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6/1/2019 Arianos – Wikipédia, a enciclopédia livre

Arianos
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O termo ariano ou árico, ao referir-se a um grupo étnico, tem vários
significados. Refere-se, mais especificamente, ao subgrupo dos indo-
europeus, que se estabeleceu no planalto iraniano desde o final do terceiro
milénio antes da era comum . Por extensão, a designação "arianos" (não o
termo "árias") passou a referir-se a vários povos originários das estepes da
Ásia Central - os Indo-europeus - que se espalharam pela Europa e pelas
regiões já referidas, a partir do final do neolítico. O nome ariano vem do
sânscrito arya, que significa nobre.

Até recentemente, acreditava-se que os arianos teriam invadido o


subcontinente indiano por volta de 1 500 a.C., vindo do norte, pelo
Imagem de satélite do planalto
Punjabe, disseminando-se pela Índia, Pérsia e regiões adjacentes. Teriam
iraniano, onde os arianos ter-se-iam
sido os descendentes dos indo-europeus que fundaram a civilização
estabelecido desde o final do
indiana, subjugando as populações locais, dando origem ao sistema de terceiro milénio antes de Cristo.
castas e, mais especificamente, às castas dominantes dos Brâmanes, xátrias
e vaixás. A sua cultura teria ficado particularmente expressa nos Vedas e,
principalmente, no Rig Veda, considerado como o mais antigo. Muito embora, essa hipótese da invasão ariana na
Índia tenha sido questionada desde o final do século XIX, por causa de certas descobertas arqueológicas e geológicas e
pela proposta de interpretações das evidências conhecidas anteriormente[1], novos estudos do âmbito genético põem-
na em evidencia e tornam-na afinal mais credível[2].

O termo "ariano" refere-se, também, na história das línguas, ao proto-ariano, que teria sido o ramo linguístico comum
aos antepassados dos povos indo-áricos e iranianos e aos dois grandes subramos linguísticos a que terá dado origem,
ou seja, às línguas indo-áricas e às línguas iranianas. Estes dois sub-ramos são árico ou indo-iraniano. Pode ainda
referir-se, especificamente, aos grupos linguísticos actualmente conhecidos como proto-indo-europeu, proto-indo-
iraniano e indo-iraniano. Em tempos, também se utilizou o termo para designar todas as línguas indo-europeias.

O termo ganhou outro significado com a ideologia nazi que, baseando-se em teorias de vários autores evolucionistas
do século XIX, o usou para classificar uma suposta raça comum aos indo-europeus e aos seus descendentes não
miscigenados com outros povos. Deve-se a este facto a vulgar confusão que identifica arianos com os povos
germânicos, mais especificamente, nórdicos.

Índice
Etimologia
Semântica do sânscrito arya
Indo-iraniano
Indo-arianos
Iranianos
Uso da palavra "ariano" pelos iranianos

Indo-europeus
Arianos contra proto-indo-europeus

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Conotação racial
Curiosidades
Referências
Bibliografia

Etimologia
A palavra ariano tem origem no latim ariānus (ariāna, ariānum), referindo-se à região da Ária. Esta região, designada
por Arīa ou Ariāna em latim, corresponderia à parte ocidental da Pérsia ou da Ásia, e deve o seu nome à adaptação
dos termos gregos Areía ou Aría que, por sua vez, remontam aos radicais persas ariya- ou ao avéstico airya- que se
referem a povos invasores e dominantes que mantinham, contudo, solidariedade étnica em relação aos povos
dominados, considerados "bárbaros". A forma Aryāna-, do persa antigo aparece depois em avéstico como Æryānam
Väejāh ("Território dos arianos")[3]; em Persa médio como Ērān, e no Persa Moderno como Īrān [4], que deu origem,
em português, a Irão ou Irã. De modo semelhante, a Índia setentrional já foi designada em tempos antigos pelo
vocábulo composto (tatpurusa) Aryavarta "Arya-residência".

