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TEXTOS

FUNDAMENTAIS DE
FICÇÃO EM LÍNGUA
INGLESA

Márcia Costa Bonamin


UNIDADE 1
Elements of fiction
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os principais elementos da ficção.


„„ Apreender a importância dos elementos da ficção.
„„ Questionar os variados elementos da ficção quanto a sua funcionalidade.

Introdução
O que lhe vem a mente quando você ouve falar em textos de ficção? Será
que você associa a textos literários ou o tema lhe remete àqueles livros ou
filmes sobre mundos estranhos em um tempo futurístico? Bem, a ficção
engloba tudo isso, mas não somente. Ficção é uma história ou cenário
que é baseada na imaginação do autor, isto é, não é necessariamente
originada a partir de um fato.
Muitas vezes, os limites que separam fato e ficção são muito estreitos
e há muitos debates nesse sentido. Isso acontece, por exemplo, quando
existe uma adaptação de um fato real, digamos, a II Guerra Mundial, para
um livro ou filme. Desse modo, uma história fictícia é criada a partir de
elementos desse evento, seguidos de recriações de acontecimentos verí-
dicos que lhe imprimem um caráter dramático ou até mesmo romântico,
a fim de atingir a sensibilidade do leitor ou do espectador.
Neste capítulo, você irá aprender como identificar os elementos
principais necessários para a interpretação de obras de ficção em lingua
inglesa. Do mesmo modo, você irá compreender a importância desses
elementos para dar sentido à história e discutir a sua aplicabilidade a
partir da maneira como são elaborados e dos efeitos que causam em
sua audiência.
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Principais elementos de textos de ficção


Antes de abordarmos os elementos que fazem parte dos textos de ficção, convém
que fiquem claras algumas conceituações. Primeiramente, é importante que
você saiba a diferença entre textos literários (foco deste texto) e não literários.
Vale ressaltar a definição de Paul Valéry, citado por Todorov (2003,
p. 53), segundo o qual a literatura seria “[...] uma espécie de extensão e de
aplicação de certas propriedades da linguagem”. Dotada de caráter estético,
sua principal função seria entreter e sensibilizar o leitor. A literatura é ligada
à arte, frequentemente demandando maior esforço de compreensão por parte
do leitor, já que emprega uma linguagem subjetiva, palavras com múltiplos
sentidos e figuras de linguagem, recursos que possibilitam ao autor maior
autonomia criativa. Por sua vez, os textos não literários têm o propósito de
informar, apresentam linguagem mais objetiva e estão mais sujeitos à gramática
normativa. São, portanto, mais diretos, propiciando, assim, uma compreensão
mais imediata de sua audiência.
Cabe distinguir, também, textos ficcionais dos não ficcionais. Textos não
ficcionais, diferentemente dos ficcionais, têm primordialmente a função de
transmitir informações, pois estão calcados na realidade dos fatos. Usual-
mente lemos esses textos para conhecimento, para apreender novas ideias ou
a fim de entender o ponto de vista de alguém. Isso não ocorre com os textos
ficcionais, nos quais os autores podem subverter linguagem e realidade, como
veremos a seguir.

Textos ficcionais
Se analisarmos a etimologia (origem do significado) da palavra ficção, veremos
que ela é derivada do latim fictus, que significa “formar”. Entretanto, sob o
ponto de vista literário, o dicionário Oxford (FICTION, 2018, documento on-
-line) conceitua o termo como “literatura em forma de prosa, especialmente
romances que descrevem eventos imaginários e pessoas”.
A ficção é uma área da literatura que consiste em histórias, romances e
dramas baseados em histórias e personagens fictícios. Com esse intento, pode
tratar de questões relacionadas à vida social e política do ser humano, e tem
a possibilidade de extrapolar a lógica e apelar à imaginação.
Uma obra de ficção pode aumentar nossa adrenalina ao nos fazer imaginar
experiências impossíveis ou improváveis, cenários fantasiosos ou observações
sobre a condição humana. Certamente, essas obram demandam do leitor maior
envolvimento emocional e menor conexão com a realidade. Assim, os leitores
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esperam que a ficção reflita, de certo modo, o mundo real, sem, entretanto,
retratá-lo fielmente. É assim que livros baseados ou inspirados em fatos reais,
tais como A Night to Remember, de Walter Lord, que aborda o naufrágio do
navio Titanic, pode criar personagens, inventar diálogos e acrescentar eventos
que podem não ter acontecido exatamente como o que descreve o autor.
Muitas vezes, a interpretação subjetiva é requerida do leitor. Por exemplo,
o clássico da literatura Moby Dick, de Herman Melville, pode parecer, em
um primeiro momento, uma simples aventura de um homem caçando uma
baleia. Entretanto, em uma análise mais detalhada, veremos que o autor está
tratando de um tema universal, ou seja, da representação da batalha do homem
dominando a natureza ou até mesmo da luta entre o bem e o mal. Portanto,
visto que a ficção é indireta, ela requer um grau maior de interpretação se o
leitor quiser ir além do significado mais superficial da história.

