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A atualidade da Revolução que o Congresso Nacional é, nas condições

atuais, um verdadeiro covil de ladrões, sem


Brasileira a menor autoridade moral para votar qual-
quer matéria de interesse público.
A sociedade brasileira vive uma verda- Michel Temer, o atual presidente, foi colo-
deira guerra de classes. Guerra declarada cado na linha de frente num compromisso
pela classe dominante, que bombardeia do PT/PMDB pela classe dominante para
diariamente o povo brasileiro sem encon- gerenciar a artilharia pesada dos financia-
trar grande resistência. Refém do projeto dores de campanhas, dos sonegadores de
conciliatório e desarmados ideologicamen- impostos, dos políticos e empresários in-
te, os setores populares encontram-se em vestigados pela Polícia Federal e dos ren-
completa desorientação e são incapazes tistas do sistema financeiro contra o povo.
de reagir e apontar qualquer saída ao povo A gravação das conversas entre Sérgio
brasileiro. O contra-ataque só se mostra Machado e Romero Jucá nos lembra que
possível mediante um acerto de contas a guerra contra a classe trabalhadora não
com o passado. pode prescindir de um pacto com o Supre-
Esta guerra de classes contra o povo come- mo Tribunal Federal. A suspeita morte de
çou entre 2014 e 2015, quando Dilma abriu Teori Zavaski enquanto viajava num jatinho
a primeira fase do “ajuste fiscal” e colocou com um empresário-réu no STF e a esco-
restrições de acesso ao abono salarial, se- lha de Alexandre de Moraes para a mais
guro-desemprego, seguro-defeso, pen- alta corte do país não deixam dúvidas de
são por morte e auxílio-doença, tudo isso que o poder judiciário está blindado à com
acompanhado do maior corte de gastos da a podridão da política brasileira. Muito me-
história do país, que paralisou a economia nos deve-se alimentar esperanças de que
e deu o gatilho para a escalada do desem- um grupelho de promotores do Ministério
prego. Em 2016, a artilharia de Michel Te- Público Federal possa realmente ser capaz
mer veio ainda mais reforçada, com o con- de “passar o país a limpo”.
gelamento de gastos sociais por 20 anos, O fato é que o sistema político brasileiro se
o fim do regime de previdência pública e a mostrou incapaz de renovar-se e de ofere-
virtual supressão das leis trabalhistas. Está cer respostas satisfatórias à crise atual. Es-
em curso a operação que desvia mais ainda gotou-se a capacidade de reorganizar um
a riqueza nacional diretamente para o bol- pacto de classes, aliado ao fato de que os
so dos capitalistas, proprietários dos car- três poderes estão atravessados pela cor-
téis da corrupção que comandam o país. rupção, e pelo aprofundamento do caráter
Combinados, o programa de Dilma/Temer de classe do Estado. As acusações de cor-
dos últimos 3 anos produziu colossal massa rupção estão bem documentadas na maio-
de miseráveis no Brasil. ria dos casos. Trata-se de uma crise termi-
O pretexto para realizar estes ataques aos nal deste sistema político. Como tal, não
trabalhadores é a crise. Nela cabem os passa de ingenuidade pensar que um novo
mais cândidos discursos republicanos e a processo eleitoral seja capaz de recuperar
preocupação com o futuro do país por par- automaticamente a legitimidade do siste-
te dos políticos profissionais. No entanto, ma diante das massas. A natureza especi-
sabemos que não há dois Congressos: os fica da crise atual exige um contra-ataque
deputados e senadores que votam siste- que deve ir além dos limites praticados pe-
maticamente o enforcamento da classe tra- las classes subalternas até o momento.