O termo Indo-ariano ar-ya- provém do proto-indo-europeu ar-yo-, um termo formado pela adjectivação com a
partícula yo- da raiz ar que significa "juntar com perícia", tal como aparece no grego harma, que significa "carro" ou
na raiz aristos, (de onde provém "aristocracia"), ou as palavras latinas ars (arte), etc. O proto-indo-iraniano ar-ta-
está relacionado com o conceito de algo "articulado de forma adequada", relacionado com uma visão religiosa de
ordem cósmica.

Já se sugeriu que o adjectivo *aryo- remontava aos tempos Proto-Indo-Europeus, onde era usado como auto-
designação dos falantes desta língua. Sugeriu-se, mesmo, que outras palavras como Éire, o nome em gaélico irlandês
para Irlanda, ou a palavra alemã Ehre ("honra") estavam relacionadas com esta palavra, mas tal hipótese é, hoje,
considerada insustentável. De facto, se o Proto-Indo-Europeu ar-yo- é, sem dúvida, um vocábulo qualificador
perfeitamente aceitável, não existe evidência consensual de que tenha sido utilizado como auto-designação por outros
grupos étnicos independentes do ramo Indo-Iraniano.

Na década de 1850, Max Müller avançou com a hipótese de que a palavra se referia a populações que se dedicavam à
agricultura, já que supunha que houvesse relação com a raiz proto-indo-europeia arh que significa "lavrar a terra".
Outros autores do século XIX, como Charles Morris, voltaram a defender esta ideia, relacionando-a com a expansão da
agricultura que é frequentemente ligada à expansão dos povos indo-europeus. Muitos dos linguistas da actualidade
rejeitam esta possibilidade.

Ainda nos dias de hoje, os Arménios auto-designam-se como Aryaee, ou Arianos (com conotação racial de "sangue
puro").[5]

O termo ariano era já utilizado na língua portuguesa, em 1601, para se referir ao grupo étnico. Em 1794, já se
encontram documentos onde a palavra tem uma acepção valorativa, referindo-se a "nobres" ou "superiores" - de facto,
o sânscrito ārya designava as três primeiras classes étnicas consideradas "veneráveis" ou "excelentes". Em 1847, é já
usado no âmbito da linguística, identificando-se com o indo-europeu.

Semântica do sânscrito arya


De acordo com Paul Thieme (1938), o termo védico arya-, no seu uso original, refere-se a "estrangeiros", mas
"estrangeiros" que são potencialmente "convidados" - isto é, com os quais se estabelece uma certa solidariedade
étnica, em oposição aos "bárbaros" (mleccha, dasa) e seria a auto-designação étnica, Arya é o oposto directo de Dasa
ou Dasyu no Rigveda (e.g. RV 1.51.8, ví jānīhy âryān yé ca dásyavaḥ "Discerni bem, ó Aryas e Dasyus"). Esta situação
é comparável ao uso do termo "Helénico" na Grécia Antiga. A interjeição do indo-árico médio arē!, rē!, que
corresponderá ao português "Tu aí!" ou "Você aí!" deriva do vocativo arí! "estrangeiro!".
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O dicionário sânscrito Amarakosha (cerca de 450 d.C.) define Arya como mahākula kulīnārya - "pertencente a uma
família nobre", sabhya - "tendo modos gentis e refinados", sajjana - "bem-nascido e respeitável", e sādhava "que é
virtuoso, honrado e recto".

No hinduísmo, os brâmanes, xátrias e vaixás iniciados na religião Hindu eram arya, um título de honra e respeito
devido a certas pessoas pelo seu nobre comportamento. A palavra arya pode, inclusivamente, ser usada para
identificar os hindus, budistas e jainistas.[6]

Indo-iraniano
Pela designação de indo-iranianos referimo-nos aos dois principais ramos étnicos e linguísticos a que a palavra
"ariano" se poderá, com maior propriedade, referir: aos Indo-arianos e aos Iranianos, ainda que se incluam também os
povos Nuristani e Dardos.