Componentes dos textos de ficção


Enredo, espaço, personagens e ponto de vista (plot, setting, character, e point
of view) são os principais elementos utilizados pelos autores para desenvolver
uma história e seu tema (theme). Cada um desses componentes possui vários
outros subelementos, mas, inicialmente, abordaremos o tópico de modo abran-
gente, listando aqueles componentes que podemos identificar em qualquer
história de ficção.

Enredo (plot)

Este elemento se refere ao modo com que a ação ocorre na história, ou seja,
o desenrolar da ação. A partir do enredo podemos perceber algum tipo de
conflito (que pode ser externo, como uma guerra, por exemplo, ou interno,
como uma dúvida constante de algum personagem). Esse conflito deve chegar
ao seu clímax, geralmente a parte mais emocionante do livro, na qual o conflito
é resolvido e é dado um desfecho (resolução).

Espaço (setting)

Encontramos, normalmente dois tipos de espaço: o físico e o cronológico. O


físico se refere ao local em que a história se passa, por exemplo, numa ilha,
numa cidade, em outro planeta. O espaço cronológico também é importante,
situando a história em alguma extensão de tempo presente, passada ou futura.
O autor pode não deixar claro esse “onde” e “quando”, tornando o texto mais
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subjetivo e, ao mesmo tempo, mais abrangente ou universal. Aliás, subverter


a ordem é uma prerrogativa do autor.

Personagem (character)

O leitor se situa na história a partir da percepção das características de seus


personagens. São corajosos, independentes ou maus e covardes? Além disso,
podemos avaliá-los pelo modo como agem, como são descritos pelo narra-
dor, ou, talvez, levando tudo isso em consideração e tirando nossas próprias
conclusões.

Ponto de vista

O ponto de vista narrativo se refere ao modo pelo qual a história é contada.


Ele pode variar a partir da narração, dependendo da perspectiva adotada:
primeira ou terceira pessoa.
Os tipos mais comuns de narrador em primeira pessoa são:

„„ Narrador personagem, ou seja, faz parte da trama;


„„ Narrador protagonista, aquele que é personagem da história e, também,
seu narrador.

Já os tipos mais comuns de narrador em terceira pessoa são:

„„ Narrador observador, aquele que relata os eventos que acontecem no


decorrer da história e nos apresenta a partir de seu ponto de vista.
„„ Narrador onisciente, ou seja, aquele que, além de nos relatar os eventos,
conhece os pensamentos e os sentimentos dos personagens narrados.

A escolha do ângulo pelo qual a história é narrada fornece um direcio-


namento ao texto, podendo exercer maior influência no leitor, especialmente
quando o narrador também é personagem, ou menor, quando ele é observador.

Tema

Este elemento representa o porquê da história, ou seja, o assunto principal que


está sendo desenvolvido: é uma história de amor, fala sobre bruxas, figuras
extraterrestres? Qualquer tema, se bem explorado, pode aguçar a imaginação
do leitor.
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A Figura 1, a seguir, fornece um esquema desses elementos.

Figura 1. Elementos básicos constitutivos de obras de ficção.


Fonte: Adaptada de karawan/Shutterstock.com.