balhadora são os que mostraram suas vís- A gravidade do momento tampouco nos
ceras à população na fatídica votação do permite aceitar novas ilusões e oportunis-
processo de impedimento de Dilma Rous- mos. Preocupado em garantir cargos nas
seff. Trata-se de um parlamento corrupto e Mesas Diretoras, Lula flertou com o apoio a
na sua maioria absoluta identificada com os Rodrigo Maia e Eunício de Oliveira para as
ricos (latifundiários, banqueiros, industriais presidências da Câmara e do Senado. Suge-
e comerciantes). Enfim, um parlamento do- riu que se abandonasse o discurso contra o
minado pela classe dominante. Até mesmo golpe e, numa insuperável demonstração de
o sujeito mais distante da vida política sabe
sua vulgaridade política, deu conselhos ao rol das grandes nações desenvolvidas do
corrupto Michel Temer durante as visitas da mundo. Assim aguardamos desde sempre
comitiva presidencial após a morte de Ma- a concretização do surrado e idealista bor-
risa Letícia. O que era “Fora Temer” foi de- dão: “Brasil, o país do futuro”.
sautorizado por Lula e convertido em: “Me
Aos desavisados e irritantemente pacientes
chama, Temer”. Como parte integrante e
com o ritmo lento do desenvolvimento do
personagem central, metido até as vísceras
subdesenvolvimento brasileiro, um recado:
com um sistema político apodrecido, Lula
não há rigorosamente nada que assemelhe
jamais poderá representar a sua redenção.
o passado dos países de capitalismo avan-
O Brasil enfrenta uma encruzilhada em sua çado ao presente da periferia capitalista. Por
história. É uma batalha pela soberania na- consequência, não há como esperar que o
cional: permaneceremos controlados por presente destes países possa ser, sob estas
um pequeno grupo de interesses comple- as mesmas circunstâncias, o nosso futuro.
tamente alheios aos da maioria do povo?
Nesta encruzilhada histórica, a única saída
Com a crise, abriu-se um espaço para o ra-
é criarmos nosso próprio caminho. É urgen-
dicalismo de esquerda como há muito não
te rompermos com os modelos do passado
existia no Brasil: é chegada a hora de subs-
e abrirmos nós, brasileiros, um novo capítu-
tituir um sistema político falho e corrupto,
lo na história mundial. Caminho que passe
por um governo de compromisso e voca-
pelo que há de positivo na experiência uni-
ção revolucionários.
versal, certamente. Mas que, como expres-
As grandes nações do mundo nunca se são de maturidade política, saiba dizer não
furtaram a passar por processos revolucio- aos velhos esquemas de desenvolvimento
nários. Os países hoje avançados foram os importados de fora, que em nome de um
que tiveram coragem para incluir capítu- universalismo abstrato negam o caráter na-
los revolucionários em suas histórias, cujas cional das diversas revoluções da história
classes subalternas disputaram o protago- mundial.
nismo dos processos políticos nacionais.
Não podemos mais assumir postura me-
O Brasil não faz parte deste clube. Por aqui, ramente defensiva e nos tornarmos cati-
as grandes transformações sociais sempre vos da trincheira. É hora de sair e tomar a
ocorreram sob a bandeira da prudência e bandeira do inimigo. O rompimento com o
da conciliação. Foi assim para a Indepen- marasmo coletivo e o fim do hiato que se-
dência, mantendo a família real portugue- para o Brasil potencial do Brasil real passa,
sa no comando da nação; foi assim para a necessariamente, pela Revolução Brasileira.
abolição da escravatura, só libertando os
negros por completo quando já se havia
importado o número suficiente de euro- Dissipando ilusões
peus e já se havia garantido que os futuros
ex-escravos não teriam acesso à proprie- Os últimos 13 anos representaram enorme
dade; foi assim para sair da ditadura civil- retrocesso político e organizativo para a
-militar, com uma inaceitável lei de anistia maioria da população brasileira. O povo,
que equiparou torturadores e torturados na orientado por suas necessidades imedia-
hora do perdão. Transições levadas a cabo tas, embarcou na narrativa oficial de que os
pelo comedimento e o bom comportamen- ganhos reais no salário mínimo, a expansão
to para que sempre predominasse a velha do ensino superior (predominantemente
máxima: mudar algo, para que tudo perma- privado), as modestas taxas de crescimen-
neça como está. to do PIB e uma pretensa respeitabilidade
internacional teriam caráter permanente.
