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Dióxido de Carbono (CO2)

Introdução

A importância do carbono e de seus compostos é indiscutível. Este é


onipresente na natureza e suas substâncias são constituintes essenciais de toda a
matéria viva e fundamentais na respiração, fotossíntese e regulação do clima.
(Martins, C.; Pereira; Lopes, W.; Andrade, 2003)

As trocas de CO2 entre a atmosfera e a biosfera terrestre ocorrem


principalmente através da fotossíntese e respiração por plantas. A fixação do CO2
pelos oceanos se dá através da dissolução do gás na água e por fotossíntese.
(Martins, C.; Pereira; Lopes, W.; Andrade, 2003)

Desenvolvimento

Os reservatórios de CO2 na atmosfera, litosfera e oceanos são extremamente


grandes. Os fluxos entre estes compartimentos são bidirecionais e quase em
balanço, o que faz com que as estimativas de troca sejam difíceis. A Figura 2 ilustra
as principais rotas de troca estabelecidas para o CO2 , em processos
biogeoquímicos envolvendo os três compartimentos. (Martins, C.; Pereira; Lopes,
W.; Andrade, 2003)

A Figura 3 ilustra estimativas de quantidades aproximadas contidas em cada


ambiente e os fluxos anuais (GtC/ ano) entre os mesmos. As trocas de CO2 entre a
atmosfera e a biosfera terrestre ocorrem principalmente através da fotossíntese e a
respiração por plantas. Estes dois processos podem ser resumidos pelas seguintes
equações:

Fotossíntese: H2 O + CO2 + hν →(CH2 O)n + O2 (1)

Respiração: (CH2 O)n + O2 → CO2 + H2 O + Energia (2)

Dessa maneira, parte do CO2 fixado segundo a equação 1, é reemitido


segundo a equação 2. O restante será armazenado, na forma de biomassa, pelas
folhas, caules, raízes, etc, no que é chamado de Produção Primária Líquida (PPL).
Essa biomassa, ao ser consumido, como alimento, por organismos heterotróficos, é
parcialmente reconvertida de forma imediata a CO2 pela respiração e,
posteriormente, por processos de decomposição da matéria orgânica, através da
morte de animais e plantas e ataque por microrganismos. No decorrer de um tempo
suficientemente longo, a respiração e a decomposição dos organismos
heterotróficos tende a balancear a PPL. (Martins, C.; Pereira; Lopes, W.; Andrade,
2003)

A fixação do CO2 pelos oceanos se dá através da dissolução do gás na água


e por fotossíntese. A dissolução do CO2 pode ser expressa pelas seguintes
equações:

A espécie predominante irá depender do pH da água e das respectivas


constantes de equilíbrio das reações. De modo aproximado, a 15 ºC e valores de pH
abaixo de 5,0, prevalece o CO2 (aq), enquanto para pH acima de 10,5 prevalece o
CO3 2-(aq). Para pH próximos a 8,0 praticamente só existe o íon HCO3 . No caso de
oceanos, em que o pH da água está próximo a 8,0, a espécie solúvel predominante
será, portanto, o íon bicarbonato, HCO3. (Martins, C.; Pereira; Lopes, W.; Andrade,
2003)

A principal rota de transferência do CO2 para o fundo dos oceanos é pela


sedimentação de carbonato de cálcio insolúvel, CaCO3 , na forma de organismos
formadores de exoesqueletos, como conchas, moluscos, etc. Sua decomposição ao
longo de milhões de anos leva à formação de depósitos ricos em hidrocarbonetos
(e.g. petróleo) e carvão. Outra parte é re-dissolvida por processos químicos e
biológicos, permanecendo como fração solúvel. (Martins, C.; Pereira; Lopes, W.;
Andrade, 2003)

O CO2 é também fixado na forma de carbono orgânico, pela fotossíntese de


algas na superfície ensolarada das águas e pelo crescimento resultante do
fitoplancton. Esse CO2 retorna à atmosfera através da respiração e decomposição
da biomassa assim formada. (Martins, C.; Pereira; Lopes, W.; Andrade, 2003)

