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Hiperbolóides n-dimensionais*
1 - Introdução:
dx, y = ‖x − y‖ = 〈x − y, x − y〉
–X ⊥ é o complemento ortogonal do conjunto X. Portanto, X ⊥ = SX ⊥ .
–Diz-se que os subespaços U, V ⊆ E são ortogonais quando U = V ⊥ e V = U ⊥ .
–Se E é de dimensão finita e U, V ⊆ E são subespaços ortogonais, então:
E = U ⊕ U⊥ = U ⊕ V
Diz-se que uma forma quadrática g : E R é:
–Não-negativa quando gx ≥ 0 para todo x ∈ E.
–Não-positiva quando gx ≤ 0 para todo x ∈ E.
–Positiva quando gx > 0 para todo x ∈ E ∖ 0.
–Negativa quando gx < 0 para todo x ∈ E ∖ 0.
–Indefinida quando existem x, y ∈ E com gx < 0 e gy > 0.
Seja E um espaço produto interno real de dimensão finita. Dada a forma
quadrática g : E R, seja A ∈ LE o único operador auto-adjunto, o qual existe
(Lima, 2001, p. 237) tal que gx = 〈x, Ax〉 para todo x.
–O posto de g é o posto do operador A.
–O índice de g é (Lima, 2001, p. 241) a maior das dimensões dos subespaços
F de E tais que a restrição g|F de g a F é negativa.
–A assinatura de g é (Birkhoff, 1967, p. 387) a maior das dimensões dos
subespaços F de E tais que a restrição g|F de g a F é positiva.
–Quando g for não-negativa (resp. não-positiva), diz-se que o índice (resp.
assinatura) de g é zero.
–Os símbolos ρg, ιg e σg indicarão respectivamente o posto, o índice e a
assinatura da forma quadrática g.
Uma função F : E R, definida num espaço vetorial real E, chama-se
função quadrática quando Fx = gx + hx para todo x, onde g é uma forma
quadrática e h é um funcional linear. Se E é um espaço produto interno real de
dimensão finita, então existem um único operador auto-adjunto A ∈ LE e um único
vetor a ∈ E de modo que:
Fx = 〈x, Ax〉 + 〈a, x〉
Uma quádrica no espaço vetorial real E é a imagem inversa F −1 α do
conjunto α (onde α é um número real) pela função quadrática F. Uma cônica é uma
quádrica num espaço vetorial E de dimensão 2.
Uma quádrica F −1 α diz-se central quando existem uma forma quadrática
g : E E e um único ponto c ∈ E de modo que Fx = gx − c para todo x ∈ E. O
ponto c chama-se centro da quádrica.
Dado o espaço produto interno real E de dimensão n, seja F a função
quadrática x gx − c, onde c ∈ E e g : E R é uma forma quadrática de posto
n. Portanto,
Fx = 〈x − c, Ax − c〉
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
1, se i = j
δ ij =
0, se i ≠ j
3 - Preliminares:
G = F ⊕ G ∩ F ⊥ = F × G ∩ F ⊥
3-6 Seja G : E × E R uma forma bilinear simétrica tal que a forma quadrática
g : x Gx, x é não-negativa. Seja F = g −1 0. Tem-se:
u, v ∈ F × F Gu, v = 0
Com efeito: Sendo g não-negativa, se gu = gv = 0 então vale, para todo t ∈ R,
gu + tv = t 2 gv + 2tGu, v + gu = 2tGu, v ≥ 0
Portanto, não pode ser Gu, v diferente de 0. Decorre daí que F é subespaço de E.
De fato: Dados u, v ∈ F e α, β ∈ R, tem-se gu = gv = Gu, v = 0, donde:
gαu + βv = α 2 gu + 2αβGu, v + β 2 gv = 0
Sejam u ∈ E ∖ F e v ∈ F. Como g é não-negativa e gv = 0,
gu + tv = 2tGu, v + gu ≥ 0
para todo t ∈ R. Daí decorre Gu, v = 0. Por conseguinte,
u, v ∈ E ∖ F × F Gu, v = 0
Dados u, v ∈ E ∖ F tem-se:
gu + tv = t 2 gv + 2tGu, v + gu ≥ 0
valendo esta desigualdade para todo t. Assim sendo, Gu, v 2 ≤ gugv. Segue daí
e do exposto acima que vale, para quaisquer u, v ∈ F, a desigualdade:
|Gu, v| ≤ gu . gv
3-8 Seja g a forma quadrática definida no espaço vetorial E por gx = 〈x, Ax〉,
onde A ∈ LE é auto-adjunto. Dada a base B de E formada por autovetores de A, a
qual existe (Lima, 2001, Teorema 13.6, p. 167) sejam I ⊆ B o conjunto dos
autovetores correspondentes aos autovalores negativos e J ⊆ B o conjunto dos
autovetores correspondentes aos autovalores positivos. Os conjuntos I e J são
disjuntos, e a reunião I ∪ J é o conjunto dos autovetores u ∈ B para os quais Au é
diferente de 0. Por esta razão,
ImA = SI ∪ J = SI ⊕ SJ
Sejam F = SI, G = SJ, P a projeção ortogonal sobre F e Q a projeção ortogonal
sobre G. Sendo A auto-adjunto, kerA e ImA são subespaços ortogonais, logo E =
ImA ⊕ kerA. Segue daí e das igualdades acima que, para todo x ∈ E tem-se x = Px
+ Qx + y, onde y ∈ kerA. Por isto, Ax = APx + AQx para todo x ∈ E.
3-9 Seja g : E R definida por gx = 〈x, Ax〉, onde A ∈ LE é auto-adjunto.
Dada a base B de E formada por autovetores de A, sejam I, J, F, G, P e Q como no
item 3-8. Sendo I e J conjuntos linearmente independentes, tem-se:
Como se pode verificar facilmente, g|F é negativa e g|G é positiva. Por isto, o índice
ιg de g é maior ou igual a cardI. Seja V ⊆ E um subespaço restrito ao qual g é
negativa. Dado arbitrariamente x ∈ V ∖ 0, tem-se:
gx = 〈Px, APx〉 + 〈Qx, AQx〉 < 0
Em virtude de ser 〈Qx, AQx〉 ≥ 0, decorre da igualdade acima que 〈Px, APx〉 < 0,
portanto Px é diferente de 0. Assim sendo, a transformação linear B : V F,
definida por Bx = Px, é injetiva. Daí segue:
dimV ≤ dimF = cardI
Por conseguinte, ιg ≤ cardI. Daí decorre:
ιg = cardI = dimF
Procedendo de modo análogo, obtém-se:
σg = cardJ = dimG
Em vista do item 3-8, a soma ιg + σg é a dimensão de ImA. Portanto, se A é
automorfismo então ιg + σg = dimE. Observe-se que, sendo I e J conjuntos de
autovetores de A, os subespaços F = SI e G = SJ são invariantes por A.
Observe-se também que ιg e σg são respectivamente os números de autovalores
positivos e negativos de A, contados com suas multiplicidades.