A recompensa pela cautela brasileira na Subitamente o Brasil se transformara num
hora de promover grandes transforma- “país de classe média”. Uma combinação
ções sociais nunca foi além de um misto de ideológica que inflou a autoestima do Brasil
simpatia e compaixão mundial. Por aqui, a e dos brasileiros permitindo a “paz social”
classe dominante sempre alimentou o mito que tanto encanta os capitalistas no país.
de que nosso exemplo de conduta cordial
e diplomática nos levaria, naturalmente, ao Os dados são tão impressionantes quanto
ilusórios. O estudo da Secretaria de Assun-
tos Estratégicos da Presidência da Repú- Isto aconteceu porque, durante os últimos
blica definiu como “nova classe média”, os 20 anos, o liberalismo brasileiro de esquer-
indivíduos com renda per capita entre R$ da e de direita aceitou, sem contestações,
291,00 e R$ 1.019,00. Portanto, não é de- a tese de que o sistema político é regido
mais dizer que nem mesmo Lula, Dilma ou pelo malfadado “presidencialismo de coa-
seus lacaios burocratas que formularam o lizão”. Em linhas gerais, os partidos da or-
novo conceito gostariam de pertencer à dem conformaram-se com a ideia de que a
nova classe média brasileira. Além do mais, política brasileira é inviável sem um amplo
não existe a menor possibilidade de uma acordo com base no congresso nacional,
nação se sustentar como país de classe pois a sociedade brasileira seria por demais
média com consumo de massas quando os “complexa” e “diversa”. A “tese” possui cla-
dados do Instituto de Pesquisa Econômi- ra função ideológica: é a melhor alternativa
ca Aplicada (IPEA) apontam que 80% da disponível para sabotar o presidencialismo
População Economicamente Ativa do país como regime político e justificar o pacto
ganha até 3 Salários Mínimos, o que tota- entre as classes dominantes.
liza pouco mais de R$ 2.800,00, enquanto
A Revolução Brasileira deve recuperar a for-
o salário mínimo necessário, calculado pelo
ça do presidencialismo real, sem coalizão.
DIEESE, deveria ser de aproximadamente
Não há que alimentar ilusões no parlamen-
R$ 4.000,00. Enfim, onde comanda a supe-
to e nas alianças que somente se justificam
rexploração é impossível qualquer vestígio
se realizadas com o povo. Um presidencia-
de cidadania!
lismo em que o poder da liderança convo-
Para além dos méritos de um governo com que as massas e de fato altere a correlação
o mínimo de sensibilidade social, o efeito de forças em favor das maiorias.
passageiro da elevação da renda da terra
vivida até 2013 foi resultado de um momen-
to excepcional do comércio internacional. Aprofundamento
Como é típico de países que não viveram
processos revolucionários, a expansão eco- da dependência
nômica não alterou a relação entre econo- Do ponto de vista econômico, os últimos
mia, Estado e classes sociais. Na verdade, anos significaram uma brutal regressão do
ocorreu o contrário: do ponto de vista polí- Brasil na divisão internacional do trabalho.
tico, os cargos estratégicos que Lula e Dil- O período devolveu o país ao fim da dé-
ma concederam a personagens como Edi- cada de 70 em termos de perfil do comér-
son Lobão, Eunício Oliveira, Geddel Vieira cio exterior, pois voltamos a exportar mais
Lima, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Gilberto bens primários do que manufaturados. A
Kassab, Helder Barbalho, Kátia Abreu, Mo- participação da indústria no PIB caiu para
reira Franco, José Sarney e Renan Calheiros o mesmo patamar da década de 40, perí-
só contribuíram para o reforço às velhas oli- odo do início da industrialização brasileira,
garquias regionais e ao caciquismo partidá- inferior a 10% . A burguesia industrial se
rio; do ponto de vista econômico, a expan- desnacionalizou e se converteu em mera
são baseada na renda da terra, comandada burguesia comercial parasitária: compra,
pela grande propriedade agroexportadora monta e revende produtos importados. Por
e o extrativismo mineral fez com que a área conta disso, as contas nacionais sangram,
ocupada pelo latifúndio no Brasil quase do- pois são drenados para o estrangeiro mais
brasse, avançando de 128 para 244 milhões de 45 bilhões de dólares todos os anos em
de hectares durante os governos petistas; fretes internacionais, remessas de lucros
do ponto de vista social, a participação dos para a sede das multinacionais, pagamen-
5% mais ricos no total da renda nacional tos de propriedade intelectual e aluguel de
sob a condução do Partido dos Trabalha- equipamentos não-nacionais .
