Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2013 281
RESUMO
Este estudo objetivou investigar o aspecto maturacional da habilidade percepto-motora, avaliada pelo
Bender – Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG), na relação com idade e escolaridade. Foram feitas
análises de variância entre o escore total e a pontuação recebida em cada reprodução das figuras,
sendo comparadas de acordo com a idade e o ano escolar. Os participantes foram 361 alunos, de
ambos os sexos, entre 6 e 10 anos, a partir de primeiro ao quinto ano do ensino fundamental de
escolas públicas e privadas. As pontuações totais obtidas no teste foram diferenciadas
significativamente em relação à idade e à escolaridade. Confirmando a proposta do instrumento, foi
possível evidenciar que o B-SPG mostrou-se sensível em captar o aspecto maturacional da habilidade
percepto-motora.
Palavras-chave: teste de bender; maturidade percepto-motora; avaliação psicológica.
ABSTRACT
Bender-Gradual Scoring System (B-SPG):
Analysis of the maturation of visual-motor perception of children
This study aimed to investigate the maturational aspect of visual motor perception ability, assessed by
Bender - Gradual Scoring System (B-SPG) in relation to age and educational level. Analyses of
variance were made between the total score and the punctuation received on each reproduction of the
figures, being compared according to age and educational level. Participants were 361 students, of
both genders, between 6 and 10 years, from 1st to 5th years of primary education from public and
private schools. The total scores obtained in the test differed significantly in relation to age and
educational level. Confirming the proposal of instrument, it became clear that the B-GSP proved to be
sensitive to capture the maturational aspect of visual motor perception ability.
Keywords: bender test; visual-motor perception maturity; psychological assessment.
O Teste Gestáltico Visomotor de Bender foi oficial- A maturação do comportamento visomotor é uma
mente criado em 1938, por Lauretta Bender, em forma habilidade desenvolvida a partir da utilização de prin-
de monografia, com o título “A Visual Motor Gestalt cípios específicos de organização. Tal conceito apoia-
Test and Its Clinical Use”, publicado pela American -se no pressuposto de que seu desenvolvimento ba-
Orthopsychiatric Association (Bender, 1955). O teste seia-se em princípios biológicos e de ação sensório-
objetivava avaliar a maturação percepto-motora de -motriz, além de variar em função do nível maturacio-
crianças, sendo que sua primeira publicação data de nal do indivíduo, e de seu estado patológico funcional
1946 (Nunes, Ferreira & Lopes, 2007). A autora base- (Bender, 1955; Koppitz, 1989).
ou seus estudos nas ideias da Psicologia da Gestalt Os processos fundamentais que constituem a per-
que considerava mais especialmente a percepção da cepção e o movimento são formas primitivas da expe-
forma, com destaque para os trabalhos de Wertheimer riência. Segue-se então, o curso de maturação contí-
sobre a percepção visual, datados de 1923 (Bender, nua da integração entre os fatores motores e os senso-
1955). riais, ainda que o primeiro tenha desenvolvimento
*
Endereço para correspondência: Lariana Paula Pinto - paula.lariana@gmail.com
282 Lariana Paula Pinto & Ana Paula Porto Noronha
maior que o outro e vice-versa, ou mesmo que se do instrumento em captar essa maturação nos diversos
apresente dominante em certa etapa da evolução. É a sistemas de correção existentes, encontrando diferen-
partir dos 12 anos que a maturidade percepto-motora ças significativas (Koppitz, Mardis, & Stephens, 1961;
se consolida, visto que as reproduções das figuras Garvey & Popplestone, 1960; Smith & Keogh, 1963;
propostas se aproximam daquelas esperadas para um Dierks & Cushna, 1969; Taylor & Partenio, 1984;
adulto (Bender, 1955). Bolen, 2003; Rajabi, 2009).
