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ALFREDO JÚLIO FERNANDES NETO

OCLUSÃO
E
DISFUNÇÕES
TEMPOROMANDIBULARES
OCLUSÃO E DISFUNÇÕES
TEMPOROMANDIBULARES

FERNANDES NETO, Alfredo Júlio


Professor Titular Doutor, da
Área de Prótese Fixa, Oclusão e Materiais Dentários da
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia.

Co-autores:
MOTA, Adérito Soares
Professor Titular, Doutor
NEVES, Flávio Domingues
PRADO, Ricardo Alves do
SILVA, Marlete Ribeiro da
PRADO, Célio Jesus do
TEIXEIRA, Marcio
Professores Adjuntos, Doutores
NOGUEIRA, Luiz Antônio Amui
Professor Adjunto, Mestre.

Criação e adaptação das ilustrações:


Lilian Figueiredo Silva
Capa:
Prof. Dr. Paulo César Simamoto Júnior

Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal de Uberlândia - FOUFU
Área de Oclusão, Prótese Fixa e Materiais Odontológicos.
Av. Pará 1720 Campus Umuarama Bloco 2B, Sala 2B01
Telefax (0XX34) 3218.2222 - CEP.:38.400.902
Home-Page: fo.ufu.br - E-Mail alfredon@ufu.br

Uberlândia - MG
2008
APARELHO ESTOMATOGNÁTICO
Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

Sabedor de que é um ser bio psico da capacidade de trabalho, complicações


social, boa parte das ações do homem na emocionais, sociais e econômicas.
sociedade objetiva fazer a vida melhor para Mesmo com o conhecimento que os
a humanidade, ou despertá-la para as profissionais da Odontologia tem sobre as
medidas ou precauções necessárias. desordens do Aparelho Estomatognático,
Um importante elemento neste caso é um grande número de pacientes continua
o nível de saúde do indivíduo, de um grupo sem um diagnóstico definitivo, seguido de
ou de uma sociedade. uma falta de interesse em tratá-los. Isto
Saúde não significa apenas a ausência constitui um importante estímulo aos
de doença, mas também bem estar somático, profissionais em aprofundar os conheci-
psico, social e harmonia no meio em que mentos nesta área.
vive. Pesquisas epidemiológicas têm dado
É importante que os profissionais que importantes informações da freqüência
trabalham com pacientes que apresentam e destas desordens em pacientes de ambos os
sofrem com as conseqüências das desordens sexos, e de diferentes faixas etárias e classes
do Aparelho Estomatognático e estruturas sociais.
relacionadas, tenham consciência de que Considerando que todas as condutas
também os fatores somáticos, psíquicos e terapêuticas se sustentam no respeito à
sociais podem estar alterados e compro- natureza, e objetivam a remoção dos fatores
meter o senso normal de bem estar. etiológicos e o resgate da biologia dos
Estes pacientes podem apresentar tecidos e fisiologia do Aparelho Estomatog-
persistente desconforto na face, cabeça, nático, não se pode pensar em promoção de
articulações temporomandibulares – ATMs saúde sem um profundo conhecimento deste
e pescoço, além de contrações, fadiga aparelho, o que justifica uma breve revisão
muscular e limitação dos movimentos sobre esse assunto.
mandibulares. O Aparelho Estomatognático - AE, é
Estalidos nas ATMs ocorrem com uma entidade fisiológica, funcional,
freqüência e geralmente são tolerados pelos perfeitamente definida e integrada por um
pacientes, até que atraiam a atenção de conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos,
outros, originando um incômodo e um cuja biologia e fisiopatologia são absoluta-
problema social ao paciente. A dor de mente interdependentes, envolvidos nos
cabeça pode ser tolerada uma única vez, atos funcionais como: fala, mastigação e
mas a repetição diária altera o comporta- deglutição dos alimentos, e nos atos para-
mento do paciente, irrita familiares e funcionais como: apertamento dentário e
colegas de trabalho. bruxismo.
Os sintomas mencionados se forem Esse aparelho tem como funções
discretos e esporádicos podem ser ignorados mastigação, deglutição, fonação, expressão
por alguns pacientes, porém para outros e estética facial e postura da mandíbula, da
podem ser sérios a ponto de causar redução língua e do osso hióide. Dentre elas a
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mastigação é que gera o maior esforço oclusal, faz-se necessário o conhecimento


oclusal. das relações anatômicas das ATMs e de
Seus componentes anatômicos são: seus ligamentos com os músculos que o
todos os ossos fixos da cabeça, a mandíbula, constituem. Este conhecimento inclui a
o hióide, as clavículas e o esterno, os função, a inervação e a vascularização
músculos da mastigação, deglutição, expres- destes músculos.
são facial e posteriores do pescoço, as
articulações dento-alveolar (periodonto) e ª SISTEMA NERVOSO
temporomandibular (ATM) e seus ligamen- O sistema nervoso tem como funções
tos, os sistemas vasculares e nervoso, os básicas:
dentes, a língua, os lábios, as bochechas e as 9 Manutenção da constância do meio
glândulas salivarias. interno (homeostase), por meio de
O sistema neuromuscular, as articula- funções vegetativas que asseguram sua
ções temporomandibulares - ATMs, a oclu- organização.
são dentária e o periodonto são as quatro 9 Emissão de comportamentos que são
unidades fisiológicas básicas que integram funções globais do organismo no meio
uma unidade biológica funcional do AE, em que vive.
que por sua vez pertence à outra unidade Para o melhor entendimento do
biológica fundamental, o indivíduo, do qual mecanismo de ação do sistema nervoso,
não pode ser separada ao se fazer conside- deve-se recordar que este se constitui de
rações diagnósticas, prognosticas e terapêu- sistema nervoso central (SNC) e sistema
ticas em se tratando de promoção de saúde. nervoso periférico (SNP).
O SNC constitui-se do encéfalo e da
Sistema Neuromuscular
medula espinhal.
O sistema neuromuscular é conside- O encéfalo abrange o cérebro, o
rado fator preponderante nas funções do cerebelo e o tronco encefálico.
Aparelho Estomatognático, pois os múscu- No cérebro distinguem-se: o córtex
los excitados pelo sistema nervoso, motor que se relaciona com os movimentos
constituem-se no elemento ativo, que voluntários dos músculos estriados, o córtex
origina as forças necessárias às funções a sensorial que se relaciona com a sensibi-
que se destinam (fig. 01). As demais lidade profunda e cutânea e o tálamo que é
unidades representam os elementos passivos o centro de passagem de todas as sensações,
encarregados de receber e transmitir a ação com exceção do olfato.
das forças. O cerebelo tem como função principal
a coordenação e refinamento dos movimen-
tos musculares, sendo também importante
na postura e tônus muscular.
No tronco encefálico distinguem-se o
mesencéfalo, a ponte e o bulbo.
A principal estrutura do sistema
nervoso periférico é o neurônio (célula
nervosa), que é composto de um corpo
celular e seu processo (axônio) que conduz
impulsos para e do corpo celular. Um
neurônio aferente conduz impulsos nervosos
em direção ao SNC, enquanto um neurônio
Fig. 01 – Sistema neuromuscular eferente conduz impulsos para a periferia
por meio de axônios.
Para o entendimento da interação do A detecção e subseqüente transmissão
sistema neuromuscular com a morfologia de um evento nocivo é chamada de
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nocicepção. Nervos aferentes primários com um determinado tipo de estímulo, e pouco


terminais periféricos (receptores) são ou quase nada a outros.
conhecidos como nociceptores. Os receptores são classificados em
Os principais nervos do Aparelho grandes grupos:
Estomatognático são o facial (fig. 02), o • Exteroceptores que são estimulados por
trigêmeo, o glossofaríngeo e o hipoglosso. mudanças externas, como dor (termi-
nações nervosas livres), temperatura
(corpúsculo de Ruffini ao calor e bulbo
terminal de Krause ao frio), tato
(corpúsculo de Meissner), pressão
(corpúsculo de Paccini), audição, visão,
e outros. Estão localizados nas mucosas,
pele e estruturas especializadas dos
órgãos dos sentidos.
• Interoceptores que são estimulados pelas
mudanças das condições internas do
indivíduo, como pressão (corpúsculos
de Vater-Paccini localizados no tecido
Fig. 02 - Nervo facial
gengival, periósteo, tecido sub-cutâneo,
• Neurofisiologia ligamentos e cápsulas articulares),
mudanças químicas, posição relativa, e
A neurofisiologia bucal é a parte da outros.
biologia que explica os mecanismos a serem Os interoceptores incluem:
explorados como recursos terapêuticos. a) os visceroceptores, localizados nas
É fundamental aprofundar o conhe- vísceras e vasos sangüíneos, que percebem
cimento nesta área, para estabelecer um elo a fome, a sede e a dor visceral.
entre o estímulo e a resposta nas abordagens b) os proprioceptores, localizados nas
clínicas, visto que os diversos caminhos articulações, músculos, ligamentos e mem-
percorridos pelos estímulos, elucidam por brana periodontal que estão relacionados
meio da participação do sistema nervoso, com a sensação de posição e pressão,
onde e como agir. sentido de movimentos, etc.
A neurofisiologia se desenvolve em Todos os interoceptores, especialmen-
três etapas definidas: te os proprioceptores, são mais sensíveis
1. Percepção do estímulo sensorial. que os exteroceptores, e informa ao SNC
2. Integração no SNC. sobre possíveis condições adversas na
3. Reação motora (na forma de contração intimidade dos tecidos do organismo. Como
muscular e/ou função glandular). exemplo, na membrana periodontal há
A percepção do estímulo sensorial é o proprioceptores capazes de perceber uma
mecanismo pelo qual o SNC se mantém folha de papel de um centésimo de
informado das condições internas e externas milímetro de espessura entre os dentes
existentes no organismo, e se constitui de ocluídos, assim ocorre com restaurações
duas fases: a recepção do estímulo por meio ligeiramente altas que são percebidas por
dos receptores nervosos e a condução do estes.
estímulo até o SNC por meio das vias Um outro tipo especial de receptor é o
condutoras aferentes (sensorial). fuso neuromuscular, localizado nos múscu-
Os receptores nervosos são termina- los, na região de transição entre as fibras
ções nervosas sensoriais, especializadas e musculares e as fibras tendíneas. São sensí-
sensíveis a determinados estímulos. Em veis às mudanças de tensão muscular e aos
geral, cada tipo de receptor só responde a impulsos provenientes do SNC, com inerva-
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ção sensorial e motora própria, permite 3- Reação motora (específica), um neurônio


produzir os estímulos no próprio músculo. motor eferente que transmite a infor-
A integração no SNC ocorre a partir mação ao órgão executor.
da produção de um estímulo no SNP Os arcos reflexos se classificam como
captado por um receptor específico, a partir incondicionados e condicionados.
do qual, se inicia uma via ascendente (pelos Os incondicionados (inatos – congêni-
nervos sensoriais aferentes) até o SNC tos) são aqueles que não intervêm previa-
especificamente até o córtex sensorial, por mente no cérebro, nem há treinamento. Ex.:
meio dos diferentes constituintes do sistema respiração, sucção, deglutição, movimentos
nervoso (cerebelo, tálamo, e outros), quando mandibulares.
o estímulo é então identificado, tornando-se Os condicionados (adquiridos ou
consciente. aprendidos) são aqueles nos quais o cérebro
Cada estímulo específico é individua- atua nas primeiras ocorrências da percep-
lizado e determina uma reação específica ção, da integração e da resposta motora.
correspondente. Com a sucessiva repetição do estímulo e sua
A reação motora, do córtex motor, correspondente integração e reação motora,
inicia-se após a integração de um estímulo estabelece-se uma sinapse entre os neurô-
ao córtex sensorial do cérebro. O impulso nios aferentes (sensitivos) e os eferentes
motor gerado inicia uma via descendente, (motores) ao nível do talo encefálico, sem a
por meio dos vários constituintes do sistema intervenção do córtex cerebral, tornando-se
nervoso até o executor correspondente. Ex.: automático ou inconsciente.
córtex motor, cerebelo, tronco encefálico, Ex. Presente nas crianças antes da
mesencéfalo (núcleo motor), nervos eferen- erupção dos dentes, os movimentos reflexos
tes e músculos. simples de abertura e fechamento mandibu-
Em todo o trajeto seguido pelos lar fazem parte dos reflexos inatos de
impulsos, existem vários controles de regis- sucção e amamentação. Com a erupção e
tro, regulação, modificação e coordenação oclusão dos dentes, os contatos interoclusais
em diversos níveis (tálamo, formações excitam os proprioceptores da membrana
reticulares), para dar uma resposta motora periodontal, cujos estímulos sensoriais
adequada. Porém a função reguladora chegam ao SNC pelo cérebro onde são
principal dos impulsos sensoriais e motores integrados, produzindo a resposta motora
estão no cerebelo, cumprindo uma impor- indicada. Posteriormente, ante a situação de
tante função de coordenação e refinamento reforço constante do mesmo estímulo, cria-
da reação motora. se um arco reflexo adquirido, produzindo-se
Existe outro tipo de mecanismo a sinapse dos neurônios aferentes e eferen-
neuromuscular inconsciente, cuja ação tes, tornando-se desnecessária a intervenção
motora se produz sem intervenção do córtex do córtex cerebral para que ocorra a
cerebral, de forma automática que são os mastigação, reflexo semelhante ocorre no
arcos reflexos. ato de andar e outros.
Os componentes fundamentais de um Os reflexos mais importantes que se
arco reflexo são: apresentam no Aparelho Estomatognático
1- Estímulo específico, um receptor perifé- são:
rico, sensível a um determinado estímulo - Reflexo de estiramento (miotático):
ambiental; atua no sentido de evitar o estiramento
2- Integração (cérebro), uma ou mais célu- passivo dos músculos. Apresenta-se mais
las intercalares ou interneurônios, que sensível nos músculos que se opõem à força
competem a elaboração das informações de gravidade. Ex. masseter, temporal e
transmitidas pelos receptores e sua pterigóideo lateral (que evitam queda da
posterior transmissão; mandíbula).
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- Reflexo tactoceptivo (tangoceptivo): Os músculos fásicos são compostos de


existente na membrana periodontal e nos fibras capazes de rápida ativação e
músculos, a partir de receptores nervosos relaxamento. Eles são bem adaptados para
sensitivos permitem ao SNC reconhecer o movimentos rápidos de curta duração. As
movimento mandibular a ser realizado e a fibras dos músculos tônicos contraem-se e
intensidade da força que deverá aplicar. relaxam mais lentamente, induzem movi-
- Reflexo flexor (nociceptivo): tem mentos lentos e sustentam as estruturas
função protetora de todas as estruturas do anexas por um longo período de tempo.
Aparelho Estomatognático, pois afasta a Ainda que seja muitas vezes útil pensar nos
parte excitada do agente injuriante. É músculos como fásicos ou tônicos é difícil
responsável pela alteração da posição caracterizá-los claramente como tal, pois os
mandibular para evitar o trauma periodontal períodos de contração e relaxamento variam
em um dente com distúrbio oclusal. intensamente nos diferentes músculos, além
- A coordenação dos reflexos se deve disso, alguns deles podem contrair fasica-
em razão dos reflexos de estiramento e mente num determinado momento e
flexor serem antagônicos, logo a atividade tonicamente em outro.
de um deve necessariamente inibir a do A extremidade de um músculo ligada
outro. Se ambos os reflexos forem ativados a um elemento móvel é chamada de
simultaneamente, o padrão flexor é o domi- inserção e a extremidade oposta, unida a um
nante, o que é muito favorável ao elemento fixo, é chamada de origem.
organismo, pois o mesmo é fundamental- A inserção e a origem são termos
mente protetor. descritivos convenientes, mas deve-se
- A inervação recíproca atua quando enfatizar que a tensão nos dois extremos é a
um músculo é ativado simultaneamente, mesma.
inibindo ou relaxando os músculos de ação Não se pode atribuir uma função
antagônica. O fracasso dessa inervação específica a cada músculo, pois estudos
recíproca desempenha um papel importante recentes mostram uma integração extrema-
na patogenia de diversas disfunções do mente complexa em cada um dos movi-
Aparelho Estomatognático. mentos mandibulares. As descrições a
seguir se limitam às funções principais de
ª Sistema Muscular cada músculo para o entendimento dos
O sistema muscular humano compõe- movimentos e posições mandibulares.
se: de músculos esqueléticos, também
chamados músculos estriados, que atuam
sob controle voluntário e estão envolvidos
com os movimentos, postura e equilíbrio, e
de músculos lisos que atuam sob controle
involuntário e encontram-se nas paredes dos
vasos sangüíneos e em estruturas como
bexiga urinária, intestinos, estômago e
músculo cardíaco.
Muitos invertebrados e todos os
vertebrados dependem deste tecido contrátil
para locomoverem-se, e tais tecidos são
agrupados em sistemas coordenados para Fig. 03 – Músculos do Aparelho Estomatognático
maior eficiência.
Durante a função fisiológica dos
• Tipos funcionais dos músculos
músculos do AE na oclusão dos dentes em
Os músculos são divididos pelos
uma posição mandibular estável, um
fisiologistas em dois grandes grupos:
distúrbio oclusal poderá se tornar
fásicos e tônicos.
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intolerável ao paciente e gerar desconforto O músculo Masseter.


muscular, podendo precipitar uma pato- • Sua porção superficial tem origem nos
logia. O acadêmico e o Cirurgião Dentista 2/3 anteriores do arco zigomático e sua
devem ser capazes de palpar a musculatura porção profunda na superfície média do
do AE (fig. 03), e diagnosticar qualquer arco zigomático.
possível patologia e seus fatores etiológicos. • Insere-se na superfície lateral externa do
ramo e ângulo da mandíbula.
9 Consideram-se músculos da mastigação:
• É inervado pelo nervo masseterino
O músculo Temporal. (ramo do trigêmeo).
• Tem origem na linha temporal superior • É vascularizado pela artéria masseterina
e soalho da fossa temporal. (ramo da artéria maxilar).
• Insere-se no processo coronóide e • Têm as funções de elevar a mandíbula e
borda anterior do ramo mandibular, por ocluir os dentes (fig. 06).
meio dos tendões: superficial e longo
profundo (fig. 04).
• É inervado pelos nervos temporais
profundos (ramos do trigêmeo).
• É vascularizado pelas artérias tempo-
rais profunda anterior, média e
posterior.
• Tem as funções de elevar, retrair e
posicionar a mandíbula e ocluir os
dentes (fig. 05).
A
B
A Fig. 06 – Músculo masseter – funções: elevar a
mandíbula e ocluir os dentes.

A força dos músculos (masseteres)


tem sua maior concentração sobre a cúspide
mésio-palatina dos primeiros molares (fig.
07).

Fig. 04 – Inserção do músculo temporal: A – tendão


superficial: B – tendão longo profundo

Fig. 07 – Localização do ponto de maior


concentração das forças dos músculos masseteres.

O músculo Pterigóideo Lateral.


• Sua porção superior tem origem na
Fig. 05 – Músculo temporal – funções: elevação, superfície infratemporal da asa maior do
retração e posicionamento da mandíbula.
osso esfenóide, e a porção inferior na
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superfície do processo pterigóide do


osso esfenóide.
• Insere-se ao feixe superior no disco
articular (menisco) e cápsula da ATM, e
o feixe inferior na fossa pterigóidea
(colo do côndilo).
P FO
• É inervado pelo nervo pterigóideo -UF
U

lateral (ramo do trigêmeo),


• Vascularizado pela artéria pterigóidea
lateral (ramo da artéria maxilar).
• Tem as funções de protruir a mandíbula
e tracionar o disco articular para frente, Fig.09 – Músculo pterigóideo medial – elevar e
assistindo aos movimentos protrusivos estabilizar lateralmente a mandíbula.
da mandíbula (fig. 08).
9 Consideram-se músculos supra-hióideos:
O músculo gênio-hióideo.
• Tem sua origem nos tubérculos genia-
nos inferiores na superfície interna da
sínfise mandibular (fig. 10).
• Insere-se na superfície anterior do corpo
do osso hióide.
• É inervado pelo nervo genio-hióideo
(ramo do nervo hipoglosso).
• É vascularizado pelas artérias lingual e
sublingual.
• Tem a função de movimentar o osso
hióide para frente.

Fig. 08 – Músculo pterigóideo lateral – função:


protrusão mandibular.

O músculo Pterigóideo Medial


• Tem sua origem na face medial da
lâmina lateral da fossa pterigóidea na
base do crânio.
• Insere-se nas porções posterior e inferior Fig 10 – Músculo gênio-hioídeo
da superfície medial do ramo ascendente
e ângulo da mandíbula. O Músculo milo-hióideo.
• É inervado pelo nervo pterigóideo (ramo • Tem sua origem na linha milo-hióidea
do trigêmeo). da mandíbula (da raiz do último molar à
• É vascularizado pela artéria pterigóidea sínfise mandibular), (fig. 11).
medial (ramo da artéria maxilar). • Insere-se no corpo do osso hióide e rafe
• Tem as funções de elevar e estabilizar milo-hióidea.
lateralmente a mandíbula (fig. 09). • É inervado pelo nervo milo-hióideo
(ramo do nervo mandíbula).
• É vascularizado pela artéria submento-
niana (ramo da artéria facial).
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• Tem as funções de elevar o soalho da • Tem com função tracionar o osso hióide
boca e com ele a língua, e se os dentes para cima e para trás.
estão ocluídos, auxiliar na deglutição.

Fig. 13 – Músculo digástrico


Fig. 11 – Músculo milo-hióideo
9 Consideram-se músculos infra-hióideos:
O músculo Digástrico.
• Tem a origem do ventre posterior: na O tiro-hióideo, o esterno-hióideo, o
incisura mastóidea do temporal e do esterno-tireóideo e o omo-hióideo (fig. 14),.
ventre anterior na fossa digástrica da Agindo em grupo estão envolvidos
mandíbula (fig. 12). nas funções mandibulares de abaixar e
• Insere-se no tendão intermediário, estabilizar o osso hióide, o que permite a
aderindo ao osso hióide por uma alça ação auxiliar dos músculos supra-hióideos
fibrosa. no abaixamento da mandíbula. São
• É inervado pelos nervos milo-hióideo inervados pelo nervo hipoglosso, tem
(ramo do trigêmeo) e facial. origem na clavícula e inserção no osso
• É vascularizado pelas artérias submento- hióide.
niana, occipital e auricular posterior.
• Tem a função de puxar o mento para
trás e para baixo na abertura da boca,
auxiliando assim o pterigóideo lateral na
protrusão da mandíbula.

Fig. 14 – Músculos infra-hióideos

9 Músculos posteriores do pescoço


Fig. 12 – Músculo digástrico Músculo esternocleidomastóideo
O Músculo estilo-hióideo. • Tem sua origem no manúbrio do esterno
e na porção medial da clavícula (fig.15
• Tem sua origem na borda posterior do
A).
processo estilóide, (fig. 13).
• Insere-se no processo mastóide do osso
• Insere-se no corpo do osso hióide, na
temporal.
junção com o corno maior.
• É inervado pelo nervo acessório.
• É inervado pelo ramo estilo-hióideo (do
nervo facial). • É vascularizado pelas artérias supra
escapular e occiptal
• É vascularizado pela artéria auricular
posterior.
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• Tem as funções de flexionar a coluna


vertebral e girar a cabeça para o lado
oposto.
Músculo trapézio
• Tem sua origem na protuberância
occipital externa (fig. 15 B).
• Insere-se na borda posterior do terço
lateral da clavícula.
• É inervado pelo nervo acessório
espinhal. Fig. 16 – Músculo bucinador
• É vascularizado pela artéria trapezoidal.
• Tem a função de girar a escápula. 9 Músculo Orbicular da Boca

Músculos intrínsecos do pescoço • Tem sua origem nas fibras do bucinador


• Tem a função de atuar na fala (fig. 15 C). e outros músculos vizinhos (fig.17).
• Insere suas fibras de um lado com as
fibras do lado oposto na linha mediana
dos lábios.
• É inervado pelo nervo facial.
• É vascularizado pelas artérias labial
superior e inferior.
C
• Tem as funções de comprimir os lábios
A sobre os dentes, fechar a boca e protruir
B os lábios.

Fig. 15 – Músculos posteriores do pescoço: A –


esternocleidomastóideo, B – trapézio, C – intrínsecos

9 Músculo bucinador

• Tem sua origem nos processos álveo-


lares das maxilas e mandíbula na região
molar e no ligamento pterigomandibular
(fig. 16).
• Insere suas fibras que se misturam com
as fibras do músculo orbicular da boca, Fig. 17 – Músculo orbicular da boca
no ângulo da boca.
• É inervado pelo nervo facial. 9 Músculo Platisma
• É vascularizado pela artéria bucal. • Tem sua origem na fáscia dos músculos
• Tem a função de auxiliar na mastigação, peitoral maior e deltóide (fig. 18).
distende a bochecha e a comprime de • Insere-se na borda inferior da mandi-
encontro aos dentes, e retrai o ângulo da bula, pele do mento e bochecha.
boca. • É inervado pelo nervo facial
• Tem a função de abaixar a mandíbula, o
lábio inferior e os ângulos da boca e
repuxar a pele do pescoço.
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• ISOTÔNICA: quando o músculo ao se


contrair tem somente um de seus
extremos de inserção fixo, e se encurta
sem aumentar a tensão de suas fibras
(ex.: abrir e fechar a boca).
• ISOMÉTRICA: quando o músculo ao se
contrair tem os dois extremos de
inserção fixos, não podendo se encurtar,
o que gera um aumento da tensão de
suas fibras (ex.: hábito de apertamento
dentário ou bruxismo).
Fig. 18 – Músculo platisma
Com base na ação integrada em
relação às funções primárias, os músculos
9 Músculos da língua da mastigação podem ser divididos em:
São dezessete, um ímpar o lingual 1. Motores Primários: também chamados
superior e mais oito pares que executam os de iniciadores.
diferentes movimentos da língua. 2. Sinergistas: que atuam auxiliando os
A pressão da língua para fora versus a motores primários.
pressão do músculo bucinador para dentro 3. Antagonistas: que se opõem à ação dos
da cavidade bucal, determinam o primários.
posicionamento do corredor da pressão 4. Estabilizadores (ou de fixação): que
neutra (zona neutra), (fig. 19). Conforme os mantêm firmes os ossos ou articulações,
dentes erupcionam, essas forças oponentes permitindo uma ação efetiva do grupo
os conduzem horizontalmente para sua muscular ativo.
posição. No movimento de fechamento fisioló-
O tamanho da língua e o comprimento gico da mandíbula atuam:
dos músculos peribucais influenciam na -como músculos primários os masséteres;
posição da zona neutra, assim como o faz -como sinergistas, os pterigoídeos mediais,
qualquer hábito parafuncional que altere a temporais anteriores e médios;
pressão da língua ou dos lábios. -como antagonistas os pterigoídeos laterais
e o digástrico e
- como estabilizadores os temporais
posteriores (figs 20 A e B).

Fig. 19 – Direcionamento das forças de pressão da


língua e do músculo bucinador, delimitando a zona
neutra (região dentada) A B

• Funções musculares Fig. 20 – Movimento de fechamento fisiológico, A –


fase inicial, B – fase intermediária.
Ocorrem por meio de contrações
sempre em direção à sua origem, podendo • Vascularização
A principal artéria do aparelho
ser:
estomatognático é a carótida externa com
seus ramos maxilar e facial (fig. 21).
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apoia-se anteriormente contra a eminência


VASCULARIZAÇÃO articular, que é protegida por uma camada
fibrocartilaginosa em toda a superfície de
relacionamento funcional. O disco articular
Artérias:
- facial
(menisco) com forma bicôncava está colo-
- maxilar cado entre ambas as superfícies articulares,
- carótida externa e apresenta a inserção do feixe superior do
músculo pterigóideo lateral (no disco arti-
cular), e do feixe inferior na fossa pterigói-
Fig. 21 – Representação esquemática do suprimento
dea (colo do côndilo). Posterior-mente ao
arterial do Aparelho Estomatognático côndilo, encontra-se a zona bilaminar com
vascularização e inervação própria, que não
Articulação Temporomandibular - ATM é apropriada para suportar o côndilo.
D E
A articulação temporomandibular
pode ser tecnicamente considerada uma C
articulação ginglemoartroidal, por realizar J
movimentos de rotação (ginglemoidal) e A
translação (artroidal).
L
O homem é portador das articulações
temporomandibulares desde o seu nasci- M B

mento, quando ainda inexistem os dentes


nas arcadas dentárias. Durante o seu Fig. 24 – Elementos da ATM – vista sagital: A-
desenvolvimento, os côndilos e as fossas superfície articular do osso temporal, B- disco
vão se remodelando continuamente por articular, C- cavidade sinovial superior, D- tecido
meio da transição da dentição temporária retrodiscal, E- feixe superior da zona bilaminar, J-
superfície articular do côndilo, L- feixe superior do
para a permanente e mesmo quando da
pterigoideo lateral, M- feixe inferior do pterigoideo
perda desta última (fig. 23). lateral.
As ATMs se projetarão ligeiramente
para anterior quando da ausência de todos A irrigação dos elementos que consti-
os dentes e são, juntamente com o sistema tuem as ATMs é conduzida por ramos das
neuromuscular, as referências que se artérias temporal superficial, timpânica an-
mantêm durante toda a vida do homem. terior, meníngea média e auricular posterior.
A inervação se dá a partir dos
FU
PF
O/ U
receptores localizados em:
• Regiões posteriores e laterais da cápsula
e ligamento lateral externo – inervados
pelo nervo aurículo-temporal.
• Região anterior da cápsula – inervada
pelos nervos temporais profundos
Fig. 23 - Nesta ilustração vê-se os diferentes estágios posteriores e massetérico.
das ATMs durante o desenvolvimento do crânio e da • Região anterior (articular) do menisco e
mandíbula de um recém nascido, de uma criança, de
membrana sinovial contendo poucos
um adulto e de um idoso.
receptores.
As articulações temporomandibulares São descritos quatro tipos de receptores
possuem todos os elementos de uma nas ATMs:
articulação sinovial, incluindo um disco • Os receptores de Ruffini que determi-
articular (fig. 24). O côndilo é revestido de nam o ângulo de abertura da boca e
uma camada fibrocartilaginosa, posiciona-se variam dependendo do grau de abertura.
ânterosuperiormente na fossa mandibular e,
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• Os receptores de Pacini que são ativados eminência articular, e inserção na face


juntos ou transitoriamente com os de lateral do côndilo.
Ruffini e assinalam o início e o fim do
movimento, e suas respostas não Oclusão
dependem da direção nem da posição
Oclusão se refere ao estudo das
inicial do movimento.
relações estáticas (intercuspidação dentária)
• Os receptores de Golgi que respondem e dinâmicas (movimentos mandibulares)
à pressões fortes nos tecidos articulares entre as superfícies oclusais, e entre estas e
e são protetores. todos os demais componentes do AE.
• As Terminações Nervosas Livres que Uma oclusão é fisiológica quando
são nociceptivas e respondem pela dor. apresenta harmonia entre os determinantes
São ligamentos da ATM: anatômicos e as unidades fisiológicas do
AE, não gerando patologias aos tecidos.
9 Temporomandibular com origem na Entretanto na presença de desarmonia a
superfície lateral da eminência articular oclusão será patológica, podendo gerar
do osso temporal e inserção no colo da patologias aos tecidos.
mandíbula (fig. 25). É considerado maloclusão os contatos
oclusais antagônicos ou adjacentes dos
disco articular dentes em desarmonia, com os componentes
anatômicos e unidades fisiológicas do AE.
O termo maloclusão não significa doença ou
saúde, e sim dentes mal posicionados ou
ligamento desalinhados. Muitas pessoas apresentam
temporomandibular
uma maloclusão, mas se adaptam à ela não
apresentando sinais patológicos.
No Aparelho Estomatognático, os
dentes posteriores têm como funções: masti-
Fig. 25 – Cápsula da ATM – ligamento gação, ponto de apoio da mandíbula durante
temporomandibular. a deglutição, manutenção da dimensão
9 Estilomandibular com origem no vertical de oclusão, transmissão e dissipação
processo estilóide e inserção no ângulo das forças axiais, e proteção aos dentes
da mandíbula, (fig. 26A). anteriores e às ATMs na posição de oclusão
9 Esfenomandibular com origem na em relação cêntrica - ORC.
espinha do osso esfenóide e inserção na Os dentes anteriores têm como fun-
língula mandibular, (fig. 25B). ções: estética, fonética, apreensão e corte
dos alimentos, e proteção aos dentes
posteriores e às ATMs nos movimentos
excêntricos da mandíbula.

Periodonto

As forças que incidem sobre os dentes


são transmitidas aos ossos por meio das
fibras periodontais (fig. 22). O equilíbrio
A B entre as forças de ação que incidem sobre os
dentes e a reação biológica adequada dos
Fig. 26 – A: ligamento estilomandibular; B: tecidos do periodonto de sustentação,
ligamento esfenomandibular. cemento, fibras periodontais e osso alveolar,
mantêm a integridade das estruturas e
9 Capsular com origem no osso temporal,
ao longo da fossa mandibular e
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 13

representa o principal componente da • Anamnésia, exames: clínico, radiográ-


homeostasia desse periodonto. fico e dos modelos de estudo montados
em articulador semi-ajustável em RC.
• Diagnóstico.
• Planejamento e execução de procedi-
mentos educativos, preventivos e restau-
radores.
O que são e a que se destinam os
objetivos:
Dimensão vertical (DV) é a medida
vertical da face, entre dois pontos quaisquer,
arbitrariamente selecionados e conveniente-
mente localizados um acima, e outro abaixo
Fig. 22 Transmissão das forças incidentes ao osso
por meio das fibras periodontais. da boca, normalmente na linha mediana da
face, variando entre a dimensão vertical de
Na mandíbula as forças seguem a repouso e dimensão vertical de oclusão.
trajetória das trabéculas ósseas em direção Fundamental na preservação da saúde da
aos côndilos, de onde são transmitidas e unidade fisiológica neuromuscular do AE.
neutralizadas nas regiões temporal, parietal A dimensão vertical de repouso
e occipital. (DVR) é a dimensão vertical da face,
Nas maxilas a trajetória trabecular quando a mandíbula se encontra sustentada
forma três pilares ósseos: anterior, médio e pela posição postural, ou de repouso
posterior, por meio dos quais as forças se fisiológico dos músculos do AE e com os
direcionam para as áreas frontal, orbital, lábios se contatando levemente. Independe
nasal e zigomática, onde são neutralizadas. da presença ou não dos dentes.
Essas disposições trabeculares asseguram o A dimensão vertical de oclusão
máximo de resistência óssea ao estresse. (DVO) é a dimensão vertical da face,
quando os dentes estão em máxima
A manutenção ou reabilitação do Aparelho intercuspidação e os músculos contraídos
Estomatognático em seu ciclo de potência máxima. Depende
da presença dos dentes em oclusão (fig. 27).
A manutenção ou reabilitação do
Aparelho Estomatognático pelo Cirurgião-
Dentista tem como objetivo preservar ou
Músculos da
restabelecer a: Mastigação
• Dimensão vertical – DV.
Supra-hióideos
• Relação cêntrica – RC.
• Estabilidade oclusal – EO. Infra-hióideos
• Guia anterior – GA.
Músculos anteriores
Para isto se fazem necessários os e
posteriores cervicais
conhecimentos de:
• Biologia dos tecidos.
• Fisiologia do Aparelho Estomatogná- Fig. 27 - Grupo de músculos que atuam na dimensão
tico. vertical
• Propriedade dos materiais odontológi-
cos. O paciente pode apresentar diferentes
• Técnicas de execução dos procedimen- perfis faciais em detrimento de alterações na
tos clínicos e laboratoriais. DV (fig. 28).
• Fundamentos de estética odontológica.
E os procedimentos:
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 14

- Thomas (1979), diz ser o relacio-


namento espacial entre o crânio e os
côndilos, sob o mínimo estresse fisiológico,
numa posição posterior, superior e media-na
na fossa condilar.
- Okeson (1989), é a posição mais
anterior e superior dos côndilos nas suas
fossas com os discos adequadamente inter-
Correta Excessiva Reduzida postos.
Fig. 28 Diferentes perfis sociais: A- DV correta, B- - Dawson (1995), é a posição mais
DV excessiva, C- DV reduzida.
superior que as estruturas côndilo-disco
A distância existente entre as propriamente alinhados, podem alcançar
superfícies oclusais e incisais dos dentes contra a eminência.
antagonistas, quando a mandíbula se - Jiménez (1995), é a posição fisioló-
encontra sustentada pela posição postural ou gica do côndilo, na qual ele se encontra
de repouso muscular fisiológico, é centrado na fossa, em seu posicionamento
denominada espaço funcional livre (EFL) o mais superior e correta-mente relacionado
que representa a diferença entre a DVO e a com o disco articular, contra a vertente
DVR, sendo de aproximadamente 3 mm. posterior da eminência articular.
A relação cêntrica (RC) trata do - Fernandes Neto (2002), é a relação
relacionamento temporomandibular, funda- do côndilo com a fossa mandibular do osso
mental na preservação da saúde das temporal em completa harmonia com o
unidades fisiológicas, neuromuscular e disco articular (fig. 29). É uma posição
ATMs, do AE. Existem na literatura estável e reproduzível pelo equilíbrio
odontológica várias conceituações de fisiológico dos músculos de sustentação
diferentes autores, entre as quais se mandibular, e independe do relacionamento
destacam algumas citadas abaixo. dentário.
- Neff (1975), é a posição inicial dos
movimentos mandibulares, estável e fácil de
ser reproduzida.
- Celenza (1978), é a posição
fisiológica mais anterior e superior dos
côndilos contra a inclinação da eminência
articular, permitida pelas estruturas limi-
tantes da ATM, a uma DV dada. É uma
posição que comumente não coincide com a
máxima intercuspidação e é uma referência
Fig. 29 – RC: relação côndilo – fossa.
aceitável para o tratamento.
- Moffett (1978), é uma relação Estabilidade oclusal – EO é a
crânio-mandibular, na qual a mandíbula se estabilidade dada à mandíbula em relação às
encontra numa posição mais retruída em maxilas pela intercuspidação simultânea das
relação à máxima intercuspidação quando cúspides funcionais, nas respectivas fossas
os dentes fazem os seus contato oclusal antagonistas em ambos os lados da arcada
inicial. É uma posição bordejante e fácil- dentária. Fundamental na preservação da
mente reproduzível. saúde das unidades fisiológicas, neuro-
- Ramfjord (1983), é uma posição muscular, ATMs e oclusão dentária (fig. 30)
ligamentosa mais retruída da mandíbula, a e periodonto(fig. 31), do AE.
partir da qual os movimentos de abertura e
lateralidade podem ser executados conforta-
velmente.
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 15

A
A

B
B

Fig. 30 – A: Estabilidade condilar, B: estabilidade


oclusal Fig. 33 – Oclusão em relação cêntrica: A – RC, B –
intercuspidação dentária.

Como máxima intercuspidação habi-


tual - MIH, é considerada a posição maxilo-
mandibular com o maior número de conta-
tos entre os dentes antagonistas. É uma
posição dentária que independe da posição
dos côndilos, logo não deve ser impro-
priamente chamada de oclusão cêntrica,
Fig. 31 – Estabilidade oclusal, direcionamento das pois nesta posição a mandíbula estará
forças para o longo eixo dos dentes e conseqüente sempre desviada da RC.
saúde periodontal Estudos têm mostrado que, na maioria
dos casos, a neuromusculatura posiciona a
Para manter ou restabelecer a estabi-
mandíbula para alcançar a máxima inter-
lidade maxilo-mandibular do aparelho
cuspidação independente da posição dos
estomatognático, são indispensáveis a
côndilos na fossa. Quando interferências
oclusão dos pré-molares e dos 1ºs molares
oclusais estão presentes o “feedback”
antagônicos.
proprioceptivo das fibras periodontais ao
redor do dente envolvido programa a função
muscular para evitar as interferências. A
função muscular resultante pode ser tão
dominante que a posição mandibular
adquirida será freqüentemente considerada
erroneamente pelos clínicos como a
verdadeira RC.
Para melhor entendimento de toda
esta nomenclatura é importante observar
que o termo relação cêntrica se refere
sempre a uma posição de estabilidade entre
o côndilo e a fossa mandibular, indepen-
dente dos dentes. Os termos intercuspidação
Fig. 32 - Estabilidade maxilo-mandibular
e oclusão referem-se a uma relação de
Denomina-se oclusão em relação estabilidade dentária entre as maxilas e a
cêntrica - ORC (oclusão cêntrica ou máxima mandíbula (maxilo-mandibular), indepen-
intercuspidação cêntrica) quando há coinci- dente dos côndilos. No entanto, uma
dência da posição de máxima intercuspi- oclusão fisiológica requer estabilidade e
dação dentária com a posição de RC das reprodutibilidade no relacionamento da
ATMs (fig. 33). mandíbula com os ossos temporais e
maxilas. Para que isto ocorra, é necessário
preservar ou restabelecer simultaneamente,
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 16

a relação temporomandibular por meio das


ATMs direita e esquerda em RC como
apoio posterior, e a relação maxiloman-
dibular por meio da intercuspidação dos
dentes posteriores simultaneamente de
ambos os lados da arcada dentária, como
apoio anterior. Obtém-se desta forma, uma
oclusão em relação cêntrica ou uma máxima
intercuspidação cêntrica, de tal maneira que,
quando unidos os extremos destes pontos de
apoio, forme uma figura geométrica Fig. 34 – Representação esquemática de guia anterior
(quadrilátero de estabilidade).
Como Guia Anterior GA, descreve-se Fig. 35 – Guia anterior – plano
o relacionamento das bordas incisais dos
dentes anteriores inferiores, com a face
lingual dos dentes anteriores superiores,
durante os movimentos protrusivo e
retrusivo da mandíbula (fig. 34), sem
contato dental posterior, formando-se com
as ATMs direita e esquerda um tripé de
estabilidade (fig. 35). Fundamental na
preservação da saúde das unidades sagital
fisiológicas: neuromuscular, ATMs, oclusão
dentária e periodonto do AE

O objetivo maior da Odontologia está em preservar ou restabelecer a biologia dos


tecidos e a fisiologia do AE.
Recomenda-se assim a prática da odontologia 4 x 4, onde o alcance dos quatro objetivos
resulta na preservação e ou restabelecimento das quatro unidades fisiológicas (Tab. 01)

Objetivos permanentes a serem alcançados: Unidades fisiológicas – preservadas:


Dimensão vertical Neuromuscular
Neuromuscular
Relação cêntrica
ATMs
Neuromuscular
ATMs
Estabilidade oclusal
Dentes
Periodonto.
Neuromuscular
ATMs
Guia anterior
Dentes
Periodonto
Tabela 01 – Odontologia 4 x 4: quatro objetivo da odontologia que visam preservar quatro unidades fisiológicas
do aparelho estomatognático.
Aparelho Estomatognático Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 17

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MOVIMENTOS MANDIBULARES
Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

Para o entendimento da dinâmica criando reflexos condicionados. Pode ser


dos movimentos mandibulares, além dos modificado pelo Cirurgião Dentista,
quatro determinantes anatômicos do modificando-se o terceiro determinante.
aparelho estomatognático, deve-se também O quinto determinante esta direta-
considerar um quinto, o fator emocional do mente relacionado com o SNC é o estado
paciente ligado ao sistema nervoso central – emocional, estresse ou tensão do paciente,
SNC. que contribui para o apertamento dentário,
Os determinantes posteriores são as bruxismo, espasmo muscular, queixas
articulações temporomandibulares direita e sobre a ATM e outros.
esquerda, que estabelecem a relação Cinco são os fatores que incidem
temporomandibular e estão fora do controle sobre os movimentos mandibulares e os
do Cirurgião Dentista, exceto por via relacionam à morfologia oclusal:
cirúrgica (fig. 01A). 1- A posição fisiológica inicial que é a
O determinante anterior é a oclusão relação cêntrica - RC.
dentária, que estabelece a relação maxilo- 2- O tipo de movimento: rotação e
mandibular que pode ser modificada pelo translação.
Cirurgião Dentista, tendo a fonética e a 3- A direção do movimento e o plano em
estética como fatores limitantes (Fig 01B). que ocorre. Isto é necessário porque cada
cúspide e superfície oclusal tem
diferentes planos.
4- O grau do movimento e sua relação com
as superfícies oclusais.
5- Os significados clínicos do movimento,
que expressa diferenças entre os
pacientes.

1- Posição fisiológica inicial

Como posição fisiológica inicial dos


Fig. 01 – Determinantes anatômicos: A- ATM direita movimentos mandibulares, é considerada a
e esquerda e B - oclusão dentária RC, por ser a posição mais estável e mais
fácil de ser reproduzida (Fig. 02), podendo
Esses três determinantes têm como os pacientes se apresentar numa posição de
função delimitar mecanicamente o limite máxima intercuspidação habitual, que é uma
superior dos movimentos mandibulares e adaptação e não pode ser considerada como
programar o quarto determinante, referencial.
constituído pelo sistema neuromuscular A relação cêntrica deve ser a posição
proprioceptivo, presente também nas de eleição para o tratamento restaurador, em
ATMs, polpa e tecido periodontal, que pacientes que apresentam sinais e sintomas
enviam impulsos nervosos para o SNC, de oclusão traumática.
Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 19

Fig. 04 Plano sagital: A - movimento de translação


condilar, B – relacionamento dentário.

3- Direção dos movimentos (planos)

A direção dos movimentos se faz em


Fig 02 Posição condilar em relação cêntrica: A -
plano sagital, B - plano frontal e C - plano relação aos planos frontal, sagital e
horizontal. horizontal (fig. 05)

2 - Tipos de movimentos

A partir da posição inicial os movi-


mentos mandibulares de abertura, fecha-
mento, protrusão, retrusão e lateralidade são
executados pelos movimentos de rotação e
translação condilar, direcionados em planos
e graus distintos. Fig. 05 Planos: F – frontal, H – horizontal e S –
sagital.
Movimento de rotação é o movimento
de um corpo ao redor do seu centro (fig. 4- Grau de movimento
03).
O grau de movimento é um fator
importante, pois a maioria das funções
mandibulares ocorre ao menor grau de
abertura. A abertura máxima normal é de
aproximadamente 40 mm.

5- Significado clínico dos movimentos:

Expressa as diferenças entre os


pacientes, demonstrando que cada um
apresenta suas próprias relações maxilo-
Fig. 03 Movimento de rotação condilar: A - plano mandibular e temporomandibular.
sagital, B – plano frontal, C – relacionamento
dentário no plano frontal. Movimentos mandibulares
Movimento de translação é o movi- Movimento de protrusão é o movi-
mento de um corpo quando todos os seus mento mandibular na direção póstero-
pontos se movem em uma mesma direção anterior, de aproximadamente 10 mm.
ao mesmo tempo (fig. 04). No movimento protrusivo, os côndilos
deslizam sobre a eminência articular (guia
posterior), e simultaneamente os dentes
Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 20

incisivos inferiores deslizam sobre a fossa Movimento de trabalho é o movi-


lingual dos incisivos superiores (guia mento em direção ao lado para o qual a
anterior) (fig 06). mandíbula se desloca durante a função
mastigatória, com o côndilo rotacionando e
transladando sobre as paredes posterior e
superior da fossa mandibular do osso
temporal (fig. 09A e 09B). As cúspides
devem ser capazes de passar pelos planos
inclinados antagonistas sem contato (fig.
09C), quando houver uma guia canina de
proteção lateral (fig.10) ou, apresentarem
contatos contínuos de deslocamento quando
Fig. 06 – Movimento de protrusão mandibular, plano houver uma guia lateral de proteção por
sagital: A – deslize do côndilo sobre a eminência função em grupo (fig. 11). Esse movimento
articular, B – guia anterior. é de aproximadamente 10 mm.
A relação dos planos inclinados dis-
tais das cúspides dos dentes superiores e os
planos inclinados mesiais das cúspides dos
dentes inferiores, permitem a desoclusão de
todos os dentes posteriores, (fig. 07).

Fig. 09 Movimento para o lado de trabalho:


• relacionamento do côndilo com a parede superior e
Fig. 07: Movimento de protrusão mandibular, posterior da fossa mandibular do osso temporal, A
desoclusão dos dentes posteriores: A - plano sagital, – plano sagital, B – plano frontal
B.- plano horizontal. • relacionamento dos dentes posteriores, C - plano
frontal e D – plano horizontal.
Significado clínico das diferentes
relações côndilo-eminência e cúspide-fossa
(fig. 08).

Fig. 10 Guia canina de proteção lateral: A - trajeto da


Fig. 08: Significado clínico das diferentes relações guia pelo canino, plano sagital e plano frontal, B –
côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano sagital: A- relacionamento côndilo-fossa e dentes antagonistas
rasa, B – média, C - profunda. no lado de trabalho, C - relacionamento côndilo-
fossa e dentes antagonistas no lado de balanceio.
Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 21

Movimento de balanceio ou não


trabalho é o movimento em direção ao lado
oposto de trabalho. No plano frontal, o
côndilo movimenta-se para anterior e para
baixo ao longo da parede mediana da fossa
mandibular, enquanto as cúspides funcio-
nais inferiores se movem para baixo,
anterior e medialmente, sem contatar os
planos inclinados antagonistas, (fig. 14, 15 e
16). Esse movimento é de aproximada-
mente 10 mm.
Fig. 11 Guia lateral de proteção em função em
grupo, plano frontal: A – trajeto da guia, B –
relacionamento côndilo-eminência e dentes
antagonistas no lado de trabalho, C - relacionamento
côndilo-eminência e dentes antagonistas no lado de
balanceio.

Significado clínico das diferentes


relações côndilo-eminência e cúspide-fossa
(figs. 12 e 13).

Fig. 14 - Movimento para o lado de balanceio:


relacionamento do côndilo com a parede mediana da
fossa mandibular do osso temporal, A – plano
sagital, B – plano frontal, C – plano horizontal

Fig. 12 Significado clínico das diferentes relações


côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano frontal: A-
rasa, B – média, C - profunda.

Fig. 15 - Significado clínico das diferentes relações


côndilo-parede mediana e cúspide-fossa, plano
frontal: A - rasa, B - média, C - profunda.

Fig. 13 Significado clínico das diferentes relações


côndilo-eminência e cúspide-fossa, plano frontal: A-
rasa, B – média, C - profunda.
Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 22

trajetória de trabalho, P – trajetória de protrusão, B –


trajetória de balanceio.

Oclusão mutuamente protegida é um


esquema oclusal no qual os dentes
posteriores previnem o excessivo contato
dos dentes anteriores numa máxima
intercuspidação, (fig. 19) e os dentes
anteriores desocluem os dentes posteriores
em todos os movimentos excursivos da
Fig. 16 - Significado clínico das diferentes relações mandíbula.
côndilo-parede mediana (deslocamento imediato
lateral) e cúspide-fossa, plano frontal: A - profunda,
B –rasa.

Movimentos compostos, nestes


movimentos os contornos das paredes da
fossa mandibular e a trajetória condilar
mantêm uma relação de paralelismo com os
planos inclinados das fossas e das cúspides,
o que resultará, além do contorno das
mesmas, uma posição correta dos sulcos
através dos quais as pontas das cúspides
Fig. 19 - Oclusão mutuamente protegida: dentes
antagônicas podem mover-se sem contatos posteriores ocluídos e ATMs, protegendo os dentes
em suas trajetórias de protrusão, trabalho e anteriores, plano sagital.
balanceio, (figs. 17 e 18).
Oclusão anteriormente protegida é um
componente da oclusão mutuamente
protegida em que, o trespasse vertical e
horizontal dos dentes anteriores desocluem
os dentes posteriores em todos os
movimentos excursivos mandibulares, (fig.
20).

Fig. 17 - Movimentos compostos, relacionamento


côndilo-fossa e dentes antagonistas, plano frontal: A
– lado de trabalho B - lado de não trabalho.

Fig. 20 Oclusão mutuamente protegida: dentes


anteriores e ATMs, protegendo os dentes posteriores,
plano sagital.

Trespasse vertical (overbite, sobre-


mordida) é a distância em que os dentes
superiores se projetam verticalmente sobre
os dentes inferiores, na posição de máxima
Fig. 18 - Movimentos compostos, trajetórias das intercuspidação, (fig. 21V).
cúspides funcionais em suas respectivas fossas, Trespasse horizontal (overjet,
plano horizontal: A ponta de cúspide funcional, T –
sobressaliência) é a distância em que os
Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 23

dentes superiores se projetam horizontal- cúspides baixas, B: trespasse horizontal grande –


mente sobre os dentes inferiores, na posição cúspides altas
de máxima intercuspidação (fig.21H).

Fig. 21 – V:
trespasse vertical,
V H: trespasse
horizontal.

Todavia, os trespasses vertical e Fig. 24 - relação entre dentes anteriores (guia


anterior) e a altura das cúspides posteriores, nos
horizontal podem também indicar as
trespasses, A: horizontal e B: vertical.
relações verticais das cúspides antagonistas
(figs.22 23e 24). Movimento de Bennett é o movimento
de deslocamento lateral realizado pelo
corpo da mandíbula durante o movimento
de lateralidade, que é observado pelo
movimento do côndilo de trabalho (fig. 25).

Fig. 22 – Relação vertical das cúspides antagonistas


e trespasse vertical dos dentes anteriores, A:
trespasse vertical pequeno – cúspides baixas, B:
trespasse vertical grande – cúspides altas.
Fig. 25 - Movimento de Bennett: LT: lado de
trabalho, LB: lado de balanceio, plano horizontal.

Movimentos bordejantes são os movi-


mentos mandibulares extremos, limitados
pelas estruturas anatômicas (fig. 26A).
Envelope de movimentos de Posselt é
o espaço tridimensional delimitado pela
trajetória de um ponto na incisal de um
incisivo, durante os movimentos
mandibulares bordejantes (fig. 26B).

Fig. 23 – Relação horizontal das cúspides


antagonistas e trespasse horizontal dos dentes
anteriores, A: trespasse horizontal pequeno –
Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 24

Curva de Spee é a curvatura


anatômica no plano sagital, de sentido
ântero-posterior do alinhamento oclusal dos
dentes, partindo do ângulo incisal do canino
(ponta da cúspide), passando pelas cúspides
vestibulares dos pré-molares e molares,
continuando em direção à borda anterior do
ramo da mandíbula (fig. 29).

Fig: 26 - Movimento bordejante, plano sagital: A -


anterior e superior, B - envelope de movimentos.

Plano oclusal refere-se a uma


superfície imaginária que está relacionada
anatomicamente com o crânio, e que
teoricamente, é delimitado pelas bordas
incisais dos incisivos e as pontas das
Fig. - 29 Curva de SPEE
cúspides dos dentes posteriores.(fig. 27).
Curva de Wilson é a curvatura
anatômica no plano frontal, de sentido
vestíbulo-lingual, passando pelas cúspides
vestibulares e linguais dos dentes
posteriores de ambos os lados. A curva é
côncava no arco inferior e convexa no arco
superior, resultando principalmente das
diferentes inclinações axiais dos dentes
posteriores de ambos os arcos (fig.30).
Fig.- 27– Delimitação do plano oclusal, vista pelo
plano sagital.

Componente anterior de força, em


razão da inclinação que os dentes naturais
apresentam para a mesial, as resultantes das
forças oclusais se dissipam em direção ao
longo eixo e nos contatos proximais dos
dentes posteriores, e se anulam na linha Fig – 30: Curva de Wilson, em função no ciclo
mediana entre os incisivos centrais (fig. 28). mastigatório.

Curva de Manson é a curva de oclusão


na qual as cúspides e bordas incisais dos
dentes inferiores tocam ou se conformam a
um Segmento de uma esfera, com 8
polegadas de diâmetro, cujo centro se
localiza na glabela (fig. 31A).
Triângulo de Bonwill é o triângulo
equilátero, com lados de 10 cm, que une
ambos os côndilos aos ângulos mésio-
incisais dos incisivos centrais inferiores
Fig. – 28 - Componente anterior de forças. (1885). Este conceito já foi muito
contestado e desmistificado (fig. 31B).
Movimentos Mandibulares Fernandes Neto, A.J. et. al Univ. Fed. Uberlândia - 2006 25

Fig. 33 - a: Ângulo de Fischer – plano sagital, RC:


relação cêntrica, T: trajetória do côndilo de trabalho,
B: trajeto do côndilo de balanceio, P: trajetória do
côndilo em protrusão.
Fig. – 31 A: Curva de
Monsan e B: triângulo de Quanto maior a distância intercon-
Bonwill dilar, menor será o ângulo formado pelos
trajetos lateralidade da mandíbula, fig. 34.

Ângulo de Bennett é o ângulo


formado pela trajetória de avanço do
côndilo do lado de balanceio com o plano
sagital, durante o movimento excursivo
lateral mandibular, visto no plano
horizontal, fig. 32. Tem em média 15 graus.
Durante esse desloca-mento, o côndilo se
movimenta para frente, para baixo e para
dentro. Fig. 34 - Relação entre as distancias intercondilares,
A – A1: grande e B – B1: pequena e as respectivas
trajetórias laterais da mandíbula observadas pelo
plano horizontal, na face oclusal dos dentes.

Bibliografia Consultada

GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim,


Califonia: Denar Corp., 1977. 117 p.
NEFF, P. E. TMJ Occlusion and Function.
Washington: Georgetown Uni-versity -
School of Dentistry, Seventh printed,
Fig. 32 - Representação esquemática de A: ângulo de Washington, D.C. 1993. 60 p.
Bennett, LM: linha média, RC: relação cêntrica, B: SENCHERMAN, G. et. al. Manual sobre
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sagital e a trajetória do movimento de protrusão, T: Pontificia Universidad Javeriana, 1975. 66
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Ângulo de Fischer é o ângulo formado PAIVA, H. J. et. al. Oclusão Noções e
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sagital, fig. 33. POKORNY, D. K., BLAKE, F.P. Principles
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Detroit, s.d. 56 p.
THE ACADEMY OF PROSTHO-
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terms., 6th ed. Journal of Prosthetic.
Dentistry St. Louis, 1994. 112 p.
ENCERAMENTO PROGRESSIVO
Alfredo Julio Fernandes Neto & Marlete Ribeiro da Silva - Univ. Fed. Uberlândia - 2006

Os critérios para o sucesso de uma funcionais ou de contenção cêntrica),


reabilitação oral incluem, além das ocluem nas fossas dos antagonistas
habili-dades técnicas clínicas e triturando o alimento que escapa pelo
laboratoriais, o conhecimento da trajeto dos sulcos principais e
harmonia entre os componentes secundários, (fig. 01).
fisiológicos do aparelho estomatognático
- AE: ATMs, oclusão dentária
(morfologia oclusal), sistema
neuromuscular e periodonto.
A morfologia oclusal em harmonia
com os demais componentes do aparelho
estomatognático, promove um estímulo
fisiológico ao periodonto imprescindível
na manutenção da estabilidade oclusal.
Para isto, a superfície oclusal deve: Fig. 01 - Apresentação esquemática da trituração
1. Apreender e triturar alimentos; e escape do alimento, pelo dentes posteriores.
(desenho modificado de THOMAS, P.K.)
2. Estar em harmonia com os tecidos
adjacentes; 2. Harmonia com os tecidos
3. Direcionar as forças no longo eixo do adjacentes.
dente; O movimento articular implica em
4. Promover conforto e, movimento mandibular. Este movimento
5. Ausência de interferência oclusal. apresenta vários padrões de diferenças
1. Apreensão e corte dos alimentos. individuais, entre eles, a configuração de
As estruturas que compõem a superfície ambas as fossas condilares, o relaciona-
oclusal dos dentes posteriores são: mento vertical dos dentes anteriores e o
cúspides (ponta, vertentes triturantes e relacionamento da mandíbula com o
lisas, arestas longitudinais mesial e crânio através do sistema neuromuscular,
distal), sulcos, fossas e cristas marginais (fig. 02).
mesial e distal. O relacionamento ideal dos elemen-
As cúspides vestibulares superiores tos da oclusão deve ser tal que os dentes
e linguais inferiores (cúspides não posteriores nunca se contatem durante o
funcionais ou de não contenção cêntrica), movimento mandibular, e este inicie e
exercem a função de apreensão e corte termine na posição fisiológica inicial dos
dos alimentos. movimentos mandibulares, relação cêntri-
As cúspides palatinas superiores e ca - RC. O contato dos dentes posteriores
vestibulares inferiores (cúspides durante os movimentos mandibulares
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 27

poderá resultar ao sistema neuromuscular


uma situação de estresse, uma desordem
Fig. 04 - Direcionamento das
no periodonto de sustentação, um desgas- forças oclusais no longo eixo
te dentário e ou desordem nas ATMs. dos dentes posteriores.
(desenho modificado de
THOMAS, P.K.)

4. Promover conforto.
Uma restauração fisiológica é
aquela cujo paciente não tem consciência
da mesma, seja em função ou não, não
causando nenhum desconforto ao
Fig. 02 - Harmonia dos elementos da oclusão, e paciente. Dessa maneira, a superfície
entre estes e o sistema neuromuscular. (desenho oclusal de uma restauração deve estar em
modificado de THOMAS, P.K.) harmonia com os movimentos mandibu-
lares, não induzindo nenhum estresse ao
3. Direcionamento das forças sistema neuromuscular, (fig. 05).
oclusais no longo eixo dos dentes.
A força lateral que incide sobre os
dentes é sempre destrutiva ao periodonto.
Quando os dentes naturais ocluem em
uma relação cúspide-fossa, os contatos
devem ser do tipo tripoidismo, (fig. 03).

Fig.. 03 - Côn-
tatos de tripoidis-
mo na oclusão
dentária. desenho
modificado de
Fig. 05 - Representação esquemática da estabili-
THOMAS, P.K.)
dade condilar e oclusal, proporcionando conforto
ao sistema neuromuscular. (desenho modificado
de THOMAS, P.K.)

5. Ausência de interferência
oclusal.
Dessa maneira, quando os dentes Assim que se inicia o movimento
posteriores ocluem numa relação cúspide- mandibular os dentes posteriores são
fossa, a força é direcionada no longo eixo separados devido à função harmoniosa
do dente (fig. 04). Assim, a força não será entre os dentes anteriores (guia anterior)
deflectiva, seja no sentido vestíbulo- e a fossa condilar. Os dentes posteriores
lingual ou mesio-distal. antagônicos não podem contatar durante
os movimentos mandibulares, essa
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 28

relação é chamada de desoclusão, (fig. 4. Força oclusal vertical.


06B). 5. Tripoidismo.
Já o contato das cúspides dos 6. Guia anterior - GA.
dentes posteriores durante os movimentos 7. Limitação da mesa oclusal.
mandibulares são referidos como 1. Oclusão em relação cêntrica é a
interferência oclusal, (fig. 06C). coincidência da relação cêntrica com a
intercuspidação bilateral simultânea e
uniforme, na oclusão dentária.
2- Estabilidade oclusal é obtida
através dos contatos dentários bilaterais
simultâneos, em RC e com a mesma
intensidade quando da oclusão dentária.
A B C Pequenos movimentos mandibulares
Fig. 06 - Relacionamento oclusal, A: ORC, B: desocluem os dentes posteriores.
desoclusão durantes os movimentos mandibu- 3- Relacionamento oclusal:
lares, C: interferência oclusal durante os 3.1- cúspide x fossa: é a relação de
movimentos mandibulares. (desenho modificado
um dente contra um dente, através da
de THOMAS, P.K.)
oclusão das cúspides funcionais dos
Oclusão orgânica dentes inferiores (vestibulares) ocluindo
nas fossas dos dentes superiores (fig. 07A
O homem adquire no decorrer da e 07C) e as cúspides funcionais dos
vida vários tipos de oclusão. No entanto, dentes superiores (palatinas) nas fossas
estas relações oclusais nem sempre são dos inferiores, (fig. 07B).
ideais para os dentes naturais, periodonto,
ATMs e demais componentes do
aparelho estomatognático.
Na busca de uma oclusão A
harmônica com a biologia dos tecidos e a
fisiologia do aparelho estomatognático,
Stallard, Stuart e Thomas baseados nos
trabalhos de McCollum, que a princípio
acreditava na oclusão balanceada,
estabeleceram os requisitos da oclusão
B
orgânica para dentes naturais.
Sendo aplicada pelos gnatologistas
na prática da reabilitação oral e no
tratamento da oclusão patológica, a
oclusão orgânica é também largamente C
reconhecida pelos periodontistas.
A oclusão orgânica é o arranjo
fisiológico da dentição. Fig.
Requisitos de uma oclusão 07 - Relacionamento oclusal cúspide x fossa: A -
orgânica: oclusão das cúspides funcionais dos dentes
1. Oclusão em relação cêntrica - ORC. inferiores (vestibulares) nas fossas dos dentes
2. Estabilidade oclusal - EO. superiores; B - oclusão das cúspides funcionais
3. Relacionamento oclusal.
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 29

dos dentes superiores (palatinas) nas fossas dos No quadro 01 observa-se a


inferiores; C- relação cúspide x fossa em OCR. comparação dos relacionamentos
A oclusão cúspide-fossa direciona oclusais, cúspide versus fossa e cúspide
as forças para o longo eixo dos dentes e é vesus crista marginal:
fisiológica (Fig. 08). Quadro comparativo dos tipos de oclusão
Cúspide- Cúspide-crista
fossa marginal
Fig. 08 - Direcionamento Localização Somente nas Cristas
das forças para o longo dos contatos fossas marginais e
eixo do dente em uma oclusais nos oclusais fossas oclusais
relação cúspide x fossa. antagonistas
(desenho modificado de Relação entre Um dente Um dente
THOMAS, P.K.) os dentes contra um contra dois
antagonistas dente dentes
Vantagens Forças Encontra-se
oclusais no em 95% dos
eixo médio adultos
longitudinal
3.2- Cúspide x crista marginal: do dente
Este tipo de oclusão é freqüente- Desvantagens Raramente é Impacções
encontrada alimentares e
mente encontrado nos dentes naturais em dentes deslocamento
(fig. 09A). naturais de dentes
Ao contrário da oclusão cúspide x Aplicações Em Na maioria
fossa, que é estável com o tripoidismo, na reabilitações das
oclusão cúspide x crista marginal tanto a orais restaurações
completas na prática
cúspide de contenção, como as cristas
diária
marginais tendem a se desgastar e a Quadro 01- Comparação dos relacionamentos
impactar alimentos no espaço interpro- oclusais.
ximal (fig. 09B), sendo potencialmente
destrutiva ao periodonto. 4- Força oclusal vertical na oclusão
dentária, é o contatar uniforme dos dentes
posteriores quando ocluem numa relação
cúspide fossa (Fig 10).
A Este relacionamento objetiva dire-
cionar a força oclusal no longo eixo
médio do dente, evitando sobrecarga late-
ral e produzindo uma relação fisiológica.

Fig. 10 - Força oclusal


vertical na oclusão dentária.
Fig. 09 - A: Relacionamento oclusal cúspide x (desenho modificado de
crista marginal; B: relação de um dente contra THOMAS, P.K.)
dois dentes, resultando em impacção alimentar e
injúrias ao periodonto. (desenho modificado de
THOMAS, P.K.)
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 30

Numa vista vestíbulo lingual, na


5- Tripoidismo é o contato tipo figura 14.A, os contatos na oclusão
tripé entre as cúspides funcionais e as cúspide-fossa são denominados A, B, C.
fossas antagonistas dos dentes em uma Sem o contato A ou C, a força oclusal
relação cúspide-fossa, (Fig. 11). pode ser direcionada próxima ao longo
Fig 11 - Dese- eixo do dente com grau de tolerância. No
nho esquema- entanto sem o contato B, a força oclusal é
tico do tripé na aplicada lateralmente, criando uma
fossa. (desenho oclusão patológica, logo o contato B é
modificado de
THOMAS,
extremamente importante (fig. 14.B).
P.K.).

A fossa é uma depressão criada por A B


C
três elevações e a cúspide toma a forma
de uma esfera. O contato entre estas é
similar ao de uma bola suportada por três
dedos, criando um tripé. Naturalmente, a A B
cúspide nunca toca o fundo da fossa, fig. Fig. 14 - Conatos na oclusão cúspide fossa, A:
12. pontos de contatos A, B e C; B: ausência do
contato B. (desenho modificado de THOMAS,
P.K.)

Onde ocorrer pontos de contato


versus superfície de contato, haverá um
aumento na eficiência de corte das
restaurações e proporcionará uma
desoclusão imediata, fazendo com que as
restaurações se tornem mais duradouras.
Fig. 12 - Representação esquemática do relacio- Já o contato entre duas superfícies
namento cúspide fossa (desenho modificado de
THOMAS, P.K.).
desgastadas tem o perigo potencial de
incluir força oclusal lateral, e são sempre
Esse relacionamento produz o deteriorantes.
máximo de estabilidade no sentido 6- Guia anterior, ocorre durante os
vestíbulo-lingual e mesio-distal, com o movimentos mandibulares, quando todos
mínimo contato o que evita a abrasão de os dentes posteriores se afastam, não
ponta de cúspide funcional, (fig. 13). contatando, até que entrem em oclusão no
final do ciclo mastigatório.
Na oclusão orgânica os dentes
anteriores protegem os posteriores e os
posteriores, os anteriores. É a chamada
oclusão mutuamente protegida.
O termo desoclusão, significando
separação, é utilizado em contraste com o
termo oclusão. Especificamente, desoclu-
Fig. 13: Representação esquemática do são significa que os dentes posteriores
tripoidismo, (desenho modificado de THOMAS, (que ocluem por meio das faces oclusais)
P.K.). são separados durante os movimentos
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 31

mandibulares pelos anteriores (que vez, o SNC envia uma mensagem ao


incisam por meio das faces incisais) e que músculo, e este desvia a mandíbula de
os anteriores são separados quando os sua trajetória fisiológica. Esta tendência é
dentes posteriores ocluem. Por tanto em particularmente aparente, no movimento
condições anatomo fisiológicas o que antecede o retorno da mandíbula para
indivíduo não oclui e incisa ao mesmo a posição fisiológica de fechamento.
tempo. O fato dos posteriores não 7-Limitação da mesa oclusal, em
contatarem nos movimentos mandibu- uma restauração, a mesa oclusal não deve
lares, mantém a superfície oclusal dos ser maior que a dimensão original do
posteriores sem facetas, conservando a dente natural, diretamente relacionada ao
oclusão estável, (fig. 15). dente antagonista, pois seu aumento
resulta em uma maior dificuldade em
direcionar a força oclusal no longo eixo
do dente, (Fig. 17).

Fig. - 15 Representação esquemática da 6


desoclusão dos dentes posteriores pela ação da 10
guia anterior. (desenho modificado de THOMAS,
P.K.)

Qualquer contato nos dentes poste-


riores feito durante o movimento mandi-
bular, é chamado interferência oclusal.
Quando esta interferência existe, a força
oclusal é aplicada lateralmente ao dente
sendo destrutiva ao periodonto, Fig. 16.
Fig. 17 - Limitação da mesa oclusal para melhor
direcionamento das forças oclusais no longo eixo
do dente. (desenho modificado de THOMAS,
P.K.)
Fig. 16 - Interferência
oclusal durante movimento Na superfície oclusal, cúspide,
mandibular. (desenho fossa e sulcos definidos proporcionam
modificado de THOMAS,
P.K.)
uma mastigação e desoclusão mais
efetivas.
Para o melhor entendimento de
todos estes fundamentos se faz necessário
o exercício de escultura pela técnica de
enceramento progressivo, para o que
deve-se primeiramente obter um modelo
Quando ocorre uma interferência de trabalho a partir da moldagem com
oclusal durante o ciclo mastigatório, esta alginato de um modelo padrão e montá-lo
é reconhecida pelos sensores proprio- em um articulador semi-ajustável.
ceptivos do periodonto (aferentes), e a
mensagem é transmitida ao SNC. Por sua Modelo de trabalho
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 32

Para a obtenção de restaurações


adequadas é fundamental um modelo de
trabalho de boa qualidade.
Requisitos de um modelo de
trabalho:
1. Abranger toda a arcada dentária.
2. Ausência de bolhas, principalmente Fig. 19 - Modelo de trabalho do arco dentário
no término cervical dos preparos. superior, com troquel recortado do dente 21.
3. Inexistência de distorções.
4. Permitir a obtenção de troqueis Moldagem do modelo padrão
removíveis e recortados, que facilite o
acesso á área cervical dos preparos Material e instrumental necessários,
dentários, durante os procedimentos (fig. 20):
laboratoriais de enceramento e - Modelos padrão da arcada dentária
selamento de borbo. - Alginato (hidrocolóide irreversível)
Troquel é a reprodução positiva da - Proporcionadores para o alginato
forma do dente preparado em material - Jogo de moldeiras com retenção
adequado, (figs. 18 e 19). Este material é - Cubeta de borracha
o gesso, pois possui: resistência, - Espátula para alginato
compatibilidade com todos os materiais
de moldagem, fácil vazamento, excelente
tempo de trabalho (pode ser trabalhado
em questão de horas), cor contrastante
com a cera e o metal, fácil recorte e
precisão dimensional (expansão
aproximada de 0,1%).

Fig. 20 - Material e instrumental necessários para


moldagem do modelo padrão.

As moldeiras utilizadas necessitam


de retenções para o material de
moldagem (fig. 21).

Fig. 18 - Modelo de trabalho do arco dentário


superior.

Fig. 21 - Moldeiras metálicas com retenção

O material de moldagem utilizado é


o alginato na proporção água/pó
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 33

recomendada pelo fabricante, manipulado


manualmente por 45 a 60 seg.
A estabilidade dimensional do
modelo de trabalho está diretamente
relacionada ao tempo de contato da
superfície do gesso com o molde, e à
expansão de presa do gesso, cujo controle
está no uso da correta proporção água/pó
recomendada pelo fabricante. Fig. 25 - Carregamento da moldeira previamente
selecionada com alginato.

Fig. 22 - Colocação da água proporcionada na


cubeta de borracha, antes da colocação do pó de Fig. 26 - posicionamento do modelo padrão sobre
alginato. a moldeira carregada com alginato, para a
obtenção do molde.

Vazamento do modelo de trabalho

Material e instrumental necessários:


- Gesso pedra especial, tipo IV
- Gesso pedra, Tipo III
- Pinos metálicos para troquel (um médio
para pré-molar e um grande para molar)
- Alfinetes de cabeça (quatro)
Fig. 23 - Manipulação do alginato por 45 seg., até - Vaselina
adquirir consistência cremosa. - Pincel nº 02
- Lâmpada a álcool com pavio
- Cera pegajosa (um bastão)
- Cubeta de borracha
- Espátula e faca para gesso
- Gotejador de cera.
1- Lavagem e secagem do molde.
2- Posicionamento e estabilização
dos pinos para troquel no molde:
centralizar o pino no molde do preparo
Fig. 24 - Colocação do alginato sobre os dentes com o chanfrado voltado para a proximal,
pilares com o dedo indicador.
tendo a extremidade inferior do pino em
nível do término cervical. Em caso de
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 34

preparos múltiplos, os pinos devem ser proporção recomendada pelo fabricante


paralelos entre si, para facilitar a remoção (qualquer alteração pode influenciar no
dos troqueis. As opções de fixação dos tempo de presa, porosidade, expansão de
pinos são: aparelho posicionador de pinos presa e dureza final), (fig. 30).
para troquel, cera pegajosa, cola
superbond e alfinetes (figs. 27 e 28).

Fig. 30 - Material e instrumental necessário para o


vazamento do modelo.
Fig. 27 - Posicionamento e estabilização dos
pinos para troquel sobre o molde dos dentes
preparados por meio de alfinetes.
A manipulação do gesso é manual
por 45 seg.
O vazamento do gesso sobre o
molde inicia-se no lado próximo aos
dentes preparados, fazendo com que o
gesso escoe de distal para mesial sempre
num único sentido. Utilizando-se de um
pincel, com a moldeira inclinada sobre
um vibrador, para auxiliar o escoamento
do gesso e evitar a inclusão de bolhas de
ar, que deverá apresentar ao final,
Fig. 28 - Centralização e posicionamento - altura aproximadamente 2,0 cm de altura. O
do pino no molde em relação à margem cervical. gesso especial não deve ser estendido em
direção ao palato ou região lingual, (figs.
31 e 32).

Fig. 29 - Fixação dos pinos aos alfinetes suportes


com cera pegajosa.

3- Vazamento da primeira camada Fig. 31 - Início do vazamento do gesso sobre o


de gesso pedra do tipo IV. molde pelo lado próximo aos dentes preparados.
Proporção água/pó: pesar 30 g. de
gesso pedra tipo IV e manipular na
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 35

Fig. 32 - Conclusão do vazamento da primeira Fig. 34 - Cera utilidade na extremidade dos pinos
camada de gesso.

Retenções com o próprio gesso ou 6- Vazamento da segunda camada


com alças metálicas devem ser de gesso tipo III.
confeccionadas com a finalidade de fixar Proporção água/pó: pesar 100 g. de
a segunda camada de gesso a ser vazada. gesso pedra tipo III e manipular na
Estas devem ser posicionadas antes da proporção recomendada pelo fabricante,
presa final do gesso, na mesial e na distal por 45 seg.
dos pinos metálicos, assim como entre
eles.
4- Isolamento dos pinos e gesso
adjacente: após a presa inicial da primeira
camada de gesso (30 min.), com vaselina
sólida e auxílio de um pincel isola-se os
pinos e o gesso na área correspondente
aos dentes preparados. Nesta etapa
removem-se os alfinetes, (fig. 33).

Fig. 35 - Conclusão do vazamento da segunda


camada de gesso.