dores avançou de 40 para 47% , ou seja, a
atenção às camadas populares só avançou Os investimentos no latifúndio foram tur-
na medida em que não foi preciso tocar binados, enquanto se manteve estagnada
num milímetro do prestígio social, na pro- a agricultura familiar. Quando a crise ca-
priedade e no poder dos ricos do país. pitalista reduziu a rentabilidade do capital
agrário, em 2012, prontamente se conse-
guiu a revisão do Código Florestal, fazendo A manutenção do rentismo exige compro-
com que a expansão da fronteira agrícola misso com a austeridade fiscal que deita raí-
pudesse compensar em volume produzido a zes sobre a Lei Complementar n. 101, chama-
queda nos preços internacionais. Só em 2015, da de “lei de responsabilidade fiscal”. Desde
já com as contas estranguladas pela crise fi- 2000, a lei estrangulou as contas dos esta-
nanceira do Estado, foram destinados nada dos e municípios e a população acompanhou
menos que 43 bilhões de reais em subven- um acelerado processo de sucateamento da
ções para o latifúndio. Não por outra razão, prestação de serviços de saúde, educação,
mesmo “contrariando seu partido”, mas em transporte e segurança cujo objetivo é a pri-
completa comunhão com sua classe de ori- vatização das empresas estatais do setor de
gem – o latifúndio – a senadora Kátia Abreu serviços que ainda restaram aos estados,
foi tão fervorosa na defesa de Dilma duran- exemplo do Barisul no Rio Grande do Sul ou
te o processo de impedimento. Assim, os la- Cedae no Rio de Janeiro.
tifundiários tinham o governo Lula/Dilma e
Em resumo, o PSDB criou o Plano Real e o
contavam também, comodamente, com o fu-
PT assumiu o poder introduzindo na lógica
turo governo Temer.
de acumulação de capital na periferia o aten-
O capital financeiro elevou as taxas de juros dimento da questão social. Mas o respeito à
a patamares estratosféricos, fazendo a festa austeridade fiscal permite apenas migalhas
das altas finanças que especula com os títu- para o atendimento das demandas sociais,
los da dívida pública. Acumulam riqueza com fato que pode ser observado quando o prin-
a permanente renegociação da dívida com cipal programa social do governo -o Bolsa Fa-
remuneração excepcional e assim se deleitam mília - consome meros 0,47% do PIB, enquan-
com a maior fonte de acumulação de capital to o custo da dívida leva quase 9% da renda
da burguesia doméstica. Nos últimos anos, os nacional anualmente para os banqueiros. Foi
valores pagos à rapinagem financeira foram neste contexto que o petismo representou
pelo menos dez vezes maiores do que o or- tão somente uma perversa modalidade de
çamento da saúde no Brasil. A força do ren- “digestão moral da pobreza” na qual os tra-
tismo explica o fato de o país manter a maior balhadores permaneceram submetidos à su-
taxa de juros do mundo desde 1994, início do perexploração da força de trabalho - garantia
Plano Real. de super-lucros à todas as frações do capital
- mas foram compensados com programas
sociais, que eternizam os pobres como mera
O fim do pacto e força de trabalho à inteira disposição da re-
produção ampliada do capital.
