A RELAÇÃO ENTRE GESTÃO E A SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR
THE RELATIONSHIP BETWEEN MANAGEMENT AND MENTAL HEALTH OF
WORKERS ADRIANA VEIGA DE ALMEIDA Aluna do curso de graduação em Psicologia da UNINGÁ Rua Monsenhor Kimura,383 apto 103, CEP:87010-45 Maringá - PR. Email: drica_88br@\hotmail.com
JORGE MANOEL MENDES CARDOSO
Professor Mestre em Psicologia Social pela UNESP. Docente no curso de graduação em Psicologia da UNINGÁ. . RESUMO: O presente artigo propõe uma reflexão acerca das possibilidades de adoecimento mental do trabalhador dentro dos espaços de trabalho e investiga possíveis causas para tal ocorrência, buscando compreender, sobretudo, os efeitos dos modelos de gestão de recursos humanos sobre a saúde do trabalhador. Sabendo-se que o ambiente organizacional deve ter como pressuposto as práticas do bom relacionamento interpessoal, visando o respeito e o reconhecimento profissional dos envolvidos (contribuindo, portanto, para o prazer no trabalho), o presente texto também discorre sobre as responsabilidades daqueles que gerem tais ambientes no que concerne à promoção da saúde do trabalhador. PALAVRAS-CHAVE: Adoecimento no trabalho, gestão e saúde mental.
ABSTRACT: This article proposes a reflection about the possibilities of mental
illness of the worker within the work spaces and investigates possible causes for this occurrence, seeking to understand, above all, the effects of human resource management models on worker health. Knowing that the organizational environment should be based on the practices of good interpersonal relationships, aiming to achieve the respect and professional recognition of those involved (thus contributing to pleasure in work), this text also discusses the responsibilities of those who manage such environments in relation to the promotion of workers’ health. KEYWORDS: Job illness, management and mental. 1. Introdução A partir da década de 1980, marcada pelo fim da guerra fria, simbolizada historicamente pela queda do muro de Berlim em 1989, o mundo passa por um vertiginoso encadeamento de transformações que impacta direta ou indiretamente a vida de todas as pessoas, em especial a da população trabalhadora. O processo conhecido como globalização, conjugado com o advento da internet, acelerou de tal forma as relações humanas (e entre estas, naturalmente, as relações de trabalho), a ponto de o fenômeno ser descrito como “fábrica de perversidades”, nas palavras de SANTOS (2001,p.10): O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. (...) A educação de qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram- se e aprofundam-se males espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção (SANTOS, 2001, p.10).
No que concerne especificamente às relações de trabalho, estas se
tornam cada vez mais competitivas, alterando significativamente os antigos modelos de carreira, conforme retrata Mara (2008) “Diante desse cenário social, ascende o modelo moderno caracterizado pela progressão na carreira de forma descontínua, mais horizontal do que vertical e mais instável, mas, ao mesmo tempo, oferecendo oportunidades para o profissional tanto do sexo masculino, quanto feminino e pertencente a grupos sociais variados ”. Frente a tamanhas transformações, num cenário de contínua pressão e incertezas eclodem os casos de depressão causados por stress no trabalho. De acordo com reportagem da revista Época (2017) (....), mais de 75 mil pessoas foram afastadas do trabalho com depressão no ano de 2016. Diante de tais dados, tem este trabalho o intuito de verificar e discutir quais alternativas têm sido buscadas pela área da Psicologia do Trabalho no sentido de promover um melhor intercâmbio entre gestão e saúde mental do trabalhador, bem como compreender as mais recentes técnicas direcionadas a este objetivo. Para a realização da presente pesquisa utilizamos como método de trabalho o levantamento bibliográfico específico, com a obtenção das informações através de artigos científicos disponíveis em bancos de dados online (como Scielo, por exemplo), além de buscas em revistas eletrônicas, bem como em livros e dissertações. De acordo com Tozoni-Reis (2010, p. 42) “A pesquisa bibliográfica tem como principal característica o fato de que o campo onde será feita a coleta dos dados é a própria bibliografia sobre o tema ou objeto que se pretende investigar”. As buscas se deram através das expressões (ou palavras-chave): “Adoecimento no trabalho”, “gestão e saúde mental”. Os requisitos para a escolha dos artigos implicaram que estes fossem datados a partir do ano 2000, e que os mesmos trouxessem questões sobre a saúde mental relacionadas ao trabalho e à gestão. 