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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA _____ VARA

FEDERAL DA SECÇÃO DE VARGINHA/MG.

xxxxxxxxx, brasileira, solteira, advogada, inscrita na OAB nºxxxxx


e no C.P.F. sob o nº xxxxxx, RG nº xxxxxxx, residente na Rua xxxxxxxxxx, Bairro
Centro,xxxxxxxxxx, por sua advogada abaixo assinado vem a V. Excelência, com esteio
no art. 5º, LXIX da CF c/c art. 1º da Lei 12.016/09 impetrar MANDADO DE
SEGURANÇA com pedido de LIMINAR contra ato do SR. PRESIDENTE DO
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, com endereço no Setor
Bancário Norte - SBN - Quadra 02 - Bloco E - 14º andar, Brasília-DF, CEP 70.040-912,
pelo que passa a expor para no final requerer o que se segue:

1. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Inicialmente, afirma que não possui condições de arcar com custas processuais
sem prejuízo do sustento próprio bem como o de sua família, razão pela qual faz jus ao
benefício da gratuidade da justiça, nos termos da Lei 1.060/50.

2. DO CABIMENTO
A via Mandamental, segundo o disposto na Lei 12.016 de 2009 e na Constituição
Federal - Art. 5º, XXXV e LXIX, é o meio processual adequado sempre que houver
lesão ou ameaça de lesão ao direito líquido e certo. O alargamento da utilização do
Mandado de Segurança resulta da presteza do veículo processual, constituindo-se, hoje,
no único meio viável à pronta reparação de direito prejudicado ou ameaçado.
No caso em tela a lesão se deu com o ato administrativo exarado pelo Presidente
Substituto do INSS, o Sr. Benedito Adalberto Brunca, publicado em 05/04/2010, seção
2, página 27, no Diário Oficial da União, que de maneira desproporcional, desigual e
ilegal distribui as vagas para nova nomeação de excedentes, contrariando o direito
líquido e certo da Impetrante de ser nomeada. Ademais, o Sr, Benedito Adalberto
Brunca diminuiu, de maneira abusiva e ilegal, após um ano da homologação do certame,
o prazo de validade do concurso, contrariando, ainda, o direito liquido e certo do
requerente de ter um concurso de 2(dois) anos prorrogáveis por mais dois.
O Mandado se Segurança está previsto na CF de 1988, ainda mais se
observarmos também a mudança contida no inciso XXXV, do art. 5º, que expressamente
consagra a possibilidade de apreciação do Poder Judiciário de qualquer lesão ou ameaça
a direito. De conseguinte, encontra-se, já em nível constitucional, suporte para a
afirmação de que a ameaça a direito líquido e certo tem ampla proteção constitucional.
O art. 1º, § 3º, da Lei 12.016 de 2009 publicada no Diário Oficial da União de 10
de Agosto de 2009 (que disciplina o mandado de segurança individual e coletivo)
assegura o direito do Impetrante em pleitear mediante mandado de segurança individual
a anulação do ato administrativo ora impugnado, ao prescrever que:

Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger


direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou
habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder,
qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver
justo receio de sofrê-lo por parte de autoridade, seja de que
categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.

§ 3º Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias


pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de
segurança.

ATHOS GUSMÃO CARNEIRO, Ministro do Superior Tribunal de Justiça, ao


abordar o mandado de segurança em matéria administrativa é elucidativo:
A garantia constitucional do mandado de segurança de há muito
perdeu seu caráter de excepcionalidade, de "remédio heróico",
para incorporar-se atualmente no rol das ações de costumeira
utilização dos atos do Poder Público, em rito sumário e
permissivo de pronta definição dos direitos ou interesses cuja
violação for argüida. Não vejo motivo para seguir longos
caminhos se a estrada larga se apresenta, de logo, às partes e ao
judiciário, dando azo à prestação jurisdicional satisfativa, breve
e eficaz" (Revista de Jurisprudência do T.J. do RS, 118/232).

Atualmente a utilização do outrora denominado "remédio heróico" notadamente


em matéria administrativa, definida com perfeição pela moderna doutrina, tem sido
reconhecida por copiosa jurisprudência emanada dos Tribunais.
3. DA TEMPESTIVIDADE

Conforme prevê o art. 23, da Lei 12.016 de 2009:

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-


se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias contados da ciência,
pelo interessado, do ato impugnado.

Ora, o ato da autoridade impetrada impugnado no presente mandamus foi


publicado no Diário do Oficial da União – D.O.U, no dia 05/04/2010, seção 2, página
27, razão pela qual o prazo da utilização do presente remédio constitucional somente
deverá expirar no dia 03/08/2010.
Assim, interposto no dia de hoje, vê-se que o impetrante se manifestou dentro do
prazo legal.

4. HISTÓRICO PROCESSUAL

Em 2008 foi realizado pela CESPE concurso público para


preenchimento de vagas de Analista e Técnico do Seguro Social do Instituto Nacional
do Seguro Social – INSS, Autarquia Previdenciária Federal.

Inicialmente o edital da abertura do concurso ora mencionado,


previu em suas publicações datadas de 28/12/2007 e 31/12/2007, no item 12.14, que o
concurso possuía validade inicial de 01 (um) ano, contados a partir da data de
publicação da homologação do resultado final, podendo ser prorrogado, uma única vez,
por igual período.

Posteriormente, o Presidente do INSS naquela oportunidade, o Sr.


Marco Antônio de Oliveira, fez uma retificação no edital através de nova publicação,
disciplinando em 10/01/2008, no item 12.14 que o concurso passou a possuir validade
de 02 (dois) anos, contados a partir da data de publicação da homologação do resultado
final, podendo ser prorrogado, uma única vez, por igual período.

Vale salientar que o concurso foi devidamente homologado no


dia 06/05/08 com o prazo de validade de 02 anos, admitindo sua prorrogação por mais
02 (dois) anos, começando a contar a partir desta data a validade do certame, conforme
edital n.º 13 – INSS, publicado no DOU 78, de 24/04/2008, Seção 3, página 58.
O prazo de validade é contado da homologação do concurso.
Homologação é o ato administrativo mediante o qual a autoridade competente certifica
que o procedimento do concurso foi válida e regularmente concluído.

Todavia, para espanto geral, o presidente substituto do INSS, o Sr.


