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Caderno de Processo Civil IV

Aulas do Prof. Eduardo Mello e Souza (UFSC)


(Luiza Silva Rodrigues)

Introdução

1. Processo x Procedimento
- Tudo em processo se explica na teoria da ação.

- Procedimento é diferente de processo: 90% do procedimento está no CPC, mas 90%


do processo não. O importante é saber como funciona o sistema.

- Poucas pessoas percebem, mas existe uma lógica por trás dos códigos que não é uma
lógica acadêmica, didática; na realidade, as pessoas estabelecem os códigos de acordo
com determinada histórica através da qual aquela determinada ciência se desenvolveu
ou através da ordem lógica do fluxo de informações.

O CPC aborda essas duas lógicas: a lógica do fluxo permeada pela lógica histórica.

- Existe um livro do prof. Ovídio Batista de Teoria Geral do Processo que em seu 1º
parágrafo diz que a processualística civil moderna provém de duas famílias – então ele
começa do começo. Rene Davi dividia o direito em várias famílias: oriental, continental
europeia, etc., e essas, em subfamílias: direito romano e direito germânico, e dentro
disso há uma influência maior de um de outro. Então a história dos institutos
processuais influencia não sob o ponto de vista apenas filosófico.

- O CPC tem 5 livros:

1. Processo de Conhecimento – dentro dele, as suas nuances históricas: cognição


e recursos, na ordem do fluxo procedimental.
2. Processo de Execução
3. Processo Cautelar – para garantir que uma cognição chegue a uma execução,
em situações extraordinárias eu preciso de uma tutela de urgência.
4. Procedimentos Especiais
5. Disposições Finais e Transitórias

- O objetivo de estruturar o sistema é ver o fluxo e a história.

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- O segundo conceito não é o histórico nem o sistêmico: é didático. Essa é a lógica que
os legisladores escolheram. Mas dentro dessa lógica, você não encontra lógica
sistêmica.

- Onde está a base da teoria da prova no CPC? Nos poderes do juiz: princípio
inquisitório (art. 130, CPC) e a livre disposição e o livre convencimento do magistrado
(art. 131, CPC). É a base psicanalítica da nossa prova. Mas o ônus da prova está tratado
no art. 332, 333, 334 e depois, a partir do art. 350, CPC, há a forma da realização da
prova (procedimento). Então a teoria da prova está em três lugares distintos do CPC.

- A mesma coisa quando se fala de nulidade: se trata da instrumentalidade das


normas, logo depois do efeito da declaração das nulidades, e depois na fase recursal
há também referência. Mais uma vez, a opção pelo fluxo quebra o sistema, pelo
menos a visualização do sistema – já que o sistema é abstrato, porque existe como
teoria e não como prática.

- Tutelas de urgência: a tutela antecipatória está no 273, 461-A, artigos inseridos no


livro do processo de conhecimento. Mas as medidas cautelares estão no livro III, do
CPC. Mais uma vez a opção pelo fluxo, a opção pelo procedimento linear, prejudica a
ideia de sistema.

O ideal então é conseguir separar: o FLUXO é procedimental; processo é SISTÊMICO.


Não se pode mais confundir uma coisa com a outra porque o próprio código já faz
questão de diferenciar, apesar de obedecer à ordem do fluxo: diz o que é processo e o
que não é processo – são apenas procedimentos.

- Existe, ainda, influenciando o nosso código, uma fase procedimentalista, que é tão
importante, tão arraigada no inconsciente coletivo de um estudante de direito, que
geralmente não se consegue visualizar de outra forma.

Exemplo: o cara bateu no seu carro com uma Ferrari. Qual a ação que você vai mover
em face dele? “Ação de danos”.

Exemplo: aparece um sujeito no EMAJ que recebe um salário mínimo, trabalha na


UFSC e fez um empréstimo consignado no BESC. Você percebe que o banco está
cobrando comissão de permanência junto com correção monetária. Qual é a ação?
“Indenizatória”, de procedimento comum ordinário.

- Intuitivamente, respondemos às perguntas com base no direito civil.

- O que a ADI tem em comum com a ação reivindicatória de propriedade particular e


com a ação de reconhecimento de união estável? Sob o ponto de vista material, nada;
mas sob o ponto de vista processual, todas querem declarar.

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- Na verdade existem 4, ou, no entendimento de alguns, 5 ações, dependendo da
escola à qual se filia. É só enxergar a subsunção processual.

- O procedimento é óbvio que é ordinário. Mas o fundamental é entender por trás do


direito material.

- Cargas de eficácia: o que determina o nome de uma ação é a carga de eficácia


preponderante, e não a carga de eficácia acessória. É óbvio que por trás de toda a
condenação há uma declaração de culpa, mas a ação é condenatória, porque é o
elemento característico preponderante.

 Sobre isso, a metáfora dos vinhos: muitos poucos vinhos são puros de uma uva
só. Acima de determinado percentual, nem precisa colocar qual é a uva.

- A ênfase no fluxo é boa porque você entende uma lógica rapidamente, mas essa
lógica é tão simples que não serve para atingir passos mais profundos, e ao não
permitir o acesso ao sistema, isso provoca acomodação. O processo civil tem 130 anos,
enquanto o direito civil tem mais de 2000 anos – então ele é muito mais intuitivo.

 Processo civil é direito publico; direito civil é direito privado. Então eles não
podem nem ser conjugados.

- Chamar uma ação de ordinária é confundir dimensões, conceitos completamente


diferentes.

- Você tem que parar de olhar para o direito material e começar a enxergar o direito
processual; e dentro do direito processual, deve parar de olhar o procedimento e olhar
o processo.

- Qual o recurso que cabe da decisão interlocutória de saneamento do processo em


que o juiz saneia as provas que serão produzidas, mas exclui alguém da lide, julgando
extinto sem resolução de mérito? No que toca aquele réu excluído, é uma sentença;
cabe agravo, mas não há artigo que diga qual o recurso cabível nesse caso.

Exemplo: medida cautelar: o juiz acabou de extinguir a ação principal. O que ele faz
com a medida cautelar que está em apenso? Há uma cautelar de sustação de protesto,
mas na principal o juiz julga improcedente a ação. O que faz com a medida cautelar? A
medida cautelar é autônoma porque está assegurando outra coisa, a eficácia de direito
material. O cara julgar em primeiro grau não significa nada – ainda tem o segundo
grau, os órgãos de superposição.

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 Art. 75, CC de 1916: “A todo o direito corresponde uma ação, que o assegura.”

- O artigo retrata essa intuição. Agora, este código, apesar de ser de 1916, começou a
tramitar em 1850, junto com o Código Comercial. Em 15 dias o Código Comercial foi
promulgado e demorou 66 anos para a promulgação do Código Civil 1916, que retrata
uma era pré-processual.

- Não existia código de processo; existia código de procedimento. Tudo só tinha


regulamentação de procedimento. No Brasil, começou a ser ministrado o direito
judiciário (na Itália, o direito jurisprudencial).

 Art. 501, CC de 1916: “O possuidor, que tenha justo receio de ser molestado na
posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da violência iminente, cominando
pena a quem lhe transgredir o preceito.”

- Poderá “impetrar”. Essa norma é de direito material?

- Então até o final do século XIX, havia um direito material e dentro desse direito
material, regras procedimentais.

 Art. 972, CC de 1916: “Considera-se pagamento, e extingue a obrigação o


depósito judicial da coisa devida, nos casos e forma legais.”

- Depósito “judicial” – essa é a ação de consignação, prevista no Código Civil de 1916.

- Então é natural que o nosso código de processo civil hoje ainda traga um livro dessa
época: o Livro IV, de Procedimentos Especiais. Por isso eles não são processo – o Livro
IV não entra no sistema, porque ele reflete uma realidade pré-processual.

- Ainda que procedimentalmente a ele se apliquem regras, a eles não se aplicam as


regras do sistema.

- Por exemplo, art. 922, CPC:

 Art. 922, CPC: “É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em
sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.”

- Na contestação eu posso demandar alguma coisa? No processo de conhecimento


não. No procedimento comum ordinário, não se pode deduzir pedido na contestação;
teria que formular a reconvenção.

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2. Problemas da Didática Processual
- Há, portanto, dois grandes problemas da didática processual:

a) Praxismo

- Esse vício ancestral, atávico, de olhar o procedimento, o corpo, e não constatar a


existência de uma alma; olhar o globo ocular e não olhar o brilho do olho; ver a rosa
mas não sentir o perfume. Não conseguimos nos recordar de onde vem esse vício.

b) Materialismo

- É uma decorrência do praxismo. Como não conseguimos conhecer o processo, o


conhecimento de processo fica repleto de lacunas, as quais preenchemos com o
direito material. Dentro do conceito da teoria da ação, recorremos ao praxismo e ao
direito material.

- Esses são os dois maiores erros de quem estuda processo civil: não compreender tais
vícios. Tais defeitos acabam estabelecendo uma cognição mínima do que é processo.

- O primeiro erro é porque o próprio código estabelece esse conceito de fluxo, as leis
são feitas dessa forma. Não há, por exemplo, um dispositivo tratando da ação
condenatória. O CPC se preocupa absurdamente na assinatura de um mandado – isso
é procedimento e não processo.

- O segundo, é porque houve uma época em que o código era só de direito material
(Código Civil de 1916 – que começou a ser elaborado em 1850, que é uma era pré-
processual). Ainda havia aquela discussão se processo era uma relação jurídica
autônoma ou vinculada ao direito material. Por que isso? Porque na realidade as
pessoas já conseguiam enxergar no processo uma relação com regras próprias. Até o
final do século XIX, início do século XX, ninguém falava em direito processual, não
existia uma cadeira de direito processual. A teoria que vigia na época era
IMANENTISTA.

- O art. 75 do Código de 1916 retratava a teoria imanentista: a todo direito


corresponde uma ação que o assegure. Ação petitória, de reconhecimento,
revocatória, anulatória.

OBS: Nas Ordenações Filipinas, no livro de procedimentos, pode-se encontrar uma lista
de direitos materiais e a respectiva ação do lado.

- Só para ter uma ideia de como essa vinculação – e, portanto, esse segundo defeito,
materialismo, é compreensível, ele perdurou até o século XIX.

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Como solucionar tais problemas?

- Liebman, italiano, e radicado no Brasil, principalmente em São Paulo, tinha como


alunos a Ada Pellegrini, o Buzaid – ou seja, deu aula a grandes processualistas
brasileiros. Liebamn dizia que procedimento é corpo; processo é alma. Essa frase
reúne concisão, precisão, e uma absurda licença poética.

Procedimento é corpo; processo é alma.

- O fato é que esse conceito é muito importante porque confundir processo com
procedimento é como confundir altura e largura. É preciso ver a evolução do processo
civil.

- Processo civil é uma relação jurídica muito especial; tem uma formatação, tem regras
próprias, diferentes do direito material.

- A cautelar protege a ameaça, que não tem nada a ver com o bem da vida que está
sendo protegido. A cautelar protege justamente o bem, para que se mantenha íntegro.
O fato de o juiz em primeiro grau ter dito que você não tem direito aquele bem, não
quer dizer que o bem não precise continuar a ser protegido. Aliás, é muito comum
julgar improcedente o processo principal, mas julgar procedente a cautelar, porque
entende que o bem ainda precisa ser protegido.

Exemplo: ação de indenização por danos em virtude de acidente de trânsito. Vou pedir
a condenação do réu à indenização por perdas e danos.

- Em segundo grau, julgam o relator, o revisor e o vogal. Eu formulei um pedido de


dano emergente (o amassado no carro); porque eu tive que ir pra oficina, fiquei um
mês sem o carro e sou representante comercial (lucro cessante); meu faturamento
caiu e eu passei noites em claro vendo como pagaria as contas (danos morais).

- O relator viu que a sua petição inicial estava instruída por dois orçamentos; deu
provimento ao pedido. Mas o lucro cessante ‘não restou suficientemente provado’; e o
dano moral era mero aborrecimento – não deu provimento. O revisor negou
provimento aos danos emergentes; deu provimento aos lucros cessantes; dano moral,
negou provimento. O vogal negou provimento aos danos emergentes e improveu os
lucros cessantes e o dano moral.

Relator Revisor Vogal


Danos Emergentes Deu provimento Negou provimento Negou provimento
Lucros Cessantes Negou provimento Deu provimento Negou provimento
Danos Morais Negou provimento Negou provimento Deu provimento

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- Eu perdi três vezes por 2x1. Eu tenho um embargo infringente com três capítulos.

Então os capítulos de uma sentença dependem de quantos pedidos eu tenho na


petição inicial (Capitulação é pedido!)

- Não se pode aplicar no processo civil a teoria imanentista (direito processual


imanente ao direito material), que dizia que a cada direito corresponde uma ação. Eu
tinha um direito e uma ação – que só podia pedir um direito. Isso é característica do
Livro IV do CPC, que é procedimentos especiais – um eco oitocentista no CPC.

- Na virada do século XIX para o século XX havia os códigos judiciários estaduais – cada
estado tinha o seu. A primeira constituição republicana, de influência americana, deu
aos Estados Unidos do Brasil, os códigos judiciários. Já se falava em ação declaratória,
mas era uma coisa muito fluida. Os códigos eram 5% processuais e 95%
procedimentais.

- Aí veio a constituição em 1932 e depois em 1937; a primeira coisa que Vargas fez foi
mudar o pacto federativo, centralizando na União todos os poderes. Os códigos
estaduais viraram o primeiro CPC, em 1939. Esse CPC de 1939 já era 40% processual e
60% procedimental; o CPC de 1973, é quase que 80% processual. O CPC de 2014 será
quase que 95% processual.

- À medida que o processo vai evoluindo, vai absorvendo procedimentos especiais; a


tendência é absorver o Livro IV.

3. Diferenças das Regras que Regem a Relação Processual e a Material


- Se o livro IV é imanentista (a cada ação há um único direito material) isso significa
que eu só tenho um pedido.

Exemplo: ação de reintegração de posse. Pedido: reintegrar a posse.

- Venceu Windscheid sobre Mutter, a nosso ver, porque era inevitável que o processo
fosse considerado uma relação autônoma, tendo em vista que o judiciário já não se
administrava mais (devido à falta de estrutura, ninguém se preocupava em recorrer ao
judiciário).

- Como não existia uma autonomia da relação processual, a regra era o que o direito
material estabelecia. A teoria imanentista estava gerando uma falência.

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- Então a primeira grande reforma processual foi a necessidade de criar regras
próprias, mas para isso era preciso criar um sistema próprio, com uma principiologia
própria. Hoje na Constituição Federal há mais princípios de direito processual que de
direito material: duplo grau de jurisdição, contraditório, ampla defesa. Tudo isso faz
existir um direito processual autônomo.

- Hoje já há procedimentos especiais convivendo com o direito processual. Nos


procedimentos especiais, como há um único direito, ou ele é meu ou ele é seu. Por isso
que quando você está contestando, já está reconvindo. Na reintegração de posse, ao
pedir a improcedência, já está pedindo a posse.

 Art. 922, CPC: “É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em
sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.”

- É lícito ao réu na contestação “demandar”. Essa regra de direito material, que é


imanentista, vale no direito processual? Eu posso na contestação formular pedido
contraposto? Não. Devo fazer uma reconvenção. O nome disso é ACTIO DUPLEX. Isso
não é reconvenção, não é pedido contraposto; é actio duplex – é uma regra típica da
teoria imanentista ainda vinculada ao direito material.

- Reconvenção e pedido contraposto são institutos de direito processual e possuem


requisitos diferentes. A actio duplex é consequência do direito material. A reconvenção
é um contra-ataque – mesmo eixo jurídico. E a actio é o mesmo eixo fático.

- Se a teoria imanentista define apenas uma única ação para aquele direito, então a ela
ainda se aplicam as feras do século XIX que são de direito material. Como eu só estou
discutindo um direito, ou ele é meu ou ele é seu; a simples contestação já implica num
pedido. Esse é o caráter dúplice das ações possessórias.

- No direito processual, no máximo eu fico como estou, se não formular qualquer


pedido.

- O pedido contraposto hoje é só no rito sumário (art. 278, § 1º, CPC). Reconvenção é
em procedimento ordinário.

- Existe actio duplex possível no direito processual? Não. Ou formula pedido


contraposto ou reconvenção, no caso de procedimento ordinário. Por quê? Quando
você transforma algo numa relação jurídica autônoma, ele ganha em complexidade,
internamente. Então no século XIX havia milhares de ações simples, mas por serem
várias, atulhavam o poder judiciário.

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- Quando Bullow, em 1868, publicou a Teoria das Exceções e as Defesas Processuais,
deitou a primeira teoria a essa autonomia da relação processual e, quando fez isso,
disse: para que eu possa acumular os procedimentos eu preciso criar um
procedimento que seja comum a todas as exceções – art. 271, CPC.

- Então, historicamente, o primeiro artigo que se deve ler é o art. 271, CPC.

 Art. 271, CPC: “Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo


disposição em contrário deste Código ou de lei especial.”

- Von Bullow visualizou: vou pegar todas as causas do meu sistema imanentista e vou
criar um sistema único para melhorar o fluxo. Ao criar o procedimento comum a todas
as causas, estava criando todo um ramo científico.

- O que é a causa de pedir? É o ato ou fato jurídico que irradiou a lide. Enquanto você
está parado no sinal, não há causa de pedir. Quando o cara bate no meu carro, surge a
causa de pedir. Você tem que olhar o acontecimento, o fenômeno a ser transcrito
nesse silogismo. A CAUSA DE PEDIR é exatamente o fenômeno que irradia não o
direito material, mas o direito processual.

- Ius as facultas agendi – o direito é uma faculdade de agir. O direito material é


exatamente a faculdade de fruir, por exemplo, de um bem.

- O ‘fenômeno’ é um portal entre o direito material e o direito processual. Agora você


passa a outra faculdade, que é a base da relação processual: ius facultas exigendi.
Quando você tem o fenômeno da causa de pedir, que irradia luz ao direito processual,
você passa a ter um outro direito subjetivo, que é de exigir – porque ela pode desistir.
Esse direito também é material.

- O prazo para a ação rescisória, de 2 anos, é decadencial, porque propor uma ação é
um direito – por isso decai e não prescreve.

- Então ius passa a ser facultas exigendi. Da relação de direito material para a relação
de direito processual há a causa de pedir. Aplica-se a todas as causas de pedir o
procedimento comum (art. 271. CPC).

Direito Material Direito Processual

Causa de Pedir

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- No Código Civil de 1916, a cada direito material correspondia um direito de ação.
Bullow criou uma primeira dimensão processual: um procedimento comum. Na ideia
do autor, você tem o procedimento comum para as relações processuais. Mas como
esse procedimento comum não resolveu todos os problemas, continuaram a existir
ainda os procedimentos especiais.

Exemplo: inventário. Não tem contestação – então não há como encaixar.

- Há procedimentos que nunca vão ser processualizados. O máximo que se pode fazer
é torna-los extrajudiciais – o que se está fazendo no inventário, por exemplo: quando
não há herdeiro menor e há consenso quanto à partilha, pode fazer o inventário de
forma extrajudicial. O mesmo está acontecendo com o divórcio.

- Essa primeira dimensão é muito mais importante do que se imagina, mas ainda não é
o processo.

- Há, portanto, o procedimento comum e o especial, que continua vinculado ao direito


material. É como se fosse uma divisória entre o direito material e o direito processual.

- Se o procedimento é um caminho, processo é uma segunda dimensão, é um método


de resolução. Então há o procedimento, o processo e a ação. Há meio físico, método e
satisfação ou objetivo. São três coisas completamente diferentes e essa é a grande
beleza da teoria de Von Bullow. Criou um procedimento comum e agilizou o
processamento; criou todos os procedimentos estabelecendo dois métodos
processuais: cognição e execução.

- Von Bullow estabeleceu um sistema processual: o procedimento comum (hoje em dia


sumário ou ordinário, de acordo com o nível de complexidade da causa). Esse é o
fluxo. O conhecimento e a execução formam a terceira dimensão, que é a ação.

SISTEMA

MEIO FÍSICO MÉTODO SATISFAÇÃO

Ação

Conhecimento
Processo
Execução
Ordinário
Comum Sumário
Especial

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- Tudo tem um meio físico (PROCEDIMENTO), um método (PROCESSO), rumo a uma
satisfação (AÇÃO). Em uma palavra, é um sistema, o sistema processual preconizado
por Von Bullow.

- Então o século XIX marca uma crise do judiciário na Inglaterra. O problema do


judiciário à época era a teoria imanentista, onde o direito processual é imanente ao
direito material – cada direito, uma ação, cada ação um procedimento. Logo, apesar
das ações serem muito simples, porque vinculadas exclusivamente aquele direito
material (não podiam ser usadas para outro), não existia processo, mas só existia
procedimento, cujo eco ainda está no nosso código, no Livro IV – procedimentos
especiais.

 Esse formalismo existe até hoje. Mas o processo civil não tem mais espaço para
esse tipo de formalismo oitocentista.

- Já na metade do século XIX, Mutter e Windescheid ficavam discutindo se havia


condição de identificar no processo uma relação autônoma diferente do direito
material ou não. Windscheid (processualista) dizia que sim, Mutter dizia que não (era
civilista). E aí começaram a entender que o processo tinha realmente regras diferentes,
onde não necessariamente o acessório segue o principal. Windscheid venceu.

OBS: O grande pulo do gato de Buzaid foi dar ao processo cautelar autonomia. O que
acontece com uma tutela se advém depois uma sentença em sentido contrário? Elas
estão proferidas no mesmo eixo processual. Agora, se você cria uma tutela num eixo
próprio, o julgamento de uma não necessariamente implica no mesmo julgamento da
outra.

- Os procedimentos especiais são muito simples e só discutem um direito, então basta


o simples fato de você contestar (não há necessidade de reconvir, de formular um
pedido contraposto) porque a negativa do seu direito implicará na afirmação do meu
direito. Os três tipos de resposta do réu são: contestação, reconvenção, exceção.

- O processo civil tem suas regras, características próprias que não se coadunam com
os procedimentos do século XIX.

Oscar Von Bullow: Autonomia do Direito Processual


- Von Bullow e Adolf Wach viram que cada direito material tinha o seu procedimento
dentro da seção. Então ele enfeixou esses procedimentos e, na medida do possível,
criou um procedimento que fosse comum a todas as causas.

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- CAUSA DE PEDIR é aquele fenômeno – ato ou fato jurídico – que irradia do direto
material ao direito processual. Até que alguém bata no sue carro você tem direito
material e não direito processual.

- Bullow uniformizou, na medida do possível, o procedimento. Mas há uma


consequência: para poder uniformizar, tem que sistematizá-los antes e, na realidade, o
processo já sofria uma dicotomia de 2 mil anos, cognição e execução (que existia desde
o direito romano). Bullow estabeleceu o procedimento comum aos processos
cognitivos e um procedimento comum dos processos de execução e tentou enfeixar.
Claro que ele não conseguiu. Para ele, só as ações de cunho pecuniário tinham
procedimento comum, conhecido como execução por quantia certa contra devedor
solvente.

- O que ele estabeleceu foram os primeiros passos, os primeiros rudimentos para um


novo sistema não mais vinculados ao direito material e sim com um regramento, uma
principiologia própria porque o que autonomiza um sistema é a existência de
princípios próprios, diferentes dos outros.

- Então o princípio segundo o qual “o acessório segue o principal” pertence ao direito


civil. No direito processual, como é outra relação jurídica, vinculada a outro ramo do
direito, há princípios próprios.

- Você não pode emprestar para o direito o conceito epistemológico das ciências
exatas. Nas ciências humanas a questão é muito mais fluida.

- Bullow partiu de uma premissa, Windscheid, de que o processo era relação autônoma
do direito material, e criou:

Ação

Processo

Procedimento

- Tentou conceber uma relação processual autônoma, que é aquela que está no
código.

1. A Ação Declaratória

- Livro I, capítulo II, CPC, “Da Ação”, no singular. Por conta dessa primeira montagem,
por tradição, o Código não trata das ações, mas só da primeira, a ação declaratória –

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porque quase tudo é declaração. Então Bullow conseguiu enxergar a declaração como
única ação, e conseguiu acabar com todas ações, antes procedimentos especiais, que
tinham finalidade declaratória: paternidade, anulatória, etc.

- É claro que ele não conseguiu resolver todos os problemas do processo civil no livro
dele. A sua teoria demorou décadas para poder vencer, para poder ir se
implementando aos poucos.

- Ninguém tinha a noção do processo como ramo científico, que ainda não tinha
florescido. Na época, não tinham noção do que estava acontecendo. O Código Civil de
1916 retratava claramente aquela era oitocentista; é claro que nessa época já existiam
os primeiros procedimentos processuais. Essa é uma conclusão que você só chega
estudando a evolução histórica.

2. Procedimento Comum
a) Cognição (cognitio)
b) Execução (executio)

- Bullow concebeu a causa petendi, a causa de pedir, que é exatamente o portal que
separa um ramo jurídico de outro, e, ao fazê-lo, estabeleceu um procedimento comum
a todas as causas.

 Art. 271, CPC: “Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo


disposição em contrário deste Código ou de lei especial.”

SISTEMA

MEIO FÍSICO MÉTODO SATISFAÇÃO

Ação declaratória

Conhecimento
Processo
Execução por quantia certa contra devedor solvente
Ordinário
Procedimento Comum Cautelar
Sumário
Procedimentos Especiais

(actio )

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- O PROCEDIMENTO COMUM pode se realizar por dois métodos: cognição e execução.
E, para Von Bullow, havia dois tipos: a) o método de solução das ações de
conhecimento era o declaratório; e b) nas de execução, a execução por quantia certa
contra devedor solvente.

- Ele estabeleceu, portanto, um sistema; você tem um MEIO FÍSICO, um MÉTODO e


uma SATISFAÇÃO.

- O que fez foi aplicar a isso um sistema que é absolutamente simples.

 Art. 3º, CPC: “Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e
legitimidade.”

- Condições da ação. Liebman conclui que possibilidade jurídica do pedido é uma parte
do interesse de agir (por isso que consagra duas condições, enquanto o art. 267, de
redação anterior, possui três condições da ação).

 Art. 4º, CPC: “O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência


ou da inexistência de relação jurídica; II - da autenticidade ou falsidade de
documento. Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que
tenha ocorrido a violação do direito.”

- O artigo trata da ação declaratória.

 Art. 5º, CPC: “Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de
cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das
partes poderá requerer que o juiz a declare por sentença. (Redação dada pela
Lei nº 5.925, de 1973)”

- Ação declaratória incidental.

 Art. 6º, CPC: “Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo
quando autorizado por lei.”

- Princípio individualista.

- E depois, no Título II, “Das partes e os procuradores”. Por tradição do nosso direito
processual, a gente só prestigia Von Bullow – o código não traz outras ações, que

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devem ser intuídas. Se você não intui as ações do sistema, você não entende o
processo e usa, numa petição processual, elementos de direito material.

- Antigamente, havia 460 ações, uma diferente da outra. Bullow criou uma ação muito
mais complexa que enfeixava todas essas ações, procedimentos e todos os métodos
que elas revelavam num procedimento. Agora as ações são em menor número, mas
são mais complexas – claro, porque tem que absorver o depósito da consignação em
pagamento, a questão da paternidade, dos alimentos, em várias técnicas de tutela, e é
uma nova relação jurídica (é obvio, portanto, que intrinsecamente tornar-se-á cada vez
mais complexa).

 Ganhou tanta complexidade que o próximo código vai tentar simplificar,


trazendo uma série de outros conceitos, outros subprincípios decorrentes
dessa tempestividade – por exemplo, o princípio da cooperação.

- No procedimento comum, é óbvio, especialmente no direito brasileiro, você não


pode aplicar um mesmo critério dialético para uma cobrança de condomínio ou para
uma ação de erro médico – que é condenatória. Você tem um procedimento que, por
convenção, estabeleceu-se uma via mais ampla (ordinário) e outro, sumário.

O meio físico (procedimento), o método (processo) e a ação (satisfação) não se confundem!

- O processo de conhecimento surgiu depois do processo de execução. Para melhor


visualizar, basta voltar ao direito natural.

Exemplo: um irmão mais novo e um mais velho. Os pais saíram de casa = direito
natural. O mais novo está sentado no sofá com o controle remoto da TV na mão. Qual
é o nome disso? Autotutela.

- Então a execução surgiu antes. Do direito natural, até o direito pré-clássico romano,
só havia execução. Você tinha um procedimento de admissibilidade da ação executiva,
e Roma nunca conheceu a responsabilidade patrimonial; sempre a responsabilidade
pessoal do devedor. Então havia várias formas de execução pessoal: humilhar
publicamente o devedor, “das quebras” (quebrava todo o estabelecimento comercial
do devedor).

 Sugestão de Leitura: Execução Cível – Cândido Rangel Dinamarco

- Por exemplo, Mercador de Veneza, um livro do século XVII que reflete essa
responsabilidade pessoal na execução. Por incrível que pareça, quem trouxe a
responsabilidade patrimonial foram os bárbaros e dessa miscigenação é que nasceu o
sistema romano-germânico.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 15


- Vê-se que a cognição não existia; só existia execução. A cognição nasce da costela da
execução. Um dia, o devedor, admoestado pelo pretor romano a pagar a dívida, queria
mostrar que não era o devedor – havia condição da ação, era parte legítima e a outra
parte não tinha interesse. Então na admissibilidade da execução você poderia ter certo
contraditório – quem mandou isso foi o césar, porque o devedor recorreu ao césar,
que, mesmo ciente da rigidez da lei antiga, pediu que o pretor abrisse uma exceção
(por isso até hoje a exceção é uma matéria de defesa, desde que ela seja preliminar).

 Então a exceção de incompetência, etc., são elementos que podem


comprometer a higidez do processo e, portanto, devem ser analisadas de
plano, antes de adentrar a execução.

OBS: As Institutas de Gaio foram as primeiras coisas processuais que surgiram. Com a
decadência do império romano, viu-se o direito canônico, extremamente litúrgico,
influenciando o processo de conhecimento que cresceu até ficar absolutamente
inadministrável no século XX, de maneira que foi ganhando, ao longo dos séculos, uma
estrutura dialética cada vez mais complexa (inclusive de recursos, que fez com que ele,
antes apenas uma admissibilidade da execução, se tornasse o que é hoje).

- Apenas o Brasil trouxe – e já vai acabar no próximo código – o processo cautelar.

- Processo de execução por quantia certa contra devedor solvente: se observarmos,


não há espaço para defesa; há três capítulos: a) da penhora; b) da avaliação; e c) da
expropriação. Defender-se-á através de ação autônoma – embargos do devedor.

 A execução brasileira é, em essência, igual a que havia em Roma.

- Desde o direito romano, você tem a constrição sem o contraditório. Ninguém nunca
alegou que a execução por quantia certa fosse inconstitucional. Mas por que ela é
constitucional se há uma norma constitucional impedindo que seja um devedor seja
privado de seus bens sem o devido processo legal? O conceito de privação não é só
expropriação; por que a penhora pode ser feita antes de qualquer defesa?

Não se pode confundir cognitio com executio; na COGNITIO há uma pretensão


resistida, as pessoas estão em igualdade de condição processual; na EXECUTIO, trata-
se de pretensão insatisfeita.

- Execução tem um segundo nome. O primeiro artigo do Livro II do CPC deixa claro que
a execução é força, não é conhecimento. Isso é um eco do direito romano. Você já
teve a cognição.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 16


 Art. 566, CPC: “Podem promover a execução forçada: I - o credor a quem a lei
confere título executivo; II - o Ministério Público, nos casos prescritos em lei.”

- Por que alguns títulos são considerados títulos extrajudiciais? Porque eles travestem
uma manifestação de vontade do devedor. Se o devedor já se manifestou pela
liquidez, certeza e exigibilidade do título, não há porque haver a cognição. O título só
será executivo extrajudicial se houver a participação do devedor.

- Onde estavam as tutelas de urgência no século XIX, no século XVIII? Elas já existiam e
estavam dentro das ações, sejam elas quais fossem. A possessória tinha a sua própria
tutela, bem como a consignação em pagamento (art. 899, § 1º, CPC).

 Art. 899, § 1º, CPC: “Alegada a insuficiência do depósito, poderá o réu levantar,
desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqüente liberação
parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida.”

- Porque se o próprio autor da ação, que é devedor, reconhece que ao menos aquilo é
devido, isso se chama parcela incontroversa, e desde já ele pode levantar. Isso é uma
tutela.

- Cada ação tinha sua própria tutela de urgência. Mas e se o juiz errar, como ele faz?
Mais do que isso, se o juiz mudar de ideia por algum outro motivo antes da sentença
ou até na sentença? O que acontece com a tutela de urgência que está dentro do
mesmo eixo cognitivo e a sentença derroga a liminar? Ela é extinta.

