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Seminário Brasileiro de Análise – SBA

Universidade do Estado do Rio de Janeiro – IME


Edição Nº 60 Novembro 2004

Hiperbolóides n-dimensionais*

Marcos Luiz Crispino¹


Resumo:

Este minicurso tem como objetivo a obtenção de algumas propriedades


geométricas e topológicas dos hiperbolóides em espaços produto interno reais de
dimensão n maior ou igual a três.

1 - Introdução:

Entre as aplicações da teoria das quádricas em espaços vetoriais de


dimensão n maior ou igual a três constam: Análise estatística multivariada (Cao et
al. (1994)), controle de máquinas e sistemas mecânicos (Huang e Wang (2001)),
computação gráfica (Chen e Liu (1999), Kuo (2001), Wang et al., (2003)), EDPs
não-lineares que descrevem o movimento de água no sub-solo (Alber et al. (1999)),
Física teórica (Mladenov e Tsanov, (1985)), oftalmologia (Naeser e Hjortdal (2001)) e
otimização (Chatterjee e Chong, (1997)). Devido a essa diversidade de aplicações,
torna-se importante a descrição das propriedades das quádricas centrais
n-dimensionais, em particular dos hiperbolóides.
É demonstrado, em quase todo texto de Geometria Analítica clássica, que
hiperbolóides de uma folha em R 3 (que são os hiperbolóides de assinatura 2 de R 3 )
são regrados. Noutras palavras, são reuniões de classes de retas. Será provado neste
minicurso que hiperbolóides em espaços vetoriais (reais e dotados de produto
interno) E, de dimensão finita n ≥ 3, são regrados sempre que sua assinatura seja
maior ou igual a dois. No texto, a definição de assinatura é a de Birkhoff (1967). Será
também demonstrado que, se a dimensão de E é maior do que 3, então, todo
hiperbolóide X em E cuja assinatura é maior ou igual a 2 contém uma classe infinita
de retas concorrentes em algum ponto p de X.
Outros resultados obtidos são:
–A interseção X ∩ Y, de um hiperbolóide X de assinatura maior ou igual a
dois e um hiperplano Y qualquer, é não-vazia.
–Hiperbolóides são conjuntos conexos por caminhos se, e somente se, sua
assinatura é maior ou igual a dois.
–O complementar E ∖ X do hiperbolóide X tem três componentes conexas se
X é de assinatura 1, e duas se a assinatura de X é maior ou igual a 2.
O minicurso está dividido do modo seguinte:

*Classificação Temática AMS: 51N25, 53A05


Palavras chave: Superfícies em espaços euclidianos, quádricas n-dimensionais, hiperbolóides
n-dimensionais
¹Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Departamento de Energia Nuclear – 50740-540 Recife PE
Brasil, edfcd@ufpe.br, edfcd2003@yahoo.com.br
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

–Na seção 2 são apresentados os conceitos básicos e as notações utilizadas


no texto.
–A seção 3 é a base para a obtenção dos resultados principais. Com o
propósito de fazer o minicurso tão auto-suficiente quanto possível, são recordados ali
os resultados de Álgebra Linear necessários para o desenvolvimento subseqüente.
–Na seção 4 são obtidos os resultados referentes a hiperbolóides, que
constituem o objetivo do texto.

2 - Notações e conceitos básicos:

cardX é o número de elementos do conjunto finito X.


X ∖ A é o complementar do conjunto A relativamente ao conjunto X.
Os símbolos e 1 , … , e n indicam os vetores da base canônica de R n .
0 é o vetor nulo do espaço vetorial E.
dimE é a dimensão do espaço vetorial (de dimensão finita) E.
SX é o subespaço do espaço vetorial E gerado pelo conjunto X ⊆ E.
Quando X é um conjunto finito u 1 , … , u n , escreve-se Su 1 , … , u n  em vez
de Su 1 , … , u n , e diz-se que Su 1 , … , u n  é o subespaço de E gerado pelos vetores
u 1 , … , u n . Em particular, Su é o subespaço de E gerado pelo vetor u.
LE, F é o espaço vetorial das transformações lineares entre os espaços
vetoriais E e F.
LE é a álgebra dos operadores lineares A : E  E.
ker A e ImA são respectivamente o núcleo A −1 0 e a imagem AE do
operador linear A : E  F.
Seja E um espaço vetorial normado.
–O símbolo ‖x‖ indicará a norma do vetor x ∈ E.
–Serão consideradas em E a métrica e a topologia induzidas pela norma.
Portanto:
dx, y = ‖x − y‖
é a distância entre os pontos x, y ∈ E, e:
dX, Y = inf‖x − y‖ : x ∈ X, y ∈ Y
é a distância entre os conjuntos não-vazios X, Y ⊆ E.
Um caminho em um espaço vetorial normado E é uma função contínua
ϕ : U  E definida no intervalo U ⊆ R.
Seja X um subconjunto do espaço vetorial normado E. Diz-se que os pontos
a, b ∈ X podem ser ligados por um caminho em X (Lima, 1995, p. 60) quando existe
um caminho ϕ : 0, 1  E que satisfaz as três condições seguintes:

ϕ0 = a, ϕ1 = b, ϕ0, 1 ⊆ X

Um subconjunto X do espaço vetorial normado E diz-se conexo por caminhos


quando dois pontos quaisquer a, b ∈ X podem ser ligados por um caminho em X.
Dados os pontos x, y do espaço vetorial normado E, o caminho
ϕ : 0, 1  E definido por ϕτ = 1 − τx + τy chama-se o caminho retilíneo que liga x
a y.
Seja E um espaço produto interno.
60º SBA M. L. Crispino

–O símbolo 〈u, v〉 denotará o produto interno dos vetores u e v.


–Quando E for um espaço produto interno, ‖. ‖ é, a menos de aviso em
contrário, a norma do produto interno em E. Portanto,
‖x‖ = 〈x, x〉

dx, y = ‖x − y‖ = 〈x − y, x − y〉
–X ⊥ é o complemento ortogonal do conjunto X. Portanto, X ⊥ = SX ⊥ .
–Diz-se que os subespaços U, V ⊆ E são ortogonais quando U = V ⊥ e V = U ⊥ .
–Se E é de dimensão finita e U, V ⊆ E são subespaços ortogonais, então:
E = U ⊕ U⊥ = U ⊕ V
Diz-se que uma forma quadrática g : E  R é:
–Não-negativa quando gx ≥ 0 para todo x ∈ E.
–Não-positiva quando gx ≤ 0 para todo x ∈ E.
–Positiva quando gx > 0 para todo x ∈ E ∖ 0.
–Negativa quando gx < 0 para todo x ∈ E ∖ 0.
–Indefinida quando existem x, y ∈ E com gx < 0 e gy > 0.
Seja E um espaço produto interno real de dimensão finita. Dada a forma
quadrática g : E  R, seja A ∈ LE o único operador auto-adjunto, o qual existe
(Lima, 2001, p. 237) tal que gx = 〈x, Ax〉 para todo x.
–O posto de g é o posto do operador A.
–O índice de g é (Lima, 2001, p. 241) a maior das dimensões dos subespaços
F de E tais que a restrição g|F de g a F é negativa.
–A assinatura de g é (Birkhoff, 1967, p. 387) a maior das dimensões dos
subespaços F de E tais que a restrição g|F de g a F é positiva.
–Quando g for não-negativa (resp. não-positiva), diz-se que o índice (resp.
assinatura) de g é zero.
–Os símbolos ρg, ιg e σg indicarão respectivamente o posto, o índice e a
assinatura da forma quadrática g.
Uma função F : E  R, definida num espaço vetorial real E, chama-se
função quadrática quando Fx = gx + hx para todo x, onde g é uma forma
quadrática e h é um funcional linear. Se E é um espaço produto interno real de
dimensão finita, então existem um único operador auto-adjunto A ∈ LE e um único
vetor a ∈ E de modo que:
Fx = 〈x, Ax〉 + 〈a, x〉
Uma quádrica no espaço vetorial real E é a imagem inversa F −1 α do
conjunto α (onde α é um número real) pela função quadrática F. Uma cônica é uma
quádrica num espaço vetorial E de dimensão 2.
Uma quádrica F −1 α diz-se central quando existem uma forma quadrática
g : E  E e um único ponto c ∈ E de modo que Fx = gx − c para todo x ∈ E. O
ponto c chama-se centro da quádrica.
Dado o espaço produto interno real E de dimensão n, seja F a função
quadrática x  gx − c, onde c ∈ E e g : E  R é uma forma quadrática de posto
n. Portanto,
Fx = 〈x − c, Ax − c〉
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

onde A é um automorfismo auto-adjunto. A quádrica X = F −1 1 chama-se:


–Elipsóide quando g é positiva.
–Hiperbolóide quando g é indefinida.
–O índice e a assinatura de X são respectivamente o índice e a assinatura de
g.
Os símbolos de Kronecker δ ij , i, j = 1, … , n, são os elementos da matriz
identidade n × n I n . Portanto,

1, se i = j
δ ij =
0, se i ≠ j

3 - Preliminares:

3-1 De agora em diante, os espaços vetoriais em discussão serão reais, de


dimensão finita e dotados de produto interno. Portanto adotar-se-á, para evitar
repetições freqüentes nos enunciados, a seguinte convenção: A terminologia "espaço
vetorial" significará doravante espaço vetorial real, de dimensão finita, com produto
interno.

3-2 Sejam F 1 e F 2 subespaços do espaço vetorial E com F 1 ∩ F 2 = 0. A


transformação linear A : F 1 × F 2  F 1 ⊕ F 2 , definida por:
Ax 1 , x 2  = x 1 + x 2
é um isomorfismo. Portanto, F 1 ⊕ F 2 é identificado, mediante A, com o espaço
produto F 1 × F 2 . Escreve-se então:
F1 ⊕ F2 = F1 × F2
Em particular, quando F 1 ⊕ F 2 = E, tem-se:
E = F1 ⊕ F2 = F1 × F2

3-3 Seja F um subespaço do espaço vetorial E. Do item 3-2 segue:


E = F ⊕ F⊥ = F × F⊥
Seja ,  o produto interno definido em F × F ⊥ por:
x 1 , x 2 , y 1 , y 2  = 〈x 1 , y 1 〉 + 〈x 2 , y 2 〉
Sejam x = x 1 + x 2 e y = y 1 + y 2 . Como x 1 , y 1 ∈ F e x 2 , y 2 ∈ F ⊥ , 〈x 2 , y 1 〉 = 〈x 1 , y 2 〉 =
0. Logo,
〈x, y〉 = 〈x 1 + x 2 , y 1 + y 2 〉 =
= 〈x 1 , y 1 〉 + 〈x 2 , y 2 〉 = x 1 , x 2 , y 1 , y 2 
Por conseguinte, o isomorfismo dado no item 3-2 preserva o produto interno, sendo
portanto uma isometria.

3-4 Sejam F e G subespaços do espaço vetorial E com F ⊆ G. Tem-se:


G = F ⊕ G ∩ F ⊥ 
Com efeito: Dado arbitrariamente v ∈ G, tem-se v = v 1 + v 2 , onde v 1 ∈ F e v 2 ∈ F ⊥ .
Como v 1 ∈ F e F ⊆ G, v 1 ∈ G, donde v 2 = v − v 1 ∈ G. Logo, v 2 ∈ G ∩ F ⊥ . Disto e do
item 3-3 resulta:
60º SBA M. L. Crispino

G = F ⊕ G ∩ F ⊥  = F × G ∩ F ⊥ 

3-5 Seja ξ : E  R uma seminorma no espaço vetorial E. O conjunto


F = ξ −1 0 é um subespaço de E. De fato, 0 ∈ F e, para quaisquer x 1 , x 2 ∈ F,
α 1 , α 2 ∈ R, tem-se:
0 ≤ ξα 1 x 1 + α 2 x 2  ≤

≤ ξα 1 x 1  + ξα 2 x 2  = |α 1 |ξx 1  + |α 2 |ξx 2  = 0


donde ξα 1 x 1 + α 2 x 2  = 0. Sendo E de dimensão finita (v. item 3-1) existe uma base
finita I de F, a qual pode ser completada para uma base (também finita) J de E.
Então E = F ⊕ G, onde G = SJ ∖ I. Sendo F ∩ G = 0, tem-se ξv > 0 para todo
v ∈ G ∖ 0.