De acordo com Koppitz (1989), a habilidade per- No Brasil, o Bender – Sistema de Pontuação Gra-
cepto-motora está relacionada com as experiências dual (B-SPG) avalia a distorção da forma, compreen-
sensório-motoras dos primeiros anos de vida. Além dida como o desrespeito aos aspectos estruturais dos
disso, a função visomotora constitui-se em um fator desenhos, sendo considerados na imprecisão ao dese-
fundamental para o desenvolvimento do indivíduo, nhar pontos, linhas, retas, curvas e ângulos (Noronha,
pois está associada à linguagem, à percepção visual, à Santos & Sisto, 2007). Pesquisas realizadas com esse
habilidade motora, à memória, a conceitos temporais e sistema têm apontado para diferenciação quanto à
espaciais, e à capacidade de organização e de repre- idade ou escolaridade, e serão descritas a seguir. Sisto,
sentação, consequentes da maturidade neurológica das Noronha e Santos (2006), entre outros objetivos, ana-
crianças. lisaram diferenças de médias do grupo normativo por
idade, e verificaram que a idade foi a fonte de maior
Ao invés de os sujeitos descreverem a figura, como
variância e estatisticamente significativa. A partir da
era feito no experimento original de Wertheimer,
análise dos resultados, com o objetivo de verificar
Bender (1955) pediu aos pacientes que desenhassem,
propriedades psicométricas, Suehiro e Santos (2006)
permitindo a identificação desse aspecto evolutivo por
concluíram que o B-SPG possui evidência de valida-
meio da aplicação dos princípios da psicologia da
de, visto que diferenciou significativamente a pontua-
Gestalt em relação à percepção visual. Assim, investi- ção em razão da série frequentada, de modo que as
gou a gênese da percepção da forma na criança, e ao crianças da terceira série (atual quarto ano) apresenta-
analisar a reprodução das figuras, pode estabelecer o ram superioridade de desempenho em relação às ou-
nível de maturidade, pela mensuração da função ges- tras. Assim, as autoras apontaram possível associação
táltica visomotora. do desenvolvimento percepto-motor, avaliado pelo
No que diz respeito à mensuração realizada por ca- B-SPG, com o progresso nas etapas consecutivas de
da figura, tem-se que a figura A foi escolhida por escolarização.
Bender como introdutória, por ter uma configuração Em outro estudo, a partir da investigação das mu-
que, além da boa forma em cada uma de suas partes danças desenvolvimentais expressas pela relação entre
(círculo e quadrado são figuras fechadas), tem um os escores totais com a idade, Noronha, Santos e Sisto
segundo conceito, o de proximidade, que faz com que (2007) objetivaram evidenciar aspectos da validade do
as partes contíguas do círculo e do quadrado favore- B-SPG. Dentre as análises realizadas, os resultados
çam a visualização do conjunto (Koppitz, 1989; Ma- foram apreciados considerando a pontuação total bru-
chado, 1978; Santucci & Galifreet-Granjon, 1968). As ta. A idade correlacionou-se significativa e negativa-
figuras 1, 2 e 3 foram selecionadas por representarem mente com a pontuação total. Assim, os autores con-
o princípio da proximidade dos elementos, enquanto cluíram que conforme ocorre o aumento da idade, as
as figuras 4 e 8 exemplificam o princípio de continui- distorções da forma reduzem progressivamente, refle-
dade da organização geométrica ou interna. O princí- tidas pela diminuição da pontuação, e uma consequen-
pio da semelhança foi ilustrado pelas figuras 6, 7 e 8. te melhora das reproduções ao longo das idades.
A figura 5 repete os princípios da figura A, de proxi- Ao buscar evidências de validade para alguns ins-
midade (Wertheimer, 1923). Pelo exposto, pode-se trumentos, entre eles o B-SPG, Suehiro (2008) inves-
afirmar que cada figura do teste possui uma gestalt tigou as pontuações correspondentes à maturação
própria na formação do estímulo em função de sua percepto-motora e encontrou diferenças significativas
composição (Silva & Nunes, 2007). nas médias em relação à idade e à série. Por sua vez,
Ainda em relação à função gestáltica, Bender utilizando uma amostra com características regionais
(1955) acreditava que ela era determinada biologica- diferentes do grupo normativo, Luca (2011) objetivou
mente, por isso seu interesse em examinar a matura- buscar evidências de validade para o B-SPG. A partir
ção de crianças. Alguns estudos internacionais foram dos resultados encontrados, a autora verificou que o
efetivados com a intenção de verificar a sensibilidade teste foi capaz de diferenciar as médias obtidas no
Interação Psicol., Curitiba, v. 17, n. 3, p. 281-289, set./dez. 2013
Bender – Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG) 283
Tabela 1
Estatísticas Descritivas da Pontuação no B-SPG por Idade e Geral
Geral 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos
N 361 74 82 73 71 61
Média 8,32 12,45 10,38 9,10 4,61 3,93
Desvio Padrão 5,31 5,64 4,12 3,98 2,75 4,03
Valor Mínimo 0 0 3 1 0 0
Valor Máximo 20 20 20 16 16 14
Pelo exposto na Tabela 1, verificou-se que a média (p<0,001), revelando que elas se mantêm quase total-
para amostra geral foi de 8,32 (DP=5,31), variando de mente equivalentes. Ainda assim, optou-se por anali-
0 a 20 pontos. Também pode se observar valores mé- sar a variância em ambas variáveis.
