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УДК: 821.134.3(81)
A COMÉDIA NO BRASIL
COMEDY IN BRAZIL
Summary: The articleusing large historical and literary material gives complex
information about the evolution of genre of comedy in Brazil through centuries.
Keywords: comedy, theatre, Brazilian literature
carregado do embate entre o Bem e o Mal, como ocorria em peças europeias da época. Outra
marca dessas peças eram situações de humor, mantidas por Anchieta. Para criar momentos
cômicos, jogou com palavras e mudança de idioma.
Nem todos os valores europeus eram transpostos com facilidade para a cultura indígena
pelo teatro. É o caso do adultério, denunciado pela Igreja. Os índios sabiam do
relacionamento de suas mulheres com outros homens da tribo e até apreciavam observá-los.
Assim também queimar uma pessoa, que os padres associavam à punição no Inferno, era
costume de algumas tribos antropofágicas.
O primeiro comediógrafo
Após Anchieta, a atividade teatral perdeu fôlego e um grande vazio cênico se estendeu
por todo o século XVII e primeira metade do século XVIII. As raras exceções vieram de
ambientes escolares e de eventos cívicos comemorativos. Em 1641 foi encenada uma comédia
no Rio de Janeiro para celebrar a restauração da monarquia portuguesa. O casamento de
Carlos II, da Inglaterra, com a infanta D. Catarina, de Portugal, teria inspirado a apresentação
de outras comédias, em Salvador, em 1662.
Outra exceção nas atividades teatrais, e dessa vez com informações mais consistentes, é
um interessante achado na historiografia cômica. O baiano Manuel Botelho de Oliveira
(1637-1711), o primeiro brasileiro a ter um livro publicado, foi também o primeiro
comediógrafo nascido no Brasil. «Nenhuma boa vontade, contudo, nos autoriza a incluir o
autor em nossa literatura dramática», assevera o historiador e crítico teatral Sábato Magaldi.
«As comédias foram escritas em espanhol, observando modelos hispânicos e não nos parece
que tenham sido representadas. O gênero que lhe foi atribuído (‘descante cômico reduzido em
duas comédias’) negaria até a pretensão de que se destinassem ao palco».
Rigor técnico à parte, a obra de Botelho de Oliveira tem seu valor histórico. Ao que
tudo indica, o artista queria crescer nos meios teatrais e, para isso, teria mesmo de buscar
espaço fora do Brasil. Aqui não havia estrutura teatral. E nem gráfica, já que a impressão só
foi possível após a vinda da família real portuguesa ao país. Seu livro foi publicado em
Portugal, sob o título Parnaso. Reunia todas as suas poesias e duas comédias: Amor, Engaños
y Celos e Hay Amigo para Amigo.
Ambas usavam a fórmula das comedias espanholas – ciúmes, traições e quiproquós – e
foram escritas à sombra de peças existentes. A primeira é similar à La más Constante Mujer,
de Juan Perez Montalvan e a segunda é uma réplica a No Hay Amigo para Amigo, de
Francisco de Roja Zorilla. É aí, na pouca criatividade do autor, que a crítica faz algum
sentido. Magaldi, porém, reconhece que «a delicadeza de sentimentos e a finura e a elegância
de alguns diálogos permitem supor que, se fossem outras as condições do meio, o autor
poderia ter feito teatro para um público ocioso e cultivado». Botelho de Oliveira era erudito,
bacharel pela Universidade de Coimbra e poliglota: escrevia versos em latim, português,
espanhol e italiano.
um viajante francês (1717-1718), selecionado por Almeida Prado. Fala de jovens religiosas
preparadas para apresentar canções jocosas: «dado o sinal, cada uma delas cantava uma
canção, e essa mixórdia de instrumentos e vozes em desacordo nos provocou grande vontade
de rir». Tais apresentações seriam mais bem definidas como parateatrais pela falta de
estrutura e técnica.
Há também registros de apresentações de comédias ou atos cômicos, que Almeida
Prado ressalta serem «naquele sentido ibérico que se traduz em português moderno pela
denominação genérica de peça de teatro». Na época, de fato, não se delimitava claramente o
cômico e o trágico em peças europeias, que exerceram algum tipo de influência no Brasil. A
comedia espanhola e as tramas francesas, por exemplo, acolhiam na mesma trama conquistas
e desventuras, diversão e riso, independentemente da temática predominante.
