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Apelação Cível - Turma Espec.

III - Administrativo e Cível


Nº CNJ : 0169971-23.2014.4.02.5101 (2014.51.01.169971-9)
RELATOR : Desembargador(a) Federal ALCIDES MARTINS
APELANTE : LUCIA MARIA ROSA
ADVOGADO : RJ058435 - FATIMA MARIA ARAUJO DA SILVA
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 19ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01699712320144025101)
EMENTA
 
APELAÇÃO CÍVEL. ADMINISTRATIVO. MILITAR. PENSÃO MILITAR DE EX-COMBATENTE.
FILHA. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE À ÉPOCA DO ÓBITO DO INSTITUIDOR DO
BENEFÍCIO. LEI Nº 4.242/63 E LEI Nº 3.765/60. PRECEDENTES DO STF. JUROS E CORREÇÃO
MONETÁRIA. APELO PROVIDO.
1. Trata-se de apelação em ação ordinária ajuizada por Lucia Maria Rosa, objetivando a condenação da
União ao pagamento da pensão especial de ex-combatente, deixada por seu genitor, Sr. Alcides Rosa,
correspondente ao soldo de Segundo Sargento, ex vi do artigo 30 da Lei nº 4.242/63.
2. Segundo jurisprudência sedimentada no âmbito do E. Supremo Tribunal Federal (RE-AgR 638227, 1ª
Turma, Rel. Min. Luiz Fux, de 16/10/2012), a lei regente da pensão é aquela em vigor na data do
falecimento do instituidor.
3. Compulsando os autos, verifica-se que o instituidor da pensão de ex-combatente faleceu no dia
26.09.1966, incidindo, portanto, o regulamento previsto nas Leis nºs 4.242/63 e 3.765/60, porquanto
ocorrido durante a sua vigência.
4. O legislador ordinário, ao regular o direito ao benefício do art. 30, da Lei nº 4.242/63, estabeleceu os
seguintes requisitos para o pagamento de pensão especial: (1) ser o ex-militar integrante da FEB, da FAB
ou da Marinha¿ (2) ter participado efetivamente de operações de guerra¿ (3) encontrar-se o ex-combatente
incapacitado, sem condições de poder prover o seu próprio sustento¿ (4) não perceber nenhuma
importância dos cofres públicos.
5. Com efeito, o documento juntado à fl. 12 é elemento suficiente a demonstrar a condição de ex-
combatente do Sr. Alcides Rosa. Trata-se de título de pensão militar conferido à Srª Edina Cardoso Rosa,
viúva do instituidor da pensão e genitora da apelante, falecida em 16.11.2013 (certidão de óbito à fl. 11),
de forma integral e na graduação de Segundo Tenente, nos termos do art. 5º, I, da Lei nº 8.059/90 e art. 53,
III, do ADCT.
6. Contudo, para reverter pensão dessa categoria, assistencialista, há que se exigir dos beneficiários as
mesmas condições jurídicas impostas ao próprio instituidor. Se ao ex-combatente, que é o principal
favorecido, é imposta a obrigação de comprovar "incapacidade para prover sua subsistência", bem como
“não perceber nenhuma importância dos cofres públicos”, as suas filhas que usufruirão dessa benesse
também cabe ser exigido o mesmo.
7. Ao que se apura dos autos, Lucia Maria Rosa nasceu no dia 09.02.1954, é solteira e desempenha apenas
atividades do lar, litigando, inclusive, sob o pálio da gratuidade de justiça. Há que se observar, ainda, que a
apelante conta com 63 anos de idade, tratando-se, assim, de pessoa idosa, situação que a impede de exercer