A cultura proto-indo-iraniana teria iniciado em cerca de 2 500 a.C. Se considerarmos a palavra "ariano" neste sentido,
estaremos a referir-nos às culturas que precedem a Védica e o Avéstico. Supõe-se que os complexos arqueológicos de
Andronovo e de Srubnaya tivessem sido povoados por Indo-iranianos. A Teoria da Urheimat Indiana e a Teoria
Nórdica têm também sugerido a Índia e o Norte da Europa como local de origem (Urheimat) desta cultura.

A língua proto-indo-iraniana evoluiu dando origem às línguas indo-iranianas, das quais as mais antigas são o sânscrito
védico, o avéstico e outra língua indo-iraniana que se conhece apenas devido a vestígios vocabulares no dialecto
Mitanni.

Indo-arianos
Os indo-arianos ter-se-iam instalado na Bactriana, a sudeste do actual
Uzbequistão e a norte do Afeganistão, deixando a sua marca na chamada
"Civilização do Oxo" ou "Civilização bactro-margiana", da Idade do Bronze,
datada de 2 200 a.C. a 1 700 a.C. A partir daqui, ter-se-iam associado à
cultura védica. Designados como arianos védicos, supõe-se que tenham
levado os Vedas (e a língua e cultura a eles associadas) ao subcontinente
indiano, mais especificamente à sua região setentrional. Na Índia Antiga,
aliás, o termo Aryavarta, com o significado de "residência dos Arianos",
era usado para se referir ao norte do subcontinente. A língua védica
evoluiu, posteriormente, para o sânscrito que deu origem a todas as línguas
indo-europeias faladas na Índia. O dravídico e o munda têm outra origem.
Os Vedas, e mais especificamente o
Rig Veda, o mais antigo, Também a partir da Bactriana, outros indo-arianos migraram para o Médio
permanecem como o principal
Oriente. Há indícios da existência de falantes de indo-árico (ou indo-
testemunho da cultura indo-ariana.
ariano) na Mesopotâmia à volta do ano 1 500 a.C., através de palavras
presentes no dialecto Mitanni, na região ocupada pelos Hurritas. Especula-
se que este povo possa ter sido dirigido por uma classe dominante indo-árica, formando o reino de Mitanni. Estudos
arqueológicos desvelaram uma grande quantidade de nomes próprios védicos e, em particular, nomes de divindades.
Deuses como Varuna ou Indra não fazem parte do panteão original da região, pelo que se crê que o período védico se
tenha originado fora da Índia.

Alguns nacionalistas indianos rejeitam a ideia de que a sua língua e cultura tenham tido origem fora do subcontinente
(Teoria da invasão ariana), ignorando o parentesco entre o sânscrito e as outras línguas indo-europeias e tudo o que os
estudos indo-europeus e a arqueologia parecem indicar. Outros autores, como o arqueólogo Henri-Paul Francfort,
entende que o termo "invasão" é despropositado, tendo, pelo contrário, ocorrido uma migração progressiva -

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independentemente dessa questão, não considera sequer a hipótese desta cultura ter tido origem na própria Índia. O
tema ainda está sendo discutido, não havendo unanimidade entre os especialistas a respeito da realidade histórica da
invasão ariana na Índia.[7]

Os falantes contemporâneos das línguas indo-áricas distribuem-se essencialmente pela parte setentrional da
península indiana. Fora desta região, há a referir o romani, falado pelo povo rom, vulgarmente designado de "cigano",
além do parya, no Tajiquistão, o Jataki na Ucrânia e o domari no Médio Oriente.

Na Índia, o termo "ariano" (tal como a suástica) mantém-se livre de qualquer conotação com o nazismo. "Ariano" é um
nome próprio masculino vulgar na Índia (veja-se, por exemplo, no filme de Abhishek Kapoor, "Ariano"). De igual
forma, o sobrenome Arya é muito valorizado entre a comunidade Arora - além de entrar na composição de alguns
nomes indianos, como "Kartikarya" ou "Aryabhatta".