3-12 Seja g a forma quadrática definida no espaço vetorial E por gx = 〈x, Ax〉,
onde A : E E é um operador linear auto-adjunto. Dada a base B de E formada por
autovetores de A, sejam J ⊆ B o conjunto dos autovetores correspondentes aos
autovalores positivos e F o subespaço SJ gerado por J. Seja W ⊆ E um subespaço
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
com F ⊆ W. Então g|W e g têm a mesma assinatura. Com efeito: É evidente que
σg|W ≤ σg. Uma vez que F ⊆ W, tem-se gx = g|Wx para todo x ∈ F. Logo, a
restrição a F de g|W é positiva, e daí segue σg = dimF ≤ σg|W. Sejam P a
projeção ortogonal sobre W e A 1 : W W o operador linear definido por A 1 x = PAx.
Todo vetor u ∈ J é autovetor de A 1 , com o mesmo autovalor. De fato, como F ⊆ W e
F é invariante por A, tem-se:
A 1 x = PAx = Ax
qualquer que seja x ∈ F, e portanto A 1 u = Au para todo u ∈ J. Seja X a quádrica
g −1 1. Se A 1 é um automorfismo, então X ∩ W = g|W −1 1 é um elipsóide ou
um hiperbolóide, conforme seja g|W positiva ou indefinida. Em particular, se W = F,
então X ∩ W é o elipsóide X ∩ F, que se reduz a uma elipse se a assinatura de g, e
portanto a dimensão de F, é 2. Quando a assinatura de X for igual a 1, F é o
subespaço Su de E gerado por algum vetor u ∈ B. Assim sendo,
X∩F = − 1 u, 1 u
λ λ
onde λ é o autovalor (positivo) correspondente ao autovetor u.
3-13 Seja F : x 〈x, Ax〉 + 〈a, x〉, onde A ∈ LE é auto-adjunto. Então,
a ∈ ImA se, e somente se, existe c ∈ E de modo que Fx = 〈x − c, Ax − c〉 + Fc
para todo x. No caso afirmativo, Fx = 〈x − c, Ax − c〉 + Fc para todo x ∈ E e para
qualquer que seja c ∈ A −1 −1/2a. Com efeito: Sendo A auto-adjunto, valem,
para quaisquer que sejam x, c ∈ E, as igualdades:
Fx = Fx − c + c =
∃ c ∈ E∀x ∈ E〈2Ac + a, x − c〉 = 0
∃ c ∈ E2Ac + a = 0 a ∈ Im A
Supondo-se a ∈ Im A, tem-se que A −1 −1/2a é uma variedade linear modelada
no núcleo kerA de A. Assim, se Ac 1 = Ac 2 = −1/2a então c 2 = c 1 + v, para
algum v ∈ ker A. Sendo A auto-adjunto, ker A = Im A ⊥ , portanto
〈a, v〉 = 〈Au, v〉 = 0 para todo u ∈ E. Daí segue:
〈x − c 2 , Ax − c 2 〉 = 〈x − c 1 − v, Ax − c 1 − v〉 =
= 〈x − c 1 , Ax − c 1 〉
Fc 2 = 〈c 2 , Ac 2 〉 + 〈a, c 2 〉 =
= 1/2〈a, c 1 〉 = Fc 1
F = g ∘ Tc
Portanto, para qualquer conjunto B ⊆ R valem as igualdades:
F −1 B = g ∘ T c −1 B = T −1 −1 −1
c g B = c + g B
4 - Hiperbolóides
4-1 - Lema:
Seja g a forma quadrática definida no espaço vetorial E por gx = 〈x, Ax〉,
onde A ∈ LE é auto-adjunto e não-nulo. Sejam b 1 , … , b m ∈ E ∖ 0 quaisquer. Então
existe um vetor v ∈ E de modo que os números reais gv e 〈b 1 , v〉, … , 〈b m , v〉 são todos
diferentes de zero.
Demonstração:
(i)Sendo A auto-adjunto e não-nulo, a forma quadrática g definida acima é não-nula
(de fato, A possui pelo menos um autovalor diferente de zero). Portanto, existe um
vetor v 0 ∈ E tal que gv 0 é diferente de zero. Dado arbitrariamente b 1 ∈ E ∖ 0,
seja ϕ : R R definida por:
60º SBA M. L. Crispino
ϕt = gv 0 + tb 1
Ou bem v 0 ∈ Sb 1 ⊥ ou bem v 0 ∉ Sb 1 ⊥ . Se v 0 ∈ Sb 1 ⊥ então 〈v 0 , b 1 〉 = 0,
portanto 〈b 1 , v 0 + tb 1 〉 = t‖b 1 ‖ 2 para todo número real t. A função ϕ é contínua e
ϕ0 = gv 0 . Sendo gv 0 diferente de 0, existe t 1 > 0 tal que ϕt 1 = gv 0 + t 1 b 1 é
diferente de 0. Para este t 1 , tem-se também 〈b 1 , v 0 + t 1 b 1 〉 diferente de 0. Se, por
outro lado, v 0 ∉ Sb 1 ⊥ , então os números gv 0 e 〈v 0 , b 1 〉 são ambos diferentes de
zero. Por conseguinte, o lema é válido para m = 1.
(ii)Supondo que vale o lema para m ≥ 1, sejam b 1 , … , b m+1 ∈ E ∖ 0 quaisquer. Pela
hipótese admitida, existe v ∈ E de modo que os números gv, 〈b 1 , v〉, … , 〈b m , v〉 são
todos diferentes de 0.
Sejam ϕ 0 , ϕ 1 , … , ϕ m : R R definidas por:
ϕ 0 t = gv + tb m+1
ϕ j t = 〈b j , v + tb m+1 〉, j = 1, … , m
As funções ϕ 0 , ϕ 1 , … , ϕ m são contínuas, e os números reais ϕ 0 0, ϕ 1 0, … , ϕ m 0
são, pela hipótese admitida, diferentes de 0. Por esta razão, existe τ ∈ R, τ > 0, de
modo que ϕ 0 τ = gv + τb m+1 é diferente de 0 e os números ϕ j τ = 〈b j , v + τb m+1 〉,
j = 1, … , m, são diferentes de 0. Ou bem v ∈ Sb m+1 ⊥ ou bem v ∉ Sb m+1 ⊥ . Se
v ∈ Sb m+1 ⊥ então 〈b m+1 , v + τb m+1 〉 = τ‖b m+1 ‖ 2 > 0. Se, por outro lado,
⊥
v ∉ Sb m+1 , então gv e os números 〈b 1 , v〉, … , 〈b m+1 , v〉 são todos diferentes de 0.
Logo, o resultado segue. □
4-2 - Teorema:
Sejam F 1 , F 2 definidas no espaço vetorial E de dimensão n ≥ 2 por:
F 1 x = 〈x, A 1 x〉 + 〈a 1 , x〉
F 2 x = 〈x, A 2 x〉 + 〈a 2 , x〉
onde A 1 , A 2 ∈ LE são auto-adjuntos não-nulos. Sejam X j = F −1
j α j , j = 1,2, sendo
X 1 = X 2 . Se existe p ∈ X 1 tal que 2A 1 p +a 1 ≠ 0, então, para este p vale
2A 2 p +a 2 ≠ 0. Tem-se também que os vetores 2A 1 p +a 1 , 2A 2 p +a 2 são linearmente
dependentes.
