NOÇÕES DE DIAGRAMAÇÃO

Curso de Design Gráfico

Disciplina Produção Gráfica 2

Segundo o dicionário Aurélio, diagramar significa “dispor

UFSC

graficamente (os elementos da peça gráfica: textos, títulos,
ilustrações, legendas, fios, vinhetas, etc) que deverão fazer parte
de uma publicação”. Quer dizer ainda “gerenciar com base em
programação visual predeterminada”.
A diagramação é, segundo a mesma fonte, “ato ou efeito de
diagramar”; “elaboração de leiaute ou esquema (de dimensões e
formato iguais aos da publicação) em que aparecem
devidamente calculados e representados todos os elementos
(textos, legendas, fotos, ilustrações, etc.) que compõem o
material a ser impresso”.
O principal objetivo da diagramação é a articulação destes
elementos de forma a:
! dotar a publicação de identidade, ou seja: articula-los de
forma coerente e personalizada a partir dos requisitos do
projeto da publicação, de seu conteúdo e público-alvo;
! assegurar a continuidade gráfica, ou seja: estabelecer com o
grid (malha) as localizações, formas, proporções organização
para as páginas, de forma a que o usuário (leitor) se sinta
seguro em relação à localização dos conteúdos em cada uma
das páginas da publicação ao percorrê-la.
! atender aos requisitos de comunicação, mercadológicos e
tecnológicos estabelecidos no conceito, ou seja: articular os
elementos gráficos para atendimento do conjunto de
objetivos do projeto, o que exige que o trabalho seja feito
com método e o resultado seja analisado em relação às
limitações, ao estabelecimento de prioridades e, finalmente,
que se mostre como uma solução viável e adequada.
Em relação aos elementos textuais, o uso da diagramação busca
assegurar:
! legibilidade. Que os textos, legendas, numerações, etc.
possam ser confortavelmente lidas pelo público-alvo. É
importante notar que, por exemplo, leitores de faixas etárias
diferentes têm níveis diferentes de acuidade visual e,
portanto, exigem famílias de tipos, corpos e espaçamentos
diferentes.
! hierarquização. As informações textuais contidas em uma
publicação normalmente têm níveis diferentes de
importância durante a leitura. Isso deve ser considerado na
diagramação. O título, por exemplo, deverá ser mais legível
e visível que os sub-títulos e estes mais que o corpo do
texto. Usar fontes e corpos diferentes, além de negritos,
itálicos e mudanças de cor são procedimentos adequados
para atender a este requisito.
! Continuidade. É necessário que o conjunto das páginas de
PG
uma publicação seja percebido pelo usuário como uma
unidade para que ele se sinta seguro ao percorrer a
publicação e possa se concentrar em seu conteúdo. Para que
isso ocorra, é necessário que os critérios adotados para a
diagramação da publicação sejam consistentes o suficiente
para que a variação de conteúdos que ocorre a cada página
não resulte em fragmentação gráfica da publicação. A
continuidade resulta da utilização dos mesmos critérios de
disposição dos elementos que a compõem por todas as suas
páginas.
! clareza da informação. É importante observar que o
principal interesse do leitor está na absorção dos conteúdos
da publicação. Sua forma gráfica é, sob certo aspecto, uma
interface. Fazendo uma comparação: para quem vai “bater”
um prego, o martelo é uma ferramenta adequada e
necessária. Entretanto, a atenção do seu usuário vai estar
voltada para o prego (se ele está posicionado, se não está
entortando, etc.). Assim, embora essencial, o martelo não
deve atrair a atenção do usuário. Se o seu “cabo” de madeira
fosse, por exemplo, esculpido com belas imagens, poderia se
tornar desconfortável e, por isso, exigir que o usuário
dividisse sua atenção entre o prego e ele. Pelo mesmo
motivo, a diagramação deve ser entendida como um
elemento facilitador do acesso ao conteúdo da publicação.
O uso não funcional de barras, vinhetas e outros elementos
gráficos, bem como de outros elementos com ênfase estética
em uma publicação podem, ainda que a valorizassem do
ponto de vista estético, obstruir o acesso ao seu conteúdo.
Figura 01 - Página de livro de receitas