Iranianos
A origem dos Iranianos é mais problemática que a dos Indo-arianos. Alguns arqueólogos atribuem aos seus
antepassados uma cultura, desenvolvida junto ao Volga, conhecida como cultura das sepulturas em armação de
madeira (em russo, Srubnaya) que data de 1 900 a.C. a 1 500 a.C. Graças a fontes assírias, sabe-se que os Persas
ocupam o planalto iraniano desde o século IX a.C., coevos dos Medos, também de língua iraniana. A sua ligação com a
cultura das Sepulturas em Armação de Madeira não está, contudo, esclarecida. O mais antigo texto sagrado dos
Iranianos, o Avesta, foi, provavelmente, escrito na Báctria ou na Sogdiana - em todo o caso, foi, sem dúvida, na região
ocupada actualmente pelo Turquistão ocidental. A língua então usada, o avéstico, diferente do persa antigo, era
bastante próxima do védico.

O Irão já foi chamado na Antiguidade de Ērān shahr (pronuncia-se como Aryānam xshathra) que significa "reino dos
Arya" - e foi sempre o território exclusivo dos falantes de línguas iranianas. Até ao fim do primeiro milénio a.C.
também viviam aí os Bactrianos e os Sogdianos, que ocupavam o atual Uzbequistão, e cujas línguas estão
documentadas arqueologicamente. A sul do mar de Aral encontravam-se os Corásmios. O nome da região por estes
ocupada, a Corásmia, compreende-se através do iraniano antigo Xwāra-zmi- ou "País do Sol". Estes três povos são
mencionados por Heródoto, no século V a.C., que também se refere, no seu Livro VII, aos Arianos como habitando a
região de Herate, no Afeganistão, além de os relacionar com os Medos.

É conhecida uma cultura, dita de Tazabagyab, que data de cerca de


1 500 a.C., que poderá ter sido a origem dos Iranianos do Turquistão
ocidental. Situada a sul do mar de Aral, no território que seria ocupado
pelos Corásmios, reunia elementos da cultura das "Sepulturas de Armação
de Madeira" e da cultura de Andronovo, originária do Cazaquistão
ocidental. Os mortos eram sepultados de uma forma muito particular, em
posição fetal, com os homens à direita e as mulheres à esquerda. Tal
prática funerária era semelhante à praticada na Báctria, ao longo dos rios
Kafirnigan (na necrópole de Toulkhar) e em Vakhsh. Em Toulkhar, cujas
sepulturas datam de 1 700 a.C. a 1 500 a.C., os mortos eram ainda
enterrados com um pequeno altar - oblongo para os homens e redondo
para as mulheres. Esta prática reflectia uma concepção tipicamente indo-
europeia, que associa o homem ao céu quadrado, masculino, e as mulheres
à terra, redonda, feminina. Além do mais, o lado esquerdo, considerado
simbolicamente como desfavorável, reservado às mulheres, reflecte uma
Mulheres iranianas, em Xiraz
misoginia também típica dos indo-europeus.