Benedito Adalberto Brunca, após a homologação do certame, publicou ato
administrativo em 24/04/2009, seção 3, página 92, no Diário Oficial da União,
modificando novamente o prazo inicial de validade do concurso, diminuindo sua
validade para 01 (um) ano prorrogável por igual período. Senão, vejamos:

“INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL EDITAL DE 23 DE ABRIL DE


2009 CONCURSO PÚBLICO O PRESIDENTE SUBSTITUTO DO INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, nos termos da Portaria MP n° 354, de 5 de
novembro de 2007, publicada no Diário Oficial da União - DOU, de 6 de novembro de
2007, retificada em 8 de novembro de 2007, que autoriza a realização de concurso
público para provimento dos cargos de Analista e Técnico do Seguro Social, da Carreira
do Seguro Social, de que trata o Edital n° 01, de 26 de dezembro de 2007, publicado no
DOU de 10 de janeiro de 2008, Seção 3, págs. 98 a 109, com homologação do resultado
final, objeto do Edital n° 13, de 23 de abril de 2008, publicado no DOU de 24 de abril
de 2008, torna pública as seguintes alterações:
1 - DA VALIDADE
1.1. Este concurso terá validade de um ano, contados a partir da data de publicação da
homologação do resultado final, podendo ser prorrogado, uma única vez, por igual
período.

2 - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS


2.1. Tendo em vista o que determina o § 1o do art. 1o do Decreto no 4.175, de 27 de
março de 2002, tornar sem efeito o disposto no item 12.14 do Edital no 01, de 26 de
dezembro de 2007, publicado no DOU de 10 de janeiro de 2008, Seção 3, pág. 101.
2.2. Prorrogar, pelo prazo de um ano, a contar de 24 de abril de 2009, a validade do
concurso público de que trata o Edital no 01, de 26 de dezembro de 2007.
BENEDITO ADALBERTO BRUNCA”
Em contato com a Diretoria de Recursos Humanos do INSS acerca
da publicação acima, obteve-se a seguinte resposta:

“Informamos que a retificação do prazo de validade do concurso público foi necessária


para adequação do Edital nº 01, de 26 de dezembro de 2007, ao disposto no Decreto nº
4.175, de 27 de março de 2002, bem como às normas expedidas pelo Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, em especial, à Portaria nº 450, de 06 de novembro
de 2002, publicada no DOU de 07 de novembro subseqüente.
O art. 1 do Decreto nº 4.175, estabelece que a validade dos concursos públicos poderá
ser de até um ano, prorrogável por igual período. Corrobora tal dispositivo o art. 12 da
Portaria nº 450, de 06 de novembro de 2002.
DIRETORIA DE RECURSOS HUMANOS
drh@previdencia.gov.br
Tel.: 61 3313-4991
01.700 - DRH/INSS
SBN QD.02 BL.E LT.15 SL.701
BRASÍLIA-DF - CEP. 70.040-912”

Após a referida informação, buscaram-se respostas junto ao


Ministério do Planejamento - MPGO, sendo informado pelo Sr. Nildo Luzio, o seguinte
acerca do assunto:

“Não há ilegalidade. A Constituição da República, em seu artigo 37, inciso III,


determina que os concursos públicos terão validade de até dois anos, prorrogável por
igual período, a critério da Administração.
Ocorre que o Presidente da República no uso das competências privativas que lhe
conferem o artigo 84 da CR determinou, pelo Decreto nº 4.175, de 2002, que no Poder
Executivo Federal os concursos podem ter validade de até um ano, prorrogável por igual
período, a critério da administração.
Portanto, ao fixar o prazo de validade do concurso público em dois anos prorrogável por
igual período, o INSS descumpriu o mandamento do decreto acima citado.
A questão foi trazida pelo INSS ao Ministério do Planejamento que em avaliação da
Consultoria Jurídica orientou que o INSS procedesse à retificação do edital, com a
justificativa de corrigir o erro do edital de concurso que fixou o prazo em discordância
ao Decreto nº 4.175, de 2002. A Administração Pública tem a obrigação de sanear
eventuais erros cometidos, justificando, desta forma, a retificação do edital.
Att. NILDO LUZIO”

Ocorre que não termina por aí a série de ilegalidades praticadas


pela autarquia impetrada. No dia 05 de abril do corrente ano houve nomeação de mais
1000 candidatos do concurso de 2008, o que corresponde a 50% do quantitativo inicial
de vagas, nos termos do art. 14 da Portaria 450/2002. Tais vagas deveriam ser
distribuídas proporcionalmente, o que aconteceu na maioria das localidades mas em
outras não, prejudicando, assim, o direito de nomeação do autor, conforme se
demonstrará.

Ante tais informações, não restou ao Impetrante outra opção para


coibir a arbitrariedade cometida pelo Presidente do INSS através do ato que reduziu,
após um ano de homologação do edital, o prazo de validade do concurso, bem como
diante da forma desproporcional, ilegal e desigual que ocorreu a nomeação dos
excedentes, senão impetrar o presente mandamus, com o objetivo de sanar tamanha
ilegalidade, tendo em vista que tal ato viola frontalmente princípios estabelecidos na
Constituição Federal, notadamente no que se refere ao princípio da segurança jurídica,
bem como o entendimento da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, conforme
será demonstrado pelos argumentos de fato e de direito expostos nos tópicos
subseqüentes.

5. DO DIREITO

5.1- DA CORRETA INTERPRETAÇÃO DAS ESPECIFICIDADES


DO DECRETO Nº 4.175, DE 2002 E DA PORTARIA 450, DE
2002.

O INSS alega que o prazo do concurso teve que ser retificado


considerando o art. 1º do Decreto 4.175, de 2002 c/c art. 12 da Portaria 450, de 2002. O
MPOG alega que o INSS teve que proceder tal retificação pois o prazo de 2 anos estaria
em discordância ao Decreto 4.175.

Ambas as interpretações estão eivadas de clara má-fé. Ainda que se


considere o entendimento de que o Decreto 4.175 não contraria o disposto no art. 37, III
da Carta Maior, ou seja, de que o Decreto apenas restrinja o tamanho do prazo, o que
trazemos à baila apenas para argumentar, a tese do MPOG e INSS de que o prazo
máximo deve se ater a 01 ano não merece prosperar.

Vejamos os referidos artigos:

" Decreto 4.175, de 2002


Art.1º A seleção de candidatos para o ingresso no serviço público federal ocorrerá de
modo a permitir a renovação contínua do quadro de pessoal, observada a
disponibilidade orçamentária.
§1º A validade dos concursos públicos poderá ser de até um ano, prorrogável por igual
período.
§2º O disposto no § 1º poderá aplicar-se aos concursos vigentes, a critério do Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão, desde que os respectivos editais não estabeleçam
prazo mais longo."

“Portaria 450, de 06.11.2002


Art. 11. No caso de concursos públicos realizados em duas etapas, a segunda será
constituída de curso ou programa de formação, de caráter eliminatório, podendo, desde
que previsto nos instrumentos reguladores do concurso, ser, também, classificatória.
§1º A classificação poderá ser feita separadamente por etapas ou pela soma dos pontos
obtidos nas duas etapas do concurso.
Art. 12. A validade dos concursos públicos poderá ser de até um ano, prorrogável por
igual período, contada a partir da data de publicação da homologação do concurso ou da
homologação da primeira turma, no caso de certames organizados em duas etapas,
conforme dispõe o art. 11.”

Importante salientar que, no art. 1º, § 2º, do Decreto 4.175/02


supracitado consta uma ressalva em relação ao prazo máximo que ficou estabelecido no
art. 1º, § 1º, vez que menciona que não se aplica o prazo de 01 (um) ano prorrogável por
mais 01 (um) quando o edital do concurso tenha fixado prazo maior. No caso em tela, o
concurso foi homologado no dia 06/05/08 com o prazo de validade de 02 anos,
admitindo sua prorrogação por mais 02 (dois) anos, conforme edital n.º 13 – INSS,
publicado no DOU 78, de 24/04/2008, Seção 3, página 58 (doc.03).

De sorte que não há que se falar em violação ao Decreto


4.175/02, já que o próprio §2º, do art. 1º faz a ressalva de que o prazo de 01 (um) ano só
deverá ser aplicado quando o edital não houver estabelecido prazo mais longo, o que se
deu no concurso do INSS de 2008.

Assim, não há respaldo legal que justifique a alteração do prazo do


concurso do INSS de 2008 para se adequar ao prazo estabelecido no art. 1º, §1º, do
Decreto 4.175/02, vez que o edital está amparado pela ressalva contida no §2º deste
mesmo dispositivo legal, que, diga-se de passagem, foi totalmente ignorada pela
autoridade coatora.

Ora, o concurso do INSS de 2008 foi homologado no dia 24/04/08


com o prazo de validade de 02 anos, prorrogável por mais 02 (dois) anos, o que gerou
um ato jurídico perfeito, não havendo que se falar em possibilidade de alteração
posterior do edital do certame, notadamente quando tal alteração tem o escopo de
reduzir arbitrariamente o prazo de validade do concurso, vez que não tem amparo legal
contrariando o próprio Decreto que fundamentou a referida modificação.

Deste modo, resta claro que o ato da autoridade coatora publicado


no Diário Oficial da União no dia 24/04/2009, seção 3, página 92, deve ser considerado
nulo de pleno direito, uma vez que violou frontalmente o dispositivo constitucional da
segurança jurídica previsto no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal de 1988.

“Art. 5º [...]

XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico


perfeito e a coisa julgada”.

Vale salientar que tanto o inciso III, do art. 37, da Constituição


Federal, de 1988 quanto o art. 12, da Lei 8.112/1990 (responsável pelo regime jurídico
dos servidores públicos federais) garantem a possibilidade da Administração Pública
Federal estabelecer um prazo de validade de concursos públicos de até dois anos,
prorrogável por igual período.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Art. 37 [...]

III- o prazo de validade do concurso público será de até dois


anos, prorrogável uma vez por igual período.

LEI 8.122/1990

Art. 12. O concurso público terá validade de até 2 (dois) anos,


podendo ser prorrogado uma única vez por igual período.

Por outro lado, em relação ao que prescreve a Portaria 450 de 2002,


cumpre observar que o prazo de 01 (um) ano previsto no art. 12 c/c art. 11 do
mencionado dispositivo legal, somente é aplicável a concursos realizados
exclusivamente em duas etapas, constituída de curso ou programa de formação, de
caráter eliminatório e/ou classificatório, ponto este que não foi objeto do concurso de
analista e técnico do seguro social, vez que houve apenas uma etapa de conhecimentos
objetivos. Tal especificidade também foi completamente ignorada pelo Presidente do
INSS, de maneira que, conforme demonstrado, não há que se falar em aplicação do art.
12 da Portaria 450, de 2002, no caso em tela.
Assim, pode-se concluir que o prazo inicial de 02 (dois) anos, prorrogável por
mais 02 (dois), informado no DOU 7, de 10/01/2008, Seção 3, página 216, não contraria
nem Decreto 4.175, de 2002, tampouco a Portaria 450, de 2002, estando em total
consonância com o que preceitua a Constituição Federal e a Lei 8.112/1990, não
havendo, portanto, qualquer tipo de amparo legal que justifique o motivo do ato
administrativo que diminuiu arbitrariamente o prazo de validade do concurso.

De sorte que, em verdade, houve um vício em relação ao motivo


que determinou a realização do ato administrativo ora impugnado. Deve-se aplicar, no
caso em tela, a teoria dos motivos determinantes, desenvolvida no Direito Francês, a
mencionada teoria baseia-se no princípio de que o motivo do ato administrativo deve
sempre guardar compatibilidade com a situação de fato que gerou a manifestação da
vontade. Conseqüentemente, se o motivo se conceitua como a própria situação de fato
que impede a vontade do administrador, a inexistência dessa situação provoca a
invalidação do ato.
Acertada, pois a lição do nobre doutrinador Hely Lopes Meirelles,
segundo o qual: “tais motivos é que determinam e justificam a realização do ato, e, por
isso mesmo, deve haver perfeita correspondência entre eles e a realidade”.
(CARVALHO FILHO, 2005 p. 101 apud MEIRELLES, p. 181).