3-6 Seja G : E × E  R uma forma bilinear simétrica tal que a forma quadrática
g : x  Gx, x é não-negativa. Seja F = g −1 0. Tem-se:
u, v ∈ F × F  Gu, v = 0
Com efeito: Sendo g não-negativa, se gu = gv = 0 então vale, para todo t ∈ R,
gu + tv = t 2 gv + 2tGu, v + gu = 2tGu, v ≥ 0
Portanto, não pode ser Gu, v diferente de 0. Decorre daí que F é subespaço de E.
De fato: Dados u, v ∈ F e α, β ∈ R, tem-se gu = gv = Gu, v = 0, donde:
gαu + βv = α 2 gu + 2αβGu, v + β 2 gv = 0
Sejam u ∈ E ∖ F e v ∈ F. Como g é não-negativa e gv = 0,
gu + tv = 2tGu, v + gu ≥ 0
para todo t ∈ R. Daí decorre Gu, v = 0. Por conseguinte,
u, v ∈ E ∖ F × F  Gu, v = 0
Dados u, v ∈ E ∖ F tem-se:
gu + tv = t 2 gv + 2tGu, v + gu ≥ 0
valendo esta desigualdade para todo t. Assim sendo, Gu, v 2 ≤ gugv. Segue daí
e do exposto acima que vale, para quaisquer u, v ∈ F, a desigualdade:
|Gu, v| ≤ gu . gv

Em conseqüência, a função ξ : E  R dada por ξx = gx é uma seminorma. Se g


não é nula, então existe, em vista do item 3-5, um subespaço G ⊆ V tal que
E = F ⊕ G e a restrição g|G é positiva. Pelo exposto acima, tem-se Gu, v = 0,
qualquer que seja u, v ∈ F × G.

3-7 Seja G : E × E  R definida por Gx, y = 〈x, Ay〉, onde A ∈ LE é


auto-adjunto. Então G é uma forma bilinear simétrica. Sejam b ∈ E com Gb, b =
〈b, Ab〉 diferente de 0 e F = SAb ⊥ . Evidentemente, b não pertence a F. Uma vez
que 〈b, Ab〉 é diferente de 0, também é diferente de 0 o vetor Ab. Logo,
E = Sb ⊕ F
Tem-se também:
∀v ∈ FGb, v = Gv, b = 〈v, Ab〉 = 0
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

3-8 Seja g a forma quadrática definida no espaço vetorial E por gx = 〈x, Ax〉,
onde A ∈ LE é auto-adjunto. Dada a base B de E formada por autovetores de A, a
qual existe (Lima, 2001, Teorema 13.6, p. 167) sejam I ⊆ B o conjunto dos
autovetores correspondentes aos autovalores negativos e J ⊆ B o conjunto dos
autovetores correspondentes aos autovalores positivos. Os conjuntos I e J são
disjuntos, e a reunião I ∪ J é o conjunto dos autovetores u ∈ B para os quais Au é
diferente de 0. Por esta razão,
ImA = SI ∪ J = SI ⊕ SJ
Sejam F = SI, G = SJ, P a projeção ortogonal sobre F e Q a projeção ortogonal
sobre G. Sendo A auto-adjunto, kerA e ImA são subespaços ortogonais, logo E =
ImA ⊕ kerA. Segue daí e das igualdades acima que, para todo x ∈ E tem-se x = Px
+ Qx + y, onde y ∈ kerA. Por isto, Ax = APx + AQx para todo x ∈ E.

3-9 Seja g : E  R definida por gx = 〈x, Ax〉, onde A ∈ LE é auto-adjunto.
Dada a base B de E formada por autovetores de A, sejam I, J, F, G, P e Q como no
item 3-8. Sendo I e J conjuntos linearmente independentes, tem-se:

dimF = cardI, dimG = cardJ

Como se pode verificar facilmente, g|F é negativa e g|G é positiva. Por isto, o índice
ιg de g é maior ou igual a cardI. Seja V ⊆ E um subespaço restrito ao qual g é
negativa. Dado arbitrariamente x ∈ V ∖ 0, tem-se:
gx = 〈Px, APx〉 + 〈Qx, AQx〉 < 0
Em virtude de ser 〈Qx, AQx〉 ≥ 0, decorre da igualdade acima que 〈Px, APx〉 < 0,
portanto Px é diferente de 0. Assim sendo, a transformação linear B : V  F,
definida por Bx = Px, é injetiva. Daí segue:
dimV ≤ dimF = cardI
Por conseguinte, ιg ≤ cardI. Daí decorre:
ιg = cardI = dimF
Procedendo de modo análogo, obtém-se:
σg = cardJ = dimG
Em vista do item 3-8, a soma ιg + σg é a dimensão de ImA. Portanto, se A é
automorfismo então ιg + σg = dimE. Observe-se que, sendo I e J conjuntos de
autovetores de A, os subespaços F = SI e G = SJ são invariantes por A.
Observe-se também que ιg e σg são respectivamente os números de autovalores
positivos e negativos de A, contados com suas multiplicidades.

3-10 Seja G : E × E  R uma forma bilinear. Existe (Lima, 2001, Teorema


18-2, p. 237) um único operador linear A : E  E tal que Gx, y = 〈x, Ay〉. Dado o
subespaço W ⊆ E, sejam P a projeção ortogonal sobre W e Q = I − P. Então Q é a
projeção ortogonal sobre W ⊥ . Por esta razão, 〈Pv, Qw〉 = 0, sejam quais forem
v, w ∈ E. Assim sendo,
Gx, y = 〈x, Ay〉 =

= 〈P + Qx, P + QAy〉 = 〈Px + Qx, PAy + QAy〉 =


60º SBA M. L. Crispino

= 〈Px, PAy〉 + 〈Qx, QAy〉


Portanto, as restrições G 1 = G|W × W, de G a W × W, e G 2 = G|W ⊥ × W ⊥ , de G a
W ⊥ × W ⊥ , são dadas por:

G 1 x, y = 〈x, PAy〉, G 2 x, y = 〈x, QAy〉

Sendo G 1 uma forma bilinear definida em W × W, existe um único operador linear


B 1 : W  W tal que G 1 x, y = 〈x, B 1 y〉 para todo x, y ∈ W × W. Resulta disto e das
igualdades acima que B 1 é definido em W por:
B 1 y = PAy
Analogamente: Existe um único operador linear B 2 : W ⊥  W ⊥ , definido por:
B 2 y = QAy
tal que G 2 x, y = 〈x, B 2 y〉 para todo x, y ∈ W ⊥ × W ⊥ . Se G é simétrica, então A é
auto-adjunto. Neste caso, G 1 e G 2 são também simétricas, portanto:
G 1 x, y = 〈x, B 1 y〉 = G 1 y, x = 〈B 1 x, y〉
sejam quais forem x, y ∈ W. Logo, B 1 é auto-adjunto. De modo análogo, verifica-se
que B 2 é auto-adjunto. Se G é simétrica e W é invariante por A, então W ⊥ também o
é (Lima, 2001, Teorema 13.2, p. 165), pois A é auto-adjunto. Neste caso, tem-se PAy
= Ay = APy para todo y ∈ W e QAy = Ay = AQy para todo y ∈ W ⊥ . Assim sendo,
G 1 x, y = 〈x, Ay〉 = 〈x, APy〉

G 2 x, y = 〈x, Ay〉 = 〈x, AQy〉

3-11 Seja g : E  R uma forma quadrática. Existe (Lima, 2001, p. 238-239)


uma única forma bilinear simétrica G : E × E  R tal que gx = Gx, x para todo x.
Diz-se então que g provém de G. Por conseguinte, existe um único operador linear
auto-adjunto A ∈ LE tal que gx = 〈x, Ax〉 para todo x. Seja W ⊆ E um subespaço.
As restrições g 1 = g|W e g 2 = g|W ⊥ são definidas por:

g 1 x = 〈x, PAx〉, g 2 x = 〈x, QAx〉

onde P e Q têm o significado do item 3-10. Os operadores lineares x  PAx definido


em W e x  QAx definido em W ⊥ são auto-adjuntos. Quando W for invariante por A,
tem-se:
g 1 x = 〈x, Ax〉 = 〈x, APx〉

g 2 x = 〈x, Ax〉 = 〈x, AQx〉


Observe-se que gx = g 1 Px + g 2 Qx para todo x ∈ E. Para todo número real α,
tem-se:
g −1 α ∩ W = g|W −1 α = g −1
1 α

Portanto, g −1 α ∩ W é uma quádrica do subespaço W, valendo:


g −1 α ∩ W = x ∈ W : 〈x, PAx〉 = α

3-12 Seja g a forma quadrática definida no espaço vetorial E por gx = 〈x, Ax〉,
onde A : E  E é um operador linear auto-adjunto. Dada a base B de E formada por
autovetores de A, sejam J ⊆ B o conjunto dos autovetores correspondentes aos
autovalores positivos e F o subespaço SJ gerado por J. Seja W ⊆ E um subespaço
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

com F ⊆ W. Então g|W e g têm a mesma assinatura. Com efeito: É evidente que
σg|W ≤ σg. Uma vez que F ⊆ W, tem-se gx = g|Wx para todo x ∈ F. Logo, a
restrição a F de g|W é positiva, e daí segue σg = dimF ≤ σg|W. Sejam P a
projeção ortogonal sobre W e A 1 : W  W o operador linear definido por A 1 x = PAx.
Todo vetor u ∈ J é autovetor de A 1 , com o mesmo autovalor. De fato, como F ⊆ W e
F é invariante por A, tem-se:
A 1 x = PAx = Ax
qualquer que seja x ∈ F, e portanto A 1 u = Au para todo u ∈ J. Seja X a quádrica
g −1 1. Se A 1 é um automorfismo, então X ∩ W = g|W −1 1 é um elipsóide ou
um hiperbolóide, conforme seja g|W positiva ou indefinida. Em particular, se W = F,
então X ∩ W é o elipsóide X ∩ F, que se reduz a uma elipse se a assinatura de g, e
portanto a dimensão de F, é 2. Quando a assinatura de X for igual a 1, F é o
subespaço Su de E gerado por algum vetor u ∈ B. Assim sendo,

X∩F = − 1 u, 1 u
λ λ
onde λ é o autovalor (positivo) correspondente ao autovetor u.

3-13 Seja F : x  〈x, Ax〉 + 〈a, x〉, onde A ∈ LE é auto-adjunto. Então,
a ∈ ImA se, e somente se, existe c ∈ E de modo que Fx = 〈x − c, Ax − c〉 + Fc
para todo x. No caso afirmativo, Fx = 〈x − c, Ax − c〉 + Fc para todo x ∈ E e para
qualquer que seja c ∈ A −1 −1/2a. Com efeito: Sendo A auto-adjunto, valem,
para quaisquer que sejam x, c ∈ E, as igualdades:
Fx = Fx − c + c =

= 〈x − c, Ax − c〉 + 〈2Ac + a, x − c〉 + Fc


Como ImA é subespaço vetorial de E, tem-se que a ∈ ImA se, e somente se,
−1/2a ∈ ImA. Tem-se também que 〈v, x − c〉 = 0 para todo x ∈ E se, e somente se,
v = 0. Destes fatos e da expressão acima resulta:
∃ c ∈ E∀x ∈ EFx = 〈x − c, Ax − c〉 + Fc 

 ∃ c ∈ E∀x ∈ E〈2Ac + a, x − c〉 = 0 

 ∃ c ∈ E2Ac + a = 0  a ∈ Im A
Supondo-se a ∈ Im A, tem-se que A −1 −1/2a é uma variedade linear modelada
no núcleo kerA de A. Assim, se Ac 1 = Ac 2 = −1/2a então c 2 = c 1 + v, para
algum v ∈ ker A. Sendo A auto-adjunto, ker A = Im A ⊥ , portanto
〈a, v〉 = 〈Au, v〉 = 0 para todo u ∈ E. Daí segue:
〈x − c 2 , Ax − c 2 〉 = 〈x − c 1  − v, Ax − c 1  − v〉 =

= 〈x − c 1 , Ax − c 1 〉 − 〈2Ax − c 1 , v〉 + 〈v, Av〉 =

= 〈x − c 1 , Ax − c 1 〉

Fc 2  = 〈c 2 , Ac 2 〉 + 〈a, c 2 〉 =

= −1/2〈a, c 2 〉 + 〈a, c 2 〉 = 1/2〈a, c 2 〉 =

= 1/2〈a, c 1 + v〉 = 1/2〈a, c 1 〉 + 〈a, v〉 =


60º SBA M. L. Crispino

= 1/2〈a, c 1 〉 = Fc 1 

3-14 Sejam F como no item 3-13, sendo a ∈ ImA, e X a quádrica F −1 α.