Demonstração:
(i)Seja p ∈ X 1 com 2A 1 p +a 1 ≠ 0. Seja v ∈ E (o qual existe, conforme o Lema 4-1) de
modo que:
Pelo exposto na Seção 3 (item 3-16) existe, para este v, um número real τ diferente
de zero de modo que:
p + Sv ∩ X 1 = p, p + τv 4-2-2
Em virtude de ser X 1 = X 2 , tem-se também:
p + Sv ∩ X 2 = p, p + τv 4-2-3
A igualdade 4-2-3 leva a:
F 2 p = F 2 p + τv = α 2 4-2-4
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
F 2 p + w =
= 〈w, A 2 w〉 + 〈2A 2 p + a 2 , w〉 + F 2 p = 4-2-5
〈w, A 2 w〉 + α 2
4-3 - Teorema:
Dado o espaço vetorial E de dimensão n > 1, sejam F 1 , F 2 : E R definidas
por:
F 1 x = 〈x, A 1 x〉 + 〈a 1 , x〉
60º SBA M. L. Crispino
F 2 x = 〈x, A 2 x〉 + 〈a 2 , x〉
onde A 1 , A 2 ∈ LE são auto-adjuntos não-nulos. Sejam X j = F −1
j α j , j = 1,2, sendo
X 1 = X 2 . Suponhamos que existe p ∈ X 1 tal que 2A 1 p +a 1 ≠ 0. Nesta condição, existe
um número real k diferente de zero tal que A 2 = kA 1 , a 2 = ka 1 e α 2 = kα 1 .
Demonstração:
Seja p ∈ X 1 tal que 2A 1 p +a 1 ≠ 0. Pela igualdade X 1 = X 2 e pelo Teorema 4-2,
tem-se 2A 2 p +a 2 ≠ 0. Resulta também do Teorema 4-2 a existência de k ∈ R
diferente de zero tal que:
2A 2 p + a 2 = k2A 1 p + a 1 4-3-1
Sejam u ∈ E (o qual existe, conforme o Lema 4-1) de modo que:
〈u, A 1 u〉 ≠ 0, 〈2A 1 p + a 1 , u〉 ≠ 0, 〈2A 2 p + a 2 , u〉 ≠ 0 4-3-2
e v ∈ S2A 1 p +a 1 ⊥ dado arbitrariamente. Decorre de 4-3-2 que o vetor u não
pertence ao subespaço S2A 1 p +a 1 ⊥ , logo o conjunto u, v é linearmente
independente. Assim sendo, V = p + Su, v é uma variedade linear de dimensão 2.
Por 4-3-1 e pela escolha de v, 〈2A 2 p + a 2 , v〉 = 0. Por isto e pela igualdade X 1 = X 2 ,
um vetor p + xu + yv pertence a V ∩ X 1 se, e somente se, o vetor x, y ∈ R 2 cumpre
ambas as condições:
x 2 〈u, A 1 u〉 + 2xy〈u, A 1 v〉 + y 2 〈v, A 1 v〉 + x〈2A 1 p + a 1 , u〉 = 0 4-3-3
E = Su ⊕ SA 1 p + a 1 ⊥
Por conseguinte, qualquer vetor x ∈ E se escreve (de modo único) como x = λu +v,
onde λ ∈ R e v∈ SA 1 p +a 1 ⊥ . O operador A 2 − kA 1 sendo auto-adjunto, tem-se:
〈x, A 2 − kA 1 x〉 =
= λ 2 〈u, A 2 − kA 1 u〉 + 2λ〈u, A 2 − kA 1 v〉 + 〈v, A 2 − kA 1 v〉
para todo x ∈ E. Decorre daí, de 4-3-7 e de 4-3-8 que 〈x, A 2 − kA 1 x〉 = 0 para todo
x ∈ E. Em conseqüência, A 2 − kA 1 = 0, donde A 2 = kA 1 . Disto e de 4-3-1 resulta
a 2 = ka 1 . Assim sendo, F 2 = kF 1 , donde kF 1 x = F 2 x = α 2 para todo x ∈ X 2 .
Como F 1 x = α 1 para todo x ∈ X 1 , tem-se α 2 = kα 1 , o que encerra a demonstração.
□
O Teorema 4-3 não é válido se 2A 1 p + a 1 = 0 (em cujo caso tem-se também
2A 2 p + a 2 = 0) para todo p ∈ X 1 , como se pode ver tomando E = R n onde n ≥ 2,
A 1 = I a identidade de R n , A 2 ∈ LR n definida pondo A 2 e k = ke k para k = 1, … , n e
F i , i = 1,2, dada por:
F i x = 〈x, A i x〉, i = 1, 2
onde 〈. , . 〉 é o produto interno canônico de R n . Tem-se então:
F 1 x = ∑ k=1
n
〈x, e k 〉 2 = ‖x‖ 2
F 2 x = ∑ k=1
n
k〈x, e k 〉 2
e portanto:
F −1 −1
1 0 = F 2 0 = 0
4-4 - Corolário I:
Sejam E, F 1 e F 2 como no Teorema 4-3, sendo A 1 um automorfismo. Dados
−1
α 1 , α 2 ∈ R, sejam X j = F −1
j α j , j = 1,2, e c 1 = −1/2A 1 a 1 . Suponhamos que
existe p ∈ X 1 tal que 2A 1 p +a 1 ≠ 0. Suponhamos também α 1 − 1/2〈a 1 , c 1 〉 ≠ 0.
Nestas condições, se X 1 = X 2 então existe um automorfismo auto-adjunto B ∈ LE de
modo que:
X 1 = X 2 = x ∈ E : 〈x − c 1 , Bx − c 1 〉 = 1
Demonstração:
Supondo X 1 = X 2 , seja k ∈ R diferente de 0 (o qual existe, pelo Teorema 4-3) de
modo que A 2 = kA 1 , a 2 = ka 1 e α 2 = kα 1 . Sendo k diferente de 0, A 2 é também um
automorfismo, cujo inverso é:
A −1 1 A −1
2 = 4-4-1
k 1
Sejam:
c 2 = −1/2A −1
2 a 2
μ 1 = α 1 − 1/2〈a 1 , c 1 〉 4-4-2
μ 2 = α 2 − 1/2〈a 2 , c 2 〉
c 2 = −1/21/kA −1 −1
1 ka 1 = −1/2A 1 a 1 = c 1 4-4-3
Tem-se a 2 = ka 1 e α 2 = kα 1 . Daí e de 4-4-3 segue:
μ 2 = α 2 − 1/2〈a 2 , c 2 〉 =
= kα 1 − 1/2〈ka 1 , c 1 〉 = kα 1 − 1/2〈a 1 , c 1 〉 = 4-4-4
= kμ 1
X 1 = x ∈ E : 〈x − c 1 , 1/μ 1 A 1 x − c 1 〉 = 1
4-4-6
X 2 = x ∈ E : 〈x − c 2 , 1/μ 2 A 2 x − c 2 〉 = 1
Demonstração:
Suponhamos F −1 −1
1 1 = F 2 1. Fazendo:
a j = −2A j c j , j = 1, 2 4-5-1
2A 1 p + a 1 = 2A 1 p − c 1 4-5-4
Por 4-5-4 e pelo item 3-13 da Seção 3, 2A 1 p +a 1 ≠ 0, seja qual for p ∈ F −1
1 1.
