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Capítulo 2

W,ss(i,j)=d2W(i,j)/ds2. Como todas estas matrizes são cheias, o sistema de equações diferenciais
(2.126) é fortemente acoplado, facto que dificulta bastante a sua resolução numérica. Para além
disso, as componentes das várias matrizes não têm um significado físico evidente (mesmo nos
problemas mais simples), o que torna mais difícil a interpretação dos resultados. Tendo em vista
superar estas desvantagens e, ao mesmo tempo, tirar o máximo partido do potencial da GBT, é de
toda a conveniência procurar um sistema de coordenadas alternativo, no qual o sistema de equações
de equilíbrio (2.126) possa ser escrito de uma forma tão desacoplada quanto possível.

2.3.5.1 Determinação dos modos de deformação da secção

Como é óbvio, a procura um sistema de equações de equilíbrio o mais desacoplado possível envolve
um processo de diagonalização de matrizes, o qual conduz à obtenção de novos graus de liberdade
para caracterizar a deformação da secção designados por modos de deformação11. A título
ilustrativo as figuras 2.22(a) e 2.22(b) mostram, para o caso particular de uma secção em cantoneira,
os graus de liberdade (i) iniciais (i.e., as funções elementares de deslocamento axial) e (ii) finais
conjunto de modos de deformação da secção, resultante do referido processo de diagonalização.

(a) (b)

Figura 2.22 – Secção em cantoneira: graus de liberdade (a) iniciais e (b) finais (modos de deformação)

De entre as três matrizes que caracterizam o comportamento mecânico (de 1ª ordem) da secção da
barra (C, D e B), a matriz C, dada pela expressão (2.128), assume um papel preponderante na
caracterização da deformabilidade da secção associada ao empenamento (deslocamento axial) das
suas paredes. Por outro lado, a matriz B, dada pela expressão (2.130), tem uma importância
decisiva para caracterizar a deformabilidade da secção devida à deformação local (flexão
transversal) dessas mesmas paredes observe-se que a função integranda de (2.130) mais não é que
o quadrado da curvatura associada à flexão transversal em cada ponto da secção. Deste modo, um
primeiro passo para conseguir um sistema de equações de equilíbrio tão desacoplado quanto

11
Em rigor, os graus de liberdade são os coeficientes das funções de aproximação (ou de forma). Assim, os modos de
deformação são as novas funções de aproximação, cujos coeficientes são os novos graus de liberdade.

148
Teoria Generalizada de Vigas (GBT)

possível passa por efectuar a diagonalização simultânea das matrizes C e B. Para o conseguir, é
necessário resolver sequencialmente três problemas auxiliares de valores e vectores próprios
distintos descrevem-se a seguir os procedimentos envolvidos na realização dessa tarefa, a qual
envolve três etapas (I, II e III).

Etapa I – Determinação dos modos de deformação local da secção, os quais envolvem apenas
deslocamentos no seu próprio plano. Para isso, considere-se o problema de valores e vectores
próprios definido por

(B k C) y k 0 , (2.135)

o qual tem n+m+3 valores próprios k os quatro primeiros são nulos. Pode desde já afirmar-se que:
(I1) A k=0 (k=1,...,4) corresponde um espaço vectorial definido por 4 vectores próprios

associados a movimentos de corpo rígido da secção extensão axial, flexão em


torno dos eixos de maior e menor inércia e torção.
.
(I2) A k 0 (k=5,...,n+1) correspondem n 3 vectores próprios yk associados à
deformação da secção no seu plano com empenamento das paredes e deslocamento
de alguns nós naturais interiores modos distorcionais.
.
(I3) A k 0 (k=n+2,...,n+m+3) correspondem m+2 vectores próprios yk associados à
deformação da secção no seu plano sem empenamento nem deslocamento de nós
naturais interiores modos locais de placa.

