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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

ARQUEOLOGIA E CONSERVAÇÃO DE ARTE RUPESTRE


FILOSOFIA E ÉTICA

O que é ética

Isadora Araújo Luz1

OBRA: VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994 -
Coleção Primeiros Passos- N° 177.

Nesta obra o autor aborda a dificuldade em ter um conceito universal do que


seria ética. A obra é composta de 7 capítulos, que tem início nos problemas
enfrentados pela ética com o passar dos tempos, que vai da antiguidade terminando
em indagações e observações sobre a ética efetivada nos dias atuais.
A abordagem do tema relacionado a ética, esboçado por Álvaro Valls, vem de
forma clara mostrar a complexidade encontrada para argumentar sobre o mesmo,
mas não tirando a importância e a obrigação de viver dentro desses ideais éticos. A
ética seria uma disciplina, mas por ser muito diversificada, por ter variadas formas
de entendimento e por não ter um padrão universal ela acaba acarretando diversos
problemas, podendo ser um estudo, uma reflexão, ou até mesmo de caráter
teológico. Valls divide esses impasses em dois campos, problemas gerais e
fundamentais e em problemas específicos se abordada de forma especifica. A ética
está ligada a ações humanos, como costumes considerados corretos, então ela pode
ser o estudo das ações e dos costumes, ou do comportamento humano, como o autor
menciona “Podemos chamar de ética a própria vida”(página 7). Só que esses
costumes tidos como certos vão varear conforme o local ou do ano/século em que

