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PROCURADORIA GERAL FEDERAL

PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA JUNTO AO DNIT

AÇÃO ANULATÓRIA DE MULTA DE TRÂNSITO – INCOMPETÊNCIA DO DNIT PARA


APLICAR MULTA

Dezembro de 2015

AÇÕES: Ação anulatória de multa de trânsito, na qual é alegada incompetência

do DNIT para aplicar multa por excesso de velocidade.

SÍNTESE DO PEDIDO: Ações propostas com o intuito de anular multa de

trânsito aplicada pelo DNIT.

SITUAÇÕES ABRANGIDAS: Ações e recursos no qual há autuação, pelo DNIT,

de infração de trânsito, em especial aquelas referentes a excesso de velocidade, e em que o

Autor alega que o DNIT não possui competência para tanto, mas sim a Polícia Rodoviária

Federal.

PREQUESTIONAMENTO: artigo 1º do Decreto n. 20.910/32; art. 7º e 21 da

Lei n. 9.503/97; art. 82, § 3º da Lei nº 10.233/01; e art. 2º da Constituição.

OBSERVAÇÕES: Verificar quando foi lavrado o auto de infração e se é hipótese

de arguição de prescrição quinquenal.

Se o ingresso da ação com o intuito de anular a multa se der no Juizado

Especial Federal, deve ser alegada a sua incompetência absoluta com fulcro no art. 3º, § 1º,

III, da Lei nº 10.259/2001.


TESE DE DEFESA

PRELIMINAR

DA INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL

[arguir apenas no caso de ação ajuizada no JEF]

O inciso III do § 1º do artigo 3º da Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001,

exclui da competência dos Juizados Especiais Federais as causas “para a anulação ou

cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de

lançamento fiscal”.

Neste sentido também, transcreve-se ementa de acórdão no qual o Tribunal

Regional Federal da 1ª Região decidiu Conflito de Competência:

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE

COMPETÊNCIA ENTRE JUIZ FEDERAL E JUIZ DE JUIZADO


ESPECIAL FEDERAL. INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO
ESPECIAL FEDERAL PARA APRECIAR ANULAÇÃO OU
CANCELAMENTO DE ATO ADMINISTRATIVO. LEI
10.259/2001. CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DO
JUÍZO SUSCITANTE. 1. Conflito negativo no qual se discute

a competência para processar e julgar ação de rito


ordinário que objetiva anular multas de trânsito
aplicadas pela Polícia Rodoviária Federal e pelo
Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes
- DNIT. 2. Incide, na espécie, o disposto na Lei nº
10.259/2001, em seu artigo 3º,§ 1º, III, que excluiu

expressamente a anulação ou cancelamento de ato


administrativo da competência dos Juizados Especiais
Federais. Precedentes. 3. "As ações que visam à anulação
ou o cancelamento de multa de trânsito lavrada pela Polícia
Rodoviária Federal incluem-se na hipótese de exclusão do
art. 3º, § 1º, III, da Lei n. 10259/2001, portanto, o Juizado

Especial Federal é incompetente para processar e julgá-las.


Precedente: CC 48022/GO, Rel. Min. Peçanha Martins, Rel.
p/acórdão Min. Castro Meira, DJ de 12/06/2006." (STJ, CC

80381/RJ, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Seção,


julgado em 22/08/2007, DJ 03/09/2007, p. 113) 4. Diante
da redação do citado dispositivo não cabe perquirir acerca
do caráter do ato - se geral ou restrito - porque tais
distinções não encontram amparo na legislação. A lei não
tem palavras inúteis. Se o legislador não fez a distinção

entre os atos administrativos de caráter geral ou restrito,


não cabe ao magistrado fazê-lo. 5. Conflito conhecido para
declarar competente o Juízo da 13ª Vara da Seção
Judiciária de Minas Gerais, o suscitado.
(TRF1. TERCEIRA SEÇÃO. CC 00721748520134010000. Rel.
JUÍZA FEDERAL GILDA SIGMARINGA SEIXAS. E-DJF1

DATA:19/05/2014, P. 43).

Deve, portanto, ser reconhecida a incompetência deste juízo, com a

consequente extinção do processo sem julgamento do mérito (Lei nº 10.259/2001, art. 1º, c/c

Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, art. 51, II), o que se requer.

DA PRESCRIÇÃO

Resta fulminada a pretensão autoral, vez que ultrapassados mais de 05 (cinco)

anos da lavratura do auto de infração.

Conforme dispõe o artigo 1º do Decreto n. 20.910/32 as dívidas passivas da

União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a

Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescreve em cinco anos

contados da data do ato ou fato do qual se originaram.

Como leciona JOÃO CARLOS SOUTO na sua obra A União Federal em juízo

(2ª edição, São Paulo, Saraiva, 2000, pp. 196/197), in verbis:

Não há dúvida de que a prescrição quinquenal a favor dos


entes públicos consignados no art. 1º do diploma legal
supra-referido abrange toda e qualquer ação, não
importando a sua espécie, ainda que se trate, por exemplo,
de questão previdenciária. Ou seja, é desinfluente que o

direito reclamado, eventualmente prescrito, seja de


natureza não patrimonial ou não creditória. Mesmo nesses
casos a prescrição opera-se em cinco anos.

No caso específico de anulação de autos de infração, a jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça também tem sido no sentido de que se aplica o prazo

prescricional de 5 (cinco) anos para ações que visem desconstituir multas de trânsito:

ADMINISTRATIVO. MULTA DE TRÂNSITO. PRESCRIÇÃO.


AÇÃO DO ADMINISTRADO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO.
APLICAÇÃO DO PRAZO QUINQUENAL PREVISTO NO
DECRETO N. 20.910/32.

1. Jurisprudência pacífica desta Corte no sentido de ser


aplicável o prazo prescricional previsto no Decreto n.
20.910/32, na hipótese de ação movida contra a
Administração Pública em que se discute multas de
natureza administrativa.
2. Ressalte-se que não houve o afastamento da

reciprocidade de aplicação do referido Decreto à


Administração, em relação à sua pretensão punitiva. No
entanto, o reconhecimento da prescrição do próprio direito
de ação do administrado impede a análise referente à
alegada prescrição da pretensão punitiva e executória, bem

como de qualquer outra questão referente ao ato


administrativo.
3. Recurso especial não provido.
(STJ - REsp: 1172083 RS 2009/0125432-9, Relator: Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento:
14/12/2010, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação:

DJe 08/02/2011)

No presente caso, o auto de infração foi lavrado em XX/XX/XXXX, de modo

que a pretensão de anulação da multa aplicada, portanto, foi alcançada pela prescrição

quinquenal, devendo o processo ser extinção com resolução de mérito, conforme inteligência

do artigo 269, inciso IV, do Código de Processo Civil.


MÉRITO

DA LEGALIDADE DO AUTO E DA COMPETÊNCIA DO DNIT PARA A APLICAÇÃO


DE MULTAS

Aduz a parte autora que o auto lavrado é nulo, pois a competência para

exercer poder de polícia em rodovias federais seria exclusiva do Departamento de Polícia

Rodoviária Federal (DPRF). Porém, não é isso que se verifica através da leitura do disposto na

legislação pátria.

A Lei n. 10.233/01, que criou o DNIT, estabelece a sua competência no que

toca à fiscalização e aplicação de sanções em relação a infrações cometidas no seu âmbito

de atuação, qual seja, rodovias federais que não estejam concedidas à iniciativa privada ou

delegadas aos Estados da Federação:

Art. 82. São atribuições do DNIT, em sua esfera de atuação:


I – estabelecer padrões, normas e especificações técnicas
para os programas de segurança operacional, sinalização,
manutenção ou conservação, restauração ou reposição de
vias, terminais e instalações;
(...)

IV - administrar, diretamente ou por meio de convênios de


delegação ou cooperação, os programas de operação,
manutenção, conservação, restauração e reposição de
rodovias, ferrovias, vias navegáveis, eclusas ou outros
dispositivos de transposição hidroviária de níveis, em
hidrovias situadas em corpos de água de domínio da

União, e instalações portuárias públicas de pequeno porte;


(...)
§3o É, ainda, atribuição do DNIT, em sua esfera de
atuação, exercer, diretamente ou mediante convênio, as
competências expressas no art. 21 da Lei no 9.503, de
1997, observado o disposto no inciso XVII do art. 24
desta Lei.
O art. 21 do Código de Trânsito Brasileiro, por sua vez, estabelece o seguinte:

Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos


rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de
trânsito, no âmbito de suas atribuições;
II - planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de
veículos, de pedestres e de animais, e promover o
desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas;
III - implantar, manter e operar o sistema de sinalização,
os dispositivos e os equipamentos de controle viário;
IV - coletar dados e elaborar estudos sobre os acidentes
de trânsito e suas causas;
V - estabelecer, em conjunto com os órgãos de
policiamento ostensivo de trânsito, as respectivas diretrizes
para o policiamento ostensivo de trânsito;
VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as
penalidades de advertência, por escrito, e ainda as
multas e medidas administrativas cabíveis, notificando
os infratores e arrecadando as multas que aplicar;
VII - arrecadar valores provenientes de estada e remoção
de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas
superdimensionadas ou perigosas;
VIII - fiscalizar, autuar, aplicar as penalidades e medidas
administrativas cabíveis, relativas a infrações por excesso
de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como
notificar e arrecadar as multas que aplicar;
IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95,
aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele
previstas;
X - implementar as medidas da Política Nacional de
Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;
XI - promover e participar de projetos e programas de
educação e segurança, de acordo com as diretrizes
estabelecidas pelo CONTRAN;
XII - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema
Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e
compensação de multas impostas na área de sua
competência, com vistas à unificação do licenciamento, à
simplificação e à celeridade das transferências de veículos
e de prontuários de condutores de uma para outra unidade
da Federação;
XIII - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído
produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga,
de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio
às ações específicas dos órgãos ambientais locais, quando
solicitado;
XIV - vistoriar veículos que necessitem de autorização
especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos
a serem observados para a circulação desses veículos.

Como se vê, a Lei nº 9.503/97 estabelece a competência de acordo com a

circunscrição de atuação da autoridade. Por óbvio, em se tratando de infração cometida em

rodovia federal sob administração do DNIT, não poderia ser outra a autoridade competente

para a aplicação das sanções.

Ora, como claramente disposto nos incisos III e VI do art. 21 do Código de

Trânsito Brasileiro acima citado, cabe ao DNIT “implantar, manter e operar o sistema de

sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário ”, assim como “executar

a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as penalidades de advertência, por escrito, e

ainda as multas e medidas administrativas cabíveis, notificando os infratores e

arrecadando as multas que aplicar”.

Observe-se que a única restrição estabelecida pelo art. 82, §3º, da Lei n.

10.233/01, ao atribuir ao DNIT as competências do art. 21 do CTB ao DNIT, foi a observância

pela Autarquia do dispositivo que confere à Agência Nacional de Transportes Terrestres ­

ANTT, nas rodovias concedidas à iniciativa privada, a competência para a aplicação de

multas por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos (art. 24, XVII, da Lei n.

10.233/01).

Nesse sentido, está claro que o citado art. art. 82, §3º, da Lei n. 10.233/01,

ao estabelecer que é "atribuição do DNIT, em sua esfera de atuação, exercer, diretamente ou

mediante convênio, as competências expressas no art. 21 da Lei no 9.503, de 1997", não


visou restringir a atuação da Autarquia às infrações diretamente relacionadas à infraestrutura.

Com efeito, a expressão "em sua esfera de atuação" visa, em verdade, distinguir as esferas de

atribuição do DNIT e da ANTT, conforme expressamente disposto na parte final da norma.

Portanto, não cabe ao intérprete da norma estabelecer outra restrição que

não a expressamente prevista por lei (relacionada à atribuição da ANTT), com a finalidade de

retirar do DNIT a competência para aplicação de multas por excesso de velocidade.

Nessa linha, admitir que o DNIT somente possui as competências para

aplicação de multas específicas relativas a excesso de peso, de dimensões, de lotação

de veículos e de emissão de poluentes e ruídos, descritas no art. 21, incisos VIII e

XIII, do CTB, implica concluir que o inciso VI do mesmo artigo contém previsão inútil ao

estabelecer que compete à Autarquia "executar a fiscalização de trânsito, autuar,

aplicar as penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas

administrativas cabíveis, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar".

Por outro lado, a competência da Polícia Rodoviária Federal encontra-se

listada no art. 20 da Lei nº 9.503/97 da seguinte forma:

Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito


das rodovias e estradas federais:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de
trânsito, no âmbito de suas atribuições;
II - realizar o patrulhamento ostensivo, executando
operações relacionadas com a segurança pública, com o
objetivo de preservar a ordem, incolumidade das pessoas,
o patrimônio da União e o de terceiros;
III - aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações
de trânsito, as medidas administrativas decorrentes e os
valores provenientes de estada e remoção de veículos,
objetos, animais e escolta de veículos de cargas
superdimensionadas ou perigosas;
IV - efetuar levantamento dos locais de acidentes de
trânsito e dos serviços de atendimento, socorro e
salvamento de vítimas;
V - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar
medidas de segurança relativas aos serviços de remoção
de veículos, escolta e transporte de carga indivisível;
VI - assegurar a livre circulação nas rodovias federais,
podendo solicitar ao órgão rodoviário a adoção de
medidas emergenciais, e zelar pelo cumprimento das
normas legais relativas ao direito de vizinhança,
promovendo a interdição de construções e instalações não
autorizadas;
VII - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre
acidentes de trânsito e suas causas, adotando ou indicando
medidas operacionais preventivas e encaminhando-os ao
órgão rodoviário federal;
VIII - implementar as medidas da Política Nacional de
Segurança e Educação de Trânsito;
IX - promover e participar de projetos e programas de
educação e segurança, de acordo com as diretrizes
estabelecidas pelo CONTRAN;
X - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema
Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e
compensação de multas impostas na área de sua
competência, com vistas à unificação do licenciamento, à
simplificação e à celeridade das transferências de veículos
e de prontuários de condutores de uma para outra unidade
da Federação;
XI - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído
produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga,
de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar
apoio, quando solicitado, às ações específicas dos órgãos
ambientais.

Da leitura deste dispositivo é possível perceber que a Polícia Rodoviária

Federal também tem competência para aplicar multas de trânsito nas rodovias e estradas

federais. Existe, assim, competência concorrente entre o DNIT e o DPRF para aplicação de

multas, dentre elas as relativas ao excesso de velocidade.

A fim de que não restem dúvidas quanto ao ponto, convém registrar que a

competência concorrente entre o DNIT e o DPRF para aplicar multas de trânsito por excesso
de velocidade foi reconhecida pelo próprio Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, órgão

máximo normativo e consultivo e coordenador do Sistema Nacional de Trânsito (art. 7º do

CTB), ao qual compete, dentre outras coisas, estabelecer normas e regulamentos a serem

adotados em todo o território nacional quando da implementação das soluções adotadas

pela Engenharia de Tráfego, assim como os padrões a serem praticados por todos os órgãos

e entidades do Sistema Nacional de Trânsito (art. 91 do CTB), além de dirimir conflitos sobre

circunscrição e competência de trânsito no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Federal

(art. 12, XVI, do CTB). Nesse sentido, aquele órgão editou a Resolução CONTRAN nº 289, de

29 de agosto de 2008, que dispõe sobre normas de atuação a serem adotadas pelo DNIT e

pelo DPRF na fiscalização do trânsito nas rodovias federais, a qual prevê que:

Art. 1° Compete ao Departamento Nacional de Infra-


Estrutura de Transportes - DNIT, Órgão Executivo
Rodoviário da União, no âmbito de sua circunscrição:
I - exercer a fiscalização do excesso de peso dos veículos
nas rodovias federais, aplicando aos infratores as
penalidades previstas no Código de Trânsito Brasileiro –
CTB, respeitadas as competências outorgadas à Agência
Nacional de Transportes Terrestres - ANTT pelos arts. 24,
inciso XVII, e 82, § 1º, da Lei nº 10.233, de 5 de junho de
2001, com a redação dada pela Lei nº 10.561, de 13 de
novembro de 2002; e
II - exercer a fiscalização eletrônica de velocidade nas
rodovias federais, utilizando instrumento ou redutor
eletrônico de velocidade tipo fixo, assim como a
engenharia de tráfego para implantação de novos
pontos de redução de velocidade.
Art. 2º Compete ao Departamento de Polícia Rodoviária
Federal - DPRF:
I - exercer a fiscalização por excesso de peso nas rodovias
federais, isoladamente, ou a título de apoio operacional ao
DNIT, aplicando aos infratores as penalidades previstas no
CTB; e
II - exercer a fiscalização eletrônica de velocidade nas
rodovias federais com a utilização de instrumento ou
medidor de velocidade do tipo portátil, móvel, estático
e fixo, exceto redutor de velocidade, aplicando aos
infratores as penalidades previstas no Código de
Trânsito Brasileiro – CTB.
Parágrafo único. Para a instalação de equipamento do
tipo fixo de controle de velocidade, o DPRF solicitará ao
DNIT a autorização para intervenção física na via.

Ora, a resolução do CONTRAN é clara no sentido de que, ao DNIT foi

outorgada competência para exercer fiscalização eletrônica de velocidade nas rodovias

federais, utilizando instrumento ou redutor eletrônico de velocidade tipo fixo, ao passo que,

ao DPRF, coube exercer a fiscalização eletrônica de velocidade nas rodovias federais com a

utilização de instrumento ou medidor de velocidade do tipo portátil, móvel, estático e fixo,

exceto redutor de velocidade.

Deste modo, tanto o DNIT, quanto a DPRF podem exercer fiscalização

eletrônica de velocidade com a utilização de instrumento do tipo fixo, excetuada, quanto a

esta última, a utilização de redutor de velocidade. Porém, a norma salienta que o DPRF precisa

solicitar autorização ao DNIT para realizar intervenção física na via para instalação de

fiscalização eletrônica de velocidade do tipo fixo.

E mais, como dito, não cabe ao DPRF a fiscalização através de redutores de

velocidade, como aqueles colocados em rodovias que cruzam área urbana e com grande

circulação de pedestres, ciclistas e veículos locais.

Por outro lado, a norma editada pelo CONTRAN estabelece que não pode o

DNIT realizar a fiscalização eletrônica de velocidade através de dispositivo móvel, mas apenas

o DPRF.

Portanto, ao contrário do disposto na inicial, o DNIT não só exerce poder de

polícia nas rodovias administradas por ele, como também pode, a exemplo do presente caso

concreto, aplicar multas através de dispositivos e equipamentos de controle viário, como os

equipamentos eletrônicos fixos de controle de velocidade e os redutores de velocidade.


Neste sentido, cite-se julgados de alguns Tribunais Regionais Federais:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - MULTA DE


TRÂNSITO - LEGITIMIDADE DNIT PARA CONFIGURAR NO
PÓLO PASSIVO - SÚMULA Nº 312/STJ: NECESSIDADE DE
DUPLA NOTIFICAÇÃO (AUTUAÇÃO E IMPOSIÇÃO DA
PENA) - REEMBOLSO DAS CUSTAS PROCESSUAIS -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS MANTIDOS - APELAÇÃO

NÃO PROVIDA.
1 - A Lei nº 10.233/01 que criou o DNIT, em seu artigo
82, § 3º, lhe cometeu competência para executar a
fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as penalidades de
advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas
administrativas cabíveis, notificando os infratores e

arrecadando as multas que aplicar.


2 - SÚMULA 312/STJ - "No processo administrativo para
imposição de multa de trânsito, são necessárias as
notificações da autuação e da aplicação da pena
decorrente da infração."
3 - Quando vencida for, a Fazenda Pública ressarcirá as

custas antecipadas pela parte vitoriosa, inclusive nas


demandas em tramitação na Justiça Federal.
4 - Os honorários fixados na sentença a quo não merecem
reforma em face da iterativa jurisprudência desta Corte e
do valor atribuído à causa. 5 - Apelação não provida. 6 -
Peças liberadas pelo Relator, em 25/03/2008, para

publicação do acórdão.
(TRF 1ª, AC 0001374-23.2004.4.01.3500 / GO, Rel.
DESEMBARGADOR FEDERAL LUCIANO TOLENTINO
AMARAL, Rel.Conv. JUIZ FEDERAL RAFAEL PAULO SOARES
PINTO (CONV.), SÉTIMA TURMA, e-DJF1 p.301 de
11/04/2008).

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL


CIVIL. COMPETÊNCIA DO DNER PARA APLICAR MULTAS
DE TRÂNSITO. LEGALIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO.
SEGURANÇA DENEGADA.
1. “Consoante a legislação de regência (Lei n. 9.503/97,

art. 21, VI), vê­ se que compete sim ao DNER aplicar


multas decorrentes de infrações de trânsito praticadas

em rodovias federais, não havendo em falar em


competência exclusiva da Polícia Rodoviária Federal.”
(TRF 1ª Região. AMS 2002.38.02.001174­ 8/MG.
Desembargador Federal Luciano Tolentino Amar al. DJ de
22/09/2006 p. 111).
2. Dá­ se provimento ao recurso de apelação e à remessa

oficial (TRF 1ª, AP/REO 2001.38.00.026911­ 4/MG,


QUARTA TURMA, Desembargador Federal Rodrigo
Navarro de Oliveira, j. em 31/7/12) .

ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. MULTAS DE

TRÂNSITO. NULIDADE. FALTA DE NOTI FICAÇÃO DA


INFRAÇÃO E DA IMPOSIÇÃO DA PENALIDADE. SÚMULAS
127 E 312 DO C. STJ. PAGAMENTO INDEVIDO.
RESTITUIÇÃO.
1. Cuida­ se de apelações em ação ordinária ajuizada em
face da União e do Departamento Nacional de Infr

a­Estrutura de Transportes ­ DNIT, na qual objetiva a


autoria a repetição de indébito volvido ao recolhimento
de multas de trânsito, cuja legalidade discute, por
quanto não promovidas as necessárias notificações da
autuação e da imposição de penalidade, como
determinado nos art's. 281 e 282, do Código de Trânsito

Brasileiro.
2. Inicialmente, assenta­ se a legitimidade da União para
figurar no pólo passivo da demanda relativamente às
penalidades aplicadas pela Polícia Rodoviária Federal,
órgão que integra o Ministério da Justiça.
3. Quanto às de nºs 6831751504745, 6831093451681,

6831093486175 e 6831751503944 (R$ 297,92) foram


aplicados pelo extinto DNER. Consoante os Decretos
nºs 4.128/02 e 4803/03, a União ­ no curso do processo
de inventariança do DNER ­ possuía legitimidade para
figurar no pólo passivo de demanda em que a referida
autarquia é parte ou interessada. Porém, desde que
encerrada, passou a ser da responsabilidade do DNIT a
fiscalização eletrônica de excesso de velocidade e peso.
Tanto que este departamento pugnou por sua

ilegitimidade tão somente no que se refere às multas


aplicadas pela Polícia Rodoviária Federal, defendendo­
se regularmente em relação a estas que lhe cabem.
[ . . . ]”
(TRF 3ª, AC 00002664820074036005, TERCEIRA TURMA,
Juiz Convocado Robert o Jeuken, Dj e de 16/5/14).

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA. RODOVIAS FEDERAIS. AUTUAÇÕES E SANÇÕES.
APLICAÇÃO PELO DETRAN/AC. NULIDADE.
COMPETÊNCIA DO DNIT. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.
1. O DNIT delegou ao DETRAN/AC, por meio do

Convênio n° 001208­ 00, a competência para promover


a arrecadação e cobrança das multas por ele aplicadas,
atinentes à condução com excesso de velocidade
detectadas por equipamento eletrônico de medição
de velocidade instalado nas rodovias federais,
dentre outras infrações cuja apuração integra a

competência do DNIT.
[...]”
(TRF 1ª, REO 00005203520084013000, QUINTA TURMA,
Desembargador Federal Selene Maria de Almeida, Dj e de
23/1/14).

Como se vê, não se pode falar em incompetência do DNIT para a aplicação

de multas decorrentes de infrações de trânsito cometidas em rodovias federais sob sua

administração.

Não bastasse todo o arcabouço legal citado, que ampara a atuação do DNIT,

tem-se que, do ponto de vista do direito coletivo à segurança no trânsito, declarar o DNIT

como incompetente para aplicar multas por excesso de velocidade significa prejudicar a

segurança nas rodovias, em especial nas federais, acarretando a diminuição na fiscalização

de um dos maiores males das nossas estradas: o excesso de velocidade.


A procedência do pedido exposto na inicial prestará apenas a pessoas que,

como o Autor, descumprem as normas de trânsito, já que estava trafegando na via a XX

quilômetros por hora, portanto, XX% acima da velocidade máxima permitida naquele trecho,

o que configura infração média/grave/gravíssima, conforme o art. 218, I/II/III, do Código de

Trânsito Brasileiro, podendo, portanto, ocasionar um acidente grave. E, no fim, restarão

prejudicadas aquelas pessoas que seguem as normas, transitam na velocidade adequada da

via e, muitas vezes, são vítimas de motoristas imprudentes que dirigem com excesso de

velocidade.

Impende ressaltar, também, o quanto disposto no art. 97 da Lei nº

10.233/2001:

Art. 97. Constituem receitas do DNIT:


I – dotações consignadas no Orçamento Geral da União,
créditos especiais, transferências e repasses;
II – remuneração pela prestação de serviços;
III – recursos provenientes de acordos, convênios e
contratos;

IV – produto da cobrança de emolumentos, taxas e


multas;
V – outras receitas, inclusive as resultantes da alienação de
bens e da aplicação de valores patrimoniais, operações de
crédito, doações, legados e subvenções.

Da leitura do dispositivo acima transcrito, extrai-se que a pretensão autoral,

de esvaziamento da competência legalmente atribuída ao DNIT, terá também como

consequência um impacto orçamentário significativo para a Autarquia, porquanto consistirá

em eliminação de uma de suas receitas.


Nesse caso, por meio de uma decisão judicial, estar-se-ia tornando letra morta

a vontade positivada pelo legislador ordinário, em franca violação ao princípio da separação

de poderes previsto no art. 2º da Constituição Federal.

Ademais, não se pode deixar de consignar que o DNIT dispendeu e continua

a destinar recursos de grande monta para aquisição, manutenção e operação dos aparelhos

de fiscalização eletrônica de velocidade, bem como para criação e operação dos sistemas

operacionais de cobrança das multas aplicadas. Com isso, a pretensão do autor, além de

ilegal, representaria mais um prejuízo aos cofres da Autarquia e, ao fim e ao cabo, a todo o

Erário público.

Por fim, deve-se ressaltar que se considerarmos que o DNIT não é competente

para impor tais multas, por simetria, também não serão competentes as entidades executivas

rodoviárias dos Estados e Municípios, como os Departamentos de Estrada de Rodagem (DER’s)

estaduais, já que estes, assim como o DNIT, possuem sua competência na fiscalização de

trânsito estipulada no art. 21 do Código de Trânsito Brasileiro.

Em sendo assim, acaso acolhida a pretensão autoral, apenas as Polícias

Rodoviárias Federal e Estadual, onde houver, poderiam aplicar multas por excesso de

velocidade, o que prejudicaria não só a apontada fiscalização de velocidade, mas todas as

demais atividades desenvolvidas pelas polícias rodoviárias, que, em razão da supressão da

atuação dos órgãos executivos de trânsito, passaria a dispender mais recursos materiais e

humanos para controle do excesso de velocidade nas rodovias em detrimento do exercício

das demais atividades inerentes ao policiamento ostensivo das rodovias.

Desta forma, por todo o exposto, fica afastada a alegada nulidade do auto de

infração, já que lavrado em consonância com os arts. 21 do Código de Trânsito Brasileiro, 82,

§ 3º, da Lei nº 10.233/01, com a Resolução nº 289/2008 do CONTRAN e com a jurisprudência

pátria.
DO PREQUESTIONAMENTO

Na eventual procedência do pedido veiculado com a exordial, com a anulação

do auto de infração, o que se admite apenas a título de argumentação, tendo em vista que

a decisão nesse sentido estaria contrariando dispositivos constitucionais e infraconstitucionais,

a Autarquia prequestiona, em especial: art. 1º do Decreto n. 20.910/32 (apenas se arguida a

prescrição quinquenal); arts. 7º e 21 da Lei n. 9.503/97; art. 82, § 3º da Lei nº 10.233/01; e art.

2º da Constituição. Por tal razão, fica, desde já, PREQUESTIONADA a matéria para fins

recursais, requerendo expressa manifestação quanto à possível violação dos dispositivos

referidos.

CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto, requer o DNIT:

A) Seja reconhecida a incompetência deste juízo, com a consequente

extinção do processo sem julgamento do mérito (Lei nº 10.259/2001, art. 1º, c/c Lei nº 9.099,

de 26 de setembro de 1995, art. 51, II).

B) Seja reconhecida a prescrição da pretensão anulatória;

C) Quanto ao mérito, sejam julgados improcedentes os pedidos

formulados pela parte autora, vez que o auto de infração foi lavrado em observância às

prescrições legais, por agente competente, não havendo se falar em sua nulidade;

D) A condenação da parte autora ao pagamento dos honorários

advocatícios e demais consectários da sucumbência.

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