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A cultura de Andronovo distendeu-se por toda a área do Cazaquistão até à Sibéria meridional durante o segundo
milénio a.C. Vários especialistas consideram que os Iranianos nómadas, como os Citas, eram seus herdeiros. O
material arqueológico encontrado em Toulkhar combina influências da antiga cultura bactro-margiana e da cultura de
Andronovo. Os punhais, por exemplo, têm características muito semelhantes aos de Andronovo. Os homens de
Toulkhar ter-se-iam dedicado à pastorícia. Podem ter tido um papel importante na substituição da cultura indo-ariana
da Báctria pela cultura iraniana, não havendo razão para crer que os Indo-arianos tenham deixado esta região na sua
totalidade para se instalarem na Índia e na Mesopotâmia. Acrescente-se que o sítio arqueológico mais antigo da
cultura de Andronovo - Sintashta - se encontra a sudeste dos Urais, datando de 2 300 a.C. a 1 900 a.C. A cultura das
"Sepulturas de Armação de Madeira" situava-se um pouco mais a Oeste. Assim, o local de origem dos Iranianos ter-se-
á localizado, aparentemente, na fronteira da Europa com a Ásia, a norte do mar Cáspio. Esta localização é, aliás,
próxima daquela que é proposta como local de origem da generalidade dos povos indo-europeus, segundo a tese de
Marija Gimbutas, a norte do mar Negro. Sendo o Turquistão a primeira área conhecida ocupada pelos Indo-arianos,
supõe-se que estes tenham migrado a partir do Cazaquistão ocidental ou do sul da Rússia em data que ainda está por
determinar.

Uso da palavra "ariano" pelos iranianos


Desde a antiguidade que os Persas usam o termo Ariano com sentido racial e étnico para descrever a sua linhagem e a
sua língua. Tal tradição tem persistido até à atualidade entre a generalidade dos Povos Iranianos.

Dario, o Grande, rei do Império Aquemênida de 521 a.C. a 486 a.C., proclamava numa inscrição encontrada em
Naqsh-e Rustam (perto de Xiraz no atual Irão): "Eu sou Dario, o Grande Rei… Um Persa, filho de um Persa, um
Ariano de linhagem Ariana...". O documento refere-se ainda à "Língua ariana," que corresponderia ao que hoje
designamos como persa antigo.

A palavra "ariano" foi adoptada, entretanto, como conceito religioso no zoroastrismo, ainda que tenha mantido
sempre a sua significação étnica entre os Iranianos. Em 1967, a dinastia Pahlavi (destronada em 1979 pela Revolução
Iraniana) juntou o título Āryāmehr "Luz dos Arianos" aos já envergados pelo monarca, conhecido nessa altura pelo
epíteto de xá (Rei dos Reis). A companhia aérea nacional afegã designa-se Ariana Airlines, referindo-se à Airyanem
Vaejah, a terra originária dos povos iranianos.

O termo permanece, ainda, como elemento frequente nos nomes pessoais persas, incluindo Arya e Aryan
(respectivamente, para rapariga e rapaz), Aryana (um sobrenome comum), Dokhtareh-Ironi (filha de Ariano),
"Aryanzai" (filho de Ariano - em Pashto), Aryanpour (ou Aryanpur, sobrenome), Aryamane, Ary, entre outros. Os
termos "Ariano" e "Iraniano" são, por vezes considerados sinónimos, como no caso do Banco Iraniano Aryan Bank.

Indo-europeus
No final do século XVIII (1788), linguistas como William Jones relacionavam e comparavam o sânscrito, falado pelos
indo-arianos, com línguas como o latim ou o grego, descrevendo-o como uma língua de características "perfeitas". Foi
porém Friedrich Schlegel, que desenvolveu a tese que identificava o sânscrito com a língua mãe das línguas que viriam
a ser conhecidas como indo-europeias, estabelecendo uma confusão de terminologia que se manteria e exploraria nos
séculos que se seguiriam. O termo indo-europeu apareceu pela primeira vez num artigo de Thomas Young, na
Quarterly Review, em 1813 e foi igualmente utilizado por Johann Gottlieb Rhode em 1820. James Cowles Prichard e
Franz Bopp também já tinham sugerido a designação de indo-germânicos em 1831 e 1833, respectivamente, quando o
orientalista Max Müller, em 1860, decidiu utilizar o termo "arianos" para designar a família etno-linguística que teria
dado origem aos Indianos, Persas, Gregos, Romanos, Celtas, Germânicos e Eslavos. Este foi o termo que perdurou
durante o século XIX.

Müller e outros autores consideravam que o termo arya teria servido como auto-designação dos Proto-indo-europeus,
que eram também, frequentemente referidos na época como "primitivos arianos".