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qualquer atividade laborativa que lhe garante a subsistência.
8. No que tange, contudo, ao segundo requisito: “não perceber nenhuma importância dos cofres públicos”,
observa-se que não há nos autos qualquer documentação nesse sentido, sendo certo que tal condição
deverá ser comprovada perante a Administração Militar para fins de inclusão da apelada como beneficiária
por reversão da pensão especial deixada pelo ex-combatente, Sr. Alcides Rosa.
9. No que tange ao quantum, portanto, o benefício perseguido permanece regido pela Lei 4.242/63, art. 30,
que remete ao art. 26, da Lei 3.765/60, continuando a corresponder ao deixado por Segundo-Sargento, não
se vislumbrando na espécie nenhuma vulneração ao art. 53 do ADCT.
10. Dou provimento à apelação para condenar a União a incluir a autora, ora apelante, como beneficiária
da pensão especial deixada pelo ex-combatente, Sr. Alcides Rosa, bem como para condená-la ao
pagamento da referida pensão a partir da data da propositura desta ação, em 02.12.2014 (fl. 15), e
correspondente ao soldo de Segundo Sargento, nos moldes das Leis nº 4.242/63 e nº 3.765/60, observado o
preenchimento do segundo requisito (não perceber nenhuma importância dos cofres públicos) junto à
Administração Militar, nos termos da fundamentação supra.
11. O montante da condenação deverá ser corrigido da seguinte forma: Em relação à correção monetária,
deverá se aplicado o IPCA-E, conforme previsto no item 4.2.1.1 do Manual de Cálculos da Justiça Federal,
afastando-se a aplicação do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09 e, com
relação aos juros de mora, deverá se aplicado o item 4.2.2 e sua nota 3, do mesmo Manual, cujo
entendimento está de acordo com a tese fixada pelo STF, no RE 870.974.
12. Condeno, ainda, a União ao pagamento de honorários advocatícios, os quais fixo em 5% (cinco por
cento) sobre o valor da condenação, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC/1973, vigente à época da prolação
da sentença.
13. Apelação provida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas: Decidem os
membros da 5ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, dar
provimento à apelação, na forma do voto do Relator.

Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2018 (data do julgamento).

ALCIDES MARTINS
Desembargador Federal
Relator

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Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0169971-23.2014.4.02.5101 (2014.51.01.169971-9)
RELATOR : Desembargador(a) Federal ALCIDES MARTINS
APELANTE : LUCIA MARIA ROSA
ADVOGADO : RJ058435 - FATIMA MARIA ARAUJO DA SILVA
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 19ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01699712320144025101)
RELATÓRIO
 
Trata-se de apelação interposta por LUCIA MARIA ROSA em face da sentença
prolatada às fls. 69/78, nos autos da ação ordinária em epígrafe, que julgou improcedente o pedido
de implantação da pensão especial de ex-combatente instituída por seu genitor, nos termos da Lei
nº. 4.242/63, em decorrência do falecimento da viúva/beneficiária. A autora, ora apelante, foi
condenada, ainda, ao pagamento das custas e dos honorários de sucumbência, os quais foram
arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, cuja exigibilidade restou suspensa nos
termos do art. 12 da Lei nº 1.060/50.
Em suas razões recursais (fls. 81/85), assevera, em suma, que faz jus à pensão de ex-
combatente por reversão, haja vista que seu pai faleceu sob a égide das Leis nºs 4.242/63 e
3.765/60.
A União apresentou suas contrarrazões às fls. 90/93, aduzindo, em síntese, que a
apelante não preenche os requisitos do artigo 30, da Lei nº 4.242/63, os quais acentuam a natureza
assistencial da pensão especial de Segundo-Sargento, devendo ser preenchidos não apenas pelo ex-
combatente, mas também por seus dependentes.
Parecer do Ministério Público Federal opinando pelo não provimento do apelo (fls.
100/101).
É o relatório. Peço dia.

ALCIDES MARTINS
Desembargador Federal
Relator

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Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0169971-23.2014.4.02.5101 (2014.51.01.169971-9)
RELATOR : Desembargador(a) Federal ALCIDES MARTINS
APELANTE : LUCIA MARIA ROSA
ADVOGADO : RJ058435 - FATIMA MARIA ARAUJO DA SILVA
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 19ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01699712320144025101)
VOTO
 
