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ABSTRACT: In this paper we offer to analyze some aspects about the intentionality study
proposed by Searle within the film “Quanto vale ou é por quilo?”, by Sérgio Bianchi, in
opposition of the short story “Pai contra mãe”, by Machado de Assis. We consider in this
study to examine current question of language play of which meaning it install through of
relations of the characters and sentence of meant. Then, we utilize concepts “belief” and
“desire”, by Searle (1995). With this analyze we can to confirm that intentional states of “Pai
contra mãe” and “Quanto vale ou é por quilo?” are different whatever the context, time and
narrative space. We conclude that “desire” insert in the narrative sequence of the masterpiece
are to describe practices to repress the blacks slaves, in order that to be ironic with the society
that legitimate cruelness against slave.
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Alunas do programa de Pós-graduação da PUC-Minas.
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1 INTRODUÇÃO
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De acordo com Anatol Rosenfeld (1974, p.13), compreendem-se como contextos objectuais unidades
significativas de vários graus, constituídas pelas orações e que, devido a isto, são “projetadas” a partir de
operações lógicas, “contextos objectuais” (Sachverhalte) – “certas relações atribuídas aos objetos e suas
qualidades”.
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congelamento das imagens é verificado também em outras tomadas, o que confere ao filme
um caráter de documentário televisivo.
Apresentamos, em seguida, o referencial teórico que nos dará suporte para a análise
lingüística aqui proposta.
4 INTENCIONALIDADE E FICÇÃO
No conto “Pai contra mãe”, temos inicialmente uma cena em que são descritos
instrumentos clássicos de tortura usados para conter os escravos:
“(1) A Escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições
sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao
pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres.(...) (2) Era grotesca
tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma
vez o cruel. [...]. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos
fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao
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alto da cabeça e fechada atrás com chave.” (ASSIS, 2007, grifo nosso)
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Cf. Seminários de Estudos Avançados – Linguagem e Intencionalidade: discussão sobre as categorias
significado da palavra e significado do falante, ministrada por Hugo Mari em 02/05/2007. Puc -Minas.
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(Machado, NUPILL - Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística
http://www.cce.ufsc.br/~alckmar/literatura/literat.html Universidade Federal de Santa Catarina. p. 1)
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Scarpelli, M. “Pai contra mãe”, de Machado de Assis: A negativa das negativas. In: Via Atlântica, v. 06, out,
2003. Portal: MF Scarpelli - fflch.usp.br. Disponível em:
http://www.fflch.usp.br/dlcv/posgraduacao/ecl/pdf/via06/via06_10.pdf>. Acesso em 18 jul. 2007.
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os mercadoria escrava, reflexo brutal da ordem escravocrata ainda vigente, sob as expensas de
traficantes de escravos.”
Outras inúmeras proposições podem ser apontadas como irônicas. Assim, a ironia
aparece através de significantes que sugerem um “tipo de significante” que se traduz por um
estado de coisas diferentes. Com isto, consideramos que os estados Intencionais instaurados
nas proposições em destaque no conto Machadiano são:
Em (1) percebemos:
(i) Crença: i.1 de que a escravidão acabou; i.2 de que determinados ofícios (profissões como,
por exemplo, capitão do mato, etc.) e aparelhos (objetos como a máscara de flandres) eram
próprios da escravidão; i.3 de que com o fim legal da escravidão, esses ofícios e aparelhos
perderam sua função e deixaram de ser usados.
(ii) Desejo: ironizar os aparatos utilizados pela prática escravagista.
Formalmente9, temos as seguintes representações:
Estado Mental Intencional ∩ (EC) → Estado Mental Intencional: certeza ∩ (EC/p: fim da
escravidão/e de objetos usados pelo “ofício” escravagista) → {=Crença ( p i.1,i.2, i.3) ∩
Desejo ( p)} → Estado Mental = certeza → Crença ( p): fim da escravidão/ e dos objetos
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Tabela de símbolos. Cf. Hugo Mari, aula proferida em 09/05/07:
Símbolo Leitura Símbolo Leitura
Necessidade → Implicação
Possibilidade ∩ Interseção
¬ Negação ∨ Disjunção
¬ Impossibilidade ∧ Conjunção
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usados pelo “ofício” escravagista ∧ Desejo( p): ironizar os objetos utilizados pelos
escravocratas.
Já no grifo (2), notamos:
(i) Crença: i.1 de que a máscara de folha-de-flandres era abominável/ridícula; i.2 de que a
máscara era um mal necessário para se manter a ordem; i.3 de que a ordem social e humana é
também grotesca e cruel.