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Esta tese veio, aliás, a fundamentar-se na semelhança com Éire e Eriu,


nome usado em Gaélico Irlandês para designar a própria Irlanda e que
teria tido origem no termo Ārya. Se assim fosse, existiria um auto-etónimo
indo-iraniano-céltico, ou seja, a tão celebrada auto-designação destes
povos. Contudo, estudos recentes fazem derivar estes termos de iweria,
resultante da aférese do fonema p, característico das línguas célticas, na
palavra piweria ("Terra farta", em céltico). Ainda que se verifique que os
homens livres eram aí designados como airig (aire, no singular), a maioria
dos pesquisadores da língua céltica rejeita qualquer ligação com Ārya.
Mapa do Meyers Contudo, a descoberta de uma ligação etimológica entre o nome dos deuses
Konversationslexikon (1890), onde Aryaman e Airyaman, respectivamente da Índia e do Irão e dos deuses
os Arianos Europeus e Indo-arianos Eremon e Irmin, da Irlanda e da Alemanha, tem servido como ponto de
são apresentados juntamente com apoio de nova discussão sobre o assunto, tendo em conta a existência do
os Semitas e os Hamitas, formando
deus indo-europeu Aryomen. Yaroslav Lebedynsky, por exemplo,
a "raça caucasiana".
considera "que este poderá ser um argumento a favor de uma auto-
percepção "nacional" dos Indo-europeus."

Por extensão, a palavra "arianos" começou a ser utilizada no Ocidente para se referir à generalidade do objecto dos
estudos indo-europeus. Além de Müller, também Honoré Joseph Chavée, em 1867, usa o termo neste sentido
(aryaque), ainda que tal uso não tenha tido grande adesão por parte dos linguistas, precisamente porque era já
reservado aos povos Indo-iranianos. Graziadio Isaia Ascoli, em 1854 usou arioeuropeo, ou seja, o composto "ariano-
europeu", seguindo o mesmo raciocínio utilizado para a adopção do termo "indo-europeu", agora corrente, desde a
década de 1830. Seja como for, o uso da palavra "Ariano" como sinónimo de indo-europeu ganhou força fora do meio
académico dos linguistas, no final do século XIX.

Na generalidade dos meios académicos, contudo, na década de 1910, tal identificação era já considerada obsoleta. B.
W. Leist, em 1888 ainda intitula uma obra de Alt-Arisches Jus Gentium ("Ius Gentium dos Arianos Antigos"). P. V.
Bradke, em 1890 escreve Methode und Ergebnisse der arischen (indogermanischen) Altterthumswissenschaft,
usando ainda o termo "Ariano", mas inserindo comentários cautelosos quanto ao uso do termo. Otto Schrader, em
1918, na sua Reallexikon der indogermanischen Altertumskunde, na entrada Arier, de facto, discorre sobre os Indo-
iranianos, sem fazer qualquer referência a um possível significado mais abrangente do termo, ao contrário do que já
era comum fora do meio académico.

Michael Witzel, no seu escrito Autochthonous Aryans? The Evidence from Old Indian and Iranian Texts, defende que
o uso da palavra Arya e Ariano para designar os indo-europeus ou como designação de uma raça específica deve ser
evitado, já que se trata de uma "aberração" insustentável tendo em conta os conhecimentos actuais sobre o assunto.[8]

Arianos contra proto-indo-europeus


A Antropologia tradicional anterior à década de 1930, confundindo os conceitos de arianos com o conceito de indo-
europeus, descreve-os como de raça branca, braquicéfalos e de estatura elevada. Ter-se-iam dedicado à pastorícia
antes de adoptarem a agricultura como actividade dominante, à medida que se cruzavam com outros povos,
especialmente na Europa, onde se teriam difundido em sucessivas migrações ao longo dos séculos. Estes autores
salientam uma identidade de origem, centrada não só na língua, como já foi referido, mas também em determinados
padrões culturais que se reflectem nos rituais e tradições. Não eram conhecedores de qualquer forma de escrita até ao
período védico, tendo adoptado posteriormente a escrita cuneiforme que teriam desenvolvido. São ainda descritos
como um povo patriarcal, organizado em clãs sob a autoridade do pater familias. Algumas das características dos
indianos são-lhes atribuídas, como a divinização da vaca e a cremação dos mortos. Conhecedores do uso do ouro e do
bronze, praticavam a tecelagem e há, ainda, fontes que lhes atribuem a invenção do tijolo.

