
Isso, em primeiro lugar, com uma crítica provocada historicamente – não em si
mesma, mas à sua proveniência anti-social a partir do espírito da tradição cartesiana. É
também ainda na sua versão moderna, sobretudo husserliana, que ela quer ser elaborada.
É por isso que o pensar crítico tem de se comportar filosoficamente – de modo diferente
ao marxiano.
Depois, o pensar desenrola no significado mundano o seu traço fundamental
emancipador. Ele politiza-se numa permanente excitação. Só aparentemente na
prossecução do iluminismo anterior, na verdade a partir do desejo submoderno de uma
socialização integral das relações de comunicação.
Enquanto compreendido linguisticamente, este pensar preenche-se na chamada
criatividade do falar hodierno, tal como se pode ler, não em último lugar, nos produtos
de uma figura desregulada segundo cada perspectiva. Pois a linguagem falada é
retomada “deformativamente” na linguagem falante.
Este esboço da primeira ratio submoderna bastaria como testemunho da abertura
também de um pensamento que exclui, a partir de si, cada tectónica. Com Foucault e
Derrida, ele desenrola-se numa figura fechada – penetrando os contemporâneos, mesmo
ainda na sua resistência. Não é discutindo, mas apenas construindo, que a logotectónica
pode ir ao encontro do ataque ao logocentrismo do pensar ocidental.
A outra desta primeira dimensão da submodernidade desenrola-se no chamado
estruturalismo. Este descendente, o silêncio de Wittgenstein pode passar por cima da
meditação hermenêutica. Aquilo de que não se pode falar – isso já nem sequer se
considera com sentido. O termo da destinação é aqui não apenas de um significado em
desaparecimento, mas desaparecido. Assim, também as tentativas modernas de uma
Filosofia Primeira. O seu estatuto é assumido por uma nova Ciência Primeira, e
justamente – tal como a fundamentou Roman Jakobson – pela Linguística Geral.
Começa aqui a operar a referência simples de pensar e coisa.
O pensar configurado como linguagem determina-se, à partida, a partir da
diferenciação de selection e combination (remissão a equivalence e contiguity), depois a
partir dos factores e funções daquilo que é dito (centrada na message e na poetic
function), finalmente a partir do explicar meta-linguístico e de um dizer da message por
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causa dela mesma. Por outro lado, no que diz respeito à coisa deste pensar, ela brota «da
coisificação de uma mensagem poética e daquilo que a constitui» (Language in
Literature, Cambridge, Mass., 1987). Contudo, uma lida livre com tal coisa anuncia-se,
por um lado, na metonímia; por outro, na metáfora.
Esta ciência positiva traz consigo uma tematização da linguagem na sua
expansão para semiologia (Barthes), depois para a concreção de uma antropologia
estruturalista (Lévi-Strauss). Com ela, completa-se o esclarecimento submoderno da
relação entre o signo e o objecto.
A logotectónica abre ainda, no entanto, uma terceira dimensão dentro da
actualidade – apenas em vista da última contracção da sua ratio terminorum sobre o
pensar. E isto na chamada Filosofia Analítica.
Para compreender que diferença ela faz no todo da actualidade, ela deve, antes
de mais, ser separada daquela fase conclusiva da meditação hermenêutica, tal como foi
levada a cabo no essencial por Wittgenstein. Trata-se aqui não de uma continuação da
obra da razão “hermenêutica”, mas da tradução da razão “técnica” que a meditação
moderna transmitiu às ciências.
Na esfera que tem como sua tarefa peculiar já não a abertura do mundo, mas a
totalidade da linguagem, mostra-se nos temas da Filosofia Analítica um estranho andar
para trás, na medida em que aí surge, à partida, um interesse histórico que se junta, ao
contrário do que se passa com Kuhn, à filosofia anterior. Assim com Philosophy of
Mind de Ryle, e a sua crítica a Descartes, assim como também a Platão. Um segundo
empurrão, à partida dado por Austin, alcança um mundo do falar que remete o das
ciências para um segundo plano do interesse filosófico. Contudo, esta ordinary
language philosophy é finalmente, sobretudo por Dummett, abandonada em favor dos
esboços de Frege que já em Carnap e Quine tinham formado uma tradição.
A Filosofia Analítica já não se compreende como análise de sentido dos
enunciados científicos, mas como um empreendimento independente. Para falar como
Dummet: como uma analysis of the structure of thought (Thruth and Other Enigmas,
Worcester, 1978). Ainda ressaltando de processos de pensamento representados
psicologicamente, mas desligada da diferenciação rigorosa de Frege da linguagem
logicizada em relação à habitual. Contudo, qualquer coisa que seja dita pode-se
configurar segundo o padrão do logicismo. A ele está subjacente não apenas a
mencionada contracção da ratio de Frege, mas também uma deslocação inaparente para
os momentos do seu primeiro termo. A estrutura do pensar representada analiticamente
abre-se – diferentemente do pensamento de Frege – a uma philosophy of mind.
É aí que estaríamos. E onde? Numa terra de ninguém – também ainda para além
da articulação esboçada da submodernidade? Então – talvez in the middle of nowhere.
Não deveríamos finalmente falar da nossa própria coisa? Ou não temos nenhuma? Será
que temos a ver apenas com o edifício daquilo que já foi pensado? Se ele o for – onde
permanece o contributo para a discussão cultural analítica? Depois de já nada ter
contribuído para os resultados do pensar anárquico ou estruturalista.
Um pensamento que não tem nem peleja com uma coisa, nem sequer está sob
uma destinação. Que pobreza em comparação com as rationes também ainda da
modernidade, e até da submodernidade! Um pensamento cujo único trabalho é a
ejpochv, a conduta diante daquilo que se produziu pensando – numa progressão do
diferenciar que todavia se consuma. Será que esta aberta pobreza se deve diferenciar,
pelo menos, ainda da indigência dissimulada que cultiva na filosofia esta ou aquela
preferência?
Que indicação segue o nosso caminho? Aí apareceu, por fim, a contracção das
rationes submodernas no termo do pensar. Em que significado? Não como organon de
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Inglaterra se chama uma «house»: seja como for, não na caverna do homme sauvage
submoderno, do novo selvagem cuja infinita actualidade Lévi-Strauss reconheceu.
A partir do direito do diferenciar-se que se consuma no tudo da nossa história,
do nosso mundo, da nossa linguagem, ouvir a palavra das figuras da sabedoria. É aí que
a logotectónica tem a sua última tarefa. Uma tarefa inteiramente actual, designadamente
a de diferenciar a própria actualidade, na medida em que ela sobretudo reúne os
momentos linguísticos de uma figura epocal da sabedoria numa única ratio. Disso se
falou noutro lugar.
Montmorency, Connétable de France,
faz cunhar nos seus livros uma divisa,
pintando-a mesmo no soalho da sua biblioteca:
ajplanw'". Esta palavra grega diz: sem
errância – completamos: tomar o seu caminho. E ouvimos aí o conselho: não te percas
em nenhum caminho interminável. Menos que tudo por medo do erro. Se ele te atingir,
então, se porventura for possível, não como erro em algo, mas em tudo.
*
Agradeço ao meu amigo e colega Hélder Lourenço a disponibilidade generosa para comigo rever a
presente tradução.