dios de 12,45 (DP=5,64), 10,38 (DP=4,12), 9,10 Para tanto, realizou-se a Análise de Variância. Ini-
(DP=3,98), 4,61 (DP=2,75) e 3,93 (DP=4,03), respec- cialmente, foi verificada se a pontuação geral obtida
tivamente para as idades de 6, 7, 8, 9 e 10 anos. Em- no teste B-SPG diferencia as crianças em relação ao
bora a amplitude das pontuações tenham se mantido seu desenvolvimento maturacional, como é proposto
próximas, evidenciou-se que as médias obtidas por pelo instrumento. Os escores foram submetidos à
idade foram diminuindo, correspondendo à redução de ANOVA, cujos resultados se apresentaram significa-
erros presentes nas reproduções das figuras. Esse fe- tivos tanto para idade [F(4,356)=53,241; p<0,001],
nômeno será posto a prova nas análises de diferenças como para escolaridade [F(4,356)=70,667; p<0,001].
de médias em relação à idade e à escolaridade, verifi- A fim de verificar se houve algum agrupamento quan-
cando se sua ocorrência se dá de forma significativa to aos critérios analisados, as pontuações foram sub-
estatisticamente, reproduzindo o aspecto maturacional metidas ao teste de post hoc de Tukey, apresentado na
sugerido teoricamente. Vale destacar que ao se reali- Tabela 2. Não se deve esquecer, porém, que menor
zar uma correlação entre as duas variáveis, idade e pontuação indica melhor qualidade na reprodução da
escolaridade, verificou-se coeficiente de 0,97 figura.
Tabela 2
Subconjuntos de Idades e Anos Escolares Formados pelo Teste Tukey em Relação à Pontuação do B-SPG Total
Subgrupos para Subgrupos para
alfa=0,05 Ano alfa=0,05
Idade N N
Escolar
1 2 3 1 2 3
10 61 3,93 5 63 3,84
9 71 4,61 4 79 4,53
8 73 9,10 3 68 9,31
7 82 10,38 2 93 10,63
6 74 12,45 1 58 13,47
Segundo a Tabela 2, as idades formaram três con- Considerando que a pontuação total no teste de B-
juntos, sendo o primeiro grupo com as idades de nove SPG diferenciou-se significativamente, averiguou-se
e dez anos, outro para oito e sete anos e finalmente, se as figuras também são sensíveis em captar o aspec-
um para 6 anos. Vale ressaltar que, embora os dois to maturacional na reprodução das formas. Para tanto,
grupos iniciais, de sete/oito anos e de nove/dez anos, utilizou-se de uma aplicação específica da ANOVA
tenham ficado congregados em grupos únicos, as mé- com medidas repetidas chamada de Análise de Perfis
dias das distorções diminuíram com o aumento da de Medidas Repetidas (Tabachinick & Fidell, 2007).
idade. No que diz respeito à escolaridade, há a forma- Tal análise revela, por meio do modelo linear geral, se
ção de três subconjuntos para os anos escolares em o perfil encontrado para as médias obtidas em cada
relação às pontuações do B-SPG, sendo um grupo figura (variáveis dependentes) distinguem-se, man-
para 1º ano, outro para 2º e 3º anos e um terceiro gru- tendo o nível de dificuldade de cada figura, conforme
po para 4º e 5º anos. Essa informação foi relevante, proposto pelos autores do sistema de correção (Sisto
pois indicou que, assim como para as crianças mais et al., 2006), por idade ou ano escolar (variável inde-
novas, para o 1º ano houve uma diferença significativa pendente). Vale destacar que a pontuação alta em cada
maturacional da percepção visomotora em relação aos figura diz respeito à distorção da forma, portando a
anos mais avançados. presença de desvios ou erros. Os resultados da
ANOVA são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3
Análise de Variância ANOVA para Idade e Ano Escolar
Fonte de variância SQ gl MQ F p Eta²
B-SPG 326,308 9 36,256 92,606 0,001 0,206
B-SPG*idade 74,182 36 2,061 5,263 0,001 0,056
B-SPG 322,281 9 35,809 92,770 0,001 0,207
B-SPG*ano escolar 91,843 36 2,551 6,609 0,001 0,069
SQ= soma dos quadrados; gl=graus de liberdade; MQ=média dos quadrados.