.
Os vectores próprios yk de (2.135) podem agrupar-se nas colunas da matriz de transformação

Y [ y1 y4 y5 yn 1 yn 2 yn m 1 ] , (2.136)

.
devendo notar-se que os vectores yk (k=5,…,n+m+3), associados à deformação da secção no seu
plano (modos distorcionais e locais de placa), estão já perfeitamente definidos o mesmo não se
passa com os quatro primeiros vectores, ainda indeterminados. É frequente normalizar os vectores
.
yk, dividindo cada um deles pelo máximo valor absoluto das respectivas componentes. Para além
~
disso, a sub-matriz de transformação YI, resultante desta operação e cujas componentes definem
os modos de deformação distorcionais e locais de placa da secção, é dada por
~
YI [ max1|y 5 | y5 1
max|y n 1 |
yn 1
1
max|y n 2 |
yn 2
1
max|y n
yn m 3 ] . (2.137)
m 3|
i i i i

modos distorcionais modos locais de placa

149
Capítulo 2

A título ilustrativo, admita-se uma secção em C (n=5)


discretizada em 13 (n+m+3) nós, sendo 6 naturais, 2 de 9 10 11

extremidade e 5 intermédios (m=5), tal como mostra a figura


8 12 ; 13
2.23. Essa discretização conduz à obtenção de 13 modos de
Nó natural
deformação as figuras 2.24(a)-(b) fornecem as 7 Nó intermédio
Nó de extremidade
configurações deformadas e diagramas de deslocamentos 6
1;2
axiais dos 2 (n-3) modos distorcionais. Na figura 2.25, por
5 4 3
outro lado, estão representadas as configurações deformadas
Figura 2.23 – Exemplo ilustrativo:
dos 7 (m+2) modos locais de placa note-se ainda que estes
discretização de uma secção em C (nós
modos não envolvem deslocamentos dos nós naturais naturais, intermédios e de extremidade)
interiores da barra.

5 6 5 6

(a) (b)

Figura 2.24 – (a) Configurações deformadas e (b) diagramas de deslocamentos axiais dos modos distorcionais
de uma secção em C

7 8 9 10 11 12 13

Figura 2.25 – Configuração deformada dos modos locais de placa de uma secção em C

Como se referiu atrás, o facto de se ter k=0 (k=1,...,4) faz com que qualquer vector obtido
. . . .
através de uma combinação linear de y , y , y e y seja um vector próprio de (2.135). Isto significa
que uma transformação definida por (2.136) não diagonaliza necessariamente toda a matriz C de
facto, só por uma enorme coincidência é que a sub-matriz constituída pelas quatro primeiras linhas e
colunas de C não permanecerá cheia12. Com o objectivo de caracterizar os quatro modos de

12
Todas as componentes da sub-matriz constituída pelas quatro primeiras
. linhas e colunas da matriz B, escrita no
referencial formado por qualquer conjunto de vectores próprios yk (k=1,…,4) associados a modos de corpo rígido,
são identicamente nulas note-se que elas estão relacionadas com a curvatura de flexão transversal das paredes da
secção. Deste modo, a sua diagonalização está trivialmente assegurada.

150
Teoria Generalizada de Vigas (GBT)

deformação ainda indeterminados (associados a movimentos de corpo rígido da secção),


.
considere-se a sub-matriz YI, formada pelos quatro primeiros vectores próprios de (2.135) (i.e., as
.
quatro primeiras colunas de Y),

YI [ y1 y2 y 3 y4 ] . (2.138)

Em seguida, determinem-se as matrizes (de dimensão 4 4)

C YIT C YI D YIT D YI . (2.139)

onde a matriz D é definida pela expressão (2.129). Uma observação atenta desta expressão mostra
que o primeiro termo da função integranda de D (o termo relevante) corresponde ao quadrado da
rotação de um ponto genérico da secção. Como o modo de torção é caracterizado pelo facto de
todos os pontos da secção terem rotações iguais e de valor não nulo, a utilização da matriz D
assegura que resolução de um novo problema auxiliar de valores e vectores próprios (Etapa II),
. .
envolvendo as matrizes C e D, permitirá identificar o modo de torção o correspondente valor
próprio não é seguramente nulo. Isto significa que será possível obter uma diagonalização parcial
da sub-matriz de C que permaneceu cheia após a transformação definida por (2.136), reduzindo
assim a sua arbitrariedade.