1
Aluna Graduanda em Arqueologia e Conservação de Arte Rupestre pela Universidade Federal do
Piauí – UFPI. E-mail: isadoraarjj@gmail.com
se vive. O autor chega a afirmar que a variação presente no campo da ética se dá não
só com as mudanças dos costumes, mas também, com os valores que se
transformam junto a si. Conforme a época, eles vêm se modificado até mesmo pelas
constantes mudanças sociais e tecnológicas criadas e organizadas pelo próprio
homem; embora para cada “homem” as realidades venham contextualizar
realidades diferentes. Sendo assim, a ética é tudo que consideramos correto, é o
respeito ao outro, é ser empático ao que esse outro vive, é uma constante troca de
experiências. Vale ressaltar que a ética está em cada ser humano, em todos os
lugares e que devemos sempre usa-la, seja no modo de falar, como falar e quando
falar.
Para servir de fundamento a um valor ético não progressivo, o autor
menciona o pensador alemão Max Weber que diz que o modo de vida e os costumes
adquiridos por cada doutrina influenciava diretamente sobre suas questões éticas e
variações da mesma. Já Kant apoia uma ética universal, com princípios de igualdade
entre todos os homens. A reflexão grega no campo da ética surgiu com uma pesquisa
sobre a natureza do bem moral de todos os cidadãos, buscando uma conduta
absoluta, baseando-se no contexto religioso. Um filosofo citado pelo autor é Platão
que parte da ideia de que todos os homens buscam a felicidade como um princípio
de vida ético, e que também a maioria das doutrinas gregas partiam do mesmo
pressuposto. Para Platão não seria uma questão de egoísmo pensar desta forma, o
homem sempre deveria ter em mente onde está o sumo bem, para ele o indivíduo
teria que viver a todo momento pensando na ideia do bem. O sumo bem para Platão
seria o homem abdicar de todos os prazeres dessa vida, para assim desfrutar do
mundo ideal, imutável e eterno, para ele o homem virtuoso seria aquele cujo vivesse
a semelhança de Deus, recebendo muitas críticas por esse argumento.
Já o seu discípulo Aristóteles tem um outro olhar sobre seus escritos, como
menciona o autor. Aristóteles também parte da ideia do ser e do bem, instando sobre
a diversificação dos seres, para ele cada ser tem um respectivo bem, conforme a
natureza ou o seu íntimo. Para Aristóteles o homem não precisaria de apenas um
bem, mas de uma variedade de bens, diversificando de sentimentos a riquezas. Os
gregos procuravam doutrinas que pudessem orientar os indivíduos para uma vida
voltada para o bem, a virtude e a harmonia com a natureza. Era uma questão moral
viver relacionado com a natureza, um tipo de lei natural. O capitulo retrata as
mudanças sofridas através dos princípios religiosos e o desenvolvimento da moral.
Apesar da religião ter contribuído nas questões éticas, ela também ensombrou e
detestou palavras de liberdade, amor e fraternidade universal, protegidas por ideais
éticos. A religião grega, como muitas outras religiões antigas, era ainda bastante
naturalista, os deuses eram normalmente símbolos de forças naturais. A religião
judaica transfigurou um tanto. O Deus de Abraão, Isaac e Jacó já não se identificava
como as forças da natureza, sendo assim estando em um lugar superior a tudo que
há de natural. Isso interfere diretamente o comportamento humano, o indivíduo
passa a obedecer a vontade de Deus. Independente de falar palavras que remetem a
universalização de Kant, os valores religiosos não são estáticos podendo assim
modificar-se de tempos em tempos sem ser necessariamente de valor para todos.
Logo em diante ele começa com vários questionamentos, como agir?
Buscando o que? Qual seria o ideal da vida ética? Ele afirma que as respostas variam,
para os gregos estava na procura teórica e pratica da ideia do bem, ou estava na
felicidade, uma vida organizada, uma vida virtuosa. Para outros gregos, o ideal ético
estava no viver de acordo com a natureza, em equilibro cósmico. Como mostra o
autor os ideais éticos têm valores e conceitos diferentes conforme aqueles que os
praticam atingindo de forma diferente os grupos de acordo com a natureza na qual
vivem. Eles podem estar relacionados a riqueza, religião, virtudes ou ações. Através
disso é notável que a existência de mais de um ideal ético por sociedade é possível,
mesmo que em tempos iguais. A liberdade fala da questão da escolha que o ser
humano tem sobre fazer algo ou não fazer, algo obrigatório pela maior parte das
pessoas e que é considerado ético.
O determinismo é abrangido, dando o exemplo do fatalismo, tudo o que
acontece tinha que acontecer, e o autor diz que se a fatalidade ou o destino existem
não temos liberdade, pois tudo já estava encaminhado para acontecer. No decorrer
do capitulo Valls faz relação da ética com a liberdade e como essa independência
influencia o mundo. A ética segundo Kierkegaard era apenas estética. Diziam que a
ética medieval era no fundo um comportamento religioso e não ético. Aquele que a
buscava em sua plenitude fazia aquilo por que queria fazer ou se sentia pressionado
pela massa que o fazia se agregando ao movimento não se sentir deslocado da
multidão? O capitulo seis discute o singular e o coletivo. Aquilo que poderia ser bom
para mim, seria capaz de ser ruim e errado para outras pessoas? O ser humano está
livre para viver de acordo com a sua natureza, mas essa natureza não é igual para
todos. A forma de pensar não era única de só uma pessoa. O ser humano é apto para
seguir o correto mesmo sendo julgado e acusado sob outros diferentes tipos de
pensamentos? Com o passar dos anos os costumes e valores foram sendo mudados,
nem a religião é a mesma, foram acrescentadas outras crenças, outros saberes. E a
ética vem passando também por essas mudanças, é inviável dizer que com tantas
guerras, com tantos movimentos ela continua a mesma. Vimos ao longo da leitura
que a ética muda conforme os lugares, as culturas e os grupos, e busca de forma
extrema a harmonia.
O autor traz uma sequência temporal de análise desse tema desde a
antiguidade até os dias atuais e suas transformações. Apesar de tentar esclarecer a
complexidade do assunto, o autor leva o leitor a fazer uma profunda reflexão acerca
do que foi abordado durante todo o livro.

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