Faz-se o vazamento do gesso sobre


a primeira camada, não cobrindo a cera
utilidade nas extremidades dos pinos
metálicos para facilitar a remoção dos
troquéis do modelo, (fig. 35).
Fig. 33 - Isolamento dos pinos e gesso adjacente,
observar as retenções com gesso.
7- Separação do modelo/molde e
recorte: após uma hora remove-se o
5- Cera utilidade na extremidade modelo do molde, na direção do longo
dos pinos: coloca-se uma porção de cera eixo dos dentes, evitando movimentos
utilidade nas extremidades dos pinos para laterais, o que levaria a possíveis fraturas
possibilitar a posterior localização e dos mesmos, (fig. 36).
acesso aos mesmos, (fig. 34).
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 36

Fig. 36 - Após a separação do molde e modelo, o


modelo padrão e o modelo trabalho em gesso.
9 Fig. 37 - Ajuste das guias condilares -parede
As características desejáveis de um mediana: 15º
modelo de trabalho em relação aos
troquéis são:
1- a superfície do gesso deve estar
lisa e resistente;
2- inexistência de bolhas,
distorções ou partes ausentes;
3- nítida separação entre o término
cervical do preparo e os tecidos
adjacentes, permitindo visualização da
margem cervical do prepara a ser
recortada.
9 Fig. 38 - Ajuste das guias condilares - parede
Montagem dos modelos de trabalho em superior: 30º.
articulador: 9 Controle anterior (guia incisal) - o
pino guia deve ser posicionado em
Material e instrumental necessários: relação ao ramo superior do articulador
- Articulador semi-ajustável no ponto zero, e em relação ao ramo
- Modelos de gesso inferior do articulador centralizado na
- Cubeta de borracha mesa incisal, obtendo-se assim o
- Espátula e faca para gesso paralelismo entre os ramos do ASA (fig.
- Espátula nº 7 ou 31 39).
- Pincel nº 02
- Quatro palitos de madeira ou hastes
metálicas
- Lâmpada a álcool com pavio
- Gesso pedra
- Vaselina sólida
- Cera pegajosa ou cola superbond
- Cera utilidade.

Ajuste do articulador:
9 Controle posterior (guias
condilares) -parede mediana: 15º, (fig. Fig. 39 - Ajuste do pino guia.
37) e parede superior: 30º, (fig. 38).
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 37

As placas de montagem devem ser


fixas nos ramos superior e inferior do
articulador, vaselinando as retenções das
mesmas com o uso de pincel e vaselina
sólida, (fig. 40).

Fig. 41 - remoção da porção de cera e recorte do


modelo, criando acesso lateral.

3- Fazer retenções nas bases dos


modelos superior e inferior (utilizando
Fig. 40 Fixação das placas de montagem dos
modelos.
faca para gesso ou disco cortante), e em
seguida, hidratá-los somente na região da
Na montagem dos modelos de base, o que permitirá uma fixação efetiva
trabalho de um caso clínico, faz-se com o gesso da montagem, (fig. 42).
inicialmente a montagem do modelo
superior na posição determinada pela
transferência com o arco facial, e em
seguida o modelo inferior, por meio do
registro maxilo-mandibular.
Em se tratando da montagem de um
modelo simulando uma condição clínica
para o desenvolvimento do exercício de
enceramento progressivo, monta-se
inicialmente o modelo inferior e, em
seguida, o superior.
Preparo dos modelos de trabalho Fig. 42 - Colocação de camada de cera sobre o
para a montagem: acesso lateral e confecção de retenções na base do
1- Remover a porção de cera modelo.
utilidade posicionada na extremidade dos
Montagem do modelo inferior
pinos para troquéis no modelo inferior;
2- Recortar o gesso, criando um 1- Pesar 100 g. de gesso pedra na
acesso lateral às extremidades dos pinos proporção água/pó recomendada pelo
cobrindo-os com uma camada de cera fabricante, manipular por 45 seg., e
utilidade para preservá-los após a colocar sobre a placa de montagem
completa montagem dos modelos, (fig. inferior e na base do modelo (figs 43 e
41); 44).
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Fig. 43 - Proporcionamento do gesso e água. Fig. 46 - Colocação do gesso sobre a placa de


montagem do modelo no articulador.

3- Com o auxílio de duas placas


metálicas, posicionar o modelo no sentido
antero-posterior, fazendo com que as
pontas das cúspides do terceiro molar e
do canino, toquem bilateralmente na
superfície da placa, que deve estar com
sua base devidamente apoiada na mesa de
trabalho, (fig. 47).

Fig. 44 - Manipulação do gesso e água em cubeta


de borracha.

2- Quando o escoamento do gesso


diminuir o suficiente para suportar o peso
do modelo, este deve ser centralizado,
isto é, sua linha média coincide com a
posição do pino guia incisal. Deve ser
colocado exatamente sobre a placa de
montagem, não tomando posição anterior
Fig. 47 - Posicionamento das placas para auxílio
ou posterior, o que poderá dificultar a
na montagem do modelo inferior.
montagem do modelo superior, (figs. 45 e
46. 4- Regularização (acabamento) do
contorno do gesso, deixando visível
lateralmente a cera utilidade que cobre a
extremidade dos pinos para troquéis.

Montagem do modelo superior

1- Após a montagem do modelo


inferior, deve-se ocluir o modelo superior
da melhor forma possível,
particularmente do lado a ser encerado.
Fig. 45 - Colocação do gesso sobre a base do Observar a relação do canino do lado em
modelo. questão, para que seja possível uma
desoclusão imediata.
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2- Verificar a existência do espaço 4- Proporcionar o gesso pedra na


para a colocação do gesso de fixação quantidade suficiente, na proporção
entre o modelo e a placa de montagem do água/pó recomendada pelo fabricante e
articulador, (fig. 48). manipular por 45 seg., colocar sobre a
base do modelo e fechar, em seguida o
ramo superior do articulador. Neste
momento, é importante estabilizar os
côndilos nas paredes superior, posterior e
mediana das guias condilares, (figs. 51 e
52).

Fig. 48 - Verificação da relação dos caninos e do


espaço entre o modelo superior e a placa de
montagem, para colocação do gesso de fixação.

3- Fixar os modelos entre si com


palitos de madeira e cera pegajosa e
hidratar a base do modelo, (fig. 49 e 50).
Fig. 51 - Colocação do gesso sobre o modelo e a
placa de montagem.

Fig. 49 - Fixação dos modelos.

Fig. 52 - posicionamento e contenção do ramo


superior do articulador sobre o gesso de fixação,
observando o contato do pino guia na mesa
incisal.

5- Fazer a regularização do
contorno do gesso de fixação.
6- Após a presa do gesso, remover
os palitos de madeira que fixavam os
modelos. Certifique-se de que a
Fig. 50 - Colocação de algodão molhado para montagem esteja correta. Isto implica na
umedecer a base do modelo superior. estabilidade da oclusão dos modelos, com
contatos bilaterais simultâneos e sem
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 40

existência de discrepâncias laterais, e duplicação exata do padrão de cera.


com os côndilos estáveis na cavidade Portanto, qualquer erro cometido nesse
condilar do articulador. Desta maneira, os padrão, será transferido à restauração
modelos estarão prontos para o início do fundida.
exercício de enceramento progressivo, Há duas formas de se confeccionar
(figs. 53, 54 e 55). um padrão de cera:
Técnica Direta onde o padrão é
obtido diretamente no preparo dentário,
na boca do paciente.
Técnica Indireta onde o padrão é
obtido em laboratório sobre um troquel.
A vantagem desta técnica é ter fácil
acesso a todos os bordos marginais do
preparo, facilitando a obtenção de um
enceramento de boa qualidade.
Fig. 53 - remoção dos palitos de fixação.
Cera para fundições odontológicas

Composição: parafina, goma


dammar, cera carnaúba, excipientes,
corantes.
Classificação quanto ao grau de
dureza (especificação Nº 4 da
ANSI/ADA):
9 Tipo I ou média - empregada na
técnica indireta.
Fig. 54 - Vista oclusal dos modelos montados em 9 Tipo II ou macia - utilizada em
ASA. técnicas indiretas para a confecção de
restaurações fundidas.
Características desejáveis:
Estabilidade dimensional, reprodu-
ção fiel de detalhes, ausência de resíduos
após sua eliminação no processo de
fundição e cor contrastante com o
troquel.
Durante a confecção do padrão de
cera aparecem tensões internas na cera
Fig. 55 - Verificação do espaço entre os dentes devido ao aquecimento e à manipulação.
antagonistas, no modelo de trabalho montado em
oclusão em relação cêntrica.
Quando essas tensões são liberadas, o
resultado é a distorção que se traduz em
Padrão de cera ajuste deficiente da restauração. Para
manter o mínimo de distorção deve-se:
O padrão de cera é o precursor da 9 plastificar a cera na menor
restauração fundida que será instalada no temperatura possível;
preparo dentário. Essa restauração, obtida 9 acrescentá-la em finas camadas
no processo de inclusão e fundição, é a circundando o troquel;
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 41

9 obtido o padrão, incluir tão rápido 2. Utilizando a técnica de Nylon


quanto possível. (pincel), adiciona-se resina acrílica
Fases de transição da cera do estado nas paredes oclusal ou incisal e axiais
líquido para o estado sólido: dos dentes a serem encerados com
1ª- Líquida de 57ºC a 45º C. uma espessura uniforme de 0,5mm
2ª- Líquida /plástica. (não estendendo sobre o término
3ª- Plástica: de 45ª a 25ª C (contração). cervical do preparo), (figs. 57 e 58).
4ª- Plástica /sólida.
5ª- Sólida (temperatura ambiente): 20ºC a
23º C.

Confecção do casquete

O primeiro passo na obtenção de


um padrão de cera é a confecção de um
fino casquete de resina sobre o troquel.
O casquete de resina acrílica
Fig.57 - Potes dappen com resina para confecção
fornece uma base para a escultura do dos casquetes.
padrão de cera, evitando a distorção,
facilitando o manuseio pelo aumento da
resistência e simplificando a escavação.
Material e instrumental necessários:
- 02 Pincéis (nº 0 e nº 1)
- 02 Potes dappen
- Lapiseira
- Micromotor e peça reta
- Mandril longo
- Discos de lixa Fig. 58 - Confecção dos casquetes em resina.
- Vaselina
- Resina acrílica ativada quimicamente 3. O casquete deve ser removido dos
(duralay ou similar). troqueis antes da polimerização
Técnica: completa da resina, evitando assim
1. Isolar com vaselina os troquéis e uma retenção indesejada.
estruturas adjacentes dos dentes a 4. Acabamento do casquete com discos
serem encerados, (fig. 56). de lixa, (fig. 59).

Fig. 56 - Isolando o troquel com vaselina. Fig. 59 - Casquetes em resina concluídos, com
limite aquém do término cervical do preparo.
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5. Verificar a existência de espaço entre maneira ocupará o espaço da papila


o casquete e o antagonista para o gengival. A superfície axial da coroa, da
enceramento da superfície oclusal. cervical ao ponto de contato, deve ser
plana ou ligeiramente côncava, com o
Contornos axiais objetivo de não diminuir o espaço da
papila.
Serão estabelecidos os contornos Os contatos proximais entre os
vestibular, lingual e proximais do padrão dentes atuam como estabilizadores, sendo
de cera. responsáveis pela continuidade do arco
Material e instrumental necessários: dental e pela prevenção de movimentação
- Instrumental P.K.T. dentária individual. Quando os dentes
- Lâmpada a álcool com pavio ocluem durante a função há sempre um
- Espátula Lecron leve movimento, porém, o contato
- Cera pegajosa contínuo mantém os dentes em suas
- Cera para escultura (4 cores) posições próprias, auxiliando assim a
- Lapiseira manutenção da oclusão fisiológica
- Pincel corretamente estabelecida.
- Talco Outra função da relação de contato
- Vaselina é a proteção da papila interdental contra o
- Meia de seda trauma mastigatório, função que é
- Esmalte incolor. mantida pela continuidade do arco dental.
Técnica: Quando não existe essa relação
Inicialmente, remover o casquete de harmônica de continuidade, os alimentos
resina e isolar o troquel e as áreas além de serem desviados para as faces
adjacentes com vaselina. Reposicioná-lo vestibular e lingual, são forçados em
e iniciar a adição de cera sobre o mesmo, grande parte entre os dentes ocasionando
estabelecendo os contornos axiais. um trans-torno denominado impacção
A cera deve estar entre a lâmpada a alimentar.
álcool e o modelo a ser encerado. Desta Em 1979, THOMAS, P.K. numa
maneira o instrumento virá da fonte de análise clínica, detectou uma maior
calor para a cera e daí mais profundidade na sondagem dos dentes
eficientemente para o modelo. restaurados com coroas completas,
Nos dentes posteriores, o ponto comparando aos dentes naturais. Isto foi
mais proeminente da face vestibular está atribuído a uma tendência de se dar
situado no terço cervical; e na face contorno excessivo às restaurações, além
lingual essa proeminência está localizada de má higiene e maloclusão.
no terço cervical nos superiores e no Para a adição de cera referente ao
terço médio nos inferiores. contorno dental, deve-se ter em mente
Os contatos proximais dos dentes que os instrumentos PKT se aquecem e se
posteriores se localizam no terço oclusal resfriam rapidamente. Desta forma deve-
da coroa, ligeiramente desviados para a se aquecer o instrumento (PKT 1 ou 2)
vestibular, com exceção do contato entre através da chama, concentrando o calor a
o primeiro e o segundo molar superior aproximadamente 1 cm da extremidade,
que está no terço médio e centralizado. O (Fig. 60).
contato não deve ser de um ponto e nem
tão extenso para a cervical, pois desta
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 43

Técnica de confecção do pôntico:


Após a conclusão do enceramento
Fig.60 - do terço médio-cervical dos dentes
Posicionamento pilares, isolar com vaselina a área do
do instrumento rebordo alveolar do modelo correspon-
na chama dente ao dente ausente.
Plastificar uma das extremidades do
bastão de cera, evitando o contato direto
do mesmo com a chama da lâmpada a
álcool, o que causaria alteração dos
componentes da cera.
Em seguida, encosta-se a parte Pressionar a cera plastificada sobre
convexa e aquecida do instrumento na o rebordo alveolar do modelo previa-
cera de cor azul, a qual formará uma gota mente isolado, (fig. 62).
que será depositada no devido local pela
aplicação correta da ponta não aquecida
do instrumento (se esta for aquecida
diretamente, a cera tende a escoar para a
haste e não para a extremidade). Pode ser
necessário passar o instrumento através
da chama antes de aplicar nova porção de
cera no modelo, (fig. 61).

Fig. 62 - Pressionando a cera plastificada sobre


rebordo alveolar do modelo.

Remover o excesso do bastão de


cera ao nível do plano oclusal dos
padrões de cera dos dentes adjacentes.
Conformar os contornos vestibular
e lingual à semelhança dos padrões de
Fig. 61 - Acréscimo de cera sobre o casquete de cera dos dentes adjacentes, (fig. 63).
resina, até atingir o término cervical do preparo.

Uma forma confiável para julgar o


adequado contorno axial, vestibular e
lingual do padrão de cera, é a observação
das superfícies correspondentes dos
dentes adjacentes e do lado oposto. Ou
ainda, quando o operador observar o Fig. 63 - Vista oclusal do contorno do pôntico e
dente encerado no modelo por uma vista dentes pilares (terço médio-cervical).
oclusal não se deve visualizar a gengiva
marginal livre que o contorna, quando O longo eixo axial do pôntico, tanto
houver excesso, este deve ser retirado no sentido mesio-distal quanto no
com o instrumento PKT 4.
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 44

vestíbulo- lingual, deve ser paralelo ao Durante todo o exercício manter o


eixo axial dos dentes adjacentes. pino guia incisal em contato com a mesa
Deve ser observado entre o encera- guia anterior.
mento até aqui realizado e a superfície Acrescenta-se uma quantidade
oclusal antagonista, um espaço míni-ma de cera para cada passo, e
interoclusal de aproximadamente 2 mm, o sempre conferindo as excursões
que permitirá a conformação da morfolo- proporcionadas pelo articulador. Ao se
gia oclusal do enceramento, (fig. 64). acrescentar cera para formar as cúspides
procurar sempre formar superfícies
convexas.
Objetivando um melhor
aprendizado dos componentes da
superfície oclusal dos dentes, a escultura
é feita com ceras de cores diferentes.
Enceramento da superfície oclusal
dos dentes inferiores:
Antes de se iniciar o enceramento
Fig. 64 - Observação do espaço interoclusal. oclusal propriamente dito, deve-se
observar o espaço existente entre a
Evitar o fechamento do espaço superfície da cera onde se localizará a
inter-proximal, deixando que ocorra a fossa do inferior, e a cúspide funcional
união da cera apenas na região dos (contenção cêntrica) palatina superior,
contatos proximais dos dentes. Esse quando os modelos estão ocluídos. Este
espaço livre abaixo do contato dentário é espaço deve ser de 2 mm, o ideal para
imprescindível em qualquer trabalho permitir o levantamento correto dos
restaurador, para acomodar a papila cones e uma escultura adequada, a fim de
gengival sem compressão e também para que não haja possibilidade de perfurações
permitir a higienização pelo paciente, dos elementos fundidos durante os ajustes
evitando o acúmulo de placa em região oclusais.
de difícil limpeza (área de “col”), o que No enceramento de casos clínicos
pode trazer como conseqüência a aceita-se como mínimo indispensável, a
instalação da doença periodontal. distância de 1,5 mm entre dentes
preparados e antagonistas, para que seja
Normas gerais possível a obtenção das relações oclusais
A disposição das estruturas oclusais corretas.
é de fundamental importância na Observa-se na figura 65, que os
manutenção da função. contatos oclusais das cúspides funcionais
A cúspide é a porção mais alta do (vestibulares inferiores e palatinas
dente e a fossa é a mais baixa. A crista superiores) são correspondentes às
marginal encontra-se entre estas duas demarcações anotadas nas respectivas
estruturas. Os sulcos de desenvolvimento fossas oclusais antagonistas.
vestibulares e linguais terminam em um
nível abaixo das cristas marginais.
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 45

do cone é feito utilizando-se o


instrumento PKT 1 ou 2 (gotejador),
sempre procurando um apoio efetivo da
mão sobre os dentes próximos, (fig. 66 A
e B e 67). O cone deve ser dirigido para o
fundo da fossa antagonista. Nesta fase, a
ponta do cone deve tocar a cera azul que
identifica a fossa superior e é terminado
com o instrumento PKT 4, estabelecendo
Fig. 65 - ilustração do tripoidismo obtido no sua forma final, (fig. 66B).
relacionamento cúspide-fossa dos dentes
antagonistas.

Após o entendimento correto das


relações cúspide-fossa, localizar no
modelo superior antagonista ao
enceramento, as fossas que receberão as
cúspides funcionais inferiores e demarcá-
las com uma gota de cera azul. Em
seguida, com lápis de ponta fina e com Fig. 66 - Ilustração: A: levantamento e B:
acabamento do cone vestibular do 2º pré-molar
base na figura 65 delimitar os contatos de inferior.
cada fossa, assim como de cada cúspide
funcional superior.
Depois de certificar-se do
posicionamento correto dos pontos,
pincela-se uma fina camada de esmalte
incolor sobre a superfície destes e dos
demais dentes íntegros dos modelos,
evitando assim o desgaste dos mesmos
pelo contato, durante os vários
movimentos funcionais a serem
realizados com o articulador. Fig. 67 - Levantamento do cone.

Levantamento dos cones

Antes de se iniciar o levantamento


dos cones propriamente dito, é
conveniente aplicar uma fina camada de
cera pegajosa, sobre as superfícies onde
eles serão colocados, para evitar que se
soltem posteriormente, utiliza-se para
isso a espátula Lecron.
Cones vestibulares inferiores: Fig. 68 - Direcionamento do cone para o funda da
O levantamento dos cones é fossa antagonista.
iniciado pela cúspide vestibular do
segundo pré-molar inferior, utilizando Nas relações laterais de trabalho, a
cera marfim ou amarela. O levantamento ponta do cone deve descrever uma
trajetória mesial à ponta da cúspide do
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 46

segundo pré-molar superior sem


interferência. Também não deve haver
contato no movimento protrusivo.
Os cones vestibulares do primeiro
molar inferior são erguidos em seguida,
ocluindo nas suas respectivas fossas. Fig. 70 - Desenho esquemático dos cones
Durante a protrusão e latero-protrusão, vestibulares inferiores ocluídos.
deverá haver espaço adequado em relação
aos antagonistas. Na lateralidade, a ponta
da cúspide mesio-vestibular do primeiro
molar superior deve passar eqüidistante
dos cones mesio-vestibular e vestíbulo-
mediano do primeiro molar inferior. Da
mesma forma, a ponta da cúspide disto-
vestibular do primeiro molar superior
deve passar entre os cones vestíbulo-
mediano e disto-vestibular do primeiro
molar inferior. Fig. 71 - Cones vestibulares inferiores ocluídos.
Os cones vestibulares do segundo
molar inferior seguem as mesmas Observa-se que todos os cones
diretrizes observadas para o primeiro estão colocados ligeiramente para distal,
molar. para permitir a relação dente a dente e o
Os cones correspondentes às contato cúspide-fossa.
cúspides disto-vestibulares dos molares Ao final do levantamento dos cones
inferiores geralmente têm uma inclinação correspondentes às cúspides funcionais
para distal mais acentuada que as demais, dos dentes inferiores, estes deverão estar
a fim de que se consiga estabelecer direcionados para as suas respectivas
satisfatoriamente a relação cúspide-fossa fossas antagonistas, de acordo com o
desejada. quadro 2:
A figura 69 mostra a posição dos CÚSPIDE FOSSA
cones que formarão as cúspides Vestibular do 2º pré- Mesial do 2º pré-molar
funcionais inferiores. molar inferior superior
Mesio-vestibular do Mesial do 1º molar
1º molar inferior superior
Vestibulo-mediana Central do 1º molar
do 1º molar inferior superior
Disto-vestibular do 1º Distal do 1º molar
Fig. 69 - Desenho esquemático dos cones molar inferior superior
vestibulares inferiores. Mesio-vestibular do Mesial do 2º molar
2º molar inferior superior
Estes mesmos cones são mostrados Vestibulo-mediana Central do 2º molar
nas figuras 70 e 71, em relação aos do 2º molar inferior superior
antagonistas. Disto-vestibular do 2º Distal do 2º molar
molar inferior superior
Quadro 2 - Relacionamento cúspide-fossa dos
cones vestibulares.
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 47

Sempre que possível, deve-se fazer movimentos de lateralidade direita e


com que as cúspides funcionais esquerda, protrusão e latero-protrusão,
(vestibulares inferiores e palatinas (fig. 72).
superiores) ocluam nas fossas dos dentes
antagonistas. Desta maneira, se
estabelece os contatos do tripoidismo
com os vértices das vertentes triturantes
repousando sobre os sulcos, sem tocá-los
o que evita a abrasão. As relações
cúspide-fossa permitem o direcionamento
das forças oclusais no sentido do longo
eixo dos dentes, evitando sobrecarga no
sentido lateral e permitindo ainda um
travamento vestíbulo-lingual e mésio- Fig. 72 - Verificação da desoclusão dos cones
distal que dará estabilidade à oclusão vestibulares durante os movimentos excursivos.
nessas direções.
Durante o movimento de laterali-
No enceramento de um caso clínico
dade, deve-se observar o trajeto em
ocorre freqüentemente a dificuldade de se
relação aos sulcos dos dentes
obter a relação ideal, cúspide ocluindo na
antagonistas. Neste movimento ocorre a
fossa. Nestas ocasiões, procura-se obter
desoclusão pelos caninos, sendo estes os
uma relação cúspide embrasura,
únicos dentes a tocarem, e as pontas dos
estabelecendo-se dois pontos de contato,
cones deverão estar a uma distância de
um em cada crista marginal (mesial e
0,5 mm a 1,0 mm dos antagonistas, e
distal), sempre que o elemento
devem sempre passar à mesial das pontas
antagonista for uma prótese fixa onde
das cúspides superiores.
esta união é soldada. Quando os
No movimento protrusivo a
antagonistas forem dentes naturais ou
desoclusão é efetuada pelos dentes
mesmo peças protéticas unitárias, o cone
anteriores, de tal forma que somente eles
deve ser desviado o suficiente para ocluir
se tocam, devendo os posteriores estar
em fossa, mesmo que isto seja obtido às
separados cerca de 0,5 mm a 1,0 mm,
custas de uma modificação na anatomia
onde é verificada a curva de Spee, (fig.
dentária, pois na mastigação de alimentos
73).
fibrosos a cúspide pode agir como cunha,
causando sua impacção no espaço
interproximal.
Outra situação que ocorre com
relativa freqüência, consiste na
dificuldade de colocação do cone
correspondente à cúspide disto-vestibular
dos molares, nos enceramentos de casos
clínicos. Isto ocorre geralmente pela falta Fig. 73 - Desenho esquemático dos cones
de espaço mesio-distal, sendo vestibulares acompanhando a curva de Spee
aconselhável a colocação de apenas duas
cúspides vestibulares.
Após o levantamento de todos os Cones linguais inferiores:
cones vestibulares, são feitos os
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 48

O passo seguinte consiste no cúspides linguais inferiores, dividindo a


levantamento dos cones correspondentes distância entre elas. A ponta da cúspide
às cúspides linguais inferiores, disto-palatina do 1º molar superior deve
utilizando-se os mesmos instrumentos. passar distalmente à ponta do cone
Inicia-se o levantamento dos cones correspondente à cúspide disto-lingual do
pelo 2º pré-molar que dependendo de sua 1º molar inferior.
forma, pode ter uma ou duas cúspides Os cones do 2º molar inferior são
linguais. Justifica-se a presença de duas colocados na mesma posição e nas
cúspides linguais quando elas forem mesmas relações que os do 1º molar
necessárias para a obtenção de uma inferior, (fig. 74).
contenção efetiva. As cúspides do 2º pré- Observa-se que os cones linguais
molar são mais altas do que as do 1º pré- inferiores sempre estão localizados à
molar e menores do que as dos molares. mesial das cúspides palatinas superiores.
O que se percebe é que as cúspides Este posicionamento garante a liberdade
vestibulares inferiores são mais altas que de movimentos laterais em trabalho e
as linguais nos pré-molares e que esta balanceio, sem que haja interferências
diferença vai diminuindo gradativamente oclusais.
à medida que se dirige para os molares, Após o levantamento de todos os
devido à menor inclinação para lingual cones, e mantidas as relações citadas,
que estes dentes apresentam no arco executa-se novamente os movimentos de
dentário, (fig. 74). lateralidade e protrusão observando a
passagem dos cones que devem estar
cerca de 1 mm de distância dos
antagonistas, (fig. 75).

Fig. 74 - Desenho esquemático dos cones linguais


e seu posicionamento em relação aos vestibulares.

Na verificação das relações


protrusiva e lateroprotrusiva deve haver
um bom espaçamento sob a ponta da
cúspide palatina do 2º pré-molar superior.
Durante a lateralidade, a ponta da cúspide
palatina do segundo pré-molar superior Fig. 75 - Desenho esquemático do relaciona-
deve passar sobre ou por distal das pontas mento dos cones durante os movimentos
das cúspides linguais do 2º pré-molar excursivos, A: lateralidade e B: protrusão.
inferior.
Os cones para as cúspides linguais Quando todos os cones estiverem
do 1º molar inferior são agora colocados, devidamente colocados, pode-se notar
de tal forma que haja espaço entre eles e que os cones linguais dos molares
as pontas de cúspides palatinas inferiores são ligeiramente mais curtos do
superiores, durante os movimentos que os vestibulares, caracterizando a
protrusivo e lateroprotrusivo. No curva lateral de Wilson, (fig. 76).
movimento lateral de trabalho, a ponta da
cúspide mesio-palatina do 1º molar
superior deve passar entre os cones das
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 49

molar inferior deverá estabelecer um


ponto de contato (1) com a crista
marginal mesial do 2º pré-molar superior.
Este e os demais pontos devem ser
Fig. 76 - Desenho esquemático da curva de mantidos em destaque em baixo relevo,
Wilson (desenho modificado de THOMAS, P.K.). para uma melhor visualização e
desenvolvimento do enceramento.
O estudo das posições dos cones, e Em seguida, partindo do cone cor-
conseqüentemente das cúspides, é respondente à cúspide lingual, faz-se a
importante na confecção de núcleos aresta longitudinal distal e a crista
intrarradiculares seja na clínica ou no marginal distal que deverá corresponder
laboratório, pelo conhecimento que posteriormente, à área de contato
propicia ao profissional no que diz proximal com o dente vizinho. Nesta
respeito ao direcionamento dos núcleos, fase, deve-se dar atenção quanto à
em função das fossas dos dentes existência ou não de duas cúspides
antagonistas. Planeja-se assim, a oclusão linguais. Em caso afirmativo, esculpir
ainda na fase de preparo dos retentores, distintamente as arestas longitudinais de
objetivando uma função efetiva. cada uma. A crista marginal distal do 2º
pré-molar inferior estabelece um ponto de
Perímetro oclusal
contato oclusal (2) com a aresta
A colocação das arestas longitudinal distal da cúspide palatina do
longitudinais que determinarão o 2º pré-molar superior. Ainda a aresta
perímetro oclusal, ou seja, a superfície longitudinal distal da cúspide vestibular
mastigatória de cada dente, é iniciada do 2º pré-molar inferior oclui (3) com a
pela ponta do cone correspondente à vertente triturante mesial da cúspide
cúspide vestibular do 2º pré-molar vestibular do 2º pré-molar superior.
inferior esquerdo, em direção mesial A figura 78 mostra a superposição
(sentido horário), reconstituindo a crista esquemática do dente superior e dente
marginal e o contato proximal com o 1º inferior, e as respectivas
pré-molar, seguindo até atingir o cone correspondências dos contatos obtidos.
correspondente à cúspide lingual do
mesmo dente. Isto é feito utilizando o Fig. 78 - super-
instrumento PKT 2 (gotejador), com cera posição do esque-
azul, (fig. 77). ma correspon-
dente ao dente
superior e dente
Fig. 77 - Desenho inferior, (desenho
esquemático do modificado de
posicionamento do THOMAS, P.K.)
gotejador para o
início do encera-
mento do perímetro
Deve ser dada atenção especial a
oclusal.
esta fase para que não ocorra
inadvertidamente o aumento, pela
deposição de cera, ou a diminuição, pelo
Nesta fase, a aresta longitudinal
aquecimento excessivo do instrumento,
mesial da cúspide vestibular do 2º pré-
da altura dos cones. A ponta do cone em
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 50

cera marfim ou amarela deverá estar No final desta fase, os dentes


sempre visível entre as arestas deverão estar individualizados e
longitudinais em cera azul. apresentar 17 pontos de contatos oclusais
É importante observar que os já estabelecidos, delimitando assim, a
pontos de contatos oclusais das arestas superfície triturante dos dentes
longitudinais, ocorrem geralmente a esculpidos, (fig.79).
pouca distância do vértice da cúspide
vestibular inferior (cúspide funcional),
enquanto o contato da crista marginal
ocorre geralmente na direção do sulco
principal mesio-distal.
Estas observações estabelecem de
início os pontos de contatos oclusais
Fig 89 - Desenho esquemático das arestas
necessários para se conseguir o longitudinais e cristas marginais delimitando o
tripoidismo ao final do trabalho de perímetro oclusal.
enceramento. Com isto, se consegue de
forma precisa, o perímetro oclusal dos 1- A aresta longitudinal mesial da
dentes, sem a necessidade de alterar cúspide vestibular do 2º pré-molar
posteriormente a morfologia oclusal, em inferior oclui com a crista marginal
busca dos contatos. É prática freqüente mesial do 2º pré-molar superior.
dos iniciantes em enceramento 2- A crista marginal distal do 2º
progressivo a tendência de diminuir o pré-molar inferior oclui com a aresta
perímetro oclusal, por não terem ainda longitudinal distal da cúspide palatina do
uma visão completa do trabalho 2º pré-molar superior.
concluído. 3- A aresta longitudinal distal da
Iniciando pela aresta longitudinal cúspide vestibular do 2º pré-molar
mesial da cúspide mesio-vestibular do 1º inferior oclui com a vertente triturante
molar inferior, repete-se o mesmo mesial da cúspide vestibular do 2º pré-
procedimento executado para o 2º pré- molar superior.
molar, obtendo-se para cada cúspide 4- A aresta longitudinal mesial da
funcional inferior (vestibular) dois pontos cúspide mésio-vestibular do 1º molar
de contato, um em cada aresta inferior oclui com a crista marginal
longitudinal, e um em cada crista mesial do 1º molar superior.
marginal distal. Deve-se numerá-los 5- A crista marginal distal do 1º
seguindo o mesmo critério anterior, a molar inferior oclui com a aresta
partir da cúspide mesio-vestibular. longitudinal distal da cúspide disto-
Repetir o mesmo procedimento palatina do 1º molar superior.
para o 2º molar. 6- A aresta longitudinal distal da
Os pontos de contatos oclusais das cúspide disto-vestibular do 1º molar
arestas longitudinais distais das cúspides inferior oclui com a crista marginal distal
disto-vestibulares dos 1º e 2º molares do 1º molar superior.
inferiores, são difíceis de serem obtidos 7- A aresta longitudinal mesial da
nesta fase, devendo ser conseguidos no cúspide disto-vestibular do 1º molar
final, quando as cúspides estiverem inferior oclui com a vertente triturante
compostas de todas as suas estruturas. distal da cúspide disto-vestibular do 1º
molar superior.
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8- A aresta longitudinal distal da das superfícies oclusais, são importantes


cúspide vestíbulo-mediana do 1º molar por serem as principais lâminas de corte
inferior oclui com a vertente triturante dos dentes.
mesial da cúspide disto-vestibular do 1º
molar superior. Vertentes lisas das cúspides
9- A aresta longitudinal mesial da
cúspide vestíbulo-mediana do 1º molar O passo seguinte consiste em
inferior oclui com a vertente triturante formar as vertentes lisas, vestibulares e
distal da cúspide mésio-vestibular do 1º linguais das cúspides. Começando pela
molar superior. vertente lisa vestibular do 2º pré-molar,
10- A aresta longitudinal distal da deposita-se cera vermelha sobre a
cúspide mésio-vestibular do 1º molar superfície vestibular do cone. Utiliza-se o
infe-rior oclui com a vertente triturante instrumento PKT 2 de tal forma que a
mesial da cúspide mésio-vestibular do 1º cera preencha aproximadamente 1/3 da
molar superior. dimensão mésio-distal do dente (Fig. 80).
11- 12- 13- 14- 15- 16- 17-
correspondem respectivamente a 4- 5- 6-
7- 8- 9- e 10 só que obtidos no 2º molar Fig. - 80 - Dese-
nho esquema-
inferior.
tico da formação
Deve-se confirmar a obtenção de da vertente lisa
todos estes pontos com o uso de estearato pela deposição
de zinco ou talco. Pincela-se de cera.
cuidadosamente o pó sobre as superfícies
oclusais fecha-se em seguida o
articulador suavemente até atingir a Utilizando o instrumento PKT 4,
dimensão vertical de oclusão pré- todo cuidado deve ser tomado, para não
estabelecida para este enceramento, pelo derreter o cone original à medida que a
contato entre o pino guia do articulador cera é esculpida uniformemente com a
com a mesa guia anterior do mesmo. superfície da cera, (Fig. 81).
Deve-se encontrar todos os pontos
desejados, visíveis pela remoção do pó
Fig. - 81 Dese-
utilizado na região do contato. Onde isto nho esquema-
não ocorrer, acrescentar uma pequena tico do acaba-
porção de cera até que se consiga o mento da ver-
contato. O contato em excesso tente lisa, (dese-
apresentará amassamento da área, nho modificado
de THOMAS,
devendo a mesma ser retocada, até a P.K.).
centralização do ponto pela remoção da
cera excedente.
Nesta fase, em todos os
movimentos excêntricos da mandíbula, o Segue-se esculpindo a vertente lisa
vértice de cada cúspide deverá passar lingual do 2º pré-molar, e a mesma
sem contatar as arestas longitudinais seqüência deve ser obedecida para os
antagonistas. molares.
As cristas marginais e arestas
longitudinais que delimitam o perímetro
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É interessante observar que as Convém lembrar que no encera-


vertentes lisas linguais são sempre mento progressivo as características
menores que as vestibulares, (fig. 82). anatômicas do 1º molar inferior são em
tudo semelhantes às do 2º molar inferior,
sempre valendo como referência os
dentes homônimos do lado oposto.

Cristas transversais oblíquas e vertentes


triturantes

São elevações que se estendem das


Fig .82 - Desenho esquemático das vertentes lisas pontas das cúspides aos sulcos principais
concluídas.
mésio-distais. Possuem forma triangular
Nesta fase, não há nenhum contato com o vértice na ponta da cúspide e a
a ser obtido, mas muito cuidado deve ser base no sulco projetado, tendo a forma
tomado para que os contatos já existentes arredondada ou convexa em todos os
sejam mantidos. Nas posições sentidos.
excêntricas, não deve haver nenhum São também conhecidas por cristas
contato. triangulares e compõem-se de duas
O contorno externo de cada dente vertentes uma mesial e outra distal.
deverá ser completado com cera verde, Utiliza-se o instrumento PKT 2 e
iniciando-se pela face vestibular do 2º cera vermelha para a sua formação.
pré-molar, seguida da face lingual do Inicia-se a escultura pela crista
mesmo dente e assim por diante, transversal correspondente à cúspide
utilizando para isso o instrumento PKT 2. vestibular do 2º pré-molar inferior, sendo
Neste momento é preciso dedicar especial que suas bordas mesial e distal
atenção ao espaço interproximal, onde as delimitarão, num passo posterior, os
ameias linguais devem ser mais amplas sulcos secundários. Esta vertente
do que as vestibulares. triturante vestibular deverá estabelecer
O contorno externo deve ser devi- um ponto de contato com a crista
damente regularizado com o instrumento secundária mesial da cúspide palatina do
PKT 4, seguindo as inclinações próprias 2º pré-molar superior.
de cada dente. Utiliza-se sempre como Segue-se, esculpindo a crista trans-
termo de comparação, os dentes versal da cúspide mesio-lingual, que não
semelhantes do lado oposto do arco. apresenta nenhum contato, e a cúspide
Notar que sempre existe um sulco de disto-lingual que irá estabelecer um ponto
direção vestibular ou lingual entre duas de contato com a aresta longitudinal
cúspides, que deve ser devidamente mesial da cúspide palatina do 2º pré-
esculpido. molar superior. Quando a cúspide disto-
Quando esta fase estiver terminada lingual não existe, a situação é transferida
sem nenhum toque nos movimentos para a cúspide lingual presente, tal como
excêntricos e com todos os pontos ocorre no 1º pré-molar.
anteriormente obtidos, têm-se a Devido ao pequeno tamanho da
denominada “boca de peixe”, ou seja, cúspide disto-lingual do 2º pré-molar, o
todo o contorno externo de cada dente. seu ponto de contato não tem uma
posição definida, podendo ser obtido às
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 53

custas da vertente triturante mesial ou


distal dessa cúspide.
As bases destas vertentes triturantes
se encontram, deixando nitidamente
delimitado o sulco principal mésio-distal
na região.
A sistemática a ser desenvolvida Fig 83 - Desenho esquemático das cristas
para os molares é bastante semelhante transversais oblíquas e vertentes triturantes
àquela desenvolvida para os pré-molares. concluídas
Como orientação para o direcionamento Procede-se da mesma maneira para
dessas cristas, deve-se analisar as com o 2º molar.
estruturas nos dentes do lado oposto, Todos os contatos assinalados na
podendo inclusive delimitá-las com lápis figura 83 devem ser obtidos, embora não
de ponta fina para melhor visualização. necessariamente na mesma posição. O
Nos molares inicia-se a escultura pela que interessa realmente é que se obtenha
crista oblíqua da cúspide mesio- sempre o maior número possível de
vestibular seguida da mesio-lingual, da contatos, que fornecerão no final do
vestíbulo-mediana, da disto-lingual e da trabalho uma estabilidade definida da
disto-vestibular. R.C. com contatos trípodes e uma maior
As vertentes triturantes das eficiência mastigatória. Numera-se todos
cúspides mesio-vestibular, mesio-lingual os contatos na seqüência em que forem
e disto-vestibular terão cada uma apenas sendo obtidos.
um ponto de contato. A crista da cúspide No final desta fase o número de
vestíbulo-mediana deverá ter dois pontos contatos obtidos total de 35, deverá ser
de contato: um correspondendo ao devidamente verificado com a aplicação
terceiro ponto de contenção desta de estearato de zinco (talco). Será
cúspide, e o outro pertencente à cúspide possível observar que as cúspides
mesio-palatino superior. Estes dois vestibulares inferiores possuem três
pontos são obtidos através da contatos cada uma, o tripoidismo. Nota-
individualização de uma superfície de se também, que as cúspides vestíbulo-
contato. Em determinados casos os medianas dos molares possuem dois
pontos coincidem, tornando-se um ponto pontos de contatos nas suas cristas
comum para as duas cúspides, a superior transversais, o quais são difíceis de serem
e a inferior. estabelecidos e podem, para a facilidade
A vertente triturante da cúspide DV do profissional ou do técnico, serem
possui também dois pontos de contato: modificados para outras posições,
um para a cúspide MP e outro para a DP contanto que mantenham a estabilidade
do 1º molar superior. que se procura enfatizar durante todo o
O ponto existente na vertente desenvolvimento do trabalho.
triturante da cúspide DV é considerado Devem ser testados os movimentos
comum tanto para esta quanto para a DP excêntricos, que devem ocorrer sem
superior, em virtude do seu pequeno contatos, havendo uma desoclusão
tamanho que dificulta a obtenção de dois imediata pela guia canino. Como estes
pontos independentes, (fig. 83). testes são realizados constantemente, é
comum o desgaste da superfície palatina
dos caninos propiciando uma condição de
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 54

maior aproximação e contato das estru- 22- a crista transversal da cúspide


turas que estão sendo enceradas.Caso isso vestíbulo-mediana do 1º molar inferior,
ocorra, deve-se restituir nos caninos sua oclui com a crista transversal da cúspide
forma original, utilizando a mesma cera mésio-palatina do 1º molar superior.
da escultura. Idealmente, este desgaste é 23- a crista transversal da cúspide
evitado pela confecção de uma guia disto-vestibular do 1º molar inferior,
anterior personalizada, (fig, 84). oclui com a crista transversal da cúspide
disto-palatina do 1º molar superior.
24- a vertente triturante mesial da
cúspide disto-lingual do 1º molar inferior,
oclui com a aresta longitudinal distal da
cúspide mésio-palatina do 1º molar
superior.
25- a vertente triturante distal da
cúspide disto-lingual do 1º molar inferior
oclui com a aresta longitudinal mesial da
Fig. 84 - Relação das vertentes triturantes postero cúspide disto-palatina do 1º molar
inferiores com as guias articular e canina. superior.
26- a vertente triturante mesial da
Para melhor entendimento e cúspide disto-vestibular do 1º molar
visuali-zação dos contatos já inferior oclui com a vertente triturante
estabelecidos, estudar o quadro que se distal da cúspide disto-palatina do 1º
segue, identi-ficando cada contato com a molar superior.
respectiva correspondência no modelo 27- 28- 29- 30- 31- 32- e 33 são
superior: iguais respectivamente aos contatos 20-
18- a vertente triturante distal (ou 21- 22- 23- 24- 25- e 26, a diferença é
crista oblíqua) da cúspide disto-lingual do que são no 2º molar.
2º pré-molar inferior, oclui com aresta
longitudinal mesial da cúspide palatina Preenchimento dos espaços oclusais
do 2º pré-molar superior.
19- a vertente triturante distal da Após o enceramento das cristas
cúspide mésio-vestibular do 1º molar transversais oblíquas inicia-se a fase do
inferior, oclui com a crista secundária preenchimento dos espaços oclusais pela
mesial da cúspide mésio-palatina do 1º adição de cera e o acabamento das fossas.
molar superior. Olhando as superfícies oclusais
20- a vertente triturante mesial da nesta etapa, notam-se espaços vazios
cúspide vestíbulo-mediana do 1º molar entre as cristas que devem ser cuidadosa-
inferior, oclui com a crista transversal da mente preenchidos, utilizando para isso
cúspide mésio-palatina do 1º molar cera verde e o instrumento PKT 2 para
superior. fazer a sua colocação, e a cada acréscimo
21- a vertente triturante distal da de cera, o articulador deve ser fechado
cúspide mésio-lingual do 1º molar para verificação dos contatos. Se houver
inferior, oclui com a aresta longitudinal algum excesso, deverá ser removido com
mesial da cúspide mésio-palatina do 1º um instrumento de escultura (PKT 4),
molar superior. sendo ao mesmo tempo esculpidas as
cristas secundárias e os sulcos, em cujo
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 55

fundo as pontas de cúspides não devem cúspide vestibular do 2º pré-molar


tocar. inferior, oclui com a vertente triturante
O preenchimento oclusal é iniciado mesial da cúspide palatina do 2º pré-
a partir da fossa mesial do 2 º pré-molar, molar superior.
dando-lhe as características próprias e Nos molares o procedimento é o
tendo como parâmetro o dente do lado mesmo. Para se obter o tripoidismo para a
oposto. A seguir são esculpidas as cúspide disto-palatina do molar superior,
estruturas oclusais distais desse dente, que é de menor tamanho, pode haver
cuja fossa recebe a cúspide funcional pontos de contato comuns, isto é, pontos
superior. Esta cúspide já possui dois que são válidos para a estabilidade da
pontos de contato anteriormente cúspide funcional superior e inferior ou
estabelecidos, devendo receber agora o 3º pontos diferentes, obtidos às custas de
que lhe conferirá estabilidade, e está cristas secundárias. Por exemplo: o ponto
localizado na crista secundária distal da 26 e o 33 (vertentes triturantes das
cúspide vestibular. cúspides DV molares) são pontos comuns
Nesta fase o dente já deve ter sua às cúspides disto-vestibulares inferiores e
forma oclusal definida e regularizada, disto-palatinas superiores, que são
com os sulcos nitidamente delimitados. A cúspides de pequeno porte. Da mesma
figura 85 mostra a delimitação dos sulcos forma os pontos 22-23 e 29-30 podem
principais, tanto no sentido mésio-distal também ser pontos comuns. Quando isto
quanto vestíbulo-lingual, e apresenta não ocorre, pode-se ter o 3º ponto
também a direção dos sulcos secundários. localizado numa crista secundária.
A colocação e a direção dos sulcos Porém, vale salientar novamente que o
podem ser modificadas quando importante é a obtenção da estabilidade
necessário, para se obter os pontos de cêntrica através do tripoidismo.
contato. Deve-se verificar novamente todos
Os sulcos secundários na maioria os contatos utilizando estearato de zinco,
das vezes limitam as cristas transversas e reconstituir aqueles que por qualquer
oblíquas e secundárias, dando nitidez à motivo se perderam.
anatomia oclusal, que é traduzida em Ao término desta primeira etapa do
eficiência mastigatória. exercício consegue-se uma superfície
oclusal com cúspides e fossas
harmoniosamente relacionadas de acordo
com a dinâmica do sistema mastigatório,
figura 86 e 87, de tal forma que se obtém
desoclusão dos dentes posteriores durante
o movimento lateral, e movimento
protrusivo. Esta desoclusão mantém a
escultura protegida dos desgastes pelos
movimentos mandibulares, pois os dentes
posteriores não sofrem contato durante
esses movimentos.
Fig. 85 - Desenho esquemático da delimitação dos
sulcos A: principais e B: secundários.

O contato nº 34 em relação às estruturas


antagonistas, crista secundária distal da
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 56

4. As cúspides linguais são


menores do que as vestibulares.
5. Os contatos cêntricos devem
estar em ambos os lados do arco dentário.
O enceramento não deve estar em supra-
oclusão, pois impedirá a oclusão do lado
oposto.
Fig. 86 - Enceramento concluído -esquemático. 6. Todas as estruturas posteriores
devem desocluir nos movimentos
excursivos da mandíbula.

Bibliografia Consultada

01- ASH, M. M., RAMFJORD, S. P.


Introdução à oclusão funcional.Traduzido
por José dos Santos Jr. Guarulhos S.P.:
Fig. 87 - Enceramento concluído Parma, 1987. 276 p.
02- GUICHET, N. F. Occlusion.
Agora as figuras devem ser Anaheim, California: Denar Corp., 1977.
convenientemente estudadas e todos os 117 p.
pontos de contato identificados com 03- JANSON, W. A. et al. Introdução ao
aqueles obtidos pelo aluno no exercício. estudo da oclusão, enceramento das
superfícies oclusais. Bauru - S.P.:
Características finais do enceramento Universidade de São Paulo, Faculdade de
progressivo Odontologia de Bauru, 1977. 78 p.
04- RAMFJORD, S. P. & ASH, M. M.
1. As pontas de cúspides são os
Oclusão. 3. edição, Trad. Dioracy
pontos mais altos, a partir de onde todas
Fonterrada Vieira. Rio de Janeiro:
as vertentes se inclinam para baixo.
Interamericana, 1984.
2. As pontas de cúspides funcionais
05- THOMAS. P. K.,TATENO, G.
são projetadas precisamente na fossa do
Gnathological Occlusion. Tokyo: Shorin,
antagonista.
1979. 235p.
3. As pontas de cúspide funcionais
não contactam no fundo da fossa (e sim
no perímetro adjacente).
BIOMECÂNICA
Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

Biomecânica é o estudo da morfo- torna os movimentos significativos é o


logia do ponto de vista funcional; é o nervoso. Este é o seletor, que decide instin-
exame dos princípios mecânicos, imple- tivamente a resposta reflexa, a memória e
mentados em organismos vivos. o curso através do qual o retorno mais
No estabelecimento de critérios para efetivo ao estado de equilíbrio pode ocor-
uma oclusão fisiológica, devem-se obser- rer. Em suas interações com o ambiente, o
var os seguintes fatores: organismo deve obedecer às leis da física
1. Movimentos mandibulares em todos os aspectos de sua estrutura.
2. Estresses potenciais (biomecânica da Daí a necessidade dos profissionais
disfunção oclusal) que atuam na área da Odontologia conhe-
3. Capacidade relativa dos vários compo- cerem os fundamentos da biomecânica.
nentes do aparelho estomatognático em
resistir ao estresse. Mecanismo simples
Após o estudo dos quatro determi-
Os mecanismos básicos de transmis-
nantes anatômicos dos movimentos mandi-
sões e modificações de forças comuns em
bulares ATM direita, esquerda, oclusão
ambos os sistemas vivos ou não, são:
dentária e sistema neuromuscular próprio-
ceptivo, faz-se necessário uma revisão da • alavanca • parafuso
física e da biomecânica para um melhor • plano inclinado • direção
entendimento dos itens 2 e 3 citados. • cunha • roldana

Forma e função biológicas Esses podem ser reduzidos em dois:


alavanca e plano inclinado.
A manutenção da ordem é um Desses, o mais importante nos
importante conceito na biologia e o seu sistemas biológicos é a alavanca. Embora
primeiro objetivo é entender o organismo os princípios da alavanca sejam bem
vivo, homeostático, na busca da estabili- conhecidos, suas implicações biológicas
dade de seu meio interno. Um ponto são freqüentemente subestimadas. Todo
significante no processo evolutivo é que o organismo vivo ou uma de suas partes ou
organismo vivo tem seu próprio meio de projeção, particularmente uma extensão
manutenção que lhe assegura a normali- rígida como uma perna ou um braço, em
dade, que é a habilidade de se adaptar às repouso ou em movimento em uma
mudanças evolutivas, fazendo-os capazes superfície, está sujeito a forças que agem
de persistir em um tipo particular de sobre ele que atuariam como uma alavanca
ambiente. É neste nível de adaptação que a simples.
biomecânica e a função tornam-se mais Alavanca é um dos mecanismos mais
significativas. simples e primitivos usados pelo homem
Embora a biomecânica tenda a para ampliação da força muscular; consiste
enfatizar as partes móveis que realizam e em uma barra rígida que é livre para girar
controlam o comportamento, nos organis- ao redor de um ponto fixo chamado
mos mais desenvolvidos o sistema que FULCRO (F), sob a ação de duas ou mais
Biomecânica Fernandes Neto , A.J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 58

forças freqüentemente denominadas como • Alavanca Classe I (interfixa)


ESFORÇO (E) (ou força aplicada) e • Alavanca Classe II (interresistênte)
RESISTÊNCIA (R) (ou força de • Alavanca Classe III (interpotente)
resistência). O propósito deste principio é
multiplicar a força e o movimento. Alavanca Classe I (interfixa)

Lei das Alavancas O fulcro (F) fica entre o esforço (E) e


a resistência (R). É a mais eficiente,
A lei das alavancas estabelece que executa maior trabalho com menor força
uma alavanca está em equilíbrio quando o aplicada. Exemplo: tesoura e pé-de-cabra,
produto do esforço (E) multiplicada pela (fig. 02).
distância de seu ponto de aplicação (e) ao
fulcro (F) for igual ao produto da força da R E
resistência (R) multiplicado pela distância
de seu ponto de aplicação (r) ao fulcro (F).
Ou seja, quando o esforço (E) multiplicado F

pelo seu braço de alavanca (e) for igual à


resistência (R) multiplicado pelo seu braço
de alavanca (r), (fig. 01). r e

Fig. 02 - Alavanca classe I.


R E
Exe=Rxr
Exemplos: na alavanca classe I, se e
(10cm) dividido por r (5cm) é igual a VM
F
2, significa que um esforço de 10 kg
poderá compensar uma resistência de 20
kg.
r e
Alavanca Classe II (interresistente)
Fig. 01 - Alavanca em equilíbrio A resistência (R) está entre o fulcro
Da ação das alavancas deriva o valor (F) e o esforço (E). É menos eficiente que
conhecido como vantagem mecânica a Classe I, ou seja, para executar um
(VM), que é equivalente à resistência (R) mesmo trabalho precisa maior aplicação de
dividida pelo esforço (E), ou o força. Exemplo: carrinho de mão e quebra-
comprimento do braço de esforço (e) nozes, (fig. 03).
dividido pelo comprimento do braço da
resistência (r).
R E
VM = R/E = e/r
Por exemplo, se uma força de 1 kg é
capaz de mover uma carga de 10 kg, a F

vantagem mecânica é 10.


VM = R/E = 10/1 = 10
r
Tipos de alavanca e

De acordo com a posição do fulcro, Fig. 03 - Alavanca classe II.


das forças aplicadas e da resistência as
alavancas podem ser divididas em três Alavanca Classe III (interpotente)
classes:
Biomecânica Fernandes Neto , A.J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 59

O esforço (E) está entre o fulcro (F) objeto em movimento se manterá em


e a resistência (R). É a menos eficiente das movimento a não ser que alguma força
três alavancas. Exemplo: levantamento de atue sobre o mesmo.
um peso na palma da mão, encurvando o 2ª Lei do Movimento: Quando uma
braço no cotovelo, (fig. 04). força constante é aplicada, o objeto
acelerará a um valor proporcional à força
R E dividida pela massa do objeto.
F 3ª Lei da Ação e Reação: Quando
um corpo exerce uma força sobre outro,
ele recebe uma força igual e oposta.
A 3ª Lei de Newton é, talvez, o
e
centro da estrutura dos organismos vivos e
das máquinas. Por exemplo, quando o
r
dente pressiona o bolo alimentar, este
Fig. 04 - Alavanca classe III.
pressiona os dentes com uma força igual e
oposta. Quando a origem ou inserção de
Na alavanca classe III, se e (5cm) um músculo exerce uma força sobre uma
dividido por r (10cm) for igual a VM 0,5, estrutura, este músculo recebe uma força
significa que um mesmo esforço de 10 kg igual e oposta. A origem e inserção dos
poderá balancear apenas uma resistência músculos são termos descritivos, mas deve
de 5kg. ser enfatizado que a força em cada
extremidade do músculo é a mesma.
Quando a origem do músculo pterigóideo
Mecânica Básica lateral exerce uma força sobre a base do
crânio, ele também recebe uma força igual
e oposta.
A estrutura de qualquer instrumento
de trabalho deve ter duas características Força Estática
mecânicas. Primeiro, deve ser capaz de
manter sua própria integridade estrutural Uma estrutura estável ou sem
quando forças externas agirem sobre ele; movimento pode estar sujeita a forças.
segundo, deve realizar seus movimentos Geralmente, três tipos de forças são
funcionais específicos. As propriedades reconhecidos em termos de seu efeito
estruturais que capacitam o instrumento de sobre a massa, (fig. 05):
encontrar estes dois requisitos são ditadas • Compressão
por vários tipos de forças mecânicas. Os • Tensão
organismos vivos estão dentro de zonas • Cisalhamento
intermediárias em tamanho, não são nem Cada uma dessas é, na verdade, um par
atômicos nem astronômicos. Portanto, as de forças. Uma força simples pode ser
leis da mecânica clássica são inteiramente definida em termos de magnitude e direção
aplicáveis ao seus movimentos, especial- e conjuntamente são chamadas Vetores de
mente as de movimentos estabelecidas por Força. Se a massa for estacionária, a soma
Isaac Newton, que são fundamentais para a dos vetores de força agindo sobre ela deve
compreensão da biomecânica. ser zero.

Leis de Newton

1ª Lei da Inércia: Um objeto em


repouso permanecerá em repouso e um
Biomecânica Fernandes Neto , A.J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 60

Limiar de deformação
proliferativa e degenerativa

Nos sistemas biológicos distinguem-


se os limiares de deformação proliferativa
e degenerativa.
Os tecidos biológicos re-querem uma
certa quantidade de função e tensão para se
Compressão Tensão Cisalhamento manterem íntegros, a tensão insuficiente
pode resultar em mudanças atróficas, como
Fig. 05 - Tipos de forças reconhecidas em termos
de seu efeito sobre a massa.
a atrofia muscular.
Entretanto, se a tensão induzida aos
Força de Compressão atua em tecidos do aparelho estomatognático,
direções opostas e convergentes ao longo exceder o limiar de deformação proli-
de um mesmo eixo, tendendo a comprimir ferativa, induzirá mudanças proliferativas
ou diminuir a estrutura sobre a qual atua. nos mesmos, tais como: aposição óssea,
Força de Tensão atua em direções exostose, osteite condensante, hipercemen-
opostas e divergentes ao longo de um tose, espessamento da lâmina dura,
mesmo eixo, tendendo a alongar a estru- hipertrofia muscular, e outras.
tura sobre a qual atua. Do mesmo modo, se a tensão
Força de Cisalhamento atua em induzida aos tecidos exceder o limiar de
direções opostas e paralelas em planos deformação degenerativa, induzirá mudan-
diferentes, tendendo a deslizar uma porção ças degenerativas nos tecidos, tais como:
da estrutura ao longo da porção adjacente, osteoporose, reabsorção óssea, perfuração
dilacerando-a, rasgando-a. do disco articular, erosão do côndilo e
desgaste prematuro da estrutura dentária e
Tensão e Deformação outras. Quando um dente é submetido a
contínuas e prolongadas cargas laterais, o
Quando uma força é aplicada sobre ligamento periodontal das superfícies
um corpo, dois fenômenos são observados: radiculares por onde a tensão é aliviada
o estresse e a deformação. apresentará mudanças degenerativas como
A tensão ou estresse é a resistência a reabsorção óssea.
interna das moléculas de um corpo que se
opõe à ação de forças externas. Se um peso Física do músculo
é suspenso por um fio, existe uma tensão
ao longo deste fio, paralelo ao seu longo Os elementos do esqueleto ósseo aos
eixo que é a resistência das moléculas. quais os músculos estão unidos são
Deformação é a alteração dimensio- freqüentemente sistemas de alavancas, e os
nal de um corpo, quando submetido a músculos exercem sobre estes uma força
forças externas. A tensão sobre o fio que possibilita o movimento. Muitos
suportando um peso causará a este um destes sistemas de alavancas no corpo
alongamento, a deformação, que é a razão humano são as de classe III (o fulcro e a
entre o comprimento do fio alongado e o resistência estão em extremidades opôs-
seu comprimento original, usualmente tas), pois os músculos se inserem próximos
expresso em percentagem. A propriedade às articulações (fulcro), enquanto que o
de elasticidade faz com que um objeto trabalho é feito na extremidade mais
retorne à sua dimensão original quando a distante dos braços das alavancas. Estes
força é removida. músculos trabalham em desvantagem
mecânica porque o comprimento do braço
de esforço é menor que o comprimento do
Biomecânica Fernandes Neto , A.J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 61

braço de resistência. Contudo, as vanta- músculo adutor de um molusco pode


gens compensadoras deste arranjo são a rapidamente puxar as duas metades de sua
compactação do corpo e a velocidade do carapaça conjuntamente contra a força de
movimento. Uma pequena contração de um ligamento elástico na sua articulação.
um músculo próximo ao fulcro induz um O feixe superior do músculo pterigóideo
movimento rápido e mais extenso na lateral unido à margem anterior do menis-
extremidade distal da alavanca. Variações co articular puxa-o para frente embora não
na proporção entre braço de força e de haja nenhum músculo unido à margem
trabalho podem alterar as relações de força posterior do disco para puxá-lo de volta.
e velocidade do sistema. Um animal veloz Usualmente, os músculos estão arranjados
como o cavalo tem membros longos em grupos antagônicos para que um puxe
(braços de trabalho longos) e músculos em direção oposta ao outro.
atuando muito próximos das articulações
entre os membros e o tronco (braços de Bibliografia consultada
força curtos). Em contraste, um animal de
01-GUICHET,N.F. Occlusion. Anaheim,
membros curtos e músculos que atuam
California, The Denar Corporation, 117p.
longe do fulcro, seus membros movem-se
1977.
mais lentamente mas podem desenvolver
02-RUBIANO C, M. Placa Neuromior-
relativamente maior resistência.
relaxante – confecção e manutenção (passo
Visto que os músculos só podem
a passo). Tradução por Fernando Luiz
exercer trabalho contraindo-se, forças
Brunetti Montenegro. São Paulo: Editora
antagonistas devem restabelecer seu estado
Santos, 1993. 191p.
original. Alguns poucos músculos traba-
lham contra uma força não muscular, e seu
relaxamento permite a ação oposta. O
DISTÚRBIOS OCLUSAIS
Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

Em uma oclusão fisiológica ou orgâ- ções, (vertical, protrusivo, e lateroprotrusi-


nica, no final do fechamento mandibular, a vamente), levando-a a instabilidade na
ação dos músculos elevadores promove o posição de máxima intercuspidação habi-
assentamento dos côndilos nas fossas tual (MIH), que foi adquirida e habituada.
mandibulares do osso temporal, denomi- É importante ressaltar que o sistema neuro-
nado posição de relação cêntrica (RC), muscular do paciente geralmente desvia a
coincidente com o máximo de contatos mandíbula das prematuridades, tornando
dentários posteriores bilateral, denominado difícil sua detecção.
máxima intercuspidação (MI) ou oclusão A auto observação da RC pode ser
dentária. Como resultado a mandíbula realizada pelo próprio paciente, o que lhe
assume posição estável denominada oclu- propiciará o entendimento de fatores não
são em relação cêntrica (ORC), na dimen- fisiológicos, tais como os distúrbios oclu-
são vertical de oclusão (DVO). Em seguida sais que geram discrepância entre RC e
o relaxamento dos músculos elevadores MIH.
gera a dimensão vertical de repouso Para realizar a auto observação,
(DVR). Nos movimentos excursivos da incline a cabeça para trás, com o objetivo
mandíbula, os dentes posteriores devem de contrair os músculos do pescoço, relaxe
desocluir pela ação da guia anterior e das os ombros e os braços, posicione a mandi-
guias laterais, em perfeita harmonia com bula na DVR, em seguida, abra e feche a
os demais componentes do aparelho mandíbula suavemente, dentro dos limites
estomatognático (AE), fig. 01. do espaço funcional livre (EFL), sem
contatar os dentes por seis vezes, em
seguida feche-a suavemente simulando a
deglutição fisiológica até sentir o contato
Fig. 01 - Desenho esquema- dentário.
tico da distribuição da força Se neste caso ocorrer um único
oclusal ao longo do dente. contato dentário, pode ser prematuridade.
Confirme sua localização repetindo o
movimento de abertura e fechamento.
Caso a reprodução confirme a mesma
localização do contato, essa será a posição
de RC da mandíbula.
Porém, freqüentemente os pacientes
A seguir, feche a mandíbula a partir
apresentam-se com RC não coincidente
da prematuridade e observe se ela desliza
com a MI, impedindo o fechamento fisio-
protrusiva ou lateroprotrusivamente guiada
lógico da mandíbula em ORC, podendo ser
pelos dentes que apresentam a prematu-
resultado da presença de distúrbios oclu-
ridade, assumindo a posição de MIH. O
sais (prematuridades) em todos os dentes,
deslize entre a prematuridade em RC e a
em todos os planos do espaço, desviando o
MIH é denominado discrepância em
fechamento mandibular em todas as dire-
cêntrica.
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 63

Quando surgem alterações na confor- É o que provoca lesão por forças


mação, estrutura e/ou função das partes do oclusais excessivas, sobre o periodonto de
AE, as demais inter-relacionadas experi- sustentação ou de inserção íntegro, ainda
mentam alterações da mesma natureza para não comprometido pela doença periodontal
absorver e dissipar as forças anormais inflamatória. Neste tipo de lesão não
criadas, conforme a capacidade de resis- ocorre perda de inserção. Portanto a lesão
tência ou de adaptação biológica de cada é reversível e geralmente pode ser corrigi-
tecido envolvido. Essas alterações poderão da pela eliminação da causa, a força
produzir compensações fisiológicas ou oclusal excessiva, fig. 02.
patologias. O principal fator etiológico da
patologia funcional do SE é representado
pelas alterações da oclusão dentária, dis-
túrbios oclusais, cujas seqüelas patológicas Fig. 02 - Desenho
são o trauma periodontal, a abrasão oclusal esquemático de trau-
acentuada, o bruxismo, as alterações do ma oclusal primário.
mecanismo neuromuscular e/ou das
ATMs.
Os distúrbios oclusais se apresentam
na forma de trauma oclusal, contato oclu-
sal prematuro ou deflectivo, interferência
oclusal, ausência de estabilidade oclusal
e/ou de guia anterior e alteração da dimen-
são vertical. Trauma de oclusão secundário

Trauma de oclusão É o que provoca lesão por forças


oclusais fisiológicas ou excessivas sobre o
É a lesão no periodonto de susten- periodonto de sustentação ou de inserção
tação e/ou outros componentes do aparelho já comprometido pela doença periodontal
estomatognático, causada por forças oclu- inflamatória. Este tipo de lesão ocorre
sais que excedem a capacidade de adapta- freqüentemente nos casos de periodontites
ção deste aparelho (Fig. 01), podendo ser avançadas cujos dentes já apresentam
classificado em: inserções reduzidas, fig. 03.
• Primário
• Secundário
O trauma de oclusão pode ser
desencadeado a partir de força oclusal Fig. 03 - Desenho esque-
mático de trauma oclusal
fisiológica ou excessiva, caracterizando secundário.
contato prematuro. Dentro de certos limi-
tes é possível adaptação fisiológica. Pode,
no entanto, ocorrer lesão no periodonto de
sustentação, tornando fundamental no tra-
tamento oclusal o equilíbrio desta força e a
verificação da ausência de interferência
dentro dos limites dos movimentos mandi- Contato oclusal
bulares. A não observância deste aspecto
pode levar ao aparecimento de iatrogenias. O termo contato oclusal é empregado
para expressar o contato que ocorre entre
Trauma de oclusão primário as superfícies oclusais dos dentes antago-
nistas ao final do movimento de fechamen-
to da mandíbula, podendo ser:
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 64

• Contato oclusal cêntrico Contato oclusal deflectivo


• Contato oclusal prematuro
• Contato oclusal deflectivo É o contato oclusal não fisiológico
que dificulta ou impede o completo fecha-
Contato oclusal cêntrico mento mandibular em OCR, desviando a
mandíbula de sua trajetória normal, geran-
É o contato oclusal fisiológico que do então o deslize em direção:
dá estabilidade à mandíbula no fechamento • anterior
em ORC. • à linha média da face
• contrária à linha média da face
Contato oclusal prematuro
Deslize da mandíbula em direção anterior
É o contato oclusal não fisiológico
que dificulta ou impede o completo fecha- Acontece sempre que ocorrer contato
mento mandibular em ORC sem causar oclusal deflectivo entre a estrutura oclusal
desvio, no entanto causando instabilidade à mesial (aresta longitudinal, vertente tritu-
mandíbula. rante ou crista marginal) do dente superior
Ocorre sempre que houver contato e a estrutura oclusal distal do dente infe-
oclusal prematuro entre cúspide e fossa ou rior, fig. 06. Tal contato promove o deslize
entre cúspide e crista marginal (embrasura) dos côndilos para anterior, em posição de
de dentes antagonistas, fig. 04. protrusão em relação à fossa mandibular,
causando hiperatividade muscular e rela-
ção de forças laterais entre os dentes
antagonistas, o que pode comprometer a
harmonia da guia anterior.

Fig. 04 - Desenho esquemático do contato oclusal


prematuro: A - cúspide versus crista marginal; B -
cúspide versus fossa.

Tal contato promove instabilidade Fig. 06 - Desenho esquemático entre a estrutura


oclusal mesial do dente superior e a estrutura
aos côndilos, hiperatividade muscular e
oclusal distal do dente inferior.
estresse ao periodonto, fig. 05.
Deslize da mandíbula em direção à linha
média

Acontece sempre que ocorrer contato


oclusal deflectivo entre a vertente lisa de
uma cúspide funcional (palatina superior e
vestibular inferior) e a vertente triturante
de uma cúspide não funcional (vestibular
superior e lingual inferior), fig. 07. Tal
Fig. 05 - Desenho esquemático do contato oclusal
contato promove o deslize do côndilo do
prematuro, transmitido ao periodonto e ao sistema
nervoso central, promovendo hiperatividade lado do contato para a posição de balan-
muscular. ceio e do côndilo do lado oposto para a
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 65

posição de trabalho, resultando em hipera- Interferência oclusal


tividade muscular e relação de forças
laterais entre os dentes antagonistas, que O termo interferência oclusal é
pode comprometer a harmonia da guia empregado para expressar o contato
canina ou da função em grupo. oclusal não fisiológico que ocorre entre as
superfícies oclusais antagonistas, dificul-
tando ou impedindo os movimentos
mandibulares excursivos de:
• Protrusão, Trabalho e Balanceio.

Interferência oclusal no movimento


mandibular excursivo de protrusão

Acontece sempre que ocorrer inter-


ferência entre a estrutura oclusal mesial
Fig. 07 - Desenho esquemático do contato oclusal (aresta longitudinal, vertente triturante ou
deflectivo entre a vertente lisa de uma cúspide crista marginal) do dente inferior e a
funcional (palatina superior) e a vertente triturante estrutura oclusal distal do dente superior,
de uma cúspide não funcional (lingual inferior),
causando deslize em direção à linha média.
fig. 09. Tal contato promove instabilidade
condilar, hiperatividade muscular, relação
Deslize da mandíbula em direção contrária de forças laterais entre os dentes antago-
à linha média nistas e ausência da guia anterior.

Acontece sempre que ocorrer contato


oclusal deflectivo entre as vertentes tritu-
rantes de duas cúspides funcionais (palati-
na superior e vestibular inferior), fig. 08.
Tal contato promove o deslize do côndilo
do lado do contato para a posição de traba-
lho e o côndilo do lado oposto para a posi-
ção de balanceio, resultando em hiperati-
vidade muscular e relação de forças Fig. 09 - Desenho esquemático da interferência no
laterais entre os dentes antagonistas, que movimento de protrusão, entre a estrutura oclusal
pode comprometer a harmonia da guia mesial do dente inferior e a estrutura oclusal distal
do dente superior.
canina ou da função em grupo.
Interferência oclusal no movimento
mandibular excursivo de trabalho

Acontece sempre que ocorrer inter-


ferência oclusal entre a vertente lisa de
uma cúspide funcional (palatina superior e
vestibular inferior) e a vertente triturante
de uma cúspide não funcional (vestibular
superior e lingual inferior), fig. 10. Tal
Fig. 08 - Desenho esquemático do contato oclusal contato promove instabilidade condilar,
deflectivo entre as vertentes triturantes de duas hiperatividade muscular, relação de forças
cúspides funcionais (palatina superior e vestibular laterais entre os dentes antagonistas e
inferior), causando deslize em direção contrária à
linha média. ausência da guia canina ou da função em
grupo.
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 66

Fig. 12 - Duas restaurações


dentárias em oclusão, onde as
forças oclusais se dissipam
paralelas ao longo eixo me-
dio dos dentes, não caracteri-
zando distúrbio oclusal.

Fig. 10 - Desenho esquemático da interferência no


movimento de trabalho, entre a vertente lisa de uma
cúspide funcional e a vertente triturante de uma
cúspide não funcional.

Interferência oclusal no movimento


mandibular excursivo de balanceio

Acontece sempre que ocorrer interfe-


rência oclusal entre as vertentes triturantes
de duas cúspides funcionais (palatina
superior e vestibular inferior), fig. 11. Tal
contato promove instabilidade condilar,
Fig. 13 - A - molar superior com lesão de cárie e B
hiperatividade muscular, relação de forças - restaurado, porém a restauração está sem contatos
laterais entre os dentes antagonistas e oclusais, ficando estes nos planos inclinados das
ausência da guia canina ou da função em cúspides, o que direciona as forças oclusais
grupo do lado de trabalho. obliquamente em relação ao longo eixo médio do
dentes, caracterizando distúrbio oclusal.

A B C

Fig. 10 - Desenho esquemático da interferência no


movimento de balanceio, entre as vertentes
triturantes de duas cúspides funcionais (palatina
superior e vestibular inferior).

Os distúrbios oclusais freqüente-


mente são causados por migrações denta-
rias, restaurações dentárias com contatos A B C
oclusais não fisiológicos ou ausentes e Fig. 14 - A/A’ - relacionamento oclusal estável
ausência de dentes (anteriores e/ou poste- entre dentes antagonistas íntegros; B/B’ – restau-
riores, superiores e/ou inferiores, uni ou rações com contatos oclusais instáveis, deslizantes;
bilateral). C/C’ - restaurações com contatos oclusais estáveis.
A seguir se encontram ilustrações
esquemáticas desses possíveis distúrbios
oclusais e suas conseqüências no arco
dentário.
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 67

A B C
Fig. 15 - A - molar superior com lesão de cárie; B -
restauração sem contato oclusal; C - migração do
antagonista em razão da ausência de estabilidade
oclusal.
Fig 19 - 3º molar inferior extruído, tornando-se um
contato prematuro (E) e alterando o fulcro (F) no
movimento de fechamento da mandíbula, gerando
instabilidade às ATMs e alteração da guia anterior.

A B C
Fig. 16 - A - molar inferior com lesão de cárie e o
antagonista com extrusão; B - demarcação da
extrusão a ser eliminada; C - extrusão eliminada e
molar inferior corretamente restaurado.

Fig 20 - Nesta ilustração vê-se que, por


conseqüência da ausência de dentes posteriores
inferiores e perda da estabilidade oclusal, houve a
C
extrusão dos antagonistas, gerando um contato
A B deflectivo (estrutura mesial do superior versus
Fig. 17 - A - molar inferior com lesão de cárie e estrutura distal do inferior) com deslize mandibular
antagonista com extrusão; B - o molar inferior para anterior.
restaurado sem a prévia eliminação da extrusão do
superior; C - interferência oclusal no movimento de
balanceio gerado pela restauração sem a eliminação
da extrusão do antagonista, causando distúrbio
oclusal interferente.

