Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SOBRE O C O M E R C I O DE P O R T U G A L ,
E SUAS C O L O N I A S .
ENSAIO ECONOMICO
SOBRE O COMERCIO DE PORTUGAL
E SUAS COLONIAS
OFERECIDO
A O S E R E N I S I M O
PRINCEPE DO BRAZIL
N O S O S E N H O R
1 7 9 4-
1 1 1
mi
i
S ENHOR.
E X T R A H I D O D A S A C T A S
D A
BA SESSAÕ DE I 7 DE MARÇO UE ,
JOSÉ C O R R Ê A DA SERRA
SECRETARIO DA ACADEMIA ,
I N D I C E
PARTE I. D
X / os Interêses, que Por-
tugal pôde tirar das suas
Colónias do Brazil.
CAP . I . Dá-se uma bréve idéa da grande
fertilidade do Brazil; do mui-
to gado principdlmênte vacüm,
que produzem aqueles campos 7
e da muita abundância dos pêi-
xes claquêlas Costas . pag . i •
CAP. I I . Portugal pelo grande supérfluo que
tem, e pôde ter das suas Coló-
nias , deve necesãriamênte pro-
movêr o Comércio da navegas ao .13»
CAP . I I I . Portugal não pode ter uma gran-
de marinha ? ou seja de guér-
ra j ou de Comércio ? sem ter
muitas pescarias. - - - 26 .
CAP . I V . As pescarias são o mêio mais pró-
prio para civilizar os Tndios
do Brazil 1 prhiápálmênte os
que abitão junto ás margens
dos grandes rios, ou ao mdr . 30 .
CAP . V . Os Tndios do Brazil são muito
capazes de servir, não só na
marinha do Comércio, mas tam-
n Í n d i c e .
E S U A S C O L O N I A S .
P.ARTE I.
DOS INTEKESES QUE P O R T U G A L PODE T I R A R DAS
SUAS C O L O N I A S D O BRAZLL .
C A P I T U L O I.
B A CK V U A SREVEIDEA DA GRANDE FERTILIDADE DOBRA-
7AL DO MÜITO GADO PRINCIPALMENTE VACUM, QUE
PRODUZEM AQUELES CAMPOS , £ DA MUITA ABUN-
DANCIA DOS PEIXES DAQUELAS COSTAS.
A é um tcrrêno abundantísimo; O B R A -
AMEBICA
zíl é o máis abundânte da América : debaixo de
um clima quente , mas doce , amêno e tempera-
do pelas chuvas, e pelos ventos, esta sempre pro-
duzindo em um contínuo g i r o . A térra esta em to-
do o ano cubérta de um alegre v e r d e , e em uma
primavéra continuáda. As árvores estão sempre flo-
ridas , e em cada uma delas se vê ao mesmo tem-
po a flor, o fruto verde, e o sazonado. CO
.«íMg^iSSíy
ï 8 Ensaio 'Económico
réis . O Arrematante deste privilégio tira do Bra-
zíi máis de 96:000^000 réis; 48 para a Fazenda
R e a ! , e mais de 48 para e l e , e seus S ó c i o s , A g e n -
tes , Recebedores e t c . além do cústo principal do
sál e seus fretes : c quanto máis para o interior dos
certoes , aonde á máis gados , e por consequência
onde o sál é mais necesário , é tanto máis caro ,
quanto máis se multiplícao os frétes dos carretos
em bestas , e pelo mêio de serranias intratáveis .
N o Serro do F r i o , quando o sál é máis barato , um
prato não custa menos de 22$ réis. Naqueles cer-
toes em fim um práto de sál é um dos maiores pre-
mentes que se f a z e m .
§ V I I I . A ' l é m dos muitos contos de reis ? que
se tirão todos os anos do Brazíl para se enriquecer
um ó m e m , que remata o contrato do s á l , perdem,
ou dêixao de lucrár os colonos , e todo o comércio
de Portugal os interêses incalculáveis, que aliás po-
deríão tirár da grande abundância dos pescados, e das
cárnes sálgadas, dos tôicínhos, dos quejos, das man-
têio-as, e t c . ; e o Erário R é g i o só por 4^:000^)000
réis que recébe todos os anos , se priva dos mui-
tos 48 contos , que necesáriamênte deveriao pro-
duzir os direitos destes géneros nas A l f a n d e g a s ,
im.
sobre o Comércio cie Portugal . 43
•dos g á d o s , o agricultor, o comerciante darão as
mãos entre si ; eles virão logo sustentar a Metró-
pole de carne, p e i x e , p ã o , quêjos , manteigas,
C A P I T U L O II.
^^vsEtes^
do dito contrato se tas impratuavei
ï 8 Ensaio 'Económico
§ II . U m grande Comércio péde uma gran-
de navegasao : e como os proveitos da navegasao
procédem das somas dos proveitos da agricultura ?
e das manufátúras ; ségue-se , que a navegasao é
um dobrado aumênto de forças reáes , e relativas
de um Corpo Político . T u d o quanto uma Nas ao
ganha de uma parte , diminue a potência r e a l , e
relativa das suas riváes ; e reciprocamente se au-
menta de tudo quanto élas pérdem .
§ I I I . A Política distingue tres objétos dife-
rentes na navegasao. I . A ocupasao que éla dá ás
gentes do már, que fazem o trabalho déla . II . A
construsao dos navios, que é necesário considerar
como uma fábrica. I I I . A utilidade que éla pro-
cura ao Comércio pelo transporte das produsòes ,
e das manufátúras; transporte, que alem da como-
didade que ele dá ao Comércio, é ainda lucrativo
para o povo que o fás . Estes tres objétos mere-
cem ser mais claramente desenvolvidos.