Um artista de destaque no período foi Antônio José da Silva, o Judeu (1705-1739).
Nascido no Rio de Janeiro, partiu para Lisboa em 1712 e não retornou mais. Foi queimado na
Inquisição, sob acusação de práticas judaizantes. Escreveu peças líderes de sucesso em
Portugal e que, segundo alguns historiadores, foram encenadas também no Brasil. Sabia
articular bem a comicidade e valia-se da sátira para criticar a sociedade portuguesa da época.
Em sua primeira peça, Vida do Grande Dom Quixote e do Gordo Sancho Pança, Sancho era
crítico, malcriado e não devia honrarias nem submissão a D. Quixote. Na peça Medeia, o
Judeu explora a condição do ator como boneco e, partindo para o nonsense, seu personagem
Sacatrapo sai a procurar a própria cabeça, que se separou do corpo.
com a instalação da família real portuguesa, em 1808. D. João VI gostava de artes e, como
considerou de baixa qualidade a produção na colônia, tomou medidas para reverter a situação.
Para o teatro houve duas principais decisões. Uma foi com os edifícios teatrais,
aprimorando algo já iniciado. Em decreto de 1810, D. João VI determinou que «se erija um
teatro decente e proporcionado à população e ao maior grau de elevação e grandeza em que
hoje se acha pela minha residência nela». O Teatro São João ficou pronto três anos depois e
acolheu as diversos manifestações teatrais, entre as quais comédia, farsa, vaudeville e burleta.
Outra decisão do rei foi trazer atores de companhias portuguesas. A brasileiros
couberam apenas papéis secundários. Não se investiu na formação de atores, ao contrário de
outras artes, onde havia recomendação especial para o ensino. O melhor exemplo é a Missão
Artística Francesa, que trouxe pintores, paisagistas e escultores para desenvolver suas
criações e repassar técnicas a pessoas com talento na colônia. Chegou ao Brasil em 1816 e um
dos artistas mais famosos foi Jean Baptiste Debret (1768-1848), que por 15 anos retratou
paisagens brasileiras e dedicou-se ao magistério artístico.
teatro: João Caetano dos Santos (1808-1863), Luís Carlos Martins Pena (1815-1848) e
Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882).
João Caetano constituiu, em 1833, a primeira companhia teatral apenas com atores
brasileiros. Ele próprio era ator e conjugava atuação com outras funções, como ensaiador e
empresário. Sua temática preferida era tragédia, mas também abriu espaço para comédias.
Encenou, em março de 1838, a primeira peça escrita e encenada por brasileiros. Foi Antonio
José, ou o Poeta e a Inquisição, uma tragédia escrita por Gonçalves de Magalhães.
Havia em Martins Pena um traço contracultural, que o levou a enxergar um novo filão e
nele investir. Sua ousadia não foi suficiente para transpor todas as barreiras que separavam a
comédia brasileira das obras de elite, as tragédias, mas permitiu elevar seu patamar. Sua
fórmula para fazer rir era simples, inovadora e eficiente. Serviu de referência para artistas que
o sucederam, que criaram versões a partir do modelo iniciado. Sua obra possui valor
documental por retratar uma época da história brasileira. Traz, ainda, um sutil questionamento
ético, que o meio teatral depois adotaria como importante recurso.
Pouco antes de Martins Pena, outros brasileiros escreveram peças cômicas, também
com temática nacional e cunho popular. Um deles foi Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-
1879), aluno de Jean Baptiste Debret e notabilizado como o primeiro caricaturista brasileiro.
Apenas uma das várias comédias que teria escrito sobreviveu ao tempo. É A Estátua
Amazônica, que satiriza a notícia da descoberta de uma pedra com inscrições hieroglíficas no
Rio Negro.
O rigor histórico nos leva a registrar ainda as peças de Joaquim José Teixeira (1811-
1895), O Triunfo da Imprensa e Um dos Muitos, que, cronologicamente, seriam as primeiras
comédias brasileiras. Ambos os comediógrafos não figuram com destaque na história da
comédia brasileira porque suas peças não chegaram aos palcos, ao contrário da obra de
Martins Pena.
apresentou um trabalho refinado, com melhores resultados na literatura que no teatro. Mesmo
assim, várias peças suas arrancaram aplausos da plateia e suas comédias guardam um belo
retrato dos costumes cariocas. As mais conhecidas são O Fantasma Branco, a primeira delas,
datada de 1856, e A Torre em Concurso, de 1863, enaltecida por críticos pelo elevado padrão
dramático.
