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SANTO ANDRÉ
2007
ALEX SANDRO MOLETTA
Monografia apresentada ao
Centro Universitário Claretiano
para obtenção do título de
graduado em Licenciatura em
Filosofia. Orientador: Profº Ms.
Stefan Vassilev Krastanov.
SANTO ANDRÉ
2007
ALEX SANDRO MOLETTA
Examinador(a): ___________________________________________________
Examinador(a): ___________________________________________________
de Jean-Paul Sartre em sua obra teatral Entre Quatro Paredes. Estudar e analisar
dramaturgia de Sartre.
uma ponte direta entre idéia e ação. Para isso a metodologia seguirá o caminho
PALAVRAS-CHAVE:
INTRODUÇÃO.............................................................................. 09
1. INTRODUÇÃO AO EXISTENCIALISMO................................. 13
2. SOBRE A DRAMATURGIA..................................................... 18
3. SOBRE JEAN-PAUL SARTRE................................................ 22
4. CONCEITOS DA FILOSOFIA DE SARTRE............................ 25
4.1 – FENOMENOLOGIA PARA SARTRE........................................... 25
4.2 – LIBERDADE................................................................................. 26
4.3 – ESCOLHA E RESPONSABILIDADE........................................... 27
4.4 – A ANGÚSTIA................................................................................ 29
4.5 – O HOMEM..................................................................................... 30
4.6 – A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA................................... 30
4.7 – TEATRO DE SITUAÇÕES (ANALOGON)................................... 31
INTRODUÇÃO
Dessa forma Jean-Paul Sartre uniu filosofia e arte em sua busca para
compreender o ser humano, refletiu sua filosofia existencialista e humanista em
seus textos teatrais buscando equilibrar conceito e experiência para compor um
ser que existe, um ser filosófico que experimenta uma trajetória humana.
das personagens criadas em suas peças teatrais. Tendo com objeto deste
presente estudo a peça teatral: Entre quatro paredes (1944) obra que marcou a
história do teatro francês e que tornou conhecido o filósofo também como
dramaturgo. Mas como se dá essa transformação? Como Jean-Paul Sartre
conquistou o público de teatro com sua filosofia?
Sartre instiga, até hoje, críticos e pensadores a refletir sobre sua obra, na
busca da compreensão da forma como os conceitos primordiais de sua filosofia
correm nas veias de seus personagens e são expelidos, por uma verborragia
econômica e equilibrada, na dialética proposta por ele em cada cena.
Nas obras que servirão de base teórica estão as principais reflexões sobre
a construção de uma dramaturgia consciente e crítica como forma de
manifestação social. Desde Aristóteles que fundou as bases da criação poética
como forma de imitação humana, identificando e estruturando a ação dramática
até Eric Bentley, crítico que vê a expressão teatral como forma de pensar o ser
humano de maneira crua e despida dos véus das ilusões, este último dedicou
parte de sua obra no desafio de compreender o teatro de Sartre. Já Alves e
Jacobelis fazem uma análise do drama da existência na obra Sartreana e seu
teatro de situações, buscando referências na filosofia e literatura do autor.
Para entender como um conceito filosófico pode ser aplicado numa arte tão
ligada ao homem como a representação teatral precisa-se, antes, entender o
conteúdo e o contexto em que o filósofo coloca seus conceitos existenciais e
Trabalho de Conclusão de Curso – Licenciatura em Filosofia – Alex Moletta 11
É importante salientar que sua obra literária não fará parte desse estudo,
pois além de possuir uma linguagem diferente de expressão, é muito mais
abstrata e imagética do que a representação teatral, e iria ampliar muito o campo
de estudo e pesquisa, portanto o cerne será o pensamento Sartreano no teatro.
Feito essa análise, haverá dados suficientes para se estabelecer uma ponte
direta, ou não, sobre o pensamento reflexivo existencialista e humanista de Sartre
com sua forma de estruturar personagens e enredo de suas peças teatrais a partir
de Entre Quatro Paredes. Revelando assim a forma como sua filosofia abstrata se
transforma em verbo de sujeitos de carne e osso, vivendo o “aqui e agora” que a
representação teatral proporciona ao público.