- O Prof. Buzaid observou que a tutela de urgência, quando não tem a ver com a
sentença, isto é, ela não é antecipatória, mas apenas acautelatória da eficácia da
sentença, essa tutela merecia uma autonomia que a outra não pode ter.

- Por evidente, se eu movo uma ação em face da Unimed, executiva lato sensu, para
instalar uma prótese que o médico me indicou, por falta de cobertura contratual; o
que o juiz defere na liminar? A prótese. É óbvio que isso é a sentença antecipada. Essa
tutela é nitidamente uma parcela substancial da sentença que está sendo antecipada;
diferentemente de uma tutela meramente conservativa, onde você está discutindo,
por exemplo, probidade administrativa contra um prefeito e quer ter certeza que ao
final desse processo o prefeito tenha solvência para pagar essa dívida. Então você
simplesmente congela determinado bem dele. Esse bem não tem nada a ver com a
sentença de improbidade administrativa; mas se essa tutela for interna e a sentença
vier a discordar dela, ela vai junto.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 17


- Então as TUTELAS CONSERVATIVAS merecem um tratamento diferenciado, elas
precisam ser autônomas. Não há uma obrigatoriedade ao magistrado de julgar a ação
principal e, ao fazê-lo, julgar no mesmo sentido a ação cautelar. Isso que Buzaid
enxergou.

 Art. 273, § 2º, CPC: “Não se concederá a antecipação da tutela quando houver
perigo de irreversibilidade do provimento antecipado.”

- A pergunta é: para quem é mais irreversível: a concessão ou a não concessão? Isso é


uma característica da Escola de são Paulo.

- Como formular um pedido de implantação de marca-passo? Ação mandamental ou


executiva lato sensu (pela escola de são Paulo).

- Nós chegamos ao conceito mais abstrato: a AÇÃO.

Teoria da Ação
1. Ação Declaratória

- “Declarar” é só quando não há relação jurídica. Uma ação revisional é constitutiva.


Depois, por força dessa desconstituição, muda a base de cálculo, e eu, de devedor,
posso passar a ser credor, mas ainda pode ter uma condenação da instituição
financeira em danos morais. Você combina esses pedidos para formar a parte capitular
da sentença.

- Tudo se manifesta através de verbos; as ações são verbos. Qual foi a única ação que
Von Bullow determinou? A ação DECLARATÓRIA, a única que está no código.

 Art. 4º, CPC: “O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência


ou da inexistência de relação jurídica; II - da autenticidade ou falsidade de
documento. Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha
ocorrido a violação do direito.”

- A primeira ação é a declaratória. Mas a declaratividade é muito radical (art. 4º, I,


CPC). A inexistência e a existência se relacionam mais ou menos como o preto e o
branco e, na realidade, a ação declaratória não envolve os matizes de cinza que
existem entre o preto e o branco.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 18


2. Ação Constitutiva

- Há situações em que a declaratividade existe, mas deve-se estabelecer o seu alcance.


Então há uma situação em que já existe uma relação jurídica, porém faz-se necessário
determinar quão profunda é aquela relação – essas ações são CONSTITUTIVAS.

- O que é uma ação de alimentos sem o reconhecimento de paternidade? É


essencialmente uma ação CONSTITUTIVA e CONDENATÓRIA. O pai reconheceu o filho
na certidão de nascimento – existe uma relação jurídica; mas ele não paga alimentos –
então a ação de alimentos vai estabelecer uma regra dentro dessa declaratividade.

SISTEMA

MEIO FÍSICO MÉTODO SATISFAÇÃO

Declaratória (art. 4º) – (In) existência

(Des) Constitutiva – (Des)


Ação Regulamentação

Conhecimento Condenatória – Atuação volitiva ou


Processo patrimonial
Execução por quantia certa
Ordinário contra devedor solvente

Procedimento Comum Sumário Cautelar

Procedimentos Especiais

(actio )

Da costela da declaratória surge a ação CONSTITUTIVA ou desconstitutiva.


O seu objetivo é regulamentar uma relação jurídica.

- Há duas ações: declaratória (expressa no art. 4º, CPC) e constitutiva (intuída) que
mexem na relação jurídica, estabelecem determinado direito, mas você não consegue
buscar uma atuação patrimonial, você não constrange a parte; elas são
autoenunciativas, meramente ENUNCIATIVAS.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 19


3. Ação Condenatória

- O dualismo romano, cognitio e executio, nos faz intuir uma terceira ação, que é a
ação CONDENATÓRIA. Olhando para o código, pode-se intuir essa terceira ação. Até
porque as relações jurídicas não se resolvem através de meras enunciações. Na ação
condenatória vai haver atuação volitiva ou patrimonial. O nome dessa estrutura, até o
presente momento, se chama teoria ternária das ações. As ações “de danos”, “de
cobrança”, tornaram-se ações condenatórias.

- O que Von Bullow fez pra estabelecer o dualismo metodológico? Enfeixou as


metodologias que existiam para se chegar a uma jurisdição. Concebeu a ação
declaratória porque essa é a mais visível.

A declaratividade, seja como carga de eficácia, seja como ação, permeia tudo.

- Existem mais duas ações, porque a classificação atual é quinária. Para adentrar as
duas ações, é preciso primeiro entender as diferenças escolásticas. Aliás, as tutelas de
urgência são o grande elemento de choque entre as escolas e que acaba reverberando
inclusive na teoria da ação.

Divergências Escolásticas e Suas Influências


- Para José Roberto dos Santos Bedaque, de São Paulo, acabou a ação condenatória,
porque a ordem de eficácia para pagar é muito mais relevante que a condenação.
Pontes de Miranda, por sua vez, adota a teoria quinária das ações.

Exemplo: a ação pauliana. ‘A’, detentor do direito, observa ‘B’ que dispôs desse direito
com relação a ‘C’ com o objetivo de blindar patrimonialmente. ‘A’ move uma ação
predominante constitutiva negativa para desconstituir uma relação jurídica
preexistente. O problema é que essa desconstituição vai ser tão radical que vai
desconstituir a relação jurídica entre ‘B’ e ‘C’, de forma que ‘D’, ‘E’, ‘F’ possam se
aproveitar disso. A simples existência de uma intenção de uma ação pauliana implica
no reconhecimento de uma relação jurídica. A aparência externa é de uma
declaratividade, mas na verdade houve uma desconstitutividade radical.

- Antes, nos casos de obrigação de fazer, de dar coisa certa ou incerta, pagar quantia
certa, a ação era condenatória; tudo passava por uma condenação. Só depois do

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 20


trânsito em julgado, constituído o título executivo extrajudicial, poder-se-ia propor
outra ação, agora de execução, para aí sim atingir o fim pretendido.

- Na verdade, a escada é tridimensional:

SISTEMA

MEIO FÍSICO MÉTODO SATISFAÇÃO

Declaratória Por quantia certa (devedor solvente/ insolvente)

Constitutiva Obrigação de dar coisa certa ou incerta

Condenatória Obrigação de fazer ou não fazer

Alimentos
Nominada

Conhecimento Inominada

Execução

Cautelar
Comum

Comum

Comum

- Porém, precisávamos achar ações que trouxessem para dentro do processo de


conhecimento essas características executivas.

 Art. 644, CPC: “A sentença relativa a obrigação de fazer ou não fazer cumpre-se
de acordo com o art. 461, observando-se, subsidiariamente, o disposto neste
Capítulo. (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)”

- Assim como a primeira ação de Von Bullow, única expressamente prevista no código,
é o resultado do enfeixamento de várias outras ações imanentistas. De qualquer
maneira o raciocínio ficou. Através disso, conseguiu-se, pouco a pouco, criar novas
ações. A mesma coisa aconteceu com as tutelas de urgência.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 21


- No século X, quando Carnelutti começou a sistematizar as tutelar de urgência, quais
tutelas existiam? Porque no período imanentista, determinadas ações tinham suas
próprias tutelas de urgência.

Exemplo: O que é a medida de arresto, por exemplo? A origem é “rest”, prender,


indisponibilizar.

- São medidas de urgência que eram deferidas muito ordinariamente. Desde sempre
há conflitos possessórios e desde que começaram os primeiros rudimentos comerciais,
quando o comerciante entregava ao capitão do navio toda a sua economia para
vender em outros portos sem nenhuma garantia que lhe devolveria o dinheiro. Então
em abas as situações havia tutelas de urgência – não são uma invenção da
humanidade.

- Mas Carnelluti observou que num tipo de tutela – não importa a situação fática –
você adianta a quem possivelmente tem razão o próprio bem da vida. E na outra você
não adiantava; você garantia. Então havia uma diferenciação muito grande, muito
clara de você mexer no mérito da ação ou se você apenas viabilizar algum mérito na
ação.

Exemplo: numa situação de ação possessória, quando eu dou uma liminar e tiro os
invasores do terreno, o nome da ação é “reintegração de posse”. Ora, se eu te dou a
posse liminarmente, estou mexendo no mérito dessa ação. Outra coisa
completamente diferente é o capitão do navio recebe todas as minhas mercadorias e
eu peço uma garantia de que, se um dia ele vender tudo aquilo, ele me dê o dinheiro
de volta. Estou apenas garantindo que haverá mérito na ação.

- Então, apesar de existirem muitas tutelas, ou elas mexem no direito material ou


garantem que haverá um direito material a ser tutelado.

- Sequestro de bens, arresto de bens, as medidas, por exemplo, para a improbidade


administrativa.

Exemplo: um prefeito que está sendo acusado de lesar. Qual é a primeira coisa que o
MP, na ação civil pública, vai pedir, liminarmente, em relação aos bens pessoais dele?
A indisponibilidade. Você mexeu no mérito da ação? Não. E essa liminar quer dizer que
você vai ganhar a ação? Não, não mexe no mérito, apenas assegura que, quando vier a
sentença de mérito, ela será executável.

 Art. 899, CPC: “Quando na contestação o réu alegar que o depósito não é
integral, é lícito ao autor completá-lo, dentro em 10 (dez) dias, salvo se

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 22


corresponder a prestação, cujo inadimplemento acarrete a rescisão do
contrato. § 1o Alegada a insuficiência do depósito, poderá o réu levantar,
desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqüente liberação
parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida.
(Incluído pela Lei nº 8.951, de 13.12.1994) § 2o A sentença que concluir pela
insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido,
e, neste caso, valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe a
execução nos mesmos autos. (Incluído pela Lei nº 8.951, de 13.12.1994)”

- O que é uma ação de consignação? É uma ação do devedor contra o credor quando o
credor se recusa a dar quitação. O devedor deposita o valor que acha devido; o credor
contesta a ação e diz que o devedor deve mais do que o valor consignado. Não há
sentido para o credor não levantar a parcela incontroversa.

§ 1º: quem alega a insuficiência do depósito é o credor, réu da ação. Isso é uma
antecipação de tutela. Mas as pessoas nem entendiam isso como uma tutela de
urgência.

1910 - O grande mérito de Carnelutti foi visualizar os dois tipos de tutelas de urgência.
Então, por volta de 1910, 1911, Carnelutti publicou uma de suas primeiras obras onde
sistematizou as tutelas de urgência e batizou-as empiricamente de “medidas
cautelares” ou “acautelatórias”, que poderiam ser satisfativas ou acautelatórias.

- No sistema brasileiro, o Código de Processo Civil de 1939, baseado no CPC Português,


incorporou o sistema de tutelas de urgência. O CPC de 39 tinha dez livros, mas,
basicamente, dentro desses livros, havia o Livro I, com a parte geral, um livro de
processo de conhecimento e um outro para o processo de execução; depois tinha os
processos acessórios e os processos especiais (Livro I: Disposições gerias; Livro II: Do
processo em geral; Livro III: Do processo ordinário; Livro IV: Dos processos especiais;
Livro V: Dos processos acessórios; Livro VI: Dos processos de competência originária
dos tribunais; Livro VII: Dos recursos; Livro VIII: Da execução; Livro IX: Do juízo arbitral;
Livro X: Disposições finais e transitórias).

- Ora, quando se fala em tutelas assegurando o resultado do mérito ou adiantando o


mérito, de qualquer maneira, faz-se referência ao mérito que será apreciado no
processo de conhecimento.

- Então dentro do processo de conhecimento, bolou-se uma norma, que é mais ou


menos a norma que está inserida no art. 798 do CPC, datada de 1939, mantida no CPC
de 73 e que será mantida no novo código: chama-se de PODER GERAL DE CAUTELAS,
que permite ao magistrado editar medidas provisórias que julgar adequadas toda vez

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 23


que uma parte puder gerar à outra, antes do julgamento da lide, um dano de difícil
reparação.

 Art. 798, CPC: “Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código
regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas
provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma
parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de
difícil reparação.”

- Então há o periculum in mora e a discricionariedade do magistrado diante das provas


que lhe forem deferidas.

Em situações em que estiver presente a nota de urgência, pode deferir as medidas


que julgar adequadas, sejam elas satisfativas, sejam elas acautelatórias – é a
situação do caso concreto que vai definir se é uma ou outra.

Exemplo: o cliente está com patologia cardíaca, mas pode esperar um pouco. Então o
juiz manda reservar um marcapasso e manda adiantar uma perícia médica – não
ordena implantar liminarmente um marcapasso, que seria uma medida satisfativa
(defere uma medida que é meramente acautelatória, em virtude das circunstâncias do
caso).

1939 - Em 1939, esse sistema, denominado PODER GERAL DE CAUTELA, foi inserido no livro
I, no processo de conhecimento.

1951 - Isso ficou muito evidente quando em 1951 foi editada a nova Lei do Mandado de
Segurança (Lei nº 1.533/51), que consubstanciou tal sistema. No art. 7º, está disposto
que, ao despachar a inicial, o juiz ordenará (item II) que se suspenda o ato coator. Isso
deu um problema hermenêutico, ali pelos idos de 1952, justamente em relação a esse
sistema.

 Art. 7º, da Lei 1.533/51: “Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: [...] II - que se
suspenda o ato que deu motivo ao pedido quando for relevante o fundamento e
do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja deferida.”

Exemplo: em 1952, não existiam montadoras no Brasil, então todos os carros eram
importados e houve uma grande importação para o RJ de Cadillac americanos. O fiscal
da aduana, por um problema qualquer de desembaraço aduaneiro, não desembaraçou
os carros. Aí a nata da sociedade carioca consultou um grande advogado da época e
impetrou mandado de segurança. O juiz olhou a lei que dizia que ao despachar a inicial
o juiz ordenará que se suspenda o ato coator. Ora, suspender um ato denegatório, não

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 24


está na lei, e se a lei não permite, então quem sou eu para deferir o que a lei não
permitiu. Então se apegou de uma forma literal, praxística.

- Com agravos e recursos inerentes ao CPC de 1939, chegou-se ao STF, que ficava
também no Rio de Janeiro, Distrito Federal da época. O STF decidiu que o poder geral
de cautela é a discricionariedade do magistrado entre deferir medidas satisfativas ou
acautelatórias. Ora, quando o legislador fala que “se suspenda”, deve-se entender que
significa ou satisfazer ou acautelar. Então o STF disse que o juiz pode não apenas
suspender como pode se substituir à autoridade coatora e determinar que se faça
alguma coisa.

 Eis a força do sistema implantado por Paulo Batista em 1939.

1965 - Há outro caso bastante famoso, ocorrido em 1965, com a Lei da Ação Popular (Lei
4.717/1965).

 Art. 5º, § 4º da Lei 4.717/1965: “Conforme a origem do ato impugnado, é


competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo
com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que
interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município. [...] § 4º Na
defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo
impugnado. (Incluído pela Lei nº 6.513, de 1977)”

- “suspensão liminar do ato lesivo”: se pensar como o juiz no caso dos Cadillac, só pode
suspender medidas positivas.

Exemplo: vamos imaginar que está sendo omisso na demolição de um patrimônio


histórico, numa situação de poluição ambiental. Aí vai dizer que não pode suspender o
ato porque não há o ato para ser suspenso. Isso seria bobagem; onde se lê “suspenda-
se”, deve-se entender “PODER GERAL DE CAUTELA”, que é a discricionariedade do
magistrado em deferir uma medida que pode ser satisfativa ou meramente
acautelatória.

1910 1939 1951 1952 1965 1973

Medidas CPC Mandado de Lei da Ação


Segurança CPC
cautelares Livro I Popular
Dec. Livro III
(urgência) Poder Art. 5º, § 4º
Art. 7º Autonomia
Geral de
- Satisfativas Cautela
- Acautelatórias

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 25


1973 - Em 1973, ditadura no Brasil, e o Código de Processo Civil. Qual é a diferença do CPC
de 1973 para o CPC de 1939? Buzaid inovou: ele verificou que as tutelas, fossem elas
satisfativas fossem acautelatórias, se elas estivessem no livro do processo de
conhecimento, tinham um problema, que era a falta de autonomia.

- O que acontecia com uma tutela de urgência deferida dentro de um processo de


conhecimento quando sobrevém uma sentença em sentido contrário?

- Buzaid constatou que isso era prejudicial à tutela de urgência. Todas as tutelas de
urgência estavam inseridas dentro de um conceito maior chamado PODER GERAL DE
CAUTELA, dentro do livro relativo ao processo de conhecimento. Caso sobreviesse
sentença em sentido contrário, não subsistiria a tutela; caso a sentença fosse
reformada, muitas vezes não havia mais direito a ser acautelado (o direito já havia
perecido).

- Buzaid pensou em criar algo que mantivesse viva a tutela de urgência ao longo do
processo de conhecimento. Buzaid abarcava a teoria ternária. Então qualquer atuação
patrimonial que eu pretendesse, teria que mover uma ação condenatória; depois que
transitasse em julgado e retornasse à origem, aí então faria uma execução. Então
como Buzaid prestigiava esse sistema, para essas situações ele criou um processo
autônomo.

- São duas as situações:

a) evitar que a oscilação jurisprudencial comprometesse uma tutela interinal;


b) evitar que a demora no processo prejudicasse o direito nele pretendido.

- Então, por esses dois motivos, Buzaid concebeu um processo autônomo: o juiz não
está obrigado a julgar a ação cautelar no mesmo sentido da ação principal. O objetivo
de Buzaid era gerar AUTONOMIA.

- Buzaid diferenciava “PODER GERAL DE CAUTELA” do “DIREITO ACAUTELADO” (que


será discutido no livro I, no processo de conhecimento). Não se pode confundir
segurança da execução com execução da segurança. Buzaid criou, então, um sistema
onde não havia mais apenas o dualismo clássico romano; mas havia um mecanismo
processual para dar autonomia a todas as tutelas.

 Art. 796, CPC: “O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso
do processo principal e deste é sempre dependente.”

- A relação de dependência é: eu só posso ajuizar a cautelar se existir um direito a ser


tutelado. A dependência agora é outra, e se chama REFERIBILIDADE. A relação de

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 26


dependência é muito mais em termos de “interesse de agir cautelar” do que aquela
questão de “acessório seguir o principal”.

 O Código de Processo Civil de 2014 vai denominá-las tutela de evidência, e não


mais tutelas de urgência.

- Pontes de Miranda, no tratado das ações, lança a classificação quinária e, na verdade,


faz uma crítica absolutamente pertinente ao livro III.

- A sentença terminativa agora é a que julga a execução – não mais a que julga o
mérito da ação, como era antes.

- Buzaid constatou a falta de autonomia das tutelas quando deferidas interinamente e


criou essa solução processual que só existe no Brasil. Mas isso gera consequências.
Teve-se que criar um procedimento. Primeira pergunta: essa sentença tem mérito? E
mesmo ao criar esse procedimento, esbarrou em outros problemas. É sumário, não
está investigando o mérito, mas apenas a plausibilidade da coisa; mas qual a eficácia
dessa sentença?

- O objetivo de Buzaid era retirar as tutelas de dentro do processo de conhecimento,


trazendo-as para um processo próprio para que houvesse a proteção ao bem da vida, a
fim de que permanecesse íntegro durante a ação de conhecimento. Quando a tutela
era interinal, havia uma submissão.

- Com essa situação de transferir tudo para um processo e procedimento próprio,


(sumário, mas próprio), Buzaid correu alguns riscos de concepção, de design. Ele
diagnosticou um equivoco anti-autonomia na situação do CPC de 1939; para curar esse
equívoco, retirou todas as tutelas e as trouxe para um livro próprio. Na realidade, no
meio é que estava a virtude: nem tanto as tutelas deveriam ficar interinais, e nem
tanto deveriam ser elevadas a um status num processo próprio.

1974 - Quem começou a identificar esses equívocos de design no CPC foi justamente Pontes
de Miranda. Em 1974 ele começou a editar o 1º, 2º e 3º volumes do Tratado das
Ações, onde Pontes concebeu as outras duas ações, que são a ação mandamental e a
executiva lato senso.

- Todas as ações que tinham cunho ou mandamental ou executivo ficavam segregadas


no código.

- Pontes, em 1974, especialmente quando editou o 1º volume começou a perceber


que o desenho de Buzaid, a despeito de ter sido uma boa ideia, era um sistema
imperfeito.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 27


- Pontes, quando desenvolveu a nova teoria da ação, quando sistematizou – e foi o
primeiro a sistematizar a teoria da ação – olhou para o livro III do CPC:

 Art. 807, CPC: “As medidas cautelares conservam a sua eficácia no prazo do
artigo antecedente e na pendência do processo principal; mas podem, a
qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas. Parágrafo único. Salvo decisão
judicial em contrário, a medida cautelar conservará a eficácia durante o período
de suspensão do processo.”

- Essa é a base da autonomia.

 Art. 810, CPC: “O indeferimento da medida não obsta a que a parte intente a
ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no procedimento cautelar,
acolher a alegação de decadência ou de prescrição do direito do autor.”

- Porque na realidade são duas coisas completamente diferentes: o poder geral de


cautela é completamente diferente do direito acautelado. Quando eu movo uma
cautelar, não estou perguntando a opinião do juiz sobre o meu direito – que ele vai dar
na ação principal; estou perguntando: independentemente da sua opinião pessoal, eu
tenho plausibilidade nesse direito?

- Entender a cautelar como algo autônomo é, acima de tudo, um exercício de


humildade do magistrado.

Por que o julgamento da cautelar não interfere no julgamento da ação principal?


Porque são duas coisas diferentes: direito material a uma cautela é diferente do
direito material acautelado.

- Buzaid partia do princípio de que existiam dois direitos materiais. O direito


processual, naquilo que não é procedimental, é também material.

Exemplo: qual é a natureza jurídica do prazo de 2 anos para ajuizar uma ação
rescisória? É um prazo decadencial.

 O fato de se chamar direito processual não significa que seja exclusivamente


processual – é também material.

- Buzaid bolou, para o Livro I, o DIREITO ACAUTELADO, e para o livro II, o PODER GERAL
DE CAUTELA. Basta ver o dispositivo constitucional que o próprio Buzaid inseriu na
carta de 1967: eu tenho direito constitucional à higidez da minha pretensão
processual.

 Art. 5º, XXXV, CF: “XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito;”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 28


- Sugestão de Leitura: Comentários ao CPC, Joaquim Calmon de Passos – Editora
Forense.

- Feita essa divisão, fica mais fácil compreender Pontes. Pontes olhou para o Livro III e
pensou: ‘tudo bem, tenho autonomia manifestada fisicamente por meio de um
procedimento próprio, mas há problemas com os efeitos dessas sentenças’.

 Art. 888, VIII, CPC: “O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação
principal ou antes de sua propositura: [...] Vlll - a interdição ou a demolição de
prédio para resguardar a saúde, a segurança ou outro interesse público.”

- “na pendência da ação principal” – em qualquer momento.

- Interdição é cautelar; “demolição”, do ponto de vista do Pontes, não podia ser. Como
eu, antes da propositura da ação principal, poderia ordenar, em cognição liminar –
muito mais que sumária – uma demolição? O cara ganha a liminar 30 dias antes de
mover a ação principal, e já pode demolir (de repente nem ajuíza a ação).

- É uma situação em que o estado – e não só o particular – pode fazer isso com você.

 Art. 888, IV, CPC: “O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação
principal ou antes de sua propositura: [...] IV - o afastamento do menor
autorizado a contrair casamento contra a vontade dos pais;”

- É óbvio que essa norma hoje não tem mais sentido. Essa é a tutela mais satisfativa
que existe. Eram medidas provisórias, mas algumas delas traziam efeitos definitivos. Aí
que entra Pontes de Miranda.

- Pontes começou a se debruçar sobre o DNA das ações para tentar entender que,
numa visão mais básica, na primeira lente do microscópio, você consegue nitidamente
tirar da sentença, em maior ou menor grau, dois elementos básicos: toda sentença de
mérito (portanto toda ação de mérito) possui dois elementos principais: a) um
provimento efetivo; b) acertamento da ação.

Sentença de Mérito Provimento Efetivo Acertamento da Ação

- Viu que toda a ação que busque algum mérito e que obtenha esse mérito tem um
efeito concreto (PROVIMENTO EFETIVO), algo que se realiza no mundo concreto, em

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 29


maior ou menos grau. E toda ação tem também um efeito normativo, um efeito
abstrato (ACERTAMENTO DA AÇÃO) que edita uma norma comportamental.

Comportamento e eficácia no mundo concreto; efeito normativo e efeito


executivo; efeito abstrato e efeito concreto – respectivamente,

ACERTAMENTO DA AÇÃO e PROVIMENTO EFETIVO.

- O que acontece é que quando é declaratória, tem um acertamento da ação


gigantesco e um provimento efetivo bem pequeno. Mas em maior ou menor grau isso
está presente em todas as sentenças de mérito. As cargas de eficácia decorrem desse
raciocínio.

- Buzaid teve que fazer escolhas doutrinárias. Por exemplo, até pouco tempo atrás, a
redação do art. 267, CPC, era: ‘extingue-se o processo sem julgamento de mérito’;
agora é ‘sem resolução’. Mas se eu julgo um médico, no despacho saneador, parte
ilegítima para compor aquela lide em que se busca a reparação de danos causados por
erro médico, deixando só o hospital, ele não está declarando a inocência dele? Isso
não é mérito? Extinguiu em face do médico com base no art. 267, CPC; teoricamente,
o medico poderia responder de novo, mas, na prática, não responde mais.

- Se um objeto é impossível, nada vai torná-lo possível. Então quando você extingue
uma ação por carência de ação, é claro que é mérito.

- Da mesma forma, o art. 269 não consagra só possibilidades em que há resolução de


mérito. Na realidade, mérito mesmo é só no inciso I. Os outros quatro incisos foram
eventos fora da alçada do magistrado, que se limita a declarar a situação de fato.

- Então você tem que fazer escolhas quando está fazendo uma lei processual. E nem
todas são as mais certas/ defensáveis. São situações que estão na raiz e que é preciso
transcender um pouquinho mais para alcançar a capacidade crítica.

- Qual é a repercussão disso? O que isso tem a ver com as duas medidas cautelares do
art. 888, CPC? Trata-se, nos dois exemplos, de provimento efetivo.

- Há outros exemplos: a criança move uma ação de reconhecimento de paternidade


c/c alimentos. O juiz não vai deixar a criança sem alimentos até o DNA.

- Pontes observou o conjunto e encontrou cautelares, mas também outras medidas


que Carnelutti tinha colocado como espécies do gênero de cautelar. Até então qual era
o critério de classificação de Carnelutti para colocar as duas tutelas uma ao lado da
outra? Na realidade, o nível probatório:

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 30


a) Se eu tenho pouca prova, CAUTELAR;
b) Se eu tenho muita prova, eu antecipo (tutela ANTECIPADA).

- O NÍVEL COGNITIVO é o elo que liga as duas tutelas na doutrina italiana. Se eu tenho
a prova inequívoca, que me dá certeza, eu defiro uma tutela mais próxima do que eu
estou buscando na ação principal, que é o provimento efetivo e o acertamento da
ação.

- Pontes entendeu que há equívoco na escola italiana, que coloca como tutela de
urgência (gênero) as tutelas satisfativas urgentes e as tutelas acautelatórias (espécies).
O critério que liga uma à outra é o nível cognitivo. Quanto maior a cognição, mais
satisfativo; quanto menor, mais acautelatório.

Tutelas de Urgência

Tutelas Satisfativas Tutelas


Urgentes Acautelatórias

Nível Cognitivo

Exemplo: um sujeito, classificado num concurso público, discute por que chamaram o
classificado a ele imediatamente subsequente, ao invés de chamá-lo. Se o juiz reserva
a vaga – a medida é acautelatória. Ou então dá a posse e barra o 5º colocado: essa
tutela é satisfativa. Esse é o raciocínio italiano.

- É como se eu tivesse o não direito e o direito:

DIREITO

Satisfativa

Acautelatória

NÃO DIREITO

- Pontes concluiu que a TUTELA SATISFATIVA está diretamente relacionada ao


Provimento Efetivo, enquanto a TUTELA ACAUTELATÓRIA sobrepaira a Sentença de
Mérito, que é a soma do provimento efetivo e o acertamento da ação.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 31


Sentença de Mérito Provimento Efetivo Acertamento da Ação

Tutela Acautelatória Tutela Satisfativa

- Pontes não fez uma crítica destrutiva a Buzaid. Apenas reconhece que é uma boa
intenção a autonomia, mas com resultados duvidosos. Por conta deste critério de
relacionamento entre as tutelas, o Código de Processo Civil de 1939 havia cometido
um erro ao radicalizar e colocar todas as tutelas no Livro I e Buzaid cometeu o mesmo
exagero levando todas as técnicas de tutela para o Livro III.

- O processo cautelar que Buzaid criou tem uma cognição sumária, tem uma coisa
julgada meramente formal; mas mesmo ele tendo essa cognição muito sumária,
algumas daquelas tutelas chegam a situações incontornáveis, definitivas. Há, na
realidade, um processo cuja arquitetura não suporta o peso da definitividade. O
processo cautelar é leve, é ágil; e para ser como tal, não pode ter uma dialética
gigantesca, não pode ter o peso de uma executabilidade.

IMPORTANTE!

- O que Pontes concluiu é que: se a tutela antecipatória é uma parcela da sentença de


mérito, e a cautelar não tem sentença de mérito, não tem sentido uma cautelar
satisfativa. É uma contradição em termos, porque se é cautelar, não tem sentença de
mérito, portanto não tem cognição exauriente, não tem arquitetura.

- Para Pontes, a cautelar tinha uma arquitetura muito leve; cognição sumária e
sentença, que faz coisa julgada formal. Tais características não são condizentes com
satisfação – satisfação eu só posso ter no Livro I, que é onde há cognição exauriente e
sentença de mérito (processo de conhecimento).

- Então qual a tutela cuja lógica é ser preservada na pendência do processo principal? É
a CAUTELAR. Agora, se a questão é instalar um marcapasso, não tem sentido decidir
em cautelar – tem que decidir no livro I onde vai haver uma sentença que vai
confirmar essa medida.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 32


- Na realidade, Paulo Batista tinha cometido o pecado de colocar a cautelar no Livro I,
mas acertou ao colocar lá a tutela antecipatória. Buzaid trouxe as duas para o Livro III e
criou também cautelares satisfativas, o que é incongruente.

- Portanto, Pontes de Miranda, em 1973/74, ao publicar o Tratado das Ações, intuiu


esse equívoco. Fez algumas críticas ao CPC 1973, dentre elas exatamente a
incapacidade dos paulistas de não enxergar o óbvio: existem procedimentos especiais
executivos, e existem procedimentos especiais mandamentais. Por que deixá-los nos
procedimentos especiais?

- Todas essas execuções podem ser feitas sem a necessidade de uma execução; basta
que se traga a execução para dentro do processo de conhecimento. Quando fez essa
crítica, criticou indiretamente o sistema de tutelas de urgência do código. Na
realidade, Buzaid cometeu o pecado do exagero: essas tutelas sequer são aparentadas
entre si. Até então, a cognição, a prova, o nível de conhecimento, eram o linik entre
elas. Para os italianos, elas eram ‘parentes’ entre si; mas, para poder criticar Buzaid,
Pontes foi no DNA das tutelas.

- Pontes, ao olhar a sentença com um microscópio, entendeu que a sentença obedecia


a uma equação:

Sentença de Mérito Provimento Efetivo Acertamento da Ação

- Qual a parcela desse binômio que tem repercussão prática no bem da vida? O
Provimento Efetivo. E aquele que se limita apenas a normatizar a situação é o
Acertamento da Ação. Há sempre os dois efeitos, em maior ou menor grau.

- Pontes de Miranda desmistificou a premissa de Carnelutti; entendeu que essa


premissa como elemento de classificação, é válida. Porém, o elemento classificatório
não induz a uma verdade científica. Eis a conclusão de Pontes.