01
Em relação aos elementos gráficos, busca-se assegurar com o
uso da diagramação:
! continuidade. Fotos, figuras, ilustrações, etc. devem estar
dispostas na publicação com o uso dos mesmos critérios em
cada uma das páginas que estejam. Além disso, a linguagem
gráfica e o tratamento gráfico entre eles devem ser os
mesmos (ou ao menos coerentes entre si) para que o usuário
os perceba como elementos de um mesmo conjunto.
! proporcionalidade. Cada ilustração deve ser inserida na
publicação de acordo com sua importância como
componente informacional do conteúdo da publicação.
Imagens importantes devem ter maiores dimensões que as
de menor importância. Além disso, cada ilustração cumpre
um papel específico na composição gráfica da página,
tendo, dessa forma, também uma “missão” estética.
! inteligibilidade. As imagens precisam ser entendidas pelo
usuário. O uso na diagramação de elementos gráficos que
façam parte de seu repertório, de sua cognição, em
dimensões e acabamentos adequados é requisito para a
correta comunicação dos conteúdos não-textuais da
publicação.
! configuração de composição. Cada página (ou conjunto de
página par-impar quando a publicação é utilizada aberta)
tem uma configuração gráfica específica em função dos
conteúdos textuais e gráficos que a compõem. O usuário a
percebe como uma composição gráfica, da mesma forma
como aprecia uma obra de arte. Portanto, cabe no processo
de diagramação a atenção à configuração que cada página
adquire, sendo necessário buscar configurações adequadas.
Os princípios de composição devem ser utilizados nessa
busca.
Figura 02 - Página ilustrada de livro de Botânica
Diagramar é criar uma composição gráfica. Ela é tecnicamente
obtida via:
! o estabelecimento de um grid (malha geométrica). A geração
de um conjunto de guias articuladas que subdividam a área
da página de forma coerente sobre o qual se possa distribuir
os elementos textuais e gráficos da publicação. Em
publicações de páginas múltiplas, o grid deve se repetir a
cada uma delas e ser utilizado sempre com os mesmos
critérios.
! a utilização dos princípios de composição. A distribuição
dos elementos na página visa estabelecer a comunicação
com o usuário. Assim, deve se basear nos princípios da
percepção visual (estudados pela Gestalt e pela Psicologia
Cognitiva) pelos quais se pode, tecnicamente, conduzir a
atenção e o ritmo do usuário através dos componentes
gráficos e textuais. Optar por composições simétricas ou
assimétricas, inserir anomalias, alterar tamanho e
proporções, dentre outros princípios é forma de conduzir o
usuário pelos conteúdos facilitando a absorção da
informação e, portanto, facilitando a comunicação.
! Domínio da geração formal. Para tanto, é necessário
dominar as técnicas para criar coerência formal intra e
interfigural, conteúdos pertencentes às leis da Simetria e aos
princípios para geração controlada da forma. Se usar
elementos isomorfos em uma configuração propicia
comunicação direta, utilizar elementos singenomorfos pode
enriquecer o processo de absorção dos conteúdos. Por outro
lado, utilizar as operações de superposição de forma
consistente auxilia fortemente o entendimento da
composição de cada página e permite sua reprodução por
toda a publicação, dotando-a de mais identidade e
inteligibilidade.
Figura 03 - Organização visual da página da figura 02
A GERAÇÃO DO GRID
O grid ou malha é uma construção geométrica articulada
composta por linhas-de-guia gerada para determinar os
critérios organizacionais para a criteriosa distribuição dos
02
elementos gráficos e textuais de uma peça gráfica. com critério de flexibilidade. Do livro Layout de Allen
Hurlburt.
Entenda-se geometria como a “parte da matemática que trata
0
das propriedades e medidas da extensão nos seus três aspectos:
como linha, superfície ou volume (sólido)” conforme o
dicionário Michaelis a define. Isso deve ser entendido como
10

muito mais que a tradicional malha ortogonal que se repete

nos diagramas. O grid deve ser uma construção para atender às 20

necessidades formais, estéticas e organizacionais de uma

determinada publicação ou peça gráfica. É oportuno lembrar 30

que um dos principais objetivos da diagramação é dotar a peça 30 50 5 50 5 50 20

gráfica de identidade. 40

Não obstante, a geração da malha deve se assentar sobre

critérios estéticos e funcionais, o que torna sua geração uma 50

tarefa ainda mais complexa.