Ainda sobre a aplicabilidade da teoria dos motivos determinantes,


mister se faz citar os ensinamentos do ilustre doutrinador José dos Santos Carvalho
Filho:

A aplicação mais importante desse princípio incide sobre os


discricionários, exatamente aqueles em que se permite ao agente
maior liberdade de aferição da conduta. Mesmo que um ato
administrativo seja discricionário, não exigindo portanto,
expressa motivação esta, se existir passa a vincular o agente aos
termos em que foi mencionada. Se o interessado comprovar que
inexiste a realidade fática mencionada no ato como determinante
da vontade, estará ele irremediavelmente inquinado de vício de
legalidade. (CARVALHO FILHO, 2005, pág. 101)

Ante os argumentos expostos, pode-se extrair que a validade do ato


se vincula aos motivos indicados como seu fundamento, de tal modo que, se
inexistentes ou falsos, implicam a sua nulidade.

Conforme demonstrado, o motivo que determinou a realização do


ato do Presidente do INSS não existiu, uma vez que os dispositivos do Decreto 4.175/02
e da Portaria 450/02 que fundamentou a diminuição do prazo de validade do concurso
não tem aplicação no caso concreto, de modo que, resta claro que o ato administrativo
ora impugnado é nulo de pleno direito. E ainda, caso seja a alegação da entidade coatora
o entendimento de Vossa Excelência, não há como se olvidar que o disposto nesses atos
normativos secundários tenham supremacia sobre o que dispõe a Carta Magna, bem
como a lei 8.112/90 que prevêem que o prazo do concurso pode sim ser de 2(dois) anos.

5.2 – DA IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO EDITAL


DEPOIS DA HOMOLOGAÇÃO DO CERTAME.

Em termos objetivos, eventuais alterações editalícias - sob pena de


afronta à segurança jurídica e ao princípio da legalidade – somente podem ser realizadas
para eventuais readequações à legislação existente e antes da homologação do concurso.
O entendimento acima é cristalino e pacífico no Supremo Tribunal
Federal, conforme se demonstra:

“ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONCURSO.


ALTERAÇÃO DO EDITAL. 1. Enquanto não concluído e
homologado o concurso público, pode a Administração alterar as
condições do certame constantes do respectivo edital, para
adaptá-las à nova legislação aplicável à espécie. Antes do
provimento do cargo, o candidato tem mera expectativa de
direito à nomeação. Precedentes. 2. Recurso provido. ( RE
318106/RN, relatora Min. Ellen Gracie, julgado em 18 de
outubro de 2005)”.

“CONSTITUCIONAL. CONCURSO PÚBLICO. CURSO DE


FORMAÇÃO DE SOLDADOS DA POLÍCIA MILITAR DO
ESTADO DE MINAS GERAIS. LEI COMPLEMENTAR
ESTADUAL Nº 50/98, QUE, APÓS A CONCLUSÃO DA
PRIMEIRA ETAPA, PASSOU A EXIGIR ESCOLARIDADE
DE NÍVEL SECUNDÁRIO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL,
ART. 5º, INCISO XXXVI. DIREITO ADQUIRIDO
INEXISTENTE. Em face do princípio da legalidade, pode a
Administração Pública, enquanto não concluído e homologado o
concurso público, alterar as condições do certame constantes do
respectivo edital, para adaptá-las à nova legislação aplicável à
espécie, visto que, antes do provimento do cargo, o candidato
tem mera expectativa de direito à nomeação ou, se for o caso, à
participação na segunda etapa do processo seletivo. ( RE
290346/MG, relator Min. Ilmar Galvão, julgado em 29 de junho
de 2001)”.

Dessa forma, interpretando-se a contrário sensu, resta claro que a


administração pública somente tem o poder de retificar o prazo de validade do presente
concurso até a data de homologação, que ocorreu em 06.05.2008. Pode-se inferir que,
de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal após a homologação do
concurso não é licito a administração modificar as regras anteriormente explicitadas sob
pena de violar o princípio da segurança jurídica e do ato jurídico perfeito, ainda mais
lastreada em argumentos insubsistentes e desconformes com o melhor entendimento
jurídico, como foi verificado no caso em tela.

Ainda no que concerne ao princípio da vinculação do concurso ao


que foi estipulado no edital, pela relevância da matéria e dada a correlação com o caso
em tela, mister se faz trazer a baila decisão recente do Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do Recurso Extraordinário (RE) nº 480129, datada de
30/06/2009, posicionando-se no sentido de que o edital obriga não só os candidatos
como também a Administração Pública. Esse foi o entendimento reiterado pelos
ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que deram
provimento, por unanimidade ao Recurso Extraordinário (RE) 480129, interposto por
Shirley Ruth Vicente Neves contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

O edital obriga candidatos e administração pública – afirmou. (RE


480129, relator Min. Marco Aurélio, julgado em 30 de junho de 2009).

De acordo com o ministro Marco Aurélio, o Tribunal Regional


Federal da 1ª Região entendeu que a portaria contraria o parágrafo 1º, do artigo 12, da
Lei 8112/90. Segundo este dispositivo, o prazo de validade do concurso e as condições
de sua realização serão fixados em edital que será publicado no Diário Oficial União e
em jornal diário de grande circulação.

“Simplesmente brincou-se com a cidadã”, disse o relator,


comentando que a autora fez o concurso ao acreditar na Administração Pública. “A
confiança dos cidadãos em geral na Administração Pública está em jogo. No dia em que
nós, cidadãos, não acreditarmos mais na Administração Pública teremos que fechar para
balanço, finalizou o Ministro Marco Aurélio. (RE 480129, relator Min. Marco Aurélio,
julgado em 30 de junho de 2009)

A Turma acompanhou, por unanimidade, o voto do relator pelo


provimento do recurso. “O edital, dizia o Hely Lopes Meirelles, é a lei interna da
licitação e dos contratos que é uma forma de competição”, disse a ministra Cármen
Lúcia Antunes Rocha. A eminente Ministra ressaltou que ao mesmo tempo em que a
Administração estabelece regras, como por exemplo, a pontualidade para a realização
das provas sob pena de eliminação do concurso, deve cumprir o que o edital dispõe.

