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Restauração da Independência (através de golpe de Estado) e ascensão de D. João


IV ao trono. Derrota espanhola facilitada porque Portugal confrontou-se com uma
potência enfraquecida pela ‘Guerra dos 30 Anos’. O regime português
independentista, saído da Restauração, apoiado na alta nobreza, reorganizou
administrativa, económica e militarmente o Reino. Tentou desenvolver aliança com
os principais inimigos de Espanha: França, Holanda, Suécia…; iniciou ofensiva
diplomática junto da Santa Sé, para legitimar o Rei “natural”, nacional (D. João IV).

Tentou retomar o controlo dos territórios ultramarinos, nomeadamente o Brasil;


teve que lidar com a situação paradoxal de ter que lutar para expulsar os
holandeses do Nordeste brasileiro, enquanto se tentava aliar à Holanda enquanto
potência inimiga de Espanha.

Emergência de novas potências na Europa (Holanda, Inglaterra), que suplantaram


Portugal e Espanha no comércio marítimo.

Economia Europeia torna-se progressivamente capitalista e industrial.

Intensifica-se o urbanismo (embora a maior parte da população continue a viver


no campo, organizada em famílias alargadas).

Colonização, industrialização manufactureira e comércio crescentes, favorecem a


ascensão da burguesia.

Aparecem os primeiros bancos modernos, sendo o primeiro o Banco de


Inglaterra; surge a bolsa de valores.

Aumento da qualidade de vida e do bem - estar das populações (séc. xvii:


população europeia passa de 90 milhões para 130 milhões).
A ascensão da burguesia tem consequências na educação. O Protestantismo deu
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impulso à alfabetização quando a leitura da Bíblia foi incentivada; as exigências
colocadas pelas novas profissões ligadas aos serviços, comércio e indústria tornam-
se motivo para a busca de instrução. O gosto pela educação, na burguesia, está ao
mesmo nível do gosto pelo entretenimento. Proliferação de livros e jornais
impressos.

Os Estados recorrem à burguesia endinheirada para fazer face às despesas e aos


sucessivos deficits orçamentais. O que concorre para o aumento das tensões entre
nobreza e burguesia. Neste momento, ainda temos uma burguesia que apoia a
centralização do poder régio contra o poder tradicional da nobreza feudal. Numa
fase posterior, teremos a reacção da burguesia contra o Absolutismo, exigindo uma
maior e mais directa participação na governação.

Surge nova doutrina política: soberania do povo (com raízes na Reforma


Protestante). Ligado à exigência de uma monarquia parlamentar (que não é aceite
pelo Absolutismo, uma vez que o Rei é legitimado por Deus).

Revoluções burguesas. Revolução Inglesa (processo iniciado em 1640): imposição


do Parlamentarismo moderno, com o poder centrado na Câmara dos Comuns;
Revolução Francesa (1789-1799); Revolução Americana (independentista,1776).
Duas ordens de valores rivalizam no séc. xvii: parlamentarismo liberal (início da
“party press”, i.e., jornais dos partidos) e monarquia absolutista. O
“constitucionalismo” britânico, e alguns dos princípios jurídicos e políticos, estão
estabelecidos na Inglaterra seiscentista. Constituem os vértices dos Estados de
Democráticos de Direito contemporâneos.

Apaziguamento do extremismo religioso.

Revigoramento da produção intelectual e cultural (assentes em noções como o


individualismo, o lucro, a iniciativa privada, a criação e invenção de autor,
investigação e reflexão, racionalismo anti - dogmático).

Desenvolvimento da produção científica e tecnológica: desenvolvimento da


navegação marítima (o que promoveu o incremento do comércio e maior viragem
para o colonialismo ultramarino). A relativa condição de paz permite o
investimento em infra-estruturas (canais, navegabilidade dos rios, estradas,…)

É neste século que surge a questão da pobreza como questão social, da


responsabilidade do Estado.
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Novidade: jornalismo periódico.

Publicação ocasional de duas Relações pluritemáticas de notícias: Relações de


Manuel Severim de Faria, 1626-1628).

Uma Carta Régia datada de 1627 é indiciadora de que existem Relações de notícias há
alguns anos.

Constrangimentos legais à imprensa: estas Relações de notícias (folhas volantes e


primeiros jornais) eram sujeitas a sistema de censura prévia e dependiam de licenças
de impressão.

1643: D. João VI publica leis que reforçam o sistema de licenças prévias e censura,
reiteradas por decreto – lei de Agosto de 1663.

Ainda em 1768: instituída a Real Mesa Censória. Só no séc. xix, com a instauração do
liberalismo, muda esta situação.