2 – Trabalho e Administração de Empresas – um brevíssimo histórico De acordo com Chiavenato (2011), desde o princípio da história da humanidade sempre houve alguma condição (apesar de simples ou confusa) de gerenciar as organizações empresariais. Apesar disso, o desenvolvimento das ideias e teorias a respeito da Administração seguiu um curso muito lento até o século XIX. Até mais ou menos 1850, o interesse direcionado às formas de organizações empresariais era relativamente limitado. Estas, no entanto, eram menores e em pouca quantidade. Apesar do trabalho ter sido, desde os primórdios, algo presente na humanidade, as organizações a ele relacionadas são conquistas relativamente recentes. Na mesma toada seguiram-se os estudos acerca do conceito de administração. Nesta área são consideráveis as influências de filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, que já na Antiguidade clássica pensaram sobre o tema, além das contribuições de Francis Bacon (1561-1626) e René Descartes (1596-1650). No avanço destes estudos (bem como de sua aplicação), não se pode negar a contribuição da Igreja Católica, através da organização eclesiástica, moldada sobre o domínio do direito canônico. Com a queda do Império Romano, em 476, a instituição encampou o que havia de mais avançado nos modelos organizacionais de sua época. Outra contribuição foi dada pelo setor militar, do qual emanam alguns conceitos até hoje aplicados nos modelos de sistematização administrativa de vários setores. Com o advento da Revolução Industrial, no entanto, que a partir do final do século XVIII altera de forma irreversível as relações de trabalho, surge o que se configurou chamar de Teoria Administrativa. Com o avassalador avanço das novas formas de produção, o operário vai sendo paulatinamente substituído pelas máquinas nas tarefas em que se podia automatizar e acelerar a produção. É neste contexto que o capitalismo se solidifica e se observa o surgimento do proletariado. Por conseguinte, em decorrência do baixo padrão de vida, da promiscuidade nas fábricas e dos riscos de graves acidentes durante os longos períodos de trabalho em conjunto, aos poucos se verifica uma interação estreita entre os trabalhadores e uma crescente conscientização da precariedade das condições de vida e de trabalho, além da conscientização da exploração por uma classe social economicamente favorecida. Conflitos entre a classe operária e os proprietários de indústrias não tardaram a aparecer. Alguns países passaram a intervir em alguns aspectos das relações entre operários e fábricas, baixando leis trabalhistas. É neste contexto, em certa medida caótico, que nascem as novas organizações empresariais. Temos, então, a ruptura das antigas estruturas corporativas que vigoravam desde a Idade Média. Além disso, o avanço tecnológico e a aplicação dos progressos científicos nos processos de produção, bem como a descoberta das novas formas de energia, além da enorme ampliação dos mercados, desencadeou o processo no qual as formas artesanais de trabalho foram substituídas pelos padrões de produção industrial, redundando nos modelos taylorista e fordista – dominantes na primeira metade século XX. Referindo-se à década de 1980, na qual um novo intenso processo de mudanças afetará o mundo do trabalho, Antunes (2011, p. 23) assim nos diz: A década de 1980 presenciou, nos países de capitalismo avançado, profundas transformações no mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura produtiva, nas formas de representação sindical e política. Foram tão intensas as modificações, que se pode mesmo afirmar que a classe-que-vive-do-trabalho sofreu a mais grave crise deste século, que atingiu não só a sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter- relacionamento destes níveis, afetou a forma de ser (ANTUNES, 2011, p. 23).
O autor refere-se, naturalmente, ao processo de alterações sofridas pelo
capitalismo abarcadas pelo termo “globalização”. No que concerne ao mundo do trabalho e dos modelos de gestão, a inserção de novos aparatos tecnológicos, bem como o advento da microeletrônica, além do uso da robótica e da automação e da internet, desencadeiam essa nova revolução. Esse conjunto de transformações, em parte ainda em curso nos dias atuais, afeta sobremaneira a saúde do trabalhador exigindo das organizações o empenho na busca por mitigar tais efeitos, conforme salienta Prado (2016, p.286): No Brasil, assim como em outros polos industriais, a busca pela adaptação a esse novo panorama tem gerado impacto representativo na saúde dos trabalhadores. Nesse contexto, o estresse ocupacional pode ser entendido como um conjunto de perturbações psicológicas ou sofrimento psíquico associado às experiências de trabalho. Em razão dessas repercussões negativas sobre o indivíduo, surgiram propostas que visam a adequar o trabalho e a estrutura das organizações às necessidades dos trabalhadores, buscando a satisfação destes e a melhoria de seu desempenho profissional (PRADO, 2016, p.286).