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Tais suposições, pelo menos no que diz respeito às características físicas, não têm qualquer fundamento científico. Os
Proto-indo-europeus, que constituíam, por definição, o povo utilizador da língua mãe da família indo-europeia, eram,
certamente, europoides, mas é impossível descrever características mais precisas. Baseando-nos nos esqueletos
encontrados nas sepulturas, sabemos que os homens de Toulkhar e de Vakhsh, que eram, provavelmente, "Arianos" no
sentido próprio do termo, constituíam duas variantes de um tipo mediterrânico meridional dolicocéfalo. Estes,
pastores, apenas se distinguiam ligeiramente dos agricultores sedentários da Báctria, também do tipo meridional
dolicocéfalo mas, neste caso, de dimensões menores, ficando a altura média dos homens e das mulheres em,
respectivamente, 1,63 e 1,55 m. Todos eles com aparência aproximada à dos povos do sul da Europa, e sem qualquer
semelhança morfológica com o tipo de Andronovo.

Alguns autores identificaram, de um ponto de vista bíblico, os arianos com os descendentes de Jafet. Esta identificação
tem servido para fundamentar, do ponto de vista religioso, doutrinas essencialmente racistas. É semelhante a tradição
que designa os arianos como "filhos de Chemsid", personagem que os teria dividido em quatro castas: os "Catures"
(sacerdotes), os "Asgares" (guerreiros), "Sebaisas" (agricultores) e "Anuqueques" (artesãos) - divisão essa que faz
lembrar, de algum modo, as "três ordens" medievais na Europa: clero, nobreza e povo.

Conotação racial
Após as teorias de Müller no final do século XIX, as doutrinas arianistas começaram a defender a superioridade racial
dos "arianos". Arthur de Gobineau, em 1855, ao publicar o Essai sur l'inégalité des races humaines deu o mote. A tese
era a de que a humanidade se dividia em raças com características biologicamente distintas e que os proto-indo-
europeus tinham constituído uma raça específica que se tinha difundido pela Europa, tal como pelo Irão e pela Índia.
A Gobineau Vereinigung ("Sociedade Gobineau"), fundada em 1894 pela mão de Ludwig Schemann, difundiria estas
ideias pela Alemanha. As obras de Houston Stewart Chamberlain foram igualmente decisivas para a adesão de vários
intelectuais e políticos alemães à corrente ideológica que viria a culminar, no século XX, com a subida ao poder do
Partido Nazi.

Devido aos argumentos etnolinguísticos que relacionavam os povos com os seus valores culturais, os povos "arianos"
foram frequentemente considerados distintos dos povos Semitas. No final do século XIX, era comum identificar
arianos com gentios. De facto, tal uso permaneceu na linguagem popular depois de os autores académicos apenas
aceitarem o termo para identificar os Indo-iranianos. Entre os defensores da supremacia branca, o termo continuou a
ser utilizado para se referir aos indivíduos de raça branca não-judeus. Tal uso tende a fundir o sentido presente no
sânscrito de "nobre" ou "elevado" com a ideia de um comportamento distinto de um grupo étnico ancestral cuja
identidade se poderia aferir por uma língua comum. Segundo esta interpretação, a raça ariana é, simultaneamente, a
mais representativa da nobreza humana e a mais pura descendente da população proto-indo-europeia.

