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CENTRO EDUCACIONAL DE ENSINO SUPERIOR DE PATOS

FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

BRIGDA DANIELLA RODRIGUES LACERDA

O PAPEL DESBUROCRATIZADOR DA CONCILIAÇÃO E DA MEDIAÇÃO: UMA


ANÁLISE A PARTIR DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA

PATOS
2018
BRIGDA DANIELLA RODRIGUE LACERDA

O PAPEL DESBUROCRATIZADOR DA CONCILIAÇÃO E DA MEDIAÇÃO: UMA


ANÁLISE A PARTIR DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA

Monografia jurídica apresentada às Faculdades


Integradas de Patos, como exigência para
conclusão de curso.

Orientadora: Prof. Me. Marana Sotero Sousa

PATOS
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Biblioteca Central - FIP
Gr

Lacerda, Brigda Daniella Rodrigues.


L131p O papel desburocratizador da conciliação e da
mediação : uma análise a partir do poder judiciário
do estado da Paraíba./ Brigda Daniella Rodrigues
Lacerda. – Patos - PB, 2018.
57fls.

Orientador (a): Profª.Esp. Marana Sotero Sousa


Monografia (Bacharelado em Direito) –
Centro Educacional de Ensino Superior de Patos - CEESP/ FIP

1.Desburocratização 2.Conciliação 3. Mediação


I.Título II. CEESP / FIP

FIP/BC CDU: 340

Laureno Marques Sales, Bibliotecário especialista. CRB -15/121


Dedico esta vitória aos meus pais, em especial
a minha mãe Maria que sempre me apoiou.
Dedico também a minha irmã Daliane, por toda
a ajuda que tem me dado, aos meus familiares,
professores e amigos e a Deus por toda sua
bondade e grandeza.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela sua infinita bondade, por proporcionar essa conquista e
de poder estar ao lado de quem amo. A toda minha família em especial aos meus pais Maria do
Socorro e João Lacerda. Sou grata a minha mãe que tanto abdicou de seus desejos para realizar
os meus e de minhas irmãs, mas sei que nossas conquistas também são dela. As minhas irmãs,
Daliane e Kamila que me fazem crescer, e com quem sempre posso contar, apesar da distância
e dos desentendimentos. A minha sobrinha Marina que mesmo tão pequena me ensina a
valorizar o simples, as coisas do dia-a-dia, trazendo a mim e a toda nossa família tamanha
felicidade.
A todos os meus colegas e amigos de turma aos quais cruzaram na minha vida, aos que se
foram, aos que permaneceram. Em especial a Raíssa Mendes, Matias Vieira, Benedito
Clementino e Carol Marques que com todas as nossas diferenças nos tornamos amigos,
obrigado por estarem comigo nesse caminho acadêmico, e pelo crescimento, com vocês pude
evoluir como ser humano e me tornar uma pessoa melhor, apesar de minhas falhas. Obrigada
as minhas amigas Emanuela Pereira, Raíssa Miranda, Taiza Ferraz, Taína Ferraz, werlania e
Hemanuelly Príncipe, que mesmo com toda a distância e o tempo se fazem presentes em minha
vida.
Obrigado a todos os professores que tive o prazer de apender, por todo o ensinamento,
compromisso e dedicação que cada um fez com maestria e amor. Em especial agradeço a
professora Marana Sotero minha orientadora, uma profissional maravilhosa, dedicada e
atenciosa com o que se compromete a fazer.
RESUMO

O presente estudo busca tratar sobre a conciliação e mediação, métodos consensuais utilizados
na resolução de conflitos entre indivíduos, contando com a participação de um terceiro,
consistindo em métodos rápidos e de baixo custo, utilizados no Brasil tanto em âmbito judicial
como extrajudicial. Tendo como objetivo mostrar o papel da conciliação e mediação no auxílio
da desburocratização do judiciário, por serem procedimentos importantes, simples, e rápidos,
os quais podem proporcionar um acordo com valor de sentença. A importância deste trabalho
se dá na capacidade de que com ele possam ser adquiridos conhecimentos quanto aos institutos
da conciliação e mediação, e perceber o valor desses métodos consensuais na solução de
conflitos. O estudo foi realizado por meio de materiais bibliográficos e documental, como
também fez-se uso dos métodos comparativo, dedutivo e estatístico. Sendo analisado seu
desenvolvimento histórico, suas semelhanças e diferenças, assim como seus princípios e
normas, através de análise realizada a partir do Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015),
da Resolução n° 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e a Lei n° 13.140/2015 (Lei
de Mediação). Além disso, foram analisados os Relatórios da Justiça em Números publicados
nos anos de 2016 a 2018 e a Semana Nacional da Conciliação dos anos de 2015 a 2017, fazendo
um comparativo do percentual de acordos realizados por meio da conciliação ou mediação, com
ênfase no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, publicados nos referidos documentos, sendo
possível verificar que a conciliação e a mediação são eficientes para a desburocratização do
judiciário e podem contribuir, consequentemente, para desafogar os tribunais, além de serem
mecanismos que estão apresentando uma efetividade gradativa na resolução dos conflitos.