“O candidato tem que ser sério, responsável e compenetrado nas


regras a serem cumpridas e a Administração pode ser leviana? Pode ela não cumprir?
Pode ela alterar regras não em benefício do interesse em público, mas contra?”, indagou
a Ministra Cármen Lúcia Antunes. (RE 480129, relator Min. Marco Aurélio, julgado em
30 de junho de 2009)

Nesta decisão, o ministro Carlos Ayres Britto afirmou que: “o edital


- norma regente interna da competição -, uma vez publicado, gera expectativas nos
administrados que hão de ser honradas pela Administração Pública. Ela também está
vinculada aos termos do edital que publicou”. (RE 480129, relator Min. Marco Aurélio,
julgado em 30 de junho de 2009)

Segue abaixo a transcrição do Informativo 553 do STF de 2009 que


fez menção a supracitada decisão.

“INFORMATIVO Nº 553
TÍTULO
Concurso Público: Vinculação ao Edital e Ingresso na Carreira
PROCESSO
RE-480129

ARTIGO
O edital relativo a concurso público obriga não só a candidatos
como também a Administração Pública. Com base nesse
entendimento, a Turma proveu recurso extraordinário para
reconhecer, com as conseqüências próprias, o direito da
recorrente à nomeação no cargo em que aprovada, observados
classe e padrão descritos no edital do certame. Na espécie, o
edital do concurso público previra que o ingresso no cargo de
Técnico em Arquivo dar-se-ia na Classe “D”, Padrão “IV”.
Entretanto, a recorrente fora nomeada para o padrão inicial da
carreira, em virtude de portaria editada pelo Secretário de
Recursos Humanos da Secretaria da Administração Federal da
Presidência da República, a qual determinara que os
provimentos em cargo público seriam feitos na inicial da classe
e padrão de cada nível. Ressaltou-se, de início, que o edital fora
publicado em data anterior a esse ato administrativo. Em
seguida, aduziu-se que deveria ser adotado enfoque que não
afastasse a confiança do cidadão na Administração Pública e que
a glosa seria possível caso houvesse discrepância entre as regras
do concurso constantes do edital e a nomeação verificada ou
descompasso entre o que versado no edital e a lei de regência.
Nesse ponto, registrou-se que a restrição contra a qual se
insurgira a recorrente estaria fundada em portaria considerada
discrepante, pelo tribunal a quo, do art. 12, § 1º, da Lei 8.112/90
(“§ 1º O prazo de validade do concurso e as condições de sua
realização serão fixados em edital, que será publicado no Diário
Oficial da União e em jornal diário de grande circulação.”).
Concluiu-se que a alteração ocorrida, olvidando-se a previsão do
edital de estar o concurso voltado ao preenchimento de cargo no
padrão IV e não no padrão I, conflitaria com a disciplina
constitucional a direcionar a observância dos parâmetros
firmados, desde que estes atendam aos requisitos estabelecidos
em lei. Determinou-se, ainda, a satisfação das diferenças
vencidas e vincendas, que deverão ser atualizadas, com
incidência de juros. RE 480129/DF, rel. Min. Marco Aurélio,
30.6.2009. (RE-480129)”.

Conforme dito anteriormente, esta decisão recente do Supremo


Tribunal Federal tem estreita correlação com o tema ora apresentado, e só vem a
corroborar com os argumentos aqui dispostos. O posicionamento atual do Supremo
Tribunal Federal pacificou totalmente qualquer dúvida que ainda pairasse sobre a
matéria, vez que consolidou o entendimento no sentido da necessária obediência aos
ditames previstos no edital do concurso público, tanto pelos candidatos, como também
pela Administração Pública.

De sorte que, de acordo com o entendimento atual da Corte


Suprema, não se pode admitir que a Administração Pública mediante ato administrativo
posterior venha modificar as normas dispostas no edital de concurso público já
devidamente homologado. O Ato Administrativo não pode atingir o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, em conformidade com o que reza o art. 5º,
XXXVI, da Constituição Federal de 1988.

Ora, o ato exarado pelo Presidente Substituto do INSS, o Sr.


Benedito Adalberto Brunca, publicado em 24/04/2009, seção 3, página 92, no Diário
Oficial da União, diminuiu o prazo de validade do concurso após a homologação do
edital, o que, por si só, contraria o posicionamento do STF, em total desrespeito ao
princípio da vinculação objetiva do concurso as normas previstas no edital de
convocação, ao princípio da segurança jurídica e ao princípio da razoabilidade.

Posto isso, como medida da mais lídima JUSTIÇA, é


imperioso que este MM. Juízo promova a anulação do ato administrativo exarado pelo
Presidente Substituto do INSS, o Sr. Benedito Adalberto Brunca, publicado em
24/04/2009, seção 3, página 92, no Diário Oficial da União, que de maneira abusiva e
ilegal diminuiu, após a homologação do certame, o prazo de validade do concurso,
contrariando o direito líquido e certo do Impetrante de ser nomeado no prazo de
validade de 02 (dois) anos prorrogável por igual período, conforme previsão do item
12.14 do Edital n. 01, sendo certo que as nulidades podem ser argüidas a qualquer
tempo.
5.3- DA NECESSIDADE DA PRORROGAÇÃO DO PRAZO DO
CONCURSO

O Instituto Nacional do Seguro Social – INSS vive um momento de


caos institucional, os servidores da mencionada Autarquia Federal realizaram greve
nacional do período do dia 16/06/2009 ao dia 16/07/2009, reivindicando melhores
condições de trabalho e a contratação imediata dos 2.000 excedentes aprovados no
concurso de Analista e Técnico do Seguro Social realizado em 2008. A necessidade de
contratação de novos servidores é imensa, formam-se longas filas de atendimento para a
população, sem contar que em virtude da baixa remuneração paga aos seus servidores
do INSS comparado com os demais órgãos do Poder Executivo, o número de pedidos de
exoneração é muito grande.

Outro fator importante a ser levado em consideração é o grande


número de servidores que estão se aposentando e que estão prestes a se aposentar. De
acordo com o vice-presidente da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e
da Seguridade Social (Anasps), Alexandre Barreto Lisboa nos dois próximos anos, mais
de dez mil funcionários vão se aposentar e 729 agências serão inauguradas, em todo o
país, o que demanda a necessidade de contratação de pessoal.

“Se for pensar nacionalmente, quase mil servidores devido a


aposentadorias, desligamentos e óbitos. É um número muito alto, por isso a necessidade
de reposição é muito grande”, relatou Alexandre Lisboa.