(ii) Desejo: ironizar/denunciar a crueldade e o grotesco que envolvem a manutenção da ordem
social.
Representação formal:
Estado Mental Intencional ∩ (EC) → Estado Mental Intencional: certeza do
abominável/ridículo e doloroso que seria o uso da máscara ∩ (EC/p: uma máscara grotesca
cuja finalidade também era, de certa forma, impor uma “ordem social e humana” através de
sua imagem ridícula/cruel. → {=FORTE Crença ( p i.1,i.2,i.3) ∧ FRACA Crença ( p) ∩
Desejo ( p)} → EM = certeza do abominável/ridículo → FORTE CRENÇA ( p): a máscara
de folha-de-flandres é abominável/ridícula / um mal necessário para manter a ordem ∧
FRACA CRENÇA ( p) de que a ordem social e humana é cruel e grotesca ∧ DESEJO( p):
ironizar/denunciar a crueldade e o grotesco que envolvem a manutenção da ordem social
A partir da transcrição da fala do narrador e da investigação das cenas mostradas no
filme “Quanto vale ou é por quilo?”, observamos que ele apresenta um início semelhante ao
prólogo do conto machadiano. O discurso fílmico apresenta-se inicialmente com o narrador
descrevendo os objetos ou “utensílios” usados para conter a “imoralidade” cometida pelos
escravos:
“A máscara de folha de flandres é um instrumento de ferro. Fechada atrás da cabeça por um
cadeado, na frente tem vários buracos para ver e respirar. Por tapar a boca, a máscara faz com
que os escravos percam o vício pelo álcool. Sem o vicio de beber, os escravos não têm a
tentação de furtar. Desta forma, ficam extintos dois pecados. A sobriedade e a honestidade
estão assim garantidas” (BIANCHI, 2005)
Estado Mental Intencional ∩ (EC) → Estado Mental Intencional: descrever ∩ (EC/p: que a
máscara é um instrumento/artefato feito de ferro/e suas formas) → {=Crença ( p) ∩ Desejo
( p)} → EM = descrever → CRENÇA ( p): descrição objeto/máscara de folha de flandres/e
suas formas ∧ DESEJO(p): mostrar/relatar descritivamente o objeto “máscara de folha de
flandres” e os mecanismos de seu funcionamento.
Nas obras aqui analisadas, o metapredicado “crença” parece variar de acordo com a
cena representada e o contexto que a envolve, podendo ser caracterizado como uma
necessidade. Já o metapredicado “desejo” apresenta-se de forma semelhante tanto no conto
machadiano quanto no filme de Bianchi: em ambos os discursos ficcionais, os aparelhos e
ofícios próprios da escravidão são detalhadamente descritos com a finalidade de, por meio do
efeito de ironia, denunciar uma sociedade que permite e legitima essas práticas cruéis e
desumanas. Esse metapredicado constituiria-se, então, como uma possibilidade.
Fórmula:
{=EMs → VÁRIAS CRENÇAS ( p) ∩ ÚNICO DESEJO ( p): mostrar/relatar a forma como
eram tratados os escravos e ironizar a sociedade que legitimava tais práticas}
Analisamos acima o início do conto de Machado de Assis e do filme de Sérgio
Bianchi, a partir do foco de um narrador em terceira pessoa. Nesta segunda etapa de
investigação, enfocaremos os estados Intencionais sob a ótica das personagens ficcionais
Cândido Neves e Arminda. No extrato final de “Pai contra mãe”, quando Candinho encontra
a escrava fujona que há tempos vinha perseguindo, temos:
“Era a mesma, era a mulata fujona. -Arminda! bradou, conforme a nomeava o anúncio.(...)
Cândido Neves, com as mãos robustas, atava-lhe os pulsos e dizia que andasse. A escrava quis
gritar,(...) -Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe
por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte,
meu senhor moço! - Siga! repetiu Cândido Neves.(...) Aqui está a fujona, disse Cândido Neves.
- É ela mesma. -Meu senhor! -Anda, entra... Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da
escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis de gratificação. Cândido Neves guardou as duas
notas de cinqüenta mil-réis, enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No
chão, onde jazia, levada do medo e da dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.”
(ASSIS, 2007)
Verificamos que o estado Intencional presente neste excerto a partir dos enunciados da
personagem Cândido Neves é:
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(i) Crença: i.1 a certeza de que era mesmo a negra fugitiva; i.2 de que a captura da negra
fugitiva renderia uma gratificação; i.3 de que a gratificação obtida poderia garantir ao
personagem uma vida mais tranqüila.
(ii) Desejo: de capturar a fujona para receber a gratificação prometida.
Representação formal:
Estado Mental Intencional ∩ (EC) → EMI: certeza de que era mesmo a negra procurada/ de
que capturar a escrava fugitiva renderia lucro/ e que o dinheiro traria uma vida mais tranqüila
∩ (EC/p: o personagem Cândido reconhece a escrava fugitiva conforme anunciado, ele a
captura e recebe uma gratificação) → {=Crença ( p i.1,i.2,i.3) ∩ Desejo ( p)} → EM =
certeza de que era a escrava fugitiva, que isto lhe renderia um bônus e uma vida mais
tranqüila → CRENÇA ( p): a certeza de que Arminda era escrava fugitiva/ de que sua
captura renderia lucro/ e uma vida melhor ∧ DESEJO( p): capturar a escrava e receber a
gratificação
Já o estado Intencional decorrente da personagem Arminda pode ser considerado
como:
(i) Crença: i.1 de que ser capturada nesse momento seria fatal para o filho que estava
esperando; i.2 de que os senhores impunham castigos cruéis aos escravos fujões; i.3 de que
poderia se safar dessa situação.
(ii) Desejo: de se manter livre.
Representação formal:
Estado Mental Intencional ∩ (EC) → Estado Mental Intencional: possibilidade e/ou desespero
de ser capturada ∩ (EC/p: Cândido Neves reconhece Arminda, ela pede por sua liberdade,
usando como argumento o filho que leva no ventre, mas de nada adianta, a escrava é
capturada) → {=Crença ( p i.1,i.2,i.3) ∩ Desejo ( p)} → EM = desespero pela possível
captura → CRENÇA ( p n1,n2,n3): ser capturada poderia ser fatal para o filho que leva no
ventre/ o castigo imposto a escravos fujões é muito cruel/ de fugir ∧ DESEJO(¬ p): de não
ser capturada novamente.
É interessante salientar que no filme “Quanto vale ou é por quilo?” há dois desfechos.
Examinaremos apenas o primeiro deles, pois se trata de uma analogia ao conto Machadiano.
Como já mencionamos, o diretor Sérgio Bianchi retrata em seu contexto ficcional o trabalho
de uma ONG que inaugura um projeto de Informática numa comunidade carente. A
personagem Arminda é uma mulata que trabalha nesse projeto e descobre que há indícios de
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corrupção por parte da ONG. Quando ela confirma sua suspeita – os computadores
comprados foram superfaturados – passa a ser perseguida e ameaçada de morte. O jovem
Candinho, por outro lado, não tem emprego, sua esposa está grávida e ele acaba se tornando
um matador de aluguel para obter dinheiro e sobreviver com sua família.
A cena inicia-se com Arminda chegando a sua casa (há um fundo musical com um
ritmo dinâmico). Candinho está escondido atrás de um muro à espera de Arminda. E no
decorrer desta passagem surge o narrador dizendo:
- O pessoal lá do distrito tá complicando, mais ainda tem gente fora da policia que pode
resolver esta situação.[Candinho pula o muro, vai atrás de Arminda, ele a agarra, luta com ela.
Candinho tem um revolver a mão. Ele atira em Arminda. Candinho vai para sua casa e chama a
tia Mônica, e lhe diz que arrumou emprego]. Ela o responde:
Tia Mônica- E tu acha que esse teu serviço vai durar até o moleque crescer... sem poder
trabalhar? Esse é confete de malandro fajuto.
Candinho: - Até lá, eu não sei.[Candinho tira um pacote de dinheiro e dá para sua tia. Assim,
ele, a tia e a esposa vão comemorar o dinheiro adquirido. Essa cena é congelada como se fosse
uma fotografia].
Narrador:“Com a recompensa pela escrava fugida ...o capitão-do-mato pode agora criar seu
filho... alimentá-lo e educá-lo com dignidade e liberdade.” (BIANCHI, 2005)
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo da Intencionalidade a partir dos discursos ficcionais “Pai contra mãe” e
“Quanto vale ou é por quilo?”, pareceu-nos relevante abordar a Intencionalidade em sua
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REFERÊNCIAS
ASSIS, Machado de. Pai contra mãe. In: Biblioteca Digital de Literatura. Santa Catarina,
2007. Disponível em: <http://www.cce.ufsc.br/~alckmar/literatura/literat.html>. Acesso em:
09 jun. 2007.
BIANCHI, Sergio. Quanto vale ou é por quilo?. Agravo Prod. Cinematográficas S/C Ltda,
São Paulo, 2005. Disponível em: http://www.quantovaleoueporquilo.com.br/>. Acesso em 15
mai.2007
COSTA, J. F. Ordem Médica e Norma Familiar. Rio de Janeiro, Graal. 1989. p. 164.