Ab initio, frise-se que, quanto à análise dos pressupostos recursais e o julgamento do
presente recurso, devem ser observadas as disposições legais contidas no CPC de 1973, tendo em
vista que a decisão ora recorrida foi publicada anteriormente à entrada em vigor do novo CPC de
2015. Neste sentido é a orientação do Superior Tribunal de Justiça, que editou o Enunciado
Administrativo 2, in verbis: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a
decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade
na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça", combinado com a regra insculpida no art. 14 do novo Digesto Processual
Civil.
Neste viés, conheço do Apelo, uma vez que seus requisitos de admissibilidade
encontram-se presentes.
Trata-se de apelação em ação ordinária ajuizada por Lucia Maria Rosa, objetivando a
condenação da União ao pagamento da pensão especial de ex-combatente, deixada por seu genitor,
Sr. Alcides Rosa, correspondente ao soldo de Segundo Sargento, ex vi do artigo 30 da Lei nº
4.242/63.
A sentença julgou improcedente o pedido nos seguintes termos:
“[...] Todavia, para a obtenção do benefício era necessário que o interessado preenchesse
os requisitos exigidos pelo art. 30 da Lei 4.242/63, ou seja, que além de ter participado
ativamente de operações de guerra e não percebesse qualquer importância dos cofres
públicos, comprovasse a incapacidade e a impossibilidade de prover sua própria
subsistência, in verbis:.
[...]
Pela Certidão de fl. 14, verifica-se que o genitor da Autora “foi incluído,
como sorteado em primeiro de outubro de mil novecentos e quarenta e um no Primeiro
Grupo do Terceiro Regimento de Artilharia Antiaérea, tendo sido excluído por
licenciamento em vinte de dezembro de mil novecentos e quarenta e cinco do Segundo
Grupo do Terceiro Regimento de Artilharia Antiaérea”; observa-se, ainda, que, no período
de 08/01/1943 a 13/01/1944, o mesmo serviu “no Arquipélago de Fernando de Noronha,
considerado serviço em Campanha”.
Porém, não há comprovação nos autos de que o falecido se encontrava
incapacitado, sem poder prover os próprios meios de subsistência. Ora, se o suposto
instituidor não poderia ser considerado ex-combatente, pelas normas então em vigor, para

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o fim específico de perceber pensão especial, não há que se falar de herdeiros de uma
pensão que nunca existiu.
[...]
Por outro giro, a matéria relativa aos ex-combatentes sofreu sensível alteração quando
passou a integrar o texto da Carta Política de 1988, que em seu art. 53, II, do ADCT,
previu pensão ao participante da Segunda Guerra, inclusive majorando o valor da pensão
especial para equipará-la à pensão deixada por um Segundo-Tenente das Forças Armadas
(art. 53, parágrafo único do ADCT).
[...]
No entanto, a Lei nº 8.059/90 estabeleceu restrições à perpetuação do direito à pensão,
fazendo extinguir a cota-parte pela morte da pensionista ou pelo advento da antiga
maioridade civil (21 anos) para as filhas não inválidas. Além disso, o legislador ordinário
vedou expressamente a transferência ou reversão da cota-parte aos demais interessados
[...]”.

Merece reforma o julgado recorrido.


Segundo jurisprudência sedimentada no âmbito do E. Supremo Tribunal Federal
(RE-AgR 638227, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, de 16/10/2012), a lei regente da pensão é aquela
em vigor na data do falecimento do instituidor.
Compulsando os autos, verifica-se que o instituidor da pensão de ex-combatente
faleceu no dia 26.09.1966 (fl. 10), incidindo, portanto, o regulamento previsto nas Leis nºs
4.242/63 e 3.765/60, porquanto ocorrido durante a sua vigência.
Com efeito, a Lei 4.242/63 institui em seu artigo 30, pensão especial destinada aos
ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial, in verbis:
“Art. 30 - É concedida aos ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial, da FEB, da FAB e
da Marinha, que participaram ativamente das operações de guerra e se encontram
incapacitados, sem poder prover os próprios meios de subsistência e não percebem
qualquer importância dos cofres públicos, bem como a seus herdeiros, pensão igual à
estipulada no art. 26 da Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960.
Parágrafo único - Na concessão da pensão, observar-se-á o disposto nos arts. 30 e 31 da
mesma Lei n°. 3.765 de 1960”.

Por seu turno, a Lei 3.765/60, em seu art. 7º, estabelecia a seguinte ordem de
beneficiários da pensão militar:
“Art. 7º. A pensão militar defere-se na seguinte ordem:
I – à viúva;
II – aos filhos de qualquer condição, exclusive os maiores do sexo masculino, que não
sejam interditos ou inválidos;
III – aos netos, órfãos de pai e mãe, nas condições estipuladas para os filhos;
IV – à mãe viúva, solteira ou desquitada, e ao pai inválido ou interdito;
V – às irmãs germanas e consangüíneas, solteiras, viúvas ou desquitadas, bem como aos

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irmãos menores mantidos pelo contribuinte, ou maiores interditos ou inválidos;
VI – ao beneficiário instituído, desde que viva na dependência do militar e não seja do sexo
masculino ou maior de 21 (vinte e um) anos, salvo se for interdito ou inválido permanente.
(...) (grifei)