a dinâmica da crise
No terreno da consciência ingênua, cuja me-
Em 2013, as manifestações populares escan- lhor expressão é o comportamento e discurso
cararam a crise do sistema político brasileiro, do eleitorado petista, criou-se a esperança de
com generalizado repúdio aos partidos polí- que, renovada a confiança eleitoral em 2014,
ticos de qualquer agremiação. Aquela surpre- Dilma finalmente daria uma “virada à esquer-
endente manifestação de rebeldia represen- da” no segundo mandato. Aquela virada que
tou oportunidade para juntar o apelo popular a consciência ingênua esperava desde o go-
a reformas estruturantes que destravassem o verno Lula, mas que o líder do partido nunca
desenvolvimento econômico do país. No en- quis fazer, pois não estava disposto a arriscar
tanto, Dilma optou por lançar um pacto, jun- seu prestígio junto à classe dominante para
to a governadores e prefeitos das principais cumprir uma função esperada historicamen-
capitais do país, assentado sobre 5 pontos: a te pela militância. Como um portador crônico
manutenção do compromisso com a política de dislexia, sempre que desejava uma guina-
de corte de gastos, reforma política, saúde, da à esquerda, o petismo rumava mais e mais
educação e transporte. Com o primeiro – a à direita.
“responsabilidade fiscal” – a presidente ratifi-
cou que se manteria fiel aos pilares do projeto Como já era de se esperar, os cortes só fize-
econômico da classe dominante, aniquilando ram crescer a crise brasileira. Com a notícia
qualquer chance de êxito dos outros quatro. de que o Produto Interno Bruto havia caído
3,8% em 2015, a burguesia brasileira aper-
tou o gatilho e bradou: “vamos ao golpe”! A
gravidade da crise econômica não era mais trabalhadora para poder conduzir com maes-
compatível com o ritmo lento do PT em fa- tria o pacto de classes a favor da burguesia.
zer as reformas necessárias em favor da acu-
Após a eleição de Lula, rebaixaram sistemati-
mulação de capital. Dilma e o PT deixam o
camente o horizonte da política sindical. A ati-
governo não por suas virtudes na execução
vidade política dos sindicatos e movimentos
das “políticas de inclusão social”, mas preci-
sociais, que precisa ter um caráter eminente-
samente pelo esgotamento de sua capacida-
mente emancipatório, rompendo com a alie-
de de condução do projeto burguês do país,
nação do cotidiano capitalista, foi silenciosa-
pautado na modalidade de aliança de classes
mente transformada em defesa das políticas
com subalternização dos trabalhadores e au-
públicas do governo. Ou seja, a tão almejada
sência de protagonismo popular.
autonomia sindical, um dos fundamentos da
origem da CUT, foi substituída pelo sindicalis-
mo de Estado, pelo sindicalismo de resulta-
A que herança renunciamos? dos e por algo extremamente deletério para
A Revolução Brasileira renuncia à herança a classe: o sindicalismo empresarial atrelado
que abandonou a luta contra a dependência ao rentismo, onde dirigentes sindicais passa-
e o subdesenvolvimento. É preciso ter cons- ram a ser gestores de poderosos fundos de
ciência de que a busca pela efetiva soberania pensão, trazendo uma nova razão de funcio-
nacional jamais poderá ocorrer sob a ordem namento para os sindicatos, totalmente con-
burguesa, a despeito das virtudes de um e traditória às lutas dos trabalhadores.
outro governo. Os dois mandatos de Lula e, Os sindicatos ficaram cativos de suas pró-
depois, a eleição de Dilma nos deixam a lição prias ilusões. A Revolução Brasileira faz um
de que governos de composição de classe chamado aos dirigentes sindicais e sociais
orientados pela governabilidade e sem pers- ainda combativos, para que possamos jun-
pectiva de ruptura com a ordem burguesa tos restituir o papel do militante combativo
servem exclusivamente para acomodar os in- e transformador, liderança perante as bases,
teresses das classes dominantes com renova- refundando um movimento sindical e social
da e finita legitimidade. É preciso recuperar, poderoso, que possa ser um alicerce do avan-
portanto, a perspectiva da longa duração e ço e resistência na atual guerra de classes.
das lutas nacionalistas e revolucionárias.
Renunciamos à herança dos que não fizeram
O pacto de classes promovido pelos gover- a real batalha da comunicação. Os governos
nos do PT teve largo efeito sobre as direções petistas não só não encamparam a luta contra
do movimento sindical e social. Abandonou- os monopólios midiáticos como endossaram
-se o horizonte transformador radical, a luta a cobertura da imprensa dominante. Quando
pelo socialismo que embalou a origem da se viram desassistidos e na iminência da per-
CUT e do MST. Adotou-se a regressão políti- da do poder, “descobriram” que os grandes
ca dos diálogos sociais, as mesas tripartites, grupos de comunicação tinham descartado
as negociações coletivas sem conflito, enfim, a alternativa petista. Temos profunda clare-
a restrição da luta política da classe traba- za de que a cobertura midiática dominante
lhadora aos ditames restritos dos gabinetes, não guarda qualquer relação com as deman-
promovendo uma ruptura sem preceden- das populares, senão com a representação de
tes entre a classe e as burocracias sindicais. seus próprios interesses. Possui uma agenda
Aqueles sindicatos que surgiram combativos, política definida e, como classe dominan-
frutos da classe trabalhadora em luta, foram te que é, apresenta soluções profundamen-
pouco a pouco cedendo a radicalidade para te anti-povo. Cientes de que a corrupção é
a política de “defesa da governabilidade”. a regra do sistema político, mídia e sistema
Abandonaram a formação política e bloque- financeiro fabricam uma opinião pública dócil
aram internamente o marxismo, por determi- e compreensiva. No entanto, a narrativa fan-
nação das cúpulas dirigentes, muito antes da tasiosa já não produz o mesmo efeito.
eleição de Lula em 2002. Abraçaram a forma-
Também julgamos fundamental renunciar à
ção tecnicista dos seus quadros, rebaixando
herança que reduz o pensamento de esquer-
a vanguarda dirigente da classe trabalhadora
da à busca pela justiça social. Governos as-
a mera burocracia da estrutura sindical. Era
sentados sobre as políticas públicas como
uma clara estratégia de desarmar a classe
forma de correção das injustiças e desigual-
dades produzidas pelo capitalismo cometem renda da terra, o assalto ao estado com mão
o erro histórico de considerar a população cheia por meio da dívida pública e do endivi-
como objeto, e não como sujeito da políti- damento externo implicou na declaração de
ca. Sem o devido caráter emancipatório que guerra contra os trabalhadores por parte da
deve acompanhá-la, a busca pela justiça so- classe dominante. Toda e qualquer tentativa
cial, como tal, só alcançou horizontes limita- de “mediação” somente favorecerá a classe
dos nos países avançados e bastou a crise dominante e implicará necessariamente em
capitalista de 2008 para varrer as garantias e perdas materiais e do grau de consciência
acentuar a luta também no centro do sistema. para a classe trabalhadora. Neste contexto, a
Na periferia capitalista, é preciso mais do que esquerda brasileira está chamada à renovação
nunca perceber que tais elementos de justiça radical da práxis política e de seu programa.
social são absolutamente impraticáveis. Não
Neste contexto, o PSOL tem méritos indiscu-
há conciliação possível entre os detentores
tíveis, pois é partido que permite e, no limite,
dos meios de produção e os trabalhadores.
exige o exercício da crítica, além de espaço
O governo atuou, por algum tempo, conce-
de experimentação de uma nova práxis que
dendo benefícios às elites no atacado e con-
necessitamos produzir. No entanto, não se
cessões ao povo no varejo. Logo veio a crise
trata apenas de reconhecer o PSOL como
capitalista e deixou cristalina a natureza do
uma frente política, mas de lutar no seu in-
sistema: os interesses de patrões e empre-
terior para a afirmação plena do socialismo
gados são divergentes e inconciliáveis. Atue-
como horizonte de nossas lutas e compro-
mos, portanto, em consequência: é chegada
misso permanente da militância. Assim, ob-
a hora da Revolução Brasileira.
servamos que o PSOL poderá ser valioso ins-
trumento para a consolidação do Programa
da Revolução Brasileira e somaremos esfor-
Os desafios da esquerda e ços com milhares de outros militantes que já
nossa opção pelo PSOL trabalham arduamente nesta direção e com
este propósito.