3- Saúde mental e o trabalho
É muito comum ouvirmos falar em adoecimento no trabalho. E, de fato, quando este é executado sob determinadas condições pode ser a causa de muitas doenças graves. Para Agostini (2002), a definição de saúde e bem estar no trabalho tem como pressuposto o sujeito como ator de sua vida no trabalho, num vínculo social de troca com os outros trabalhadores almejando sempre o conhecimento e visando lutar contra os mecanismos de desvalorização e de vulnerabilidade neste ambiente. Tal bem estar, também é resultante, portanto, de um contínuo processo de construção e evolução. Na busca por investigar os problemas de saúde ligados ao processo de trabalho, não excluímos a necessidade de também compreendermos sua proporção social e política – o que pressupõe, portanto, também entender a saúde dos trabalhadores como resultante das dinâmicas e formas de organizações historicamente conquistadas por esta classe social. De acordo com Lacaz (2007), a abordagem em saúde do trabalho tem sua ênfase no aspecto essencialmente humano presente na relação capital-trabalho, priorizando, assim, sua eficácia protetora no que concerne à saúde do trabalhador, agindo diretamente contra mal-estares, desconfortos, deterioração, salvo acidentes e doenças. Segundo Macêdo (2016), o significado do trabalho na vida das pessoas é de extrema relevância, uma vez que este é fator decisivo para o reconhecimento e realização do indivíduo, definindo muitas vezes sua existência histórica, contribuindo, portanto, para a formação de sua identidade. Nesse sentido, Schlindwein (2013), afirma que o trabalho é um meio fundamental para a criação da identidade, bem como para o estabelecimento da saúde do indivíduo, estendendo-se, portanto para a definição plena do sujeito, em sua experiência angustiante e decisiva do âmbito do real. Conforme Lancman e Jardim (2004), o trabalho possibilita o enfrentamento de duas dimensões, o mundo externo e interno do trabalhador. Ou seja, de um lado está o campo objetivo, com suas lógicas, seus desafios, suas regras e seus valores, e de outro a particularidade de cada trabalhador, sua subjetividade. Do confronto entre tais dimensões, em ambientes de pressão, pode advir o sofrimento psíquico. Conforme explicam as autoras, as exigências inerentes ao meio do trabalho tendem a provocar desgastes de ordem tanto física quanto psíquica. Ao manter seu desempenho e a produtividade, o trabalhador acaba por sobrecarregar seu organismo ficando mais expostos a quadros de adoecimento. Contudo, quando as ações no trabalho são constantemente inovadas, ampliam a visão para a modificação do sofrimento, contribuindo para uma estruturação positiva da identidade, aumentando a resistência da pessoa ás várias formas de desiquilíbrios psíquicos e corporais. A partir das certificações em situações concretas de trabalho, a Psicodinâmica do Trabalho vem elaborando novos conceitos teóricos primordiais com a intenção de ampliar a função psíquica do trabalho e seu vínculo com a organização do trabalho sendo algumas delas: mecanismos de cooperação, estratégias de defesa individuais e coletivas ligadas ao trabalho, visibilidade, valorização e reconhecimento, cooperação, sofrimento psíquico e mobilização da inteligência. Gernet (2014,) retrata, que a teoria da Psicodinâmica mostra-se como um conhecimento do trabalho como ligação central no estudo dos vínculos entre saúde mental e o trabalho. De acordo com Mendes (2007), a psicodinâmica do trabalho é uma abordagem cientifica, desenvolvida nos anos 1990, na França por Christophe Dejours, segundo a qual, a princípio o sofrimento aparece na medida em que o vínculo do trabalhador com a organização do trabalho é impedida em decorrência dos empecilhos do consenso das desiguais forças que circunda o desejo da produção e o desejo do trabalhador. Nessa perspectiva, ao identificar o trabalho tanto como uma possível construção de identidade e também como fonte de alienação, a psicodinâmica aponta a análise do sofrimento para a inter- relação dos trabalhadores com a organização do trabalho e para os métodos defensivos que beneficiam para lidar com o trabalho. Nos dias de hoje, a psicodinâmica, no seu conjunto teórico e metodológico, recorta uma inversão na maneira de analisar a inter-relação trabalho e saúde. Suas estruturas conceituais são formuladas a partir da verificação dinâmica intrínseca a determinadas