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Distorgao do ego em termos de falso e verdadeiro “self” (1960) 1 2 'Um desenvolvimento recente om psicanélise tom sido 0 uso crescente do con- tito de falso self. Esse conceit trs2 consigo a iis de um self verdadeir, Historia Esse conesito em si nfo 6 novo, Aparece de variagyformas em asiquiatsa des- ‘ritiva @ especiaimente em certos sistémas religiosos e Moséticos, Por corto existe lum estado clinica real que merece estudo, © 0 conceito se apresenta & psicandlise co: ‘70 um desafio quanto 2 etiologia. A psicandlse se interessa pelas perguntas 1 = Como aparece 0 falso self? 2 Qual é sua funea0? 3 - Por que ofalgo sol 6 exageredo ou enfatizada am alguns casos? 4 = Por que algumas pessoas ndo desanvolvem o sistema do falso self? 5 — Quals sto 0s equivalentes do talso sai nas pessoes noxma's? 5 - Que é que existe que poderia ser denominado de self verdadeiro? ‘A mim pareceria que a idéia de um faiso self, que & uma idéia que os pacientes nos dBo, pode ser ciscernia nas formulacées iniciais de Freud. Particularmente, rela iono © que divide em self verdadeiro ¢ falsa com a civiso de Freud do self em una parte que 6 central e controlada pelos instintos fou pelo que Freud chamou sexual ede, pré-genital © genital, a parte orientada para o exterior relacionada com 0 mundo, 128 Contribuigdo pessoal Minha contribuicSo pare este tema se derive de meu trabalho a0 mesmo tempo 2) como pediatra, com mes e lactentes & como psicanaliste cuja clinica inclu uma série pequena de eases borderline twatados com analise, mas necessitando experimantat, na vansferéncia, uma fase (ou ‘ases) de regressdo sovers & dependéncia, ‘A experiéncia me levau 8 veriicar que pacientes dependentes ou em 2 pprofunda podem ensinar o analsta mis sobre © inicio da infancia do qué se pode ‘aprender da observacdo diets dos lactentes, « mais do que se pode aprender do con tato com as mes que estio envolvidas com os mesmos. Ao mesmo tempo, 0 cont 19 elfnico tante com experiéneias normais como anormais do relacionamenta imde-actente influencia a teoria analitica do analist, uma vez que 0 que ocorre na ensteréncia inas feses de regressio do alguns desses pacientes) é uma forma de relacionamento mde-lactente Gostaria de comparar minha posigso com a de Greenacre, que também se man- teve em contato com a pediatis enquanto engajada na prética da psicandlise. Tam- bbém com ela parece claro que uma dessas dues experigncies 2 influenciow na avaliagdo da outta experiéncia | expariéncis clinica em psiquiatria de adultos pode ter 0 eleit, para um psi- ‘canalsta, de colocar um histo ent # avaliagio do estado clinico e sua compreenséo da etiologia. 0 hiato resulta da impossibiidade de obter uma historia contidvel do ini- cio da inféncia, tanto do paciente psicético como da mle, ou de observadores mais neutros emocionalmente. Pacientes snaliticos quo regridem uma dependéncis = vera na transferéncia preenchem este hiato ao revolar suas expectetivas © necess\ des nas fases de dependancia, Necessidades do ego e necessidades do id Deve-se ressaltar que a0 me refer a salistezer as necessidades da lactente ‘nko estou me roferinde & satisfac de instintos, Na area que estou examinando 08 instintos no estéo ainda claramente definidos como internas aa lactente. Os instin tos podem ser t50 extemnos como 0 troar de um trovBo ov uma pancada, O ego do lactente esté criando forga 6, come conseqiéncia, esta a caminho de um estedo em ‘ue a8 exigdncias do id serdo-sentidas como parte do self, nfo como embientais. Cuando esse desenvalvimento ocoree, 9 satistagéo do id se torn um importante fort ficante do ago, ov do self verdadeiro, mas as excitagles do Id podem ser trauméticas ‘quando © ego ainda no # capaz de incorpors-las, ¢ ainda ¢ incapse de sustentar os Fiscos envolvides e as frustragdes experimentadas até © ponto em que a satisfaggo do id s0 torne um fato 129 Um paciente me relatou: “Bom manejo” (cuidado do ego) “como experimented durante esta hora ¢ uma refeicio” (satisfacSo do id). Ele no poderia ter se express do de outro modo, pois se eu 0 tivesse alimentado ele tera se submetido a isto, 0 ‘que teria se ajustado & sua dofesa do Falso se, ov entBo teria reagido €rejitado meu avanco, mantendo sua integridade ao escolher a trustragéo. Outras influéncias foram importantes para mim, quando por exerplo fui cequi- sitado periadicamente para observacdies sobre um paciente que esté agora sob trate ‘mento psiquidtrice como adulto @ que eu mesmo observei come lactente © como crianga pequena. Muitas vezes, de minhas observacdes pude ver que o estado psiquiatrico que agora exisie jd estave discernivel no relacionamento mae-lactente [Deixo relacionamento mée-lactente neste contexto porque estou me refarindo a fendmenos precoces, aqueles relativas ao relacionamento do lactente com a mae, ou ‘com © pai como se fosse outra mse. O pai neste estégio tao precoce sinds no se to:nou significativa como uma pessoa do sexo masculno.| Exemplo © manor examolo que posto de & 0 de ma mulher de mviaidede que tina um fio sai mato bam sed, ree que por {ods ie tn »sanegbo de nfo ter cmegado 8 eit qv tha etdo sempre proctende Um Jeo de chegu co teu cat vara, Es sing ests em anne, qu se prolonge por mutes eros Ne pra fas deta ane expec fque Grou dle ou ide arot, achel quo eave tm dtrontando com o qe apart deominve de seu “sa amo-wva” Ese “Sell 1 dencobr a pice : 2 veiow avalon a anaize, cB ums eepécie de teat elaboraco de confab lide do oot 2 roune a paiome bande 4 = gedvemente, ape be anos ou ml, dlagou sua fngdo oo anata le- tn fl «tae de maior pitunddade de vegreeto, com algunas smanse de um ato Gfau de dependinca do ant) too por pet, retomendo © culdede de ama-cea nas octtibea em eue foouo anata (oengas do nat, suas a, ete 8 eu destio final er dicutido depot Da evelgde deste cave ref Tal vicar a naureza defensive do flo se sun tune dofonie 6 ad ocular protege © sl vetdacote, © ave ar aut ere posse ter. De imedato te fona poste lssfca so orgniastes do flo sll "Tm um entree: ofl se ve imlons coro rele 6 feo que os obser: ‘adores tandam a pnaa ue 8 pesaon fea Nos retconrentes deco Vivdni, do tabato eamiade, conde, fav sf orapw fle. Em {Hosgbes om gun 9 oun av eapee uns peston intel 6 flo se tam 130 wr algumas caréncias essenciais. Neste éxtremo 0 self verdadeiro permanece oculto. 2 - Menos extreme: o falso self defends © solf verdadeiro; 0 seif veidadel, Contudo, 6 petcebido come potencial e & permitdo a ele ter uma vida se- crete, Aqui se tom o mais claro exemplo de doenga clinica coma uma orga sizeeéo com uma finaidade positva, a preseivagdo do individuo a despeito de condigSes ambientsis anormais. Esta ¢ uma extensio do concelto pe cenaltice do valor dos sintomas para a pessoa doente, = Mais para 0 lado da normalidade: 0 falso self tem como interse principal ® procure de condigées que tomem possivel ao self verdadero emergir. S ‘essas condigtes no podem ser encontradas, entdo novas defesss tém d ser reorganizadas contra a expoliago do self verdadeira, ¢ se houvar divi dda 0 resultado clinico pode ser 0 suicidio, Suiciio neste contexto 6 a des- twuighio do self total para evitar 0 aniquilamento do self verdadeiro. Quando 0 suicidio 6 a dnica detese que reste contra a traigdo do self verdedcio, ‘entdo se toina tarefa do falsa self organizar © suieldo. Isto, naturalmente, ‘envolvt sus propria destruigdo, mas 80 mesmo tempo elimina a neces! dade de sua existoncia ser prorrogads, jf que sua fungBo 6 8 protedo do ‘self verdedsiro contra insults. 