Fig 21 - Nesta ilustração, vê-se a ausência de


Fig. 18 - 3º molar inferior sem antagonista e extruí- estabilidade oclusal do lado direito, o que permite a
do, gerando interferência oclusal no movimento de ação muscular M e M’ gerar instabilidade e estresse
protrusão que leva instabilidade às ATMs e ausên- às ATMs, ao periodonto e aos dentes remanes-
cia de guia anterior, causando distúrbio oclusal. centes.
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 68

Fulcro transverso

O fulcro transverso é representado


por uma interferência no movimento de
balanceio. O termo biomecânico indica
claramente a potencial desordem causada
pelas relações interoclusais impróprias.
A fig. 23, ilustra uma visão frontal
da mandíbula, em uma posição de trabalho
Fig 22 - Nesta ilustração, vê-se como conseqüência para a esquerda e o côndilo direito em
da ausência de estabilidade bilateral o estresse posição de balanceio (para baixo, para
gerada às ATMs, dentes e periodonto remanes- frente e para dentro). Existe uma inter-
centes.
ferência em balanceio nos segundos
Biomecânica das desordens oclusais molares direitos e as cúspides do lado
esquerdo estão desocluidas.
A aplicação dos princípios biome-
cânicos no estudo dos estresses induzidos R F
no aparelho estomatognático pelos distúr- X
bios oclusais ilustra claramente o mecanis-
mo pelo qual mudanças patológicas ocor- 2x E
rem para produzir os sintomas reconhe-
cidos pelo dentista nas desordens oclusais.
Duas condições oclusais que podem resul-
tar em desordem oclusal são:
• Fulcro transverso ou arco cruzado
• Fulcro antero-posterior. Estresse sobre ATM
Nos estudos destas duas condições, Fig. 23 - Fulcro transverso, estresse os as ATMs.
considerando a mandíbula como sendo um Para estudar as forças aplicadas a
aparelho de alavanca, os músculos produ- ATM direita, deve-se supor que o paciente
zem o esforço (E) e os dentes e as ATMs esteja aplicando uma força de quantidade
funcionam como resistência (R) ou fulcro X sobre os músculos de fechamento no
(F), dependendo das relações interoclusais lado esquerdo, e apertando os segundos
e dos tecidos estudados. molares.
As observações a seguir ilustram que Para analisar a magnitude das forças
as cúspides podem funcionar como aplicadas na ATM direita (R), consideram-
resistência ao estresse e também como se os segundos molares como sendo o
fulcro, podendo resultar em efeitos dano- fulcro (F) e a força aplicado pelos
sos. Estes fulcros podem conceder a uma músculos de fechamento do lado esquerdo
dada força muscular uma vantagem o esforço (E), a disposição de R, F e E
mecânica, ampliando-a e repassando-a aos estabelece um aparelho de alavanca Classe
tecidos de forma danosa por longos I.
períodos de tempo, para melhor analisar o Quando o comprimento do braço do
estresse destas relações interoclusais, deve- esforço (E-F) for igual ao comprimento do
se considerar: braço de resistência (F-R) multiplicados
• a magnitude das forças pelo mesmo valor (E ou R) teremos uma
• a direção das forças alavanca em equilíbrio (Lei das Alavan-
• a duração de aplicação. cas).
Considerando que neste caso em
questão a proporção entre o braço de
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 69

esforço (E-F) para o braço da resistência Em resumo, como foi visto, uma
(F-R) é de 2:1; a resistência deve ser duas interferência oclusal pode introduzir na
vezes o valor do esforço para manter a oclusão um fulcro que tem a capacidade de
alavanca em equilíbrio. conceder a uma determinada força uma
A aplicação da Lei das Alavancas vantagem mecânica, ampliando-a de duas
ilustra que a ATM do lado direito é então a três vezes. Para registrar a magnitude
comprometida por uma força muscular média das forças aplicadas nesta análise do
duas vezes maior, que a pressiona e estresse, usa-se a média de duas vezes e
proprioceptivamente induz uma resposta meia (2,5).
recíproca nos músculos do lado direito da • Análise do estresse:
cabeça para aliviar o estresse induzido. Os • Magnitude: 2,5 X
sintomas podem ser precipitados nos • Direção:
músculos recíprocos, na ATM, periodonto • Duração:
ou dentes. Estas forças tendem a deslocar o
Para analisar a magnitude da força côndilo de sua cavidade e produzir uma
sobre os segundos molares, considere-se carga lateral nos dentes (Fig. 25). Esta
agora a ATM como sendo o fulcro (F) e os direção da carga é no mínimo duas vezes
segundos molares como sendo a resistência mais patogênica que as cargas verticais
(R) (Fig. 24). A disposição de E, R, e F sobre os dentes ou as que tendem assentar
estabelece um aparelho de alavanca Classe o côndilo em sua fossa.
II.
Considerando que neste caso em
questão a proporção entre o braço de X
esforço (E-F) para o braço da resistência
(F-R) é de 3:1; a resistência deve ser três E
vezes o valor do esforço para manter a 2x 3x
alavanca em equilíbrio, desta maneira, uma 3x
força três vezes maior incide sobre os
segundos molares, induzindo estresse
sobre os dentes e periodonto ou irá
proprioceptivamente induzir uma resposta Direção
antagônica nos músculos que movimentam Fig. 25 - Carga em direção lateral ao dentes
a mandíbula, prevenindo uma sobre-carga
oclusal aos segundos molares. Para estabelecer o fator direção,
multiplica-se o fator magnitude previa-
mente estabelecido em 2,5 pelo fator 2 que
F R X representa o aumento da patogenicidade da
força lateral aplicada. O produto destes
E dois fatores é 5.
2x 3x • Análise do estresse
3x
• Magnitude: 2,5 X
• Direção: x 2 = 5 X
• Duração:
Distúrbios oclusais podem ampliar
uma força muscular dada e induzir tais
Estresss sobre os dentes forças sobre os tecidos do aparelho
Fig. 24 - Fulcro transverso, estresse sobre os estomatognático de maneira prejudicial,
dentes. produzindo mudanças na ATM, nos dentes
e/ou no periodonto. Alternadamente, os
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 70

estresses induzidos podem propriocep- alcançar ou exceder, duas características


tivamente programar uma resposta muscu- individuais do paciente (hospedeiro) que
lar recíproca (tensão dinâmica) para inibir devem ser consideradas:
a sobre-carga nos tecidos envolvidos (fig. • a suscetibilidade - tendência de sofrer
26). As tensões induzidas nos músculos influências ou contrair enfermidades,
para manter uma posição mandibular • o limiar de tolerância - limite máximo
compensadora, adaptativa ou habituada de tolerância do indivíduo (tecidos) aos
para acomodar um distúrbio oclusal podem esforços a partir do qual um estímulo
induzir ao apertamento dentário. Pesquisas passa a produzir determinada resposta,
têm mostrado que quando o apertamento poderá resultar em mudanças adaptativas
dentário está presente, os dentes podem ser e/ou proliferativas ou patológicas na ATM,
mantidos em contato oclusal forçado por dentes, periodonto e músculos,.
um longo período de quatro horas em uma Quando da presença de distúrbios
única noite de sono, enquanto que todos os oclusais, estes são percebidos pelos pró-
contatos oclusais que ocorrem durante as prioceptores (terminações nervosas sensi-
horas correntes como resultado das fun- tivas), especialmente os do periodonto,
ções fisiológicas de mastigação, deglutição integrados ao sistema nervoso central que
e fala totalizam menos de dez minutos por emite uma reação motora, determinando
dia. uma hiperatividade dos agentes de defesa
Duração da
do organismo e gerando disfunções ou
Tensão resposta recíproca desordens do aparelho estomatognático.
dinâmica
Mudanças adaptativas própriocep-
tivamente induzidas pelas forças que
tendem a deslocar o côndilo de sua fossa
2x 3x ou sobrecarregar os dentes podem incluir
3x
Hiperfunção contração crônica (tensão dinâmica) da
porção superior do músculo pterigóideo
lateral. Este músculo puxa o disco articular
Fig. 26 - Tensão dinâmica para frente, deslocando o côndilo para
baixo. Isto estabelece um suporte condilar
Para refletir o maior período de para prevenir uma sobrecarga nos dentes.
tempo em que o estresse é induzido sobre As forças que tendem a deslocar o
os componentes do aparelho estômato- côndilo de sua fossa podem próprio-
gnático, multiplica-se o fator previamente ceptivamente induzir uma resposta recípro-
estabelecido de 5 por um fator considerado ca do feixe médio do músculo temporal
de 4 que representa as funções de que contrai cronicamente para evitar o
apertamento dentário como oponentes aos deslocamento do côndilo direito. Nesta
contatos oclusais intermitentes nas funções situação, dois músculos potentes nos lados
fisiológicas. opostos da cabeça estão funcionando em
• Análise do estresse tensão dinâmica, fulcrando a mandíbula
• Magnitude: 2,5 X sobre o segundo molar. O principal
• Direção: x 2 = 5 X sintoma do paciente pode ser dores de
• Duração: x 4 = 20 X cabeça temporal freqüentemente referidas
O estresse induzido ao aparelho estoma- como dor de cabeça de tensão.
tognático no apertamento dentário crônico Mudanças proliferativas podem
pode exceder em, no mínimo, 20 vezes ao incluir aposição óssea no côndilo e/ou
produzido durante as funções fisiológicas fossa, osteite condensante da fossa,
de mastigação, deglutição e fala. Se o hipercementose, exostose do osso alveolar
estresse induzido nos respectivos tecidos,
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 71

e espessamento da lâmina dura e do liga- No tratamento, as desordens oclusais


mento periodontal. devem ser removidas da oclusão. Quando
As mudanças patológicas ou degene- estes são removidos, como ilustrado na
rativas induzidas no aparelho estomatog- figura 30, a guia lateral esquerda entra em
nático pelos distúrbios oclusais são função.
reconhecidas como desordens oclusais ou
parafunções (figs. 27, 28, 29).

Fig. 30 - Tratamento das desordens oclusais.

Nesta situação, uma força de fecha-


mento aproximada de X no lado esquerdo
Fig. 27 - Parafunções, segundo Guichet.
do paciente será distribuída entre as ATMs
Podem incluir dores de cabeça crônica, direita e esquerda e a guia lateral esquerda.
desordens na ATM (perfuração do menis- Esta força tende a assentar o côndilo
co, osteoporose da fossa), desgaste prema- direito do paciente em sua fossa ao
turo dos dentes, fratura de cúspide, pulpi- contrário de deslocá-lo. As tensões previa-
tes, dor facial, dor no pescoço e ombro, mente induzidas no músculo temporal
espasmos musculares, reabsorção do osso direito serão aliviadas à medida que sua
alveolar, reabsorção do rebordo sob a pró- função não mais será necessária para
tese e desarranjo periodontal. manter o côndilo em posição. As forças
que previamente atuaram sobre o segundo
Dor de cabeça por
Parafunções contração muscular molar direito do paciente e no seu
Destruição do
periodonto são aliviadas porque não
trabalho
odontológico
existem mais forças laterais. Logo que a
Dor articular guia lateral esquerda entra em função, ela
Estalido Desgaste
dental
se torna a resistência da alavanca (R), a
Doença articular
degenerativa Abrasão ação muscular o esforço (E) e a ATM, o
dental
Dor miofascial fulcro (F). Assim a resistência da alavanca
Perda de osso
Hipertrofia alveolar é duas vezes maior, enquanto que o
muscular
Dentes quebrados Má oclusão
(MOHL, M.D., 1989) esforço é a metade, assim como a força
Fig. 28 - Parafunções, segundo Mohl. efetuada pelo músculo sobre as cúspides
esquerdas. Esta disposição de R, E e F
Atividades
parafuncionais Dor de cabeça constitui uma alavanca Classe III; os
músculos estão em uma desvantagem
Dor no ouvido
mecânica para realizar cargas acentuadas
sobre os dentes anteriores.
pulpite
A eliminação do fulcro do arco
transverso sobre os segundos molares
Dor na ATM
mobilidade
dental direitos com a interferência no balanceio,
desgaste
Dor nos músculos
mastigatórios pelo estabelecimento da guia lateral
dental (OKESON, J.P., 1992) esquerda, como ilustrado na figura 31,
Fig. 29 - Parafunções, segundo Okeson. assegura uma vantagem mecânica aos
dentes e os músculos ficam em desvan-
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 72

tagem para efetuar danos no aparelho que, o contato inclinado sobre o segundo
estomatognático. molar inferior quando do fechamento
O dentista tem a habilidade de mandibular tenderia a deslocar o segundo
redirecionar o grau e a direção das forças molar superior distalmente abrindo o
aplicadas sobre o aparelho estomatog- contato proximal mesial, podendo levar a
nático através da mudança da localização impacção alimentar, cárie dental, irritação
dos contatos dentários em várias posições gengival, formação de bolsa, desgaste
mandibulares. Esta redução do estresse prematuro dos dentes, fratura de cúspides e
pode interceptar o apertamento dentário e a pulpite.
duração da aplicação das forças é drástica- A figura 32 ilustra uma prematu-
mente reduzida, aliviando o estresse sobre ridade cêntrica sobre o primeiro pré-molar
os tecidos do aparelho estomatognático. superior, nesta situação, a aplicação de
força muscular tende assentar o côndilo na
Fulcro ântero-posterior fossa ao invés de deslocá-lo.
A figura 31 ilustra uma prematu- Estresse potencial
ridade cêntrica sobre os segundos molares
direitos. Os côndilos estão em relação
cêntrica. Se o paciente apertar os dentes, a 13
mandíbula será deslocada para anterior. 4 5 2 2
Quais são as possíveis conseqüências se as
pressões de apertamento forem aplicadas
sobre esta prematuridade cêntrica?
Força aplicada E B
Fulcro
ântero-posterior
Fig. 32 - prematuridade cêntrica sobre o primeiro
pré-molar superior

Supondo que existam bons contatos


entre todos os dentes neste quadrante supe-
A
E rior, um deslocamento distal do primeiro
pré-molar é resistido pelo grupo de dentes
Fig. 31 - prematuridade cêntrica sobre os segundos
distais a ele, resultando em 13 unidades de
molares direitos
suporte. Para deslocar o primeiro pré-
O músculo temporal se insere no molar superior distalmente, a ação de
processo coronóide, assim, avaliando todas escoramento do segundo pré-molar, dos
as ações das forças musculares agindo primeiro e segundo molares deve ser
sobre a mandíbula (incluindo masséter, superada. Os números acima dos dentes
pterigóideo lateral e medial, bucinador) e superiores representam unidades de
representando-as por um vetor de força suporte de estresse.
simples, ele será provavelmente posicio- Para fazer uma análise comparativa
nado no ponto E, área do segundo pré- das duas condições descritas acima (Figs.
molar e primeiro molar. Pesquisas odonto- 31 e 32), suponha-se que o paciente tenha
lógicas mostram que as maiores forças de uma dada força muscular: ao mover
mordida podem ser efetuadas nesta mesma anteriormente a alavanca mandibular para
área e a aplicação de força nesta área a posição B, como ilustrado na figura 34, a
poderia resultar em um efeito de fulcro ao força aplicada torna-se menor e movendo
redor da prematuridade cêntrica, tendendo distalmente para a posição A, a força
a deslocar o côndilo de sua fossa. Além do aplicada torna-se maior. Se a função
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 73

muscular está produzindo uma força de cêntrica, mas também em quais dentes
quantidade x no ponto B, produzirá uma ocorre o contato prematuro.
força de 2x na posição A. Esta força maior As prematuridades que produzem
de 2x é resistida por somente 4 unidades deslocamento anterior da mandíbula são
de suporte do estresse sobre o segundo potencialmente mais patogênicas sobre os
molar, enquanto que uma força menor de x dentes posicionados mais distalmente no
na posição B é resistida por 13 de unidades arco dental que as prematuridades seme-
de suporte do estresse. lhantes nos dentes posicionados mais
anteriormente, supondo que exista contato
Força aplicada Fulcro
ântero-posterior entre todos os dentes no quadrante em
máxima intercuspidação.
4 13
4 5 2 2
Finalizando, sabe-se que o potencial
da oclusão de induzir estresse sobre os
tecidos do aparelho estomatognático induz
tensões dinâmicas sobre os músculos que
funcionam cronicamente para manter as
A E B ATMs em uma posição adaptativa, evitan-
2x 1x do os distúrbios oclusais. As tensões
Fig. 33 - Alavanca A e B induzidas pelos distúrbios geram reflexos
protetores para evitar danos ao aparelho.
Para comparar as duas condições, um Portanto, se as tensões forem suficiente-
denominador comum deve ser estabele- mente intensas, podem desenvolver sinto-
cido. Para isto, divide-se o 2x da posição A mas na musculatura e nas ATMs. Em
por dois, para resultar em um denomina- alguns pacientes com apertamento, os
dor comum 1x (Fig. 34). Deve-se também sintomas da desordem oclusal podem,
dividir as quatro unidades de suporte na também, se desenvolver nos dentes e
posição A por 2, resultando em 2 unidades periodonto. Sabe-se também que quando o
de suporte do estresse. Desta maneira, 13 apertamento é induzido, as cúspides
por 2, a prematuridade cêntrica sobre o podem funcionar como fulcro. Estes
segundo molar é 6,5 vezes potencialmente fulcros têm a capacidade de conferir a uma
mais patogênica que a prematuridade sobre força muscular dada, uma vantagem
o primeiro pré-molar (assumindo que não mecânica que amplia seu efeito sobre os
há terceiro molar para apoiar o segundo tecidos de maneira prejudicial por longos
molar). períodos de tempo. Tanto o fulcro ântero-
posterior quanto o fulcro transverso do
arco podem produzir uma desordem
oclusal, gerando uma oclusão traumática.
A observação da presença de sinais e
sintomas de distúrbios oclusais durante a
anamnese e exame do paciente fornece
importantes meios para se chegar a um
diagnóstico.
Usualmente, há mais de um sinal ou
Fig. 34 - Potencial patogênico da para função sintoma presente nestes indivíduos. Os
sintomas típicos destes distúrbios se mani-
Em razão disso, o cirurgião dentista,
festam no aparelho estomatognático como
nos procedimentos de exame oclusal, deve
dor ou desconforto periodontal, hipersensi-
detectar não somente o desvio mandibular
bilidade dentária, dor e/ou hipertonicidade
que ocorre no fechamento em relação
muscular, mobilidade e/ou migração denta-
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 74

ria patológica, dor nas ATMs, impacção lâmina dura e o espaço da membrana
alimentar, gerando desconforto gengival. periodontal, mas pode também envolver
Os pacientes relatam estes sintomas como hipercementose, densidade maior do osso
uma mudança na posição dos dentes, como alveolar, calcificação pulpar e fratura
uma migração patológica do dente incisi- dental.
vo, uma mudança na mordida, uma recla- Após um diagnóstico destes distúr-
mação de impacção alimentar ou dolori- bios, o exame das características da oclu-
mento gengival, rangimento e apertamento são do paciente ajudará na definição do
noturno dos dentes, dolorimento dos den- tratamento apropriado.
tes e músculos ao acordar, irregularidade Considerando o limiar de tolerância
do movimento e travamento da ATM. Isso e a suscetibilidade dos pacientes, as
tudo é indicativo de que problemas relacio- disfunções temporomandibulares geradas
nados com a oclusal podem estar ao aparelho estomatognático se manifes-
presentes. tam em distintos grupos de pacientes, tais
Os sinais do trauma oclusal são como:
mobilidade dental, padrões atípicos de • Grupo I - Disfunção neuromuscular -
desgaste dental, migração patológica dos DNM. (Disfunção mandibular).
dentes, hipertonicidade dos músculos da • Grupo II - Disfunção temporomandi-
mastigação, formação de abscesso perio- bular. (Distúrbios temporomandibular).
dontais, ulceração gengival e mudanças na • Grupo III - Disfunção dentária. (Lesões
ATM. não cariosa das estruturas dentária).
Uma série completa de radiografias • Grupo IV - Disfunção periodontal.
periapicais da boca fornece meios para (Mobilidade dental ou migração
análise dos tecidos duros do periodonto. O patológica dos dentes).
trauma oclusal compromete mais que uma • Grupo V - Ausência Disfunção.
área ou um dente. (Acomodação).
Os sinais radiográficos do distúrbio
oclusal envolvem mais comumente a
O quadro I faz um comparativo das características dos pacientes, em função e em
disfunção ou parafunção:
FATOR FUNÇÃO PARA-FUNÇÃO
Duração dos contatos dentários Curtos e intermitentes Prolongados
Duração dos contatos dentários De 4 a 10 minutos 4 horas
em 24 hs.
Magnitude da força aplicada 9 a 18 Kg/pol2 Acima de 165 Kg/pol2
Direção da força aplicada Vertical (aceitável) Horizontal/ Lateral (injuriante)
Alavanca Classe III (às vezes classe II) Classe II ou I
Contração muscular Isotônica Isométrica
Influência ou proteção Arco adaptável. O reflexo Arco esquelético. Mecanismo
proprioceptiva condicionado evita a de proteção neuromuscular
interferência dentária ausente
Posição de fechamento Oclusão em relação cêntrica - Excêntrica – máxima
mandibular ORC intercuspidação habitual - MIH
Efeitos patológicos Nenhum ou ao menos mínimo Ocorrem mudanças patológicas
variáveis a cada paciente
Quadro I - Comparativo das características dos pacientes, em função e em disfunção ou parafunção:
Distúrbios Oclusais Fernandes Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006 75

Uma apreciação dos efeitos dos • “Mioartropatia da Articulação Tem-


microrganismos e das desordens oclusais poro-Mandibular”, Graber, G. 1971.
sobre a população adulta pode ser vista no • “Desordens Craniomandibulares”,
quadro II. McNeill, C. 1980.
• “Desordens Temporomandibulares”,
Microrganismos
(Higiene inadequada) Bell, W. Z. 1982.
a- Cárie dental (principalmente na • “Desordens Temporomandibulares”,
infância) Laskin, d., ADA. 1983. Okeson, J. P.
b- Gengivite 1992.
Desequilíbrio oclusal Bibliografia Consultada
(Maloclusão)
a- Dor no ombro e pescoço ASH, M. M., RAMFJORD, S. P. Introdução à
b- Doença periodontal avançada oclusão funcional. Traduzido por José dos
c- Dor de cabeça Santos Jr. Guarulhos S. P: Parma, 1987. 276 p.
d- Dor facial DAWSON, P. E. Avaliação, diagnóstico e
e- Desgaste prematuro tratamento dos problemas oclusais. 2 ed.
f- Pulpites Traduzido por Silas Cunha Ribeiro. São Paulo:
g- Periodontite apical Artes Médicas, 1993. 686 p.
h- Disfunção da ATM GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim,
i- Prótese desconfortável California: Denar Corp., 1977. 117 p.
j- Audição prejudicada HELLSING, G. Occlusal adjustment and
k- Reabsorção radicular occlusal stability. Journal of Prosthetic
l- Mordidas nos lábios e bochecha Dentistry. v.59, n.6, p.696-701. 1988.
m- Dor de garganta MOHL, M . D. et. al. Fundamentos de oclusão.
n- Dor referida Traduzido por Milton Edson Miranda. São
Quadro II - efeitos dos microrganismos e das Paulo: Quintessence, 1989. 449 p.
desordens oclusais sobre a população adulta OKESON J. P. Fundamentos de Oclusão e
Algumas das terminologias usadas desordens temporomandibulares. 2. ed.
Traduzido por Milton Edson Miranda. São
ao longo da história por vários autores para
Paulo: Artes Médicas, 1992. 449 p.
se referirem aos distúrbios funcionais do PAIVA, H. J. et. al. Oclusão: Noções e
aparelho estomatognático são: conceitos básicos. São Paulo: Ed. Santos,
• “Síndrome de Costen”, Costen, J. B. 1997. 336 p.
1934. RAMFJORD, S. P. & ASH, M. M. Oclusão. 3.
• “Síndrome da Disfunção da edição, Trad. Dioracy Fonterrada Vieira. Rio
Articulação Temporomandibular”, de janeiro: Interamericana, 1984.
Shore N. A. 1959. RUBIANO,C.M. Placa Neuromiorrelaxante –
confecção e manutenção (passo a passo).
• “Síndrome da Dor-Disfunção Tem-
Tradução por Fernando Luiz Brunetti
poro-Mandibular”, Schwartz, l. 1959. Montenegro. São Paulo: Editora Santos, 1993.
• “Síndrome da Disfunção com Dor”, 191p.
Voss, R. 1964. SCHILLINGBURG JR, H. T. Funda-mentos
• “Síndrome da Dor-Disfunção Mio- de Prótese Fixa. São Paulo, Quintessence, 340
Fasial”, Laskin, O. M. 1969. p., 1983.
• “Distúrbios Funcionais da Articulação SCHLUGER, S., YUODELIS, R. R., PAGE,
Temporomandibular”, Ramfjord, S. P., R. C., Periodontia: fenômenos básicos,
Ash, M. M. 1971. tratamento e inter-relação oclusais e restaura-
dores. Rio de Janeiro: Interamericana, 1981.
• “Distúrbios Ocluso-Mandibular”, 701 p.
Gerber, A. 1971.
DISFUNÇÃO NEUROMUSCULAR

Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

Na presença de distúrbios oclusais, fascial (SDDM) é um termo que envolve


os pacientes susceptíveis à disfunção neu- uma variedade de problemas, os quais
romuscular (DNM), também denominada incluem as desordens das Articulações
de síndrome dor disfunção mio fascial Temporomandibulares (ATMs), sejam elas
apresentarão disfunção mandibular. intra ou extra-articulares. Segundo Mikhail
& Rosen (1980), a SDDM é conhecida
como o denominador comum das
desordens temporomandibulares.
A síndrome dolorosa miofascial é a
causa mais comum de dor músculo-
esquelética. Acomete músculos, tecido
conectivo e fáscias, principalmente na
região cervical, cintura escapular e lombar
(YENG et al., 2003).
Histórico
Em 1918, Prentiss reconheceu que a
Fig. 01 - Representação esquemática dos músculos
do aparelho estomatognático - AE.
perda dos molares e pré-molares promove
movimentos condilares distais os quais
resultavam em pressão direta na tuba de
eustáquio, nas estruturas adjacentes e no
nervo auriculotemporal. O autor concluiu
que o colapso vertical da oclusão era o
responsável pela síndrome da disfunção
articular. O que resultou na teoria do
deslocamento mecânico.
Wright, em 1920, afirmou que a
retrusão do côndilo poderia causar
reabsorção da membrana timpânica, cons-
trição dos canais e irritação das estruturas
timpânicas (artéria timpância e nervo
Fig. 02 - Representação esquemática de como um corda do tímpano), causando perda parcial
distúrbio oclusal pode envolver todos os músculos ou total da audição.
do AE: A - côndilo não posicionado na fossa Em 1921 e 1925, Brown e McCrane,
mandibular, B - musculatura sobre estresse. respectivamente, reforçaram a teoria na
qual a perda da audição era resultado do
Síndrome da Dor-Disfunção Miofascial
deslocamento posterior dos côndilos
A Síndrome da Dor-Disfunção Mio- comprimindo a tuba de eustáquio.
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 77

Em 1934, Costen, otorrinolaringo- Em 1969, Laskin propôs a revisão da


logista norte-americano, publicou uma Síndrome da Dor-Disfunção da ATM de
teoria onde a perda dentária posterior Schwartz. “Embora os fatores mecânicos
causaria sobre-fechamento mandibular, relacionados à oclusão possam algumas
resultando em pressão dos côndilos sobre vezes causar esta condição por produzir
as estruturas retrocondilares. Essa pressão, uma superextensão ou supercontração
principalmente sobre os vasos e nervos muscular, nossas investigações suportam
auriculotemporais e meato acústico que a fadiga muscular é a causa mais
externo, resultaria em sintomas incluindo: freqüentemente encontrada, de tal
diminuição da audição, zumbidos, dor espasmo. Esta fadiga aparece predominan-
dentro e ao redor da região auricular e temente relacionada à hábitos orais
tonturas. Estes sintomas são identificados psicologicamente motivados, persistentes e
como Síndrome de Costen. Em 1936, aliviadores de tensão. Assim, temos
Costen acrescentou os seguintes sintomas considerado a Síndrome da Dor-Disfunção
à Síndrome original: herpes, glossodinia, da ATM, essencialmente como doença
neuralgia glossofaríngeal e trismo. funcional psico-fisiológica com mudanças
Com relação aos sintomas do orgânicas, a qual posteriormente pode ser
tímpano, Sicher (1948), acreditava que os notada secundariamente nos dentes e
nervos timpânicos estavam protegidos articulações. Para salientar o papel
pelas fissuras pterigotimpânicas, sendo a desempenhado pelos músculos, é sugerido
fratura dos ossos adjacentes a única o termo ‘Síndrome da Dor-Disfunção
maneira de irritar tais nervos, motivo este Miofascial’, como mais apropriado para
que levou o autor a questionar a Síndrome descrever a condição do que Síndrome da
de Costen. Dor-Disfunção da ATM.”
A teoria proposta por Costen, Laskin (1969) acreditava que o
embora apoiada por muitos autores, foi espasmo dos músculos mastigatórios seria
então contestada por outros. Zimmerman, o fator responsável pelos sinais e sintomas
em 1951 escreveu que “é evidente que do da síndrome da dor-disfunção.
ponto de vista anatômico e funcional, Segundo Weinberg (1974) o
apenas um grupo de sintomas da síndrome problema não é decidir qual fator único
da sobremordida de Costen, têm uma base causou o sintoma, mas de preferência
de fatos aceitáveis: neuralgia trigeminal e entender a inter-relação dos muitos fatores
occipital. Todos os outros sintomas são que atuam simultaneamente.
questionáveis”. Mikhail & Rosen 1980) os espasmos
Schwartz (1955), considerou as musculares podem ser iniciados de três
anormalidades oclusais apenas como maneiras: sobre-extensão, sobre-contração
fatores contribuintes ao desenvolvimento e fadiga muscular. Restaurações dentárias,
da síndrome da dor-disfunção. O mesmo próteses fixas ou removíveis que
percebeu, que as predisposições tanto interferem no espaço intermaxilar, são
psicológicas como fisiológicas eram mais exemplos de alguns fatores que podem
importantes, que os fatores precipitadores causar uma sobre-extensão muscular. A
por si só. De acordo com seu estudo, a sobre-contração, por outro lado, pode ser
Síndrome da Dor-Disfunção Miofascial, causada por fatores como, por exemplo,
aparecia primeiramente em pacientes com uma sobremordida advinda de uma perda
predisposição, devido ao temperamento, dentária bilateral.
como resultado de estiramentos muscula- Ramfjord & Ash (1984) notaram que
res (súbitos ou prolongados) ou mudanças discrepâncias oclusais juntamente com
proprioceptivas, seguidas de rápidas ou fatores psicológicos podem originar ações
extensas mudanças na oclusão. musculares anormais, e o fator chave da
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 78

adaptação do indivíduo aos distúrbios esqueletais se tornam hipertônicos e


oclusais é determinado pelo seu estado dolorosos, quando contraídos. Para Bell
psicológico. (1986), é uma condição hipertônica
Pode-se observar, após este breve involuntária induzida pelo Sistema
histórico, o quão complexo é o assunto, e Nervoso Central (SNC). Neste segundo
que se trata de uma síndrome com caso, de acordo com Okeson (1992), todos
etiologia multifatorial, devendo o os músculos são mantidos num estado de
profissional estar atento a suas moderada contração, que persiste sem
características. fadiga devido a alternados movimentos de
contração e relaxamento das fibras
Desordens Musculares musculares, mantendo o comprimento
muscular inalterado e resistindo a qualquer
De acordo com Bell (1986), “dores
alongamento súbito.
de origem muscular são a mais freqüente
McNeill (1993) e Pertes & Gross,
causa de desconforto na cabeça e
(1995), relataram que feita a anamnese,
pescoço”. Como dor de dente é a causa
iremos nos deparar com um evento de
mais freqüente das dores orais, o autor
alteração das estruturas do aparelho
afirmou que “uma boa regra para se seguir
mastigatório, como por exemplo, injúria
ao diagnosticar dores na face e na boca é,
causada por injeção anestésica ou abertura
inicialmente, considerar que a dor é dental
ampla decorrente de tratamento dental
até que se prove o contrário, e então,
prolongado. A contratura muscular é a
muscular até que se prove o contrário”.
reposta imediata a impulsos alterados e
As dores musculares causam,
desta forma está intimamente relacionada
freqüentemente, contração e inatividade
ao evento que a causou. Sua duração
muscular, não sendo facilmente
normalmente é de poucos dias, podendo
localizadas pelo paciente, pois o local e a
evoluir para o mio-espasmo.
fonte da dor podem ser diferentes. A dor
Arlen (1977) e Shafer et al. (1985),
muscular pode ser classificada, em relação
relataram a associação entre o espasmo da
à duração, em aguda e crônica. A aguda
musculatura mastigatória e estruturas pró-
pode ser dividida em contratura,
ximas, causando espasmos dos músculos
mioespasmo e miosite. A crônica é
tensores do véu palatino e tímpano, devido
conhecida como dor que persiste após a
à proximidade anátomo-funcional e inerva-
passagem do tempo normal de cicatrização
ção, causando sensação de “enchimento”
(Associação Internacional de Estudo da
em um ou em ambos ouvidos, vertigem,
Dor – IASP – reconhece o prazo de três
desequilíbrio oclusal, e artrite degenerativa
meses, como o mais conveniente ponto de
Okeson (1992), sugeriu como trata-
diferenciação entre dor aguda e crônica) e
mento, a remoção dos fatores etiológicos, e
está associada aos pontos gatilhos (trigger
utilização de terapia de suporte, instruindo
points).
o paciente a restringir o uso da mandíbula
Okeson (1992), divide as desordens
dentro do limite indolor, dieta pastosa, uso
musculares em:
de analgésico por curto período e terapia
1) Contratura Muscular Protetora
de relaxamento muscular simples.
2) Mio-Espasmo (Espasmo Muscular)
3) Miosite 2. Mio-Espasmo (Espasmo Muscular)
4) Dor Miofascial de Pontos Álgicos Bell (1986), definiu como contra-
ções musculares involuntárias induzidas
1. Contratura Muscular Protetora
pelo SNC e Okeson (1992), acrescentou
Frost (1977), definiu como um
que se diferencia da contratura pelo fato do
reflexo protetor, pelo qual os músculos
SNC recrutar unidades motoras para
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 79

contrações contínuas. Geralmente aparece pode ajudar a relaxar e aumentar o fluxo


em uma destas formas: contratura sangüíneo), massagem suave, uso de
muscular não tratada em tempo hábil, estimulação eletrogalvânica e ultra-som.
aumento do nível de estresse emocional
(levando a hiperatividade muscular) e 3. Miosite
qualquer forma de dor constante e McNeill (1993) e Pertes (1995), a
profunda (que através dos efeitos definiram como inflamação muscular
excitatórios centrais causam espasmo nos resul-tante de causa local, por traumas
músculos faciais e do pescoço). externos provocados por acidentes
Para McNeill (1993), Pertes (1995), automobilísticos, domésticos ou
Okeson (1997), Kraus (1988), o espasmo esportivos, por tensão muscular
muscular é a desordem aguda de um mús- prolongada e por infecções provenientes
culo ou grupo de músculos, manifestada de abscessos dentários.
por meio de contração muscular tônica Okeson (1992), definiu como
repentina involuntária, causando dor e inflamação local dos tecidos musculares,
limitação na amplitude dos movimentos. que pode ser resultado de mio-espasmo
Tal desordem é conhecida como trismo prolongado, com características de duração
agudo e caracteriza-se por contração mus- de algumas semanas e apresentando-se de
cular contínua (fasciculação), apresentando forma constante, o que geraria inflamação
tremores na superfície muscular. para nas estruturas adjacentes ou infecção
Na anamnese, é comum a queixa de disseminada.
mialgia decorrente de algum evento que A miosite leva á mialgia mesmo
alterou a estrutura e como conseqüência quando o músculo está em repouso, o que
contratura muscular idêntica à citada, só resulta na exacerbação da dor quando em
que perpetuada por mais tempo. A dor se função. Os músculos ficam extremamente
caracteriza pelo aumento em função, dolorosos à palpação, de forma
podendo diminuir e até desaparecer prolongada.
quando o músculo estiver em repouso. Para Okeson (1992), o tratamento
Devido ao encurtamento do músculo, o começa com a consciência de que há um
alongamento completo não pode ser problema local definitivo dentro do
facilmente alcançado, gerando limitação próprio músculo, não induzido pelo SNC.
na abertura bucal. Devido a isso a miosite leva mais tempo
Okeson (1992), sugere que o para acontecer e mais tempo para ser
tratamento deve ser direcionado ao SNC tratada. Deve-se fazer restrição dos
no sentido de diminuir os impulsos, pois movimentos mandibulares aos limites
não há nada de errado com o tecido indolores, evitar sobrecargas e utilizar
muscular propriamente dito. Deve-se como alimentação a forma pastosa ou
então: restringir o movimento mandibular líquida. Por estar o músculo inflamado,
dentro dos sintomas indolores, estimular os deve-se evitar injúrias como injeções
proprioceptores pelo uso normal (evitando analgésicas ou anestésicas, para que a
a sobrecarga muscular), manter os dentes agulha não traumatize as estru-turas locais.
separados podendo fazer uso de aparelho Para manter os dentes sepa-rados, a
oclusal (no caso de bruxismo noturno) e utilização de placa para relaxa-mento
utilizar analgésicos, injeções anestésicas muscular é indicada assim como
ou procedimentos para relaxamento medicação antiinflamatória não esteróide
muscular. Como terapia de suporte pode por três semanas. Pode utilizar-se como
ser utilizada a fisioterapia, por exemplo, terapia de suporte, exercício isométrico
calor e spray anestésico de vapor gelado, para aumento da força muscular, após
calor úmido (sobre o músculo em espasmo serem resolvidos os sintomas agudos.
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 80

Alongamento passivo também é útil. de vapor gelado na camada superficial do


Aparelhos como ultra-som e utilização de tecido muscular afetado, e alongamento do
calor úmido são recomendáveis. músculo. A utilização de modalidades
fisio-terápicas como ultra-som e
4. Dor Mio-Fascial de Pontos Álgicos – estimulação eletrogalvânica podem ser
(“Trigger-Points” ou Pontos Gatilhos) métodos efeti-vos na eliminação dos
Embora a fisiopatologia não esteja pontos gatilhos. O ultra-som atua
bem esclarecida, para Reeves et al. (1986), produzindo calor e rela-xando localmente
os pontos gatilhos miofasciais podem ser o músculo, e a estimula-ção
caracterizados clinicamente como: pontos eletrogalvânica pulsa ritmicamente os
específicos de sensibilidade em uma músculos a níveis de fadiga, relaxando-o.
musculatura tensa, na presença de Injeções analgésicas nos pontos álgicos
contração muscular local em resposta a irão eliminar imediatamente uma dor refle-
estímulo mecânico na região. xa. Como suporte terapêutico deve-se
Okeson (1992), relata ser necessária: ministrar suplementos vitamínicos, sendo
- a presença de uma fonte de dor profunda que exercícios regulares e postura adequa-
constante (podendo criar pontos álgicos da deverão ser recomendados.
não somente na fonte, mas também à Autores como Kraus (1988) (1994)
distância); - o aumento do nível de estresse e Pertes & Gross (1995), sugerem mano-
emocional (que pode levar a iniciar ou bras como exercícios, injeções, spray
ativar os gatilhos); - a sobrecarga muscu- congelante e estiramento muscular,
lar (com um estiramento súbito como o estimu-lação nervosa elétrica e
que aconteceria durante um acidente auto- transcutânea (TENS), biofeedback,
mobilístico ou osso fraturado, induzindo a correção postural, terapêutica
pontos de dor). O autor relata ainda uma medicamentosa e controle dos fatores
categoria espontânea, onde qualquer fator perpetuadores da desordem muscular.
pode iniciar dor mio-facial com ponto Pacientes com desordem muscular,
álgico, por exemplo, deficiência de do tipo, espasmo muscular, terá como
vitamina B. queixa principal dor nos músculos
Solberg (1999), definiu como elevadores, resultando em espasmo, que
proveniente de áreas hipersensíveis nos levará ao aumento da pressão inter-
tecidos musculares, as quais tendem a articular. Associado à hiperatividade do
refletir a dor e o espasmo à distância, por feixe superior do músculo pterigóideo
meio de efeitos excitatórios centrais, sendo lateral, poderá ainda levar a desordem no
considerado um dos fatores contribuintes disco articular. De maneira semelhante,
para a dor na região de cabeça e pescoço. paciente com interferência no disco
Na anamnese haverá o relato de articular, além da dor, pode ter contratura
sintomas associados aos efeitos muscular na tentativa de prevenir os
excitatórios centrais e não com a origem movimentos dolorosos. Se esta prolongar-
da dor, como por exemplo, dor de cabeça se, pode resultar em espasmo. Assim
decorrente de uma injúria sofrida em teremos a desordem de interferência do
acidente de carro. A palpação muscular, disco ocasionando a desordem muscular.
revelará a localização de pontos álgicos Isto demonstra que existe relacionamento
dentro dos músculos envolvidos. entre as várias desordens mandibulares,
Aplicando pressão nestes pontos haverá levando a diagnósticos e tratamentos muito
exacerbação da dor no lado refletido. difíceis.
Segundo Uetanabara (1980), o Por isso o tratamento inicial deve ser
tratamento consiste em alongamento do o mais conservador possível, não invasivo
ponto álgico, através de spray anestésico e reversível, e após serem tentadas todas as
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 81

terapias sem nenhum resultado de melhora Ocorre contração sustentada, geralmente


para o paciente. a intervenção cirúrgica inconsciente, de todas as fibras do músculo
pode ser considerada. podendo levar à fadiga.

Fisiopatologia Neuromuscular Disfunção Neuromuscular (DNM)

É o colapso da fisiologia nervosa e É o colapso do aparelho estomato-


muscular que promove alteração no gnático, do qual participam distúrbios
metabolismo dos tecidos. oclusais, fator psíquico ou emocional,
Com a alteração no metabolismo dos siste-ma nervoso central (SNC) e
músculos, ocorrerá na contração muscular hipertonici-dade muscular que determinam
isométrica o aumento da tonicidade das a formação do círculo vicioso patogênico
fibras musculares, que leva a compressão no núcleo mesencefálico do nervo
dos vasos, promovendo imigração sangüí- trigêmeo.
nea. Da mesma forma, os linfáticos permi- Este círculo se forma a partir de
tem grande acúmulo de toxinas e ácido estímulos específicos captados pelos
lático que gera inflamação muscular local próprioceptores do ligamento periodontal e
(miosite), manifestada por meio de estímu- conduzido pelos neurônios aferentes até a
lo doloroso (mialgia) e da integração ao integração no SNC. Ali se associam às
S.N.C. tensões psíquicas, gerando reações
Nas miosites ocorre: circulação motoras específicas, conduzidas pelos
sangüínea deficiente, difícil eliminação das neurônios eferentes até o órgão executor.
toxinas e hipertonicidade (espasmo muscu- Com a repetição constante desta situação,
lar, espasticidade). sinapses entre os neurônios aferentes e
A hipertonicidade muscular se eferentes (o córtex cerebral não participa
instala com a superprodução de impulsos mais), ocor-rem de forma automática e
motores que mantém as fibras musculares inconsciente em nível do núcleo
praticamente em contração constante. mesencefálico do nervo trigêmeo, fig.03.

Fig. 03 - Representação esquemática do círculo vicioso patogênico.


Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 76

Fig. 04 - Representação esquemática de contato Fig. 07 - Representação esquemática do deslize


prematuro deflectivo no fechamento mandibular, mandibular em direção à linha média, que
entre a aresta longitudinal distal da cúspide posicionará o côndilo do lado de contato na posição
vestíbulo distal do 46 versus aresta longitudinal de balanceio, o côndilo do lado oposto na posição
mesial da cúspide vestíbulo distal do 16, que de trabalho e induzirá hiperatividade muscular.
provocará deslize mandibular para anterior.

Fig. 08 - Representação esquemática de contato


prematuro deflectivo no fechamento mandibular,
entre a vertente triturante de uma cúspide funcional
Fig. 05 - Representação esquemática do deslize versus a vertente triturante de outra cúspide
mandibular para anterior e o comprometimento funcional, que provocará deslize mandibular em
muscular. direção contrária à linha media.

Fig. 06 - Representação esquemática de contato


prematuro deflectivo no fechamento mandibular, Fig. 09 - Representação esquemática do deslize
entre a vertente triturante de uma cúspide funcional mandibular em direção contrária à linha média, que
versus a vertente lisa de uma cúspide não posicionará o côndilo do lado de contato na posição
funcional, que provocará deslize mandibular em de trabalho, o côndilo do lado oposto na posição de
direção à linha media. balanceio e induzirá hiperatividade muscular.

Diagnóstico diferencial
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 77

O diagnóstico diferencial das Adaptar a lâmina de papel alumínio


disfunções neuromuscular relacionadas ás sobre os incisivos centrais superiores a fim
desordens oclusais é estabelecido em três de isolar os espaços interdentais do contato
etapas consecutivas: com a resina (Fig. 10). Manipular o pó e
1- Reposicionamento mandibular líquido da R.A.A.Q. em pote dappen,
2- Palpação muscular durante sua fase plástica modelá-la em
3- Uso do Front-Plateau forma de cilindro e adaptá-la sobre o papel
alumínio. Posicioná-la sobre os dentes
Reposicionamento Mandibular estendendo de vestibular para palatina dos
incisivos, apresentando na face palatina
O reposicionamento mandibular em forma de cunha.
relação cêntrica (RC), através da
manipulação mandibular, é a primeira
etapa do diagnóstico diferencial da
disfunção neuromuscular. Só haverá
conforto neuromuscular, quando a
mandíbula estiver estável em oclusão em
relação cêntrica (ORC), ou seja, quando
coincidir a oclusão dos dentes posteriores
antagônicos, máxima intercuspidação (MI) Figura 10. Lâmina de papel alumínio sobre os
com a estabilidade dos côndilos na fossa incisivos superiores
mandibular do osso temporal (RC). Na
presença de algum distúrbio oclusal, Quando a resina começar a aquecer
haverá desestabilização dos côndilos, devido á exotermia de presa, deve-se
bastando para tanto reposicioná-los para removê-la da boca do paciente e deixar
detectar os possíveis distúrbios oclusais e que conclua a polimerização em água fria.
seus efeitos. Após a presa final, lavá-la, secá-la,
Para facilitar o reposicionamento remover o papel alumínio e reposicioná-la
mandibular, deve-se confeccionar o sobre os dentes para conferir usa exatidão
dispositivo denominado “jig”, descrito por e retenção, caso não ocorra é necessário
Vitor O. Lúcia, que tem como funções repetir o procedimento.
inibir os contatos dentários posteriores e Em seguida peça ao paciente para
promover o relaxamento dos músculos da fechar a boca e verifique se há somente um
mastigação. Outros dispositivos tais como incisivo inferior em contato com o vértice
rolo de algodão, dispositivo leaf gage de da cunha palatina do jig, proporcionando
Long Jr. e outros, podem ser utilizados desoclusão máxima de um milímetro entre
com o mesmo fim, porém, o “jig” oferece os dentes posteriores, (Fig. 11).
maior segurança.
Confecção do “jig”:
Material e instrumental utilizado:
lâmina de papel alumínio, vaselina, resina
acrílica ativada quimicamente (RAAQ),
pedra montada ou broca para desgastar
RAAQ, frasco dappen, fita marcadora para
ajuste, pinça de Miller e lápis ou lapiseira Figura 11. Paciente ocluindo no “jig”, havendo
de ponta fina. desoclusão dos dentes posteriores de aproximada-
mente 1mm.
Técnica de confecção:
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 78

Caso isto não ocorra utilize a pedra


montada ou a broca de aço para eliminar o
excesso de resina, de maneira tal que o
“jig” apresente em sua face palatina dois
planos inclinados (um para direita e outro
para a esquerda), formando um vértice
(inclinado de incisal para palatina) (Fig.
12). Nesse vértice ocorre o contato do
incisivo inferior, promovendo a desoclusão Figura 14. Utilização do “Jig” por aproximada-
mínima (1 mm), entre os dentes posteriores mente 5 minutos
(Fig. 13).
Após o uso, o “jig” deve ser
guardado em recipiente com água, para ser
novamente utilizado durante a montagem
dos modelos de estudo do paciente, em
articulador semi-ajustável (ASA), com o
objetivo de realizar a análise oclusal
funcional.

Manipulação mandibular

Existem duas técnicas de


manipulação mandibular para obtenção da
Figura 12. Desgaste dos excessos para formar os relação cêntrica: técnica frontal de
planos inclinados
Ramfjord e técnica bilateral de Dawson. O
importante não é a técnica empregada, mas
sim a precisão obtida, que poderá ser
confirmada pela reprodução da
manipulação e marcação repetitiva do
ponto de contato do incisivo inferior sobre
o “jig” (com uma fita marcadora para
ajuste), ou a reprodução de qualquer outro
contato de referência.
Qualquer que seja a técnica de
manipulação utilizada, esta deverá ser
Figura 13. “Jig” concluído. Observar o vértice onde executada com delicadeza para estimular o
ocorrerá o contato. relaxamento neuromuscular, e com firmeza
para verificar a manutenção do conjunto
O paciente usará o “jig” por côndilo-disco na posição obtida, quando
aproximadamente 5 minutos (Fig. 14). esta estiver sendo registrada. O paciente
Após esse tempo, ocorre a perda da deve estar sentado com o encosto da
memória proprioceptiva dos dentes cadeira bem inclinado (posição supina) e o
interferentes, promovendo o relaxamento mento dirigido para cima, o que evita a
muscular e facilitando a manipulação protrusão da mandíbula.
mandibular.
Técnica frontal de Ramfjord

Entre as posições de referência


mandibular, a posição de retrusão (por se
tratar de uma posição bordejante), é
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 79

estável e reproduzível, por conseqüência, se fossem erguer a cabeça do paciente.


mais fácil de ser registrada que as posições Nenhuma pressão é aplicada neste
intrabordejantes. momento. A posição da mão deve ser
Após o posicionamento do paciente confortável para ambos, paciente e o
na cadeira, com o uso do “jig” ou outro operador.
dispositivo de escolha, apóia-se o dedo
polegar frontalmente e cervicalmente na
face vestibular anterior da mandíbula, na
região de gengiva inserida, e o dedo
indicador sob o mento. Em seguida,
orientá-lo para deixar a mandíbula
“relaxada”, e a partir da abertura mínima,
colocar a língua contra a porção posterior
do palato duro (simulando a deglutição),
guiando sua mandíbula para trás e para
Fig. 16 - Manipulação mandibular bilateral, plano
cima repetidas vezes, até que os côndilos frontal.
se assentem na posição de RC (Fig. 15).
Em seguida, com manipulação
suave, a mandíbula é levada a fazer
lentamente movimento em dobradiça de
abertura e fechamento. Em geral, a
mandíbula desliza automaticamente para
cima até a relação cêntrica, se nenhuma
pressão for aplicada (Fig. 17).

Fig. 15 - Representação esquemática da


manipulação mandibular frontal, plano sagital.

Nesta técnica, a guia é exercida na


porção anterior da mandíbula, o que leva
os côndilos a tomarem posição mais
posterior e superior na fossa mandibular do
osso temporal.
Fig. 17 - Representação esquemática da
Técnica bilateral de Dawson manipulação mandibular bilateral, plano sagital.

Após o posicionamento do paciente Os músculos contraídos são estirados


(na cadeira em supino), com o uso do “jig” pela pressão e respondem com maior
ou outro dispositivo de escolha, sua cabeça contração muscular (reação reflexa de
é estabilizada firmemente, entre o estiramento). Deve-se, portanto, trabalhar
antebraço e a caixa torácica do operador, com movimentos lentos de abertura e
trabalhando na posição de 11 horas (Fig. fechamento, pois qualquer pressão ou
16). movimento rápido pode estimular os
O operador então, apóia os quatro músculos posicionadores a contraírem, o
dedos de cada mão sob a borda inferior da que tornará extremamente difícil
mandíbula, ficando os dedos mínimos posicionar os côndilos em relação cêntrica.
exatamente sobre o ângulo da mandíbula e O propósito principal deste proce-
os polegares na sínfise mandibular, como dimento é desativar os músculos e deixar
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 80

os côndilos irem onde fisiologicamente


devem estar: estáveis e assentados em suas
fossas. No ato de manipulação da mandi-
bula, um arco de abertura de 1 a 2 mm é o
suficiente e não deve haver contato dos
dentes.
Se o paciente resistir à manipulação
suave, segurando a mandíbula em
protrusão, posicionar as mãos delicada-
mente e pedir ao paciente para abrir e
fechar. No ponto em que a ação de
fechamento começar a ocorrer, a mandi-
bula, em geral, retrui automaticamente. Fig. 20 - Endentação na face palatina do JIG que
Ao sentir a mandíbula basculando garantirá a exatidão do registro em RC.
livremente e os côndilos parecendo estar
completamente assentados em suas fossas, Remova o “jig” e observe se há ou
a mandíbula estará em relação cêntrica. A não presença de contato prematuro, que
posição de relação cêntrica deve sempre impeça o correto e estável fechamento da
ser verificada pela sua reprodutividade. mandíbula em ORC, ou contato deflectivo,
Depois de obtida a posição de RC, que desliza a mandíbula de seu fechamento
coloca-se uma porção de resina acrílica estável em ORC. Se observados estes
pela técnica do pincel exatamente sobre a contatos ou qualquer outro distúrbio
marca deixada pelo contato (Fig. 18) e oclusal, deve-se dar prosseguimento ao
manipula-se a mandibular para fechar exame do paciente com a palpação dos
sobre a marca (Fig. 19), fazendo uma possíveis músculos alterados por estes
endentação na face palatina do JIG de distúrbios.
resina que garantirá a exatidão do registro
Palpação Muscular
em RC (Fig. 20).
A palpação dos músculos do
aparelho estomatognático é a segunda
etapa do diagnóstico diferencial da
disfunção neuromuscular. Nessa são
localizados os músculos em disfunção, o
que permitirá apontar e distinguir o
desconforto provocado aos pacientes pelos
distúrbios oclusais de outros, como arterite
Fig. 18 - Colocação da porção de resina acrílica temporal, nevralgia do trigêmeo,
pela técnica do pincel, exatamente sobre a marca neoplasias e outros.
deixada pelo contato. Para se observar todos os dados
oferecidos pela palpação muscular, é
fundamental que o examinador tenha pleno
conhecimento dos músculos quanto à sua
origem, inserção, trajetória e funções.
Deve ser feita criteriosa palpação das
ATMs (Figs. 21 e 22) e na origem,
Fig. 19 - Fechar a mandibular sobre a marca. trajetória e inserção de todos músculos do
aparelho estomatognático: temporal (Fig.
23), masseter (Figs. 24 e 25), pterigóideo
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 81

medial (Fig. 26), pterigóideo lateral (Fig.


27), esternocleidomastóideo, posteriores
do pescoço (Fig. 28), supra hióideo e infra
hióideo, como ilustrado nas representações
esquemáticas abaixo.

Fig. 24 - Representação esquemática da palpação


externa do músculo masseter.

Fig. 21 - Representação esquemática da palpação


da ATM, através do meato acústico externo.

Fig. 25 - Representação esquemática da palpação


interna e externa do músculo masseter.

Fig. 22 - Representação esquemática da palpação


externa da ATM.

Fig. 26 - Representação esquemática da palpação


do pterigóideo medial.

Fig. 23 - Representação esquemática da palpação


do músculo temporal.

Fig. 27 - Representação esquemática da palpação


do pterigóideo lateral.
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 82

Figura 29. Lâmina de papel alumínio posicionada


sobre os dentes anteriores (canino a canino)

Fig. 28 - Representação esquemática da palpação Manipular o pó e líquido da RAAQ


do estenocleidomastóideo e trapézio. em pote dappen, durante sua fase plástica
modelá-la em forma de cilindro e adaptá-la
Front-Plateau sobre o papel alumínio, posicionando-a
sobre a face incisal dos dentes. Em
O uso do Front-Plateau, ou placa de seguida, estendê-la de vestibular para
mordida anterior, é a terceira etapa do palatina, deixando volume maior de resina
diagnóstico diferencial da disfunção por palatina, sobre a qual deverá contatar
neuromuscular. Após o reposicionamento os dentes inferiores. A resina deve ficar
mandibular em RC e a constatação da bem justaposta aos dentes “abraçando-os”
presença de distúrbios oclusais (1º etapa), de vestibular para palatina.
e distúrbios musculares (2ºetapa), é licito A mandíbula deve, então, ser elevada
supor que os distúrbios neuromusculares lentamente para contatar os dentes
são decorrentes dos distúrbios oclusais. anteriores inferiores sobre a resina, até
Como os distúrbios oclusais estão observar a desoclusão de 1 mm dos dentes
sempre relacionados à oclusão dos dentes posteriores. Essa desoclusão pode ser
posteriores, o Front-Plateau tem como seguramente obtida, colocando-se palito de
função desocluí-los, eliminando madeira, lâmina de matriz de aço para
provisória-mente estes distúrbios, devendo amálgama ou duas lâminas de chumbo do
promover então, alivio da sintomatologia filme radiográfico dobradas, entre os
dolorosa dos músculos envolvidos. dentes posteriores antagônicos, sempre
Confecção do Front-Plateau pressionando a resina contra as faces
Material e instrumental utilizado: vestibular e palatina dos dentes para
lâmina de papel alumínio, vaselina, resina manter o “abraçamento” (Figs. 30 e 31).
acrílica ativada quimicamente R.A.A.Q,
palito de madeira, pedra montada ou broca
para desgastar resina, frasco dappen, lápis
ou lapiseira de ponta fina e pontas de
borracha abrasiva para polimento.
Técnica de confecção:
Adaptar a lâmina de papel alumínio
revestindo os dentes anteriores superiores
Fig. 30. Resina adaptada sobre o papel alumínio,
de distal do canino direito a distal do
observe a desoclusão dos dentes posteriores,
canino esquerdo, a fim de isolar os espaços utilizando palitos de madeira.
interdentais do contato com a resina (Fig.
29).
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 83

Fig. 31 - Representação esquemática da confecção


do front-plateau (resina posicionada sobre os
incisivos e caninos superiores, e palito de madeira
entre os dentes posteriores para posterior Fig. 34 - Representação esquemática do desgaste
desoclusão), vista sagital. do plano palatino do front-plateau (paralelo a face
palatina dos incisivos superiores), vista sagital.
Quando a resina começar a aquecer
devido à exotermia de presa, deve-se A superfície contatante deve guiar os
removê-la da boca do paciente e deixar incisivos inferiores levemente para baixo
que conclua a polimerização em água fria. durante o movimento de protrusão e os
Após a presa final, lavá-la, secá-la, caninos nos movimentos de lateralidade,
remover o papel alumínio e delimitar com sem travamento. O espaço interoclusal
um lápis as endentações dos seis dentes deve ser o suficiente para evitar qualquer
anteriores inferiores impressas na resina. contato dos dentes posteriores em relação
Com uma pedra ou broca de aço para cêntrica e nos movimentos excursivos da
desgastar resina, eliminar os excessos (Fig. mandíbula (Fig. 35 e 36). Pois os côndilos
32) de maneira tal que o “Front-Plateau” devem estar livres para assentarem em RC
apresente na sua face palatina dois planos: sem qualquer espécie de interferência dos
um inclinado paralelo à fase palatina dos dentes posteriores.
dentes superiores e outro paralelo à fase
incisal dos dentes anteriores inferiores,
sobre a qual estes contarão sem formar
depressão (Fig. 33 e 34).

Fig. 35 - Representação esquemática, do front-


plateau instalado sobre os incisivos e caninos
superiores, promovendo a desoclusão dos dentes
posteriores, vista sagital.

Fig.
32. Desgaste dos excessos de resina acrílica.

Figura 36. Contatos que devem ser obtidos após o


ajuste: contato em PMI; contatos em protrusão;
contatos em lateralidade.
O Front-Plateau deve ser ajustado
Fig. 33 -Representação esquemática do desgaste do (Fig. 37) na boca e mantido em posição
plano incisal do front-plateau (paralelo à face pelo atrito friccional sobre as bordas
incisal dos incisivos), vista sagital.
incisais.
Disfunção Neuromuscular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 84

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DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR
Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

Na presença de distúrbios oclusais, necessariamente etiológicos, podendo ser


os pacientes suscetíveis à disfunção o resultado da disfunção e não a causa.
temporo-mandibular (DTM) apresentam
problemas clínicos que envolvem muscu- Fatores predisponentes
latura mastiga-tória, articulações temporo-
mandibulares (ATMs) e/ou estruturas Incluem fatores biomecânicos, gene-
associadas. ticos e psicológicos. As condições sistê-
Os sinais e sintomas de DTM são: micas como as desordens reumáticas,
- Dor (ATMs, cabeça, auricular, facial hormonais, infecciosas, nutricionais e
(músculos mastigatórios), pescoço. metabólicas podem influenciar no
- Alteração dos mecanismos mandibulares. aparelho mastigatório e promover o
- Limitação e descoordenação dos movi- aparecimento da DTM. Fatores
mentos mandibulares. predisponentes biomecâ-nicos comuns
- Ruídos articulares (estalos, crepitação). incluem injúrias passadas, má formação
esquelética, desequilíbrios posturais e
Fatores Etiológicos vários fatores relacionados à oclusão.
Tradicionalmente, fatores oclusais
Para estabelecer um correto como discrepância entre a máxima inter-
diagnóstico, deve-se determinar os fatores cuspidação (MI) e a relação cêntrica (RC)
etiológicos, tais como: sexo, estrutura ou a presença de interferência nos movi-
esquelética, nutrição, postura, oclusão, mentos excêntricos foram considerados
limiar de dor, alterações emocionais, como sendo fatores primários na etiologia
estresse, trauma, distúrbios do sono e da DTM. Porém, as evidencias científicas
bruxismo. Estes fatores influenciam no que sustentam a relação entre a má
resultado do tratamento e se incluem nas oclusão e a DTM são discutíveis. Muitos
seguintes categorias: clínicos associam a presença de
a- Fatores predisponentes: predispõem o características oclusais individuais, como
paciente ao risco de DTM ou do mordida aberta anterior ou mordida
desenvolvimento da dor orofacial. cruzada unilateral, com os sinais e
b- Fatores determinantes: causam o início sintomas relacionados à DTM.
da desordem. Especificamente, a mordida aberta anterior
c- Fatores perpetuantes: interferem no parece estar mais associada às mudanças
tratamento e controle. degenerativas na ATM e a mialgia
Dependendo da circunstância, mastigatória. Pullinger e Seligman (1993)
alguns fatores como o bruxismo está em propuseram que a mordida aberta anterior
mais de uma categoria, podendo ser era freqüentemente “conseqüência da
classificados como um fator determinante mudança secundária óssea condilar, ao
e contribuindo para perpetuar a desordem. invés de parte da etiologia da artrose”.
Deve-se observar que tais fatores não são A significância da mordida cruzada
Disfunção Temporomandibular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 87

não é clara. Talvez a idade seja um fator O Microtrauma resulta de eventos


importante. Pullinger e Seligman (1993) traumáticos a partir de cargas adversas
acreditam que, quando a mordida cruzada repetitivas, que podem causar mudanças
numa criança produz deslocamento da adaptativas e degenerativas na ATM como
mandíbula para o lado da mordida também produzir disfunção dolorosa dos
cruzada, ela deve ser corrigida para músculos mastigadores. Hábitos para-
reduzir as demandas adaptativas do funcionais bucais como: apertamento
aparelho estoma-tognático. Quando a dentário ou rangimento (bruxismo), ato de
mesma condição existe no adulto, o roer unhas e mascar chicletes com
problema pode não ser tão importante freqüência, podem precipitar disfunções,
porque a adaptação esquelética já ocorreu. em especial na presença de problema
Contraditoriamente, muitos clínicos oclusal existente. Devido a grande
e pesquisadores sentem que a perda do freqüência, o bruxismo em particular,
suporte dentário posterior pode ser fator merece especial atenção.
significante no aumento da carga sobre a
ATM, o que possivelmente leva a Fatores perpetuantes
mudanças degenerativas na superfície
articular. A ausência de cinco ou mais Parafunção, fatores hormonais e/ou
dentes posteriores aumenta a probabi- psicossociais associados com qualquer
lidade de desenvolver disfunção e seus fator determinante ou predisponente,
sintomas. podem sustentar a disfunção ou complicar
o seu controle.
Fatores determinantes
Classificação das Desordens
Os fatores que determinam a DTM Temporomandibulares
geralmente se incluem em duas categorias:
macrotraumas e microtraumas. Muitas áreas do saber são prejudi-
O macrotrauma pode resultar de cadas por falta de terminologia uniforme.
evento traumático a partir de fonte externa A área das disfunções temporomandibular
(extrínseco) ou a partir do aparelho não é exceção e vários sistemas de clas-
mastigatório (intrínseco). Um exemplo sificação têm sido propostos no esforço de
clássico de macrotrauma extrínseco seria diminuir a confusão e/ou controvérsia.
impacto direto ocorrido durante acidente Porém, algumas classificações apresenta-
automobilístico ou esportivo. Alguns aci- das têm aumentado a confusão, refletindo
dentes causam aceleração e desaceleração a tendência dos clínicos em usar termos
da cabeça e pescoço podendo resultar em impróprios e incluir critérios que criam
injúria de flexão-extensão na espinha categorias exclusivas. Entretanto o apare-
cervical. Alguns acreditam que isto pode lho estomatognático não atua dessa forma
causar deslocamento secundário do disco e os sintomas podem refletir a presença de
articular para hipertranslação do côndilo diferentes categorias de DTM, sendo que
durante o movimento para frente e para cada disfunção poderia contribuir para
baixo da cabeça. uma completa percepção da dor,
Inclui-se ainda nesta categoria as comprome-tendo as funções normais do
injúrias promovidas pela mastigação de aparelho estomatognático. Por exemplo,
alimentos mais duros, bocejo e longo um pacien-te pode se apresentar com
período de boca aberta (para tratamentos ATM dolorida relativa a mudanças
odontológicos ou entubação para anestesia degenerativas na superfície articular
geral), que podem também precipitar a (osteoartrite) e com um deslocamento do
DTM. disco coexistente. E estas condições
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podem também ser acompanha-das por dor mento:


muscular secundária, demons-trando a - Hiperplasia condilar
complexa interrelação entre os tecidos da - Hipoplasia condilar
ATM e os músculos da mastigação. - Aplasia
Embora pouco provável que algum - Condilólise
sistema de classificação seja aceito por - Neoplasma
todos profissionais, a Academia Ameri- - Fratura
cana de Dor Orofacial (AAOP) publicou
um sistema de classificação da DTM, I. Desordens da Articulação
integrada a um já existente de diagnóstico Temporomandibular (intra capsular):
médico, usado pela “International
Headache Society” que tem recebido - Desvio na forma
aceitação geral.
9 Defeito na superfície articular
I. Desordens da Articulação Temporoman-
dibular (intra capsulares): Os defeitos na superfície articular
- Desvios na forma: podem ocorrer tanto no compartimento
9 defeitos na superfície articular superior como no inferior da ATM.
9 afinamento e perfuração do disco Embora o defeito da superfície articular
- Deslocamentos do disco inferior possa causar problema durante a
9 deslocamento do disco com redução rotação, geralmente não requer tratamento
9 deslocamento do disco sem redução e não será discutido neste momento. Os
- Deslocamento do complexo disco defeitos na superfície articular, que reque-
côndilo: rem tratamento, em sua maioria se loca-
9 hipermobilidade lizam no compartimento superior da
9 deslocamento articulação e estão localizados na superfí-
- Condições inflamatórias: cie articular da eminência, embora possam
9 capsulite e sinovite também envolver a superfície superior do
9 retrodiscite disco, causando impedimento do movi-
- Doença degenerativa: mento normal de translação. Estas irregu-
9 osteoartrose laridades na superfície articular podem ser
9 osteoartrite causadas por trauma à mandi-bula quando
9 poliartrite os dentes estão desocluídos, inflamação,
- Anquilose: anormalidades estruturais ou condições de
9 fibrosa desenvolvimento, tais como remodela-
9 óssea mento fisiológico relacionado a forças
II. Desordens dos músculos mastigatórios adversas.
(extra capsular): Interferências no movimento podem,
- Aguda: também, variar com mudanças na pressão
9 miosite passiva interarticular que, por sua vez,
9 contratura reflexa do músculo variam com o nível da tensão emocional.
9 espasmo muscular Desta maneira, quando a tensão
- Crônica: emocional é elevada, a pressão interar-
9 dor miofascial ticular pode ser excessiva, fazendo com
9 contração muscular que qualquer interferência no movimento
9 hipertrofia seja percebida.
9 mialgia secundária a doenças Sinais e sintomas clínicos:
sistêmicas A condição é usualmente indolor e
III. Desordens congênitas e de desenvolvi-
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apresenta-se como disfunção mecânica. gerando um orifício circular com as bordas


Durante a abertura, no momento em que o fragmentadas. Ocorre mais provavelmente
paciente tenta evitar o defeito articular, em indivíduos idosos, como resultado de
nota-se um desvio do trajeto incisal no anos de desgaste. A fratura do disco pode
ponto da interferência. O desvio representa levar a mudanças degenerativas nas
a tentativa de evitar a interferência superfícies articulares inferiores.
conhecida na trajetória condilar. Devido à
ocorrência do desvio no mesmo ponto do Sinais e sintomas clínicos
ciclo translação, um estalido pode ser Os sintomas dependem da extensão
detectável no mesmo ponto durante os da lesão no disco. Se o disco for
movimentos de abertura e fechamento, perfurado, podem ocorrer ruídos ou
especialmente se a interferência não for crepitações durante o ciclo de translação,
evitada. Este estalido deve ser diferen- devido às mudanças da superfície articu-
ciado do estalido recíproco encontrado no lar. A dor é concomitante e freqüente-
deslocamento do disco com redução que mente fator característico precoce, que
raramente ocorre no mesmo ponto de contraditoriamente pode diminuir à
abertura e fechamento. Comumente, o medida que a extensão do dano aumenta.
primeiro estalido que ocorre pode ser A fratura do disco pode manifestar-se
detectado em uma abertura de 20 mm, clinicamente por si só, como alteração na
enquanto o segundo no fechamento ocorre oclusão, quando os dentes estão em
pouco antes dos dentes ocluírem. máxima intercuspidação. A oclusão varia,
baseada na presença ou ausência de
Conduta Clínica: fragmento de disco entre as superfícies
O paciente com defeito da superfície articulares. Qualquer diagnóstico de
articular deveria ser encorajado a desen- afinamento e/ou perfuração do disco
volver trajetória de movimento mandibular deveria ser confirmado por imagens,
que evite a interferência, com a intenção preferencialmente, artrogra-fia.
de permitir que ocorra uma adaptação no Sensibilidade da articulação associada a
local comprometido. Esta tentativa deve dor muscular freqüentemente está presente
ser acompanhada por esforço consciente como resultado da atividade que causou o
para reduzir a força de mastigação e dano às estruturas articulares, mas também
eliminar hábitos abusivos. Mastigar do pode ocorre secundariamente devido a dor
lado comprometido também pode ser útil, da articulação ou disfunção.
por diminuir a pressão intra-articular.
Embora a placa de estabilização da Conduta Clínica:
articulação possa reduzir a pressão na O afinamento do disco é difícil de
articulação e diminuir a hiperatividade ser diagnosticado clinicamente. Partindo
muscular, ela provavelmente não do ponto de vista prático, se a articulação
eliminará o ruído da articulação. Se a e os músculos mastigatórios associados
disfunção é intolerável ou provoca dor, estão doloridos e sensíveis à palpação,
uma consulta cirúrgica pode ser indicada. recomenda-se o uso de placa estabiliza-
dora da articulação para diminuir a carga
9 Afinamento e perfuração do disco articular e reduzir os sintomas. Devido à
incapacidade de regeneração do disco, a
No apertamento dentário a sobre- perfuração do mesmo freqüentemente
carga na ATM, pode resultar no afina- requer intervenção cirúrgica, se o paciente
mento da parte central do disco. Eventual- não conseguir tolerar os sintomas.
mente, a pressão contínua pode causar a
perfuração no corpo médio do disco, 9 Deslocamento do disco
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O deslocamento do disco, comu- desalojado pelo côndilo assentado na


mente referido como desarranjo interno, é superfície inferior central e afilada do
uma desordem caracterizada por relaciona- disco, produzindo um ruído. Com os
mento anormal entre o disco articular, movimentos, as superfícies da articulação
côndilo mandibular e eminência articular. são relubrificadas e a função normal pode
O disco é mais freqüentemente deslocado retornar. Entretanto, quanto o disco está
anteriormente ou anteromedialmente; mas fixado na eminência, os ligamentos discais
o deslocamento medial, lateral, e até são distendidos e gradualmente alongados,
mesmo deslocamentos posteriores têm possivelmente estabelecendo um estágio
sido relatados. Entretanto, discutiremos para o real deslocamento do mesmo. Ross
apenas os deslocamentos anteriores e 1987 refere a esta condição como
antero-mediais. incoordenação friccional.
Qualquer movimento de deslize ou Na articulação saudável, a banda
torção entre o disco e o côndilo é anormal, posterior do disco termina no ápice do
pois o único movimento fisiológico côndilo quando os dentes estão em
permitido é o de rotação. O relaciona- oclusão. Se os ligamentos discais se
mento apropriado do disco é obtido graças tornam alongados, o disco pode deslizar
a firmeza de seus ligamentos e a perfeita anterior-mente sobre o côndilo, com a
adaptação de suas bordas espessadas borda posterior terminando à frente do seu
anterior e posteriormente. Desta forma, ápice. Nesta posição, qualquer pressão
para que o deslocamento do disco ocorra, excessiva na ATM pode causar
é necessário alongamento de seus afinamento da borda posterior do disco.
ligamentos e deformação ou afinamento de Esta alteração do contorno do disco pode
sua borda posterior que permite o seu resultar na perda da capacidade de auto
deslocamento anteriormente ou anterome- assentamento do disco. Algumas vezes,
dialmente em relação ao côndilo. referida como deslocamento anterior
Acredita-se que o componente medial parcial do disco, esta condição não é,
ocorra devido ao comprometimento do clinicamente significante, pois pode não
ligamento discal lateral e ao tracionamento haver dor ou interferência na função.
pelo pterigoídeo lateral superior. Poderia ser considerada quase como uma
Existem várias causas possíveis para variação normal, exceto porque pode ser
o deslocamento do disco, algumas das precursora de um deslocamento do disco
quais estão ainda abertas para discussão. mais disfuncional.
Uma das possibilidades é que a pressão O deslocamento do disco tem sido
excessiva na articulação a partir do apresentado como uma série de estágios
apertamento (mordida forçada) ou trauma clínicos, progressivamente piores, come-
com os dentes ocluídos pode alterar ou çando com o deslocamento do disco com
eliminar o fluído sinovial lubrificante redução e terminando com a perfuração da
entre a superfície superior do disco e a ligamento posterior. Enquanto alguns
eminência, criando uma área de resistência pacientes podem evoluir para o deslo-
ou de adesão. Essa introdução do camento anterior do disco (DAD) sem
componente friccional prejudicial dentro redução em questão de meses, outros
de um ciclo de translação suave pode pacientes podem permanecer no estágio do
resultar em uma fixação temporária ou DAD com redução por anos e se
adesão do disco à eminência adaptarem a essa disfunção com pouco ou
especialmente após período prolongado de nenhum desconforto. A razão para esta
inatividade ou de apertamento. O disco diversidade não é sempre esclarecida.
permanece imóvel e não rotaciona ou Fatores contribuintes, tais como perda do
translada anteriormente até que seja suporte dental posterior, relaxamento
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sistêmico do ligamento ou hábitos sempre audível, ocorre em qualquer ponto


parafuncionais (apertamento) provável- do ciclo de translação na medida em que o
mente têm alguma influência. Desta côndilo se posiciona sob a banda posterior
forma, embora esta classificação dos do disco dentro de um relacionamento
desloca-mentos do disco seja apresentada normal com o mesmo. Durante o
como definitiva, deve-se tomar cuidado fechamento, um estalido suave pode ser
antes de qualquer conclusão definitiva detectável quando o disco desloca-se, para
com relação ao tratamento interceptativo. posição de intercuspidação, ou próximo a
Quando diagnosticado o desloca- ela. Este ruído duplo de abertura e
mento do disco, os achados clínicos por si fechamento é sempre referido como
só podem não ser consistentemente preci- estalido recíproco e representa desloca-
sos na determinação do estágio exato da mento do disco no fechamento e redução
relação côndilo disco. Imagens adicionais, na abertura, fig. 01.
por meio de ressonância magnética (IRM)
ou artrografia podem ser necessárias para
confirmar o achado clínico. Deve ser
enfatizado que uma articulação livre de
B
*
dor com ruído intermediário não é
indicação para imagem de tecidos moles.
O clínico deve primeiro determinar se o
resultado de uma IRM ou artrograma *A
influenciará no tratamento.
Deslocamento mecânico do disco
parece ter alta correlação com osteoartrose
da ATM, que é caracterizada por
mudanças degenerativas nas superfícies
articulares e no osso subjacente. Em
alguns casos, mudanças articulares
degenerativas podem até mesmo preceder Fig. 01 - Demonstração esquemática do estalido
e causar o deslocamento do disco pela recíproco, A: estalido na abertura, B: estalido no
fechamento.
alteração dos mecanismos da articulação.
Outro achado clínico comum é o
9 Deslocamento do disco com redução desvio da linha média mandibular para o
lado da articulação comprometida, no
Refere-se ao estágio em que o disco inicio da abertura. Isto resulta de impe-
é deslocado para posição anterior ou dimento temporário na translação, causado
anteromedial no fechamento e retorna a pelo disco deslocado. Quando a redução
posição mais estável em relação ao do disco ocorre, a translação condilar
côndilo, durante a abertura. Atividade torna-se normal e a mandíbula retorna para
secundaria dos músculos mastigatórios a posição cêntrica. O termo desvio deve
sempre acompanha o deslocamento do ser diferenciado de deflexão. Desvio é o
disco, causando dor e limitação da movimento excursivo inicial da
abertura bucal. mandíbula, contrário a linha média, sendo
que a mandíbula retorna à posição cêntrica
Sinais clínicos e Sintomas: no final do movimento. Na deflexão, a
O fato mais característico do deslo- linha média mandibular é continuamente
camento do disco com redução é o estalido deslo-cada para o lado comprometido e
durante a abertura e fechamento mandi- não retorna para a posição cêntrica.
bular. O estalido de abertura, que pode ser Desvio é indicativo de interferência
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durante o movimento e é característico do neste momento é opcional.