situações de trabalho, no que concerne ao desempenho de forças, visíveis e invisíveis, objetivas e subjetivas, psíquicas, sociais, políticas, e econômicas capazes ou não de alterar esse contexto, modificando-o em lugar de saúde ou de patologia e adoecimento. É objeto de estudo da psicodinâmica do trabalho o conhecimento sobre as relações dinâmicas entre organização do trabalho e processos de subjetivação, que se expressam nas práticas de prazer-sofrimento, nas técnicas de atitude para equilibrar contradições da organização do trabalho, nas patologias sociais, na saúde e no adoecimento. Nessa perspectiva, Dejours & Jayet (1994) apud Mendes (2007), apontam que: O sofrimento é visto como uma espécie de drama, que mobiliza o sujeito no mundo e no trabalho em busca de condições e saúde. Nem o sofrimento, tampouco as estratégias de defesa individuais e coletivas são patológicas, e sim, uma saída para a saúde. Nesta perspectiva, intervir na organização do trabalho é a contribuição para o processo de saúde, que permite aos sujeitos subverterem o sofrimento, transformando-o em sentido, em inteligibilidade e em ação, o que não significa anular o sentimento, mas transforma-lo no prazer da reapropriação do vivido pela ação (DEJOURS & JAYET, 1994 apud MENDES, 2007, p 43).
A experiência do sofrimento pode ser verificada, portanto, por pelo menos
um desses sentimentos: insegurança, medo, angústia, insatisfação, desvalorização, tensão. Por outro lado, a vivência de prazer pode se caracterizar pelos sentimentos de identificação, liberdade, orgulho pela atividade e reconhecimento. Diante disso, dentro da organização de trabalho tarefas que exigem repetição, risco de vida, estipulação de ritmos, e uma gestão de trabalho que exerce pressão interna para execução de metas, e hierarquias, supervisão opressora, e confronto entre os princípios da empresa e pessoais, são fatores determinantes da vivência do sofrimento. Nesse sentido, de acordo com Schlindwein (2013), quando o trabalhador entristece, consequentemente se vê prejudicado em seu poder de agir. No momento em que se perde a aptidão para a tomada de decisão, este também perde sua função psicológica. O esgotamento da atividade do trabalho, seja nos âmbitos pessoais ou grupais, deterioram o autocontrole interferindo decisivamente em suas atitudes. Como decorrência dessas condições, ao se sentir em condições inapropriadas para suas funções, o trabalhador passa a suportar o assédio de forma mais declarada e transparente, pois não se vislumbra dentro dos padrões de ”excelência” que a organização define como o “ideal”. Nessas circunstâncias, ainda de acordo com o que compreende a autora, inicia-se o processo de retraimento, não somente como consequência das atitudes comportamentais das chefias, mas também pela reação excludente dos colegas de trabalho. O adoecer faz com que desperte no trabalhador um sentimento desagradável, como por exemplo a percepção de humilhação perante o grupo. Sente-se desconfortável e constrangido pelo fato de ser rotulado como preguiçoso e descomprometido. Ao adoecer, o trabalhador se percebe, portanto, “mutilado” em boa parte de seus encorajamentos e disposições, o que muitas vezes traduz-se em culpa e silêncio. A ausência da competência laboral desestabiliza uma das principais forças motrizes da realização humana, ou seja, a capacidade para o trabalho. Tal quebra induz o indivíduo a uma situação de esgotamento, desamparo e à ansiedade de ser um “eu” sem o “outro”. Por fim, conforme Mendes (2007), o saudável está ligado ao confronto das exigências e ameaças do trabalho que promovem a fragilidade, tendo lugar a satisfação quando as circunstâncias motivadoras de sofrimento são capazes de ser transformadoras. O patológico resulta falhas nas maneiras de confronto do sofrimento e insere-se na medida que o desejo da produção vence o desejo dos sujeitos trabalhadores. 