Palavras chaves: Desburocratização; Conciliação; Mediação; Semana Nacional da


Conciliação; Relatório da Justiça em Números;
ABSTRACT

The present study tries to deal with the conciliation and mediation, consensual methods used in
the resolution of conflicts between individuals, counting on the participation of a third party,
consisting of fast and low cost methods, used in Brazil both in judicial and extrajudicial
conflicts. The purpose of this paper is to show the role of conciliation and mediation in assisting
the debureaucratization of the judiciary, since they are important, simple, and fast procedures,
which can provide a sentence value agreement. The importance of this work is in the ability to
acquire knowledge about the institutes of conciliation and mediation, and to realize the value
of these consensual methods in the solution of conflicts. The study was carried out using
bibliographical and documentary materials, as well as comparative, deductive and statistical
methods. Its historical development, its similarities and differences, as well as its principles and
norms, are analyzed through an analysis based on the Civil Procedure Code of 2015
(CPC/2015), Resolution 125/2010 of the National Council of Justice (CNJ), and Law n°
13.140/2015 (Mediation Law). In addition, we analyzed the Justice Reports in Numbers
published in the years of 2016 to 2018 and the National Conciliation Week from 2015 to 2017,
comparing the percentage of agreements made through conciliation or mediation, with
emphasis on the Court of Justice in the State of Paraíba, published in said documents, and it is
possible to verify that conciliation and mediation are efficient for the debureaucratization of the
judiciary and can therefore contribute to unburdening the courts, besides being mechanisms that
are presenting a gradual effectiveness in the conflict resolution.

Keywords: Conciliation; Mediation; National Conciliation Week; Justice Report in Numbers;


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7

2 A CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ........... 10

2.1 OS CONFLITOS E O SURGIMENTO DA CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO .............. 10


2.2 O ACESSO À JUSTIÇA E A IMPORTÂNCIA DOS MEIOS DE RESOLUÇÕES DE
CONFLITOS ................................................................................................................... 14
2.3 DEFINIÇÕES E ESPÉCIES DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO ............................... 19

3 A CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ............... 23

3.1 DOS PRINCÍPIOS DA CONCILIAÇÃO E DA MEDIAÇÃO ....................................... 23


3.2 CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 ....... 26
3.3 A RESOLUÇÃO N° 125 DO CNJ E A LEI 13.140/ 2015. .............................................. 30

4 ANÁLISE DE DADOS DA CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NO ESTADO DA


PARAÍBA ....................................................................................................................... 35

4. 1 ÍNDICES DE CONCILIAÇÃO DO RELATÓRIO DA JUSTIÇA EM NÚMEROS NO


ESTADO DA PARAÍBA: UMA ANÁLISE DA JUSTIÇA ESTADUAL E DA JUSTIÇA
DO TRABALHO ............................................................................................................ 36
4.2 ANÁLISE DA SEMANA NACIONAL DA CONCILIAÇÃO NO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA ......................................................................... 44
4.3 RELATÓRIO JUSTIÇA EM NÚMEROS X SEMANA NACIONAL DE
CONCILIAÇÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DA PARAIBA ................................................................................................ 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 51

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 54
7

1 INTRODUÇÃO

A conciliação e mediação consistem em meios consensuais de resolução de


conflitos, na qual as partes envolvidas conseguem ter uma participação mais ativa no resultado,
com o auxílio de um terceiro. A utilização de tais métodos vem crescendo e ganhando forças
gradativamente nos últimos anos em âmbito judicial e extrajudicial, revelando seu caráter
eficaz.
Diante da morosidade da justiça na resolução de casos, associado aos altos custos
processuais, dentre outros fatores que dificultam o acesso à justiça, a conciliação e mediação se
encaixam de forma perfeita no espaço que a crise do judiciário se encontra, ainda que pese
certos limites para a sua efetivação, os quais são também analisados nesse trabalho.
Sabe-se que a evolução dos conflitos e os meios utilizados para solucioná-los,
passaram por várias etapas do desenvolvimento social humano, até chegar ao acesso à justiça,
e os métodos utilizados na legislação atual. Hoje em dia, a conciliação e mediação possuem um
papel de destaque no ordenamento jurídico, conforme disposto na Resolução n° 125, do
Concelho Nacional de Justiça, no Novo Código de Processo Civil e na Lei da Mediação (Lei n°
13.140/2015).
Nesse sentido, o estudo aqui proposto busca avaliar conciliação e mediação como
mecanismo de desburocratização do judiciário, a partir de uma análise do desenvolvimento de
acordos realizados, tendo como objetivo geral, a análise da conciliação e mediação como
mecanismos capazes de auxiliar o judiciário, com participação ativa, através de análise mais
específica no Tribunal de Justiça da Paraíba, nos anos de 2015 a 2017, através do Relatório da
Justiça em Números e da Semana Nacional de Conciliação.
Para tanto, apresentam-se as definições e diferenciações desses métodos, suas
características e os princípios que os orientam, a fim de referendar sua importância para a
justiça. A análise, nesse campo, obedece a uma ordem específica, na qual se apresenta a
intenção de mostrar a conciliação e mediação na resolução de conflitos na evolução histórica;
ratificar a conciliação e mediação no ordenamento jurídico brasileiro; e analisar a resolução de
casos por meio da conciliação e mediação nas Justiças do Estado da Paraíba.
Assim, toma-se como documentos para análise o relatório da Justiça em Números
e o Relatório da Semana Nacional da Conciliação, ambos emitidos pelo Conselho Nacional de
Justiça, cuja referência temporal compreende os anos de 2015 a 2017, neste trabalho.
8