Para propagandear a Restauração da Independência, começou a circular no país o


primeiro jornal periódico: A Gazeta (1641), inspirada na Gazette francesa de 1641. O
seu nome era: “Gazeta em Que se Relatam as Novas Todas, Que Ouve Nesta Corte, e
Que Vieram de Várias Partes no Mês de Novembro de 1641”. Integra as Gazetas da
Restauração e foi publicada até 1647. Em 1642, a Gazeta da Restauração inclui a
menção de “Novas Fora do Reino”, uma vez que fora proibida a publicação de notícias
nacionais.

O Mercúrio Português de António de Sousa Macedo, foi a segunda publicação


periódica em Portugal (1663-1667, Lisboa); seguia o formato e estilo da Gazeta da
Restauração, apresentando cronologia noticiosa de acontecimentos principais, sem
preocupações de encadeamento, ao longo de um mês. Relatava as novidades da
guerra entre Portugal e Castela (Guerra da Restauração), sob a forma de crónica
noticiosa à semelhança de um “folhetim”. Tinha um cunho político e propagandístico.

Entre 1647 e 1663: não foram publicados periódicos em Portugal, à excepção de algumas
folhas volantes pontuais.
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Reforço do poder real; desenvolvimento patrimonial e cultural da Nação. Estes


desenvolvimentos não foram acompanhados de crescimento económico na mesma
proporção.

Portugal interveio na Guerra da Sucessão de Espanha, mas foram vencidos e


retiraram-se em 1707.

Em 1703 firmou-se o Tratado de Methuen entre Portugal e Inglaterra. Estes


beneficiavam de um regime de favor para a comercialização de têxteis em Portugal e,
em troca, facilitavam o acesso dos vinhos portugueses ao mercado inglês.

Agravamento das finanças portuguesas. Muito devido ao tratado (que estava na base
do atraso da indústria manufactureira portuguesa) e/ou ao afluxo do ouro brasileiro,
que provocou uma inflação galopante e desequilíbrio da balança de pagamentos,
agravado pelos gastos em obras públicas, bem como um desinvestimento na produção
nacional com graves consequências futuras.

O espírito iluminista beneficiou as artes e as ciências. Os “estrangeirados”, elite de


pensadores que introduziu o movimento das Luzes em Portugal, apoiado pelos
monarcas (D. João V, D. Pedro II, D. José e D. Maria I). Não foi tão forte como no resto
da Europa, por causa do absolutismo régio e da acção da Igreja católica.

Em 1755, Lisboa foi destruída por terramoto. Surge a figura de Sebastião José de
Carvalho e Melo (Marquês de Pombal), responsável pela reorganização fiscal e
financeira do Reino (fortalecimento centralista do Estado e criação de grandes
companhias monopolistas) e dinamizador da reconstrução da capital. Responsável,
também, pela repressão a nobres, populares e religiosos (especialmente aos Jesuítas,
expulsos do país, que se opunham aos seu desígnios centralistas e laicos – Despotismo
Iluminado). Culminou com a bárbara execução da família dos Távoras, que se lhe
opunham. O Despotismo Iluminado assenta num ideário de laicismo racionalista.
Substitui o Tribunal do Santo Ofício (designação mais moderada da Inquisição) pela
Real Mesa Censória, num acto de grande relevância simbólica para o jornalismo.

D. Maria I destituiu Marquês de Pombal, que se tinha incompatibilizado com a Santa


Sé, durante o reinado de D. José I.

Em 1762, Portugal foi invadido por exército franco-espanhol (Guerra dos Sete Anos).
Até 1807 (reinado de D. Maria I), Portugal beneficiou de neutralidade face aos
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conflitos europeus.

Aceleração do desenvolvimento da economia portuguesa, com equilíbrio da balança


comercial: integração da economia portuguesa e brasileira; restrição de políticas
monopolistas; fomento da iniciativa privada; política de obras públicas; construção de
infra-estruturas e redes de comunicação.

Desenvolvimento científico, pedagógico e cultural (Academia Real das Ciências,


fundação de escolas pelo país, Academias Reais de ensino superior). Em 1796, criação
da Biblioteca Pública da Corte, futura Biblioteca Nacional.

Revolução Francesa, em 1789.

Pina Manique (intendente da polícia desde 1780) luta intensamente contra as ideias
liberais e revolucionárias, difundidas pelos “afrancesados”, mações e jacobinos.

Em meados do séc. xvii, existia já um atraso do jornalismo português em relação aos


países do Norte e Centro da Europa, reflexo da asfixia da sociedade pelo absolutismo
régio e Igreja Católica.