4 Ainda mais para 0 lado da normalidade: o falso self é constwide sobre ‘onticacées como no exemple da paciente mencionada, cujo ambiente de sua meninice ¢ sua ama-seca real Ihe dou muito do colorido da orgariza- 80 de seu faso self. 5 = Na normalidace: 0 falso self 6 representado pela oxganizagso integral da attude social polide © amdvel, um “ndo usar 0 coragdo na manga”, como ‘se potiria dizer. Muito passou para a capacidade do individuo de renunciar | onipaténcia e ao processe priméria em geral, a ganho e© constituindo © lugar na sociedade que nunca péde ser atingido ou mantide com o self ver- adel igoladamenta, AAté agora me mantive nos limites da descricdo clinica. Mesio nosta limitada ‘tea 6 importante 0 reconhecimenta do falso se. Por exempla, & importante que pes- 'S0as que so essenciaimente falsas personalidades no sejam encaminhadas a estu- dantes de psicandlise para andlise em situacéo de tvinamento. © diagndstico de falsa ‘ersonalidede aqui 4 mais importante do que 0 diagnéstico do paciente de acordo, ‘com as clasificacées psiquidtices vigentes. Também pata assistontes sociais, onde ‘tod0s 08 tpos de caso precisam ser aceitos e mantidos em tratamento, 0 diagndstico de folsa personalidade é importante para evtar a frustragSo extrema associada so fra ‘cass0 teraptutico 2 despeito de assisténcia social (psiquidtical aparentemente ade- quada, baseada em principios analiticos. € especisimente importante este diagnéstico nna selecdo de estudantes ara treinamento em psicandlise ou assisténcia social psiquidtrica, isto 6, na selecSo de estudantes de todos os tipos. © arganizedo falso Seif 6 associado a uma rigidez de defesas que impede 0 crescimento durante 0 perio- do de estudante, 131 A mente 0 0 falso self Um risco particular se origina da ndo rare igagio entre abordagem intelectual © © falso se/f. Quando um falso self 50 toma orgarizado em uin individuo que tem lum grande potencial intelectual, hé uma forte tendncia para a mente se tornar 0 Iu: {81 do felso soll, e neste caso se cesenvolve uma dissoviagéo entre a atividede in. telectual © a existéncia psicossamdtica. (No individuo sadio, presume-se, a mente no ¢ para o individuo algo para ser usado pare escapar de ser psicossomatico. De- ‘senvolvi este tema com certa extensio em "Mind and its Relation to the Psyehe-So- sma,” 19490.) ‘Guano ocorre esta dupla anormalidade, (1) 9 falso self erganizado pare ocular © self verdadero, ¢ 2} uma tentativa por parte do ineividuo para resolver problema pessoa! pelo uso de um intelecto apurado, resulta um quadro elinico peculiar, que ‘muito faciimente engana. 0 mundo pode cbservar éxito académica de alto grav, © Pode echar dificil screditar no cisterbio do individuo em questéo, que quanto mais ¢ bem sucedido, mais se sente falso. Quando tais indvicuos se destroem de um jeito ‘0y de outro, ao invés de se tornarem 9 que prometiam ser, isto invariavelmente pro: ‘duz uma sensacSo chocante naqueles que tinham depositado grandes esperancas no individuo, Etiologia © modo principal come estes conceltos se tomam de interesse para a psi- cendlise vem do estudo da maneira como o algo solf se dasenvoive de inicio, no rela- ionamento mBe-tactente, ¢ (sinda mais importante) da maneira como 0 fals0 self no se toma um aspecto significative no desenvolvimento norm: A teoria relative a este importante estagio no desenvolvimento ontogérica per- tence @ ebservacio da convivéncia do lactente-com-e-me (regredia & paciente-como- analist}, © no & teoria dos mecanismos precoces de defese organizados contra ‘impulsos do id, embora, naturalmente, os dois temas se superponham. Para se conseguir uma exposi¢do do pracesso de desenvolvimento pertinents, € essencial considerar-se 0 comportamento da mae, bem como sue atitude, porque este campo a dependéncia é