A importância dos elementos de textos


de ficção
Todos os gêneros, sejam literários ou não, têm características próprias tanto
do ponto de vista estrutural (as partes que o constituem) quanto dos aspectos
linguísticos (vocabulário, gramática). Paris et al. (2005) defenderam uma alta
correlação entre a conscientização da estrutura do texto e a compreensão em
qualquer faixa etária.
Os gêneros literários em geral, por serem elementos oriundos das mentes
férteis de seus autores, ainda que apresentem traços comuns, têm certa liberdade
expressiva, podendo variar a depender do estilo e da intencionalidade do autor.
Sejam romances, dramas ou poesias, cada qual tem a sua peculiaridade, mas
partilham características comuns.
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Dessa maneira, grande parte dos textos de ficção apresentam alguns com-
ponentes (enredo, espaço, personagens, ponto de vista, tema) que permitem, ao
criador da história, por um lado, desenvolvê-la a partir de certa lógica estrutural
e, por outro, possibilita ao leitor uma melhor fluidez na compreensão dos textos.
É preciso estar atento ao fato de que essa linha mestra que serve de guia
aos autores não tem a ver, na contemporaneidade, com aquele conceito de
mimesis de Aristóteles, que considerava a arte como técnica. Segundo Hoff
e Forli (2017, p. 39), a interpretação atual desse conceito aristotélico concebe
a arte como representação da realidade a partir da perspectiva e do estilo de
cada artista.
Outro conceito apontado por Hoff e Forli (2017) é a noção de verossimi-
lhança, que resulta em um “pacto ficcional”. Essa relação criada entre escritor
e leitor permite que este interprete eventos e personagens fantásticos, embora
não existentes no mundo real, tais como bruxos, animais e objetos falantes,
com valor de verdade naquela obra, eximindo o autor de ser um eventual
criador de “mentiras”.
Assim, as obras de ficção propiciam ao leitor a oportunidade de vivenciar
realidades paralelas, de despertar a sua imaginação, dar asas às suas fantasias
e incentivam a sua reflexão.
Para atingir tal objetivo, aliado aos recursos organizacionais, os autores
se utilizam de uma série de imagens e símbolos que desencadeiam respostas
emocionais e imagens mentais. As cores, principalmente, carregam muito
simbolismo a partir de associações que geralmente fazemos acerca delas.
No livro “Scarlet Letter”, de Nathaniel Hawthorne, a personagem principal,
Hester Pryne, após dar à luz a uma criança sem ter constituído uma família, é
condenada pela sociedade puritana da época a portar a letra vermelha “A” (de
adúltera) em suas vestimentas. O vermelho, que evoca emoções contrastantes
como paixão e vingança, é bem explorado na obra deste autor.
Dentre os vários gêneros, os livros infantis são os que mais se utilizam de
recursos imagéticos. Por exemplo, no livro “Branca de Neve” (Snow White),
dos irmãos Grimm, a personagem principal é descrita como com lábios “red
as blood”, cútis “white as snow” e cabelos “black as ebony”. Cada uma dessas
cores se coaduna com o desdobramento da história: vermelho (sofrimento,
raiva vs. amor); branco (pureza, ingenuidade) e preto (mal, morte).
Outro recurso bastante explorado em textos de ficção são as figuras de
linguagem, sempre com o objetivo de evocar sentimentos ou criar imagens
mentais nos leitores. Grandes filósofos da antiguidade já utilizavam esses
artifícios em suas obras e discursos. Segundo Silva (2009), Aristóteles, por
exemplo, já dava sentido à metáfora, definindo-a como “o transporte de uma
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coisa à outra”, e recorria especialmente à analogia, utilizando-a como recurso


retórico.
Existe uma grande variedade desses elementos figurativos, dentre os quais
podemos destacar:

„„ Metáfora: consiste em utilizar um termo com sentido diferente do usual.

As You Like It,


William Shakespeare

All the world’s a stage,


And all the men and women merely players;
They have their exits and their entrances.

Nessa obra de Shakespeare, o personagem Jaques está explicado ao duque


(Duke) que a vida é um palco em que as pessoas são meros personagens.
Embora ele não declare formalmente, fica implícita a ideia de que a vida
“parece” um palco.

„„ Metonímia: consiste em usar uma parte do todo para se referir ao todo.