Associada a estas ideias, está a teoria de que os proto-indo-europeus teriam tido a sua origem na Europa. Recebida
criticamente de início, tal ideia expandiu-se rapidamente no final do século XIX. Inaugurada por Ludwig Geiger em
1871, foi consagrada por Karl Penka entre 1883 e 1891. Em 1905, Hermann Hirt, no seu Die Indogermanen (que,
incidentalmente e de forma consistente, usa o termo Indogermanen e não Arier para se referir aos indo-europeus)
julgava poder provar que as planícies da Alemanha setentrional tinham sido o Urheimat (p. 197), ao mesmo tempo
que relacionava o "tipo louro" (p. 192) ao núcleo primitivo da população indo-europeia "pura". Este argumento
desenvolveu-se concomitantemente com o nordicismo, segundo o qual a "raça nórdica" de indivíduos louros era
inatamente superior à dos outros povos. A identificação dos proto-indo-europeus com a Cultura da Cerâmica Cordada
do Norte da Alemanha veio sustentar esta suposição. A ideia foi originalmente proposta por Gustaf Kossinna em 1902,
e ganhou força ao longo das duas décadas seguintes, até V. Gordon Childe que, em 1926, no seu The Aryans: a study
of Indo-European origins concluía que a superioridade física dos nórdicos se ajustava à sua capacidade para veicular
uma língua superior - crença que, mais tarde, lamentou ter proferido.

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Tais ideias foram-se tornando questão de orgulho nacional entre alguns círculos eruditos na Alemanha e foram
adoptadas pelo nazismo. De acordo com a ideologia de Alfred Rosenberg, os "Nórdico-arianos" (arisch-nordisch) ou a
raça "Nórdico-atlântica" (nordisch-atlantisch) constituíam uma raça superior, no topo de uma hierarquia racial que a
opunha à raça "judaico-semita" (jüdisch-semitisch), considerada como uma ameaça a uma civilização ariana
homogénea. Justificava-se, assim, o antissemitismo nazi. Esta ideologia sustentava, então, que a "raça ariana" seria a
única capaz de, ou com interesse em, criar e manter culturas e civilizações, enquanto que as outras raças eram,
meramente, instrumentos de conversão ou destruição cultural.

Alguns nazis eram, ainda, influenciados pelo misticismo de Helena Petrovna Blavatsky e, em particular pelo seu A
Doutrina Secreta, de (1888) onde postulava os "Arianos" como a quinta das suas raças-raiz, datando a sua origem há
cerca de um milhão de anos atrás, remontando à Atlântida - ideia essa que foi repetida por Rosenberg, e mantida
como doutrina pela Sociedade Thule. Foi assim que se justificou a imposição das chamadas "leis arianas" ou Leis de
Nuremberga pelos nazis, proibindo a cidadania e direitos de trabalho aos "não-arianos", bem como o casamento entre
indivíduos dos dois grupos opostos. Ainda que o fascismo de Benito Mussolini não se caracterizasse inicialmente nem
explicitamente pelo antissemitismo, também na Itália se introduziram leis neste sentido, depois de pressionado pela
Alemanha.

O termo "ariano", no léxico nazi, é totalmente inconsistente com o termo académico. O povo Rom, vulgarmente
designado como "cigano" era considerado como "não-ariano", apesar de ter ascendência e linguagem de raiz indiana,
enquanto que os japoneses recebiam o estatuto de "arianos honorários". Com efeito, o termo "não-ariano" passou
rapidamente a ter o significado de "não suficientemente nacionalista".

Devido a estes precedentes históricos, o termo "Ariano" passou a ter uma certa conotação com ideias racistas, pelo que
é evitado, tal como qualquer outro símbolo presente na propaganda nazi. Em termos gerais, prefere-se utilizar o termo
"Caucasiano" para identificar os indivíduos de raça branca.

Curiosidades
O personagem Alex Kidd da franquia de games da SEGA é membro de uma raça também chamada de ariana, porem o
nome é uma alusão a seu planeta natal que se chama Aires.

Referências
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