- Pontes foi na natureza, na raiz, e viu que há tutelas que são o Provimento Efetivo (e,
portanto, estão dentro da sentença de mérito e delas não tem como se separar); e há
outras tutelas que apenas protegem a eficácia da sentença, mas não antecipam nada.
Na verdade, as tutelas de urgência “nunca se viram” – enquanto a doutrina italiana as
entendia como ‘parentes entre si’.

- Na classificação de Carnelluti, quais as tutelas que, segundo Pontes, estariam dentro


da Sentença de Mérito? As SATISFATIVAS; as ACAUTELATÓRIAS simplesmente
protegem. A convicção não entra nesse critério de natureza; apenas é uma

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 33


característica, mas não as diferencia em termos de essência das demais. Os italianos
pegaram essa característica como um elemento genético quando na verdade não o é;
é um dogma.

- Então Pontes estabeleceu esse conceito: a sentença de mérito traz dentro de si a


tutela antecipatória e, protegendo-as, há as acautelatórias.

Sentença de Mérito Provimento Efetivo Acertamento da Ação

Tutela Acautelatória Tutela Satisfativa


(Antecipatória)

- Aí ele esbarrou no grande dogma que sustentava a escola italiana: nulla executio sine
titulo (nula a execução sem título). Título, para Buzaid, era a sentença de mérito
transitada em julgado – porque, caso contrário, não seria líquida, nem certa, e muito
menos exigível antes do trânsito em julgado.

- Era necessário quebrar esse dogma: para poder conceber o Provimento Efetivo antes
do Acertamento da Ação ter transitado em julgado, era preciso conceber novos tipos
de ações. Naquela época, não era possível o efeito da condenação o antes de a
condenatória ter transitado em julgado.

 Art. 928, CPC: “Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá,
sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de
reintegração; no caso contrário, determinará que o autor justifique
previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for
designada. Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não
será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos
respectivos representantes judiciais.”

- Essa justificação é uma CAUTELAR. Essa é a base do raciocínio italiano; o que


aproxima uma da outra é o nível de convicção do magistrado.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 34


Exemplo: vamos supor que alguém resolve invadir a reitoria. A reitoria, através da
UFSC, ajuíza ação de reintegração de posse. O juiz defere a liminar. O que acontece, na
prática? Todos devem sair dali.

OBS: O Prof. Eduardo Lamy entende que seja um critério classificatório ou de DNA;
essa diferenciação é importante para definir o sistema, mas enquanto o sistema não se
define, você usa o que tem, joga de acordo com as regras do sistema. É a ideia da
fungibilidade.

Teoria Quinária das Ações

- Quando Pontes estabeleceu esse paralelo, ele concebeu, em contraposição às ações


meramente enunciativas – declaratória e constitutiva – que havia outras que não é
que não tenham execução, mas elas dispensam a execução. E aí ele definiu a
classificação quinária:

a) Ações mandamentais;
b) Ações executivas lato sensu – que englobam as ações executivas sentido
estrito:
i. Execução por quantia certa contra devedor solvente;
ii. Execução por quantia certa contra devedor insolvente (insolvência
civil);
iii. Execução de obrigação de fazer ou não fazer;
iv. Execução de obrigação entregar coisa certa ou incerta;
v. Execução de alimentos.

- Então surgiu a classificação quinária. O que faz um procedimento ser especial? A


incapacidade que ele tem de se adaptar às regras do processo, seja por conta de regras
processuais propriamente ditas, seja por conta de uma incompatibilidade
procedimental.

- Se você tem um procedimento especial que é em forma de estrela, ele não se adapta
a um processo que é um círculo.

Exemplo: um inventário é uma administração de uma coletividade de bens deixados


pelo de cujus. Não é, necessariamente, uma dialética rumo a uma sentença. No mais
das vezes, sua sentença é de cunho homologatório. Então o inventário não se adapta,
procedimentalmente, a uma dialética e, portanto, o inventário não vai sair nunca do

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 35


Livro IV (procedimentos especiais) para o Livro I (processo de conhecimento). O que
pode acontecer é sair do código e ir para a legislação extravagante, mediante o
procedimento extrajudicial, quando não há menores envolvidos. Então a tendência
para esses procedimentos que decididamente não vão se adaptar, é retirá-los do
código.

- Mas existem outras ações que podem perfeitamente ser processualizadas, podem
evoluir. A ação de imissão de posse virou condenatória, por exemplo – antes estava
nos procedimentos especiais.

- Pelo Código de 1973, uma tutela antecipatória só poderia ser deferida no processo
cautelar – ou simplesmente não tinha tutela de urgência.

- Pontes disse que essas ações adaptáveis não podem ficar no Livro IV; é negar uma
realidade dizer que elas simplesmente não são processo. A partir disso, criou as ações
MANDAMENTAIS e as ações EXECUTIVAS LATO SENSU.

- Com base nessa observação, pontes concebeu que, se quebrasse o mito da ‘nulla
executio sine titulo’, poder-se-ia tranquilamente ter um PE (Provimento Efetivo) antes
de um AA (Acertamento da Ação) se a minha prova assim permitisse.

- O fato de uma coisa ser repetida desde o direito romano não o transformava em
ciência. Para Buzaid, as decisões iam se aperfeiçoando de acordo com a instância. Mas
isso, depois de um, tempo não fazia o menor sentido. Qual é o próximo passo?
Diferenciar as duas ações.

- O procedimento de uma medida cautelar é sumário e não exauriente. Faz coisa


julgada meramente formal. Então eu não posso pegar um elemento que está dentro
de uma sentença de mérito e passar para uma sentença sem mérito, que é a sentença
da ação cautelar.

- Von Bullow, em 1868, olhou para o sistema e viu que a declaratividade pairava sobre
tudo, porque até no processo penal todas as ações são, em maior ou menor grau,
declaratórias. Por isso até hoje é a única prevista no CPC, explicitamente, no art. 4º.

- Qual é a diferença entre as ações mandamentais e as executivas lato sensu? A tônica


da execução é o art. 566, CPC: “execução forçada”.

 Art. 566, CPC: “Podem promover a execução forçada: I - o credor a quem a lei
confere título executivo; II - o Ministério Público, nos casos prescritos em lei.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 36


- A penhora recai sobre o devedor; a astreinte, também. Igualmente, os alimentos, a
obrigação de dar coisa certa ou incerta. Então a execução é forçada sobre o devedor.

- Outra coisa completamente diferente é: “o devedor deve, mas não dá para cumprir”.
Então você, juiz, com a sua autoridade, implementa o bem da vida. É EXECUTIVA a
ação cuja força recai sobre o devedor. A ação que, tirando o devedor da linha, o
próprio magistrado, utilizando seus poderes, satisfaz o direito, é MANDAMENTAL.

- A DECLARATÓRIA existe para declarar existência ou inexistência de direito – é a mais


radical das ações. Quando eu sei que a relação existe, mas quero apenas modificá-la,
implementando ou retirando direitos, tenho uma ação CONSTITUTIVA. Depois, a
CONDENATÓRIA. Quando quero atuar desde logo no próprio corpo da sentença sobre
o devedor, é EXECUTIVA LATO SENSU. E quando o juiz tira o devedor da linha de tiro e
implementa a obrigação com o poder que a lei lhe confere, a ação será
MANDAMENTAL.

 O problema é que a Escola de São Paulo continuou recusando a existência.

1977 - Em 1977, José Carlos Barbosa Moreira escreveu um artigo dizendo que a ação
popular não bastava mais para a defesa dos interesses coletivos; nós precisávamos
elaborar uma lei nova, com base nas ações coletivas francesas, para ampliar. Na
verdade, ele quase foi preso pelos militares, porque você tinha que passar a
coletivizar. Estavam nascendo, nesse artigo que ele escreveu, as bases da nova ação
civil pública.

1985 - Em 1985, a Lei da ação civil pública (Lei nº 7.347/85) foi promulgada.

1910 1939 1951 1952 1965 1973 1977 1985

Medidas CPC Mandado de Lei da Ação CPC Artigo Lei da Ação


cautelares Livro I Segurança Popular Livro III José Carlos Civil
(urgência) Poder Dec. Art. 5º, § 4º Autonomia Barbosa Pública
Geral de Art. 7º Moreira Arts. 4º, 11 e 12
Cautela

- Satisfativas
- Acautelatórias

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 37


- É um procedimento especial.

 Art. 4º, da Lei 7347/85: “Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta
Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico (VETADO). (Redação dada pela Lei nº 10.257, de
10.7.2001)”

 Art. 11, da Lei 7347/85: “Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da
prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de
execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou
compatível, independentemente de requerimento do autor.”

 Art. 12, da Lei 7347/85: “Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.”

- Isso é a quebra de um mito. Os arts. 11 e 12 identificam que o juiz pode dar a


obrigação de fazer ou não fazer – que até então eram ações executiva stricto sensu –
como liminar em ação cognitiva. Aqui, Pontes está vencendo a queda de braço.

- A tese de Pontes foi vencendo a formalidade. Por isso é um erro estudar o processo
civil sob a ótica dogmática. Não pode ser assim porque se deve compreender – ainda
mais um ramo científico tão ligado a uma realidade – face à realidade.

- De acordo com o entendimento de Buzaid, para fazer a Petrobrás parar de poluir o


rio Iguaçu num vazamento, é preciso mover uma ação condenatória, esperar que ela
tramite em todas as instâncias, e, depois que baixar à origem, dever-se-ia mover uma
ação executiva stricto sensu onde somente aí é que o juiz aplicaria uma multa. Se isso
não faz sentido a nível individual, imagina a nível coletivo.

- A ação civil publica diferenciou pela primeira vez os dois institutos:

 Quando é para mover ação cautelar, é o art. 4º.


 Quando é para pedir uma tutela mandamental ou executiva lato sensu, você
tem que mover uma ação de cunho mandamental ou executiva lato sensu.

- A redação prevê isso: ‘o juiz determinará’; e, logo em seguida, ‘sob pena de execução
específica’. Vê-se nas entrelinhas que há duas ações aí: em uma, o juiz implementa, e,
noutra, obriga a cumprir.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 38


- Sabe-se que uma ação é EXECUTIVA quando a força executiva incide sobre o
devedor.

Exemplo: a ação possessória, quando o juiz defere a liminar e manda a polícia federal
desocupar a reitoria; essa ação é executiva. Você tem uma ação executiva quando a
força da jurisdição se exerce sobre o devedor (seja stricto seja lato sensu).

- A ação MANDAMENTAL ocorre quando o juiz retira o devedor da linha de tiro e


realiza, ele mesmo, a ação.

Exemplo: Lara compra um apartamento à prestação. Esse apartamento está financiado


num sistema hipotecário qualquer. Todo mês, paga à construtora e vai amortizando a
hipoteca. Quando termina de pagar, quer escriturar o imóvel – que é o único método
de transmissão de propriedade imobiliária – e depois quer que ela seja averbada numa
matrícula limpa do imóvel, sem a hipoteca, que grava o bem de indisponibilidade. Mas
descobre que chegou ao final e a construtora pegou o dinheiro para quitar suas
dívidas. A construtora diz que vai demorar 6 meses para escriturar. O consumidor até
aceita. Ou então, move uma ação executiva ou mandamental. Tudo é uma questão de
estratégia.

 Na executiva, vai exercer a força sobre a Construtora Despencol.


 E na mandamental, vai usar a força do juiz para viabilizar.

- No século XIX, era ação cominatória ou ação de adjudicação compulsória.

- Baixar uma hipoteca é obrigação de fazer. Como se realiza a execução? Através de


astreintes. Nas perdas e danos, depois há execução por quantia certa (não tem
astreintes). Agora, se a empresa não é solvente, melhor fazer o 466-A, CPC.

 Art. 466-A, CPC: “Condenado o devedor a emitir declaração de vontade, a


sentença, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da
declaração não emitida. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)”

- Isso é mandamentalidade. O que vale como escritura? A sentença; igualmente, a


averbação no registro imobiliário. Mando baixar a hipoteca na marra e a sentença
passa a ser o título aquisitivo da propriedade.

Exemplo: marcapasso no velhinho. Qual é a ação? Executiva, porque a força recai


sobre o devedor.

Exemplo: mandado de segurança para dar posse a você num concurso público. Qual a
natureza jurídica? Executiva.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 39


OBS: A ASTREINTE nada mais é que uma constrição psíquica, para atuar sobre a
vontade, e não no bolso – mas o estado reconhece no bolso a forma mais persuasiva
para fazer alguma coisa.

- Uma das grandes achados do Pontes foi descobrir que as ações não são 100% aquilo
que você destina. As ações são, em maior ou menor grau, uma determinada natureza
que você atribui a ela. E Pontes dizia mais: não existem ações 100% puras. Por isso ele
criou um conceito que é o conceito de CARGA DE EFICÁCIA. A carga de eficácia nada
mais é do que, dentro daquela equação, (Sentença de Mérito = Provimento Efetivo +
Acertamento da Ação), a existência, em menor ou maior grau, de um ou de outro.

- As condenatórias são as únicas que redundam num segundo tempo, que é a


execução. As ações auto-executivas são a mandamental e a executiva lato sensu.

- No caso das ações declaratórias, o AA (Acertamento da Ação) é maior e o PE


(Provimento Efetivo) é menor.

- Só a descoberta desse fenômeno, fez com que Pontes se aprofundasse nesse estudo
e constatasse, na histologia da sentença ou da ação, que havia elementos de
repercussão diferente dentro de uma mesma sentença. Foi por isso que Pontes, para
poder ver o que é tutela e o que é ação, estabeleceu o chamado somatório 15. Ele
criou uma tabela onde ele colocou, de um lado, a eficácia e do outro, a nomenclatura,
a natureza.

Declaratória Constitutiva Condenatória Mandamental Executiva

Declaratória
Constitutiva
Condenatória
Mandamental
Executiva

- O somatório sempre tem que ser 15 nas diferentes ações e esse quadro se modifica
de acordo com o caso concreto que é apresentado.

- A ação contra a Habitasul tem natureza executiva. Contra a despencol, é


mandamental. Então na petição: “ordenar ao cartório de registro imobiliário que
averbe, sendo que a presente sentença valerá como título aquisitivo da propriedade”.
Claro que ela é predominantemente mandamental. É natureza mandamental, nível 8,

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 40


por exemplo. Mas alguém duvida que nessa sentença exista uma declaração de uma
relação implícita? Declaratória, nível 4. E também há um nível constitutivo da ação,
nível 3. É condenatório? Em menor carga, mas é visível que num primeiro momento eu
tenho uma condenatória.

 Art. 273, CPC: “O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou


parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:
(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 1994) I - haja fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação; ou (Incluído pela Lei nº 8.952, de 1994) II -
fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório do réu. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 1994)”

- O artigo fala em “efeitos”. Para eu saber qual a tutela que eu posso pedir antes do
provimento, tenho que ver qual a carga de eficácia.

Exemplo: eu devo a um banco que está me cobrando taxas de juros absurdas. Qual a
ação que se deve mover? Quero revisar o contrato: a ação é constitutiva – vai alterar o
modo de ser da relação que já existe. Mas o banco, por conta do inadimplemento, já
colocou o meu nome no SERASA. Mandar tirar o nome do SERASA, que é o pedido de
antecipação de tutela, é um efeito mandamental da sentença. Então eu já sei que, por
consequência lógica do meu pedido, se eu não devo, o meu nome não tem por que
estar no SERASA.

- O juiz, ao invés de ordenar diretamente ao SERASA, poderia determinar que o banco


tirasse o meu nome mediante aplicação de multa diária, que é a astreintes.

As CARGAS DE EFICÁCIA representam o somatório de efeitos concretos de uma ação,


qualquer ação. Acontece que estas cargas não aparecem com pesos iguais pelo que, da
ponderação delas, é que será determinada a natureza (o pedido) e eventuais tutelas.

Carga de eficácia maior: Carga de eficácia menor:

NATUREZA TUTELA

- Por que pedir tutela antecipada e não cautelar? Porque tem cunho SATISFATIVO.

Exemplo: multa do condomínio por ouvir música alta. Quero suspender sua eficácia =
ação cautelar. As medidas suspensivas são meramente ACAUTELATÓRIAS.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 41


- Até então, PE (Provimento Efetivo) e AA (Acertamento da Ação) eram um binômio
que não se quebrava, pela classificação ternária do CPC. Todas as execuções estavam
lá, desde que eu movesse antes uma ação condenatória.

- Os regimes auto-executivos do regime puramente cautelar foram tratados pela lei de


ação civil pública.

 Art. 4º da Lei 7.347/85: “Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta
Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico (VETADO). (Redação dada pela Lei nº 10.257, de
10.7.2001)”

Exemplo: ação civil pública movida pelo Ministério Público para a questão de
improbidade administrativa. Qual a primeira coisa que eu preciso ter certeza quando
eu vi que alguém roubou os cofres públicos? Assegurar os bens.

- Agora, coisa completamente diferente é o art. 11.

 Art. 11 da Lei 7.347/85: “Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da
prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de
execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou
compatível, independentemente de requerimento do autor.”

- Pontes fez questão de separar bem os sistemas dentro de uma mesma lei.

- “Na ação que tenha por objeto” – isso é uma ação mandamental ou executiva. Essa
determinação, com as astreintes.

 Art. 12 da Lei 7.347/85: “Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo. § 1º A requerimento de pessoa
jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à
saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a
que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da
liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das
turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato. § 2º
A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em
julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se
houver configurado o descumprimento.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 42


- Isso é a tutela executiva lato sensu. Isso é a antecipação de tutela.

A Escola Paulista não reconhece a existência de ações executivas; até reconhecem a


existência de tutelas executivas, mas não as ações executivas – só como
procedimento especial (ex: possessória, mandado de segurança).

- Em 1985, Sérgio Bermudes entrou na comissão do novo CPC como presidente.


Começou nessa reforma o protótipo de uma reforma do CPC que só aconteceria
quando a escola de São Paulo permitisse, porque Buzaid ainda estava vivo.

- Buzaid defendia que todas as tutelas estariam contidas no Livro III, processo cautelar.
O processo cautelar precisa, para ser deferido, da verificação de dois requisitos:

a) fumus boni iuris (verossimilhança);


b) periculum in mora.

- Essa TUTELA CAUTELAR é provisória (não definitiva); é externa ao processo e,


portanto, autônoma.

- Mas, segundo Pontes, a TUTELA ANTECIPATÓRIA só pode ser deferida quando você
tiver um juízo de verossimilhança? Não, se ela está dentro da sentença, você tem que
ter um juízo de certeza. Essa tutela tem que ser definitiva e interinal.

Cautelar Antecipada

Verossimilhança Certeza

Provisório Definitiva

Autônoma Interinal

- São Paulo, no art. 273, CPC, induziu o raciocínio em nome da proteção a um sujeito
morto – Buzaid.

 Art. 273, CPC: “O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou


parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:
(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 1994) I - haja fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação; ou (Incluído pela Lei nº 8.952, de 1994) II -

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 43


fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório do réu. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 1994)”

- “se convença da verossimilhança da alegação”: é uma característica da tutela


cautelar.

§ 2º: “risco da irreversibilidade”. A reversibilidade é uma característica da cautelar,


não da antecipação de tutela.

- Os paulistas aceitaram a tutela antecipatória interinal desde que tivessem as mesmas


características da cautelar, de forma que poderia deferir uma – o nome disso é DUPLO
SENTIDO VETORIAL, também conhecido como “ninguém é de ninguém”.

- A filosofia processual que predomina até hoje é a de são Paulo, que defende a
estrutura do CPC de 1973.

- A redação do art. 273, CPC, é emblemática, é o exemplo mais acabado dessa


“confusão conveniente”. Até então, só havia tutela de urgência no Livro III do código.
Todas as tutelas de urgência eram, então, cautelares.

Exemplo: para implantar um marcapasso – medida cautelar.

Caso: Transmissão do Carnaval Carioca de 1987

- Em 1987, a Rede Manchete assinou um contrato com a associação dos sambistas do


Rio de Janeiro, de direito de imagem e achou que com ele ela poderia transmitir o
carnaval carioca com exclusividade. A Globo assinou com os bicheiros, com a
associação das escolas de samba. O fato é que havia dois contratos: as duas emissoras
fechavam contratos de propaganda com empresas antagônicas, como Brahma e
Antártica e ambas tinham contratos de exclusividade.

- Na quarta-feira antes do carnaval, o advogado da Manchete ajuizou uma Medida


Cautelar Inominada, que caiu na 9ª Vara Cível, e Luiz Fux, o então juiz, deu a liminar.

- Quarta feira à noite, a Globo entrou com Agravo de Instrumento na origem (à época
era na origem) e impetrou Mandado de Segurança contra ato judicial para dar efeito
suspensivo. Caiu na 5ª câmara cível, do prof. José Carlos Barbosa Moreira, e o relator
deu a liminar para a Globo, na quinta de manhã, cassando a liminar do Fux.

- A TV manchete ajuizou um Agravo Regimental e impetrou Mandado de Segurança


junto à presidência do tribunal para conferir-lhe efeito suspensivo. O agravo foi

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 44


distribuído ao presidente do TJRJ, e repristinou a liminar do Fux, concedendo a
exclusividade à TV Manchete na sexta feira.

- Sábado de carnaval, já tinha sido interposto o RExt e o Ministro, numa medida


cautelar incidental num RExt, deu a liminar para a Globo às 14h, mandou que se
passasse um Telex para a Embratel – que era a estatal de transmissão via satélite –
para que tirasse a Manchete do ar caso tentasse transmitir o carnaval.

- Quarta feira de cinzas, quando reabriu o fórum, há algo a fazer? A medida cautelar,
tal como criada pelo Buzaid, criava situações irreversíveis, e esse tipo de
incompatibilidade sistemática incomodava os críticos – o carnaval já havia sido
transmitido, a Globo já tinha embolsado os valores de patrocínio e tudo o que podia
haver agora era uma ação condenatória, de indenização. A Manchete teria que ajuizar
uma ação natimorta – porque já havia perdido o direito à transmissão – como ação
declaratória para dar declaratividade aquilo que ele tinha requerido na cautelar.

 É exatamente essa situação de vácuo, de incongruência, sem uma tutela


definitiva, que gerava uma situação tão perplexa nos críticos.

- Quais as características de uma tutela cautelar? Verossimilhança (nível de


convencimento de que o magistrado precisa), provisoriedade e referibilidade.

- E da tutela antecipatória? Juízo de certeza, definitividade e interinidade.

- O sistema executivo pressupõe força em cima do devedor; o mandamental, tira o


devedor da linha de tiro e é a autoridade do magistrado que faz valer o resultado
prático equivalente ao que o devedor faria.

- São Paulo não admite a existência de ação executiva; então o que eles fazem?
Aproximam os conceitos de tal forma que você não consegue distinguir o sistema de
cargas de eficácia que era preconizado por Pontes de Miranda.

 Art. 798, CPC: “Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código
regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas
provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma
parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de
difícil reparação.”

- As medidas “provisórias”. O § 2º do art. 273 fala que não pode ser reversível – então
deve ser provisório. Isso é um estilo de legislação processual à moda italiana. O nome

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 45


que Cândido Rangel Dinamarco deu a isso é o duplo sentido vetorial – esse duplo
sentido implica na fungibilidade plena entre as duas tutelas (para eles, não há o
menor problema em deferir uma tutela cautelar satisfativa, como se pode deferir no
corpo do processo de conhecimento uma medida cautelar qualquer).

O juiz pode deferir O juiz pode deferir


uma medida DUPLO SENTIDO VETORIAL uma antecipação de
cautelar numa tutela numa
antecipação de cautelar
tutela

- A questão ficou ainda mais grave no art. 461, CPC. Até a modificação deste artigo,
devia-se mover uma ação condenatória, e depois ia para o art. 644, CPC, redação
antiga:

 Art. 644, CPC: “Na execução em que o credor pedir o cumprimento de obrigação
de fazer ou não fazer, determinada em título judicial, o juiz, se omissa a
sentença, fixará multa por dia de atraso e a data a partir da qual ela será
devida. (Redação dada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994) Parágrafo único. O
valor da multa poderá ser modificado pelo juiz da execução, verificado que se
tornou insuficiente ou excessivo. (Incluído pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)”

- Redação nova:

 Art. 644, CPC: “A sentença relativa a obrigação de fazer ou não fazer cumpre-se
de acordo com o art. 461, observando-se, subsidiariamente, o disposto neste
Capítulo.” (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

- Isso sempre foi execução – mas cândido diz que é mandamental.

 Art. 461, CPC: “Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de
fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se
procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.”

- Note-se que o art. 461 fala em “AÇÃO” – se nós estamos no Livro I, é ação no sentido
cognitivo.

- “tutela específica da obrigação” OU “se procedente o pedido”. A decisão que


concede ou indefere a tutela, é interlocutória. E a decisão que julga procedente o
pedido, é a sentença. Logo, para a escola paulista, só existe tutela, não existe ação

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 46


executiva; e a sentença é mandamental, porque usa o verbo “determinará”. Isso
porque a escola paulista confunde os efeitos – estão fazendo a mesma coisa que
fizeram com o art. 273, CPC. Por isso que, a partir de determinado momento das
reformas, ninguém entendia mais nada.

AÇÃO – Livro I – Cognitio

Fazer ou não fazer Decisão


Interlocutória

TUTELA específica da obrigação

OU Sentença

Se procedente o pedido

DETERMINARÁ

- As ações meramente enunciativas são a declaratória e a constitutiva. Qual a equação


do pontes? Sentença de Mérito = Provimento Efetivo + Acertamento da Ação.

- Nas ações meramente enunciativas, o que é grande? O Acertamento da Ação – o


Provimento Efetivo é bem pequeno.

Satisfatividade
Declaratórias
Referibilidade

Constitutivas

CAUTELAR ANTECIPADA

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 47


- Do lado CAUTELAR, eu tenho indisponibilidade de bens, que tem uma característica
nitidamente cautelar (claro que toda cautelar tem carga de eficácia satisfativa no
sentido de afastar para proteger – e aí é meramente acautelatória). Então ela tem
baixa satisfatividade e altíssima referibilidade. À medida que as medidas cautelares se
aproximam do meio, aumenta a satisfatividade e a referibilidade vai baixando, até a
zona nebulosa, onde a satisfatividade é igual à referibilidade.

- Mais próximo do lado da tutela ANTECIPADA, maior a referibilidade e menor a


satisfatividade.

Quando estou falando de ações MERAMENTE ENUNCIATIVAS, onde não tenho nenhum
tipo de repercussão patrimonial e, onde, portanto, o AA (Acertamento da Ação) é muito
maior que o PE (Provimento Efetivo), todas as tutelas de urgência estão nessa situação
do centro, em que a SATISFATIVIDADE é igual à REFERIBILIDADE.

- Cândido, para comprovar que “cientificamente está certo”, exemplifica tutelas de


urgência em duas ações meramente enunciativas: suspensão dos efeitos de uma
assembleia e sustação de protesto.

Exemplo: sustação de protesto (a ação original ou é constitutiva negativa ou


meramente declaratória) porque vou declarar que não era devedor – não tinha nem
relação jurídica com ele.

Exemplo: suspensão da Assembleia GE – vem uma constitutiva negativa para anular. as


cautelar que suspense os efeitos da assembleia é antecipação da tutela negativa ou a
garantia que vai chegar a um fim últil? a resposta é tanto faz. Não é que sejam a
mesma coisa.

- Em momento nenhum Cândido usa o exemplo da implantação do marcapasso, ou da


cautelar de indisponibilidade de bens. Ele usa situações limítrofes e trata uma exceção
como se fosse regra, só para demonstrar que tem razão.

- As ações meramente enunciativas tem pouco ou nenhum PE (Provimento Efetivo);


logo, não há antecipação de tutela.

 Art. 273, CPC: “O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou


parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:
(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994) I - haja fundado receio de
dano irreparável ou de difícil reparação; ou (Incluído pela Lei nº 8.952, de

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 48


13.12.1994) II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto
propósito protelatório do réu. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)”

O que você antecipa é EFEITO, e não a tutela; e se a declaratividade não tem PE


(Provimento Efetivo), ela não tem efeito, ela só tem tutela; então ou você declara a
propriedade, ou você não a declara – porque não tem como você antecipar, porque o
PE dela é pouco ou nenhum.

- Agora, numa ação mandamental ou executiva lato sensu, que não são meramente
enunciativas, mas auto-executivas, o elemento dominante na equação do Pontes é o
PE (Provimento Efetivo).

Exemplo: impetrei mandado de segurança para tomar posse em cargo público. É


possível visualizar-se perfeitamente qual é o efeito: a posse. No caso do marcapasso, a
implantação do marcapasso.

- Então há uma tranquilidade para, vendo a evolução das ações, conseguir massa
crítica suficiente para definir o posicionamento a seguir.

- O art. 273, CPC, traz a tutela antecipatória em gênero, e algumas espécies. O art. 461,
traz outra espécie (§ 3º).

- REFERIBILIDADE é a relação de utilidade. Você só pode ter cautelar se você tiver a


ação principal; e isso não a transforma num acessório no sentido de seguir o principal,
mas num acessório que tem vida própria. Referibilidade é a transitividade entre o
direito material acautelado e o direito material de cautela.

Exemplo: o feto, de certa forma, não é um acessório da mãe? Sim, mas não é a mesma
coisa que a mãe; ele tem vida própria, tem direitos, diferentes dos da mãe.

- Então nunca se pode pensar no ‘acessório’ no sentido do direito material, mas do


direito processual.

- O PE (Provimento Efetivo) é o efeito concreto; e o AA (Acertamento da Ação) é a


regulamentação jurídica, a enunciação do direito aplicável à espécie, o elemento
normativo teórico, é o dizer o direito. A tutela antecipatória, para Pontes, mora no
Provimento Efetivo.

- Em 1973, o momento processual para pedir tutela de astreintes numa obrigação de


fazer era a execução. Então o cara demorava 15 anos até o transito em julgado da
ação, deixou baixar à origem, e, se a sentença fosse omissa, o juiz poderia arbitrar

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 49


naquela hora. Isso não faz sentido. Não podia, porque só havia três ações: declaratória,
constitutiva e condenatória.

- O grande desafio de Pontes de Miranda era quebrar o mito da nulla executio sine
titulo.

- Você não pode dar satisfação onde você não tem mérito. Só pode haver satisfação
onde há sentença de mérito. Cautelar até tem sentença que resolve o mérito cautelar,
mas ela faz coisa julgada formal. Então é uma questão muito mais que procedimental.

Não há congruência sistêmica em você deferir medidas satisfativas em tutelas


antecipatórias. Não há lógica em ter uma decisão definitiva 30 antes de começar a
discutir o mérito da questão. Não faz sentido passar mais 15 anos discutindo o
mérito de algo que já foi satisfeito.

Exemplo: uma briga entre o Banco BV, que está sob a intervenção do banco central e
uma construtora. A construtora ajuizou uma ação para conseguir a disponibilidade dos
bens para poder negociar (ela quer muito mais do que os efeitos da tutela; ela quer a
tutela mais antecipada possível). O juiz deferiu a tutela. A financeira interpôs agravo de
instrumento, ressaltando que o banco BV está sob a intervenção do banco central.
Intervenção é exatamente uma medida de suspensão dos atos passados. Não há
sentido o Banco central intervir para investigar o futuro. O relator entendeu que não
havia nenhum AA (Acertamento da Ação) no agravo e indeferiu a tutela (PE).

 Art. 273, § 6º, CPC: “A tutela antecipada também poderá ser concedida quando
um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.
(Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)”

- Não há necessidade de urgência, periculum in mora para deferir uma tutela


antecipada. Se o cara tem direito, dá logo o direito do cara.

- A medida cautelar pressupõe a verossimilhança.

 Art. 84, CDC: “Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de
fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 50


- Em relação ao art. 461, só há uma distinção: “se procedente o pedido” (é tempero
paulista). Por que isso faz tanta diferença? O que ganha uma sentença de mérito,
procedência, é uma ação.

- Então o CDC tem quase a mesma redação que o art. 461, CPC.

- Em 1990, ano do CDC, a tutela executiva e a tutela mandamental tem igual


tratamento. No CPC, art. 461, há uma ressalva: se procedente. Então isso quer dizer
que a primeira é apenas uma tutela de urgência, e a segunda é sentença de mérito. E
para os paulistas, essa sentença de mérito é mandamental.

- O juiz dá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, ele dá o


resultado prático equivalente. Essa ação, para São Paulo é mandamental. Para nós, a
primeira é executiva e a segunda é mandamental.

 Art. 461, § 3º, CPC: “Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo


justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a
tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida
liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão
fundamentada. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)”

- Essa tutela é antecipatória, cujo gênero está previsto no art. 273, CPC.