Trabalho de Conclusão de Curso – Licenciatura em Filosofia – Alex Moletta 12
1. INTRODUÇÃO AO EXISTENCIALISMO
dado por ele à questão da análise do fenômeno buscava algo essencial, livre dos
elementos pessoais e culturais de quem experimenta assim chegando ao que o
objeto “é” e não poderia deixar de ser, ou seja, sua essência seguia algumas
regras:
existência e o fez pensar em como ele é ou como pode vir a ser. Em meio a essa
“crise da existência humana” surge a obra Ser e Tempo de Martin Heidegger onde
ele aborda, pelo ponto de vista fenomenológico, a questão do ser. Mesmo
negando-se como um filósofo existencialista ele afirma que a questão fundamental
para a filosofia não é o homem, e sim, o ser, a essência não só do homem, mas
de todas as coisas. Segundo Heidegger quando se coloca o homem como centro
de preocupação do pensamento humano, o mesmo deixa de ser filosofia e passa
a ser antropologia.
[...] é sempre angústia diante de..., mas não angústia diante disto ou
daquilo. A angústia diante de... é sempre angústia por..., mas não por
isto ou aquilo. [...] Que a angústia revela o nada é confirmado
imediatamente pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na
posse da claridade do olhar, a lembrança recente nos leva a dizer:
Diante de que e por que nós nos angustiávamos era “propriamente” —
nada. Efetivamente: o nada mesmo — enquanto tal — estava aí.
(HEIDEGGER. O que é metafísica? 2007. p.08)
O filósofo diz que o nada se revela na angústia, mas não enquanto ente. O
nada também não é um objeto. A angústia não pode apreender o nada. Mas o
nada se manifesta através da angústia. É a relação com o ser-aí na condição
autêntica.
2. SOBRE A DRAMATURGIA
Com isso ele reduz toda a gama de personagens em apenas esses três.
Para os personagens melhores do que somos eram representados nas tragédias
como personagens modelares exemplos a serem seguidos por serem virtuosos.
Piores do que somos eram representados nas comédias como personagens
cheios de vícios e defeitos e tal como somos eram representados por
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personagens que não se destacavam nem pela virtude, nem pelo vício,
personagens estas mais próximas das pessoas comuns apresentando tanto
virtude como defeitos.
Apesar da reflexão sobre o drama ter sido feito por um grego por volta de
335 a.C. o texto A Poética se mantém como referência para a dramaturgia, pois
independente da linguagem a estrutura dramática se mantém a mesma, e será
sob esse aspecto estrutural que vamos analisar a peça Entre Quatro Paredes e
buscar a relação direta com o pensamento de Sartre.
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Em 1943 encena sua primeira peça teatral: As Moscas uma lenda grega
onde o reino de Agamenão era infestado por moscas fazendo uma exortação à
luta contra os alemães. Neste mesmo ano Sartre publica uma obra fundamental à
teoria existencialista que iniciou em 1939: O Ser e o Nada.
Nesse período, a Segunda Guerra Mundial colocou a França em situação
de conflito e provocou confrontos internos entre partidários de lados distintos. O
líder alemão de origem austríaca Adolf Hitler, Führer do Terceiro Reich, pretendia
criar uma "nova ordem" na Europa, baseada nos princípios nazistas da suposta
superioridade alemã, na exclusão — e supostamente eliminação física incluída —
de algumas minorias étnicas e religiosas, como os judeus e os ciganos, bem como
deficientes físicos e homossexuais; na supressão das liberdades e dos direitos
individuais e na perseguição de ideologias liberais, socialistas e comunistas.