§ I V . U m País bem povoádo , cujas Provín-
cias são situádas junto ao már, que tem Costas de
uma grande extensão, aonde os abitântes nácem
com uma ínclinasão decidida para a vida marítima;
um tál País pode ocupár na navegasao um muito
grande numero de òmens, que todos gánhão mui-
to máis neste mistér, do que não teríão feito tra-
balhândo por dia na lavôira, rasgândo a térra , ou
aplicândo-se a álgúma outra profísao comum. E co-
mo as gentes do már vivem quáze sempre a bor-
do dos seus navios, aonde eles não podem fazer
grandes despêzas de luxo ; trazem para a sua pá-
sobre o Comércio cie Portugal . 43
i r i a , ou para o seio da sua família aquilo que eles
poupao dos seus salários , ou que ganhão em al-
gum pequeno tráfico . T o d o este dinheiro é gá-
nhádo para o E s t á d o , e augmênta a mása das suas
riquezas.
§ V . Aqueles que tem visto construir, e es-
qui pár navios, sábem quantos obreiros de diferen-
tes mistéres são neles empregádos. Carpinteiros ,
Calafátes , Mestres de velame, Cordoêiros , T e c e -
l õ e s , Ferreiros, Marcinêiros, Armêiros, Pintores,
Torneiros, Vidraceiros, Escultores, e uma infini-
dáde de outros muitos Artistas concorrem a pôr
um só navio em estádo de sair ao már. Muitas
produsões de um P a í s , como o fér|p, o linho ca-
nhamo , e todo o género próprio para cordas , e
amarras, a madeira, o álcatrão , o breu e t c . , en-
trao na fábrica de ura navio ; o que tudo aumen-
ta o consumo gerál de um modo muito vantajôzo
para o Estádo: debáixo deste ponto de vista a na-
vegasão déve ser olháda como uma imensa manu-
fátúra, e como tál merece as mesmas atênsóes que
as primeiras manufátúras do Estádo.
§ V I . Mas quando se tráta do provimento pa-
ra a v i a g e m , então se aumenta máis o consúmo
para completár as provisões de b o c a , e de todas
as necesidádes imagináveis , que os proprietários dos
Navios são obrigádos a fazer para uma tál viágem t
e quanto máis a navegasao é considerável, tanto
máis és tas provizóes aumêntao , e favorecem o g i -
ro do C o m é r c i o ; e rezúlta daqui ainda uma ou-
tra vantágem importante para o Estádo , em que
ï 8 Ensaio 'Económico
todas estas provizoes, tendo sido feitas no Porto
donde sáe o navio , o País não sofre alguma di-
minuisão no consumo dos seus géneros pela auzên-
cia das gentes do mar ; o Capitão , os Oficiáes ,
e os Marinheiros , que formão a equipagem , tanto
a bordo, como em térra são vestidos, e sustenta*
dos das produsoes, e manufátúras do seu País.
§ V I I . A utilidáde , que a navegasão trás ao
Comércio pelo transporte das mercadorias , não é
menos palpável. Quando um Estado não tem na-
vegasao, ou não tem bastante á proporsao das suas
produsoes ; os negociantes estão sempre na nece-
sidáde cie esperar a chegáda cios navios Estrangei-
ros ? dos quáefj os Nacionáes não são senhores de
os fazer ir , e vir quando eles quizérem. A s mer-
cadorias , que se querem enviar para fóra ? e as que
se fazem vir do Estrangeiro , fícao muitas vezes
longo tempo nos armazaes , onde se arruínao, ou
recébem perda , e se consomem os interêses ; e a oca-
sião , ou o momento próprio para a venda se per-
de muitas vezes sem remédio.
§ V I I I . Mas isto ainda não é tudo. A como«
didáde de uma própria navegasão é também uma
comodidáde lucrativa ; porque fazendo sempre as
despêzas do transporte párte do valor de uma mer-
cadoria , é cláro que os consumidores Estrangei-
ros de todas as mercadorias exportádas são obri-
gádos a pagár todas as despêzas da navegasão,
que os vasálos da Nasão exportânte tem ganhado.
D a outra párte o valor das mercadorias importa-
das pelos mesmos diminúe na balânsa gerál do Co»
mércio
sobre o Comércio de Portugal. 17
mércio tudo o que tem custado o seu frete , que
tem sido ganhado pelos nósos Concidadãos . E m um
País aonde se faz um grande Comércio , és ta dobra-
da vantagem é imensa .
§ I X . Sobre estes princípios incontestáveis é
fundada a máxima política, que todo o Estádo que
está nas circunstâncias de ter uma navegasao , dé-
ve animár os seus vasálos por todos os mêios posí-
veis: porque um povo que deixa fazer por outros
uma navegasão , que ele poderia fazer, diminúe ou-
tro tanto as suas forsas reáes, e relativas em favor
das Masões suas riváes.
§ X . Estes interêses respétivos obrígao as Na-
soes civiiizádas a entreter com grandes despêzas
forsas naváes, capázes não só de proteger o su-
pérfluo da sua agricultura, e da sua indústria (úni-
cas raízes déstas f o r s a s ) , mas também de pertur-
bar , ou mesmo de arruinar a indústria dos seus
inimigos . E como o Comércio é o que põe es-
tas forras em movimento pela abundância dos Ma-
rinheiros , que ele tèm nutrido, e formádo no tem-
po da p á z ; é evidente que uma Nas ao civilizáda
não pode subsistir sem o Comércio da navega-
são .
