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Sucessões e Séries
199
200 CAPÍTULO 5. SUCESSÕES E SÉRIES
Claro que a variável k é muda, e pode ser designada por qualquer outro
sı́mbolo. A tı́tulo de ilustração, temos
∞ ∞ ∞
X 1 X 1 X 1
= =
2k 2n 2i
k=1 n=1 i=1
Qualquer série é a soma dos termos de uma dada sucessão de termo geral
ak , ou seja, é da forma
∞
X
a1 + a2 + · · · + ak + · · · = ak .
k=1
Dizemos igualmente que ak é o termo geral da série. Podemos por isso dizer
que o exemplo de Zenão é a série de termo geral ak = 21k , com 1 ≤ k < ∞.
Para decidir se uma dada série tem soma ou não, começamos por adicionar
apenas um número finito de termos da referida série, para calcular
P∞o que
chamamos de uma soma parcial da série. Dada uma série qualquer k=1 ak ,
existe uma soma parcial para cada valor de n, ou seja, as somas parciais da
série formam uma sucessão, desta vez com termo geral:
n
X
Sn = a1 + a2 + · · · + an = ak
k=1
5.1. DEFINIÇÕES BÁSICAS 201
1 3 7 15 31
S1 = , S2 = , S3 = , S4 = , S5 = , · · ·
2 4 8 16 32
Neste caso especı́fico, é fácil apresentar uma representação mais simples
para as somas Sn , porque conhecemos a fórmula da soma dos termos de uma
progressão geométrica. Como vimos no exemplo 1.4.8.4, temos
1 1 1
(5.1.4) Sn = 2 − n+1 = 1 − n
2 2 2
O sentido a dar à identidade em 5.1.2 é fácil de compreender em termos
da noção de limite, que Zenão naturalmente desconhecia. A soma em 5.1.2
é definida como o limite da soma finita Sn , quando n → ∞, ou seja,
∞ n
X 1 X 1 1
(5.1.5) = lim = lim Sn = lim 1 − n = 1
2k n→∞ 2k n→∞ n→∞ 2
k=1 k=1
Usamos muitas vezes a expressão “natureza” (de uma série) para nos
referirmos à sua propriedade de ser convergente ou divergente. Por exem-
plo, a natureza da série de Zenão é “convergente”. Veremos adiante que,
quando estudamos uma dada série, é frequentemente possı́vel determinar a
sua natureza sem calcular explicitamente a sua soma. O próximo resultado é
fundamental na teoria das séries, e permite identificar com facilidade muitos
exemplos de séries divergentes.
∞
X
Teorema 5.1.3. Se a série an converge então an → 0 quando n → ∞.
n=1
Exemplos 5.1.4.
∞
X n n
(1) A série √ é divergente, porque √ → +∞ =
6 0.
n=1
n + 1 n +1
∞
X n n 1
(2) A série é divergente, porque an = → 6= 0.
n=1
2n + 3 2n + 3 2
∞
X
(3) A série (−1)k k 2 é divergente, porque ak = (−1)k k 2 não tem limite.
k=1
Exemplo 5.1.5.
P∞
A série harmónica é a série n=1 1/n. É óbvio que o seu termo geral
satisfaz an = 1/n → 0, mas a série é na realidade divergente, um facto que
não é certamente evidente. Para o reconhecer, basta-nos notar que, por razões
geometricamente evidentes (ilustradas na figura 5.1.1 para o caso m = 4), a
soma parcial Sm satisfaz a desigualdade:
1
A tı́tulo de ilustração, no exemplo de Zenão temos S1 , S2 , S3 , S4 , · · · = 21 , 34 , 87 , 15
16
,···
e T1 , T2 , T3 , T4 , · · · = 0, 21 , 34 , 87 , · · ·
5.1. DEFINIÇÕES BÁSICAS 203
m Z m+1
X 1 1
(5.1.6) Sm = > dx = log(m + 1).
n=1
n 1 x
1
2
1
3
1
4
1 2 3 4 5
4
X 1
Figura 5.1.1: log 5 <
n
n=1
a − rn
(1 − r) · Sn = a · (1 − r n ) e se r 6= 1 então Sn = .