O desenvolvimento da comédia brasileira esbarrava no baixo nível de algumas
produções, carregadas de situações execráveis e linguagem de baixo calão. Contra essa
condição se insurgiram alguns expoentes literários da época, entre os quais Joaquim Maria
Machado de Assis (1839-1908), um dos mais brilhantes escritores brasileiros. Infelizmente,
sua contribuição para o teatro foi limitada. Deixou-nos algumas comédias, de agradável
leitura, mas que não são a melhor expressão de seu talento. No palco, suas personagens
careciam de energia psicológica e dinamismo teatral para empolgar plateias.
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Vilma Áreas faz um interessante resumo da comédia, desde a Grécia até a atualidade, no livro Iniciação à
Comédia, de 1990. A Jorge Zahar Editora informou que o livro está «esgotado e fora de catálogo».
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retrospectiva de fatos reais do ano anterior em cenas curtas e independentes entre si, com
críticas divertidas, versos e alegorias. A peça era um noticiário cômico.
A comédia de costumes não deixou de ocupar nossos palcos, até porque já estava
definitivamente incorporada ao repertório teatral brasileiro. Só não era mais uma novidade e,
por isso, abriu espaço para acolher mais essa vigorosa expressão do humor. O teatro brasileiro
vivia a era do riso farto, que se estendeu das últimas décadas do século XIX até meados do
século XX.
Um século de comédia
A plateia orientava a produção teatral no Brasil nas décadas anteriores e posteriores à
virada do século. O povo queria rir e lotava os teatros para se deliciar com a graça ligeira dos
espetáculos. A cena brasileira foi, por isso, dominada pela comédia popular. Os intelectuais
revelavam pouco entusiasmo por tais peças, pois viam nelas um componente comercial, baixa
investigação artística e uma tênue e perigosa fronteira com a vulgaridade. A crítica decorria
não tanto da comicidade em si, mas da abordagem superficial de temas, tanto os relativos a
emoções pessoais e coletivas como os problemas sociais. Grandes questões nacionais, como o
abolicionismo, encontraram melhor guarida na literatura.
O pensamento da elite foi vencido pela vontade popular. O teatro tornou-se a diversão
das massas e se expandiu muito nas camadas sociais tradicionalmente com menos acesso a
espetáculos. O Teatro Trianon, no Rio, tinha seus 1.000 lugares sempre ocupados e peças
novas a cada semana. Era essencial uma organização prática do trabalho e a especialização
dos atores em certos papéis.
Os ganhos sociais com tal condição são inquestionáveis, mas houve perdas. As
profundas reflexões de artistas sobre o conjunto da obra cênica, que sacudiram convicções
estéticas e temáticas em países da Europa e na Rússia, chegaram ao Brasil de forma apenas
residual e com atraso. Demorou para que fossem conhecidas no Brasil as ideias de
Stanislawski, Appia, Craig e outros.
O Rio espelhava, a seu modo, a efervescência cultural de Paris. Nos palcos parisienses
pululavam o cancã, a ópera-bufa e a opereta. Aqui sua melhor tradução foi o teatro de revista,
que entrava em sua segunda fase, atendendo aos anseios da sociedade por atividades teatrais
mais afinadas com a crescente boemia. A especialista Neyde Veneziano entende que foi «um
teatro que contribuiu para a nossa descolonização cultural, que fixou nossos tipos, nossos
costumes, nosso modo genuíno do 'falar à brasileira'».
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A popularização do teatro
Também de Paris veio o cinema, por iniciativa do empresário de entretenimento
Paschoal Segreto (1868-1920), que montou a primeira sala de exibição no Rio, o Salão
Novidades de Paris. Viabilizou a exibição cinematográfica no Brasil em 1896, no ano
seguinte à apresentação pelos irmãos Auguste e Louis Lumière. Era um espaço de tempo
curtíssimo para os padrões da época. O cinema não desbancou a popularidade do teatro
porque Segreto administrou bem as duas formas de diversão. Deixou o cinema para as elites e
massificou o teatro, ao incentivar a comédia ligeira e introduzir as sessões teatrais, que
baratearam o custo do ingresso.