Segue então de 4-5-3 e do Teorema 4-3 que existe um número real k diferente de 0
de forma que:
A 2 = kA 1 4-5-5
a 2 = ka 1 4-5-6
1 − g 2 c 2 = k1 − g 1 c 1 4-5-7
De 4-5-1, 4-5-5 e 4-5-6 tira-se:
a 2 = −2A 2 c 2 = −2kA 1 c 2 = ka 1 = −2kA 1 c 1 4-5-8
Sendo k diferente de 0, de 4-5-8 resulta:
A1c2 = A1c1 4-5-9
Resulta de 4-5-8 a existência de v ∈ kerA 1 tal que c 2 = c 1 + v. Como A 1 é
auto-adjunto, 〈v, A 1 x〉 = 0 para todo x ∈ E. Em particular, 〈v, A 1 c 1 〉 = 0. Por esta
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
razão,
g 2 c 2 =
= 〈c 2 , A 2 c 2 〉 = k〈c 2 , A 1 c 2 〉 = k〈c 1 + v, A 1 c 2 〉 =
= k〈c 1 , A 1 c 1 〉 = kg 1 c 1
De 4-5-7 e das igualdades acima obtém-se k = 1. Daí e de 4-5-5 segue A 1 = A 2 .
Resulta disto e de 4-5-9 que, se A 1 é automorfismo, então c 1 = c 2 . Com isto, a
demonstração está concluída. □
4-6 - Observações:
Seja E um espaço vetorial de dimensão n > 2.
(a) Resulta dos Corolários 4-4 e 4-5 que o índice, a assinatura e o centro do
hiperbolóide X ⊆ E estão bem definidos.
(b) Sejam A ∈ LE um automorfismo auto-adjunto, g a forma quadrática
x 〈x, Ax〉 e F a função quadrática x gx − c, onde c ∈ E. Dada a base
ortonormal u 1 , … , u n formada por autovetores de A, tem-se
Fx = gx − c = ∑ i=1
n
λ i 〈x − c, u i 〉 2
onde os λ i são os autovalores correspondentes aos autovetores u i , nesta ordem. Se g
é positiva, então o elipsóide X = F −1 1 é um conjunto limitado. De fato: Se α é o
menor dos autovalores λ 1 , … , λ n , então:
x ∈ X ∑ i=1
n
λ i 〈x − c, u i 〉 2 = 1
α‖x − c‖ 2 ≤ ∑ i=1
n
λ i 〈x − c, u i 〉 2 = 1
‖x − c‖ 2 ≤ 1/α
4-7 - Lema:
Dado o espaço vetorial E, seja g : E R uma forma quadrática indefinida.
Seja X o conjunto g −1 0. Se dimE ≥ 3, então X contém a reunião de uma classe
infinita de subespaços de dimensão 1. Noutros termos, X contém a reunião de uma
classe infinita de retas que contêm o ponto 0. Se dimE = 2, então X = Su 1 ∪ Su 2 ,
onde u 1 , u 2 ∈ E são vetores linearmente independentes.
Demonstração:
(i)Seja A ∈ LE o operador linear auto-adjunto (o qual existe) tal que gx = 〈x, Ax〉
para todo x. Seja B ⊆ E uma base ortonormal formada por autovetores de A. Uma
vez que g é indefinida, existem vetores u 1 , u 2 ∈ B tais que u 1 corresponde ao
autovalor λ 1 < 0 e u 2 é autovetor do autovalor λ 2 > 0. Sendo dimE ≥ 3, existe um
vetor u 3 ∈ B ∖ u 1 , u 2 . Em virtude de ser g −1 0 = −g −1 0, pode-se supor
(considerando −g em lugar de g e reordenando a base B, se necessário) que este
vetor u 3 é autovetor do autovalor λ 3 ≥ 0. Sejam:
F = Su 2 , u 3
G = Su 1 , u 2 , u 3
Então X ∩ G é o conjunto dos vetores x ∈ G que cumprem a condição:
λ 1 〈x, u 1 〉 2 + λ 2 〈x, u 2 〉 2 + λ 3 〈x, u 3 〉 2 = 0
Sejam f 1 , f 2 : F Su 1 definidas por:
1/2
λ 2 〈x, u 2 〉 2 + λ 3 〈x, u 3 〉 2
f 1 x = u1
|λ 1 |
1/2
λ 2 〈x, u 2 〉 2 + λ 3 〈x, u 3 〉 2
f 2 x = − u1
|λ 1 |
Em vista do exposto acima, X ∩ G = Y 1 ∪ Y 2 , onde Y 1 e Y 2 são respectivamente os
gráficos de f 1 e de f 2 . O espaço vetorial G é a soma direta F ⊕ Su 1 . Por esta razão,
se v 1 , v 2 ∈ F são linearmente independentes então, como se pode verificar
facilmente, v 1 + w 1 e v 2 + w 2 são também linearmente independentes, sejam quais
forem w 1 , w 2 ∈ Su 1 . Por conseguinte, dados quaisquer vetores linearmente
independentes v 1 , v 2 ∈ F, os vetores v 1 + f 1 v 1 e v 2 + f 1 v 2 , que pertencem a
X ∩ G, são linearmente independentes. Como dimF = 2, F contém uma classe
infinita U formada por vetores que são dois a dois linearmente independentes.
Portanto, X ∩ G contém uma classe infinita V, que é:
V = u + f 1 u : u ∈ U
formada por vetores linearmente independentes dois a dois. Assim sendo,
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
V = Sv : v ∈ V
é uma classe infinita de subespaços de dimensão 1. Como V ⊆ X ∩ G (note que X ∩ G
é um cone simétrico), tem-se Sv ⊆ X ∩ G ⊆ X para todo v ∈ V.
(ii)Se dimE = 2, então o conjunto X = g −1 0 é a reunião de dois subespaços de
dimensão 1. Com efeito: Sendo g indefinida, E possui uma base ortonormal u 1 , u 2 ,
onde u 1 é autovetor do autovalor λ 1 < 0 e u 2 é autovetor do autovalor λ 2 > 0. Por
conseguinte, X é o conjunto dos vetores x ∈ E que satisfazem:
λ 1 〈x, u 1 〉 2 + λ 2 〈x, u 2 〉 2 = 0
Fazendo α i = |λ i | 1/2 , i = 1, 2, obtém-se:
λ 1 〈x, u 1 〉 2 + λ 2 〈x, u 2 〉 2 =
= −〈x, α 1 u 1 − α 2 u 2 〉〈x, α 1 u 1 + α 2 u 2 〉
Portanto,
X = Sα 1 u 1 − α 2 u 2 ⊥ ∪ Sα 1 u 1 + α 2 u 2 ⊥
e, sendo α 1 , α 2 números reais positivos, os vetores α 1 u 1 − α 2 u 2 , α 1 u 1 + α 2 u 2 são
linearmente independentes. □
4-8 - Lema:
Seja W um espaço vetorial de dimensão n ≥ 1. Dada a forma quadrática
não-nula g : W R, seja G : W × W R a forma bilinear simétrica de qual provém g.
Então, g é não-negativa se, e somente se, existem subespaços U, V ⊆ W que cumprem
as seguintes condições: W = U ⊕ V, g|U é positiva, g|V é nula e Gu, v = 0 sejam
quais forem u ∈ U e v ∈ V.
Demonstração:
Supondo que existem subespaços U, V ⊆ W satisfazendo as condições do enunciado
acima, seja w ∈ W dado arbitrariamente. Existe um único par ordenado
u, v ∈ U × V tal que w = u + v. Tem-se:
Gu, v = Gv, u = gv = 0
donde:
gw = Gw, w = Gu + v, u + v =
4-9 - Corolário:
Seja g a forma quadrática definida no espaço vetorial E de dimensão n por
gx = 〈x, Ax〉, onde A ∈ LE é auto-adjunto. Seja b ∈ E tal que gb > 0. Então g é
não-negativa se, e somente se, a restrição de g ao subespaço SAb ⊥ é não-negativa.