The party preserved a dignified homogeneity, and assumed to itself the function
of representing the staid nobility of the countryside—East Egg condescending
to West Egg, and carefully on guard against its spectroscopic gayety. (“The
Great Gatsby”, de Scott Fitzgerald)

Nesse caso, Fitzgerald usa o nome de locais como “West Egg” e “East Egg”
para se referir às pessoas que ali vivem. No contexto da história, o narrador
está enfatizando a diferença de classe social entre as pessoas que moram em
uma área mais elegante da cidade, “East Egg”, comparada a outra de moradores
de classe média, “West Egg”.

„„ Personificação: Consiste em dar vida a seres inanimados ou irracionais,


atribuindo-lhes ações características dos seres humanos.

The Raven,
Edgar Allen Poe

But the Raven, sitting lonely on the placid bust, spoke only
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing farther then he uttered—not a feather then he fluttered—
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Till I scarcely more than muttered “Other friends have flown before—
On the morrow he will leave me, as my Hopes have flown before.”
Then the bird said “Nevermore”.

O corvo, pássaro maligno da poesia de Edgar Allen Poe, é um bom exemplo


de personificação. Esse animal fala e tem sentimentos, especialmente aqueles
ligados à solidão e à morte, misturados com nuances de mistério e sobrenatural.

„„ Hipérbole: consiste em exagerar um conceito com objetivo de


enfatizá-lo.
As I Walked One Evening,
W. H. Auden

I’ll love you, dear, I’ll love you


Till China and Africa meet,
And the river jumps over the mountain
And the salmon sing in the street,
I’ll love you till the ocean
Is folded and hung up to dry.

W. H. Auden utiliza essa figura de linguagem nesse poema para falar da


grandeza de seu sentimento, da profundidade desse grande amor.

„„ Paradoxo: consiste em utilizar palavras que carregam, no contexto,


um significado oposto ao seu sentido literal.

An Ideal Husband,
de Oscar Wilde

Lord Caversham:
I don’t know how you stand society. A lot of damned nobodies
talking about nothing.
Lord Arthur Goring:
I love talking about nothing, Father. It’s the only thing
I know anything about.

Portanto, pode-se perceber que, devido ao caráter subjetivo criado pela lin-
guagem e seus simbolismos, a interpretação dos textos pode variar a depender
da perspectiva, dos valores e interesses de cada um que os analise, tornando
o leitor, de certo modo, cocriador de determinada obra.
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O conhecimento da composição de textos de ficção se presta tanto àqueles


que tencionem interpretá-los quanto àqueles que pretendam elaborá-los.
Logicamente, para uma análise mais profunda, há necessidade de ter
conhecimento do panorama histórico, do estilo e de como a linguagem é
trabalhada pelo autor.
Para aqueles que queiram se iniciar na arte literária, escrevendo sua pri-
meira obra, não é suficiente ter somente uma boa ideia ou temática. Além de
muita inspiração, é primordial, para esses autores iniciantes, muita leitura das
obras de mestres, a fim de trazer estímulo para a sua composição artística.
Também é essencial que se apropriem das particularidades do gênero de ficção
escolhido (organização, linguagem), fornecendo à história seu próprio estilo,
instigando o leitor por meio dos vários recursos linguísticos e imagéticos
propiciados pela linguagem.
Um bom livro de ficção captura a atenção do leitor pela habilidade do
autor de desenvolver seu tema, de modo a entreter, surpreender, retratar ou
subverter a realidade. Em suma, a ficção tem o poder de evocar sentimentos
ou criar experiências que levem as pessoas a desenvolver seu senso crítico, a
refletir ou a simplesmente descobrir novos universos, enfim, fantasiar.

Gêneros de ficção
Gêneros são tipos de textos que apresentam características próprias tanto em sua
organização quanto no vocabulário utilizado.
De modo geral, a ficção é subdividida em vários gêneros literários a partir de catego-
rias mais amplas, que envolvem a apresentação de diferentes conflitos, personagens
e locais. São eles:
„„ Ficção histórica: retrata ou se baseia em situações ou personagens que fazem
parte da história.
„„ Ficção realística: eventos que ocorrem no presente, que podem, ou não, asse-
melhar-se à realidade.
„„ Ficção científica: muito semelhante à fantasia, mas difere no sentido de que há,
necessariamente, a apresentação de tecnológicas futurísticas, também incluindo
seres de outros mundos ou galáxias.
„„ Fantasia: envolve a criação de personagens, locais e situações mágicos ou míticos
que não podem ocorrer no mundo real.
„„ Mistério: abrange a tentativa de um ou mais personagens em resolver um mistério,
seja no presente, no passado ou no futuro.
„„ Contos populares: são histórias contadas ou recontadas a partir das gerações, tais
como fábulas ou contos de fada.
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Os elementos de ficção e sua funcionalidade