- Como essa tutela se manifesta? § 4º, do art. 461, CPC.

 Art. 461, § 4º, CPC: “O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na


sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se
for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o
cumprimento do preceito. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)”

- “impor multa diária ao réu”: em 1973, isso era execução de obrigação de fazer – mas
os paulistas chamam de mandamental.

 Art. 461, § 5º, CPC: “Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do


resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento,
determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo
de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de
obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força
policial. (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)”

- O “tais como” é exemplificativo. No direito norte-americano, nesse “tais como” existe


até a prisão civil. Marinoni entende que em ações civis públicas esse “tais como”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 51


permite a prisão civil. O fundamento dele é o conceito de alimentos; ar puro não é
alimento? Água potável? Então ele entendeu que isso implica em prisão também.

- É o mesmo conceito da prisão do devedor por alimentos. O objetivo não é a prisão; o


objetivo é estabelecer uma obrigação de fazer, um comportamento.

- O “determinar” depende do que vem depois: obrigação de fazer, ou o resultado


prático equivalente. Em ambas, na executiva e na mandamental, o verbo é o mesmo –
determinar ou ordenar.

- A escola paulista só não aceita que a sentença em que o juiz atua sobre o devedor é
executiva. Eles aceitam a tutela executiva, mas a ação não. Porque se o cara não
cumpriu a multa diária até a sentença, é porque ele não vai cumprir; transforma a
multa em condenação, e transforma a sentença no resultado prático equivalente.

1910 1939 1951 1952 1965 1973 1977 1985 1990 1994

Medidas CPC Mandado de Lei da Ação CPC Artigo Lei da CDC CPC
cautelares Livro I Segurança Popular Livro III José Carlos Ação Art. 84 Art. 273
(urgência) Poder Dec. Art. 5º, § 4º Autonomia Barbosa Civil e 461
Geral de Art. 7º Moreira Pública
Cautela Arts. 4º,
11 e 12
- Satisfativas
- Acautelatórias

OBS: Astreinte não é multa contratual; é uma pressão sobre o devedor feita pelo poder
judiciário. É uma constrição psíquica com que visa o estado compelir a vontade
abstrata de alguém. Durante algum tempo, entendeu-se que astreinte tinha que se
proporcional e pedagógica. Depois, entendeu-se que era muito subjetivo, e que tinha
que ser o valor da obrigação, numa aplicação simétrica do art. 474, CC. Depois, viram
que também não estava dando certo, e aí Luiz Fux disse que a autoridade do judiciário
não tem preço.

- Em 1973, o próprio Buzaid usava a astreinte para fazer uma execução – ele não
admite quando ela vem para o processo de conhecimento.

- Na mandamental, a força do juiz está orientada a produzir o resultado prático


equivalente.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 52


- A antecipação é dos efeitos da tutela; por isso que a astreinte é possível no início, no
meio e no fim. Mas a mandamentalidade total só é possível na sentença, porque não é
mais o efeito da tutela, e sim a tutela propriamente dita.

 O limite objetivo da coisa julgada quem determina é o autor na petição inicial.

- Tirar o nome do Serasa na primeira turma do STJ, só podia ser por tutela antecipada;
na segunda, por medida cautelar; na terceira, por medida cautelar antecipatória.
Ninguém estava se entendendo.

- Segundo Cândido, eu posso tanto pedir medida cautelar interinalmente, como uma
tutela antecipada.

Exemplo: o sujeito moveu uma medida cautelar de exibição contra o Banco Santander
– tem que ser provisória, verossímil e autônoma, referível. O juiz, em primeiro grau
cometeu um erro: em medida cautelar, deferiu tutela executiva e impôs uma multa
diária. Sentença cautelar é título executivo para alguma coisa? Não, porque só faz
coisa julgada formal. Pela multa diária, veio a sentença, o advogado ajuizou a execução
e o banco embargou. O juiz disse que a tutela cautelar, por ser provisória, não é título
executivo, a sentença não é de mérito, e extinguiu. Chegou ao TJSC, o juiz manteve a
sentença.

- Eu posso deferir cautelares interinais; não recolho custas, mas a grande vantagem da
cautelar é autonomia. Pede exibição na inicial.

 Art. 273, § 2º, CPC: “Não se concederá a antecipação da tutela quando houver
perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. (Incluído pela Lei nº
8.952, de 13.12.1994)”

- Então você nunca pode deferir uma tutela antecipatória; na realidade, duas
intepretações são possíveis:

a) Você tem que ver qual ponta do eixo é mais irreversível, porque o não
deferimento da tutela pode gerar uma situação ainda mais irreversível.
b) Ou então, pode-se interpretar como uma reiteração daquela palavra
efeitos: eu não posso deferir a própria tutela, mas apenas efeitos dela.

Exemplo: hospital quer despejar uma clínica. Alegou descumprimento contratual e


quer despejar uma clínica agora. Não pode deferir uma tutela antecipada em que esse
é o resultado prático final. Ou então usa o 475-O, CPC, dá uma caução e despeja c
clínica agora.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 53


Exemplo: eu quero a escritura; o efeito? Obrigação de fazer – aplica uma multa, vai
dosando, até a sentença, em que você manda escriturar.

- Semeou-se uma grande confusão: porque os paulistas diziam que podia tudo, mas, na
prática, surgiam os problemas, até que veio a reforma da reforma. Na realidade,
Cândido está se referindo à reforma da reforma do art. 273, CPC, que foi em 2002.

 Art. 273, § 7º, CPC. “Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer
providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os
respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do
processo ajuizado.”

- É o tal duplo sentido vetorial. Isso quer dizer que pode deferir tutela antecipatória lá
na medida cautelar, como Cândido diz? Não.

- Então essa reforma do § 7º do art. 273 serviu só para confundir.

SISTEMA

MEIO FÍSICO MÉTODO SATISFAÇÃO

Declaratória

Constitutiva

Condenatória Por quantia certa

Mandamental Obrigação de dar coisa certa ou incerta

Executiva Lato Sensu Obrigação de fazer ou não fazer

Alimentos
Nominada

Conhecimento Inominada

Execução

Cautelar
Comum

Comum

Comum

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 54


Tutelas de Urgência
- A natureza das ações define a natureza da sentença de mérito, como já visto.

- As tutelas de urgência podem ser de natureza antecipatória ou cautelar.

 A tutela ANTECIPADA específica nós chamamos de: a) executiva lato sensu. Mas
a tutela antecipada pode ser também: b) mandamental; ou c) efeitos da
condenação.

 As CAUTELARES, por sua vez, dividem-se em: a) satisfativas urgentes; b)


cautelares propriamente ditas; e c) tutelas cautelares autônomas.

- O fato é que todas elas são classificadas como tutelas de urgência, então qualquer
delas deve atender aos requisitos: fumus boni iuris e periculum in mora.

Executiva lato sensu

ANTECIPADA Mandamental

Efeitos da condenação

TUTELAS DE URGÊNCIA
Satisfativas urgentes
Fumus boni iuris

CAUTELAR Cautelares propriamente ditas


Periculum in mora
Cautelares autônomas

Exceção:
Abuso do direito de defesa (art. 273, II, CPC)
TUTELAS DE EVIDÊNCIA
Parcela incontroversa (art. 273, § 6º, CPC)
Periculum in mora

- O § 6º do art. 273 faz uma exceção à regra, trazendo as chamadas TUTELAS DE


EVIDÊNCIA, que são exceção à regra clássica porque não têm periculum in mora. São:
a) o abuso do direito de defesa (art. 273, II, CPC); ou b) a parcela incontroversa (art.
273, § 6º, CPC). Ambos provêm da reforma de 2002.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 55


Exemplo: ação revisional de contrato – constitutiva negativa. Nessa ação, você diz para
tirar o nome do Serasa, depositam um valor devido (consignação). O banco pode
levantar isso, porque é parcela incontroversa – é o que você reconhece que é devido.

Novo Código de Processo Civil

- No novo código, há as chamadas ‘medidas antecedentes’ e criou-se uma adaptação


da adaptação da adaptação do Livro III dentro de uma nova situação de técnicas de
tutela interinais; então todas as tutelas de urgência voltaram para o processo de
conhecimento. Então em 1939, as tutelas estavam no processo de conhecimento; em
1973, no processo cautelar. Com a reforma, em 1994, ninguém é de ninguém. E agora,
com o novo CPC, voltaram ao Livro I.

- O novo CPC se estruturou melhor. O atual CPC é estruturado em cinco livros: 1-


processo de conhecimento; 2- execução; 3- cautelar; 4- procedimentos especiais; 5-
disposições transitórias.

- Diddier concebeu uma parte geral e uma parte especial.

 Na parte geral: Livro 1- Princípios gerais; Livro 2- Ação e jurisdição; Livro 3-


Partes e procuradores; Livro 4- Dos atos e nulidades processuais; Livro 5- Das
tutelas de urgência.

 Na parte especial: Livro 1- Processo de conhecimento; Livro 2- Execução; Livro


3- Recursos; Livro 4- Disposições finais e transitórias.

- Entretanto, o novo código vai cometer os mesmos equívocos programáticos que o


atual.

NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

PARTE GERAL PARTE ESPECIAL

- Princípios gerais
- Processo de conhecimento
- Teoria da ação e da jurisdição
- Processo de execução
- Partes e procuradores
- Recurso
- Teoria dos atos processuais
- Disposições Transitórias
- Tutelas de urgência e evidência

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 56


- O texto dos dispositivos mais ou menos vai se manter.

- Se Luiz Fux tentou manter boa parte dos dispositivos do CPC de 1973 com outro
entendimento, é porque o CPC de 1973 já havia repetido as disposições do CPC de
1939. No CPC de 1939, todas as tutelas de urgência estavam no processo de
conhecimento, Livro II. Buzaid pegou os poucos dispositivos e trouxe para o CPC.

- Buzaid dividiu o Livro III em duas grandes partes:

 Capítulo 1- Disposições gerais; e o


 Capítulo 2- as cautelares nominadas, os procedimentos cautelares específicos.

- Tanto no capitulo 1 quanto no 2 ele não estabeleceu ordem lógica.

- Quanto ao estilo de redação de Buzaid, verifica-se, no Código de Processo Civil, vários


dispositivos que consistem em explicações de dispositivos anteriores.

 Art. 469, III, CPC: “Não fazem coisa julgada: [...] III - a apreciação da questão
prejudicial, decidida incidentemente no processo.”

- A contestação alega coisas tão importantes que mereciam ser declaradas.

 Art. 470, CPC: “Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se
a parte o requerer (arts. 5o e 325), o juiz for competente em razão da matéria e
constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide.”

- Buzaid poderia ter colocado esse artigo 470 como um parágrafo, mas esse é um estilo
de redação.

 Art. 47, CPC: “Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela
natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para
todas as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de
todos os litisconsortes no processo. Parágrafo único. O juiz ordenará ao autor
que promova a citação de todos os litisconsortes necessários, dentro do prazo
que assinar, sob pena de declarar extinto o processo.”

- O artigo define o litisconsórcio unitário. A definição de litisconsórcio necessário está


no art. 46, inciso I. Dependendo do nível de comunhão ele poderá ser facultativo ou
necessário.

- A explicação do art. 47 está no art. 509 do CPC.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 57


 Art. 509, CPC: “O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita,
salvo se distintos ou opostos os seus interesses. Parágrafo único. Havendo
solidariedade passiva, o recurso interposto por um devedor aproveitará aos
outros, quando as defesas opostas ao credor Ihes forem comuns.”

TÍTULO ÚNICO – DAS MEDIDAS CAUTELARES

Capítulo I – Das Disposições Gerais

Binômios Processuais
1. Primeiro Binômio: AUTONOMIA

- O art. 796 e o 797, CPC, têm uma relação muito próxima explicando a questão da
autonomia, exemplificando uma relação de autonomia.

 Art. 796, CPC: “O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso
do processo principal e deste é sempre dependente.”

- Essa norma era a mesma que no Código de 1939 e lá fazia sentido a relação de
“dependência”, num conceito de direito material, porque todas as tutelas eram
internas ao processo de conhecimento. Logo, a sentença fulminava a tutela de
urgência.

- O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso da ação principal.


Buzaid traz essa primeira classificação.

- “e dele é sempre dependente”: uma dependência chamada referibilidade. Não existe


a cautelar pela cautelar; por isso ainda existe uma relação de dependência, mas no que
toca ao interesse de agir (uma dependência sob o ponto de vista processual).

- REFERIBILIDADE é a relação de transitividade entre a medida cautelar e o direito


acautelado na ação principal (que é o interesse de agir da medida cautelar). É o cordão
umbilical que liga uma pretensão cautelar a uma pretensão de direito material.

- Existe uma segunda perna que corrobora e exemplifica isso.

 Art. 797, CPC: “Só em casos excepcionais, expressamente autorizados por lei,
determinará o juiz medidas cautelares sem a audiência das partes.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 58


- INAUDITA ALTERA PARTE: sem a oitiva da parte contrária. Isso é constitucional? Sim,
porque estamos no outro plano do direito.

- Há uma diferença entre cognitio e executio no sentido de igualdade entre as partes.


Na cognitio, as partes são iguais porque na executio eu já não estou mais falando de
pretensão resistida, mas de pretensão forçada.

- É constitucional eu penhorar antes de dar o contraditório ao devedor? Sim, porque já


é uma execução forçada, uma situação de superioridade. O sistema se coaduna com
essa força, que é necessária.

- Agora há um terceiro plano; neste plano, nós vamos encontrar respaldo numa outra
norma constitucional que fala que a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário
lesão ou ameaça a direito.

- A ameaça também é a um bem jurídico. Por isso que o prof. Ovídio fala em direito
material a uma cautela – eu tenho o direito material também de que esse lápis
continue íntegro até o final da minha discussão para saber quem é o dono. Eu tenho o
direito a discutir e tenho direito à integridade do bem da vida que está sendo
discutido.

- Qual a natureza jurídica do prazo para a rescisória? Decadencial, porque é o direito


material para propor uma ação.

- Aqui estamos num outro plano, o do direito material a uma cautela. E o direito a uma
cautela, como não implica em dizer quem é proprietário ou não, não estou derrogando
o direito de ninguém. Mas isso cabe ao processo de conhecimento.

- Então é apenas uma situação diferente onde a Constituição diz: você tem o direito a
discutir e o direito de que a discussão chegue a um fim útil. E mais do que isso: ainda
tem o direito de que isso aconteça de forma tempestiva. O objetivo é que o tempo
processual não interfira na integridade do bem.

Dar uma liminar implica num efeito concreto de uma ação que nada tem a ver com a
ação principal. A concessão de uma liminar é a reafirmação da autonomia, é o
exemplo da autonomia, é o exemplo de referibilidade – é a liminar quer liga o direito
material de cautela ao direito material acautelado.

- No sistema de 1973 eu posso deferir uma tutela no livro I? Não. As reformas vieram a
partir de 1994.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 59


2. Segundo Binômio: PODER GERAL DE CAUTELA

- Carnelutti desde sempre vincula a ênfase da tutela ao nível de conhecimento do


magistrado. Enquanto Pontes de Miranda, mais germânico, entende que as tutelas
‘nem se conhecem’, os italianos entendem que elas são ‘primas irmãs’.

- O PODER GERAL DE CAUTELA, dentro da doutrina italiana, é o nível de convicção do


magistrado para determinar o nível de intensidade da tutela.

Princípio do Livre Intermediação


Sistema do Ônus
Convencimento Entre a Prova e o
Probatório
Motivado Magistrado

CONVICÇÃO

- Na teoria da prova, o magistrado tem ampla liberdade para chegar a uma convicção;
dentro do princípio inquisitivo do art. 130, esse sistema se comunica com o sistema do
ônus probatório (que cabe a quem alega, é estático; no novo código vai ser cabe a
quem pode provar, e vai ser, portanto, dinâmico) e há uma intermediação entre a
prova e o magistrado. A soma desses três elementos gera a convicção do magistrado.
Essa é a base do entendimento do que é o poder geral de cautela; você demonstra a
plausibilidade, a verossimilhança, estabelece uma prova do perigo da demora.

- Prova é a demonstração cabal de um fato pretérito. Se você tem a demonstração


tridimensional da prova, você tem a prova propriamente dita. Antes disso você tem os
indícios de prova, que são preliminares à prova.

 Art. 401, CPC: “A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos


cujo valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao
tempo em que foram celebrados.”

 Art. 402, CPC: “Qualquer que seja o valor do contrato, é admissível a prova
testemunhal, quando: I - houver começo de prova por escrito, reputando-se tal
o documento emanado da parte contra quem se pretende utilizar o documento
como prova; II - o credor não pode ou não podia, moral ou materialmente,

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 60


obter a prova escrita da obrigação, em casos como o de parentesco, depósito
necessário ou hospedagem em hotel.”

- “começo de prova por escrito”: indício + indício = prova.

PODER GERAL DE CAUTELA é a discricionariedade do magistrado, a


liberdade, poder que o magistrado tem para determinar medidas
adequadas à preservação do bem.

 Art. 798, CPC: “Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código
regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas
provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma
parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de
difícil reparação.”

- “determinar as medidas provisórias que julgar adequadas”: a palavra JULGAR resume


o poder geral de cautela.

- No novo CPC, basta ter o fumus boni iuris – e não os dois requisitos do CPC de 1973.

- Ovídio não gosta da expressão “medidas provisórias” porque, assim como acontece
no processo legislativo, “medida provisória” é norma e estabelece efeitos definitivos.
Então Ovídio gostaria que não fosse tal expressão, porque para ele, algo que é
‘provisório’, por exemplo, no processo legislativo, é uma medida que será substituída
por uma lei, mas que já antecipa os efeitos da lei que virá e, mesmo que não vire lei, os
efeitos concretos que ela gerou, permanecerão.

- Então “medidas provisórias” não descreve o que é a cautelaridade, mas a


antecipação de tutela. Por ele, ele trocaria o conceito de “medida provisória” com o de
“medida temporária”, e ele usa uma metáfora do Lopes da Costa, que é a dos
andaimes: se você mora num rancho no cantinho do terreno, essa casa é provisória, e
será substituída por outra mais bonita (medida provisória é antecipatória). Agora, os
andaimes dessa casa são temporários. Essa é a diferença entre medida antecipatória e
medida cautelar.

- A casinha é a antecipação da casona. O andaime não é nada, é apenas temporário.

- O estilo Fux de redigir é tão diplomático que ele não entra em encrenca: ele
simplesmente tirou o adjetivo ‘provisório’ e não tomou partido escolástico.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 61


A medida provisória é antecipatória; a medida temporária é cautelar.

 Art. 799, CPC: “No caso do artigo anterior, poderá o juiz, para evitar o dano,
autorizar ou vedar a prática de determinados atos, ordenar a guarda judicial de
pessoas e depósito de bens e impor a prestação de caução.”

- Aqui há as famosas medidas cautelares INOMINADAS.

- Primeiro, é preciso salientar que essa lista é meramente exemplificativa. Portanto, o


magistrado pode, por exemplo, autorizar que a globo transmita o carnaval carioca com
exclusividade (porque o que prevalece é a regra do artigo anterior: poder geral de
cautela).

- E aí entra-se numa outra dimensão do poder geral de cautela, que á CAUTELA DA


CAUTELA: quais são as cautelas que o magistrado deve ter para deferir uma cautela.

- O art. 798, CPC, descreve o poder geral de cautela e o art. 799 o exemplifica.

3. Terceiro Binômio: CAUTELA E CONTRACAUTELA

- É um desdobramento do poder geral de cautela; são os tipos de prudência que o juiz


pode deferir concomitantemente com uma cautela.

 Art. 804, CPC: “É lícito ao juiz conceder liminarmente ou após justificação prévia
a medida cautelar, sem ouvir o réu, quando verificar que este, sendo citado,
poderá torná-la ineficaz; caso em que poderá determinar que o requerente
preste caução real ou fidejussória de ressarcir os danos que o requerido possa
vir a sofrer. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)”

- Então ele pode, para se convencer, marcar audiência de justificação (aqui está
falando de convencimento); ou não precisa se convencer, mas exige que haja garantia
da solvência caso esteja errado (caução). São medidas de prudência.

- Audiência de justificação é uma oportunidade concedida ao requerente para produzir


as provas justificando o seu pedido.

 Art. 805, CPC: “A medida cautelar poderá ser substituída, de ofício ou a


requerimento de qualquer das partes, pela prestação de caução ou outra
garantia menos gravosa para o requerido, sempre que adequada e suficiente
para evitar a lesão ou repará-la integralmente. (Redação dada pela Lei nº
8.952, de 13.12.1994)”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 62


- O art. 804 é a CAUTELA; o art. 805 é a CONTRACAUTELA.

- “substituída”: ela continua eficaz. Isso é uma norma ética do Código de Processo Civil.
Se na execução, que é forçada, deve-se escolher o meio menos gravoso ao devedor
(art. 620, CPC), mais ainda deve-se observar tal aspecto em se tratando de cautela.

Exemplo: o Bradesco pediu uma liminar de busca e apreensão de todos os caminhões


que estão em leasing no pátio da tua transportadora. O que fazer antes de agravar?
Pega a escritura do terreno e oferece em caução, porque, se tirar os caminhões, a
empresa quebra – é o menos gravoso.

4. Quarto Binômio: COISA JULGADA FORMAL

- É uma espécie de microcosmos do processo cautelar porque resume todos os


binômios anteriores.

 Art. 807, CPC: “As medidas cautelares conservam a sua eficácia no prazo do
artigo antecedente e na pendência do processo principal; mas podem, a
qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas. Parágrafo único. Salvo decisão
judicial em contrário, a medida cautelar conservará a eficácia durante o período
de suspensão do processo.”

- Isso é o efeito meramente formal das decisões cautelares. Não existe preclusão.

- “podem, a qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas”: nem há necessidade de


haver um fato novo, única exclusivamente porque ela não faz coisa julgada (nem a
sentença cautelar é imutável).

- Acima de tudo, o que o artigo estabelece é o plano provisório ou temporário da


medida cautelar, seja qual for a escola à qual se vincule.

- “e na pendência do processo principal”: isso é uma reafirmação da autonomia da


medida cautelar.

 Art. 810, CPC: “O indeferimento da medida não obsta a que a parte intente a
ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no procedimento cautelar,
acolher a alegação de decadência ou de prescrição do direito do autor.”

- “nem influi no julgamento desta”: porque direito material de cautela não se confunde
com direito material acautelado.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 63


- Buzaid estabeleceu aí uma exceção à regra. Existem alguns momentos em que a
cautelar faz coisa julgada material: salvo se “acolher a alegação de decadência ou de
prescrição do direito do autor”. Na verdade existem três exceções à regra.

- Existe uma última norma avulsa que lida com processo, mas não está vinculada a
binômio nenhum.

 Art. 811, CPC: “Sem prejuízo do disposto no art. 16, o requerente do


procedimento cautelar responde ao requerido pelo prejuízo que Ihe causar a
execução da medida: I - se a sentença no processo principal Ihe for
desfavorável; II - se, obtida liminarmente a medida no caso do art. 804 deste
Código, não promover a citação do requerido dentro em 5 (cinco) dias; III - se
ocorrer a cessação da eficácia da medida, em qualquer dos casos previstos no
art. 808, deste Código; IV - se o juiz acolher, no procedimento cautelar, a
alegação de decadência ou de prescrição do direito do autor (art. 810).
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos do procedimento
cautelar.”

- Se a sentença [transitada em julgado] no processo principal.

- Qual a medida que causa prejuízo? A antecipatória.

§ único: nesse caso, a sentença cautelar terá sido condenatória, de mérito. E aqui há
uma segunda exceção.

- Esse dispositivo é a prova da inconsistência do sistema, porque gerou-se uma medida


satisfativa num processo que não tinha estrutura para tal. E aí é preciso criar uma
exceção, e a cautelar vira condenatória.

- É exatamente naquele ponto em que o processo cautelar desafina: quando a medida


cautelar se presta a uma finalidade que ela não suporta. A medida cautelar não
suporta o peso da satisfatividade.

- E aí, para poderem emendar o soneto, tem que transformar a cautelar numa
condenatória; tem que proferir uma segunda sentença em cima da primeira que fez
coisa julgada meramente formal, para atingir uma recuperação daquilo que o juiz
errou ao deferir.

Quando você transcende a cautelaridade e entra na satisfatividade, a execução da


medida gera prejuízo e aí você tem que apurar perdas e danos – a cautelar se
transmuta em liquidação por artigos.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 64


- Essa emenda traduz a fragilidade do processo cautelar, especialmente quando ele
traz medidas satisfativas.

Exemplo: O cara foi lá, buscou e apreendeu todos os veículos da sua transportadora. Aí
depois viu que não devia ter feito isso. Na própria cautelar o juiz profere a sentença,
condena, e qualquer prova que você quiser fazer você vai fazer na liquidação.

Dispositivos Procedimentais
- Nessas disposições gerais, há sete dispositivos procedimentais.

 Art. 800, CPC: “As medidas cautelares serão requeridas ao juiz da causa; e,
quando preparatórias, ao juiz competente para conhecer da ação principal.
Parágrafo único. Interposto o recurso, a medida cautelar será requerida
diretamente ao tribunal.”

- É um conceito básico. Qual o juiz competente da ação cautelar? O da ação principal,


seja ela incidental, seja ela preparatória. Qual é a definição da competência cautelar? É
a competência da ação principal.

§ único: você tem aí a definição completa da competência cautelar.

- Esse § único também traduz uma situação estranha. Isso quer dizer que, julgada a
ação principal em primeiro grau, eu já tenho que ajuizar a medida cautelar
diretamente no segundo grau.

- E o princípio constitucional do duplo grau de jurisdição, nesse caso estará sendo


ferido? Não, se ela não tem mérito, não é nela que o duplo grau de jurisdição se
manifesta – é o direito material que deve seguir todos os graus de jurisdição. O
direito de cautela é uma situação muito mais de fato do que de direito. Se o perigo só
começou a existir a partir do momento no segundo grau, eu devo ajuizar a cautelar
neste momento, apenas para acautelar esse perigo de risco.

- Quando você julga em segundo grau, o RESp e o RE não tem efeito suspensivo (542, §
2º, CPC – conferir); logo, a parte já pode começar a execução, e se for a execução de
uma tutela, mais complicado ainda. Apenas esse tipo de situação é exceção a essa
regra, isto é, eu até posso ter interposto o REsp, mas ele tem uma característica.

 Art. 542, § 2º, CPC: “Recebida a petição pela secretaria do tribunal, será
intimado o recorrido, abrindo-se-lhe vista, para apresentar contrarrazões.
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 2001) [...] § 2º. Os recursos extraordinário
e especial serão recebidos no efeito devolutivo. (Incluído pela Lei nº 8.950, de
1994)”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 65


Recursos

- Os recursos podem ser ORDINÁRIOS (visam o duplo grau de jurisdição) ou


EXTRAORDINÁRIOS.

 Art. 496, CPC: “São cabíveis os seguintes recursos: (Redação dada pela Lei nº
8.038, de 1990) I - apelação; II - agravo; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de
1994) III - embargos infringentes; IV - embargos de declaração; V - recurso
ordinário; Vl - recurso especial; (Incluído pela Lei nº 8.038, de 1990) Vll - recurso
extraordinário; (Incluído pela Lei nº 8.038, de 1990) VIII - embargos de
divergência em recurso especial e em recurso extraordinário. (Incluído pela Lei
nº 8.950, de 1994)”

- Os Embargos de Declaração, em regra, não são recurso. Os arts. 464 e 465, CPC,
tratavam dos embargos de declaração – não eram tratados no capítulo de recursos;
eram apenas um incidente de integração da decisão – por isso nada melhor que
interpor para o próprio juiz. Então ele perde a primeira característica recursal, que é a
hierarquia.

- Recursos extraordinários: visa transcender o duplo grau de jurisdição. Porque STJ,


TST, STM, TSE e STF não são graus de jurisdição. Eles são órgãos de superposição. O
seu não é fazer justiça, mas tornar isonômica a aplicação das leis no território nacional.
Se for constitucional, fica a cargo do STF; se for infraconstitucional, fica a cargos dos
tribunais superiores. Os exemplos: REsp, RE e Recurso de Revista.

- Os recursos extraordinários, em gênero, tem uma diferença em relação aos recursos


ordinários. Como eles se dirigem a órgãos de superposição e não mais a duplo grau de
jurisdição, eles têm uma dificuldade a mais uma vez que não se mais prestam para
analisar a justiça do caso – a justiça está presa única e exclusivamente à matéria de
direito dentro do conceito de aplicação isonômica – seja vertical (aplicar jurisprudência
do tribunal superior) ou horizontalmente (existe outro tribunal dentro da federação
que tem um entendimento diverso – usa o acórdão paradigma, faz o cotejo analítico
para que possa ascender aos tribunais superiores). Então há diferenças entre as alíneas
‘a’ e ‘c’.

- Por conta dessa questão da isonomia e não mais da justiça – a ênfase está muito mais
na aplicação isonômica do que propriamente na questão de fazer justiça – eles são
recursos chamados também de bifásicos, isto é, tem um exame de admissibilidade
dividido em duas fases: no tribunal de origem e no de destino.

- Essa situação, para fins do § único do art. 800, é muito importante, porque mesmo
interposto o Recurso Especial, se ainda não foi submetido a uma admissibilidade – e
enquanto não for submetido à primeira fase da admissibilidade – faz com que a
cautelar seja proposta no tribunal a quo.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 66


 Art. 800, § único, CPC: “Interposto o recurso, a medida cautelar será requerida
diretamente ao tribunal.”

- Será requerida no tribunal a quo, exceto se não for feita a análise da admissibilidade.

- Em recursos extraordinários, a competência se divide antes ou depois do exame de


admissibilidade. Se houver Embargos de Declaração prequestionadores, a cautelar vai
no tribunal a quo. E depois do agravo, em RE ou REsp? Não importa; se já tem agravo é
porque já foi feita a admissibilidade.

- Isso induz a pensar que a primeira coisa que se deve imaginar é a competência; e na
realidade não é, porque topologicamente a primeira coisa que se faz é o
endereçamento da peça. A primeira coisa a ser pensada não é a competência, e sim o
pedido.

- Há a regra no caput, a exceção no parágrafo único e, não escrita, a exceção da


exceção, que é para recursos extraordinários.

 Art. 801, CPC: “O requerente pleiteará a medida cautelar em petição escrita,


que indicará: I - a autoridade judiciária, a que for dirigida; II - o nome, o estado
civil, a profissão e a residência do requerente e do requerido; III - a lide e seu
fundamento; IV - a exposição sumária do direito ameaçado e o receio da lesão;
V - as provas que serão produzidas. Parágrafo único. Não se exigirá o requisito
do no III senão quando a medida cautelar for requerida em procedimento
preparatório.”

- Pelo código de 1939, o juiz poderia determinar medidas urgentes com base em fato
notório. Então, isso é justamente para evitar a derrogação de um dos paradigmas do
direito processual mais conservador, (art. 2º, CPC – princípio da inércia jurisdicional,
um dos dois dogmas que marcavam a presença do direito italiano na nossa
processualística civil): “petição escrita”.

Inciso I: endereçamento (procedimentalmente falando), que, processualmente, indica


a competência.

Inciso II: qualificação das partes.

Inciso III e § único: na realidade, não é a causa de pedir, mas a REFERIBILIDADE. O


inciso II manda vocês declinarem, na cautelar, a referibilidade, ou seja, qual será a
ação principal que você irá mover. Se ela já está posta, não é preciso explicar os
motivos do requerimento da cautelar.

Inciso IV: fumus boni iuris e periculum in mora.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 67


- A primeira questão fundamental é: despolua a sua petição.

 Art. 39, I, CPC: “Compete ao advogado, ou à parte quando postular em causa


própria: I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço em que
receberá intimação;”

Sugestão de Estrutura da Ação Cautelar

1. No primeiro capítulo da petição, coloca “perigo da demora”;


2. No segundo capítulo, trata do fumus boni iuris.
3. Se ela for preparatória, tem que declinar um capítulo a mais: “referibilidade”.

- “esta ação é referível a uma ação declaratória em que buscar-se-á ‘A’, ‘B’, ‘C’, etc.”.

4. Depois, o quarto capítulo: “a concessão liminar do pedido”.

- ‘Liminar’ é advérbio de tempo, não é substantivo. Aí explica o que necessita em


termos de tutela de urgência.

5. Por fim, o pedido.

- “Julgar procedente a ação no sentido de ‘determinar’/’ordenar’” (a cautelar é uma


ação mandamental, mas não tem coisa julgada material).

 Art. 798, CPC: “Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código
regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas
provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma
parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de
difícil reparação.”