Demonstração:
A forma bilinear simétrica G da qual provém g é definida por:
Gx, y = 〈x, Ay〉
Seja F = SAb ⊥ . Como gb = 〈b, Ab〉 > 0, o vetor b não pertence a F. Assim sendo,
E = Sb ⊕ F 4-9-1
Com efeito, dimSb = 1 e dimF = dimE − 1. Sendo gtb = t 2 gb
para todo t,
g|Sb é positiva. Tem-se também (Seção 3, item 3-7) Gu, v = 0, quaisquer que
sejam u ∈ Sb e v ∈ F. Portanto, se g|F é nula então, por 4-9-1 e pelo Lema 4-8, g é
não-negativa. Se, por outro lado, g|F é não-nula e não negativa, então existem,
conforme o Lema 4-8, subespaços U 0 , V ⊆ F tais que g|U 0 é positiva, g|V é nula,
F =U 0 ⊕ V e Gu, v = 0 sejam quais forem u ∈ U 0 e v ∈ V. Como b não pertence a
U 0 , U 0 ∩ Sb = 0, donde:
Sb + U 0 = Sb ⊕ U 0 4-9-2
Seja U = Sb ⊕ U 0 . Como U 0 ⊆ F, Gu, b = 0 para todo u ∈ U 0 . Por esta razão:
gu + tb = t 2 gb + 2tGu, b + gu = t 2 gb + gu
sejam quais forem u ∈ U 0 e t ∈ R. Decorre daí e do fato de ser g|U 0 positiva que g|U
é positiva. Sendo g|V nula, U ∩ V = 0. Logo, U + V = U ⊕ V. Assim sendo, a
expressão 4-9-1 e a igualdade F =U 0 ⊕ V levam a:
E = U⊕V 4-9-3
Tem-se Gx, y = 0 para todo x ∈ U e para todo y ∈ V. De fato: Como V ⊆ F,
Gb, v = 0 para todo v ∈ V. Em virtude de ser também Gu, v = 0 para quaisquer
u ∈ U 0 , v ∈ V, tem-se:
Gu + tb, v = Gu, v + tGb, v = 0
seja qual for t ∈ R. Resulta então do Lema 4-8 que g é não-negativa. Daí conclui-se
que, se g|F é não-negativa, então g é não-negativa. Reciprocamente: Se g é
não-negativa, então g|F também o é. Logo, o resultado segue. □
4-10 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x 〈x, Ax〉, e F a
função quadrática x gx − c, onde c ∈ E. Sejam X o hiperbolóide F −1 1, sendo a
assinatura de X maior ou igual a 2, e p ∈ X dado arbitrariamente. Existem vetores
linearmente independentes v 1 , v 2 ∈ E de modo que p + Sv 1 ∪ p + Sv 2 ⊆ X.
Noutros termos, existem duas retas distintas concorrentes no ponto p e contidas em X.
Se dimE > 3, então existe um conjunto infinito A ⊆ E, de vetores dois a dois
linearmente independentes, de modo que p + Sv ⊆ X para todo v ∈ A. Noutras
palavras, existe uma classe infinita V de retas que contêm p cuja reunião está contida
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
em X.
Demonstração:
(i)Seja k o índice de g. Dada a base ortonormal B de E formada por autovalores de A,
seja J ⊆ B o conjunto dos autovetores de A correspondentes aos autovalores
positivos. Sendo A automorfismo, (Seção 3, item 3-9), J tem n − k ≥ 2 elementos.
Dado arbitrariamente p ∈ X, sejam:
V = SJ 4-10-1
dimW = n − 1 4-10-4
De 4-10-3 e 4-10-4 segue:
n + 1 − dimV ∩ W = n − 1 + 2 − dimV ∩ W ≤
= dimV + W ≤ dimE = n
Destas expressões obtém-se dimV ∩ W ≥ 1. Em conseqüência, existe um vetor
v ∈ E diferente de 0 que pertence a V ∩ W, e portanto a W. Como v ∈ V e a restrição
de g a V é positiva, tem-se gv = 〈v, Av〉 > 0. Segue daí que existe v ∈ W ∖ 0 com
gv > 0.
(ii)Como p ∈ X, gp − c = 1. Se g|W fosse não-negativa, g seria não-negativa,
conforme o Corolário 4-9. Decorre daí e do item (i) que g|W é indefinida. A restrição
g|W de g a W é uma forma quadrática definida no espaço vetorial W. Como
dimW ≥ 2, existem, conforme o Lema 4-7, vetores linearmente independentes
v 1 , v 2 ∈ W de modo que gv 1 = gv 2 = 0. Para estes vetores tem-se:
gv j = 〈v j , Ap − c〉 = 0 4-10-5
De 4-10-5 e do exposto na Seção 3 (item 3-16) obtém-se:
p + Sv 1 ∪ p + Sv 2 ⊆ X
Se dimE > 3 então dimW ≥ 3. Daí e do Lema 4-7 decorre a existência de um
conjunto infinito A ⊆ E, formado por vetores dois a dois linearmente independentes,
tal que:
∀v ∈ Agv = 〈v, Ap − c〉 = 0 4-10-6
De 4-10-6 resulta:
⋃p + Sv : v ∈ A ⊆ X
Com isto, o teorema está demonstrado. □
Pelo Teorema 4-10, para que um hiperbolóide X de um espaço vetorial de
dimensão maior ou igual a 3 seja regrado, é suficiente que sua assinatura seja maior
ou igual a dois. Será demonstrado a seguir que esta condição é também necessária
para que o hiperbolóide X seja regrado.
60º SBA M. L. Crispino
4-11 - Teorema:
Sejam E, A, g e F como no Teorema 4-10, sendo a assinatura σg de g igual a
1. Seja X ⊆ E o hiperbolóide F −1 1. Então, para todo p ∈ X e para todo vetor
v ∈ E ∖ 0, não se pode ter p + Sv ⊆ X. Noutros termos, não existem retas
contidas em X.
Demonstração:
Dada a base ortonormal B de E formada por autovetores de A, seja J ⊆ B o conjunto
dos autovetores correspondentes aos autovalores positivos. Pela hipótese do
enunciado e pela Seção 3 (item 3-9), o conjunto J possui um único elemento. Seja
B = u 1 , … , u n enumerado de modo que J = u n . Sejam λ 1 , … , λ n os autovalores
correspondentes aos vetores u 1 , … , u n nesta ordem. Tem-se:
Au j = λ j u j , j = 1, … , n
Sejam:
V = Su 1 , … , u n−1 = Su n ⊥
W = c + V = c + Su n ⊥
Então W é o hiperplano que contém o ponto c e é normal ao vetor u n . Por
conseguinte, W é o conjunto das soluções da equação:
〈x − c, u n 〉 = 0
Dados p ∈ X e v ∈ E ∖ 0 arbitrários, seja U a reta p + Sv. Se v ∈ V então
gv < 0, pois a restrição de g ao subespaço V é negativa. Portanto não se pode ter
(Seção 3, item 3-16) U ⊆ X. Em conseqüência: Para que seja U ⊆ X é necessário que
seja 〈v, u n 〉 diferente de 0, e portanto que a interseção U ∩ W seja não-vazia. Por
outro lado, para qualquer que seja x ∈ X tem-se:
〈x − c, Ax − c〉 =
= −∑ n−1
i=1 |λ i |〈x
− c, u i 〉 2 + λ n 〈x − c, u n 〉 2 = 1
donde:
〈x − c, u n 〉 2 = 1 1 + ∑ i=1 |λ i |〈x − c, u i 〉 2
n−1
λn
Sendo λ n um número positivo, segue desta igualdade que 〈x − c, u n 〉 > 0 seja qual for
x ∈ X, e portanto que a interseção X ∩ W é vazia. Em vista disto e do exposto acima,
não se pode ter p + Sv ⊆ X, quaisquer que sejam p ∈ X e v ∈ E ∖ 0. □
Será demonstrada agora outra propriedade interessante: Hiperbolóides de
assinatura maior ou igual a dois intersectam qualquer hiperplano. Noutras palavras:
Se X ⊆ E é um hiperbolóide de assinatura maior ou igual a dois, então, para todo
hiperplano Y ⊆ E, a interseção X ∩ Y é não-vazia.
4-12 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x 〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g maior ou igual a 2, e F a função quadrática x gx − c. Seja X
o hiperbolóide F −1 1. Então, para todo hiperplano Y ⊆ E a interseção X ∩ Y é
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
não-vazia.
Demonstração:
A imagem, pela translação x b + x, de uma variedade linear de dimensão m V ⊆ E
é também uma variedade linear de dimensão m. Em vista disto e da Seção 3 (item
3-17), pode-se admitir, sem perda de generalidade, c = 0, e portanto X = g −1 1.
Fazendo então c = 0, sejam b ∈ E, n ∈ E ∖ 0 dados arbitrariamente, e Y o
hiperplano b + Sn ⊥ . Seja u um autovetor de A (o qual existe) que corresponde a
um autovalor negativo. Se 〈u, n〉 = 0 então u ∈ Sn ⊥ , portanto b + tu ∈ Y, qualquer
que seja t ∈ R. Como gu = 〈u, Au〉 é um número negativo, decorre da igualdade:
gb + tu = t 2 〈u, Au〉 + 2t〈u, Ab〉 + 〈b, Ab〉
que existe t 0 > 0 tal que gb + t 0 u < 1. Para este t 0 , b + t 0 u pertence a Y. Se, por
outro lado, 〈u, n〉 é diferente de 0, então Y ∩ Su possui um único elemento θu,
sendo:
〈b, n〉
θ =
〈u, n〉
Tem-se gθu = θ 2 gu ≤ 0, donde gθu < 1. Portanto existe, em qualquer caso,
v 1 ∈ Y tal que gv 1 < 1. Como σg ≥ 2, existe um subespaço F ⊆ E com
dimF ≥ 2, restrito ao qual a forma quadrática g é positiva. Com efeito, toda base
ortonormal B formada por autovetores do operador A possui, conforme o exposto na
Seção 3 (item 3-9), um subconjunto (próprio) cujo número de elementos é σg. Em
virtude de ser dimF ≥ 2 e dimSn ⊥ = n − 1, existe um vetor não-nulo v que
pertence à interseção F ∩ Sn ⊥ (v. item (i) da prova do Teorema 4-10). Para este v,
b + tv ∈ Y, seja qual for t ∈ R. Portanto:
gb + tv = t 2 〈v, Av〉 + 2t〈v, Ab〉 + 〈b, Ab〉
Como v ∈ F e g|F é positiva, gv = 〈v, Av〉 > 0. Decorre daí e da igualdade acima
que que existe t 1 > 0 tal que gb + t 1 v > 1. Para este t 1 , o vetor v 2 = b + t 1 v
pertence a Y. Sendo Y um hiperplano, v 1 + tv 2 − v 1 pertence a Y, seja qual for
t ∈ R. A função real ϕ definida por:
ϕt = gv 1 + tv 2 − v 1
é contínua, valendo gR ⊆ Y. Uma vez que:
4-13 - Observações:
Sejam E e A como no Teorema 4-12, g a forma quadrática x 〈x, Ax〉 e X o
hiperbolóide g −1 1.
(a) O Teorema 4-12 não é válido se X é um hiperbolóide de assinatura igual a 1.
De fato, dada a base ortonormal B de E formada por autovetores de A, se u n ∈ B é o
autovetor correspondente ao autovalor positivo λ n então X ∩ Su n ⊥ é vazia.
(b) O Teorema 4-12 também não é válido se a assinatura de X é maior ou igual a
dois e Y ⊆ E é uma variedade linear de dimensão m < n − 1. Com efeito, sejam B
60º SBA M. L. Crispino
4-14 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 2 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x 〈x, Ax〉, F a
função quadrática x gx − c e X o hiperbolóide F −1 1. Seja V ⊆ E a variedade
linear x 0 + F, modelada no subespaço F ⊆ E. Se X ⊆ V, então V = E. Noutros termos,
a única variedade linear que contém X é o espaço E.
Demonstração:
Seja k o índice de g, 1 ≤ k ≤ n − 1. Dada a base ortonormal B = u 1 , … , u n de E
formada por autovetores de A, sejam u 1 , … , u k o conjunto dos autovetores que
correspondem a autovalores negativos, e λ 1 , … , λ n os autovalores dos autovetores
u 1 , … , u n , nesta ordem. Fazendo:
ai = |λ i | −1/2 , i = 1, … , n
obtém-se:
c + ai u i + an 2 u n ∈ X, i = 1, … , k 4-14-1
c ± ai u i ∈ X, i = k + 1, … , n 4-14-2
Suponhamos X ⊆ V. Decorre de 4-14-2 que os vetores c − an u n e c + an u n
pertencem a V. Sendo V uma variedade linear, tem-se:
c = 1/2c − an u n + c + an u n ∈ V 4-14-3
e a expressão 4-14-3 conduz a:
V = c+F 4-14-4
Sejam v i = ai u i + an 2 u n se i = 1, … , k e v i = ai u i se i = k + 1, … , n. Por 4-14-1 e
4-14-2, c + v i ∈ X para i = 1, … , n. Segue daí e de 4-14-4 que v 1 , … , v n ⊆ F. Os
vetores v 1 , … , v n são, como se pode verificar fácilmente, linearmenente
independentes. Assim sendo, F = E. Isto prova o enunciado acima. □
Sejam A um automorfismo auto-adjunto, definido no espaço vetorial E de
dimensão n ≥ 3, e g a forma quadrática x 〈x, Ax〉. Dada a base ortonormal B
formada por autovetores de A, sejam J ⊆ B o conjunto dos vetores correspondentes
aos autovalores positivos, e G = SJ. Seja X a quádrica g −1 1. Em vista do
exposto na Seção 3 (item 3-12), X ∩ G é um elipsóide, sempre que a assinatura σg
de g for maior ou igual a 2. Do teorema que será demonstrado a seguir resulta uma
interessante propriedade: Se X é um hiperbolóide de assinatura maior ou igual a
dois e p é um ponto arbitrário de X então, dentre as retas p + Sv ⊆ X, pelo menos
duas intersectam o elipsóide X ∩ G.