As obras de ficção, como resultado da engenhosa configuração de realidades
paralelas, podem desenrolar-se em uma diversidade de formatos: sejam con-
cisos, como poemas, contos, fábulas e short stories, ou mais extensos, como
novelas e romances. Há vários exemplos de livros com mais de 1000 páginas,
dentre os quais podemos citar o clássico “Guerra e Paz”, de Leo Tolstoy, que
relata, sob a perspectiva de cinco famílias russas, a invasão da França, na era
napoleônica, ou “Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien, que conta a história
de um anel que precisa ser encontrado a fim de salvar um local chamado de
Terra Média (Middle Earth) e seus habitantes.
Independentemente de sua extensão e do modo como o autor lhes dá forma,
os textos de ficção precisam incluir alguns elementos que propiciarão a sua
tessitura, ou seja, sua organização. O eixo principal da ficção é a narrativa,
embora nem todas as narrativas resultem em arte. Obras artísticas e literárias
nascem a partir do modo com que a história é concebida a partir do espírito
inventivo de seu criador, que reelabora e reconfigura a realidade, fornecendo,
à história, os ingredientes básicos para vivenciarmos novas experiências e
sentimentos.
Para assegurar os efeitos desejados, os elementos básicos que compõem
a ficção (enredo, espaço, personagens, ponto de vista, tema) têm que estar
entrelaçados e estão tão intimamente ligados que é difícil incluir algum e
deixar o outro de lado.
Como poderemos entender uma história se o seu sequenciamento não
for, de algum modo, claro? Para isso, temos o enredo, componente a partir
do qual os eventos são expostos. No enredo, encontramos um conflito,
denominado de “intriga” por Todorov (2003) e que resulta numa tensão
que vai percorrendo a história até que se chegue ao clímax e, depois, à sua
resolução. É o que vemos no clássico “Robinson Crusoe”, de Daniel Defoe
(1719), que retrata um jovem aventureiro que, posteriormente, torna-se um
náufrago (conflito), aprende a sobreviver numa ilha e faz amigos, até seu
resgate final (resolução).
Do mesmo modo, nenhuma história pode ser contada sem que possamos
localizá-la no tempo e no local (espaço). Em algumas obras, esse torna-se o
elemento principal para a compreensão do texto. Na obra “The Great Gatsby”,
do americano F. Scott Fitzgerald (1925), entender que os eventos narrados
aconteceram na sociedade americana dos anos 1920 é essencial para conhecer,
sob a ótica crítica do autor, o perfil da decadente sociedade nova-iorquina,
caminhando para a Grande Depressão de 1929. Atores e trama ficariam soltos
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se não tivéssemos esse aporte histórico da época em que os eventos narrados