4. Papel do Gestor frente à saúde mental do trabalhador Sabe-se que um dos fatores que contribuem para que o trabalhador sinta- se bem em seu ambiente de trabalho diz respeito à qualidade do relacionamento interpessoal. Nesse aspecto, a influência exercida pelo líder/gestor frente a seus subordinados é de extrema importância. Diante dessa realidade, Pesca, afirma que: Os líderes são exemplos de profissionais e de pessoas para seus funcionários, influenciando-os de certa forma, pois seus dizeres são de suma relevância; sem este “modelo”, nada teria fundamento, ou melhor, não seriam salientes (PESCA,2011 p.155). Nesse sentido, entender como se forma a estrutura do modelo de gestão de pessoas nas empresas modernas faz-se necessário para que se possa compreender quais são as causas dos crescentes índices de doenças psíquicas oriundas do ambiente de trabalho. Como atesta Fischer (2002), compreende-se por modelo de gestão de pessoas a forma pela qual uma empresa se planeja para administrar e direcionar o comportamento humano no trabalho. Para isso, a empresa se organiza, estabelecendo concepções, artifícios, políticas e ações ou métodos de gestão. Por meio desses mecanismos, realiza condutas e indica formas de desempenho dos gestores em seu vínculo com aqueles que nela trabalham. Tendo em vista que a gestão assume um papel de suma importância nas questões relacionadas ao desenvolvimento organizacional, é importante ressaltar, que os modelos de gestão precisam ser mais flexíveis, menos autoritários, permitindo mais a participação do colaborador frente as decisões da organização, como os direitos do trabalho. De acordo Chanlat (1997) apud FERNANDES, DI PACE E PASSOS (2002), os padrões atuais de gestão podem ser divididos em: Taylorismo e neotayloriano: que é identificado pelo trabalho dividido, atividades contínuas e uniformes, e com tempo estipulado para a realização das tarefas. Tecnoburocrática: padrão identificado por partes hierárquicas bem determinadas, sem comunicação entre as classes, submissão a regras postas para a finalização das tarefas. Excelência: de acordo com seus princípios, os colaboradores precisam alcançar as expectativas do cliente, precisam também mostrar um alto nível de força ás demandas de trabalho (físicas e psíquica). Participativo:é aquela que permite a manifestação de todos, onde as pessoas podem opinar, participar das decisões, se envolver nas programações de metas, ou seja, integra os trabalhadores no processo de desenvolvimento da organização. Percebe-se que há uma amplitude de modelos de gestão conforme citado acima, e ainda é possível encontrar modelos rígidos, visando mais a produtividade e o lucro, dessa forma, o trabalhador pode sentir-se desmotivado, e consequentemente afetar o seu rendimento. É preciso evidenciar que, o líder quando delega um trabalho corretamente obtém bons resultados, no entanto ao se fazer de forma inadequada, as consequências são desagradáveis, ou seja um líder que não desperta em seus funcionários motivos para se empenharem, para realizarem suas atividades motivados, há uma grande probabilidade de não conseguir atingir seus objetivos, metas e consequentemente afetar a empresa. De acordo com Sampaio (2002), as adversidades das relações partem na maioria das vezes onde diferentes pessoas trabalham constantemente juntas. É essencial que haja uma boa comunicação e a cooperação, pois eles são princípios básicos para a prática das relações humanas de forma aceitável. Um líder que desenvolve má sua função, contribui imensamente para que seus funcionários deixem de acreditar em sua postura e muitas vezes contribui no adoecimento desse colaborador. Se faz importante, o líder reconhecer seus erros, ser transparente, pois é nele que toda a equipe se espelha, a postura firme, é essencial, pois é com ela que ele saberá como melhor utilizar o seu poder de decisão e ter consciência de que as pessoas esperam essa postura dele. Nessa perspectiva, como retrata Banov (2013), alguns gestores incapacitados, persistem para que seus funcionários atendam com eficiência os clientes, no entanto, não se atentam que são colaboradores com um índice de desmotivação bem grande, devido a situações conflituosas dentro da empresa, que na verdade seriam fácil de resolver como por exemplo: “o funcionário ser mais respeitado, ser ouvido, sentir-se importante” (BANOV,2013,p. 76). Este autor nos mostra uma abordagem que subtendem que o comportamento é movido pelas influências internas que é, a abordagem Freudiana que mostra que parte dos desinteresses é inconsciente e estão atreladas as intuições e desejos de pessoas. O autor afirma que um confronto entre o líder e o funcionário possibilita desenvolver estímulos inconscientes de fúria armazenada de uma infância passada em uma realidade severa. O autoritarismo de um líder pode demonstrar seu desejo inconsciente de reinar. As motivações inconscientes não são captadas pelas pessoas