- Deve-se especificar as provas (na inicial e na contestação).

IMPORTANTE: Pedir a produção de todas as provas admitidas em direito é tornar a


petição inepta. Todas as provas em direito admitidas são só três:

a) juntada de novos documentos hábeis para contrapor argumentos novos;


b) produção de prova oral, com o depoimento pessoal da parte contrária e oitiva
das testemunhas;
c) prova pericial.

- Deve-se determinar a prova, explicar para que ela serve, e então fará uma petição
apta, e não inepta.

OBS: há um quarto tipo de prova, a cargo do juiz, que é a inspeção judicial.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 68


- Último aspecto: precisa ter valor da causa? O art. 801 não fala sobre isso, mas
precisa. O valor da causa na cautelar NÃO É o valor da causa da ação principal.

- O valor da causa cautelar é inestimável, porque você não consegue estimar o valor da
segurança jurídica. Direito material acautelador não se confunde com direito material
de cautela. Então fixa num valor mínimo.

OBS: mandar ajustar o valor da ação cautelar ao valor da ação principal é loucura. É
confundir o objeto de lides completamente diferentes.

 Art. 809, CPC: “Os autos do procedimento cautelar serão apensados aos do
processo principal.”

- Lidar com esse art. 809 pode dar a impressão de que o processo cautelar é realmente
um acessório do principal.

- O § único do art. 800 trata sobre competência para mover a medida cautelar quando
for interposto o recurso. Como aplicar o 809 se o recurso está tramitando aqui em
cima e eu vou ajuizar a medida lá no juízo a quo? Então o art. 809 não é cogente; você
anexa um ao outro se for o caso.

- O prazo para ajuizar a ação principal é de 30 dias. Mas se nós observarmos o fluxo de
prazos, o prazo para contestar é de 5 dias. Se o réu foi citado e é revel na contestação,
o juiz pode julgar a cautelar antes de ajuizar a principal. E se o réu recorrer?

- Então é óbvio que o art. 809, por ser uma norma meramente procedimental, deve ser
interpretado de acordo com as demais normais procedimentais e, acima de tudo, de
acordo com as normas processuais.

- O art. 809 não determina a dependência de uma causa em relação à outra.

 Art. 802, CPC: “O requerido será citado, qualquer que seja o procedimento
cautelar, para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido, indicando as
provas que pretende produzir. Parágrafo único. Conta-se o prazo, da juntada
aos autos do mandado: I - de citação devidamente cumprido; II - da execução
da medida cautelar, quando concedida liminarmente ou após justificação
prévia.”

- No novo processo cautelar haverá instrução. Eu preciso provar na cautelar


verossimilhança; não preciso provar prova inequívoca. Por isso o art. 804 é tão
importante. O juiz pode deferir liminarmente duas cautelas: uma financeira, caução e
outra instrutória, que é a audiência de justificação.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 69


- Vai aqui uma recomendação: sempre formular naquele capítulo de concessão liminar
da medida, três pedidos sucessivos/ subsidiários:

a) estabelecer primeiro a liminar inaudita altera parte;


b) caso Vossa Excelência assim não entenda, que permita que eu justifique em
48 horas;
c) em último caso, que preste caução (demonstração de solvabilidade).

- Essa caução serve para o problema do art. 812, que é a segunda exceção à regra de
que a cautelar não faz coisa julgada material. A primeira exceção é a prescrição e
decadência; a segunda, prejuízo ao réu (torna-se uma sentença condenatória – isso
está previsto no art. 811, CPC).

- A função da cautela e da contracautela, primeiro, é amenizar a incidência; segundo,


demonstrar solvência para que se uma parte tiver que indenizar a outra, já há um bem
garantido.

- Para que pleitear numa petição menor se eu posso fazer a petição maior e já pedir a
tutela da tutela? Na visão do prof., não há mais sentido a medida antecedente.

- Em 1998 a Ada Pelegrini propôs o conceito de ESTABILIZAÇÃO DA MEDIDA – isso


poderá ser a solução para o Novo código.

- Ada preconizava o seguinte: todo mundo pede tutela com base no art. 273, cautelar
ou antecipatória. Então vamos positivar o 273-A até o F e vamos estabelecer o
seguinte: quem ajuíza o pedido só formula o pedido de tutela de urgência – não
formula mais nada, não precisa deduzir o pedido final, não precisa dar o valor da causa
original, é só um pedido de tutela pela tutela. Ganhou a medida? Ótimo; cumpra-a e
você não precisa fazer mais nada. A outra parte, se quiser, é que, no mesmo eixo da
medida que você propôs, formulará o pedido para que, após uma longa instrução,
tenha uma sentença que casse essa decisão – é quase que o sistema romano
germânico original.

- Você pega a tutela e se você ganhar a outra parte move uma mini ação rescisória
dessa tutela. Mas o ônus é de quem não tem a prova inequívoca – e quem tem a prova
inequívoca se beneficia. Existem alguns problemas estruturais nessa tese.

Exemplo: vamos supor que a outra parte não ajuíze o pedido. Tem um dispositivo, o
art. 273-B, que diz que essa tutela conservará a eficácia indefinidamente. Pode isso?
Não.

- Sm = Pe + Aa a tutela, nessa equação, é o PE, mas o que lhe dá definitividade é o


AA, é o conteúdo declaratório.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 70


- Como é que eu vou dar ao PE, sem o AA, a definitividade? Qual é a natureza disso?
Ninguém sabe; você não consegue explicar com o conhecimento científico atual. Não
há como visualizar, por enquanto, definitividade aqui. Pelo sistema processual atual,
você precisa ajuizar a ação principal em 30 dias para conceder à medida cautelar,
satisfatividade.

- Gera situações provisórias, provisoriamente definitivas; não é complicado sob o


ponto de vista fático, mas sob o ponto de vista do sistema processual.

- Diddier aproximou o sistema da Ada ao sistema cautelar. Então, no projeto do novo


CPC, Diddier tem um estilo diferente do Fux: prefere manter ideias parecidas apesar de
os textos serem bem diferentes.

- O tempo para contestar é de 5 dias. E se não contestar?

 Art. 803, CPC: “Não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo
requerido, como verdadeiros, os fatos alegados pelo requerente (arts. 285 e
319); caso em que o juiz decidirá dentro em 5 (cinco) dias. (Redação dada pela
Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) Parágrafo único. Se o requerido contestar no
prazo legal, o juiz designará audiência de instrução e julgamento, havendo
prova a ser nela produzida. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)”

- 5 dias para contestar, 5 dias para julgar, 15 dias para apelar. Ou seja: o processo pode
subir e você nem ajuizou ainda o principal; vai aplicar o 809? Não.

§ único: porque se não tiver, julga de plano. Mesmo que o cara não recorra da medida
cautelar, ele pode ganhar no processo principal.

 Art. 806, CPC: “Cabe à parte propor a ação, no prazo de 30 (trinta) dias,
contados da data da efetivação da medida cautelar, quando esta for concedida
em procedimento preparatório.”

- Que data é essa? O prazo para propor a ação passa a correr da data da efetivação;
intimar a parte ou juntar o mandado não quer dizer que a medida já foi surtir efeitos.
Se foi indeferido, nem começa a contar o prazo para propor ação principal.

- O que é o deferimento da medida? A intimação? A data que se deu por ciente é o


início do prazo de 30 dias? Ou a data do mandado de intimação devidamente
cumprido? Ou da data em que a medida se efetivou (se tornou real)?

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 71


- Na realidade, a última opção estaria certa de acordo com a inteligência de Buzaid,
mas não é isso que a jurisprudência diz: é da juntada do mandado devidamente
cumprido nos autos, que é a regra geral do Livro I do CPC.

Audiência de
Contestação Instrução e
Julgamento
Art. 802
800
Citado para Art. 806
contestar 30 dias para
801
(prazo 5 dias) Art. 803 propositura da
Revelia 5 dias para o juiz Ação
decidir
Art. 804/ 805
Medida cautelar
inaudita altera
parte

 Art. 808, CPC: “Cessa a eficácia da medida cautelar: I - se a parte não intentar a
ação no prazo estabelecido no art. 806; II - se não for executada dentro de 30
(trinta) dias; III - se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem
julgamento do mérito. Parágrafo único. Se por qualquer motivo cessar a
medida, é defeso à parte repetir o pedido, salvo por novo fundamento.”

Inciso I: aí há uma questão processual. Vocês ajuízam uma medida cautelar inominada
– o prazo é de 30 dias a contar da juntada do mandado de intimação devidamente
cumprido aos autos. O problema é que existem medidas cautelares nominadas que
não são preparatórias, mas apenas preventivas.

Toda medida cautelar é preparatória, portanto vale o prazo de 30 dias. Mas


existem medidas cautelares que são apenas PREVENTIVAS, isto é, elas previnem
a situação, mas não se implementou ainda o direito material para que você
ajuíze a ação principal.

Exemplo: para a concessão do arresto eu preciso ter um título liquido e certo. Mas
vamos supor que ele só seja exigível no ano que vem. Mas a fraude já está sendo
perpetrada agora. Eu ajuízo a medida cautelar agora, mas quando vou ajuizar a ação
principal? Ano que vem; se não, o que acontece com a ação principal, se estou
ajuizando a ação antes do implemento do prazo contratual? Eu não tenho interesse de
agir.

- Então há uma diferença. Esse inciso I, apesar de ser na essência procedimental, traz
um pequeno universo processual que é exatamente essa diferenciação: quando estou

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 72


preparando o caminho, isto é, a medida cautelar é antes da ação principal, mas ela não
é preventiva, ela é preparatória, aí incide o prazo de 30 dias do art. 806. Se ela for
meramente preventiva, depende da situação do direito material.

Quando é PREPARATÓRIA, corre o prazo; quando é PREVENTIVA, depende da


situação do direito material.

Inciso II: por exemplo, a separação de corpos. Mas o advogado experiente ganha a
liminar, e a guarda no bolso; por quê? Porque pode haver um acordo. A medida
cautelar de bolso é muito útil por um simples motivo: você só negocia em posição de
superioridade. Mas tem prazo; se não vai cessar a medida porque ela perde a sua
eficácia.

Inciso III: se transitar em julgado a decisão que o juiz prolatou extinguindo o processo
principal com relação de mérito.

- Existe um artigo anódino, que é o art. 812, CPC.

 Art. 812. “Aos procedimentos cautelares específicos, regulados no Capítulo


seguinte, aplicam-se as disposições gerais deste Capítulo.”

- Os artigos 800, 801, 802, 803, 806, 808, 809 e 812 são todos procedimentais. Os
artigos 796, 797, 798, 799, 805, 805, 807, 810, são processuais. O art. 808, inciso I, traz
uma nuance processual, que á diferenciação entre preventiva e preparatória.

Capítulo II – Procedimentos Cautelares Específicos


- Como visto, Buzaid montou o Código de Processo Civil de 1973 com uma série de
procedimentos do Código de Processo Civil de 1939, que pertenciam ao Livro de
Processos Acessórios.

- Então a origem topológica, redacional dos “Procedimentos Cautelares Específicos”


está ou na legislação extravagante ou na legislação do Código de Processo Civil de
1939, em um livro muito específico à época denominado “Processos Acessórios”.

- O Livro V, do CPC de 1939, Processos Acessórios, abrangia, basicamente, esses


procedimentos que não fazem coisa julgada material – nunca fizeram, e são
meramente acessórios. Lopes da Costa, quando fez o CPC de 1939 tinha essa noção.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 73


Código de Processo Civil de 1939

LIVRO I: Disposições Gerais

LIVRO II: Do Processo em Geral Procedimentos


Cautelares Específicos
LIVRO III: Do Processo Ordinário

LIVRO IV: Dos Processos Especiais

LIVRO V: Dos Processos Acessórios

LIVRO VI: Dos Processos de Competência Originária dos Tribunais

LIVRO VII: Dos Recursos

LIVRO VIII: Da Execução

LIVRO IX: Do Juízo Arbitral

LIVRO X: Disposições Finais e Transitórias

- Buzaid, quando da elaboração do CPC de 1973, adotou alguns desses “Processos


Acessórios” porque são medidas que asseguram o fim útil da ação principal; ele
conseguiu enxergar, nesses procedimentos acessórios, a nota da referibilidade,
característica das cautelares.

- O Código de 1973 contempla um rol de medidas cautelares nominadas. São elas:

a) Arresto (arts. 813 a 821, CPC)


b) Sequestro (arts. 822 a 825, CPC)
c) Caução (arts. 826 a 838, CPC)
d) Busca e Apreensão (arts. 839 a 843, CPC)
e) Exibição (arts. 844 a 845, CPC)
f) Produção Antecipada de Provas (arts. 846 a 851, CPC)
g) Alimentos Provisionais (arts. 852 a 854, CPC)
h) Arrolamento de Bens (arts. 855 a 860, CPC)
i) Justificação (arts. 861 a 866, CPC)
j) Protestos, Notificações e Interpelações (arts. 867 a 873, CPC)
k) Homologação do Penhor Legal (arts. 874 a 876, CPC)
l) Posse em Nome de Nascituro (arts. 877 a 878, CPC)
m) Atentado (arts. 879 a 881, CPC)

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 74


n) Protesto e Apreensão de Títulos (arts. 882 a 887, CPC)

- Observando-se as medidas acima elencadas, infere-se que uma não tem nada a ver
uma com a outra. Então Buzaid, mais uma vez, embaralhou as normas, e seguiu uma
ordem que estava nos procedimentos acessórios do Código de Processo Civil de 1939,
acrescentando algumas coisas da Legislação Comercial. Não se pode, a princípio,
extrair uma lógica.

- Entretanto, em uma análise mais apurada, verifica-se três grandes grupos de


cautelares nominadas: as cautelares em direito de família, em provas e em crédito.

- Por exemplo, o arresto, a exibição e os alimentos provisionais. Essas três medidas são
referíveis a que direitos materiais? Nos alimentos provisionais, a medida se reporta ao
pai, a direito de família; na exibição, há uma medida cautelar cuja única função é exibir
um documento, um bem; e, por fim, no arresto, o intuito é resguardar patrimônio.

 Art. 844, CPC: “Tem lugar, como procedimento preparatório, a EXIBIÇÃO


JUDICIAL: I - de coisa móvel em poder de outrem e que o requerente repute sua
ou tenha interesse em conhecer; II - de documento próprio ou comum, em
poder de co-interessado, sócio, condômino, credor ou devedor; ou em poder de
terceiro que o tenha em sua guarda, como inventariante, testamenteiro,
depositário ou administrador de bens alheios; III - da escrituração comercial por
inteiro, balanços e documentos de arquivo, nos casos expressos em lei.”

- “como procedimento preparatório”: é uma asseguração de uma prova. Você nem


sabe se o cara tem ou não o documento.

OBS! “Caução” se refere a crédito. “Busca e apreensão” é uma asseguração de prova


(mas que também pode ser direito de família – buscar e apreender uma criança).

- É importante ter isso em mente para poder entender que 60% das cautelares
nominadas são assecuratórias de crédito. E aí que se começa a entender um nicho
secreto do Código de Processo Civil: pode-se enxergar uma intenção política. Se eu
tinha um poder geral de cautela que previa indisponibilidade de bens, caução, por que
repetir de novo essas cautelares nominadas? Se a caução é uma medida cautelar
dentro do poder geral de cautela do magistrado, que pode até ser deferida de ofício,
por que eu preciso de uma medida cautelar de caução? Se nos arts. 352 e seguintes,
do CPC, está a exibição de documentos, para que a medida cautelar? Para entender
isso, é preciso voltar um pouco no tempo.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 75


Razões Históricas das Cautelares Nominadas

- Durante a ditadura militar, o Brasil vivia dentro da dicotomia Leste-Oeste que o


mundo vivia naquela época: tudo era ou pró União Soviética, ou Pró Estados Unidos,
dentro das suas zonas de influência.

- Nos idos de 1961, 62, o Brasil já estava amadurecendo uma opção política, seja ela de
esquerda ou de direita, que já estava sendo gestada desde 10 anos antes, na época do
Governo Vargas.

- A eleição para presidente, na época, não era a mesma que para o vice; então era
possível eleger um presidente e um vice-presidente de partidos diferentes. Foi o que
aconteceu, por exemplo, com Jânio Quadros, presidente, de direita, e João Goulart,
vice-presidente, de esquerda. Havia aquele sonho de que o socialismo daria certo, um
incentivo ao golpe de esquerda. Aliado a isso, houve a crise em virtude da construção
de Brasília.

- Quando sobreveio o golpe, efetivamente tinha respaldo de boa maioria da


população; começou a perder apoio quando as desculpas que foram dadas, que em
1965 haveria eleições diretas, não estavam sendo cumpridas. Então o golpe foi
justificado como apenas uma forma de restaurar um mínimo de continuidade
administrativa, de retomar os rumos do brasil.

- O Brasil não tinha o Banco Central, uma rede financeira que lhe desse respaldo. Em
1964, só um terço da população brasileira era empregada, o país era eminentemente
agrário, o índice de analfabetismo era gigante. Havia uma necessidade de reformar e
modernizar o Brasil. A intenção econômica era organizar a economia do Brasil de
alguma forma – que não fosse através do socialismo. Em 1965, quando viu-se que não
haveria eleições, as coisas começaram a recrudescer. As cassações começaram.

- O Brasil, com esse perfil político, com essa situação econômica e com esse perfil
social, era um país em que não havia, por exemplo, uma garantia de emprego, não
havia absolutamente nada que estimulasse produção econômica. Então eles geraram
condições que, na cabeça deles, seria a melhor forma de fazer isso e surgiu a época
denominada o milagre econômico (a partir de 68, 69, o Brasil começou a crescer).

- Entretanto, com a crise do petróleo, houve instabilidade econômica e em 1974 o


Brasil quebrou e recorreu, pela primeira vez, ao FMI.

- Por conta desses três perfis, político, social e econômico, os economistas da década
de 60 concluíram que um dos primeiros problemas a ser resolvidos no Brasil era o
CRÉDITO. Por isso que Buzaid deu vazão a isso. Se havia um Poder Geral de Cautela tão
eficiente, por que precisava das medidas cautelares nominadas?

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 76


O Brasil não podia permitir – e isso é uma visão do governo militar – que o sistema processual
brasileiro concedesse liberdade para o magistrado decidir (especialmente o magistrado de
primeiro grau, que por estar muito perto do povo, às vezes se confundiam com o próprio
povo). E os magistrados não tinham noção de que deveriam priorizar um bem maior, que era a
economia nascente do Brasil.

- Por exemplo, no Brasil da década de 60, tudo tinha que terminar em prisão, de uma
forma ou de outra: havia as prisões por desobediência e as prisões do depositário
infiel. À época, isso era um elemento de persuasão. Então, o crédito, qualquer que
fosse ele, tinha que ser recuperado mediante a tutela do magistrado. O magistrado
não tinha saída: presentes determinados requisitos previstos pelo banco ou pelo fisco,
a dívida tinha que ser paga – para incutir no brasileiro a cultura de pagar as dívidas.

Exemplo: Decreto-Lei 911/69, que trata da alienação fiduciária. O pórtico do decreto-


lei assim dispõe:

 OS MINISTROS DA MARINHA DE GUERRA, DO EXÉRCITO E DA AERONÁUTICA


MILITAR, usando das atribuições que lhes confere o artigo 1º do Ato
Institucional nº 12, de 31 de agôsto de 1969, combinado com o § 1º do arti go
2º do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, DECRETAM:

- Havia um triunvirato porque Costa e Silva sofreu tanto ao baixar o AI 5, de 1968, que
no final de dezembro de 1968 teve um aneurisma cerebral. O vice, que fi mais uma
tentativa pós Castello Branco de acalmar a direita era um civil, chamado Pedro Aleixo –
que, por ser um civil, não poderia assumir. Então, fecharam o congresso nacional,
baixaram uma nova Carta Constitucional, e recrudesceram o regime. Foi um golpe
dentro do golpe; e aí surgiu toda a indústria da tortura no Brasil.

- O decreto 911 foi baixado por um triunvirato, sem nenhuma previsão constitucional,
num período em que o Congresso Nacional estava fechado, não foi legalizado num
momento de normalidade constitucional e, ainda assim, é considerado válido.

- O decreto começa, no artigo 3º, com busca e apreensão. No artigo 4º, ele vira ação
de depósito, nos mesmos autos. Por que? Qual a estratégia? É uma alienação
fiduciária; o comprador é o fiel depositário daquele bem. Inadimpliu? Manda buscar e
aprender. Caso não encontrasse, o credor podia transformar, nos mesmos autos, uma
medida cautelar em procedimento especial de jurisdição contenciosa, ação de
depósito, para sair um mandado de prisão e mandar prender o cara. Isso é só um
exemplo do clima que o Brasil vivia nessa época.

- Hoje em dia não vale mais a conversão em depósito, porque o STJ já decidiu que não
cabe mais a prisão civil do depositário infiel.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 77


Sistema de Recuperação de Crédito
- Quem mandou revisar o Código de Processo Civil foi o Jânio, em 1962, e também ele
nomeou Buzaid como presidente da comissão. É possível entender como se manipula,
politicamente, uma norma.

- Há três tipos de medidas cautelares nominadas: assecuratórias de crédito;


assecuratórias de provas; assecuratórias em direito de família.

- Quando alguém queria positivar uma norma na época, era comum eles darem um
revestimento, um brilho, um lustro de autenticidade, de legalidade.

Seção I – Arresto
 Art. 813, CPC: “O arresto tem lugar: I - quando o devedor sem domicílio certo
intenta ausentar-se ou alienar os bens que possui, ou deixa de pagar a
obrigação no prazo estipulado; II - quando o devedor, que tem domicílio: a) se
ausenta ou tenta ausentar-se furtivamente; b) caindo em insolvência, aliena ou
tenta alienar bens que possui; contrai ou tenta contrair dívidas extraordinárias;
põe ou tenta pôr os seus bens em nome de terceiros; ou comete outro qualquer
artifício fraudulento, a fim de frustrar a execução ou lesar credores; III - quando
o devedor, que possui bens de raiz, intenta aliená-los, hipotecá-los ou dá-los em
anticrese, sem ficar com algum ou alguns, livres e desembargados, equivalentes
às dívidas; IV - nos demais casos expressos em lei.”

- Se é “lugar” é elemento objetivo; ‘lugar’ se refere a fato, portanto, a situação fática é


o periculum in mora. Quais são as condições fáticas que ensejam um arresto?

Inciso I: tem que ser devedor, e, nesse caso, tem que ser sem domicílio; ausenta-se;
aliena bens; ou não paga.

- Então você pode apreender bens do devedor se ele, na condição de devedor, ainda
que não vencida a dívida, ausenta-se, aliena bens ou não paga no vencimento.

Inciso II: O que quer dizer ‘furtivamente’? Não muda a condição objetiva de se
ausentar, porque nenhum devedor que deve muito se ausenta anunciando sua
ausência. Toda forma de ausência é furtiva – não existe isso. Toda pessoa com ou sem
domicilio que fecha o comércio, está intentando uma situação de fraude. Então ele
aliena ou comete outro qualquer artifício fraudulento.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 78


- Qual a palavra chave desses dois incisos? O “ou”. É a mania de Buzaid exemplificar;
ao invés de primeiro estabelecer a regra geral, ele exemplifica e depois estabelece a
regra geral. Mas, na realidade, esse é o estilo Buzaid.

- Quando cabe arresto? Em qualquer circunstância. Há um disfarce por trás da boa


intenção de legalidade.

LUGAR Periculum in mora

- Ausenta-se

- Devedor sem domicílio - Aliena bens

- Não paga no prazo estipulado

- Ausenta-se

- Aliena bens
- Devedor com domicílio
- Contrai dívidas extraordinárias

- Artifício fraudulento

- Eis o primeiro sintoma de uma espécie de influencia ideológica, mas existem outros.

- Buzaid usou técnicas para disfarçar a real intenção do legislador. No arresto, por
exemplo, o periculum in mora dele nada mais que é que um disfarce para duas
situações muito claras: ou você não paga, ou você comete uma fraude qualquer.

- Buzaid utilizou uma indução subliminar para dizer o seguinte: se você usar a lei com
os seus rigores, cabe o arresto em quase todas as situações. O que resta saber é para
quem cabe em todas as situações? Esse é o periculum in mora.

 Art. 814, CPC: “Para a concessão do arresto é essencial: I - prova literal da


dívida líquida e certa; II - prova documental ou justificação de algum dos casos
mencionados no artigo antecedente. Parágrafo único. Equipara-se à prova
literal da dívida líquida e certa, para efeito de concessão de arresto, a sentença,
líquida ou ilíquida, pendente de recurso, condenando o devedor ao pagamento
de dinheiro ou de prestação que em dinheiro possa converter-se. (Redação
dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 79


- É da essência, é a questão jurídica, é o fumus boni iuris. Então, para a concessão do
arresto é essencial a prova literal da dívida líquida e certa, mas não exigível (não
precisa estar vencido).

- Isso tem influência; se o título não venceu ainda, a cautelar não pode ser
preparatória; só pode ser preventiva – não está preparando nada, só está se
prevenindo para que, no dia do vencimento, possa ajuizar a ação executiva, penhorar
um bem, converter o arresto, e segue a execução normal.

§ único: Se o periculum in mora é sempre, o fumus boni iuris também o é; basta que
você seja devedor.

- Quando é sentença, não precisa ser nem líquida e certa; muito menos exigível.

Exemplo: ação contra a Habitasul – empresa que administra Jurerê Internacional. A


Habitasul pediu dinheiro emprestado num banco e, para poder garantir esse valor,
hipotecou alguns terrenos em favor do banco. Ao invés de pagar o empréstimo, a
Habitasul pedia uma permuta de garantias ao banco para lançar outro loteamento, e
assim por diante. Chegou uma hora que esse banco, por conta desse tipo de operação,
quebrou. A Caixa Econômica herdou todo o passivo desse banco, que foi estatizado.
Assim, quando requerida nova substituição da garantia para o lançamento de novo
loteamento, a Caixa condicionou tal autorização ao pagamento do empréstimo. Mas a
essa altura, vários terrenos já haviam sido vendidos. Os adquirentes dos terrenos,
pagaram pelos bens, passou o prazo para a escrituração e a Habitasul negou-se a
retirar a hipoteca dos terrenos. Aí há a diferença entre ação executiva lato sensu e
ação mandamental. O advogado dos adquirentes moveu ações executivas lato sensu:
se a Habitasul tem dinheiro, move-se ação de obrigação de fazer, com multa diária se
não baixasse a hipoteca e não escriturasse os terrenos. Os juízes, como não havia
ainda o art. 466-A, CPC, julgavam procedente a ação cominatória, mas não mandavam
o oficial averbar que a sentença valesse como título. Simplesmente condenavam a
cumprir a obrigação e fixavam multa diária.

- Prolatada a sentença, o advogado pegou anúncios de venda de terrenos de outros


loteamentos e alegou que a Habitasul estava vendendo o pouco patrimônio que lhe
restava, apesar dos seus débitos. O arresto saiu imediatamente. Como ainda não havia
mandamentalidade ainda, os juízes não determinavam ao cartório que procedesse à
averbação (e se o fizessem, a sentença seria extra petita).

- Prolatou-se uma sentença com parcela condenatória, referente às astreintes que já


tinham vencido, e uma parcela condenatória em potencial ilíquida referente às ainda
não vencidas. Então para cada terreno hipotecado, conseguiu-se arrestar outros
quatro terrenos.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 80


- Então já havia sentença, uma parcela dela já era líquida, era pendente de julgamento,
mas havia prova de que eles estavam alienando bens (inciso II). É o devedor com
domicílio que aliena bens, coloca bens em nome de terceiro.

 Art. 815, CPC: “A justificação prévia, quando ao juiz parecer indispensável, far-
se-á em segredo e de plano, reduzindo-se a termo o depoimento das
testemunhas.”

- E tem que ser “indispensável” para fazer uma justificação.

- Far-se-á sem a oitiva da parte contrária e “em segredo”.

 Art. 816, CPC: “O juiz concederá o arresto independentemente de justificação


prévia: I - quando for requerido pela União, Estado ou Município, nos casos
previstos em lei; II - se o credor prestar caução (art. 804).”

- Portanto, nem precisa dessa justificação secreta e de plano (que, por si só, já é
absurda) se for “requerido pela União, Estado ou Município”, ou seja, quando se tratar
de tributo.

- Qual o único credor do mundo para o qual prestar caução é apenas uma operação
contábil? Banco.

- Logo, aquela justificação secreta e de plano é dispensável quando se tratar de


tributos ou bancos.

 Art. 817, CPC: “Ressalvado o disposto no art. 810, a sentença proferida no


arresto não faz coisa julgada na ação principal.”

- O artigo 810, CPC, traz uma exceção à regra. Então ele está reiterando a exceção e a
regra.

Art. 810, CPC: “O indeferimento da medida não obsta a que a parte intente a ação,
nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no procedimento cautelar, acolher a
alegação de decadência ou de prescrição do direito do autor.”

 Art. 818, CPC: “Julgada procedente a ação principal, o arresto se resolve em


penhora.”

- Julgada procedente ou ajuizada a ação executiva, o que se converte? Até então é


uma pré-penhora. Por isso que toda cautelar tem um quê antecipatório; como

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 81


indisponibiliza o bem, como pode virar penhora e até pode virar seu, mediante
adjudicação, tem eficácia antecipacitória, em certa medida, mas é
predominantemente cautelar.

 Art. 819, CPC: “Ficará suspensa a execução do arresto se o devedor: I - tanto


que intimado, pagar ou depositar em juízo a importância da dívida, mais os
honorários de advogado que o juiz arbitrar, e custas; II - der fiador idôneo, ou
prestar caução para garantir a dívida, honorários do advogado do requerente e
custas.”

Inciso I: a contracautela, portanto, não suspende (a contracautela é a caução).

Inciso II: é a contracautela.

 Art. 820, CPC: “Cessa o arresto: I - pelo pagamento; II - pela novação; III - pela
transação.”

Art. 269, CPC: “Haverá resolução de mérito: I - quando o juiz acolher ou rejeitar o
pedido do autor; II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido; III - quando as
partes transigirem; IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; V -
quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.

 Art. 821, CPC: “Aplicam-se ao arresto as disposições referentes à penhora, não


alteradas na presente Seção.”

- Como exposto, Buzaid, trouxe esse Capítulo II dos “Processos Acessórios” do CPC de
39, que não tinham coisa julgada material, que eram meramente assistentes do
processo, instrumentos do instrumento processual. Já que há essa situação de
adaptação de uma legislação antiga a uma situação moderna, Buzaid arrematava,
encerrava o assunto rapidamente. Então dispunha tudo que precisava dispor, e fazia
uma questão remissiva – isso está muito claro, por exemplo, no art. 888, CPC.

Art. 888, CPC: “O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação principal ou
antes de sua propositura: I - obras de conservação em coisa litigiosa ou judicialmente
apreendida; II - a entrega de bens de uso pessoal do cônjuge e dos filhos; III - a posse
provisória dos filhos, nos casos de separação judicial ou anulação de casamento; IV - o
afastamento do menor autorizado a contrair casamento contra a vontade dos pais; V -
o depósito de menores ou incapazes castigados imoderadamente por seus pais, tutores
ou curadores, ou por eles induzidos à prática de atos contrários à lei ou à moral; VI - o
afastamento temporário de um dos cônjuges da morada do casal; VII - a guarda e a

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 82


educação dos filhos, regulado o direito de visita que, no interesse da criança ou do
adolescente, pode, a critério do juiz, ser extensivo a cada um dos avós; (Redação dada
pela Lei nº 12.398, de 2011) VIII - a interdição ou a demolição de prédio para
resguardar a saúde, a segurança ou outro interesse público.”

- Buzaid deixou várias situações em aberto, porque as que ele queria tutelar, ele
tutelou. As questões de política econômica e social do governo, ele já tinha colocado.

- O arresto se resolve em penhora; então, aplica-se ao arresto, no que couber, a


penhora. Não haveria necessidade sequer de haver o arresto num contexto
democrático.

- Quanto à ordem dos bens a serem arretados, aplica-se o artigo 668, CPC. Ademais, a
própria contracautela possui previsão na parte da execução, na possibilidade da
substituição da penhora.

Seção II – Sequestro
 Art. 823, CPC: “Aplica-se ao seqüestro, no que couber, o que este Código estatui
acerca do arresto.”

- Toda a parte de justificação, de cabimento do arresto, aplica-se também ao


sequestro. Então qual a diferença? Para entendê-la, precisa-se entender o sistema de
recuperação de crédito do Código de Processo Civil.