desloca-mento anterior do disco com Quando o suporte dentário posterior
redução, enquanto deflexão da linha média é inadequado, podem ocorrer falhas na
mandi-bular é o sinal clínico característico adaptação da articulação. Em razão disso,
do deslocamento anterior agudo do disco deve-se considerar a reabilitação dos
sem redução. dentes posteriores perdidos. Em alguns
Quando a dor acompanha o DAD casos, o uso de placa estabilizadora à noite
com redução, ela é geralmente emanada pode minimizar o trauma da articulação,
dos ligamentos discais estirados ou a partir particularmente quando se suspeita de
da pressão condilar contra a inserção apertamento noturno.
posterior. O grau de movimentação mandi- Terapia definitiva é indicada quando
bular é usualmente normal e, de fato, a o deslocamento do disco é acompanhado
abertura vertical pode ser maior que o por dor articular, ou artralgia. O objetivo
normal. Se houver abertura limitada, esta é primário do tratamento é o alívio da dor, o
resultado de imobilização muscular secun- secundário, restabelecer a relação normal
daria devido a dor da articulação, e não da côndilo-disco. Clinicamente estes objeti-
obstrução mecânica do disco. vos parecem relativamente fáceis de serem
atingidos usando a terapia de reposiciona-
Conduta clínica: mento mandibular.
Nem todos os casos do DAD com Terapia de reposicionamento
redução requerem tratamento, podendo mandibular
persistir por anos sem progredir, devido a O objetivo da terapia com placa de
adaptação fisiológica. Em vários casos, os reposicionamento anterior é avançar a
ligamentos posteriores alongam-se e mandíbula anteriormente dentro de uma
funcionam como uma extensão modificada “posição terapêutica” mantendo o disco
da borda posterior do disco. Baseado nisto, corretamente alinhado e assim eliminar a
se não houver nenhum relato de dor ou dor e o ruído articular. Sugere-se que
disfunção severa por parte do paciente e a avançando a mandíbula anteriormente
articulação não for sensível à palpação, dentro da posição terapêutica, a dor
nenhum tratamento é indicado. No reduziria, por evitar a articulação do
entanto, o estalido deve ser periódica- côndilo contra o ligamento posterior que é
mente acompanhado observando a muito inervado e vascularizado. Ao
progressão dos sinais e o início de mesmo tempo, pensa-se que a posição
sintomas de dor. condilar anterior estimularia resposta
Na articulação com estalidos a adaptativa no ligamento posterior na
presença de dor à palpação, mesmo na forma de um “pseudodisco”. Devido à
ausência de relato de dor pelo paciente, característica fibrótica e avascular do
sugere a ausência de resposta adaptativa. pseudodisco, o côndilo poderia articular
Neste caso o paciente deve ser avisado que contra este tecido sem dor, mesmo quando
a dor pode desenvolver em um futuro o disco permanecesse anteriormente
próximo, especialmente quando o hábito deslocado e o estalido presente. Não se
de apertamento está presente. O primeiro determinou ainda porque esta adaptação
passo no tratamento é a conscientização do ocorre só em alguns pacientes. O objetivo
paciente com relação ao papel do da terapia de reposicionamento, desta
apertamento e a orientação para cuidados forma, seria controlar a dor, enquanto
domésticos, visando diminuir a incidência permite o reparo e a regeneração nos
desta atividade parafuncional. O paciente tecidos retrodiscais.
deveria também ser avaliado freqüente- Existem várias controvérsias quanto
mente, sendo que um tratamento definitivo a terapia de reposicionamento. Embora
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redução de dor e a ausência de estalido o uso diurno. Assim que os sintomas


sejam os critérios mais freqüentemente estiverem resolvidos, o paciente devera ser
usados para avaliar a efetividade da liberado do uso diurno, devendo continuar
terapia de reposicionamento com placas, com o uso noturno.
estudos têm mostrado que, em Se os sintomas não desapacerem
aproximadamente 50% dos casos, tratados com a placa estabilizadora, a terapia de
com placas de reposicionamento e reposicionamento está indicada. Antes de
clinicamente bem sucedidos, o se instituir a terapia de reposicionamento,
posicionamento “normal” do disco não foi o efeito imediato do reposicionamento
obtido, mesmo quando a dor diminuiu. mandibular na eliminação do estalido
Outro problema potencial com a dever ser testado. Isto pode ser mantido
terapia de reposicionamento é a neces- fazendo com que o paciente execute uma
sidade de terapia dentária que mantenha a ampla abertura de boca, anterior ao
nova posição mandibular por um longo estalido, reduzindo o disco e então
tempo. Em alguns casos, a extensão do posiciona-se uma placa de cera para o
reposicionamento mandibular necessária registro da mordida, mantendo o fecha-
para evitar deslocamento do disco, pode mento mandibular avançado de 2 a 3 mm.
ser muito grande para ser mantida por um Se ocorrer estalido, é pouco provável que
período longo com a terapia dentária a terapia de reposicionamento tenha
oclusal. Pode haver necessidade de um sucesso na correção da relação côndilo-
termo de compromisso de objetivos de disco, mas pode ajudar na redução dos
tratamento. sintomas pelo estímulo da formação do
Entretanto, com base no tratamento pseudodisco. Por outro lado, se nenhum
de curto prazo, a terapia de reposiciona- estalido for detectado no fecha-mento, a
mento parece ser bem sucedida na redução placa de reposicionamento provavelmente
da dor e ruído da articulação. Resultados atingirá uma melhor relação côndilo-disco
em longo prazo, porém, são menos e melhora dos sintomas. O prognóstico da
encorajadores, particularmente com res- eliminação dos ruídos da articulação está
peito ao retorno do estalido articular. No relacionado com o ponto do ciclo de
entanto, apesar das controvérsias, a terapia translação onde o disco é reduzido; uma
de reposicionamento tem seu lugar no abertura com estalido inicial tem melhor
tratamento de alguns pacientes seleciona- prognóstico que uma abertura com
dos com DAD com redução. Devido ao estalido final, uma vez que o inicial
estalido articular ser resistente ao trata- implica em menor dano aos ligamentos
mento e a terapia de reposicionamento discais colaterais.
requerer a estabilização dentária subse- Se a decisão é usar a terapia de
qüente, os autores preferem começar o reposicionamento, a placa estabilizadora
tratamento com a placa estabilizadora da da articulação pode ser convertida em
articulação. Se este aparelho for pouco placa de reposicionamento anterior pelo
efetivo na redução da dor, a terapia de acrescimo de resina acrílica na sua
reposicionamento deve ser considerada. superfície oclusal, fazendo com que o
O protocolo de tratamento a seguir é paciente oclua numa posição anterior
sugerido para o DAD com redução: (protruída). Se placas mandibular e
- Instalar uma placa maxilar estabilizadora maxilar estiverem sendo usadas, elas
da articulação para ser usada à noite e devem ser complementares entre si com
sempre que possível durante o dia. Para respeito à posição mandibular. Após,
pacientes que rejeitam esta placa durante o aproximada-mente 2 a 3 meses, se a dor
dia por razões funcionais ou estéticas, reduzir significantemente, a placa de
confecciona-se uma placa mandibular para reposicio-namento deverá ser lentamente
Disfunção Temporomandibular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 94

convertida em placa estabilizadora da articular, e o espaço do disco articular


articulação. Embora o ruído usualmente desaparece, aprisionando-o na frente do
retorne após esta conversão, se o paciente côndilo. Isto resulta em sua translação
continuar livre de dor, o tratamento deverá limitada na articulação afetada e a desor-
ser considerado bem sucedido. Um dem é sempre referida como
período adicional de terapia de “travamento”.
reposicionamento pode ser necessário se a A maioria dos pacientes é capaz de
dor retornar. Antes de proceder este passo, descrever precisamente o momento exato
o papel do fator contribuinte perpetuante, do estabelecimento do DAD sem redução,
assim como a cooperação do paciente em devido a limitação repentina da abertura
relação ao uso da placa deve ser bucal. Exceto onde o macrotrauma está
reavaliada. envolvido, estas causas usualmente repre-
Em resumo, o tratamento para o sentam uma deterioração progressiva das
DAD com redução geralmente não é estruturas articulares a partir do estado do
indicado quando não há queixa de dor. O DAD sem redução. Alguns pacientes rela-
paciente deve ser informado sobre a tam história de estalido que foi interrom-
natureza da condição e instruído sobre pida por episódios de travamento, espe-
cuidados domésticos que ajudam a prevê- cialmente após período prolongado de
nir o início dos sintomas dolorosos e/ou bruxismo, apertamento, ou durante a
disfuncionais. Entretanto, a presença da mastigação. Durante estes episódios de
disfunção, mesmo na ausência da dor, travamento temporário ou intermitente, o
pode requerer tratamento definitivo. paciente tem características clínicas do
Exemplo: paciente relatando episódios de DAD sem redução, mas quando o estalido
“trava-mento”, o tratamento é indicado está presente, as características clínicas do
porque o travamento intermitente é DAD sem redução são evidentes. Quando
freqüentemente precursor de problema a articulação é travada, o paciente pode
mais sério como o DAD sem redução. usual-mente alcançar a redução do disco,
Outro exemplo é o estalido que cria movendo a mandíbula para o lado oposto e
problema social devido ao barulho. Neste relaxando os músculos elevadores através
caso, indica-se terapia com placas ou até de meios físicos ou medicação.
mesmo cirurgia. Infelizmente, neste estágio de travamento
Para evitar desentendimentos intermitente, a inserção posterior está
durante e após a terapia, é absolutamente alongada de forma irreversível, perdendo a
essencial ao clínico estabelecer junto ao elasticidade e tornando a redução do disco
paciente os critérios para tratamento bem difícil de se atingir e manter.
sucedido antes de iniciá-lo. Para a proposta de tratamento, o
DAD sem redução é dividido em sub
9 Deslocamento do disco sem redução estágios agudo e crônico.
É caracterizado pelo deslocamento ¾ DAD agudo sem redução
do disco seguido do fracasso em reduzir
ou recapturá-lo durante a translação. O Sinais e Sintomas Clínicos:
côndilo é incapaz de passar sob o disco O sinal clínico mais óbvio do DAD
deslocado, devido ao espessamento da agudo sem redução é abertura bucal seve-
banda posterior, há uma modificação na ramente limitada de no máximo 25 mm a
forma do disco de bicôncavo para bicon- 30 mm e a linha média mandibular nítida-
vexo e uma diminuição ou perda da tensão mente desviada para o lado envolvido na
na inserção posterior. O contato é perdido, lesão. A excursão protrusiva também é
entre o côndilo, o disco, a eminência limitada e acompanhada por desvio para o
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lado da lesão. Como o deslocamento do restrição permite abertura rotacional maior


disco causa obstrução mecânica do movi- que 25mm, enquanto que músculos
mento translatório normal, o movimento elevadores contraídos podem permitir uma
lateral para o lado oposto à lesão também abertura de apenas alguns milímetros.
fica restrito. Entretanto, o movimento Conduta clínica:
mandibular para o lado da lesão está No estágio agudo, a terapia inicial é
usual-mente dentro dos limites normais, direcionada para a redução do desloca-
desde que apenas o movimento rotacional mento do disco através do posicionamento
seja necessário na articulação do mesmo manual. Antes de realizar este procedi-
lado. Qualquer restrição na excursão para mento, o paciente deveria tentar reduzir o
o lado envolvido é quase sempre acusada disco através do posicionamento próprio,
por dor, pelo impedimento do côndilo sob movimentando a mandíbula para o lado
a inserção posterior inflamada e não oposto e abrindo-a amplamente. Se não for
devido a qualquer obstrução mecânica. bem sucedido, indica-se o posicionamento
Esta situação ocorre mais freqüentemente manual. O posicionamento consiste em
na presença de história de trauma. restabelecer o espaço do disco entre o
O DAD agudo sem redução é côndilo e a eminência, permitindo que o
doloroso devido à inflamação na cápsula mesmo seja reduzido ou recapturado por
articular, inserção posterior, e/ou ligamen- manipulação manual. O côndilo é tracio-
tos discais. Algumas vezes, o paciente nado para baixo através de pressão do
sente a necessidade de empurrar na lateral operador com o polegar da mão direita
da articulação ou na lateral da mandíbula sobre os dentes posteriores, ao mesmo
para tentar reduzir o deslocamento do tempo, força-se na região do mento para
disco. Além do envolvimento capsular, a trás e para cima. O crânio deve ser
atividade muscular do temporal e do estabilizado pela mão esquerda do opera-
masseter no lado envolvido é por vezes dor enquanto que o côndilo é estabilizado.
aumentada. No estado agudo, o ruído da Para que isto ocorra, a lâmina superior
articulação geralmente está ausente, mas à retrodiscal precisa estar funcionalmente
medida em que o deslocamento se torna intacta, uma vez que esta é a única
crônico, podem ocorrer mudanças na estrutura capaz de retrair o disco. Prévio
superfície articular, causando crepitação. ao reposicionamento, é aconselhável pres-
O movimento limitado pode ser crever antiinflamatório não esteróide para
sintomático, pelo espasmo dos músculos controlar a dor moderada e reduzir
elevadores. Nesta situação, um diagnóstico qualquer inflamação da articulação que
diferencial é necessário para determinar a possa estar presente. Quando espasmos
causa da restrição. Em geral, a contração musculares secundários estão presentes, a
dos músculos elevadores restringe apenas prescrição de relaxante muscular esquelé-
a abertura vertical e não afeta tico também pode ser benéfica. Um blo-
significativa-mente excursões laterais ou queio do nervo aurículotemporal pode ser
protrusivas. Em contraste, uma causa necessário numa articulação extrema-
aguda intracapsular de restrição mente dolorosa, para permitir ao clínico
mandibular, tal como um não realizar o procedimento de reposiciona-
deslocamento do disco articular reduzido, mento.
poderá obstruir toda translação condilar, Se o reposicionamento manual for
afetando a abertura, a protrusão e as bem sucedido, evidenciado por aumento
excursões para o lado oposto à lesão. A na abertura vertical e habilidade de movi-
menos que movimentos articulares sejam mentar a mandíbula para o lado oposto,
limitados pela presença de dor articular uma placa de reposicionado anterior
severa, uma causa intracapsular de deverá ser colocada imediata-mente no
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arco superior para evitar o deslocamento redução diminui as chances de reposicio-


do disco. Este dispositivo deve ser namento bem sucedido devido a
adaptado no reposicionamento, avançando probabilidade de mudanças irreversíveis
a mandíbula em 2 mm a 3 mm para frente severas que ocorrem na articulação. Ao
e ligeiramente para o lado oposto. A contrário, um episódio único agudo de
incorporação de uma pequena rampa guia travamento que é acompanhado pela
protrusiva na placa superior irá evitar que abertura limitada e dor intensa tem
o côndilo se posicione posteriormente prognóstico mais favorável, especialmente
quando o paciente reclina. Esta placa deve se a condição é o resultado de um episódio
ser usada o tempo todo, inclusive durante único de trauma em uma ATM relativa-
a alimentação, por no mínimo de 10 dias. mente saudável. Mesmo quando o
Recomenda-se que o paciente faça uso de prognóstico é desfavorável, tentativa para
dieta pastosa. reduzir o deslocamento do disco deverá
Após 10 dias, se o disco permanecer ser feita na maioria dos pacientes. Estudos
reduzido, uma placa menos reposiciona- têm demonstrado que com o reposicio-
dora para o arco mandibular pode ser namento, os ruídos da articulação freqüen-
aplicada para uso diurno, alternando com a temente retornam com tempo, mas os
placa maxilar à noite. A posição terapêu- sintomas de dor podem rapidamente
tica para ambas as placas deve ser diminuir. Quando o reposicionamento para
idêntica. As visitas semanais para avaliar o reduzir o desloca-mento do disco não é
progresso, monitorar os aparelhos e tratar bem sucedido, outras alternativas devem
os tecidos moles fazem-se necessárias. Em ser consideradas. No passado, cirurgia era
dois meses, se o disco ainda permanecer um tratamento recomendado, mas agora é
reduzido, a placa de reposicionamento sabido que vários pacientes podem adaptar
pode gradualmente ser convertida para para um deslocamento permanente do
uma placa de estabilização da articulação, disco e função sem dor devido à formação
pela remoção da endentação oclusal e das de pseudodisco. Com o tempo, eles podem
rampas guias. Se o paciente sentir retorno até conseguir uma variação normal de
do travamento, o procedimento de reposi- movimentos.
cionamento e subseqüente terapia com Isto manteria o argumento de que o
placa podem ser repetidos. Neste momen- paciente com deslocamento do disco não
to, entretanto, a extensão da disfunção reduzido deveria ser tratado “fora do
deve ser reavaliada para determinar a disco”, usando placa estabilizadora da
praticidade do tratamento dental em longo articulação para induzir formação de pseu-
prazo, para manter a mandíbula numa dodisco antes de recomendar correção
posição mais anterior. Na eventualidade cirúrgica. Terapia de reposicionamento é
do tratamento dental não ser viável, o contra-indicada porque pode causar tensão
paciente poderá ser tratado como se o desnecessária da inserção posterior. O
deslocamento do disco fosse permanente. paciente deve ser aconselhado a mastigar
O sucesso clínico da redução do pequenas porções, utilizando menor aber-
disco pode ser usualmente determinado tura bucal. A terapia de analgésicos
pela comparação da quantidade da aber- (drogas antiinflamatórias não esteróides)
tura vertical e movimento para o lado pode também ser recomendada para
oposto antes e após o reposicionamento. controlar dor e inflamação.
Em casos questionáveis, podem ser Dor persistente na articulação
necessárias imagens para verificar o normalmente indica que a adaptação não
posicionamento do disco. Uma história de está ocorrendo. Nestes casos, se a dor é
episódios freqüentes de travamento ou intensa, procedimento cirúrgico deve ser
deslocamento prolongado do disco sem considerado. Antes da cirurgia, realiza-se
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bloqueio diagnóstico para confirmar que a entretanto, não respondem ao reposicio-


fonte de dor é a articulação e não os namento manual, requerendo decisão com
músculos circundantes. O diagnóstico de respeito ao tratamento: com placa estabili-
disco deslocado deve também ser confir- zadora (tratamento fora do disco) ou
mado com imagens para tecidos moles, intervenção cirúrgica. A decisão geral-
tais como imagem por ressonância mente é baseada no grau de qualquer dor
magnética (IRM) ou artrografia. presente. Como já estabelecido, é acon-
selhável tratar o paciente não cirúrgica-
¾ DAD crônico sem redução: mente, usando placa estabilizadora da
Sinais e Sintomas articulação e modalidades adjuntas para
Em casos crônicos, o disco é induzir mudanças adaptativas na inserção
permanentemente deformado e o posterior.
ligamento posterior disfuncional, Em alguns casos, a carga contínua
impossibilitando a redução do disco. Antes na articulação produz forças compressivas
deste estágio, a abertura mandibular pode anormais na parte anterior da inserção
ser levemente limitada e acompanhada por posterior do disco. Inicialmente, pode apa-
ligeiro desvio para o lado afetado. Alguma recer alongamento do ligamento retro-
restrição no movimento lateral para o lado discal inferior, ocasionando, por vezes,
oposto pode também estar presente. Com o hérnia ou perfuração da inserção posterior.
tempo, um grau de movimento mais Diagnóstico da perfuração é confirmado
normal retorna à medida que a inserção através de artrografia ou de procedimento
posterior e os ligamentos discais artroscópico (IRM, tem alta sensibilidade
continuam a se alongar e provavelmente se para deslocamento de disco, mas não é tão
rompem. Se presente a dor, não é tão precisa para perfuração). O motivo pelo
severa como no estágio agudo. O som qual alguns pacientes são capazes de se
mais comum da articulação é a crepitação. adaptar à carga da articulação através da
A maioria dos pacientes com DAD remodelação sem dor, enquanto outros
crônico sem redução relata história de desenvolvem dor, está ainda aberto à
estalido e travamento ocasional, seguido discussão. Provavelmente, a presença de
de limitação de abertura e, ocasional- tecido conjuntivo hiperplástico na parte
mente, dor. A exceção ocorre quando o posterior da fossa causa dor em alguns
trauma é o evento iniciador. Quando o pacientes. Quando o côndilo comprime
clínico suspeita que o paciente tem DAD este tecido, a dor ocorre. Fatores siste-
sem redução, o diagnóstico pode ser micos podem estar envolvidos em adição a
difícil, especialmente se ele é incapaz de fatores locais, como o apertamento ou
relatar a história do ruído da articulação ou estresse emocional. Quando a dor ou
do início do travamento. Nestes casos, as limitação severa persiste na articulação,
evidências radiológicas de deslocamento procedimento cirúrgico pode ser indicado.
de disco são necessárias para confirmar o
Deslocamento do Complexo Disco-
diagnóstico.
Côndilo
Conduta clínica
Em razão de alguns pacientes terem 9 Hipermobilidade
dificuldade de relatar suas histórias, uma Durante a abertura normal, à medida
tentativa para reduzir o disco através do em que o complexo disco-côndilo trans-
reposicionamento natural é indicada. Se o lada e se move anteriormente ao longo da
reposicionamento é bem sucedido, aconse- eminência articular, o disco rotaciona
lha-se terapia de reposição. A maioria dos posteriormente no côndilo. Como resulta-
pacientes com DAD crônico sem redução,
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do de abertura excessiva, além dos limites aquele lado e retornando para a linha
normais do ciclo translatório, o limite média. Clinica-mente, a hipermobilidade é
posterior de rotação do disco pode ser mais notável em pacientes com a face
alcançado e qualquer abertura adicional alongada, onde os côndilos são salientes
pode ocorrer sem rotação do disco no em relação ao resto da face. Hiper-
côndilo. Isto pode resultar num movimen- mobilidade não é sempre acompanhada de
to brusco e ruidoso à medida que o dor, a menos que se torne crônica.
complexo côndilo desliza anteriormente Para o diagnóstico e o plano de
como se fosse uma unidade além da crista tratamento, os ruídos de ampla abertura de
articular. Esta condição é chamada de boca associados com hipermobilidade
hipermobilidade, mas foi anteriormente devem ser diferenciados do clique de
referida como sub luxação ou deslo- abertura, que sempre significa redução de
camento parcial. A maioria dos pacientes deslocamento anterior do disco. Devido ao
apresenta história de abertura maior de deslocamento do disco, este poder ser
boca quando estão comendo ou gritando. reduzido a qualquer ponto no ciclo
A hipermobilidade pode ocorrer após translatório, o clique associado com redu-
procedimento de abertura de boca prolon- ção do disco pode ser detectado durante as
gado, tal como extração de terceiro molar, excursões protrusiva e balanceio, assim
tratamento endodôntico de molar, entuba- como durante o movimento de abertura.
ção endotraqueal para anestesia geral ou Em contraste, o barulho associado com
injúrias traumáticas. Usualmente, ambas hipomobilidade é perceptível apenas em
as articulações estão envolvidas, mas a aberturas amplas.
hipermobilidade unilateral pode ocorrer
como reação compensatória à hipomo- Conduta clínica
bilidade na articulação do lado oposto. Em A maioria dos pacientes é capaz de
certos pacientes, a hipermobilidade repre- minimizar hipermobilidade, aprendendo a
senta uma variação da função normal, limitar a abertura da boca. Eles deveriam
relacionada à predisposição genética de evitar bocejos e grandes mordidas enquan-
maior elasticidade dos componentes arti- to comem e apoiar suas mandíbulas pelo
culares. Isto pode também ocorrer como posicionamento de uma mão sob o queixo
ma conseqüência de inclinação acentuada durante as consultas dentárias. Exercícios
da eminência articular comumente encon- para fortalecer os músculos elevadores
trada em indivíduos com mordida podem também ser úteis para reduzir a
esquelética facial profunda, em que a hipermobilidade. Quando esta é dolorosa,
oclusão é associada a esta característica. alguns autores consideram a cirurgia
artroscópica para restringir a translação
Sinais e Sintomas clínicos condilar através da escarificação das
Próximo ao ponto final da abertura estruturas de tecido mole da cápsula
ampla, deve haver uma pausa momentânea articular. Quando a hipermobilidade da
no movimento dos côndilos, após a qual ATM é parte de uma condição articular
eles pulam para frente e para a posição generalizada, ela deveria ser considerada
anterior à crista da eminência. Inicial- benigna e nenhum tratamento é indicado.
mente, este movimento pode ser rude e Em pacientes menores de 13 anos, a
irregular e é freqüentemente caracterizado hipermobilidade não requer tratamento,
por ruído da articulação descrito como visto que a eminência articular não está
“baque”. Ambos os côndilos estão envol- ainda completamente desenvolvida. Em
vidos, mas no fechamento, um côndilo adultos, a hipermobilidade pode levar a
pode preceder ao outro no retorno à fossa, condição mais séria, como o deslocamento
causando balanço da mandíbula para recorrente da mandíbula.
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ocupada pelos côndilos.


9 Deslocamento (Luxação)
Conduta clínica
Deslocamento, também conhecido Pacientes com deslocamento do
como “travamento aberto” é caracterizado complexo côndilo-disco estão com dor e
pela inabilidade em fechar a boca após extremamente apreensivos, precisando ser
abertura ampla. Isto ocorre mais freqüen- atendidos de forma gentil e tranqüila.
temente em pacientes com história de Normalmente, há tensão aumentada nos
hipermobilidade, mas pode também surgir músculos elevadores que sustentam o
espontaneamente após bocejar ou abertura deslocamento, logo o fechamento forçado
ampla da boca por tempo prolongado. da mandíbula deve ser evitado, uma vez
O deslocamento pode resultar de que pode exacerbar o espasmo dos
movimento excessivo e irregular do com- músculos elevadores.
plexo côndilo-disco à frente da eminência O paciente dever ser inicialmente
articular. Embora o disco articular possa orientado para abrir a mandíbula contra
estar numa relação apropriada com o resistência no sentido de relaxar os
côndilo e a eminência, aquele pode alcan- músculos elevadores, através de inibição
çar uma posição bem anterior a esta. recíproca. A redução do deslocamento
Somando-se à interferência da eminência mandibular pode ser tentada quando o
articular, o espasmo dos músculos eleva- paciente é orientado para bocejar o mais
dores pode posicionar o côndilo em nível amplamente possível, enquanto que o
superior, evitando que o mesmo retorne à profissional exerce uma pressão para
sua posição na cavidade glenóide. baixo e para posterior no mento. Se a
Alguns casos de deslocamento têm redução não for atingida, deve ser
sido relatados por Katzberg e Westesson indicado procedimento manual mais
(1993) onde o disco é deslocado para agressivo que permita a passagem do
posição posterior ao côndilo, evitando sua complexo côndilo-disco sobre a eminência
passagem sobre o bordo anterior do disco e o retorno à fossa. Este pode ser obtido,
quando ele tenta retornar à fossa. Nestes posicionando os dedos polegares sobre os
casos, o côndilo pode não estar retido molares e pressionando para baixo e para
arteriormente à eminência. O espasmo dos trás, enquanto o paciente boceja. Devido
músculos elevadores com freqüência ao fato de que a mandíbula possa ser
acompanham o deslocamento do côndilo e fechada repentinamente, ataduras devem
mantêm a diminuição do espaço do disco envolver os polegares do clínico. Em
articular, evitando o fechamento da alguns casos, pode ser necessário o uso de
mandíbula. relaxantes musculares e/ou anestesia local.
Outros pacientes com dor severa aguda da
Sinais e Sintomas Clínicos
articulação ou deslocamento prolongado
A mandíbula é travada aberta e o
podem necessitar de sedação intravenosa
paciente está obviamente em estresse e dor
antes que ocorra a redução.
que aumentam à medida que tenta fechar a
Mesmo em casos onde o desloca-
mandíbula. O mioespasmo dos músculos
mento posterior do disco é a possível
elevadores aumenta o desconforto. Há
causa do deslocamento mandibular
uma má oclusão aguda, com contato
(luxação), deve-se tentar a redução manual
apenas entre os dentes mais posteriores,
no sentido de aumentar suficientemente o
resultando em mordida aberta anterior. Os
espaço do disco articular, permitindo que
côndilos estão geralmente à frente e, em
o côndilo passe sob o disco. Se estas
alguns pacientes, depressões podem ser
manipulações digitais falharem,
notadas na área pré-auricular formalmente
recomenda-se a estimulação do reflexo de
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vômito pelo toque de um espelho bucal no são usualmente consideradas como uma
palato mole, o que pode inibir a atividade única entidade clínica. Em ambas as
dos músculos elevadores e, desta forma, condições pode ocorrer secundariamente
aumentar as chances de sucesso no um trauma, que comprime a ATM, após a
fechamento mandibular. abertura de boca prolongada ou após
Se o deslocamento for crônico, o repentina extensão ou pressão dos liga-
paciente deverá ser orientado para reduzir mentos capsulares ou discais. Capsulite e
a mandíbula por si só, usando o treina- sinovite podem ser associadas à outras
mento habitual semelhante àquele aplicado desordens coexistentes na ATM, tais como
para a hipermobilidade. Intervenções deslocamento de disco, hipermobilidade
cirúrgicas podem ser necessárias se a ou luxação. Não é pouco comum encontrar
condição se tornar intolerável. Isto é feito resíduos de cartilagem degenerada entre a
na forma de eminencectomia (remoção da articulação.
eminência articular) ou eminoplastia
(posicionamento de um implante que Sinais e Sintomas clínicos
aumenta a altura da eminência para evitar O principal sintoma é dor em
o deslocamento). repouso, intensificada durante a função ou
quando a articulação é pressionada. Como
Desordens Inflamatórias conseqüência secundária da dor, o movi-
mento pode estar limitado. Sensibilidade à
Sobrecarga da articulação devido ao palpação diretamente sobre o polo lateral
bruxismo, mastigação excessivamente pe- da articulação é achado característico de
sada, trauma, pressão ou infecção, pode capsulite e algum edema sobre a
causar resposta inflamatória na cápsula articulação também pode estar presente.
fibrosa, membrana sinovial, e tecidos Normalmente nenhuma evidência de mu-
retro-discais. dança estrutural óssea pode ser detectada
Dor contínua, mesmo em repouso, com radiografias, mas algumas evidências
aumentada pelo uso funcional da ATM é o de edema inflamatório podem ser
principal sintoma caracterizando as suas observadas com IRM.
desordens inflamatórias. À proporção que
a inflamação diminui, a dor também Conduta clínica
diminui. Por ser a dor contínua, efeitos
excitatórios secundários centrais, tal como O tratamento depende, em grande
a dor referida, contratura muscular, hipe- parte, da etiologia. Se um macrotrauma for
ralgesia (resposta exagerada a estímulos o fator iniciador e não será repetido,
nocivos), e alodinia (resposta dolorosa a indica-se, então, a limitação funcional da
estímulos leves sobre a área afetada) são mandíbula, analgésicos leves(não esterói-
freqüentemente parte do conjunto de des) e calor úmido ou ultra-som na
sintomas. Desordens inflamatórias da articulação. Em caso de dor aguda que não
ATM podem ser classificadas como responde ao tratamento, injeção de corti-
capsulite, sinovite e retrodiscite. costeróide dentro e ao redor da ATM pode
ajudar a amenizá-la e reduzi-la reduzindo
9 Capsulite e Sinovite também a inflamação. Devido à possibi-
lidade de deterioração química do côndilo,
Capsulite é a inflamação da camada não mais que duas injeções devem ser
ex-terna de fibras da cápsula articular e indicadas num curto período de tempo (tal
sinovite é a inflamação do revestimento procedimento é contra-indicado se houver
sinovial interno. Tais desordens possuem infecção, neste caso, deve-se prescrever
quase as mesmas características clínicas e antibióticos).
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Quando a inflamação estiver relacio- modalidades terapêuticas físicas como


nada com microtrauma crônico ou ocorrer ultra-som podem ser indicadas. Pode ser
secundariamente como deslocamento do recomendável o posicionamento de placa
disco, terapia mais definitiva pode ser estabilizadora da articulação para reduzir a
indicada. O uso de placa estabilizadora da carga sobre os tecidos retrodiscais e
articulação pode reduzir o bruxismo e induzir cicatrização. Na presença de má
diminuir a pressão sobre a mesma. A oclusão aguda, esta placa pode ser tempo-
terapia reposicionadora pode minimizar o rariamente modificada pela introdução de
trauma dos ligamentos do disco nos casos um componente reposicionador anterior
de deslocamento. para evitar que o côndilo pressione
novamente os tecidos retrodiscais. Se o
9 Retrodiscites paciente não responder a este tratamento,
injeção de corticosteróide pode ser
Os tecidos retrodiscais são altamente
benéfica.
vascularisados e inervados. Assim sendo,
O clínico devera ser advertido com
eles são incapazes de tolerar forças exces-
relação à manipulação manual da articu-
sivas. As retrodiscites podem ser causadas
lação inflamada, no sentido de aumentar a
por trauma externo agudo no mento,
variação da mobilidade. Este procedi-
forçando os côndilos posteriormente con-
mento pode intensificar a dor e induzir
tra os tecidos, podendo causar edema
contração muscular protetora. Embora seja
inflamatório. Isto pode também ocorrer
importante restaurar qualquer perda da
gradualmente como resultado de micro-
variação da mobilidade e evitar hipomo-
trauma repetitivo crônico aos tecidos
bilidade, a etiologia da inflamação deve
retrodiscais secundários à perda de suporte
ser primeiramente identificada.
dos molares ou quando os côndilos estão
deslocados posteriormente devido ao Doenças Degenerativas
deslocamento anterior do disco.
É um grupo diverso de desordens
Sinais e Sintomas clínicos que primariamente afetam as superfícies
Esta condição causa dor constante e articulares. Em algumas classificações,
palpação dolorosa posterior e lateral da estas entidades clínicas têm sido catego-
articulação. A dor aumenta pelo aperta- rizadas sob a denominação de artrites.
mento ou pelo movimento da mandíbula Doenças degenerativas incluem três tipos
para o lado da inflamação, gerando de desordens localizadas: osteoartrose,
pressão do côndilo contra o tecido osteoartrite, e a poliartrite, que são
inflamado. Quando o edema estiver causadas por uma condição generalizada
presente, o côndilo pode ser forçado sistêmica de artrite. No passado, vários
anteriormente, resultando numa má termos foram usados para as desordens
oclusão aguda, vista clinicamente como degenerativas localizadas, tais como artrite
desoclusão dos dentes posteriores do lado degenerativa, doença degenerativa da
da inflamação, e contato prematuro dos articulação, artropatia temporomandi-
dentes anteriores no lado oposto. bular, artrose deformante, osteoartrose e
Conduta clínica osteartrite. Somente com a compreensão
Quando a retrodiscite é causada por da história natural e progressão da
um único evento traumático, o paciente osteoartrose e osteoartrite, pode-se
deverá ser tratado como se tivesse eliminar alguma confusão relativa à
capsulite e sinovite. Função limitada, dieta terminologia.
pastosa, antiinflamatória (não esteróides) A ATM tem a capacidade de se
para dor e inflamação, calor local e várias adaptar a demandas funcionais através de
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processos de remodelamento articular da articulação e pode ocorrer antes do


progressivo que mantêm o equilíbrio entre estabelecimento de qualquer deslocamento
a forma e a função. Entretanto, se ocorrer do disco. Desde que mudanças na ativi-
sobrecarga das estruturas articulares, a dade da superfície articular podem
capacidade reparativa da articulação pode também induzir mudanças degenerativas
ser excedida e as superfícies articulares no disco, tem sido sugerido que em alguns
incapazes de se adaptarem. Esta sobre- casos o deslocamento do disco possa ser
carga pode resultar em colapso dos tecidos sinal de osteoartrose ao invés de ser sua
articulares. Uma falha em manter a causa.
homeostasia levando a mudanças degene-
rativas pode também ocorrer quando a Sinais e Sintomas clínicos
carga na articulação é normal, mas a São caracterizados pela ausência de
capacidade adaptativa fisiológica é dimi- dor e falta de pontos sensíveis na articu-
nuída pela idade ou fatores sistêmicos. De lação quando palpada. A mandíbula pode
acordo com Moffett (1984), mudanças ter limitação de abertura bucal com
degenerativas são “o caminho” final deflexão para o lado comprometido secun-
patológico para todas as doenças, danos e dariamente às mudanças articulares. É
degenerações que afetam a articulação usualmente ouvida crepitação causada
durante seu ciclo de vida. pelas mudanças nas superfícies articulares
durante a abertura e fechamento bucal,
9 Osteoartrose sendo mais provável estar presente em
estágios mais avançados da doença.
É a desordem degenerativa não Embora estudos de imagens muitas vezes
inflamatória da articulação, comprome- revelem evidências de mudanças estrutu-
tendo principalmente os tecidos articulares rais no osso subarticular do côndilo que
e o osso subcondral. Enquanto carga confirmam o diagnóstico, estas podem não
média ou sobrecarga da articulação pode ser detectáveis precocemente no processo
levar à remodelação óssea, a pressão degenerativo.
excessiva sobre a ATM pode resultar em
Conduta clínica
degeneração do tecido fibroso articular
A osteoartrose da ATM é uma
que recobre o côndilo. A
condição em que a morfologia óssea da
compressibilidade elástica destas
articulação foi alterada. Na ausência de
fibrocartilagens é sempre diminuída,
dor, a terapia é contra-indicada. No entan-
transferindo o estresse para o osso
to, se as mudanças estruturais são severas
subjacente. A proporção que o processo
a ponto de alterar a oclusão, o tratamento
degenerativo continua, a ativi-dade
dentário pode ser necessário para compen-
osteoclástica pode causar afinamento ou
sar tais mudanças. A osteoartrose pode
perfuração da córtex condilar articular, em
representar uma fase que se segue à
acréscimo, áreas císticas subarticulares
osteoartrite.
podem se desenvolver nos espaços medu-
lares do côndilo. Proliferação do osso nas 9 Osteoartrite
margens do côndilo pode resultar na
formação de osteófitos. Embora semelhante à osteoartrose
É geralmente aceitável que a em vários aspectos, difere significativa-
osteoartrose pode ocorrer secundariamente mente pela existência da dor devido à
ao deslocamento do disco devido à perda inflamação secundária na ATM. Alguns
do efeito de acolchoamento do mesmo. pacientes podem desenvolver resposta
Mas a osteoartrose pode também ser inflamatória à sobrecarga da ATM por
conseqüência do mecanismo de sobrecarga razões que não são prontamente aparentes.
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Nickerson e Boering (1989) descreveram com a instabilidade oclusal causada pelas


o “evento artrítico” que foi estabelecido mudanças estruturais degenerativas da
como “surgimento de resposta inflama- ATM.
tória produzindo dor durante o remode- Mudanças radiográficas são usual-
lamento ósseo”. mente evidentes nos estágios tardios da
A maioria dos casos de osteoartrite doença e podem incluir achatamento do
tem início gradual e é auto limitante. O côndilo, osteófitos, formação cística e
processo degenerativo, até mesmo na diminuição do espaço da articulação.
ausência de terapia definitiva da ATM,
parece desaparecer usualmente dentro de Conduta clínica
um período de 3 anos. A dor desaparece, O primeiro passo do tratamento é
um grau aceitável de mobilidade retorna, e educar o paciente a respeito do estágio de
os ruídos parecem diminuir. Entretanto, dor aguda e a evolução da doença. Deve-
alguma alteração estrutural óssea no se também enfatizar a alta limitação desta
côndilo ou fossa permanece. Esta condição condição, o papel das várias modalidades
estabelecida é algumas vezes referida de tratamento no decorrer da dor e
como osteoartrose, devido ao estimular os processos reparativos.
desaparecimento do componente É importante estabelecer dieta
inflamatório e da dor. pastosa ao paciente e induzi-lo a exercer
funções dentro dos limites livres de dor.
Sinais e Sintomas clínicos Farmacoterapia é um tratamento adjunto
importante. Aspirina ou antiinflamatórios
O sintoma característico da osteo- não esteróides podem ser prescritos para
artrite na ATM é a dor localizada e controlar a dor e a inflamação articular,
constante. Nos estágios iniciais, a dor é relaxantes musculares ou agentes
relatada como sendo exacerbada após ansiolíticos são sugeridos aos pacientes
alimentação ou função e aliviada no com hiperatividade muscular. Quando a
repouso. Posteriormente, pode haver dor dor é severa, injeção de corticosteróide
após o repouso, rigidez articular ao pode ser útil.
acordar e crepitação. Frio e tempo úmido Por ser sobrecarga mecânica da
freqüentemente aumentam a dor. articulação a causa principal da osteoar-
Devido à dor, pode haver limitação trite, é recomendado o uso de placa
no grau de movimento, incluindo deflexão estabilizadora durante o maior número de
para o mesmo lado e alguma restrição no horas possível. Se o deslocamento do
movimento para o lado oposto. Típica- disco está presente e se isto for fator
mente, a parede lateral da articulação é contribuinte significante, a terapia de
sensível à palpação e ocorre dor quando a reposicionamento pode ser considerada.
articulação é sobrecarregada. Algum Se a dor for resistente ao tratamento
edema na articulação pode estar presente, e intolerável, a intervenção cirúrgica pode
especialmente quando um trauma for o ser necessária.
fator desencadeante. Mialgia e espasmos
dos músculos mastigatórios comumente 9 Poliartrite
acompanham osteoartrite e representam a
tentativa dos músculos de evitar a As desordens poliartríticas sistêmi-
mobilidade da articulação dolorosa. cas podem também afetar a ATM e
Envolvimento muscular pode também freqüentemente apresentam características
ocorrer como efeito excita-tório central em clínicas que lembram a orteoartrite:
resposta ao estímulo doloroso da existem mudanças degenerativas na
articulação. Pode, também, ser relacionada cartilagem articular e no osso adjacente
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juntamente com inflamação dos tecidos alta rotação da mandíbula, as imagens


capsular e sinovial. Incluídas na categoria revelam evidências de mudanças ósseas
de poliartrite, existem várias desordens destrutivas, variando de erosão cortical
com diferentes etiologias, tais como artrite irregular até destruição completa e severa
reumatóide, artrite reumatóide juvenil, dos côndilos. Também pode ocorrer
artrite infecciosa, doença de Lyme e achatamento da eminência articular e
desordens metabólicas como hiperuri- mudanças na fossa glenóide.
cemia. Caracteristicamente, as doenças
reumáticas inflamatórias envolvem ambos Conduta clínica
os lados do corpo, isso se aplica também a Desde que o envolvimento da ATM
ATM. é secundário, é importante que, primeira-
A artrite reumatóide, tanto na forma mente a desordem sistêmica seja identi-
adulta como juvenil é a doença mais ficada e tratada pelo profissional médico.
comum do grupo e estima-se que de 34% a Exames laboratoriais, devem ser usados
75% destes pacientes têm envolvimento da em conjunto com a história médica e
ATM. Na ATM as mudanças começam na exame físico. À medida que a desordem
periferia como resposta inflamatória não do sistema se torna mais importante,
específica que converte o tecido sinovial alguns sinais e sintomas na ATM podem
em tecido de granulação. À medida que diminuir.
estas células aumentam e se estendem A terapia de suporte para as ATMs é
dentro do espaço articular, elas interferem essencialmente paliativa e envolve
com a função normal da articulação repouso da articulação, fisioterapia e
causando dor. Enzimas são liberadas, antiinflama-tórios não esteróides para
causando destruição e erosão do côndilo e controle da dor. Pode ser ministrada
osso temporal, o que eventualmente injeção intra-articular de corticosteróide,
produz anquilose fibrosa e deformidade mas somente na ausência de possíveis
ocluso-facial. complicações. Em alguns pacientes, a
estabilização articular com placas pode
Sinais e Sintomas clínicos oferecer alívio dos sintomas. Se o paciente
No estágio agudo, estão presentes a oclui primaria-mente nos molares, a parte
dor e a sensibilidade à palpação lateral da mais posterior da placa se torna mais fina,
ATM. O tecido sobre a articulação pode podendo fraturar e criar um possível
exibir outros sinais de inflamação, tais problema, como a extrusão dos segundos
como edema, rubor, calor e função limi- molares. Embora a oclusão instável esteja
tada. A crepitação pode também ser presente, ela só deve ser tratada de
evidente. Os sintomas são também exacer- maneira irreversível após o processo
bados com atividade parafuncional, masti- degenerativo estar sobre controle e a
gação abusiva e, eventualmente, atividade inflamação articular reduzida ou
normal. Quando a artrite reumatóide afeta eliminada. A conduta dentária é necessária
as ATMs, mudanças degenerativas severas para criar uma oclusão estável, devendo
nos côndilos podem permitir que o ser considerada a estabilidade do côndilo
processo condilar remanescente se mova ao longo da eminência articular. Em caso
superiormente dentro da fossa, resultando de extremo dano, a cirurgia ortognática
em um contato oclusal somente nos pode ser indicada.
últimos molares. Isto pode levar a rotação
da mandíbula, com os últimos molares Anquilose
agindo como fulcro, criando maloclusão
Pode ser definida como a “imobi-
severa com a retrusão mandibular e uma
lidade ou consolidação de uma articulação
mordida aberta anterior. Nestes casos de
Disfunção Temporomandibular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 105

devido à doença, injúria, ou procedimento é usado para se referir a este


cirúrgico”. Na ATM, a restrição dos envolvimento.
movimentos pode ser causada pela anqui- Quando a anquilose fibrosa é mais
lose dos tecidos fibrosos, que é mais difusa e funde com o disco e a inserção
comum, ou pela anquilose óssea, que é posterior à fossa, eminência ou ambos,
relativamente rara. Com a introdução de essa condição é referida como fibrose
exame de artroscopia da ATM em 1974, o intracapsular. A fibrose pode também
papel da anquilose fibrosa como causa da envolver a cápsula articular (fibrose
dor e disfunção da ATM ganhou aceitação capsular) pela formação de bandas
crescente. Antes do uso da artroscopia, a fibrosas dentro da cápsula ou causando seu
ênfase principal como causa da restrição espessamento generalizado da cápsula.
do movimento condilar era o
deslocamento do disco, com menor Sinais e Sintomas clínicos
consideração dada à outras formas de Se o disco estiver fixado à fossa ou
patologia intracapsular. ao longo da eminência, a translação é
restrita. O aspecto clínico freqüentemente
9 Anquilose Fibrosa lembra o deslocamento anterior do disco
sem redução, há limitação dos movi-
O tecido fibroso pode aderir o mentos de abertura e para o lado oposto e
côndilo, o disco, e ou tecido retrodiscal na deflecção para o lado comprometido
parede posterior da cápsula, fossa ou durante a abertura. Qualquer dor que
eminência articular. Várias condições esteja presente é variável e pode ser
podem causar anquilose fibrosa. A causa causada pelo estiramento dos ligamentos
mais comum é o hematoma secundário ao discais na tentativa de forçar abertura
trauma da articulação. Também pode ampla. Movimentos restritos devido a
ocorrer após cirurgia ou como resultado de anquilose fibrosa precisam ser diferencia-
uma extensão da sinovite. Adesões dentro dos dos movimentos limitados causados
da articulação pode também levar à pelo deslocamento anterior do disco sem
anquilose fibrosa. redução, desde que cada situação requeira
Adesões podem resultar de carga um tipo de tratamento. Imagem de tecido
prolongada da articulação durante o mole é sempre usada como auxiliar no
apertamento, o que diminui a lubrificação diagnóstico.
sobre as superfícies articulares e causa
“fixação” temporária do disco à Conduta clínica
eminência. Neste estágio, a adesão pode O tratamento depende da presença
ser facilmente rompida com o movimento de dor e do grau da disfunção. Se o
condilar. No entanto, se as adesões se paciente tem função adequada e descon-
prolongarem, podem formar bandas forto mínimo, nenhum tratamento é
fibrosas que levam a fixação permanente indicado. Mas se a condição é intolerável,
das superfícies articulares. Embora a o tratamento de escolha é a cirurgia
maioria das adesões se desenvolvam na artroscopia seguida de fisioterapia. Nos
cavidade superior da articulação, entre o casos em que o disco está fixo à eminência
disco e a eminência, elas também têm sido ou está anteriormente deslocado, cirurgia
detectadas na cavidade inferior da artroscópica pode melhorar a função e
articulação entre o disco e côndilo. prevenir posterior destruição dos tecidos
Achados artroscópicos têm revelado que a das articulações.
maioria das adesões patológicas é
encontrada no terço lateral da articulação. 9 Anquilose óssea
O termo síndrome do impedimento lateral
Disfunção Temporomandibular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 106

Esta condição é devida à prolife- depende do diagnóstico diferencial.


ração de células ósseas, causando união de Nenhuma distinção foi feita entre
estruturas duras da ATM que resulta em problemas envolvendo crianças e adoles-
sua completa imobilidade. Pode desen- centes e aqueles encontrados em pacientes
volver como resultado de infecção, fratura adultos. Comparando-se ao volume de
ou desordem inflamatória crônica. Com o literatura científica escrita sobre DTM em
advento de antibióticos, a incidência de adultos, existem relativamente poucos
anquilose óssea é pouco comum. artigos sobre DTMs em crianças, embora
estudos concluíram que existe incidência
Sinais e Sintomas clínicos razoavelmente alta de sinais e sintomas de
Clinicamente, esta condição asseme- DTM em crianças e adolescentes. Acre-
lha-se à anquilose fibrosa. Existe limitação dita-se que muitos problemas intracapsu-
no grau de movimento, deflexão para o lares observados em crianças e adoles-
lado comprometido e movimentação centes são de natureza transitória, refle-
restrita para o lado oposto. Os estudos de tindo crescimento, maturação e remodela-
imagens irão revelar a conexão entre as mento das articulações e esqueleto facial,
superfícies ósseas articulares. Anquilose assim como a transição para a dentição
óssea comumente não é associada à dor. adulta. Dentre os grupos de população
Conduta clínica estudados, concluiu-se que a idade e o
O tratamento depende somente da índice de DTM aumentavam concomitan-
extensão da disfunção, desde que esta temente. Dessa forma, baseado em estudos
condição é usualmente indolor. A correção clínicos, recomenda-se que aos problemas
envolve cirurgia aberta da articulação para de DTM em crianças e adolescentes
remover o osso unido ou deixá-lo em deveria ser dada a mesma abordagem dos
posição e criar nova superfície articular. pacientes adultos. O tratamento do deslo-
Ambas as anquiloses (fibrosa e óssea) são camento de disco em pacientes jovens,
normalmente acompanhadas pela contra- entretanto, pode requerer uma estratégia
tura dos músculos elevadores, considerada diferente.
como parte de todo o programa de trata- O objetivo de muitas terapias, cirúr-
mento. gicas ou não, é tratar a DTM dolorosa com
deslocamento de disco por meio do alívio
Considerações finais da dor e permitindo o reposicionamento do
disco. Tem sido sugerido que o relaciona-
Foi apresentada uma discussão geral, mento normal disco-côndilo protege a
incluindo características e condutas clíni- articulação de mudanças degenerativas e é
cas das desordens mais comuns envol- necessário para a mandíbula alcançar seu
vendo a ATM. Entretanto, alguns sinais e máximo potencial de desenvolvimento
sintomas comumente associados com as genético. Provavelmente, no desenvolvi-
desordens intracapsulares podem também mento do paciente seria prudente enfatizar
ser encontradas em outras condições o valor de se atingir uma relação normal
mastigatórias. Por exemplo: tanto as disco-côndilo para prevenir futuros
desordens intracapsulares como o espasmo proble-mas no paciente adulto.
dos músculos elevadores pode apresentar- O paciente geriátrico também
se com dor muscular unilateral, dor merece especial consideração. Na
periauricular, dor de cabeça na região avaliação de pacientes idosos, vários
temporal e limitação da função da fatores deveriam ser considerados, tais
mandíbula. Diferentes estratégias de trata- como: mudanças no aparato
mentos são usadas para cada condição e o craniomandibular relacionadas à idade,
sucesso do tratamento freqüentemente estado da dentição e sua relação com a
Disfunção Temporomandibular Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 107

DTM e contribuição de várias doenças oclusão. Traduzido por Milton Edson


sistêmicas aos sintomas da DTM. Miranda. São Paulo: Quintessence,
A classificação apresentada neste 1989. 449 p.
capítulo abrange várias, mas não todas as 5. OKESON, J.P. Management of
condições patológicas da ATM. Desta for- Temporomandibular Disorders and
ma, o clínico é aconselhado a ler outros Occlusion. Ed 3. St Louis: Mosby,
textos e artigos de artropatias da ATM. 1993
6. PERTES, R.A Gross, S. G.
Bibliografia Consultada Temporomandibular disorders and
oro-facial pain. Carol Stream, Illinois:
1. KATZBERG, R.W. WESTESSON, Quintessence, 1995. 368 p.
P.L. Diagnosis to the Temporoman- 7. PULLINGER, A.G. SELIGMAN, D.A
dibular Joint. Philadelfia: Saunders, Trama history in diagnostic groups of
1993: 25-70 temporomandibular disorders. Oral
2. MAHAN, P.E. ALLING, C.C. Facial Surg Oral Med Oral Pathol 1991;
Pain. Ed 3, Philadelphia: Lea & 71:529-534.
Febiger, 1991: 197-237. 8. ROSS, J.B. Dianostic criteria and
3. MOFFETT, B.C. Diagnosis of Internal nomenclature for TMJ arthrography in
Derangements of the Temporoman- sagittal section: Part I. Derangements.
dibular Joint. Vol 1. Seattle: J Craniomandibular Disorders Facial
University of Washington, 1984. Oral Pain 1987; 1:185-201
4. MOHL, M.D. et. al. Fundamentos de
DISFUNÇÃO DENTÁRIA
Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

No grupo de pacientes suscetíveis à interesse primário (HOTZ, 1987, VOLK,


desordem dentária, a presença de distúr- 1987), (fig. 02).
bios oclusais e de outros fatores de origem Outros itens freqüentemente asso-
psicológica e sistêmica induz o desenvol- ciados com a abrasão dental incluem o
vimento de parafunções, que podem lápis, palito, ponta do cachimbo e grampo.
provocar perda não cariosa das estruturas Mascar fumo, morder linha e usar fio
dentária, (fig. 01). dental inadequadamente também podem
causar uma abrasão clinicamente signifi-
cativa (NEVILLE, 1998).

Fig. 01 - Caso clínico de paciente com disfunção


dentária - parafunção (bruxismo).

São consideradas parafunções: aper-


tar e/ou ranger dentes, morder lábios e
bochecha, chupar dedo, roer unha, hábitos
Fig. 02 - Caso clínico de lesão não cariosa.
posturais (mastigação unilateral, protrusão
da mandíbula) e outros. ATRIÇÃO
A perda não cariosa de estrutura É o desgaste resultante do contato
dentária na dentição humana é variada e dente-a-dente por meio de movimentos
multifatorial (BRAEM, 1982), podendo funcionais ou parafuncionais, incluindo
ser classificada em categorias como
mastigação e bruxismo (LEE, 1984).
abrasão, atrição, corrosão e abfração
Apresenta-se como facetas de desgaste
(LEE, 1984, SHUGARS, 1985, GRIPPO oclusal e incisal (KAIDONIS, 1992,
et al, 2004, OWENS & GALLIEN, 1995).
GRIPPO, 1991), geralmente pequenas,
ABRASÃO lisas de bordas definidas e brilhantes,
planas em etapas primárias e côncavas em
É o desgaste da estrutura do dente etapas secundárias. Normalmente ocorre
por forças mecânicas secundárias à ação de modo sincrônico em ambas arcadas, nas
de um agente externo, como a abrasão por superfícies antagônicas de parafunção.
escova de dente (LEE, 1984 KAIDONIS Quando associado ao processo de envelhe-
1992, GRIPPO, 1991). Nesse processo o cimento, esse fenômeno pode ser mais
tamanho e a dureza das partículas abra- fisiológico do que patológico (fig. 03).
sivas da pasta de dente, a pressão exercida
e a freqüência da escovação são o
Disfunção Dentária Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 109

Fig. 04 - Caso clínico de lesão não cariosa - erosão.


Fig. 03 - Caso clínico de lesão não cariosa -
atrição.
A corrosão secundária às secreções
gástricas é denominada perimólise. Pode
A destruição pode ser acelerada por resultar de uma hérnia do hiato, esofagite,
esmalte de qualidade inferior ou ausente obstipação, úlcera péptica e duodenal,
(fluorose, hipoplasia ou dentinogênese gravidez, regurgitação da má digestão e
imperfeita), contatos prematuros, oclusão vômito crônico, como o visto em
topo a topo, abrasivos intra-orais, erosão e associação com a bulimia (KLEIER 1984,
hábitos de ranger os dentes, (NEVILLE, NEVILLE et al., 1998), (figs. 05, 06 e 07).
1998).

CORROSÃO

Perda de superfície dental causada


por ação química ou eletroquímica de
origem endógenas e/ou exógenas
(GRIPPO, et al 2004). A teoria da
corrosão química explica como vários
tipos de ácido descalcificam o esmalte.
Causas endógenas de corrosão
costumam produzir um padrão único de Fig. 05 - Caso clínico de perimólise em dentes
perda de esmalte. Posteriores.
O fluído gengival, é ácido e pode Nos pacientes com vômito, o ácido
ser corrosivo quando em contato com os estomacal é projetado sobre a superfície da
dentes na região cervical (BODECKER, língua e entra em contato com a face
1945). palatina dos incisivos, caninos e pré-
Em dentes suportam excesso de molares superiores. Porém a erosão
carga oclusal, tal processo é causado pela comumente não aparecerá antes que a
toxidade dos produtos residuais do regurgitação tenha ocorrido por dois anos
metabolismo periodontal, que não são (STAFNER & LOVESTEDT, 1947). a
eliminados pela corrente sangüínea em superfície oclusal dos dentes posteriores e
razão do estresse a que está submetido, a lingual dos inferiores podem ser
mas sim no colo dentário, em forma de envolvidas em casos extremos.
exudato ácido (REHBERGER, et al. (UPDEGRAME, 1976, HOUSE, 1981).
1982). (fig. 04).
Disfunção Dentária Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 110

corrosivo de qualquer bebida ácida não


depende exclusivamente do valor de seu pH,
mas também é fortemente influenciado pela
sua capacidade de tamponamento, das
propriedades de quelação do ácido e pela
freqüência e duração da ingestão.
Fig. 06 - Aspectos radiográficos de paciente com Tabletes mastigáveis de vitamina C,
perimólise, as restaurações metálicas aparecem tabletes de aspirina, aspirina em pó e o uso da
como se fossem ilhas sobre os dentes droga anfetamina Ecstasy tem sido associados
comprometidos.
com corrosão da superfície oclusal dos dentes
Perimólise é uma manifestação clíni- posteriores.
ca comum em pacientes com anorexia Aplicação tópica de cocaína na
nervosa, fruto da associação de regurgita- mucosa oral tem sido associada a corrosão na
ção gástrica com movimentos habituais da face vestibular dos dentes ântero-superiores e
língua sobre a superfície palatina dos primeiro pré-molar. Abuso do álcool também
incisivos superiores. A anorexia é mais tem sido associado à alta incidência de
freqüente na puberdade (12 a 20 anos) corrosão, devido à regurgitação crônica e
vômito que se originam da gastrite associada
numa relação de 20 mulheres para 01
com o abuso do álcool (GRIPPO et al, 2004).
homem. (HELLSTROM, 1977).
Corrosão dos dentes por causa
ocupacional pode ocorrer durante exposição a
gases industriais que contêm ácido
hidroclorídrico ou sulfúrico, assim como o
ácido usado na galvanização e na manufatura
de baterias, munições e refrigerantes (GRIPPO
et al, 2004).

Ácidos exogênicos estão presentes


Fig. 07 - Caso clínico de perimólise em dentes em comida, drogas e bebidas não
anteriores. alçoolicas. Algumas dietas são ricas em
ácidos orgânicos (LINKOSALO &
Causas exógenas de corrosão, tem MARKKANEN, 1985, SULIVAN &
sido relatado que qualquer substância KRAMER, 1983), ao passo que bebidas
alimentar que possui um valor de pH crítico mais suaves contêm ácidos inorgânicos
menor do que 5,5 pode vir a corroer e (RYTÖMAA et al., 1988). Regurgitação
desmineralizar os dentes (ZERO,1999. Isto pode introduzir ácidos endogênicos dentro
pode ocorrer como resultado do consumo de da boca (HELLSTROM, 1977, JONES
alimentos altamente ácidos aquecidos e/ou 1989, KAIDONIS et al. 1992, GRIPPO,
bebidas tais como manga e outras frutas 1991) e isto também tem sugerido que a
cítricas, refrigerantes carbonatados e chupar ação salivar diminuída pode exacerbar a
balas ácidas ou azedas. Enxaguatórios bucais severidade da lesão (LINKOSALO &
ácidos também podem ser corrosivos. MARKKANEN, 1985, BEVENIUS et al.,
Refrigerantes carbonatados acidulados podem 1988, WOLTGENS et al., 1986).
ser o maior componente de muitas dietas,
Bruxismo quando combinado com
principalmente entre adolescentes e
regurgitação nervosa de conteúdos esto-
crianças(CORTELLINI & PARVIZI, 2003).
macais ácidos ou de vômitos habituais,
Água mineral carbonatada foi aumen-
pode dar origem à erosão adamantina e ao
tada em seu pH por pelo menos metade de
desgaste incisivo e palatino extrermamente
uma unidade quando é tomada; seu efeito
corrosivo no esmalte é mínimo. O potencial rápido (RAMFJORD & MAJOR, 1984).
Disfunção Dentária Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 111

Após diagnosticarem um caso de


Perimólise em uma adolescente Boksman
et. al. em 1986, encontraram como causa
mais provável a ingestão diária de 700 ml
de refrigerante tipo “cola”.
Quanto ao tratamento, este deve ser
realizado associando clínica médica e
odontológica.

ABFRAÇÃO FIG. 08 - Desenho esquemático da teoria de Lee &


Eakle.
É uma classificação apresentada na
9 Papel da tensão oclusal
literatura para explicar perda de estrutura
Observações de lesões cervicais
dental não cariosa (BRAEM, 1992,
cuneiformes podem indicar que tensões
GRIPPO, 1991, LEE, & EAKLE, 1984).
oclusais sobre o dente é o fator que iniciou
A palavra Abfração significa ab
essas lesões. Estudos têm mostrado que
(distância) e factio (quebra), o que define
carga excêntrica aplicada sobre a super-
a perda patológica de tecido duro em
fície oclusal do dente gera tensões que são
decorrência de forças biomecânicas, que
concentradas nas regiões cervicais,
causam uma flexão dentária e conseqüente
(THRESHER & SAITO, 1973,
fadiga do esmalte e dentina, em um local
YETTRAM et al, 1976, SOARES et al.
distante do ponto da carga oclusal
2002) (figs. 09 e 10).
(GRIPPO, 1991). Essas lesões apresen-
tam-se na forma de cunha nas regiões
cervicais dos dentes e aventam a hipótese
de que o fator etiológico primário para tais
lesões seja a sobrecarga oclusal. Pode
compro-meter dentes subseqüentes de um
hemiarco ou um único elemento dentário,
com bom suporte periodontal. Sabe-se que
o fator mais significante no tratamento
dessas lesões é a remoção da sobrecarga
oclusal, antes do procedimento restaura-
dor.
A teoria proposta por Lee & Eakle
em 1984, sugere como possível etiologia
Fig. 09 - Caso clínico de abfração nos dentes 25 e
forças laterais (carga biomecânica), que 26, vista frontal.
podem criar tensão elástica de flexão e
deformação da estrutura dental, desarran-
jando os cristais de hidroxiapatita do
esmalte e permitindo que pequenas
moléculas, como as de água, penetrem e
tornem esses cristais mais susceptíveis ao
ataque químico, e posterior deterioração
mecânica (Fig 08).

Fig. 10 - Caso clínico de abfração nos dentes 25 e


Disfunção Dentária Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 112

26, vista sagital. O aparelho estomatognático durante


a função direciona três tipos de tensão
9 Propriedades físicas da estrutura
sobre o dente: compressiva, elástica e
dentária
cisalhamento. A tensão compressiva é a
As propriedades físicas do dente têm
resistência contra compressão, a tensão
sido extensivamente medidas e aparecem
elástica é a resistência contra estiramento
variando consideravelmente entre os indi-
ou alongamento e cisalhamento representa
víduos, de dente para dente no mesmo
a resistência contra torção ou deslizamento
indivíduo e ainda dentro de locais diferen-
(LEE & EAKLE 1984).
tes no mesmo dente (PHILLIPS, 1973).
De acordo com Lee & Eakle, 1984, a
Porém, certas características físicas podem
severidade da lesão será de acordo com o
ser generalizadas. Entre estas a dentina
número de forças envolvidas. Quando o
aparenta ser mais forte que o esmalte na
dente é carregado excentricamente, flexão
tensão (PHILLIPS 1973, BOWEN &
e dobra são incorporadas ao dente. Se a
RODRIGUEZ 1962), devido sua alta
tensão aumenta, lesões de abfração no
resiliência (tenacidade) que a habilita a
esmalte e dentina mostra uma concavidade
suportar grandes deformações sem fratura.
cuneiforme (forma de V e linhas com
O esmalte movimenta como unidade
ângulos nítidos), no fulcro do dente, ou
rígida, enquanto a dentina deforma elasti-
seja, na junção dentina esmalte (JDE)
camente sob o mesmo. O esmalte é cons-
(LEE & EAKLE 1984).
tituído de três componentes: um mineral
A resultante das forças aplicadas
que compreende o prisma de esmalte, uma
sobre o dente causa destruição no esmalte
matriz orgânica e água, tanto dentro quan-
e dentina (GRIPPO 1992). As forças
to ao redor. Com o uso de microscopia
envolvidas são cíclicas e estáticas e orien-
eletrônica, podem ser vistos os prismas de
tadas pela direção, magnitude, freqüência,
esmalte compostos por minúsculos cristá-
duração e localização da força de origem.
litos que possuem aproximadamente 40
Durante a função de mastigação fisioló-
nm (nanômetros) de diâmetro (ARENDS
gica, forças são direcionadas no longo
et al., 1979). O esmalte embora duro, é
eixo do dente com maior quantidade de
também quebradiço frágil e pode tolerar
tensão localizada na junção cemento
somente uma pequena quantidade de
esmalte, (LEE & EAKLE, 1984). Quando
deformação antes de fraturar. A habilidade
existem problemas de maloclusão, forças
para suportar tensão depende significativa-
laterais são produzidas (tensões compres-
mente, da direção da força relacionada à
sivas e elásticas), causando deformação ao
orientação dos prismas de esmalte
redor do dente (LEE & EAKLE 1984). A
(PHILLIPS, 1973). Por exemplo, a habili-
tensão elástica então, desorganiza a adesi-
dade do esmalte em suportar força que
vidade química da porção cristalina do
tracionam os prismas de esmalte um do
esmalte e dentina, que resulta em fadiga,
outro parece ser bastante frágil. Em um
deformação e fratura (LEE & EAKLE
estudo do comportamento friccional e
1984). O dente é, então, mais susceptível à
falha na superfície do esmalte, Powers et
redução dentária por abrasão, atrição e/ou
al., 1973, observaram que a quebra elásti-
erosão, (GRIPPO 1992, LEE & EAKLE
ca ocorre em torno dos prismas do esmalte
1984).
dentro da substância inter-prismática. É
A direção da força e a orientação dos
um fato bem conhecido que micro-fraturas
prismas de esmalte representam impor-
na superfície enfraquecem seriamente
tante papel na habilidade do esmalte em
materiais quebradiços.
sustentar tensões (LEE & EAKLE 1984,,
9 Tipos de tensão GOEL, KHERA & RALSTON 1991). A
ação de mastigar representa, aproximada-
Disfunção Dentária Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 113

mente, 9 minutos durante as 24 horas do O termo bruxismo tem sido atribuído


dia (GRIPPO 1992). ao longo da história a vários distúrbios,
As seqüelas no envolvimento do tais como apertamento dentário (bruxismo
esmalte incluem linhas finas de fratura, cêntrico) e ranger dos dentes (bruxismo
estrias e lesões cuneiformes (GRIPPO excêntrico), resultando em desgaste não
1992). Já as seqüelas do envolvimento da funcional das superfícies dentárias.
dentina incluem uma lesão profunda na Karolyi, em 1901, foi o primeiro a
cervical em forma de V, completamente realizar um estudo científico sobre o
circundada pelo dente ou várias chanfra- problema e o denominou neuralgia trau-
duras na junção dentina esmalte (GRIPPO matica, o que posteriormente foi denomi-
1992). Uma invaginação da ponta da nado de efeito Karolyi, por Weski em
cúspide (abfração oclusal) pode ocorrer 1928; neurose do hábito oclusal por
nas depressões em molares e pré-molares Tishler em 1928; de bruxismo, por Miller
como resultado da invaginação dos pris- em 1936; parafunção, por Drum em 1967
mas de esmalte na superfície oclusal e ultimamente é considerado um hábito
(GRIPPO 1992). parafuncional, (REHBERGER, et al.
A localização da lesão é determinada 1982), (fig.11)
pela direção da força lateral que produz a
tensão. O tamanho da lesão é determinado
pela magnitude e freqüência da tensão
produzida (LEE & EAKLE 1984).
A relação entre as lesões de
abfração e a morfologia e anatomia do
dente na junção dentina esmalte (espessura
do esmalte e dentina) também foram exa-
minadas (LEE & EAKLE 1984, GOEL,
KHERA & RALSTON 1991). Fig. 11 - Caso clínico de parafunção (bruxismo).
Estudos concluíram que existem É fundamental que o Cirurgião
variações na distribuição de tensões na Dentista conheça a etiologia desse hábito
junção dentina esmalte e os dados sugerem de origem multifatorial, que causa contro-
alto grau de continuidade entre a tensão vérsia entre os autores e grande dificul-
padrão, a junção DE e a formação das dade no estabelecimento de seu diagnós-
lesões cervicais, (GOEL, KHERA & tico e tratamento.
RALSTON, 1991). Segundo HUFFMAN & REGENOS,
O dente canino representa importan- 1977, uma noite de bruxismo é igual uma
te papel sobre os movimentos laterais na vida inteira de mastigação.
dentição, suprindo função protetora para o
relacionamento dos dentes posteriores, se 9 Etiologia
os caninos são ausentes, forças laterais são
transmitidas para o dente posterior com o Os fatores etiológicos podem ser
desenvolvimento de possíveis abfrações divididos em intra e extrabucais
cervicais, (LEE & EAKLE 1984). (REHBERGER et al., 1982).
Como fatores intrabucais, qualquer
PARAFUNÇÕES prematuridade ou interferência oclusal
poderá ser responsável pelo início do
Bruxismo é todo contato de dentes bruxismo. Tais fatores se classificam em
antagônicos com pressão e/ou desliza- iatrogênicos primários e secundários.
mento fora dos movimentos fisiológicos Iatrogênicos - qualquer interferência
de mastigação e deglutição. ou prematuridade ocasionada por trata-
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mento incorreto, conservador, protético ou mantém o bruxismo. Ao contrário, não se


ortodôntico. desenvolve bruxismo em pessoa com
Iatrogênicos primários -prematuri- pequena tensão e ausência de interfe-
dades que alteraram a harmonia entre a rências oclusais.
relação cêntrica (RC) e a máxima intercus- O bruxismo pode se manifestar de
pidação (MI) ocasionando a posição de várias formas: em dentes, periodonto,
máxima intercuspidação habitual (MIH). músculos e articulações.
Essas prematuridades e interferên-
cias geram no indivíduo uma reação 9 Manifestações dentárias
inconsciente, que tenta eliminá-las para Atrição, erosão e abfração, já
encontrar o equilíbrio fisiológico. descritas.
Iatrogênicos secundários - qualquer Hipersensibilidade pulpar - o exces-
distúrbio oclusal não dentário própria- sivo esforço produz uma hiperemia pulpar
mente dito como: gengivites, estomatites, com reação dolorosa, especialmente ao
cálculos, periodontites, galvanismo e frio.
outros. Pulpites - devido aos resíduos cata-
Existem outros fatores intra-bucais bólicos pulpares e a reação dentinária de
além dos etiológicos que contribuem para proteção.
o desenvolvimento desse hábito, como por Fraturas - de coroas, raízes ou
exemplo defeitos anatômicos dos dentes, restaurações, (fig. 12).
superfícies ásperas, inclinação de dentes e
oclusão unilateral.
Os fatores extra-bucais se classifi-
cam em psicológicos, sistêmicos e uso de
drogas.
Psicológicos - geralmente ligados ao
estresse emocional, inibição, raiva, frustra-
ção, hostilidade, ansiedade, apreensão,
medo, privação de necessidades básicas,
obstáculos na realização pessoal, separa- Fig. 12 - Caso clínico de bruxismo com fratura
dentária
ção, viuvez, perda de emprego, aposenta-
doria e outros Perda de substância dentária -
Sistêmicos - alterações obstrutivas aumento da interface esmalte-cemento.
do trato digestivo, parasitas intestinais, Sons oclusais - sons de ranger
desequilíbrio enzimático na digestão cau- patognomônicos do bruxismo, audíveis em
sando estresse abdominal crônico, desor- 18% dos bruxomanos. Ocorrem em movi-
dens endócrinas (hipertiroidismo), altera- mentos excêntricos produzidos por fric-
ções nutricionais (hipocalcemia, hipovita- ção, noturnos e inconscientes. Devido a
minose), alterações sangüíneas e epilepsia. uma inflamação periodontal que acolchoa
Uso de drogas - anfetaminas, L - o dente, ocorre na percussão desses dentes
dopa, fenfluramina (derivado da anfeta- que apresentam-se facetados e com mobi-
mina), fenotiazina (em pacientes com lidade anormal, um Som “oco” é
discinesia tardia), álcool. auscultado.
No bruxismo cêntrico, bem como no 9 Manifestações periodontais
excêntrico, o que realmente ocorre é a Mobilidade - ocorre em dentes com
combinação de fatores intra e extra-bucais. o periodonto sadio, resultante da sobre-
Pequena interferência em pessoa com carga oclusal, pois aumenta a largura do
grande tensão ou grande interferência em espaço periodontal sem que haja inflama-
pessoa com pequena tensão inicia e/ou
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ção do ligamento periodontal. Apesar des-


sa mobilidade, histologicamente não
ocorre a formação de bolsa periodontal e
perda de inserção conjuntiva, mas tem
efeito significativo sobre o osso alveolar.
Isso demonstra que pacientes com estado
periodontal normal e bruxismo noturno
têm mobilidade dentária matinal que
diminui ao longo do dia. Pacientes com
bruxismo e cúspides altas têm maiores Fig. 13 - Caso clínico de bruxismo com exostose
problemas periodontais. na face vestibular superior.
Destruição Óssea - no bruxismo
9 Manifestações musculares
ocorre uma destruição traumática sem
Hipertonicidade muscular - ocorre
bolsa, pois, para que apareça lesão perio-
devido às contrações isométricas e à abo-
dontal, deve-se produzir duas lesões isola-
lição do reflexo flexor. Cria-se um espas-
das, uma sobre a gengiva marginal e outra
mo e, como conseqüência, os músculos se
sobre a inserção epitelial, e o bruxismo
contraem e impedem o controle dos movi-
não compromete a gengiva marginal, sen-
mentos das ATMs, produzindo resistência
do apenas um fator contribuinte à enfer-
à intenção do operador em guiar a
midade periodontal. O ligamento perio-
mandíbula para a posição de RC, bem
dontal absorve grande parte da força
como para as posições de lateralidade.
oclusal e pode convertê-la em tensão ou
Miosites - causadas pela manutenção
pressão na lâmina dura, resultando em
da contração isométrica das fibras muscu-
alterações sobre o osso alveolar. Quando o
lares. Os produtos tóxicos resultantes de
limite de sustentação fisiológico é exce-
seu metabolismo não podem ser elimina-
dido, pode ocorrer hemorragia, trombose e
dos com a rapidez necessária pela corrente
degeneração do cemento e ligamento
sangüínea, e assim se acumulam produ-
periodontal, que se manifesta como espes-
zindo zonas inflamatórias, dolorosas à
samento do espaço periodontal. A pressão
palpação.
estimula os osteoclastos enquanto a tensão
Mialgias - quando o acúmulo de
os osteoblastos. O resultado pode ser visto
produtos tóxicos se torna crônico, produz
como afinamento ou perda da lâmina dura
uma verdadeira agressão química às
ou como espessamento da mesma, coin-
estruturas tissulares causando dor esponta-
cidente com o ponto de condensação
nea sem pressão ou movimento.
óssea. Em outras ocasiões, podem-se
Hipertrofias - apresentam-se geral-
observar exostoses em diversas zonas dos
mente nos músculos masséteres bilaterais,
ossos maxilares e mandíbula, (fig. 13) .
e produz uma alteração da harmonia
Periodontia Transitória - apresenta-
facial.
se como dor matinal à percussão e à
Limitação funcional - ocorre como
mastigação e vai desaparecendo com o
conseqüência da dor muscular, ao abrir a
decorrer do dia.
boca o paciente percebe uma sensação
dolorosa evitando a abertura, o que produz
estiramento das fibras e compressão da
zona dolorosa. Deve-se verificar se esta
limitação funcional é de origem muscular
ou articular por impedimento mecânico.
Para o diagnóstico realiza-se uma abertura
forçada. Coloca-se o dedo polegar sobre o
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bordo incisal superior e o indicador sobre dor melhorar, esta se deve às ATMs. Isto
o bordo incisal inferior, mede-se a ocorre, pois o deslocamento do menisco
abertura com um calibrador e forçando, permite toque das superfícies ósseas, o que
tenta-se aumentar a abertura. Apresen- leva a dor; e a cunha o evita. Ao contrário,
tando dor, a causa é muscular, (figs. 14 e na articulação oposta se houver aumento
15). considerável da dor, deve-se ao trava-
mento das superfícies ósseas.
- Restrição de movimentos – dificul-
dade na mastigação e descoordenação na
abertura e fechamento dos maxilares. Se a
causa for articular, a trajetória de abertura
e fechamento será sempre a mesma, caso
contrário, será muscular.
- Ruídos articulares - estalidos por
hiperatividade muscular, descoordenação
Fig. 14 - Exercício de abertura forçada da muscular, deslocamento do disco articular
mandíbula. e alterações morfológicas das ATMs.
9 Bruxismo em criança
Embora o bruxismo tenha sido mais
estudado em pacientes adultos, é freqüen-
temente observado em dentes decíduos,
apresentando desgastes severos em suas
faces oclusais e incisais, demonstrando
que também em crianças esse hábito pode
ocorrer, (figs. 16 e 17). Os sintomas são
semelhantes em todas as idades. As
Fig. 15 - Exercício de abertura forçada da diferenças devem-se à maior capacidade
mandíbula. das crianças em tolerar alterações nas
estruturas do aparelho estomatognático e
9 Manifestações articulares: maior potencial de regeneração. Essas
O bruxismo crônico contribui em alterações iniciadas na infância, se não
50% para a patologia articular. diagnosticadas e tratadas devidamente,
Dor - freqüentemente unilateral e podem gerar profundas alterações no
relacionada com a dor muscular, só se aparelho estomatognático do paciente
apresenta à palpação ou à função. Não é quando adulto. Portanto, tais alterações
espontânea, a palpação deve ser bilateral, merecem atenção especial dos Cirurgiões-
primeiramente externa sem movimento e Dentistas para diagnóstico precoce, pos-
se houver dor com movimento. Isto não sibilitando tratamento adequado e criando
significa que seja as ATMs. Geralmente, é condições propícias para o desenvolvi-
periarticular (muscular), faz-se então a mento fisiológico do aparelho estômato-
palpação interna do conduto auditivo gnático.
externo, com e sem função. Se aparecer Tal como nos adultos, a etiologia do
dor, é mais provável que sejam as ATMs bruxismo é multifatorial, podendo ser
do que a zona periarticular. Para discernir oclusal, psicológica e sistêmica, acrescen-
se é dor nas ATMs ou não, realiza-se as tando-se ainda às oclusais as prematuri-
manobras de Kerg Pulser: coloca-se uma dades ocasionadas pela transição da denti-
cunha de madeira entre os dentes do arco ção decídua para a mista. Também é seme-
correspondente à articulação dolorida, se a lhante às dos adultos as manifestações e
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conseqüências do bruxismo. Porém, as existentes, fadiga muscular ao despertar,


atrições são mais severas nos dentes decí- descoordenação dos movimentos mandi-
duos devido a menor resistência destes. bulares, desgaste e até perfuração do disco
articular, remodelação condilar, achata-
mento das superfícies articulares, hipertro-
fia muscular, Sindrome parotídeamasse-
terina e envolvimento estético.
9 Diagnóstico
Aproximadamente 10% da população
adulta e 5% das crianças são conscientes
Fig. 16 - Bruxismo em criança de seu bruxismo noturno. Apenas 20% do
bruxismo pode ser identificado pelo
exame do padrão de desgaste dental.
Geralmente, o bruxismo noturno inicia
primariamente com o apertamento, ocorre
desgaste mínimo, porém, há relato de dor
articular ou muscular e fadiga e/ou rigidez
Fig. 17 - Bruxismo em criança muscular ao despertar. Se a causa do
bruxismo não está completamente clara,
Ocorre com maior freqüência em uma coisa parece certa, há mais de um
crianças com lesão cerebral, que apresen- fator responsável pelo bruxismo. É tam-
tam entre outros, sinais de imaturidade e bém evidente que não há um único trata-
retardo no desenvolvimento da próprio- mento capaz de eliminar ou mesmo redu-
cepção normal dos dentes e periodonto. zir completamente o bruxismo, porém, os
No diagnóstico de crianças que sinais e sintomas parecem desaparecer
apresentam bruxismo, é de extrema impor- completamente com a cuida-dosa elimina-
tância a presença dos pais durante a anam- ção de interferências oclusais.
nese, pois os mesmos podem relatar a
prática do ruído característico do ranger 9 Tratamento
dos dentes durante o sono. Existe a possi- O tratamento deve ser de forma
bilidade do fenômeno ser passageiro e multiprofissional e abranger vários aspec-
eventualmente desaparecer, o que torna tos, como a terapia odontológica direta
seu diagnóstico e terapêutica questiona- (ajuste oclusal, odontologia restauradora),
veis. e a indireta (placas oclusais, calor local,
Existem poucas evidências de danos fisioterapia, terapias médica, farmacoló-
permanentes, sendo menos freqüente após gica e psicológica e o auto recondicio-
os 12 anos. namento).
O ajuste oclusal pode ser realizado
9 Conseqüências sempre que estiverem presentes os sinais e
Facetas de desgaste lisas e bri- sintomas de oclusão traumática, discrepân-
lhantes, perda da guia canina e/ou da guia cia em RC e interferências oclusais nos
anterior, dor de cabeça por contração movimentos mandibulares excêntricos.
muscular (recorrente), dor articular, estali- Porém, sabe-se que muitas vezes o ajuste
do (alterações morfológicas da articula- oclusal, por si só, não é suficiente para
ção), dor miofacial, fraturas de dentes e eliminar o hábito, pois além dos fatores
restaurações, má oclusão, perda de osso oclusais, na grande maioria dos casos o
alveolar, abrasão dentária, dor, pulpite, fator psicológico está presente.
destruição de trabalhos odontológicos
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A terapia restauradora deve ser A terapia com calor local produzido


realizada, sempre que estiver presente por toalha úmida aquecida sobre a região
superfície coronária dentária parcial ou sintomática, mantida por 10 a 15 minutos,
totalmente destruída, e que sua reconsti- nunca ultrapassando 30 minutos aumenta a
tuição se fizer necessária para o restabe- circulação sangüínea na área aplicada,
lecimento da dimensão vertical de oclusão, aliviando a sintomatologia.
relação cêntrica de oclusão, estabilidade A terapia com fisioterapia e uso de
oclusal e guia anterior, (figs. 18,19 e 20). (T.E.N.S.)Transcutaneous Electrical Nerve
Stimulation, são recomendáveis nos casos
de dores faciais provocadas pelo bruxis-
mo, mostrando-se como meios efetivos de
controlar a dor e induzir ao relaxamento
muscular.
A terapia farmacológica, como a
utilização de relaxantes musculares, tem
efeito somente durante o uso da droga,
reiniciando o hábito quando da sua
Fig.18 - Caso clínico de bruxismo - vista frontal interrupção.
A terapia psicológica deve ser
exercida por profissional da área.
Eventualmente o bruxismo pode ser
erroneamente confundido com lesões de
perimólise.