Muitos artistas contribuíram para a riqueza cômica dos palcos cariocas. O maranhense
Antônio Maximiano Coelho Netto (1864-1934) foi um deles. Escreveu cerca de 30 peças e
deixou como marca própria a visão poética e uma abordagem mais intelectualizada do humor,
embora tivesse habilidade para avançar em várias tendências, inclusive a do riso fácil das
farsas. Nas ruas e nas casas, Coelho Netto colheu farto material para criticar relacionamentos,
superstições e padrões sociais.
Outro destaque foi o carioca João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto
(1881-1921), o João do Rio. Valia-se muito do paradoxo como ferramenta cômica. Sua
característica temática era a futilidade em ambientes sociais e os movimentos decadentistas2.
Em termos de público, poucas peças tiveram a repercussão de Forrobodó, da
Companhia de Operetas, Burletas e Revistas do Teatro São José. Foi um fenômeno teatral.
Estreou em 1911 e consta que foi apresentado mais de 1.500 vezes consecutivas. «As 22
sessões semanais de Forrobodó lotavam com meses de antecedência, algo inédito na história
das diversões públicas da cidade», registra o pesquisador Antonio Herculano Lopes. A peça
falava de um roubo de galinhas do dono de um clube musical e de um quiproquó na entrada
desse clube. Levou ao palco as palavras erradas e os hábitos da classe pobre do Rio. Foi
escrita pelos jornalistas Luís Peixoto e Carlos Bittencourt, com música de Chiquinha
Gonzaga.
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Decadentismo foi uma corrente estética que criticava a decadência em que o mundo estava mergulhado.
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Renovação cultural
Os brasileiros deixaram-se contagiar pela obsessão pelo novo que crescia na Europa e
formataram algo igualmente inovador em São Paulo: a Semana de Arte Moderna, em
fevereiro de 1922. O rebelde movimento abriu espaço para a literatura e as artes plásticas, mas
deixou de fora o teatro. É curioso que assim tenha sido, já que era forte a crítica de
intelectuais sobre o padrão teatral vigente. Sem contar que a proposta da Semana, tipicamente
contracultural, era favorável à comédia, que dava o tom das peças do período. Parecia fácil
manter a essência do que o público queria – rir – e elevar a qualidade artística das
apresentações.
Para Décio de Almeida a explicação está na pouca disposição da classe teatral para
provocar mudanças nos esquemas estereotipados de enredos e de personagens que
dominavam a cena brasileira. «Se tal não sucedeu, culpa não cabe, é bom frisar, aos
modernistas, que tentaram em vão, durante anos, forçar as portas da cidadela conservadora em
que se convertera o palco brasileiro».
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teatral, que não podia mais criticar política, fatos cotidianos e valores morais. O humor
ligeiro, sem maiores questionamentos, só para divertir, tronou-se perfeito.
estruturado na fórmula de O Avarento, de Molière, foi escrita em 1957. Ambas são comédias
no melhor estilo de Suassuna.
Além da comédia
Enquanto a comédia dominava a cena brasileira, intelectuais do palco buscavam
alternativas ao teatro de «fazer rir». Entre eles estavam Álvaro e Eugenia Moreyra, que
criaram, em 1927, o Teatro de Brinquedo, de duração efêmera, e depois a Companhia de Arte
Dramática. Suas propostas dramáticas, paradoxalmente, não excluíam o humor. Adão, Eva e
outros membros da família... era uma comédia.
Alcance mais amplo obteve Pachoal Carlos Magno (1906-1980) com o Teatro do
Estudante do Brasil (TEB), criado em 1938, no Rio. Fortaleceu o trabalho do encenador,
apresentou peças internacionais relevantes, realizou festivais pelo país afora e despertou em
estudantes bem-nascidos de todo o Brasil o interesse em produzir teatro de qualidade. De
quebra, elevou o nível cultural da plateia, que recebia os parentes dos jovens atores. O TEB
foi precursor da modernidade do teatro brasileiro e lapidou talentos, como Sérgio Britto,
Miriam Pires e Agildo Ribeiro.
Outra lufada de renovação veio com OsComediantes, a partir de 1940, no Rio. Apesar
do nome, o grupo buscava a reforma estética para qualquer gênero teatral. Consolidou a
proposta do TEB, valorizou a atuação em equipe em contraponto ao estrelismo e substituiu o
improviso pela peça ensaiada e bem estruturada. Preferiram o somatório de talentos
individuais, que exigia um atuante diretor, e introduziram um trabalho mais intelectualizado,
onde o texto era analisado e compreendido com rigor estrutural. Sua fórmula de gestão teatral
oferecia mais estabilidade ao grupo.
Para não cometer a injustiça de subestimar o talento de artistas do ciclo anterior, é
essencial ressalvar que o improviso é o requinte dos grandes comediantes, um bem escasso e
de valor inestimável. O problema é o risco acentuado de deixar uma companhia teatral na
dependência de artistas singulares.
A iniciativa de Os Comediantes foi bem acolhida e há consenso entre especialistas de
que inauguraram a modernidade no teatro brasileiro. Em sua profissionalização contaram com
o apoio do polonês Zbigniew Ziembinski (1908-1978), fugido da guerra e conhecedor da
metodologia europeia de teatro.
São Paulo dominou a onda reformista, tendo como expoente o industrial italiano Franco
Zampari e seu lendário Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Começou como uma casa de
espetáculos, em 1945, abrindo espaço para grupos amadores, entre eles o Grupo de Teatro
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Clovis Levi escreveu o livro «Teatro brasileiro: um panorama do século XX». Foi autor e diretor de peças em
que critica a arbitrariedade do poder e dedicou-se também à vida acadêmica. Na atualidade é professor e dirige
um grupo teatral em Portugal.
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Maurice Vaneau e, por fim, José Celso Martinez Correa, que colocou o grupo no mais alto
patamar do teatro brasileiro. Com técnica apuradíssima, o Oficina foi um reduto de grandes
profissionais.
O governo de Juscelino Kubitscheck também investiu no teatro. Criou o Teatro
Nacional da Comédia – TNC e nele manteve uma companhia teatral fixa, por meio do Serviço
Nacional do Teatro. Queria formar público para o teatro e montar peças com padrão
internacional. Objetivos louváveis com fracos resultados. Sem a vibrante energia criadora do
Arena, do CPC e do Oficina, o TNC teve dificuldades para cativar plateias.
Seu único sucesso de público foi Pedro Mico, de Antonio Callado (1917-1997), que
estreou em 1957. Falava de exclusão social, da condição do negro e da mulher, com efeitos
cômicos. Foi a primeira peça a buscar inspiração em uma favela do Rio e misturou vícios e
virtudes de um típico malandro. Foi dirigida por Paulo Francis, protagonizada por Milton
Moraes e contou com a curiosa incursão teatral de Oscar Niemeyer, responsável pela
cenografia. Callado era muito ligado a temas nacionais e, anos mais tarde, revelou-se opositor
ao regime militar, sendo preso duas vezes. A companhia produziu mais uma peça marcante,
Rastro-Atrás, de Jorge Andrade, a última antes de fechar as portas. O TNC permaneceu de
1956 a 1967 e, destoante de sua denominação, produziu poucas comédias.
distanciamento de várias décadas permite que hoje se identifique com mais clareza os avanços
do período. O Brasil consolidou seu padrão de qualidade frente às produções teatrais mundiais
e introduziu novos temas nos palcos, não apenas por causa das medidas repressivas, mas
porque o povo se cansara da insistente e densa abordagem política. A evidência veio com
Plínio Marcos, em 1967, e o sucesso com seus dramas pessoais em Dois Perdidos numa Noite
Suja.
quarto de uma jovem recatada. Em vez de roubá-la, passou a noite toda em conversa com ela.
Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde, transforma a plateia em classe escolar para ouvir
a professora discorrer sobre temas variados, como sexualidade reprimida e dilemas morais.
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Chanchada era um humor popular, caricato e ingênuo, que marcou as produções cinematográficas da mais
famosa companhia cinematográfica do Brasil, a Atlântida. Pegava carona em sucessos americanos. Sansão e
Dalila, por exemplo, virou Nem Sansão nem Dalila e Matar ou Morrer se tornou Matar ou Correr. Mesclava
zombaria aos trejeitos norte-americanos com piadas nacionais, no estilo malandro carioca. Quando passou a
explorar o erotismo, deu origem às pornochanchadas, muito atacadas pelos críticos.
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Apostaram no riso solto e despretensioso, que tocava não na realidade do país e sim em
questões pessoais. Desprezaram a estrutura clássica das peças teatrais e fizeram montagens
livres, orientadas pela irreverência.
O grupo surgiu em 1974 com um nome intencionalmente sem sentido, que evidenciava
seu descaso com modelos prontos e unanimidades. Asdrúbal Trouxe o Trombone era uma
espécie de código familiar que Regina Casé e seu pai, o artista Geraldo Casé (1928-2008),
usavam para sair discretamente de algum local depois que algo ou alguém tornava o ambiente
desagradável.
A força interpretativa desses jovens fez história na comédia brasileira. A proposta,
simples e inovadora, conquistou público e crítica. Sua obra prima foi Trate-me Leão, de 1977,
peça que falava da juventude da zona sul do Rio, ou seja, deles próprios. Resultou da criação
coletiva, uma de suas marcas. Todos participavam ativamente de todas as fases do processo
artístico: criação, produção e apresentação. O grupo acabou em 1984 e seus integrantes
continuaram com êxito em carreiras solo no teatro, TV e cinema.
diretor e foi escrita por Mauro Rasi (1949-2003) e Vicente Pereira (1950-1993), dupla com
longa atuação em enredos cômicos.
A maioria dos artistas que deram vida ao besteirol não gostavam da denominação
porque transmitia uma falsa ideia de precariedade na produção e no conteúdo. Há quem
considere que tenha sido batizado pelo preconceito intelectual da crítica.
Os elementos do besteirol
Há uma visível identificação do besteirol com as chanchadas. Os dois movimentos
gostam de liberdades, citações e recriações, sem medo do ridículo, que é trabalhado ao
extremo. Traz a força absoluta da interpretação, já que os textos por si sós não traduzem toda
a comicidade que transborda em cena. Os atores precisam dominar profundamente a arte da
encenação cômica. Não por acaso, os bem-sucedidos no besteirol desenvolveram consistente
carreira artística.
No besteirol, autor e ator se confundem e o diretor tem como tarefa principal emendar e
dar sentido de conjunto às ideias que derivam da criação coletiva. «Seu humor é inteligente,
exige da plateia uma certa dose de informação para ser melhor usufruído», observa Flávio
Marinho. Ele define o besteirol como um conjunto de esquetes, interpretado por uma dupla de
atores ou atrizes, com amplo uso de paródias, fina ironia do comportamento social e conteúdo
extraído principalmente de filmes, teatro e TV.
O movimento teve mais expressividade no Rio de Janeiro e muitos de seus integrantes
permanecem na trilha da comédia. Um deles é Pedro Cardoso, que, em dupla com Felipe
Pinheiro (1960-1993), realizou trabalhos expressivos e conheceu o sucesso já no primeiro
espetáculo, Bar, doce Bar, de 1982. É o caso também de Miguel Falabella, que deu vida a
peças hilariantes, principalmente em parceria com Guilherme Karam. Um dos maiores
sucessos de público e crítica foi As Sereias da Zona Sul, de 1988, com textos dele próprio e de
Vicente Pereira.
O sucesso dos intérpretes se completava com o apoio de gente talentosa nos bastidores,
todos polivalentes nas funções teatrais, como Luiz Augusto Rescala, o Tim Rescala, nome
certo para garantir qualidade na trilha sonora das produções. Destaque também para Thaís
Portinho, pela atitude precursora em relação ao tema. Apostou no estreante Mauro Rasi e
protagonizou a primeira peça escrita por ele, o monólogo Se Minha Empregada Falasse, em
1978. Trazia a essência da contracultura e o jeito leve e brincalhão de cutucar temas densos.
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A comédia experimental
As produções contestatórias do besteirol tinham certa ligação com o teatro experimental
e sua busca por inovações em linguagem, música, iluminação e cenografia. O vigor da
proposta continuou a inspirar artistas e grupos. Um deles foi a Companhia Tragicômica Jaz-
o-Coração, liderada por Buza Ferraz (1950-2010), que durou de 1977 a 1979 e montou duas
comédias: O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto e Mistério Bufo, de Dario
Fo. A combinação consistente de interpretação e elementos cênicos projetou o grupo de
jovens atores.
Em 1980, Louise Cardoso coordenou seus alunos de teatro na montagem de uma peça,
que levou o mesmo nome do grupo: Diz Ritmia. Evandro Mesquita e Patrícia Travassos, que
haviam deixado o Asdrúbal em 1981, fizeram algo parecido. Levaram sua turma de teatro a
montar uma peça, que também batizou o grupo: Banduendes por acaso Estrelados. Esses
grupos, mesmo que de efêmera duração, ajudavam a consolidar a postura libertária daquela
geração jovem.
A fase pós-censura valorizou também elementos visuais e favoreceu a adoção de
elementos do circo nos palcos. O Teatro da Praia, no Rio, abrigou a série Terror na Praia, a
partir de 1992, sob orientação de Vicky Militello, de família circense. Eram espetáculos com
uma peça curta e uma segunda parte de variedades. Havia melodramas circenses, com enredos
absurdos e exagerados, estética de filme de terror classe B e estímulo à participação da
plateia, relata Antonio Pedro Borges, especialmente para este livro. «Nós mesmos, quando
não estávamos em cena, íamos para a plateia, incitando o público a reagir, interferir e vaiar».
O elenco trazia ainda Anselmo Vasconcellos e Luca de Castro.
A dinâmica participativa e o ritmo intenso de produção, com um espetáculo novo toda
semana, foram um sucesso e ajudaram a formar artistas. «Havíamos descoberto uma nova-
velha forma de treinamento para atores», revela Antonio Pedro, que, em 1995, replicou a
fórmula no Tuerj (Teatro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Conta ele:
Resolvemos ressuscitar o Teatro de Terror, com o sugestivo nome de Teatro nas
Concha, agora sem o Ato Variado e com a clara intenção de treinamento. Da primeira leitura
à estreia fazíamos no máximo cinco ensaios. Eram espetáculos com mais de quarenta pessoas
em cena, com cenários de papelão, figurinos do nosso acervo, luz, som, fumaça e muitos
defeitos especiais. Era impossível não improvisar, mas era obrigatório contar a história, com
nós mesmos provocando o caos na plateia, sempre lotada de estudantes. Fizemos nove
espetáculos em oito meses, com os mais experientes ajudando a garotada a superar os
obstáculos. Assim, um garoto sem nenhuma experiência teatral, em oito meses, já tinha
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passado por nove experiências perigosas e significativas. Quem tinha o dom, adquiriu
repertório para se afirmar como comediante.
Na linha que une comédia e circo, um dos mais bem acabados exemplos é o premiado
grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões, formado em 1991 e ainda em atividade. Começaram
a fazer espetáculos nas ruas de São Paulo e migraram para os teatros, com êxito crescente.
Abusam da diversão, ironia e irreverência, improvisam, integram-se à plateia e arrancam boas
gargalhadas. Sob a direção de Hugo Possolo, o grupo conta ainda com Alexandre Roit, Jairo
Mattos, Arthur Leopoldo Silva e Raul Barreto.
Contadores de piadas
No ambiente do riso, as obras teatrais coletivas conviviam com as apresentações
individuais do gênero one man show. Na prática, tratava-se de um contador de piadas com
refinamento cênico. José Vasconcelos é considerado pioneiro, tendo feito suas primeiras
apresentações em palcos na década de 60. Antes, cravou seu nome na historiografia televisiva,
ao produzir e atuar no primeiro programa de humor da TV brasileira, a Toca do Zé, da TV
Tupi, em 1952.
Juca Chaves decidiu fazer graça a partir de uma base melódica. É músico e se
especializou em trovinhas musicalizadas, recheadas de tiradas cômicas, leves e debochadas.
Outro ilustre contador de piadas é Ary Toledo, que transita entre sátiras políticas e fatos de
amplo conhecimento popular. Brinca com gordos, magros, sogras, homossexuais. Na época
da ditadura militar era ator no Teatro de Arena e chegou a ser preso. Foi liberado em seguida,
pois foi capaz de seduzir com o humor até mesmo as pessoas que o prenderam.
Chico Anysio e Jô Soares investiram em comicidade no teatro e principalmente na TV,
com uma grande variedade de personagens. Na abertura dos programas televisivos e nos
shows teatrais deixavam de lado papéis pré-definidos e falavam com o público sem quaisquer
artifícios, sendo eles próprios. Essa atitude os aproximava da stand up comedy (veja item
específico em Comédia no Mundo).
Comédia em pé
A stand up comedy foi o elemento novo nos palcos brasileiros em meio à diversidade de
obras cômicas no princípio do século XXI. Aqui se chamou comédia em pé. Os artistas
acomodaram o repertório nacional no formato original norte-americano, com o mesmo humor
despojado, ausência de adereços cênicos e inspirado em temas identificados pela plateia em
seu cotidiano.
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O pioneirismo oscila entre dois grupos, um do Rio e outro de São Paulo. O do Rio
surgiu em 2005, com Cláudio Torres Gonzaga, Fábio Porchat, Fernando Caruso e Paulo
Carvalho. É o Clube da Comédia em Pé, que mantém uma sequência ininterrupta de
apresentações desde 2007 e adota a prática de acrescentar um humorista convidado a cada
aprerentação. O clube possui até dogmas, que incluem a proibição de se criar personagens e a
exigência de que os textos sejam da autoria do intérprete, entre outros.
O paulista formou-se após a encenação da peça Mondo Cane, que já incorporava traços
de stand up. No elenco estavam Marcelo Mansfield, Rafinha Bastos e Marcela Leal, que
radicalizaram o que chamaram «humor de cara limpa». Convidaram Oscar Filho, Márcio
Ribeiro e Henrique Pantarotto e criaram o Clube da Comédia Stand Up. A primeira
apresentação foi em 2005.
A comédia em pé segue com grande acolhida do público, em teatros sempre lotados.
Talvez só não tenha se expandido mais pela elevada exigência ao comediante. A habilidade
interpretativa do ator é colocada à prova, dia após dia, diante de uma plateia ávida pelo riso. E
é preciso conquistar o público de imediato, pois as falas são sempre curtas, de no máximo 15
minutos.
A comédia em pé tem forte conexão com o mundo real e uma grande capacidade de
transformar em gargalhada uma rotina incômoda, uma situação irritante, um problema
complexo. Isso explica o sucesso da comédia na atualidade e em qualquer época da história
do teatro no Brasil e no mundo.
uma montagem modular de várias pequenas ideias em vez de um único e amplo conceito. É a
chamada linguagem por níveis, que o teatro já começou a adotar, em especial a comédia
quando trabalha vários blocos pequenos de ideias interligadas de forma ágil.
A integração de públicos costuma incluir conteúdos comuns. Um exemplo está nos
clubes de comédia recém citados. Seus artistas atuam nos palcos e em televisão. O elenco do
Rio atua em humorísticos da TV Globo há muito tempo. O paulista estreou em 2008 na TV
Bandeirantes com o CQC (Custe o Que Custar), versão brasileira do Caiga Quien Caiga, da
produtora argentina Eyeworks - Quatro Cabezas e presente em vários países, como Espanha,
Chile, Portugal e Israel. O CQC, inclusive, pode ser considerado uma derivação conceitual da
stand up porque é um humor de cara limpa. De forma parecida trabalha o Pânico na TV, de
2003, que interliga outro veículo de comunicação, o rádio. A proposta nasceu no programa
Pânico, da rádio Jovem Pan, com o apresentador Emílio Surita.
O fato é que a audiência da TV leva gente para o teatro e ficar perto do artista numa sala
teatral estimula o público a vê-lo em programas televisivos ou a interagir com ele em redes
sociais. É forte o apelo das celebridades. Um artista de sucesso é garantia de teatros lotados,
seja em cenas trágicas ou cômicas.
A comédia hoje
Para entender a sobrevivência da comédia nos palcos é importante considerar o
significado do teatro para a sociedade. As pessoas saem de casa basicamente em busca de
diversão e de relacionamentos sociais. No passado, as opções de lazer eram mais reduzidas e
os espetáculos teatrais serviam também como espaço privilegiado para reflexões e para as
pessoas se atualizarem com o que se passava na coletividade ou no mundo.
Com o passar do tempo, outras fortes opções surgiram. Veio o cinema, a televisão e
agora, o mundo do entretenimento inclui jogos eletrônicos e redes sociais entre outras
possibilidades. O teatro sobrevive porque no ramo da diversão o processo que ocorre é de
acumulação e não de substituições. Sempre haverá atrações diferentes para atender à
diversidade de pessoas e à alternância de seus interesses.
No Brasil, a atividade cênica atual não tem sido usada para tratar ideologias densas
porque o país atingiu uma maturidade democrática que previne tensões sociais severas e, por
consequência, acaba não gerando pendências para serem discutidas nos palcos. O Brasil vive
um bom momento, a classe teatral não sofre restrições do poder constituído, a população
brasileira está mais rica e, portanto, mais propensa a consumir produtos culturais.
Древняя и Новая Романия 329