e o líder deve ter consciência de que não pode conhecer todas as motivações de seus funcionários e clientes. “um gerente que busca um mundo corporativo mais justo e internalizou como valor a liderança democrática estará motivado a ser democrático tanto com os seus colaboradores, como com seus clientes” (BANOV,2013,p. 77). Além de todas as implicações presentes no que tange às alçadas de gestão das empresas, faz-se necessária também a preocupação com a saúde e segurança a seus trabalhadores no que concerne ao nível psíquico. Conforme Pesca (2011), a manifestação das organizações é de que os empecilhos referentes ao campo do trabalho são, muitas vezes, responsabilidade do subordinado, vivenciando com o discurso de que as pessoas têm tendência ou vulnerabilidade a doenças, sem analisar que o modo como o trabalho está estruturado é capaz de vincular-se com o aparecimento dessas doenças ou possíveis acontecimentos de acidentes. Hoje, nas organizações, as doenças mais habituais são os transtornos de estresse, estresse pós traumático, a depressão e o alcoolismo. De acordo com ZanelIi (2016), o papel dos gerentes e dirigentes é enfrentar com a prática, na perspectiva da produtividade, sim, mas também de proteção máxima ou de intensificação da saúde. Não há hesitações, planejamento de educação para a saúde precisam ser prioritários aos gestores e dirigentes. A posição do gestor tem a capacidade de transformar a consciência do cuidado preventivo da saúde do trabalhador parte considerável da cultura organizacional. Ainda de acordo com este autor, o conhecimento apresentado de que o adoecimento mental depende somente de fatores psicológicos e biológicos, reduzidos ao contexto individual, confirma estereotipias pertinentes aos gestores e empregadores que não assumem suas responsabilidades. Capacitar os participantes da comunidade organizacional a respeito das multideterminações, em todos os graus, e a sociedade, em todos os âmbitos, é uma tarefa que necessita de uma atenção imediata. Nessa perspectiva, Zanelli (2016, p.20), afirma que: Nas organizações, há uma notória insuficiência de políticas de atenção e prevenção dos riscos à saúde mental e demanda por construir culturas saudáveis, de valorização da vida, mesmo que com redução da produtividade: desenvolver valores éticos autênticos, formar vínculos positivos entre as pessoas, incentivar reflexões sobre o sentido da vida, favorecer o equilíbrio entre trabalho e lazer, incrementar atividades educativas, entre muitas. Em culturas com tais características, a saúde tem valor estratégico e justifica a essência da própria organização (ZANELLI 2016, p.20).
É muito importante que as organizações reflitam sobre a responsabilidade
que envolve a saúde do trabalhador, e invistam na promoção a saúde, pois essa é uma problemática que atinge ambos os lados, nesse sentido Machado (2002), nos mostra que, o programa de saúde dentro de uma empresa atende a duas pontas: ao motivar os funcionários, tende a aumentar a produtividade, portanto, a taxa média de lucratividade; por outro lado, reduz os custos com assistência médica. Além do que, economiza-se com assistência médica, leva-se em consideração o prejuízo representado pelas horas perdidas em decorrência das faltas e dos afastamentos por razões de doença. Nessa perspectiva é importante salientar que, o trabalhador para sentir- se confortável em suas atividades diárias em seu trabalho, necessita estar bem fisicamente e psicologicamente. O seu bem estar está intimamente interligado com suas relações constituídas dentro desse âmbito, dessa forma, de acordo com Machado (2002), qualidade de vida não se dá somente através de remunerações altas, vantagens e privilégios dentro da empresa, para Vianna (1999) apud Machado (2002), o resultado vem através do olhar humanizado, das relações agradáveis, educação, das aberturas as manifestações do jeito de pensar, do respeito. “Atenção, elogios e consideração constituem ingredientes indispensáveis quando se busca lealdade, qualidade e produtividade” (VIANNA, 1999 apud MACHADO, 2002, p. 33). Nesse sentido, Heloani e Capitão (2013), apontam que: As condições laborais, bem como as relações diretas entre os trabalhadores, influenciam diretamente a qualidade de vida. Essa, portanto, torna-se, nessa perspectiva, estratégica para a sobrevivência e desenvolvimento futuros das organizações (HELOANI E CAPITÃO, 2003, p.106).
Banov (2013), aponta que os líderes e gestores precisam se preocupar
com suas atitudes e ações, perante seus funcionários, estas são como exemplo. Consequentemente, uma vez que a chefia trata seus funcionários como o devido respeito e de forma correta, a motivação acontece, diante disso, é importante salientar que, a organização deve preservar seus princípios morais, para compor-se de gestores, líderes e funcionários com os mesmos ideais.
5. O papel da Psicologia do Trabalho num contexto de constante
transformação no mundo corporativo Dentre as ações disponíveis no leque de recursos ofertados pela área da psicologia organizacional, em que pese a complexidade e pluralidade de possibilidades decorrentes tanto da ampliação das especificidades da área, bem como das novas configurações do mundo do trabalho, estão, conforme sintetizam Gondim, Borges-Andrade e Bastos (2010), num sentido amplo, dar foco no progresso de intervenções psicológicas e ergonômicas para proporcionar condições adequadas de trabalho que auxiliem nos problemas de adaptação com consequências que atinge a qualidade e bem estar do trabalhador. Há ainda a compreensão do comportamento humano no trabalho, bem como “a abordagem do trabalho como um fenômeno psicossocial não circunscrito somente às organizações de trabalho”. De acordo com Banov (2013) A Psicologia com seus métodos e práticas, é a ciência que contribui no processo de gerenciamento de pessoas com o intuito de de compreender as ações, atitudes das pessoas, de forma que se faça um trabalho preventivo e domínio perante condições necessárias. Exerce também a função de poder capacitar o gestor a lidar com os colaboradores e a alcançar as metas organizacionais. Imersa num contexto de mutações constantes cabe à área a constante atualização e aperfeiçoamento. É o que nos dizem Zanelli, Borges-Andrade e Bastos (2004): Como qualquer prática social, a atuação do psicólogo organizacional e do trabalho não fica imune às transformações do contexto e ao desenvolvimento da ciência. No cenário do início do século XXI, percebe-se, quando se toma como comparação o núcleo básico de atividades desenvolvidas pelo psicólogo nos anos inaugurais de consolidação da profissão, que a amplitude e o escopo de sua atuação têm sido efetivamente alargados. Essa ampliação irá trazer a necessidade de intercâmbios mais fecundos com outros domínios da Psicologia e com outras áreas disciplinares” (ZANELLI; BORGES- ANDRADE; BASTOS, 2004).
Ainda de acordo com os autores acima, o trabalho principal ou tarefa da
Psicologia Organizacional e do trabalho pode ser abreviada em investigar, analisar e entender como interatuam as inúmeras proporções que qualificam a realidade das pessoas, das corporações e das organizações, em um mundo gradativamente enigmático e em mudança. O intuito é elaborar recursos, técnicas a fim de proporcionar, conservar, proteger e melhorar a condição de prazer e bem estar das pessoas no trabalho. 6- Considerações Finais Imersos num contexto de intensa transformação, o qual lhes põe à prova a cada novo dia, atingidos com agressividade em sua essência humana, no que concerne à definição de suas identidades, os trabalhadores no mundo contemporâneo são vulneráveis a toda espécie de males de ordem psíquica. Os modelos de gestão de recursos humanos atualmente em vigor são, por esta razão, impelidos a buscarem outras formas de ação frente a esta nova realidade, que se impõe, caracterizada pela competitividade que envolve o mundo do trabalho. Se faz necessário que o trabalhador tenha voz ativa, participação, iniciativa frente a seus direitos no que refere ao trabalho, é preciso haver equilíbrio entre as exigências impostas no mundo do trabalho e o contexto do trabalhador, é essencial entender esse sujeito como um ser psicossocial, compreender seu todo, suas particularidades diante disso, ter um olhar humanizado, sensibilizado, é essencial para que a relação empregador- empregado seja saudável , prazerosa, e satisfatória para ambas as partes. Nessa perspectiva, no que concerne à área da psicologia organizacional, esta tem papel preponderante na busca de alternativas para que a interação entre gestor e empregado se dê de maneira mais salutar. REFERÊNCIAS
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