Bibliografia consultada

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DISFUNÇÃO PERIODONTAL
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2007

Na presença de distúrbios oclusais, sempre é verdadeiro, pois a gengivite pode


os pacientes suscetíveis à desordem perio- permanecer sem necessariamente evoluir
dontal apresentam alterações do periodon- para um quadro de periodontite. Este acon-
to de sustentação que podem levar à mobi- tecimento é possível devido ao fato de que
lidade dentária ou à migração patológica diversos fatores, dentre os quais pode estar
dos dentes. o trauma oclusal, regularem ou contribuí-
As doenças periodontais inflamató- rem para a progressão da inflamação mar-
rias é um conjunto de doenças crônicas ginal, produzida pelas bactérias, na direção
que resultam na perda do suporte do dente, das estruturas periodontais mais profundas.
sendo a periodontite adulta a mais preva- A desordem do periodonto a qual-
lente. quer momento é determinada pela presença
Um programa efetivo de prevenção e de fatores de risco e pela resposta do
tratamento desta doença depende funda- hospedeiro.
mentalmente da identificação e do desen- O conceito de origem multifatorial
volvimento de métodos para eliminação ou para a doença periodontal inflamatória
controle dos fatores etiológicos, pode ajudar a explicar as diferenças com
envolvidos no início e na progressão da relação à susceptibilidade de cada pessoa
doença. para o desenvolvimento da doença. A
Em geral, doenças crônicas são causa da doença periodontal inflamatória
caracterizadas por ter curso de tempo pode ser, a qualquer momento, uma ação
longo, com períodos de exacerbações e conjunta de fatores etiológicos, atuando
remissões, por ter origem multifatorial simultaneamente.
envolvendo o estilo de vida e por ser de Tratando-se da desordem do perio-
natureza debilitante. A história natural de donto, os fatores etiológicos se dividem
uma doença pode ser definida a partir de em:
seu curso clínico, como ela ocorre na - Determinantes
população, sendo estudada a partir de - Precipitantes
investigações epidemiológicas longitudi- - Predisponentes: - Intrínsecos
nais. A historia natural da doença perio- - Extrínsecos.
dontal inflamatória é caracterizada inicial-
mente a partir de uma gengiva saudável, Fatores Determinantes
evoluindo para gengivite, periodontite e Fatores determinantes são fatores de
resultando na perda do dente. A alta preva- risco que devem estar presentes para que a
lência de doença periodontal inflamatória doença inicie ou progrida, embora seja
se relaciona com o nível de acúmulo da possível que a doença não ocorra na
placa bacteriana e a idade do paciente. presença de um fator determinante.
A gengivite e a periodontite, repre- A placa subgengival com microorga-
sentam dois diferentes estágios de um mês- nismos periodontopáticos é considerada
mo problema, (sendo a periodontite suces- um fator determinante, devendo estar
sora a gengivite). Entretanto o inverso nem
Disfunção Periodontal Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2007 122

presente na etiologia e progressão da ajustadas ou restauradas, elas estão sempre


doença periodontal inflamatória. presentes. Todavia, com o conhecimento
Os principais microorganismos atual, não é possível predizer quando estas
envolvidos podem ser de diferentes prematuridades irão produzir algum tipo
espécies periodontopáticas ou uma combi- de injúria aos tecidos de suporte dentário.
nação destas. E ainda, os microorganismos O grau de adaptação as prematuridades
envolvidos na patogênese podem ser os oclusais varia de acordo com a influência
mesmos ou diferir de um local para outro do sistema nervoso central. Indivíduos
em um mesmo paciente em diferentes com mínimo de tensão psíquica ou com
períodos. alta capacidade de adaptação podem passar
Dentes mal posicionados podem a vida toda sem apresentar nenhum efeito
resultar em maior dificuldade de higieni- patológico advindo destas prematuridades.
zação, mas este fato pode ser controlado O trauma de oclusão se refere a
pelo paciente quando bem orientado. injúria de origem oclusal nos tecidos de
suporte do dente, podendo ser desenca-
Fatores Precipitantes deado a partir de um excesso oclusal em
Fatores precipitantes são fatores de uma restauração, caracterizando contato
risco que apressam o início ou a prematuro. Dentro de certos limites, é
progressão da doença. possível a adaptação fisiológica, no entan-
Os contatos funcionais, que estão to, poderá ocorrer lesão no periodonto de
sobre controle dos mecanismos de prote- sustentação, o que torna fundamental na
ção proprioceptivos, são de mínima dura- reconstrução oclusal, a verificação da
ção e intensidade. Como conseqüência, a ausência de prematuridades dentro dos
mastigação, a deglutição e a fala não limites dos movimentos mandibulares. A
podem ser consideradas fatores precipitan- não observância deste aspecto perpetua a
tes de patologias oclusais. iatrogenia.
Um contato oclusal que supera o O trauma oclusal pode comprometer
limiar de tolerância fisiológica do perio- cemento, membrana periodontal e osso
donto onde sinais e sintomas alveolar, e apresentar como sinais clínicos:
comprometem os tecidos de suporte mobilidade dentária (superior a
periodontal é denominado trauma fisiológica), mudança do som à percussão
periodontal, traumatismo periodontal ou dos dentes, padrões atípicos de desgaste
trauma oclusal. dentário, migração patológica dos dentes,
Historicamente, trauma de oclusão e formação de abscessos periodontais
hábitos parafuncionais têm sido conside- provenientes de sobremordida, ulceração
rados fatores importantes na etiologia das gengival, hipertonicidade dos músculos da
doenças periodontais, pois podem alterar o mastigação e alterações na ATM.
curso de evolução da doença periodontal, A mobilidade dentária, superior a
contribuindo para o agravamento dos efei- fisiológica é o sinal clínico mais comum de
tos produzidos pelos microorganismos, o trauma no periodonto. Mudanças ocorrem
que torna a terapia oclusal ponto básico do dentro da membrana periodontal e osso
tratamento periodontal. alveolar em resposta às forças oclusais
As maloclusões e dentes mal excessivas, consistindo em reabsorção do
posicionados são significantes do ponto de osso alveolar, espessamento do espaço da
vista anatômico. membrana periodontal e substituição da
As prematuridades oclusais represen- fibra de colágeno densa normal da mem-
tam a mais freqüente anormalidade brana periodontal por tecido de
oclusal, e desde que não tenham sido granulação. Embora o aumento da
mobilidade dentária seja um sinal clínico
Disfunção Periodontal Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2007 123

do trauma oclusal, este pode nem sempre aspecto oclusal.


estar presente nos dentes com mobilidade. Dentes com inclinações severas em
Mobilidade dentária crescente é sinal claro direção a vestibular e associados a taboa
para o diagnóstico de trauma oclusal, óssea vestibular muito fina ou inexistente,
sendo frêmito o primeiro sinal de podem gerar deiscências. Geralmente
hiperfunção oclusal. molares inclinados para mesial poderão
O trauma oclusal pode comprometer gerar bolsas periodontais mais profundas
mais de uma área ou um único dente. nesta região específica.
A série completa de radiografias Hábitos parafuncionais como aperta-
periapicais dos dentes fornece meios para mento dentário, bruxismo e deglutição
análise dos tecidos duros do periodonto. atípica atuam também como traumas de
Os sinais radiográficos do trauma oclusão. Outros hábitos como morder
oclusal mais significantes são descontinui- lápis, caneta, grampos de cabelo e agulhas
dade da lâmina dura nas laterais do dente de costura e a interposição lingual, sobre-
ou ao redor do ápice dental e espessamento carregam dentes isolados podendo gerar
do espaço da membrana periodontal, excessiva ou prolongada carga sobre os
podendo também envolver dentes envolvidos, produzindo alterações
hipercementose, densidade aumentada do isoladas.
osso alveolar, calcificação pulpar e fratura A resposta dos tecidos a estes
dental. hábitos é importante, pois nem todos os
indivíduos com algum hábito
A B
parafuncional irão desenvolver sinais e
sintomas patológicos. Quando sintomas
aparecem, uma disfunção oclusal se
desenvolveu, o que significa presença de
um sinal, a injúria.
Nestes casos, embora a etiologia
Fig. 01 - Desenho esquemático: A - esteja relacionada com a oclusão, a terapia
reabsorção do osso alveolar; B - espessamento do oclusal por si só não terá efeito terapêu-
espaço da membrana periodontal.
tico. È necessário eliminar o hábito.
Estabelecido o diagnóstico de trauma Toda força oclusal anormal, fator
oclusal, o exame das características da precipitante, deve ser considerada de suma
oclusão do paciente pode ajudar a definir o importância quando associada à presença
tratamento apropriado. Contatos oclusais de inflamação.
que causam discrepâncias em relação cên- Os fatores etiológicos precipitantes
trica e interferências oclusais nos que podem ser alterados durante um
movimentos excêntricos da mandíbula tratamento são: placa supragengival, placa
estão associados com trauma oclusal. subgengival, cálculo, fatores de retenção
Contatos oclusais que resultam em frêmito de placa, fumo, e trauma de oclusão.
podem freqüente-mente ser determinados, Fatores Predisponentes
pedindo ao paciente que aperte ou deslize
os dentes. Fatores de risco relacionados à
A anatomia da área, o modelo de probabilidade do indivíduo a desenvolver a
distribuição de vasos e a presença de doença, que ocorram em pelo menos um,
impacção alimentar podem também contri- mas não necessariamente em todos os
buir para a produção de defeitos ósseos. casos, e são suficientemente capazes de
Quanto maior a perda de suporte resultar na atividade da doença são consi-
periodontal mais importante se torna o derados fatores predisponentes.
Disfunção Periodontal Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2007 124

Os fatores predisponentes podem ser periodontal inflamatória incluem a idade


divididos em intrínsecos e extrínsecos. avançada, hereditariedade, anatomia desfa-
São considerados fatores predispo- vorável, tabagismo, estresse psicológico e
nentes intrínsecos: algumas desordens sistêmicas, como
- Características morfológicas das diabete mellitus insulino dependente,
raízes (tamanho, forma e número são de neutropenia e AIDS. O conhecimento atual
suma importância, porque dentes com oferece pouca ajuda na avaliação do risco
raízes curtas, cônicas, finas ou fusionadas quando estão presentes tais fatores.
estão mais predispostos ao trauma oclusal Segundo Kinane, Lindhe, (2005) a
quando submetidos a uma força excessiva Academia Americana de periodontia,
prolongada). organizou em 1999 um simpósio
- Orientação das forças oclusais internacional com o objetivo de
(forças oclusais podem ser funcionais ou estabelecer um consenso sobre as
parafuncionais, porém quando orientadas condições e as doenças periodontais. As
axialmente são mais toleradas do que as contribuições mais importantes estão na
orientadas não axialmente. Em dentes mal terminologia de varias doenças que
posicionados, o efeito da força excessiva favorecem uma melhor compreensão de
poderá ser prejudicial). suas apresentações e diferenças e, também,
- Característica morfológica do a concordância de que a periodontia do
processo alveolar (se a qualidade e a adulto e a de acometimento precoce podem
quantidade de osso alveolar não forem ocorrer em qualquer idade.
adequadas os efeitos das forças Este simpósio recomendou que a
parafuncio-nais prolongadas podem denominação “periodontite do adulto”,
resultar em uma perda rápida da uma vez que esta forma de doença
sustentação alveolar). periodontal pode ocorrer em idades
São considerados fatores predispo- distintas, tanto na dentição decídua quanto
nentes extrínsecos: na permanente, seja substituída pela
- Irritantes (a placa bacteriana é con- denominação “periodontite crônica” que é
siderada o mais sério, outros que podem menos restritiva do que a denominação
causa efeitos semelhantes são: impacção relacionada à idade. Classificado-a em
alimentar, restaurações com excessos, co- localizada ou generalizada, conforme
roas com contorno insatisfatório e grampos menos ou mais de 30% dos sítios da boca
de próteses parciais mal adaptados). forem comprometidos.
- Neuroses (resultando em atividades Recomendou ainda que as denomi-
parafuncionais, como apertamento dentário nações “periodontite de acometimento
e bruxismo, que são os mais prevalentes e precoce, periodontite juvenil e periodontite
mais sérios dos fatores causadores de pré-pubertal”, que ocorrem em várias
tensões oclusais anormais). idades e persistir em adultos mais idosos,
- Perda do osso de suporte (causada sejam substituídas pela denominação
pelos principais fatores etiológicos como “periodontite agressiva”, localizada ou
periodontite, recessão óssea, trauma generalizada.
inadvertido e enfermidades sistêmicas). Estabeleceu também, que certas
- Perda de dentes (resultando em condições sistêmicas, como diabetes e
sobrecarga nos dentes remanescentes, por outras, podem modificar a periodontite
exemplo, colapso posterior da mordida). crônica ou agressiva, podendo causar
- Má oclusão funcional (criada destruição no periodonto, que podem ou
iatrogenicamente). não ser periodontite do ponto de vista
Outros fatores que têm sido citados histopatológico, como por exemplo,
como fatores predisponentes para doença neutropenias ou leucemias.
Disfunção Periodontal Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2007 125

Convencionou também, que tanto a A terapia oclusal será realizada em


“gengivite ulcerativa necrosante (GUN) e pacientes com trauma oclusal primário
a periodontite ulcerativa necrosante para redução da mobilidade e para alcançar
(PUN)”, que provavelmente representam uma melhor distribuição das forças sobre
estágios diferentes da mesma infecção, os dentes. Como dito anteriormente, forças
sejam referidas conjuntamente como direcionadas axialmente são melhores tole-
“doenças periodontais necrosantes”. As radas, pois não têm a tendência de forçar
duas condições estão associadas a uma os dentes com mobilidade dentro de suas
diminuição da resistência sistêmica à bolsas, como as forças laterais o fazem.
infecção bacteriana dos tecidos Os dentes que mostram evidência de
periodontais. A diferença fundamental trauma momentâneo, no qual a
entre as duas condições é faz se esta estabilidade oclusal não foi atingida,
limitada à gengiva ou se estendi também devem passar pela terapia oclusal. Sinais
aos tecidos de sustentação. clínicos e radiográficos de trauma
periodontal podem estar associados com
Terapia oclusal na periodontia esta situação, o que faz com que a
Um fato ainda controverso é a mobilidade permaneça a mesma ou torne-
definição sobre a indicação de terapia se pior.
oclusal como parte do tratamento Situação diferente é vista quando a
periodontal. estabilidade oclusal é alcançada. Os dentes
Alguns estudos, onde forças oclusais podem mostrar mobilidade que por si só é
excessivas foram adicionadas a dentes autolimitante ou mesmo muito reduzida.
previamente acometidos por doença perio- Radiograficamente, tais dentes podem
dontal marginal, têm mostrado que a única mostrar um espaço do ligamento
terapia necessária é o tratamento da bolsa periodontal aumentado em associação com
periodontal e um rigoroso controle da lâmina dura bem radiopaca. A mobilidade
inflamação marginal através de métodos destes dentes, especialmente dentes
corretivos de rotina. Porém, achados em anteriores inferiores, não deve aumentar
um estudo longitudinal em Michigan, no com o tempo, o que é um bom exemplo de
qual a resposta a diferentes modalidades adaptação funcional.
cirúrgicas no tratamento periodontal estava Quando a maloclusão interfere com
sendo avaliada, indicaram que o ganho o estabelecimento de um relacionamento
inicial do nível de inserção após terapia intermaxilar estável, a terapia oclusal é
periodontal é inversamente proporcional necessária. Isto é especialmente verdade
ao grau de mobilidade que o dente quando a maloclusão é resultado de
apresenta antes do tratamento. Quanto alguma disfunção como migração dentária,
menor a mobilidade, mais favorável é o diastemas, impacção alimentar e dentes
nível de inserção pós-terapêutico. ausentes que precisam ser repostos.
Baseado nesses achados, em outros A terapia oclusal somente pode ser
estudos experimentais e em experiências iniciada quando as evidências indicarem
clínicas parece razoável atestar o papel da que o aparelho estomatognático não está
terapia oclusal, no tratamento de certos mais se adaptando ao padrão oclusal do
pacientes que sofrem de doença perio- paciente. Em outras palavras, uma altera-
dontal. ção funcional, em qualquer de suas mani-
A terapia oclusal na periodontia festações clínicas, deve ser bem diagnosti-
começa por um criterioso exame e se cada. A terapia oclusal profilática não deve
justifica pelo diagnóstico de algum tipo de ser praticada, pois ela poderá ser mais
patologia relacionada à oclusão. prejudicial do que favorável.
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Condutas terapêuticas serão distribuídas em um maior número de


Existem diversas condutas terapêu- dentes e o dente comprometido suportará
ticas, para as disfunções do aparelho esto- uma força oclusal mínima.
matognático, incluindo: ajuste oclusal, pla- - Nos pacientes com marcante hiper-
ca oclusal, ortodôntica, ortopédica, cirúr- mobilidade dentária, a partir de uma
gica ortognática, fisioterápica e restaura- doença periodontal inflamatória com ou
dora. sem extensiva perda óssea alveolar, a placa
Dependendo da situação, uma ou oclusal pode ajudar a estabilizar os dentes
mais terapias podem ser aplicadas para se facilitando o tratamento oclusal.
obter uma oclusão fisiológica. Freqüente-mente estes pacientes acham
- O ajuste oclusal é o tratamento que o uso da placa oclusal ajustada
básico recomendado à maioria dos pacien- proporciona maior conforto durante o
tes com trauma oclusal. Porém, para aque- sono.
les em que outras terapias, para restabe- A placa oclusal cobre somente um
lecer uma oclusão fisiológica, como orto- arco dental, usualmente a maxila, e promo-
dontia ou odontologia restauradora, prece- ve uma superfície oclusal bem ajustada
derem o ajuste oclusal, este deve ser com a qual todos os dentes antagonistas
utilizado para o refinamento dos resultados devem manter contato. Isto faz com que se
obtidos. Como analogia o ajuste oclusal obtenha a estabilidade oclusal em cêntrica,
está para o restabelecimento da assim como uma distribuição axial das
estabilidade oclusal, assim como a forças oclusais.
raspagem e o alisa-mento radicular estão O uso da placa pode preceder o
para o trata-mento periodontal. ajuste oclusal se ambos forem incluídos no
Regras para o ajuste oclusal da denti- plano de tratamento, uma vez que o uso da
ção natural foram estabelecidas, com o mesma promove o relaxamento dos
objetivo de eliminar as discrepâncias em músculos facilitando o ajuste oclusal.
relação cêntrica e as interferências oclusais Quando o paciente está sendo sub-
nos movimentos excêntricos da mandíbula, metido a uma terapia oclusal e demonstra
resultando no restabelecimento e manuten- sinais de bruxismo, mas não desenvolveu
ção da estabilidade oclusal e na liberdade trauma de oclusão devido à adaptação ou
nos movimentos mandibulares. hiperfunção, uma placa oclusal plana pode
Dependendo do modelo de oclusão ser a única terapia indicada. Nesses casos,
do indivíduo nenhum dente deve ser além de promover estabilidade e completa
sobrecarregado durante a excursão mandi- liberdade de movimento a placa também
bular, seja em paciente com oclusão oferece proteção contra o desgaste denta-
protegida por função em grupo ou por guia rio excessivo. Este tipo de placa pode ser
canina. Durante a lateralidade se um único usado indefinidamente durante os
dente ou mais dentes no lado de trabalho episódios em que o paciente é acometido
mostrarem sinais de frêmito à palpação, pelo bruxismo, especialmente à noite
estes dentes estarão certamente recebendo quando estas forças têm grande tendência
força excessiva. O padrão oclusal do de aparecer.
indivíduo deve ser respeitado, mas se o - A terapia ortodôntica está se
paciente com oclusão protegida pelo tornando parte integral do tratamento de
canino mostrar severo grau de perda óssea pacientes que se submetem ao tratamento
periodontal neste dente, o prognóstico periodontal. Movimentações dentárias
deste elemento e da dentição como um menores por meio de aparelhos fixos ou
todo, será melhor estabelecido se sua removíveis podem ser aplicadas em
oclusão for ajustada em função em grupo. adultos para que se alcancem relaciona-
Através deste ajuste, as forças oclusais mentos oclusais que promovam estabili-
Disfunção Periodontal Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2007 127

dade e função, assim como estética. Dentes te que está recebendo terapia periodontal,
migrados, dentes anteriores protruídos com (por exemplo, quando um dente precisa ser
grandes diastemas, sobremordida reposto ou esplintado para se obter
acentuada, molares inclinados, assim como estabilização). Os procedimentos restaura-
diferentes posicionamentos dentais são dores não devem apenas promover a saúde
condições propícias ao tratamento ortodôn- periodontal, mas também assegurar a
tico. Além disso, alguns relatos tem manutenção da estabilidade oclusal. O
indicado mudança no nível de inserção padrão oclusal da restauração deve ser
(por exemplo, um aumento no nível de harmônico em relação à dentição do
inserção mesial tem sido mostrado quando paciente.
molares inclinados são verticalizados), Apesar de raramente utilizado nos
devido ao fato de que a inserção dental dias atuais o splint temporário é
move-se com o dente. empregado na tentativa de redução da
Entretanto as possíveis complicações mobilidade inicial e ganho mais favorável
que podem aparecer quando o dente de inserção, nestes casos o uso de técnicas
periodontalmente comprometido é movi- adesivas é o tratamento de escolha.
mentado ortodonticamente devem ser cui- Dentes isolados, principalmente mo-
dadosamente analisadas. Os dentes nunca lares, que mostrem sinais de atividade de
devem ser movimentados: além do osso trauma e constante inclinação, requerem
basal (sendo este ponto fundamental na procedimento restaurador que não deve
terapia ortodôntica para um favorável somente repor o dente ausente, mas
relacionamento entre dente e osso) e contra promover também estabilidade oclusal.
as forças geradas pela oclusão, pois uma A maioria das hemisecções radícula-
constante instabilidade e uma recidiva res requer a splintagem. Embora o suporte
podem aparecer. ósseo da raiz remanescente possa ser fraco,
As forças oclusais aplicadas devem a conexão rígida é preferível a conexão
ser fracas o bastante para movimentar o semi-rígida de maneira a oferecer retenção
dente vagarosamente, resultando em e estabilidade às raízes mantidas em todas
proce-ssos fisiológicos de reabsorção óssea as direções (mesiodistal, bucolingual e
e reparo ósseo, minimizando ainda o risco axial).
de reabsorção radicular. A splintagem por si só não reduz a
O ajuste oclusal deve ser sempre mobilidade dos dentes envolvidos, mas
executado após o final do tratamento orto- ajuda a alcançar e manter o relacionamento
dôntico, de modo a obter melhor estabi- oclusal estável. Portanto, é muito aconse-
lidade oclusal e manutenção dos resultados lhável que se ofereça uma placa oclusal a
alcançados. pacientes que possuam perda de suporte
O uso de placas oclusais pode ser periodontal avançado e que se submeteram
realidade durante o tratamento ortodôntico a tratamento restaurador extenso, de modo
para eliminação de contatos oclusais que a controlar o efeito da possível atividade
possam estar interferindo na de bruxismo nas restaurações.
movimentação do dente, (por exemplo, A impacção alimentar vertical repre-
durante o verticalização de molares senta uma perturbação ao paciente e uma
inclinados ou correção de mordidas séria ameaça ao tecido periodontal na área
cruzadas). Tais placas também podem ser interproximal. Se a causa do problema for
usadas para que se promova contenção um contato proximal aberto, uma restau-
temporária ou permanente após o ração para estabelecer o correto contato é
tratamento ortodôntico. necessária. Em algumas circunstâncias,
- A Odontologia Restauradora é que usualmente envolve molares
ponto chave no tratamento geral do pacien- superiores, a contenção dos dentes
Disfunção Periodontal Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2007 128

envolvidos pode ser necessária para evitar das forças oclusais, seguido de tratamento
possíveis recidivas. ortodôntico, ortopédico ou cirúrgico como
A impacção alimentar vertical tam- meio permanente para eliminar a injúria
bém pode ocorrer entre dentes que têm tecidual.
contato adequado, por exemplo, se o dente
possuir cristas marginais desniveladas ou Qual é o momento exato para a
cúspides impactantes, o ajuste oclusal execução da terapia oclusal durante o
ajuda a eliminar esses problemas. tratamento periodontal?
A gengiva pode ser severamente Dentro da preparação inicial ou fase
traumatizada na presença de uma mordida higiênica do tratamento, existem somente
profunda. Isso é particularmente verdadei- dois passos relacionados à oclusão que
ro, se a gengiva marginal livre estiver devem ser postos em prática:
envolvida e o alimento for direcionado ao 1. Um ajuste oclusal deve ser
sulco gengival durante a mastigação. O realizado quando interferências oclusais
primeiro procedimento para eliminar essa significantes são a causa principal de uma
agressão é o uso de placa oclusal. situação clínica particular. Nesse caso o
Posteriormente os dentes que causam ajuste oclusal irá lidar somente com o(s)
injúria ao tecido gengival podem ser dente(s) envolvido(s), e nenhum esforço
ajustados quanto ao seu comprimento, será feito, neste momento, no sentido de se
eliminando o trauma e mantidos em posi- refinar o ajuste para que se consiga
ção por uma contenção. Esse procedimento estabilidade oclusal. O único objetivo é
terapêutico pode ser muito benéfico duran- eliminar contato(s) excessivo(s) no(s)
te a terapia periodontal inicial, dente(s) traumatizado(s).
promovendo adequada resposta tecidual e 2. Splintes temporários ou próteses
podendo ser seguido de tratamento provisórias para estabilização de dentes
ortodôntico ou restaurador como meio podem ser utilizados no caso de dentes que
permanente para eliminar a injúria necessitam estabilização momentânea. As
tecidual. restaurações permanentes serão efetivadas
Em pacientes com severa mordida posteriormente durante o tratamento.
aberta anterior e língua mal posicionada É aconselhável postergar qualquer
durante a deglutição, os contatos oclusais tratamento referente à oclusão até que a
ocorrem somente nos segundos molares. preparação radicular tenha se completado e
Nessas situações, os dentes ocluídos estão o paciente tenha recebido instruções sobre
freqüentemente em elevado risco de colap- higiene oral. Quando os processos
so periodontal. Se os segundos molares são inflamatórios tiverem sido controlados os
perdidos, o suporte total da oclusão passa a dentes modificaram sua posição dentro dos
ser os primeiros molares que entram em alvéolos e bolsas, estando mais estáveis e
risco. Com o tempo a perda dentária, pode menos moveis, logo relacionamentos
continuar em direção anterior da boca, oclusais estáveis serão mais fáceis de se
progredindo dente a dente. Novamente a obter.
placa oclusal pode ser usada como parte da Assim, depois de controlados os
terapia periodontal, promovendo o contato processos inflamatórios a terapia oclusal é
equilibrado dos dentes anteriores. Para isso executada, se indicada, como parte
a placa deve ter uma considerável corretiva do tratamento, e placas oclusais
espessura na região anterior, mas em geral, se necessário, são instaladas antes dos
os pacientes toleram bem o dispositivo. procedimentos cirúrgicos periodontais.
O ajuste oclusal pode, em alguns O mesmo é válido para o tratamento
casos ser feito na tentativa de aumentar o ortodôntico. É possível a movimentação de
número de dentes envolvidos no suporte
Disfunção Periodontal Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2007 129

dentes ortodonticamente após a inflamação Se o prognóstico de um determinado


ter sido controlada, sem nenhuma compli- dente a ser incluído no tratamento restaura-
cação. Entretanto, se placa e cálculo são dor é incerto, uma prótese temporária pode
deixadas em bolsas profundas, e como ser mantida até que a decisão precisa sobre
conseqüência a inflamação não esteja esta situação seja tomada. Após a recons-
controlada, abscessos periodontais podem trução, o paciente pode necessitar de placa
se desenvolver quando realizado o movi- oclusal para proteger as novas restaurações
mento ortodôntico. Mais uma vez, a prepa- dos efeitos de possível atividade de
ração radicular previamente a tais procedi- bruxismo.
mentos é de importância fundamental. A terapia oclusal deve ser mantida
Existem algumas vantagens em se durante a fase de controle periodontal do
realizar o tratamento ortodôntico paciente. A oclusão deve ser checada
previamente a cirurgias periodontais, pois periodicamente especialmente naqueles
quando um dente é movido o tecido que receberam alguma terapia oclusal
conjuntivo da inserção periodontal irá se durante o tratamento periodontal. A
mover juntamente com o dente e o nível de estabilidade oclusal e os relacionamentos
inserção pode ser ampliado. Porém, se o oclusais devem ser verificados, e sinais e
tratamento ortodôntico é realizado após a sintomas de trauma de oclusão devem ser
terapia cirúrgica periodontal uma segunda imediatamente conferidos, assim, qualquer
cirurgia pode ser necessária, como por ajuste necessário pode ser feito durante
exemplo, se um dente é extruído as papilas esta fase de manutenção do paciente.
hiperplásicas podem se desenvolver,
necessitando de uma nova cirurgia. Bibliografia consultada
É comumente recomendado hoje que
uma fibrotomia gengival seja efetuada 1- CAFFESSE, R.G. Management of
após uma rotação dental ter sido periodontal disease in patients with
completada. Este procedimento cirúrgico occlusal abnormalities. Dental Clinics of
de desloca-mento do tecido conjuntivo North America, v. 24, n. 2, April, p. 215-
supra ósseo vai possibilitar sua reinserção 230, 1980.
ao cemento dentário evitando o retorno do 2- BURGETT, F.G. Trauma from
dente a sua má posição anterior. Um ajuste occlusion periodontal concerns. Dental
oclusal deve então seguir-se após o fim do Clinics of North America, v. 39, n. 2,
tratamento ortodôntico para que se April, p. 301-311, 1995.
assegure a estabilização oclusal. 3- LINDHE, J., KARRING, T., LANG,
O único procedimento oclusal que N. P. Tratado de periodontia clínica e
deve ser realizado após a terapia cirúrgica implantologia oral. Rio de Janeiro:
periodontal é a odontologia restauradora. Guanabara Koogan, 2005. 1013p.
Qualquer restauração permanente deve ser 4- SCHLUGER, S., YUODELIS, R. R.,
instalada ou confeccionada 45 a 60 dias PAGE, R. C., Periodontia: fenômenos
após a cirurgia periodontal ter sido básicos, tratamento e inter-relação oclusais
completada, permitindo tempo para que os e restauradores. Rio de Janeiro:
tecidos marginais se estabilizem e um Interamericana, 701, 1981.
selamento fisiológico possa ser
restabelecido.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
PRONTUÁRIO ODONTOLÓGICO PARA AVALIAÇÃO DE PACIENTES COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR
E DOR OROFACIAL

N°: _________________
NOME:____________________________________________________________ Sexo: ( ) Masc ( ) Fem
Naturalidade: ________________________________ UF: _______ Nacionalidade: __________________
Endereço: ____________________________________________________________________________________
Cidade:_________________________UF:______CEP: ____________ Tel. Residencial: __________________
Possui parentes na mesma cidade em que reside? ( ) Sim ( ) Não
Se afirmativo, qual o grau de parentesco? ________________________________________________________
Data de nascimento: ______/______/_______ Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado
Há quanto tempo? ____________________________________
Saúde geral do cônjuge: ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim
Qual a ocupação do cônjuge? ____________________________________________
Possui filho(s)? ( ) Sim ( ) Não
Quantos? __________________________________ Idade do(S) filho(S)? _________________________________
Saúde geral do(s) filho(s): ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim
( ) Divorciado; há quanto tempo? _______ ( ) Separado; há quanto tempo? _________________
( ) Viúvo; há quanto tempo? _____________ ( ) Outros; qual situação? ______________________
Qual a sua ocupação? ____________________________________________________
Estado de emprego atual: ( ) Empregado tempo integral; há quanto tempo? __________
Exerce a profissão para qual se preparou? ( ) Empregado parte de tempo; há quanto tempo? _________
( ) sim, ( ) não. Porque?___________________ ( ) Aposentado; há quanto tempo? ______________________
Está profissionalmente satisfeito? ( ) Incapacitado; Por quê? ____________________________
( ) sim, ( ) não. Porque?___________________ ( ) Desempregado; há quanto tempo? ___________________
Está financeiramente satisfeito? ( ) Possui outras rendas ? Quais? _______________________
( ) sim, ( ) não. Porque?___________________ Vive de aluguel? ( ) Sim ( ) Não
Qual a renda familiar? ___________________ Possui casa própria? ( ) Sim ( ) Não
Nome da firma e endereço: _________________________________________________________________________
Telefone do emprego atual: ____________________ Trabalha quantas horas por dia? ________________________
Quanto tempo tem para almoçar? _______________ Almoça no local do trabalho? ( ) Sim ( ) Não
Trabalha no turno da noite? ( ) Sim ( ) Não
Se afirmativo, com qual freqüência? _____________ Reside na cidade em que trabalha? ( ) Sim ( ) Não
Qual a distância? ____________________________ Qual o meio de locomoção? ____________________________
Utiliza-o com que freqüência? __________________________
Se trabalhar longe do local onde reside, quanto tempo passa longe da família? _________________________________
Sofreu alguma intervenção cirúrgica ultimamente? ( ) Não ( ) Sim Por quê? ___________________
Sofreu internação hospitalar ultimamente? ( ) Não ( ) Sim Por quê? ___________________
Está para se submeter a alguma cirurgia? ( ) Não ( ) Sim Por quê? ___________________
Passou por algum problema emocional? ( ) Não ( ) Sim Qual tipo? __________________
Tem se sentido deprimido(a) ultimamente? ( ) Não ( ) Sim Sabe o motivo? ______________
Tem tido problemas com o marido (esposa)? ( ) Não ( ) Sim Qual o motivo? ______________
Tem tido problemas com o(s) filho(s)? ( ) Não ( ) Sim Qual o motivo? ______________
Tem alguma ação legal pendente? ( ) Não ( ) Sim Qual o motivo? ______________
Tem passado por situação estressante no trabalho? ( ) Não ( ) Sim
Tem passado por situação estressante em casa? ( ) Não ( ) Sim
Tem tido desinteresse em participar de atividades sociais? ( ) Não ( ) Sim
Tem pouco interesse em fazer as coisas? ( ) Não ( ) Sim
Sente-se sozinho mesmo junto à pessoas? ( ) Não ( ) Sim
Sente-se sem esperança? ( ) Não ( ) Sim
Tem sentido o apetite diminuído? ( ) Não ( ) Sim
Tem sentido perda de interesse sexual ou do prazer? ( ) Não ( ) Sim
Sente-se com pouca energia? ( ) Não ( ) Sim
Sente-se facilmente atormentado ou irritado? ( ) Não ( ) Sim
Considera-se perfeccionista? ( ) Não ( ) Sim
Consulta ou já consultou um psiquiatra, psicólogo ou assistente social? ( ) Não ( ) Sim
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 2

ESCALA VISUAL DE ESTRESSE

MARQUE O VALOR MAIS ADEQUADO DE 0 A 10 DO SEU NÍVEL DE ESTRESSE DIÁRIO:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sem Estresse
estresse insuportável

HÁBITOS DO SONO

Dorme bem à noite? ( ) Sim ( ) Não


Tem problemas para dormir? ( ) Sim ( ) Não
Toma medicação ou álcool para dormir? ( ) Sim ( ) Não
Levanta muito durante a noite? ( ) Sim ( ) Não
Ronca quando dorme? ( ) Sim ( ) Não
Sente falta de ar quando dorme? ( ) Sim ( ) Não
Respira pela boca quando dorme? ( ) Sim ( ) Não
Aperta e/ou range os dentes à noite? ( ) Sim ( ) Não
Tem dores de cabeça ao levantar? ( ) Sim ( ) Não
Sente-se exausto ao levantar? ( ) Sim ( ) Não
Levanta muito cedo? ( ) Sim ( ) Não
Pela manhã, sente os músculos endurecidos? ( ) Sim ( ) Não
Sente-se descansado ao levantar? ( ) Sim ( ) Não
Acorda com algum desconforto / cansaço facial / articular na face? ( ) Sim ( ) Não
Lê ou assiste tv na cama? ( ) Sim ( ) Não
Dorme sentado? ( ) Sim ( ) Não
Qual sua posição para dormir? ( ) De lado ( ) De costas ( ) De lado alternadamente ( ) Ventral
Qual a posição da cabeça ( ) nº de travesseiros ( ) braço ou mão sob o travesseiro

MARQUE, NA ESCALA ABAIXO, O NÍVEL DE SUA PERTURBAÇÃO DURANTE O SONO:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Não Perturbação
perturba insuportável

QUEIXA PRINCIPAL

Qual motivo da sua consulta? ________________________________________________________________________


________________________________________________________________________________________________
Qual o problema que mais te abala emocionalmente? Marcar em ordem decrescente de importância.
(ex. (1) Financeiro (2) Saúde, ...)
( ) Saúde ( ) com amigos
( ) Financeiro ( ) Relacionamento: ( ) com filhos
( ) Conjugal ( ) no emprego
( ) Emocional ( ) com parceiro(a)

Com relação ao seu problema de saúde, o que mais te incomoda? Em ordem de importância
1. ___________________________________________________________________________________________
2. ___________________________________________________________________________________________
3. ___________________________________________________________________________________________
4. ___________________________________________________________________________________________
Com relação ao seu problema de saúde, responda as seguintes questões:
1. Quando você notou, pela primeira vez, os sintomas? ___________________________________________________
2. O que pode ter provocado o início dos sintomas? ( ) Acidente automobilístico ( ) Após doença, qual?
( ) Acidente doméstico ( ) Acidente de trabalho
( ) Após tratamento médico / odontológico
( ) Situação de tensão ( ) Lesão de tendão
( ) A dor “acabou de começar” ( ) Após cirurgia
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 3

( ) Outros _________________________________________
3. Há quanto tempo surgiu estes sintomas? ________ dias _________ semanas
________ meses _________ anos
4. Desta data até hoje, estes sintomas: ( ) Aumentaram ( ) Diminuiram
( ) Não alteraram ( ) Outros _____________

5. Quais os profissionais que você procurou para tratamento, desde quando começou seu problema? (marcar na tabela
abaixo em ordem de procura)
PROFISSIONAL Ano? Resultado:
Maior alívio Algum alívio Sem mudança Sentiu-se pior
( ) Acupunturista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Alergista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Dentista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Otorrinolaringologista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Endocrinologista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Clínico geral ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Ginecologista/ob ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Neurologista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Neurocirurgião ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Nutricionista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Oftalmologista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Cirurgião oral ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Ortodontista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Ortopedista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Osteopatologista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Fisioterapêuta ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Fonoaudiólogo ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Psiquiatra ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Psicólogo ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Cirurgião geral ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Oncologista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
( ) Outros _______________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

O que piora os sintomas?


1.__________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
2.__________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
3.__________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________

O que diminui os sintomas?


1.__________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
2.__________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________
3.__________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________

Com que freqüência seus sintomas ocorrem?


( ) menos que uma vez por ( ) uma vez por dia ( ) várias vezes por dia ( ) uma vez por semana
dia
( ) várias vezes por semana ( ) menos que uma vez por ( ) uma vez por mês ( ) várias vezes por mês
mês
( ) continuamente
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 4

Quando seus sintomas ocorrem, quanto tempo eles duram?


( ) por segundos ( ) por minutos ( ) por horas ( ) por dias
( ) por semanas ( ) continuamente ( ) variável ____________________________________

Quando seus sintomas são piores? É em alguma circunstância especifica? Qual?____________________________


( ) quando acorda pela manhã
( ) durante a manhã ( ) durante a tarde ( ) durante a noite ( ) durante o sono

Circule as palavras que melhor descrevem sua dor:


Contínua Firme Constante Rítmica Ardente Periódica
Intermitente Breve Momentânea Pulsátil Passageira

Alguém da sua família possui os mesmos sintomas que você ou tem uma condição similar à sua?
( ) Não ( ) Sim Se afirmativo, explique: _________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

HÁBITOS COMPORTAMENTAIS

Pratica exercícios? ( ) não ( ) diariamente ( ) 1 vez por semana


( ) mais de uma vez na semana
Que tipo de exercícios? ( ) caminhada ( ) hidroginástica ( ) corrida
( ) esportes ( ) outros ___________________________________
Atividades sociais: ( ) nenhuma ( ) muito pouco ( ) moderada
( ) muito ativo
Alimentação: ( ) não se alimenta bem ( ) apetite ruim, come pouco ( ) apetite moderado
( ) se alimenta bem
Bebidas com cafeína: ( ) nenhuma ( ) 1 a 2 diariamente ( ) 3 a 4 diariamente
( ) mais de 6 diariamente
Refrigerante tipo cola: ( ) nenhuma ( ) 1 a 2 diariamente ( ) 3 a 4 diariamente
( ) mais de 6 diariamente
Toma vitaminas: ( ) nenhuma ( ) ocasionalmente ( ) diariamente
( ) usa megadoses
Fuma tabaco: ( ) nenhum ( ) às vezes ( ) + de 1 maço/dia
( ) menos de 1 maço/dia

Já fez ou faz uso de placa miorrelaxante?


( ) não ( ) Sim Quando? ____________________________________________________
Qual o efeito? ____________________________________________________________________________________

Já fez ajuste oclusal ?


( ) Não ( ) Sim Quando? ____________________________________________________
Qual o efeito? ____________________________________________________________________________________

Faz uso de remédio controlado?


( ) Não ( ) Sim Qual(is)? ___________________________________________________
Qual o efeito? ________________________________________________________
Qual é seu lazer preferido? ________________________________________________________________________
Quando você pode dedicar-se a ele? ( ) Nunca ( ) Raramente ( ) sempre que posso ( ) sempre que
tenho vontade
Quanto você pode dedicar-se a ele? ( ) Dia ( ) mês ( ) Ano Quando praticou pela última vez?
__________________________
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 5

Nos seguintes desenhos:


1. Marque sombreando com um lápis as áreas onde você tem dor.
2. Marque com um ponto sólido [ ● ] exatamente onde a dor começa.
3. Marque com um círculo onde ocorre área de dormência (perda de sensação)

Lado direito Lado esquerdo

Sente dores de cabeça freqüentes?


( ) não ( ) sim
( ) freqüente ( ) forte ( ) leve
( ) unilateral ( ) bilateral
( ) frontal (testa) ( ) occipital (nuca) ( ) localização variável
Sente dores na face?
( ) não ( ) sim
( ) unilateral ( ) bilateral
Sente dores na região do pescoço?
Sente dores nos ombros?
Sente dores nas costas?
Se sente dores em outra região não mostrada no desenho escreva relatando onde ocorre
_______________________________________________________________________________________________.

Sente dor ou desconforto durante a mastigação? ( ) Sim ( ) Não


Quando seus dentes tocam? ( ) Quando fecho a boca ( ) Quando mastigo
( ) Quando falo ( ) Nunca tocam
( ) Sempre tocam ( ) Quando engulo (degluto)
Dor ou sensibilidade nas articulações? (à frente do ouvido) ( ) Sim ( ) Não
Percebe barulho nestas articulações? (clicks ou estalos) ( ) Sim ( ) Não
Consegue abrir muito a boca sem sentir dor? ( ) Sim ( ) Não
Sente travar no momento da abertura da boca? ( ) Sim ( ) Não
Sente travar no momento de fechar a boca? ( ) Sim ( ) Não
Tem a sensação de que a mordida está deslocada? ( ) Sim ( ) Não
Tem apertamento dentário? ( ) diurno ( ) noturno ( ) Não
Tem o hábito de ranger os dentes? ( ) diurno ( ) noturno ( ) Não
Sente tensão ou endurecimento no pescoço? ( ) Sim ( ) Não
Tem torcicolos freqüentemente? ( ) Sim ( ) Não
Tem dificuldades de movimentar a cabeça para os lados? ( ) Sim ( ) Não
Sente dor no ouvido ou próximo deles? ( ) Sim ( ) Não
Tem a sensação de ouvir zumbidos, sinos ou assovios? ( ) Sim ( ) Não
Tem perda de audição ou ouvidos entupidos? ( ) Sim ( ) Não
Tem vertigens (desequilíbrio postural)? ( ) Sim ( ) Não
Sensação de dor dentro, ao redor ou atrás dos olhos? ( ) Sim ( ) Não
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 6

Visão borrada? (não corrigida por óculos) ( ) Sim ( ) Não


Dificuldade de deglutir (engolir)? ( ) Sim ( ) Não
Sensação de dor ou queimadura na língua? ( ) Sim ( ) Não
Dor ou formigamento na gengiva? ( ) Sim ( ) Não

REVISÃO DOS SISTEMAS

Circule a resposta apropriada de acordo com a legenda abaixo


N = Não J = Já teve anteriormente A = Apresenta atualmente
Artrites
Artrite N J A
Gota N J A
Osteoartrite N J A

Implantes artificiais
Prótese (ocular / auditiva / etc) N J A
Marcapasso N J A
Válvula coronária N J A

Desordens sanguíneas
Hemorragia N J A
Anemia N J A
Leucemia N J A

Desordens endócrinas
Diabetes N J A
Problemas de tireóide N J A
Tensão pré-menstrual - TPM N J A

Desordens oculares
Glaucoma N J A
Herpes ocular N J A

Dores de cabeça
Dor de cabeça sob tensão N J A
Enxaqueca N J A
Dores de cabeça inexplicáveis N J A

Otorrinolaringologista (nariz, ouvido)


Rinite N J A
Sinusite N J A
Adenóide N J A
faringite N J A

Desordens coronárias
Palpitação N J A
Pressão alta N J A

Desordens urinária / renal


Problemas renais N J A
Infecções urinárias N J A

Desordens no fígado
Hepatite N J A
Cirrose N J A

Desordens pulmonares
Asma N J A
Enfisema N J A
Tuberculose N J A
Bronquite N J A
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 7

Desordens musculares
Fibromialgia N J A
Tensão muscular N J A
Distrofia muscular N J A
Espasmo muscular frequente N J A

Desordens neurológicas
Paralisia cerebral
Epilepsia
Neuralgia
Esclerose múltipla
Doença de parkinson

Desordens gastrointestinais (no estômago / intestino)


Úlceras
Colites

Outras condições
Osteoporose
Problemas psiquicos
Tumores benignos ou malignos
Doenças sexualmente transmissíveis

Está grávida?

Outras observações: ______________________________________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________

HÁBITOS PESSOAIS

Rói unhas? ( ) Sim ( ) Não

Masca chicletes? ( ) Sim ( ) Não

Mastiga objetos (como ponta de caneta, por exemplo) ( ) Sim ( ) Não

Sucção de dedos? ( ) Sim ( ) Não

Respirador bucal? ( ) Sim ( ) Não

Apóia o telefone entre o ombro e a cabeça sem usar as mãos? ( ) Sim ( ) Não

Uso prolongado de computador? ( ) Sim ( ) Não

Dorme com as mãos debaixo do queixo?. ( ) Sim ( ) Não

Morde os “cantos” da boca? ( ) Sim ( ) Não

outros: ______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 8

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – AUTORIZAÇÃO DO PACIENTE OU


RESPONSÁVEL

I –DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE


Nome: __________________________________________________________________________________________
Documento de Identidade n° _______________________________________________________________________
Gênero : ( ) Masculino ( ) Feminino
Data de Nascimento : _______/_______/_____
Endereço: ______________________________________________________________________________________
Cidade: _______________________________UF: _____Telefone: ___________________CEP:
_________________

II – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL LEGAL


Nome do Responsável legal: _______________________________________________________________________
Documento de Identidade n° _______________________________________________________________________
Gênero : ( ) Masculino ( ) Feminino
Data de Nascimento : _______/_______/_____
Endereço: ______________________________________________________________________________________
Cidade: ________________________________UF: ________________________ Telefone: ____________________
Natureza ( grau de parentesco, tutor, curador, etc.):
________________________________________________________________________________________________

III – DADOS DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL


Nome: __________________________________________________________________________________________
Cargo/Função: ___________________________ Inscr.Cons.Reg. _________________________________________
Unidade/Departamento: ___________________________________________________________________________

IV – DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA


Título: __________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
Justificativas: ___________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

Autorizo que todas as informações contidas neste documento possam ser utilizadas com
finalidade científica e didática, bem como concordo em receber o tratamento proposto pelos
profissionais desta clínica, estando ciente de que todos os dados permanecerão sigilosos, a não
ser nos casos acima mencionados, quando terei resguardada minha identidade. Concordo
ainda com a documentação fotográfica do meu caso clínico e estou de acordo com as normas
de regulamentação do funcionamento desta clínica, incluindo a necessidade de justificativa
para a falta em qualquer consulta, bem como estou ciente a perda da vaga no tratamento após
duas faltas não justificadas.

__________________________________________________________________
ASSINATURA E DATA
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 9

EXAME CLÍNICO

I - AVALIAÇÃO DE CABEÇA E PESCOÇO:

Palpação dos músculos da cabeça e pescoço: ______________________________________________


______________________________________________
Linfonodos ______________________________________________
______________________________________________

Avaliação facial:
Assimetria facial: ( ) Não ( ) Sim ( ) Direita
( ) Esquerda
( ) Em “S”
Altura do ramo: ( ) Igual ( ) Desigual Direito ________ mm
Esquerdo _______ mm

II - AVALIAÇÃO DA ATM:

A. VARIAÇÃO DA MOVIMENTAÇÃO
Lateralidade DOR SONS
20 10 10 20 Lateral direito _____________ mm ______ ______
D | | | | E Lateral esquerda _____________ mm ______ ______
Abertura
20 _____ Abertura máxima _____________ mm ______ ______
20 _____
40 _____ Abertura: ( ) reto ( ) desvio
20 _____ Fechamento: ( ) reto ( ) desvio

B. SONS ARTICULARES:

ABERTURA Direita Esquerda


Estalo ( ) ( )
Crepitação ( ) ( )
Som surdo final (terminal) ( ) ( )
Hipermobilidade ( ) ( )

Início: ( 0 - 15 mm) ____________ ____________


Meio (16 - 30 mm) ____________ ____________
Final (31 - 50 mm) ____________ ____________

Comentários: _________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

FECHAMENTO Direita Esquerda


Estalo ( ) ( )
Crepitação ( ) ( )
Som surdo final (terminal) ( ) ( )
Hipermobilidade ( ) ( )

Início: (31 - 50 mm) ____________ ____________


Meio (16 - 30 mm) ____________ ____________
Final (31 - 50 mm) ____________ ____________

Comentários: _________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 10

C. PALPAÇÃO ARTICULAR:
0 = Sem dor 1 = Dor média 2 = Dor moderada 3 = Dor severa

Direito Esquerdo
Parede lateral ____________ ____________
Parede posterior ____________ ____________
Presença de edema? ____________ ____________
( ) Não ( ) Sim ____________ ____________
Evidente ____________ ____________
Percebida ____________ ____________

III. EXAME MUSCULAR - DOLOROSO À PALPAÇÃO

3B
3C 3A

5
12A
10 11 1
2
8
9 7
12B

6
7

Indicar o grau da resposta usando o seguinte código:


0 = Sem dor 1 = Dor média 2 = Dor moderada 3 = Dor severa
* “Ponto gatilho” NE = Não examinado

Direito Esquerdo
Articulação têmporomandibular (1)
Masseter (2) ____________ ____________
Temporais (3)
Anterior - (3A) ____________ ____________
Médio - (3B) ____________ ____________
Posterior - (3C) ____________ ____________
Vértice do crânio (4) ____________ ____________
Músculos occipitais (5) ____________ ____________
Pescoço e ombros (6) ____________ ____________
Esternocleidomastóideo (7) ____________ ____________
Pterigóideo medial (8) ____________ ____________
Digástrico posterior (9) ____________ ____________
Tendão do músculo
Temporal intrabucal (10) ____________ ____________
Músculo pterigoideo
Lateral intrabucal (11) ____________ ____________
Orifício infra-orbitário (12A) ____________ ____________
Mentoniano (12B) ____________ ____________
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IV. DIAGRAMA DE DOR: X = Pontos gatilho 0 = Áreas de dor

V. TESTES DIAGNÓSTICOS ADICIONAIS


Spray e estiramento ________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
Bloqueios diagnósticos ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
Reposicionamento (mordida topo a topo) _______________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
TESTES DE PROVOCAÇÃO:
Abertura contra a resistência __________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
Fechamento contra a resistência _______________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
Protrusão contra a resistência _________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
Carga na articulação ________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________

MAPEAMENTO DOS NERVOS CRANIANOS


Oftal.

Cerv.

2
Max

Mand.
C3

C4
C5

I- NERVO OLFATÓRIO
Sente cheiro Narina direita ( ) Não ( ) Sim
Narina esquerda ( ) Não ( ) Sim
II- NERVO ÓPTICO
Visualização boa (50cm) Alto ( ) Não ( ) Sim
Baixo ( ) Não ( ) Sim
Lado direito ( ) Não ( ) Sim
Lado esquerdo ( ) Não ( ) Sim
Consegue ler à distância do braço esticado? ( ) Não ( ) Sim
III- NERVO OCULOMOTOR
IV- NERVO TROCLEAR
V- NERVO ABDUCENTE
A pupila dilata ao incidir a luz ? Direito ( ) Não ( ) Sim
Esquerdo ( ) Não ( ) Sim
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 12

Quando é colocado um objeto a 5cm do nariz seguindo na direção dos


pontos cardinais observa alguma anomalia de movimento? ( ) Não ( ) Sim

Ao fixar um objeto a 5cm da ponta do nariz observa alguma


anormalidade? ( ) Não ( ) Sim

VI- NERVO TRIGÊMIO


Função sensitiva: quando de olhos fechados o paciente sente o leve
roçar de sua pele com um cotonete, conforme regiões da figura acima? ( ) Não ( ) Sim

Função motora: ao palpar o masseter e o temporal estes músculos


apresentam contrações simultâneas fortes e bilaterais quando em
oclusão? ( ) Não ( ) Sim

Ao fechar a boca contra resistência há forte contração dos masseteres?


( ) Não ( ) Sim

A abertura contra a resistência resulta em contração simétrica dos dois


ventres anteriores do digástrico? ( ) Não ( ) Sim

VII- NERVO FACIAL


Há assimetrias faciais em repouso? ( ) Não ( ) Sim

Há assimetrias faciais durante a fala ? ( ) Não ( ) Sim

Ao fazer movimentos com os lábios anteriormente (beijo), ranger o queixo, levantar sobrancelhas, sorrir, franzir a
testa, piscar os olhos, franzir o nariz existe alguma anormalidade ou dificuldade?
( ) não ( ) Sim ( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo

percebe a diferença entre substâncias salgadas, doces e amargas na parte


anterior da língua? ( ) Não ( ) Sim

percebe secura ou sensação arenosa ocular (glândula lacrimal)? ( ) Não ( ) Sim

VIII- NERVO VESTÍBULOCOCLEAR


Ao esfregar os dedos a uma distância de 2 ou 3 cm do pavilhão auditivo a percepção é a mesma?
( ) Não ( ) Sim ( ) Lado direito
( ) Lado esquerdo
( ) Ambos

IX- NERVO GLOSSOFARÍNGEO


Ao aplicar substâncias doces, amargas ou salgadas na parte posterior da
língua há alteração do paladar ?. ( ) Não ( ) Sim

Há sensibilidade ao tocar levemente a sonda sobre a porção posterior da


língua? ( ) Não ( ) Sim

Há reflexo de vômito ao tocar levemente um cotonete na região de


palato mole ou faringiana? ( ) Não ( ) Sim

Há dor na palpação do processo estilóide? ( ) Não ( ) Sim

X– NERVO VAGO
Sente ânsia de vômito ao engolir? ( ) Não ( ) Sim

Tem problemas gastrointestinais? ( ) Não ( ) Sim

Apresenta recentemente alguma dificuldade na fala? ( ) Não ( ) Sim


Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 13

XI– NERVO ESPINHAL ACESSÓRIO


Ao movimentar os ombros elevando-os e a cabeça para os lados,
flexionando e estendendo, percebe alguma atrofia muscular ou
espasmo? ( ) Não ( ) Sim

Percebe assimetria nos movimentos musculares? ( ) Não ( ) Sim

Percebe fraqueza muscular? ( ) Não ( ) Sim

XII– NERVO HIPOGLOSSO


O contorno da massa lingual apresenta ausência de atrofia? ( ) Não ( ) Sim

Os movimentos linguais são rápidos e vigorosos? ( ) Não ( ) Sim

Na protrusão lingual há desvio para algum lado?


( ) Não ( ) Sim ( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo

AVALIAÇÃO CERVICAL
Extensão: Dor ( ) Ausente ( ) Presente
Limitação de movimento ( ) Não ( ) Sim
Flexão: Dor ( ) Ausente ( ) Presente
Limitação de movimento ( ) Não ( ) Sim
Rotação direita: Dor ( ) Ausente ( ) Presente
Limitação de movimento ( ) Não ( ) Sim
Rotação esquerda: Dor ( ) Ausente ( ) Presente
Limitação de movimento ( ) Não ( ) Sim
Inclinação direita: Dor ( ) Ausente ( ) Presente
Limitação de movimento ( ) Não ( ) Sim
Inclinação esquerda: Dor ( ) Ausente ( ) Presente
Limitação de movimento ( ) Não ( ) Sim

Ombro baixo: ( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo ( ) Iguais


Crista ilíaca baixa: ( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo ( ) Iguais
Cabeça protruída: ( ) Ausência ( ) Para esquerda ( ) Para direita
Ombros protruídos: ( ) Ausência ( ) Para esquerda ( ) Para direita
Postura geral do corpo: ( ) Boa
( ) Assimetria lateral ( ) Direita ( ) Esquerda
( ) Relaxado para anterior
Variação ativa do movimento
Tratamento atual ( ) Protética ( ) Quiroprático
( ) Ortopédico ( ) Outros. Quais ___________________
___________________________________
___________________________________

AVALIAÇÃO INTRA-ORAL:
X = Ausente R = Necessidade de Restauração P = Possível fonte de Dor
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Higiene ( ) Boa ( ) Fraca ( ) Ruim


Estado periodontal: ( ) Boa ( ) Fraca ( ) Ruim

Necessita radiografia dos elementos _________________________________________________________________

Necessita endodontia dos elementos __________________________________________________________________

Necessita periodontia dos elementos _________________________________________________________________

Necessita prótese fixa dos elementos _________________________________________________________________

Necessita exodontia dos elementos ___________________________________________________________________

Necessita prótese parcial removível? ( ) Superior ( ) Inferior


Necessita tratamento ortodôntico? ( ) Não ( ) Sim

AVALIAÇÃO DOS TECIDOS MOLES


Gengiva ______________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Língua _______________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Assoalho da boca _______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Orofaringe ____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
Pressão lingual _________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
Oclusão ( ) Normal ( ) Maloclusão ( ) Mutilação
Relação molar ( ) Classe I ( ) Classe II ( ) Classe III
Relação de caninos ( ) Classe I ( ) Classe II ( ) Classe III
Classificação ( ) Classe I ( ) Classe II ( ) Classe III
( ) Classe II Div 2
Sobremordida vertical __________________mm Sobremordida horizontal _____________________ mm
Mordida aberta _______________________ mm Dimensão vertical de oclusão _________________ mm
Mordida cruzada ( ) Não ( ) Sim ( ) Direita ( ) Esquerda ( ) Ambos os lados

Curva de spee ( ) Normal ( ) Plana ( ) Íngreme ( ) Reversa


Relação da linha média ( ) Sem desvio
( ) Com desvio ( ) Em forma de “S” ( ) À direita ( ) À esquerda
Facetas de desgaste ( ) Não ( ) Sim. Quais os dentes que apresentam estas facetas assinale com a FD
Interferências ( ) Não ( ) sim. Em qual(is) dente(s) assinale com a letra i

Função em grupo ( ) Não ( ) Sim ( ) Direita ( ) Esquerda


Guia canina ( ) Não ( ) Sim ( ) Direita ( ) Esquerda
Achados radiográficos ( ) Panorâmica ( ) Tomografias ( ) Ressonância magnética
( ) Artrografia ( ) Oblíqua transcraniana ( ) Outros
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 15

ATM
Direita __________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

Esquerda _______________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

Resultados de consultas / testes / exames suplementares


________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

Impressões diagnósticas: (enumere em ordem de importância)


____ Capsulite/sinovite ATM ( ) Direita ( ) Esquerda
____ Dores de cabeça em enxaqueca
____ Disco deslocado ATM ( ) Direita ( ) Esquerda
____ dores de cabeça tipo tensão
____ Osteoartrite ATM ( ) Direita ( ) Esquerda
____ Dor neuropática
____ Mioespasmo ____ Músculos mastigadores ____ Músculos cervicais
____ Neuralgia do trigêmio ____ Dor psicogênica
____ Mialgia local ____ Disfunção cervical
____ Odontalgia atípica ____ Dor odontogênica
____ “Trigger points” miofacial

CONTROLE RECOMENDADO
( ) Esplintagem ( ) Estabilização articular ( ) Reposicionamento anterior
( ) Fisioterapia ( ) ATM
( ) Quadrante superior ( ) Pós- cirúrgico
( ) Farmacoterapia ( ) NSAIDS
( ) Analgésicos (opióides). Qual? ___________________________________
( ) Relaxantes musculares. Qual ____________________________________
( ) Ansiolíticos. Qual? ____________________________________________
( ) Esteróides. Qual? _____________________________________________
( ) Antidepressivos. Qual? _________________________________________
( ) Anticonvulsiantes. Qual? _______________________________________
( ) Injeções ( ) Diagnóstico ( ) Pontos gatilho
( ) Controle de tensão ( ) Terapia ( ) Comportamental
( ) Controle dental ( ) Pré-DTM ( ) Pós-DTM
( ) Outros
( ) Avaliações suplementares ( ) Ressonância magnética ( ) Química sangüínea
( ) Estudo do sono ( ) Tomografia computadorizada
Consulta / encaminhamento ( ) Cirurgia oral ( ) Neurologia
( ) Psicólogo ( ) Reumatologia
( ) Interno ( ) Psiquiatra
( ) Fisiatra ( ) Fisioterapeuta
( ) Outros. Qual(is) ___________________________________________
Comentários
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 16

ANÁLISE FUNCIONAL DA OCLUSÃO


AJUSTE OCLUSAL
MAPEAMENTO DO DESGASTE SELETIVO

AJUSTE EM RELAÇÃO CÊNTRICA

Contato Dentes Cúspides Estruturas Deslize para

AJUSTES EM LATERALIDADE ESQUERDA : TRABALHO

Contato Dentes Cúspides Estruturas

AJUSTES EM LATERALIDADE ESQUERDA : BALANCEIO

Contato Dentes Cúspides Estruturas


Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 17

AJUSTES EM LATERALIDADE DIREITA : TRABALHO

Contato Dentes Cúspides Estruturas

AJUSTES EM LATERALIDADE DIREITA : BALANCEIO

Contato Dentes Cúspides Estruturas

AJUSTES EM PROTUSÃO

Contato Dentes Cúspides Estruturas


Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 18

Este anexo é parte integrante do Prontuário Odontológico do(a) Sr.(a.)

EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO
Data Área/dente Procedimento realizado Ass. Profissional
Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 19

EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO (continuação)


Data Área/dente Procedimento realizado Ass. Profissional

SITUAÇÃO ODONTOLÓGICA FINAL


Prontuário odontológico de paciente com disfunção temporomandibular Fernandes Neto, A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 20

Escala Visual de Dor

Paciente: __________________________________________________ Data:___/___/___


Obs:____________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sem Dor Pior dor imaginável

Paciente: __________________________________________________ Data:___/___/___


Obs:____________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sem Dor Pior dor imaginável

Paciente: __________________________________________________ Data:___/___/___


Obs:____________________________________________________________________________
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0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sem Dor Pior dor imaginável
MOLDAGEM E CONFECÇÃO DE
MODELO DE ESTUDO

Prof. Dr. Alfredo Júlio Fernandes Neto - 2005

A obtenção do molde e posterior


modelo de estudo em gesso é um
procedimento crítico e, como em qualquer
outro trabalho odontológico, todos os passos
são de igual importância. Entre eles, está a
correta seleção e emprego dos materiais e
técnicas utilizadas.
Para isto se faz necessário o
conhecimento de alguns conceitos.
Moldagem é o ato técnico de se
obter impressão ou molde de uma
estrutura ou superfície. Em Odontologia, é
o ato de selecionar, manipular, inserir o
material de moldagem em uma moldeira, Fig. 02 - Molde da arcada dentária superior obtido
posicioná-la na boca do paciente e mantê- por meio do procedimento de moldagem.
la imóvel até a completa reação de
polimerização do material e em seguida,
removê-la, (fig. 01).

Fig. 03 - Modelos das arcadas superior e inferior


obtidos a partir dos moldes.

O material de escolha para a


Fig. 01 - Procedimento clínico de moldagem. obtenção de moldes e posterior confecção
Molde é o produto de uma dos modelos de estudo e para diversas
moldagem, ou seja, a impressão ou cópia outras aplicações, é o hidrocolóide
negativa de uma estrutura ou superfície irreversível, também conhecido como
que servirá para reproduzir a estrutura alginato. Os principais fatores
moldada, (fig. 02). responsáveis pelo sucesso desse material
Modelo é a reprodução de uma são a facilidade de manipulação, conforto
estrutura ou superfície, obtida com para o paciente e o baixo custo.
material próprio, a partir de uma
Hidrocolóide irreversível
impressão ou molde, (fig. 03).
Moldagem e Confecção de Modelo de Estudo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 116

Composição química básica: o - Moldagem para obtenção de modelo


principal componente do hidrocolóide de trabalho em: próteses removíveis
irreversível é um alginato solúvel, como o (parcial e total), prótese fixa (técnica
alginato de sódio ou de potássio, (Quadro de moldagem com casquete e
01). elastômero) e ortodontia.
¾ Contra Indicações:
Componente Função % - Moldagem para obtenção de modelo
Alginato de Alginato 15 de trabalho em prótese fixa (não
potássio solúvel reproduz com precisão e nitidez os
Sulfato de Reator 16 detalhes dos preparos coronários dos
cálcio dentes pilares).
Óxido de zinco Partículas de 4 ¾ O tempo de trabalho é de
carga aproximadamente 2,5 min.
Fluoreto de acelerador 3
potássio titânio
Materiais e instrumental utilizados para
Terra Partículas de 60
moldagem com hidrocolóide irreversível
diatomácea carga
Fosfato de Reator 2
sódio • hidrocolóide irreversível
Quadro 01 - Fórmula do pó de um alginato. • moldeiras de estoque com retenção
ANUSAVISE, 1998. • cubeta de borracha
• espátula para manipulação
Reação de geleificação (água + pó): • cera utilidade
Química • frasco medidor de pó
Tempo de presa (ADA - 18): • frasco medidor de água
Tipo I (presa rápida): 1-2 min.
Tipo II (presa normal): 2-4 min a 230C
(variável com a relação água/pó e com a Técnica de moldagem com alginato
temperatura).
Propriedades físico-químicas: Inicialmente deve-se posicionar o
Atóxico (não libera subprodutos) paciente na cadeira odontológica de tal
Fluidez limitada forma que o arco dentário a ser moldado
Elasticidade (baixa resistência ao fique paralelo ao piso, e antes da
rasgamento) moldagem fazer cuidadosa limpeza da
Recuperação elástica: 97,3% boca.
¾ Adere a moldeira através de retenções Selecionar a moldeira tomando como
mecânicas referência um espaço livre de 3 mm entre
¾ A estabilidade dimensional pode ser ela e os tecidos do arco a ser moldado. Se
alterada em função da sinérese (perda a moldeira selecionada não envolver toda a
do conteúdo de água para o ambiente) superfície, deve ser conformada utilizando
e pela embebição (ganho de água, cera utilidade, (figs. 04 e 05).
quando submerso), o que indica que o
vazamento do gesso deve ser o mais
imediato possível, mas não antes de 10
min.
¾ Indicações:
- Moldagem para obtenção de modelo
de estudo
Moldagem e Confecção de Modelo de Estudo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 117

Fig. 04 - Moldeiras metálicas totais com retenção. Fig. 07 - Espatulação do alginato.

Colocar o alginato espatulado na


moldeira previamente selecionada, e antes
de sua inserção na boca do paciente, passar
alginato na superfície oclusal e espaços
interproximais dos dentes a serem
moldados, com o auxílio do dedo
indicador. Tal procedimento evitará bolhas
sobre estas superfícies. Posicionar a
moldeira na boca do paciente entre o
Fig. 05 - Selecionar a moldeira tomando como estágio de escoamento e viscosidade,
referência um espaço livre de 3 mm entre ela e os alinhando a parte central de seu cabo com
tecidos do arco a ser moldado
a linha média da face do paciente e
Selecionar o alginato e fazer o fazendo ligeira compressão contra a
proporcionamento de água/pó de acordo superfície que se está moldando, porém,
com as instruções do fabricante. A sem permitir que a moldeira a toque.
quantidade de água pode ser ligeiramente Manter a moldeira imóvel, até que ocorra a
reduzida, visando aumentar a resistência e completa geleificação do alginato quando,
reduzir o tempo de permanência do então, remove-se a moldeira. Caso haja
material na boca. Acrescentar o pó à água tolerância por parte do paciente, é
em uma cubeta e espatular durante 45 recomendável aguardar mais 3 ou 4
segundos, até que a mistura fique minutos após esta geleificação, visando
uniforme, lisa e cremosa (a espatulação maior resistência e conseqüentemente
insuficiente, com resíduos de pó, pode menor deformação e rasgamento, (figs. 08
promover queda na resistência de até e 09)..
50%), (figs. 06 e 07).

Fig. 08 - Posicionando a moldeira carregada com


Fig. 06 - Proporcionamento de água/pó de alginato na boca do paciente.
acordo com as instruções do fabricante.
Moldagem e Confecção de Modelo de Estudo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 118

crobianos, hipoclorito de sódio ou


glutaraldeido, durante 10 min.
O material de escolha para a
confecção dos modelos de estudo é o gesso
pedra.

Gesso Odontológico.

O gesso odontológico é composto de


sulfato de cálcio hemihidratado (CaSO4.
Fig. 09 - Manutenção estável da moldeira na boca H2O), solúvel em água, obtido através do
do paciente até a presa final do alginato. processo de calcinação da gipsita, mineral
Remover a moldeira num só golpe, comum na natureza.
no sentido paralelo ao longo eixo da face, Tipos de gesso:
sem movimentos laterais, lavá-la em água • Tipo II - Gesso comum ou Paris
corrente e escorrer completamente, (fig. • Tipo III- Gesso Pedra
10). • Tipo IV- Gesso Pedra Especial
modificado.
• Tipo V- Gesso Extra Duro de expansão
modificada.

Confecção de modelos de estudo

¾ Relação água/pó (A/P):


A proporção é feita em peso
(gramas) do pó e em volume (ml) da água,
sendo variável quanto ao tipo de gesso,
dentro das seguintes médias:
Gesso Comum: A/P 0,5% - 50 ml de
água para 100g. de gesso.
Fig. 10 - Molde obtido por meio do procedimento
Gesso Pedra: A/P 0,3% - 30 ml de
de moldagem. água para 100g. de gesso.
Gesso Especial: A/P 02% - 20 ml de
O molde é considerado aceitável se água para 100 g de gesso.
não houver nenhum contato dos dentes ¾ Espatulação – Deve ser vigorosa
com a moldeira e não forem observados por aproximadamente 45 seg, tempo
bolhas ou rompimentos que comprometam suficiente para incorporar todo o pó ao
a qualidade do modelo. líquido, obtendo uma massa cremosa e
A espessura mínima de alginato homogênea.
entre os tecidos e a parede da moldeira Reação de presa (água + pó):
deve ser de 3 mm. imediatamente depois de colocado o pó
Idealmente, o gesso deve ser vazado sobre a água na cubeta de borracha, tão
sobre o molde, logo a seguir. Quando não logo suas partículas começam a ser
for possível, envolvê-lo em papel toalha embebidas pela água, inicia-se o processo
úmido ou acondicioná-lo dentro de de transformação de hemihidrato de sulfato
recipiente com umidade relativa de 100%, de cálcio em dihidrato de sulfato de cálcio
até o momento do vazamento. que se caracteriza pela formação de cristais
Para a desinfecção do molde usar (esferulitas) que vão se compactando, até
imersão ou spray com agentes antimi- for-mar uma massa rígida, produzida pela
Moldagem e Confecção de Modelo de Estudo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 119

reação de presa (endurecimento). Durante Materiais e instrumentais utilizados na


esta reação, ocorre a exotermia de presa ou confecção dos modelos de estudo em gesso
desprendimento de calor (presa inicial) e
posteriormente, sua dissipação (presa • gesso pedra
final). • cubeta de borracha
¾ Porosidade – A porosidade do gesso • espátula para manipulação
é o espaço existente entre os cristais • recortador de modelo
formados. O gesso comum, sem dúvida, é • pincel nº 3
o que mais apresenta porosidade devido às • espátula nº 7 ou 31
suas partículas serem grandes e • faca para gesso
esponjosas. O gesso pedra tem partículas • cera rosa nº 7
menores e mais regulares, por isso utiliza- • balança para gesso
se menos água na espatulação,
• frasco medidor de água (proveta).
conseqüentemente apresenta menor
porosidade, porém ainda maior que o gesso Técnica de confecção dos modelos de
especial cujas partículas são ainda menores estudo em gesso
e mais regulares.
¾ Expansão: ocorre independente do Remover toda a saliva do molde,
tipo de gipsita, e é observada durante a lavando-o em água corrente e secando-o
cristalização que, de acordo com o gesso em seguida. Após a desinfecção, preencher
pode variar de 0,06% linearmente para o a área lingual do molde inferior, pode-se
gesso especial, até 0,5% para o gesso utilizar toalha de papel umedecida, porção
comum. A expansão é proporcional ao tipo de alginato manipulado ou ainda com cera
de partícula do pó e também influenciada rosa nº 7.
pela quantidade de água utilizada na Proporcionar o gesso pedra e a água,
proporção A/P (maior volume de água seguindo a orientação do fabricante (em
maior expansão). peso para o pó e volume para a água).
¾ Resistência: A resistência final dos Colocar primeiro a água na cubeta e em
modelos de gesso é maior para os de seguida o pó. Após espatulado, proceder
partículas menores e que requerem menos ao vasamento do gesso com auxílio de um
água para sua espatulação (Tipo IV e V) e pincel ou espátula 7, (figs. 11 a 14).
proporcionalmente menor para os de
partículas maiores e esponjosas (Gesso
Comum). A água ainda contida no modelo
após sua presa final (presa úmida), o torna
menos resistente, do que horas após a
secagem total. Isto confere aos gessos
resistência úmida e resistência seca. A
resistência seca é o dobro da resistência
úmida e é obtida após aproximadamente
24 horas em condições ambientais
normais, quando todo o conteúdo de água
Fig. 11 - Instrumental necessário para o correto
retida é totalmente perdido. Este fator é de proporcionamento do gesso.
considerável importância, principalmente
quando se trata de um modelo de trabalho
com troquéis para confecção de próteses
fixas.
Moldagem e Confecção de Modelo de Estudo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 120

Fig. 12 - Gesso proporcionado por peso e a água Fig. 15 - Vazamento da primeira camada de gesso
por volume. sobre o molde.

Fig. 16 - Complementando o vazamento do gesso.


Fig. 13 - Dispersão do gesso sobre a água na cubeta
Nunca antes de 30 minutos e sem
de borracha.
que passe de 60 minutos após o término do
vazamento, remover o modelo do molde
com movimento no sentido do longo eixo
dos dentes, evitando fraturas dos mesmos.
Em seguida, recortar o modelo com o uso
de recortador de gesso, removendo os
excessos, nivelando as bases e aparando as
bordas de contorno vestibular e posterior,
(fig. 17).

Fig. 14 - Espatulação do gesso.

Comece sempre o vazamento pelas


extremidades posteriores do molde, em
pequenas porções e sob vibração,
permitindo que o gesso preencha
inicialmente as áreas mais profundas do
molde (superfícies oclusais e/ou incisais
dos dentes moldados), até completar
totalmente o preenchimento. Deixar o Fig. 17 - Modelos de estudo dos arcos dentários.
conjunto molde/modelo descansar até a
presa final, (figs 15 e 16).
Moldagem e Confecção de Modelo de Estudo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 121

Proceder a avaliação dos modelos, 02- O’Brien & Ryger; Materiais Dentários.
fazendo ajustes e removendo as pequenas 1a ed. Rio de Janeiro, Interamericana,
bolhas que possam interferir no plano 1981.
oclusal durante a articulação dos mesmos. 03- PHILLIPS, R.W.; Materiais Dentários
de Skinner. Trad. Dioracy Fonterrada
Bibliografia consultada Vieira. 8a ed. Rio de Janeiro,
Interamericana, 1984.
01- ANUSAVICE K.J.; Phillip’s Science
of Dental Materials. Tenth edition.
W.B.Saunders. 1998.
MONTAGEM DE MODELOS DE ESTUDO
EM ATICULADOR CLASSE III
SEMI-AJUSTÁVEL - ASA
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005

A montagem de modelos de estudo ¾ Relação Cêntrica (RC), há certa


em articulador classe III, semi-ajustável controvérsia quanto à conceituação de
(ASA) do tipo arcon é indispensável para, RC, existe, no entanto, a concordância de
fig. 01: que é uma relação temporomandibular
• Diagnóstico - como meio auxiliar no (côndilo com a fossa mandibular do osso
diagnóstico de várias situações temporal - cavidade glenóide), estável e
clínicas. reproduzível.
• Análise oclusal - para tratamento por ¾ Máxima Intercuspidação Habitual
meio de ajuste oclusal por desgaste (MIH), é posição maxilomandibular onde
seletivo ou acréscimo. existe o maior número de contatos, entre
• Enceramento diagnóstico. os dentes, não coincidentes com a RC.
• Planejamento - para tratamento em ¾ Oclusão em Relação Cêntrica
prótese, ortodontia e cirurgias (ORC), é a posição maxilomandibular
ortognáticas. onde a RC é coincidente com a Máxima
Intercuspidação (MI).
Articulação dos modelos

Para avaliar corretamente a oclusão


do paciente é preciso que os modelos de
estudo ou diagnóstico estejam montados
em ASA, onde a relação dos modelos com
os componentes do ASA seja semelhante à
existente no paciente.
A primeira questão que surge
inevitavelmente é em que relação os
modelos devem ser montados, relação
cêntrica (RC), máxima intercuspidação
habitual (MIH.) ou oclusão em relação
cêntrica (ORC). Fig. 01 - Modelos de estudo montados em relação
Inicialmente, faz-se necessário a cêntrica em Articulador Semi Ajustável - ASA.
diferenciação entre a montagem de Em se tratando de modelos de
modelos para estudo ou diagnóstico e a estudo, o paciente pode apresentar algum
montagem de modelos de trabalho. distúrbio oclusal e necessitar de análise
Para isso, é importante rever alguns oclusal. Para tanto, os modelos devem ser
conceitos sobre as relações temporo- sempre montados em RC, que permite
mandibulares e maxilomandibulares:
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 125

fazer a análise oclusal funcional, visto que paciente e marcar no garfo os três pontos,
partindo da RC no articulador é possível que receberão a godiva.
observar as discrepâncias para atingir a Plastificar a godiva e aplicá-la nas
MIH. faces superior e inferior do garfo, nos
A montagem dos modelos de pontos previamente determinados,
trabalho para tratamento é feita em ORC, deixando o volume em altura, numa
ou em MIH na dependência do paciente relação do ponto anterior para os
não apresentar sinais e sintomas de oclusão posteriores de 3:1 (ex.: 6mm de godiva no
traumática. ponto anterior e 2 mm nos posteriores),
fig. 03.
Montagem do modelo de estudo do arco
dentário superior

O modelo superior é sempre o


primeiro a ser montado. O registro do arco
facial é um dos passos essenciais para uma
montagem adequada.

Obtenção do registro com o arco facial

• Material e Instrumental
- arco facial
Fig. 03 - Três porções de godiva posicionadas em
- garfo de mordida
diferentes posições do garfo de mordida.
- relator nasal
- chaves de manuseio do articulador Com o paciente confortavelmente
- plastificador de godiva ou lâmpada a posicionado na cadeira odontológica e a
álcool. cabeça ligeiramente inclinada para cima,
- godiva posiciona-se o garfo com a godiva
- cabo de bisturi com lâmina plastificada na boca do paciente,
- cimento à base de óxido de zinco centralizando seu cabo com a linha média
(sistema pasta/pasta) ou pasta zincoenólica da face do mesmo. Em seguida, pressioná-
- vaselina lo contra os dentes superiores para obter o
registro das pontas de cúspides, fig. 04.

Fig. 02 - Arco facial com garfo de mordida e


relator nasal posicionados. Fig. 04 - Posicionamento do garfo de mordida na
boca do paciente.
• Obtenção dos registros no garfo
Manter o garfo em posição e solicitar
Selecionar um ponto anterior e dois
ao paciente que oclua ligeiramente os
pontos posteriores no arco dentário
dentes inferiores sobre a godiva, para
superior do paciente. Posicionar o garfo
(componente do arco facial) na boca do
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 126

estabilizar o garfo pela impressão das rebordo, devendo ser sempre reembasada
pontas das cúspides destes dentes, fig. 05. com pasta de óxido de zinco, de forma a
obter três pontos de apoio estáveis.
• Instalação do arco facial no paciente
De posse do arco facial, limpar com
uma gaze embebida em álcool os suportes
auriculares plásticos localizados nas
extremidades do arco facial, e posicioná-
los nos condutos auditivos externos do
paciente, informando-o que esses suportes
ampliarão os ruídos causados pelos ajustes
do arco facial.
Fig. 05 - Garfo estabilizado na boca pela mordida.
Pedir ao paciente que segure com firmeza
ambos os braços do arco facial e ao mesmo
Resfriar a godiva e remover o garfo tempo conecta-se a presilha localizada na
da boca do paciente, verificando a precisão haste vertical do arco facial ao cabo do
do registro, fig. 06. Se houver excessos de garfo. Nesta operação deve-se certificar
godiva (interferência com os tecidos que a presilha fique por cima do cabo do
moles), báscula ou toque de dentes na garfo, de tal forma que os parafusos de
parte metálica do garfo, o registro deve ser ajuste, quando existirem, fiquem para
corrigido reembasando-o, ou repetido na baixo e o conjunto posicionado do lado
dependência do grau das deformações. direito do paciente, fig. 07.

Fig. 07 - Posicionamento dos arco facial.

Durante a colocação, deve haver um


giro nos dois eixos e a presilha deverá se
Fig. 06 - Garfo removido e verificação a aproximar ao máximo dos lábios do
precisão do registro. paciente. Neste momento, o paciente deve
ser orientado a exercer ligeira pressão
O reembasamento poderá ser feito bilateral no arco facial que está segurando,
com pasta zincoenólica ou cimento de para dentro e para frente, aproximando ao
óxido de zinco e eugenol. Após vaselinar máximo o suporte auricular plástico da
os dentes, coloca-se o material sobre a ATM.
godiva e leva-se o garfo de mordida na Apertar os três parafusos superiores
boca do paciente, solicitando que oclua do arco facial e instalar o relator nasal na
firmemente sobre o mesmo até a presa barra transversal do mesmo. Ajustar o arco
final do material. facial movimentando a presilha na haste
Quando o paciente não possuir vertical para cima ou para baixo até o
dentes na região anterior ou posterior, a relator nasal se apoiar no nasion (glabela)
godiva nessa região deverá moldar o
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 127

do paciente e apertar o parafuso que o fixa, ser anotada na ficha do paciente para
fig. 08. posterior ajuste do articulador, fig. 10.

Fig. 08 - Posicionamento do relator nasal.

• Fixação do garfo de mordida ao arco


facial
Enquanto o paciente mantém o arco
facial com firmeza, deslocar a presilha da
Fig. 10 - Observação da distância intercondilar
haste horizontal do arco facial para trás, aproximada do paciente, registrada na região
deslizando-a pelo cabo do garfo de anterior e superior do arco facial.
mordida, até que fique perto dos lábios,
sem tocá-los. Use a mão esquerda para
estabilizar todo o conjunto durante o ajuste
para evitar o efeito de torção que causa
desconforto ao paciente. Com a mão
direita, apertar firmemente o parafuso da
presilha da haste horizontal com a chave
adequada e, em seguida, o da presilha na
barra vertical do arco, fig. 09.

Fig. 11 - Arco facial posicionado no paciente.

Para remoção do arco facial da face


do paciente, desapertar o parafuso de
fixação e retirar o relator nasal. Em
seguida, desaperte somente o parafuso
mais anterior da parte superior do arco
Fig. 09 - Fixação do garfo de mordida ao arco facial. Os dois laterais, se afrouxados,
facial podem bascular o garfo. Solicitar ao
• Registro da distância intercondilar paciente que abra lentamente a boca e logo
Observar a distância intercondilar após retirar todo o conjunto com cuidado.
aproximada do paciente, registrada na Preparo do articulador para
região anterior e superior do arco facial, Montagem dos modelos
que pode ser pequena (P/S/1), média (M/2)
ou grande (G/L/3). Esta informação deve • Ajustar da distância intercondilar no
articulador
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 128

O corpo do articulador tem na sua dos côndilos, colocando ou tirando


parte superior bilateral três orifícios, espaçadores nos eixos das guias
marcados respectivamente como: condilares. Usar dois espaçadores em cada
* L, G ou três. lado para a distância grande, um para
* M ou dois. média e nenhum para pequena. Os
* S, P ou um. espaçadores devem ser ajustados em
Tais orifícios correspondem às contato com o ramo superior e com as
distâncias intercondilares grande, média e guias condilares do articulador, figs. 14 e
pequena. Cada um dos elementos 15.
condilares deverá ser fixo num desses
orifícios, em correspondência à distância
intercondilar do paciente, conforme
registrado no arco facial. É importante que
os elementos condilares sejam bem
ajustados, fig.12.

Fig. 14 - Posicionamento de um espaçador


correspondente a distancia intercondilar média.

Fig. 12 - Vista posterior do ASA, registro das


distancias condilares.

Se o registro da distância
intercondilar no arco facial coincidir com a
linha demarcatória entre duas distâncias,
ajustar o articulador sempre na distância Fig. 15 - Modelo diferente de articulador -
menor, o que resultará em cúspides mais posicionamento de um espaçador correspondente a
baixas havendo menor possibilidade de distancia intercondilar média.
interferências, fig. 13.
Ao usar espaçadores o lado biselado
deve estar voltado para as guias condilares.
Isso assegurará a liberdade de se ajustar o
ângulo de Bennett até sua graduação
máxima. A linha horizontal demarcatória
do espaçador deverá estar alinhada com a
marca de referência da guia condilar.
• Controle posterior (guia condilar)
É fundamental a estabilização dos
côndilos nas paredes superior, posterior e
Fig. 13 - Posicionamento do côndilo no orifício mediana das guias condilares, ajustadas de
correspondente à distancia condilar determinada.
acordo com as características das ATMs
Em seguida, ajustar as guias
do paciente, ou nas medidas médias:
condilares (cavidades glenóides) no ramo
- Parede superior 30º, figs. 16 e 17.
superior do articulador na mesma distância
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 129

- Parede mediana (Ângulo de Bennett) 15º, Limpar, vaselinar e fixar firmemente


figs. 18 e 19. as placas de montagem nos ramos superior
e inferior do articulador, fig. 20, posicionar
a mesa incisal no ramo inferior e remover
o pino-guia.

Fig. 16 guia condilar, parede superior, plano


sagital.

Fig. 20 - Fixação da placa de montagem no ramo


superior do ASA.

Para fixar o arco facial no


articulador, segurá-lo com uma mão e com
a outra manter o ramo superior do
articulador. Acoplar os orifícios,
localizados nos suportes auriculares, nos
Fig. 17 - Ajuste da guia condilar no ASA. pinos localizados na porção externa
posterior das guias condilares, fig. 21,
enquanto um dos braços do arco facial é
mantido contra o próprio corpo do
operador.

Fig. 18 guia condilar, parede mediana, plano


horizontal.

Fig. 21 - Acoplagem do arco facial no ramo


superior do ASA.

Deixar que a extremidade anterior do


ramo superior do articulador descanse
sobre a barra transversal do arco facial.
Pressionar os braços do arco facial contra
as guias condilares e apertar o parafuso
anterior do arco facial, fig. 22.
Fig. 19 - Ajuste da guia condilar no ASA.
Instalação do arco facial no articulador
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 130

Fixação do modelo de estudo do arco


dentário superior no ASA em laboratório.

• Material e Instrumental
- articulador
- arco facial com registro efetuado
- modelo superior recortado
- cubeta de borracha
- espátula para gesso
Fig. 22 - Instalação do arco facial no ramo superior - cera pegajosa
do ASA. - faca para gesso
Em seguida apoiar as guias - gesso pedra tipo IV
condilares do ramo superior sobre os - balança para gesso
côndilos já instalados no corpo do - medida de água (proveta)
articulador. Ao mesmo tempo, a haste do - vaselina em pasta
garfo de mordida do arco facial ficará - pincel para a vaselina.
apoiada sobre a mesa incisal. É necessário verificar se o espaço
No parafuso de fixação da placa de entre o modelo, devidamente posicionado
montagem inferior fixar o suporte do garfo sobre o registro do garfo, e a placa de
(acessório opcional), fig. 23, ou posicionar montagem é suficiente para o gesso de
um rolete de cera rosa nº 7 ou nº 9, fig. 24, fixação. A distância ideal entre o modelo e
para sustentar o garfo evitando báscula do a placa é de um cm (para evitar
mesmo no momento da fixação do modelo distorções), fig. 25.
superior ao ramo superior do articulador,
com gesso.

Fig. 23 - Posicionamento do suporte do garfo de Fig. 25- observação da distância ideal entre o
mordida no ramo inferior do ASA. modelo e a placa de montagem.

Fazer retenções (ranhuras) na base


do modelo superior e umedecê-lo em
cubeta de borracha com água, (os dentes
voltados para cima sem umedecê-los) ou
com algodão embebido em água, fig. 26.

Fig. 24 - Posicionamento do rolete de cera no ramo


inferior do ASA.
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 131

Fechar o ramo superior do


articulador até tocar a barra transversal do
arco facial, fig. 28.
Mantê-lo nessa posição até a presa
final do gesso, após remover o arco facial
do articulador completando se necessário o
gesso para uma fixação segura do modelo,
deixando a superfície de gesso lisa e sem
excesso, fig. 29.
Fig. 26 - confecção de retenções (ranhuras) na base
do modelo superior.

• Colocação do gesso para fixação do


modelo.
Adaptar com todo o cuidado o
modelo de estudo no registro de godiva do
garfo de mordida (podendo até uni-los com
cera pegajosa). Suspender o ramo superior
do articulador e colocar gesso pedra tipo
III bem espatulado (consistência cremosa/
espessa) sobre a base do modelo em três
pontos, um anterior e dois posteriores, fig. Fig. 29 - O modelo superior montado em ASA.
27.
Montagem do modelo de estudo do arco
dentário inferior

O passo fundamental na montagem


do modelo de estudo inferior consiste na
obtenção e registro da mordida com a
mandíbula na posição de RC. Para facilitar
o reposicionamento mandibular em RC,
deve-se confeccionar um dispositivo sobre
os incisivos centrais superiores em
R.A.A.Q. denominado “jig” de Vítor O.
Fig. 27 - Colocação do gesso pedra tipo III para Lúcia, fig. 30.
fixação do modelo ao ramo superior do ASA.

Fig. 30 - Vista frontal do “jig” de Vítor O. Lúcia.

Tal dispositivo tem como funções:


Fig. 28 - Fechar o ramo superior do ASA.
inibir os contatos dentários posteriores,
desprogramar a memória proprioceptiva do
ligamento periodontal e promover o
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relaxamento dos músculos da mastigação,


principalmente o pterigóideo lateral,
permitindo acomodação estável do côndilo
na fossa mandibular do osso temporal, em
uma posição reproduzível.
A técnica de confecção do “jig” e a
posterior manipulação mandibular foram
abordadas em capítulo anterior
Fig. 33- Adição de resina, com o pincel, na marca
Registro da posição de RC no “Jig” do registro da RC no “JIG”.

C) Manipular a mandíbula do paciente até


• Material e Instrumental para o registro:
que o incisivo inferior toque sobre a resina
- potes dappen (02)
adicionada. A mandíbula deve permanecer
- R.A.A.Q.
nesta posição até a presa do material, fig.
- pincel
34.
- fita marcadora para ajuste
- pinça de Miller.
Para a obtenção segura da posição de
RC quando do registro em cera deve-se:
A) Registrar com fita de marcação oclusal
o ponto de contato do incisivo inferior na
face palatina do “Jig” na posição de RC, Fig. 34 - Registro da RC no “GIJ”.
figs. 31 e 32.

Fig. 35 - “ JIG” em paciente desdentado anterior.

Com este procedimento obtém-se


uma referência anterior estável no “Jig”, o
Fig. 31 - Manipulação frontal da mandíbula com o
uso do “JIG” para o registro da RC.
que assegura o correto registro da posição
de RC com a cera.

Registros interoclusais (diagnóstico)

• Princípios Básicos
Os registros interoclusais nos
permitem relacionar as duas arcadas
dentárias, possibilitando montar os
Fig. 32 -Registro da RC com a fita marcadora. respectivos modelos no articulador e
realizar os estudos e ajustes necessários.
B) Adicionar com o pincel uma pequena Montagem dos modelos: com o
porção de R.A.A.Q. exatamente no ponto auxílio do registro em RC, os modelos
marcado anteriormente, fig. 33. superior e inferior são articulados numa
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 133

posição de estabilidade dos côndilos com a Posicionar cuidadosamente o “jig”


fossa mandibular do osso temporal. sobre os incisivos superiores. Plastificar a
Ajuste do articulador: com o auxílio placa de cera e pressioná-la sobre os
dos registros em protrusão e lateralidades dentes superiores. Manipular a mandíbula,
ajusta-se o trajeto sagital e horizontal dos fechando-a, até que o incisivo inferior
côndilos (por meio dos registros da guia contate solidamente com o jig no ponto de
condilar e do ângulo de Bennett) nas registro da RC, fig. 37.
posições excêntricas.
• Material e Instrumental para todos os
registros:
- modelo superior recortado
- “Jig”
- placas de cera rosa nº 7 ou 9
- cabo de bisturi com lâmina
- tesoura
- espátula Le Cron
- lâmpada a álcool
- cimento ou pasta à base de óxido de
zinco.
Fig. 37 - Registro interoclusal em cera
Os registros mandibulares são divididos
em dois grupos: Os molares inferiores devem deixar
registradas as marcas das pontas de
• Registro interoclusal em relação cúspides no registro em cera. Com jato de
cêntrica (RC): água/ar, resfriar o registro e removê-lo em
Aquecer uma placa de cera rosa nº 7 seguida. Se necessário reembasá-lo com
em lâmpada a álcool. Dobrá-la para formar cimento ou pasta á base de óxido de zinco.
camada dupla. Esta placa deverá ter Se houver perfurações no registro de cera,
espessura ligeiramente maior que o espaço isto significa contato dental, ou deve-se
interoclusal obtido com o “jig”. Posicioná- aumentar o “jig” até obter 1 mm de espaço
la no modelo superior, recortar os excessos posterior, repetindo o registro para corrigir
de cera por vestibular e na distal dos esta falha, fig. 38.
últimos dentes com tesoura ou lâmina de
bisturi.
Na porção anterior, recortar a cera
em formato de “V”, criando assim espaço
para o “jig” quando a placa de cera for
inserida na boca, fig. 36.

Fig. 38 - Registro interoclusal em cera, obtido em


RC sobre o modelo.

Após a remoção do registro, este


deve ser manuseado com cuidado e, se
necessário, armazenado em baixa
temperatura, para evitar distorções.
Fig. 36 - Registro interoclusal em cera, recortado • Registro interoclusal das posições
sobre o modelo. laterais:
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 134

Para se verificar o movimento lateral superiores e pedir ao mesmo que tente


nos casos onde o canino estiver fora da mordê-lo. Neste momento o paciente
posição e não ficar topo-topo, dividi-se o estará executando o movimento de
incisivo central superior do lado protrusão, que será registrado, fig. 40.
correspondente ao movimento de trabalho
em três terços. Marca-se o terço distal e ao
efetuar o movimento a linha média entre os
incisivos centrais inferiores deve coincidir
com a marca feita no terço distal do
incisivo superior.
Para registrar a posição de trabalho
do lado esquerdo e a trajetória do côndilo
de balanceio do lado direito, coloca-se a
placa de cera, recortada com o auxílio do Fig. 40 - Registro interoclusal da posição de
modelo, ligeiramente aquecida sobre os protrusão.
dentes superiores do paciente. Pedir ao
paciente para guiar a mandíbula para a Devido às limitações dos articula-
esquerda e fechá-la na posição de topo a dores semi-ajustáveis e quando o paciente
topo dos caninos. Se o paciente tiver apresentar guia anterior efetiva, preconiza-
dificuldade em executar o movimento, se substituir os registros de lateralidade e
colocar o dedo na face vestibular do protrusão, utilizando angulações de 30º
canino superior e pedir para que ele tente para a guia condilar (parede superior) e 15º
mordê-lo. Resfriar o registro com jatos de para o ângulo de Bennett (parede
ar e retirá-lo da boca. mediana), que são as medidas médias.
Repetir os mesmos passos para o Porém é indispensável o registro em
lado esquerdo, fig. 39. relação cêntrica.

Fixação do modelo de estudo do arco


dentário inferior no articulador (ASA) em
laboratório.

• Material e Instrumental:
- articulador com modelo superior
montado
- registro em cera da RC
- modelo inferior recortado (com retenções
na base)
Fig. 39 - Registro interoclusal da posição de - palitos de madeira para fixação dos
trabalho do lado esquerdo.
modelos
• Registro interoclusal da posição de - lâmpada a álcool
protrusão - cera pegajosa ou cola a base de
Posiciona-se a placa de cera cianoacrilato - Bond
devidamente recortada e ligeiramente - espátula 31
aquecida sobre os dentes superiores, sem o - cubeta de borracha
“jig”. Neste registro, o próprio paciente - espátula para gesso
executa o movimento sem ser guiado pelo - vaselina
operador. Para auxiliar o paciente na - pincel
execução do movimento, colocar o dedo - gesso pedra tipo IV
sobre a vestibular dos incisivos centrais
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 135

A partir do registro em cera obtido articulador é em média de 1:1,5, a


com espessura tal que altera a dimensão diferença de 2 mm multiplicada por 1,5
vertical de oclusão do paciente nos será igual a 3 mm, valor este que deve ser
modelos, utiliza-se um artifício prático aumentado na dimensão vertical do
para compensar esta espessura. Para articulador através do pino guia. Isso se
calcular a espessura do registro e consegue, erguendo-se o ramo superior 3
compensá-la no pino guia devemos: mm em relação à marca zero do pino guia
- Articular manualmente os modelos em (linha contínua), figs 43 e 44.
MIH e com um lápis de ponta fina marcar
no incisivo central inferior o trespasse
vertical do incisivo central superior sobre a
sua face vestibular, fig. 41.

Fig. 43 - Registro da diferença da dimensão vertical


em MIH e RC com o registro em cera.

Fig. 41 - Registro da dimensão vertical em MIH

- Posteriormente, posiciona-se o registro


em cera da RC no modelo superior,
articula-se manualmente os modelos e Fig. 44 - Ajuste do pino guia do ASA.
marca-se com lápis o novo trespasse
vertical anterior, fig. 42. Ajusta-se a mesa incisal com o pino
guia apoiado em seu centro, fig. 45.

Fig. 42 - Registro da dimensão vertical em RC com


o registro em posicionado.

A seguir, mede-se a diferença entre


as duas marcas. Sabendo-se que a relação
na abertura bucal entre o último molar e os
incisivos é de 1:3, quando a diferença entre
as duas marcações obtidas for de 2 mm por
exemplo, significa que a distância
interoclusal do últimos molares é 3 vezes
menor, ou seja, aproximadamente de 0,7
mm. Considerando que a relação de
abertura entre os incisivos e o pino guia do Fig. 45- Ajuste do pino guia e mesa incisal do
ASA.
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Coloca-se o ramo superior do


articulador invertido, com o respectivo
modelo já montado sobre a bancada de
trabalho (com o extremo do pino guia
incisal se estendendo para fora da
bancada). Fazer ranhuras na base do
modelo inferior e utilizar o registro
interoclusal em cêntrica para relacioná-lo
com o modelo superior já montado.
Prendê-los com 3 palitos de madeira e cera Fig. 47 - Colocação do gesso de fixação do modelo
pegajosa ou cola. Umedecer a base do inferior ao ASA.
modelo inferior e fixá-lo ao articulador,
utilizando-se o mínimo de gesso pedra
para evitar possíveis distorções, fig. 46.

Fig. 48 - Modelo montado ainda com o registro em


RC.

Fig. 46 - Fixação do modelo inferior no superior


por meio do registro cêntrico e palitos e cera
pegajosa.

Após a aplicação do gesso pedra no


modelo, posiciona-se o ramo inferior do
articulador também invertido, colocando
os côndilos em sua posição de retrusão nas
guias condilares. Fecha-se o ramo inferior
contra o gesso de consistência cremosa/
espessa, até que o pino guia toque a mesa Fig. 49 - Modelo montado no ASA em RC.
incisal. Mantém-se o modelo nesta posição
até a presa final do gesso. Ajuste das guias do articulador
Após a presa final remove-se o
• Guias Condilares
registro de RC, retorna-se o pino guia em
A configuração da articulação
zero, obtendo-se o paralelismo entre os
temporomandibular tem grande influência
ramos do articulador e observa-se a
nos movimentos da mandíbula. A
discrepância oclusal entre a RC e a MIH
morfologia oclusal de qualquer restauração
na dimensão vertical de oclusão dos
deve estar em harmonia com os
modelos. Essa discrepância deve coincidir
movimentos da mandíbula para evitar
com a situação clínica do paciente, figs 47,
desarmonia oclusal e trauma.
48 e 49.
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 137

Para tirar o máximo rendimento do • Parede Mediana (Ângulo de Bennett)


articulador, suas guias condilares têm que É o ângulo formado pelo plano
se aproximar dos limites anatômicos das sagital e a trajetória do côndilo de
articulações temporomandibulares. Isto balanceio durante o movimento lateral,
facilitará a confecção de restaurações com visto do plano horizontal.
alto grau de precisão reduzindo o tempo Ajusta-se com o ramo superior e seu
gasto nos ajustes intra-bucais. Com a respectivo modelo invertido. Adapta-se o
finalidade de se ajustar as guias condilares registro de lateralidade direita sobre os
é que são feitos os registros das posições dentes do modelo superior, ocluindo o
excêntricas da mandíbula. modelo inferior sobre o registro. Soltar do
• Material e Instrumental lado oposto o parafuso de fixação da guia
- articulador com modelos superior e lateral (ângulo de Bennett) e girar a guia
inferior montados - chave de manuseio do até que toque a superfície medial do
articulador côndilo. Observa-se a existência do toque
- registros em cera de lateralidade e com o uso da fita de papel celofane e
protrusão aperta-se o parafuso de fixação. Fica assim
- tira de celofane registrado o ângulo de Bennett esquerdo.
Depois da presa do gesso de Seguindo-se os mesmos passos,
montagem e a remoção do registro em ajusta-se o ângulo de Bennett direito
cêntrica, colocar as guias condilares usando o registro de lateralidade esquerda.
(parede superior) em zero (0) e os Obtêm-se assim os modelos de
controles de lateralidade (parede mediana) estudo do paciente corretamente montados
em sua posição mais aberta (45º). Liberar em articulador semi-ajustável e aptos para
o pino guia da mesa incisal para prevenir o uso.
qualquer interferência.
• Parede Superior (Guia condilar) Bibliografia consultada:
Com o ramo superior e seu
ASH, M. M., RAMFJORD, S. P.
respectivo modelo invertido, coloca-se o
Introdução à oclusão funcional. Traduzido
registro protrusivo sobre os dentes do
por José dos Santos Jr. Guarulhos S.P.:
modelo superior. Ocluir com cuidado os
Parma, 1987. 276 p.
dentes do modelo inferior nas marcas do
DAWSON, P. E. Avaliação, diagnóstico e
registro em cera (registro de posição
tratamento dos problemas oclusais. 2.
protrusiva), observar o distanciamento
edição, Traduzido por Silas Cunha
para baixo dos côndilos do articulador da
Ribeiro. São Paulo: Artes Médicas, 1993.
parede superior da guia condilar. Proceder
686 p.
então o ajuste da inclinação da parede
HOWAT, A. P. et. al. Atlas colorido de
superior da guia condilar do articulador,
oclusão e maloclusão. São Paulo: Artes
afrouxando os parafusos de fixação e
Médicas, 1992. 240 p.
girando as guias condilares para baixo,
LUCIA V.O A technique for recording
fazendo com que a parede superior da guia
centric relation. J Prosthet Dent 14:492,
condilar toque o elemento condilar de cada
1964.
lado do articulador.
OKESON, J. P. Fundamentos de oclusão e
Coloca-se uma tira de papel
desordens temporomandibulares. 2. ed.
celofane sobre o côndilo tracionando-a até
traduzido por Milton Edson Miranda. São
se verificar contato entre esse e a parede
Paulo: Artes Médicas, 1992. 449 p.
superior da guia condilar, bilateralmente.
PAIVA, H. J. et al. Oclusão: Noções e
Neste momento, aperta-se os parafusos de
Conceitos Básicos. São Paulo: Liv. Ed.
fixação das guias condilares.
Santos, 1997. 336 p.
Montagem. de mod. de est. em art. semi-ajustável. Fernandes Neto , A. J. et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005 138

RAMFJORD, S. P. & ASH, M. M. e restauradores. Rio de Janeiro:


Oclusão. 3. edição, Trad. Dioracy Interamericana, 1981. 701 p.
Fonterrada Vieira. Rio de Janeiro: SENCHERMAN, G. et. al. Manual sobre
Interamericana, 1984. neurofisiologia de la oclusion. Bogota,
SCHLUGER, S., YUODELIS, R. R., Pontificia Universidad Javeriana, 1975. 66
PAGE, R. C., Periodontia: fenômenos p.
básicos, tratamento e inter-relação oclusais
CONDUTA TERAPÊUTICA - AJUSTE OCLUSAL
POR DESGASTE SELETIVO

O ajuste oclusal é a conduta periodontal, nos casos com


terapêutica que propõe modificações nas mobilidade dental.
superfícies dos dentes, restaurações ou O ajuste oclusal é contra-indicado
próteses, através de desgaste seletivo ou nas seguintes condições:
acréscimo de materiais restauradores, 9 profilaticamente (sem que o paciente
buscando harmonizar os aspectos apresente sinais e sintomas de oclusão
funcionais maxilomandibulares na oclusão traumática),
em relação cêntrica e nos movimentos 9 sem diagnóstico da causa do distúrbio,
excêntricos. 9 desconhecimento da técnica correta de
O objetivo é melhorar as relações como fazê-lo, o mau ajuste piora o
funcionais da dentição para que, quadro.
juntamente com o periodonto de A oclusão traumática foi definida por
sustentação recebam estímulos uniformes e STILLMAN e McCALL em 1922, como
funcionais, propiciando as condições um estresse oclusal anormal, capaz de
necessárias para a saúde do sistema produzir (ou que tenha produzido) injúrias
neuromuscular e das articulações aos dentes, periodonto, ou sistema
temporomandibulares. neuromuscular.
As indicações do ajuste oclusal são Apresenta como sinais clínicos
as seguintes: mobilidade dental; migração dental;
9 Presença de sinais e sintomas de padrão anormal de desgaste oclusal
oclusão traumática e quando as (facetas); abcessos periodontais
relações oclusais podem ser (especialmente em áreas de bifurcação);
melhoradas por meio de ajuste, nas hipertonicidade dos músculos da
seguintes situações: mastigação; sensibilidade à pressão, som
• discrepância oclusal em relação seco à percussão, ocasionalmente atrofia
cêntrica; ou recessão gengival, disseminação da
• tensão muscular anormal (ocorrendo inflamação e proliferação epitelial;
conseqüente desconforto e dor profundidade desigual das bolsas
resultante de hábitos, como periodontais e bolsas intra-ósseas.
apertamento ou bruxismo); Como sinais radiográficos apresenta
• presença de disfunção perda da continuidade da lâmina dura;
neuromuscular; espaço periodontal alargado; reabsorção
• previamente a procedimentos radicular externa; hipercementose,
restauradores extensos para osteosclerose; reabsorção interna dos
estabelecer um padrão oclusal ótimo; dentes; calcificação pulpar, reabsorção
• estabilização dos resultados obtidos óssea do tipo vertical e necrose pulpar de
pelo tratamento ortodôntico e pela dentes hígidos.
cirurgia buco-maxilo-facial; São considerados sintomas de
• coadjuvante no tratamento oclusão traumática a sensibilidade das
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
137

estruturas periodontais; hipersensibilidade • movimento de trabalho,


pulpar e dentinária, desconforto regional • movimento de balanceio.
vago e dor muscular ou da articulação C - Ajuste oclusal em protrusão
temporomandibular. O local do desgaste na superfície
Deve-se indicar o ajuste oclusal oclusal deve-se restringir única e tão
somente após correto diagnóstico da somente à área demarcada pela fita
necessidade do paciente. marcadora. Para o desgaste utiliza-se uma
Os princípios do ajuste oclusal são: broca diamantada ou de aço tipo 12
9 eliminar os contatos que defletem a lâminas em alta rotação cuja forma melhor
mandíbula da posição de relação se adapte à face do dente a ser ajustada.
cêntrica para a máxima intercuspidação
habitual; A - Ajuste em Relação Cêntrica
9 dirigir os vetores de força para o longo
eixo dos dentes; O ajuste oclusal é sempre realizado
9 evitar. sempre que possível, qualquer em relação cêntrica (RC), visto que o que
redução na altura das cúspides de se busca é o restabelecimento da oclusão
contenção cêntrica; em relação cêntrica (ORC).
9 estreitar a mesa oclusal; No quadro seguinte, observam-se
9 obter a estabilidade em relação três posições distintas do relacionamento
cêntrica, e a partir dai não alterar mais oclusal antes e após o ajuste:
as cúspides de contenção cêntrica. 9 Máxima intercuspidação habitual
A execução do ajuste oclusal deve (MIH), posição adquirida em que se
ser precedida de um meticuloso tem estabilidade oclusal independente
planejamento, devendo-se considerar: da estabilidade condilar (RC),
9 revisão da literatura especializada resultando em máxima intercuspidação
pertinente; (MI) diferente da RC antes do ajuste;
9 revisão da fisiologia do aparelho 9 Relação cêntrica (RC) posição de
estomatognático; estabilidade condilar independente da
9 enceramento das superfícies oclusais; estabilidade oclusal (MI);
9 montagem dos modelos de estudo do 9 Oclusão em relação cêntrica (ORC),
paciente em articulador semi-ajustável, posição em que se tem estabilidade
em relação cêntrica; condilar (RC) coincidente com
9 análise funcional da oclusão nos estabilidade oclusal (MI), resultando
modelos de estudo montados, na posição almejada ao concluir o
aplicando-se as regras de orientação ajuste.
para o ajuste preconizadas por Guichet; O ajuste será considerado concluído
9 ajuste da oclusão do paciente; quando for obtida a estabilidade condilar
As regras para orientar o ajuste (RC), sua contenção pelo maior número
oclusal por desgaste seletivo foram possível de contatos oclusais bilaterais
concebidas didaticamente na seguinte (MI), e ausência de contato nos dentes
seqüência: anteriores (se estes ocorrerem, devem ser
A - Ajuste oclusal em relação cêntrica: simultâneos aos contatos dos dentes
• com deslize em direção à linha média, posteriores), o que caracteriza a obtenção
da oclusão em relação cêntrica (ORC).
• com deslize em direção contrária à linha
média, Com deslize em direção à linha média
• com deslize em direção anterior,
• sem deslize. Ocorrerá sempre que houver um
B - Ajuste oclusal em lateralidade: contato deflectivo entre uma cúspide

137
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
138

funcional (CF) (contenção cêntrica) e uma


não Funcional (CNF) (não contenção
cêntrica).
a) Local do contato: Contato Desgaste a Desgaste a
Vertente lisa da cúspide funcional deflectivo vertente lisa da vertente
(cúpide de cúspide triturante
(vestibular inferior, palatina superior ou contenção cêntrica até oposta até que a
ambas) versus vertente triturante da cêntrica X obter um ponta de
cúspide de não contato de cúspide cêntrica
cúspide não funcional (vestibular superior, contenção) ponta contate a fossa
lingual inferior ou ambas), figura 01. Fig. 1B - Deslize para linha média, cúspides
ç linguais.
L M
E Com deslize em direção contrária à linha
D média
L L
V V
Ocorrerá sempre que houver um
RC MIH contato deflectivo entre duas CFs
antagonistas.
Fig. 01 - Desenho esquemático da localização dos a) Local do contato:
contatos deflectivos no deslize em direção à linha Vertente triturante de uma cúspide
média. funcional versus vertente triturante de uma
b) Local de desgaste: cúspide funcional antagonista, figura 02.
Localização dos contatos
Em todas as situações de contato
L M
entre CF e CNF, este, ocorrerá em vertente
lisa versus vertente triturante, estruturas de D E
diferentes importâncias funcionais, em
L
razão do que se opta prioritariamente pelo V V
L

desgaste na vertente lisa até que o contato


ocorra na ponta da cúspide funcional. Em MIH RC
seguida desgasta-se o contato na vertente
triturante da cúspide não funcional, figuras Fig. 02 - Desenho esquemático da localização dos
1A e 1B. contatos deflectivos no deslize em direção contrária
à linha média

b) Local de desgaste:
Por se tratar de estruturas de mesma
importância funcional, desgasta-se o
Contato Desgaste a Desgaste a
deflectivo vertente lisa da vertente contato que se localizar mais próximo da
(cúpide de cúspide cêntrica triturante
oposta até o
ponta da cúspide. Assim que conseguir o
contenção até obter um
cêntrica X contato de ponta contato da contato na ponta da cúspide, desgasta-se a
cúspide de não cúspide cêntrica
contenção) com a fossa vertente triturante antagonista. Quando os
Fig. 1A - Deslize para linha média, cúspides dois contatos se localizarem à mesma
vestibulares. distância da ponta da cúspide, desgasta-se
no dente em posição mais desfavorável,
figura 2A. Na figura 2B observam-se as
três posições distintas do relacionamento
oclusal antes e após o ajuste.

138
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
139

PFO/UFU
Contato Desgaste a Desgaste a
deflectivo vertente vertente
(cúpide de triturante da triturante
contenção cúspide cêntrica oposta até que a
cêntrica X até obter um ponta de
cúspide de contato de cúspide cêntrica
contenção) ponta contate a fossa
Fig. 2A - Deslize contrário à linha média.
Fig. 04 - Trauma anterior.

b) Local de desgaste:
Observar a posição dos dentes na
arcada, se estiverem em boa posição
desgasta-se justamente o ponto demarcado
nas vertentes e arestas em ambos os
Relação Relação
Máxima dentes, caso contrário, desgasta-se o dente
cêntrica cêntrica
intercuspidação
habitual de oclusão em posição mais desfavorável, figura 05.
Fig 2B - Deslize contrário à linha média.

Deslize em direção anterior:

Ocorrerá sempre que houver um


contato deflectivo entre duas CFs
antagonistas.
a) Local do contato: Contat Desgaste: o Desgaste: o
deflectiv plano inclinado plan -
Vertente triturante ou aresta distal da - nado oposto
longitudinal mesial da cúspide funcional de cêntrica até obter a
inferior a um estabilidade
superior versus vertente triturante ou aresta contato de ponto oclusal
a superfície
longitudinal distal da cúspide funcional
Fig. 05 - Deslize para anterior.
inferior, figura 03.
Na figura 06, observam-se três
posições distintas do relacionamento
oclusal antes e após o ajuste.
D Pm C Pm C M p
M D
Distal Mesial

Pm Pm
/ UFU
PFO

RC MIH
Fig. 03 - Desenho esquemático da localização dos
contatos deflectivos no deslize em direção anterior

Quando o contato deflectivo ocorre Relação


Intercuspidação Relação cêntrica
nos dentes posteriores causa deslocamento habitual cêntrica de oclusão
anterior da mandíbula e subseqüente Fig. 06 - Deslize para anterior.
trauma anterior, figura 04.
Sem deslize:

Ocorrerá sempre que houver um


contato prematuro entre uma CF e sua

139
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
140

respectiva fossa antagonista.


a) Local do contato:
Ponta de cúspide funcional versus
fossa do dente antagonista ou ponta de
cúspide funcional versus faceta ou platô da
vertente triturante de uma das cúspides PFO/UF

antagonistas. Esta situação ocorre em


casos onde existem facetas de desgaste ou Fig. 7B - Contato prematuro em cêntrica.
após os ajustes em relação com o desvio,
Ajuste oclusal em lateralidade
figura 07.
ç Considerando que a posição inicial
L M
de todos os movimentos mandibulares é a
ORC, para iniciar o ajuste dos movimentos
excêntricos é indispensável que o paciente
L
já se encontre em tal posição.
V L V
Movimento de trabalho:

No ajuste do movimento de trabalho,


Fig. 07 - Desenho esquemático da localização do há que se considerar o padrão de
contato prematuro, sem deslize. desoclusão do paciente, guia canina ou
função em grupo.
b) Local de desgaste: • Desoclusão pela guia canina
Consultar os movimentos de Durante o movimento para o lado de
lateralidade: trabalho, os únicos dentes a contatarem são
• Se durante o movimento de trabalho os caninos deste lado, não devendo
a cúspide funcional tocar na vertente apresentar nenhum outro contato entre os
triturante e/ou na ponta de cúspide não demais dentes anteriores e posteriores,
funcional, e/ou durante o movimento de figura 08.
balanceio as cúspides funcionais tocarem, Guia canina
desgasta-se na ponta da cúspide de
contenção, figura 07A.

PFO/UFU

Lado de trabalho Lado de balanceio


PFO/UFU
Fig. 08 - Desenho esquemático da guia canina
Interferência Interferência
em trabalho em balanceio a) Local do contato:
Fig. 7A - Contato prematuro em cêntrica. Ponta de cúspide ou vertente lisa de
uma cúspide funcional versus ponta de
• Se durante os movimentos de
cúspide ou vertente triturante de uma
lateralidade a cúspide funcional não tocar
cúspide não funcional, figura 09.
no dente antagonista, desgasta-se a fossa,
faceta ou platô, figura 7B.

140
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
141

z ç
B
T L M em grupo.

PFO/UFU
L L
V V
V L L
V

B ROC
T ROC

Fig. 09 - Desenho esquemático da localização da


interferência oclusal, no movimento de trabalho.
Fig. 11 - Desenho esquemático da função em grupo
b) Local de desgaste: incompleta.
Deve-se evitar desgastar a ponta de
cúspide funcional e após o ajuste do lado Movimento de balanceio:
de trabalho, deve-se também verificar a
ocorrência de contatos no movimento de No ajuste do movimento de
balanceio. balanceio, busca-se remover todas e
quaisquer interferências oclusais que
• Desoclusão pela função em grupo ocorreram entre os dentes deste lado.
Neste padrão de desoclusão, durante a) Local do contato:
o movimento de trabalho, ocorrem Ponta de cúspide ou vertente
contatos contínuos de deslocamento entre triturante de uma cúspide funcionais
a superfície incisal do canino inferior e a versus ponta de cúspide ou vertente
fossa lingual do canino superior e entre as triturante da outra cúspide funcional
vertentes lisas ou pontas das cúspides antagonista, figura 12.
vestibulares inferiores e as vertentes z ç
T B
triturantes das cúspides vestibulares L M
superiores de todos os dentes deste lado, D E
figura 10. L L
V L V
V L V

T ROC B ROC

Fig. 12 - Desenho esquemático da localização da


interferência oclusal, no movimento de balanceio.

b) Local de desgaste:
Por se tratar de interferências
PFO/UFU oclusais entre estruturas dentárias de
Lado de trabalho Lado de balanceio mesma importância funcional, deve-se
Fig. 10 - Desenho esquemático da função em desgastar a interferência que se localizar
grupo. mais próxima da ponta da cúspide e após
b) Local de desgaste: conseguir a interferência na ponta da
Quando as interferências forem em cúspide desgasta-se a vertente triturante
apenas alguns dentes posteriores, (figura antagonista. Quando as duas interferências
11) desgasta-se as vertentes lisas das se localizarem à mesma distância da ponta
cúspides vestibulares inferiores da cúspide, desgasta-se no dente em
(funcionais) até contatar a ponta da posição mais desfavorável. Se a
cúspide. Se o desgaste não for suficiente, interferência for entre as pontas das
desgasta-se nas vertentes triturantes das cúspides desgasta-se no dente em posição
cúspides vestibulares superiores dos dentes mais desfavorável em oclusão em relação
contatantes até harmonizar a desoclusão cêntrica - ORC, figura 13.

141
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
142

PFO/UFU que todos os dentes anteriores apresentem


contatos simultaneamente. Quando, neste
movimento ou posição, somente um dente
apresentar contato após os ajustes, deve-se
Desgaste: Sem contato desgastar a face lingual ou incisal do
Fig. 13 - Desenho esquemático, do local do superior. Isto, quando os incisivos
desgaste nas cúspides funcionais. inferiores estiverem alinhados. Caso
comprometa a estética, recomenda-se
Ajuste oclusal em Protrusão desgastá-los, figura 16.
Tal como nos movimentos de
lateralidade, a posição inicial do
movimento de protrusão é a ORC,
observando-se o contato contínuo da guia
sem contato na ROC
contatos simultâneos
anterior (pelo menos em dois dentes contatos simultâneos
na concavidade no
(permite a passagem
na posição topo-a-topo de uma tira de papel
incisivos inferiores) e a total desoclusão movimento protrusivo
celofane)
D t f i i ld ( )i f i ( )
dos dentes posteriores, figura 14. Fig. 16 - Desenho esquemático do ajuste em
protrusão.

¾ 2ª Situação: Dentes anteriores:


Local de contato:
Os dentes inferiores apresentam
PFO/UF
contatos em ORC, no movimento de
protrusão e na posição de topo-a-topo com
a mesma intensidade nos superiores, figura
Fig. 14 - Desenho esquemático do movimento 17.
protrusivo, a partir da ORC, todos os dentes
posteriores devem desocluir.

No movimento de protrusão, pode


ocorrer interferência em diferentes
situações:
¾ 1ª Situação: Dentes anteriores: contatos simultâneos contatos simultâneos com contato na
na posição topo-a-topo no movimento ROC
Local de contato: protrusivo
Os incisivos inferiores apresentam Fig. 17 - Desenho esquemático do contato dos
contatos com os incisivos superiores na dentes anteriores em ORC, no movimento de
posição de ORC, porém no movimento de protrusão e na posição de topo-a-topo.
protrusão e na posição topo-a-topo apenas
Local do desgaste:
um dente mantém contato, figura 15.
Na concavidade lingual dos
superiores, no contato em ORC, figura 18.

contato único na contato único no contato na


posição topo-a-topo movimento protrusivo R.O.C.

Fig. 15 - Desenho esquemático do contato de


apenas um dente anterior em protrusão. contatos simultâneos contatos simultâneos sem contato na ROC
no movimento na posição topo-a-topo (permite a passagem
protrusivo de uma tira de papel
b) Local de desgaste: celofane)
No movimento de protrusão e na Fig. 18 - Desenho esquemático do ajuste em
posição de topo-a-topo não é necessário protrusão.

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Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
143

¾ 3ª Situação: Dentes posteriores:


Esta interferência ocorrerá sempre Fases do tratamento
que houver contato entre uma CF e uma
- Análise funcional da oclusão
CNF, no movimento protrusivo.
- Mapeamento do desgaste seletivo
a) Local do contato:
- Ajuste oclusal clínico
• Ponta de cúspide ou vertente lisa
mesial ou aresta longitudinal mesial Análise funcional da oclusão
da cúspide vestibular inferior versus
ponta de cúspide ou vertente É o procedimento pelo qual se
triturante distal ou aresta longitudinal detecta as prematuridades que o paciente
distal da cúspide vestibular superior, apresenta em RC e partindo desta os
figura 19. direcionamentos dos desvios mandibulares
• Ponta de cúspide ou vertente até atingir a MIH, realizado por meio da
triturante mesial ou aresta análise dos modelos de estudo montados
longitudinal mesial da cúspide lingual em articulador semi-ajustável em RC.
inferior versus ponta de cúspide ou
vertente lisa distal ou aresta Mapeamento do desgaste seletivo
longitudinal distal da cúspide lingual
Os modelos de estudo montados na
superior.
posição de RC devem apresentar o
primeiro contato cêntrico coincidente com
o primeiro contato observado na boca do
M v v
paciente quando em RC.
nc c
D V
c
L Uma maneira de verificar se os
v v nc
modelos realmente foram montados
posição topo-a-topo plano sagital plano frontal
corretamente na posição de RC é colocar
Fig. 19 - Desenho esquemático do contato de dente uma tira de papel celofane (largura de um
posterior em protrusão dente) entre o primeiro contato dos dentes
nos modelos (o celofane deve ficar preso
Local do desgaste: nesta posição) e proceder de maneira
Sempre nas cúspides não funcionais semelhante na boca do paciente,
e no local exato demarcado pela fita utilizando-se a manipulação frontal ou
marcadora. bilateral da mandíbula, para
A figura 20 ilustra a situação normal posicionamento em RC.
de desoclusão dos dentes posteriores no Após a confirmação de que os
movimento protrusivo até a posição de modelos estão na posição correta, partindo
topo-a-topo. Se houver qualquer contato da prematuridade deve-se forçar o
posterior, o contato de topo-a-topo estará fechamento do articulador até que os
comprometido. modelos atinjam a posição de M.I.H. e
novamente, com o papel celofane, verificar
todos os contatos dentários e sua
semelhança com os contatos dos dentes do
v v
M nc c L paciente na mesma posição.Se os contatos
D V
v v c nc não apresentarem coincidência (modelos x
paciente), é sinal que os modelos estão
posição topo-a-topo plano sagital plano frontal incorretamente montados.
Fig. 20 - desenho esquemático da desoclusão dos ¾ Material e instrumental para o ajuste
dentes posteriores no movimento protrusivo, após o nos modelos
ajuste oclusal. - pinça de Miller

143
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
144

- fita marcadora não mais se observe discrepância entre a


- tiras de papel celofane RC e a MIH, tendo obtido assim a ORC,
- instrumento cortante ou seja, o máximo de contatos cêntricos
- lápis preto nº 2 com ponta fina posteriores e uma guia anterior efetiva (o
- borracha celofane prende nos dentes posteriores e
passa raspando de canino a canino). Todos
¾ Ajuste oclusal em relação cêntrica os contatos antes de serem ajustados
A – Coloca-se a tira de papel devem ser registrados na ficha de
celofane presa por uma pinça de Miller mapeamento.
(porta agulha) entre os dentes que OBS.: No caso em que já se obteve
apresentam o contato cêntrico, uma guia anterior correta em ORC e não se
verificando-se através de tração e presa da conseguiu um número favorável de
fita se realmente este é o 1º contato contatos nos dentes posteriores, a oclusão
cêntrico. deve ser restabelecida nos dentes em
B – Prender a fita marcadora na questão por meio de materiais
pinça de Miller e levar na posição do restauradores.
contato cêntrico. De acordo com a No caso em que já se obtiveram os
localização das marcas da fita nos dentes, contatos ideais nos dentes posteriores e
pode-se determinar se não há desvio não se conseguiu uma guia anterior
(contato cêntrico sem desvio – contato favorável, é necessário uma análise mais
prematuro) ou se este promove um criteriosa do caso, pois a guia anterior é
deslizamento (contato deflectivo), fundamental, devendo-se analisar
promovendo desvio em direção à linha corretamente a possibilidade do caso ficar
média, desvio contrário à linha média e ou sem guia na posição de ORC.
desvio para anterior. ¾ Ajuste oclusal em lateralidade
Após essa análise, fazer o
mapeamento deste primeiro contato na Para verificar os movimentos
ficha apropriada (utilizar a ficha que se excêntricos da mandíbula, inicia-se pelo
encontra no final deste capítulo). Para movimento de trabalho.
facilitar o mapeamento, preencher a ficha
abreviando os componentes anatômicos da Movimento de Trabalho
superfície oclusal (Exemplos: Vertente Fazer com que o ramo superior do
Triturante Mesial da Cúspide Mésio- articulador se movimente para o lado de
Palatina do 1º Molar versus Vertente Lisa trabalho. O canino superior, através da
da Cúspide Vestibular Inferior do 1º Pré- concavidade lingual, serve de guia para o
Molar (V.T.M. C.M.P.- 1º M) X canino inferior no movimento de
(V.L.C.V.I.- 1º Pré)). lateralidade (desoclusão pelo canino); o
C – Realizada a anotação do 1º que deve promover a desoclusão dos
contato na folha própria para o dentes posteriores tanto no lado de
mapeamento, utilizando as regras de trabalho como no lado de balanceio. No
orientação para o ajuste, com um final do movimento, os caninos devem
instrumento cortante realiza-se o ajuste permanecer na posição topo-a-topo e a
necessário no 1º contato, sempre com o desoclusão dos dentes posteriores deve ser
cuidado de não remover estrutura dentária mínima para que haja harmonia entre o
em excesso. movimento mandibular e o aparelho
D - A seguir, verificar se o 2º contato estomatognático.
encontrado e assim sucessivamente, até
que, ao forçar o fechamento do articulador Movimento de Balanceio

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Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
145

Qualquer contato no lado de Movimento Protrusivo


balanceio induzirá a articulação
temporomandibular a tomar posições fora Para realizar o movimento protrusivo
dos padrões normais, pois não haverá a no articulador, o ramo superior deve ser
desoclusão dos dentes posteriores pela deslocado para posterior de acordo com a
guia canina ou função em grupo. Tal fato guia dos dentes anteriores (concavidade
acarreta a alteração do tipo de alavanca lingual e posição topo-a-topo). O ideal é
que atua nos movimentos mandibulares, que os dentes anteriores desocluam os
tornando-se traumática ao periodonto de dentes posteriores durante o movimento e
sustentação do dente em questão (contato no final deste, ou seja, na posição topo-a-
em balanceio), às ATMs e ao sistema topo.
neuromuscular. Os contatos traumáticos nos dentes
Em razão disto, todo e qualquer anteriores devem ser verificados com a fita
contato em balanceio deve ser removido, a vermelha e, após a anotação na ficha de
menos que quando o profissional, ao mapeamento, desgasta-se de acordo com
realizar uma análise clinica, detectar as regras estabelecidas para esta finalidade,
possível deficiência ou ausência da até se obter uma guia anterior efetiva.
desoclusão do lado de trabalho (guia Da mesma maneira, qualquer contato
canina ou função grupo). Neste caso, em dente posterior durante o movimento
deverá ser analisada a possibilidade ou não protrusivo deixará o paciente sem guia
de restabelecê-la. Em caso afirmativo para anterior e por isso deverá ser ajustado.
o ajuste, marca-se com a fita vermelha a Localizam-se os contatos, faz-se o
localização do contato em balanceio, faz- mapeamento e desgasta-se de acordo com
se a anotação na ficha de mapeamento e as regras estabelecidas para este fim, até se
realiza-se o ajuste até obter a desoclusão obter uma guia anterior efetiva.
pelo canino ou função em grupo do lado
Ajuste oclusal clínico
oposto (trabalho). É importante verificar
que o ajuste é realizado em toda a excursão Terminado o ajuste, o profissional
onde ocorrer áreas de contato e na direção deve verificar qual foi o resultado obtido
deste, sem desgastar o contato cêntrico nos modelos de estudo, dando então o
(marcado em preto). diagnóstico e prognóstico do caso, ou seja,
A seguir, verifica-se novamente com se é realmente válido realizar o ajuste no
a fita vermelha o possível contato do lado paciente. Em caso afirmativo procede-se o
de trabalho, fazendo-se as anotações na ajuste oclusal clínico.
ficha de mapeamento de maneira
semelhante à anterior, desgastando-se de Bibliografia Consultada
acordo com as regras estabelecidas para
esta finalidade, até a obtenção de uma guia ASH, M. M., RAMFJORD, S. P.
canina efetiva. Se o estilo de articulação Introdução à oclusão funcional. Traduzido
for a função em grupo, deve-se procurar por José dos Santos Jr. Guarulhos S. P.
obter melhor harmonia entre as vertentes Parma, 1987. 276 p.
lisas das cúspides vestibulares dos dentes CORDRAY, F. E. – Centric relation
inferiores e as vertentes triturantes das treatment and articulator mountings in
cúspides vestibulares dos dentes orthodontics. The Angle Orthodontist,
superiores, de canino até 2º ou 3º molar. 1996; 66(2): 153-158.
Esta harmonia deve permanecer em todo o DAWSON, P. E. Avaliação, diagnóstico e
movimento até a posição topo-a-topo. tratamento dos problemas oclusais. 2. ed.
edição, Traduzido por Silas Cunha
Ribeiro. São Paulo: Artes Médicas,

145
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
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1993.686 p. II. Int J Periodontics Restorative Dent


GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim, 1985; 5(6): 8-29.
California: Denar Corp., 1977. 117 p. MOHL, M. D. et. al. Fundamentos de
HOWAT, A. P. et. al. Atlas colorido de oclusão. Traduzido por Milton Edson
oclusão e maloclusão. São Paulo: Artes Miranda. São Paulo: Quintessence, 1989.
Médicas, 1992. 240 p. 449 p.
JANSON, W. A. et al. Introdução à NEFF, P. E. Oclusão e função.
oclusão ajuste oclusal. Bauru: Washington: Georgetown University
Universidade de São Paulo, Faculdade de School of Dentistry, 1975. 59 p.
Odontologia de Bauru, 1986. 55 p. OKESON, J.P. Fundamentos de oclusão e
JANSON, W. A. et. al. Introdução ao desordens temporomandibulares. 2. ed.
estudo da oclusão, enceramento das traduzido por Milton Edson Miranda. São
superfícies oclusais. Bauru - S.P.: Paulo: Artes Médicas, 1992. 449 p.
Universidade de São Paulo, Faculdade de PAIVA, H. J. Oclusão, Noções e
Odontologia de Bauru, 1977. 78 p. Conceitos Básicos. São Paulo: Santos
KARPPINEN, K. et al. - Adjustment of livraria e editora, 1997. 336 p.
dental occlusion in treatment of chronic RAMFJORD, S. P. & ASH, M. M.
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of Oral Rehabilitation, 1999, 26: 715-721. Fonterrada Vieira. Rio de janeiro:
Interamericana, 1984.
KIRVESKARI, P. The role of occlusal
adjustmente in the management of SCHLUGER, S., YUODELIS, R. R.,
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Surgery Oral Medicine Oral Patholog,
e restauradores. Rio de Janeiro:
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McHORRIS, W. H. - Occlusal adjustment THOMAS. P. K., TATENO, G.
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International Journal of Periodontics and 1979. 235 p.
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McHORRIS, W. H. – Occlusal adjustment
via selective cutting of natural teeth. Part

146
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
148

Plano de tratamento
1.Ajuste Oclusal:_________________________________________________
2. Placa Interoclusal:______________________________________________
3. Outros:_______________________________________________________

ANÁLISE FUNCIONAL DA OCLUSÃO


AJUSTE OCLUSAL
MAPEAMENTO DO DESGASTE SELETIVO
AJUSTE EM RELAÇÃO CÊNTRICA
Seqüência Deslize
dos contatos Dentes Cúspides Estruturas para

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Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
149

AJUSTE NAS RELAÇÕES EXCÊNTRICAS


Seqüência
dos contatos Dentes Cúspides Estruturas
Ajuste em lateralidade trabalho direita

Ajuste em lateralidade balanceio direita:

Ajuste em lateralidade trabalho esquerda

Ajuste em lateralidade balanceio esquerda:

Protrusão

Cirurgião Dentista: ________________________________________________


Acadêmico: ______________________________________________________
Assinatura: __________________________ Visto do Docente: ______________

149
PLACAS OCLUSAIS

Alfredo Julio Fernandes Neto & Gustavo Augusto Seabra Barbosa. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

As placas oclusais são dispositivos musculares e articulares às alterações tanto


intrabucais, removíveis, confeccionados no posicionamento vertical, quanto
geralmente em resina acrílica, recobrindo horizontal da mandíbula, previamente à
as superfícies incisais e oclusais dos estabilização permanente da oclusão, por
dentes, alterando a oclusão do paciente e meio do ajuste oclusal, reabilitação
criando assim, contatos oclusais mais protética ou tratamento ortodôntico (Clark,
adequados e conseqüentemente um 1989). Um exemplo da atuação da placa
relacionamento maxilomandibular mais como dispositivo diagnóstico, pode ser
favorável, fig. 01. considerado quando os sintomas aparecem
e desaparecem concomitantemente à
retirada e ao uso da placa. Isto pode ser
evidência de que a sintomatologia,
provavelmente tem como fator etiológico,
desarmonia oclusal (Dawson, 1980).
Clark (1984) (1989), relaciona cinco
teorias que explicam como as placas
interoclusais poderiam atuar:
1. Teoria do desengajamento oclusal
É baseada no conceito de que um esquema
Fig. 01 – Placa oclusal
oclusal livre de interferências possa
De acordo com Clark (1984) reduzir ou eliminar toda a atividade
(1989), as placas oclusais possuem a muscular anormal causada pelas interfe-
finalidade de estabilizar e melhorar a rências oclusais (Posselt, 1968; Ramfjord
função das articulações temporomandi- & Ash, 1983). Esta placa possui contatos
bulares (ATM), melhorar a função do bilaterais posteriores, múltiplos e simultâ-
sistema motor mastigatório, reduzir a neos, com guia excursiva no canino e/ou
atividade muscular anormal e proteger os dentes anteriores (Clark, 1984)
dentes do atrito e de cargas traumáticas 2. Teoria da dimensão vertical
adversas (Okeson, 1992). Além disso, Baseia-se no conceito de proporcionar a
podem ser utilizadas para promover uma um paciente uma placa oclusal desenhada
posição articular mais estável e funcional e para restaurar a dimensão vertical de
uma condição oclusal ideal, que reorganiza oclusão anteriormente perdida, faz com
a atividade neuromuscular que por sua vez que a atividade muscular anormal seja
reduz a atividade muscular anormal eliminada ou reduzida (Block, 1947;
(Okeson, 1992). Como dispositivo Christensen, 1970).
diagnóstico, a placa pode ajudar a 3. Teoria do realinhamento maxilo-
estabelecer uma relação maxilomandibular mandibular
confortável e relaxada, sendo um método Alterando-se a relação de máxima inter-
reversível para testar as respostas cuspidação habitual (posição mandibular
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 2

relativamente anormal e não-adaptada com SNC (qualquer mudança em nível de


o maxilar), para uma posição mais impulso periférico parece ter um efeito
anátomo e fisiologicamente correta inibitório na atividade do SNC
(relação cêntrica - RC, por exemplo) por (Cassisi, 1987).
meio da placa, os vários sintomas de Ainda em relação às funções das
disfunção musculoesquelética melhoram placas, Dylina (2001) afirma que as
ou desaparecem.Os problemas com esta mesmas possuem seis funções:
teoria são a ausência de compensação para 1. Relaxar a musculatura;
assimetrias esqueléticas e irregularidades 2. Permitir o assentamento do côndilo na
dentais (Clark, 1984). posição de Relação cêntrica;
4. Teoria do reposicionamento da 3. Prover informação diagnóstica;
articulação temporomandibular 4. Proteger dentes e estruturas adjacentes
Esta teoria é baseada no conceito de que do bruxismo;
melhorando-se a posição do côndilo na 5. Auxiliar a propriocepção do ligamento
fossa, a função da ATM e do sistema periodontal;
neuromuscular, melhoram (Weinberg, 6. Reduzir o nível de hipóxia celular.
1979). O mesmo autor ainda relata três
5. Teoria da consciência cognitiva funções as quais as placas não poderiam
Ter uma placa constantemente na boca, realizar:
lembra ao paciente de alterar o seu 1. Eliminar a carga na ATM (ela diminui,
comportamento normal (Pertes, 1995), de porém não elimina);
modo que a atividade muscular prejudicial 2. Prevenir o Bruxismo;
ou anormal com cada fechamento dos 3. Curar o paciente.
dentes fica diminuída (Clark, 1984). Embora muitas teorias venham
Okeson (1992), descreve algumas avançando para explorar os efeitos
características comuns a todos os terapêuticos dos aparelhos interoclusais,
aparelhos oclusais, as quais podem ser nenhuma predomina (Clark, 1984).
responsáveis pela diminuição tanto da
atividade muscular, como também, dos Tipos de placas
sintomas. São elas:
De acordo com os tipos de placas
1. Alteração da oclusão local (uma
oclusais existentes na literatura, podemos
mudança direcionada para uma
classificá-las como:
condição mais estável, geralmente
¾ Placas de cobertura total
diminui a atividade muscular e elimina
¾ Placas de cobertura parcial
os sintomas).
2. Alteração da posição condilar (para Placas de cobertura total
uma posição músculo-esquelética mais
estável). As placas de cobertura total devem
3. Aumento da dimensão vertical. possuir algumas características tais como,
4. Conscientização (os pacientes tornam- cobrir todos os dentes e fornecer contatos
se mais conscientes de seus comporta- oclusais não traumáticos (isto inclui a
mentos funcionais e parafuncionais, estabilização de terceiros molares irrompi-
agindo o aparelho em constante dos, se presentes), ser fabricada com
“alerta”, alterando assim as atividades material que seja conveniente para
que podem afetar a desordem). trabalhar e resista às forças parafuncionais
5. Efeito placebo. geradas pelo paciente (dimensionalmente e
6. Aumento dos impulsos periféricos ao termicamente estável (Nelson, 1995)).
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 3

São classificadas em: A superfície oclusal da placa deve ser


1. Placas de Estabilização ou miorrela- plana e lisa, seguindo a curva de oclusão.
xantes É importante lembrar que um dente livre
2. Overlay de oclusão está apto para sobre-erupcionar.
3. Placas de Reposicionamento Anterior Os contatos oclusais devem fornecer
4. Placas Macias liberdade de movimento entre as posições
5. Placas Pivotantes de máxima intercuspidação habitual e
relação cêntrica, de no mínimo 0,5mm.
1. Placas de estabilização ou Referindo-se à forma das placas, o
miorrelaxantes mesmo autor sugere que estas devam
Segundo Clark, 1989, são aparelhos seguir o contorno anatômico dos dentes e
de cobertura total, os quais controlam e tecidos duros as quais irão cobrir. Nas
mantêm a posição dental. Podem ser placas maxilares, o aparelho deve
confeccionados para pacientes com estender-se de 4 a 6mm nos tecidos
sintomas da síndrome da dor-disfunção, palatais, proporcionando uma “mistura”
considerando o fato de que interferências das margens da placa com as rugas
oclusais ou discrepâncias entre a posição palatinas, permitindo assim uma transição
de máxima intercuspidação (PMI) e suave para a função lingual. A espessura
relação cêntrica (RC), sejam fatores do aparelho deve ser de aproximadamente
etiológicos (Gray & Davies, 2001). De 1,5 a 2mm na região de molar (Pertes,
acordo com Okeson (1992), este tipo de 1995).
aparelho geralmente está indicado para Como o próprio nome já diz, as
tratar a hiperatividade muscular, aperta- “placas de estabilização”, devem prover
mento, mio-espasmo e miosite (Okeson, estabilidade à oclusão e, segundo Okeson
1992; Pertes, 1995). (1992) e Pertes (1995), devem possuir
A placa de estabilização pode ser características tais como: a) estar perfeita-
confeccionada tanto no arco dentário mente adaptada, com total estabilidade e
superior (maxilar) quanto no inferior retenção; b) em relação cêntrica, todas as
(mandibular), porém, quando confeccio- pontas de cúspides vestibulares inferiores
nada no arco superior proporciona melhor devem contatar uniformemente e bilateral-
estabilização que a inferior (Pertes, 1995), mente, uma superfície plana da placa; c)
pois os dentes mandibulares podem durante o movimento protrusivo, os
contatar com uma superfície oclusal plana caninos inferiores devem contatar uma
(Clark, 1989; Nelson, 1995). Algumas força uniforme; os incisivos inferiores
relações de incisivos topo-a-topo, classe III também podem contatar, porém, com um
de Angle ou mordida cruzada, podem contato bem mais suave que os caninos; d)
favorecer as placas mandibulares, além de nos movimentos de lateralidade, a
apresentarem melhor estética e fonética desoclusão deve ser pelo canino; e) em RC
que os aparelhos maxilares (Nelson, 1995), os contatos posteriores devem ser bem
pois estes são menos tolerados em mais fortes que os anteriores; f) a
situações sociais e de trabalho (Clark, superfície oclusal da placa deve ser a mais
1989). plana possível; g) o aparelho deve ser
Com relação aos contatos oclusais, polido e adaptado de forma a não
Nelson (1995) afirma que eles devem ser promover injúrias aos tecidos moles.
estáveis, e não produzir desvios que A placa de estabilização pode ser
possam tender a posicionar a mandibular. usada à noite (quando o envolvimento é
muscular) e por 24 horas (quando o
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 4

envolvimento é articular) (Pertes, 1995).


Após a instalação e o ajuste da placa,
é interessante a instrução de limpeza e
manutenção do aparelho, bem como dos
efeitos físicos esperados pelo uso do
aparelho. Instruções por escrito são
geralmente recomendadas. A consulta de
retorno deve ser com pelo menos uma
semana da entrega do aparelho. Os ajustes
Fig. 03 - Vista lateral esquerda em máxima
necessários devem ser realizados com um
intercuspidação habitual – MIH.
a dois meses, e finalmente, intervalos de
seis meses (Nelson, 1995).

Fig. 05 – “JIG” para estabelecer a espessura da


placa, desprogramar a memória proprioceptiva,
promover relaxamento muscular e facilitar a
Fig. 02 - Paciente: N.M.S., 27 anos , casada, queixa obtenção da relação cêntrica – RC.
principal: dor próximo aos ouvidos, história
odontológica: tratamento ortodôntico interrompido,
exame clínico: nenhuma falha dentária, RC # MIH,
dor nas ATMs, no pescoço, na cabeça
freqüentemente, à palpação nos músculos
pterigóides laterais, dores iniciadas há 2 anos, em
períodos variados, marido ciumento, filho de 5
meses, vizinha da sogra

Fig. 06 – Registra da RC, no “JIG” e casquetes de


registro no 1º molares.

Fig. 03 - Vista lateral esquerda em relação cêntrica


– RC.

Fig. 07 – Montagem do modelo superior em


articulador semi ajustável com uso do arco facial.
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 5

Fig. 08 – Modelo inferior montado no articulador Fig. 11 – Marcação dos contatos oclusais
com uso dos registros em RC. antagônicos a serem mantidos na placa.

Fig. 12 – Inclusão da placa em cera para a


Fig. 09 – Enceramento da placa, lamina de cera sete prensagem em resina acrílica.
dobrada.

Fig. 10 – Oclusão da placa contra a arcada Fig. 13 – Desinclusão da placa prensada em resina
antagonista com fita marcadora de contatos acrílica.
oclusais.
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 6

2. Overlay
Trata-se de um aparelho protético
removível interino, confeccionado em
resina acrílica sobre uma ou ambas as
arcadas, indicada para pacientes com
alteração da dimensão vertical de oclusão
(DVO), que geralmente se encontra
“diminuída” e da oclusão em relação
cêntrica (ORC), que geralmente se
Fig. 14 – Adaptação e ajuste oclusal da placa nos encontra em máxima intercuspidação
modelos. habitual (MIH), funcionando também
como um importante meio auxiliar no
diagnóstico e prognóstico de tratamentos
que envolvem o crítico restabelecimento
da DVO e ORC, sendo possível uma
análise prévia das respostas do sistema
neuromuscular antes que o tratamento
proposto seja iniciado.
É um aparelho protético que cumpre
com todos objetivos da reabilitação oral:
restabelecimento da DVO, da ORC, da
estabilidade oclusão, da guia anterior, da
Fig. 15 – Contatos oclusais bilaterais e guia anterior mastigação, da fonética e da estética. É um
ajustados no articulador. tratamento provisório de fácil execução
clínica e laboratorial, baixo custo e
reversível, tendo em vista que não há
necessidade de qualquer desgaste das
estruturas dentárias remanescentes.

Fig. 16 – Ajuste oclusal da placa em RC, na boca


do paciente

Fig. 18 – Vista frontal de paciente com alteração da


DVO, RC diferente de MIH, sem estabilidade
oclusal e guia anterior, que receberá uma overlay
como auxiliar no diagnóstico e planejamento de
uma reabilitação oral.

Fig. 17 – Placa instalada após ajuste cêntrico e


excêntricos.
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Fig. 22 – Vista frontal dos modelos montados em


articulador semi-ajustável – ASA, com “Jig” de
Lucia modificado, e registro posterior em RAAQ
da DVO e da RC, restabelecidas.

Fig. 19 – Vista frontal de paciente com “Jig” de


Lucia modificado, confeccionado em resina acrílica
ativada quimicamente – RAAQ, submetido a testes
fonéticos de Silvemam para o restabelecimento da
DVO e registro da RC. Fig. 23 – Vista frontal dos modelos montados em
ASA, com o registro posterior em RAAQ da DVO
e da RC, restabelecidas.

Fig. 20 – Vista frontal de paciente com “Jig” de


Lucia modificado, e registro posterior em RAAQ
da DVO e da RC. Fig. 24 – Vista sagital dos modelos montados em
ASA, com “Jig” de Lucia modificado, e registro
posterior em RAAQ da DVO e da RC,
restabelecidas, e sinalizados os dentes a serem
removidos.

Fig. 21 – Vista frontal de paciente com o registro


posterior em RAAQ da DVO e da RC,
restabelecidas.
Fig. 25 – Vista frontal dos modelos montados em
ASA, com as overlays prensadas, polidas e
ajustadas na DVO e ORC, restabelecidas.
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Fig. 26 – Vista sagital dos modelos montados em Fig. 30 – Vista sagital do paciente, com as overlays
ASA, com as overlays prensadas, polidas e prensadas, polidas e ajustadas na DVO e ORC,
ajustadas na DVO e ORC, restabelecidas. restabelecidas.

Fig. 31 – Vista sagital do paciente, com as overlays


prensadas, polidas e ajustadas na DVO e ORC,
Fig. 27 – Vista sagital dos modelos montados em
restabelecidas.
ASA, com as overlays prensadas, polidas e
ajustadas na DVO e ORC, restabelecidas.
3. Placas de Reposicionamento
Anterior
São aparelhos que possuem rampas
guias utilizadas para produzir uma nova
posição mandibular distinta da posição
habitual (Clark, 1989). Tais aparelhos
mantêm a mandíbula em uma posição mais
anterior do que a posição de máxima
intercuspidação habitual, com o objetivo
Fig. 28 – Vista sagital do paciente após a exodontia de promover um melhor relacionamento
dos dentes previamente condenados por problemas côndilo-disco na fossa (Pertes, 1995), de
periodontal. forma que uma função normal possa ser
restabelecida (Okeson, 1992).
É indicada primariamente para
tratar as desordens de interferência do
disco (Okeson, 1992; Pertes, 1995; Gray &
Davies, 2001), mas travamento intermi-
tente ou crônico da articulação e algumas
desordens inflamatórias (Pertes, 1995),
também podem ser tratadas com este tipo
Fig. 29 – Vista frontal do paciente, com as overlays de aparelho (Okeson, 1992).
prensadas, polidas e ajustadas na DVO e ORC, De acordo com Okeson (1992), a
restabelecidas. Tão logo o paciente sinta conforto, é posição anterior estabelecida pelo aparelho
encaminhado para a reabilitação protética final. deve eliminar os sintomas articulares
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 9

durante a abertura e fechamento dentro difíceis de ajustar (Clark, 1989). Estão


dessa posição anterior, e também, no indicados como dispositivos protetores
movimento retrusivo. A rampa guia orienta para pessoas que correm o risco de
o fechamento da mandíbula para a posição receberem traumas em seus arcos dentais
anterior estabelecida. (por exemplo, atletas), para pacientes com
Este tipo de placa deve ser utilizado bruxismo, apertamento e com sintomas de
por 24 horas (inclusive durante a dor articular (Clark, 1989; Okeson, 1992;
alimentação) durante 3 meses (Gray & Pertes, 1995). São ideais para quadros
Davies, 2001). Após este período, se os agudos, devido a sua facilidade de
sintomas forem reduzidos significante- confecção e baixo custo (Pertes, 1995).
mente, a placa reposicionadora deverá ser
convertida em uma placa de estabilização,
removendo-se as rampas guias (Pertes,
1995).

Fig. 34 – Vista frontal de paciente esportista com


traumatismo dentário e necessita de placa protetora
bucal.
Fig. 32 – Desenho esquemático da vista sagital de
uma Placa de Reposicionamento Anterior no início
do fechamento mandibular, com contato incisal na
rampa da placa, sem contato posterior.

Fig. 35 – Vista oclusal de modelo da arcada


superior do paciente, já devidamente recortado para
a confecção da placa.
Fig. 33 – Desenho esquemático da vista sagital de
uma Placa de Reposicionamento Anterior no final
do fechamento mandibular, com contatos anteriores
e posteriores, após o reposicionamento anterior da
mandibular

4. Placas Macias
São aparelhos fabricados com
material resiliente, usualmente adaptados
ao maxilar, com o objetivo de alcançar Fig. 36 – Vista oclusal de modelo da arcada
contatos uniformes e simultâneos com os superior do paciente, e seleção da placa de silicone
dentes opostos (Okeson, 1992). São de a ser utilizada na confecção do protetor bucal.
fácil construção, porém menos duráveis e
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 10

Fig. 40 – Placa protetora resiliente ajusta e


Fig. 37 – Vista da plastificadora a vácuo com
instalada na boca do paciente atleta.
modelo da arcada superior do paciente, e a placa de
silicone posicionada. 5. Placas Pivotantes
É um dispositivo que mantém um
único contato posterior em cada quadrante.
Este contato é usualmente, o mais
posterior possível. Foi desenvolvido com a
idéia de diminuir a pressão intra-articular e
assim aliviar a carga nas superfícies
articulares da ATM (Okeson, 1992;
Nelson, 1995). Tem sido indicado para o
tratamento de sintomas relacionados com
Fig. 38 – A placa de silicone já prensada e doença articular degenerativa da ATM. Se
recortada sobre o modelo da arcada superior do este aparelho for indicado, não deverá ser
paciente, pela plastificado a vácuo. utilizado por mais de uma semana, pois
provavelmente irá intruir o dente utilizado
como pivot (Okeson, 1992).

Fig. 41 – Desenho esquemático da placa pivotante,


Fig. 39 – Desenho esquemático demonstrado que a
com os côndilos estáveis na fossa mandibular, pivot
placa cobre todos os dentes e se estende até o
tocando na oclusal do 2º molar e a guia anterior
rebordo, para maior proteção e estabilidade.
aberta.
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 11

Tem sido sugerido para o tratamento


das desordens musculares, especialmente
mio-espasmo originado da condição
oclusal do paciente (Okeson, 1992).
Placa de mordida anterior – Front-
plateau é indicada como instrumento de
diagnóstico de disfunções neuromus-
culares e articulares, em pacientes que
apresentem discrepância entre RC e MIH e
Fig. 42 – Desenho esquemático da placa pivotante, sintomatologia dolorosa dos músculos do
que pela ação do músculo masseter fulcra a aparelho estomatognático. Veja capítulo
mandíbula sobre o pivot deslocando os côndilos da sobre disfunções neuromusculares.
fossa mandibular, e estabelecendo o contato da guia
anterior com a placa.

Placas de cobertura parcial

Possuem a vantagem de minimizar


os efeitos estéticos e fonéticos, porém,
como desvantagens, incluem o potencial Fig. 43 - Representação esquemática, vista sagital,
para o movimento dental descontrolado do front-plateau instalado sobre os incisivos e
caninos superiores, promovendo a desoclusão dos
(intrusão ou extrusão) e habilidade
dentes posteriores. Tema já abordado, veja capítulo
reduzida para controlar forças oclusais sobre disfunções neuromusculares.
excessivas que agem nos dentes (Clark,
1989).
São classificadas como:
1. Placa de Mordida Anterior
2. Placa de Mordida Posterior
1. Placa de mordida anterior
Aparelhos de cobertura parcial
anterior, utilizados para desoclusão dos
dentes posteriores, relaxamento muscular e Figura 44. Contatos obtidos após o ajuste: contato
estabelecimento de uma nova dimensão no fechamento mandibular, em protrusão e
lateralidade.
vertical (Posselt, 1963). São utilizados
com a intenção primária de desocluir os
dentes posteriores, e assim eliminar sua
influência no sistema mastigatório
(Okeson, 1992).
Apresentam vantagens como facili-
dade de fabricação e procedimentos de
ajuste e adaptação e desvantagens como
movimento dental descontrolado Fig. 45 - Front-Plateau instalado na boca do
paciente.
(Ramfjord & Ash, 1983; Clark, 1989;
Nelson, 1995), podendo haver extrusão, Placa de mordida anterior indicada
gerando uma mordida aberta anterior como instrumento de diagnóstico de
(Okeson, 1992). disfunções neuromusculares e articulares,
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 12

em pacientes que apresente discrepância


entre RC e MIH e sintomatologia dolorosa
dos músculos do aparelho estomatognático
e ausência de guia anterior.
A placa é utilizada com objetivo de
restabelecer a guia anterior do paciente,
associada à eliminação da discrepância em
RC por meio de ajuste oclusal. Caso haja o
desaparecimento da sintomatologia dolo-
rosa o paciente deve ser encaminhado para
a terapia ortodôntica, para o alinhamento e Fig. 49 – Vista frontal dos modelos de diagnóstico
nivelamento dos dentes e o restabeleci- montados em ASA, em relação cêntrica.
mento da guia anterior.

Fig. 50 – Vista frontal da placa de mordida anterior


Fig. 46 – Vista frontal de paciente com má oclusão, construída sobre os modelos de diagnóstico
e sintomatologia de DTM. montados em ASA, em relação cêntrica.

Fig. 51 – Vista oclusal e frontal do ajuste oclusal da


placa de mordida anterior em relação cêntrica no
Fig. 47 – Vista frontal de paciente com ausência de paciente.
guia anterior e contatos oclusais no movimento de
protrusão, e sintomatologia de DTM.

Fig. 52 – Vista frontal da placa de mordida anterior


em oclusão em relação cêntrica e protrusão.
Fig. 48 – Vista frontal de paciente com ausência de
guias laterais direita e esquerda com contatos
oclusais nos movimentos de lateralidade, e
sintomatologia de DTM

Fig. 53 – Vista frontal da placa instalada e ajustada


no paciente com as guias laterais direita e esquerda
restabelecidas por meio da placa nos movimentos
de lateralidade.
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 13

2. Placa de mordida posterior


É confeccionada para os dentes
posteriores inferiores, em resina acrílica e
unida por uma barra lingual metálica
(Clark, 1989; Okeson, 1992). Tem por
objetivo alcançar alterações na dimensão Fig. 55 – Vista sagital dos modelos montados em
vertical de oclusão, como também ASA, com as overlays prensadas, polidas e
reposicionar a mandíbula. Está indicada ajustadas na DVO e ORC, restabelecidas.
nos casos severos de diminuição de
dimensão vertical, como também quando
há necessidade de se fazer um
reposicionamento anterior da mandíbula
(Okeson, 1992).
Fig. 56 – Vista sagital do paciente, com as overlays
ajustadas na DVO e ORC.

Fig. 53 – Vista frontal do paciente com alteração da


DVO, RC diferente de MIH, sem estabilidade
oclusal e guia anterior, que receberá uma placa de
mordida posterior, overlay parcial, como auxiliar
no diagnóstico e planejamento de uma reabilitação
oral.

Fig. 56 – Vista frontal do paciente com as overlays


ajustadas na DVO, ORC e a guia anterior
restabelecida com auxilio de provisórios nos
incisivos centrais. Tão logo o paciente sinta
conforto, é encaminhado para a reabilitação
protética final.

Revisão da Literatura

Após esta breve descrição dos tipos


de placas interoclusais, abordaremos a
Fig. 54 – Vista frontal de paciente com “Jig” de utilização das mesmas como modalidade
Lucia, confeccionado em RAAQ, submetido a terapêutica e como mecanismo diagnóstico
testes fonéticos de Silvemam para o restabeleci- para as disfunções temporomandibular
mento da DVO e registro da RC. (DTM).
Recurso terapêutico
Sessenta e oito pacientes, clínica e
radiograficamente classificados como
portadores de deslocamento do disco com
Fig. 55 – Vista frontal dos modelos montados em
redução, receberam o tratamento com uma
ASA, sem e com as overlays prensadas, polidas e placa protrusiva, e os resultados foram
ajustadas na DVO e ORC, restabelecidas. avaliados por no mínimo um ano e no
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 14

máximo três anos. Dezoito pacientes tratamento, enquanto que a terapia por
adicionais, também com deslocamento do biofeedback e relaxamento continuou a
disco com redução, foram utilizados como melhorar a sintomatologia dos pacientes. O
grupo controle (sem tratamento). Os segundo estudo avaliou a combinação dos
resultados indicaram que a terapia por tratamentos citados anteriormente. Os
placa obteve uma redução estatisticamente autores observaram que a combinação dos
significante na intensidade das dores de tratamentos foi mais efetiva que a
cabeça na região temporal, dores aplicação específica de um tipo de
articulares e dor na região anterior ao tratamento, concluindo que uma
ouvido (TALLENTS et al., 1990). abordagem multidisciplinar pode ser mais
Carlson et al. (1993), investigaram o benéficas aos pacientes portadores de
efeito de dois dispositivos de relaxamento DTM.
muscular e um placebo (roletes de Com relação ao tipo de placa, quase
algodão) na atividade eletromiográfica dos qualquer tipo de placa irá freqüentemente
músculos masseter e temporal anterior. reduzir a sensibilidade muscular, pelo
Foram utilizados 12 pacientes portadores menos em curto prazo, pois previne o
da síndrome da dor-disfunção miofascial. reforço da memória proprioceptiva dos
A atividade eletromiográfica foi medida contatos oclusais nocivos (LONG, 1995),
durante dez segundos de apertamento podendo ser benéfica para os pacientes
dentário para ambos, aparelho e placebo. com disfunção temporomandibular (AL-
Nenhuma diferença estatística foi SAAD & AKEEL, 2001).
encontrada entre os dois dispositivos, Em um estudo retrospectivo, Kurita
porém uma significante diferença et al. (1997) avaliaram o efeito da terapia
estatística foi observada entre o placebo e por placa de cobertura completa para
os dois dispositivos. Os autores associaram sintomas e sinais específicos das DTMs.
os bons resultados obtidos com as placas Foram avaliados 232 pacientes portadores
interoclusais devido à eliminação das de dor crônica nos movimentos, ruídos na
interferências oclusais e a diminuição da articulação e dificuldades em abrir a boca.
atividade muscular. Todos tratados somente com a placa
Turk et al. (1993) realizaram dois estabilizadora. A taxa total de remissão foi
estudos para avaliar a eficácia de dois de 41%, com 43% de remissão parcial. Os
tratamentos utilizados para as desordens autores concluíram que a placa é um
temporomandibulares (DTM): 1. placas dispositivo útil no tratamento das DTMs.
interoclusais e; 2. Biofeedback e Terapia Ekberg et al. (1998) avaliaram a
de relaxamento. No primeiro estudo, os eficiência em curto prazo das placas
autores compararam o tratamento com as estabilizadoras em pacientes com DTM de
placas e uma combinação entre o trata- origem articular. Dois grupos foram
mento por biofeedback e terapia por randomicamente divididos em tratamento e
relaxamento em pacientes portadores de controle. O grupo controle recebeu um
dor e sensibilidade nos músculos da aparelho o qual não alterava a relação
mastigação e na região da articulação maxilar. Os resultados mostraram que
temporomandibular (ATM). Os autores ambos os aparelhos estabilizadores e
observaram que o tratamento com placa foi controle obtiveram efeito positivo a curto-
mais efetivo, em um curto prazo, na prazo na dor articular.
redução da dor, tendo em vista que após Ferrario et al. (2002), analisaram o
um acompanhamento de seis meses, houve efeito imediato da placa de estabilização
uma redução na eficácia deste tipo de sobre a atividade dos músculos mastiga-
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 15

tórios em pacientes portadores de DTM, com o aparelho, um tratamento futuro tal


utilizando a eletromiografia, a qual permite como o ajuste oclusal deve ser considerado
a quantificação do equilíbrio oclusal em (NELSON, 1995).
pacientes com disfunção. Quatorze Segundo Dawson (1980), tudo o que
pacientes foram selecionados e uma placa as placas interoclusais fazem é tornar
estabilizadora foi confeccionada para os possível o relaxamento muscular, e, por-
mesmos. A eletromiografia foi realizada tanto, não curam a disfunção temporoman-
antes e após a inserção das placas. Os dibular. O autor relata ainda que, se a placa
resultados mostraram uma diminuição da oclusal não for capaz de aliviar a dor e a
atividade eletromiográfica, quando da disfunção de um dia para o outro, alguns
utilização das placas interoclusais. fatores devem ser avaliados, tais como,
técnica de confecção incorreta, neces-
Dispositivo diagnóstico sidade de ajustes corretivos das suas
Como instrumento diagnóstico, a superfícies de contato, ou então, a dor não
placa pode ajudar a estabelecer uma é um problema ocluso-muscular que possa
relação maxilo-mandibular relaxada e ser resolvido por meio do emprego da
confortável. Por ser um método reversível mesma.
pode ser utilizada para testar as respostas Beard & Clayton (1980), analisaram
musculares e articulares às alterações no o efeito da terapia com placa, sobre as
posicionamento horizontal e vertical da disfunções temporomandibulares. Foram
mandíbula antes da estabilização perma- realizados registros dos movimentos
nente da oclusão com o ajuste oclusal, mandibulares de 20 pacientes por meio de
prótese ou ortodontia (CLARK, 1989). um pantógrafo modificado. Quinze
De acordo com Okeson (1992), é pacientes foram utilizados como grupo
extremamente importante que se a placa experimental, os quais receberam a placa
reduzir os sintomas, o preciso relaciona- oclusal, e cinco pacientes foram utilizados
mento causa e efeito deve ser identificado, como grupo controle. O grupo experimen-
antes que uma terapia irreversível seja tal utilizou a placa até a redução dos
iniciada. As placas interoclusais são úteis sintomas e a obtenção dos registros do
para pesquisar certos fatores etiológicos, pantógrafo em um nível de reprodução dos
por exemplo, a má-oclusão. Dawson movimentos mandibulares os quais
(1980), afirma que se os sintomas revelassem boa coordenação muscular de
desaparecem ou aparecem concomitante- tais movimentos. A utilização das placas
mente ao uso ou retirada das placas foi suspensa, sem a realização de ajuste
interoclusais, respectivamente, a indicação oclusal, obtendo-se então, novo registro
é bastante evidente de que são causados dos movimentos mandibulares. Após a
por uma desarmonia oclusal. análise dos resultados, os autores concluí-
O aparelho de estabilização pode ser ram que as placas interoclusais reduziram
uma ferramenta de diagnóstico extrema- a descoordenação da função mandibular; a
mente útil, pois a observação das caracte- utilização somente das placas interoclusais
rísticas de desgaste e contato oclusal nas como terapia não é suficiente para a
placas, permitirá a avaliação da influência manutenção da coordenação muscular e os
do bruxismo e interferências oclusais em pacientes retornaram à condição prévia ao
várias condições confusas de dores orofa- tratamento após a remoção das placas
ciais. Se a mobilidade dental é reduzida oclusais.
Tabela 1. Estudos que avaliaram a utilização das placas interoclusais.
Estudo Condição Tratamento Resultado

Redução da
descoordenação
Beard; Clayton, Placa mio-
Descoordenação muscular muscular. Retorno à
1980 relaxante
condição inicial após
remoção das placas

Redução na
intensidade das dores
Tallents et al., Deslocamento do disco com de cabeça na região
Placa Protrusiva
1990 redução temporal, dores
articulares e na região
anterior ao ouvido

Em um curto prazo, a
1. Placa mio-
terapia por placa foi
Sensibilidade dos músculos da relaxante;
Turk et al., 1993 mais efetiva, porém
mastigação e da região articular 2. Biofeedback /
após 6 meses, ambos
(ATM) e limitação de abertura terapias de
obtiveram resultados
relaxamento
semelhantes

Dor crônica nos movimentos,


Kurita et al., ruídos na articulação e Placa mio- 41% remissão total;
1997 dificuldades na abertura da relaxante 43% remissão parcial
boca

1. Tratamento:
Placa mio- Ambos os aparelhos
relaxante; estabilizadores e
Ekberg et al.,
DTM de origem articular 2. Controle: controle obtiveram um
1998
aparelho o qual efeito positivo a curto-
não alterava a prazo na dor articular
relação maxilar

Diminuição da
atividade
Atividade eletromiográfica dos
Ferrario et al., Placa mio- eletromiográfica,
músculos mastigatórios em
2002 relaxante quando da utilização
pacientes portadores de DTM
das placas
interoclusais

Considerações Finais 1997; EKBERG et al., 1998; FERRARIO


Como visto na literatura, vários são et al., 2002). Porém, tal sucesso deve-se a
os trabalhos que relatam o sucesso das remissão da sintomatologia dolorosa
placas interoclusais no tratamento das (TALLENTS et al., 1990; Carlson et al.,
DTMs (CLARK, 1984; TALLENTS et 1993; LONG, 1995). Este fato confirma o
al., 1990; Carlson et al., 1993; Kurita et al., relato de Dawson (1980) que afirma que
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 17

tudo o que as placas interoclusais fazem é como o tratamento ortodôntico, sejam


tornar possível o relaxamento muscular, e indicados. Como recurso terapêutico, as
portanto, não curam a disfunção temporo- placas interoclusais possuem apenas um
mandibular. Em seu estudo, Beard & efeito paliativo sobre a sintomatologia das
Clayton (1980), observaram que a DTMs, já que não promovem a cura dos
utilização somente das placas interoclusais pacientes. De acordo com a literatura
como terapia não é suficiente para a pesquisada, as placas interoclusais estabe-
manutenção da coordenação muscular, já lecem uma relação maxilo-mandibular
que os pacientes retornaram à condição mais estável e confortável, reorganizando a
prévia ao tratamento, após a remoção das atividade neuromuscular, a qual reduz a
placas oclusais, sem um devido ajuste da atividade muscular anormal, diminuindo
oclusão na posição determinada pela assim a sintomatologia muscular relaciona-
mesma. Desta forma, pode-se relacionar a da a DTM. A remissão de tal sintomato-
utilização das placas interoclusais, como logia sugere que a etiologia da mesma seja
um método de tratamento efetivo e de origem oclusal. Portanto, pode-se
reversível, porém paliativo, o qual não considerar que as placas interoclusais
possibilita a cura dos pacientes portadores desempenham um melhor papel sobre as
de DTM. DTMs, como um dispositivo diagnóstico,
A Disfunção Temporomandibular do que como um recurso terapêutico
(DTM) possui uma etiologia multifatorial. propriamente dito, pois as mesmas podem
Tal característica dificulta tanto o seu ser utilizadas para a obtenção de respostas
diagnóstico, quanto o seu tratamento, tanto musculares, quanto articulares às
devendo o clínico utilizar todos os recursos alterações no posicionamento mandibular,
disponíveis para relacionar causa e efeito, previamente à estabilização permanente da
antes que terapias irreversíveis, tais como oclusão, por meio das terapias irreversíveis
ajuste oclusal, reabilitação protética, bem acima citadas.

Parece claro que a utilização das placas oclusais pode ser uma ferramenta de
diagnóstico extremamente útil e eficaz, quando da presença de fatores oclusais relacionados
aos sintomas das DTMs.
Placas Oclusais Fernandes Neto, A.J.& Barbosa, GAS . Univ. Fed. Uberlândia - 2005 18

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protrusive splint therapy in anterior disk
CONDUTA TERAPÊUTICA RESTAURADORA

Alfredo Julio Fernandes Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006

A Odontologia Restauradora é a
conduta terapêutica por meio da qual é
realizado o ajuste oclusal por acréscimo de
materiais restauradores diretos e indiretos.
Tal conduta busca reabilitar a fisiologia do
aparelho estomatognático, assegurando a
saúde do sistema neuromuscular, das
articulações temporomandibulares, dos Fig. 02 – Vista vestibular de uma boca em
dentes e do periodonto, por meio do disfunção.
restabelecimento da dimensão vertical de
oclusão, da relação cêntrica, da Método de Diagnóstico e Plano de
estabilidade oclusal e da guia anterior. Tratamento
Para tanto se torna necessário
diagnóstico criterioso quanto as O método de diagnóstico e plano
características gerais e os aspectos de tratamento compõe-se de:
intrabucais do paciente. 1- Exame cuidadoso para descobrir,
isolar e analisar cada fator capaz de causar
Diagnóstico doença, desarmonia ou instabilidade.
2- Análise da resistência do
É a determinação da natureza da
hospedeiro e avaliação de qualquer outro
doença. Consiste na descoberta e
fator contribuinte.
reconhecimento de sinais e sintomas
3- Avaliação dos efeitos dos fatores
(anormalidades) e na investigação de
causais, relacionando-os ao tempo, a
determinadas condições e suas causas,
intensidade e a resistência do hospedeiro.
buscando restabelecer a normalidade.
Quando observar um efeito, procure até
encontrar a causa, e verifique se ainda está
ativa, ou já passou seu tempo de produzir
efeitos.
4- Análise de todos os métodos que
poderão ser utilizados para eliminar os
fatores causais prejudiciais ou neutralizar
seus efeitos perniciosos.
5- Seleção da melhor opção de trata-
mento.
Fig. 01 – Vista vestibular de uma boca saudável. Quando o objetivo é a melhora da
saúde bucal, o diagnóstico e o plano de
tratamento podem ser considerados dentro
de dois princípios fundamentais:
Conduta terapêutica restauradora Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 24

I - Encontrar todos os fatores que Fatores Contribuintes


causam e contribuem, de algum modo,
para a deterioração da saúde bucal Atuam diminuindo a resistência do
II – Determinar qual o melhor hospedeiro, são eles:
método para eliminar cada um desses 1- Predisposição hereditária
fatores de deterioração. 2- Saúde geral debilitada
3- Insuficiência nutricional
Fatores Causadores 4- Tensão emocional
Excluídas as doenças neoplásicas e Elementos de diagnóstico
os acidentes, quase todos os efeitos
prejudiciais aos dentes e/ou estruturas de Um diagnóstico completo requer
suporte são resultados direto de informações de uma ou mais fontes:
microrganismos e do desequilíbrio oclusal. ¾ Anamnese ou interrogatório (história
médica e odontológica)
¾ Exame clínico
¾ Exame radiográfico
¾ Exame dos modelos de estudo
¾ Exames complementares.

Anamnese ou interrogatório

Na primeira consulta o paciente deve


ser encorajado a descrever experiências
médicas e odontológicas anteriores.
Fig. 03 – Vista vestibular de uma boca com - Dados pessoais (nome, endereço,
microrganismo e desequilíbrio oclusal. sexo, idade, filiação, profissão, estado
civil, etc.).
No quadro abaixo esta relacionado o - Queixa principal
alcance dos fatores causadores da doença - Antecedentes pessoais: de ordem
oclusal e dental. geral (problemas cardiovasculares, reações
alérgicas, diabete, neuroses, hepatite,
1- Microrganismos tuberculose, avitaminose, desequilíbrio
( Higiene inadequada)
a- Cárie dental ( principalmente na infância)
hormonal, etc.), e de ordem protética:
b- Gengivite (antecedente protético, intolerância aos
2 - Desequilíbrio oclusal aparelhos, resposta tecidual desfavorável).
(Maloclusão) - Antecedentes hereditários (história
a- Dor no ombro e pescoço familiar).
b- Doença periodontal avançada
c- Dor de cabeça Exame clínico
d- Dor facial
e- Desgaste prematuro É a coleta de dados que constitui a
f- Pulpites
g- Periodontite apical base do diagnóstico e exige do clínico
h- Disfunção da ATM conhecimentos básicos, apuro dos senti-
i- Prótese desconfortável dos, capacidade de observação, análise,
j- Audição prejudicada síntese, bom senso e discernimento.
l- Reabsorção radicular - Exame dos tecidos moles:
m- Mordidas nos lábios e bochecha
n- Dor de garganta Examinar minuciosamente freios
o- Dor referida com inserção alta, gengiva (cor, forma,
sulco), mucosa oral, fístulas e neoplasias,

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zonas de bifurcação e trifurcação radicular


e nódulos linfáticos.

Fig. 04 – Vista vestibular de uma boca fistulas nos Fig. 06 – Imagem radiográfica de uma lesão de
dois incisivos centrais. furca – grau I, no dente 46.

GRAU II - Perda horizontal dos


tecidos de suporte excedendo um terço da
largura do dente, mas não envolvendo toda
a largura da área de furca..
Terapia recomendada:
Plastia de furca, tunelização,
Fig. 05 – Vista vestibular do diagnóstico ressecção radicular, extração dentária,
diferencial da origem da fistulas, aparentemente no regeneração tecidual guiada nos molares
incisivo central. inferiores e controle dos hábitos oclusais
Segundo, Carnevale, Pontoriero e excêntricos (ajuste oclusal)
Lindhe, 2005, o tratamento de defeitos na
região de furca de um dente
multirradicular tem dois objetivos:
1. a eliminação da placa microbiana
das superfícies expostas do complexo
radicular
2. o estabelecimento de uma
anatomia das superfícies afetadas que
facilite o adequado autocontrole de placa.
Classificação das lesões de furca: Fig. 07 – Imagem radiográfica de uma lesão de
GRAU I – Perda horizontal dos furca – grau I.I, no dente 46
tecidos de suporte não excedendo um terço
da largura do dente. GRAU III – Perda horizontal “lado a
Terapia recomendada: lado” dos tecidos de suporte na área de
Raspagem e alisamento radiculares, furca.
plastia de furca e controle dos hábitos Terapia recomendada:
oclusais excêntricos (ajuste oclusal) Tunelização, ressecção radicular,
extração dentária.

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Fig. 11 – Vista de uma boca com ausência de


higiene, dentes e desequilíbrio oclusal.
Fig. 08 – Imagem radiográfica de uma lesão de
furca – grau III, no dente 36.

Fig. 12 – Vista de uma boca com disfunção


dentária, perimólise, causado provavelmente por
refluxo ácido endógeno.
Fig. 09 – Desenho esquemático de uma odonto-
secção e opções de tratamento restaurador.
A mobilidade dentária é resultado da
perda contínua dos tecidos de suporte na
- Exame dos tecidos duros doença periodontal progressiva ou trauma
Examinar minuciosamente dentes oclusal e pode ser classificada como:
ausentes e zonas desdentadas, suscepti- Grau I: mobilidade coronária de 0,2
bilidade à cárie dental, contato proximal, a 1 mm no sentido horizontal.
facetas, contatos deflectivos, mobilidade Grau II: mobilidade coronária
dentária, espaçamento dos dentes excedendo 1 mm no sentido horizontal.
anteriores e trabalhos protéticos existentes. Grau III: mobilidade coronária nos
sentidos vertical e horizontal.
- Oclusão e articulações temporo-
mandibulares:
Examinar minuciosamente a oclusão
(RC, MIH, ORC, DVR, DVO, EFL,
sobrepasse vertical (overbite), sobrepasse
horizontal (overjet)) e articulações
(movimentos de abertura, fechamento,
Fig. 10 – Vista de uma boca com ausência de lateralidade, protrusão, dor e ruídos).
dentes e desequilíbrio oclusal.

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- Avaliação dos movimentos para-


funcionais (apertamento dental, bruxismo
e outros hábitos).

Fig. 13 – Vista de uma boca com prematuridade


em relação cêntrica, ausência de dentes e
desequilíbrio oclusal.
Fig. 17 – Vista de uma boca com disfunção
dentária, bruxismo, com desarmonia da guia
anterior e ausência de estabilidade oclusal.

Quando da presença de distúrbios


oclusais, os pacientes se apresentam em
distintos grupos na dependência de suas
susceptibilidades (limiar de tolerância):
• GRUPO I - Paciente susceptível à
disfunção neuromuscular (disfunção
mandibular).
Fig. 14 – Vista de uma boca em MIH, com
• GRUPO II - Paciente susceptível à
ausência de dentes e desequilíbrio oclusal.
disfunção tempomandibular
(disfunções temporomandibulares).
• GRUPO III - Paciente susceptível à
disfunção dentária (lesões não
cariosas).
• GRUPO IV - Paciente susceptível à
disfunção periodontal (mobilidade
dental ou migração patológica dos
dentes).
Fig. 15 – Vista de uma boca com uma guia lateral • GRUPO V - Paciente não susceptível a
harmônica.
disfunção (acomodação).
- Documentação fotográfica:
É realizada com objetivos
científicos, legais e marketing, antes,
durante e após o tratamento.

Exame Radiográfico

Como elemento complementar de


diagnóstico são realizadas radiografias
periapicais, interproximais e oclusais para
verificar cáries, parte radicular do dente
Fig. 16 – Vista de uma boca com uma guia anterior (comprimento, forma e número das
harmônica. raízes), relação coroa/raíz, estruturas de
suporte, (espaço do ligamento periodontal,

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cortical alveolar, perda óssea), processos • Anti-HIV (ELISA)


apicais e periapicais, dentes inclusos e • ELISA para doença de Chagas
raízes residuais, polpa dos dentes,
tratamentos endodônticos existentes, Plano de Tratamento
bifurcações e trifurcações comprometidas,
tipo e quantidade de osso alveolar. É a proposição de procedimentos e
condutas necessárias à correção das
Exame dos Modelos de Estudo anormalidades mostradas pelo paciente.
O plano de tratamento Odontológico
Sempre montados em articulador completo inclui:
semi-ajustável em relação cêntrica (RC), o ¾ Reabilitação de uma dentição
exame dos modelos de estudo é realizado acessível à limpeza
para: ¾ Redução dos esforços a um ponto que
¾ Avaliar a oclusão (RC, MIH, ROC, não sejam destrutivos
interferências excursivas ¾ Educação do paciente sobre sua
ânteroposteriores e laterais), cúspides responsabilidade na manutenção da
impactantes, espaço protético, posição saúde
dos dentes na arcada, selecionar a O objetivo final da conduta
direção de inserção, plano oclusal, terapêutica restauradora é restabelecer a
grau das curvas de Spee e Wilson, oclusão, onde as superfícies oclusais
relações intermaxilares, tipos de devem, apreender e triturar alimentos,
restaurações necessárias, auxiliar no estar em harmonia com os tecidos
posicionamento do pôntico. adjacentes, receber e direcionar força ao
¾ Realizar análise funcional da oclusão longo eixo do dente, promover conforto e
(procedimentos experimentais de evitar interferência oclusal.
equilíbrio oclusal) e enceramento O plano de tratamento que vise o
diagnóstico (obtendo informações atendimento integral e integrado aos
sobre o resultado estético pretendido, pacientes que necessitam de prótese
auxiliando na obtenção de dentária, deve incluir:
restaurações provisórias e como
auxílio visual durante a discussão do I- Tratamento Sistêmico
plano de tratamento com o paciente).
Aos cuidados da clínica médica para
Exames Complementares equilíbrio e controle de pacientes
especiais, portadores de distúrbios
Avaliar a possibilidade do paciente cardiovasculares, diabete, hepatite, etc.
portar doenças infecciosas e/ou patologias
potencialmente geradoras de II- Tratamento Odontológico
complicações, solicitando exames
complementares, tais como: 1. Urgências:
• Prova de função Hepática • Em relação à dor
• Hemoglama completo • Em relação à estética
• HBSAG ( hepatite B ) 2. Periodontal Básico:
• Anti HCV ( hepatite C ) ELISA 2º • Eliminação de placa bacteriana
geração • Raspagem dental
• Glicemia de jejum • Controle da higiene
• Uréia mais Creatinina 3. Cirúrgico:
• Hormônios: T3, T4, TSH • Exodontias
• VDRL 4. Prótese Removível Total:

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• Convencional 9. Protético Provisório:


5. Equilíbrio Oclusal: • Seleção da cor dentes naturais (antes
• Diagnóstico diferencial do preparo dentário)
• Moldagem para obtenção dos modelos • Preparo dos dentes e estabilização com
de estudo próteses provisórias
• Montagem dos modelos de estudo em 10. Periodontal Cirúrgico:
articulador semi-ajustável, com uso do • Gengivectomia
arco facial e registro interoclusal em • Cirurgia a retalho
relação cêntrica (RC) • Cirurgia mucogengival
• Análise funcional da oclusão • Implante
• Ajuste oclusal (em relação cêntrica,
lateralidades e protrusão) III- Tratamento Protético
• Restabelecimento da dimensão vertical Definitivo
de oclusão (DVO), com o auxílio de
¾ Prótese Fixa
um “jig” de Lúcia, a partir da
¾ Prótese Removível Parcial
dimensão vertical de repouso
¾ Prótese Removível Total
fisiológico dos músculos da
mastigação (DVR), preservando um Prótese Fixa:
espaço funcional livre (EFL) de • Convencional (unitária ou múltipla)
aproximadamente 3.0 mm • Adesiva indireta
• Estabilidade oclusal (placas • Implantada
interoclusais para reposicionamento Seqüência convencional para
mandibular ou uma prótese removível confecção de prótese fixa:
parcial provisória (overlay) - uso por - Observar e anotar a cor dos dentes
aproximadamente 30 dias) naturais remanescentes,
• Restabelecimento da guia anterior - Preparo e/ou repreparo dos dentes
(GA). pilares,
6. Endodontia: - Confecção e/ou reembasamento
• Não caracterizada como urgência (a dos provisórios (retentores e pônticos),
maior incidência de falhas em dentes - Preparo e moldagem do conduto
pilares tratados endodonticamente, não radicular,
se deve somente a fragilidade - Fixação do núcleo metálico de
mecânica do remanescente dental, mas reconstituição e/ou retenção,
também a redução da sensação tátil - Moldagem para obtenção dos
dos proprioceptores, o que diminui a modelos de trabalho,
habilidade do paciente em detectar - Confecção dos modelos de
sobre-cargas). Morgano, S. M., JPD, trabalho,
1996. - Montagem dos modelos de
7. Dentística: trabalho em articulador semi-ajustável,
• Restaurações (com resina composta, com uso do arco facial e registro
com ionômero de vidro, com interoclusal (casquetes de transferência)
amálgama) na dimensão vertical de oclusão (DVO),
• Selante de fóssula e fissura - Ajuste do metal na boca do
• Colagem de dentes fraturados paciente (proximal, relação pôntico/
• Prótese adesiva direta rebordo alveolar, cervical, propriedades
8. Ortodôntico: retentivas, oclusal e contorno),
• Movimentos dentais (verticalização, - Remoção, da relação dos retentores
extrusão, outros) na boca, para soldagem,

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Conduta terapêutica restauradora Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 30

- Registro interoclusal da dimensão Planejamento em Prótese Fixa


vertical de oclusão,
- Moldagem para a remontagem em O número de dentes suportes
articulador semi ajustável, necessários para uma prótese fixa depende
- Ajuste e caracterização da de sua extensão e localização no arco
porcelana na boca (proximal, relação dental, da natureza do antagonista, do
pôntico/rebordo alveolar, cervical, oclusal, estado periodontal, forma e implantação
contorno e estético), das raízes dos dentes que servirão de pilar.
- Fixação provisória (7 dias),
- Fixação definitiva. Fatores que determinam a extensão de
Prótese Removível Parcial: uma prótese fixa
• Convencional,
¾ Eficiência mastigatória do antagonista
• Encaixe. ¾ Proporção coroa/raiz dos dentes
Prótese Removível Total: suportes
• Overdenture: ¾ Relação resistência e força
Sobre raízes naturais, ¾ Polígono de Roy
Sobre Implantes.
Eficiência mastigatória
Quando o paciente não necessitar de
um dos procedimentos abordados, na Dentes Naturais 100%
seqüência acima, segue-se ao próximo do Prótese Fixa 80%
qual necessita. Prótese Removível Parcial 50%
Prótese Removível Total 20%
Exames periódicos No planejamento de uma prótese
fixa que oclui com outra prótese fixa, o
Os exames periódicos após a valor da força “F” de mastigação deve ser
colocação das próteses fazem parte do reduzido em 20%, ocluindo com uma
tratamento reabilitador, pois a detecção prótese removível parcial em 50% e com
precoce de um problema pode evitar uma prótese total, a redução é em 80%.
futuro insucesso das restaurações. Essa redução na eficiência
O prognóstico periodontal e mastigatória se deve a natureza das
protético é influenciado pela dieta, fatores próteses e a perda de propriocepção do
sistêmicos e a habilidade em manter o periodonto.
meio bucal livre de placa, pois mesmo
com o cuidado pessoal e profissional Proporção Coroa/Raiz dos Dentes
adequado, a doença periodontal pode Suportes
ocorrer.
Coroa Raiz
Prognóstico Ideal 1 2
Ótima 1 1,5
O prognóstico é uma opinião ou Mínima aceitável 1 1
julgamento dado no decorrer do
tratamento em relação à expectativa para o Relação Resistência e Força
sucesso da terapia utilizada que depende
positivamente da higiene bucal, correta Geralmente, um dente normal tem
seleção dos materiais utilizados, plano de capacidade para resistir duas vezes o
tratamento meticulosamente executado e esforço de mastigação que recai sobre o
relação paciente/profissional. mesmo, sem causar qualquer dano ao
sistema de sustentação. Para isto é
fundamental que a força oclusal recaia

30
Conduta terapêutica restauradora Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 31

sobre o longo eixo do dente pilar, figura Canino 5 5


01 e 02. 1º Pré molar 4 4
2º Pré molar 4 4
B 1º Molar 6 6
A
2º Molar 6 6
3º Molar 4 4

Dessa forma pode-se calcular o


número de dentes pilares necessários em
relação ao espaço protético, indicando
R R uma prótese fixa, somente quando a soma
Fig. 01 - A: força indesejável, B: força vertical. dos valores da resistência dos dentes
pilares for maior que a soma dos valores
B1
B2 da força dos dentes ausentes (pônticos).
A1 A2 Nas ilustrações a seguir os
elementos dentários representados pela cor
preta são os elementos ausentes, pela cor
amarela os dentes pilares. A proporção
força resistência necessária deverá ser tal
CR que a resultante R - F seja sempre positiva.

Fig. 02 -Distribuição de forças sobre uma prótese


fixa.

Portanto, para uma prótese fixa ser


indicada o número da soma da resistência
18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28
dos dentes pilares deverá ser superior ao
48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38
da soma da força que recairá sobre os
dentes ausentes. R = 12 = 3 F = 11 = 4
R-F = 7-4= +3
21 = 4
Vest, G. em 1960, apud Tamaki 7
1982, apresentou uma tabela, ordenando
os dentes segundo a resistência de cada
um, tomando-se como elemento de
comparação o incisivo central inferior que
foi considerado o dente de menor
resistência dando-lhe o valor um. Dessa
maneira, considerou os incisivos laterais
inferiores duas vezes mais resistentes, os 18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28
incisivos laterais superiores três vezes, os 48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38
incisivos centrais superiores, pré-molares R = 11 = 4 F = 21 = 4
e III molares quatro vezes, os caninos 23 = 5 22 = 3 R-F = 9-7= +2
cinco vezes e os I e II molares seis vezes 9 7

mais resistentes, tabela 01.


Tabela 01 - Valor da resistência dos dentes
superiores e inferiores.
Dente Superior inferior
Incisivo central 4 1
Incisivo lateral 3 2

31
Conduta terapêutica restauradora Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 32

18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28 18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28
48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38 48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38
R = 21 = 4 F = 22 = 3 R = 11(25)= 4 F = 22 = 3 R = 17 = 6 F = 16 = 6 R = 14 = 4 F = 12 = 3
24 = 4 23 = 5 21 = 4 23 = 5 15 = 4 13 = 5 11 = 4
23 = 5 21 = 4
8 8 24 = 4 8 10 24 = 4 22 = 3
12 18 14
R - F = 10 - 6 = + 4
R-F=8-8=0 R - F = 12 - 8 = + 4 R - F = 18 - 14 = + 4

18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28
18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28
48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38
48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38
R = 11 = 4 F = 12 = 3 R = 13 = 5 F = 12 = 3
13 = 5 14 = 4 15 = 4 14 = 4
R = 11 = 4 F = 12 = 3 15 = 4 15 = 4 17 = 6 15 = 4
13 = 5 14 = 4 R - F = 13 - 7 = + 6 17 = 6 11
15 = 4 19 15 11
7
13 R - F = 19 - 11 = + 8 R - F = 15 - 11 = + 4

18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28 18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28
48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38 48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38
R = 12 = 3 F = 11 = 4 R = 13 = 5 F = 11 = 4
R = 11 = 4 12 = 3 21 = 4
F = 12 = 3 22 = 3 21 = 4 22 = 3 8
13 = 5 14 = 4 R - F = 13 - 7 = + 6 6 8 23 = 5
15 = 4 7 16
13 R-F=6-8=-2 R - F = 16 - 8 = + 8

fulcro F
R1
Polígono de Roy
R2

Os dentes também são passíveis de


movimentação no sentido vestíbulo-
lingual, sobre um eixo imaginário que liga
18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28 suas faces mesial à distal. Devido à
48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38 disposição dos dentes em ambas arcadas,
R1 = 13 = 5 F = 12 = 3 R2 = 13 = 5 F = 12 = 3
23 = 5 11 = 4 14 = 4 11 = 4 estes se dividem em grupos: posteriores
10 21 = 4 23 = 5 21 = 4
22 = 3 24 = 4 22 = 3 (molares e prés) e caninos do lado direito e
14 18 14
R1 - F = 10 -14 = - 4 R2 - F = 18 - 14 = + 4 esquerdo e anteriores (incisivos centrais e
laterais). Cada um destes grupos compõe
um eixo de rotação, e unindo-os, obtém-se
um polígono, denominado “Polígono de
Roy”, figura 03.

32
Conduta terapêutica restauradora Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 33

DAWSON, P. E. Avaliação, diagnóstico e


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Baseado no exposto, uma prótese
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fixa será considerada recomendável MIRANDA, C. C. Atlas de reabilitação bucal, São
quando, unidas suas extremidades e Paulo: Santos, 1986. 529 p.
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94, 1995.

33
CONDUTA TERAPÊUTICA FISIOTERÁPICA

A Disfunção Temporomandibular ativação das fibras da dor. Em condições


(DTM) inclui qualquer desarmonia que subagudas e crônicas, a dor pode continuar
ocorra nas relações funcionais dos dentes e por meio da presença contínua da irritação
suas estruturas de suporte, das articulações química. Tal irritação deve-se às várias
temporomandibulares, dos músculos do substâncias químicas liberadas durante a
aparelho estomatognático e dos resposta inflamatória, como a bradicinina,
suprimentos vascular e nervoso destes serotonina, histamina e prostaglandinas,
tecidos. Estas disfunções são excitando os nociceptores
caracterizadas por dor nos músculos da quimiossensíveis (Buxton, B. P., 2001).
mastigação, da cabeça e do pescoço, dor Nociceptores são, segundo Eyzaguirre, C.
nas articulações, limitação dos & Findone, S. J. (1977), receptores que
movimentos mandibulares, ruídos respondem somente quando a estimulação
articulares e deformidades faciais. Tais atinge intensidades tais que provocam
disfunções apresentam etiologia lesões, ou intensidades próximas a estas.
multifatorial. Este caráter multifatorial Com relação às fibras que
pode, por vezes, dificultar tanto o seu transportam os impulsos nervosos,
diagnóstico quanto o seu tratamento, Doretto, D. (2001), classificou as fibras
devendo o profissional estar atento e ciente aferentes periféricas em Fibras A (fibras
dos recursos disponíveis para o tratamento mielinizadas com diferentes espessuras,
destas desordens. dividem-se em A-alfa, A-beta, A-gama e
Abordaremos neste capítulo recursos A-delta, em ordem decrescente de
fisioterápicos disponíveis para a aplicação espessura) e Fibras C (fibras amielínicas,
como adjuntos no tratamento das delgadas).
disfunções temporomandibulares tais As Fibras A-alfa, são fibras mais
como exercícios terapêuticos, rápidas, veiculando a sensibilidade tátil e a
termoterapia, ultra-som, estimulador sensibilidade proprioceptiva. Já as Fibras
elétrico transcutâneo do nervo (TENS) e o A-beta e A-gama conduzem tato e
biofeedback. sensibilidade térmica (A-beta conduz calor
Para melhor entendimento de cada e A-gama, o frio). Enquanto que as Fibras
modalidade terapêutica, antes de A-delta e fibras C conduzem a dor.
abordarmos os tipos de recursos
fisioterápicos devemos recordar a O processo da dor
fisiologia e a fisiopatologia dos processos
Após um trauma nos tecidos, ocorre
relacionados a dor. Uma irritação química
lesão das paredes das células, liberando
ou uma deformação mecânica nas
dopanima e noropinefrina a partir dos
terminações nervosas resulta na
precursores na membrana celular, com
despolarização das fibras da dor, em outras
isso, ocorre a ativação da fosfolipase, a
palavras, um estímulo nocivo causa
qual permite que a membrana libere ácido
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 2

aracdônico. Na presença da cicloxigenase, biofeedback, massagens e exercícios


o ácido aracdônico é convertido em terapêuticos.
prostaglandinas sensibilizando as
terminações nervosas à outras substâncias Ultra-som
tais como bradicinina (encontradas no
O ultra-som é um tipo de terapia
plasma e liberadas durante a coagulação),
utilizada em várias áreas da saúde, sendo
que por sua vez, iniciam a nocicepção
também utilizado, com sucesso, na
(Buxton, B. P., 2001), ou seja
odontologia (ESPOSITO, C. J., et al. 1984;
desencadeiam o processo doloroso.
AMSO, N. N., 1994; TER HAAR, G.,
Teoria da comporta de controle da 1999). Trata-se de uma modalidade
modulação da dor terapêutica de penetração profunda, capaz
de produzir alterações nos tecidos por
A teoria da comporta de controle da mecanismos térmicos e não-térmicos (TER
modulação da dor foi desenvolvida por HAAR, G., 1999; STARKEY, C. 2001).
Melzack e Wall (1965), e baseia-se na Tais mecanismos são produzidos por uma
premissa de que um estímulo não doloroso corrente alternada que flui através de um
pode bloquear a transmissão de um cristal piezoelétrico, como um quartzo,
estímulo nocivo ao sistema nervoso alojado dentro de um aparelho. Quando a
central, ou seja, a estimulação de fibras corrente alternada passa através do cristal
espessas (por exemplo, fibras A-alfa que piezoelétrico (efeito piezoelétrico inverso),
transmitem a sensação do tato), fecham o resulta na expansão e contração destes
“portão” e impedem que os impulsos cristais (uma vibração), ocorrendo então a
dolorosos (provenientes de fibras delgadas, produção de ondas sonoras de alta
por exemplo, fibras C) cheguem ao freqüência (ultra-som) (STARKEY, C.
sistema nervoso central. Eyzaguirre, C. & 2001; GRIEDER, A., et al 1971). Segundo
Findone, S. J. (1977), definem a teoria da Starkey, C. (2001), o ouvido humano é
“porta” da dor ou “contra-irritação” como capaz de escutar ondas sonoras que variam
um fenômeno baseado no fato de que a de 16 a 20.000 Hz. Qualquer onda sonora
estimulação mecânica indolor de uma acima desta faixa é considerada ultra-som
região corpórea que acabou de sofrer uma (ESPOSITO, C. J., et al. 1984). A
lesão dolorosa, provoca uma diminuição freqüência do ultra-som terapêutico varia
subjetiva na sensação da dor. Por exemplo, entre 750.000 e 3.000.000 Hz (0,75 a 3
ao levarmos uma pancada na cabeça, MHz).
automaticamente massageamos a região A freqüência do ultra-som, possui
com objetivo de aliviar a sensação uma correlação linear com a profundidade
dolorosa. Veremos mais adiante, a na qual a energia é absorvida pelo tecido
importância desta teoria, quando falarmos (TER HAAR, G, 1987), ou seja, a taxa de
do uso do estimulador elétrico absorção aumenta conforme a freqüência
transcutâneo do nervo (TENS). do ultra-som aumenta, por causa da fricção
entre as moléculas que as ondas sonoras
Modalidades Terapêuticas devem superar para passar através dos
tecidos (KITCHEN, S. S. & PATRIDGE,
Dentre os recursos fisioterápicos
C. J., 1990). Em outras palavras, quanto
disponíveis, apresentam-se ultra-som,
maior a freqüência, mais superficial é o
estimulação elétrica transcutânea do nervo
efeito.
(TENS), termoterapia (frio e calor),
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 3

Como dito anteriormente, o ultra- resultados mostraram uma redução dos


som produz efeitos térmicos e não- sintomas da disfunção em 82% dos
térmicos no organismo (TER HAAR, G., pacientes. Os autores concluíram que o uso
1999). De acordo com Starkey, C. (2001), do ultra-som possui mais sucesso quando
os efeitos não térmicos seriam alterações utilizado para o alívio dos sintomas
dentro dos tecidos, resultantes do efeito musculares do que dos sintomas
mecânico da energia ultra-sônica. Tais associados com o complexo disco-côndilo.
efeitos seriam aumento da permeabilidade Em um estudo em 100 pacientes com
da membrana celular (GRIEDER, A., et al sintomas de disfunção temporomandibular,
1971), aumento da permeabilidade Grieder, A. et al. (1971), observaram que o
vascular, secreção de substâncias ultra-som sozinho não foi efetivo no alívio
quimiotácteis, aumento do fluxo dos sintomas, entretanto, quando utilizado
sanguíneo, aumento da atividade em adjunto à outras modalidades tais
fibroblástica, estimulação da fagocitose, como, terapia por placas oclusais e
redução de edema, síntese de colágeno, exercícios terapêuticos, o mesmo pode ser
difusão de íons e regeneração de tecido. Já benéfico, acelerando e efetivando o alívio
os efeitos térmicos, são alterações no dos sintomas.
tecido, que resultam da elevação da
temperatura tecidual provocada pela Estimulador Elétrico Transcutâneo do
passagem do ultra-som através dos tecidos. Nervo (TENS)
Como exemplos destes efeitos temos
A Estimulação Elétrica Transcutânea
aumento da velocidade de condução do
do Nervo (TENS), é o termo utilizado para
nervo sensorial e motor, aumento da
descrever uma modalidade
extensibilidade de estruturas ricas em
eletroterapêutica empregada no controle da
colágeno, aumento da deposição de
dor, implicando assim em uma corrente
colágeno, aumento do fluxo sanguíneo
que, através da pele, possui intensidade
(GRIEDER, A., et al 1971), redução do
suficiente para provocar a despolarização
espasmo muscular, aumento da atividade
dos nervos sensoriais e motores
dos macrófagos e melhora da adesão dos
(STARKEY, C. 2001). Dependendo dos
leucócitos a células endoteliais danificadas
parâmetros utilizados durante o
(TER HAAR, G., 1999; STARKEY, C.
tratamento, a estimulação elétrica pode
2001).
reduzir a dor ativando o mecanismo de
O uso do ultra-som está indicado nas
portão de controle ou liberando opiáceos
situações onde ocorrem contraturas
endógenos (BLACK, R. R., 1986). A
musculares, espasmos musculares
TENS diminui a percepção da dor pelo
(GRIEDER, A., et al 1971), pontos
paciente, reduzindo a condutividade e a
gatilhos, condições inflamatórias agudas e
transmissão dos impulsos dolorosos das
crônicas (STARKEY, C. 2001). A terapia
pequenas fibras de dor (fibras C) para o
deve ser interrompida em caso de
SNC. Quando afeta as grandes fibras
desconforto (ESPOSITO, C. J., et al.
motoras, a TENS pode interferir no padrão
1984).
normal de proteção do músculo (espasmo
Esposito, C. J. et al. (1984),
muscular), reduzindo ainda mais os
utilizaram o ultra-som para tratar 28
estímulos dolorosos (STARKEY, C.
pacientes com a Síndrome da Dor-
2001).
Disfunção Miofascial, os quais não
Com relação ao fluxo sanguíneo,
responderam significativamente ao
Indergand, H. J. & Morgan, B. J. (1994)
tratamento com placas oclusais. Os
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 4

afirmam que a aplicação da TENS no nível Møystad, A. et al (1990) avaliaram o


sensorial e no nível motor não aumenta, de efeito do TENS em 19 pacientes com dor
forma significativa, o fluxo sanguíneo, na orofacial e doença reumática envolvendo a
verdade ela pode provocar leve articulação temporomandibular. Foi
vasoconstrição. utilizado o TENS de alta e de baixa
A TENS pode ser de alta freqüência, freqüência, obtendo-se efeito significante
a qual atua a nível sensorial, ativando o dos tratamentos relativos à dor durante a
portão modulador da dor no nível da função e repouso e sensibilidade articular e
medula espinhal, e de baixa freqüência, muscular. Os autores concluíram que o
atuando a nível motor, em razão da TENS é um método de tratamento simples
liberação de β– endorfinas (STARKEY, C. e não invasivo que pode ser recomendado
2001). aos pacientes com doença reumática
O alívio da dor também pode ser envolvendo a articulação
conseguido por fatores psicológicos temporomandibular.
derivados unicamente dos efeitos ARANA, A. R. S., et al. (2002)
neurofisiológicos ou dos efeitos somados a avaliaram o TENS no tratamento da
eles (WALSH, D. M. et al 1995; incoordenação do complexo côndilo-disco
WIDERSTROM, E. G. et al 1992). da ATM. Foram selecionados dez
A TENS é indicada para controlar a pacientes que apresentavam ruídos e dores
dor crônica, a dor pós-cirúrgica, bem como articulares. Nos primeiros trinta dias os
para redução da dor aguda pós-traumática pacientes recebiam um aparelho oclusal
(BELL, W. E. 1990; STARKEY, C. 2001). plano. Após esse período, um aparelho
Ela está contra-indicada no caso de dor de reposicionador de disco foi aplicado. Ao
origem central e/ou desconhecida final, os pacientes foram tratados com
(STARKEY, C. 2001). TENS. Após a avaliação, os autores
Black, R. R. (1986), observou o concluíram que associação de aparelhos
alívio da dor em um significante número oclusais planos e reposicionadores de
de pacientes com Síndrome da Dor- disco com o TENS causa um efeito
Disfunção Miofascial, os quais foram benéfico ao paciente, possivelmente em
tratados com o TENS, concluindo que o função da melhoria na coordenação
mesmo, é um útil adjunto à maioria dos neuromuscular do aparelho
tratamentos convencionais, parecendo estomatognático.
relaxar os músculos da mastigação e
aliviar a dor. Agentes Térmicos (Crioterapia e Calor)
Bevilaqua-Grosso, D. et al. (2002),
¾ Crioterapia
relataram o caso de uma paciente a qual
Termo utilizado para descrever a
apresentava-se com fraqueza do músculo
aplicação das modalidades de frio que têm
masseter direito, evidenciada pelo exame
uma variação de temperatura de 0ºC a
eletromiográfico. Tal condição causava
18,3ºC. Os efeitos locais da aplicação do
desvio para o lado direito durante abertura
frio incluem vasoconstricção, diminuição
da boca. Para o tratamento desta condição,
da inflamação e da dor, redução do
foi utilizado o TENS. Após o tratamento
espasmo muscular e diminuição da taxa
foi observado aumento da atividade
metabólica (em conseqüência da
muscular do masseter direito durante a
necessidade reduzida de oxigênio, pois um
função e o desaparecimento do desvio
ambiente frio diminui a taxa metabólica
mandibular, mostrando a efetividade desta
celular, conseqüentemente, reduzindo a
modalidade de tratamento.
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 5

quantidade de oxigênio necessária para indicações para a aplicação do calor como


sobrevivência das células. Ao diminuir o agente terapêutico (STARKEY, C, 2001).
número de células destruídas pela falta de
oxigênio, limita-se o grau de lesão Exercícios Terapêuticos
decorrente de hipóxia secundária. Menos
Os exercícios terapêuticos são
células sofrendo danos de hipóxia
freqüentemente utilizados como adjuntos
secundária, menor quantidade de
para aumentar a amplitude de movimento
mediadores inflamatórios são liberados na
devido a hipomobilidade e para estabilizar
área, contendo a área da lesão)
a articulação com hipermobilidade
(STARKEY, C, 2001).
(MANNHEIMER, 1995). Qualquer
A crioterapia está indicada em
programa de exercícios terapêuticos tem
situações de inflamação aguda, dor
como objetivo final, a aquisição de
(GREENE, C. S., 1992; FEINE, J. S. et al,
movimento e função livres de sintomas
1997), edema pós-cirúrgico (FEINE, J. S.
(KISNER, 1992). Este tipo de terapia pode
et al, 1997),espasmo muscular, restauração
ser iniciado para auxiliar o
da amplitude de movimento e em conjunto
restabelecimento de uma função
com exercícios de reabilitação
mandibular normal (OKESON, 1992), e há
(STARKEY, C, 2001).
muito tempo, tem sido utilizado no
¾ Calor tratamento das desordens músculo-
Os métodos de aplicação do calor ao esqueléticas (HARGREAVES &
corpo podem ser divididos em superficiais WARDLE, 1983). A fisioterapia, também
(lâmpadas infravermelhas – aquecem pode ser utilizada, com efeito positivo, no
praticamente apenas a epiderme – indicada alívio da dor e na restauração da função,
também em lesões de nervos periféricos; em pacientes que foram submetidos a
compressas quentes úmidas (HOU, C. R., cirurgias da articulação
et al. 2002); banhos de parafina e turbilhão temporomandibular (ATM) (OH, D. W.,
e/ou imersão aquecidos) e profundos KIM, K. S., LEE, G. W., 2002). De acordo
(diatermia de ondas curtas e ultra-som). Os com Kisner (1992) os efeitos positivos do
efeitos locais da aplicação de calor são exercício terapêutico incluem prevenção
vasodilatação (DANZIG, W. N. & VAN das disfunções, assim como
DYKE, A. R., 1983; OKESON, J. P. desenvolvimento, melhora, restauração ou
1992), aumento da taxa de metabolismo manutenção da normalidade de: 1) força;
celular, aumento da permeabilidade 2) resistência à fadiga; 3) mobilidade e
capilar, aumento da drenagem linfática e flexibilidade; 4) relaxamento; 5)
venosa, remoção de resíduos metabólicos, coordenação e habilidade.
aumento da elasticidade dos ligamentos, Segundo Zeno, et al. (2001) um
cápsulas e músculos, analgesia e sedação programa de exercícios caseiros para
dos nervos, redução do tônus muscular e controle neuromuscular deve ser
aumento da velocidade de condução empregado para reduzir as visitas clínicas,
nervosa (STARKEY, C, 2001). e, portanto, diminuir o custo total do
Redução da dor crônica (GREENE, tratamento para o paciente. Um programa
C. S., 1992), quadros inflamatórios de exercícios para pacientes com
crônicos, espasmo muscular crônico, Disfunção Temporomandibular (DTM)
amplitude de movimento reduzida e pode ser benéfico àqueles pacientes que
redução de contraturas articulares são não apresentaram melhora somente com o
tratamento convencional.
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 6

Agentes e métodos físicos São exercícios ativos na qual uma


(fisioterapia) são utilizados para aliviar a contração muscular mecânica ou estática é
dor e auxiliar na restauração da função resistida por uma força externa. Têm como
normal depois da doença ou lesão. A objetivo, aumentar a força, potência e a
natureza conservadora e reversível desse resistência muscular à fadiga. Kisner
tipo de tratamento também foi uma razão (1992) definiu os três tipos de exercícios
conclusiva para seu uso na odontologia resistidos: 1) exercício resistido isotônico
(Mohl, et al., 1989). Para o sistema (exercício que é executado contra
mastigatório, três tipos de exercícios são resistência, à medida que o músculo se
recomendados: 1) exercícios para restringir alonga (excêntrico) ou encurta
a função muscular; 2) exercícios para (concêntrico) na amplitude de movimento
aumentar a variação de movimento existente (Fig. 2)); 2) exercício resistido
(exercícios isotônicos); 3) exercícios para isocinético (exercício executado em
aumentar a força muscular (exercícios movimento constante); 3) exercício
isométricos). O maior inconveniente do resistido isométrico (forma estática de
uso da terapia de exercícios é o fracasso exercício, que ocorre quando um músculo
em motivar o paciente adequadamente, o se contrai sem mudança apreciável no seu
que pode levar a problemas na cooperação comprimento, ou sem movimento articular
do paciente (Mohl, et al., 1989). visível).
A seguir serão ilustrados os tipos de
exercícios terapêuticos disponíveis para o
uso na odontologia.
¾ Exercícios Ativos Sem
Resistência
São exercícios que exigem pouca
força ativa dos músculos. São executados
dentro dos limites indolores de movimento
e podem ajudar a manter a função normal e
o fluxo sangüíneo nos músculos
(OKESON, 1992). (Fig.1)
Fig. 2. Exercícios resistidos. O paciente é
instruído a abrir a boca, contra a resistência advinda
do punho, localizado abaixo do queixo. Este
exercício promoverá um relaxamento dos músculos
elevadores, favorecendo assim, um aumento na
abertura mandibular.
¾ Alongamento Passivo Manual
São exercícios produzidos
inteiramente por uma força externa, não
havendo contração muscular voluntária.
Esta força externa pode ser advinda da
Fig. 1 – Exercícios ativos sem resistência. O gravidade, de um aparelho, de outra pessoa
paciente é orientado a abrir a boca com o ápice da (terapeuta) ou do próprio paciente
língua tocando, permanentemente, o palato. Este (KISNER, 1992). São indicados quando há
tipo de exercício pode ser utilizado em pacientes necessidade de recuperação do
com movimentos disfuncionais da mandíbula.
comprimento muscular (OKESON, 1992).
¾ Exercícios Resistidos
(Fig. 3)
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 7

disco anterior sem redução. Após a


avaliação final os autores concluíram que a
terapia medicamentosa teve uma influência
positiva sobre o resultado do tratamento
dos pacientes com deslocamento do disco
sem redução. Com a análise dos dois
estudos, podemos observar que a utilização
da terapia por exercícios, possui um
significante papel no tratamento de
pacientes que apresentam tal tipo de
disfunção.
Fig. 3 – Alongamento Passivo Manual. Este Analisando o uso dos exercícios em
exercício é utilizado para recuperar o comprimento relação ao tratamento da osteoartrite da
normal dos músculos. O paciente deve colocar os
dedos indicadores na região de caninos superiores,
articulação temporomandibular, Nicolakis,
e os polegares na região dos incisivos inferiores, et al., (2001) (2002), realizaram dois
aplicando um alongamento suave e intermitente aos estudos. No primeiro (NICOLAKIS, et al,
músculos elevadores. Não deve haver dor durante 2001), avaliaram, a curto prazo, o uso do
os movimentos. tratamento protocolo (movimentos
Vários são os estudos que avaliaram mandibulares ativos e passivos, técnicas de
a eficácia dos exercícios terapêuticos como terapia manual, correção da postura
terapia de suporte nas Disfunções corporal e técnicas de relaxamento). Após
Temporomandibulares (AU & o tratamento, a dor, a deterioração e a
KLINENBERG, 1993; NICOLAKIS, distância interincisal durante a abertura,
2001; NICOLAKIS, et al., 2001; melhoraram significativamente. Os autores
NICOLAKIS, et al., 2002; STIESCH- concluíram, neste primeiro estudo, que
SCHOLZ, et al., 2002; GRACE, et al., este protocolo de tratamento parece ser útil
2002). Discutiremos a seguir, a utilização no tratamento dos sintomas de disfunção
da terapia por exercícios, nas variadas clínica nas osteoartrites da articulação
situações clínicas. temporomandibular. Em um segundo
Com relação ao deslocamento do estudo, Nicolakis, et al., (2002) avaliaram,
disco sem redução, Nicolakis (2001), em longo prazo, o resultado das
avaliou a efetividade da terapia por modalidades de tratamento, utilizando um
exercícios, a qual, tinha como objetivo estudo prévio (NICOLAKIS, et al., 2001)
melhorar a coordenação dos músculos da que obteve 90% de sucesso em curto prazo
mastigação, reduzir o espasmo muscular e utilizando as terapias manual e por
alterar o padrão de fechamento exercícios. Após a análise dos resultados,
mandibular. Ao final do estudo, os autores os autores concluíram que uma
concluíram que a terapia por exercícios combinação da terapia manual e por
aliviou a dor mandibular, a restrição dos exercícios, correção da postura corporal e
movimentos e a deterioração, parecendo técnicas de relaxamento parecem ser úteis
ser útil no tratamento para o deslocamento no tratamento da osteoartrite da articulação
anterior do disco sem redução. Já Stiesch- temporomandibular.
Scholz, et al., (2002), avaliaram a Au & Klinenberg (1993), analisando
influência da terapia médica e física, sobre a utilidade dos exercícios isocinéticos em
o resultado a longo prazo do tratamento 22 indivíduos, os quais apresentavam
em 72 pacientes com deslocamento de estalido da ATM, relataram que o estalido
em adultos jovens é de origem,
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 8

predominantemente, neuromuscular e pode indivíduos com artrite reumatóide,


ser uma condição reversível, que pode ser concluindo que, o treinamento físico pode
tratada com sucesso utilizando-se um ser útil no tratamento de indivíduos com
regime de exercícios conservadores. Tal artrite reumatóide e espondilite
fato pode ser explicado por Hargreaves & anquilosante.
Wardle (1983), os quais observaram que, O aumento da força e a resistência
se a musculatura está relaxada, então a dos músculos temporal anterior e masseter
coordenação do movimento ocorrerá superficial, foi avaliado por Thompson, et
normalmente, facilitando os movimentos al., (2001), utilizando o treinamento
do disco e, portanto, eliminando o estalido isométrico. Os estudos indicaram que o
da articulação, o qual também, pode estar aumento da força máxima de fechamento
acompanhado de movimentos de desvio pode ser facilmente produzido com
(anticonvencionais). Entretanto, Horne & treinamento, mas o fortalecimento dos
Rugh (1980), observando o efeito dos músculos mandibulares é mais difícil de se
exercícios mandibulares sobre o padrão de alcançar. Segundo os autores, as razões
fechamento mandibular, sugeriram, após para a dificuldade em demonstrar o
os resultados do estudo, que o sucesso fortalecimento, neste estudo, foram as
atribuído a este tratamento no estalido da seguintes: os exercícios podem não ter sido
ATM, pode ser resultado de um padrão de de intensidade suficiente o bastante para
fechamento mandibular mais retruído. induzir uma hipertrofia muscular; e a
A utilização dos exercícios magnitude da força gerada durante os
terapêuticos na DTM muscular foi exercícios isométricos pode ser
avaliada por Grace, et al., (2002). O estudo influenciada pela percepção subjetiva.
avaliou a efetividade de um dispositivo A terapia por exercícios, há muito
vertical de exercício. Quarenta e cinco tempo, tem sido utilizada no tratamento
pacientes com diagnóstico primário de das desordens músculo-esqueléticas. Esta
DTM muscular foram divididos em 3 modalidade de tratamento possui natureza
grupos de tratamento. Os autores relataram conservadora e reversível, e pode ser
que os três grupos apresentaram utilizada, tanto para aliviar a dor, quanto
significantes melhoras clínica e subjetiva, para auxiliar na restauração da função
não diferindo, significativamente, entre os normal depois da doença ou lesão do
mesmos, na melhoria dos pacientes. aparelho estomatognático, ou até mesmo,
Porém, todos os grupos utilizavam a na reabilitação dos pacientes que sofreram
terapia por exercícios, variando a procedimento cirúrgico envolvendo a
utilização de um dispositivo vertical de ATM. Estes exercícios podem, também,
exercício, e não, a terapia por exercícios ser utilizados com sucesso no tratamento
em si. Isto pode explicar a ausência da das disfunções neuromusculares, no
diferença entre os grupos estudados. deslocamento anterior do disco sem
Analisando o efeito em curto prazo redução e no tratamento dos sintomas de
do treinamento físico sobre as desordens disfunção clínica nas osteoartrites da
articulares em indivíduos com artrite articulação temporomandibular, tanto a
reumatóide e espondilite anquilosante, curto, quanto em longo prazo. Um
Tegelberg & Kopp (1988), observaram que programa de exercícios para pacientes com
em curto-prazo, o treinamento físico Disfunção Temporomandibular (DTM)
melhorou a mobilidade mandibular nos pode ser benéfico àqueles pacientes que
indivíduos com tais distúrbios e reduziu a não melhoraram somente com o
extensão da disfunção clínica nos tratamento convencional, com a vantagem
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 9

de reduzir as visitas clínicas, e portanto, paciente.


diminuir o custo total do tratamento para o

Tabela 1. Estudos utilizando a terapia por exercícios na DTM articular.


Estudo Condição Tipo de Terapia Resultado
Alívio na dor e
Deslocamento Exercícios ativos e passivos,
Nicolakis et al., melhora na
anterior do disco correção da postura corporal e
(2001a) restrição dos
sem redução técnicas de relaxamento
movimentos

Aproximadamente
Au & 82% dos pacientes
Deslocamento do
Klinenberg, Exercícios isocinéticos não apresentavam
disco com redução
(1993) estalido ao final
do tratamento

Tratamento protocolo que


Melhora na dor,
inclui movimentos
Osteoartrite da na deterioração e
Nicolakis et al., mandibulares ativos e passivos,
articulação na distância
(2001b) técnicas de terapia manual,
temporomandibular interincisal
correção da postura corporal e
durante a abertura
técnicas de relaxamento

Melhora na
mobilidade
Artrite reumatóide e mandibular nos
Tegelberg & Exercícios sem resistência,
espondilite indivíduos;
Kopp, (1988) exercícios contra-resistência
anquilosante redução da
extensão da
disfunção clínica

Tabela 2. Estudos utilizando a terapia por exercícios na DTM muscular.


Estudo Condição Tipo de Terapia Resultado

Em três grupos foram aplicadas Os três grupos


diferentes formas de terapia, apresentaram
Grace et al.,
DTM muscular porém em todos havia a significante
(2002)
presença de exercícios melhora clínica e
terapêuticos subjetiva

Os sintomas e a
restrição aos
Exercícios ativos e passivos,
Nicolakis et al., movimentos
Dor Miofascial correção da postura corporal e
(2002b) foram
técnicas de relaxamento
significantemente
aliviados
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 10

Aumento da
Aumento da força e
força de
da resistência dos Grupo experimental:
Thompson et al., fechamento e da
músculos temporal exercícios;
(2001) resistência à
anterior e masseter Grupo controle: sem exercícios
fadiga no grupo
superficial
experimental

A Disfunção Temporomandibular
(DTM) possui um caráter multifatorial,
Biofeedback condição tal, que pode por vezes, dificultar
tanto o seu diagnóstico, como também o
Consiste em “penetrar” nos
seu tratamento. Devido à etiologia
processos fisiológicos do corpo,
multifatorial, um tratamento
amplificando a atividade elétrica corpórea
multidisciplinar deve ser proposto,
pela unidade de biofeedback (utilizando
envolvendo as diversas áreas da saúde.
eletrodos instalados superficialmente),
Recursos fisioterápicos tais como, ultra-
sendo a mesma convertida em sinais
som, estimulador elétrico transcutâneo do
auditivos e visuais que o paciente pode
nervo (TENS) e os agentes térmicos, são
usar para modelar uma nova atividade.
utilizados com sucesso no tratamento de
Quando o biofeedback é utilizado
desordens em outras áreas do organismo,
para monitorar contrações musculares, o
desordens estas, similares às disfunções
que está sendo medido é a atividade
que acometem a articulação
elétrica associada com a contração, e não a
temporomandibular. Portanto, os mesmos
real força de contração.
podem ser utilizados no tratamento das
Possui como objetivos, monitorar o
disfunções temporomandibulares, em
processo fisiológico, medir o processo
conjunto às outras modalidades
objetivamente e converter o que está
terapêuticas. Deve ficar claro, que os
sendo monitorado em retroalimentação,
recursos citados neste capítulo, não devem
aperfeiçoando os efeitos desejados.
ser utilizados isoladamente no tratamento
As respostas do corpo ao
de tais desordens, e sim, como
biofeedback podem ser utilizadas para
modalidades terapêuticas coadjuvantes,
auxiliar o desenvolvimento da força das
devendo o Cirurgião-Dentista estar ciente
contrações musculares, facilitar o
tanto dos seus benefícios, quanto do
relaxamento muscular, controlar a pressão
momento ideal da sua indicação.
arterial e a freqüência cardíaca e diminuir
a manifestação física do estresse Bibliografia Consultada
emocional.
O biofeedback pode ser utilizado AMSO, N. N. Applications of therapeutic
para informar ao paciente uma atividade ultrasound in medicine. Ultrasonics
aumentada nos músculos temporal e Sonochemistry, v.1, n.1, p.69-71, 1994.
masseter durante hábitos parafuncionais ARANA, A. R. S., et al. Influência da
tais como bruxismo e apertamento neuroestimulação elétrica transcutânea
(MANNHEIMER, J. S., 1995). (TENS) no tratamento de incoordenação
do complexo côndilo-disco.
Considerações Finais
Condutas Terapêuticas Fisioterápicas Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 11

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the management of temporomandibular temporomandibular joint disk


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ESCOLAS DE OCLUSÃO
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2005

Na Odontologia existem várias


correntes de opinião, dentre as quais Seus principais adeptos são Pankey,
destacamos: Mann, Schuyler, Beyron e Dawson que
¾ Escola de oclusão Balanceada preconizam uma oclusão com as seguintes
Bilateral, características: teoria esférica de Monson,
¾ Escola de oclusão Gnatológica trajetória funcionalmente gerada de Meyer,
(mutuamente protegida), contato oclusal coordenado e estático de
¾ Escola de oclusão Balanceada um número máximo de dentes em RC,
unilateral, guia anterior de Schuyler, conceito de
¾ Escola de oclusão Escandinávica. cêntrica longa, função em grupo e
desoclusão em balanceio.
Escola de oclusão Balanceada Bilateral
Escola de oclusão Escandinávica
Seus principais adeptos são
Mc’Collun, Stuart e Stallard que Baseia-se na análise fisiológica da
preconizam uma relação harmoniosa das oclusão e respeito à biologia, não inclui
superfícies oclusais e incisais de todos os nenhuma técnica restauradora especifica,
dentes em todas as posições cêntrica e busca uma oclusão funcional. Para cada
excêntricas, dentro da variação funcional caso sistematiza a técnica restauradora
da mastigação e deglutição. necessária e conservadora da estrutura
dental.
Escola de oclusão Gnatológica (oclusão
orgânica ou mutuamente protegida) Pontos comuns entre as escolas de oclusão

Seus principais adeptos são 9 Eliminar contatos prematuros ou


Mc’Collum, Stuart, Stallard, Jankelson, deflectivos em cêntrica
Schuyler, D’amico e Thomas que 9 Máximo contato simultâneo com
preconizam uma oclusão com as seguintes distribuição de força no longo eixo dos
características: relação cêntrica de oclusão, dentes
contato oclusal bilateral em RC 9 Guia anterior
(estabilidade oclusal), intercuspidação 9 Ausência de contatos no lado de
cúspide x fossa (um dente contra um balanceio
dente), direcionamento das forças no longo 9 Contrárias ao ajuste oclusal realizado
eixo dos dentes, cêntrica justa profilaticamente
(tripoidismo), guia canina de D’amico,
guia anterior de Schuyler e mesa oclusal Considerações Finais:
estreita.
Após o entendimento e análise de
Escola de oclusão Balanceada unilateral todas as escolas, é licito concluir que em
Escolas de Oclusão Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004 151

uma reabilitação bucal deve-se considerar: restabelecer uma oclusão fisiológica


¾ Posição de relação cêntrica: durante o tratamento oclusal.
É aceitável e conveniente para Bibliografia Consultada
realizar trabalhos restauradores com os
côndilos em posição estável e reproduzível CHRISTENSEN, C. The problem of the
na fossa mandibular do osso temporal, em bite. Dent. Cosmos, 47:1184, 1905.
completa harmonia com o disco articular e D’ AMICO A. The canine teeth. South
com o máximo de contato oclusal simul- Calif Dent Assoc J, 26:1, 1958
tâneo e bilateral, com distribuição das for- GUICHET, N. F. Occlusion. Anaheim,
ças no longo eixo dos dentes posteriores. California, The Denar Corporation,
¾ Posições excêntricas 1977.117p.
• Protrusão POKORNY, D. K. & BLAKE, P. B.
Guia anterior de Schuyler é efetiva Principles of Occlusion. Detroit:
com a desoclusão dos dentes posteriores. University of Detroit, s.d
• Lateralidade de trabalho POSSELT, U. Physiology of Occlu-sion
Guia canina de D’amico ou função and Rehabilitation. Philadelphia, FA
em grupo na dependência da necessidade Davis, 1962.
ou característica do paciente. SENCHERMAN, G. et. al. Manual sobre
• Lateralidade de balanceio neurofisiologia de la oclusion. Bogota,
Não deve haver nenhum contato Pontificia Universidad Javeriana, 1975. 66
dentário. p.
Observamos assim que o objetivo
final dessas várias correntes de opinião é
LIGAS METÁLICAS DE USO ODONTOLÓGICO
Prof. Dr. Alfredo Júlio Fernandes Neto et al. 2004

As ligas metálicas de uso freqüentemente, de acordo com o


Odontológico são classificadas como: quilate ou permilagem da liga:
A- Ligas à base de metais Define-se o Quilate de uma liga
nobres (preciosos ou áureos), de ouro como sendo o número de
1. Ligas com alto conteúdo de ouro, partes de ouro que existe em 24
2. Ligas com baixo conteúdo de ouro. partes da liga.
B- Ligas à base de metais não Define-se a Permilagem de uma
nobres (não preciosos ou não áureos). liga de ouro como sendo o número de
1. Ligas à base de prata, partes de ouro que existe em 1.000
2. Ligas à base de paládio, partes da liga.
3. Ligas à base de cobre, Exemplo:
4. Ligas à base de estanho, Se: 24 Quilate é = 1000 Permilagem,
5. Ligas à base de níquel, 20 Quilates = X Permilagem ,
6. Ligas à base de cobalto. 24 1000
Características fundamentais de- 20.000 : 24 X = 833,33 Permilagem
sejadas de uma liga metálica:
¾ Não serem tóxicos ao paciente e Classificação das ligas de metais
ao profissional, nobres de uso Odontológico:
¾ Apresentar propriedades físicas e
Tipo metais do dureza Vickers
químicas tais que impeçam a cor- grupo do (amaciada)
rosão, desintegração, oxidação ou ouro ou
perda de brilho no meio bucal, platina (%
¾ Facilidade técnica que possibilite mínima) mínimo máximo
ao dentista obter restaurações com I (moles) 83 50 90
recursos habituais de um II 78 90 120
(médias)
laboratório de prótese, III (duras) 78 120 150
¾ Propriedades físicas satisfatórias e IV (extra 75 150 acima de
apropriadas a qualquer tipo de dura) 150
trabalho restaurador,
¾ Metais, ligas e materiais associa- Características básicas das ligas de
dos para fabricação, abundantes, metais nobres Tipo I ( moles )
relativamente baratos de fácil ob- 9 Dureza Brinell: 40 a 74
tenção. 9 Alongamento: 18 %
9 Componentes: ouro, prata e cobre
A- Ligas à base de metais nobres 9 Muito dúctil
(preciosos ou áureos): 9 Não passível de tratamento
térmico
A.1- Ligas à base de metais
9 Intervalo de fusão entre: 950 a
nobres (preciosos ou áureos): com
1050º C
alto conteúdo de ouro:
O conteúdo de ouro em uma liga
odontológica é estimado, Características básicas das ligas de
metais nobres Tipo II ( médias )
Ligas Metálicas de uso Odontológico Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2
2004

9 Dureza Brinell: 70 A 100 I 80,2 2,4 1,6 0,0 0,0 0,0


9 Alongamento: 12 % a a a a a a
95,8 12,0 6,2 3,6 1,0 1,2
9 Componentes: ouro, prata, cobre,
II 73,0 6,9 5,8 0,0 0,0 0,0
paládio e platina a a a a a a
9 Coloração: claras e escuras 83,9 14,6 10,5 5,6 4,2 1,4
9 Passível de tratamento térmico III 71,0 5,2 7,1 0,0 0,0 0,0
endurecedor a a a a a a
9 Intervalo de fusão entre: 930 a 79,8 13,4 12,6 6,5 7,5 2,0
IV 62,4 8,0 8,6 0,0 0,2 0,0
970º C
a a a a a a
71,9 17,4 15,4 10,1 8,2 2,7
Características básicas das ligas de American Dental Association
metais nobres Tipo III ( duras )
A influência dos metais componentes
9 Dureza Brinell: 90 A 140 (ama- sobre as propriedades das ligas:
ciadas)
9 Alongamento: 12 % (amaciadas) Ouro - Au
9 Componentes: a maior quantidade • É o elemento principal da liga,
de paládio e platina permissível • Aumenta a resistência à oxidação
9 Mais resistentes e duras que os e à corrosão,
tipos I e II • Aumenta a ductibilidade e a ma-
9 Coloração: amarelo claro leabilidade ,
9 Passível de tratamento térmico • Aumenta o peso específico,
endurecedor • número de átomos de ouro deve
9 Intervalo de fusão entre: 900 a ser, no mínimo, igual ao dos áto-
970º C mos de metais básicos,
• conteúdo de ouro deveria ser de
Características básicas das ligas de
no mínimo 75% em peso,
metais nobres Tipo IV ( extra duras )
• A platina e o paládio podem subs-
9 Dureza Brinell: 150 (amaciadas) tituir o ouro dentro de determina-
9 Alongamento: 10 % (amaciadas) dos limites, como é indicado na
9 Componentes: Au, Ag, Cu, Pt, Pl, respectiva norma da American
Zn. Dental Association.
9 Maior quantidade de cobre, menor Prata - Ag
temperatura de fusão • Aumenta a ductibilidade, particu-
9 Mais resistentes e duras que os larmente na presença da platina,
tipos I, II e III • Embranquece a liga, podendo
9 Coloração: amarelo claro melhorar a coloração avermelhada
9 Passível de tratamento térmico atribuída ao cobre,
endurecedor • Pode influir no tratamento térmico
9 Temperatura de fusão entre: 870º da liga, quando em combinação
C com o cobre.
Limites de composição, em por- Cobre - Cu
centagem, de ligas nobres (com alto • Aumenta a resistência à dureza, (a
conteúdo de ouro) para fundições dureza Brinell do ouro que é 32
odontológicas: poderá com a adição de 4% de
cobre aumentar para 54, porém o
Componentes ( % )
limite máximo de adição de cobre é
Tipo Au Ag Cu Pd Pl Zn de 20%),
Ligas Metálicas de uso Odontológico Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 3
2004

• Influi no tratamento térmico endu- • Reage com o cobre e produz um


recedor (T.T.E.) em combinação tratamento térmico endurecedor
com Au., Pl., Pd., (há necessidade bastante eficaz.
de mais de 4% de cobre ), Paládio - Pd
• Diminui a resistência à oxidação e • Substitui a platina com menor
corrosão, custo,
• Reduz a zona de fusão da liga, • Aumenta a temperatura de fusão,
• Dentro de certos limites aumenta a • Aumenta a resistência, a dureza,
ductibilidade, em combinação a • Eficaz no tratamento térmico
outros metais como o ouro, endurecedor,
• Dá coloração avermelhada à liga. • Embranquece totalmente a liga em
Platina - Pl porcentagem de 5 a 6%,
• Aumenta a resistência à oxidação • Diminui o peso específico da liga.
e corrosão, Zinco - Zn
• Aumenta a dureza, • Agente anti-oxidante,
• Eleva a zona de fusão, o que limita • Aumenta a fusibilidade em
o seu uso em 3 ou 4%, combinação com óxidos presentes,
• Embranquece, • Reduz a zona de fusão.

Propriedades das ligas nobres com alto conteúdo de Au:


Ligas nobres: alto Tipo I (mole) Tipo II Tipo III Tipo IV (extra Cerâmico
conteúdo de ouro (média) (dura) dura)
Densidade: g/cm3 16,9 13,9 13,8 13,7 14,2
Revestimento à gesso gesso gesso gesso Fosfato
base de:
Inclusão: Anel metál. Anel metál. Anel metál. Anel metál. Anel metál.
fol. amiant. fol. amiant. fol. amiant. fol. amiant. fol. Amiant.
Temperatura do 600 a 600 a 600 a 600 a 850 a
anel: 650º C 650º C 650º C 650º C 900º C
Faixa de fusão: 900 a 900 a 900 a 870 a 1045 a
1080º C 930º C 975º C 920º C 1280º C
Maçarico: ar/gás ar/gás ar/gás ar/gás gás/oxigênio
Resfriamento: 15 min. 15 min. 15 min. 15 min. 15 min.
Decapagem: ac. cloríd. ac. Cloríd. ac. Cloríd. ac. Cloríd.
Tratamento térmico não sim sim sim sim
endurecedor:
Dureza Brinell
(Amaciada) 24 a 70 80 a 90 95 a 115 130 a 160
(Edurecida) 115 a 165 210 a 235
Resist. Limite à 21 a 32 32 a 38 34 a 40 42 a 52
tração (100kg/cm2) 42 a 57 70 a 84
Limite de propor- 6 a 10 14 a 18 16 a 21 24 a 33
cionalidade 20 a 41 42 a 64
(100kg/cm2)
Alongamento ( % ) 20 a 35 20 a 35 20 a 25 4 a 25
6 a 20 1a6
Oxidação: 960º C por
5 min.

Temperatura de fusão das ligas É importante conhecer a zona de


odontológicas fusão da liga com a qual está
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2004

trabalhando, visto que no processo de Contração térmica do ouro puro


fundição a mesma deverá ser e de algumas ligas de ouro odonto-
aquecida ligeiramente acima de sua lógicas obtidas a partir da tempe-
zona de fusão, ou de sua respectiva ratura de fusão até a temperatura
temperatura de liquidus. A zona de ambiente:
fusão de uma liga deve ser declarada
pelo fabricante da mesma.
Tratamento térmico (T.T.) Metal Contração térmica
É o recozimento ou tratamento entre TF e 25º C
térmico para a reconstituição da ouro (100 %) 1,76 %
ouro (90%), 2,03 %
solução sólida de uma liga, podendo
prata (10%)
ser: ouro (90%), 1,62 %
A) Tratamento Térmico Amacia- cobre (10%)
dor: é eficiente para provocar uma ouro (90%), 1,91 %
difusão no estado sólido, ou amaciar a níquel (10%)
liga, sendo indicado pela norma n.º 5 COLEMAN, R.L., 1928
da ADA. Técnica: a liga é colocada em
um forno elétrico à temperatura de
700º C, por 10 minutos, sendo então Contração de fundição do ouro e
imerso brusca e rapidamente em de algumas de suas ligas:
água.
B) Tratamento Térmico Endure-
cedor: é eficiente para provocar o
endurecimento da liga. Técnica: a liga Liga Contração de fundição (%)
pode ser resfriada lentamente a partir Au (100%) 1,67
Au 22 K 1,50
da temperatura na qual apresenta-se
Tipo I 1,56
rubra (700º C). Este resfriamento Tipo II 1,37
lento, permite que tenham lugar as Tipo III 1,42
transformações necessárias. Hollenback & Skinner, 1946.
A contração térmica das ligas de
metais nobres (ouro) pode ocorrer em Contração térmica de algumas
três estágios: ligas odontológicas:
1- contração térmica do metal
líquido, quando da temperatura à qual
é aquecido até a temperatura inicial de Ligas Contração (%)
solidificação (liquidus), Au-Ag-Cu 1,48 a 1,53
2- contração que ocorre na Au-Pt 1,49 a 1,72
transformação de estado, ao passar Au-Pd 1,49
de líquido para sólido, Ag-Pd 1,60 a 1,80
Cr-Co 1,70 a 1,79
3- contração do metal já soli-
Gehre, 1967.
dificado, que ocorre ao passar da
temperatura do solidus para a ambi-
ente.

Propriedades das ligas estudadas por Johnson em 1957:


LIGAS Estado Limite.de Resistência Alongamento Dureza Densidade
Proporcio- à Tração (%) Brinell (g/cm3)
nalidade (lb/pol2)
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2004

(lb/pol2)
Ouro Amaciada 57.000 77.000 36 170 17
Amarelo Endurecida 104.000 122.000 9 260
Ouro Amaciada 55.000 69.000 8 150 12
Branco
Co-Cr Fundida 82.000 110.000 7 270 a 300 8,5

Influência da área de super-fície Degubond 4 Degussa S/A., Brasil


do bloco fundido sobre a contra-ção
de fundição: A.2- Ligas à base de metais
nobres (preciosos ou áureos): com
Diâmetro do corpo Contração de baixo conteúdo de ouro:
de prova cilíndrico fundição Limites de composição, em por-
(mm) (pol) % ( percentual) centagem, de ligas nobres (com baixo
3,18 0,125 2,25
conteúdo de ouro) para fundições
6,36 0,250 2,33
9,54 0,375 2,39
odontológicas:

Componentes
As ligas de ouro utilizadas em tipo Pd Cu Ag Au Pt Ni Zn
restaurações metalocerâmicas apre- A 37 25 20 8 5 4 1
sentam problemas de resistência e B 22 31 37 8 1 0 1
fadiga. A Odontologia é a única área COLEMAN, R.L., 1928.
de conhecimento que usa ligas de
ouro para aplicações estruturais. B- Ligas à base de metais não nobres
Existe sempre necessidade de se (não preciosos ou não áureos).
utilizar soldagem na confecção das
próteses múltiplas mesmo que as ligas O critério final sobre o sucesso
de solda não tenham proprie-dades de qualquer material ou técnica é o
mecânicas iguais às ligas fundidas. êxito dos mesmos na boca do
Levando em consideração a paciente. (Skinner & Phillips, 1962).
necessidade de se prover espaço B.1- Ligas à base de metais não
adequado para a limpeza interpro- nobres (não preciosos ou não áureos):
ximal e a manutenção da saúde à base de prata:
periodontal e de evitar o enfraque- Nas ligas de prata paládio evita-
cimento das restaurações metalo- se a adição de cobre por este
cerâmicas, torna-se necessário o provocar uma série de reações quí-
seguinte: micas complexas que impedem os
1- ligas mais resistentes que as efeitos do Pd e permitem a formação
de ouro em uso, de sulfeto de prata. Enquanto que o
2- fundição em uma só peça ou sistema prata-paládio é normalmente
melhorar as soldas, uma estrutura de fase única, o cobre
3- reduzir a espessura do opaco produz uma estrutura de duas fases.
para 0,1 mm. Ligas de Prata/Esta- Prata/Paládio
Prata nho Ag/Sn Ag/Pd
Densidade:
Revestimento Gesso gesso
Marcas comerciais: Fabricantes: à base de:
Degulor Degussa S/A., Brasil Inclusão: Anel metálico Anel metálico
Stabilor Degussa S/A., Brasil Folh. amianto Folh. amianto
Degudent Degussa S/A., Brasil Temperatura 180º C 180º C
(cerâmico) do anel:
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Faixa de 700 a 800º C 700 a 800º C Primalloy Degussa S/A., Brasil


fusão: Ag/Sn/Pd
Maçarico: gás/ar gás/ar Palliag Degussa S/A., Brasil
Resfriamento: 10 min. após 10 min. após Ag/Pd/Cu
fund. fund. Primalloy Ag/Sn Dentária Brasileira
comércio, S.P.
DFL Ag/Sn Dental fillings do Brasil,
RJ
Superlloy Ag/Sn Laboratório Super, RJ
Imperalloy Laboratório Imperial, RJ
Marcas Fabricantes: Ag/Sn
comerciais:
Argental Ag/Sn. Degussa S/A., Brasil
Argegental H Degussa S/A., Brasil
Ag/Sn/Cu

Propriedades físico-mecânicas de algumas ligas de Ag:


Ligas Comerciais Alonga- Dureza Fusibi- Res. a tra- Contr. de
mento % superficial lidade ção (kg/cm2) fusão %
Superalloy 5,4 94 150 3.760 1,37
Primalloy 0,7 106 120 1.683 1,38
Imperialloy 5,0 121 132 3.684 1,37
DFL 1,61 109 159 2.246 1,39
M3 6,0 107 140 2.910 1,37
Dentsply 2,18 104 147 1.920 1,43
Dent’Art 2,71 123 129 1.244 1,42
Spliteralloy 2,13 94 139 914 1,42
Silverdent 2,6 127 167 2.530 1.42
MONDELLI, J. 1995

B.2- Ligas à base de metais não odontológicas contendo quantidades


nobres (não preciosos ou não áure- relativamente grandes de paládio e
os): à base de PALÁDIO: prata e uma pequena quantidade de
O paládio assemelha-se à plati- ouro podem ser suscetíveis ao tra-
na em resistência, ductibilidade e côr. tamento térmico, pela adição de
Ainda que, de nobreza menor pequenas quantidades de outros
que a platina, a preferência pelo metais como o cobre. Ligas hetero-
paládio como componente de muitas gêneas de duas fases como essas
ligas para fundições odontológicas podem ser menos resistentes à cor-
disponíveis é baseada provavelmente rosão do que os sistemas de fase
em seu menor ponto de fusão, menor única.
custo por unidade de peso e sua Nas ligas de Pd/Ag usualmente
menor densidade. contêm pequenas quantidades de
O Paládio e a prata formam uma metais básicos de baixo ponto de
série contínua de soluções sólidas fusão como o zinco, índio ou esta-nho,
para as quais a ocorrência de para aumentar a fluidez da liga
transformações de fase no estado fundida e assim melhorar as suas
sólido não tem sido demonstrada. propriedades de fundição. O índio e
O Paládio a prata e o ouro estanho também formam um com-
também formam um sistema de fase posto intermediário tanto com o
única que não mostram transfor- paládio como com a prata.
mações no estado sólido. Ligas
Ligas Paládio Paládio Cerâmico Pd/20%Au/Pt Paládio Prata Pd/Ag
Densidade: 11,0 g/cm3 11,0 g/cm3
Revestimento à base fosfato gesso
de:
Inclusão: Anel metálico Anel metálico
Folha de amianto Folha de amianto
Temperatura do anel: 850 a 900º C 650 750º C
Faixa de fusão: 1150 a 1250º C 940 a 1030º C
Maçarico: gás/oxigênio gás/oxigênio
Resfriamento: 15 min. após fundição. 20 min. após fundição.
Decapagem: lave c/ detergente
Alongamento 20 %
Resistência à tração 6.343 Kg/cm2
Tratamento térmico
endurecedor:
Oxidação: a 900º C s/vácuo 5’

Marcas comerciais: Fabricantes: FUSAYAMA et. al. em 1965


Pors-on 4 Pd/Ag Degussa S/A., Brasil testaram a liga Progold que continha
Degupal Pd/Ag Degussa S/A., Brasil 50% de cobre, 45% de zinco e mais
Bond-ON 4 Pd/Ag Degussa S/A., Brasil níquel, cobalto e índio. Na obser-
Will Ceran W 1 Pd/Ag Williams Gold, EUA
vação clínica durante 5 anos reve-
Byron Pd/Ag Nippon Shiken
Dental CO., Ltda, laram boas propriedades mecânicas e
Japão manutenção da cor, porém em alguns
P-20 Pd/Ag/Au ABJ John Sjoding, pacientes produziu gosto metálico na
Noruega boca.
GOMES, A. A. et. al. em 1987,
B.3- Ligas à base de metais não compararam a liga de cobre-alumínio
nobres (não preciosos ou não áure- Duracast MS soldada com uma solda
os): à base de COBRE: para ouro e outra para Duracast MS.
As ligas de Cu/Al são: Os resultados demonstraram que
• difíceis de fundir, quanto à resistência à tração e alte-
• requeimam com facilidade e não ração dimensional linear não houve
se pode reaproveitar as sobras de diferença estatisticamente signifi-
fundições, cante, quanto ao teste de dobra-mento
• tem uma contração maior que as a solda para ouro apresentou valores
ligas de ouro, maiores e estatisticamente
• oxidam na boca e não se sabe significante.
ainda quais os efeitos destes ANDRADE, M. F. et. al. em
óxidos para a saúde dos pacien- 1992, estudaram a resistência à
tes. corrosão de quatro ligas alternativas à
A película superficial de alumínio base de cobre (Duracast, Goldent e
promove excelente resistência à duas experimentais) e concluíram que
oxidação e corrosão em bronze de o processo de refundição acelera a
alumínio que contém de 2 a 5 % da Al, oxidação e corrosão das mesmas.
em alta temperatura.
Ligas de Cobre Cobre/Alumínio Cu/Al Cobre/Zinco Cu/Zn Cobre/Níquel Cu/Ni
Densidade: 7,8
Revestimento à *gesso/cristobalita ou
base de: **fosfatado
Inclusão: Anel metálico Anel metálico Anel metálico
Folha de amianto Folha de amianto Folha de amianto
Temperatura do anel: * 550º C por 30’
**700º C por 60’
Faixa de fusão: 980 a 1038o C 960 A 1038o C
Maçarico: gás(11Lb)/ar(70Lb) ou
gás(11Lb)/oxig,(70Lb)
Resfriamento: 5 min.
Dureza Brinell 125 Kgf/mm2
Resistência à tração 63 Kgf/mm2
Alongamento 18 %

Marcas Fabricantes: • Resistência ao descoloramento,


comerciais: • Resistência à corrosão,
Duracast MS Marquart & Cia. Ltda
Cu/Al S.P. • Não ser toxica,
Idealloy Cu/Al Metalloy São Carlos S.P. • Boa adesão com a porcelana,
Goldent Cast Tanari Manaus AM. • Expansão compatível com o da
Cu/Al porcelana,
Goldent LA AJE Com. Repr. Ltda. • Facilidade de fundição,
Cu/Zn S.P.
Auralloy Cu/Zn London Odontomédica • Permitir obtenção de peças bem
Ltda. RJ adaptadas,
Duranium Ni/Cu Marquart & Cia. Ltda • Manter a estabilidade de cor da
S.P. porcelana aplicada,
• Boa resistência,
B.4- Ligas à base de metais • Passível de soldagem,
não nobres (não preciosos ou não • Passível de bom acabamento e
áureos): à base de estanho: deve ser polimento.
evitado seu uso em prótese. Quando comparadas às ligas no-
bres as de Ni-Cr apresentam:
Marcas Fabricantes:
• Módulo de elasticidade superior,
comerciais:
Acolite Ransom & Randolph Co. permitindo assim, fundições mais
Toledo, Ohio, EUA. finas,
Alba Metal S.S. White Dental Mg. Co. • Densidade menor,
do Brasil. • Resistência nove vezes maior,
Herjolite Herman Josias S.A. Ind. e
• Menor flexibilidade,
Com., Brasil.
Silberlite Denturum, Pforzheim, • Alongamento satisfatório,
Alemanha. • Preço menor.
Metal Blanco FAD, Chile. HOFFMAN em 1977, diz: “as
ligas não preciosas são mais difíceis
B.5- Ligas à base de metais não de dar acabamento e polimento em
nobres (não preciosos ou não áurea) à função da dureza. Mas, após o
base de Níquel: polimento, o acabamento é conside-
Características desejáveis de rado melhor e mais duradouro na boca
uma liga para metalo-cerâmica: do que as ligas de ouro”.
• Bem tolerada pelos tecidos bucais,
LIGAS Níquel/Cromo Ni/Cr sem Berílio Níquel/Cromo Ni/Cr com Berílio
Densidade: 8,2 g/cm3
Revestimento à base de: fosfato fosfato
Inclusão: Anel metál./Amiant. Anel metál./ Amiant.
Expansão livre Expansão livre
Temperatura do anel: 980º C por 60’ 800 a 870º C
Faixa de fusão: 1250 a 1310º C 1270 a 1350º C
Maçarico: gás(5 PSI) /oxig.(10 PSI ) gás/oxigênio
Resfriamento: 20 min. após a fund. 20 min. após a fund.
Decapagem:
Tratamento térmico 705º C por 15’ 705º C por 15’
endurecedor:
Oxidação: 650ºC a 1010ºC por 5’ sob vácuo 650ºC a 1010ºC por 5’ sob vácuo

O cromo é essencial como algumas ligas de alto conteúdo de


elemento endurecedor, que por sua paládio com a finalidade de incre-
inércia química contribui para a mentar o coeficiente de expansão
resistência à corrosão em ligas que térmica e melhorar as características
contém o níquel ou cobalto como dinâmicas da liga.
base. Quando se usa confeccionar o
O berílio como o alumínio faz “copping” com acrílico, deve-se usar
abaixar o intervalo de fusão, facilita a espaçador sobre o troquel antes de
fundição e o polimento. Ë um encerar. O espaçador forma uma
elemento endurecedor e controlador camada de aproximadamente 0,15
da formação de óxido, é também mm de espessura e mantém todos os
considerado um fator de risco à saúde detalhes da superfície do mesmo.
se utilizado em proporções acima das Nas fundições com ligas de Ni-Cr
recomendadas pelos estudos sobre o a cera e/ou acrílico devem ser
assunto. eliminados lentamente do “anel” com
O boro é um desoxidante e revestimento. A temperatura deve ser
endurecedor, que reduz a tesão elevada e mantida durante no mínimo
superficial da liga para melhorar sua duas horas, principalmente se o
fluidez. Nas ligas de Ni-Cr sem berílio revestimento for gravitado, para
e que contém boro, fluem melhor eliminar completamente todo o car-
durante a fusão do que as ligas de Ni- bono, pois o níquel tem afinidade por
Cr-Be sem conteúdo de boro. esse elemento que deteriora suas
O titânio quando presente subs- propriedades físicas.
titui ou soma-se ao cromo no aumento O alto ponto de fusão das ligas
da resistência à corrosão. de Ni-Cr requer cadinhos de fundição
O alumínio é utilizado para mais resistentes, de Quartzo, Zircô-
baixar o intervalo de fusão, é um nio, etc. O aquecimento da liga deve
endurecedor que influi na formação de ser lento pois do contrário queimar-se-
óxido na fundição da liga. ão componentes da mesma. Um
O cobalto é uma alternativa para maçarico com gás/oxigênio é reco-
o níquel, como metal base das ligas, mendável.
porém, as ligas com alto conteúdo de O alto ponto de fusão das ligas
cobalto são mais difíceis de receber de Ni-Cr, faz com que haja aderência
acabamento. O cobalto aparece em de pequenas partículas de revesti-
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2004

mento à infra-estrutura metálica. Na • ocasionalmente problemas


limpeza com jato de óxido de alu- alérgicos em virtude do conteúdo
mínio, o óxido deve ser renovado de Berílio.
freqüentemente. A maioria das pesquisas sobre
O jato abrasivo, além de limpar a ligas metálicas para restaurações
superfície da infra-estrutura metálica, metalo-cerâmicas envolvem a inves-
promove: tigação de:
Vantagens: 1. grau de adesão da porcelana ao
1- área superfície aumentada metal,
para uma maior união da porcelana, 2. A compatibilidade dos coeficien-tes
2- o aumento do umidecimento térmicos das ligas com os das
da infra-estrutura metálica pela a porcelanas odontológicas,
porcelana, 3. A descoloração das porcelanas
3- o imbricamento da porcelana pelos constituintes das ligas usa-
na superfície do metal evita deslo- das.
camento devido às diferenças de O polimento da infra-estrutura
coeficiente de alteração dimensional. metálica na região cervical da restau-
Desvantagens: ração deve evitar a exposição de uma
1-rugosidade excessiva que re- linha de opaco.
sulta em concentração de tensão na
interface metalocerâmica, Marcas Fabricantes:
2- ângulos agudos na interface, comerciais:
que não permitem o umidecimento Nickron G Metalloy Ind. Com. São
Ni/Cr Carlos, S.P.
completo e resulta em oclusão de ar e
Neochrom Ind. de Artigos e Equip.
vazios na interface metalocerâmica. Ni/Cr Odonto. S.P.
Na degaseificação a infra-estru- Durabond Dental Gaúcho - Marquart &
tura metálica de Ni/Cr deve ser Ni/Cr Cia. Ltda S.P.
aquecida até 1010º C por 5’ a vácuo. Unibond Ni/Cr Unitek Corp. Calif., EUA
Adquirindo uma coloração azul iridis- Biobond C&B Dentsply, N.Y. EUA
cente, se aparecer manchas, a peça Ni/Cr
Co-Span V S Ceramodental R.S.
deve ser novamente descontami- Ni/Cr
nada. Litecast B Williams Buffalo, EUA
A degaseificação teria na reali- Ni/Cr/2%Be
dade a função de formar uma cama- Rexillium III Jeneric Walling Ford, CT,
da de óxidos que serviria para prover Ni/Cr/2%Be EUA
a união química entre liga metálica e Co Span Ind. de Artigos e Equip.
Ni/Cr/2%Ni Odonto. S.P.
porcelana.
A adesão da porcelana (opaca) à
liga metálica se dá em parte, em B.6- Ligas a base de metais não
função de combinação química entre nobres (não preciosos ou não áurea).
átomos ou moléculas da porcelana e à base de cobalto:
moléculas da camada de óxidos (de
índio, estanho, etc.) que se forma Composição química das ligas de cobalto
cromo
durante a degaseificação. Cobalto Cromo Molib Níquel Outros
Os problemas de algumas ligas a dênio
base de Níquel: 63 a 64 27 a 28 5a < de 1 2,5 a 5
• fusibilidade pobre, % % 5,5 % % %
• má adaptação,
• dureza excessiva, Cobalto/Cromo Co/Cr
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2004

Densidade: 8,3 g/cm3 Alongamento 7 a 8%


Revestimento á Silicato de etila Dureza Vickers 330 a 350 VHN
base de: Oxidação:
Inclusão:
Temperatura do 1.010º C por 90’
Marcas
anel:
comerciais: Fabricantes:
Faixa de fusão: 1400º C Co/Cr
Maçarico: 20 psi oxigênio/ 8psi Vera PDI Aalba Dent Inc. USA.
Multiorifícios acetileno
Cromium BR.
Resfriamento:
Dentorium Dentorium Export Ltda.
Decapagem: USA.
Tratamento Desnecessário Biosil Degussa S/A Brasil.
térmico
endurecedor:

Indicações das ligas metálicas odontológicas


N CP CT CTMP CTM PF PFMP PFMC RO RO PSI PP
À base de U M C Ad MP MC R
Ouro Tipo I
Ouro Tipo II S S S S
Ouro Tipo III S S S S
Ouro Tipo IV S S S S S S S S
Ouro Cerâmico S S S S S S S S S S S
Prata/Estanho S S S
Prata/Paládio S S S S S
Paládio Cerâmico S S S S S S S
Paládio/Ouro/Platina S S S S S S S S S
Paládio/Prata S S S S S
Cobre/Alumínio S S S S S
Cobre/Zinco S S S S
Cobre/Níquel S S S S S
Níquel/Cromo S S S S S S S S S
Níquel/Cromo/Berílio S S S S S S S S S S
Cobalto/Cromo S
NU: Núcleo fundido, CP: Coroa parcial, CTM: Coroa total metálica, CTMP: Coroa total
metalo-plástica, CTMC: Coroa total metalo-cerâmica, PFAd: Prótese fixa adesiva, PFMP:
Prótese fixa metalo-plástica até dois retentores, PFMC: Prótese fixa metalo-cerâmica até
dois retentores, ROMP: reabilitação oral metalo-plástica com mais de dois retentores,
ROMC: Reabilitação oral metalo-cerâmica com mais de dois retentores, PSI: Prótese
sobre implante, PPR: Prótese parcial removível.
Fontes de calor para fundições ultrapasse a temperatura de 700o
odontológicas: C.
• Relação pó/líquido: 100g/28 ml
1- Maçaricos: água.
a) Gás/ar comprimido, • Expansão a 700o C: 1,3%.
b) Gás/oxigênio, B- Aglutinado por fosfato (alta
c) Oxigênio/acetileno. fusão):
2- Sistema Elétrico: • Indicado para fundição de ligas em
a) Thermotrol, que o anel de fundição ultrapasse
b) Fionda t3, a
c) Chonomatic. • Temperatura de 700o C.
3- Sistema de Indução: • Relação pó/líquido: 100g/16 ml
a) Forno politron I, líquido de manipulação (sílica
b) Vip power trak. coloidal).
1A. Maçarico gás/ar: adequada- • Expansão a 900o C: 2,2%.
mente ajustado desenvolverá uma
temperatura de chama conveniente BIBLIOGRÁFIA CONSULTADA
para fundir ligas metálicas odonto-
lógicas cuja variação de fusão esteja 01- ARAUJO, P. A. et. al. Materiais
entre 871o e 1038o C. dentários II (metálicos). Bau-
1B. Maçarico gás/oxigênio: ade- ru: Faculdade de Odontolo-gia
quadamente ajustado desenvolverá de Bauru - USP, 1978. 177 p.
uma temperatura de chama conveni- 02- MONDELLI, J. Ligas alternativas
ente para fundir ligas metálicas para restaurações fundidas.
odontológicas cuja variação de fusão São Paulo: Panamericana,
esteja acima de 1038o C. 1995. 353p.
1C. Maçarico oxigênio/acetile-no: 03- O’BRIEN, W. J., RYGER, G.
adequadamente ajustado desen- Materiais dentários. 1ª ed., Rio
volverá uma temperatura de chama de Janeiro: Interameri-cana,
de até 3.120o C. 1981. 382 p.
04- PHILLIPS, R. W. Skinner Materiais
Revestimentos para fundições dentários. Traduzi-do por Julio
odontológicas: Jorge D’Albu-querque Lossio.
9. ed. Rio de Janeiro:
A- Aglutinado por gesso (baixa Guanabara Koogan, 1993.
fusão): 334 p.
• Indicado para fundição de ligas em
que o anel de fundição não
CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS
Prof. Dr. Alfredo Julio Fernandes Neto
Prof. Ms. Paulo Cézar Simamoto Junior

A porcelana odontológica conven- origem ao uso da porcelana como material


cional é uma cerâmica vítrea que possui restaurador dentário. No campo da Odonto-
como principais componentes minerais logia, as pesquisas iniciais - o uso de porce-
cristalinos: feldspato, sílica, quartzo, alu- lana feldspática (pura) em combinação com
mina em matriz vítrea (Botino MA, 2002). fina estrutura em metal nobre (platina), para
As cerâmicas constituem-se atualmente na a confecção de coroas de revestimento total
principal alternativa de tratamento restaura- que promoveriam uma estética superior à
dor para estrutura dental, devido a das executadas com as resinas disponíveis
biocompatibilidade, resistência à compres- (metil-metacrilato), na restauração de dentes
são, condutibilidade térmica semelhante aos anteriores. A queima a vácuo da porcelana
tecidos dentais, radiopacidade, integridade dentária foi introduzida no final da década
marginal, estabilidade de cor, simula a de 40, esta prática baixou considerável-
aparência dos dentes (biomimetismo). Além mente o ar retido na peça durante a sua
disso, este material retém menos placa sinterização e produziu melhora significante
bacteriana e apresenta boa resistência a na translucidez da porcelana dentária.
abrasão (Rego MA et al, 1997; Miranda CC, A partir da metade da década de 50
1998; Chain M, 2000). houve uma retomada das pesquisas, visando
o desenvolvimento de material ideal para
Histórico reabilitação oral, combinando a resistência
oferecida por estrutura metálica e a estética
As cerâmicas constituíram-se nos proporcionada pela porcelana, a liga de ouro
materiais mais sofisticados da idade da era a eleita para este fim em razão da
pedra há mais de 10.000 anos e desde de compatibilidade de seu coeficiente de
então mantiveram a sua importância na alteração dimensional com o da porcelana.
sociedade humana (Anusavice KJ, 1996). No final da década de 60, o aumento
Aproximadamente no ano 200 a.C., os constante do preço do ouro, restringindo o
Chineses conseguiram desenvolver um tipo seu uso, contudo forçando a pesquisa e o
mais refinado de cerâmica, a porcelana, desenvolvimento de novas ligas à base de
empregando argila fina misturada a quanti- metais não nobres que pudessem substituir
dades específicas de quartzo, feldspato e as nobres (áureas) e que oferecessem
calcário, antes de ser levada ao forno. resistência de união à porcelana similar.
Empregada na confecção de peças ornamen-
tais e de utensílios domésticos. Propriedades Mecânicas
Em 1774, o farmacêutico Alexis
Duchateau, observou o fato de utensílios A compreensão das propriedades
cerâmicos glaseados usados na manipu- físicas e mecânicas das porcelanas dentárias
lação de produtos químicos, preservava a mostra-se fundamental para que técnicos e
coloração e resistiam à abrasão. Parecem ter clínicos possam extrair todas as qualidades
sido estas as circunstâncias que deram que os modernos materiais disponíveis
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apresentam. Propriedades como coeficiente Propriedades mecânicas


de expansão térmico linear, dureza, Para estudar propriedades mecânicas
módulo de elasticidade e resistência, dos materiais, é necessário que sejam feitas
fazem parte do cotidiano dos profissionais algumas definições. O desempenho clínico e
da prótese dentária, muitas vezes sem o laboratorial dos materiais é avaliado princi-
inteiro domínio. palmente quando na presença da ação de
tensões. Tensão é definida como uma força
Estrutura da matéria e Energia Térmica (F) que atua internamente nas partículas
Os átomos dentro de uma molécula constituintes de um corpo aplicada em área
possuem distância de equilíbrio entre si, específica (Viana DF, 1965). Existem ten-
apresentam quantidade de energia e sões de tração (F que tem a tendência de
encontra–se em constante vibração. Com alongar o material); Tensões de contração
aumento da energia (aquecimento) as molé- (F que tendem a encurtar o material) de
culas vibram mais, afastando os átomos Cisalhamento (F que tendem a torcer ou
entre si, o que pode promover alteração do deslocar uma porção de um corpo sobre o
estado físico da matéria. Sendo a tempe- outro), tensões complexas (todas as tensões
ratura de fusão o ponto que ocorre a trans- ao mesmo tempo) e as tensões de flexão (F
formação do estado sólido para o liquido. - que tendem a dobrar o corpo).
Sempre que uma tensão estiver
atuando sobre um corpo ocorrerá uma
deformação. Essa deformação, dependendo
do valor da tensão e das características do
material, poderá ser reversível (Elástica) ou
permanente (Plástica) (Anusavice K J,
1998). Existe um valor de tensão que divide
as deformações elásticas e plásticas. Este
valor é definido como limite elástico tensão
Fig 01 – Os três estados da matéria induzidas inferiores a esses valores geram
deformações elásticas.
Como referido acima, a medida que Outra propriedade relacionada a
a temperatura aumenta os átomos vão deformações elástica, é o modulo de
vibrando mais, se afastando fazendo que o elasticidade (ME), o qual descreve a
material sofra aumento em suas dimensões, rigidez de um material, defini-se como
fenômeno que denominamos expansão constante, obtida pela razão entre tensão e a
térmica. Diferentes materiais demonstram deformação dentro do limite elástico
expansões distintas, podendo esta variável (Phillips RW, 1993). Quanto maior o
ser determinada por meio do coeficiente de módulo, menor será a deformação elástica
expansão térmica linear (CETL), o mesmo resultante da aplicação de uma tensão, e
pode ser definido, como alteração no mais rígida será a estrutura de um material.
comprimento por unidade de comprimento As estruturas dentais e os materiais
de um material quando a sua temperatura é odontológicos sofrem alta variação quanto
elevada em 1ºC. Essa propriedade é muito ao seu módulo de elasticidade. Em relação
importante, por exemplo, nas restaurações as estruturas dentárias, a dentina apresenta
metalocerâmicas e ceramocerâmicas, pois o um ME baixo (18-20 Gpa), sendo
material da infra-estrutura e o de recobri- considerada um amortecedor para as força
mento deve possuir CETL similares, recebidas pelo esmalte, mais rígido e com
expandindo e contraindo em proporções ME podendo variar de 50 Gpa a 88Gpa
semelhantes evitando o risco de trincas e (Kina S. et al, 2005).
fraturas.
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A tenacidade envolve a quantidade vítrea, temperatura de fusão, coeficiente de


de energia absorvida por um corpo até o expansão térmica, dureza e susceptibilidade
momento de sua fratura, envolvendo defor- a fratura devido a sua estrutura irregular a
mações tanto reversíveis quanto irrever- ausência de planos atômicos como os
síveis. Um material tenaz é capaz de presentes em materiais com estrutura
absorver uma grande capacidade de energia cristalina verdadeira no caso dos metais.
sem se fraturar, podendo ser considerado São materiais quimicamente inertes
resistente. Fato que se diferencia de dureza, e demonstra natureza refratária, o que
sendo a mesma referente a resistência do caracterizam como excelentes materiais
material ao riscamento ou penetração. termoelétricos.
Existem vários tipos de dureza, medidos de
acordo com o formato da ponta diamantada
que testa o material, ex: Dureza Vickers;
Knoop, Brinell.
As cerâmicas são friáveis, isto é
podem ser descritas como materiais que
apresentam pouca resistência à fratura, ou
seja, quebra-se com facilidade, sobretudo
sob forças de tração e na presença de
defeitos superficiais que podem gerar falhas
catastróficas no material. Sua suscetibili- Fig 02 – A) Matriz vítrea; B) Fase Cristalina
dade a fraturas é uma desvantagem
particularmente quando trincas e tensões
O Principal componente das cerâmi-
estão presentes no mesmo ponto da
cas odontológicas é o feldspato, um mineral
restauração. Um fator que contribui para
encontrado praticamente em todo o mundo.
essa limitação dos materiais cerâmicos é a
Feldspatos naturais são misturas de albita
facilidade de propagação de trincas, tornan-
(Na2Al2Si6O16) e ortoclásio ou microlina
do o material ainda mais propenso a fratura.
(K2Al2Si6O16) com particulas sem quartzo
Já os metais apresentam ductibilidade e
cristalino. Esses feldspatos nunca são total-
maleabilidade, as quais referem-se a capa-
mente puros, sendo a quantidade de óxidos
cidade de um corpo sofrer grande deforma-
de Sódio e de Potássio, podem variar consi-
ção permanente sob ação de forças de tração
deravelmente. Para o uso odontológico
para o primeiro e forças de compressão para
prefere-se o feldspato com alto conteúdo de
o segundo. Desta forma os metais têm capa-
potássio, devido a sua resistência ao
cidade de resistir a altas tensões por se
escoamento sob altas temperaturas.
deformarem plasticamente e, portanto mais
resistentes à fratura, fato que torna o
material indicado para associação com a Classificação das cerâmicas
porcelana. odontológicas

Composição Química e Microestrutura Varias formas de classificação vem


sendo proposta por inúmeros autores ao
As cerâmicas odontológicas são mate- longo dos anos. Entretanto não se observa
riais de natureza vítrea. São constituídas de até os dias atuais, uma forma única de
partículas cristalinas dispersas numa grande classificação que abrangesse todos os mate-
proporção de matriz. Essa estrutura amorfa riais cerâmicos disponíveis no mercado
produz propriedades físicas típicas de um odontológico. Assim classificaremos segun-
vidro, este material apresenta características do a temperatura de fusão (Anusavice KJ,
e propriedades dos sólidos não cristalinos, 1998; Botino MA 2002) e pela indicação do
como viscosidade, temperatura de transição material (Pereira GG, Santos LM, 2005).
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A porcelana de alta fusão são empre- Baixa e ultra-baixa fusão são empregados
gados na produção de dentes para próteses na confecção de Coroas totais
removíveis, atualmente decadentes em metalocerâmicas (CTMC) Ex: Ceramco
décorrência do alto valor agregado do 3®, VitaVMK 95®, Vita Omega 900,
produto e dificuldades técnicas inerentes a Duceram®, Williams®, Noritake SEX-3®.
sua confecção (Anusavice KJ, 1998). Algumas porcelanas de ultra-baixa
fusão são empregadas para Titânio (Ti) e
ligas Ti, devido aos seus baixos coeficientes
Classificação segundo a temperatura de de contração e evitando o risco do
fusão crescimentos de óxidos sobre a superfície
Classe Temperatura do Ti, Ex: Vitatitanceramic. Cerâmicas com
fases cristalinas reforçadas para coroas
Alta fusão >1300ºC puras, o material para o núcleo da coroa
Média fusão 1101º a 1300ºC pura contém partículas de leucita, alumina,
zircônia ou magnésio para aumentar a
Baixa fusão 850º a 1100ºC resistência a propagação de fratura, Ex: Vita
Ultra Baixo ponto de In Ceram®; IPS Empress®, IPS Empress
<850ºC II®; IPS Empress Sthetic®; Ceramco
fusão
Press®.
Média Fusão, para coroas totais livres
de metal (coroa oca) Trubyte®, Bioform®;

Classificação das Cerâmicas Odontológicas segundo a indicação clínica


Indicação principal Exemplo principal
IPS Empress® (Ivoclar); IPS Empress Sthetic®(Ivoclar);
Facetas laminadas IPS Empress 2® (Ivoclar); Super EX-3® (Noritake Co.);
Onlay-Inlay D’Sing(Ivoclar); Creation AV(Creation); Finesse
Restaurações Coroas Puras (Dentsply); Degudent- Kiss(Degudent); Vitadur
Alpha(Vita); Cergogold ® (Degussa).
Vita Blocks®(Vita); Cerec® (Sirona Dental System);
Onlay-Inlay
Celay® (Mikrona Tecnologie)
Procera® All Ceran (Nobel); Procera® AllZircon (Nobel);
InCeramAlumina® (Vita); InCeram Spinell (Vita); IPS
Empress® (Ivoclar); IPS Empress Sthetic® (Ivoclar);IPS
Coroas Unitárias
Empress 2® (Ivoclar); Finesse (Dentsply); Vision-
Infra-estruturas Esthetic®(WDM GA); Degudent-Kiss (Degudent) Vitadur
Alpha® (Vita)
Procera® All Ceran (Nobel); InCeran AllCeran® (Vita)
Próteses Parciais
InCeran Zircônia® (Vita); IPS Empress 2®(Ivoclar); Lava
Fixas
Cercon® (Degussa Dental)
Creation® (Creation), Super EX-3®(Noritake);
Infra-estruturas D’Sing(Ivoclar); Duceran plus® (Degussa); Williams®
metálicas (Williams); Finesse® (Dentisplay); Vita Omega®(Vita);
Cobertura Ti22® (Noritake);Triceram® (Dentauraum)
VitaDur Alpha®(Vita); CZR®(Noritake); AllCeram®
Infra-estrutura (Degussa); Cerabien®(Noritake); Triceram®
cerâmica (Dentauraum); DuceraGold® (Degussa)
Formas de Processamento laboratorial espaço mesmo após a evaporação do
líquido podem ocorrer problemas como
Modelagem aspecto leitoso, alteração de cor, porosi-
Os materiais dentários cerâmicos são dade e comprometimento de resistência
fornecidos na forma de pó e de líquido. mecânica. A retirada do excesso de líquido
Sendo que alguns fabricantes pré- pode ser obtida por meio de quatro
sinterizam o pó cerâmico disponibilizados artifícios:
sob diversas formas. Podem se apresentar 1. Secagem com papel absorvente;
em forma de blocos a serem usinados 2. Vibração manual;
(Sistemas computadorizados), pastilhas a 3. Alisamento da superfície com espátula;
serem fundidas ou injetadas, à semelhança 4. Adição de pó seco com pincel.
da técnica da cera perdida ou ainda na Uma densa compactação gera dois
forma de pasta, como alguns opacos já benefícios: menor contração de sinteri-
existentes no mercado, esses sistemas zação e menos porosidade na porcelana.
serão melhor comentados a frente. Outra excelente forma de otimizar a
condensação é por meio do controle da
umidade da massa. Esse controle deve
iniciar no momento da deposição do pó e
do líquido, sobre a placa e persistir até a
aplicação da cerâmica sobre a infra-
estrutura. Contudo, a massa não deve ficar
seca em demasia pois isto dificultaria a
escultura do elemento dentário e conden-
sação adequada da massa (Figura 03).
Fig 02 – Massa homogênea da mistura pó+liquido

Modela-se o pó usando-se um líqui-


do aglutinador para manter as partículas
juntas. A mistura do pó com líquido, pode
ser água destilada ou líquido específico
contendo aditivos, deve sempre ser
efetuada em superfície limpa. Após essa
mistura uma massa úmida é obtida (Figura
02), sendo aplicada por meio de pincéis ou
espátulas sobre troqueis refratários, infra- Fig 03 – Mistura Demasiadamente espessa
estruturas metálicas ou cerâmicas. O pro- Procedimento de Sinterização (Queima,
cesso de manter as partículas juntas, e de Cozimento, Cocção)
remover o excesso de líquido é conhecido
como condensação. Nesse momento as Após a fase de condensação da
massas cerâmicas devem ser condensadas massa cerâmica sobre uma infra-estrutura
para que sejam produzidas as formas de metálica com a forma desejada e devida-
um dente. mente condensada, a massa deve passar
por tratamento térmico em forno para as
Condensação partículas se unirem tomando definitiva-
Durante a aplicação, os espaços mente a forma desejada. Esse processo é
entre as partículas de pó são preenchidos denominado sinterização (queima), cozi-
pelo líquido. Se durante o processo de mento ou cocção e pode ser dividido em
queima as partículas mantiverem esse três etapas: 1) Pré-sinterização; 2) Sinteri-
zação; 3) Resfriamento.
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1 – Pré-Sinterização: Também mento na lisura superficial da peças bem


conhecido como secagem, é observado no como alteração da coloração.
momento em que a porcelana, pronta para 2.1) Classificação dos estágios de
ser sinterizada, permanece alguns minutos sinterização:
na entrada do forno ou sobre o elevador do 2.1.1-Biscuí ou Biscuit: é a aparência da
forno. Este pré-aquecimento permite que o superfície não glazeada da porcelana que
vapor de água remanescente se dissipe. A indica o estágio de sinterização da
colocação de uma massa condensada dire- porcelana.
tamente, mesmo em um forno considerado 2.1.2-Baixo biscuit: É o estágio de sinte-
razoavelmente morno, resulta na formação rização reconhecido quando os grãos de
rápida de vapor, portanto introduzindo vidro amolecem e começam a escoar. O
porosidade ou fraturando pedaços de uma material fundido apresenta rigidez porém é
fase cerâmica. Além da eliminação do muito poroso. As partículas de pó carecem
líquido, o processo também permite a de coesão completa. Ocorre uma quanti-
decomposição e eliminação na forma de dade desprezível de contração de sinteri-
gases, de produtos inorgânicos como adi- zação.
tivos. Após a pré-sinterização por aproxi- 2.1.3-Médio biscuit: É o estágio de
madamente 5min, a porcelana é direcio- sinterização caracterizada pelo fato de que
nada ao forno e o ciclo de sinterização se os grãos de vidro escoaram o suficiente
inicia. para que as partículas de pó apresentassem
2- Sinterização: Na maioria dos coesão completa; o material ainda é
casos a sinterização promove redução da poroso, e ocorre neste estágio uma contra-
porosidade e o aumento da densidade ção definida.
volumétrica do material. À medida que a 2.1.4-Alto biscuit: É o estágio no qual a
temperatura sobe, o vidro sinterizado contração é completa e o material apre-
gradualmente escoa para preencher os senta a superfície mais lisa. Pode ser
espaços de ar. Entretanto o ar torna-se visível uma ligeira porosidade, mas o
aprisionado na forma de porosidades, corpo não se apresenta vitrificado.
porque a massa fundida é muito viscosa 3- Resfriamento: Esta etapa é
para permitir que todo o ar escape. A caracterizada pela descida do elevador do
maneira encontrada para reduzir essa interior do forno ao ambiente externo,
porosidade na porcelana odontológica é a após um ciclo completo de sinterização. O
queima a vácuo. Devido ao fato de a processo total sempre deve seguir as
pressão esta aumentada em média 10 recomendações do fabricante. Muitos
vezes dentro do forno, as porosidades são ciclos de queima, por exemplo, podem
comprimidas para que tenham dimensões alterar a resistência a flexão, a translu-
um décimo do seu tamanho original, e o cidez, e o Coeficiente de Expansão
volume total de porosidade é então Térmica Linear (CETL).
reduzido. Portanto algumas poucas bolhas
estão presentes ao fim do processo de A natureza das forças de união da
sinterização, mas menores em decorrência porcelana ao metal
do vácuo.
Importante ressaltar que um Existem quatro tipos de forças que
controle cuidadoso do forno de cerâmica é atuam na união da porcelana com metal
requisito fundamental para a aquisição de nas próteses metalocerâmicas, que são:
trabalhos de qualidade aceitável. Prado 1. Mecânica: está relacionada com a
RA et al, 2003, mostrou em seu trabalho penetração do vidro nas irregulari-
que fornos com grandes oscilações de dades da superfície metálica (Dentist
temperatura podem trazer comprometi- Desk Reference, 1981).
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2. Van der Waals: depende da capaci- É recomendado fazer-se teste de


dade da porcelana molhar a superfície adesão de porcelana para verificar se o
metálica, são pequenas e sujeitas as processo empregado está correto. As fratu-
interpretações incorretas. (Kelly, ras entre as porcelanas e ligas metálicas a
Asgar, O’brien 1969). base de metais nobres são geralmente de
3. Química: é a união de óxidos metá- natureza coesiva ou seja, ocorrem no
licos formados na superfície da liga corpo da porcelana ou da liga metálica e
com a porcelana durante a fusão. com metais não nobres ocorrem na
(Nally, Monnier , Meyer, 1968, Von interface metalo-porcelana. (McLean;
Radnoth & Lautenschlager, 1969). Sced, 1973).
4. Compressão: a tensão de compres- Fernandes Neto, A. J. em 1996,
são estabelece-se durante o esfria-mento avaliou a resistência da união metal/
da faceta de porcelana sinteri-zada e porce-lana de três marcas comerciais de
depende da geometria da infra-estrutura sistemas cerâmicos, em diversas combina-
metálica e, principalmente da cor-reta ções com três ligas metálicas à base de
combinação dos índices de alteração níquel-cromo (Ni-Cr), e uma liga experi-
dimensional do metal e da porcelana. mental à base de cromo-cobalto (Cr-Co),
(Vickery; Badinelli, 1968). contendo titânio. Utilizou o teste de
Chioddi Netto para os experimentos. A
Ligas metálicas partir dos resultados obtidos, concluiu que:
dos sistemas cerâmicos avaliados, o da
A Odontologia é a única área de marca Duceram apresentou o melhor
conhecimento que usa ligas nobres (a base desempenho, seguido pelo da Vita VMK
de ouro) para aplicações estruturais. As 88 e, Williams que mostrou menor
ligas nobres utilizadas em restaurações resistência, das interações testadas, a
metalocerâmicas (RMC) apresentam pro- combinação liga Resistal P/ sistema de
blemas de resistência e fadiga. Quando porcelana Duceram apresentou o melhor
comparadas às ligas nobres as ligas não resultado, seguido por Experimental/Vita
nobres a base de niquel-cromo - NiCr VMK 88; Experimental/Duceram; Dura-
apresentam: módulo de elasticidade supe- bond/Duceram; e Resistal P/Vita VMK 88.
rior, permitindo assim, fundições mais Demonstrando que os sistemas cerâmicos,
finas, densidade menor, resistência nove tem comportamento singular com tipos
vezes maior, menor flexibilidade, alonga- diferentes de ligas, necessitando teste para
mento satisfatório e preço menor. se determinar a compatibilidade de
Existe sempre necessidade de se ambos.
utilizar soldagem na confecção das próte-
ses múltiplas mesmo que as ligas de solda Aplicação da porcelana sobre a infra-
não tenham propriedades mecânicas iguais estrutura metálica:
às ligas fundidas. Levando em considera-
ção a necessidade de se prover espaço 1- Preparo da infra-estrutura metálica,
adequado para a limpeza interproximal, a seqüência laboratorial:
manutenção da saúde periodontal e de
evitar o enfraquecimento das restaurações A - Desgaste superficial: com pedras e/ou
metalocerâmicas, torna-se necessário usar: discos de óxido de alumínio;
ligas mais resistentes e reduzir a espessura B - Jateamento: com óxido de alumínio: o
do opaco para 0,1 mm. jato abrasivo, além de limpar a superfície
da infra-estrutura metálica, promove:
Fraturas entre porcelana/metal: Vantagens: 1) área superfície aumentada
para maior união da porcelana; 2- o
aumento do umedecimento da infra-
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estrutura metálica pela a porcelana; 3) o 3- Ciclos de sinterização ou queima:


imbricamento da porcelana na superfície 3.1- Aplicação do condicionador de
do metal evita deslocamento devido às metal: Este procedimento só será realiza-
diferenças de coeficiente de alteração do se a porcelana a ser utilizada não for
dimensional. compatível com a liga metálica da infra-
Desvantagens: 1) rugosidade excessiva estrutura. O agente de união mais utilizado
que resulta em concentração de tensão na é o Uniseal da Unitek. Altualmente ligas
interface metalocerâmica; 2) ângulos de Ti necessitam da utilização de condi-
agudos na interface, que não permitem o cionador específico, que melhora a união e
umedecimento completo e resulta em diminui a oxidação da peça. Outros tipos
oclusão de ar e vazios na interface metalo- de porcelana já disponibilizam produtos
cerâmica. similares para aplicação prévia ao opaco,
C - Desgaseificação ou oxidação do metal: são os wash-opaque descritos para melhor
Na desgaseificação a infra-estrutura metá- molhamento do opaco, pode ser encon-
lica de Ni/Cr deve ser aquecida até 1010º trado pronto para uso em forma de pasta
C por 5’ a vácuo. Adquirindo uma colora- pouco viscosa e o caso da VMK 95® e
ção azul iridescente, se aparecer manchas, Omega 900® (Vita).
a peça deve ser novamente descontami-
nada. A desgaseificação teria, na realida- Temperatura inicial 650ºC*
de, a função de formar uma camada de Temperatura final 960ºC*
óxidos que serviria para prover a união *Sempre a vácuo.
química entre liga metálica e porcelana,
3.2- Aplicação da porcelana opaco: é
visto que a adesão da porcelana (opaca) à
usada para mascarar a cor do cimento de
liga metálica se dá, em parte, pela
fixação da restauração ou da infra
combinação química entre átomos ou
estrutura metálica e, assim, recebe a
moléculas da porcelana e moléculas da
adição de opacificadores, tais como óxidos
camada de óxidos (de índio, estanho, etc.)
de zircônio e titânio. Atualmente estão
que se formam durante a desgaseificação.
sendo empregados óxidos fluorescentes
Os óxidos de NiCr podem dissolver-se na
para melhorar a dinâmica óptica das
porcelana, alterando-lhe a cor;
CTMC. As temperaturas utilizadas em
D - Jateamento: com óxido de alumínio;
todas as fases de aplicação da porcelana
E - Limpeza ultra-sônica: em água destila-
sofrem variações de uma porcelana para
da com solução de cloreto de amônia por
outra, portanto, é prudente seguir as reco-
3’, ou somente em água destilada em
mendações dos fabricantes. Em média:
ebulição por 10’.
Secagem da porcelana por 3 a 5’ na
2- Seleção dos fornos a vácuo: entrada do forno com temperatura inicial
de 650º C, após o que introduza-a ao
- Basicamente todos os tipos de fornos forno, feche-o, programe-o e aguarde que
para cerâmica são aptos para a sinterização atinja e temperatura final de 960º, sempre
das porcelanas odontológicas, observadas a vácuo.
as instruções de seus respectivos fabri-
cantes. 3.3- Aplicação da porcelana: Dentina de
- O aumento da temperatura deve ser corpo e incisal: Dentina de corpo é um
aproximadamente de 50ºC a 55ºC por vidro feldspato com elevada saturação de
minuto. cor, usada para criar volume principal-
- Para evitar trincas, a peça deve secar mente nas áreas gengivais ou corpo da
adequadamente, especialmente em aplica- coroa. Já a porcelana incisal é usada para
ções mais espessas de cerâmica (em casos cobrir o corpo da porcelana, com o fim de
extremos, até 10’). produzir a translucidez característica e
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inerente à porção incisal dos dentes natu- fraturas no esmalte, áreas de hipocalci-
rais. Em média: a secagem da porcelana é ficação ou outros defeitos no corpo da
realizada por 3 a 5’ na entrada do forno restauração. Vitrificantes Superficiais: são
com a temperatura inicial de 650º C, pós cerâmicos que podem ser adicionados
introduza-a ao forno, feche-o, programe-o à restauração de porcelana, após ter sido
e aguarde que atinja e temperatura final de fundida.
940º C, sempre a vácuo. Para a segunda
queima: diminua 10º C a cada passo
3.4- Glazeamento: Em média: Secagem
do glase por 2 a 3’ na porta do forno com a
temperatura inicial de 650º C, após o que
introduza-a ao forno, feche-o, programe-o
e aguarde que atinja e temperatura final de
920º C, importante observar sempre sem
vácuo.
3.5- Indicações para construção de
infra-estruturas: para a elaboração de
coroas unitárias e parciais que posterior-
mente serão revestidas com porcelana, Fig 04 – Estratificação das camadas de porcelana
devem ser construídas formas anatômicas para melhor qualidade técnica de aplicação e
reduzidas (Figura 04). A espessura da resultados estéticos.
parede da construção não pode ser inferior
a 0,4 mm para que a espessura mínima do
metal, depois de desgastado, se encontre
entre 0,3 mm e 0,35 mm. Durante a Uma camada transparente e brilhan-
construção deve-se evitar as arestas vivas, te forma-se sobre a superfície da porce-
as áreas sobrepostas e os sulcos profundos. lana, em temperatura de sinterização
Dever-se-á tentar conseguir transições inferior à de seu corpo. O resultado é uma
suaves. É importante que a construção das superfície brilhante, ou semibrilhante, não
uniões proximais seja o suficientemente porosa.
estável. Por motivos de estabilidade, as
uniões (prótese parciais) devem ser cons- Contração
truídas na zona palatal com um pequeno
reforço interdental do tipo inlay. Em qual-
quer caso, prevalecerão as indicações do A contração da porcelana após a
fabricante do metal no que se refere à queima é devida à perda de água durante a
construção da estrutura, ao revestimento, à secagem pela sinterização. É de cerca de
adesão, ao desgaste, à areação e à 30%. A adição de porcelana pode ser feita
oxidação. em qualquer etapa anteriormente apresen-
tada, tomando cuidado com o tipo de
3.6- Caracterização porcelana a ser acrescentada, por conta de
sua temperatura específica de queima. O
São oferecidas concentradas em modelo estratificado (aplicado) deve ser
estojos e fabricadas da mesma forma que sempre pouco maior que o definitivo para
os vitrificados de cor, a partir de vidros de compensar a contração.
baixa fusão, podendo ser aplicadas em
temperatura inferior à sinterização da res-
tauração. São empregadas como corantes
superficiais ou para reproduzir linhas de
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3-Infiltradas de vidro;
4-Blocos pré-fabricados, usinados em sis-
tema computadorizados (CAD-CAM)
1) Cerâmica convencional feldspá-
tica: Conhecida também como porcelana
tradicional, é uma estrutura vítrea compôs-
ta basicamente por dois minerais: feldspa-
to e quartzo. O quartzo é à base das
porcelanas (fase cristalina). Quando o
Fig 05 – Aplicação da massa com excesso para feldspato é misturado com vários óxidos
compensação da contração de sinterização metálicos e fundidos a altas temperaturas
forma-se a fase vítrea da porcelana. Como
reforço para essa estrutura são incorpo-
rados à fase vítrea óxidos de silício, óxido
de alumínio, óxido de potássio e outros.
Também são utilizados óxidos de estanho
e titânio como opacificadores na tentativa
de reproduzir a aparência da estrutura
dental.
Prince et al, 1983, introduziu o
conceito de próteses metalocerâmicas com
Fig 06 – Aspecto final após a queima ombro vestibular cerâmico, ou seja borda
vestibular da coroa sem metal em
Materiais cerâmicos livres de metal cerâmica pura, tentando compensar algu-
mas limitações estéticas como a impene-
Os novos materiais cerâmicos para trabilidade da luz na estrutura do metal, na
facetas laminadas, incrustações, coroas, e alta reflexão da coroa e das margens
próteses parciais fixas são extremamente cervicais. O desejo de melhores proprie-
atraentes devido a adaptação marginal, dades estéticas e biocompatibilidade
resistência a fratura e principalmente pela levaram ao desenvolvimento de sistemas
sua aparência estética. Desta forma, novos cerâmicos que dispensam o uso de metal.
materiais restauradores e sistemas de
cimentação entraram no mercado odonto- 2) Sistemas Cerâmicos injetados,
lógico nos últimos anos, possibilitando a fundidos ou prensados: São sistemas que
resolução de inúmeras dificuldades clíni- possuem em comum o fato de usarem para
cas. Muitos modificados pelos fabricantes confecção de suas infra-estruturas total-
para se adaptarem as exigências dos mente cerâmicas a idéia do padrão de cera
consumidores. Contudo, uma crítica que a ser perdido no forno, já utilizada a anos
se deve fazer a respeito dessa prática, é para confecção de infra-estruturas metáli-
que vários sistemas são lançados no cas. O procedimento consiste na realização
mercado sem um devido acompanhamento de ceroplastia convencional das restaura-
longitudinal (Guazzato M et al, 2004). ções. Os padrões de cera são incluídos em
Os sistemas restauradores apresen- um revestimento refratário especial(cada
tam-se em constante atualização para se fabricante disponibiliza no mercado aquele
adaptarem as exigências do mercado mun- que melhor se adapta ao seu sistema
dial, para melhor compreensão dividimos cerâmico), num anel conformador. Os
os grupos cerâmicos em quatro: moldes de cera são queimados em forno
1-Cerâmicas convencionais (feldspáticas); convencional ou próprio para cada
2-Fundidas; injetada ou prensadas; sistema, para depois serem direcionados a
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fornos específicos onde pastilhas cerâmi- de prótese parcial fixas, Inlay e Onlay. Ele
cas características dos sistemas injetados é apresentado em três formas: com
são fundidas e injetadas sob calor e Alumina, Spinell (uma mistura de alumina
pressão no espaço negativo deixado pela e magnésia) ou Zircônia, possibilitando a
cera perdida. Após a aplicação da pressão fabricação de várias translucências pelo
os moldes são rapidamente resfriados à uso de diferentes técnicas.
temperatura ambiente, o sprue é recortado Os sistemas infiltrados de vidro
e a desinclusão é realizada por meio do usam uma técnica conhecida como slip
uso de jato de esferas de vidro. casting (Guazzato M et al, 2004), por meio
deste método o pó cerâmico constituído de
finas partículas com alto conteúdo de
alumina é misturado com líquido especial
e aplicado em camadas sobre modelo
duplicado por meio da ação de capila-
ridade. A umidade é absorvida, aglome-
rando as partículas sobre o modelo,
formando estrutura firme e densa. Essa é
esculpida e sinterizada em forno especial a
temperatura de 1.140ºC, em um ciclo de
Fig 07- Pastilhas cerâmicas utilizadas nos sistemas 11horas. As partículas se fundem forman-
injetados, as mesmas já vem em na cor do estrutura cristalina organizada. O alto
selecionada. conteúdo de alumina confere um aspecto
branco opaco à infra-estrutura e com baixa
As restaurações são adaptadas aos resistência (Figura 08). Mediante uma
modelos de trabalho e caracterizadas com segunda cocção, a 1.100ºC, por 3 a 5
corantes e então glazeadas. Podem ser horas, a infra-estrutura de óxido de vidro é
aplicadas porcelanas de corpo e incisal infiltrada com vidro fundido, obtendo
para completá-las, cada sistema possui elevada resistência e tornando-se translu-
porcelas de recobrimento e fornos especí- cente (Botino MA et al, 2000). Sobre essa
ficos. armação são aplicadas de forma conven-
No mercado atualmente os disponi- cional as massas de corpo de dentina e
biliza vários sistemas injetados por exem- esmalte (Técnica da estratificação).
plo: IPS Empress (Ivocar); IPS Sthetic 3.1 In-Ceram Spinell: utiliza mistura de
(Ivocar); Cergogold (Degussa) OPC alumina e magnésia e deve ser sinterizada
(Jeneric/Pentron); Finesse All-Ceramic em ambiente a vácuo. Possui translucidez
(Dentysply): Reforçada com cristais de duas vezes maior que o In-Ceram alumina
leucita, com indicação para facetas, porque o índice de refração de sua fase
Onlays e inlays e coroas unitárias. IPS cristalina é mais próximo ao vidro e sua
Empress II (Ivoclar): Reforçada com infiltração a vácuo permite menor
Dissilicato de lítio; indicada para restau- porosidade. Portanto, o In-Ceran Spinell, é
rações anteriores parciais até três elemen- indicado em situações que se deseja o
tos e posteriores incluindo o primeiro máximo de translucidez as estruturas. O
molar como pôntico. O pôntico não deve In-Ceram Alumina possui resistência
possuir largura superior a 7-8mm e não flexural media de 594 Mpa pela técnica
esta indicado para extremos livres. Slip (Guazzato M. et al, 2004), enquanto o
In-Ceram Spinell possui valores de resis-
3) Sistemas Cerâmicos Infiltrados
tência flexural 15 a 40% menores. Como
de Vidro: Representado basicamente pelo
materiais que possuem resitência flexural
sistema In-Ceram (Vita) pode ser usado
ao redor de 150 mpa são inadequados para
em coroas totalmente cerâmicas, estrutura
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coroas de dentes posteriores, estão indica- computadorizado CAD/CAM ( Computer-


dos portanto apenas para facetas e inlay e Aided Desing/ Computer Assited
onlays. Machining) para realização de restaura-
3.2 In-Ceram Alumina: possui um ções dentárias. Atualmente quase todas as
grande conteúdo de alumina com o grandes empresas do setor odontológico
tamanho das partículas variando entre 0,5 possuem seus sistemas automatizados de
a 3,5 mm, e contração de sinterização de produção de restaurações dentárias. Os
0,3%, o que produz uma controlada procedimentos consistem basicamente na
microestrutura organizada. O pequeno obtenção do molde pelas técnicas
tamanho das partículas associado a baixa convencionais e confecção de modelos de
contração e o processo simples de confec- gesso. O troquel deve ser realizado para
ção, produz uma adequada confiabilidade poder permitir o escaneamento do preparo
marginal para coroas unitárias (Botino MA com um sistema de scanner. No caso do
et al, 2000). Sistema Procera® (Nobel) o troquel é
3.3 In-Ceram Zircônia: compõe-se de posicionado em plataforma rotatória, que
mistura entre óxido de zircônia e óxido de realiza voltas de 360º. Uma sonda com a
alumina como material para realização de ponta esférica de safira realiza, a partir de
infra-estrutura, possibilitando o aumento uma linha de terminação, a coleta de
na tenacidade e elevação da resistência dados, onde a cada volta completada a
flexural, enquanto mantém os procedimen- sonda é elevada automaticamente em 200
tos de infiltração do vidro fundido no Fm de forma contínua, realizando
interior da estrutura. O oxido de alumina mapeamento global (Anusavice KJ, 1996).
consiste em 67% da estrutura cristalina, o Após o scaneamento, o operador manipula
restante é composto por óxido de zircônia a imagem gerada pelo scanner. O primeiro
tetragonal. O aumento da resistência aspecto definido nas infra-estruturas é
também é conseguido pela incorporação término cervical, para tanto a cada 18º, o
de partículas de oxido de zircônia que ponto mais proeminente na margem do
possuem maiores valores de tenacidade preparo, totalizando 20 pontos no total.
dentre os materiais cerâmicos. O In-Ceran Após a delimitação da margem do preparo,
Zircônia é indicada para coroas unitárias são definidos o perfil de emergência e a
posteriores, próteses fixas de três espessura em que a infra-estrutura será
elementos incluindo áreas posteriores confeccionada. O sistema In-Ceram®
sobre dentes ou implantes. também disponibiliza o processo computa-
dorizado para confecção de infra-estrutu-
ras em oxido de alumínio as quais poste-
riormente serão infiltradas de vidro, este
processo recebe o nome de Dry-pressed,
utilizando do sistema Celay® (Mikrona
Technologies), sendo que um bloco de
cerâmica é desgastado por um disco
impregnado por diamante cujos movi-
mentos de translação são guiados por
sinais gerados por computador. Essas
restaurações são fornecidas como peque-
Fig 08 – Técnica conhecida como Slip-casting,
para confecção da infra-estrutura de óxido de
nos blocos que podem ser desgastados na
alumínio, antes da infiltração do vidro. forma de incrustações e facetas estéticas.
As desvantagens das restaurações CAD/
4) Sistemas computadorizados: São CAM incluem a necessidade de equipa-
sistemas que se utilizam do processo mentos de alto custo, falta de controle de
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processamento computadorizado para As escalas Lumin Vacum para escolha do


ajuste oclusal, e a sensibilidade técnica do matiz e croma, estão subdi-vididas em:
procedimento de captação óptica dos A: Marrom: A1, A2, A3, A3.5, A4;
dentes preparados. Sendo que pelos B: Amarelo: B1, B2, B3, B4;
valores obtidos por Guassato M, 2004, não C: Cinza: C1, C2, C3, C4;
se encotrou diferença estatística signifi- D: Vermelha: D2, D3, D4;
cante entre os procedimento computado- Ex.: Ao escolhermos as Matizes: A, B, C,
rizados e manuais após a infiltração do D, estaremos escolhendo as Cores:
vidro fundido nas infra-estruturas de In- Marrom, Amarelo, Cinza, e Rosa respecti-
Ceram vamente.
2) Valor - intensidade (brilho): É a
Fatores que interferem na interpretação segunda dimensão da cor. É a qualidade
da cor: que nos permite distinguir uma cor clara
de uma cor escura. Ex.: Numa escala de
A dinâmica da luz influência direta- valor de 1 a 10, o nível 1 seria baixo e
mente a qualidade estética dos trabalhos preto, o nível 10 seria alto e branco e o
em região anterior. Opalescência ocorre nível 5 seria o cinza neutro.
mais no esmalte absorve parte da luz que 3) Croma (saturação): É a terceira
corresponde a sua cor. O resto do conjunto dimensão da cor. É a qualidade da pureza
de cores o espectro de luz, passam sem ou intensidade do Matiz, ou grau de satu-
dificuldades e definem assim a sensação ração do pigmento que vai do alto (satura-
de cores percebidas. A opalescência tam- ção de pigmentação escura) ao baixo ( me-
bém influência certa parcela de luz (fre- nor saturação e mais claro). Ex.: Ao
qüência curta – parte azul), mas essa escolhermos A2 ou A3, escolhemos a
parcela de luz não é absorvida e sim Matiz marrom só que o A2 é mais claro
difundida (aberta). Fluorescência é a (menos saturada) que o A3. Assim temos
capacidade de um corpo transformar a luz uma mesma matiz, porém Cromas
altamente energética (ultravioleta) em luz diferentes.
de baixa energia (azul até o branco). O 4) Metamerismo: Às vezes, as cores
maior efeito percebesse na raiz e no parecem iguais, mesmo quando são com-
âmbito da estrutura do dente. O Esmalte postas por diferentes curvas de transmis-
demonstra fluorescência mais fraca. O são espectral. Entretanto, quando a ilumi-
profissional pode avaliar os seus trabalhos nação é alterada, a semelhança aparente é
com uma luz negra modificada. Atual- perdida. ex.: um dente pode parecer um
mente usa-se muito o termo vitalescência cor 66 sob a luz artificial do consultório,
para definir o aspecto vital da estrutura porém se aproximar da luz natural em uma
dentária. Assim a aparência de uma porce- janela pode parecer um cor 69.
lana após a sua sinterização é o resultado
da interação de fenômenos ópticos com- Efeitos biológicos
plexos: cor, translucidez, opalecência e
fluorescência (Magne P; Belser U, 2003). As porcelanas dentais são inertes e
não se tem registro de reações tissulares
Cor: para sua melhor compreensão e adversas, assim como a possível abrasão
seleção devemos entender quatro pontos na dentição antagonista, no que diz respei-
básicos:1- Matiz; 2- Valor; 3- Croma, 4- to à aspiração do pó é prudente que tanto o
Metamerismo. Técnico em Prótese Dentária quanto o
1) Matiz: É a primeira dimensão da cor. Cirugião Dentista se protejam com masca-
“É a propriedade que nos permite distin- ra no momento de desgastá-la com instru-
guir uma família de cor da outra, como o mentos rotatórios evitando a aspiração de
vermelho do amarelo, do azul ou do roxo”. partículas de cerâmica.
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Cerâmica versus periodonto 1- Desgaste axial: 1,5 mm,


2- Desgaste ocluso-incisal: 2,0 mm.
Em alguns casos, na confecção de Obs: faz-se um desgaste 0,5 mm maior nas
uma prótese em metalocerâmica, como em faces oclusais e incisais em razão de
qualquer outra prótese fixa, a compressão receberem uma maior força durante a
sobre as papilas e a gengiva marginal é função mastigatória.
inevitável, em razão da disparidade entre a
quantidade de tecido dental removido e as Bibliografia Consultada
dimensões mínimas necessárias à restaura-
CLÍNICAS ODONTOLOGICAS DA
ção protética. O que fazer?
AMÉRICA DO NORTE. Simpósio Sobre
O tecido periodontal não tolera sobre
Cerâmicas, São Paulo: Roca, 1988. 208p.
contorno de restaurações protéticas na
FERNANDES NETO, A. J. Avaliação da
região gengival, e por outro lado, há um
resistência de união de três sistemas de
limite para o desgaste que se pode
porcelana odontológica aplicadas sobre
executar em tecido dental. Muitas vezes a
três ligas metálicas à base de níquel-cromo
estética, tem que ser sacrificada e as
e uma liga à base de cromo-cobalto
coroas construídas, usando revestimento
contendo titânio. Tese (doutorado) Facul-
estético somente na face vestibular. Na
dade de Odontologia de Ribeirão Preto -
confecção de prótese em metalocerâmica,
USP. 1996. 103 p.
como em qualquer outra prótese fixa, a
GARONE NETTO, N., BURGER, R. C.
manutenção dos espaços adequados para a
Inlay e Onlay em Dentística: Cimentações
acomodação das papilas gengivais e a
Adesiva com Cimentos Resinosos. In:
limpeza perfeita, deve ser tanto prioritária
Todescan, F, F., Botino, M. A. Atuali-
quanto a obtenção de adaptação marginal e
zação na Clínica Odontológica, A prática
oclusão funcional.
da Clínica Geral. 1 ed. São Paulo: Artes
Preparo dentário Medicas, 1996. p. 162-190.
GOLDSTEIN, R. E. Estética em Odonto-
O objetivo, ao preparar de um dente logia, Traduzido por Quintiliano Diniz de
a ser restaurado, é criar neste um espaço Deus. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
suficiente para que o material restaurador 1980. 479 p.
ao ser aplicado preserve suas propriedades McLEAN, J. W. The science and dental
e não interfira na oclusão e contorno do ceramics, Vol.1, Chicago: Quintessence,
mesmo. 1979. 333 p.
Em todo procedimento restaurador, a _____________. The science and dental
indicação e aplicação dos materiais odon- ceramics, Vol.2, Chicago: Quintessence,
tológicos, deve-se pautar pelo atendimento 1980. 512 p.
das necessidades de cada produtos para MENDES, W. B.; BONFANTE, G.
obter o melhor de suas propriedades, Funda-mentos de estética em Odontologia,
diante disto sabe-se que na constituição de São Paulo: Santos/Quintessence, 1994.
uma prótese metalocerâmica a espessura 174 p
das partes que a constituem são: O’BRIEN, W. J., RYGER, G. Materiais
1- Infra-estrutura metálica: 0,3 mm., dentários.1ª ed., Rio de Janeiro: Interame-
2- Porcelana de opaco: 0,2 mm., ricana, 1981. 382 p.
3-Porcelana de corpo: 1,0 mm., PHILLIPS, R. W. Skinner Materiais
perfazendo um total de 1,5 mm, o que dentários. Traduzido por Júlio Jorge
recomenda para o preparo do dente a D’Albuquerque Lossio. 9. ed. Rio de
receber este tipo de prótese desgastes de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993. 334 p.
idêntica espessura, ou seja: SCHAER, P. et. al. Normas estéticas para
reabilitação bucal, Traduzido por Cassiano
Cerâmicas Odontológicas Fernandes Neto AJ, Simamoto Jr. P C. Univ. Fed. Uberlândia - 2006 14

T. C. Garcia e outros, 1. ed. Rio de glass-infiltrated ceramics. Dental materials


Janeiro: Quintessence, 1986. 240 p. (2004)20,441-448.
ANUSAVICE KJ, Propriedades físicas BOTINO MA et al. Materiais Cerâmicos.
dos materiais dentários. In:_______. In: Estética em Reabilitação Oral Metal
Materiais Dentários 10 ed. Rio de Janeiro: Free. 1 ed. São Paulo: Artes Medicas,
Guanabara Koogan, 1998, Cap 3, p 18-28. 2000. p. 173-331.
PERREIRA GG, SANTOS LM. Cerâmi- PRINCE J, DONAVAN T. The esthetic
cas odontológicas, conceitos e técnicas. metal-ceramic margin: comparasion of
São Paulo, Ed Santos, 2005, Cap 1, 1-18. techniques. J Prost. Dent. 1983 (50):185-
GUAZZATO M, ALBAKTY M, RINGER 92.
SP. Strength, fracture toughness and VIEIRA DF. Propriedade dos materiais
microstructure of a selection og al-ceramic odontológicos. Ed USP; 1965.
materias. PartI. Pressable and alumina

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