se passam.
Na literatura de ficção, os autores também utilizam vários tipos de per-
sonagens, que têm papéis centrais ou coadjuvantes. Geralmente, são tão bem
descritos que até criamos uma imagem mental de seus rostos e personalidades.
Muitas vezes, acontece de, após a leitura de algum livro, resolvermos assistir a
uma adaptação dessa obra no cinema ou no teatro. Provavelmente, já criamos
uma imagem mental do personagem, suas características físicas, atitudes
e, muitas vezes, até da sua voz. Assim, é comum sairmos, de certo modo,
decepcionados se a imagem que concebemos não corresponder às nossas
expectativas. Esse é o efeito que o autor pode causar ao leitor, conforme sua
habilidade em descrever o personagem.
O papel central do personagem cabe ao protagonista. Há grandes prota-
gonistas que são o tópico de livros, como em “As Aventuras de Tom Sawyer”
(1876), do escritor americano Mark Twain, ou “Harry Potter” (1998-2007), da
autora inglesa J. K. Rowling, duas obras que, embora em diferentes estilos,
retratam as aventuras de garotos por mundos reais e imaginários. Também
há grandes antagonistas ou vilões, como o Conde Drácula, de Bram Stocker,
o aristocrata sedento por sangue, ou Iago, o invejoso e maldoso personagem
da obra “Otelo”, de Shakespeare. Entretanto, não somente protagonistas ou
antagonistas são importantes, mas também os personagens secundários, que
dão apoio à trama a partir de sua interação com as personagens principais.
Na série “Harry Potter”, por exemplo, várias são as personagens secundárias
que fornecem o tom de aventura às ações do protagonista.
De nada adianta termos personagens em ação em certo tempo e local se
não tivermos o ponto de vista do narrador, isto é, como este nos descreve os
eventos, como os personagens são retratados, como a história se desenrola.
Seja contando a história como participante ou como observador, é o narrador
que nos fornece uma visão mais crítica dos eventos que estão sendo expostos. É
ele que nos guia por meio de sua perspectiva acerca das ações das personagens
e da descrição dos eventos na evolução da trama.
Finalmente, temos o tema, sem o qual nada faria sentido. Quando falamos
do tema de um livro, referimo-nos a uma ideia universal, à mensagem que
geralmente se estende por toda a história. Isso, porém, não significa que uma
obra não possa ter vários temas, que podem variar entre amor e vingança,
guerra e paz, bem e mal, dentre tantos outros.
Essa visão geral acerca dos textos de ficção poderá dar a você uma melhor
compreensão das obras literárias, possibilitando um olhar mais atento àqueles
elementos que são lapidados pelos autores para dar vazão às suas ideias.
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Em um mundo tão cheio de estímulos externos, especialmente aqueles


propiciados pelas mídias sociais, as obras literárias podem transportar você
para outras eras, outros mundos ou para dentro de você mesmo.

1. O texto ficcional (poema, interpretação de uma obra literária.


romance, conto, fábula) difere de Alguns autores são, inclusive,
um texto não ficcional (notícia, reconhecidos por optarem por
biografia, relatório) porque: determinados recursos linguísticos.
a) cria sua própria visão Sendo assim, e para fornecer um
de realidade. tom emocional e despertar no
b) tem o objetivo de leitor sua imaginação, muitos textos
divertir e entreter. literários se utilizam de:
c) inclui seres imaginários a) cores variadas.
e fantasiosos. b) linguagem rebuscada.
d) inclui temas futurísticos. c) figuras de linguagem.
e) aborda temas que d) símbolos de linguagem.
ocorreram no passado. e) cores simbólicas.
2. Considerando os itens de I a V 4. A frase “Why hello there,” the
assinale a alternativa correta: cat said, “Who might you be?”
I. O enredo (plot) determina extraída do livro “Alice no País
a temática da história. das Maravilhas”, de Lewis Carroll,
II. A história usualmente é é um exemplo de:
narrada em 1ª ou 3ª pessoa. a) personificação.
III. Protagonistas e antagonistas são b) hipérbole.
essenciais numa obra de ficção. c) metonímia.
IV. Espaço é, por exemplo, saber d) metáfora.
que a história está situada em e) paradoxo.
São Paulo, na década de 1940. 5. Considerando suas características
V. Os personagens são típicas, isto é, os elementos
escolhidos pelo narrador. organizacionais que são
a) I e III. comuns, podemos afirmar que
b) II e IV. obras ficcionais, podem
c) III e V. a) não incluir narrativas.
d) somente a IV. b) ter heróis, ou seja, antagonistas.
e) I e V. c) conter um ou mais temas.
3. Alguns elementos do texto ficcional d) apresentar vários enredos.
são essenciais para a construção e a e) não incluir tempo e local.
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FICTION. English Oxford living Dictionaries, 2018. Disponível em: <https://


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HOFF, P. C.; FORLI, C. A. Textos fundamentais de ficção em língua portuguesa. Porto
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SILVA, A.S. Figura. E-dicionário de termos literários, 26 dez. 2009. Disponível em: <http://
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Leituras recomendadas
E-READING WORKSHEETS. 2018. Disponível em: <https://www.ereadingworksheets.
com>. Acesso em: 02 jul. 2018.
LITERARY DEVICES. What are literary devices? 2018. Disponível em: <http://www.
literarydevices.com>. Acesso em: 02 jul. 2018.
PROENÇA FILHO, D. A linguagem literária. 8. ed. São Paulo: Ática, 2008.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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