1−r
A determinação da soma da série geométrica é agora imediata.
∞
X
Teorema 5.1.7. A série r n−1 converge se e só se |r| < 1. Neste caso,
n=1
∞
X 1
r n−1 = .
n=1
1−r
Concluı́mos que se a série converge então r n → 0 e |r| < 1. Por outro lado,
se |r| < 1 então r n → 0, donde
1 − rn 1
Sn = →
1−r 1−r
∞
X ∞
X ∞
X
(ak + bk ) = ak + bk ,
k=1 k=1 k=1
∞
X ∞
X
(c · ak ) = c · ak .
k=1 k=1
5.1. DEFINIÇÕES BÁSICAS 205
Exemplo 5.1.9.
P∞ 2 5
Consideramos a série n=1 3n−1 + 2n−1 . Como vimos, as séries geométricas
de razão 1/2 e 1/3 são convergentes, e temos
∞ ∞
X 1 1 3 X 1 1
= = , = = 2.
n=1
3n−1 1 − 1/3 2 n=1 2 n−1 1 − 1/2
Exemplo 5.1.10.
A representação de números reais por dı́zimas infinitas é uma aplicação da
noção de série. Quando escrevemos, por exemplo, x = 0, a1 a2 a3 a4 a5 · · · , onde
os an são algarismos da representação de x na base decimal usual (e portanto
an é um inteiro entre 0 e 9), estamos simplesmente a dizer que
∞
X an
x=
n=1
10n
Note-se de passagem que um dado número real pode ter duas representações
decimais distintas, o que ocorre sempre que tem uma representação com um
número finito de algarismos. Temos por exemplo que 1 = 1, 000 · · · = 0, 9999 · · · ,
porque
∞ 9 9
X 9 10 10
0, 999 · · · = 0, 9 + 0, 09 + 0, 009 + · · · = = 1 = 9 =1
n=1
10n 1 − 10 10
∞
1 X
(5.1.7) = xn = 1 + x + x2 + · · · , para |x| < 1
1−x
n=0
1
é certamente uma representação da função f dada por f (x) = 1−x por
uma série de potências de x. Repare-se que o domı́nio da função f , que é
Df = { ∈ R : x 6= 1}, é distinto do conjunto no qual a soma da série coincide
com a função dada, porque este conjunto é como vimos o intervalo ] − 1, +1[.
É fácil obter mais exemplos de funções representadas por séries deste
tipo por substituições simples de x em 5.1.7. Substituindo x por −x, ou por
−x2 , temos imediatamente
∞ ∞
1 1 X X
(5.1.8) = = (−x)n = (−1)n xn , para |x| < 1
1+x 1 − (−x)
n=0 n=0
∞ ∞
1 1 X
2 n
X
(5.1.9) = = (−x ) = (−1)n x2n , para |x| < 1
1 + x2 1 − (−x2 ) n=0 n=0
∞ ∞
X xn+1
n
X xn
(5.1.10) log(1 + x) = (−1) = (−1)n−1 , para |x| < 1
n+1 n
n=0 n=1
∞
X x2n+1
(5.1.11) arctan(x) = (−1)n , para |x| < 1
2n + 1
n=0
5.2 Sucessões
O estudo das séries é, em larga medida, uma parte da teoria mais geral das
sucessões. É claro que qualquer sucessão não passa de uma função real de
variável real com domı́nio D = N, e portanto as ideias e resultados sobre
limites que estudámos no Capı́tulo 2 aplicam-se a sucessões como se aplicam
a quaisquer outras funções. Exactamente por isso, no caso de uma sucessão
só faz sentido considerar o seu limite quando n → ∞, porque só definimos
lim f (x) quando a é ponto de acumulação do domı́nio de f .
x→a
Sendo u uma sucessão, designamos o seu limite por um qualquer dos
seguintes sı́mbolos:
lim un = lim un = lim u(n)
n→∞ n→∞
Exemplos 5.2.3.
(1) Para mostrar que un = n1 → 0 usando apenas a proposição 5.2.1, supomos
dado um ε > 0 arbitrário. Existe por razões óbvias um natural N ∈ N
tal que N > 1ε , ou seja, tal que 0 < N1 < ε. É imediato verificar que
1 1
n>N ⇒| − 0| < ε, ou seja, lim =0
n n→∞ n
208 CAPÍTULO 5. SUCESSÕES E SÉRIES
n
(2) Para calcular o limite de un = 1 + n1 , consideramos a função dada por
x
f (x) = 1 + x1 para x > 0, donde un = f (n). Observamos que
n x
1 1
lim 1+ = lim 1+ = lim ex log(1+1/x) = e1 = e,
n→+∞ n x→+∞ x x→+∞
log(1 + y) 1/(1 + y)
lim x log(1 + 1/x) = lim = lim =1
x→+∞ y→0 y y→0 1
1
0 < |xn − a| < e |f (xn ) − b| > ε.
n
A primeira condição garante que xn → a e a segunda condição garante que
b não é limite de f (xn ), o que contradiz a nossa hipótese.
Esta proposição é por vezes uma forma prática de mostrar que a função
f não tem limite em a dado, determinando para isso sucessões un , vn → a,
mas tais que f (un ) e f (vn ) têm limites distintos.
Exemplo 5.2.5.
5.2. SUCESSÕES 209
1 1
un = e vn =
2πn 2πn + π/2
Como α = sup {un : n ∈ N}, existe algum up ∈ Vε (α), ou seja, tal que
α − ε < up ≤ a. Como (un ) é crescente, concluı́mos que
sn+1 − sn = an+1 ≥ 0,
∞
X ∞
X
an = a1 + a2 + · · · + an + · · · ≤ b1 + b2 + · · · + bn + · · · = bn ,
n=1 n=1
sendo que se a soma da série à direita é finita, é-o também a soma da série
à esquerda, e se a soma da série à esquerda é infinita, é-o também a soma
da série à direita. É esse o conteúdo do próximo teorema:
Exemplos 5.3.3.
P∞
(1) A série de Zenão é convergente, e n=1 21n = 1. Segue-se que qualquer série
1
com termo geral 0 ≤ an ≤ 2n é igualmente convergente, e tem soma ≤ 1.
A tı́tulo de exemplo, as seguintes séries (que não são geométricas) são todas
convergentes, e todas têm soma inferior a 1, porque os respectivos termos gerais
não excedem 1/2n :
∞ ∞ ∞
X 1 X 1 X n
, ,
n=1
n + 2 n=1 3 + 2 n=1 2 (n2 + 1)
n n n n
212 CAPÍTULO 5. SUCESSÕES E SÉRIES
P∞
(2) A série harmónica é divergente, ou seja, n=1 n1 = +∞. Portanto, qualquer
série com termo geral bn ≥ n1 é igualmente divergente. A tı́tulo de exemplo,
as seguintes séries são todas divergentes, porque os respectivos termos gerais
excedem 1/n:
∞ ∞ ∞
X 1 X n+2 X 1
√ , ,
n=1
n n=1
n(n + 1) n=1
n − 1/2
Demonstração. Definimos
0, se n < m 0, se n < m
ãn = e analogamente b̃n =
an , se n ≥ m bn , se n ≥ m
n−1
X Z n
• f (k) é uma soma superior de f (x)dx.
k=1 1
f (1)
f (2)
f (3)
f (4)
1 2 3 4 5
n
X Z n n−1
X
Figura 5.3.1: f (k) ≤ f (x)dx ≤ f (k).
k=2 1 k=1
Temos então
n
X Z n Z ∞
f (k) ≤ f (x)dx ≤ f (x) dx,
k=2 1 1
Exemplos 5.3.6.
∞
X 1
1. Vimos que a série de Dirichlet α
é divergente, quando α ≤ 1.
n=1
n
O Critério Integral esclarece facilmente a natureza da série para α > 1. Neste
caso, temos
Z ∞ Z b
1 1 1 1 1
α
dx = lim α
dx = lim − α−1
+ =
1 x b→+∞ 1 x b→+∞ (α − 1)b α − 1 α − 1
Segue-se do teorema 5.3.5 que a série de Dirichlet é convergente quando
α > 1.
2. A ideia subjacente ao teste integral permite também obter estimativas para
o erro cometido quando substituı́mos a soma de uma dada série por uma sua
soma parcial. Nas condições do teorema 5.3.5, é fácil mostrar que
X∞ Xn X∞ Z ∞
S − Sn = f (k) − f (k) = f (k) ≤ f (x)dx
k=1 k=1 k=n+1 n
Teorema 5.3.7 (Critério Integral para STNN). Seja P f : [1, ∞[→ R uma
função positiva decrescente para x ≥ α. Então a série ∞n=1 f (n) converge
se e só se existe e é finito o limite:
Z ∞ Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
1 b→+∞ 1
Exemplo 5.3.8.
P∞
Considere-se a série k=1 ke−k/2 . A função dada por f (x) = xe−x/2 é de-
crescente para x ≥ 2 e temos
Z b b
xe−x/2 dx = −2(x + 2)e−x/2 → 6e−1/2 .
1 1
Teorema 5.3.9 (Critério do Limite para STNN). Se (an ) e (bn ) são su-
cessões reais de termos positivos tais que an /bn → L, onde 0 < L < +∞,
então
∞
X ∞
X
as séries an e bn são da mesma natureza.
n=1 n=1
Exemplos 5.3.10.
216 CAPÍTULO 5. SUCESSÕES E SÉRIES
Concluı́mos
P 1 do Teorema 5.3.9 que as séries são da mesma natureza, ou seja, a
série 3n −2n também converge.
P 2n+1
(2) Para determinar a natureza da série √ , observamos primeiro que,
n n(n+1)
quando n é “grande”, temos
2n + 1 2n 2
p ≈ √ ≈ ,
n n(n + 1) n n2 n
√2n+1
an n n(n+1) 2n + 1 2 + 1/n
lim = lim 1 = lim p = lim p = 2.
bn n n(n + 1) 1 + 1/n2
√2n+1
P P
Como 1/n diverge, segue-se que a série diverge igualmente.
n n(n+1)
Demonstração. Se r < 1, tomamos s tal que r < s < 1, e notamos que existe
p ∈ N tal que
√
n
an < s quando n ≥ p.
5.3. SÉRIES DE TERMOS NÃO-NEGATIVOS 217
Exemplos 5.3.12.
∞
X n
(1) Para determinar a natureza de n
, notamos que(2 )
n=1
2
√
√ n
n 1
n
an = → .
2 2
Concluı́mos pelo Critério da Raı́z (5.3.11) que a série dada é convergente.
(2) O critério da raı́z é inconclusivo quando r = 1, ou seja, se r = 1 a série em
questão tanto pode ser convergente como divergente. Observe-se que
∞
X 1 √ 1
• A série é divergente e n an = √
n
n
→ 1.
n=1
n
∞
X 1 √ 1
• A série 2
é convergente e n an = √
n 2 → 1.
n=1
n n
an ≤ c · sn , para qualquer n ≥ p.
√
2
Recorde que n
n = elog n/n → e0 = 1.
218 CAPÍTULO 5. SUCESSÕES E SÉRIES
Concluı́mos pelo Critério da Razão (Teorema 5.3.13) que a série dada é con-
vergente.
(2) O critério da razão é também inconclusivo quando r = 1. Mais uma vez,
∞
X 1
• A série é divergente e an+1 /an = n/(n + 1) → 1.
n=1
n
∞
X 1
• A série 2
é convergente e an+1 /an = n2 /(n + 1)2 → 1.
n=1
n
Note-se igualmente que, quando existe lim an , temos lim an = lim sup an . Uti-
lizando esta noção, o critério da raı́z toma a seguinte forma, que é muito geral
porque não supõe a existência do limite da raı́z:
P
Teorema 5.3.16 (Critério da Raı́z). Seja n an uma série numérica com
√
an > 0 e r = lim sup n an ∈ R. Então:
P
(a) se r < 1 a série n an converge.
P
(b) se r > 1 a série n an diverge.
A respectiva demonstração, que também omitimos, é uma adaptação relativa-
mente simples da de 5.3.11.
mas a convergência de ∞
P P∞
n=1 |an | implica sempre a convergência de n=1 an ,
de acordo com o seguinte resultado:
P P
Teorema 5.4.1. Se n |an | converge, então n an também converge e
X∞ X ∞
an ≤ |an | .
n=1 n=1
Exemplos 5.4.3.
(1) Observamos que
∞ ∞
X (−1)n X 1
2
é absolutamente convergente, porque é convergente.
n=1
n n=1
n2
P∞
A série de módulos correspondente é a série de Dirichlet n=1 n12 que converge.
Pelo Teorema 5.4.1, concluı́mos que a série original converge.
P∞ 2
(2) Temos também n=1 sen(n n2
)
absolutamente convergente, porque
∞
sen(n2 )
≤ 1 e 1
X
n2 n2 2
converge.
n=1
n
dn < S < cn
Notamos em particular que as somas parciais pares S2n são aproximações por
excesso de S enquanto que as somas parciais ı́mpares S2n−1 são aproximações
por defeito de S. Mais exactamente,
−1/2
+1/3
−1/4
+1/5
−1/6
s2 s4 s6 s5 s3 s1 = 1
Exemplos 5.4.5.
1. Como 1/n ց 0, concluı́mos que a chamada série harmónica alternada
∞
X (−1)n+1 1 1 1
= 1 − + − + ···
n=1
n 2 3 4
Teorema 5.4.6. Qualquer série obtida por reordenação dos termos de uma
série absolutamente convergente é também absolutamente convergente, com
soma igual à soma da série original.
P
Teorema 5.4.7 (Riemann). Sejam n bn uma série simplesmente conver-
gente
P e β ∈ R arbitrário. Então, existem séries obtidas por reordenação de
n bn com soma igual a β.
mas naturalmente não dispomos ainda dos instrumentos necessários para su-
portar esta afirmação.
Exemplo 5.5.3.
Considere-se a série de potências
∞
X 1
n
(x − 1)n .
n=0
2
e divergente quando
x − 1
2 ≥ 1 ⇐⇒ |x − 1| ≥ 2 ⇐⇒ x ∈ ]−∞, −1] ∪ [3, +∞[ .
Mais uma vez, a série de potências e a função acima são iguais no domı́nio
de convergência da série, mas têm domı́nios de definição distintos, porque a
função à direita está definida para qualquer x 6= 3, não apenas para x ∈]− 1, 3[.
Observamos que:
• se A = ∅: é evidente que R = 0;
• se A 6= ∅: Dado x ∈ R, notamos que
(1) Se |x|P< sup A então existe r = |y| ∈ A talPque r > |x| e a
série n an y n converge. Segue-se que a série n an xn converge
absolutamente pelo lema 5.5.4. Por outras palavras, o raio de
convergência da série é pelo menos R = sup A.
(2) Se |x| > sup A (o que
P só é possı́vel se sup A < +∞) então |x| 6∈ A,
n
e portanto a série n an x diverge.
absolutamente
divergente convergente divergente
a−R a a+R
Ilustramos este resultado com alguns exemplos simples, onde o raio de con-
vergência pode ser sempre calculado com recurso ao critério da razão.
Exemplos 5.5.6.
∞
X xn
1. No caso da série de potências , temos
n=1
n3n
(n + 1)!|x|n+1
= (n + 1)|x| → +∞ se x 6= 0.
n!|x|n
Registe-se que o teorema 5.5.5 não inclui quaisquer conclusões sobre a na-
tureza da série quando |x − a| = R, i.e., quando x = a ± R. Os exemplos
5.5.6 ilustram diversas possibilidades, mas na realidade a natureza da série
de potências nos pontos x = a ± R é inteiramente arbitrária.
É claro que qualquer série de potências ∞ n
P
n=0 an (x − a) com um raio
de convergência R > 0 determina uma função f : D → R, onde D é um dos
intervalos com extremos a − R e a + R:
∞
X
(5.5.2) f (x) := a0 +a1 (x−a)+a2 (x−a)2 +· · · = an (x−a)n , (x ∈ D).
n=0
∞ ∞
a1 X an X an−1
(5.5.4) a0 x + (x − a)2 + · · · = (x − a)n+1 = (x − a)n .
2 n=0
n + 1 n=1
n
Podemos usar esta série de potências para obter outras séries, sem grandes di-
ficuldades, como aludimos no inı́cio deste Capı́tulo, a propósito das identidades
5.1.8 a 5.1.13:
4
Quando o intervalo de convergência inclui algum dos seus extremos, a continuidade
de f nos extremos em questão é um caso particular do chamado Teorema de Abel.
5.5. SÉRIES DE TAYLOR 229
7. Primitivando (4), e como mais uma vez as duas primitivas abaixo se anulam
em x = 0, temos
∞
X (−1)n 2n+1
(7) arctan x = x
n=0
2n + 1
Tal como no exemplo anterior, a série é agora simplesmente convergente em
x = 1 pelo critério de Leibniz das séries alternadas, ou seja, temos I =] − 1, 1[
e D =] − 1, 1]. Observamos igualmente que
∞
X (−1)n π
(7 a) = arctan(1) = ,
n=0
2n + 1 4
f (n) (a)
A série (1) tem raio de convergência R e an = , i.e.,
n!
∞
X f (n) (a)
f (x) = (x − a)n
n!
n=0
2. Se f (x) = sen x, as derivadas f (n) (x) formam a sucessão sen x, cos x, − sen x,
− cos x, sen x, · · · . A sucessão f (n) (x) é assim 0, 1, 0, −1, 0, · · · e a série de
Maclaurin, que só tem termos ı́mpares, é
∞ ∞
X (−1)n−1 2n−1 X (−1)n 2n+1
x = x
n=1
(2n − 1)! n=0
(2n + 1)!
5
Recorde a definição 3.7.4.
232 CAPÍTULO 5. SUCESSÕES E SÉRIES
Vimos já que a série em (1) é absolutamente convergente para qualquer x ∈ R,e
segue-se por comparação que as séries (2) e (3) são também absolutamente
convergentes, mas claro que ainda não estabelecemos que a respectiva soma é
a função original.
pode falhar para x 6= a tanto porque a série converge para uma soma que é
diferente de f (x), como porque a série é divergente, apesar de não ser par-
ticularmente simples ilustrar esta última situação com exemplos especı́ficos.
Exemplos 5.5.14.
1. Recorde-se a função do exemplo 3.7.8, cujo gráfico está esboçado na figura
3.7.4. A função é dada por
( 1
e− x2 , se x 6= 0
f (x) =
0, se x = 0
É portanto claro que para estas funções, como aliás para qualquer função com
todas as derivadas limitadas por uma mesma constante, temos
∞
X f (k) (a)
f (x) = (x − a)k .
k!
k=0
n
Como f (b) |x−a|
n! → 0 quando n → ∞, segue-se que
∞
X f (k) (a)
f (x) = (x − a)k para qualquer x < b.
k!
k=0
Como f ′ (x) = g ′ (x) para |x − a| < a e f (a) = g(a) = log a, concluı́mos que
g(x) = log x no seu intervalo de convergência, que é na realidade ]0, 2a].
2
2. Para calcular a série de Taylor de uma função como f (x) = e−x , deve
simplesmente proceder-se por substituição na série conhecida da exponencial:
∞ n ∞
−x2
X −x2 X (−1)n 2n
e = = x
n=0
n! n=0
n!
sen x
3. O cálculo da série de Taylor de f (x) = x é também uma simples mani-
pulação algébrica:
∞ ∞
sen x 1 X (−1)n 2n+1 X (−1)n 2n
= x = x
x x n=0 (2n + 1)! n=0
(2n + 1)!