No final do século XIX, o cinema absorveu grande parte dos talentos
revelados pelo teatro americano. Charlie Chaplin e Buster Keaton são apenas dois dos grandes atores e diretores de teatro que brilharam nas telas do cinema. Mais de 100 anos depois o fenômeno se repete. Com a tecnologia do vídeo-digital, muitos grupos teatrais e profissionais do teatro, começam a produzir curtas-metragens ampliando seu fazer artístico de forma irreversível. Tanto o teatro como o cinema, são manifestações artísticas coletivas, onde qualquer produção depende de várias pessoas pensando e fazendo com o único objetivo de tocar o público que assiste, seja pela via racional ou emocional, por meio de uma história bem contada ou um personagem bem apresentado. Nos anos 60 e 70 surgiram grupos teatrais que revolucionaram com espetáculos engajados com forte crítica social contra a ditadura militar, assim como surgiu o movimento do Cinema Novo que tinha como proposta fazer filmes que retratassem o Brasil como realmente é, sem depender dos meios de produção americanizados que ditam as regras até hoje. Durante esse período teatro e cinema eram íntimos na criação e desfrutavam das mesmas motivações para dizer o que queriam para produzir filmes de alta intensidade dramática, como peças teatrais ricas em imagens cinematográficas. Vivemos num momento em que o mundo se comunica por meio de imagens, ou seja, o vídeo e os diversos recursos audiovisuais, e é nesse momento que o teatro reencontra o cinema. Inúmeros grupos teatrais estão antenados com a grande revolução do vídeo-digital, incorporando seus recursos em montagens teatrais e iniciando uma nova produção audiovisual, criada e realizada pelos próprios grupos. Peças de teatro estão constantemente sendo convertidas em DVD, ou publicadas na internet, peças essas, que também estão sendo adaptadas para o cinema. Os núcleos de produção de teatro e cinema estão se juntando para dar uma vida mais longa às peças teatrais e viabilizando produções independentes de curtas-metragens. Isso não quer dizer que teatro e cinema são a mesma coisa, mas que as duas juntas potencializam qualquer criação artística. Essa tendência pode ser observada nas produções independentes de cinema-digital, exibidas na última edição da 20º Mostra do Audiovisual Paulista. Curtas-metragens de inúmeros profissionais de teatro que estão experimentando a linguagem audiovisual e companhias teatrais que estão formando núcleos de produção em vídeo tiveram seus trabalhos lá representados. Mostrando que essa experiência é boa para ambas linguagens. Ao contrário do que pensam muitos “intelectuais”, que torcem o nariz para esse tipo de movimento, essa mistura de teatro e cinema-digital não dá indícios de que seja passageiro, mas sim, que um novo ciclo está se iniciando, onde a criação artística se apropria dessa tecnologia para refletir a sociedade “network”, da mesma forma que dois atores e diretores de teatro fizeram com o fenômeno do cinema há mais de 100 anos.