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Histórias “pulp fiction” Brasileiras?

“O estado proíbe ao individuo a pratica de atos infratores, não porque


deseja aboli-los, mas porque quer monopolizá-los” escreveu Sigmund Freud em “O
Futuro de Uma Ilusão” de 1922 e assim também ocorre, a meu ver, com grande parte
da produção ficcional do gênero terror/horror no Brasil, praticamente monopolizada
pela produção americana (e europeia) que toma conta das bilheterias, cineclubes,
festivais, e abastece nosso imaginário fantástico de forma inconsciente.

Uma névoa densa encobre nossos olhos, guiados pelo senso comum, e
somos obrigados a acreditar que não é possível contar histórias de terror
originalmente brasileiras. Mas há um indivíduo que cometeu milhares de atos
infratores contra esse estado de monopólio do terror: Rubens Francisco Lucchetti.

Um jovem que aos 12 anos começou a publicar suas histórias sob vários
pseudônimos, escreveu mais de 1500 livros, 300 histórias em quadrinhos, 25 roteiros
de filmes e programas de rádio e TV. Foi também o grande colaborador para a
impressão mítica em nosso imaginário do personagem emblemático do cinema de
horror brasileiro: Zé do Caixão, ao lado do cineasta José Mojica Marins.

Lucchetti nos lega, com sua vasta obra, uma luta incansável por uma
cultura do terror brasileira e mostra que foi e ainda é possível criar e produzir histórias
“pulp fiction” sem dever nada a nenhuma produção estrangeira do gênero, nos
apontando o caminho e dando a referência de que precisamos para continuar seu
trabalho.

Nossa produção audiovisual, de quadrinhos e literatura necessita


urgentemente de contadores de histórias como esse senhor chamado R.F. Lucchetti,
enquanto pensamos, pesquisamos e tentamos criar algo com um imaginário que nos
identifique como público/leitor, Luchetti escreve, publica e dissemina seus
personagens e tramas com a desenvoltura e experiência dos grandes mestres.

Quando o “estado” do monopólio do gênero terror/horror tenta nos dizer


que não existe uma produção consistente do gênero no Brasil a obra de Rubens
Francisco Lucchetti grita como um infrator que, sendo um crítico aguerrido, se rebela
contra um senso comum.

Alex Moletta (Roteirista e Escritor)

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