Pelo item 3-13, X é o conjunto dos vetores x ∈ E que satisfazem:
〈x − c, Ax − c〉 = α − Fc
onde c é qualquer vetor do conjunto A −1 −1/2a. Se μ = α − Fc é diferente de 0
(note que μ não depende da escolha do vetor c em A −1 −1/2a), a equação acima é
equivalente à seguinte:
〈x − c, 1/μAx − c〉 = 1
Fazendo B = 1/μA, tem-se que X é o conjunto das soluções da equação:
〈x − c, Bx − c〉 = 1
e portanto da equação:
gx − c = 1
onde g é a forma quadrática definida por gx = 〈x, Bx〉.

3-15 Seja g a forma quadrática não-nula, definida no espaço vetorial E por


gx = 〈x, Ax〉, onde A ∈ LE é auto-adjunto. Dados c ∈ E e α ∈ R diferente de zero,
seja X ⊆ E a quádrica formada pelos vetores x ∈ E tais que gx − c = α. Uma vez
que A −1 Ac é uma variedade linear modelada no núcleo kerA de A e
c ∈ A −1 Ac, tem-se v−c ∈ kerA para qualquer que seja v ∈ A −1 Ac, logo
gv−c = 0 para todo v ∈ A −1 Ac. Em conseqüência:
X ∩ A −1 Ac = ∅
Sendo gx − c = 〈x − c, Ax − c〉, decorre da expressão acima que o vetor Ax − c é
não-nulo para qualquer que seja x ∈ X.

3-16 Seja F a função quadrática definida no espaço vetorial E por


Fx = 〈x, Ax〉 + 〈a, x〉, onde A ∈ LE é auto-adjunto. Seja X a quádrica F −1 α.
Para todo p ∈ X tem-se Fp = α, donde:
Fx = 〈x − p, Ax − p〉 + 〈2Ap + a, x − p〉 + α
Dados p ∈ X e v ∈ E ∖ 0, seja V a reta p + Sv. Todo vetor x ∈ V se escreve de
modo único como x = p + tv, onde t ∈ R. Portanto, resulta da expressão acima que o
vetor x =p + tv pertence a X ∩ V se, e somente se, t cumpre a condição:
〈v, Av〉t 2 + 〈2Ap + a, v〉t = 0
Como p ∈ X, vale uma (e somente uma) das seguintes afirmações:
(1)V ∩ X = p.
(2)Existe um único τ ∈ R diferente de 0 tal que V ∩ X = p, p + τv.
(3)V ⊆ X.
Tem-se:
V ⊆ X  〈v, Av〉 = 〈2Ap + a, v〉 = 0
Se F é a função quadrática definida em E por Fx = gx − c, onde g é a forma
quadrática x  〈x, Ax〉, então:
V ⊆ X  〈v, Av〉 = 〈Ap − c, v〉 = 0
Com efeito: Para qualquer que seja p ∈ X, vale:
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

Fx = 〈x − p, Ax − p〉 − 2〈x, Ap − c〉 + α

3-17 Decorre dos itens 3-13 e 3-14 que, se A é um automorfismo auto-adjunto,


então existe um único c ∈ E de modo que Fx = 〈x − c, Ax − c〉. Por conseguinte,
elipsóides e hiperbolóides são quádricas centrais.

3-18 Dado o automorfismo auto-adjunto A definido no espaço vetorial E, sejam


g a forma quadrática x  〈x, Ax〉 e F a função quadrática x  gx − c, onde c ∈ E.
Seja T c : E  E definida por T c x = x − c. Então T c é bijetiva, e sua inversa é dada
por T −1
c x = x + c. Da definição de F segue:

F = g ∘ Tc
Portanto, para qualquer conjunto B ⊆ R valem as igualdades:
F −1 B = g ∘ T c  −1 B = T −1 −1 −1
c g B = c + g B

onde, como usual,


c + A = x + c ∈ E : x ∈ A
é a imagem T −1
c A do conjunto A ⊆ E pela translação T −1 −1
c . As funções T c e T c são
evidentemente de classe C ∞ . Logo, T −1 c estabelece um difeomorfismo de classe C

entre F −1 B e g −1 B. Note que T c e T −1


c são isometrias no espaço vetorial E. Em
particular, quando B = α, as quádricas F −1 B e g −1 B têm o mesmo índice e a
mesma assinatura. Sejam X 0 e X respectivamente as quádricas g −1 α e F −1 α.
Pelo exposto acima, tem-se:
A ⊆ X T c A ⊆ X 0

4 - Hiperbolóides

Sejam F 1 , F 2 : E  R funções quadráticas e α 1 , α 2 ∈ R. Dado λ ∈ R


diferente de 0, é evidente que se F 2 = λF 1 (onde, como usual, λF 1 x = λF 1 x para
todo x) e α 2 = λα 1 , então F −1 −1
2 α 2  = F 1 α 1 . No desenvolvimento subseqüente,
será demonstrado que, em certas condições, vale a recíproca: Se
F −1 −1
2 α 2  = F 1 α 1 , então existe λ ∈ R diferente de 0 de modo que a igualdade
F −1 −1
2 α 2  = F 1 α 1  implica F 2 = λF 1 e α 2 = λα 1 . Com este objetivo, será provado
o seguinte lema:

4-1 - Lema:
Seja g a forma quadrática definida no espaço vetorial E por gx = 〈x, Ax〉,
onde A ∈ LE é auto-adjunto e não-nulo. Sejam b 1 , … , b m ∈ E ∖ 0 quaisquer. Então
existe um vetor v ∈ E de modo que os números reais gv e 〈b 1 , v〉, … , 〈b m , v〉 são todos
diferentes de zero.

Demonstração:
(i)Sendo A auto-adjunto e não-nulo, a forma quadrática g definida acima é não-nula
(de fato, A possui pelo menos um autovalor diferente de zero). Portanto, existe um
vetor v 0 ∈ E tal que gv 0  é diferente de zero. Dado arbitrariamente b 1 ∈ E ∖ 0,
seja ϕ : R  R definida por:
60º SBA M. L. Crispino

ϕt = gv 0 + tb 1 
Ou bem v 0 ∈ Sb 1  ⊥ ou bem v 0 ∉ Sb 1  ⊥ . Se v 0 ∈ Sb 1  ⊥ então 〈v 0 , b 1 〉 = 0,
portanto 〈b 1 , v 0 + tb 1 〉 = t‖b 1 ‖ 2 para todo número real t. A função ϕ é contínua e
ϕ0 = gv 0 . Sendo gv 0  diferente de 0, existe t 1 > 0 tal que ϕt 1  = gv 0 + t 1 b 1  é
diferente de 0. Para este t 1 , tem-se também 〈b 1 , v 0 + t 1 b 1 〉 diferente de 0. Se, por
outro lado, v 0 ∉ Sb 1  ⊥ , então os números gv 0  e 〈v 0 , b 1 〉 são ambos diferentes de
zero. Por conseguinte, o lema é válido para m = 1.
(ii)Supondo que vale o lema para m ≥ 1, sejam b 1 , … , b m+1 ∈ E ∖ 0 quaisquer. Pela
hipótese admitida, existe v ∈ E de modo que os números gv, 〈b 1 , v〉, … , 〈b m , v〉 são
todos diferentes de 0.
Sejam ϕ 0 , ϕ 1 , … , ϕ m : R  R definidas por:
ϕ 0 t = gv + tb m+1 

ϕ j t = 〈b j , v + tb m+1 〉, j = 1, … , m
As funções ϕ 0 , ϕ 1 , … , ϕ m são contínuas, e os números reais ϕ 0 0, ϕ 1 0, … , ϕ m 0
são, pela hipótese admitida, diferentes de 0. Por esta razão, existe τ ∈ R, τ > 0, de
modo que ϕ 0 τ = gv + τb m+1  é diferente de 0 e os números ϕ j τ = 〈b j , v + τb m+1 〉,
j = 1, … , m, são diferentes de 0. Ou bem v ∈ Sb m+1  ⊥ ou bem v ∉ Sb m+1  ⊥ . Se
v ∈ Sb m+1  ⊥ então 〈b m+1 , v + τb m+1 〉 = τ‖b m+1 ‖ 2 > 0. Se, por outro lado,

v ∉ Sb m+1  , então gv e os números 〈b 1 , v〉, … , 〈b m+1 , v〉 são todos diferentes de 0.
Logo, o resultado segue. □

4-2 - Teorema:
Sejam F 1 , F 2 definidas no espaço vetorial E de dimensão n ≥ 2 por:
F 1 x = 〈x, A 1 x〉 + 〈a 1 , x〉

F 2 x = 〈x, A 2 x〉 + 〈a 2 , x〉
onde A 1 , A 2 ∈ LE são auto-adjuntos não-nulos. Sejam X j = F −1
j α j , j = 1,2, sendo
X 1 = X 2 . Se existe p ∈ X 1 tal que 2A 1 p +a 1 ≠ 0, então, para este p vale
2A 2 p +a 2 ≠ 0. Tem-se também que os vetores 2A 1 p +a 1 , 2A 2 p +a 2 são linearmente
dependentes.

Demonstração:
(i)Seja p ∈ X 1 com 2A 1 p +a 1 ≠ 0. Seja v ∈ E (o qual existe, conforme o Lema 4-1) de
modo que:

〈v, A 1 v〉 ≠ 0, 〈2A 1 p + a 1 , v〉 ≠ 0 4-1-1

Pelo exposto na Seção 3 (item 3-16) existe, para este v, um número real τ diferente
de zero de modo que:
p + Sv ∩ X 1 = p, p + τv 4-2-2
Em virtude de ser X 1 = X 2 , tem-se também:
p + Sv ∩ X 2 = p, p + τv 4-2-3
A igualdade 4-2-3 leva a:
F 2 p = F 2 p + τv = α 2 4-2-4
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

Como v é diferente de 0 e τ é diferente de 0, o conjunto p, p + τv é finito e possui


apenas dois elementos. Admitamos agora 2A 2 p +a 2 = 0. Neste caso vale, para
qualquer que seja w ∈ E,

F 2 p + w =
= 〈w, A 2 w〉 + 〈2A 2 p + a 2 , w〉 + F 2 p = 4-2-5
〈w, A 2 w〉 + α 2

Resulta de 4-2-5 que F 2 p − w = F 2 p + w para todo w. Daí e de 4-2-4 segue:


F 2 p − τv = F 2 p = F 2 p + τv = α 2 4-2-6
De 4-2-6 resulta:
p − w, p, p + w ∈ X 2
Como os vetores p − τv, p e p + τv pertencem à reta p + Sv, tem-se:
p − τv, p, p + τv ⊆ p + Sv ∩ X 2
Como τ é diferente de 0 e o vetor v é não-nulo, o conjunto p − τv, p, p + τv possui 3
elementos. Por outro lado, p + Sv ∩ X 2 tem, em vista do exposto acima, dois
elementos. Desta contradição, conclui-se que o vetor 2A 2 p +a 2 é também não-nulo.
(ii)Como se pode verificar facilmente, as funções F i , i = 1,2, são diferenciáveis, sendo
suas derivadas os funcionais lineares dados, em todo x ∈ E, por:
dF i xh = 〈2A i x + a i , h〉, i = 1, 2
Assim sendo, as funções F i , i = 1,2, são de classe C 1 . O gradiente de F i em todo
ponto x é:
grad F i x = 2A i x + a i , i = 1, 2 4-2-7
Pelo item (i), os vetores 2A i p +a i são ambos não-nulos. Decorre daí e do Teorema da
Função Implícita (Cartan, 1967, Teorema 4-7-1, p. 61) que existem subespaços
F 1 , F 2 ⊆ E com dimF 1  = dimF 2  = n − 1 e existem vizinhanças abertas V i = V i p, i
= 1,2, de modo que V i ∩ X i , i = 1,2, é o gráfico de uma função f i de classe C 1 definida
numa vizinhança aberta U i ⊆ F i . Assim sendo, X 1 , e portanto X 2 , têm espaços
vetoriais tangentes no ponto p, que são :
F p X i  = S2A i p + a i  ⊥ , i = 1, 2 4-2-8
Os espaços F p X i , i = 1,2, são os subespaços vetoriais de E formados pelos vetores
velocidade dos caminhos ϕ : −,   E tais que ϕ0 = p, diferenciáveis no ponto 0,
cuja imagem está contida em X i . Daí e da igualdade X 1 = X 2 segue:
F p X 1  = F p X 2  4-2-9
Das expressões 4-2-8 e 4-2-9 resulta a dependência linear dos vetores 2A i x +a i , i =
1,2. Com isto, o teorema está demonstrado. □
A demonstração do Teorema 4-3 abaixo é semelhante à dada em Greub
(1981, p. 304-306).

4-3 - Teorema:
Dado o espaço vetorial E de dimensão n > 1, sejam F 1 , F 2 : E  R definidas
por:
F 1 x = 〈x, A 1 x〉 + 〈a 1 , x〉
60º SBA M. L. Crispino

F 2 x = 〈x, A 2 x〉 + 〈a 2 , x〉
onde A 1 , A 2 ∈ LE são auto-adjuntos não-nulos. Sejam X j = F −1
j α j , j = 1,2, sendo
X 1 = X 2 . Suponhamos que existe p ∈ X 1 tal que 2A 1 p +a 1 ≠ 0. Nesta condição, existe
um número real k diferente de zero tal que A 2 = kA 1 , a 2 = ka 1 e α 2 = kα 1 .

Demonstração:
Seja p ∈ X 1 tal que 2A 1 p +a 1 ≠ 0. Pela igualdade X 1 = X 2 e pelo Teorema 4-2,
tem-se 2A 2 p +a 2 ≠ 0. Resulta também do Teorema 4-2 a existência de k ∈ R
diferente de zero tal que:
2A 2 p + a 2 = k2A 1 p + a 1  4-3-1
Sejam u ∈ E (o qual existe, conforme o Lema 4-1) de modo que:
〈u, A 1 u〉 ≠ 0, 〈2A 1 p + a 1 , u〉 ≠ 0, 〈2A 2 p + a 2 , u〉 ≠ 0 4-3-2
e v ∈ S2A 1 p +a 1  ⊥ dado arbitrariamente. Decorre de 4-3-2 que o vetor u não
pertence ao subespaço S2A 1 p +a 1  ⊥ , logo o conjunto u, v é linearmente
independente. Assim sendo, V = p + Su, v é uma variedade linear de dimensão 2.
Por 4-3-1 e pela escolha de v, 〈2A 2 p + a 2 , v〉 = 0. Por isto e pela igualdade X 1 = X 2 ,
um vetor p + xu + yv pertence a V ∩ X 1 se, e somente se, o vetor x, y ∈ R 2 cumpre
ambas as condições:
x 2 〈u, A 1 u〉 + 2xy〈u, A 1 v〉 + y 2 〈v, A 1 v〉 + x〈2A 1 p + a 1 , u〉 = 0 4-3-3

x 2 〈u, A 2 u〉 + 2xy〈u, A 2 v〉 + y 2 〈v, A 2 v〉 + x〈2A 2 p + a 2 , u〉 = 0 4-3-4


Sejam W 1 , W 2 respectivamente os conjuntos formados pelos pontos x, y ∈ R que 2

cumprem 4-3-3 e 4-3-4. Da igualdade X 1 = X 2 segue W 1 = W 2 . Seja k ∈ R tal que


4-3-1 é satisfeita. Multiplicando 4-3-3 por −k e somando com 4-3-4 obtém-se:
x 2 〈u, A 2 − kA 1 u〉 + 2xy〈u, A 2 − kA 1 v〉 + y 2 〈v, A 2 − kA 1 v〉 = 0 4-3-5
Portanto, W 1 = W 2 ⊆ W, onde W é o conjunto formado pelos pontos x, y ∈ R 2 que
satisfazem 4-3-5. Suponhamos que um dos números 〈u, A 2 − kA 1 u〉,
〈u, A 2 − kA 1 v〉, 〈v, A 2 − kA 1 v〉 em 4-3-5 seja diferente de 0. Neste caso, W é um
dos seguintes conjuntos: 0, 0, uma reta que contém o ponto 0, 0, ou a reunião
de duas retas cuja interseção é 0, 0, conforme sejam os autovalores da matriz:

〈u, A 2 − kA 1 u〉 〈u, A 2 − kA 1 v〉


B = 4-3-6
〈u, A 2 − kA 1 v〉 〈v, A 2 − kA 1 v〉

O conjunto W 1 é uma cônica em R 2 . Pela escolha de u feita acima, existe x 1 ≠ 0 tal


que p + x 1 u ∈ X 1 . Portanto, W 1 contém os pontos distintos 0, 0 e x 1 , 0. Por esta
razão, W 1 é um conjunto infinito. Segue daí, da hipótese admitida e da inclusão
W 1 ⊆ W que, para alguma reta U ⊆ R 2 com 0, 0 ∈ U, U ∩ W 1 é um conjunto
infinito. Por outro lado, como 〈2A 1 p + a 1 , u〉 ≠ 0, a interseção de W 1 e qualquer reta
de R 2 que contém (0,0) possui um ou dois elementos. Desta contradição resulta:
B = 0 4-3-7
Em particular, valem:
〈u, A 2 − kA 1 v〉 = 〈v, A 2 − kA 1 v〉 = 0 4-3-8
seja qual for v∈ SA 1 p +a 1  ⊥ . Uma vez que u não pertence a SA 1 p +a 1  ⊥ , tem-se:
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

E = Su ⊕ SA 1 p + a 1  ⊥
Por conseguinte, qualquer vetor x ∈ E se escreve (de modo único) como x = λu +v,
onde λ ∈ R e v∈ SA 1 p +a 1  ⊥ . O operador A 2 − kA 1 sendo auto-adjunto, tem-se:

〈x, A 2 − kA 1 x〉 =
= λ 2 〈u, A 2 − kA 1 u〉 + 2λ〈u, A 2 − kA 1 v〉 + 〈v, A 2 − kA 1 v〉

para todo x ∈ E. Decorre daí, de 4-3-7 e de 4-3-8 que 〈x, A 2 − kA 1 x〉 = 0 para todo
x ∈ E. Em conseqüência, A 2 − kA 1 = 0, donde A 2 = kA 1 . Disto e de 4-3-1 resulta
a 2 = ka 1 . Assim sendo, F 2 = kF 1 , donde kF 1 x = F 2 x = α 2 para todo x ∈ X 2 .
Como F 1 x = α 1 para todo x ∈ X 1 , tem-se α 2 = kα 1 , o que encerra a demonstração.

O Teorema 4-3 não é válido se 2A 1 p + a 1 = 0 (em cujo caso tem-se também
2A 2 p + a 2 = 0) para todo p ∈ X 1 , como se pode ver tomando E = R n onde n ≥ 2,
A 1 = I a identidade de R n , A 2 ∈ LR n  definida pondo A 2 e k = ke k para k = 1, … , n e
F i , i = 1,2, dada por:
F i x = 〈x, A i x〉, i = 1, 2
onde 〈. , . 〉 é o produto interno canônico de R n . Tem-se então:
F 1 x = ∑ k=1
n
〈x, e k 〉 2 = ‖x‖ 2

F 2 x = ∑ k=1
n
k〈x, e k 〉 2
e portanto:
F −1 −1
1 0 = F 2 0 = 0

enquanto que A 2 não é múltiplo de A 1 .

4-4 - Corolário I:
Sejam E, F 1 e F 2 como no Teorema 4-3, sendo A 1 um automorfismo. Dados
−1
α 1 , α 2 ∈ R, sejam X j = F −1
j α j , j = 1,2, e c 1 = −1/2A 1 a 1 . Suponhamos que
existe p ∈ X 1 tal que 2A 1 p +a 1 ≠ 0. Suponhamos também α 1 − 1/2〈a 1 , c 1 〉 ≠ 0.
Nestas condições, se X 1 = X 2 então existe um automorfismo auto-adjunto B ∈ LE de
modo que:
X 1 = X 2 = x ∈ E : 〈x − c 1 , Bx − c 1 〉 = 1
Demonstração:
Supondo X 1 = X 2 , seja k ∈ R diferente de 0 (o qual existe, pelo Teorema 4-3) de
modo que A 2 = kA 1 , a 2 = ka 1 e α 2 = kα 1 . Sendo k diferente de 0, A 2 é também um
automorfismo, cujo inverso é:
A −1 1 A −1
2 = 4-4-1
k 1
Sejam:

c 2 = −1/2A −1
2 a 2 
μ 1 = α 1 − 1/2〈a 1 , c 1 〉 4-4-2
μ 2 = α 2 − 1/2〈a 2 , c 2 〉

Como a 2 = ka 1 , decorre de 4-4-1 que:


60º SBA M. L. Crispino

c 2 = −1/21/kA −1 −1
1 ka 1  = −1/2A 1 a 1  = c 1 4-4-3
Tem-se a 2 = ka 1 e α 2 = kα 1 . Daí e de 4-4-3 segue:

μ 2 = α 2 − 1/2〈a 2 , c 2 〉 =
= kα 1 − 1/2〈ka 1 , c 1 〉 = kα 1 − 1/2〈a 1 , c 1 〉 = 4-4-4
= kμ 1

Em virtude de ser A 2 = kA 1 , as igualdades 4-4-4 levam a:


1/μ 1 A 1 = 1/μ 2 A 2 4-4-5
Pela item 3-12 da Seção 3, tem-se:

X 1 = x ∈ E : 〈x − c 1 , 1/μ 1 A 1 x − c 1 〉 = 1
4-4-6
X 2 = x ∈ E : 〈x − c 2 , 1/μ 2 A 2 x − c 2 〉 = 1

De 4-4-3, 4-4-5 e 4-4-6 segue o resultado. □

4-5 - Corolário II:


Dado o espaço vetorial E de dimensão n > 1, sejam g 1 , g 2 : E  R as formas
quadráticas definidas por g 1 x = 〈x, A 1 x〉 e g 2 x = 〈x, A 2 x〉, onde A 1 , A 2 ∈ LE são
auto-adjuntos. Sejam F1, F2 : E  R definidas por F 1 x = g 1 x − c 1  e
−1 −1
F 2 x = g 2 x − c 2 , onde c 1 , c 2 ∈ E. Se F 1 1 = F 2 1, então A 1 = A 2 . Se A 1 é
automorfismo, tem-se também c 1 = c 2 .

Demonstração:
Suponhamos F −1 −1
1 1 = F 2 1. Fazendo:

a j = −2A j c j , j = 1, 2 4-5-1

G j x = 〈x, A j x〉 + 〈a j , x〉, j = 1, 2 4-5-2


obtém-se:
F −1 −1
j 1 = G j 1 − g j c j , j = 1, 2 4-5-3
Para qualquer que seja p ∈ F −1
1 1, tem-se:

2A 1 p + a 1 = 2A 1 p − c 1  4-5-4
Por 4-5-4 e pelo item 3-13 da Seção 3, 2A 1 p +a 1 ≠ 0, seja qual for p ∈ F −1
1 1.
Segue então de 4-5-3 e do Teorema 4-3 que existe um número real k diferente de 0
de forma que:
A 2 = kA 1 4-5-5

a 2 = ka 1 4-5-6

1 − g 2 c 2  = k1 − g 1 c 1  4-5-7
De 4-5-1, 4-5-5 e 4-5-6 tira-se:
a 2 = −2A 2 c 2 = −2kA 1 c 2 = ka 1 = −2kA 1 c 1 4-5-8
Sendo k diferente de 0, de 4-5-8 resulta:
A1c2 = A1c1 4-5-9
Resulta de 4-5-8 a existência de v ∈ kerA 1  tal que c 2 = c 1 + v. Como A 1 é
auto-adjunto, 〈v, A 1 x〉 = 0 para todo x ∈ E. Em particular, 〈v, A 1 c 1 〉 = 0. Por esta
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

razão,
g 2 c 2  =

= 〈c 2 , A 2 c 2 〉 = k〈c 2 , A 1 c 2 〉 = k〈c 1 + v, A 1 c 2 〉 =

= k〈c 1 + v, A 1 c 1 〉 = k〈c 1 , A 1 c 1 〉 + k〈v, A 1 c 1 〉 =

= k〈c 1 , A 1 c 1 〉 = kg 1 c 1 
De 4-5-7 e das igualdades acima obtém-se k = 1. Daí e de 4-5-5 segue A 1 = A 2 .
Resulta disto e de 4-5-9 que, se A 1 é automorfismo, então c 1 = c 2 . Com isto, a
demonstração está concluída. □

4-6 - Observações:
Seja E um espaço vetorial de dimensão n > 2.
(a) Resulta dos Corolários 4-4 e 4-5 que o índice, a assinatura e o centro do
hiperbolóide X ⊆ E estão bem definidos.
(b) Sejam A ∈ LE um automorfismo auto-adjunto, g a forma quadrática
x  〈x, Ax〉 e F a função quadrática x  gx − c, onde c ∈ E. Dada a base
ortonormal u 1 , … , u n  formada por autovetores de A, tem-se
Fx = gx − c = ∑ i=1
n
λ i 〈x − c, u i 〉 2
onde os λ i são os autovalores correspondentes aos autovetores u i , nesta ordem. Se g
é positiva, então o elipsóide X = F −1 1 é um conjunto limitado. De fato: Se α é o
menor dos autovalores λ 1 , … , λ n , então:
x ∈ X  ∑ i=1
n
λ i 〈x − c, u i 〉 2 = 1 
 α‖x − c‖ 2 ≤ ∑ i=1
n
λ i 〈x − c, u i 〉 2 = 1 
 ‖x − c‖ 2 ≤ 1/α

(c) Sejam g, e F como em 4-6-b. Supondo g indefinida, seja B uma base


ortonormal de E formada por autovetores de A. Sejam X o hiperbolóide F −1 1,
u 1 ∈ B um autovetor correspondente a um autovalor λ 1 < 0 e u 2 ∈ B um autovetor
correspondente a um autovalor λ 2 > 0. Fazendo:
ai = |λ i | −1/2 , i = 1, 2
tem-se:
Fc + x 1 u 1 + x 2 u 2  = −x 1 /a1  2 + x 2 /a2  2
para quaisquer que sejam x 1 , x 2 ∈ R. Decorre daí que
c + a1 tu 1 + a2 1 + u 2 ∈ X seja qual for t ∈ R. Em conseqüência, hiperbolóides
t2
são conjuntos não-limitados.
(d) Seja X o hiperbolóide F −1 1, onde F é a função quadrática
x  〈x − c, Ax − c〉. Para todo p ∈ X tem-se 〈p − c, Ap − c〉 = 1, e portanto
Ap − c ≠ 0. A derivada dFp, de F no ponto p ∈ X, sendo o funcional linear
definido por:
dFp. h = 〈2Ap − c, h〉
o número 1 é um valor regular de F. Como F é de classe C 1 , hiperbolóides dos
espaços R n são (Lima, 1995, p. 168) hiperfícies de classe C 1 . Portanto, são (Lima,
60º SBA M. L. Crispino

1995, p. 306) superfícies de classe C 1 e dimensão n–1 em R n . Tem-se também (Lima,


1995, p. 360) que hiperbolóides de espaços R n são conjuntos de medida de Lebesgue
nula em R n .
Será demonstrado agora que hiperbolóides de espaços vetoriais de dimensão
finita n ≥ 3 são, como no caso dos hiperbolóides em R 3 , regrados (noutras palavras,
são reuniões de classes de retas) desde que sua assinatura seja maior ou igual a
dois. Para isto, serão necessários os seguintes lemas:

4-7 - Lema:
Dado o espaço vetorial E, seja g : E  R uma forma quadrática indefinida.
Seja X o conjunto g −1 0. Se dimE ≥ 3, então X contém a reunião de uma classe
infinita de subespaços de dimensão 1. Noutros termos, X contém a reunião de uma
classe infinita de retas que contêm o ponto 0. Se dimE = 2, então X = Su 1  ∪ Su 2 ,
onde u 1 , u 2 ∈ E são vetores linearmente independentes.

Demonstração:
(i)Seja A ∈ LE o operador linear auto-adjunto (o qual existe) tal que gx = 〈x, Ax〉
para todo x. Seja B ⊆ E uma base ortonormal formada por autovetores de A. Uma
vez que g é indefinida, existem vetores u 1 , u 2 ∈ B tais que u 1 corresponde ao
autovalor λ 1 < 0 e u 2 é autovetor do autovalor λ 2 > 0. Sendo dimE ≥ 3, existe um
vetor u 3 ∈ B ∖ u 1 , u 2 . Em virtude de ser g −1 0 = −g −1 0, pode-se supor
(considerando −g em lugar de g e reordenando a base B, se necessário) que este
vetor u 3 é autovetor do autovalor λ 3 ≥ 0. Sejam:
F = Su 2 , u 3 

G = Su 1 , u 2 , u 3 
Então X ∩ G é o conjunto dos vetores x ∈ G que cumprem a condição:
λ 1 〈x, u 1 〉 2 + λ 2 〈x, u 2 〉 2 + λ 3 〈x, u 3 〉 2 = 0
Sejam f 1 , f 2 : F  Su 1  definidas por:
1/2
λ 2 〈x, u 2 〉 2 + λ 3 〈x, u 3 〉 2
f 1 x = u1
|λ 1 |
1/2
λ 2 〈x, u 2 〉 2 + λ 3 〈x, u 3 〉 2
f 2 x = − u1
|λ 1 |
Em vista do exposto acima, X ∩ G = Y 1 ∪ Y 2 , onde Y 1 e Y 2 são respectivamente os
gráficos de f 1 e de f 2 . O espaço vetorial G é a soma direta F ⊕ Su 1 . Por esta razão,
se v 1 , v 2 ∈ F são linearmente independentes então, como se pode verificar
facilmente, v 1 + w 1 e v 2 + w 2 são também linearmente independentes, sejam quais
forem w 1 , w 2 ∈ Su 1 . Por conseguinte, dados quaisquer vetores linearmente
independentes v 1 , v 2 ∈ F, os vetores v 1 + f 1 v 1  e v 2 + f 1 v 2 , que pertencem a
X ∩ G, são linearmente independentes. Como dimF = 2, F contém uma classe
infinita U formada por vetores que são dois a dois linearmente independentes.
Portanto, X ∩ G contém uma classe infinita V, que é:
V = u + f 1 u : u ∈ U
formada por vetores linearmente independentes dois a dois. Assim sendo,
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

V = Sv : v ∈ V
é uma classe infinita de subespaços de dimensão 1. Como V ⊆ X ∩ G (note que X ∩ G
é um cone simétrico), tem-se Sv ⊆ X ∩ G ⊆ X para todo v ∈ V.
(ii)Se dimE = 2, então o conjunto X = g −1 0 é a reunião de dois subespaços de
dimensão 1. Com efeito: Sendo g indefinida, E possui uma base ortonormal u 1 , u 2 ,
onde u 1 é autovetor do autovalor λ 1 < 0 e u 2 é autovetor do autovalor λ 2 > 0. Por
conseguinte, X é o conjunto dos vetores x ∈ E que satisfazem:
λ 1 〈x, u 1 〉 2 + λ 2 〈x, u 2 〉 2 = 0
Fazendo α i = |λ i | 1/2 , i = 1, 2, obtém-se:
λ 1 〈x, u 1 〉 2 + λ 2 〈x, u 2 〉 2 =

= −α 1 〈x, u 1 〉 2 + α 2 〈x, u 2 〉 2 =

= −α 1 〈x, u 1 〉 − α 2 〈x, u 2 〉α 1 〈x, u 1 〉 + α 2 〈x, u 2 〉 =

= −〈x, α 1 u 1 − α 2 u 2 〉〈x, α 1 u 1 + α 2 u 2 〉
Portanto,
X = Sα 1 u 1 − α 2 u 2  ⊥ ∪ Sα 1 u 1 + α 2 u 2  ⊥
e, sendo α 1 , α 2 números reais positivos, os vetores α 1 u 1 − α 2 u 2 , α 1 u 1 + α 2 u 2 são
linearmente independentes. □

4-8 - Lema:
Seja W um espaço vetorial de dimensão n ≥ 1. Dada a forma quadrática
não-nula g : W  R, seja G : W × W  R a forma bilinear simétrica de qual provém g.
Então, g é não-negativa se, e somente se, existem subespaços U, V ⊆ W que cumprem
as seguintes condições: W = U ⊕ V, g|U é positiva, g|V é nula e Gu, v = 0 sejam
quais forem u ∈ U e v ∈ V.

Demonstração:
Supondo que existem subespaços U, V ⊆ W satisfazendo as condições do enunciado
acima, seja w ∈ W dado arbitrariamente. Existe um único par ordenado
u, v ∈ U × V tal que w = u + v. Tem-se:
Gu, v = Gv, u = gv = 0
donde:
gw = Gw, w = Gu + v, u + v =

= Gu, u + 2Gu, v + Gv, v = Gu, u = gu


Como u ∈ U e g|U é positiva, das igualdades acima resulta gw ≥ 0. Logo, g é
não-negativa. Reciprocamente: Se g é não-negativa, a função ξ : W  R definida
por:
ξx = gx
é, conforme o exposto na Seção 3 (item 3-6), uma seminorma. Sendo g não-nula, W é
a soma direta U ⊕ V dos subespaços U, V ⊆ W tais que g|U é positiva, g|V é nula e
Gu, v = 0 para todo u, v ∈ U × V. Com isto, a demonstração está concluída. □
60º SBA M. L. Crispino

4-9 - Corolário:
Seja g a forma quadrática definida no espaço vetorial E de dimensão n por
gx = 〈x, Ax〉, onde A ∈ LE é auto-adjunto. Seja b ∈ E tal que gb > 0. Então g é
não-negativa se, e somente se, a restrição de g ao subespaço SAb ⊥ é não-negativa.

Demonstração:
A forma bilinear simétrica G da qual provém g é definida por:
Gx, y = 〈x, Ay〉
Seja F = SAb ⊥ . Como gb = 〈b, Ab〉 > 0, o vetor b não pertence a F. Assim sendo,
E = Sb ⊕ F 4-9-1
Com efeito, dimSb = 1 e dimF = dimE − 1. Sendo gtb = t 2 gb
para todo t,
g|Sb é positiva. Tem-se também (Seção 3, item 3-7) Gu, v = 0, quaisquer que
sejam u ∈ Sb e v ∈ F. Portanto, se g|F é nula então, por 4-9-1 e pelo Lema 4-8, g é
não-negativa. Se, por outro lado, g|F é não-nula e não negativa, então existem,
conforme o Lema 4-8, subespaços U 0 , V ⊆ F tais que g|U 0 é positiva, g|V é nula,
F =U 0 ⊕ V e Gu, v = 0 sejam quais forem u ∈ U 0 e v ∈ V. Como b não pertence a
U 0 , U 0 ∩ Sb = 0, donde:
Sb + U 0 = Sb ⊕ U 0 4-9-2
Seja U = Sb ⊕ U 0 . Como U 0 ⊆ F, Gu, b = 0 para todo u ∈ U 0 . Por esta razão:
gu + tb = t 2 gb + 2tGu, b + gu = t 2 gb + gu
sejam quais forem u ∈ U 0 e t ∈ R. Decorre daí e do fato de ser g|U 0 positiva que g|U
é positiva. Sendo g|V nula, U ∩ V = 0. Logo, U + V = U ⊕ V. Assim sendo, a
expressão 4-9-1 e a igualdade F =U 0 ⊕ V levam a:
E = U⊕V 4-9-3
Tem-se Gx, y = 0 para todo x ∈ U e para todo y ∈ V. De fato: Como V ⊆ F,
Gb, v = 0 para todo v ∈ V. Em virtude de ser também Gu, v = 0 para quaisquer
u ∈ U 0 , v ∈ V, tem-se:
Gu + tb, v = Gu, v + tGb, v = 0
seja qual for t ∈ R. Resulta então do Lema 4-8 que g é não-negativa. Daí conclui-se
que, se g|F é não-negativa, então g é não-negativa. Reciprocamente: Se g é
não-negativa, então g|F também o é. Logo, o resultado segue. □

4-10 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x  〈x, Ax〉, e F a
função quadrática x  gx − c, onde c ∈ E. Sejam X o hiperbolóide F −1 1, sendo a
assinatura de X maior ou igual a 2, e p ∈ X dado arbitrariamente. Existem vetores
linearmente independentes v 1 , v 2 ∈ E de modo que p + Sv 1  ∪ p + Sv 2  ⊆ X.
Noutros termos, existem duas retas distintas concorrentes no ponto p e contidas em X.
Se dimE > 3, então existe um conjunto infinito A ⊆ E, de vetores dois a dois
linearmente independentes, de modo que p + Sv ⊆ X para todo v ∈ A. Noutras
palavras, existe uma classe infinita V de retas que contêm p cuja reunião está contida
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

em X.

Demonstração:
(i)Seja k o índice de g. Dada a base ortonormal B de E formada por autovalores de A,
seja J ⊆ B o conjunto dos autovetores de A correspondentes aos autovalores
positivos. Sendo A automorfismo, (Seção 3, item 3-9), J tem n − k ≥ 2 elementos.
Dado arbitrariamente p ∈ X, sejam:
V = SJ 4-10-1

W = SAp − c ⊥ 4-10-2


Como p ∈ X, tem-se 〈p − c, Ap − c〉 = 1. Logo, o vetor Ap − c é diferente de 0. Daí
e da hipótese do enunciado acima, segue:
dimV ≥ 2 4-10-3

dimW = n − 1 4-10-4
De 4-10-3 e 4-10-4 segue:
n + 1 − dimV ∩ W = n − 1 + 2 − dimV ∩ W ≤

≤ dimV + dimW − dimV ∩ W =

= dimV + W ≤ dimE = n
Destas expressões obtém-se dimV ∩ W ≥ 1. Em conseqüência, existe um vetor
v ∈ E diferente de 0 que pertence a V ∩ W, e portanto a W. Como v ∈ V e a restrição
de g a V é positiva, tem-se gv = 〈v, Av〉 > 0. Segue daí que existe v ∈ W ∖ 0 com
gv > 0.
(ii)Como p ∈ X, gp − c = 1. Se g|W fosse não-negativa, g seria não-negativa,
conforme o Corolário 4-9. Decorre daí e do item (i) que g|W é indefinida. A restrição
g|W de g a W é uma forma quadrática definida no espaço vetorial W. Como
dimW ≥ 2, existem, conforme o Lema 4-7, vetores linearmente independentes
v 1 , v 2 ∈ W de modo que gv 1  = gv 2  = 0. Para estes vetores tem-se:
gv j  = 〈v j , Ap − c〉 = 0 4-10-5
De 4-10-5 e do exposto na Seção 3 (item 3-16) obtém-se:
p + Sv 1  ∪ p + Sv 2  ⊆ X
Se dimE > 3 então dimW ≥ 3. Daí e do Lema 4-7 decorre a existência de um
conjunto infinito A ⊆ E, formado por vetores dois a dois linearmente independentes,
tal que:
∀v ∈ Agv = 〈v, Ap − c〉 = 0 4-10-6
De 4-10-6 resulta:
⋃p + Sv : v ∈ A ⊆ X
Com isto, o teorema está demonstrado. □
Pelo Teorema 4-10, para que um hiperbolóide X de um espaço vetorial de
dimensão maior ou igual a 3 seja regrado, é suficiente que sua assinatura seja maior
ou igual a dois. Será demonstrado a seguir que esta condição é também necessária
para que o hiperbolóide X seja regrado.
60º SBA M. L. Crispino

4-11 - Teorema:
Sejam E, A, g e F como no Teorema 4-10, sendo a assinatura σg de g igual a
1. Seja X ⊆ E o hiperbolóide F −1 1. Então, para todo p ∈ X e para todo vetor
v ∈ E ∖ 0, não se pode ter p + Sv ⊆ X. Noutros termos, não existem retas
contidas em X.

Demonstração:
Dada a base ortonormal B de E formada por autovetores de A, seja J ⊆ B o conjunto
dos autovetores correspondentes aos autovalores positivos. Pela hipótese do
enunciado e pela Seção 3 (item 3-9), o conjunto J possui um único elemento. Seja
B = u 1 , … , u n  enumerado de modo que J = u n . Sejam λ 1 , … , λ n os autovalores
correspondentes aos vetores u 1 , … , u n nesta ordem. Tem-se:
Au j = λ j u j , j = 1, … , n
Sejam:
V = Su 1 , … , u n−1  = Su n  ⊥

W = c + V = c + Su n  ⊥
Então W é o hiperplano que contém o ponto c e é normal ao vetor u n . Por
conseguinte, W é o conjunto das soluções da equação:
〈x − c, u n 〉 = 0
Dados p ∈ X e v ∈ E ∖ 0 arbitrários, seja U a reta p + Sv. Se v ∈ V então
gv < 0, pois a restrição de g ao subespaço V é negativa. Portanto não se pode ter
(Seção 3, item 3-16) U ⊆ X. Em conseqüência: Para que seja U ⊆ X é necessário que
seja 〈v, u n 〉 diferente de 0, e portanto que a interseção U ∩ W seja não-vazia. Por
outro lado, para qualquer que seja x ∈ X tem-se:

〈x − c, Ax − c〉 =
= −∑ n−1
i=1 |λ i |〈x
− c, u i 〉 2 + λ n 〈x − c, u n 〉 2 = 1

donde:
〈x − c, u n 〉 2 = 1 1 + ∑ i=1 |λ i |〈x − c, u i 〉 2
n−1
λn
Sendo λ n um número positivo, segue desta igualdade que 〈x − c, u n 〉 > 0 seja qual for
x ∈ X, e portanto que a interseção X ∩ W é vazia. Em vista disto e do exposto acima,
não se pode ter p + Sv ⊆ X, quaisquer que sejam p ∈ X e v ∈ E ∖ 0. □
Será demonstrada agora outra propriedade interessante: Hiperbolóides de
assinatura maior ou igual a dois intersectam qualquer hiperplano. Noutras palavras:
Se X ⊆ E é um hiperbolóide de assinatura maior ou igual a dois, então, para todo
hiperplano Y ⊆ E, a interseção X ∩ Y é não-vazia.

4-12 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x  〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g maior ou igual a 2, e F a função quadrática x  gx − c. Seja X
o hiperbolóide F −1 1. Então, para todo hiperplano Y ⊆ E a interseção X ∩ Y é
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

não-vazia.

Demonstração:
A imagem, pela translação x  b + x, de uma variedade linear de dimensão m V ⊆ E
é também uma variedade linear de dimensão m. Em vista disto e da Seção 3 (item
3-17), pode-se admitir, sem perda de generalidade, c = 0, e portanto X = g −1 1.
Fazendo então c = 0, sejam b ∈ E, n ∈ E ∖ 0 dados arbitrariamente, e Y o
hiperplano b + Sn ⊥ . Seja u um autovetor de A (o qual existe) que corresponde a
um autovalor negativo. Se 〈u, n〉 = 0 então u ∈ Sn ⊥ , portanto b + tu ∈ Y, qualquer
que seja t ∈ R. Como gu = 〈u, Au〉 é um número negativo, decorre da igualdade:
gb + tu = t 2 〈u, Au〉 + 2t〈u, Ab〉 + 〈b, Ab〉
que existe t 0 > 0 tal que gb + t 0 u < 1. Para este t 0 , b + t 0 u pertence a Y. Se, por
outro lado, 〈u, n〉 é diferente de 0, então Y ∩ Su possui um único elemento θu,
sendo:
〈b, n〉
θ =
〈u, n〉
Tem-se gθu = θ 2 gu ≤ 0, donde gθu < 1. Portanto existe, em qualquer caso,
v 1 ∈ Y tal que gv 1  < 1. Como σg ≥ 2, existe um subespaço F ⊆ E com
dimF ≥ 2, restrito ao qual a forma quadrática g é positiva. Com efeito, toda base
ortonormal B formada por autovetores do operador A possui, conforme o exposto na
Seção 3 (item 3-9), um subconjunto (próprio) cujo número de elementos é σg. Em
virtude de ser dimF ≥ 2 e dimSn ⊥  = n − 1, existe um vetor não-nulo v que
pertence à interseção F ∩ Sn ⊥ (v. item (i) da prova do Teorema 4-10). Para este v,
b + tv ∈ Y, seja qual for t ∈ R. Portanto:
gb + tv = t 2 〈v, Av〉 + 2t〈v, Ab〉 + 〈b, Ab〉
Como v ∈ F e g|F é positiva, gv = 〈v, Av〉 > 0. Decorre daí e da igualdade acima
que que existe t 1 > 0 tal que gb + t 1 v > 1. Para este t 1 , o vetor v 2 = b + t 1 v
pertence a Y. Sendo Y um hiperplano, v 1 + tv 2 − v 1  pertence a Y, seja qual for
t ∈ R. A função real ϕ definida por:
ϕt = gv 1 + tv 2 − v 1 
é contínua, valendo gR ⊆ Y. Uma vez que:

ϕ0 = gv 1  < 1, ϕ1 = gv 2  > 1

tem-se ϕτ = gv 1 + τv 2 − v 1  = 1 para algum τ ∈ 0, 1. Em conseqüência, a


interseção X ∩ Y é não-vazia, c. q. d. □

4-13 - Observações:
Sejam E e A como no Teorema 4-12, g a forma quadrática x  〈x, Ax〉 e X o
hiperbolóide g −1 1.
(a) O Teorema 4-12 não é válido se X é um hiperbolóide de assinatura igual a 1.
De fato, dada a base ortonormal B de E formada por autovetores de A, se u n ∈ B é o
autovetor correspondente ao autovalor positivo λ n então X ∩ Su n  ⊥ é vazia.
(b) O Teorema 4-12 também não é válido se a assinatura de X é maior ou igual a
dois e Y ⊆ E é uma variedade linear de dimensão m < n − 1. Com efeito, sejam B
60º SBA M. L. Crispino

uma base ortonormal de E formada por autovetores do operador A, B 2 ⊆ B o


conjunto dos autovetores correspondentes aos autovalores negativos e G = SB 2 . A
restrição de g a G sendo negativa, a interseção X ∩ G é vazia.
Será provado a seguir mais um resultado interessante referente a
hiperbolóides: Se X é um hiperbolóide de um espaço E de dimensão n, então a única
variedade linear que contém X é o próprio espaço E. Em particular, um hiperbolóide
não pode estar contido em um hiperplano.

4-14 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 2 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x  〈x, Ax〉, F a
função quadrática x  gx − c e X o hiperbolóide F −1 1. Seja V ⊆ E a variedade
linear x 0 + F, modelada no subespaço F ⊆ E. Se X ⊆ V, então V = E. Noutros termos,
a única variedade linear que contém X é o espaço E.

Demonstração:
Seja k o índice de g, 1 ≤ k ≤ n − 1. Dada a base ortonormal B = u 1 , … , u n  de E
formada por autovetores de A, sejam u 1 , … , u k  o conjunto dos autovetores que
correspondem a autovalores negativos, e λ 1 , … , λ n os autovalores dos autovetores
u 1 , … , u n , nesta ordem. Fazendo:
ai = |λ i | −1/2 , i = 1, … , n
obtém-se:
c + ai u i + an 2 u n ∈ X, i = 1, … , k 4-14-1

c ± ai u i ∈ X, i = k + 1, … , n 4-14-2
Suponhamos X ⊆ V. Decorre de 4-14-2 que os vetores c − an u n e c + an u n
pertencem a V. Sendo V uma variedade linear, tem-se:
c = 1/2c − an u n  + c + an u n  ∈ V 4-14-3
e a expressão 4-14-3 conduz a:
V = c+F 4-14-4
Sejam v i = ai u i + an 2 u n se i = 1, … , k e v i = ai u i se i = k + 1, … , n. Por 4-14-1 e
4-14-2, c + v i ∈ X para i = 1, … , n. Segue daí e de 4-14-4 que v 1 , … , v n  ⊆ F. Os
vetores v 1 , … , v n são, como se pode verificar fácilmente, linearmenente
independentes. Assim sendo, F = E. Isto prova o enunciado acima. □
Sejam A um automorfismo auto-adjunto, definido no espaço vetorial E de
dimensão n ≥ 3, e g a forma quadrática x  〈x, Ax〉. Dada a base ortonormal B
formada por autovetores de A, sejam J ⊆ B o conjunto dos vetores correspondentes
aos autovalores positivos, e G = SJ. Seja X a quádrica g −1 1. Em vista do
exposto na Seção 3 (item 3-12), X ∩ G é um elipsóide, sempre que a assinatura σg
de g for maior ou igual a 2. Do teorema que será demonstrado a seguir resulta uma
interessante propriedade: Se X é um hiperbolóide de assinatura maior ou igual a
dois e p é um ponto arbitrário de X então, dentre as retas p + Sv ⊆ X, pelo menos
duas intersectam o elipsóide X ∩ G.
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

4-15 - Teorema:
Dado o espaço vetorial E, sejam A ∈ LE um automorfismo auto-adjunto e g a forma
quadrática definida em E por gx = 〈x, Ax〉, sendo g indefinida e de assinatura σg
maior ou igual a 2. Sejam X ⊆ E o hiperbolóide g −1 1 e p ∈ X dado arbitrariamente.
Dada a base ortonormal B de E formada por autovetores de A, sejam J ⊆ B o conjunto
dos autovetores correspondentes aos autovalores positivos de A e G = SJ. Então,
existem vetores linearmente independentes w 1 , w 2 ∈ E tais que as seguintes
condições:
p + Sw 1  ∪ p + Sw 2  ⊆ X

p + Sw j  ∩ X ∩ G ≠ ∅, j = 1, 2
são satisfeitas.

Demonstração:
(i)Em primeiro lugar, o teorema será provado no caso σg = dimE − 1. Admitindo 2
≤ σg = dimE − 1, seja n = dim E. O conjunto J possui (Seção 3, item 3-9) n − 1
elementos, e B possui um único elemento u que corresponde a um autovalor
negativo de A. Para este u tem-se J = B ∖ u. Daí e do fato de ser B um conjunto
ortonormal, segue:
G = SJ = SB ∖ u = Su ⊥ 4-15-1
Seja v um vetor não-nulo de modo que p + Sv ⊆ X (Como σg ≥ 2, este vetor v
existe, conforme o Teorema 4-10). Para este v tem-se (Seção 3, item 3-16) gv = 0.
Logo, v não pertence a G, pois a restrição de g a G é positiva. Por isto e por 4-15-1,
〈v, u〉 é diferente de 0. Assim sendo, existe um único número real θ de modo que:
p + Sv ∩ Su ⊥ = p + Sv ∩ G = p + θv 4-15-2
Como p + Sv ⊆ X, resulta de 4-15-2 que p + θv ∈ X ∩ G. Conclui-se daí que, se σg
= dimE − 1 então, para todo vetor v ∈ E ∖ 0 com p + Sv ⊆ X tem-se p + Sv ∩
X ∩ G não-vazia.
(ii)Supondo agora 2 ≤ σg < n − 1, onde n = dimE, sejam k e m respectivamente o
índice e a assinatura de g. Sejam I ⊆ B o conjunto formado pelos autovetores dos
autovalores negativos de A e F = SI. Do exposto na Seção 3 (item 3-9) segue:
k + m = dimF + dimG = dimE 4-15-3
Se p ∈ G então p pertence ao elipsóide X ∩ G, e nada mais há para demonstrar. Se,
por outro lado, p não pertence a G, então G ∩ Sp = 0, donde G + Sp = G ⊕ Sp.
Fazendo:
W = G ⊕ Sp
tem-se:
dimW = dimG + 1 = m + 1 4-15-4
Sejam P a projeção ortogonal sobre W e B : W  W o operador linear definido por:
Bw = PAw
A restrição g|W de g a W é (Seção 3, item 3-11) dada por g|Ww = 〈w, PAw〉 =
〈w, Bw〉. Assim sendo, o operador B é (Seção 3, item 3-10) auto-adjunto. De 4-15-3 e
4-15-4 obtém-se:
60º SBA M. L. Crispino

dimW ∩ F = dimW + dimF − dimW + F ≥ 1


logo existe um vetor w ∈ W ∖ 0 tal que g|Ww < 0. Decorre daí que o índice
ιg|W de g|W é maior ou igual a 1, e portanto que existe um autovetor v de B, com
‖v‖ = 1, que corresponde a um autovalor negativo. Como SJ = G ⊆ W, os m
elementos u 1 , … , u m de J são autovetores de B, correspondentes aos autovalores
positivos λ 1 , … , λ m nesta ordem. O operador B sendo auto-adjunto, v é ortogonal aos
vetores u 1 , … , u m . O conjunto J ∪ v é portanto uma base ortonormal de W formada
por autovetores de B. Em conseqüência, B é um automorfismo auto-adjunto. Pelo
exposto acima, g|W é indefinida. Por isto e pela igualdade
X ∩ W = g|W −1 1 = w ∈ W : 〈w, Bw〉 = 1
o conjunto X ∩ W é um hiperbolóide do espaço vetorial W. Sendo G ⊆ W, tem-se
também (Seção 3, item 3-12) que g e g|W têm a mesma assinatura m. Logo, X ∩ W é
um hiperbolóide de assinatura m ≥ 2 do espaço vetorial W. Como p ∈ X ∩ W,
existem, conforme o Teorema 4-10, vetores linearmente independentes w 1 , w 2 que
pertencem a W (e portanto a E) de modo que:
p + w j ⊆ X ∩ W ⊆ X, j = 1, 2
Uma vez que dimW = m + 1, resulta do item (i) acima que:
p + w j  ∩ X ∩ G ≠ ∅, j = 1, 2
o que encerra a demonstração. □

4-16 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x  〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g maior ou igual a 2, e F a função quadrática x  gx − c. Então
o hiperbolóide X = F −1 1 é conexo por caminhos.

Demonstração:
i)Em vista do exposto na Seção 3 (item 3-18), é suficiente provar o resultado acima
para c = 0, em cujo caso X = g −1 1. Sejam B uma base ortonormal formada por
autovalores de A, J ⊆ B o conjunto dos autovetores correspondentes aos autovalores
positivos e G = SJ. Seja p ∈ X arbitrário. Pelo Teorema 4-15, existe um vetor
v ∈ E ∖ 0 de modo que as seguintes condições:

p + Sv ⊆ X
4-16-1
p + Sv ∩ X ∩ G ≠ ∅

são satisfeitas. Portanto, existe um número real θ (se p ∈ X ∩ G então θ = 0) tal que:
p + θv ∈ X ∩ G 4-16-2
Seja ξ : 0, 1  E o caminho retilíneo definido por:
ξt = 1 − tp + tp + θv = p + tθv 4-16-3
Então, valem as seguintes afirmações:
ξ0 = p

ξ1 = p + θv ∈ X ∩ G
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

ξ0, 1 ⊆ p + Sv ⊆ X


Logo, ξ é um caminho retilíneo em X que liga p ao ponto q = p + θv do conjunto
X ∩ G.
(ii)Sejam p 1 , p 2 ∈ X dados arbitrariamente. Pelo item (i), p 1 e p 2 podem ser ligados
por caminhos retilíneos ξ 1 , ξ 2 em X respectivamente aos pontos q 1 e q 2 do conjunto
X ∩ G. Este conjunto é (Seção 3, item 3-12) um elipsóide do espaço vetorial G. O
conjunto X ∩ G, sendo um elipsóide, é conexo por caminhos. De fato, existe um
(único) automorfismo auto-adjunto B ∈ LG de modo que X ∩ G é a imagem inversa
h −1 1 de 1 pela forma quadrática positiva h : v  〈v, Bv〉. Sendo h positiva, o
operador B possui (Lima, 2001, Teorema 13.8, p. 171) uma única raiz quadrada
positiva H : G  G, que é também um automorfismo auto-adjunto. Sendo H 2 = B,
tem-se 〈v, Av〉 = 〈Hv, Hv〉 para todo v ∈ F. Por isto:
〈v, Bv〉 = 1  〈Hv, Hv〉 = 1
Logo, a imagem HX ∩ G, de X ∩ G por H, é a esfera unitária S G 0, 1 do subespaço
G. Esta esfera unitária é (Lima, 1995, p. 60) conexa por caminhos. Por conseguinte,
X ∩ G é conexo por caminhos. Assim sendo, q 1 e q 2 podem ser ligados por um
caminho ϕ em X ∩ G, e portanto em X. Decorre daí que p 1 e p 2 podem ser ligados
por um caminho em X, c.q.d. □
Resulta do Teorema 4-16 que, para que um hiperbolóide X de um espaço
vetorial E, de dimensão n maior ou igual a 3, seja conexo por caminhos, e portanto
conexo, é suficiente que sua assinatura seja maior ou igual a dois. Será
demonstrado em seguida que esta condição é também necessária para que o
hiperbolóide X seja conexo por caminhos.

4-17 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x  〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g igual a 1, e F a função quadrática x  gx − c. Então o
hiperbolóide X = F −1 1 tem duas componentes conexas.