SISTEMA DE RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO

Espinha Dorsal Medidas meramente acessórias


Situações Societárias
Arresto Protesto e Apreensão de Títulos
Arrolamento de
Sequestro Notificações e interpelações
Bens
Busca e Apreensão Caução

Homologação de Penhor Legal

- A espinha dorsal do Sistema de Recuperação de Crédito é o arresto, o sequestro e a


busca e apreensão.

- Depois, há o arrolamento de bens (só para situações societárias, que não é tão
invasivo), e depois, há uma situação de força intermediária e que cabe apenas em

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 83


algumas circunstâncias específicas; depois, há as chamadas ‘medidas meramente
acessórias’, quais sejam: a) o protesto e a apreensão de títulos (é fundamental como
pré-condições); b) notificações e interpelações; c) caução; d) homologação de penhor
legal (sem utilidade prática hoje em dia).

- Então há oito procedimentos cautelares específicos dentro desse sistema de


recuperação de crédito.

- Outro sistema é o de asseguração de prova. Há três provas e, portanto, três


cautelares: a) justificação (prova oral); b) exibição (prova documental); c) produção
antecipada de prova (prova testemunhal).

SISTEMA DE ASSEGURAÇÃO DE PROVA

Justificação (prova oral)

Exibição (prova documental)

Produção Antecipada de Prova (prova testemunhal)

- Por fim, há o sistema de asseguração em direito de família, das medidas provisionais.


É todo o rol do artigo 888, CPC, que encerra o Capítulo II.

 Art. 888, CPC: “O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação


principal ou antes de sua propositura: I - obras de conservação em coisa
litigiosa ou judicialmente apreendida; II - a entrega de bens de uso pessoal do
cônjuge e dos filhos; III - a posse provisória dos filhos, nos casos de separação
judicial ou anulação de casamento; IV - o afastamento do menor autorizado a
contrair casamento contra a vontade dos pais; V - o depósito de menores ou
incapazes castigados imoderadamente por seus pais, tutores ou curadores, ou
por eles induzidos à prática de atos contrários à lei ou à moral; VI - o
afastamento temporário de um dos cônjuges da morada do casal; VII - a
guarda e a educação dos filhos, regulado o direito de visita que, no interesse da
criança ou do adolescente, pode, a critério do juiz, ser extensivo a cada um dos
avós; VIII - a interdição ou a demolição de prédio para resguardar a saúde, a
segurança ou outro interesse público.“

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 84


- Aplica-se ao sequestro o que se aplica ao arresto. Aplicam-se todas as questões
fáticas e jurídicas já comentadas a respeito. Então por que positivar duas cautelares,
remissivas uma à outra, com nomes diferentes? É porque naquela época, como
estavam querendo tutelar os magistrados, tinham que tutelar com muito cuidado as
situações da referibilidade.

- O arresto, a ação principal dele, ou é, no caso da sentença, uma ação de cunho


condenatório, ou, se não tiver vencido ainda, uma execução por quantia certa contra
devedor solvente. Arresta-se patrimônio para garantir a dívida pecuniária.

 Art. 822, CPC: “O juiz, a requerimento da parte, pode decretar o seqüestro: I -


de bens móveis, semoventes ou imóveis, quando Ihes for disputada a
propriedade ou a posse, havendo fundado receio de rixas ou danificações; II -
dos frutos e rendimentos do imóvel reivindicando, se o réu, depois de
condenado por sentença ainda sujeita a recurso, os dissipar; III - dos bens do
casal, nas ações de separação judicial e de anulação de casamento, se o
cônjuge os estiver dilapidando; IV - nos demais casos expressos em lei.”

Inciso I: a ação principal no sequestro não é mais uma ação condenatória, ou execução
por quantia certa contra devedor solvente. Não se quer mais dinheiro. O que se está
disputando é o seguinte: eu sou o proprietário daquela casa, e não você; eu sou o
possuidor dessa casa, e não você, e essa casa está sendo vilipendiada. Então a
integridade daquele bem cuja posse ou propriedade está sendo disputada, está em
perigo.

OBS! A grande diferença entre o arresto e o sequestro vai acabar. Ambos vão
desaparecer do sistema.

Como o ARRESTO se reporta a uma quantia em dinheiro, ele recai sobre


qualquer bem, porque o objetivo é garantir o pagamento em dinheiro; o
SEQUESTRO recai sobre um único bem cuja propriedade ou posse está sendo
discutida. É só observar as ações às quais são referíveis. O sequestro é
específico; o arresto é geral.

- Como o arresto se refere às ações condenatórias ou execuções por quantia certa, é


dinheiro, então recaem sobre qualquer bem (por isso que se aplica o conceito de
penhora). Agora, no caso do sequestro, não necessariamente, porque se está
buscando primordialmente um bem.

Exemplo: briga entre herdeiros por causa das joias da mãe que foram parar nas mãos
da irmã mais nova. É caso de sequestro.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 85


- Arresto: quantia certa; sequestro: coisa certa – ações de cunho reivindicatório
(propriedade), possessório e os frutos e rendimentos. Há sequestro de dinheiro
também, mas quando é específico, oriundo dos frutos e rendimentos de determinados
imóveis, por exemplo (que, na realidade, é um pedido acessório).

- Só a busca e apreensão que distoa disso.

Seção IV – Busca e Apreensão


 Art. 842, CPC: “O mandado será cumprido por dois oficiais de justiça, um dos
quais o lerá ao morador, intimando-o a abrir as portas. § 1º Não atendidos, os
oficiais de justiça arrombarão as portas externas, bem como as internas e
quaisquer móveis onde presumam que esteja oculta a pessoa ou a coisa
procurada. § 2º Os oficiais de justiça far-se-ão acompanhar de duas
testemunhas. § 3º Tratando-se de direito autoral ou direito conexo do artista,
intérprete ou executante, produtores de fonogramas e organismos de
radiodifusão, o juiz designará, para acompanharem os oficiais de justiça, dois
peritos aos quais incumbirá confirmar a ocorrência da violação antes de ser
efetivada a apreensão.”

- Quanto à BUSCA E APREENSÃO, curiosamente, não houve a menor intenção do


Buzaid em dizer quando cabe, em que circunstância, qual o título, qual a situação
objetiva, o fumus boni iuris ou o periculum in mora. É uma seção do Capítulo II
totalmente procedimental onde ele identifica, passo a passo, como se faz a busca
(procura) e a retirada com força, se necessário, do bem da vida das mãos do devedor
(apreensão).

- Na realidade, a busca e apreensão, além de ser uma medida cautelar, é também um


modus operandi do arresto e do sequestro – porque no arresto e no sequestro não há
nenhuma preocupação procedimental. Então Buzaid, mais uma vez, mistura
procedimento com processo (na busca e apreensão, só há procedimento).

- A busca e apreensão é uma moeda de duas faces: a) medida cautelar propriamente


dita para situações previstas em lei, como por exemplo, a alienação fiduciária (decreto-
lei 911); e b) procedimento da busca e apreensão – é uma cautelar de realização de
outras medidas cautelares (você só tem direito a uma busca e apreensão de criança se
você ajuíza uma ação com prova cabal suficiente para poder viabilizar uma criança que
está sendo mal tratada).

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 86


SISTEMA DE RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO

Condenatória
Arresto
Execução por quantia certa contra devedor solvente

Reivindicatória (propriedade)
Sequestro Possessória (manutenção, reintegração de posse)

Frutos e Rendimentos

Busca e Apreensão

NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


- Em 1939, o Código de Processo Civil tinha, aproximadamente, 1.300 artigos, e era
dividido em dez livros:

 LIVRO I: Disposições Gerais


 LIVRO II: Do Processo em Geral
 LIVRO III: Do Processo Ordinário
 LIVRO IV: Dos Processos Especiais
 LIVRO V: Dos Processos Acessórios
 LIVRO VI: Dos Processos de Competência Originária dos Tribunais
 LIVRO VII: Dos Recursos
 LIVRO VIII: Da Execução
 LIVRO IX: Do Juízo Arbitral
 LIVRO X: Disposições Finais e Transitórias

- O atual Código de Processo Civil, de 1973, tem, aproximadamente, 1.200 artigos,


divididos em cinco livros:

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 87


 LIVRO I: Processo de Conhecimento;
 LIVRO II: Processo de Execução;
 LIVRO III: Processo Cautelar;
 LIVRO IV: Procedimentos Especiais;
 LIVRO V: Disposições Finais e Transitórias.

- Especificamente no que toca ao processo cautelar, o CPC de 1973 apresenta a


seguinte configuração:

LIVRO IV – PROCESSO CAUTELAR

Título Único
Das Medidas Cautelares

Capítulo I Capítulo II

Disposições Gerais Procedimentos Cautelares Específicos

- 9 artigos processuais - Asseguração de crédito


(poder geral de cautela)
- Asseguração de prova
- 7, 8, artigos procedimentais
(procedimento cautelar) - Asseguração em direito de família

- O Capítulo I, “Disposições Gerais”, possui 9 artigos processuais, que definem o poder


geral de cautela, e 7,8 artigos procedimentais, que tratam do procedimento cautelar.
E, exatamente como existem procedimentos especiais que não se adéquam ao
processo de conhecimento, há também procedimentos especiais cautelares,
denominados “Procedimentos Cautelares Específicos”.

- Assim, há o Capítulo II, “Procedimentos Cautelares Específicos”. Tais procedimentos,


como visto, dividem em procedimentos de:

a) Asseguração de Crédito – a espinha dorsal constitui-se pelo arresto, sequestro,


busca e apreensão; há um procedimento intermediário, que é o arrolamento
de bens; e os procedimentos acessórios, como o protesto, que servem para
viabilizar o crédito.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 88


- Determinados títulos, por exemplo, precisam do protesto para servirem como títulos
executivos extrajudiciais.

b) Asseguração de Prova – exibição, para prova documental; justificação, para


prova oral; e produção antecipada de prova, para prova testemunhal.
c) Asseguração em Direito de Família – separação de corpos, alimentos, posse e
guarda de menores, regulamentação de visitas, e todas as situações do artigo
888, do CPC.

Livro I Livro II Livro III Livro IV Livro V


Processo de Processo de Processo Procedim. Disposições
Conhecimento Execução Cautelar Especiais Finais

1973

1200 artigos

8, 9 artigos processuais (Poder Geral de Cautela)


Capítulo I 7, 8 artigos procedimentais (Procedimento Cautelar) Arresto
Sequestro
Busca e Apreensão
Capítulo II Procedimentos cautelares específicos
Arrolamento de Bens
Asseguração de Bens
Protestos, Notificações e
Interpelações

Asseguração de Prova
Exibição
Asseguração em Direito de Família Justificação
Produção Antecipada

- Mas de onde veio isso? Em 1939, havia 8 ou 9 artigos, dentro do processo de


conhecimento, que tratavam do Poder Geral de Cautela. Isso formou a metade do
capítulo I do Código de 1973; o capítulo II foi formado por procedimentos acessórios e
por legislação comercial extravagante.

- Agora, existem alguns procedimentos cautelares, principalmente os acessórios, que


vieram do antigo Livro V do CPC de 39. O arresto e o sequestro eram tipicamente
comerciais. A exibição e a produção antecipada de provas eram procedimentos
acessórios, e assim por diante.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 89


Livro I Livro II Livro III Livro IV Livro V Livro VI
Disp. Processo Processo Processos Processos Proc. de Comp.
Gerais em Geral Ordinário Especiais Acessórios Orgin. Tribunais

1939

Poder Geral
Legislação
de Cautela
Comercial
1300 artigos Extravagante

Cap. I Cap. II
Disp. Gerais Proced. Caut. Esp.

Livro I Livro II Livro III Livro IV Livro V


Processo de Processo de Processo Procedim. Disposições
Conhecimento Execução Cautelar Especiais Finais

1973

1200 artigos

- Então vê-se que as normas jurídicas se repetem com frequência, mas o fato de elas
terem o mesmo texto não significa que elas digam a mesma coisa. A norma não existe
sozinha e não se pode interpretar a norma pela norma; deve ser interpretada dentro
de sua história e dentro de sua tipologia, isto é, onde ela se coloca, fisicamente. O
código tem que ter uma lógica sistêmica, que inclui lógica política.

- Todo o CPC atual, de 1973, nada mais é que o redimensionamento e a reestruturação


do código de 1939, tirando aquilo que não era importante, modernizando aquilo que
era fundamental, para viabilizar uma situação tempestiva.

- Nesse aspecto, interessante a leitura da exposição de motivos do código de 1973, um


dos poucos escritos de autoria do Buzaid. O código tem que ter uma lógica sistêmica,
que inclui a lógica política. Buzaid, ao pretender esse tipo de espinha dorsal, tinha uma
orientação política e econômica muito clara. Em nenhum outro lugar se manifestou
mais ideologia que na processualística civil em que você manda prender, por exemplo,
para reverter uma situação cultural brasileira.

O Novo Código de Processo Civil

- O Novo Código, de 2014, resolveu enfrentar uma série de crises que o Código de
1973 não estava preparado. Existem hoje, basicamente, três crises que permeiam o
código:

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 90


1. Crise Processual – crise intrínseca do processo.
2. Crise de Jurisdição – aplicação da justiça mediante o processo.
3. Crise de Ensino Processual.

- E não se sabe qual advém de qual, porque todas as três contribuem, de certa forma,
ao agravamento de todas.

- Ninguém ensina teoria da ação, por exemplo, porque ninguém entende a diferença
entre processo e procedimento.

- Há uma crise de ensino, porque, além do que o CPC é dividido pela ordem do código,
seguem o Código como se fosse um plano de ensino (não é). As grandes teorias do
processo civil estão separadas dentro do código. A teoria da ação, praticamente, não
está no código. São opções políticas.

- O Código de 2014 vai tentar enfrentar essas três crises. A crise do ensino jurídico,
através de situações que se manifestem de forma mais clara, e a primeira delas é na
partição do Código. O código tem, aproximadamente, 1100 artigos. Mas, no entanto,
voltou a ter uma partição que seja razoável para viabilizar o ensino, a compreensão do
sistema (claro que com suas restrições).

PARTE GERAL

Livro I Livro II Livro III Livro IV Livro V Livro VI


Normas Função Sujeitos do Atos Tutela Formação,
Processuais Jurisdicional Processo Processuais Antecipada Suspensão e Extinção
Civis do Processo

2014

1200 artigos

PARTE ESPECIAL

Livro I Livro II Livro III Livro Complementar


Processo de Conhecimento Processo de Processo nos Tribunais e Disposições Finais e
e Cumprimento de Execução Meios de Impugnação das Transitórias
Sentença Decisões Judiciais

- No Código de 1973, das 5 grandes teorias do processo civil, 4 estavam no Livro I –


processo de conhecimento, algumas intuídas, outras, positivadas (teoria da prova,
teoria da ação, teoria dos atos processuais, teoria da capacidade postulatória, etc.).

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 91


- O Livro I do Novo Código se referiu, basicamente, à principiologia (que está também
presente no livro I, do CPC de 73, mas está espalhada).

- O Livro II do novo CPC trata da jurisdição e ação, que é basicamente a primeira teoria.

 Art. 19, do Novo CPC: “O interesse do autor pode se limitar à declaração: I - da


existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; II - da
autenticidade ou da falsidade de documento.”

- Equivale ao artigo 4º do CPC de 1973. Mas agora, está explícita a ação constitutiva:
“modo de ser”. Uma coisa é declarar a existência, outra, a inexistência, e outra, o
modo de ser.

Art. 4º, CPC 1973: “O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência
ou da inexistência de relação jurídica; II - da autenticidade ou falsidade de documento.
Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação
do direito.”

 Art. 8º, Novo CPC: “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para
que se obtenha a solução do processo com efetividade e em tempo razoável.”

 Art. 9º, Novo CPC: “Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que
esta seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se
aplica à tutela antecipada de urgência e às hipóteses de tutela antecipada da
evidência previstas nos incisos III e IV do art. 306.”

- É o princípio do contraditório impositivo, isto, é o juiz não pode mais surpreender as


partes sobre um determinado aspecto que ele percebeu e ninguém até então havia
percebido no processo. Antes de tomar qualquer decisão, tem que provocar as partes:
“digam as partes se esse direito está prescrito e porque”.

- Isso é para evitar que o juiz pronuncie uma prescrição e a parte diga, por exemplo,
que houve um ato interruptivo – o que protelaria o processo.

- Esses são princípios novos. Os outros princípios estão todos na Constituição.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 92


NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

LIVRO V – DA TUTELA ANTECIPADA


- O Livro V, do Novo Código, vai tratar de todo o universo de medidas de urgência, e
não apenas de uma tutela antecipatória. Todas as tutelas ficam unificadas, num
primeiro momento, como antecipatórias. Mesmo as tutelas cautelares, passarão a ser
unificadas; foram rebaixadas à condição de subespécie das tutelas antecipadas.

- Observe-se que o Didier não as denomina “tutelas de urgência”, porque vai tratar
também das tutelas que não têm urgência, chamadas “tutelas de evidência”.

- Então “tutela antecipada” virou gênero de várias espécies, onde a urgência não é
mais o elemento diferenciador.

Título I – Disposições Gerais, Tutela de Urgência e Tutela de Evidência


- Não há mais aquela história de misturar processo com procedimento. Não há mais os
binômios de Buzaid no meio de diversos dispositivos meramente procedimentais – o
que melhora sobremaneira a compreensão.

Capítulo I – Disposições Gerais


 Art. 295, do Novo CPC: “A tutela antecipada, de natureza satisfativa ou
cautelar, pode fundamentar-se em urgência ou evidência e ser concedida em
caráter antecedente ou incidental.”

- Todas as tutelas serão antecipatórias porque Ovídio já dizia que toda tutela, mesmo
sendo puramente cautelar, já antecipa, ainda que em menor monta. Mas sempre há
um nível de satisfatividade em cautelar, ainda que seja apenas e tão somente para
afastar, como diz Ovídio, uma situação objetiva de perigo.

- Quando eu indisponibilizo bens, é tutela cautelar – mas, ao indisponibilizar, eu já


estou na metade do caminho para expropriar. Essa carga, Didier entende que é
antecipatória.

Toda tutela de urgência, não importa qual, tem carga de satisfatividade.


O que muda é se tem maior ou menor eficácia com relação ao direito.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 93


 Art. 296, Novo CPC: “A tutela antecipada requerida em caráter incidental
independe do pagamento de custas.”

- Antigamente, as medidas cautelares eram ou preparatórias (preventivas) ou


incidentais. Agora, elas são, quanto ao procedimento, antecedentes ou incidentais.

- Então, quanto à natureza jurídica, podem ser satisfativas (de urgência ou de


evidência) ou cautelares.

Tutelas Antecipatórias
Urgência
Satisfativa
Evidência
Quanto à Natureza
Cautelar

Antecedentes
Quanto ao Procedimento
Incidentais

- Independe de custas porque, o fato de ela ser antecedente, não significa que ela vai
correr em paralelo, como acontece hoje. O fato de ser antecedente é simplesmente
porque ela antecede ao pedido principal que vai correr o mesmo eixo cognitivo e não
mais em um eixo em paralelo. Perdeu-se o conceito de ação incidental. Logo, não é
uma ação distribuída por dependência a uma ação principal – ela não existe mais.

- A medida antecedente apenas antecede, mas está no mesmo eixo cognitivo, é a


mesma ação (só vai ter que formular o pedido principal) e segue com rito comum (não
há mais ordinário e sumário; é apenas comum).

- E a medida incidental já foi movida a petição inicial; então ela vai acontecer dentro
do processo.

- Então há mais, seja antecedente, seja incidental, aquela autonomia; voltou a ser uma
tutela interna ao processo de conhecimento, exatamente como o era em 1939.

- Esse dispositivo elimina dúvidas geradas pelo CPC atual.

 Art. 297, do Novo CPC: “A tutela antecipada conserva sua eficácia na pendência
do processo, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou modificada, em
decisão fundamentada. Parágrafo único. Salvo decisão judicial em contrário, a
tutela antecipada conservará a eficácia durante o período de suspensão do
processo.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 94


- Binômio coisa julgada formal, previsto no artigo 807, do CPC de 1973.

Art. 807, CPC de 1973: “As medidas cautelares conservam a sua eficácia no prazo do
artigo antecedente e na pendência do processo principal; mas podem, a qualquer
tempo, ser revogadas ou modificadas. Parágrafo único. Salvo decisão judicial em
contrário, a medida cautelar conservará a eficácia durante o período de suspensão do
processo.”

- Isso é redação do Fux, porque ele está mantendo uma redação familiar; mas, o fato
de terem redações parecidas, não significa que são a mesma coisa.

- Já é claro que, concedida tutela antecipatória, a apelação da sentença que confirmar


tal tutela, não terá efeito suspensivo – “Conserva sua eficácia na pendência do
processo”.

- “mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou modificada”: É a mesma situação da


tutela cautelar; a tutela de urgência, de evidência, vai conservando sua eficácia na
medida em que confirmada ao longo do processo e pode, a qualquer momento, antes
do trânsito em julgado, ou ser implementada, ou revogada, em decisão fundamentada.

§ único: suspende o processo quantas vezes quiser, mas o bem continua na mão de
Fulano.

 Art. 298, do Novo CPC: “O juiz poderá determinar as medidas que considerar
adequadas para efetivação da tutela antecipada. Parágrafo único. A efetivação
da tutela antecipada observará as normas referentes ao cumprimento
provisório da sentença, no que couber.”

- É o poder geral de cautela. Aqui, Fux foi bastante diplomático, porque não disse se a
medida é ‘provisória’ ou ‘temporária’.

Art. 798, CPC 1973: “Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código
regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que
julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do
julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.”

§ único: a tutela é de evidência, ou seja, é tão claramente a favor de alguém que, para
deferi-la, não há necessidade de haver o periculum in mora – é a chamada ‘parcela
incontroversa’.

Artigo 475-O, CPC: “A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do


mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: I – corre por iniciativa,

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 95


conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a sentença for reformada, a
reparar os danos que o executado haja sofrido; II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão
que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao
estado anterior e liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento;
III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem
alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado
dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos
próprios autos.”

- Se a parcela é incontroversa, não existe lide sobre ela, então a execução tem que ser
definitiva. Mas não existe execução definitiva de algo que não seja sentença transitada
em julgado. Então, ao invés de fazerem uma sentença agravável da parcela
incontroversa, de forma que já se possa executar, eles simplesmente dizem aqui que,
no que couber, aplica-se o procedimento do art. 475-O – mas isso é execução
provisória!

- Mas a execução provisória, tem esse problema: ela é provisória. E eu, para conseguir
executar um bem, preciso depositar o mesmo valor do bem – e isso não faz sentido.

- Eis uma crítica ao novo CPC: mudou-se para que tudo ficasse como era antes (il gatto
pardo).

 Art. 299, do Novo CPC: “Na decisão que conceder, negar ou revogar a tutela
antecipada o juiz justificará as razões do seu convencimento de modo claro e
preciso. Parágrafo único. A decisão é impugnável por agravo de instrumento.”

§ único: porque lá na teoria dos recursos, está previsto que cabe agravo quando, por
forma de instrumento, e diz precisamente de quais decisões que cabem. Então apenas
para fazer referência a tal dispositivo (ver qual) ele deixa expresso.

 Artigo 300, do Novo CPC: “A tutela antecipada será requerida ao juiz da causa
e, quando antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido principal.
Parágrafo único. Ressalvada norma especial, na ação de competência
originária de tribunal e nos recursos, a tutela antecipada será requerida perante
o órgão jurisdicional competente para apreciar o mérito.”

- Correspondente ao artigo 800, do CPC.

§ único: é uma adaptação do § único do artigo 800, CPC.

Art. 800, CPC 1937: “As medidas cautelares serão requeridas ao juiz da causa; e,
quando preparatórias, ao juiz competente para conhecer da ação principal. Parágrafo

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 96


único. Interposto o recurso, a medida cautelar será requerida diretamente ao tribunal.
(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)”

- As exceções referem-se aos recursos especiais e extraordinários. Antes da


admissibilidade a competência é do tribunal a quo. Depois do exame de
admissibilidade (não importa qual), a competência é do juízo ad quem.

Capítulo II – Da Tutela de Urgência


- As tutelas de urgência são chamadas de tutelas com periculum in mora – que é o que
determina a urgência. É exatamente esse o conceito diferenciador em relação às
tutelas que estão no Livro I.

 Art. 301, do Novo CPC: “A tutela antecipada de urgência será concedida quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo na
demora da prestação da tutela jurisdicional. § 1º Para concessão da tutela de
urgência, o juiz poderá, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória
idônea para ressarcir os danos que o réu possa vir a sofrer, ressalvada a
impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente. § 2º A tutela
antecipada de urgência pode ser concedida liminarmente. § 3º A tutela
antecipada de urgência não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.”

- É o caput do artigo 273 do Código de 1973. Fux, diplomata, não gosta de entrar em
embates; então ele mudou algumas palavras chaves do artigo 273.

Art. 273, CPC 1973: “O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo
prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado
receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de
direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. § 1o Na decisão que
antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu
convencimento. § 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo
de irreversibilidade do provimento antecipado. § 3o A efetivação da tutela antecipada
observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588,
461, §§ 4o e 5o, e 461-A. § 4o A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada
a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 5o Concedida ou não a antecipação da
tutela, prosseguirá o processo até final julgamento. § 6o A tutela antecipada também
poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles,
mostrar-se incontroverso. § 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 97


providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos
pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.”

- O artigo 273, do CPC de 1973, tentava conciliar conceitos inconciliáveis. Muitos


processualistas passaram anos brigando por causa da presença da palavra
“verossimilhança” dentro do conceito de prova inequívoca; ou você tem certeza, ou
você tem uma semelhança. “Inequívoco” é aquilo que não gera erros – portanto, um
juízo de certeza.

- Fux adaptou o artigo 273 dessa forma, como aparece no artigo 301 do Novo CPC.

- “elementos que determinem a probabilidade”: e aí tem-se um conceito mais voltado


para um meio-termo. Ele tirou o conceito de certeza, de verossimilhança e inseriu um
único conceito, no que toca ao fumus boni iuris.

- Então há um elemento de negociação entre os dois institutos. Por que, qual o nome
do título V? Da tutela antecipada – virou o gênero, porque partiram da premissa de
que toda cautelaridade também tem seu nível de satisfatividade ao afastar uma
situação objetiva de perigo.

Exemplo: se eu indisponibilizo um bem, essa tutela não é antecipatória, mas tem um


quê de satisfatividade, qual seja, o sujeito já não pode se satisfazer do bem. A tutela
antecipatória é um copo cheio; a tutela cautelar, é um copo pela metade: uma
antecipa mais e outra menos, com base num juízo de probabilidade.

§ 1º: “Para concessão da tutela de urgência, o juiz poderá, conforme o caso, exigir
caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que o réu possa vir a sofrer,
ressalvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente.”

- É o binômio cautela e contracautela. Da mesma sorte, o réu, que sofreu os efeitos da


tutela de urgência, pode também caucionar para substituir os efeitos da medida.

§ 2º: “ser concedida liminarmente”: nota-se o uso de “liminar” como advérbio e não
como adjetivo.

- Essa previsão está no artigo 797, do CPC de 1973: o primeiro binômio.

§ 3º: essa irreversibilidade também já está no artigo 273, § 2º, do atual código. A
questão é saber para quem é irreversível.

- O silêncio do magistrado postergando a análise, já é uma decisão por si só agravável.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 98


- Deve-se observar o sopesamento entre os direitos em jogo no caso de concessão ou
não concessão da medida; interpretar literalmente é o mesmo que negar vigência a
toda tutela antecipada (que, por natureza, é irreversível).

 Art. 302, do Novo CPC: “O juiz poderá conceder tutela antecipada cautelar de
ofício, incidentalmente, em casos excepcionais ou expressamente autorizados
por lei.”

Art. 2º, CPC 1973: “Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou
o interessado a requerer, nos casos e forma legais.”

- É o princípio da inércia jurisdicional. Tudo bem que já nas reformas da década de 90,
houve um aumento dos poderes do magistrado.

Art. 461, § 5º, CPC 1973: “Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do
resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as
medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de
atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.”

- Esse é o problema de mexer demais em um código; acaba gerando incongruências.


Existem determinadas medidas que podem ser deferidas de ofício diante, por
exemplo, de um fato notório.

- A tutela que pode ser deferida de ofício é só a cautelar, porque não tem a vocação da
irreversibilidade. Para a antecipatória, tem que haver provocação. Esse dispositivo é
muito feliz porque explica a questão do parágrafo do artigo anterior.

 Art. 303, do Novo CPC: “Independentemente da reparação por dano processual,


o autor responde ao réu pelo prejuízo que lhe causar a efetivação da tutela
antecipada cautelar, se: I – a sentença lhe for desfavorável; II – obtida
liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios
necessários para a citação do requerido no prazo de cinco dias; III – ocorrer a
cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; IV – o juiz acolher a
alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor. § 1º A
indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida,
sempre que possível. § 2º A responsabilização civil do requerente da tutela
antecipada satisfativa observará o procedimento do cumprimento provisório de
sentença.”

- “dano processual”: litigância de má fé.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 99


Art. 811, do CPC 1973: “Sem prejuízo do disposto no art. 16, o requerente do
procedimento cautelar responde ao requerido pelo prejuízo que Ihe causar a execução
da medida: I - se a sentença no processo principal Ihe for desfavorável; II - se, obtida
liminarmente a medida no caso do art. 804 deste Código, não promover a citação do
requerido dentro em 5 (cinco) dias; III - se ocorrer a cessação da eficácia da medida, em
qualquer dos casos previstos no art. 808, deste Código; IV - se o juiz acolher, no
procedimento cautelar, a alegação de decadência ou de prescrição do direito do autor
(art. 810). Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos do procedimento
cautelar.”

Inciso I do artigo 303: artigo 297, do Novo CPC.

- Depois do trânsito em julgado não há mais cautelaridade; há apenas execução!

Importante!

§ 2º do artigo 303: no caput, trata-se de tutela cautelar; no § 2º, satisfativa. Há uma


mudança de regime no § 2º em relação ao resto do dispositivo. Está-se referindo ao §
3º do artigo 301: a tutela antecipada de urgência não será concedida quando houver
perigo de irreversibilidade.

- Esse § 2º é a prova de tudo aquilo já comentado: o § 2º do art. 301 traz a necessidade


de o juiz sopesar o nível de reversibilidade bilateral, para poder, depois, concluir se
deve ou não conceder a medida. A prova disso é que se a tutela concedida for
irreversível e depois essa ação for julgada improcedente, o réu ganha um direito a uma
indenização, a ser apurada na própria sentença.

- Então, primeiro, há um buraco de verme ligando o § 2º do artigo 203, com o § 3º do


art. 301, porque há um regime jurídico indenizatório para as tutelas irreversíveis que
depois foram revogadas pela sentença.

Exemplo: o juiz deu um marcapasso ao sujeito, depois julgou improcedente a ação. O


juiz, na própria sentença, tem que condenar o autor em favor do réu a pagar o
marcapasso.

Estabilização da Tutela

 Artigo 304, do Novo CPC: “Nos casos em que a urgência é contemporânea à


propositura da ação, a petição inicial poderá limitar-se ao requerimento da
tutela antecipada satisfativa e à indicação do pedido de tutela final, com a
exposição sumária da lide, do direito que se busca realizar e do perigo da
demora da prestação da tutela jurisdicional. § 1º Concedida a tutela antecipada

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 100


a que se refere o caput deste artigo: I - o autor deverá aditar a petição inicial,
com a complementação da sua argumentação, juntada de novos documentos e
a confirmação do pedido de tutela final, em quinze dias, ou em outro prazo
maior que o órgão jurisdicional fixar; II – o réu será citado imediatamente, mas
o prazo de resposta somente começará a correr após a intimação do
aditamento a que se refere o inciso I deste § 1º. § 2º Não realizado o
aditamento a que se refere o inciso I do § 1º deste artigo, o processo será
extinto sem resolução do mérito. § 3º O aditamento a que se refere o inciso I do
§ 1º deste artigo dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas custas
processuais. § 4º Na petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o autor
terá de indicar o valor da causa, que deve levar em consideração o pedido de
tutela final. § 5º O autor terá, ainda, de indicar, na petição inicial, que pretende
valer-se do benefício previsto no caput deste artigo. §6º Caso entenda que não
há elementos para a concessão da tutela antecipada, o órgão jurisdicional
determinará a emenda da petição inicial, em até cinco dias. Não sendo
emendada neste prazo, a petição inicial será indeferida e o processo, extinto
sem resolução de mérito.”

- O procedimento vai obedecer ao seguinte esquema: as medidas serão antecedentes.