Depreende-se pela leitura do artigo supramencionado, que a pensão de ex-


combatente, por morte ocorrida na vigência das Leis 3.765/60 e 4.242/63, será devida às filhas,
ainda que maiores de idade.
De outro eito, o legislador ordinário, ao regular o direito ao benefício do art. 30, da
Lei nº 4.242/63, estabeleceu os seguintes requisitos para o pagamento de pensão especial: (1) ser o
ex-militar integrante da FEB, da FAB ou da Marinha; (2) ter participado efetivamente de
operações de guerra; (3) encontrar-se o ex-combatente incapacitado, sem condições de poder
prover o seu próprio sustento; (4) não perceber nenhuma importância dos cofres públicos.
Insta salientar que, conforme a jurisprudência atualizada do Superior Tribunal de
Justiça, tais requisitos devem ser preenchidos não só pelo militar ex-combatente, mas também por
seus dependentes:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. EX-COMBATENTE. PENSÃO.
REVERSÃO. FILHAS MAIORES E CAPAZES. APLICAÇÃO DA LEI VIGENTE À
DATA DO ÓBITO DO INSTITUIDOR. LEIS 3.765/1960 E 4.242/1963. ACÓRDÃO A
QUO ATESTA O NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. RETORNO
DOS AUTOS À ORIGEM. DESNECESSIDADE.
1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o direito à reversão da pensão
rege-se pela lei vigente à data do óbito do instituidor do benefício, de modo que, ocorrido o
óbito do genitor das autoras, ex-combatente, em 13/7/1979, a controvérsia deve ser
examinada à luz das Leis 4.242/1963 e 3.765/1960, vigentes à época.
2. Os requisitos estabelecidos pelo artigo 30 da Lei 4.242/1963 para a percepção da
pensão especial de ex-combatente - encontrar-se incapacitados, sem poder prover os
próprios  meios  de  subsistência  e  não  perceber  qualquer  importância  dos  cofres
públicos - acentuam a natureza assistencial daquele benefício, devendo, assim, ser
preenchidos  não  apenas  pelo  ex-combatente  mas  também  por  seus  dependentes.
Precedentes:AgRg no AgRg no AREsp 59.192/ES, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, DJe 18/11/2014; AgRg no Ag 1.429.793/PE, Rel. Ministro Arnaldo
Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 2/8/2012; AgRg no REsp 1.380.998/PB, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 13/11/2013.
[...]
(STJ - AIEDRESP 201201551433, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma,
Data da decisão: 21/06/2016). (grifo nosso)

ADMINISTRATIVO. PENSÃO ESPECIAL DE EX-COMBATENTE. LEI DE


REGÊNCIA. ART. 30 DA LEI 4.262/63 E ART. 53, III, DO ADCT. FILHA MAIOR.

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POSSIBILIDADE.
[...]
2.  Embora  a  Lei  n.  3.765/60,  ao  tempo  do  óbito  do  de cujus,  considerasse  seus
dependentes também as filhas maiores de 21 (vinte e um) anos, de qualquer condição,
o art. 30 da Lei n. 4.242/63, ao instituir a pensão de Segundo-Sargento, trouxe um
requisito específico - prova de que os ex-combatentes encontravam-se "incapacitados,
sem poder prover os próprios meios de subsistência", e que não percebiam "qualquer
importância dos cofres públicos" -, o que acentua a natureza assistencial daquele
benefício, que deverá ser preenchido não apenas pelo ex-combatente, mas também por
seus  dependentes.  Precedentes: AgRg no REsp 1.196.175/ES, Rel. Min. Humberto
Martins, Segunda Turma, julgado em 3.2.2011, DJe 14.2.2011; AgRg no Ag 1.382.487/SC,
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, julgado em 12.4.2011, DJe 27.4.201;
AgRg no REsp 1191537/PE, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
4.8.2011, DJe 17.8.2011.
Agravo regimental provido.
(STJ - EDAGRESP 201101099695, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, Data
da decisão: 19/04/2012). (grifo nosso)
Com efeito, o documento juntado à fl. 12 é elemento suficiente a demonstrar a
condição de ex-combatente do Sr. Alcides Rosa. Trata-se de título de pensão militar conferido à
Srª Edina Cardoso Rosa, viúva do instituidor da pensão e genitora da apelante, falecida em
16.11.2013 (certidão de óbito à fl. 11), de forma integral e na graduação de Segundo Tenente, nos
termos do art. 5º, I, da Lei nº 8.059/90 e art. 53, III, do ADCT.
Contudo, para reverter pensão dessa categoria, assistencialista, há que se exigir dos
beneficiários as mesmas condições jurídicas impostas ao próprio instituidor. Se ao ex-combatente,
que é o principal favorecido, é imposta a obrigação de comprovar "incapacidade para prover sua
subsistência", bem como “não perceber nenhuma importância dos cofres públicos”, às suas filhas
que usufruirão dessa benesse também cabe ser exigido o mesmo.
Cumpre verificar, assim, o preenchimento dos requisitos para a reversão da pensão
especial à filha do instituidor.
Ao que se apura dos autos, Lucia Maria Rosa nasceu no dia 09.02.1954 (fl. 07), é
solteira e desempenha apenas atividades do lar (fls. 01 e 05/06), litigando, inclusive, sob o pálio da
gratuidade de justiça (fl. 26). Há que se observar, ainda, que a apelante conta com 63 anos de
idade, tratando-se, assim, de pessoa idosa, situação que a impede de exercer qualquer atividade
laborativa que lhe garante a subsistência.
No que tange, contudo, ao segundo requisito: “não perceber nenhuma importância
dos cofres públicos”, observa-se que não há nos autos qualquer documentação nesse sentido,
sendo certo que tal condição deverá ser comprovada perante a Administração Militar para fins de
inclusão da apelada como beneficiária, por reversão, da pensão especial deixada pelo ex-
combatente, Sr. Alcides Rosa.
Nesse sentido, a Súmula 60 deste TRF 2ª Região, verbis:
“A pensão de ex-combatente, por morte ocorrida na vigência das Lei 3.765/1960 e Lei
4.242/1963, será devida às filhas, ainda que maiores, desde que não possam prover os