A natureza da crise atual impõe exigências
que há muitas décadas não se apresentavam O PSOL está convocado pela situação históri-
para os trabalhadores e a esquerda brasilei- ca a enfrentar este enorme desafio. Também
ra. Não sofremos a maior crise da história do participam deste horizonte o PCB, o PSTU, o
país como indica a direita; a Revolução de 30 PCO e o PPL. A esquerda é chamada a unificar
e a deposição do governo nacional reformis- a luta de massas em função da ofensiva bur-
ta de João Goulart com a ditadura de 1964 guesa, mas sobretudo atualizar o programa da
foram resultados de crises muito mais pro- Revolução Brasileira sem o qual se tornará inútil
fundas e amplas. A primeira abriu as portas o “espirito crítico” de “organizações de esquer-
para o desenvolvimento do capitalismo e as da” que na prática reforçam a razão de esta-
instituições decisivas para o país. A segunda, do e limitam o avanço da consciência crítica e
interrompeu a mais profunda experiência re- socialista do trabalhadores. O horizonte da es-
formista de nossa história e exibiu os limites querda não pode ser o de limitado espirito crí-
do reformismo político. No entanto, a dife- tico do liberalismo ou ainda sua “ala esquerda”.
rença especifica da crise atual reside no fato Nos países centrais esta linha representou a
de que se trata de uma crise financeira do incorporação dos partidos socialistas à ló-
estado e não mero resultado da crise fiscal gica da social-democracia europeia e, nos
como pretendem ideologicamente os liberais países periféricos, sob condições de depen-
(de direita e esquerda). Em resumo, afirma- dência e subdesenvolvimento, não passa de
mos que entrou em crise o sistema político farsa cínica. Um auxiliar da dominação bur-
que sustentou a dominação burguesa até guesa cujas consequências observamos ago-
o momento, ou seja, o sistema petucano. É ra sob os escombros do fracasso histórico
uma crise em que os pactos e a política de da política petista. É preciso entender que
aliança possuem espaço reduzido para ga- não devemos aceitar a correlação de for-
nhar milhões de trabalhadores e as classes ças supostamente adversa como justifica-
médias empobrecidas. A desnacionalização tiva para perpetuar formas de organização
e redução da indústria, o caráter rentista do superadas historicamente.
desenvolvimento capitalista, a ampliação da
É tempo da Revolução Brasileira. É tempo de Decidimos assumir o PSOL para implementar
novo radicalismo político, que já se manifesta um debate necessário entre a tradição nacio-
de maneira plena na greve dos garis do Rio nalista tão vilipendiada pela direita em nosso
de Janeiro, nos metroviários em São Paulo, país e o marxismo, tão diminuído nas filas da
nos municipários de Florianópolis, nas ocupa- esquerda e no seio das classes subalternas.
ções das escolas em vários estados do país. É Decidimos assumir o PSOL para não permitir
tempo de nova práxis marcada pela discipli- a morte da cultura nacional diante da ofen-
na e exemplo dos militantes nos sindicatos, siva da indústria cultural metropolitana, es-
nas organizações estudantis, nas ocupações, pecialmente estadunidense. Reivindicamos
nas associações de bairros, etc. O Programa o caráter revolucionário que o nacionalismo
da Revolução Brasileira exige um novo perfil pode assumir na periferia capitalista como
de militância e renovado respeito pelo caráter parte indissolúvel da luta socialista, tal como
de massas de entidades dos trabalhadores. A demonstram as revoluções vitoriosas na his-
partidarização de sindicatos deve ceder es- tória mundial.
paço para a consciência crítica para além dos
partidos atuais, inclusive do próprio PSOL.

Convocamos a todos para se somarem às fileiras


de combate da Revolução Brasileira.

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