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
4-15 - Teorema:
Dado o espaço vetorial E, sejam A ∈ LE um automorfismo auto-adjunto e g a forma
quadrática definida em E por gx = 〈x, Ax〉, sendo g indefinida e de assinatura σg
maior ou igual a 2. Sejam X ⊆ E o hiperbolóide g −1 1 e p ∈ X dado arbitrariamente.
Dada a base ortonormal B de E formada por autovetores de A, sejam J ⊆ B o conjunto
dos autovetores correspondentes aos autovalores positivos de A e G = SJ. Então,
existem vetores linearmente independentes w 1 , w 2 ∈ E tais que as seguintes
condições:
p + Sw 1 ∪ p + Sw 2 ⊆ X
p + Sw j ∩ X ∩ G ≠ ∅, j = 1, 2
são satisfeitas.
Demonstração:
(i)Em primeiro lugar, o teorema será provado no caso σg = dimE − 1. Admitindo 2
≤ σg = dimE − 1, seja n = dim E. O conjunto J possui (Seção 3, item 3-9) n − 1
elementos, e B possui um único elemento u que corresponde a um autovalor
negativo de A. Para este u tem-se J = B ∖ u. Daí e do fato de ser B um conjunto
ortonormal, segue:
G = SJ = SB ∖ u = Su ⊥ 4-15-1
Seja v um vetor não-nulo de modo que p + Sv ⊆ X (Como σg ≥ 2, este vetor v
existe, conforme o Teorema 4-10). Para este v tem-se (Seção 3, item 3-16) gv = 0.
Logo, v não pertence a G, pois a restrição de g a G é positiva. Por isto e por 4-15-1,
〈v, u〉 é diferente de 0. Assim sendo, existe um único número real θ de modo que:
p + Sv ∩ Su ⊥ = p + Sv ∩ G = p + θv 4-15-2
Como p + Sv ⊆ X, resulta de 4-15-2 que p + θv ∈ X ∩ G. Conclui-se daí que, se σg
= dimE − 1 então, para todo vetor v ∈ E ∖ 0 com p + Sv ⊆ X tem-se p + Sv ∩
X ∩ G não-vazia.
(ii)Supondo agora 2 ≤ σg < n − 1, onde n = dimE, sejam k e m respectivamente o
índice e a assinatura de g. Sejam I ⊆ B o conjunto formado pelos autovetores dos
autovalores negativos de A e F = SI. Do exposto na Seção 3 (item 3-9) segue:
k + m = dimF + dimG = dimE 4-15-3
Se p ∈ G então p pertence ao elipsóide X ∩ G, e nada mais há para demonstrar. Se,
por outro lado, p não pertence a G, então G ∩ Sp = 0, donde G + Sp = G ⊕ Sp.
Fazendo:
W = G ⊕ Sp
tem-se:
dimW = dimG + 1 = m + 1 4-15-4
Sejam P a projeção ortogonal sobre W e B : W W o operador linear definido por:
Bw = PAw
A restrição g|W de g a W é (Seção 3, item 3-11) dada por g|Ww = 〈w, PAw〉 =
〈w, Bw〉. Assim sendo, o operador B é (Seção 3, item 3-10) auto-adjunto. De 4-15-3 e
4-15-4 obtém-se:
60º SBA M. L. Crispino
4-16 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x 〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g maior ou igual a 2, e F a função quadrática x gx − c. Então
o hiperbolóide X = F −1 1 é conexo por caminhos.
Demonstração:
i)Em vista do exposto na Seção 3 (item 3-18), é suficiente provar o resultado acima
para c = 0, em cujo caso X = g −1 1. Sejam B uma base ortonormal formada por
autovalores de A, J ⊆ B o conjunto dos autovetores correspondentes aos autovalores
positivos e G = SJ. Seja p ∈ X arbitrário. Pelo Teorema 4-15, existe um vetor
v ∈ E ∖ 0 de modo que as seguintes condições:
p + Sv ⊆ X
4-16-1
p + Sv ∩ X ∩ G ≠ ∅
são satisfeitas. Portanto, existe um número real θ (se p ∈ X ∩ G então θ = 0) tal que:
p + θv ∈ X ∩ G 4-16-2
Seja ξ : 0, 1 E o caminho retilíneo definido por:
ξt = 1 − tp + tp + θv = p + tθv 4-16-3
Então, valem as seguintes afirmações:
ξ0 = p
ξ1 = p + θv ∈ X ∩ G
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
4-17 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x 〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g igual a 1, e F a função quadrática x gx − c. Então o
hiperbolóide X = F −1 1 tem duas componentes conexas.
Demonstração:
É suficiente (Seção 3, item 3-18) provar o teorema para c = 0, em cujo caso
X = g −1 1. Seja B = u 1 , … , u n uma base de E formada por autovetores de A, e
λ 1 , … , λ n os autovalores de A correspondentes aos autovetores u 1 , … , u n nesta
ordem. Seja B enumerada de modo que λ i < 0 para i = 1, 2, … , n − 1 e λ n > 0. Sejam
F = Su 1 , … , u n−1 e P : E E a projeção ortogonal sobre F. Valem, para qualquer
que seja x ∈ E, as igualdades:
Seja h : E R definida pondo hx = 〈x, u n 〉. Sendo g|F negativa, resulta de 4-17-1
que hx é diferente de 0 para todo x ∈ X. Por isto,
X ∩ h −1 0 = ∅ 4-17-2
Fazendo x 1 = λ −1/2
n u n e x 2 = −λ −1/2
n u n , de 4-17-1 obtém-se, gx 1 = gx 2 = 1. Logo,
60º SBA M. L. Crispino
Note que 〈v, Av〉 é um número negativo para todo v ∈ F ∖ 0. Resulta de 4-17-1 que
X ∩ h −1 0, ∞ é o gráfico de f 1 e X ∩ h −1 −∞, 0 é o gráfico de f 2 . As funções f 1 e f 2
sendo contínuas, os conjuntos X 1 = X ∩ h −1 0, ∞ e X 2 = X ∩ h −1 −∞, 0 são
não-vazios e conexos. Por 4-17-2, X = X 1 ∪ X 2 . Logo, o resultado segue. □
Seja X um hiperbolóide num espaço vetorial E de dimensão n ≥ 3. Foi
demonstrado acima que X é conexo por caminhos sempre que sua assinatura for
maior ou igual a dois, e tem duas componentes conexas se é um hiperbolóide de
assinatura um. Será provado agora que E ∖ X tem três componentes conexas se a
assinatura de X é um, e duas componentes conexas sempre que a assinatura de X
for maior ou igual a dois.
4-18 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x 〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g maior ou igual a 2, e F a função quadrática x gx − c. Seja X
o hiperbolóide F −1 1. Então E ∖ X tem duas componentes conexas.
Demonstração:
(i)É suficiente provar o teorema para o caso c = 0, no qual X = g −1 1. Sendo g
contínua, E ∖ X é a reunião U 1 ∪ U 2 dos conjuntos abertos U 1 e U 2 , os quais são:
Sendo g indefinida, existem vetores u 1 , u 2 ∈ E com gu 1 < 0 e gu 2 > 0. Tem-se
gtu 2 = t 2 gu 2 para todo número real t. Resulta disto que existem v 1 , v 2 ∈ E com
gv 1 < 1 e gv 2 > 1 (note que um dos vetores v 1 é o próprio u 1 , pois gu 1 < 0).