O balanço de massa no fluxo de CO2 entre a atmosfera e o oceano é


resultado de um desequilíbrio nas concentrações desse gás entre os dois
compartimentos, de acordo com a localização. Assim, em regiões próximas ao
equador, as águas quentes favorecem uma transferência maior do oceano para a
atmosfera, enquanto em médias e altas latitudes predomina o processo inverso, em
que CO2 da atmosfera é dissolvido nas águas frias. Alguns modelos globais
sugerem que há uma transferência líquida de CO2 da atmosfera para os oceanos na
faixa de 2,0 ± 0,8 GtC/ano. (Martins, C.; Pereira; Lopes, W.; Andrade, 2003)

Efeito estufa na engenharia civil

Enchentes, secas, recordes de temperaturas. São tantas as surpresas que


não há como negar que mudanças climáticas estão ocorrendo em diversas
localidades do planeta. Muito ainda se discute sobre a magnitude dos impactos
ambientais.

A construção civil é reconhecida como uma das atividades de maior pegada


ecológica em nosso planeta. Segundo dados das Nações Unidas, a construção
consome 40% de toda energia, extrai 30% dos materiais do meio natural, gera 25%
dos resíduos sólidos, consome 25% da água e ocupa 12% das terras. Infelizmente,
a construção também não fica atrás quando se trata de emissões atmosféricas,
respondendo por 1/3 do total de emissões de gases de efeito estufa.

Nas edificações, as emissões são prioritariamente provenientes do uso de


energia, sendo de 80 a 90% geradas na etapa de uso e operação (aquecimento,
condicionamento de ar, ventilação, iluminação e equipamentos). Outros 10 a 20%
estão ligados à extração e ao processamento de matérias-primas, à fabricação de
produtos e à etapa de construção e demolição.
O Brasil possui uma matriz energética relativamente limpa com relação a
outros países: a maior parte da energia é gerada em usinas hidroelétricas, cujas
emissões são bem menores se comparadas às das termoelétricas (queima de
derivados de petróleo, carvão, gás, etc.). Com essa matriz energética “limpa”, os
números apresentados se invertem e as etapas da fabricação de materiais e da
construção ganham grande importância.

O setor de construção civil, portanto, tem grande potencial para reduzir a


emissões de gases de efeito estufa e elaborar uma série de medidas para isso. O
primeiro passo para o empreendedor é o desenvolvimento de um Inventário de
Emissões de Gases de Efeito Estufa de seu empreendimento, tanto na fase de
construção como na de uso, baseando-se em normas e protocolos internacionais,
particularmente a ISO 14.064-1 e GHG Protocol. Do inventário surgirá, naturalmente,
a identificação dos pontos críticos, das prioridades e das oportunidades de se
promover a redução das emissões, tais como:

• adoção de energias renováveis no projeto (solar, eólica, etc.);


• seleção de materiais com menores níveis de emissões;
seleção de fornecedores de materiais que tenham menores níveis de emissões na

sua produção;
equipamentos de condicionamento de ar mais eficientes e que utilizem gases

menos agressivos à camada de ozônio e com menor impacto no efeito estufa;
projetos de iluminação mais eficientes, com luminárias de alto desempenho e

sensores de presença;
• uso de combustíveis com menores níveis de emissões pelos equipamentos;
projetos arquitetônicos que privilegiem a ventilação e a iluminação natural,

reduzindo o consumo de energia para condicionamento do ar;
aquisição de créditos de carbono para neutralização parcial ou integral das

emissões;
• plantio de árvores e reflorestamento para resgate de carbono.
As certificações Green Building, como LEED® (Leadership in Energy and
Environmental Design) e AQUA (Alta Qualidade Ambiental), e a Etiquetagem
Nacional de Edificações Procel incluem requisitos que potencializam a redução de
emissões atmosféricas, principalmente quando exigem altos níveis de eficiência
energética, redução de geração de resíduos destinados a aterros e adoção de
materiais com menores emissões.

Materiais Básicos mais Utilizados na Indústria da Construção Civil e que


causam emissões de gases do Efeito Estufa.