Demonstração:
É suficiente (Seção 3, item 3-18) provar o teorema para c = 0, em cujo caso
X = g −1 1. Seja B = u 1 , … , u n  uma base de E formada por autovetores de A, e
λ 1 , … , λ n os autovalores de A correspondentes aos autovetores u 1 , … , u n nesta
ordem. Seja B enumerada de modo que λ i < 0 para i = 1, 2, … , n − 1 e λ n > 0. Sejam
F = Su 1 , … , u n−1  e P : E  E a projeção ortogonal sobre F. Valem, para qualquer
que seja x ∈ E, as igualdades:

gx = 〈Px, APx〉 + λ n 〈x, u n 〉 2 =


4-17-1
= g|FPx + λ n 〈x, u n 〉 2

Seja h : E  R definida pondo hx = 〈x, u n 〉. Sendo g|F negativa, resulta de 4-17-1
que hx é diferente de 0 para todo x ∈ X. Por isto,
X ∩ h −1 0 = ∅ 4-17-2
Fazendo x 1 = λ −1/2
n u n e x 2 = −λ −1/2
n u n , de 4-17-1 obtém-se, gx 1  = gx 2  = 1. Logo,
60º SBA M. L. Crispino

x 1 , x 2 ∈ X. Tem-se também hx 1  > 0 e hx 2  < 0. Por conseguinte,

X ∩ h −1 0, ∞ ≠ ∅, X ∩ h −1 −∞, 0 ≠ ∅ 4-17-3

Decorre de 4-17-2 e 4-17-3 que X não é conexo. Sejam f 1 , f 2 : F  Su n  definidas


por:
f 1 v = 1/λ n 1 − 〈v, Av〉 u n

f 2 v = − 1/λ n 1 − 〈v, Av〉 u n

Note que 〈v, Av〉 é um número negativo para todo v ∈ F ∖ 0. Resulta de 4-17-1 que
X ∩ h −1 0, ∞ é o gráfico de f 1 e X ∩ h −1 −∞, 0 é o gráfico de f 2 . As funções f 1 e f 2
sendo contínuas, os conjuntos X 1 = X ∩ h −1 0, ∞ e X 2 = X ∩ h −1 −∞, 0 são
não-vazios e conexos. Por 4-17-2, X = X 1 ∪ X 2 . Logo, o resultado segue. □
Seja X um hiperbolóide num espaço vetorial E de dimensão n ≥ 3. Foi
demonstrado acima que X é conexo por caminhos sempre que sua assinatura for
maior ou igual a dois, e tem duas componentes conexas se é um hiperbolóide de
assinatura um. Será provado agora que E ∖ X tem três componentes conexas se a
assinatura de X é um, e duas componentes conexas sempre que a assinatura de X
for maior ou igual a dois.

4-18 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x  〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g maior ou igual a 2, e F a função quadrática x  gx − c. Seja X
o hiperbolóide F −1 1. Então E ∖ X tem duas componentes conexas.

Demonstração:
(i)É suficiente provar o teorema para o caso c = 0, no qual X = g −1 1. Sendo g
contínua, E ∖ X é a reunião U 1 ∪ U 2 dos conjuntos abertos U 1 e U 2 , os quais são:

U 1 = g −1 −∞, 1, U 2 = g −1 1, ∞ 4-18-1

Sendo g indefinida, existem vetores u 1 , u 2 ∈ E com gu 1  < 0 e gu 2  > 0. Tem-se
gtu 2  = t 2 gu 2  para todo número real t. Resulta disto que existem v 1 , v 2 ∈ E com
gv 1  < 1 e gv 2  > 1 (note que um dos vetores v 1 é o próprio u 1 , pois gu 1  < 0).
Portanto, U 1 e U 2 são ambos não-vazios. É evidente que U 1 e U 2 são disjuntos. Por
conseguinte, E ∖ X não é conexo.
(ii)Dada a base ortonormal B de E formada por autovetores de A, sejam I ⊆ B o
conjunto dos autovetores correspondentes aos autovalores negativos e J ⊆ B o
conjunto dos autovetores correspondentes aos autovalores positivos. Sejam:

F = SI, G = SJ

e P a projeção ortogonal sobre F. Como F ⊥ = G, Q = I − P é a projeção ortogonal


sobre o subespaço G. Daí e do item 3-7 da Seção 3 segue:
gx = g 1 x + g 2 x 4-18-2
onde:
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

g 1 x = 〈Px, APx〉, g 2 x = 〈Qx, AQx〉 4-18-3

Como Px ∈ F e g|F é negativa, g 1 x < 0 para todo x ∈ E ∖ 0. É claro que 0 ∉ U 2 .
Logo, g 1 x < 0 para todo x ∈ U 2 . Este fato e a equação 4-18-2 conduzem a:
x ∈ U 2  g 2 x > g 1 x + g 2 x > 1 4-18-4
(iii)Dado x ∈ U 2 , seja ϕ : 0, 1  E o caminho retilíneo que liga x a Qx. Tem-se:

ϕt = 1 − tx + tQx =


4-18-5
= Qx + 1 − tx − Qx = 1 − tPx + Qx

De 4-18-5 obtém-se:
gϕt = 1 − t 2 g 1 x + g 2 x, 0 ≤ t ≤ 1 4-18-6
Como x ∈ U 2 , g 2 x < 0 e gx = g 1 x + g 2 x > 1. Este fato, juntamente com as
expressões 4-18-4 e 4-18-6, conduz a:
1 < g 1 x + g 2 x ≤ gϕt ≤ g 2 x, 0 ≤ t ≤ 1
Em conseqüência,
ϕ0, 1 ⊆ U 2
Assim sendo, ϕ é um caminho retilíneo em U 2 que liga x e Qx. Por 4-18-4,
Qx ∈ U 2 ∩ G. Daí conclui-se que existe, para todo x ∈ U 2 , um caminho retilíneo em
U 2 que liga x ao ponto Qx, o qual pertence a U 2 ∩ G. Seja A 1 : G  G definida por
A 1 v = Av. Tem-se:
U 2 ∩ G = v ∈ G : 〈v, A 1 v〉 > 1 4-18-7
Pela definição de G, o operador A 1 é positivo. Por 4-18-7, a imagem de U 2 ∩ G pela
raiz quadrada positiva H de A 1 é o complementar, relativamente a G, da bola
fechada D G 0, 1 do subespaço G. Assim sendo, U 2 ∩ G é conexo por caminhos.
Como todo ponto x de U 2 pode ser ligado, por um caminho retilíneo em U 2 , a um
ponto de U 2 ∩ G, U 2 é conexo por caminhos.
(iv)Como g0 = 0, o vetor nulo 0 ∈ E pertence a U 1 . Dado x ∈ U 1 , tem-se gx < 1.
Uma vez que gtx = t 2 gx para todo t, tem-se, para qualquer que seja t no intervalo
0, 1, gx ≤ gtx ≤ 0 se gx < 0 e 0 ≤ gtx ≤ gx se gx ≥ 0. Por conseguinte, a
função ϕ definida em 0, 1 por ϕt = tx é um caminho retilíneo em U 1 que liga os
pontos 0 e x. Disto resulta que U 1 é conexo por caminhos, o que conclui a
demonstração. □

4-19 - Teorema:
Sejam E um espaço vetorial de dimensão n maior ou igual a 3 e A ∈ LE um
automorfismo auto-adjunto. Sejam g a forma quadrática indefinida x  〈x, Ax〉, sendo
a assinatura σg de g igual a 1, e F a função quadrática x  gx − c. Seja X o
hiperbolóide F −1 1. Então E ∖ X tem três componentes conexas.

Demonstração:
(i)Pode-se admitir, sem perda de generalidade, c = 0, e portanto X = g −1 1. Seja
B = u 1 , … , u n  uma base de E formada por autovetores de A, e λ 1 , … , λ n os
autovalores de A correspondentes aos autovetores u 1 , … , u n nesta ordem. Seja B
enumerada de modo que λ 1 , … , λ n−1 sejam negativos e λ n positivo. Sejam:
60º SBA M. L. Crispino

F = Su 1 , … , u n−1 
P a projeção ortogonal sobre F e Q = I − P. Tem-se:
gx = 〈Px, APx〉 + λ n 〈x, u n 〉 2 4-19-1
Sejam U 1 = g −1 −∞, 1 e U 2 = g −1 1, ∞. O conjunto E ∖ X é a reunião dos abertos
U 1 e U 2 , que são disjuntos. Pelo Teorema 4-18, U 1 e U 2 são ambos não-vazios. Como
〈Px, APx〉 < 0 para todo x, de 4-19-1 obtém-se:
x ∈ U2 
 gx = 〈Px, APx〉 + λ n 〈x, u n 〉 2 > 1  4-19-2
 λ n 〈x, u n 〉 2 > 1 − 〈Px, APx〉 ≥ 1

Seja h : E  R o funcional linear definido por hx = λ 1/2


n 〈x, u n 〉. Decorre de 4-19-2
que hx > 1 para todo x ∈ U 2 . Logo, U 2 é a reunião de dois conjuntos abertos U 21
2

e U 22 , que são:

U 21 = U 2 ∩ h −1 1, ∞, U 22 = U 2 ∩ h −1 −∞, −1

Como gtu n  = t 2 λ n e htu n  = tλ 1/2


n , valem as seguintes afirmações:

t > λ −1/2
n  tu n ∈ U 21

t < −λ −1/2
n  tu n ∈ U 22
das quais resulta que U 21 e U 22 são ambos não-vazios. É evidente que U 21 e U 22 são
disjuntos. Portanto, os três conjuntos abertos U 1 , U 21 e U 22 são disjuntos dois a
dois.
(ii)Dado x ∈ U 21 , seja ϕ o caminho retilíneo que liga x a Qx. Sendo Qx = 〈x, u n 〉u n ,
tem-se hQx = hx. Sendo 〈Px, APx〉 < 0 para todo x, a expressão 4-19-1 leva a:
gϕt = 1 − t 2 〈Px, APx〉 + λ n 〈x, u n 〉 2 ≥ gx > 1 4-19-3
Tem-se também:
hϕt = 1 − thx + thx = hx > 1 4-19-4
As expressões 4-19-3 e 4-19-4 são válidas para todo t ∈ 0, 1. Sendo x arbitrário,
conclui-se que existe, para todo x ∈ U 21 , um caminho retilíneo em U 21 que liga x ao
ponto Qx ∈ U 21 ∩ Su n . Para quaisquer u, v ∈ U 21 ∩ Su n  e para todo t ∈ 0, 1
tem-se:
h1 − tu + tv = 1 − thu + thv > 1 − t + t = 1
g1 − tu + tv = h1 − tu + tv 2 > 1
Daí decorre que U 21 ∩ Su n  é conexo por caminhos. Por conseguinte, U 21 é conexo
por caminhos. Como se pode verificar fácilmente, U 22 é a imagem de U 21 por −I.
Logo, U 22 é também conexo por caminhos. Pelo Teorema 4-18, U 1 é conexo por
caminhos. Com isto, a demonstração está concluída. □

4-20 - Observações:
Sejam E, A, g e F como anteriormente.
(a) O Teorema 4-19 é válido também quando dimE = 2, em cujo caso o
hiperbolóide reduz-se a uma hipérbole.
(b) Sejam X o hiperbolóide F −1 1 e Y o conjunto F −1 0. Dada a base
Hiperbolóides n-dimensionais 60º SBA

ortonormal B de E formada por autovetores de A, sejam u 1 , u 2 ∈ B que


correspondem respectivamente aos autovalores λ 1 < 0 e λ 2 > 0. Sejam
ai = |λ i | −1/2 , i = 1, 2. Então valem, para quaisquer que sejam x 1 , x 2 ∈ R, as
seguintes igualdades:
Fc + x 1 u 1 + x 2 u 2  = gx 1 u 1 + x 2 u 2  =

= λ 1 x 21 + λ 2 x 22 = −x 1 /a1  2 + x 2 /a2  2


Sejam λ, μ : R  E definidas por:
λt = c + a1 tu 1 + a2 1 + t 2 u 2

μt = c + a1 tu 1 + a2 tu 2


Das definições acima resulta:

λR ⊆ X, μR ⊆ Y

Tem-se também:
‖λt − μt‖ = a2  1 + t 2 − t = a2
1 + t2 + t
seja qual for t ∈ R. Por isto, lim t→∞ ‖λt − μt‖ = 0. Logo, dλR, μR = 0. Sendo
λR ⊆ X e μR ⊆ Y, segue-se que a distância dX, Y, do conjunto X ao conjunto Y,
é zero. Evidentemente, a interseção X ∩ Y é vazia.
(c) Quando for c = 0, X é o conjunto g −1 1 e Y é o conjunto g −1 0. Neste
caso, Y é um cone simétrico do espaço vetorial E, o qual se chama cone assintótico
do hiperbolóide X.

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