Portanto, U 1 e U 2 são ambos não-vazios. É evidente que U 1 e U 2 são disjuntos. Por
conseguinte, E ∖ X não é conexo.
(ii)Dada a base ortonormal B de E formada por autovetores de A, sejam I ⊆ B o
conjunto dos autovetores correspondentes aos autovalores negativos e J ⊆ B o
conjunto dos autovetores correspondentes aos autovalores positivos. Sejam:
F = SI, G = SJ
Como Px ∈ F e g|F é negativa, g 1 x < 0 para todo x ∈ E ∖ 0. É claro que 0 ∉ U 2 .
Logo, g 1 x < 0 para todo x ∈ U 2 . Este fato e a equação 4-18-2 conduzem a:
x ∈ U 2 g 2 x > g 1 x + g 2 x > 1 4-18-4
(iii)Dado x ∈ U 2 , seja ϕ : 0, 1 E o caminho retilíneo que liga x a Qx. Tem-se:
De 4-18-5 obtém-se:
gϕt = 1 − t 2 g 1 x + g 2 x, 0 ≤ t ≤ 1 4-18-6
Como x ∈ U 2 , g 2 x < 0 e gx = g 1 x + g 2 x > 1. Este fato, juntamente com as
expressões 4-18-4 e 4-18-6, conduz a:
1 < g 1 x + g 2 x ≤ gϕt ≤ g 2 x, 0 ≤ t ≤ 1
Em conseqüência,
ϕ0, 1 ⊆ U 2
Assim sendo, ϕ é um caminho retilíneo em U 2 que liga x e Qx. Por 4-18-4,
Qx ∈ U 2 ∩ G. Daí conclui-se que existe, para todo x ∈ U 2 , um caminho retilíneo em
U 2 que liga x ao ponto Qx, o qual pertence a U 2 ∩ G. Seja A 1 : G G definida por
A 1 v = Av. Tem-se:
U 2 ∩ G = v ∈ G : 〈v, A 1 v〉 > 1 4-18-7
Pela definição de G, o operador A 1 é positivo. Por 4-18-7, a imagem de U 2 ∩ G pela
raiz quadrada positiva H de A 1 é o complementar, relativamente a G, da bola
fechada D G 0, 1 do subespaço G. Assim sendo, U 2 ∩ G é conexo por caminhos.
Como todo ponto x de U 2 pode ser ligado, por um caminho retilíneo em U 2 , a um
ponto de U 2 ∩ G, U 2 é conexo por caminhos.
(iv)Como g0 = 0, o vetor nulo 0 ∈ E pertence a U 1 . Dado x ∈ U 1 , tem-se gx < 1.
Uma vez que gtx = t 2 gx para todo t, tem-se, para qualquer que seja t no intervalo
0, 1, gx ≤ gtx ≤ 0 se gx < 0 e 0 ≤ gtx ≤ gx se gx ≥ 0. Por conseguinte, a
função ϕ definida em 0, 1 por ϕt = tx é um caminho retilíneo em U 1 que liga os
pontos 0 e x. Disto resulta que U 1 é conexo por caminhos, o que conclui a
demonstração. □
4-19 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x 〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g igual a 1, e F a função quadrática x gx − c. Seja X o
hiperbolóide F −1 1. Então E ∖ X tem três componentes conexas.
Demonstração:
(i)Pode-se admitir, sem perda de generalidade, c = 0, e portanto X = g −1 1. Seja
B = u 1 , … , u n uma base de E formada por autovetores de A, e λ 1 , … , λ n os
autovalores de A correspondentes aos autovetores u 1 , … , u n nesta ordem. Seja B
enumerada de modo que λ 1 , … , λ n−1 sejam negativos e λ n positivo. Sejam:
60º SBA M. L. Crispino
F = Su 1 , … , u n−1
P a projeção ortogonal sobre F e Q = I − P. Tem-se:
gx = 〈Px, APx〉 + λ n 〈x, u n 〉 2 4-19-1
Sejam U 1 = g −1 −∞, 1 e U 2 = g −1 1, ∞. O conjunto E ∖ X é a reunião dos abertos
U 1 e U 2 , que são disjuntos. Pelo Teorema 4-18, U 1 e U 2 são ambos não-vazios. Como
〈Px, APx〉 < 0 para todo x, de 4-19-1 obtém-se:
x ∈ U2
gx = 〈Px, APx〉 + λ n 〈x, u n 〉 2 > 1 4-19-2
λ n 〈x, u n 〉 2 > 1 − 〈Px, APx〉 ≥ 1
e U 22 , que são:
t > λ −1/2
n tu n ∈ U 21
t < −λ −1/2
n tu n ∈ U 22
das quais resulta que U 21 e U 22 são ambos não-vazios. É evidente que U 21 e U 22 são
disjuntos. Portanto, os três conjuntos abertos U 1 , U 21 e U 22 são disjuntos dois a
dois.
(ii)Dado x ∈ U 21 , seja ϕ o caminho retilíneo que liga x a Qx. Sendo Qx = 〈x, u n 〉u n ,
tem-se hQx = hx. Sendo 〈Px, APx〉 < 0 para todo x, a expressão 4-19-1 leva a:
gϕt = 1 − t 2 〈Px, APx〉 + λ n 〈x, u n 〉 2 ≥ gx > 1 4-19-3
Tem-se também:
hϕt = 1 − thx + thx = hx > 1 4-19-4
As expressões 4-19-3 e 4-19-4 são válidas para todo t ∈ 0, 1. Sendo x arbitrário,
conclui-se que existe, para todo x ∈ U 21 , um caminho retilíneo em U 21 que liga x ao
ponto Qx ∈ U 21 ∩ Su n . Para quaisquer u, v ∈ U 21 ∩ Su n e para todo t ∈ 0, 1
tem-se:
h1 − tu + tv = 1 − thu + thv > 1 − t + t = 1
g1 − tu + tv = h1 − tu + tv 2 > 1
Daí decorre que U 21 ∩ Su n é conexo por caminhos. Por conseguinte, U 21 é conexo
por caminhos. Como se pode verificar fácilmente, U 22 é a imagem de U 21 por −I.
Logo, U 22 é também conexo por caminhos. Pelo Teorema 4-18, U 1 é conexo por
caminhos. Com isto, a demonstração está concluída. □
4-20 - Observações:
Sejam E, A, g e F como anteriormente.
(a) O Teorema 4-19 é válido também quando dimE = 2, em cujo caso o
hiperbolóide reduz-se a uma hipérbole.
(b) Sejam X o hiperbolóide F −1 1 e Y o conjunto F −1 0. Dada a base
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA
λR ⊆ X, μR ⊆ Y
Tem-se também:
‖λt − μt‖ = a2 1 + t 2 − t = a2
1 + t2 + t
seja qual for t ∈ R. Por isto, lim t→∞ ‖λt − μt‖ = 0. Logo, dλR, μR = 0. Sendo
λR ⊆ X e μR ⊆ Y, segue-se que a distância dX, Y, do conjunto X ao conjunto Y,
é zero. Evidentemente, a interseção X ∩ Y é vazia.
(c) Quando for c = 0, X é o conjunto g −1 1 e Y é o conjunto g −1 0. Neste
caso, Y é um cone simétrico do espaço vetorial E, o qual se chama cone assintótico
do hiperbolóide X.
Referências bibliográficas: