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Determinantes

Vamos associar a cada matriz quadrada A um número real, que


depende apenas das entradas da matriz.

Definição Seja A uma matriz de ordem n, com n ≥ 2.


Dados i, j ∈ {1, . . . , n}, representamos por A(i|j) a matriz, de
ordem n − 1, que se obtém de A suprimindo a linha i e a coluna j.
 
1 2 3
Exemplo Para A =  4 5 6  temos, por exemplo,
7 8 9
   
5 6 4 6
A(1 | 1) = A(1 | 2) =
8 9 7 9
   
4 5 1 2
A(1 | 3) = A(2 | 3) = .
7 8 7 8
···
 
a11 a12 a1n
 a21 a22 ··· a2n 
A=
 
.. .. .. .. 
 . . . . 
an1 am2 ··· ann

Definição Seja A = [aij ] uma matriz de ordem n. Chamamos determinante de


A e representamos por det A, det (A) ou |A|, ao número real definido, por
recorrência, da seguinte forma:
· se n = 1,
det A = det [a11 ] = a11

· se n > 1,
det A = a11 (−1)1+1 detA(1|1) + a12 (−1)1+2 detA(1|2) + · · · + a1n (−1)1+n detA (1|n)

Nota:
 
a11 a12
det = a11 (−1)1+1 det A(1|1) + a12 (−1)1+2 det A (1|2)
a21 a22
= a11 det [a22 ] + a12 (−1) · det [a21 ]
= a11 a22 − a12 a21
 
5 2
Exemplo det = 5 · 1 − 2 · 3 = 5 − 6 = −1.
3 1
a11 a12 a13
" #
Para qualquer matriz A = a21 a22 a23 de ordem 3, tem-se
a31 a32 a33
det(A) = a11 a22 a33 + a12 a23 a31 + a13 a21 a32 − a13 a22 a31 −
a11 a23 a32 − a12 a21 a33 .

Mnemónica para calcular o determinante anterior:


matriz matriz
z }| { z }| {
a11 a12 a13 a11 a12 a11 a12 a13 a11 a12
a21 a22 a23 a21 a22 a21 a22 a23 a21 a22
a31 a32 a33 a31 a32 a31 a32 a33 a31 a32
Exemplo
 
1 0 2
det  −1 3 5  = 1·3·1+0·5·4+2·(−1)·2−2·3·4−1·5·2−0·(−1)·1 = −35
4 2 1
 
1 0 2 1 0
 −1 3 5 −1 3 

4 2 1 4 2
Recorde-se que, se A = [aij ] é uma matriz de ordem n, com n ≥ 2,

det A =
a11 ·(−1)1+1 ·det A(1|1) +a12 ·(−1)1+2 ·det A (1|2) +· · ·+a1n ·(−1)1+n ·det A (1|n)

Chamamos complemento algébrico do elemento da posição (i, j)


de A ao número:

Abij = (−1)i+j det A(i | j) .

Atendendo às definições temos que:

det A = a11 · Ab11 + a12 · Ab12 + · · · + a1n · Ab1n

Observe-se:  
a11 a12 · · · a1n
 a21 a22 · · · a2n 
A=
 
.. .. . . .. 
 . . . . 
an1 am2 · · · ann

Podemos calcular o determinante da matriz ”escolhendo”outra


linha? Sim, podemos escolher outra linha ou outra coluna.
Teorema de Laplace
 
a11 a12 · · · a1n  
 .. .. . . ..  a11 · · · a1j · · · a1n

 . . . . 
  a21 · · · a2j · · · a2n 
 ai1 ai2 · · · ain  
 .. . . .. ..

.. 

 .. .. . . ..

  . . . . . 
 . . . . 
an1 · · · anj · · · ann
an1 an2 · · · ann

Teorema de Laplace Se A é uma matriz de ordem n, com


n ≥ 2 , então, para quaisquer i, j ∈ {1, . . . , n} , temos:
I det A = ai1 · Abi1 + ai2 · Abi2 + · · · + ain · Abin
(desenvolvimento do determinante segundo a linha i)
I det A = a1j · Ab1j + a2j · Ab2j + · · · + anj · Abnj .
(desenvolvimento do determinante segundo a coluna j)
Exemplo Para calcular o determinante da matriz
 
1 −1 0 1
 0 2 0 −1
A= 1

3 4 0 
2 −1 0 1

vamos aplicar o T. de Laplace, segundo a terceira coluna:

det A = a13 · Ab13 + a23 · Ab23 + a33 · Ab33 + a43 · Ab43 =


= 0 · Ab13 + 0 · Ab23 + 4 · Ab33 + 0 · Ab43 =
" #
1 −1 1
= 4 · (−1)3+3 · det 0 2 −1 =
2 −1 1
= 4 · 1 · (−1) = −4 .
Proposição Seja A uma matriz quadrada.
I Se A tem uma linha (ou uma coluna) nula, então det A = 0 .
I Se A tem duas linhas (duas colunas) iguais, então det A = 0 .
I det (A) = det (AT ).
Matrizes triangulares
Definição Seja A = [aij ] uma matriz quadrada de ordem n.
Dizemos que:
I A é uma matriz triangular superior se ast = 0 sempre que
s > t, isto é, se A é uma matriz da forma
 
a11 a12 · · · a1n
 0 a22 · · · a2n 
..  .
 
 .. .. . .
 . . . . 
0 0 ··· ann

I A é uma matriz triangular inferior se ast = 0 sempre que


s < t, isto é, se A é uma matriz da forma
 
a11 0 · · · 0
 a21 a22 · · · 0 
..  .
 
 .. .. . .
 . . . . 
an1 an2 · · · ann
Nota: Se A é uma matriz quadrada em forma de escada, então A é
triangular superior.

As matrizes
     
−1 1 1 0 1 2 0 0 7
 0 2 5  , 0 0 6  , 0 0 0 
0 0 1 0 0 0 0 0 0

são matrizes quadradas em forma de escada (logo são triangulares


superiores).

O recı́proco não é válido:


As matrizes
     
0 0 0 1 0 0 0 1 1
 0 1 0 , 0 0 1 , 0 2 3 
0 0 1 0 0 1 0 0 1

são triangulares superiores mas não estão em forma de escada.


Proposição Se A ∈ Mn é triangular (superior ou inferior), o
determinante de A é o produto dos elementos principais de A, i.e.,
 
a11 a12 · · · a1n
 0 a22 · · · a2n 
det   = a11 · a22 · · · ann
 ... 
0 0 · · · ann
e  
a11 0 ··· 0
 a21 a22 · · · 0 
det   = a11 · a22 · · · ann .
 ... 
an1 an2 · · · ann

Exemplos
   
4 0 2 −2 0 0
det  0 3 5  = 4 · 3 · 2 = 24, det  0 3 0  = (−2) · 3 · 2 = −12
0 0 2 7 0 2

Nota: Para todo o n ∈ N, det(In ) = 1 e det( 0n×n ) = 0.


Proposição Seja A ∈ Mn . Tem-se:

1. Se a matriz B se obtém de A trocando duas linhas (colunas),

det B = − det A .

2. Se a matriz B se obtém de A multiplicando uma linha


(coluna) de A por um número real α, então

det B = α det A .

3. Se a matriz B se obtém de A substituindo uma linha (coluna)


de A pela sua soma com outra linha de A (respectivamente,
coluna) multiplicada por um número real, então

det B = det A .
Exemplo Podemos aplicar a proposição anterior para relacionar o
determinante de uma dada matriz com o determinante de uma
triangular superior:
   
1 2 0 −1 1 2 0 −1
 2 0 1 3   0 −4 1 5 
det 
 0
 = det   =
0 0 1   0 0 0 1 
0 0 5 0 0 0 5 0
 
1 2 0 −1
 0 −4 1 5 
= − det 
 0
 = −1 × (−4) × 5 × 1 = 20 .
0 5 0 
0 0 0 1
 
a11 a12
Nota: Se c é um número real e A = a21 a22
, então:
 
c a11 c a12
det(cA) = det = (c a11 ) (c a22 ) − (c a12 ) (c a21 ) =
c a21 c a22
= c 2 (a11 a22 − a12 a21 ) = c 2 detA.

Analogamente, se A tem ordem 3, det (c A) = c 3 det A. Em geral:

Proposição Se A ∈ Mn e c ∈ R, então det (c A) = c n det A .


Proposição Se A é uma matriz quadrada,
A é invertı́vel se e só se det A 6= 0 .
 
3 −3
Exemplo Seja A = −4 4
. Temos
det A = 3 · 4 − (−3) · (−4) = 0, logo A não é invertı́vel.
Proposição Se A, B ∈ Mn , então det (A B) = det A · det B .
   
2 1 −5 −1
Exemplo Sejam A = 3 2 e B = 2 −2
. Temos

det A = 2 · 2 − 1 · 3 = 1 e det B = (−5) · (−2) − (−1) · 2 = 12 .


Logo det (A B) = det A · det B = 1 × 12 = 12.
Observe-se agora que  
−3 0
det (A + B) = det 5 0
= 0 6= det A + det B.

Nota: Em geral, det (A + B) 6= det A + det B.


Proposição Se A é uma matriz quadrada invertı́vel, então
1
det (A−1 ) = .
det A

Demonstração
Suponhamos que A é invertı́vel. Existe A−1 e A · A−1 = In . Logo,
det (A A−1 ) = det (In ) = 1 .
Como
det (A A−1 ) = det (A) · det (A−1 )
temos
det (A) · det (A−1 ) = 1 .

Logo
1
det (A−1 ) = .
det A
Seja A = [aij ] ∈ Mn , com n ≥ 2. Recorde-se que o complemento
algébrico do elemento (i, j) de A é Abij = (−1)i+j det A(i | j).
A matriz de ordem n cuja entrada (i, j) é Abij = (−1)i+j det A(i | j)
é chamada matriz dos complementos álgébricos de A e
denotada por Ab .
b T é chamada adjunta de A e denotada por adj A .
A matriz (A)

Proposição Seja n ≥ 2 . Se A ∈ Mn é uma matriz invertı́vel, então


1
A−1 = · adj A .
det A
   
1 −1 0 1 −1 −1
Exemplo Para A =  0 1 −1  , temos Ab =  1 1 −1 
1 0 1 1 1 1
e det A = 2, pelo que
   
1 1 1 1/2 1/2 1/2
1 1 
A−1 = · adj A = · −1 1 1  =  −1/2 1/2 1/2 
det A 2
−1 −1 1 −1/2 −1/2 1/2
Proposição Se A ∈ Mn é uma matriz invertı́vel, então, para
qualquer B ∈ Mn×1 , o sistema A X = B é possı́vel e determinado;
a sua única solução é (α1 , . . . , αn ) tal que
 
α1
 ..  −1
 .  = A B.
αn

Demonstração  
α1
(α1 , . . . , αn ) é solução de A X = B ⇐⇒ A  ...  = B .
 

αn
Mas, sendo A invertı́vel,
     
α1 α1 α1
A  ...  = B ⇐⇒ A−1 (A  ... ) = A−1 B ⇐⇒  ...  = A−1 B .
     

αn αn αn
Sistemas de Cramer

Dizemos que um sistema de equações lineares S é um sistema de


Cramer se:
o número de equações de S = o número de incógnitas de S
e
o determinante da matriz simples de S é diferente de zero.

Nota: Se o sistema A X = B é de Cramer, a matriz A é uma


matriz quadrada com determinante não nulo, logo é invertı́vel.
Assim, atendendo à proposição anterior:

Todo o sistema de Cramer é possı́vel e determinado.


Regra de Cramer

Regra de Cramer Sejam A ∈ Mn e B ∈ Mn×1 tais que A X = B é


sistema de Cramer. Se (α1 , . . . , αn ) é a sua solução, então, para
todo o i ∈ {1, . . . , n},
1
αi = det (Ai ) ,
det A

sendo Ai a matriz que se obtém de A substituindo a coluna i por


B.

Uma das vantagens da aplicação da Regra de Cramer, em relação


a outros processos para a resolução de sistemas de equações,
consiste na possibilidade de se calcular o valor de cada ”incógnita”,
independentemente da determinação do valor das restantes.
Exemplo Considere-se o sistema de equações lineares nas
incógnitas x1 , x2 , x3 ,

 x1 + x2 − x3 = 1
S= −x1 + x2 + x3 = 0
x1 + x2 + x3 = −1

Temos:
número de equações de S = 3 = número de incógnitas de S.
Logo, para concluirmos se S é sistema de Cramer, basta verificar
se o determinante da matriz simples de S é diferente de zero.
 
1 1 −1
A matriz simples de S é A =  −1 1 1 ;
1 1 1
   
1 1 −1 1 1 −1
det A = det  −1 1 1  = det  0 2 0  = 1×2×2 = 4 6= 0,
1 1 1 0 0 2
logo S é sistema de Cramer.
 
1 1 −1
A =  −1 1 1  é a matriz simples de S e det A = 4.
1 1 1
 
1
A matriz dos termos independentes é  0  .
−1
Seja (α1 , α2 , α3 ) a solução de S; pela proposição anterior,
 
1 1 −1
α1 = 14 det A1 = 14 det  0 1 1  = 14 (−2) = − 12 ,
−1 1 1
 
1 1 −1
α2 = 14 det A2 = 14 det  −1 0 1  = 14 · 2 = 21
1 −1 1
 
1 1 1
α3 = 14 det A3 = 14 det  −1 1 0  = 14 · (−4) = −1.
1 1 −1

Assim, (− 12 , 21 , −1) é a única solução de S.

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