É possível observar que todas as diferenças foram bilidade passa a ser 5,6% e 6,9% para idade e ano
significativas tanto entre figuras quanto na relação escolar, respectivamente. Tendo em vista que os coe-
figuras e idade ou ano escolar. Verifica-se também ficientes foram significativos, confirmando a diferen-
que a variância entre figuras é praticamente a mesma ça entre os perfis, a partir da Figura 1 pode-se com-
nas duas fontes, sendo 20,6%. Porém, quando associa- preender melhor a diminuição da variabilidade, inici-
das as variáveis dependentes e independentes, a varia- almente por idade.
1= Figura A; 2=Figura 1; 3=Figura 2; 4=Figura 3; 5=Figura 4; 6= Figura 5; 7=Figura 6; 8=Figura 7A; 9=Figura 7B; 10=Figura 8.
Figura 1. Médias obtidas nas dez figuras avaliadas pelo B-SPG em função da idade.
Pela análise da Figura 1, verifica-se que as médias escores médios maiores correspondiam ao desempe-
obtidas pelas crianças mais velhas tendem a ser meno- nho das crianças mais novas. No caso específico das
res, conferindo melhor qualidade nas reproduções, figuras 1, 7A e 7B, as idades de 6 e 7 anos apresenta-
como previsto teoricamente. Nas figuras A (1), 5 (6) e ram médias equivalentes. Novamente, para 9 e 10
8 (10), consideradas pelos autores as mais fáceis (Sis- anos, os valores foram próximos na figura 6.
to et al., 2006) e, portanto, as que tendem a receber as Por fim, as figuras 2 (3), 3 (4) e 4 (5) são conside-
menores pontuações, mantiveram a relação com a radas difíceis (Sisto et al., 2006). A Figura 2 recebeu
maturidade visto que as médias variaram negativa- médias semelhantes para 8 e 9 anos. As idades de 6 a
mente de acordo com o acréscimo da idade. As idade 8 anos revelaram desempenho próximo na Figura 3,
de 9 e 10 anos apresentaram-se próximas, enquanto porém dentro do esperado. Entretanto, contrária ao
que as crianças de 6 anos se distanciaram expressiva- pressuposto do aspecto evolutivo da qualidade das
mente das demais. Vale destacar, porém, que não fo- reproduções, a Figura 4 evidenciou divergências entre
ram as figuras que apresentaram as menores médias, as idades, visto que a menor média foi apresentada
quando comparadas com as demais. pelas crianças com 9 anos, seguido pelas idades de 10,
As figuras de dificuldade intermediária, quais se- 7, 6 e 8 anos. Os autores do sistema haviam mencio-
jam, 1(2), 6(7), 7B (8) e 7A (9), também conservaram nado que esta é a figura de maior complexidade de
a relação evolutiva com a pontuação, visto que os correção. Talvez seja uma consideração a ser verifica-
Interação Psicol., Curitiba, v. 17, n. 3, p. 281-289, set./dez. 2013
Bender – Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG) 287
da futuramente, qual seja, se houve equívoco na atri- perfis por ano escolar mantêm características seme-
buição de pontuação. lhantes aos descritos anteriormente. A Figura 2 traz
Considerando as especificidades no desempenho esses perfis por ano escolar, cuja ANOVA inicial
em cada figura pelas idades, cabe agora analisar se os também se apresentou significativa.
1= Figura A; 2=Figura 1; 3=Figura 2; 4=Figura 3; 5=Figura 4; 6= Figura 5; 7=Figura 6; 8=Figura 7A; 9=Figura 7B; 10=Figura 8.
Figura 2. Médias obtidas nas dez figuras avaliadas pelo B-SPG em função do ano escolar.
tora do Teste Bender. Esta conformidade também é ente escolar, visto que esses dois fatores operam con-
encontrada nos estudos psicométricos realizados no juntamente; e dado que, na amostra em questão, a
próprio manual do B-SPG (Sisto et al., 2006), no qual correlação entre a idade e a escolaridade foi de 0,97
são demonstradas as evidências de validade com base (p<0,001).
em mudanças no desenvolvimento, uma vez que os Embora tais resultados possam estar restritos pelo
resultados revelaram que o aumento da idade favorece tamanho da amostra, que não possibilitou uma diversi-
a qualidade nas reproduções e diminui as distorções. ficação suficiente, essa questão merece ser mais ex-
Além disso, a formação de subconjunto de acordo plorada em pesquisas que envolvam crianças, para que
com a idade e a escolaridade aconteceu como espera- o desenvolvimento possa ser melhor compreendido.
do teoricamente, e estão em consonância com outros Assim, é desejável que pesquisas procurem investigar
trabalhos que buscaram a constatação de que é possí- qual o limiar de cada grupo, ou até mesmo quais as
vel encontrar um caráter maturacional nas figuras do características específicas de cada etapa; além de re-
teste (Sisto et al., 2006; Suehiro & Santos, 2006; No- plicar as análises por figura averiguando se o mesmo
ronha et al., 2007; Suehiro, 2008; Pinto & Noronha, pode ocorrer com outras amostras.
2010; Luca, 2011; Carvalho et al., 2012; dentre ou- Pela importância de um trabalho que busca de
tros). Esses resultados contribuem para considerar o aperfeiçoamento das propriedades psicométricas de
B-SPG com uma possível medida do caráter matura- um instrumento, as limitações encontradas para o
cional do desenvolvimento infantil. desenvolvimento desse estudo também devem ser
No que tange às análises de perfis por desempenho destacas, a fim de ponderar qualquer inferência feita
nas figuras, não foram encontradas na literatura pes- posteriormente. Uma delas é quanto ao tamanho da
quisas que explorassem essa evidência, e nesse senti- amostra, tal como citado anteriormente, que se mos-
do, o presente estudo agrega a contribuição de uma trou necessário para os tratamentos estatísticos, mas
nova análise considerando variáveis até aqui não in- talvez não suficiente para garantir representatividade
vestigadas. Além disso, pode-se reafirmar a indicação da população para as faixas etárias estudadas. Tem-se
do teste como uma boa medida da maturidade percep- que considerar, portanto, que resultados como inver-
to-motora, pois ao se avaliar a distorção da forma, o sões em alguns dados de certas faixas etárias podem
faz apontando a gradação dos erros, e não apenas a estar associados à composição da amostra.
quantidade deles, como apontado nos perfis por idade Em que pese o objetivo do estudo, qual seja, o de
e escolaridade que pontuaram dentro do esperado. O investigar o aspecto evolutivo da medida, destaca-se a
sistema B-SPG preocupa-se com o grau de compro- necessidade de que mais pesquisas sejam realizadas
metimento dos erros no desempenho das crianças, em com instrumentos, com o intuito de torná-los apropria-
vez de considerar apenas a presença ou ausência de dos para o uso. Nesse sentido, o Bender – Sistema de
erros em determinado aspecto da produção do dese- Pontuação Gradual (B-SPG) avalia a maturidade per-
nho da criança. Sob essa perspectiva, a proposta do cepto-motora, mais especialmente a distorção de for-
teste B-SPG, pelo detalhamento ou grau de compro- ma. Tal como afirmado por Koppitz (1989), a habili-
metimento dos erros no desempenho de crianças, dade percepto-motora está associada à linguagem, à
permite uma análise mais aprofundada da habilidade percepção visual, à habilidade motora, à memória, a
percepto-motora, com informações que auxiliam a conceitos temporais e espaciais, e à capacidade de
investigação do desenvolvimento infantil (Sisto et al., organização e de representação, consequentes da ma-
2006). turidade neurológica das crianças. Espera-se que os
Em complemento, as análises relacionadas à idade profissionais psicólogos que atuam com população
e à escolaridade, extraídas desta pesquisa, confirma- infantil possam refletir sobre os dados aqui revelados
ram a evolução gradativa do desenvolvimento infantil, e façam uso do B-SPG de maneira mais efetiva, re-
não tão específica em termos de faixas etárias indivi- pensando a importância da escolha de um sistema de
dualizadas, mas sim, em termos de etapas evolutivas. correção na investigação por meio de testes.
Também são reafirmadas as asserções de Almeida et
al. (2008), quanto à relação entre a idade e a escolari- REFERÊNCIAS
dade, que consideram o desenvolvimento cognitivo
Almeida, L. S., Lemos, G., Guisande, M. A., & Primi, R. (2008).
maturacional decorrente do crescimento biológico Inteligência, escolarização e idade: Normas por idade ou série
acompanhado pelas estimulações oferecidas em ambi- escolar? Avaliação Psicológica, 7, 117-125.
Bender, L. (1955). Test Gestáltico Visomotor – Usos y Aplicacio- Rajabi, G. (2009). Normalizing the Bender Visual-Motor Gestalt
nes Clínicas. Buenos Aires: Paidós. Test among 6-10 year-old children. Journal of Applied Scien-
ces, 9, 1165-1169.
Bolen, L. M. (2003). Constructing local age norms based on abi-
lity for the Bender-Gestalt Test. Perceptual and Motor Skills, Santucci, H., & Galifreet-Granjon, N. (1968) Prova Gráfica de
97, 467-476. Organização Perceptiva (Segundo o teste de L. Bender). In R.
Zazzo (Org.), Manual para o exame psicológico da criança
Carvalho, L., Noronha, A. P. P., Pinto, L. P., & Luca, L. (2012). (pp. 233-268). São Paulo: Mestre Jou.
Maturidade percepto-motora e reconhecimento de palavras: Es-
tudo correlacional entre o Bender-Sistema de Pontuação Gra- Silva, R. B. F., & Nunes, M. L. T. (2007). Teste Gestáltico Viso-
dual e o Teste de Reconhecimento de Palavras. Estudos de Psi- motor Bender: Revendo a sua História. Avaliação Psicológica,
cologia (Campinas), 29, 371-377. 6, 77-88.
Dierks, D., & Cushna, B. (1969) Sex differences in the Bender Sisto, F. F., Noronha, A. P. P., & Santos, A. A. A. (2006). Manual
Gestalt performance of children. Perceptual and Motor Skills, Bender – Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG). São Paulo:
19, 19-22. Vetor Editora Psicopedagógica.
Garvey, M. J., & Popplestone, J. A. (1960). Influence of age and Smith, C. E., & Keogh, B. K. (1963). Developmental changes on
sex on Bender Gestalt associations. Perceptual and Motor the Bender Gestalt Test. Perceptual and Motor Skills, 17, 465-
Skills, 11, 258. 466.
Koppitz, E. M. (1989). O Teste Gestáltico de Bender para crian- Suehiro, A. C. B. (2008). Processos Fonológicos e Perceptuais e
ças. Porto Alegre: Artes Médicas. Aprendizagem da Leitura e Escrita: Instrumentos de Avalia-
ção. (Tese de Doutorado) Universidade São Francisco, Itatiba.
Koppitz, E. M., Mardis, V., & Stephens, T. (1961). A note on
screening school beginners with the Bender Gestalt Test. Jour- Suehiro, A. C. B., & Santos, A. A. A. (2006). Evidência de vali-
nal of Educational Psychology, 52, 80-81. dade de critério do Bender – Sistema de Pontuação Gradual.
Interação em Psicologia, 10, 217-224.
Luca, L. (2011). Teste Gestáltico Visomotor de Bender (B-SPG):
Estudo de validade em uma amostra Paraibana. (Dissertação Tabachinick, B. G., & Fidell, L. S. (2007). Using multivariate
de Mestrado). Universidade São Francisco, Itatiba. statistics. New York: Pearson Education, Inc.
Machado, M. C. L. (1978). Uso do teste de Bender para avaliar a Taylor, R. L., & Partenio, I. (1984). Ethnic Differences on the
organização perceptivomotora de escolares paulistas. (Pontifí- Bender-Gestalt: relative effects of measured intelligence. Jour-
cia Universidade Católica) São Paulo. nal of Consulting and Clinical Psychology, 52, 784-788.
Noronha, A. P. P., Santos, A. A. A., & Sisto, F. F. (2007). Evidên- Wertheimer, M. (1923). Studies in the Theory of Gestalt Psycho-
cias de validade do Bender – Sistema de Pontuação Gradual. logy. Psycologische Forschung, 4, 301-350.
Psicologia: Reflexão e Crítica, 20, 335-341.