60

Por esse conjunto de motivos, a geração da malha para

diagramação é uma tarefa com certo grau de complexidade e
tem função estratégica no projeto da peça gráfica.
As ilustrações abaixo apresentam três grids estabelecidos a
partir desses critérios. Figura 06 Diagrama
básico, diagramação de
linhas e colunas (páginas
pares com texto em
Inglês com 3 colunas
iguais e páginas ímpares
com duas colunas sendo
uma dupla, em
português). Do livro
Design Visual 50 Anos
XX
de Alexandre Wollner.

INTEGRAÇÃO GRÁFICA CAPA/MIOLO EM

Figura 4 Exemplo de geração de grid para
localização harmônica da mancha gráfica na página.
Richard Hendel (capa do livro O Design do Livro).
PUBLICAÇÕES
É importante observar que o uso do mesmo grid na capa da
publicação e nas páginas internas fortalece a integração gráfica
entre eles, dotando a publicação de maior unidade e identidade.
A capa é a “embalagem” da publicação. Dessa forma, ela
expressa a promessa do conteúdo. Capas graficamente
desarticuladas das páginas internas oferecem uma falsa
promessa. Se apresentam características gráficas mais refinadas
ou consistentes que o miolo, tendem a decepcionar o usuário.
Por outro lado, capas pobres podem desvalorizar o conteúdo
da publicação.

Figura 5 Capa e página ímpar evidenciando a
malha. Note-se que os elementos textuais do livro
estão diagramados nas 3 colunas superiores. As
ilustrações (muito heterogêneas em formato) e
legendas foram locadas nas 6 colunas inferiores,
DIAGRAMAÇÃO DE CARTAZES
Em linhas gerais, a diagramação de cartazes segue os mesmos
objetivos e critérios da diagramação de publicações. Entretanto,
seja pela sua não-repetição, seja pelo impacto visual que esse
tipo de peça gráfica deve promover, o desenvolvimento do
projeto e em particular do estabelecimento do grid devem ser
ainda mais exaustivos e técnicos.
É aconselhável nesses casos que se gere alternativas de grids e
layouts e que eles sejam submetidos a avaliação de nível de
atendimento aos critérios de projeto.
03
É ainda importante observar que na diagramação de cartazes e efeitos de maior impacto gráfico e composições mais apuradas.
peças gráficas correlatas a liberdade para estabelecimento do São exemplos de diagramações de cartazes:
grid geralmente é maior que nas publicações. Pode-se buscar

Figura 07 Cartaz para exposição sobre Matemática e Artes. Nesse diagrama pode-se notar o necessário
dimensionamento a menor (largura) da ilustração para buscar equilíbrio com os elementos textuais.

Figura 08 Cartaz de empresa de produção fotográfica. É precário em relação à legibilidade e intelegibilidade.

Exemplifica o uso de 2 malhas para a geração do grid: retícula de fundo e locação dos elementos textuais.
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Figura 09 Cartaz sobre Identidade Cultural. Aqui o cartaz propriamente dito (informações textuais) estão
locadas de forma radicalmente assimétrica, cabendo à ilustração, na sua riqueza gráfica, dominar a
composição. As duas pequenas barras (verde e azul) na parte superior do texto criam o link (cromático) entre
texto e ilustração.

Da mesma forma, outras peças gráficas podem (e devem) ser São exemplos de diagramações de marca e de embalagens,
diagramadas a partir de um grid (malha). Dessa forma, se pode extraídos do livro de Alexandre Wolner:
obter o correto proporcionamento dos elementos gráficos e
textuais que a compõem e, simultaneamente, gerar critérios de
dimensionamento e organização em relação a peças conexas.

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Criar padrão de diagramação em projeto de identidade visual da identidade visual da empresa Mausa, projetada por Wolner.
permite também criar articulação gráfica entre as diversas São articulações entre catálogos técnicos, capas de relatórios e
aplicações da marca, como pode ser visto no exemplo abaixo, papelaria administrativa.

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Uma utilidade adicional para o projeto diagramado:
No papel timbrado, fica também determinado o
preenchimento do documento (início e final de texto) e as
marcas de dobra da folha, compatíveis com o preenchimento e
as dimensões do envelope.

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