Você está na página 1de 2

O Teatro e a Video-Produção

Por Alex Moletta

No final do século XIX, o cinema absorveu grande parte dos talentos


revelados pelo teatro americano. Charlie Chaplin e Buster Keaton são apenas
dois dos grandes atores e diretores de teatro que brilharam nas telas do
cinema. Mais de 100 anos depois o fenômeno se repete. Com a tecnologia do
vídeo-digital, muitos grupos teatrais e profissionais do teatro, começam a
produzir curtas-metragens ampliando seu fazer artístico de forma irreversível.
Tanto o teatro como o cinema, são manifestações artísticas coletivas,
onde qualquer produção depende de várias pessoas pensando e fazendo com
o único objetivo de tocar o público que assiste, seja pela via racional ou
emocional, por meio de uma história bem contada ou um personagem bem
apresentado. Nos anos 60 e 70 surgiram grupos teatrais que revolucionaram
com espetáculos engajados com forte crítica social contra a ditadura militar,
assim como surgiu o movimento do Cinema Novo que tinha como proposta
fazer filmes que retratassem o Brasil como realmente é, sem depender dos
meios de produção americanizados que ditam as regras até hoje. Durante esse
período teatro e cinema eram íntimos na criação e desfrutavam das mesmas
motivações para dizer o que queriam para produzir filmes de alta intensidade
dramática, como peças teatrais ricas em imagens cinematográficas.
Vivemos num momento em que o mundo se comunica por meio de
imagens, ou seja, o vídeo e os diversos recursos audiovisuais, e é nesse
momento que o teatro reencontra o cinema. Inúmeros grupos teatrais estão
antenados com a grande revolução do vídeo-digital, incorporando seus
recursos em montagens teatrais e iniciando uma nova produção audiovisual,
criada e realizada pelos próprios grupos. Peças de teatro estão
constantemente sendo convertidas em DVD, ou publicadas na internet, peças
essas, que também estão sendo adaptadas para o cinema. Os núcleos de
produção de teatro e cinema estão se juntando para dar uma vida mais longa
às peças teatrais e viabilizando produções independentes de curtas-metragens.
Isso não quer dizer que teatro e cinema são a mesma coisa, mas que as duas
juntas potencializam qualquer criação artística.
Essa tendência pode ser observada nas produções independentes de
cinema-digital, exibidas na última edição da 20º Mostra do Audiovisual Paulista.
Curtas-metragens de inúmeros profissionais de teatro que estão
experimentando a linguagem audiovisual e companhias teatrais que estão
formando núcleos de produção em vídeo tiveram seus trabalhos lá
representados. Mostrando que essa experiência é boa para ambas linguagens.
Ao contrário do que pensam muitos “intelectuais”, que torcem o nariz
para esse tipo de movimento, essa mistura de teatro e cinema-digital não dá
indícios de que seja passageiro, mas sim, que um novo ciclo está se iniciando,
onde a criação artística se apropria dessa tecnologia para refletir a sociedade
“network”, da mesma forma que dois atores e diretores de teatro fizeram com o
fenômeno do cinema há mais de 100 anos.

Você também pode gostar