Etapa II – Determinação do modo de torção. Para isso, considere-se agora o problema de valores
e vectores próprios definido por

(D k C) y k 0 , (2.140)

o qual tem 4 valores próprios k os três primeiros são nulos. Pode então concluir-se que:
(II1) A k=0 (k=1,...,3) corresponde um espaço vectorial definido por 3 vectores
próprios associados a movimentos de corpo rígido da secção sem rotação extensão
axial e flexão em torno dos eixos de maior e menor inércia.
.
(II2) A 0 corresponde um vector próprio y4 associado a uma rotação de corpo rígido
da secção no seu plano (modo de torção).

Considere-se a matriz de transformação Y (4 4) formada pelos vectores próprios de (2.140),

Y [ y1 y2 y3 y4 ] , (2.141)

151
Capítulo 2

.. .
e determine-se a matriz Y, de dimensão (n+m+3) 4 e resultante do produto de YI (expressão
(2.138)) por Y (expressão (2.141)), a qual tem a forma

Y YI Y [ y1 y2 y3 y4 ] . (2.142)

Por outro lado, escreva-se a matriz das rotações (ver secção 2.3.3) no referencial formado
..
pelos vectores próprios yk (k=1,...,4), i.e.,

Y . (2.143)

A matriz tem dimensão (n+m+3) 4 e é caracterizada por ter (i) as primeiras três colunas com
todas as componentes nulas (os modos de deformação correspondentes estão associados a
rotações nulas da secção no seu plano) e (ii) a quarta coluna com todas as componentes iguais a
um valor constante (rotação da secção no seu plano). Para que haja consistência entre a GBT e
as teorias clássicas de vigas, é necessário impor à secção uma rotação unitária, razão pela qual
.. ..
todas as componentes da quarta coluna de Y (i.e., y4) têm de ser divididas por . Finalmente, a
matriz de transformação relativa à Etapa II é definida por

~
YII 1
y4 (2.144)

e permite identificar e caracterizar o modo de torção da secção. A figura 2.26 mostra a


configuração deformada e o diagrama de deslocamentos axiais relativos ao modo de torção da
secção em C que foi analisada anteriormente.

4 4

(a) (b)
Figura 2.26 – (a) Configuração deformada e (b) diagrama de deslocamentos axiais do modo de torção de uma
secção em C

O facto mencionado em (II1) implica que (i) qualquer vector que um qualquer vector obtido
.. .. ..
através de uma combinação linear de y1, y2 e y3 seja também um vector próprio de (2.135) e,
portanto, (ii) a sub-matriz constituída pelas três primeiras linhas e colunas de C (escrita neste novo

152
Teoria Generalizada de Vigas (GBT)

sistema de coordenadas) permaneça cheia13. Para caracterizar os restantes três modos de corpo
..
rígido, é necessário considerar a sub-matriz YII, formada pelos três primeiros vectores próprios do
..
problema (2.140) (i.e., as três primeiras colunas de Y),

YII [ y1 y2 y3 ] . (2.145)

Em seguida, determinem-se as matrizes (de dimensão 3 3)

C YIIT C YII X YIIT X YII . (2.146)

onde a matriz X é definida pela expressão (2.132), fazendo k=1 (C11=A e Ui1=1, i=1,...,p) em
todas as componentes de eu (expressão (2.127)). Observando com atenção a expressão (2.132),
conclui-se que a função integranda de X corresponde ao quadrado da distância entre as posições
de um ponto genérico da secção nas respectivas configurações indeformada e deformada (medida
no plano da secção). Como os modos de flexão são caracterizados pelo facto de todos os pontos
da secção terem deslocamentos iguais e de valor não nulo (translações de corpo rígido), percebe-se
que a utilização da matriz X garante que a resolução de um último problema auxiliar de valores e
.. ..
vectores próprios (Etapa III), envolvendo as matrizes C e X, permitirá identificar o modo de extensão
axial e os dois modos de flexão os valores próprios associados a estes últimos não podem ser
nulos. Será então possível completar a diagonalização da matriz C.

Etapa III – Determinação dos modos de extensão e flexão recta. Para isso, considere-se um terceiro
problema de valores e vectores próprios, definido por

(X k C) y k 0 , (2.147)

o qual tem 3 valores próprios k o primeiro é nulo. Pode então concluir-se que:
(III1) A 1=0 corresponde um vector próprio y1, associado a deslocamentos nulos da
secção no seu plano (modo de extensão axial deslocamentos axiais uniformes).
(III2) A 2 3 0 correspondem dois vectores próprios y2 e y3, associados a deslocamentos
uniformes da secção no seu plano, na direcção dos seus eixos principais de inércia
(modos de flexão recta deslocamentos axiais lineares).