Quando ela for contemporânea ao ajuizamento da ação, não há mais aquele artigo
801, do CPC de 1973. Quando a medida for incidental, não é preciso formular nada
além da tutela – não precisa declinar referibilidade: faz o pedido de tutela, depois o
pedido de procedência da tutela.

- Agora, como a medida é antecedente, e ela vai seguir o mesmo eixo cognitivo – a
única coisa que vai acontecer é que dentro de um prazo, terá que ajuizar um pedido,
que vai ser a ação principal, dentro do mesmo eixo.

- Todo juiz julga a cautelar junto com a principal; então ajuíza a medida cautelar – que
agora vai se chamar “medida antecedente” – e depois do prazo previsto na lei
processual, ao invés de formular uma petição inicial, formula apenas o pedido, e
começa a instruir ambas no mesmo eixo cognitivo. É como se fosse um aditamento;
então não há necessidade de todos os requisitos do artigo 801, do CPC de 1973. Basta
fazer um requerimento sumário de tutela.

Pedido

Petição Inicial

Poderá limitar-se ao requerimento da tutela antecipada


satisfativa e à indicação do pedido de tutela final

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 101


 Artigo 304, § 1º, do Novo CPC: “§ 1º Concedida a tutela antecipada a que se
refere o caput deste artigo: I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a
complementação da sua argumentação, juntada de novos documentos e a
confirmação do pedido de tutela final, em quinze dias, ou em outro prazo maior
que o órgão jurisdicional fixar; II – o réu será citado imediatamente, mas o
prazo de resposta somente começará a correr após a intimação do aditamento
a que se refere o inciso I deste § 1º.”

Inciso I: condições da ação que viraram pressupostos processuais. Por isso não há mais
um prazo de 30 dias para umas; é o prazo que o juiz determinar.

Inciso II: não teria sentido ele contestar a cautelar e depois contestar o pedido. Espera
aditar, e depois contesta tudo, porque os argumentos que tiver que gastar, terá que
fazê-lo em Agravo de Instrumento.

- Então é citado e intimado, recorre, mas o prazo é a contar do aditamento. É


exatamente a mesma coisa da cautelar, mas é tudo correndo junto e misturado (por
isso estão adaptando o procedimento).

- Conceito de estabilização da medida.

 Art. 304, § 2º, do Novo CPC: “§ 2º. Não realizado o aditamento a que se refere o
inciso I do § 1º deste artigo, o processo será extinto sem resolução do mérito.”

- Se o cara não aditou o pedido, ele não confirmou, porque a cautelar precisa de uma
sentença de mérito que lhe dê definitividade.

Art. 808, CPC 1973: “Cessa a eficácia da medida cautelar: I - se a parte não intentar a
ação no prazo estabelecido no art. 806; II - se não for executada dentro de 30 (trinta)
dias; III - se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do
mérito. Parágrafo único. Se por qualquer motivo cessar a medida, é defeso à parte
repetir o pedido, salvo por novo fundamento.”

 Art. 304, do Novo CPC: “§ 3º O aditamento a que se refere o inciso I do § 1º


deste artigo dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas custas
processuais. § 4º Na petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o autor
terá de indicar o valor da causa, que deve levar em consideração o pedido de
tutela final.”

- Aqui não há bis in idem por se tratar do mesmo eixo cognitivo.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 102


- Desde que se alterem alguns conceitos, é possível compreender algo que nega os
conceitos anteriores. Só se pode estabelecer um determinado juízo com eficácia
definitiva se houver uma cognição exauriente. Há a cognição sumária (coisa julgada
meramente formal) e a cognição exauriente (coisa julgada material).

- Esse é um dogma que começou a ser parcialmente quebrado com o advento das
tutelas antecipatórias. O primeiro dogma quebrado foi aquele da nulla executio sine
titulo, em 1994; então é possível haver execução antes de haver o título executivo,
desde que essa execução seja dos efeitos da tutela e não da tutela propriamente dita –
esta reservada para a cognição exauriente.

- Mas esses efeitos antecipados tinham que ter um processo que se seguia e que viesse
uma sentença que a confirmasse. Até hoje, mesmo com a antecipação da tutela, a
cognição exauriente deveria ser seguida, até o trânsito em julgado. Hoje, a toda tutela
se segue um processo; se não, ela perde a eficácia (art. 808, CPC de 1973). Até se
concebe a executio sine titulo; mas não que a executio se torne definitiva sem que haja
uma longa cognição.

- No Novo CPC, pode-se ter uma eficácia definitiva, sem que haja, necessariamente,
uma cognição exauriente. Houve, simplesmente, uma ab-rogação da cognição
exauriente. Então pode haver tutela definitiva, com efeitos definitivos, em cognição
sumária.

Exemplo: quantos atos processuais há no mandado de segurança? Três.

- Há situações em que o direito é tão líquido e certo que você compreende que haja
uma coisa julgada mais estável – daí o nome, ‘estabilização da medida’, e não da ação
– para poder justificar essa situação. E aí quem estivesse prejudicado por ela teria que
mover uma ação de cunho constitutivo negativo para desconstituir, e aí sim fazer a
cognição exauriente. Então, ao contrário do sistema de hoje, em que quem pleiteia a
tutela é o mesmo que quem pleiteia a cognição exauriente, quem tem que pedir
cognição exauriente é a parte prejudicada.

- Mas isso traz uma série de problemas filosóficos. Por exemplo, nos casos em que a
urgência é contemporânea à propositura da ação, ou seja, você já tem o interesse de
agir; presentes as condições da ação principal, há pedido de tutela contemporâneo à
ação principal (mas não preciso formulá-lo; basta a tutela).

- A estabilização da medida só se presta para situações contemporâneas e ela existe


por si só – basta observar o § 3º do artigo 305.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 103


 Art. 305, do Novo CPC: “A tutela antecipada satisfativa, concedida nos termos
do art. 304, torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o
respectivo recurso. §1º No caso previsto no caput, o processo será extinto. §2º.
Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar
ou invalidar a tutela antecipada satisfativa estabilizada nos termos do caput.
§3º A tutela antecipada satisfativa conservará seus efeitos, enquanto não
revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito proferida na ação de
que trata o §2º. § 4º. Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento
dos autos em que foi concedida a medida, para instruir a petição inicial da ação
a que se refere o §2º, prevento o juízo em que a tutela satisfativa foi concedida.
§ 5º. O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no
§2º deste artigo, extingue-se após dois anos, contados da ciência da decisão
que extinguiu o processo, nos termos do §1º.”

- Ajuíza o pedido da tutela pela tutela. Ganha a liminar; o sujeito agrava – o agravo não
tem efeito suspensivo. O agravo é julgado, e não interpõe nenhum outro recurso. A
medida fica estável. Aí vem o problema.

§ 2º: esse é o ajuizamento do pedido principal.

§ 3º: primeira pergunta: e se o cara não ajuizar o pedido principal, o que acontece com
a tutela? Hoje, é possível uma tutela conservar a sua eficácia ad eternum? É possível
haver efeito de coisa julgada material sem ser coisa julgada material?

- A sentença de mérito é igual ao provimento efetivo mais o acertamento da ação. A


primeira quebra de paradigma foi permitir que o Provimento Efetivo exista sem
Acertamento da Ação e o Acertamento da Ação venha depois lhe confirmando. O que
está se falando agora é completamente diferente: é o Provimento Efetivo pelo
Provimento Efetivo, sem Acertamento da Ação.

- A tutela pela tutela sem manterá eficaz até que alguma decisão de mérito se
anteponha a ela. Pode ser movida pela parte beneficiada com a concessão da tutela
(que é o que provavelmente vai acontecer) ou pela parte prejudicada. Até porque
quem vai correr o risco de mover a tutela pela tutela e se satisfazer com a estabilidade
dela em primeiro grau ou em segundo grau? Não faz sentido – e essa é a crítica a esse
novo instituto, aparentemente dissociado da prática.

- Então, em 1994, foi quebrado o mito da nulla executio sine titulo. Agora, há uma
tutela que existe por sis só e que prevalecerá até que alguém eleja alguma forma de
contrariá-la.

- As circunstâncias que cercam essa nova medida, traduzem uma situação muito mais
de hipótese acadêmica, do que de hipótese concreta e real.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 104


Capítulo III – Da Tutela de Evidência
- A tutela de evidência no Código de 1973 está prevista no art. 273, II, e § 6º: nos casos
de parcela incontroversa e de abuso de direito.

Art. 273, CPC 1973: “O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo
prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: (Redação dada pela
Lei nº 8.952, de 13.12.1994) [...] II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou
o manifesto propósito protelatório do réu. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
[...] § 6º A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos
pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso. (Incluído pela Lei nº
10.444, de 7.5.2002)”

- Apenas houve uma nova sistematização. No artigo 295, do anteprojeto, todas as


tutelas foram unificadas e uniformizou-se a forma de visualização dessas tutelas.

- Então não há novidade, propriamente. Há um rearranjo e uma nova roupagem


legislativa.

- As cautelares nominadas, poucas delas foram relocadas para pontos específicos do


Novo Código. Mas aquelas assegurações de crédito foram expurgadas do código.
Aquela tutela política da tutela jurisdicional, verificável no Código de 1973, não é mais
importante; o ciclo visivelmente se encerrou, voltando a ser Poder Geral de Cautela.

- Normalmente, os juízes dizem que não há o periculum in mora e indeferem a tutela


de urgência. Agora, se o sujeito tem direito e a outra parte está abusando do direito de
defesa, não há não conceder-se logo a tutela.

- No CPC atual, com esses dois novos elementos, como executar? Se a parcela é
incontroversa, não há nem sentença – teria que ser uma espécie de transação, algo
assim. Esse é o problema de emendar um ‘cavalo’ e gerar um ‘camelo’: não há
estrutura para suportar.

- Então há uma peça muito moderna que, teoricamente, traria hoje a solução da lide,
seja por abuso de defesa, ou por parcela incontroversa; mas a dúvida é: o que fazer? A
única solução trazida é que o juiz teria que sentenciar para poder fazer uma execução
que seria, a teor do artigo 475-O, provisória. Mas não faz sentido ser provisória se é
incontroversa.

- Não é titulo nem judicial nem extrajudicial. O que é? Não se sabe. É o problema de se
fazer emendas sem pensar sistemicamente.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 105


- A execução provisória, por si só, não tem sentido. Basta observar a redação do artigo
475-O, do CPC de 1973:

Art. 475-O, CPC: “A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo
modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: (Incluído pela Lei nº 11.232, de
2005) I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se
a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; (Incluído
pela Lei nº 11.232, de 2005) II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou
anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e
liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento; (Incluído pela Lei
nº 11.232, de 2005) III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos
que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao
executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e
prestada nos próprios autos. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)”

- Prevalece a política da capacidade financeira. Só executam os que possuem maiores


condições econômicas – o que não faz sentido.

 Art. 306, do Novo CPC: “A tutela da evidência será concedida,


independentemente da demonstração de perigo da demora da prestação da
tutela jurisdicional, quando: I – ficar caracterizado o abuso de direito de defesa
ou o manifesto propósito protelatório do réu; II – a petição inicial for instruída
com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a
que o réu não oponha outra prova capaz de gerar dúvida razoável; III – as
alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e
houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula
vinculante; IV - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova
documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a
ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa. Parágrafo
único. A decisão baseada nos incisos III e IV deste artigo pode ser proferida
liminarmente.”

- “Prova” é a demonstração cabal de um fato pretérito.

Inciso II: o próprio conceito de “dúvida razoável” já é indeterminado. Parece ser mais
Poder Geral de Cautela que tutelas de evidência. Onde há discricionariedade, não há
aritmética; e tutela de evidência é aritmética, e não discricionária.

Tutela de evidência baseada em discricionariedade é uma contradição em termos. O


abuso de direito de defesa é aferível por critérios objetivos, bem como a parcela
incontroversa.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 106


Inciso III: é o abuso do direito de defesa.

Inciso IV: artigo 461-A – obrigação de entrega de coisa certa. É a parcela incontroversa.

Título II – Procedimento Da Tutela Cautelar Requerida Em Caráter


Antecedente
 Art. 307, do Novo CPC: “A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela
cautelar em caráter antecedente indicará a lide, seu fundamento e a exposição
sumária do direito que se visa assegurar e o perigo na demora da prestação da
tutela jurisdicional. Parágrafo único. Caso entenda que o pedido a que se refere
o caput tem natureza satisfativa, o órgão jurisdicional observará o disposto no
art. 304.”

- É “ação”, porque se pode deduzir o pedido principal – já que estarão no mesmo eixo
cognitivo. Deduz-se a medida antecedente e, depois, no mesmo eixo cognitivo, deduz-
se o pedido principal – portanto, pode-se aqui usar o nome de “ação”.

- “indicará a lide”: referibilidade.

Art. 801, CPC 1973: “O requerente pleiteará a medida cautelar em petição escrita, que
indicará: I - a autoridade judiciária, a que for dirigida; II - o nome, o estado civil, a
profissão e a residência do requerente e do requerido; III - a lide e seu fundamento; IV -
a exposição sumária do direito ameaçado e o receio da lesão; V - as provas que serão
produzidas. Parágrafo único. Não se exigirá o requisito do no III senão quando a
medida cautelar for requerida em procedimento preparatório.”

- Quando a cautelar era autônoma, o bem da vida perseguido emprestava o valor da


causa. No caso da cautelar, busca-se uma mera asseguração, que é inestimável,
diferente da causa em que eu estou buscando objeto da lide.

Se só se quer a tutela – estabilização da tutela – pode-se arbitrar um valor


inestimável. Agora, se faz um pedido de tutela, mas já formula o pedido principal, o
valor da causa é o valor do pedido principal.

§ único do art. 307, Novo CPC: transforma o pedido de medida antecedente em


estabilização da medida.

 Art. 308, Novo CPC: “O réu será citado para, no prazo de cinco dias, contestar o
pedido e indicar as provas que pretende produzir.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 107


 Art. 309, Novo CPC: “Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo
autor presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz
decidirá dentro de cinco dias. Parágrafo único. Contestado o pedido no prazo
legal, observar-se-á o procedimento comum.”

 Art. 310, Novo CPC: “Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser
formulado pelo autor no prazo de trinta dias. Neste caso, será apresentado nos
mesmos autos em que veiculado o pedido de tutela cautelar, não dependendo
do adiantamento de novas custas processuais. § 1º O pedido principal pode ser
formulado conjuntamente com o pedido de tutela cautelar. § 2º. A causa de
pedir poderá ser aditada no momento da formulação do pedido principal. § 3º.
Apresentado o pedido principal, as partes serão intimadas para a audiência de
conciliação na forma do art. 335, por seus advogados ou pessoalmente, sem
necessidade de nova citação do réu. §4º Não havendo conciliação, o prazo para
a contestação será contado na forma do art. 336.”

- Se a medida não foi efetivada, a parte não precisa, se não quiser, discutir o direito
principal.

 Art. 311, do Novo CPC: “Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter


antecedente, se: I – o autor não deduziu o pedido principal no prazo legal; II –
não for efetivada dentro de trinta dias; III – o juiz julgar improcedente o pedido
principal formulado pelo autor ou extinguir o processo sem resolução de mérito.
Parágrafo único. Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é
vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo fundamento.”

§ único: porque o indeferimento da medida não obsta a propositura da ação principal.


Não há coisa julgada material.

 Art. 312, do Novo CPC: “O indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a
parte formule o pedido principal, nem influi no julgamento desse, salvo se o
motivo do indeferimento for o reconhecimento de decadência ou de
prescrição.”

- Portanto, há três aspectos importantes no que concerne ao Novo CPC:

1. O procedimento não mudou muita coisa – apenas que é feito no mesmo


eixo cognitivo.
2. Existe estabilização da medida.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 108


3. A forma de classificação das tutelas é com periculum in mora ou sem
periculum in mora (tutela da evidência).

- Verifica-se, portanto, quatro quebras de paradigmas:

1ª Quebra de Paradigma Nulla executio sine titulo

2ª Quebra de Paradigma Gerou a tutela de urgência e a tutela de evidência

3ª Quebra de Paradigma Gerou a possibilidade da estabilização da tutela, com cognição sumária

4ª Quebra de Paradigma Agora, é o interessado na efetividade que ajuíza a medida principal

- A terceira quebra de paradigma, gerou a possibilidade da estabilização da tutela,


mediante cognição sumária, mas que pode ter efeitos definitivos. A situação se
colocou como o prazo prescricional do direito material, como elemento de
estabilização; isto é, se as partes se quedarem inertes após o deferimento da tutela,
aquela decisão será definitiva.

- Então a parte geral das tutelas de urgência e de evidencia (antecipadas, como coloca
o livro V da parte geral) esgotou tudo o que havíamos visto até agora.

Capítulo II – Procedimentos Cautelares Específicos


- Como ficaram as cautelares nominadas?

- Buzaid implantou uma tutela da tutela; o magistrado, presentes determinados


pressupostos, não tinha mais aquela discricionariedade típica da parte geral. Em
determinadas situações, especificamente o arresto e o sequestro, o juiz, presentes
determinados pressupostos, tinha que ordenar – porque tratava-se de uma quebra
daquele histórico de inadimplementos da população brasileira à época.

- A recuperação de crédito deixou de ser a preocupação no Novo CPC.

- O Capítulo II do Livro III, do CPC de 1973, que trata das cautelares inominadas, veio
de dois livros do CPC de 1939; alguns, “processos especiais”, alguns, “procedimentos
acessórios” e algumas, “legislações extravagantes”.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 109


Livro I Livro II Livro III Livro IV Livro V Livro VI
Disp. Processo Processo Processos Processos Proc. de Comp.
Gerais em Geral Ordinário Especiais Acessórios Orgin. Tribunais

1939

Legislação
Extravagante
1300 artigos
Cap. I Cap. II
Disp. Gerais Proced. Caut. Esp.

Livro I Livro II Livro III Livro IV Livro V


Processo de Processo de Processo Procedim. Disposições
Conhecimento Execução Cautelar Especiais Finais

1973

1200 artigos

PARTE GERAL

Livro I Livro II Livro III Livro IV Livro V Livro VI


Normas Função Sujeitos do Atos Tutela Formação,
Processuais Jurisdicional Processo Processuais Antecipada Suspensão e Extinção
Civis do Processo

2014

1200 artigos

PARTE ESPECIAL

Livro I Livro II Livro III Livro Complementar


Processo de Conhecimento Processo de Processo nos Tribunais e Disposições Finais e
e Cumprimento de Execução Meios de Impugnação das Transitórias
Sentença Decisões Judiciais

- No CPC em 2014 há um caminho inverso. Então acabou-se com o capitulo de


cautelares nominadas com tutela de urgência. Sobreviveram aqueles que não lidam
necessariamente com urgência, quais sejam, alguns procedimentos acessórios, alguns
processos especiais e alguns, legislações extravagantes.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 110


- No Novo CPC, o arresto, o sequestro, e a busca e apreensão, simplesmente
desapareceram. Não há mais necessidade de ficar diferenciando. O elemento
diferenciador era a referibilidade, a ação principal.

 No arresto, joga-se a tarrafa; o que pegar, está arrestado (é dívida pecuniária).


 No sequestro, pesca-se com vara (busca-se um bem especifico que é objeto de
uma ação de cunho reivindicatório – em que se está discutindo a propriedade).

- Essa diferença absolutamente sutil não precisa mais subsistir. O procedimento é o


mesmo. Pra que mudar o nome da rosa se o perfume é exatamente o mesmo? Então,
não havia sentido. Assim, Didier acabou com as medidas cautelares nominadas; tudo é,
precipuamente, poder geral de cautela.

- Quando o Ministério Público ajuíza uma ação civil pública e pede a indisponibilidade
de bens, é arresto? Não, porque não tem título – é poder geral de cautela. Estão
presentes os requisitos para, no mínimo, acautelar.

- Então, essa segunda parte fez um caminho de retorno: houve alguns procedimentos
que vieram em 2014 para o procedimento comum, alguns que vieram como meros
incidentes, em outro capítulo. Então uns vieram para voltar a ser o que eram antes
(procedimento especial) e outros vieram e se tornaram aquilo que sempre foram:
procedimentos acessórios.

Seção V – Exibição
 Art. 844, CPC: “Tem lugar, como procedimento preparatório, a exibição judicial:
I - de coisa móvel em poder de outrem e que o requerente repute sua ou tenha
interesse em conhecer; II - de documento próprio ou comum, em poder de co-
interessado, sócio, condômino, credor ou devedor; ou em poder de terceiro que
o tenha em sua guarda, como inventariante, testamenteiro, depositário ou
administrador de bens alheios; III - da escrituração comercial por inteiro,
balanços e documentos de arquivo, nos casos expressos em lei.”

- Há uma medida cautelar para cada tipo de prova. Mas a exibição é bem clara:
somente como procedimento preparatório, porque, quando é incidental, utilizam-se
os artigos do processo de conhecimento.

 Art. 845, CPC 1973: “Observar-se-á, quanto ao procedimento, no que couber, o


disposto nos arts. 355 a 363, e 381 e 382.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 111


- Se há um incidente no processo de conhecimento, a cautelar só pode ser
preparatória. Mas hoje não há mais sentido lógico em mover cautelares por si só;
deve-se movê-las dentro do processo (até porque, no próximo código, cautelar e
processo principal estarão no mesmo eixo cognitivo).

- Então não há sentido que as cautelares mantenham algum tipo de autonomia.

- Diddier entendeu que já havia incidentes no processo de conhecimento para cuidar


de provas. Quando se depara com uma questão de incompetência relativa, apresenta-
se uma exceção. Quando há, claramente, um título executivo, absolutamente sem
sentido, pode-se mover uma exceção de pré-executividade.

- Ora, se sempre foram utilizados expedientes que suspendiam o processo, pra que
transformá-los em medidas cautelares? Pode-se transformá-los no que eles sempre
foram: procedimentos especiais.

OBS! Todas as exceções são questões prévias. A questão prévia suspende o


andamento daquele procedimento, mas não compromete o andamento do processo.
As exceções são exemplos disso (art. 304, 305, CPC 1973). Ela tem que ser analisada
antes de o processo seguir, sob pena de eivá-lo de nulidade.

- Nesse sentido, não são só as exceções dos artigos 302 e seguintes. Qualquer questão
prévia se encaixa nisso. Quando eu arguo a falsidade de um documento, é uma
questão prévia, ainda que não seja denominada de exceção.

- A exceção de pré-executividade é uma construção doutrinária. A mesma coisa


acontece com a exibição. Hoje, é uma medida cautelar, mas que não tem mais sentido.
Você está diante de uma prova negativa, e o outro deve apresentar o documento.

No Novo CPC, o ônus da prova cabe a quem o juiz determinar. De estático, o


sistema vai passar a ser dinâmico. Ao sanear o processo o juiz vai determinar o
ônus probatório. Existe a situação da prova diabólica onde só uma parte tem a
prova – e é evidente que ele deve exibir.

Seção IX – Justificação
 Art. 861, CPC 1973: “Quem pretender justificar a existência de algum fato ou
relação jurídica, seja para simples documento e sem caráter contencioso, seja
para servir de prova em processo regular, exporá, em petição circunstanciada, a
sua intenção.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 112


- Justificação: é prova oral. Faz-se a justificação como um elemento incidental ao
processo, assim como a produção antecipada de provas, sempre que o normal
andamento da carruagem procedimental coloque em risco a higidez daquela prova.

Exemplo: a minha testemunha está morrendo no hospital. Não há sentido em esperar


dois anos para a audiência de instrução e julgamento. Ouvi-la é uma providência
acautelatória do juiz dentro do processo.

- A mesma coisa é a prova pericial. Se houve um estrago na frente da sua casa, você
não vai esperar o juiz designar perícia para analisar o local.

- Esses procedimentos nunca foram cautelares; eram procedimentos acessórios,


questões prévias ao processo.

Então os procedimentos cautelares nominados assecuratórios de prova


continuam existindo, mas como questões prévias dentro do processo de
conhecimento.

- Que outros procedimentos continuaram existindo? Na realidade, um procedimento


cautelar continua existindo.

- O Livro IV, de Procedimentos especiais, também vai deixar de existir, porque no Novo
CPC haverá o Procedimento – e não mais o Procedimento Comum. E aí ele vai se dividir
em Comum e Especial, e os poucos procedimentos que sobreviverem estarão dentro
do Livro I da Parte Especial.

- O procedimento sumário foi transportado, trasladado para os juizados especiais, que,


com seu procedimento específico, vai tratar das causas de menor complexidade. As de
maior complexidade ou serão tratadas no procedimento comum ou no especial.

- Então no Livro I vai ficar o que sobreviveu de medida cautelar.

Seção XI – Homologação do Penhor Legal


- A medida cautelar da homologação do penhor legal volta a ser o que era no CPC de
1939: procedimento especial.

 Art. 874, CPC: “Tomado o penhor legal nos casos previstos em lei, requererá o
credor, ato contínuo, a homologação. Na petição inicial, instruída com a conta
pormenorizada das despesas, a tabela dos preços e a relação dos objetos
retidos, pedirá a citação do devedor para, em 24 (vinte e quatro) horas, pagar

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 113


ou alegar defesa. Parágrafo único. Estando suficientemente provado o pedido
nos termos deste artigo, o juiz poderá homologar de plano o penhor legal.

- A homologação de penhor legal, assim como a nunciação de obra nova, começa com
uma fase extrajudicial.

- Quais as hipóteses de penhor legal? Aquelas em que você tem direito real sobre bem
de outrem em virtude de lei e não de decisão judicial ou de contrato. É o direito do
hoteleiro sobre as tuas bagagens se você não pagar a conta do hotel; é o direito do
dono de restaurante, sobre o teu carro que está ali estacionado, se você não pagar a
conta do restaurante.

Seção XV – Outras Medidas Provisionais


- A espinha dorsal das medidas assecuratórias de crédito desapareceu – voltaram a ser
como em 1939.

- E onde estão previstas as principais medidas cautelares assecuratórias do direito de


família? Quase todas no art. 888, CPC.

 Art. 888, CPC: “O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação


principal ou antes de sua propositura: I - obras de conservação em coisa
litigiosa ou judicialmente apreendida; II - a entrega de bens de uso pessoal do
cônjuge e dos filhos; III - a posse provisória dos filhos, nos casos de separação
judicial ou anulação de casamento; IV - o afastamento do menor autorizado a
contrair casamento contra a vontade dos pais; V - o depósito de menores ou
incapazes castigados imoderadamente por seus pais, tutores ou curadores, ou
por eles induzidos à prática de atos contrários à lei ou à moral; VI - o
afastamento temporário de um dos cônjuges da morada do casal; VII - a
guarda e a educação dos filhos, regulado o direito de visita que, no interesse da
criança ou do adolescente, pode, a critério do juiz, ser extensivo a cada um dos
avós; (Redação dada pela Lei nº 12.398, de 2011) VIII - a interdição ou a
demolição de prédio para resguardar a saúde, a segurança ou outro interesse
público.”

- Todas as medidas cautelares giram ao redor de um único procedimento. Num


primeiro momento, desquite; num segundo momento, a separação judicial; e hoje, no
divórcio. Então, unificou-se também a nomenclatura para tratar da dissolução da
sociedade conjugal e do laço matrimonial.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 114


Separação de Alimentos
Corpos

Posse dos bens


para uso pessoal

DIVÓRCIO

Guarda e visita

Arrolamento de
Bens

- A separação de corpos é, nada mais nada menos, do que a antecipação principal dos
efeitos da tutela constitutiva negativa da ação de divórcio – vai ter que estar na
sentença também, porque será preciso confirmar essa tutela.

- Então todas elas são satisfativas. Na realidade, não são medidas cautelares
propriamente ditas; são antecipações de tutela.

- Só fica uma dúvida: se acabaram essas medidas cautelares, como resolver o divórcio,
as situações preliminares a todo divórcio? Tudo vai se resolver no Livro V da Parte
Geral: Da Tutela Antecipada, e, também, no Poder Geral de Cautela do magistrado –
vai deferir o que ele entender por bem.

- É exatamente o que acontece hoje com quem não tem papel passado nenhum.
Primeiro, é preciso declarar que são casados; mas sucessivamente, é preciso
desconstituir – ação de reconhecimento e dissolução de união estável. Para tal,
necessário pedir várias tutelas antecipadas: a) separação de corpos com medida
restritiva; b) alimentos; c) regulamentação de guarda. A diferença, é que agora tudo
virou poder geral de cautela.

- Então para onde foram as assegurações em direito de família? Todas viraram tutelas
antecipatórias. Só existe uma tutela cautelar que continua sendo tutela cautelar:
arrolamento de bens.

- O divórcio nada mais é que uma desconstituição com uma série de tutelas
antecipadas a elas inerentes, já que são ações com um relacionamento diferido no
tempo.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 115


 Art. 471, I, CPC 1973: “Nenhum juiz decidirá novamente as questões já
decididas, relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica
continuativa, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito; caso em
que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença;”

- O juiz do divórcio não vai decidir o divórcio de novo.

Inciso I: Essa é a verdadeira ação revisional, que na verdade é uma ação reconstitutiva.
Pensão alimentícia é relação diferida no tempo. Assim como o aluguel. Se houver
alteração na situação fática ou jurídica, pode revê-la.

LIVRO IV – DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS


- Na acepção atual, no Novo CPC, as tutelas de urgência estão no Livro V, Da Tutela
Antecipada (onde está toda a parte geral atual que vai definir o Poder Geral de
Cautela). Algumas cautelares, que não se enquadrarem no poder geral de cautela,
serão mantidas.

- O que sobrou do Livro IV do CPC de 1973, veio para um capítulo dentro do Livro I da
Parte Especial do Novo Código. Então, materialmente, os procedimentos especiais
continuam sofrendo dos mesmos males: incompatibilidade com o processo de
conhecimento.

- Como visto, o procedimento, no Novo CPC, se divide em: a) o procedimento que dá


corpo ao processo; b) o procedimento que dá corpo aos procedimentos especiais.

- Logo, há apenas o procedimento comum e os procedimentos especiais. E aí Didier


simplesmente ab-rogou o Livro IV, enxugou as ações, os procedimentos especiais, e os
que sobreviveram, 6 ou 7, permaneceram ali no livro de processo de conhecimento.

Formas de Cumulação de Pedidos

- Os pedidos podem ser:

1. Cumulados
a) Cumulados Simples (A + B)
b) Cumulados Sucessivos (A tem que sobreviver, para que se aprecie B)
2. Alternativos (A ou B)
3. Sucessivos (A se inviabiliza; então, B)

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 116


- Então o grande problema dos procedimentos especiais era justamente a sua
incompatibilidade processual, procedimentos, falta de previsibilidade da tutela. À
medida que o processo foi sendo criado, permitiu-se que ele fosse cumulado com o
procedimento especial.

- Poucos sabem da possibilidade de se combinar uma consignação em pagamento,


uma possessória, com o processo de conhecimento. É o que diz o artigo 292, § 2º, CPC.

Art. 292, § 2º, do CPC: “É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo
réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. § 1o São requisitos de
admissibilidade da cumulação: I - que os pedidos sejam compatíveis entre si; II - que
seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - que seja adequado para todos
os pedidos o tipo de procedimento. § 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo
diverso de procedimento, admitir-se-á a cumulação, se o autor empregar o
procedimento ordinário.”

- Sem perder as suas características de procedimento especial.

Ordinalização dos Procedimentos Especiais


- Há alguns procedimentos especiais que não são passíveis de ordinalização, como, por
exemplo, o inventário, que é tão somente uma administração da universalidade de
bens (como a massa falida, por exemplo).

- Então o inventário não é compatível o art. 292, CPC. Mas quase todos os outros o
são, principalmente os 6 ou 7 procedimentos especiais que vão permanecer como tal
no Novo Código de Processo Civil. Eles eram procedimentos que já estão previstos no
CPC de 73 ou então vieram de legislação extravagante (por exemplo, a avaliação de
avaria grossa é uma das ações mais antigas do Código Comercial de 1850).

- Por que continua existindo o procedimento especial? Procedimento especial nada


mais é que um eco oitocentista; são ações que sempre existiram. Por que não se
processualizaram?

- Existem três regras básicas para responder a essa pergunta.

- De 1939 para 1973, vários procedimentos foram extintos. De 1973 para 2014, vários
outros procedimentos serão extintos. A grande dúvida é se a monitória fica ou sai (que
foi uma contramão na história, o único procedimento especial criado de 1990 pra cá).
Há aí nitidamente um saudosismo.