Como dito, no tópico referente ao histórico processual, a autarquia


nomeou 1000 dos candidatos classificados no concurso de Analista e Técnico do Seguro
Social do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Definitivamente esse número não
consegue suprir a carência de servidores do INSS em todo o Brasil, vez que durante o
período da realização do concurso até a presente data houve uma série de desistências,
óbitos, aposentadorias, sem contar com a criação de novas 729 agências que serão
inauguradas nos próximos 02 (dois) anos (atualmente o INSS conta com cerca de 1.110
Agências espalhadas em todo o país).

No dia 06/07/2009, foi divulgado pela Assessoria de Imprensa do


Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a um site especializado em concursos
públicos (FOLHA DIRIGIDA) a solicitação do INSS junto ao Ministério do
Planejamento de 3 mil novas vagas a serem preenchidas por um novo concurso público,
sendo mil para perito-médico e as outras 2 mil divididas entre Técnico e Analista do
Seguro Social, demonstrando a clara intenção do INSS de não aproveitar o restante dos
candidatos habilitados no concurso de 2008.

Ora, mesmo com a autorização do Ministério do Planejamento para


nomeação de mais 1000(mil) candidatos aprovados no concurso de 2008 para Analista e
Técnico do Seguro Social, ainda restaram um contingente de cerca de 1000 candidatos
habilitados, que tiveram seus nomes homologados e publicados no Diário Oficial da
União por estarem no dobro do número de vagas ofertadas pelo certame, como foi o
caso da ora Impetrante, bem como outros milhares de candidatos classificados, que
foram também homologados recentemente em 31 de março de 2010, que serão
severamente prejudicados pela realização de outro concurso.

Ademais , o § 2º, do art. 12, da Lei 8112/1990, que dispõe sobre o


regime jurídico dos servidores públicos federais, é claro ao dispor que:

“Art. 12. O concurso público terá validade de até 2 (dois) anos,


podendo ser prorrogado uma única vez por igual período.

§2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato


aprovado em concurso anterior com prazo de validade não
expirado.”

De outro modo, o inciso IV, art. 37 da Constituição Federal de 1988


reza que:

Art. 37 [...]

IV. durante o prazo improrrogável previsto no edital de


convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou
de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos
concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira.

Assim, caso haja autorização pelo Ministério do Planejamento ou


por qualquer outro meio haja previsão de vaga mediante concurso público para o cargo
de Técnico do Seguro Social, enquanto estiver válido o prazo de validade do certame
(02 anos prorrogável por igual período), não restam dúvidas de que é direito líquido e
certo do Impetrante ser nomeado com prioridade sobre novos concursados, consoante
art. 37, IV, da Constituição Federal de 1988.

Ademais, além de ser ilegal a realização de um novo concurso


público na presente ocasião, mister se faz esclarecer que não há necessidade de um novo
concurso com tantos candidatos habilitados aguardando a nomeação em diversas
localidades em todo o Brasil, como é o caso da Impetrante classificada em 5º lugar para
o cargo de Técnico da Seguridade Social na Agência de Previdência Social de Alfenas,
Gerência de Varginha/MG.

Caso o INSS necessite de servidores em outras localidades não


contempladas pelo concurso de 2008 para atender as demandas do Plano de Expansão –
PEX (criação de 729 novas agências), a medida mais adequada seria promover o
remanejamento dos servidores de outras localidades e não a realização de um novo
certame para suprir essa carência, o que só iria gerar mais despesas desnecessárias aos
cofres públicos.

Nota-se ainda que, é pacífico na jurisprudência o entendimento da


possibilidade do judiciário decidir sobre a prorrogação da validade do concurso, sem
que isso implique invasão da margem de liberdade conferida à Administração, sob o
argumento de que conforme o art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, o Estado
Democrático de Direito não tolera a prática de atos abusivos e arbitrários, infensos ao
controle judicial.

É natural dos regimes democráticos, uma nova perspectiva de


Estado, sociedade e cidadania, voltada à harmonização e equilíbrio das relações, onde
Administração e administrados devem se comprometer com o interesse público.

José Sérgio da Silva Cristovam, em artigo publicado no site


jusnavigandi (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7258) assevera que:

“A atuação estatal, além da imprescindível satisfação à


finalidade legal, deve, materialmente, guardar consonância com
os ditames constitucionais, não sendo bastante a conformidade à
lei, mas, sobretudo, a adequação ao Direito. O parâmetro
positivista da legalidade carece de um alargamento, sobretudo
com a consolidação do modelo pós-positivista e a noção de
juridicidade.
Desta forma, a discricionariedade administrativa não prescinde
da estreita adequação ao princípio constitucional da juridicidade,
sendo que a simples adequação do ato à lei não é o bastante, já
que esta é apenas uma das fontes de Direito. A atividade
administrativa discricionária deve, por conseguinte, mostrar-se
de acordo com o princípio da legalidade material, guardando
conformidade às máximas da razoabilidade e da
proporcionalidade. Se inadequado, desarrazoado ou
desproporcional o ato discricionário, necessária será sua
invalidação quando do controle jurisdicional.

E diz mais:

“Tanto a oportunidade como a eqüidade são mandamentos que


devem inspirar a autoridade administrativa na obtenção dos
meios mais idôneos à solução da situação prevista pela norma,
na decisão pelo ato que melhor respeite os interesses da
Administração e dos administrados. Se o ato não for oportuno e
eqüitativo, a discricionariedade administrativa restará viciada
em suas questões de mérito.”

Além do mais, a jurisprudência pátria tem se posicionado no


sentido da obrigatoriedade de prorrogação do prazo de validade do concurso, quando
existem candidatos aprovados aguardando convocação, tendo em vista que a não-
prorrogação do prazo de validade de concurso público nesta hipótese viola frontalmente
o princípio da razoabilidade, sendo impositiva e irrecusável a obrigação de realizar, em
respeito ao interesse público e aos princípios constitucionais aplicáveis (CF, art. 37), a
contratação dos trabalhadores aprovados no processo democrático de seleção realizado.
Podemos citar o voto do Ministro Marco Aurélio no julgamento do RE n° 192568-0-PI
como se segue:

CONCURSO PÚBLICO - EDITAL - PARÂMETROS -


OBSERVAÇÃO.
As cláusulas constantes do edital de concurso obrigam
candidatos e Administração Pública. Na feliz dicção de Hely
Lopes Meirelles, o edital é lei interna da concorrência.
CONCURSO PÚBLICO - VAGAS - NOMEAÇÃO. O princípio
da razoabilidade é conducente a presumir-se, como objeto do
concurso, o preenchimento das vagas existentes. Exsurge
configurador de desvio de poder, ato da Administração Pública
que implique nomeação parcial de candidatos, indeferimento da
prorrogação do prazo do concurso sem justificativa socialmente
aceitável e publicação de novo edital com idêntica finalidade.
"Como o inciso IV (do artigo 37 da Constituição Federal)tem o
objetivo manifesto de resguardar precedências na seqüência dos
concursos, segue-se que a Administração não poderá, sem burlar
o dispositivo e sem incorrer em desvio de poder, deixar escoar
deliberadamente o período de validade de concurso anterior para
nomear os aprovados em certames subseqüentes. Fora isto
possível e o inciso IV tornar-se-ia letra morta, constituindo-se na
mais rúptil das garantias" (Celso Antonio Bandeira de Mello,
"Regime Constitucional dos Servidores da Administração Direta
e Indireta", página 56).

De sorte que, conforme defende a orientação da jurisprudência


atual, é impositiva e irrecusável a obrigação da contratação dos candidatos aprovados no
processo democrático de seleção do INSS de 2008, em detrimento dos candidatos
aprovados em um novo concurso, em respeito ao interesse público e aos princípios
constitucionais aplicáveis.

Neste sentido, também, segue abaixo ementa do Acórdão do


Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, proferida em 26/11/2008, na ação
intentada pelo Ministério Público do Trabalho em face do Banco do Brasil S.A. Senão,
vejamos:

Processo: 00727-2008-006-10-00-6-RO
Acórdão do(a) Exmo(a) Desembargador(a) Federal do Trabalho DOUGLAS
ALENCAR RODRIGUES

“Processo: 00727-2008-006-10-00-6-RO
Acórdão do(a) Exmo(a) Desembargador(a) Federal do Trabalho
DOUGLAS ALENCAR RODRIGUES
Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ENTIDADE VINCULADA
À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA.
PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE VALIDADE DE
CONCURSO PÚBLICO. PREVISÃO EM EDITAL. DECISÃO
NEGATIVA. ATO DISCRICIONÁRIO. MOTIVAÇÃO
EXPOSTA AO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO.
POSSIBILIDADE DE SUBMISSÃO AO CONTROLE
JUDICIAL. I - Embora a prorrogação do prazo de validade de
concurso público encerre ato discricionário do Administrador,
vinculado a juízos próprios de conveniência e oportunidade, a
indicação das razões que justificam a conduta viabiliza e
legitima a sua submissão à sindicância judicial -- à luz das
teorias do desvio de poder e dos motivos determinantes –-, sem
que isso implique invasão da margem de liberdade conferida à
Administração. Precedentes do STF. II - No Estado Democrático
de Direito, não se tolera a prática de atos abusivos e arbitrários,
infensos ao controle judicial (CF, art. 5º, XXXV). Assim, se os
motivos apresentados para justificar a decisão de não-
prorrogação do prazo de validade de concurso público
ressentem-se da ausência de razoabilidade, se há candidatos
aprovados aguardando convocação e se está demonstrada a
necessidade de contratação imediata de empregados pelo ente
público envolvido, será impositiva e irrecusável a obrigação de
processar, em respeito ao interesse público e aos princípios
constitucionais aplicáveis (CF, art. 37), a contratação dos
trabalhadores aprovados no processo democrático de seleção
realizado. Recurso conhecido e provido.”

Assim, amparado no que preceitua os dispositivos constitucionais e


a jurisprudência pátria, bem como a real necessidade da convocação de mais servidores,
nota-se claramente a impossibilidade da realização de um novo concurso enquanto não
forem sanadas as referidas irregularidades, devendo o INSS ser compelido a
prorrogar o prazo do concurso por mais 02 anos, afim de que sejam aproveitados
os candidatos já habilitados no certame, prezando pelo respeito aos princípios da
eficiência, economicidade e razoabilidade que devem nortear os concursos
públicos.

Nesse sentido foi impetrado um mandado de segurança que foi concedia


liminar do qual no atual momento ainda encontra-se em discussão.

O juiz federal da 20ª Vara do DF, Alexandre Vidigal de Oliveira, deferiu


liminar para suspender a eficácia do edital de 23 de abril de 2009, publicado em 24 de
abril de 2009, que reduzia a um ano o prazo de validade do concurso para provimento
dos cargos de analista e técnico do INSS, mantendo-se vigente o Edital nº 1, de
26/12/2007, publicado em 10 de janeiro de 2008, que regeu o certame já homologado.

O magistrado, ao decidir, apresenta manifestação do Supremo Tribunal


Federal de que, "enquanto não concluído e homologado o concurso público, pode a
Administração alterar as condições do certame constantes do respectivo edital, para
adaptá-las à nova legislação aplicável à espécie. Antes do provimento do cargo, o
candidato tem mera expectativa de direito à nomeação (STF, RE 318106/RN)". Porém,
no caso concreto, explica o magistrado, houve homologação do resultado do concurso
em 24 de abril de 2008, quando a validade do certame era de dois anos, não sendo
cabível a alteração posterior daquele prazo, feita em 24 de abril de 2009. Mandado de
Segurança 2009.34.00.039978-0/DF
Sem mais delongas, excelência, resta claro que a validade do certame tem
que ser considerada em 02 (dois) anos por ser a mais clara legalidade e que a autora
possa ser nomeada na eventual abertura vaga.

6. DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO À NOMEAÇÃO

No dia 05 de abril do corrente ano houve nomeação de mais 1000


candidatos do concurso de 2008, o que corresponde a 50% do quantitativo inicial de
vagas, nos termos do art. 14 da Portaria 450/2002. As vagas deveriam ser distribuídas
proporcionalmente nos termos do Art. 14, § 2 da Portaria supracitada, senão vejamos:

Art. 14. Durante o período de validade do concurso público, o


Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão poderá
autorizar a nomeação ou contratação de candidatos classificados
e não convocados, até o limite de cinqüenta por cento a mais do
quantitativo original de vagas.
(...)
§2º A nomeação ou contratação dos candidatos obedecerá
rigorosamente à ordem de classificação do concurso público.