13
Todas as componentes da sub-matriz constituída pelas três primeiras
. linhas e colunas da matriz D, escrita no
referencial formado por qualquer conjunto de vectores próprios yk (k=1,…,3) associados aos modos de corpo
rígido com rotação nula da secção, são identicamente nulas deste modo, esta sub-matriz é, trivialmente, diagonal.

153
Capítulo 2

Considere-se a matriz de transformação Y (3 3) formada pelos vectores próprios de (2.147),

Y [ y1 y 2 y3 ] , (2.148)
..
e, tomando em consideração a matriz YII (definida pela expressão (2.145)), determine-se a matriz
...
de transformação Y , de dimensão (n+m+3) 3, através de

Y YII Y [ y1 y2 y3 ] . (2.149)

Por outro lado, escrevam-se as matrizes dos deslocamentos transversais (i) de membrana V, com
dimensão p (n+m+3), e (ii) de flexão , com dimensão p (n+m+3) no referencial formado
...
pelos vectores próprios y k (k=1,...,3), , i.e.,

V VY ˆ
W ˆ Y
W . (2.150)
... ...
As matrizes V e têm dimensão (n+m+3) 3 e são caracterizadas por terem a primeira coluna com
todas as componentes nulas (o modo de extensão axial só envolve deslocamentos axiais). Por outro
lado, as somas dos quadrados das componentes correspondentes das segunda e terceira colunas de
... ...
V e são sempre iguais a Y2 (segunda coluna) e Z2 (terceira coluna) assim, tem-se

2 ˆ
( V(i,2) )2 ( W 2 2 ˆ
( V(i,3) )2 ( W 2
Y (i,2) ) Z (i,3) ) ( i 1,...,n m 1 ) . (2.151)

onde Y e Z representam os deslocamentos (de corpo rígido) da secção na direcção dos eixos
principais centrais de inércia da secção (os eixos Y e Z correspondem à menor e à maior inércias).
Uma vez mais com o objectivo de assegurar a coerência com as teorias clássicas de peças lineares, é
... ... ...
necessário dividir as segunda e terceira colunas da matriz Y ( y 2 e y 3) por Y e Z, respectivamente,
por forma a obter deslocamentos unitários da secção na direcção dos seus eixos principais centrais
de inércia. Os dois vectores resultantes permitem caracterizar os modos de flexão da secção.

... ...
Por outro lado, como todas as componentes da primeira coluna de Y (i.e., y 1) são iguais a X (valor

do deslocamento axial de corpo rígido da secção), obtém-se o vector unitário associado ao modo
de extensão axial dividindo todas essas componentes por X. Assim, a matriz de transformação
~
YIII relativa ao Etapa III é definida por

~
YIII [ 1
X
y1 1
Y
y2 1
Z
y3 ] (2.152)

154
Teoria Generalizada de Vigas (GBT)

e permite identificar e caracterizar os modos de extensão axial e flexão recta (em torno dos eixos de
maior e menor inércia) da secção. A figura 2.27 mostra as configurações deformadas e os diagramas
de deslocamentos axiais associados aos modos de extensão axial e flexão (recta) da secção em C
considerada anteriormente.

1 2 3 1 2 3

(a) (b)

Figura 2.27 – (a) Configurações deformadas e (b) diagramas de deslocamentos axiais dos modos de extensão
axial e flexão de uma secção em C

~ ~ ~
Finalmente, agrupando as matrizes YI, YII e YIII pode definir-se a matriz de transformação global

~
Y [Y~III Y~II ~
YI ]
, (2.153)
[ 1 y1
X
1
Y
y2 1
Z
y3 1
y4 1
max|y 5 | y5 1
max|y n m 3|
yn m 3 ]
i i

de dimensão (n+m+3) (n+m+3) a cada um dos n+m+3 modos de deformação (ortogonais) da


~
secção corresponde uma coluna ~
y da matriz Y. No caso particular de uma secção em C discretizada
k

conforme mostra a figura 2.23, cada ~


yk tem uma forma mista (i.e., envolvendo deslocamentos
axiais u~ i e transversais de flexão w
~ ) do tipo
j

~
yk ~ u~ u~ w
{w ~ u~ w~ w~ w~ u~ w~ u~ u~ w ~ }T . (2.154)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

As componentes de ~
yk são (i) os deslocamentos axiais dos nós naturais (u~i, i=2, 3, 5, 9, 11 e 12) e
~ , i=4, 6, 7, 8 e 10) e dos nós
(ii) os deslocamentos transversais de flexão dos nós intermédios (w j
~
de extremidade (w j, j=1 e 13) que definem a configuração do respectivo modo de deformação.

Note-se ainda, que os modos locais de placa (k=7,...,13 – ver figura 2.25) têm deslocamentos
axiais nulos, o que implica que os vectores correspondentes tomem a forma

~
yk ~ 0 0 w
{w ~ 0 w
~ w~ w~ 0 w
~ 0 0 w
~ }T . (2.155)
1 4 6 7 8 10 13

Analogamente, o modo de extensão axial (k=1 – ver figura 2.27(a)) tem deslocamentos de flexão
nulos, tomando o vector correspondente a forma

155
Capítulo 2

~
y1 {0 u~2 u~3 0 u~5 0 0 0 u~9 0 u~11 u~12 0}T . (2.156)

Os restantes modos de deformação, i.e., os modos de flexão, torção e distorcionais (k=2,...,6 – ver
figuras 2.24, 2.26 e 2.27) são caracterizados por terem deslocamentos axiais e de flexão não nulos
os correspondentes vectores têm a forma genérica da expressão (2.154).

2.3.5.2 Representação modal do campo de deslocamentos

Como os graus de liberdade que caracterizam a deformação da secção constituem um conjunto de


funções ortogonais (modos de deformação), torna-se possível adoptar uma representação modal
do respectivo campo de deslocamentos. Em primeiro lugar, obtêm-se os campos de deslocamentos
(u(s), v(s), w(s)) de todos os modos de deformação, multiplicando as matrizes dos deslocamentos
~
axiais (U), transversais (V) e de flexão (W) pela matriz de transformação Y tem-se, assim,
~ ~ ~ ~ ~ ~
U UY V VY W WY . (2.157)

Admita-se a seguir que o campo de deslocamentos que define uma qualquer configuração deformada
da secção é representado por um vector y. Então, y pode ser decomposto numa combinação linear das
configurações modais representadas pelos vectores ~ y , procedimento que corresponde a efectuar
k

uma “discretização modal” da configuração deformada da secção, definida por

y pk ~
~ yk (2.158)

e onde pk é o factor de participação do modo k. Por outras palavras, este procedimento consiste em
representar as componentes do campo de deslocamentos da secção na forma (k=1,...,n+m+3)

u( s ) ~
pk u~k ( s ) v( s ) ~
pk ~
vk ( s ) w( s ) ~ ~ ( s ) , (2.159)
pk wk

o que significa que esse mesmo campo de deslocamentos é dada por (ver expressão (2.16))
~
u( x , s ,t ) u~k ( s ) k , x ( x ,t )
~
v( x , s ,t ) ~
vk ( s ) k ( x ,t ) (2.160)

w( x , s ,t ) w ~ ( s ) ~ ( x ,t )
k k

onde k(x,t) representa a variação do perfil de deslocamentos do modo k ao longo do


comprimento da barra e/ou do tempo. Deve referir-se ainda que, dependendo do problema
particular em análise, alguns modos de deformação não desempenham um papel relevante nesse

156
Teoria Generalizada de Vigas (GBT)

caso, as parcelas de (2.159) associadas a esses modos podem ser omitidos sem afectar a precisão
dos resultados obtidos. De facto, em muitas aplicações com grande interesse prático é suficiente
considerar apenas alguns (poucos) modos de deformação para caracterizar rigorosamente o
comportamento da barra.

No novo referencial, constituído pelos vectores definidos em (2.153), o sistema de equações de


equilíbrio da barra (expressão (2.126)) toma a forma

~~ ~~ ~~ ~ ~o ~
~ X 2 ~~ ~~
C ,xxxx D , xx B q k (Wk , x ), x (R Q ,xx ) 0 , (2.161)

~ ~ ~ ~ ~~ ~ ~ ~ ~
q~uUT e 0 ) T
L L
(W Wko X k x 2
Q x 0 (W ) T x 0
0 0

onde as componentes das matrizes contêm as propriedades mecânicas da secção transversal da barra
associadas aos vários modos de deformação14.

2.3.5.3 Determinação das propriedades modais da secção

~
Conhecida a matriz de transformação Y, o cálculo das propriedades modais da secção constitui uma
tarefa relativamente simples basta utilizar a matriz de transformação definida em (2.153) para
determinar as novas componentes das matrizes obtidas, no referencial anterior, através das expressões
(2.128)-(2.134). Considerando as lei de transformação tensorial, chega-se então às matrizes

~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
C YT C Y B YT B Y D YT D Y , (2.162)
~T
~ Y
q q , (2.163)

~ ~ ~
X YT X Y , (2.164)
~ ~ ~ ~ ~ ~
Q YT Q Y R YT R Y , (2.165)

cujas componentes caracterizam o comportamento mecânico da secção associado aos vários modos

14
Devido à introdução da hipótese de Vlasov e, consequentemente, à adopção de uma representação do campo de
deslocamentos compatível com a teoria clássica de vigas, todas as equações diferenciais de equilíbrio do sistema
(2.161) são de 4ª ordem, com excepção daquela que diz respeito ao modo 1 extensão axial. Efectivamente, esta
equação é de 2ª ordem, em virtude de a variação longitudinal deslocamento axial U(x) ser igual à primeira derivada
da função de amplitude 1(x). Este aspecto pode ser mais claramente compreendido na secção seguinte, quando se
comparar a GBT com a teoria de Vlasov.

157
Capítulo 2

de deformação e têm significados físicos (i.e., estruturais) bem definidos, os quais são descritos mais
adiante (secção 2.4). Relativamente a estas matrizes, devem realçar-se os seguintes aspectos:
(i) A matriz D não tem uma forma completamente diagonal. Contudo, as suas componentes
não diagonais têm, em muitas aplicações, valores muito inferiores aos das correspondentes
componentes diagonais, o que faz com que possam ser desprezadas (i.e., que se lhes atribuam
valores nulos). Schardt (1989) estabeleceu que á aceitável desprezar uma componente não
diagonal D(i,j) que satisfaça a condição

~2
D(i,j)
~ ~ 1 , (2.166)
D(i,i)D(j,j)

onde D(i,i) e D(j,j) são as componentes diagonais situadas na mesma linha ou coluna deste
15
modo, efectua-se uma diagonalização aproximada da matriz D .
(ii) A matriz de massa Q é tem diagonal a expressão (2.65) mostra que, a menos de um factor
multiplicativo, os tensores Qik e Cik são idênticos. Assim, a incorporação de Q numa análise
de índole dinâmica não introduz acoplamentos adicionais entre as equações de equilíbrio.
(iii) Ao contrário de Q, a matriz simétrica R não é diagonal, razão pela qual a sua inclusão numa
análise de natureza dinâmica introduz sempre novos acoplamentos no sistema de equações
diferenciais de equilíbrio fenómeno designado por acoplamento dinâmico.
(iv) A matriz X, igualmente simétrica, também não é diagonal, o que significa que existem
inevitavelmente acoplamentos nos sistemas de equações diferenciais de equilíbrio utilizados
para efectuar análises lineares de estabilidade devido ao carácter geometricamente não
linear deste tipo de análises, o fenómeno designa-se por acoplamento de 2ª ordem.

Finalmente, a figura 2.28 mostra, de forma esquemática e resumida, as principais etapas que é
necessário cumprir para efectuar a análise de uma secção preconizada pela GBT.

15
Esta aproximação é válida no contexto de barras com secção de parede muito fina aberta, tais como os perfis de
aço enformados a frio. No entanto, constatou-se que essa aproximação não é válida no caso de barras com secção
de parede fina fechadas ou cujas paredes não sejam muito finas (Schardt 1989).

158

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