- Os artigos 1.076 e seguintes, do CPC, até o art. 1.102, foram todos revogados. Havia
nitidamente um movimento processual.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 117


- No século XIX, havia Códigos Judiciários 100% procedimentais; na virada do século, os
Códigos Estaduais ou das Províncias eram 20% processuais e 80% procedimentais. O
CPC de 1939, era 60% processual e 30% procedimental. O CPC de 73, 25%
procedimental. Então a tendência no novo CPC é que esses procedimentos virem um
capítulo dentro do processo de conhecimento, em contraposição ao procedimento
comum (10% procedimental e 90% processual).

Então, pela simples observação do decurso do tempo, depreende-se que o


processo, à medida que incorpora novas ciências, vai absorvendo os astros que
estão ao redor dessa estrela. Vai absorvendo as matérias que lhe são compatíveis;
e aquelas que são incompatíveis, são extracodificadas.

Exemplo: mandado de segurança não tem a menor congruência com o CPC. Nem a
coisa julgada a ele se aplica. Então ele não é pra estar no código.

Exemplo: inventário sem herdeiros menores – resolve-se extrajudicialmente.

- Então há uma tendência não só do processo avançar sobre os procedimentos –


exceto a monitória – como também de extrajudicializar aquilo que não pode ser
processualizado (como acontece com determinadas formas de divórcio, de inventário).
Isso para deixar o código adstrito aquilo a que ele se destina.

- Por que, então, que não se compatibilizam se essa é uma tendência? Por que incluir a
avaliação de avaria grossa? Por três motivos:

Tradição

Incompatibilidades Procedimentais

Actio Duplex – aspecto processual/ material

1. A Tradição

- Existem as ações possessórias – reintegração, manutenção de posse ou interdito


proibitório (se esbulho, turbação ou ameaça). Então há um procedimento para cada
situação objetiva. Mas esta ação, antes de 1973, e já desde a virada do século, tinha
uma tutela liminar de reintegração que era praticamente a sentença de mérito (tutela
antecipada).

- O processo se desenvolveu e aquela técnica de tutela que era absolutamente


estranha ao sistema Carneluttiano, ainda mais em se tratando de uma sentença

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 118


executiva, sequer conseguia se espelhar no CPC de 1973. Então em 73, ela ficou no
Livro IV, Procedimentos Especiais. Hoje, tranquilamente poder-se-ia resolver todas as
ações possessórias com tutela antecipatória.

 Art. 927, CPC 1973: “Incumbe ao autor provar: I - a sua posse; II - a turbação ou
o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a
continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da
posse, na ação de reintegração.”

- Em 1930, isso podia parecer altamente alienígena. Mas hoje, sabe-se que é uma
tutela antecipatória de cunho altamente satisfativo.

 Art. 930, CPC 1973: “Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou


de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subseqüentes, a citação
do réu para contestar a ação. Parágrafo único. Quando for ordenada a
justificação prévia (art. 928), o prazo para contestar contar-se-á da intimação
do despacho que deferir ou não a medida liminar.”

- O que há, aí, então, é apenas e tão somente uma aresta que não se compatibilizava
com o sistema de 1973. Mas o nome dessa aresta hoje é “tutela satisfativa”. Hoje já há
a previsão doutrinária desse tipo de ação (auto-executiva), já há a previsão da tutela, e
aplica-se, quanto ao mais, o procedimento ordinário.

- Então havia dois elementos diferenciadores que impediam tais procedimentos de se


compatibilizar com o procedimento comum, cujas especificações atuais permitem
englobar as ações possessórias.

- Mas, mesmo assim, por uma questão de tradição, o Fux resolveu que as três ações
continuariam com procedimento especial. Mas o STJ já decidiu que mesmo as ações de
força velha resolvem-se com tutela antecipatória.

2. Subsistem Incompatibilidades Procedimentais

- A tutela antecipatória da ação possessória até 1994 era um obstáculo. Até hoje
existem outros tipos de obstáculo que não se consegue definir processualmente (a
ciência processual não se desenvolveu o suficiente para abranger tais procedimentos
especiais).

- Por exemplo, a ação monitória: é a ação com base em prova escrita, não classificável
como título executivo extrajudicial, emanada do próprio devedor, portanto, que
viabilizar um procedimento sumário cognitivo.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 119


- Nos casos em que a prova escrita é tão clara em que há uma fase de integração dessa
prova em título executivo. O judiciário monitora a relação jurídica base para chancelar
aquele documento como título executivo.

- Por ora, a ação monitória é estruturalmente incompatível com o procedimento


comum.

3. Actio Duplex – Aspecto Processual/ Material

- O que acontece, processualmente, com os procedimentos especiais que ainda os


torna incompatíveis, processualmente, com o procedimento comum? Que os impede,
para além do art. 292, § 2º, de se integrarem ao livro I, ao processo de conhecimento,
como aconteceu com a reivindicatória, com a imissão de posse?

- Os procedimentos especiais, por sua estrutura, têm um aspecto que ainda os


incompatibiliza, que é exatamente a actio duplex. A actio duplex é uma característica
processual inerente à teoria imanentista. A teoria imanentista reza que a todo direito
material corresponde uma ação que o assegure – o direito processual é imanente ao
direito material.

- Então há um direito material – e apenas um – e um procedimento especial para esse


direito. Neste caso, não há necessidade de se estabelecer um contraditório nos termos
do procedimento comum; é completamente diferente da relação processual em que o
polo ativo quer modificar o status quo e o polo passivo quer deixar tudo como está.

- Na actio duplex, por ser direcionada a um único direito material, ou ele pertence ao
polo ativo ou ao passivo. Então a contestação, na realidade, também é uma pretensão
– essa é uma característica que o processo civil não conseguiu absorver.

- No processo civil, se o réu quiser reivindicar algo, precisa fazer reconvenção (ação
dentro da ação, invertidos os polos). E isso é naturalmente ínsito ao procedimento
especial.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 120


O direito processual é uma ciência epistemologicamente própria que trata de
uma relação jurídica peculiar, que, por estar muito próxima ao direito material,
ainda não consegue se compatibilizar.

- Fica bem claro, portanto, que essa característica denominada actio duplex ou judicia
duplicia, típica da teoria imanentista, impede a ordinalização de determinados
procedimentos especiais.

- Na realidade, o próprio Fux plantou a solução para esse problema. A reconvenção vai
acabar enquanto ação autônoma; ela vai virar um capitulo da contestação. Ora, o que
é a actio duplex sob o ponto de vista procedimental? Como ela se manifesta no mundo
físico?

 Art. 922, CPC 1973: “É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido
em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.”

- É lícito ao réu DEMANDAR na contestação.

 Art. 278, § 1º, CPC: “Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria
audiência, resposta escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de
testemunhas e, se requerer perícia, formulará seus quesitos desde logo,
podendo indicar assistente técnico. (Redação dada pela Lei nº 9.245, de
26.12.1995) § 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor,
desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial. (Redação dada pela
Lei nº 9.245, de 26.12.1995)”

- “formular pedido a seu favor”. Isso já é onda reformista do procedimento sumário; é


o pedido contraposto.

- O processo civil foi se expandindo e absorvendo os procedimentos especiais; novas


técnicas de tutela e de ações foram surgindo.

- Fica bem claro que o conceito de reconvenção está sendo mutacionado para um
novo tipo de contraposição de pedidos que permite a absorção do fenômeno da actio
duplex.

Qual seria então a diferença entre o pedido contraposto e a actio duplex? Esta é uma
conexão pelo direito material, enquanto aquele (pedido contraposto) se conecta à ação
pela relação de fato.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 121


- O art. 278, § 1º, do CPC 1973, assim ressalva: “desde que fundado nos mesmos
fatos”.

Exemplo: eu bati no carro de ‘B’, mas B foi culpado; faço um pedido contraposto –
mesmo eixo fático. É uma limitação, mas é uma evolução que permitiu ao Didier pegar
o pedido contraposto, o nome ‘reconvenção’ e absorver boa parte das actio duplex.

- Fica claro que a ciência processual cria os seus instrumentos. Isso seria inadmissível
há uns anos atrás.

- Você não consegue compatibilizar o pedido contraposto – apesar de essa


oportunidade ter sido aberta – com a actio duplex. Enquanto a actio duplex é de
direito material, a conexão do pedido contraposto é o mesmo eixo fático.

A actio duplex é uma característica material intrínseca dos procedimentos especiais


(base da teoria para unificar os procedimentos especiais).

- Não se confunde com a reconvenção que é uma ação autônoma incidental ao


processo, do réu contra o autor (contra-ataque).

 Sugestão de Leitura: Dos procedimentos especiais. Antônio Carlos Marcato.


Último capítulo antes dos procedimentos especiais em espécie.

- O Livro IV do atual Código de Processo Civil, de 1973, é dividido em dois capítulos:


procedimentos especiais de jurisdição contenciosa; e procedimentos especiais de
jurisdição voluntária. Consegue-se identificar um procedimento especial pela simples
leitura do dispositivo.

Título I – Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa


- Na jurisdição contenciosa, onde há lide, há também, tal qual as cautelares
nominadas, uma divisão por matérias. Buzaid, nos procedimentos especiais, colocou
em relativa ordem, classificando os procedimentos especiais de jurisdição contenciosa
em três grupos:

1. Vinculados ao Direito de Crédito – consignação em pagamento; ação de


depósito; títulos ao portador; prestação de contas;
2. Sistema de Proteção de Propriedade e Posse – ações possessórias (direitos
reais), usucapião, divisão e demarcação de terras particulares, inventário e
partilha.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 122


3. Ações de Cunho Processual – que visam repor um determinado processo no seu
eixo adequado (por exemplo, os embargos de terceiro).

IMPORTANTE! Transposição procedimental não é reforma processual. A palavra


reforma processual implicaria num remédio novo, remédio diferente.

Exemplo: cumprimento de sentença. Qual é a diferença em relação à antiga execução


de título judicial? Antes você pegava a sentença, como título executivo, e dava início a
uma execução provisória ou definitiva através de uma petição inicial.

- Os arts. 475-O e seguintes, mandam aplicar ao cumprimento de sentença as mesmas


regras cabíveis à execução de título judicial. Inclusive, há jurisprudência pacífica no
sentido de que cabem honorários no cumprimento de sentença – quando, na verdade,
a intenção era não torná-la mais uma ação apartada (e, sim, cumprir nos próprios
autos).

- A multa do 475-J só agrava ainda mais uma situação de política neoliberal. Só torna o
sujeito mais insensível ao dispêndio de dinheiro.

Capítulo I: Ação de Consignação em Pagamento


 Art. 899, § 1º, CPC: “Quando na contestação o réu alegar que o depósito não é
integral, é lícito ao autor completá-lo, dentro em 10 (dez) dias, salvo se
corresponder a prestação, cujo inadimplemento acarrete a rescisão do
contrato. § 1º Alegada a insuficiência do depósito, poderá o réu levantar, desde
logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqüente liberação parcial do
autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida. (Incluído pela
Lei nº 8.951, de 13.12.1994); § 2º A sentença que concluir pela insuficiência do
depósito determinará, sempre que possível, o montante devido, e, neste caso,
valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe a execução nos
mesmos autos. (Incluído pela Lei nº 8.951, de 13.12.1994)”

§ 1º: parcela incontroversa.

§ 2º: o réu não consegue título executivo no Livro I. No Livro I, hoje, o réu só consegue
título executivo com a reconvenção.

- Von Büllow concebeu um procedimento comum, standard. Quando se encontra um


procedimento distinto, não é possível encaixá-lo no procedimento comum (possui
arestas que impedem essa adequação). Então, vira procedimento especial.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 123


- No artigo acima, já se verifica um desenvolvimento científico do processo suficiente
de maneira que já se consegue aparar suas arestas, incorporando-o ao procedimento
comum.

- A ação de consignação em pagamento nada mais é que uma ação do devedor em


face do credor. Antes do advento da nova onda reformista em 1994, a consignação em
pagamento já não funcionava, mas, de qualquer forma, o espírito dela permanece. O
devedor tem um direito – que é o de ter quitação; e, muitas vezes, esse único direito
lhe é sonegado. Então tem direito ao depósito judicial dessa importância, e, ao fazê-lo,
tem direito de requerer ao juiz que supra – é o que se denomina mora accipiendi (a
mora daquele que tem o crédito, mas se recusa a dar a quitação).

- O devedor tinha que na inicial comprovar essa mora accipiendi; e como comprovar a
mora do credor? Isso era muito difícil.

- As coisas não eram resolvidas por caução, por tutela antecipatória, de uma forma
unilateral e rápida. Então, por tradição, manteve-se a consignação em pagamento.

- Para resolver a morosidade, previram a consignação em pagamento extrajudicial.

 Art. 890, CPC: “Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro
requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa
devida. § 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o devedor ou
terceiro optar pelo depósito da quantia devida, em estabelecimento bancário,
oficial onde houver, situado no lugar do pagamento, em conta com correção
monetária, cientificando-se o credor por carta com aviso de recepção, assinado
o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa. (Incluído pela Lei nº
8.951, de 13.12.1994) § 2º Decorrido o prazo referido no parágrafo anterior,
sem a manifestação de recusa, reputar-se-á o devedor liberado da obrigação,
ficando à disposição do credor a quantia depositada. (Incluído pela Lei nº 8.951,
de 13.12.1994) § 3º Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao
estabelecimento bancário, o devedor ou terceiro poderá propor, dentro de 30
(trinta) dias, a ação de consignação, instruindo a inicial com a prova do
depósito e da recusa. (Incluído pela Lei nº 8.951, de 13.12.1994) § 4º Não
proposta a ação no prazo do parágrafo anterior, ficará sem efeito o depósito,
podendo levantá-lo o depositante. (Incluído pela Lei nº 8.951, de 13.12.1994)”

- “terceiro” que seja coobrigado, e, portanto, interessado processualmente.

§ 2º: presunção iuris tantum. Eu movo uma notificação, notifico o devedor; se este
silenciar, presume-se que eu estou liberado. Se o devedor resolver entrar com ação de

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 124


cobrança, vai ter que demonstrar documentalmente que eu devo a ele; então, de que
adianta a presunção, se isso já seria um ônus dele na ação de cobrança?

§ 3º: é preciso ter a recusa para mover a ação de consignação? Não, porque eu posso
querer a liberação e essa presunção não adianta de nada.

- Então, seja por tradição, seja por incompatibilidade procedimental, essa fase
extrajudicial inviabiliza a ordinalização do processo.

 Art. 899, CPC: “Quando na contestação o réu alegar que o depósito não é
integral, é lícito ao autor completá-lo, dentro em 10 (dez) dias, salvo se
corresponder a prestação, cujo inadimplemento acarrete a rescisão do
contrato. § 1o Alegada a insuficiência do depósito, poderá o réu levantar, desde
logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqüente liberação parcial do
autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida. (Incluído pela
Lei nº 8.951, de 13.12.1994) § 2o A sentença que concluir pela insuficiência do
depósito determinará, sempre que possível, o montante devido, e, neste caso,
valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe a execução nos
mesmos autos. (Incluído pela Lei nº 8.951, de 13.12.1994)”

- A ação de consignação em pagamento, na ida, é declaratória – onde o juiz declara


quitada a dívida. E, na volta, ela é condenatória em dinheiro ou declaração da quitação
(então, actio duplex).

Declaratória (quitação)

Ação de Consignação em Pagamento

Condenatória

- Em todo procedimento especial, há tradição, actio duplex (pretensão de ida diferente


da pretensão de volta) e incompatibilidade procedimental (alguma aresta que não se
adequa ao procedimento comum).

 Art. 895, CPC: “Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o
pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos que o disputam para
provarem o seu direito.”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 125


Exemplo: ‘A’ queria comprar de ‘B’ um apartamento, mas ‘B’ estava respondendo por
muitas execuções. Supondo, por exemplo, que as dívidas de ‘B’ atingem 40% do valor
do imóvel. ‘A’, então, depositou tal valor sob a condição de que quando ‘B’ trouxesse
as sentenças de mérito extinguindo as execuções contra ele movidas, ‘A’ liberaria o
saldo a ‘B’. Fizeram escritura pública, porque aquele dinheiro depositado era a
comprovação da solvência de ‘B’; então o imóvel poderia ser escriturado em nome de
‘A’, sem cláusula de retrovenda. Passados 6, 7 anos, ‘B’ apresentou as sentenças. Mas
o fundo em que foi depositado o dinheiro deixou de existir e o banco,
compulsoriamente, o tinha transferido para outro fundo, cuja rentabilidade era menor.
Então o valor que estava no fundo não coincidia com os cálculos feitos por ‘B’, com
base na rentabilidade do fundo anterior. ‘B’, na realidade, queria o imóvel de volta;
mas não podia, porque já estava escriturado. Então ‘A’ levantou o dinheiro que estava
no fundo, colocou numa conta vinculada a uma vara cível, que rende muito menos, e
moveu a consignação em pagamento.

- Como o STJ entende que prescrição em execução já movida não cabe (fica pendente
para sempre, ainda que não se encontrem bens penhoráveis), ‘A’ considerou que uma
das execuções não tinha sido extinta. Então, moveu ação de consignação em
pagamento contra ‘B’ e contra o credor da execução, depositando o valor em juízo. ‘A’
fez isso para que não se aplicasse o § 1º, do artigo 899, CPC.

 Art. 899, CPC: “Quando na contestação o réu alegar que o depósito não é
integral, é lícito ao autor completá-lo, dentro em 10 (dez) dias, salvo se
corresponder a prestação, cujo inadimplemento acarrete a rescisão do
contrato. § 1º Alegada a insuficiência do depósito, poderá o réu levantar, desde
logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqüente liberação parcial do
autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida. (Incluído pela
Lei nº 8.951, de 13.12.1994) § 2º A sentença que concluir pela insuficiência do
depósito determinará, sempre que possível, o montante devido, e, neste caso,
valerá como título executivo, facultado ao credor promover-lhe a execução nos
mesmos autos. (Incluído pela Lei nº 8.951, de 13.12.1994)”

§ 1º: se há dúvida sobre quem é o réu, não pode levantar.

- Essa incompatibilidade procedimental é possível resolver no processo de


conhecimento por litisconsórcio passivo.

 Art. 898, CPC: “Quando a consignação se fundar em dúvida sobre quem deva
legitimamente receber, não comparecendo nenhum pretendente, converter-se-
á o depósito em arrecadação de bens de ausentes; comparecendo apenas um, o

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 126


juiz decidirá de plano; comparecendo mais de um, o juiz DECLARARÁ efetuado o
depósito e extinta a obrigação, continuando o processo a correr unicamente
entre os credores; caso em que se observará o procedimento ordinário.”

- Este artigo, em sua parte final, torna a ação de consignação em pagamento


incompatível com o processo de conhecimento.

OBS: A sentença que julga improcedente a ação de consignação em pagamento é


declaratória? NÃO. É condenatória.

Capítulo III: Ação De Anulação E Substituição De Títulos Ao Portador


- Existem alguns procedimentos que nem tem muita razão de ser. A ação de anulação e
substituição de títulos ao portador é um exemplo, que nem mesmo o Novo CPC
conseguiu manter. Desde 15 de março de 91, acabaram os títulos ao portador.

- Todos os títulos têm que ser nominativos. Não há sentido lógico em procurar o
pregão da bolsa de valores (resto do exemplo).

- Essa ação perdeu o sentido.

Capítulo IV: Ação de Prestação de Contas


- É uma ação mais útil, mas não há porque continuar sendo procedimento especial, a
não ser por conta da tradição – porque ela nada mais que é que uma ação de
procedimento comum.

- É uma ação que decorre em virtude de alguma relação subjacente (que não precisa
ser declarada, portanto – por exemplo, ação contra síndico, ação contra o sócio). Esse
tipo de relação societária lato sensu, essa relação associativa, permite que haja a
chamada legitimação para uma ação de prestação de contas.

- Há um segundo aspecto, que em 1973 dava um ar de procedimento especial, mas


isso não muda nada nos dias de hoje: a prestação de contas tanto pode ser exigida
quanto prestada.

Exemplo: barraco na reunião de condomínio no que concerne às contas. O síndico


pode propor a ação. Há interesse de agir – então há tranquilamente uma legitimação.

- Pelo fato de ela ser uma ação bilateral, que pode ser tanto prestada, quanto exigida,
é possível enxergar a actio duplex. Mas a prestação de contas é típica situação clara de

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 127


pedido contraposto. Estou prestando as contas e a outra pessoa faz um pedido
contraposto dizendo que a conta X está errada, ou que faltam tais documentos.

- Então a prestação de contas é uma ação típica para quem tem uma relação jurídica
subjacente, em primeiro lugar; tem legitimação bilateral (tanto pode ser prestada
quanto exigida) – e aí que surge a actio duplex. Ao ser prestada, a pretensão é
declaratória; ao ser exigida, declaratória.

Declaratória

Ação de Prestação de Contas

Condenatória

- O CPC traz um monte de confusões.

 Art. 915, CPC: “Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a
citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou contestar a
ação. § 1º Prestadas as contas, terá o autor 5 (cinco) dias para dizer sobre elas;
havendo necessidade de produzir provas, o juiz designará audiência de
instrução e julgamento; em caso contrário, proferirá desde logo a sentença. §
2º Se o réu não contestar a ação ou não negar a obrigação de prestar contas,
observar-se-á o disposto no art. 330; a sentença, que julgar procedente a ação,
condenará o réu a prestar as contas no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob
pena de não Ihe ser lícito impugnar as que o autor apresentar. § 3º Se o réu
apresentar as contas dentro do prazo estabelecido no parágrafo anterior,
seguir-se-á o procedimento do § 1o deste artigo; em caso contrário, apresentá-
las-á o autor dentro em 10 (dez) dias, sendo as contas julgadas segundo o
prudente arbítrio do juiz, que poderá determinar, se necessário, a realização do
exame pericial contábil.”

- Os procedimentos especiais traduzem, no mínimo, uma ingenuidade típica das


décadas de 40, 50, 60, e que hoje já não têm mais sentido. É óbvio que isso hoje se
resolve com ação de obrigação de fazer e astreintes. A obrigação do administrador é
manter as contas em dia.

- Numa análise crítica dos procedimentos especiais, é possível encontrar nas próprias
ações possessórias, consignação em pagamento, etc, um elemento que poderia
tranquilamente implicar na absorção pelo processo de conhecimento – e só não o são
em virtude da tradição.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 128


Capítulo V: Ações Possessórias
Sistema Possessório/ Reivindicatório

- Diferencia posse de propriedade. A posse é apenas uma aparência da propriedade e


com ela não se confunde. A posse é uma demonstração de uma situação de fato,
enquanto a propriedade é a demonstração de uma relação jurídica em relação ao bem
da vida. Quem é possuidor, parece ser proprietário – de acordo com o Código Civil,
inclusive, a posse é uma aparência de propriedade. Então é previsível que haja ações
diferentes dentro do sistema processual.

- Em 1939, havia as ações possessórias e as reivindicatórias, dependendo da situação


que aparecesse no caso concreto. E na situação do meio termo, quando tinha a
propriedade originária, havia uma terceira ação: imissão na posse (vou tomar posse
pela primeira vez – eu nunca estive lá, mas sou o proprietário).

Exemplo: arrematei o imóvel no leilão. A ação cabível é posse originária – estou me


imitindo na posse.

- Em 1973, sumiram do sistema a imissão de posse – que passou a ser orientalizada – e


a ação reivindicatória. À época, como as ações referentes à propriedade se
ordinalizaram para ter a mais ampla cognição/ dialética, restaram dentro da
propriedade, os procedimentos absolutamente incompatíveis com o Livro I (a divisória,
a demarcatória, o usucapião e uma forma administrativa de tutela da propriedade que
é o inventário e a partilha).

Sistema Possessório/ Reivindicatório

POSSE PROPRIEDADE

Situação de Fato Situação Jurídica

1973

Possessórias Divisória

Ameaça Demarcatória

Turbação Usucapião

Esbulho Inventário e Partilha


Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 129
- As possessórias, as mais antigas ações dos ordenamentos jurídicos ocidentais,
permaneceram, cada uma, voltada para uma situação fática diferente: para a ameaça,
para a turbação e para o esbulho.

- Então, há três ações possessórias, e restaram, na base reivindicatória do sistema, a


divisória, a demarcatória e a usucapião.

- AÇÃO DEMARCATÓRIA: Na demarcação, há dois títulos de propriedade cuja


interpretação não permite que se visualize as marcas divisórias da propriedade. Então,
tem que passar por uma perícia que vai analisar as escrituras, a situação fática dos
terrenos e vai aviventar marcas que nunca foram colocadas – porque se o tivessem
sido, haveria uma ação possessória (porque a posse depende da prova da posse).

Exemplo: imagine cercar fazendas no cerrado brasileiro.

- Tanto a demarcatória quanto a AÇÃO DIVISÓRIA são ações de cunho petitório.


Porque, como dependem de perícia para dividir o condomínio ou demarcar as terras,
para ambas as situações, é necessário o agrimensor. E aí, nessa situação, o papel do
juiz é meramente homologatório de um laudo porque o juiz não tem condições de
refutar o laudo de um agrimensor. As duas ações têm mais ou menos o mesmo final.

 Art. 966, CPC: “Assinado o auto pelo juiz, arbitradores e agrimensor, será
proferida a sentença homologatória da demarcação.”

- O papel do magistrado em ambos os casos não é de composição da lide; é


meramente homologatório de um laudo do agrimensor.

- Tanto a divisória quanto a demarcatória, possuem, também, um caráter possessório.


Mas o sistema demarcatório e divisório é para situações em que não haja nenhum
sinal de posse. Uma árvore é posse. Plantio é uma demonstração de posse, é uma
marca. Se há arvores que delimitam os terrenos, não cabe demarcatória, porque as
árvores são sinal de posse.

- Eu só posso dividir o que é meu. Para todas as outras situações, há a possessória. Por
isso, por mais que se consiga resolver as demarcatórias pelo rito ordinário, ela nunca
vai se compatibilizar, porque a sentença do juiz possui cunho homologatório (não
obedece ao art. 269, CPC).

- Quanto às POSSESSÓRIAS, há três ações para três situações fáticas – mas elas são
absolutamente irrelevantes.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 130


 Art. 920, CPC: “A propositura de uma ação possessória em vez de outra não
obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados.”

- Não há o princípio da adstrição ao pedido. Pode ser que, quando você ajuizou a ação,
os caras estavam só ameaçando; no curso da ação, invadiram.

- Como a dinâmica possessória é muito rápida, já há de plano uma primeira


incompatibilidade procedimental.

- A posse depende fundamentalmente de prova – fotográfica, documental, e,


principalmente, testemunhal.

- Para a ameaça, há o interdito proibitório; para a turbação, ação de manutenção de


posse; e para o esbulho, há a reintegração de posse. Essa dinâmica, só se ela for muito
lenta, é que vale a pena distinguir.

 Art. 932, CPC: “O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser
molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou
esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em que se comine ao réu
determinada pena pecuniária, caso transgrida o preceito.”

- Art. 461, CPC. “que se comine” = astreinte. Constrição psíquico-financeira.

- A manutenção e a reintegração de posse não são ações de tutela mandamental, mas


mais executiva mesmo. A reintegração o é ainda de forma mais clara, porque
reintegração é uma medida de força sobre os invasores.

 Art. 922, CPC: “É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em
sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.”

- É a actio duplex.

 Art. 928, CPC: “Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá,
sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de
reintegração; no caso contrário, determinará que o autor justifique
previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for
designada. Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 131


será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos
respectivos representantes judiciais.

- Como a prova documental não foi suficiente, tem que arrolar testemunhas para
proceder a uma justificação prévia. E aí só depois disso é que começa o prazo para
contestar.

OBS! Nas ações possessórias, tem que haver descontinuidade da posse. Porque se eu
nunca tive posse, a ação cabível é imissão na posse. Se eu nunca tive a posse, mas
tenho título de propriedade – não é ação reivindicatória; é ação declaratória de
propriedade.

Exemplo: um fazendeiro de uma cultura de gado – tem uma técnica especial de criação
e gado. Um segundo pretendente pretende comprar sua fazenda, mas quer fazer um
test drive – quer conhecer a fazenda. O fazendeiro autoriza que essa pessoa entre na
fazenda e conviva com o pessoal, com as técnicas. Depois de um tempo, eis que esse
pretenso comprador chama os amigos e toma a fazenda pra ele. Ele tem em mãos
vários e-mails nos quais estava negociando com o proprietário e tem um início de
prova escrita demonstrando que estava comprando a fazenda. Até havia entregado
dinheiro, mas não se sabe ao certo quanto. É um esbulho – então a ação cabível é
reintegração de posse.

CUIDADO: Imissão na posse = ação declaratória com tutela executiva.

- Existe apenas uma exceção, prevista na súmula 487, STF: quando duas pessoas
brigam pela posse, ambas com base na propriedade. Ambas tem escrituras, ambas tem
comprovações de posse de lado a lado, mas, no fundo, ambas demandam a posse com
base na propriedade.

 Súmula 487, STF: “Será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o


domínio, se com base neste for ela disputada.”

Capítulo XV: Ação Monitória


 Art. 1102-A, CPC: “A ação monitória compete a quem pretender, com base em
prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro,
entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel. (Incluído pela Lei nº
9.079, de 1995)”

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 132


- Que documento é esse? É o documento emanado do devedor. Não é um documento
unilateral do credor. O CPC, na teoria da prova, já define isso. O documento firmado
pela parte só faz prova contra si.

 Art. 1.102-B, CPC: “Estando a petição inicial devidamente instruída, o Juiz


deferirá de plano a expedição do mandado de pagamento ou de entrega da
coisa no prazo de quinze dias. (Incluído pela Lei nº 9.079, de 1995)”

- É uma tutela. Entrega de coisa – art. 461-A, do CPC – ou pagamento, onde teria uma
prova inequívoca. Já existia a tutela antecipatória.

 Art. 1.102-C, CPC: “No prazo previsto no art. 1.102-B, poderá o réu oferecer
embargos, que suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não
forem opostos, constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial,
convertendo-se o mandado inicial em mandado executivo e prosseguindo-se na
forma do Livro I, Título VIII, Capítulo X, desta Lei. (Redação dada pela Lei nº
11.232, de 2005) § 1º Cumprindo o réu o mandado, ficará isento de custas e
honorários advocatícios. (Incluído pela Lei nº 9.079, de 14.7.1995) § 2º Os
embargos independem de prévia segurança do juízo e serão processados nos
próprios autos, pelo procedimento ordinário. (Incluído pela Lei nº 9.079, de
14.7.1995) § 3º Rejeitados os embargos, constituir-se-á, de pleno direito, o
título executivo judicial, intimando-se o devedor e prosseguindo-se na forma
prevista no Livro I, Título VIII, Capítulo X, desta Lei.(Redação dada pela Lei nº
11.232, de 2005)”

- “título executivo judicial”. Na ação monitória, não é a prova documental que se


transforma em titulo executivo; a execução é por titulo judicial.

§ 2º: “nos próprios autos” e “procedimento ordinário”.

Apelação
Juiz

Rito Ordinário

Monitória Mandado Sentença

Inicial com
prova escrita

(prova emanada
do devedor)

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 133


- O juiz defere e manda expedir o mandado de citação. A partir do mandado, segue-se
o rito ordinário, sobrevém sentença da qual cabe apelação com efeito suspensivo. Ou
seja, o esquema é a mesma coisa que o procedimento comum. Não há sentido,
portanto, em denominá-lo “monitório especial”, diferenciando-o da “ação de
cobrança”.

- Então, a monitória, do jeito como foi concebida, não tem razão de ser.

- A monitória seria, nesse primeiro bloco de ações, por tudo e em tudo uma iniciativa
infeliz. Se os embargos cabíveis não tivessem efeito suspensivo nenhum, até poderia
ser eficaz. Quer embargar? Cauciona. Aí haveria um ganho de tempo; então 80% das
ações monitórias redundariam em um fim útil.

- Uma das grandes reformas processuais que o Brasil poderia ter era de mudar esse
estado de coisa.

- A monitória, o cumprimento de sentença, não são reformas processuais – são


transposições procedimentais.

Título II – Procedimentos Especiais de Jurisdição Voluntária

Capítulo I: Disposições Gerais


 Art. 1111, CPC: “A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já
produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes.”

- “a sentença pode ser modificada” desde que haja uma alteração na situação fático-
jurídica. Isso é um elemento inerente aos procedimentos especiais de jurisdição
voluntária.

Exemplo: alienação judicial de bem litigioso. Você acabou de arrestar um caminhão de


morangos. Os morangos não vão durar muito tempo; então você tem que vender
imediatamente no CEASA e arrecadar o dinheiro – é uma medida que interessa a
ambas as partes.

- Há situações puramente de administração publica. A jurisdição voluntária vai acabar


no Novo CPC, porque tudo vai se resolver por ordem do juiz.

Caderno de Processo Civil IV (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 134

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