Esse fato demonstra um aspecto peculiar na vida pessoal de Sartre, ele era
contrário a qualquer tipo de hierarquia social. Há um trecho do livro A Idade Forte
em Simone de Beauvoir fala sobre isso:
[...] Não teria lançado raízes em lugar nenhum e nunca teria o ônus de
propriedade alguma, não para conservar-se ociosamente disponível,
mas para experimentar tudo. Todas as suas experiências se
canalizariam em benefício de sua obra e teria descartado
categoricamente todas aquelas que teriam podido reduzi-la [...] Sartre
sustentava que, quando se tem algo a dizer, qualquer desperdício é
criminoso. A obra de arte, a obra literária, era para ele fim absoluto:
levava em si a sua razão de ser, a de seu criador e, talvez, também [...]
a de todo o universo.” (BEAUVOIR apud REALE e ANTISERI. 2005.
p.605)
Esse relato apresenta um homem que tinha plena convicção naquilo que
acreditava ser um caminho possível para o homem viver em liberdade. Aplicava
em seu dia-a-dia sua filosofia existencialista e o que escolhia para si, era o que
escolhia para toda a humanidade. Com isso, percebe-se o quanto sua vida
pessoal influenciou em sua obra filosófica e vice-versa.
É importante salientar que este estudo não cobriu toda a biografia do autor,
muito menos sua extensa obra filosófica e literária, mas deu mais importância aos
fatos e obras que teriam uma maior relação e influência no objeto desse estudo: a
peça teatral Entre Quatro Paredes.
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4.2 – Liberdade.
situações precisas, com as quais os projetos fundamentais dos homens têm que
se defrontar.”(2005. p. 611) Este é o embate do homem com o mundo e sua
liberdade está condicionada também a ele. É a maneira dele dizer que sua
liberdade depende exclusivamente dele, do homem, e não de Deus.
Essa consciência livre é necessária para que o autor crie uma nova
realidade na obra de arte, porém essa nova realidade, ao contrário segue os
desígnios do próprio autor, segundo Sartre, se o céu ou a árvore se harmonizam,
isso só ocorre por acaso, mas na obra as mesmas só vão se harmonizar se assim
for o desejo do autor. Essa questão da liberdade implica em um conflito para o
homem que o coloca diante do processo de escolha.
humana indissociável. É pelo processo de escolha que o homem se faz. Nela está
a ligação da humanidade inteira. Essa ligação também é conflito, pois quando um
indivíduo faz suas escolhas com o intuito de construir seu projeto pessoal, terá de
transformar todo o mundo para a realização desse seu projeto, isso coloca em
conflito com os projetos dos outros, que estão implicados também em suas
escolhas individuais, toda vez que seus projetos se sobreporem uns aos outros.
4.4 – A Angústia.
Não pode ele deixar de ter, na decisão que tomar, uma certa angústia.
Tal angústia todos os chefes a conhecem. Mas isso não os impede de
agir: pelo contrário, isso mesmo é a condição da sua ação. (SARTRE,
1978. p. 08)
4.5 – O Homem.
O que queremos dizer é que um homem nada mais é que uma série de
empreendimentos, que ele é a sua soma, a organização, o conjunto das
relações que constituem estes empreendimentos. (SARTRE, 1978. p.
14)
acordo com a sua funcionalidade. Como uma receita, que pode ser reproduzida, o
corta papel é criado com uma função essencial “pré-existente”: cortar papel. Neste
caso a essência do objeto “cortar papel” precede sua existência.
Para o homem, esse conceito não se aplica, segundo Sartre, pois para ele
o homem não foi “fabricado” de acordo com sua função “pré-existente”, segundo
ele o homem primeiro existe para só depois cumprir a função para a qual ele
mesmo determinou a cumpri-la.
Com isto o filósofo novamente deixa claro que o homem “se faz” durante
sua existência, diferente do corta papel, ele é lançado no mundo sem definição, o
que vai defini-lo como ser é seu próprio projeto de ser no mundo.
isso por sentir a falta da suas pálpebras. Não há a interrupção, nem num piscar de
olhos, e cai em si de que o inferno é a eternidade sem interrupção.