Os materiais que apresentam grande quantidade de emissões de gases do efeito


estufa, principalmente o CO2, sejam na fabricação ou na retirada do material da
natureza. O Instituto IDD – Institut Wallon – VITO (2001) e John (2005) afirmam em
seus estudos que os processos de produção/obtenção dos materiais abaixo
indicados são os que mais emitem gases causadores do efeito estufa:

 Cimento
 Cal
 Aço (ferro)
 Areia e Brita (retirada e transporte)
 Cerâmica vermelha
 Queima de combustíveis fósseis
 Transporte

Cimento: Somente a indústria do cimento é responsável por 10% de todas as


emissões de CO2 no Brasil (JOHN, 2005).

Figura 3 – Cimento
Cal: O óxido de cálcio, mais conhecido como cal, é produzido a partir da
calcinação do calcário (processo em que o calcário é submetido a altas
temperaturas, em fornos), gerando emissões de CO2, como mostra a equação
abaixo (Ministério de Ciência e Tecnologia, 2002):

CaCO 3 + calor → CaO + CO2

100 56 44

Pela equação acima se verifica que teoricamente a perda do calcário é de


44% em peso. Ocorre também uma perda de volume de 12 a 20% (ALVES, 1987).
Podemos afirmar então que 1000 Kg de calcário = 400 Kg de CO2 (JOHN, 2005)
considerando apenas a transformação química.

Figura 4 – Cal
Tijolos cerâmicos: A maior parte da indústria de cerâmica vermelha utiliza
como fonte de energia no seu processo de produção, a queima de combustível que
provem da biomassa (lenha, serragem, etc.) emitindo gases como o CO2.

Figura 5 – Tijolos Cerâmicos

O Aço: O aço é utilizado na construção civil, principalmente como barras para


as estruturas ou nas esquadrias. Todas as construções utilizam aço em maior ou
menor quantidade. O aço é obtido através de processos siderúrgicos onde o minério
de ferro é acrescido de carbono em quantidades pré-estabelecidas para se chegar a
uma resistência mecânica desejada.

Figura 6 – Aço
Agregados: areia e brita

Os principais impactos relacionados ao uso de areia e brita dizem respeito à


degradação das áreas de extração da matéria-prima, ao esgotamento do recurso já
que esse recurso não é renovável, à geração de rejeitos lançados ao solo ou corpos
d’água, contaminando-os ou degradando-os e as emissões de gases provenientes
dos equipamentos para retirada e britagem que, na maioria das vezes, é feito com
motores de combustão. Segundo estudos de Knijinik (apud CYBIS E SANTOS,
2000) verificou-se que as emissões de poluentes geradas pelo óleo diesel são os
materiais particulados, o CO2, o CO, o NOx e o SOx.

Figura 7 - Agregados: areia e brita


As unidades habitacionais construídas pela Estatal paranaense

A Companhia da Habitação do Paraná - Cohapar tem construído diversas


unidades habitacionais (casas) de diversos tamanhos e formas. Atualmente a
unidade habitacional mais construída no Estado do Paraná, com aproximadamente
70% de todas as construções é a casa com 40 m² de área em projeção. Na Tabela
2, são apresentados ás características arquitetônicas dessa casa e na Tabela 3 são
apresentadas as quantidades dos principais materiais de construção.

Tabela 1- Características da casa padrão mais utilizada pela Cohapar no Estado do


Paraná.

Tabela 2 – Quantidade dos principais materiais de construção da casa padrão 40


Emissões de gases do Efeito estufa no modelo de habitação social mais
construído no Estado do Paraná

Foi calculado as emissões de gases do efeito estufa, baseados nos estudos


desenvolvidos por CYBIS E SANTOS (2000), CRUZ et al. (2003), INSTITUT
WALLON VITO (2001) e ISAIA e GASTALDINI (2004). Para o cálculo das emissões
da cal, no que se refere a reação química, são apresentados os valores na Tabela 4.

Tabela 4 – Quantidade de emissões devido ao processo de transformação do


calcário em cal utilizado na execução de casas de interesse social no Estado do
Paraná.
Figura 2 – Ciclo global do Carbono.
Figura 3 – Fluxos e quantidades de Dióxido de Carbono nos compartimentos.
Referências bibliográficas

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