§ X I . A s riquezas dos Estádos consistem ou
em fundos de térras , ou em efeitos móveis : os
fundos de térras por iso que pédem máis a asis-
tência, e a vista de seus donos, são ordináriamên-
te posuídos pelos abitántes de cada P a í s , e cons-
tituem propriamente a riqueza de cada Estádo em
particular. Os efeitos móveis, como são dinheiro,
ï8 Ensaio 'Económico
bilhetes , letras de câmbios , áçoes sobre as com-
panhias , navios , e todas as mercadorias , por iso
que são universáes, e giraõ por toda a párte , per-
tencem ao mundo inteiro, que a este respeito com-
põe um só t o d o , de que todas as outras socieda-
des , ou Estados são membros . O povo que re-
lativamente posúe mais destes efeitos móveis do
universo , é o máis rico ; porque entra proporcio-
nalmente com um maior fundo , ou ( expliquemo-
nos asím ) com um maior numero de áçoes na gran-
de companhia do Comércio universal.
§ X I I . U m Estado que tem p o u c o s , ou ne-
nhuns destes efeitos m ó v e i s , ou não déve comer-
ciar com os outros Estádos, ou á de viver sem li-
berdade ; pois que sendo , como é , o fim do C o -
mércio aumentar as comodidades dos ómens ? fa-
zendo das coisas supérfluas úteis, e das úteis ne-
cesánas • aumentado um maior numero de necesí-
dádes a um p o v o , que só vive do fruto das suas tér-
ras , nunca já mais poderá ter um supérfluo tão abun-
dante , que pósa saldár, ou igualár o seu luxo com
o das outras NasÕes comerciântes, sem que se vá
continuamente empobrecendo por uma economia
rorçáda.
§ X I I I . Mas como aquele que no Comércio
paga menos , vai recebendo menos, ( i ) virá um
* Colonie où se fera U s a i s i t L » ™ Z % £ s
et Dénonciateurs. Tous les Amiraux et o/cUrs%gZ
n depuis on . dispensé de cette cIausç ; p o a r étendrfi k
sobre o Comércio cie Portugal . 43
Emàio Econômico
s
ï8Ensaio 'Económico
C A P I T U L O III.
G>
sobre o Comércio cie Portugal . 43
aprende quáze brincando a manobra, ensaia-se nas
viagens de longa carreira, até que em fim se ias
um ábil marinheiro, sem muitos esíòrsos. E' pois
necesário animar a pescaria por todos os meios po-
síveis.
§ I I I . A coragem de atravcsár os máres , e
de os correr de um Pólo a outro Pólo não tem
i sido o negócio de um dia: os ómens só a tem ad-
quirido á forsa de muitas experiências , pelas quáes
eles se tem familiarizado com este elemento tão
inconstante, e tão terrivel. A pescaria foi sem dú-
vida a que trasou as primeiras régras da arte: es-
te ramo preciôzo da ocupasao dos ómens conserva
ainda os seus direitos sobre a navegasao; pois que
a pescaria foi sempre o primeiro berso em que se
creárao os marinheiros .
§ IV . O benéfico Autor da Natureza povoou
o mar de uma infinidade de peixes, cujas espécies
inumeráveis varíão ainda mesmo no os?osto em to-
das as paragens, e sobre quáze todas as Costas. O
már do N o r t e , o már do S u l , o Mediterrâneo, o
Báltico, o Atlântico tem cada um seus peixes par-
ticulares , que diférem ainda sobre cada Costa do mes-
mo már : e como os gostos dos consumidores são
diferentes, são também procurados com preferência
estes, ou aqueles peixes ; e muitas vezes até para
variár de gosto 5 ou por economia quando são de um
preso máis barato, ou de uma maior durasão prin-
cipálmênte para as viagens de longo tempo.
§ V. O s Olandêzes pela só pesca do arenque
gánhao todos os anos milhões de florins *, os In-
D ii
ï 8 Ensaio 'Económico
glêzcs pela só pésca do bacalháo ganhão milhões
de libras esterlinas ; eles só pela pescaria tem ma-
rinheiros , tem marinha , tem Comércio , tem di-
nheiro . E ' pois necesário dar as providências, e fa-
cilitár todos os meios, para pôr os abitántes cm es-
tado de tirar todo o partido da vizinhânsa do már.
§ VI. Uma Nasao que não tem grandes pes-
carias , não pode ter uma grande marinha , nem
mesmo um grande Comércio ( i ) . A maior parte
das Potàicias marítimas tem pescarias nacionáes
ou cértos ramos excluzívos de C o m é r c i o , que elas
fazem servir de Escolas para a marinha. T á e s são
a pesca do arenque junto ás Tinas 0 ' r c a d a s ; a que
se fás sobre as Costas da N o r u é g a , a do baca-
lháo da Térra N o v a do grande banco , a da balêa
na Groenlândia ? a dos Lobos marinhos no Estrei-
to de Davis , e outras.
§ VII. O transpórte dos carvões das Minas
de Escócia em Inglatérra tem produzido excelen-
tes marinheiros. O grande , e intrépido Capitão
C o o k , que tanta honra fás á sua Nasao , fazia glória
de confesár , que fês os primeiros estúdos a bordo
de um destes navios (2). E m outras pártes a cabo-
sÃ
\
ï 8 Ensaio 'Económico
Cartágo; mas conhecendo que não tinha bastantes
farsas para rezistir, se juntou aos Romanos que ata-
cando por m a r , e por terra com fòrsas muito supe-
riores , conseguirão em fim destruir a sua rival; que
com túdo não foi sem o perigo de ficar subjugada a
mesma Roma : e tálvês que se cia não tivése a mari-
nha da sua Aliada , ainda que piquéna, sofreria condi-
soes mais duras do que a do seu primeiro Tratado.
C A P I T U L O IV.
AS PESCARIAS SAO O MEIO MAIS PROPRIO PARA CIVILIZAR OS
ÍNDIOS DO BRAZIL , PRINCIPALMENTE OS QUE A BITÃO JUN-
TO Â'S MARGENS DOS GRANDES RIOS, OU DO MAR .
C A P I T U L O V,
i
CS ÍNDIOS DO BRAZIL SAO MUITO CAPAZES DE SERVIR
NÁO SO' NA MARINHA DE COMERCIO , MAS TAM-
BÉM NA DE GUERRA .
TM
§ I. o Capítulo antecedente mostrei, que
os Pndios do Brazil são muito capazes para todo o
ministério, e servíso do mar; porém como Montes-
quieu , e outros muitos , que séguem o Sistema dos
C l i m a s , estabelêcem como regra gerál , que o ómem
do País quente é fraco , e puziíânime , e que por
consequência o Pndio da Zona Tórrida é inábil pa-
ra a marinha principálmênte de guérra ; se me fás
indispensável analizár o fundamento, em que se es-
triba esta opinião tão g e r á l , e da quál se tem de-
duzido .consequências não só absurdas , mas tam-
bém injuriózas aos póvos dos Paízes quentes, e ain-
da mesmo ás Nasòes meridionáes da Europa ( i ) .
§ I I . Dís Montesquieu, que o ómem do País
quente é f r o x o , f r a c o , medròzo , e até mesmo
sem espírito; (2) porque, dís e l e , tem as fibras mui-
to froxas : e para dár uma próva désta sua afírma-
( 1 ) Montesq . Esprit des Loix liv . 1 4 . art. 2 . et 14 .
t ( ) Montesq . até se esquéceo de que as ártes , as
2
* •* bi,
sobre o Comerão de Portugal, 41
t f v a , dis que se meta um ornem em um* lugar quen-
te , e fechado, e se verá que ele cáe em um mui-
to grande abatimento de corasao : (3) cis-aqui toda a
forsa do argumento de Montesquieu, e dos Seta-
rios do sistema dos Climas ; sistema com o quál se
*
44 Ei:saio Económico,
, § „ V " „ ? e b f m se reflétír na Istória dos PndioS
da Zona l ó r n d a , se verá que eles ( fálo dos bár-
baros, e s e l v a g e n s , que ainda conservao todo o seu
carater) a pezár da disparidade das ármas de f o -
g o , com tudo não c e d ê r í o , nem se deixáráo ven-
cer por f r a c o s , c púzilânimes ; (7) só sim , cu por fál-
I
í
sobre o Comércio de Portugal. 45*
ira de indústria contra um novo método de fazer a
guerra, ou por se ter fomentado a discórdia entre
eles, protegendo uma Nasao contra a outra .
§ V I . A conquista da Capitania de São Vicen-
te no Brazil, foi devida ao famôzo Pndio Tebire-
sá ; (8) a da Baía ao valente Tabirá (9) a de Pernam-
buco ao forte Itagibá (que vale o mesmo que bráso
de f é r r o ) , e ao grande Piragibá, que pelas fasânhas ,
que obrou em defêza dos Portuguêzes ? merecêo ser
premiado com ábito de Christo, e tensa ( 1 0 ) . A
do Pará, e Maranhão ao célebre T o m a g í c a , (11) e
outros, que até servirão aos Portuguêzes nas guér-
ras contra os Olandêzes , asím como o invencível
1
Ensdlo Econômico,
f é r t e i s , e ricas da C a p i t a n i a d o R i o d e J a n ê i r o ( r 6))
são tão v a l e n t e s , q u e é mais f á c i l m a t á l o s , d o q u e
v e n c e l o s . E l e s t ê m orrôr a u m só instânte d e v i d a
d e b á i x o da escravidão : n e n h u m a N a s ã o B r a z i l i e n s e
n e m E u r o p é a , p o d e a t é g ó r a cantár a g l ó r i a d e o s
t e r v e n c i d o ( r 7 ) . E l e s ainda se c o n s é r v a o l i v r e s , e
independentes .
S '„e ?
uaunstancias.
álX0 d°S g d 0 S ' dádas as m e s ™ s
oínal
Ut.na.
fdel T i 1 P°UtÍ1-Tout
la baye d'Hudson...
11
s\
J7- chap.
re.uent de.ú
G ii
•60Ensaio Economico
Leões; (23) este tremûndo de frio, e de medo ( í 4 ) .
§ A V . L e r y , e seus companheiros, nacídos
e creados na Zona Tempera'da, não podérâo dobrar'
um so arco dos Pndws Tamoyos da Zona Tórrida
dos contornos do R i o de Janâiro. Ele é o mesmo
que confesa que lhes éra necesário trabalhar com to-
das as suas forsas, para dobrfrem um árco dos rapa-
zes de des anos ( 2 5 ) . G a u d i o Jannequin, Senhôrde
Í * Z T L Í Z r LKU °U H FU 'an-
i h / - eecKãmãí"W tournant tout-dHm-coup l'atten-
t pe ya
eïtieu k f::'Z'
i> ail, P J V desc
f fmTht ««^onde " jaJune
tenant qunui
teuk Lvme
ouvertetT, avec un furieux
aU nt %
d U m 1
> rugissement
ui « M l*
Tl 1,-i
ï8
ï8Ensaio 'Económico
sando p a n os vegetáes : compare-se a forsa , e ,
njeza de um páo Ferro, de um I p ê , de um Gura-
m i n m , de um Sucupira das márgens do Amazônas
com a de um Carvalho, de um B ó x o , de um Cas-
tanho , de um Pinho das márgens do Niepcr • vêr-
s e - á o quanto estes sao brandos a respêito daqueles,
é A Natureza, que em todas as suas produsóes debái-
xo da Zona Tórrida se mostrôu fórte , e robusta
tanto a respêito das fibras dos irracionáes, como dos
vegetaes, só se avia de mostrar fraca, e degenera-
da a respêito da fibra do ómem , o p „ m é i r o ob-
J e t ° i ( iLie "'consequências!
§ A Y I I . Montesquieu, querendo dár mais fôr-
sa a sua opinião de que o ómem do País frio tem
a fibra mais fórte do que o do País quente, se va-
I ,dí I s t o n a PÓVOS dos Paízes frios, que sub-
jugarao muitas vezes os Póvos dos Paízes quentes :
mas ele descobriria facilmente a cáuza deste efêito
q ^
m T1?
sobre o Comércio cie Portugal . 43
senão se tivése apaixonado tanto pelo sistema dos
Climas , e senão tivése confundido as forsas natu-
ráes de cada um ómem em particular, com as de
um Povo junto em sociedade.
§ X V I I I . U m P o v o , que vive em um País fér-
til , e abundante, por íso que vive farto entréga-
se máis aos prazeres, ao luxo, e á ociozidáde: ca-
da Cidadão vive quáze como separádo, e indepen-
dente um do outro. E'sta separasao das partes com-
põe um todo dezunído, e fraco; e pelo contrário
uma Nasão, que vive em um País pobre, e estéril, é
quaze sempre rude, e guerreira, porque a sua po-
breza mesma, cujo pêzo a importuna sem cesár, a
põe em uma absolúta necesidáde de procurár por
todos os meios a sua subsistência. E 5 sta necesidáde
gerál ensina a todo um povo esfáimádo a unir-se, e
ajuntár todas as suas forsas para conseguir um mesmo
fim, e mutuamente se auxiliárem ; até que finálmên-
te por um projéto já muito dantes premeditado fás
uma irrüsão, surprênde, e conquista um povo manso,
que no mêio da abundância vive contente, e descui-
dádo ; mas logo que este povo acórda do seu letargo,
recóbra da mesma sorte os seus direitos uzurpádos.
§ X I X . Os Scytas, ou Tártaros, três vezes in-
vadirão a A ' z i a ; mas também fôrão déla três ve-
zes repelidos (28) . Os Povos do Nórte donde tem
saído estes exércitos formidáveis, que tem transtor-
nado tantos Impérios, tínhão já muitos abitântes,
sem muito terreno para os sustentár, nem muita
r
ï 8 Ensaio 'Económico
mos Moscovitas até muitas vezes se vendem ( 3 1 ) . E
pelo contrário as Républicas da Europa se áchao cm
Paízes mais quentes . Olúnda , V e n e z a , Génova, L u -
ca etc . , respirão um ár mais quente do que a Riisia ,
a^ Suécia, a Noruéga. N o s Estados Meridionáes da
Europa apenas se ouve falár no nome de escrávo ( 3 2 ) .
D a mesma sorte a Religião Protestante , que ele dís
ser mais própria para as Republicas , e a Católica R o -
mâna para as Monarquias ( 3 3 ) . Pelo contrário se vê
que a Protestante é a dominante da maior parte das
Monarquias do N o r t e ; e a Católica Româna de to-
das as Républicas da Itália . N ã o é necesário ter
a vista muito agúda, para ver as contradisôes, e os
absurdos em que Montesquieu , e os Setários do
sistema dos Climas estão caindo a cada páso.
§ X X V . Conhêso que tenho sido fastidiôzo
em me demorar por tanto tempo contra uma opi-
nião, sobre a qual apenas se refléte um p o u c o , se
descobre l ó g o toda a sua fraqueza • mas como as opí-
nioes velhas, e populares, principálmênte quando são
apoiadas por ómens de autoridade, ou que têm ad-
C Á P I T U L O VI.
^ f f ™ ™ . ^ « * appeltamus, humalifaTabt
se. Uh enim límpida aqua pedes nostros ( W antinZ
rum morem mibi in memliani revocavit )
10 rovincia
§ ' 111'
dos 5Ouetacázes
. ; i l p i t í > M ( 5 rDomingos
> e Governador
Aivares daquéla
PesLha
( meu A v o Materno) conseguio finálménte domar
esta Nasao invencível, á forsa de lhe fazer contí-
nuos benefícios, e liberalidades, tratando com éla
uma boa te a mais escrupulóza.
§ I V . L o g o que conseguio a amizáde daqueles
Í n d i o s ; para os tér mais seguros, e os fazer mais
trataveis com os Portuguêzes, lhes deo um estabele-
cimento no seu engenho, e fazenda de Santa Crús
sita na margem austrál do rio da Paraíba do Súl
legoa e meia asíma da Vila de SSo Salvador dos Cam-
pos dos Ouetacázes , e lhes mandou fazêr uma bran-
de caza ao gosto deles, em que podésem ter como-
damente as suas redes, ou mácas, que lhes servem
de camas, junto á margem do rio para se lavárem,
como costumao todos os dias, cies de madruga-
d a , e elas ao meio dia.
§ V . Esta c á z a , que lhes sérve como de es-
t a l a g e m , está sempre cheia dos que décem dos
certoes a comerciar com os Póvos daquéla Provin-
h a . U seu Comércio consiste na permútasao, que
fazem da cera , e mél, de que abdndão muito àquê-
les matos, asim como também de pásaros, de qua-
drúpedes silvestres de diferentes espécies : cértos
barros, ou argdas de que se fázem panelas, e ou-
sobre o Comércio cie Portugal . 43
tros vázos fortísimos , que rezístem muito ao fo-
g o ; (4) e quando não tem bastantes géneros pa-
ra permutarem por machados , foices , facas, an-
z o e s , sal e t c . , se alúgão para cortárem madeiras,
em que são destrísimos . Cada um deles porem y
só trabalha pelo necesário ; por exemplo , só tra-
balha por dois, ou três dias quanto basta para ga-
nhar o equivalente, ou o preso de um machádo ?
ou daquele instrumento cortante, de que ele precí-
za para o seu uzo : o férro, este metal, que para
o ornem é da primeira necesidáde, para o Pndio é
o mais preciôzo ; ele não precíza de vestidos.
§ V I . Aqueles P n d i o s , posto que já contra tão
de boa fé com aqueles Povos, comtikio ainda con-
sérvão uma cérta desconfiânsa, de sorte que os con-
trátos, principálmênte em que eles se aíúgao, não
fázem sem conselho do seu bemfêitor, ou de seus
filhos , que dele erdárão para com eles a mesma
beneficência ; e logo que lhes dizem que segúra-
mênte podem fazer o seu contráto, não ezítão um
só instante , e se entrégão francamênte nas mãos
do seu contratante . Eles tem levado este sinál da
sua gratidão para com os seus bemfêitôres a um
tál g r á o , que podem bêm servir de exemplo aos que
se prézão de sustentár a onra de agradecidos (5-).
C A P I T U L O VII.
PORTUGAL PO DE TER UMA GRANDE MARINHA DE GUERRA
SEM MUITAS DESPEZAS, NEM MUITO RISCO ,E SEM CAU-
ZAR DESCONFIANSA AS OUTRAS NAS0ES.
72 Ensaio Económico
tugál em tempo de guerra ao menos quantas fraga-
tas quiser, ou comprádas, ou fretadas sem lhes cor-
rer o risco ? nem cauzár ciúme ás outras Nasoes.
§ X I I . E se aos donos de táes navios se dér a
artelharía necesária sem mais outra obrigasao , do
que a de dárem conta déla todas as vezes que se
lhes pedir, será respêitáda em todo o Oceano a Ban-
deira Portuguêza , e poderão servir até de guárda
costa aos navios máis piquênos; o negócio será flo-
rênte, a marinha se fará formidável .
C A P I T U L O VIII.
.U
I . K^J M dos maiores ramos de Comércio
das Nasoes do Norte é o Comércio livre das suas
madêiras; e muitos Páis deixão a seus filhos ricas
erânsas, que só consistem em ármazens de madei-
ras ( i ) . Nenhúma Nasao comtúdo tem tantas madêi-
C A P I T U L O IX.
I
sobre o Comércio cie Portugal . 43
que se vále um particular, são sempre limitados; os
de um Estado bem governado não tem limites. III
A maior parte das despêzas de um particular ten-
dem a se procurar mais comodidádes , e máis pra-
zeres . Todas as despêzas públicas pelo contrário ten-
dem ou á conservasão imediáta do Estádo , ou a
aumêntár a sua prosperidáde, as suas forsas, e a
sua opulência. E ' necesário em fim semear para co-
lher (4) .
§ V I . A'lêm destas madeiras á outras muitas ,
que ainda que não são tão preciózas pela sua qua-
lidáde , seríão comtúdo de muita utilidade para es-
te Reino , atênta a grande falta que á de lenha ,
e o grande consúmo, que se fás de carvão com pre-
juízo gravísimo das Províncias , principálmênte do
A'lêm-Téjo . N o Brazíl á madeira infinita, que sobe-
j a , e que se dêita abáixo só para se descortinárem
as terras para a lavôira. Seria muito útil que se apro-
vêitá-se aquele supérfluo, e que se remediáse ésta
falta.
§ V I I . A s náos de Sua Magestáde, que v ã o , e
PARTE
SÈ^BátíBI
wiUÊtëmaiNm&mMSimm fo o
RHBH
Tï •
P A R T E II.
sobre os i n t e r e s e s que portugal pode TIRAR das
s u a s c o l ô n i a s n a s t r e s p a r t e s DO m u n d o .
C A P I T U L O I.
C A P I T U L O II.
C A P I T U L O III.
V
sobre o Comércio de Portugal. iii
P A R T E III.
SOBRE OS i n t e r e s e s DE PORTUGAL PARA COM
AS OUTRAS NASÔES.
C A P I T U L O I.
AS FABRICAS DE LUXO NAO SAO CONVENIENTES
A PORTUGAL.
P
ï 8 Ensaio 'Económico
as conservar em concorrência com as das outras N a -
s5es, que délas fázem uma párte principál do seu
fundo, e que já neste ramo de indústria nos tem
tomádo a dianteira, seríão logo arruinádas pelo pe-
zo da mesma balânsa de Portugal muito vantajòza.
§ V I I I . As manufaturas, que só pedem brásos
sem muito engenho, nem muita árte ; as ordiná-
rias , que mais convêm ao Povo , que é o máis gran-
de consumidor do Estádo, são as que máis convêm
a Portugál. A s mulheres, os rapázes, os vélhos ,
os estropiádos, todos áchão néstas manufaturas um
género de trabalho proporsionádo ás suas forsas.
§ IX. As manufatúras as máis necesárias, aqué-
las sobre tudo , que se pódem olhár como da primei-
ra necesidáde; todas as que são precízas para os
fardamentos das T r o p a s , ármamêntos de térra , e
de már, velames, cordoarias ; todo o gênero de fá-
bricas de atanádos, de papél, e t c . não dévem ser
desprezadas em Portugál: antes se lhes dévem dar
todos os socorros, e rebaixár-lhes os dirêitos , quan-
to for posível, para no concurso dos vendedores dár
a preferência ao Fabricante da Nasão.
§ X . A s de méro luxo porem, aquelas que só
dependem do gosto, de muito engênho, e de mui-
ta árte, não dévem merecer muito cuidádo a Portu-
g á l ; (2) não só porque não tem muitos brásos pa-
ra abarcar os imensos ramos de Comércio, que pro-
••ti
(2) Bielfeld Instit. Politiq . tom. 3. part. 2 . chap.
et § . 8 . no fim C'est une erreur politique, que de vou-
kir avoir tout chez soi.
MW1WTII—HM
HW mmSflftp
sobre o Comércio cie Portugal . 43
dúzem, e podem produzir as suas Colónias ; mas
também para deixar de propózito uma pórtá aber-
ta , para por ela entrarem as Nasóes industriczas a
comerciar comnôsco, para nos levárem o noso supér-
fluo (3).
§ X I . D e outra sórte, ou yiyirêmos sempre na
mediocridade ocultândo os nósos tezôiros, para que
C A P I T U L O II.
• 'Hi'j m ? w s» m
10 0 Ensaio Econômico
tos do que aqueles, que pagávao antes da proibi-
são da entráda dos lanifícios estrangeiros em Portu-
gal : o que comtúdo não é um privilégio exclusi-
vo , nem tál que ligue as mãos a Portugal, para não
fazer as mesmas concesõcs a qualquer outra N a -
são , ou Nasôes, que mais lhe comprarem uma maior
quantidade do seu supérfluo , e dos géneros das suas
Colónias (7) .
§ X V I . Inglatérra não compra de Portugal nem
muito asúcar , nem muito tabaco , nem algumas mer-
cadorias das Pnclias Orientais, porque a maior par-
te tira das suas Colónias : e de todas as produsòes
das Colónias Portuguêzas, á exeésão do algodão,
quáze que não tira máis do que o ôiro , e os dia-
mantes .
§ X V I I . Portugal franqueando os direitos da
entráda dos lanifícios a todas as Nasóes comerciantes ,
reduzindo-os ao estado, em que eles se achávão an-
tes daquéla proíbisão, não só faria tantos Aliádos,
quantos rosem os interesádos no seu Comércio , mas
também aumentaria o numero dos concorrentes ,
para lhe venderem por menos a sua indústria, e as
suas manufatúras, e lhe comprárem por máis os seus
géneros , e o seu supérfluo; o que seria sem dúvi-
Veja-se o C a p í r , aateced
C A P I T U L O III.
r n
§ I . JL ODOS os Estados da Europa não po-
dem economizar bastântemênte as suas despêzas :
porque álêm das anuáes, e da sustêntasão das suas
Tropas em tempo de pás; lhes é necesário, ou ter
sempre guardádo , e pronto para quálquér guérra um
rico Erário , como perdido para o Comércio ; ou
individárem-se máis , e máis , cavando todos os dias
a sua ruína . Eles estão como encravados uns nos
outros , sempre cheios de susto; quálquér choque de
uma párte os abála, e fás tremer a todos.
§ I I . U m a Potência, cujos Estádos estão si-
tuádos entre duas, ou máis Potências Beligerantes,
vê-se muitas vezes constrangida, ou a entrár em
guérra , ou a dár paságem pelos seus Estádos ás
Tropas de umas contra as das outras: mas como estas
I2u Em ato Económico
ouáze sempre estragão o País por onde pásao , e
principalmente o neutral, por iso que o não rcpii»
tão seu amigo ; se vê logo o Pai/, neutral obri-
gado a seguir um partido , para se não ver pizádo
por dois então toda a prudência de ira Príncipe
Sábio, A m i g o e Pai dos seus vasálos , não os pô-
de muitas vezes sálvár de um semelhante flagelo.
§ III . Portugál situado em um canto, sem es-
tas comunicasoes de uns para outros Estados peias
suas terras, está como livre de todo o choque ; ele
se vê rodeado de dois Amigos ; um que lhe franqueia
todos os pásos ; o outro , que pela sua grande má-
sa lhe sérve como de baluarte para rebater os con-
tragolpes do N o r t e . Portugál em fim pela^sua fc-
lís situasão participa do b o m , que tem a Europa;
das ártes , das ciências , e do Comércio ele par-
ticipa iguálmênte: do mál porém, das guerras pa-
rêce estár fora da Europa, separado , e independeu-
te •
§ I V . Pelo que pertênce ás Potências Maríti-
mas Beligerantes pode Portugál conservar a sua neu-
tralidáde , sem que alguma délas o posa facilmente
obrigár a entrár em guerra : porque ou ésa Nasão ,
que pertênde obrigár a Portugál, tem contra si um
inimigo forte ; ou não . Sc o inimigo é forte , e
que por iso péde socorro contra ele , não lhe po-
dem sobejár forsas para ao mesmo tempo atacar, c
obrigár a Portugál a entrár em guerra .
§ V . E se o inimigo não é muito forte , não
é necesário juntár tantas forsas , nem apertar com
um amigo até o ponto de perder a sua amizade :
por-
sobre o Comércio cie Portugal . 43
porque álêm désta perda, irá aumêntár-ihe o núme-
ro dos seus inimigos; e cauzár-lhe danos irrepará-
veis . , ,
§ V I . Uma Nasão Marítima, ainda que mais
pequena, e menos poderòza, sómênte pela sua si-
tuasao locál pode cauzár danos gravísimos a uma
outra , ainda que maior, e máis poderòza . Bem pe-
quenas , e bem pouco poderózas são T u n e s , 1 ri-
p o l i , e A r g e l ; e com tudo cias tem posto era con-
tribuisão a quáze todas as Potencias da Europa; só-
mênte pela situasão vantajòza dos seus Estádos , e
pelo método de fazêr a guérra por chavécos, ou
por pequênas embarcasóes armádas.
§ V I I . Portugál é senhor de muita parte das
Costas da América, da A ' f r i c a , e da A*zia, e das
1'lhas adjacentes no mais estreito do már Atlântico
todas com muitos portos grandes, e pequenos. Se
naqueles, que forem máis vezínhos á escála geral
dos navios do Comércio daquelas Costas ^ e das Pn-
dias, se pozérem álgümas fragátas, ou álguns peque-
nos corsários, que como da sua cáza sáião a fazêr
o seu corso; porão sem dúvida em consternasão o
Comércio de quálquér Potência ainda das máis pode-
rózas da Europa .
§ V I I I . Não seria precízo que Portugal arma-.
sê á sua custa, ou dos seus vasáles todos os na-
v i o s , ou chavécos necesários para aquêle corso;
bastaria que permitise , que armadores estrangêiros
debáixo da sua bandeira fizésem suas as prezas , e
que fosem protegidos naquêles portos . Portugál por
çste método teria uma grande vantágem sobre Jtv os
10 0 Ensaio Econômico
seus inimigos; por iso que atacava de sua cáza e
de perto ; e eles de muito longe . Eles se veríão
mesmo na necesidáde, ou de comboiar os seus na»
víos de Comércio com fragatas, ou náos de guér-
ra ; o q u e , álêm de lhes fazer muitas despézas, seria
um empate ruinôzo para o seu Comércio ; ou veríão
com sentimento toinárcm-se-lhe os seus navios uns
depois dos outros. '
§ I X . E pelo contrário a amizáde de Portu-
gál para com as Nasoes Marítimas será sempre util
quando não ccmo A l i á d o , ao menos como Neutral!
A lem dos mterêses , que todas tirão do seu C o -
mércio, e dos seus portos em uma das melhòres si-
tuasoes da Európa ; e nos dos seus domínios espa-
lhados por quáze todo o mundo, para se refazêrem
do necesário os seus navios de guerra, e de C o -
mércio ; a f é , e a lealdade Portuguêza é de um preso
inestimável. r
S ^ t r ° f i a O S 3 t o d a s •• * nenhüma o l n d ê o .
Nésta ulüma guerra, em que as primêiras Potências
Marítimas da Eurdpa C a s t e l a , W r a t é r n Fran,,
e wunda .rabalhavao por se arruinfr, Portugal obser-
vou a mais- ngorcfaa neutralidade. O s N e p o r í W
Portuguêzes^ sempre fiéis á sua palavra ^ «ti-
rão da sua parte a onra da NasSo refes tivêrSo ms suL
£ °f W"CU,0S ' « C o r n e t de tod
Íierâ ÍfóZ0S' 8enttfmáírconsen-
tem, que álgúm aêles se .juçbrásc pela sua p á r t e .
sobre o Comércio de Portugal. 131
§ X I . Finalmente se Portugal conservai uma
marinha respeitável de guérra , e de Comércio, re-
nunciando todo o espírito de conquista , conten-
tando-se com o m u i t o , que posue em todas as
quatro pártes do mundo; promovendo por todos os
meios as riquezas, que as suas Posesóes são capá-
zes de produzir; conservando os seus vasálos em
pás, e socêgo na fruisão dos seus bens, economi-
zándo as suas fabricas para as manufaturas necesá-
rias, deixando as de luxo para os Estrangeiros, pa-
ra que eles por ésta porta entrem a comprár o nó-
so supérfluo, e se interésem comnôsco no Comér-
cio gerál das Nasóes : póde-se dizer com confiân-
s a , que Portugál não será inquietádo, e que todas
as Nasóes se interesarão na sua conservasao, como
na própria de cada uma .
R ü
MEMORIA
S O B R E
O P R E S O DO ASUCAR.
( Foi puUkdda por drdem da Academia R. das Siên-
cias em 17 pi ; agora sáe nómménte corregi da, e
m
' ' " ' '
i -o Memoria
cas de asúcar nas Tílias de S . Cristóvão, e de Bar-
bada ( 1 5 ) .
Mas a tempo em que as nósas fábricas de asú-
car se achávão já muito melhoradas , com máis de
cf7 . anos de adiantamento, do que as de todos os
Estrangeiros , e nós quáze senhores únicos deste
Comércio r se descobrirão, para nós desgrasádamên-
te r as Minas do Oiro , que nos fizérao desprezár
as verdadeiras riquezas da. Agricultura para traba-
lháramos nas de méra reprezêntasão (16) ..
A. riquêzu rápida daquélas Minas que tanto
tem aumerítádo a indústria dos Estrangeiros , cha-
mou a, si quáze todos os brásos das nósas fábricas
de asúcar : este cego abandono, fés que elas fosem
l ó g o em decadência. (17) .
Desde ésta época fatál para a nósa Agricultu-
ra, os Estrangeiros , sempre ábeis em se aproveitar
do nóso descuido, trabalhárão com todas as suas for-
sas por nos arrancarem das mãos os nósos grandes
ramos de Comércio. A isto acrecêo máis em favôr
deles a pás de R y s w i c k feita em 1 6 9 7 . entre a
Fransa, Espânha, Olânda, Alemânha, e Inglatér-
ra,.. que lhes deo máis tempo para melhor se esta-
belecerem .
Os Francêzes fizérão lógo tantos progré-
F I Mo
C A T A L O G O