6. ANALISANDO A OBRA.
Aqui está um dado estrutural importante. O ato único permite que Sartre
transmita ao espectador a idéia de uma temporalidade contínua. Não
pode haver interrupção porque os personagens estão sob o signo da
ausência da noite, do intervalo e do descanso. (2006. p.10)
Na cena II, Inês é conduzida pelo criado para junto da Garcin. Tem início o
Desenvolvimento da estrutura aristotélica. Já conhecendo o contexto e o universo,
podemos agora nos concentrar exclusivamente nas personagens. É a partir na
cena II que os conflitos de cada um começam a ser expostos e desenvolvidos,
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porque inicia-se o relacionamento de Garcin com Inês, pois não estão mais
sozinhos, estão na presença do outro. Quando a dupla tenta um “pacto” de
convivência mais educada, respeitando suas individualidades:
[...] os espelhos são substituídos pelo olhar sempre crítico do outro, por
sua presença constante e impiedosa, não podendo haver maneira de se
afastar dele, pois o inferno é o espaço pequeno de uma cela de prisão.
(SANCHES NETO. 2006. p.15)
INÊS – [...] Senta aqui. Chega mais perto. Mais um pouco. Olha dentro
dos meus olhos: você consegue se ver?
ESTELLE – Estou tão pequenininha. Não consigo me ver direito.
INÊS – Eu estou te vendo. Por inteiro. [sic] Me pergunta o que você
quiser. Nenhum espelho var ser mais fiel que eu. (SARTRE. 2005. p.68)
Inês deixar claro sua opção sexual torna mais difícil a relação entre os três. “Com
uma sexualidade fora de normas, Inês é o tertius, ponta elevada do triângulo, que
perturba a horizontalidade dos outros dois lados por sua força transformadora.”
(SANCHES NETO. 2006. p.17)
INÊS – [...] Vou arder, me queimar; sei que isto nunca vai tem fim. Sei de
tudo: você acha que eu vou soltar a presa? Eu vou possuí-la, ela vai te
ver com os meus olhos, como Florence via o outro. [...] realmente estou
presa em uma armadilha. (SARTRE. 2006. p.93)
amante e não passar para a condição de mãe, quando mata seu bebê afogado,
perde o amante e depois da morte perde o marido. No seu inferno, é amada por
Inês e sente a indiferença amorosa de Garcin. Inês, por sua vez, escolheu possuir
aqueles que lhe interessavam como Florence, possui como forma perversa de
poder sobre o outro, no entanto, quando chega ao salão estilo Segundo Império,
não consegue possuir o que deseja: o amor de Estelle. Ela que possuía seu ser
amado passa a ser possuída pelo ódio de Estelle. Os três personagens vivem a
angústia pela liberdade de terem feito suas escolhas, muitas vezes em situação de
má-fé, onde se deixaram levar pelos desejos dos outros. Porém agora não podem
mais superar essa angústia e se projetar no que gostariam de ser. A eles isso não
será mais permitido. Passarão toda a eternidade nessa angústia. A própria Inês,
em certo momento, reconhece isso:
Porém, como responder a questão inicial proposta por esse estudo? Como
se dá a transformação da filosofia de Sartre em arte teatral? Com o estudo de
parte importante de sua filosofia e análise sistemática da peça Entre Quatro
Paredes, podemos agora apontar alguns caminhos por onde se dá essa
transformação da linguagem da filosofia em teatro.
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A linguagem teatral, Sartre sabia muito bem disso, vai além da filosofia no
que se refere à aplicação de conceitos universais em ações humanas. A filosofia
chega até o ponto de conceber a idéia, formular uma hipótese de ser humano e
sua condição, mas o teatro, como forma de imitação humana baseada em
conceitos universais, tem a possibilidade de realizar a idéia numa dada situação
histórica com personagens agindo, ou seja, o teatro pode realizar o conceito
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. ed. 15°. Editora Saraiva. São Paulo.
2005. pág. 336.
REALE, Giovanni.; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol. 03. ed. 7°. Editora
Paulus. São Paulo. 2005. pág. 1113.
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E – REFERÊNCIAS: