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INTRODUÇÃO

Tema:

A PROBLEMÁTICA DAS IMIGRAÇÕES ILEGAIS NA SADC: QUE IMPLICAÇÕES


PARA MOÇAMBIQUE

O presente trabalho de pesquisa tem como limite espacial a região da SADC, concretamente o
Estado Moçambicano. O limite temporal da presente pesquisa compreende o ano de 2005 à 2014.
A escolha desta delimitação prende-se com o facto de em 2005 um estudo conduzido pela
Divisão de População do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas
(UNDESA), ter afirmado que Estados em via de desenvolvimento também constituem destino
dos imigrantes devido a conjuntura política, económica e social desfavorável do Estado de
origem. E o ano de 2014 deve-se ao facto de Moçambique através da Procuradoria-geral da
República em coordenação com o Instituto Superior de Relações Internacionais terem realizado
um seminário em Maputo que visava analisar a problemática das imigrações ilegais, uma vez que
já atingem níveis preocupantes.

1. Contextualização

O tema em estudo insere-se no contexto da globalização, cujo fim da Guerra Fria alterou a
situação mundial em matéria de movimentos migratórios, e as migrações internacionais são hoje
uma das prioridades na agenda política mundial. Sendo assim, o Relatório da Comissão Mundial
sobre as Migrações Internacionais (2005:7), afirma que à medida que a magnitude, âmbito e
complexidade das migrações têm vindo a aumentar, os Estados e outras partes interessadas têm
vindo a aperceber-se das dificuldades e das oportunidades que as migrações internacionais
representam.

1
A nível da região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) importa
destacar que a questão das imigrações está estritamente ligada a diversos factores que ocorrem
no continente em geral e na região subsaariana em especial, já que é esta a região que maior
contribuição tem dado ao somatório dos imigrantes ilegais para os Estados membros da SADC.
De acordo com o Alto Comissariado para os Refugiados (20051) citado por Lopes (2016:57), os
Estados da SADC são receptores de imigrantes africanos oriundos do Sudão, do Burundi,
Etiópia, da Somália, da Libéria, do Togo, da República Centro-Africana, do Ruanda, entre
outros.

A nível doméstico o tema em pesquisa enquadra-se num contexto em que os movimentos


migratórios não só acontecem na trajectória Moçambique - África do Sul, mas também há, um
novo fenómeno na área da Sociologia das Migrações, em que há um número considerado de
imigrações ilegais que procuram fixar-se em território moçambicano, a maioria desses imigrantes
ilegais provém das regiões em conflito dos Grandes Lagos e do Corno de África. Também,
existem imigrantes ilegais provenientes de alguns Países asiáticos como Tailândia e Bangladesh.
As Províncias do norte de Moçambique, têm sido um dos principais pontos de entrada desses
imigrantes ilegais (Raimundo 2009:972) citados por Wetimane (2012:2).

2.Justificativa

A razão da escolha do presente tema, deve-se ao facto de que em sociedades globalizadas é


praticamente inegável a existência de imigrantes. Embora, os efeitos provenientes das imigrações
possam ter consequências positivas ou negativas para os Estados acolhedores. Este pensamento
divide ideias de diferentes autores, pois, por um lado Castles (2005:35), considera que os
movimentos migratórios estão na origem do povoamento de todas as regiões do mundo que
favoreceram as aproximações entre culturas… mais do que um fenómeno económico e social, as
migrações constituem uma aposta política importante, simultaneamente nas causas e nas
soluções propostas para as resolver.

1
Alto Comissariado para os Refugiados (2005).
2
Raimundo, I. (2009). International Migration Management and Development in Mozambique: WhatStrategies?
Published by Blackwell Publishing Ltd., 9600 Garsington Road, Oxford. UK.

2
Por outro lado, Castiglioni (2009:39), afirma que as imigrações constituem um processo
complexo em suas características, mensuração, causas e efeitos. O estudo das imigrações é
relevante não só para a compreensão dos seus determinantes políticos, sociais e económicos,
como também para o conhecimento dos efeitos que ocorrem em várias esferas, pois, o processo
afecta a vida e o comportamento dos imigrantes e suas famílias, e, em termos da estrutura da
sociedade, por seu carácter bilateral, as imigrações provoca modificações na distribuição, na
dinâmica, e na composição da população, interferindo na vida política, e social do País de partida
e de chegada dos imigrantes.

3.Problematização

As abordagens e modelos usados no mundo contemporâneo demonstram que as migrações de


carácter internacionais constituem um importante factor de mudança social em diferentes
contextos. Contudo, o Relatório da Comissão Mundial sobre as Migrações Internacionais
(2005:12), diz que essas migrações internacionais são habitualmente uma resposta às diferenças
e disparidades, e de um modo geral, as pessoas decidem emigrar porque querem fugir às
limitações e inseguranças com que se deparam no seu País de origem, e porque consideram que
existem melhores condições e oportunidades noutro sítio. No mundo contemporâneo as
principais forças que conduzem as migrações internacionais devem-se as diferenças no
desenvolvimento, na demografia e na democracia.

Por outro lado, a questão das imigrações ilegais impõem desafios, contradições e até mesmo
incidem na formulação das políticas nacionais, bilaterais e regionais de desenvolvimento dos
Estados acolhedores. E o debate sobre a complexidade das imigrações ilegais é vasto e requer um
tratamento em fórum que permita abordagens abrangentes, equilibradas e imparciais.

Segundo o Relatório da Comissão Mundial sobre as Migrações Internacionais (2005:31), os


Estados no exercício do seu direito soberano de decidir quem pode entrar e quem pode
permanecer no seu território, devem cumprir a sua responsabilidade e obrigação de proteger os
direitos dos imigrantes. Numa outra vertente o relatório (2005:32), afirma que as imigrações
ilegais põem em causa o exercício da soberania dos Estados e podem mesmo constituir uma

3
ameaça à segurança pública, especialmente quando envolvem corrupção e criminalidade
organizada. Também podem ter uma série de consequências negativas, quando ocorrem a uma
escala significativa.

Nesta ordem de ideias, surge a necessidade de debater sobre as imigrações ilegais na SADC e
suas implicações para Moçambique.

4.Objectivos

4.1. Objectivo Geral

 Reflectir sobre a problemática das imigrações ilegais nos Estados da SADC e as suas
implicações para Moçambique.

4.2. Objectivos Específicos

 Analisar a problemática das imigrações ilegais na SADC.


 Discutir as implicações das imigrações ilegais para SADC.
 Avaliar as implicações das imigrações ilegais em Moçambique.

5. Questões de Pesquisa

 Como pode ser entendida a problemática das imigrações ilegais na SADC?


 Que implicações poderão advir das imigrações ilegais para a SADC?
 Que implicações poderão advir das imigrações ilegais para Moçambique?

4
6.Hipóteses

 A problemática das imigrações ilegais pode ser entendida no quadro contextual em que
verifica-se uma considerável estabilidade política e económica a nível da região da SADC.
 A maior competição pelas oportunidades de emprego e pelos recursos, que já são
insuficientes para os nacionais, podem ser algumas das implicações das imigrações ilegais
para a SADC.
 A degradação das condições sociais e económicas podem ser algumas das implicações das
imigrações ilegais para Moçambique.

7. Metodologia

A presente pesquisa é baseada no uso dos métodos comparativo, histórico e monográfico, para
além do recurso às técnicas documental, bibliográfica e da entrevista, também foi feita consultas
de Portais da Internet.

7.1. Método Comparativo

O método comparativo é usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou


entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades iguais ou de diferentes estágios de
desenvolvimento. É empregado em estudos de largo alcance e sectores concretos, assim como
para estudos qualitativos e quantitativos e pode ser utilizado em todas as fases e níveis de
investigação (Marconi e Lakatos 2009a:92). Este método é pertinente para este trabalho, pois
permite comparar o nível dos fluxos migratórios nos Estados da SADC.

7.2.Método Histórico

O método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado


para verificar sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançam sua forma actual
por meio de alterações de suas componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto

5
cultural particular de cada época (Marconi e Lakatos 2009a:91). Portanto o método histórico
permite conhecer a história das imigrações na SADC desde os tempos passados.

7.3.Método Monográfico

Segundo Gil (2014:18), o método monográfico parte do principio de que o estudo de um caso em
profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros casos ou mesmo de todos os
casos semelhantes. Esses casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidade, etc. Este
caso representa vários casos de género que acontecem na SADC e Moçambique em particular.

7.4.Técnica Bibliográfica

De acordo com Gil (2014: 20), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Permite a busca de uma
problematização de um projecto de pesquisa a partir de referências publicadas, analisando e
discutindo as contribuições culturais e científicas de diversos autores.

7.5.Técnica Documental

Segundo Marconi e Lakatos (2009b:111), a técnica documental consiste na colecta de fontes


documentais que servem de suporte para a compreensão e para responder algumas questões que
orientam a pesquisa.

7.6.Técnica da Entrevista

E a técnica da entrevista é uma conversação efectuada face a face, de maneira metódica;


proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária (Marconi e Lakatos
2009b:111). Portanto, a técnica da entrevista permitiu-me entrar em contacto com entidades que

6
directamente ou indirectamente estão ligadas na área a ser pesquisada, de modo a facilitarem
uma melhor compreensão do tema em estudo.

8.Estrutura do Trabalho

Esta pesquisa para além da introdução e conclusão, é intermediada por quatro capítulos. O
primeiro capítulo é constituído pelo enquadramento teórico e o debate conceptual.

O enquadramento teórico baseia-se num debate operacional do paradigma Pluralista, ainda no


enquadramento teórico demonstro como o tema será lido a nível da teoria e a sua aplicabilidade.
No debate conceptual defino os conceitos-chave empregues com maior frequência na pesquisa e
apresento a pertinência da definição de cada conceito. O segundo capítulo deste trabalho te como
tema: A problemática das imigrações ilegais na SADC. Para uma melhor compreensão deste
tema fez-se uma subdivisão do mesmo em que a primeira parte dedica-se a uma abordagem
acerca da Origem e Evolução da SADC, a segunda farte faz um Retrato do Nível das Imigrações
Ilegais nos Estados da SADC que conta com a apresentação de duas tabelas que ilustram dados
ligados a imigração ilegal no período em análise.

O terceiro capítulo deste trabalho tem como tema: Implicações das imigrações ilegais para
SADC. De modo a criar uma organização lógica dos assuntos abordados neste capitulo fez-se um
subdivisão do mesmo capitulo, em que a primeira parte versa sobre as Causas das imigrações, a
segunda fala das Implicações da Imigração ilegal na SADC, a terceira faz uma abordagem a
volta das Consequências Das Imigrações Ilegais Nos Estados da SADC, a quarta parte espelha as
Implicações Socioeconómicas, a quita faz um olhar a volta das Implicações Sociopolíticas a
sexta e ultima faz uma abordagem ligada as Implicações de Segurança que podem advir das
imigrações ilegais.

O quarto e último capítulo têm como tema: Implicações das imigrações ilegais para
Moçambique. Por seu turno este capítulo está subdividido em partes. Em que a primeira parte
fala das Implicações socioeconómicas, a segunda faz uma abordagem das implicações sob Ponto

7
de vista sociopolítico, a terceira faz uma analise do Ponto de vista de segurança, e a ultima fala
dos Desafios que a Imigração Ilegal Impõe

8
CAPITULO: 1

ENQUADRAMENTO TEÓRICO E DEBATE CONCEPTUAL

1.1.Enquadramento Teórico

A presente pesquisa é abordada a luz do Pluralismo, nesta óptica apresento a história do


surgimento, os seus precursores e os principais pressupostos da teoria pluralista. Por fim
apresento a pertinência do uso da teoria e sua aplicabilidade. Sendo o pluralismo uma teoria que
explica as relações internacionais numa perspectiva que engloba diversos actores e assuntos que
ocorrem internacionalmente existe fortes motivos de aplicar esta teoria nessa pesquisa, uma vez
que a mesma é abrangente e podem fornecer-me ferramentas para uma melhor compreensão e
explicação do fenómeno “imigrações ilegais na SADC e suas implicações para Moçambique”.

1.1.2. História do surgimento do Pluralismo

As origens do pluralismo são encontradas no optimismo do Iluminismo, no liberalismo político e


económico do século XIX e no Idealismo do Wilsoniano do século XX. A contribuição do
Iluminismo do século XVIII ao pluralismo encontra-se na ideia Grega de que os indivíduos são
seres humanos racionais, capazes de entender as leis de aplicação universal que governam tanto a
natureza quanto a sociedade humana (Mingst 2009:55-56). O pluralismo é uma corrente teórica
que busca explicar as relações internacionais como elas deveriam ser.

9
1.2. Precursores do Pluralismo

Os precursores do pluralismo não são necessariamente observadores das relações internacionais,


mas sim economistas, cientistas sociais, teólogos ou cientistas políticos interessados em políticas
domésticas. John Locke é considerado precursor do pluralismo por afirmar que os Estados
existem para garantir a liberdade de seus cidadãos e, desta forma, permitir que vivam as suas
vidas e busquem a felicidade sem a interferência indevida de outros (Jackson e
Sorensen2007:154). Actores como Adam Smith (1988 3 ), Jeremias Bentham (1966 4 ), Herbert
Spencer (18985) e John Mill (18486) também são considerados precursores do pluralismo por
acreditarem que as economias capitalistas e o desenvolvimento das sociedades industriais
reforçavam a tendência dos governos constitucionais e parlamentais para a prossecução de
política externas pacíficas de compreender que a guerra não é uma actividade lucrativa e que o
laissez-faire e o comércio livre só podem produzir efeitos benéficos num ambiente previsível e
de paz internacional (Dougherty&Pfalltzgraff2003:405).

1.3.Pressupostos do Pluralismo

Segundo Viotti e Kauppi (1999:7-8), o pluralismo tem os seguintes pressupostos:

 Os actores não estatais possuem grande importância nas relações internacionais que não
podem ser ignorados, chegando, por vezes, a superam a autoridade do estado;
 O estado não pode ser considerando um actor unitário já que é composto por diversos
seguimentos da sociedade e da política, como burocracias e grupos de interesse;
 Estado não pode ser um actor racional uma vez que ele é composto por entidades,
burocracias e indivíduos que estão em constante barganha no processo de tomada de
decisões em política externa;

3
Smith, A. (1988), On Political Warfare, National Defense University Press. Washington, DC.
4
Bentham, J. (1966), Plan for a Universal and Perpetual Peace, reimp. In Charles W. Everett, Jeremy
Bentham,Weidenfeld and Nicolson, pp.195-229, Londres.
5
Spencer, H. (1898), Principles of Sociology, vol.11, pp.568-642, Appleton: Nova Iorque.
6
Mill, J. (1983), Economia para Principiantes, tradução de Luiz Guilherme Chaves e Regina Bhering pp.111-135.
Record: Rio de Janeiro.

10
 Interdependência entre os estados e a sociedade criou uma agenda internacional mais
extensa que se fixa não apenas na segurança nacional, mas abrange também aspectos
económicos, ecológicos, sociais e culturais.

1.4. Aplicabilidade do Pluralismo

O tema a nível da teoria será lido na perspectiva de demonstrar que a aplicação da teoria pode ser
em assuntos económicos, de conflitos, cooperação e na interdependência baseada nos princípios
democráticos e éticos. Pois, o pluralismo não exclui nenhum grupo de interesse ou associações
livremente constituídos, e baseia-se em discussões conflituosas, cujos resultados assentam,
muitas vezes, em compromissos satisfatórios ou, pelo menos, aceitáveis.

Em termos de assuntos que preenche a agenda das relações internacionais, o pluralismo para
além de focar-se em questões de highpolitics, preocupa-se também pelos outros assuntos, como é
o caso vertente das imigrações ilegais. Em termos de ameaças à segurança, esta teoria preocupa-
se também em analisar outro tipo de ameaças para além de um Estado para com outro.

O pluralismo entende que os Estado são os actores principais das relações internacionais, mas
não ignora o papel dos actores não estatais que também desempenham grande papel a nível do
sistema internacional, neste sentido, esta teoria interpreta melhor o tema em análise.

1.5.Debate Conceptual

Os conceitos-chave a serem definidos nesta pesquisa são: Migração e Imigração Ilegal, a


definição desses conceitos é de extrema importância, pós visa garantir uma melhor análise e
compreensão do tema.

11
1.5.1. Migração

Segundo Sousa (2005:118) Migração é a deslocação com carácter temporário ou permanente de


pessoas, devido a factores de natureza económica, política ou ecológica, que podem desenvolver-
se dentro do mesmo país – migrações internas – ou de um país para outro – migrações
internacionais.

De acordo com Pires (20037) citado por Wetimane (2012:47), migração é a transição, física, de
um indivíduo ou grupo, de uma sociedade para outra. Essa transição envolve habitualmente o
abandono de um quadro social e a entrada num outro.

Nesta pesquisa torna-se relevante definir migração pelo facto deste conceito incluir dois
fenómenos que podem-se considerar duas faces da mesma moeda: emigração e imigração. Sendo
assim, as emigrações referem-se a saída de pessoas duma região, enquanto que as imigrações é o
fenómeno inverso da emigração. Importa destacar ainda que o enfoque desta pesquisa está
direccionada ao fenómeno das imigrações na SADC, particularmente em Moçambique, cujo
número de imigrantes têm aumentado paulatinamente.

1.5.2.Imigração Ilegal

A imigração ilegal é um fenómeno de mobilidade das pessoas sem olhar para as regulamentações
legais estabelecidas, acontece quando se atravessam fronteiras, violando as leis de imigração do
Estado de destino e de origem. Um imigrante ilegal é um cidadão que atravessou uma fronteira
estrangeira por terra, mar ou ar. Mesmo aqueles estrangeiros que entraram legalmente num país,
quando permanecem no país depois de vencer o prazo são considerados imigrantes ilegais
(Wetimane 2012:47-48).

Segundo o Decreto 38/2006 de 27 de Dezembro, os imigrantes ilegais são aqueles que: entram
ou saem do território nacional por qualquer posto oficialmente estabelecido, sem passaporte ou
documento equiparado; entram ou saem do país com passaporte ou documento equiparado falso,

7
Pires, R. (2003). Migrações e Integração. Editora: Celta. Oeiras.

12
incompleto ou caduco; passam por pontos não habilitados, ainda que com documentação
necessária ou ainda por posto oficialmente estabelecido, sem que façam o movimento migratório.

Segundo o Relatório da Comissão Mundial sobre as Migrações Internacionais (2005:31), o termo


imigração irregular é normalmente utilizado para descrever uma série de fenómenos diferentes
que envolvem pessoas que entram ou ficam num país do qual não são cidadãos, infringindo
assim as leis nacionais. Incluem-se aqui os migrantes que entram ou ficam num país sem
autorização, aqueles que entram clandestinamente ou são traficados através de uma fronteira
internacional, os requerentes de asilo indeferidos que não obedecem às ordens de deportação e
pessoas que fogem aos controlos de imigração através do esquema de “casamentos brancos”.
Ambas as definições de imigração ilegal, acima apresentadas são de grande relevância para a
presente pesquisa por afirmarem conjuntamente que as imigrações ilegais constituem um
fenómeno que infringem as normas legalmente estabelecidas pelos Estados, e nesta vertente
pretende-se debater acerca da problemática das mesmas e as suas implicações para a SADC,
particularmente para Moçambique.

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CAPÍTULO: 2

A PROBLEMÁTICA DAS IMIGRAÇÕES ILEGAIS NA SADC

A questão das imigrações ilegais e os seus efeitos a nível da sociedade constituem um dado
incontornável, uma vez que manifestam-se em todas as escalas de intervenção, em vários
domínios (local, nacional, regional e internacional), vários impactos e contrastados no processo
de desenvolvimento económico e social dos Estados.

Os movimentos migratórios remontam a antiguidade, Gonçalves e Africano (2008:42), afirmam


que as primeiras grandes imigrações em massa verificaram-se a partir do século XV com a
chegada de Europeus e Africanos as Américas. Mas na actualidade, com as mudanças
geopolíticas causadas pelas guerras, descolonização e pela queda do Bloco Soviético verificou-se
grandes fluxos migratórios por todo mundo. Devido a grande diferença no crescimento
económico e distribuição de riqueza entre Estados e também à globalização, actualmente
continuamos a verificar uma grande pressão na migração, sendo a mesma controlada por
políticas restritas de imigrações mantidas por Estados em todo mundo, embora em intensidades
diferentes.

A história das imigrações na região Austral de África tem uma longa tradição, no passado, esta
era determinada pela busca de segurança, busca de terras férteis para a agricultura e, mais tarde,
pela dinâmica do comércio. Posteriormente, o regime colonial alterou a motivação e a
composição dos fluxos migratórios através da introdução e execução das várias estruturas
económicas e políticas, estabelecendo limites territoriais e impondo regimes fiscais.

14
2.1.SADC: Origem e Evolução

Antes de analisar a problemática das imigrações ilegais na SADC, importa trazer a origem e
evolução da Southern African Development Community (SADC), com vista a garantir uma
melhor compreensão do tema a nível dessa região.

Segundo o Centro de Análise de Políticas (2009:61), a história da SADC é caracterizada por


conflitos influenciados pela Guerra Fria e impulsionados pela postura sul-africana e suas
políticas de tentativa de dominação da África Austral. Estas políticas sul-africanas constituíram o
principal ímpeto para a formação da Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da
África Austral (SADCC), onde os Estados da região se aliaram para se contraporem à África do
Sul dirigida pelo regime do apartheid.

Em Agosto de 1992, os Chefes de Estado e de Governo da região austral de África assinaram um


novo tratado que estabelecia a SADC em substituição da SADCC. A criação da SADC em
substituição da SADCC e a posterior inclusão de novos membros foi possível com o fim da
Guerra Fria, cujo seu efeito foi muito importante na região austral de África, podendo
considerar-se como um dos diferentes factores que contribuiu para o processo de mudança e para
o fim do apartheid na África do Sul.

Esta nova organização sub-regional de integração económica que como Estados Membros a
África do Sul, Angola, Botswana, Lesoto, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia,
Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbabwe, República Democrática de Congo (RDC) e
Seychelles.

Um dos principais objectivos dessa organização consiste em alcançar o desenvolvimento e


crescimento económico, aliviar a pobreza, aumentar o padrão e a qualidade de vida dos países da
África Austral e dar apoio aos socialmente desamparados por meio da integração regional
(Ibid:84).

Sendo as imigrações um fenómeno que exige muita observância e atenção por parte dos actores
internacionais, a problemática das mesmas de uma forma generalizada pode ter explicações nos
15
argumentos apresentados por Jansen (1969: 60), pois este autor sublinha que à inexistência de
uma “teoria geral da migração”, pode levar com que as imigrações ilegais afectem
consideravelmente as sociedades em termos:

Demográfico: influencia a dimensão das populações na origem e no destino;

Económico: muitas mudanças na população são causadas pelo desequilíbrio económico entre
diferentes áreas;

Político: devidas as restrições e condicionantes que são aplicadas àqueles que pretendem
atravessar uma fronteira política;

Envolve a Psicologia Social, no sentido em que o migrante está envolvido num processo de
tomada de decisão antes da partida, e porque a sua personalidade pode ser mal interpretada na
sociedade de acolhimento;

É também um problema sociológico, uma vez que a estrutura social e o sistema cultural, tanto
dos lugares de origem como de destino, são afectados pela migração e, em contrapartida, afectam
o migrante.

A análise em torno da problemática das imigrações ilegais na SADC, torna-se numa tarefa
difícil, embora não impossível, devido a escassez de números exactos de imigrantes ilegais
existentes, contudo, nas leituras efectuadas fui constatado que existem estudos e escritos fiáveis e
em quantidade suficiente para sustentar a tese de que os imigrantes ilegais influenciam as
estratégias de sobrevivência pessoal, financiamento da economia familiar e nacional e afirmação
de alguns Estados.

A problemática das imigrações ilegais pode ser entendida no quadro contextual em que verifica-
se uma considerável estabilidade política e económica a nível da região da SADC, este
pensamento é sustentado por Chichava8 citado por CAP (2009:7), ao afirmar que a experiência e
resultados da SADC mostram uma procedente tendência para a liberalização comercial e certa
convergência na abordagem das políticas económicas e de gestão macroeconómica ao nível da
8
Chichava, J. Doutorado em Economia, Professor Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade Eduardo
Mondlane, também é Coordenador do Projecto de Assistência Técnica ao Sector Financeiro, no Ministério das
Finanças.

16
região. Verifica-se uma tendência para a convergência em termos de crescimento, o que
alimentou certo optimismo e consenso quanto à estabilização e ajustamento macroeconómico
entre os Estados da SADC.

Portanto, a SADC embora não seja um bloco constituído por Estados desenvolvidos, as
condições políticas e económicas favoráveis atraem os imigrantes ilegais que com algumas
facilidades encontram oportunidades de negócios, ou de actividades que teoricamente eles têm
conhecimento. Sendo assim, o alto nível de abertura dos Estados da SADC para a economia de
mercado apresenta-se como um factor favorável ao ambiente de negócios aos imigrantes ilegais.

2.2. Retrato do Nível das Imigrações Ilegais nos Estados da SADC

Os grandes movimentos populacionais surgem em resposta a factores como crescimento


demográfico, conflitos armados, eventos ambientais e questões relacionadas a produção e
trabalho são parte da história humana, nos dias de hoje esses movimentos tem dimensão e
abrangência renovadas. Segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM9) citada por
Faria (2015:31-32), num relatório apresentado em 2010 afirma que existem 214 milhões de
migrantes em todo o mundo, e em 2050, estima-se que o número de migrantes internacionais
chegara a 405 milhões.

No mesmo relatório a OIM, diz ainda que a maioria das imigrações ocorre de forma legal, sendo
que 10 a 15% encontram-se em situação ilegal. No entanto, o número de imigrantes ilegais vem
aumentando de maneira relativamente constante. Em sua maioria, os imigrantes ilegais entram
nos Estados receptores por vias legais, mas permanecem além do período devido ou em
contradição com o tipo de visto recebido, acabando, deste modo, a tornarem-se ilegais.

Na SADC a maioria dos imigrantes ilegais existentes são constituídos pelos próprios africanos,
dos quais alguns da própria região, grande parte desses imigrantes em algum momento era
indocumentados, isto é, entram num determinado Estado de uma forma legal, e com o tempo

9
OIM. (2010). The Future of Migration: building capacities for change. Genebra.

17
violam os princípios e as normas de migração permanecendo definitivamente sem observarem da
lei.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU10), a região da SADC até 2006 tinha
cerca de 4.373.000 imigrantes registados e distribuídos em vários Estados conforme demonstra a
tabela 1 abaixo.

Tabela 1: Lista de Estados da SADC por População Imigrante

Estado Número de Imigrantes Percentagem dos


Imigrantes como
População Nacional

África do Sul 1,106,000 2.33 %

Tanzânia 792,000 2%

RDC 539,000 0.90 %

Zimbabwe 511,000 3.92 %

Moçambique 406,000 2%

Malawi 279,000 2.16 %

Zâmbia 275,000 2.35 %

10
(modificada pela última vez à (s) 18h26min de 27 de Junho de 2016). Consultado em 23 de Março de 2017.

18
Namíbia 143,000 7%

Botswana 80,000 4.53 %

Comores 67,000 8,39 %

Madagáscar 63,000 0.33 %

Angola 56,000 0.35 %

Suazilândia 45,000 4.36 %

Lesoto 6,000 0.33 %

Seychelles 5,000 6.19 %

Fonte: ONU: 2006

A tabela acima, demonstra claramente que na SADC há registo de imigrantes, dos quais a maior
encontram-se na República da África do Sul seguindo da Tanzania e por fim a Seychelles é o
Estado com menor número de imigrantes na região.

A fonte citada para a demonstração dos imigrantes existentes na SADC apresenta dados de 2006,
embora estes dados possa ser considerados antigos, não deixam de serem pertinentes, pois estão
em conformidade com a delimitação temporal desta pesquisa. Os dados apresentados também
servem de ponto de partida para a compreensão do início dos movimentos imigratórios na SADC
e o processo de evolução das imigrações.

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Relativamente ao número de imigrantes ilegais existentes na SADC a OIM 11 entende que os
Estados da região continuam a registar um aumento significativo dos fluxos migratórios
irregulares. Esses fluxos originam-se da própria região e de outros lugares, nomeadamente da
África Ocidental e do Corno de África, em particular da Etiópia e da Somália, e consistem em
refugiados, requerentes de asilo, imigrantes económicos e vítimas de tráfico, incluindo mulheres
e crianças. A grande maioria desses imigrantes ilegais tenta chegar na SADC através de redes
estabelecidas de contrabando e tráfico.

Segundo a Global Migration Data Analysis Centre 12 (2015:12), a falta de números, dados e
estimativas seguras torna impossível afirmar quantos imigrantes irregulares existem em África,
particularmente na região Austral, a mesma fonte assegura que esta região é anfitrião de
populações de imigrantes ilegais.

A falta da existência de números gerais de imigrantes ilegais na SADC não impede de inferir que
haja necessidade de debater em torno da problemática das imigrações ilegais na SADC. Pois as
estimativas podem basear-se em números que cada Estado membro da organização apresenta,
conforme ilustra a tabela 2 abaixo:

Tabela 2: Lista de alguns Estados da SADC por População Imigrante Ilegal

Estado Número de Imigrantes Número Total de


Ilegais Repatriados Por Imigrantes Ilegais
Ano

África do Sul 5,000.000

Angola 48,000 500,000

Tanzânia 16.000

11
http://www.int/southern.africa˗africa. Consultado em 03 de Marco de 2017.
12
http//www.gmdac.iom.int. Field Code Changed

20
Moçambique 3.600

Total 5500.000

Fonte: Adaptado

Na tabela acima pode-se fazer varias interpretações e cenários, embora a mesma não apresenta as
estimativas gerais de números de imigrantes ilegais a nível de todos os Estados membros da
SADC.

Na região da SADC a África do Sul é o Estado com maior número de imigrantes ilegais, chegado
a atingirem os 5,000,00013, em virtude da sua forte posição económica no continente e na região,
este Estado experimenta um alto volume de imigrações ilegais devido às oportunidades de
trabalho nas indústrias de mineração, manufactura e agricultura.

O segundo estado da região que regista maior número de imigrantes ilegais é a República de
Angola, pois, de acordo com números de 2014 do Serviço de Migração e Estrangeiros
(SME14), são expulsos de Angola mais de 1.000 imigrantes em situação ilegal por semana,
número que totaliza 48,000 imigrantes ilegais por ano, a mesma fonte admite ainda que
existem cerca de 500,00 imigrantes ilegais. Angola é tido como destino de imigrantes ilegais
devido o desenvolvimento na industrial extractiva e a riqueza petrolífera que constituem ímãs
para imigrantes ilegais qualificados e não qualificados provenientes da região e de outros
lugares, como Mali, Gâmbia, Serra Leoa, Senegal entre outros.

A nível da SADC a República Unida da Tanzânia, também merece destaque pelo facto deste
Estado fazer limite com a conhecida e conturbada região dos grandes lagos, zona de origem dos
imigrantes ilegais que estão naquela parcela do território nacional, constitui fonte de entrada de
imigrantes ilegais para Moçambique através da província nortenha de Cabo-Delgado. Sendo
assim, um representante das autoridades tanzanianas de migração disse em uma conferência
realizada em Lichinga acerca da problemática das imigrações ilegais nos dois Estados que

13
http://www.rm.co.mz. Consultado em 03 de Marco de 2017. Field Code Changed
14
http://www.jn.pt. Consultado em 03 de Marco de 2017. Field Code Changed

21
anualmente são repatriados cerca de 16,000 imigrantes ilegais da Tanzânia para Somália e
Etiópia15.

Na base das estimativas numéricas que a tabela 2 apresenta, Moçambique constitui destino e País
de trânsito de imigrantes ilegais de nacionalidades somali, bengali, burundensa, congolesa,
etíope, ruandesa e queniana proveniente da Tanzânia, principalmente, também abriga imigrantes
ilegais da região. Segundo a Força da Guarda Fronteira (FGF) citada pelo Centro de Integridade
Publica (2011:2), cerca de 300 imigrantes clandestinos são repatriados em média, por mês,
portanto, este número totaliza um total de 3,600 imigrantes ilegais repatriados a cada ano.

Entre os factores de crescimento e movimentação de imigrantes ilegais que se verificam há que


destacar o facto de a maioria dos imigrantes serem de Estados vizinhos devido a existência de
uma história, cultura e etnias comuns, e também pela fragilidade no controle das fronteiras; o
outro factor tem a ver com o maior número de imigrantes serem da região subsariana em
particular e a formação de blocos de integração regional fomentar a circulação de pessoas e bens.
Com este cenário pode-se encontrar bases para a explicação de que muitos Estados sejam
classificados tanto como de origem como de acolhimento de migrantes.

Percebendo a imigração ilegal como uma verdadeira ameaça à segurança nacional dos Estados
da SADC devido às fragilidades das fronteiras no controlo de documentos de viagem e vistos de
entrada, há necessidade de uma actuação conjunta entre os Estados da região com vista a
eliminar situações pouco comuns, como a reportada pelo Jornal Noticias16, em que no dia 02 de
Fevereiro de 2011, um grupo de 448 imigrantes ilegais de nacionalidades chinesa, bengali e
paquistanesa foram expulsos da África do Sul e encaminhados para Moçambique, ponto a partir
do qual entraram fraudulentamente em território sul-africano. A África do Sul agiu desta
natureza à luz dos princípios gerais do Direito Internacional e normais aplicáveis, em que a via
de entrada tem de ser, obrigatoriamente, via de saída.

Esta situação pode ser designada de pouco comum e imoral porque desvaloriza o esforço no
âmbito da cooperação em matéria de segurança pública no quadro da SADC, em particular no

15
http://www.verdade.co.mz. Consultado em 03 de Marco de 2017. Field Code Changed
16
http://www.jornalnoticias.co.mz. Consultado em 15 de Março de 2017. Field Code Changed

22
âmbito policial, e também retira o prestígio e a ideia de que a “África Austral é talvez a região
mais coerente e integrada da África subsaariana” (McGowan 2006:301).

Por detrás desta ideia está uma cultura partilhada de libertação, originada na luta contra o
colonialismo e o apartheid, mas também a coerência histórica de Estados que partilham a
condição de satélites económicos da África do Sul, o facto de que todos eles, de formas desiguais
mas paralelas, experimentam transições democráticas e, finalmente, a crescente estabilidade
económica e política que verifica-se na SADC.

23
CAPITULO: 3

IMPLICAÇÕES DAS IMIGRAÇÕES ILEGAIS PARA SADC

O presente capítulo dedica-se a discussão das implicações das imigrações ilegais para a SADC,
sendo uma organização regional em desenvolvimento que tem vindo a registar um fluxo
migratório considerável, com cerca de 5.500.000 imigrantes ilegais distribuídos pelos Estados da
região. Este cenário levanta a necessidade de perceber as implicações que as imigrações ilegais
podem trazer para os Estados da região e a própria organização por si. Mas antes de aprofundar
acerca das implicações, importa apresentar uma breve visão das potenciais causas das imigrações
ilegais na região.

3.1.Causas das imigrações

Em termos gerais pode-se dizer que a imigração não é composta por uma única causa específica,
mas sim por um conjunto de causas e processos que a caracterizam e determinam. Deste modo
ao abordar esta questão das imigrações ilegais são apontadas como causas conducentes a este
fenómeno as questões políticas, culturais, religiosas, económicas ligadas a procura de melhores
condições de vida em Estados politicamente estáveis, Estados desenvolvidos bem como os em
vias de Desenvolvimento como por exemplo Moçambique, (Comissão Mundial Sobre as
Migrações Internacionais, 2005)

No Século XXI, as questões económicas são apontadas como sendo as que provavelmente sejam
as fundamentais que levam indivíduos a migrarem sem mesmo acautelarem a questões de
legalidade da sua imigração. Estas imigrações ilegais estão associadas a questões de assimetria
de desenvolvimento entre o local de partida e o local de chegada, tais como: falta de emprego,
não satisfação das necessidades básicas do indivíduo, condições de vida deploráveis nos locais
de partida, sem contar com a negligência por parte dos indivíduos que entram com um visto de
visitante e acabam extrapolando o período de permanência no Estado acolhedor, são factores que

24
levam os indivíduos a optarem pela via da imigração ilegal. Olhando para questões económicas
constata-se que esta realidade (distribuição desigual dos rendimentos, desemprego, pobreza) na
SADC são aspectos que preocupam os Estados da região no processo de mitigação ou combate a
imigração ilegal, visto que enquanto existir este gap (entre locais com melhores oportunidade e
outros com menor volume de oportunidade) será necessário um esforço redobrado por parte do
Estado acolhedor bem como de partida com vista a estancar esta onda de imigrações ilegais.
(ibid.).

Sob ponto de vista político, as migrações podem estar associadas a guerras, conflitos ligados a
mudanças de regimes políticos, a perseguições em estados onde os valores democráticos não são
respeitados na íntegra, ao terrorismo, instabilidade política, entre outros. Deste modo, situações
desta natureza obrigam indivíduos a buscarem refúgio em estados que eles acreditam oferecer
melhores condições em relação ao seu solo pátrio. Importa frisar que mesmo sendo um direito do
pedido de estatuto de refugiado, caso este não seja deferido de forma favorável a permanência no
estado estrangeiro passa a ser considerada ilegal, recebendo deste modo o estatuto de imigrante
ilegal devido as condições de sua permanência, (Ruivo, 2006:4). Havendo deste modo uma
necessidade acautelar-se a questões politicas pois elas também não estão alheias a esta
problemática da imigração ilegal na região.

Outro aspecto aludido como sendo causador de imigrações é o associado a questões ambientais:
em que o indivíduo abandona a sua terra natal e busca refúgio num outro estado, devido a
desastres naturais como cheias, erupções vulcânicas, sismos e tsunamis. Estas também são
apontadas como sendo razões que levam indivíduos a deslocarem-se de uma fronteira para outra
para poder proteger-se das calamidades que os assolam. Mesmo sendo uma acção realizada com
vista a proteger um direito natural e universal intricado ao indivíduo (direito a vida) caso esta
acção não obedeça os procedimentos legais com vista a ser atribuído um estatuto de refugiado
este indivíduo ou grupo, caso permaneça sem o estatuto de refugiado ou um outro atribuído pelo
estado acolhedor é automaticamente considerado imigrante ilegal, pois a sua entrada no outro
território não obedeceu os padrões jurídicos estabelecidos pelo direito interno bem como
internacional. Importa salientar que das causas citadas no presente paragrafo a que regista-se na
SADC e em Moçambique é o caso das cheias.

25
3.2. Implicações da Imigração ilegal na SADC

Depois de vistas de forma breve as prováveis causas das imigrações ilegal na SADC passamos
ao ponto dedicado ao estudo das implicações que advêm ou podem advir destas imigrações
ilegais na SADC. Este estudo é pertinente pelo facto de registar-se entrada massiva e circulação
de imigrantes ilegais na região e por consequência a crescente onda de criminalidade que
provavelmente pode estar associada a imigrantes ilegais ou praticada contra imigrantes (como é
o caso da onda de actos de xenofobia perpetrada contra estrangeiros na África do Sul).

Na visão de Jackson (199117) e Castles (200518) citados por Gonçalves (2015:70), as imigrações
ilegais continuam a ser um dos factores com implicações na sociedade, tanto sob ponto de vista
económico bem como de segurança. Contudo, algumas correntes intelectuais e políticas têm
argumentado que os fluxos migratórios ilegais aumentam o desemprego e pressionam os serviços
públicos de saúde e de educação. Por seu turno Skeldon (2008)19, defende que o vínculo entre
migrações e desenvolvimento é por vezes contestado, pois considera-se que a chegada de
imigrantes pode provocar erosão na identidade das nações. Mármora (2002)20 defende ainda que
pode trazer um impacto negativo nos mercados de trabalho, na segurança e nos serviços sociais
dos países receptores.

Sendo assim, as ideias apresentadas pelos autores no parágrafo acima são pertinentes para a
compreensão das implicações que podem advir das imigrações ilegais na SADC, pois, a
existência de imigrantes ilegais impulsiona mudanças na criação e implementação de políticas
nacionais, bilaterais (dos estados de saída bem como de chegada) bem como regionais com vista
a superar os desafios (políticos, económicos e sociais) resultantes das imigrações ilegais.

17
Jackson, John (1991). Migrações. Lisboa: Escher, Fim de Século Edições Lda.
18
CastlesStephen (2005). Globalização, Transnacionalismo e Novos Fluxos Migratórios. Lisboa: EdiçõesFim de
Século.
19
Skeldon, Ronald (2008). International Migration as tool in Development Policy: A Passing Phase?
PopulationandDevelopingReview.34 (1), March.
20
Mármora, Lélio (2002). Las políticas de Migraciones Internacionales. Buenos aires: Editorial Paidós.

26
21
Na visão de Sassen (1996 ), citado por Gonçalves (2009:52), os fluxos migratórios
internacionais simbolizam uma ameaça à estabilidade e segurança nacionais, sobretudo naqueles
Estados em desenvolvimento como os da SADC, pois os fluxo migratórios ilegais podem colocar
em causa a segurança do Estado, isto é, nos casos em que se tratar de indivíduos imigrantes
ilegalmente que tenham alguma ligação com células de grupos terroristas uma vez não feito o
registo de entrada dessas pessoas compromete o controlo e monitoramento dessas pessoas no
território de chegada, podendo ter espaço de manobra para realização das suas actividades
criminais sem com isso o Estado poder monitorar os seus passos. Desta feita podendo agir
livremente”.

A SADC apresenta um quadro macroeconómico em que estima-se que esta organização é


composta por 240 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto de 350 biliões de USD.
Sendo a África do Sul o país que produz mais que a metade do PIB regional com cerca de 70%
do PIB, sendo que os restantes países detêm cada um uma produção abaixo dos 10% do total do
PIB da região, com Angola (a segunda maior economia da SADC) a ter uma contribuição de 7%,
enquanto o Lesoto (a menor economia regional) tem um PIB abaixo de 0,5%. Moçambique é a 5ª
economia da SADC, representando 3%. Em termos do rendimento per capita, o Botswana (USD
5790), a África do Sul (USD 5321), e as Maurícias (USD 5220) lideram a lista dos países da
região, onde a República Democrática do Congo, com uma renda per capita de USD 709,
aparece como o país mais pobre. Moçambique ocupa a 10ª posição, com USD 1459.

Estes dados, demonstram a existência de um desequilíbrio entre os países membros, em termos


de distribuição do PIB por sectores de actividades. Na África do Sul, Maurícias e Suazilândia,
mais de 60% do PIB provém da indústria manufactureira, enquanto em países como Angola e
Botswana, o sector mineiro contribui com mais de 80% do PIB. Na RDC, Madagáscar e
Tanzânia, a agricultura contribui com mais de 60%. Em Moçambique, a agricultura contribui
com 25% na estrutura do PIB. Excluindo o Zimbabwe, que possui taxas de inflação acima de
1000%, a média da inflação na SADC ronda os 7,5 a 8,4% (Banco de Moçambique, 2007). É
notável na SADC, tanto as diferenças como as semelhanças entre os países (Arndt 2007: 22).

21
Sassen, Saskia (1988). The Mobility of Labor and Capital.A Study in Internacional Investiment and Labor
Flows.Cambridge: Cambridge University Press.

27
Sob ponto de vista socioeconómico as imigrações ilegais tem constituído uma preocupação para
os Estados da região, visto que, o acolhimento massivo de imigrantes ilegais, na visão de Barreto
(2005:20), coloca novos problemas e desafios às autoridades e à própria sociedade, para os quais
não estavam preparados. Existem sempre novos argumentos para os problemas de integração e
“é cada vez mais nítida a impressão de que não existem receitas universais e que cada país, cada
população, talvez cada região e cada comunidade imigrada têm de encontrar as suas soluções”. A
título de exemplo, conforme ilustra “O Pais 22 ”, em 2010 cerca de 500 imigrantes ilegais
neutralizados pela Polícia da República de Moçambique (PRM) em Cabo Delgado, houve
demora no seu repatriamento devido à recusa das autoridades tanzanianas em recebê-los.
Portanto, tratava-se de imigrantes ilegais provenientes da Tanzânia, de nacionalidades somali,
bengali, burundensa, congolesa, etíope, ruandesa e queniana, com idades que variam de 13 a 35
anos, que afirmam estarem a fugir da guerra e péssimas condições de vida a que estão sujeito nos
seus países.

Diante do cenário referenciado no parágrafo acima por meio de exemplos, constata-se que há
uma necessidade de cooperação dos Estados no combate a imigração ilegal. Pois sendo a
imigração ilegal uma ameaça a Estabilidade politica, económica, social para os Estados da
SADC devido às fragilidades das fronteiras no que tange ao controlo de documentos de viagem e
vistos de entrada, há necessidade de uma actuação conjunta entre os Estados da região com vista
a eliminar situações pouco comuns, como a reportada pelo Jornal Noticias23, em que no dia 02
de Fevereiro de 2011, um grupo de 448 imigrantes ilegais de nacionalidades chinesa, bengali e
paquistanesa foram expulsos da África do Sul e encaminhados para Moçambique, ponto a partir
do qual entraram fraudulentamente em território sul-africano. A África do Sul agiu desta
natureza forma à luz dos princípios gerais do Direito Internacional e normas aplicáveis, em que
a via de entrada tem de ser, obrigatoriamente, via de saída.

Os dois casos retratados nos parágrafos acima, mostram claramente uma acção de repulsão as
imigrações, acompanhadas de uma plena ausência de cooperação por parte dos Estados com vista
a combater este fenómeno que ameaça a segurança económica dos Estados pelo facto da entrada
de imigrantes ilegais implicar encargos ao estado, a fuga ao fisco no trânsito de mercadorias de

22
http://www.opais.sapo.mz. Consultado em 23 de Março de 2017.
23
http://www.jornalnoticias.co.mz. Consultado em 15 de Março de 2017. Field Code Changed

28
um país para o outro, fuga ao pagamento de vistos. Contribuindo negativamente para o
crescimento e desenvolvimento económico regional.

3.5. Implicações Sociopolíticas

Sob ponto de vista sociopolítico a imigração ilegal tocam de forma directa as questões
relacionadas com a planificação e criação de estratégias políticas com visa a criação de postos de
emprego, desenvolvimento, infra-estruturas (estradas, pontes, escolas, hospitais, mercados) uma
vez que trata-se de um número de pessoas que entram no país sem registos. De salientar que a
imigração ilegal não se reflecte apenas no aumento demográfico, mas também tem reflexos na
estrutura etária da população, pois, assiste-se o aumento da natalidade (pela chegada de
população em idade de procriar), o rejuvenescimento da população, isto faz com que haja
necessidade de uma base de dados que contenha o registo da população para que isto não crie
implicações nas projecções políticas.

Sob ponto de vista sociopolítico as implicações das imigração ilegal na SADC se fazem sentir na
legislação, uma vez que os Estados vêem-se incapacitados em suprir a demanda de postos de
trabalhos e suas politicas de trabalho nunca são assertivas quanto as necessidade da população,
principalmente para Moçambique e África do Sul por serem Estados que mais recebem
trabalhadores legais e ilegais nos seus respectivos territórios, disse a ministra moçambicana do
trabalho, Helena Taípo em 2013 a RFI24, sendo assim, surge a necessidade dos Estados membros
da SADC, negociarem acordos de trabalho bilaterais e que façam uma revisão e avaliação das
políticas de legislação e acordos existentes como são os casos do Protocolo de cooperação da
SADC, sobre a circulação de pessoas e a Carta Social sobre os direitos fundamentais dos
trabalhadores. Estas dificuldades acabam criando conflitos trabalhadores nacionais e estrangeiros
devido a disputa pelos postos de trabalho.

Tratando-se de pessoas que imigram ilegalmente por diferentes razões (conflitos políticos, crises
financeiras nos seus estados de origem, algumas até a busca de asílio) estas imigrações podem

24
http://pt.rfi.fr/africa/20130713-estados-da-sadc-analisam-em-maputo-imigracao-ilegal-e-refugiados-na-regiao

29
ser percebidas de diferentes maneiras pela população nos locais de chegada. Visto que a entrada
de um estrangeiro num determinado território trás consigo valores, hábitos e costumes que
precisam ser geridos de forma saudável de modo a que não entre em choque com a cultura dos
nativos do pais de chegada, daí que essas imigrações acabam tendo implicações negativas nos
locais de chegada quando percebidos como intrusos. Estas acções de repulsa por parte dos
nativos obriga o estado acolhedor a tomar medidas políticas de modo a que sejam respeitados os
direitos dos imigrantes mesmo que estes estejam ilegalmente naquele país.

3.6.Implicações para área de Segurança

As imigrações ilegais tem sido acompanhadas de algumas práticas que outrora eram
consideradas anormais aos Estados da região da SDC, as quais constituem perigo aos Estados da
região bem como a população, pelo facto de esta prática abrir portas para crimes como
branqueamento de capitais l, tráfico de drogas e seres humanos. Este pensamento é
consubstanciado por Faria (2015:42-43), ao afirmar que a segurança nacional constitui um
aspecto presente no debate contemporâneo sobre imigrações ilegais e a capacidade de os Estados
controlarem suas fronteiras, embora seja o controlo das fronteiras a actividade soberana do
Estado, essas fronteiras, na prática se mostram mais imunes ao controlo estatal, do que evidencia
a presença crescente de imigrantes ilegais nos Países de destino

Figura1. Ilustra uma das formas como os imigrantes ilegais atravessam as fronteiras com dificuldade de fiscalização.

30
Fonte:25

Actividades novas como mercadores de sexo, tem se tornado práticas frequentes nas zonas
fronteiriças. Homens, mulheres e crianças são aliciados e alguns traficados para fins de
exploração sexual. De facto, crimes antes contidos, reprimidos, ganharam versões internacionais,
incrementados pela globalização e a porosidade das fronteiras na região tem se expandido pela
região por conta das imigrações ilegais , tornando-se, deste modo, crimes transnacionais. É o
caso do tráfico internacional de drogas, de armas e de pessoas, o mercado mundial do sexo, e a
comercialização transfronteiriça de órgãos humanos. Salienta-se aqui citar alguns crimes
frequentes comuns nas zonas fronteiriças, tais como:26

 Roubo de viaturas
 Roubo de gados;
 Contrabando de combustível, medicamentos e mercadorias diversas;
 Tráfico de drogas;
 Prostituição;
 Tráfico de seres humanos;
 Roubo de haveres pessoais –
 Abate da flora e fauna.

Tipo de crime Numero caso

Roubo 4.827

Furto qualificado 4.408

25
https://www.google.co.mz/search?q=imagens+de+imigrantes+inlegais+em+camioes&tbm=isch&imgil=v-
6XZChXlxeWyM%253A%253BNPmhL_lXW9g2WM%253Bhttp%25253A%25252F%25252Fwww.tvi24.iol.pt%
25252Finternacional%25252Fmexico%25252Fresgatados-68-imigrantes-do-interior-de-
camioes&source=iu&pf=m&fir=v-
6XZChXlxeWyM%253A%252CNPmhL_lXW9g2WM%252C_&usg=__rWJ_Q089Wuoa-
FedANmD6mAl3q4%3D&ved=0ahUKEwizq_enhMPWAhWGuhQKHfNACksQyjcIPQ&ei=XmDKWbOELob1U
vOBqdgE&biw=1366&bih=662#imgrc=v-6XZChXlxeWyM:
26
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2013/08/centro-de-refugiados-de-maratane-%C3%A9- Field Code Changed
repulsivo.html
Esta fonte ilustra exemplos de historias de vida de pessoas que devido a situacao dificial a que se veem sujeitas no
centro de refugiados de macaretane acabaram engrenando no crime.

31
Furtos simples 2.546

Ofensas corporais qualificadas 1.837

Abuso sexual 516

Homicídios qualificados 502

Homicídio voluntário simples 219

Tabela que ilustra dados de 2014 divulgados pela procuradoria geral da republica avolta dos crimes frequentres
registados neste ano.

Embora este assunto de imigrações ilegais seja um dos pontos de debates na região, ainda há
muito que ser feito de modo a controlar o quadro migratório ilegal, e garantir a segurança de
pessoas e bens, sem com isso, interferir na ideia de livre circulação na região, (SASSEN, 2006).
Importa olhar para o impacto das políticas de combate à imigrações ilegais e a forma como os
Estados olham e tratam este fenómeno (imigrações ilegais ) e as medidas sob ponto de vista de
segurança adoptadas com vista a combater esta prática que ganha terreno a nível regional e
mundial. Nesta senda, o paradoxo da globalização também acaba por se encontrar relacionado
com estas novas políticas. Sem prejuízo do facto de este fenómeno exigir uma sincronização
eficiente de sectores e de pessoas, que não se coaduna com políticas excessivamente restritivas
quanto à imigração, como seja o fenómeno recente do crime migração, a verdade é que com a
globalização tudo parece vulnerável, não só economicamente, como social e culturalmente e ou
mesmo política. (Milagres, 201412)

32
CAPITULO 4.

IMPLICAÇÕES DAS IMIGRAÇÕES ILEGAIS PARA MOÇAMBIQUE.

O presente capítulo dedica-se ao estudo das implicações das imigrações ilegais para
Moçambique. De modo a permitir uma percepção clara e elucidativa deste assunto, o presente
capítulo será subdividido em três partes, obedecendo a seguinte ordem: implicações
socioeconómicas, implicações sociopolíticas e implicações na segurança.

Nos últimos tempos com a ascensão da globalização e a incansável busca por melhores
condições de vida, as migrações aparecem como recurso para a realização desses objectivos tão
almejados por milhões de pessoas que migram para diferentes destinos e Moçambique tem sido
destino de muitos desses imigrantes ilegais vindo de países como Somália 27 , Bangladesh,
Etiópia, Mali28, Guine Conacri, Congo,29 Angola, Nigéria e outros da região da SADC. Estima-
se que no período de 2005 a 2014 Moçambique tenha registado cerca de 22500 imigrantes30,
(Jorge: 2017)31 . Estas imigrações em massa tem sido associadas a crises políticas, económicas, e
sociais que estes países de partida enfrentam como sendo a causa que os leva a imigrarem
ilegalmente. A entrada destes imigrantes ilegais tem sido associada ao crime organizado, tráfico
de drogas, garimpo de pedras preciosas entre outros.

Visto que nos últimos anos, Moçambique tem sido um dos pólos de atracção da região austral de
África, devido seu crescimento económico, estabilidade política, que têm atraido não so

27
Com a inexistência na prática de um governo central, a Somália persiste imersa em uma guerra civil. Em 5 de Field Code Changed
junho de 2006, milícias islâmicas - que formam a União das Cortes Islâmicas (UCI) - tomaram grande parte da
capital somali. A UCI controla outro territórios no país e pretende impôr a lei islâmica (Sharia) nestas zonas. Field Code Changed
28
O golpe de Estado ocorrido em Março na capital do Mali, Bamako, quando foi tirado do poder o presidente
Amadou Toumani Touré, a instabilidade política provocada pela junta militar que assumiu o governo permitiu que
os rebeldes Touareg tomassem dois terços do país, na região do Azawad, no Norte.
29
O "Congo-Kinshasa" tem sido frequentemente palco de massacres, sobretudo na região de Kivu do Norte, no leste
do país
30
Este universo refere-se ao numero de imigrantes repatriados. Há que se ter em conta que o numero de imigrantes
ilegais durante este periodo seja acima deste, isto devido a dificuldade existente em contabilizar o numero real de
imigrantes ilegais por se tratar de pessoas que na sua maioria não tem vontade de retornar ao seu pais de origem sem
antes alcansar o objectivo que os move ao pais de chegada (local onde se encontram em situacao ilegal).

31
Nicolau Jorge é formado em administração pública pela UEM Oficial de Serviços Fronteiriços nos serviços de
migração da cidade de Maputo, entrevistado no dia 29 de Junho nas instalações dos serviços de Migração da Cidade
de Maputo

33
investidores de pequenos e mega projectos, bem como refugiados das regiões dos Grandes Lagos
e ainda emigrantes clandestinos que se aproveitam da vulnerabilidade fronteiriça do país para
poderem entrar inlegalmente no territorio moçambicano. Estes imigrantes, na sua maioria são
impulsionados pela busca de melhores condições de vida que acreditam poder ter atravessando
as fronteiras para Moçambique. Sendo assim, para uma melhor avaliação das implicações que
estas imigrações têm para Moçambique, o presente capítulo fará uma avaliação das implicações
socioeconómicas, sociopolíticas e de segurança para Moçambique como país de chegada.

4.1. Implicações socioeconómicas.

Sob ponto de vista socioeconómico as imigrações ilegais tem implicações sérias na economia do
país, visto que é dever do Estado repatriar os cidadãos que se encontram em situação ilegal em
seu território, segundo o Jornal verdades32 na sua (edicção de 15 de Marco de 2015), dá conta
que Moçambique para além de destino, tem servido de corredor para imigrantes que tem como
destino a África do Sul. Este cenário impõe alguns encargos ao Estado Moçambicano, uma vez
que nos casos em que os tais imigrantes não conseguem atravessar a fronteira rumo a África do
Sul o Estado tem obrigação de arcar com os custos de repatriamento, por exemplo como o que
aconteceu em 2015 a quando do repatriamento de cerca de 400 imigrantes ilegais asiáticos que
tinha a África do Sul como destino e corredor para poder chegara a Europa e outros destinos. Foi
uma operação onerosa ao Estado, o que custou cerca de 16.000.000, 00 meticais aos cofres do
Estado só em passagens aéreas, pois os repatriados eram da Índia, Paquistão e Bangladesh.

Nos capítulos anteriores quando tentávamos perceber as motivações ou causas das migrações foi
possível aferir que existem aspectos socioeconómicos que levam o indivíduo a abandonar seu
local de origem para buscar melhores condições de vida num outro território, na maioria das
vezes colocando sua vida em risco durante o processo da travessia, como é o que acontece com
os imigrantes transportados em camiões, barcos e outras condições desumanas (como ilustra a
imagem abaixo) para atravessarem as fronteiras da região até chegar a Moçambique.

32
http://www.verdade.co.mz/nacional/18144-mocambique-rota-preferencial-de-imigracao-ilegal Field Code Changed
Na sua edicção de 15 de Março de 2011

34
Imagem 2.. ilustra uma cena de transporte desumano as quais os imigrantes ilegais sujeitam-se na
tentativa de atravessar as fronteiras.
Fonte:33

A entrada destes indivíduos acaba interferindo em diferentes sectores da sociedade, como


defende Ruivo (2006:5), quando diz que as imigrações estão baseadas em ligações existentes
quer nos âmbitos económicos e sociais, relacionando-os com determinados factores como: o
comércio e os investimentos internacionais ou movimentos migratórios anteriormente
referenciados quando falava das causas das imigrações. Deste modo, defende que este fenómeno
pode trazer algum ganho para o país de chegada dos imigrantes. Olhando nesta vertente pode-se
assumir que sim, de certa forma, caso o imigrante entre com intuito de investir isso pode
constituir um ganho para a economia do país, embora sejam raros ou quase que inexistentes
registos de casos de investidores que entram ilegalmente em Moçambique.

Este posicionamento acima apresentado por (ibid) é rebatido pelos dados dos últimos inquéritos
ao orçamento familiar em que revelam que a taxa de desemprego cresceu de 18,7% em 2004,
para 25,3% em 2015, (taxa de 47,7% para a faixa etária entre os 15 anos e os 19 anos). As taxas
de desemprego são mais elevadas nas áreas urbanas, especialmente entre jovens e mulheres, isto
associado ao aumento da população (imigrantes ilegais) jovem em idade activa. Há diferenças
importantes de género na concentração da força de trabalho por sector: 90% das mulheres activas

33
https://www.google.co.mz/search?q=imagens+de+imigrantes+inlegais+em+camioes&tbm=isch&imgil=v-
6XZChXlxeWyM%253A%253BNPmhL_lXW9g2WM%253Bhttp%25253A%25252F%25252Fwww.tvi24.iol.pt%
25252Finternacional%25252Fmexico%25252Fresgatados-68-imigrantes-do-interior-de-
camioes&source=iu&pf=m&fir=v-
6XZChXlxeWyM%253A%252CNPmhL_lXW9g2WM%252C_&usg=__rWJ_Q089Wuoa-
FedANmD6mAl3q4%3D&ved=0ahUKEwizq_enhMPWAhWGuhQKHfNACksQyjcIPQ&ei=XmDKWbOELob1U
vOBqdgE&biw=1366&bih=662#imgrc=v-6XZChXlxeWyM:

35
trabalham na agricultura, em comparação com 70% da população activa masculina. Estima-se
ainda que a taxa de sub emprego esteja acima dos 87%. Além disso, 78% da mão-de-obra está
envolvida na agricultura, em grande medida na agricultura de subsistência e em actividades
informais, o que aumenta a probabilidade dos trabalhadores estarem sujeitos a condições de
trabalho vulneráveis. Esta tendência poderá agravar-se a curto e a médio prazos, devido a uma
força de trabalho jovem e em rápido crescimento, que vai fazer a sua transição para o mercado de
trabalho. Devido a imigração e por conseguinte o aumento da população em idade fértil e activa,
razões estas que não estão a decrescer suficientemente, as projecções actuais estimam que a
população vai continuar a crescer a um ritmo médio de 2,3% ao ano, até 2050, (MINISTÉRIO
DO TRABALHO, EMPREGO E SEGURANÇA SOCIAL, 2016:19).

Pese embora o facto de tratar-se de um investidor estrangeiro o que pode contribuir para a
economia do país por meio da criação de mais postos de emprego que potencialmente possam
advir da aplicação do capital a investir, há que assumir que existe a componente da ilegalidade
na permanência que terá repercussões em aspectos entrada de capital não declarado, circulação
de somas não declaradas, dificuldades para declarar o rendimento e justificar a proveniência do
valor, entre outros estes aspectos interferem de forma directa na economia do país o que pode
concorrer para desvalorização da moeda.

A entrada e estabelecimento de indivíduos de forma ilegal em Moçambique causam um


desequilíbrio na estrutura da população. Regista-se aumento da mão-de-obra qualificada34, mão-
de-obra activa, aumento da população jovem e activa, aumento da população residente em casas
de construção precária pelo facto de alguns imigrantes inicialmente não disporem de uma
habitação em condições condignas, estes fenómenos fazem com que alguns imigrantes que
entram para o pais sem razões claras ou até mesmo sem sequer declarar as razões que o levam
entrar no pais, por se tratar de um ilegal, acabam envolvendo-se em crimes como lavagem de
dinheiro, tráfico de drogas, falsificação de moeda, falsificação de documentos prostituição, entre
outros, isto devido a falta de um emprego capaz de responder a tão almejada melhoria das

34
É o caso de chineses e portugueses parte destes que operam em grandes obras de construcao nos diferentes
cantos do pais, que contribuem com sua experiencia nas actividades que desempenham.

36
condições de vida que o levaram a sair do seu solo pátrio, Matsinhe35. A titulo de exemplo , os
casos de raptos envolvendo estrangeiros reportados pela media, casos de falsificação de moeda
estrangeira envolvendo imigrantes ilegais.

Apesar das imigrações e, especificamente, o trabalho imigrante, contribuir para o crescimento da


economia do país de chegada36, a verdade é que esta imigração também cria muitos entraves nas
relações e representações que os nativos do pais de chegada têm em relação à população
estrangeira (imigrantes ilegais), (Sousa, 2005: 6).Olhando especificamente para o aumento da
mão-de-obra em Moçambique, isto acaba fazendo com que o nacional sinta-se numa situação de
concorrência desleal com o estrangeiro, pelo facto de serem em certos caso indivíduos com uma
formação e experiencia profissional acima do nacional, o que faz com que este seja preferencial
em relação ao nacional. Isto acaba fazendo com que parte destes indivíduos que sentem-se como
sendo desprovidos de oportunidades engrenem nas fileiras do crime para poder garantir
condições de sobrevivência saudável, o que faz com que aumente a criminalidade nas cidades
grandes, onde as vítimas são nacionais bem como os imigrantes ilegais estabelecidos no país.

4.2. Ponto de vista sociopolítico

Sob ponto de vista sociopolítico a questão das imigrações ilegais é um assunto que preocupa sob
medida os actores políticos no processo de criação de políticas e tomada de medidas de
desincentivo a estas práticas na região. Segundo a Towards a CommonFuture SADC num dos
seus documentos publicados sobre políticas de desenvolvimento, olha-se para medidas políticas
que visam a criação de emprego para reduzir a pobreza e colocar as suas economias numa via de
crescimento mais sustentável. O Quadro de Políticas de Desenvolvimento Industrial
da SADC reconhece que a formulação e implementação da política deve ser essencialmente uma
prerrogativa nacional. Este facto associa-se ao facto de registar-se nos últimos tempos, uma
corrida de imigrantes ilegais rumo aos países que registam algum avanço no sector industrial.

35
Iracema Wiliamo Matsinhe, é formada em Relações Internacionais e Diplomacia (especialista em Estudos da
SADC), docente do Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) entrevistada no dia 11 de Abril de 2017, no
Instituto Superior de Relações Internacionais, Maputo.
36
Temos o caso de mocambicanos trabalhadores das minas da visinha africa do Sul que a todo gas tem trabalhado
arduamente e que o fruto do seu trabalho tem repercucoes na economia sul africana.

37
Depois da 16ª reunião anual regular da Organização da Associação de Polícia da África Austral
(SARPCCO), realizada de 20 a 21 de Maio de 2011 na cidade de Lusaka, República da Zâmbia,
ficou claro que a imigração ilegais precisa ser combatida na região pelo facto de estas colocarem
em causa as políticas dos estados a nível regional, tanto sob ponto de vista de desenvolvimento
bem como de segurança. Na visão da Matsinhe37 que concerne as implicações nas políticas de
desenvolvimento consta-se que existe um conflito entre os nativos e os imigrantes em que os
nativos alegam que os imigrantes ilegais vem e lhes roubam oportunidades de emprego por estes
aceitarem qualquer tipo de proposta de emprego sem necessariamente olhar para a questão de
custo e benefícios. Neste caso os nativos interpretam estas situações como sendo de concorrência
desleal o que em certos casos acaba culminando em casos de xenofobia38, pondo em causa vidas
e bens. Este e outros casos são típicos das zonas em que o nível de desenvolvimento é fraco
associado a pobreza e baixo nível de escolaridade acabam constituindo elementos favoráveis a
incitação a acções de violência contra estrangeiros.

Estas acções acabam tendo implicações nas políticas que os estados devem adoptar para receber
imigrantes, nas políticas que os estados devem traçar com vista a projectar o desenvolvimento
bem como nas relações politicas entre o país de origem e o país de chegada. Estes actos
criminosos, fazem com que o país perca receitas devido a entrada de bens e pessoas de forma
ilegal sem pagar os direitos fiscais, sem pagar os vistos de entrada (no caso dos imigrantes
ilegais de fora da região). Coloca também em causa os programas de de desenvolvimento devido
ao desvio de capital para questões militares, devido ao desafio que o estado sofre quando as suas
fronteiras e postos de controlo são violados pelos imigrantes. Segundo Jeorge 39 , Em média
Moçambique regista a entrada de 2000 a 2500 imigrantes ilegais por ano, na sua maioria

37
Iracema Wiliamo Matsinhe, é formada em Relações Internacionais e Diplomacia (especialista em Estudos da
SADC), docente do Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) entrevistada no dia 11 de Abril de 2017, no
Instituto Superior de Relações Internacionais, Maputo.
38
Como o que aconteceu em abril de 2015 na visinha africa do Sul. A quando do linchamento, destruicao dos bens
de Mocambinacos, nigerianos e outros estrangeiros residentes na africa do sul.
39
. Nicolau Jorge é formado em administração pública pela UEM Oficial de Serviços Fronteiriços nos serviços de
migração da cidade de Maputo, entrevistado no dia 29 de Junho nas instalações dos serviços de Migração da Cidade
de Maputo

38
africanos. Deste universo de imigrantes, alguns entram legalmente depois de algum tempo aspira
o prazo de validade do seu visto de permanência40 no país.

A logística de um imigrante ilegal em processo de repatriamento em Moçambique custa cerca de


300mt por dia e o custo médio das passagens de vou para repatriamento é de cerca de 35 a 45 mil
meticais por indivíduo, na sua maioria paquistaneses, Guine Conacri, Mali, Angolanos, Begalis,
chineses, Nigerianos. Para além dos custos ligados a repatriamento e logística destes imigrantes,
a entrada de imigrantes ilegais, existem os custos de fortificação das fronteiras e cooperação nas
operações entre as diferentes forças de defesa e segurança (policia de protecção, guarda
fronteira). Estes dados apresentados por Jorge (2017)41 complementam a informação apresentada
por Matsinhe em sua abordagem acerca das implicações da imigração ilegal sob ponto de vista
sociopolítico.

4.3. Ponto de vista de segurança

A imigração ilegal tem implicações na segurança pública dos indivíduos, na visão de Matsinhe
(2017) 42 , este fenómeno tem sido associado a crimes (roubos, furtos, assaltos, lavagem de
dinheiro) nos locais de chegada dos imigrantes. A titulo de exemplo, as acções de violência
ocorridas na África do Sul manifestadas por actos de xenofobia tem sido a manifestação mais
nítida de repulsão a imigração ilegal, porque a dificuldade que o governo tem de satisfazer as
necessidades básicas do individuo faz com que estes imigrem para outros lugares em certos casos
colocando em causa a sua segurança. Salientou ainda que pessoas ligadas a imigração ilegal
podem facilmente engrenar nos meandros do crime (trafico de pessoas, drogas, crimes
transfronteiriços) isto devido a marginalização que estes indivíduos sofrem no local de chegada.
Este posicionamento é de igual modo partilhado por Jorge (2017), quando diz que parte dos

40
Na sua maioria estes imigrantes entram com um visto de 30 dias de validade e a posterior esse visto aspira ainda
em território Moçambicano.
41
Nicolau Jorge é formado em administração pública pela UEM Oficial de Serviços Fronteiriços nos serviços de
migração da cidade de Maputo, entrevistado no dia 29 de Junho nas instalações dos serviços de Migração da Cidade
de Maputo
42
Iracema Wiliamo Matsinhe, é formada em Relações Internacionais e Diplomacia (especialista em Estudos da
SADC), docente do Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) entrevistada no dia 11 de Abril de 2017, no
Instituto Superior de Relações Internacionais, Maputo.

39
imigrantes ilegais em Moçambique é apontada como actores morais de alguns sequestros que se
tem registado em Moçambique desde os últimos três ou quatro anos43.

Outro caso envolvendo imigrantes ilegais diz respeito ao garimpo ilegal de pedras preciosas em
Cabo Delgado no distrito de montepuez concretamente na zona de Namanhumbire, a cerca de
trinta quilómetros, onde teve lugar a operação de desmantelamento da mineração ilegal naquela
região. Os dados obtidos durante a operação apontam que cerca de 3672 pessoas exploravam
minérios naquele lugar, destes 1010 trata-se de cidadãos nacionais e o remanescente (cerca de
2662) cidadãos estrangeiros em regime ilegal no país. 44 Ainda na mesma operação que visa
libertar as zonas de exploração ilegal, registou-se na província de Nampula uma operação de
retirada de cerca de 3195 exploradores ilegais, dos quais cerca de 1634 são nacionais e
1561estrangerios ilegais, os quais eram provenientes de países como (Tanzânia, Gâmbia,
Senegal, Tailândia e Mali)45.

Imagem 3 . Esta imagem ilustra uma mina de exploracao ilegal na provincia de Nampula
http://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-lan%C3%A7a-opera%C3%A7%C3%A3o-contra-ilegais-em-
zonas-de-explora%C3%A7%C3%A3o-mineira/a-37679234

43
Informação veiculada pela media no período de captura dos envolvidos nos casos de raptos e sequestros registados
nas cidades de Maputo, Matola e Beira.
44
http://www.dw.com/pt-002/autoridades-mo%C3%A7ambicanas-limpam-cabo-delgado-da-
minera%C3%A7%C3%A3o-ilegal/a-38346246
45
http://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-lan%C3%A7a-opera%C3%A7%C3%A3o-contra-ilegais-em-
zonas-de-explora%C3%A7%C3%A3o-mineira/a-37679234

40
imagem 4. Esta iamgem ilustra o momento da venda do ouro obtido na exploracao ilegal.
Fonte: http://www.dw.com/pt-002/mo%C3%A7ambique-lan%C3%A7a-opera%C3%A7%C3%A3o-contra-ilegais- Field Code Changed
em-zonas-de-explora%C3%A7%C3%A3o-mineira/a-37679234

Em termos de ameaças, estas podem variar em função da intenção de cada imigrante. Na sua
maioria os chineses tem se envolvido em negócios ilícitos como comercialização de cornos de
rinocerontes46, falsificação da moeda, madeira, comercialização de pedras preciosas, raptos, o
que causa prejuízos ao Estado, a título de exemplo temos o caso dos 50 contentores com 1.500
metros cúbicos de madeira, prontos para serem exportados para China, que foram confiscados,
em Outubro de 2016, no Porto da Beira, na província Sofala, por apresentar uma espessura acima
do recomendado. Outro caso similar é referente aos 1300 contentores de madeira ilegal em touro
equivalente a 40 mil metros cúbicos de diferentes espécies pertencentes a seis empresários e com
destino a China apreendidos em Nacala, província de Nampula. Nos dois casos o destino da
mercadoria era aquele mercado asiático47.

Segundo Jorge (ibid), é necessário que haja muita rigorosidade na concessão de vistos de
entrada, aumento da fiscalização nos postos de controlo e fronteiras de modo a diminuir a
entrada de ilegais e indivíduos que tenham ligações com o mundo do crime (traficantes,

46
http://observador.pt/2017/04/10/malasia-apreende-18-cornos-de-rinoceronte-vindos-de-mocambique/ Field Code Changed
Field Code Changed
47
Importa frisar que neste caso não se tratava de imigrantes inlegais envolvidos em ctos criminais, mas esta ação
enquadra-se nos tipos de crimes que tem vindo a se registar devido a fraca capacidade das nossas fronteiras em
materias de controlo e fiscalização de pessoas bens e mercadorias que entrm e saem pelos no territorio.

41
indivíduos com ligações com grupos terroristas) isto de modo a impedir que haja espaço para
criação de células desses grupos e por conseguinte colocar em causa a segurança do Estado. Caso
um individuo não saiba declara de forma clara o motivo pelo qual faz o pedido de visto o Estado
tem o direito de recusar a concessão de vistos a esses indivíduos e a posterior são devolvidos
pelo mesmo vou por meio do qual desembarcou.

Pode-se concluir que a migração deve ser tratada como uma parte integrante das estratégias de
desenvolvimento nacional bem como regional, pois está directamente ligada a questões
relacionadas com a procura de melhores condições de vida em outros lugares fora das fronteiras
domésticas com vista a aliviar a pobreza. A falta de uma política de migração capaz de acautelar
a situação de imigrantes ilegais que sofre ataques xenófobos é um aspecto que carece de uma
atenção especial. A título de exemplo, foi o caso da xenofobia na África do Sul em que devido a
falta de uma política desta natureza houve dificuldade de prover serviços de repatriamento
imediato dos estrangeiros que lá se encontrava sujeitos a estes ataques.

42
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois de leituras, consultas e debates exaustivos feitos acerca do tema em estudo (A


problemática das imigrações ilegais na SADC: Que implicações para Moçambique. Foi
possível tirar algumas elações acerca do assunto em que apraz-me dizer em jeito de
considerações finais que imigração ilegal é um problema que afecta muitos Estados a nível
mundial. Com a globalização, a livre circulação de bens, pessoas e mercadorias, o intercâmbio
cultural, entre outros aspectos torna as fronteiras dos estados cada vez mais frágeis e de difícil
fiscalização a entra de pessoas num e noutro território. Com base na teoria pluralista foi possível
perceber com mais clareza a relação que se pode estabelecer entre questões económicas e
politicas e que estes assuntos podem levar os Estados a uma cooperação com vista resolução de
um bem comum e criação de uma ambiente de estabilidade na região ou continente.

A história das imigrações na região Austral de África tem uma longa tradição, no passado, esta
era determinada pela busca de segurança, busca de terras férteis para a agricultura e, mais tarde,
pela dinâmica do comércio. Posteriormente, o regime colonial alterou a motivação e a
composição dos fluxos migratórios através da introdução e execução das várias estruturas
económicas e políticas, estabelecendo limites territoriais e impondo regimes fiscais. Com o início
das primeiras independências na região austral deu-se inicio a lutas de apoio aos países vizinhos
na região com vista a alcançar sua auto determinação, onde em 1980 foi criada a SADCC
passado algum tempo a 17 de Agosto de 1992 criou-se a SADC em substituição da SADCC.

Portanto, a SADC embora não seja um bloco constituído por Estados desenvolvidos, as
condições políticas e económicas favoráveis atraem os imigrantes ilegais que com algumas
facilidades encontram oportunidades de negócios, ou de actividades que teoricamente eles têm
conhecimento. Sendo assim, o alto nível de abertura dos Estados da SADC para a economia de
mercado apresenta-se como um factor favorável ao ambiente de negócios aos imigrantes ilegais.

Por de trás das imigrações ilegais estão as questões politicas ( a estabilidade politica na SADC
torna um destino privilegiado para muitos imigrantes), culturais, religiosas ( o fraco ou quase
inexistente ocorrência de casos de conflitos religiosos faz com que haja um ambiente laico para

43
todos, fazendo com que os que são perseguidos em suas zonas de origem devido a questões
religiosas sintam-se acolhidos na região) , económicas, em que estas ultimas são sãs apontadas
como sendo as fundamentais que levam indivíduos a abandonarem as suas zonas de origem e
invadir novas terras mesmo que de forma ilegal, em que devido a assimetria de desenvolvimento
entre o local de origem e de chegada faz com que a SADC seja apetecível a muitos imigrantes,
sejam eles africanos bem como de outros continentes.

Sob ponto de vista sociopolítico as implicações das imigração ilegal na SADC se fazem sentir na
legislação, uma vez que o Estado vêem-se incapacitados em suprir a demanda de postos de
trabalhos e suas políticas de trabalho nunca são assertivas quanto as necessidades da população,
principalmente para Moçambique e África do Sul por serem Estados que mais recebem
trabalhadores legais e ilegais nos seus respectivos territórios, disse a ministra moçambicana do
trabalho. Nesta senda, constata-se que há uma necessidade de cooperação dos Estados no
combate a imigração ilegal. Pois sendo a imigração ilegal uma ameaça a Estabilidade politica,
económica, social para os Estados da SADC devido às fragilidades das fronteiras no que tange ao
controlo de documentos de viagem e vistos de entrada, há necessidade de uma actuação conjunta
entre os Estados da região com vista a eliminar situações pouco comuns.

A questão das imigrações ilegais tem implicações para Moçambique no que diz respeito a
questões socioeconómicas, sociopolíticas e de segurança. Sob ponto de vista socioeconómico
nota-se os imigrantes ilegais que violam as fronteiras moçambicanas são na sua maioria jovens
ou população em idade activa o que significa aumento da mão-de-obra em Moçambique, por seu
turno, acaba fazendo com que o nacional sinta-se numa situação de concorrência desleal com o
estrangeiro, pelo facto de serem em certos caso indivíduos com uma formação e experiencia
profissional acima do nacional, o que faz com que este seja preferencial em relação ao nacional.
Este cenário cria repercussões sociopolíticas pois acaba parecendo que o governo não consegue
criar políticas de criação de emprego, e outras políticas sociais que satisfaçam a demanda da
população e isto pode gerar um sentimento de exclusão ou esquecimento da população por parte
do governo.

Em linhas gerais importa frisar que a entrada e actuação dos imigrantes em Moçambique em
particularmente tem-se feito sentir fortemente na área social e económica (busca de melhores

44
condições de vida e oportunidade de negocio) por se tratar de um sector que atrai os imigrantes
de diferentes cantos do mundo, e a aérea sociopolítica (tratando-se de pessoas) pelos efeitos da
repercussão que estas imigrações acabam tendo no seio da população e diante das politicas
projectadas para satisfazer as necessidades da demanda da população.

45
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(Dissertação de Mestrado em Relações Interculturais), Portugal: Universidade Aberta.

47
Entrevistas

Iracema Wiliamo Matsinhe, é formada em Relações Internacionais e Diplomacia (especialista em


Estudos da SADC), docente do Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) entrevistada
no dia 11 de Abril de 2017, no Instituto Superior de Relações Internacionais, Maputo.

Nicolau Jorge é formado em administração pública pela UEM Oficial de Serviços Fronteiriços
nos serviços de migração da cidade de Maputo, entrevistado no dia 29 de Junho nas instalações
dos serviços de Migração da Cidade de Maputo.

48
ÍNDICE

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1

1. Contextualização ..................................................................................................................... 1

2.Justificativa .................................................................................................................................. 2

3.Problematização ........................................................................................................................... 3

4.Objectivos .................................................................................................................................... 4

4.1. Objectivo Geral ........................................................................................................................ 4

4.2. Objectivos Específicos ............................................................................................................. 4

5. Questões de Pesquisa .................................................................................................................. 4

6.Hipóteses ...................................................................................................................................... 5

7. Metodologia ................................................................................................................................ 5

7.1. Método Comparativo ............................................................................................................... 5

7.2.Método Histórico ...................................................................................................................... 5

7.3.Método Monográfico ................................................................................................................ 6

7.4.Técnica Bibliográfica ................................................................................................................ 6

7.5.Técnica Documental ................................................................................................................. 6

7.6.Técnica da Entrevista ................................................................................................................ 6

8.Estrutura do Trabalho .................................................................................................................. 7

CAPITULO: 1................................................................................................................................. 9

ENQUADRAMENTO TEÓRICO E DEBATE CONCEPTUAL .................................................. 9

1.1.Enquadramento Teórico ............................................................................................................ 9

1.1.2. História do surgimento do Pluralismo .................................................................................. 9

1.2. Precursores do Pluralismo...................................................................................................... 10

49
1.3. Pressupostos do Pluralismo................................................................................................ 10

1.4. Aplicabilidade do Pluralismo ................................................................................................. 11

1.5. Debate Conceptual ............................................................................................................. 11

1.5.1. Migração ............................................................................................................................. 12

1.5.2.Imigração Ilegal ................................................................................................................... 12

CAPÍTULO: 2............................................................................................................................... 14

A PROBLEMÁTICA DAS IMIGRAÇÕES ILEGAIS NA SADC.............................................. 14

2.1.SADC: Origem e Evolução..................................................................................................... 15

2.2. Retrato do Nível das Imigrações Ilegais nos Estados da SADC............................................ 17

CAPITULO: 3............................................................................................................................... 24

IMPLICAÇÕES DAS IMIGRAÇÕES ILEGAIS PARA SADC ................................................. 24

3.1.Causas das imigrações ............................................................................................................ 24

3.2. Implicações da Imigração ilegal na SADC ............................................................................ 26

3.5. Implicações Sociopolíticas..................................................................................................... 29

3.6.Implicações para área de Segurança.................................................................................... 30

CAPITULO 4. ....................................................................................................................... 3332

IMPLICAÇÕES DAS IMIGRAÇÕES ILEGAIS PARA MOÇAMBIQUE. ....................... 3332

4.1. Implicações socioeconómicas. ....................................................................................... 3433

4.2. Ponto de vista sociopolítico ........................................................................................... 3736

4.3. Ponto de vista de segurança ........................................................................................... 3938

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 4644

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