real e quase absoluta, Ada # possivel se afrmar 0 que ‘Se passa considerando $6 o lactente. Ao pesquisar a etiologis do falso solf, estamos examinando 0 estégio das ‘rimeiras relagSes objetais. Nesse estégio, o lactente esta néointegrado na maior parte do tempo, © nunca completamente integrado; 8 coesio dos varios elementas sens6rio-motores resulta do fato de que @ mie envolve o lactente, &s vezes fisice: ‘mente, © de modo continuo simbolicamente. Periodicamente um gesto do lactente ex: Pressa|um impulso esponténeo; a fonte da gesto 6 0 self vardedsiro, © esse gesto indica @ existéncie de um seff verdadeiro em potencial, Precisamos examinar o modo ‘coma a mie responds a esta onipoténcia infantil revelade em um gesto {ou assoc 132 ‘980 sensbrio-motora). Ligo aqui a idéie do um self verdadeito com 9 do gesto exper neo. A fuslo de elementos motores @ eréticas asté no processo de se tornar um f9 to neste periedo de desenvolvimenta do indivicuo A participacio da mae E necessirio examinar 0 papel representado pela mae, ¢ a0 faxé-o acho conve Diente comparar dois extremos; em um extreme asté a mie suficiontemsnte boa ® na outro esté 9 que & uma mae ngo suficientemente bos. A pergunta que ocorre é: que se quer dizer com a expresso “suficlenternente boa"? 'A mie suficiomtemente boa alimenta a anipeténeia do lactente e até certo pon 10 v8 santido risso. E a faz repetidamente. Um relf verdadeire comega a ter vida, ‘através da forga dada a0 fraco ego do lactante pela complementacio pela mée das ‘expresses de onipoténcia do lactente. ‘A mBe qué nie 6 suficientemente bos ndo ¢ capaz de complementer a fonipoténcia do lactente, © assim falha repetidamente em satistazer o gesto do lactente; a0 invés, ela 0 substitui por seu préprio geste, que dave ser validado pala submissao do lactente. Essa submissio por parte do lactente 6 0 estéqia inicial do fal- 50 self, results da inablidade da mie de sentir as necessidades do lnctente E uma parte essencial de minha teoria que o self verdadeira nfo se torna uma realidade viva exceto como resultado do Oxite repetido da mae em responder a0 gesto ‘espontaneo ou alucinacio sensorial do lactente. (Esta idéia esta intimamente ligade & ‘de Sechshaye contida na expresso “reaizagdo simbélica”. Esta expresséo tem tido lume panicipagae importante na teoria psicanaltica modema, mas nao suficionte- mente scurada, uma vez que é © gesto ou alucinacso do lactente que $e torne ret endo a capacidade de lactente de usar simbolos 0 resultado.) Existem ento duss linhas possiveis de desenvolvimento na seqiéncia’ dos fcontecimantos de acarda com minhs tormulago, No primera caso, a adaptagio da Ime 6 Suficientemente boa © como conseqéncia o lactente comega # acreditar na Fealidade externs que surge @ s8 comporta come por magica (por causa da sdaptaco Ielativemente bem-sucedida da mie coe gestos © necessidades do lactentel: # mie ‘age de modo a nfo colidir com a anipoténcia do lactente. Deste mado o lactente comeca gradualmente a renunciar & onipoténcia. © self verdadsiro tem espontans' \dade, @ iste coincide com os acontecimentos do mundo. O lactente pode agora gozar 2 uso do onipotente crianda e contiolanda, e pode entio gradativamente vir a re cconhecer 0 alemento iuséra, o fato de brincar @ imaginar. Isto é a base do simbolo {ue de inicio &, 20 mesmo tempo, espantaneidade e alucinagSo, e também, 0 objeto ‘externo eric e finalmente eatexizado. Ene 0 lactente € 0 objeto existe algo, ov siguma atividade ou sensago. A ‘medida que isto une o lactente 20 objeto {como 0 objeto parcial maternol, se torns a base da formacio de simboios. Por outro lado, & medida que hé algo separando 20 in: és do unir, sua funese de levar a formaeo de simbolos fica blaqueada, 133

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