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meios de sua subsistência, inclusive por reversão, em valor correspondente ao soldo de 2º
Sargento, vedada a percepção cumulativa com qualquer outra importância dos cofres
públicos”.
Saliente-se, por oportuno, que o benefício perseguido pela apelante foi mantido em
respeito à garantia constitucional do direito adquirido (art. 5º, XXXVI, CF/88), expressamente
ressalvado no art. 17 da Lei 8.059/90 (que veio dispor sobre a pensão especial nos novos moldes
constitucionais), pacificado o entendimento de aplicação da lei vigente ao tempo do óbito (in casu,
a Lei 4.242/63, art. 30) para fins de constatação daquele (STF, MS- 21.207-3/DF, Relator para o
acórdão Ministro Marco Aurélio; TCU, Decisões 25/98 e 340/97, 2ª Câmara, entre outras).
Confira-se:
CF/88:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
[...]”.

Lei 8.059/90:
“Art. 17. Os pensionistas beneficiados pelo art. 30 da Lei nº 4.242, de 17 de julho de 1963,
que não se enquadrarem entre os beneficiários da pensão especial de que trata esta lei,
continuarão a receber os benefícios assegurados pelo citado artigo, até que se extingam
pela perda do direito, sendo vedada sua transmissão, assim por reversão como por
transferência”.

Todavia, ao referido direito adquirido fixado no art. 30 da Lei 4.242/63 não se


aproveita a mudança de parâmetro relativamente ao quantum prevista no novo regime inaugurado
pelo art. 53, do ADCT/1988 (inciso II), sendo típico caso de aplicação do princípio tempus regit
actum, in verbis:
Art. 53. Ao ex-combatente que tenha efetivamente participado de operações bélicas durante
a Segunda Guerra Mundial, nos termos da Lei n.º 5.315, de 12 de setembro de 1967, serão
assegurados os seguintes direitos:
[...]
II - pensão especial correspondente à deixada por segundo-tenente das Forças Armadas,
que poderá ser requerida a qualquer tempo, sendo inacumulável com quaisquer
rendimentos recebidos dos cofres públicos, exceto os benefícios previdenciários, ressalvado
o direito de opção;
[...]”. (grifei)

Tal modificação atinge apenas os beneficiários que permanecem enquadrados na


previsão constitucional, isto é, viúva, companheira ou dependente (ADCT, art. 53, III e Lei

5
8.059/90, art. 5º), não sendo o caso da apelante – filha maior. Vejamos:
Lei 8.059/90:
Art. 5º Consideram-se dependentes do ex-combatente para fins desta lei:
I - a viúva;
II - a companheira;
III - o filho e a filha de qualquer condição, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos;
IV - o pai e a mãe inválidos; e
V - o irmão e a irmã, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos.
Parágrafo único. Os dependentes de que tratam os incisos IV e V só terão direito à pensão
se viviam sob a dependência econômica do ex-combatente, por ocasião de seu óbito. (grifei)

ADCT, art. 53, III:


Art. 53. Ao ex-combatente que tenha efetivamente participado de operações bélicas durante
a Segunda Guerra Mundial, nos termos da Lei n.º 5.315, de 12 de setembro de 1967, serão
assegurados os seguintes direitos:
[...]
III - em caso de morte, pensão à viúva ou companheira ou dependente, de forma
proporcional, de valor igual à do inciso anterior;
[...]”.