De 1667 a 1715 não surgiram novos periódicos estáveis em Portugal (somente 3


números de Mercúrio da Europa em 1689 e 2 números de uma Gazeta em 1704, e
financiada pelo Estado).

A 10 de Agosto de 1715, nasce a Gazeta de Lisboa (publicada até 1760 por José
Freire Monterroio Mascaranhas). A Gazeta de Lisboa, impressa em formato de livro,
era um periódico oficioso que publicava, sobretudo, notícias sobre o governo
(nomeações), sobre o país e o estrangeiro, de acordo com o frontispício: “História
Anual Cronológica e Política do Mundo e Especialmente da Europa”. Entre 1760 e 1762
é elaborada e publicada pelos funcionários da Secretaria de Negócios Estrangeiros e de
Guerra, por privilégio real (para aumentar o salário dos mesmos). Ganha a alcunha de
“Gazeta dos Oficiais da Secretaria”. Toma um pendor cada vez mais administrativo e
constitui a matriz do que, actualmente, se designa Diário da República, o diário oficial
português.
Durante o séc. xviii, surgiram vários mercúrios (livros noticiosos com extensa listas
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de notícias soltas, muitos deles não periódicos) como, por exemplo o Mercúrio Político
e Histórico, em 1741, traduzido de publicações estrangeiras. A partir de meados do
séc.xviii, segundo José Tengarrinha, alguns mercúrios tomam uma “feição filosófica e
literária”, que se estende pelo séc. xix, com a publicação de o Mercúrio Filosófico
(1752), o Mercúrio Gramatical (1753), o Mercúrio Histórico, Político e Literário de
Lisboa (1794, mensário). Embora as gazetas tivessem, regra geral, uma periodicidade
semanal, alguns mercúrios eram semelhantes em estrutura e periodicidade. Mercúrio
Histórico de Lisboa (1743-1745) tinha periodicidade semanal.

Surgem outras publicações que assumem linha editorial erudita, filosófica,


científica, artística e literária. Por exemplo, o mensário Gazeta Literária ou Notícia
Exacta dos Principais Escritos que Modernamente se Vão Publicando na Europa
(1761).

Surgem outros periódicos, de natureza noticiosa: Gazeta Extraordinária de Londres


(1762), o Hebdomadário Lisbonense (1763), o Mercúrio Político e Literário de Lisboa
(1794).

Aparecem, também, periódicos coleccionáveis científicos, históricos, médicos,


“enciclopédicos”. Estes eram consagrados à instrução pública, sendo um reflexo da
filosofia enciclopédica das Luzes. Tinham as dimensões dos livros e eram paginados a
uma coluna, tal como os livros.

O panorama jornalístico era dominado pelos antepassados dos periódicos noticiosos,


e pelos periódicos enciclopédicos.

Censura: controle férreo sobre a imprensa, consubstanciada na vigilância, na prática


da censura, nas licenças prévias e nas medidas repressivas contra críticos e
prevaricadores. Culminou em 1768, com a instituição da Real Mesa Censória (que em
1787 tomou a designação de Real Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e Censura
dos Livros, onde predominavam eclesiásticos). A Revolução Francesa e o susto que
provocou, gerou uma intensificação dos mecanismos de censura/vigilância, a partir
de 1789. Destaca-se o intendente – geral da polícia de D. Maria I, Pina Manique.

Em 1794 regressa-se à censura tripartida - Santo Ofício, bispos e Mesa de


Desembargo do Paço. Além do mecanismo de censura em si (com acentuação do
carácter religiosos da actividade censória), o facto de os censores demorarem muito
tempo a examinar as obras dificulta a actividade dos editores dos periódicos.
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No início do séc. xix, Portugal, preso na estrutura social, religiosa e cultural do Antigo
Regime, sofre três invasões francesas, a primeira das quais em 1807, todas elas
rechaçadas pelas forças anglo – portuguesas coligadas.

Penetração das ideias progressistas, liberais e até anticlericais da modernidade em


Portugal, através das tropas francesas e inglesas. Existiam aliados portugueses das
tropas francesas a trabalhar para o triunfo das Luzes. Após derrota de Napoleão em
Waterloo, instala-se um período de pacificação na Europa.

Condições prévias e causadoras da Revolução Liberal de 1820: crise económica;


ausência do monarca (D. João VI no Brasil); perda do monopólio de comércio com o
Brasil; reacção contra a administração inglesa do país (que beneficiava os ingleses). Em
1820 é instituída a Monarquia Constitucional, tendo-se formado um Governo
Constitucional.

Em 1821, D. João VI regressa a Portugal, e em 1822 dá-se a Independência do Brasil.

A Constituição provisória de 1821 institui, pela primeira vez o princípio da liberdade


formal de imprensa. A Constituição de 1822 consagra o princípio da liberdade de
pensamento (artigos 7º e 8º). Estão formadas as condições para o aparecimento de
centenas de jornais, muito político-partidários (“party press”). Embora ainda não se
possa falar em partidos com organização estruturada, mas sim em forças ideológicas
(António H. de Oliveira Marques).

1823: “Vila- Francada” derruba Constituição de 1822;

1824: a “Abrilada” (novo golpe absolutista) levou D. Miguel (filho de D. João VI) ao
exílio em Viena; neste mesmo ano foi promulgada legislação sobre a imprensa, que
ficou novamente sob a égide da censura prévia e das licenças de privilégio;

1826: morre D. João VI e Regência reconhece o seu filho, D. Pedro I, imperador do


Brasil, como Rei de Portugal, sob o nome régio de D. Pedro IV; nesse mesmo ano, D.
Pedro criou uma Carta Constitucional que bania a censura prévia; abdicou da
regência em favor de sua filha D. Maria;
1827: entregou a Regência a seu irmão D. Miguel, na condição de este casar com a
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sua sobrinha, D. Maria II. D. Miguel regressa do exílio e declara-se Rei Absoluto em
1828, iniciando período de perseguição aos liberais;

1831: D. Pedro abdicou do trono do Brasil em favor de seu filho, D. Pedro II, e
assumindo a regência em nome de D. Maria II, regressa a Portugal, à cabeça de um
exército liberal, dando início a período de guerra civil.

1834: triunfo dos liberais; destruição dos traços arcaicos do absolutismo e


expatriação definitiva de D. Miguel.

Até 1847: Portugal vive em forte instabilidade; Guerra da Patuleia (Maria da Fonte) =
Guerra Civil, em que liberais se digladiavam entre si, mais por interesses socio-
económicos e ambições pessoais, do que por motivos ideológicos. Grassavam
sentimentos absolutistas entre o povo. Os ataques dos liberalistas às ordens religiosas
agravaram o quadro de descontentamento. A expropriação dos bens monásticos era
em favor do enriquecimento da burguesia endinheirada, a quem ainda
recompensavam com tútulos de nobreza.

Apesar da destruição de património histórico - cultural, assiste-se a uma vaga de


modernização do país: construção de escolas e estabelecimentos de ensino superior;
melhoramento da rede viária; construção de linhas de caminhos - de - ferro;
desenvolvimento da colonização de África; abolição dos monopólios absolutistas;
incentivo ao investimento privado, industrial e comercial.

Promulgada legislação sobre liberdade de imprensa de sinal contrário; poder


moderador e executivo estava nas mãos do Rei (poder moderador enquanto quarto
poder, além do legislativo, executivo e judicial).

1851: marechal Saldanha no poder; deu início ao período de Regeneração


(estabilização da vida política); Rotativismo dos principais partidos políticos.

Após 1851: liberdade de imprensa relativamente tolerada.

Volta a instabilidade política em final de séc. xix; proliferam as ideias republicanas,


socialistas e anarquistas. Governos do final da Monarquia voltam a restringir a
liberdade de imprensa.

1876: Funda-se o Partido Republicano; dá-se o fim do Rotativismo (dada a


instabilidade e sucessivas dissidências, nenhum partido lograva obter maioria no
Parlamento); volta-se à instabilidade governativa.

1890: Portugal foi humilhado pelo seu mais antigo aliado: Inglaterra com o seu
Ultimato (apelo coercivo para que Portugal não unisse os territórios coloniais de
Angola e Moçambique, cobiçados pelos ingleses).

1907: D. Carlos tenta retomar controlo (instala a ditadura de João Franco); protestos,
greves e revolta republicana fracassada em 1908; propaganda republicana, socialista e
anarquista, bem como actividade sindical e actos terroristas.
1908: culmina com o assassinato de D. Carlos e do príncipe herdeiro: D. Manuel II, o
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último rei, tenta implantar governo de união nacional mas fracassa. Portugal estava à
beira da bancarrota, a viver de empréstimos e ameaçado pelas potências credoras.

1910: Republicanos ganham as eleições legislativas e formam revolução em Lisboa. A


República é instalada a 5 de Outubro de 1910.

Novos ataques às instituições religiosas; delapidação de bens patrimoniais; família


real exilada.

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