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Golden Lecture

A PESQUISA E O ROTEIRO
E sua enorme importância na produção de um podcast

Depois de escolher o tópico do episódio e ter feito uma pesquisa para


averiguar se ele já não foi muito explorado no Brasil e também analisado o
interesse geral sobre o assunto - e, principalmente, o seu interesse - e
verificado se há material suficiente para se criar um podcast com a duração
desejada sem precisar “encher linguiça”, é hora de partir para o primeiro e
mais importante passo do roteiro: a pesquisa!

Essa aula está em texto também para que sirva como um teste que você
deve passar. Aqui contém informações muito importantes para esse curso,
da mesma forma que um livro ou um longo artigo possuem informações
importantes para o roteiro de seu podcast. Vai ler tudo? Vai prestar
atenção? Vai ficar com preguiça e só ler as frases em negrito e imagens?
Pois é.

Filosofia de produção de podcasts 1 Escriba Cafe


Assim como vivo afirmando, o conteúdo é o mais importante. Se você não
tem um conteúdo decente, não adianta investir milhares de reais em
equipamentos, cursos e software, pois no final você terá um podcast
tecnicamente maravilhoso, porém inútil.

Portanto eu considero essa aula a mais importante de todas. O que será


dito aqui é de serventia para podcasts, artigos, videocasts, talk-shows e até
para sua própria vida.

A PESQUISA

Na hora de pesquisar e escrever o seu roteiro, ou pesquisar um assunto


para um talk-show ou podcast de bate-papo (sim, mesmo esses podcasts
exigem pesquisa prévia), existem alguns pontos em especial que você
deve seguir. Eu os separei assim:

‣ Procure e filtre a bibliografia.

‣ Estude.

‣ Seja honesto.

‣ Respeite a inteligência de seu ouvinte.

Vamos entender com mais detalhes esses pontos.

PROCURE E FILTRE A BIBLIOGRAFIA

Na pesquisa para a criação de seu roteiro ou para adquirir conhecimento


para um bate-papo, você tem à sua disposição livros, periódicos, a internet
etc. Com a falta de credibilidade de muito material na internet, muitas
pessoas recorrem aos livros com a falsa impressão de que se um livro foi
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publicado e impresso, é uma espécie de garantia de credibilidade. Isso é
falso. Erros, absurdos e mentiras também são encontrados em livros.

Já a internet está lotada de baboseiras e falsas teorias, algumas fontes


estimam que 50% de todo o conteúdo publicado na internet contém
informações completa ou parcialmente falsas. Mas também há conteúdo
de qualidade e, portanto, você precisa “garimpar” esse material.

Para chegar o mais próximo da verdade em sua bibliografia, basta seguir


essas dicas:

- No caso de livros, procure saber mais sobre o autor. Se ele é respeitado


ou se tem fama de escrever bobagens. Procure também críticas e resenhas
sobre o livro, olhando até mesmo os comentários dos leitores que
adquiriram o livro. Isso te ajudará a decidir se o livro possui credibilidade.

- Quando o assunto é internet, é preciso redobrar o cuidado. Busque


informações somente em sites mais respeitados e que disponibilizam suas
fontes. Cheque também a credibilidade do autor.

- Sempre cruze informações. Cheque se a informação fornecida por uma


fonte bate com a informação fornecida por outra e, caso haja
discrepâncias, você deverá pesquisar mais.

Cruzar informações também serve para quando você encontra um fato


muito interessante sobre o assunto em um site não muito sério que não
tinha visto em outras obras. A princípio, não ignore o fato. Comece a
pesquisar em fontes mais sérias pois, muitas vezes, há um embasamento
para aquela informação. Porém, se os únicos lugares em que você encontra
o tal fato são em sites sem credibilidade e blogs "meia boca”, é quase certo
que é só uma mentira que se espalhou através dos autores desses sites. É
por isso que você deve ter extremo esmero em sua pesquisa para não se
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tornar mais um disseminador de mentiras, meias-verdades e
sensacionalismo barato. E acredite: já achei uma informação que foi
confirmada em dezenas de outros sites, porém, ao tentar encontrar essa
mesma informação em fontes mais sérias, vi que ela era falsa.