Resta-lhe, portanto, o direito adquirido, conforme previsto no art. 30, da Lei


4.242/63, salvaguardado na Carta Magna em seu art. 5º, XXXVI e na Lei 8.059/90.
No que tange ao quantum, portanto, o benefício perseguido permanece regido pela
Lei 4.242/63, art. 30, que remete ao art. 26, da Lei 3.765/60, continuando a corresponder ao
deixado por Segundo-Sargento, não se vislumbrando na espécie nenhuma vulneração ao art. 53 do
ADCT.
Sobre o tema, confira-se o julgado abaixo ementado:
EMENTA AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO.
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. PENSÃO EX-COMBATENTE. REVERSÃO. ÓBITO.
INSTITUIDOR DA PENSÃO. SEGUNDO-SARGENTO.
1- Deve ser assegurado à parte impetrante o direito à percepção da pensão especial de ex-
combatente, em razão do falecimento de sua mãe (em 06.12.2008), a qual percebia tal
pensão, considerando-se que, na data do óbito de seu pai (23.03.1980), vigiam as Leis nº
3.765/60 e nº 4.242/63, que reconheciam às filhas de qualquer condição o direito à
percepção de pensão especial de ex-combatente.
2- Embora a viúva recebesse a pensão em comento no valor correspondente ao de
Segundo Tenente das Forças Armadas desde de abril de 1991, pensão que foi instituída
com base no art. 53, II do ADCT da CRFB/88 e no art. 5º, I da Lei nº 8.059/90, não há
como desconsiderar que “o direito à pensão de ex-combatente é regido pelas normas
legais em vigor a data do evento morte. Tratando-se de reversão do benefício à filha
mulher, em razão do falecimento da própria mãe que a vinha recebendo, consideram-

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se não os preceitos em vigor quando do óbito desta última, mas do primeiro, ou seja,
do ex-combatente” (STF, MS nº 21.707, DJ de 22.09.1995, Rel. Min. Carlos Velloso),
razão pela qual o valor do benefício a ser percebido pela agravada deve ser aquele
estabelecido no art. 30 da Lei nº 4.242/63, que estipula que o pagamento da pensão
especial deve ser igual aos valores recebidos por um Segundo-Sargento, desde que
preenchidos os requisitos legalmente previstos no referido artigo da Lei nº 4.242/63.
3- Quanto à alegação referente ao pagamento dos valores retroativos, verifica-se que a parte
agravante carece de interesse recursal, tendo em vista que a decisão de Primeiro Grau,
objeto de agravo, não impôs qualquer determinação nesse sentido.
4- Agravo interno conhecido em parte e, nesta, provido parcialmente.
(AG 200902010032409, Desembargador Federal MARCELO PEREIRA/no afast. Relator,
TRF2 - OITAVA TURMA ESPECIALIZADA, 27/05/2010). (grifei)

Ante o exposto, dou provimento à apelação para condenar a União a incluir a


autora, ora apelante, como beneficiária da pensão especial deixada pelo ex-combatente, Sr. Alcides
Rosa, bem como para condená-la ao pagamento da referida pensão a partir da data da propositura
desta ação, em 02.12.2014 (fl. 15), e correspondente ao soldo de Segundo Sargento, nos moldes
das Leis nº 4.242/63 e nº 3.765/60, observado o preenchimento do segundo requisito (não
perceber nenhuma importância dos cofres públicos) junto à Administração Militar, nos termos da
fundamentação supra.
O montante da condenação deverá ser corrigido da seguinte forma: Em relação à
correção monetária, deverá se aplicado o IPCA-E, conforme previsto no item 4.2.1.1 do Manual de
Cálculos da Justiça Federal, afastando-se a aplicação do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a
redação dada pela Lei nº 11.960/09 e, com relação aos juros de mora, deverá se aplicado o item
4.2.2 e sua nota 3, do mesmo Manual, cujo entendimento está de acordo com a tese fixada pelo
STF, no RE 870.974.
Condeno, ainda, a União ao pagamento de honorários advocatícios, os quais fixo em
5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC/1973,
vigente à época da prolação da sentença.
É como voto.

ALCIDES MARTINS
Desembargador Federal
Relator

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