Ocorre, Excelência, que a autarquia impetrada incorre em mais uma


dentre tantas ilegalidades que a mesma cometeu nesse concurso como já foi
demonstrado. O concurso em análise foi feito por cidades (APSs), sendo que as vagas
deveriam ser distribuídas proporcionalmente em cada cidade. Isso quer dizer que para
cada cidade contemplada no concurso seriam nomeados metade dos candidatos inscritos
na mesma, ou seja, se em uma cidade foi disponibilizada 4(quatro) vagas iniciais,
seriam nomeados mais 2(dois) candidatos para essa cidade, o que corresponde a 50%
das vagas disponibilizadas para a mesma. Registre-se que realmente isso aconteceu na
grande maioria das cidades, mas em outras não, ocasionando uma quebra da isonomia
que deve reger o concurso, prejudicando a impetrante como se demonstrará ao final.

O cerne do problema, meritíssimo, se deu quanto às cidades


contempladas no concurso com número de vagas ímpares, tendo em vista, por exemplo,
que em uma cidade que disponibilizou 3(três) vagas iniciais, que foi o caso da ora
impetrante, não se poderia chamar 1,5(um e meio) candidato. Para resolver tal problema
o INSS resolveu que nas cidades em que houve vagas ímpares, gerando um número
fracionado, quando da distribuição dos 50%, haveria um arredondamento para baixo,
isto é, onde houve 3(três vagas) ao invés de chamar 1,5(um e meio), o que é impossível,
se chamaria apenas um candidato.

Estaria tudo nos conformes se o critério utilizado pela autarquia


tivesse se estendido de maneira isonômica em todas as cidades contempladas no
concurso, o que não ocorreu isso aumentou a amplitude da ilegalidade, haja vista que
isto se estendeu por todo país.

Em muitas cidades foram respeitados os critérios adotados pelo


INSS, quanto ao arredondamento para baixo, em outras não, apenas como exemplo
temos as cidades de Camocim e Viçosa do Ceará. Nessas cidades foram
disponibilizadas apenas 1(uma) vaga, que corresponderia a nomeação de mais 0,5(meio)
candidato, e que pelo critério de distribuição adotado pela autarquia de arredondamento
para baixo, ficaria sem nomeação alguma, quando da nova nomeação. Mas não foi isso
que aconteceu. As mencionadas cidades, diferentemente das outras com vagas ímpares,
tiveram um arredondamento para cima, ferindo assim a igualdade entre os participantes
do concurso, não seguindo os critérios pré-estabelecidos. Restaram atropelados pelo
INSS os princípios norteadores da igualdade estampados no art. 5º, caput da
Constituição Federal

Cumpre observar que, não obstante o desrespeito a isonomia e


equidade, a impetrante teve uma nota bastante superior a outros candidatos que foram
nomeados no arredondamento para cima, senão vejamos: A impetrante fez 95 pontos no
certame(doc).

Portanto, como medida da mais pura e lídima JUSTIÇA, é


imperiosa a nomeação da autora por ser direito liquido e certo, diante da violação do
art.5º, caput da CF, quando da distribuição de novas vagas, e de forma LIMINAR,
tendo em vista a inclinação da autarquia para um novo concurso e a necessidade
anunciada da autarquia de novos servidores, principalmente levando-se em conta a
inauguração de 729 APS em todo Brasil, sendo que estão prestes a ser inauguradas as
agências de Campos Gerais e Elói Mendes, que pertencem a gerencia executiva de
Varginha, na qual se surgirem novas vagas somente para estas novas APS e não para
Alfenas será correto nomearem pelo critério de classificação por agência e a autora terá
o direito á nomeação, ou ainda garantir a impetrante o direito a vaga tendo em vista
ainda que a APS de Alfenas tem servidores prestes a se aposentar e um possível pedido
de exoneração e com o surgimento da vaga e se o concurso não for prorrogado não terá
seu direito garantido.

7. DO PEDIDO

Ante o exposto, forçosos são os seguintes requerimentos:

a)Seja, deferida liminarmente, com fulcro no inc. III, do art. 7º da


Lei 12.016 de 2009, uma vez presentes os pressupostos de admissibilidade, " fumus
boni juris " e " periculum in mora ", pela flagrante evidência de desrespeito ao
ordenamento jurídico da Lei Maior e a jurisprudência Pátria, podendo acarretar danos
irreparáveis a candidata habilitado no certame que pode ficar impedido de tomar posse
no referido cargo, em face das informações da realização de um novo concurso;

b) a Autarquia Previdenciária seja ordenada a anular, via DOU, o


ato ilegal que diminuiu o prazo de validade do concurso;

c) a Autarquia Previdenciária seja compelida a realizar a


prorrogação do concurso por mais 02 (dois) anos, conforme orientação do acórdão do
TRT da 10ª Região (Processo: 00727-2008-006-10-00-6-RO), vindo a findar apenas
após 06.05.2012;

d) seja impedida ou suspensa a realização de um novo concurso até


que tais reparações sejam sanadas com as necessárias homologações e nomeações dos
candidatos aprovados.

e) Requer, ainda, se digne determinar a Notificação da douta


autoridade coatora, para que, querendo, no prazo legal, preste as informações que
entender cabíveis, bem como a intimação do Exmo. Sr. Representante da Ministério
Público Federal, para acompanhar o feito até final do julgamento.

f) Requer que se dê ciência do feito ao Advogado-Geral da União,


cujo endereço para intimações fica no Setor de Indústrias Gráficas - Quadra 6 - Lote
800 - Brasília-DF - CEP 70.610-460, enviando-lhe cópia da inicial (em anexo)1, para
que, querendo, ingresse no feito.

Os documentos que instruem o presente mandado de segurança são suficientes


para comprovar a integral procedência do pedido, dada a natureza da ação aforada, e
também por serem eles suficientes à demonstração da liquidez e certeza do seu direito,
entretanto, no decorrer do processo, caso seja necessário, o IMPETRANTE protesta
provar o alegado, por todos os meios de prova em Direito admitidos.

Dá-se à presente causa, para fins meramente fiscais, o valor


de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Nesses termos,

Pede deferimento

De Alfenas/MG para Varginha/MG, em 07 de julho de 2010.

advogada

OAB/

1Art.7º, inc.II, da Lei n.12.016, de 7 de agosto de 2009.

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