Catalogue e guarde sua bibliografia para ser apresentada posteriormente


(no post ou descrição do episódio), principalmente se você não for uma
“autoridade" no assunto que está tratando, deixando claro de onde veio o
material que você está apresentando e, assim, permitindo o ouvinte
também a lhe “autenticar”.

ESTUDE

Com sua bibliografia separada, agora é hora de estudar. Leia tudo, mesmo
aquilo que não será parte de seu roteiro mas que reflete o assunto. É
importante você sempre saber mais do que fala e não o contrário. Estando
completamente a par do assunto, você escreverá um roteiro muito mais
rico e interessante.

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Nessa fase inicial de pesquisa, a medida que vou confirmando fatos, os
coloco no Scapple (imagem acima) para montar um mapa mental (no
material de apoio você pode baixar o mapa mental do episódio III para
melhor visualizar).

Com o aplicativo Mendeley, enquanto pesquiso, vou catalogando toda a


bibliografia que encontro e que se mostra útil para referências futuras.

A pesquisa termina quando você, além de uma mapa mental, tem um


catálogo bibliográfico pronto e toda a história que irá contar já na sua
cabeça (querendo ou não, enquanto pesquisa você acaba criando o
esboço de um roteiro em sua mente. Sempre imagine aquilo sendo
narrado, se é interessante, se vale a pena inserir, enfim, literalmente um
“Brain Storm").

Agora é hora de escrever o roteiro.

SEJA HONESTO

Ser honesto com seu ouvinte se resume em:

• Nunca minta para deixar a história ou discussão mais interessante.

• Se algo que você disse não é de consenso entre os especialistas,


deixe isso claro para seus ouvintes.

• Deixe claro também quando algo que você diz trata-se puramente de
sua opinião.

• Não omita informações só porque elas vão contra sua opinião ou


porque acabarão com a “mágica” da história, afinal, se há um fato que
acaba com essa “magia” isso significa que sua história não é tão
“mágica” assim e ponto final.
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Com todos esses passos, você automaticamente está cumprindo o último
ítem do checklist, que é “Respeitar a inteligência de seu ouvinte”.

ESCREVENDO O ROTEIRO

É hora de abrir o Scrivener e começar a escrever.

No Scrivener normalmente separo o podcast em partes - ou capítulos (o


aplicativo permite isso). Em alguns episódios já crio todas as partes com
seus devidos títulos para ir me guiando por aquilo enquanto escrevo e
organizar melhor as ideias. Não que aquela seja a estrutura final. Durante a
escrita algumas partes podem desaparecer enquanto outras são criadas. O
processo criativo é algo muito pessoal e, caso o método que utilizo não for
de seu agrado, com certeza você vai acabar encontrando a forma que
melhor lhe permite criar e se organizar. Mas para isso é preciso

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experimentar (oh, tortura mental que foi quando eu usei, há muitos anos o
Word).

_________

Hora de começar a escrever. A partir de agora a organização e a clareza


devem ser usadas. Claro que, no final, quando chegar a hora de gravar,
pode ser que você decida que certas palavras ou frases não ficaram boas
ou que, no contexto da edição, deveria ser diferente e, então, você acaba
mudando. Porém, o roteiro deve ser escrito já pensando no resultado final.
Você deve escrever cada frase imaginando ela sendo narrada por você.
Muitas coisas que ficam boas num texto para leitura, podem não ficar tão
boas quando narradas. Imagine também o tipo de música ou efeitos
sonoros que estarão tocando naquela parte do texto, isso é muito
importante para que você consiga guiar a escrita de acordo com a futura
edição e, assim, não haver conflitos na hora de editar.

Você deve pensar também onde haverão as pausas. Normalmente, quando


separo o roteiro em partes, como já dito, estou também separando a
edição em blocos, onde haverá uma “passagem temporal" na história, ou
uma pausa na narrativa para uma “troca de cenário". Isso ajuda a evitar que
o ouvinte se canse. Ele precisa de pequenas pausas.

Exemplifico com um texto escrito de forma que, depois de gravado será


difícil e até mesmo “forçado" criar uma pausa:

“Como sempre fazia, Júlio César iniciou, ao raiar do dia, sua


caminhada em direção ao senado, não demorando mais do que
trinta minutos para chegar ao local onde perderia sua vida."

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Agora vamos a uma versão desse mesmo texto, porém com espaço para
pausas sonoras (Na prática, muito provavelmente esse texto não precisaria
de pausas, pois é muito curto, mas aqui estamos usando como exemplo):

“Como sempre fazia, Júlio César iniciou, ao raiar do dia, sua


caminhada em direção ao senado. [Pausa de uns 5 ou 10 segundos
com uma música tensa, talvez] Em menos de trinta minutos ele já
havia chegado ao local onde perderia sua vida."

Nesse caso temos um texto com espaço para uma pausa, porém, caso não
seja necessário na edição fazer ali uma pausa, ele também pode ser lido de
uma só vez.

Não pense no roteiro como um texto e sim como uma voz narrando o que
você está escrevendo. É preciso pensar que o ouvinte precisa achar aquilo
excitante, se sentir envolvido. Por isso, frases de efeito (mas sem exageros e
sem clichês) são bem vindas. Não tente colorir demais o seu texto, pois isso
pode parecer algo forçado. Para entender, vamos a um exemplo:

Precisamos descrever um castelo medieval em chamas num podcast mais


didático de história medieval e ao mesmo tempo passar o desespero das
pessoas lá dentro, sendo esse o climax da história e, por isso, é preciso
desenvolver algo mais “pessoal" e emocional nessa parte:

“As chamas tomavam conta de todos os cômodos do castelo. A


fumaça sufocava os moradores que tentavam inutilmente alcançar a
saída, morrendo sufocados antes mesmo que o fogo os consumisse.
Mães se desesperavam ao ver seus filhos tombando mortos, para
logo em seguida perderem a vida também. O castelo desmoronava,
levando junto as vidas e toda a história que o envolvia. Era o fim de
uma era."

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Agora uma segunda versão da mesma cena:

“As chamas, poderosas devoradoras de tudo o que existe, dançavam


sua macabra e violenta valsa de destruição derrubando, sem
misericórdia, aqueles que, como pequenos animais desesperados,
tentavam fugir de suas garras. Seu bafo sufocante envolvia as pobres
almas que já não tinham mais forças para lutar. Oh, as mães, pobres
mães, com as lagrimas sendo ressecadas pelo calor, viam seus filhos
caírem como restos de carne queimada num banquete do inferno.
As pedras que antes faziam parte da mais bela criação de todo o
reino, agora estavam pretas como a noite, caídas e amontoadas no
chão. Até as pedras as chamas levavam, mostrando não haver
inimigo a sua altura. Tudo queimava. Até o espírito da história que
pairou por séculos sobre a monumental edificação que agora nada
mais era do que um tocha do diabo."

O primeiro exemplo se encaixa num podcast sobre história. O segundo,


muito provavelmente não, sendo mais propício à literatura de ficção, ou um
podcast literário ou de fantasia. Isso nos mostra que devemos nos ater à
proposta de nosso podcast. Escrever de forma agressiva um podcast sobre
a paz não é bom, assim como escrever um roteiro inteiro de forma poética
num podcast mais puxado para a didática. Tudo bem você amar história
medieval e por isso decide falar sobre ela, mas se seu objetivo é um
podcast sobre história, não seja um cavaleiro medieval narrando a história,
e sim um historiador. Nada contra (e até recomendo) usar, às vezes, um
pouco mais de emoção ou até teatralidade para passar algo para o ouvinte,
mas nada exagerado como um podcast inteiro dessa forma.

É claro que, vez ou outra, dependendo do objetivo, essas “regras" podem e


devem ser quebradas, mas, deve-se saber exatamente o que está fazendo

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e com qual objetivo, ou você pode acabar destruindo seu roteiro e seu
podcast.

Escreva, portanto, seu roteiro, se guiando pelas seguintes regras:

✓ Sempre lembrar de “dar voz" ao que está escrevendo.

✓ Deixar espaço para pausas, caso necessárias.

✓ Estilizar a escrita de acordo com objetivo e tema do podcast.

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