Por meio desta pesquisa, buscou-se informações capazes de responder seu


problema, qual seja, se a conciliação e a mediação possuem efetividade e eficiência na resolução
de conflitos.
De modo a suscitar as hipóteses para o problema proposto, o trabalho encontra-
se dividido em três capítulos. O primeiro capítulo aborda a evolução histórica dos conflitos, as
formas utilizadas para resolver as divergências ao passar do tempo, da mesma forma traz como
se deu o acesso à justiça, trazendo a importância da conciliação e mediação para o acesso à
justiça, suas características e diferenças.
O segundo capítulo do referido trabalho analisa a conciliação e mediação no
ordenamento jurídico, como no Código de Processo Civil de 2015, a Resolução n° 125/2010 do
CNJ, e a lei de mediação (n° 13.140/2015), que estabelecem todas as diretrizes necessárias para
a realização da autocomposição.
O terceiro e último capítulo traz as considerações referentes as análises
estabelecidas por meio dos dados do Relatório da Justiça em Números e a Semana Nacional da
Conciliação, acerca dos índices de conciliação no Estado da Paraíba, referentes aos anos de
2015 a 2017, a fim de mostrar seus resultados, e certificar ou não, a efetividade e eficiência da
conciliação e mediação no estado. Neste capítulo, são analisados e comparados, através do
Relatório da Justiça em Números, os índices de conciliação, nos anos de 2016 a 2018 (que tem
como anos-base os anos de 2015 a 2017), das justiças estadual e trabalhista da Paraíba,
representadas pelo Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba e pelo Tribunal Regional do
Trabalho da Paraíba. Em seguida, serão analisados os índices de conciliações obtidas na
Semana Nacional de Conciliação, nos anos de 2015 a 2017. Por fim, serão confrontados e
comparados os dados dos Relatórios da Justiça em Números e da Semana Nacional de
Conciliação, analisando, em ambos os documentos, as respectivas conciliações realizadas no
âmbito do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba.
Foi utilizado o método de abordagem dedutivo, partindo da conciliação e mediação
de forma geral para visualizar seu desempenho no Tribunal de Justiça da Paraíba, como também
a utilização de procedimento histórico a partir da análise da evolução dos métodos de
conciliação e mediação, além do método comparativo, na medida em que irá comparar dados
presentes em dois documentos distintos, igualmente sendo necessário estabelecer as diferenças
e semelhanças entre tais métodos de soluções de conflitos. Presente também está o método
estatístico, através de análise de dados. As técnicas da pesquisa foram a bibliográfica e
documental, sendo o estudo desenvolvido através de autores, legislações e relatórios de órgãos
do Poder Judiciário.
9

O interesse com relação ao estudo da presente temática é pertinente e importante,


pois a conciliação e a mediação tratam-se de mecanismos existentes já há bastante tempo, no
entanto, apenas de poucos anos para cá é que vêm ganhando destaque e sendo possível a sua
aplicação. A possibilidade de se resolver de forma tão simples e rápida um conflito, que pode
vir a demorar tanto tempo para ser solucionado, quando utilizado o meio convencional, e que
pode se resolver em apenas uma audiência, com a presença das partes e um terceiro, possuindo
tanto valor quanto a decisão juiz, é de fato, de extrema importância.
10

2 A CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

A conciliação e mediação são métodos de resolução participativa de conflitos, onde


os envolvidos têm maior participação na tomada de decisões, se tornou necessário, em
decorrência das dificuldades enfrentadas pelo poder judiciário, para garantir o acesso à justiça
de forma mais célere, tendo em vista a morosidade do judiciário.
Depois do Novo Código de Processo Civil, da Lei n° 13.140 e a Resolução n° 125
de 2015 do CNJ, se efetivou o uso da conciliação e mediação, abrindo espaço para os métodos
de resolução de conflitos, auxiliando a justiça, proporcionando a utilização de outros meios tão
eficazes quanto o modelo tradicional.
A conciliação e mediação, busca garantir a população o acesso à justiça, com maior
participação na tomada de decisão, evitando a imposição, que resulta um processo mais rápido,
de baixo custo para a população de modo geral, e tendo o resultado final como mais justo.
O primeiro capítulo trará, uma breve análise histórica da evolução dos métodos de
resolução de conflitos, as mudanças no decorrer dos anos, como se deu o acesso à justiça, e
outros pontos relevantes quanto a temática, como as definições e diferenças da conciliação e da
mediação.

2.1 OS CONFLITOS E O SURGIMENTO DA CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO

Os conflitos1 sempre existiram na história da humanidade, desde o momento em


que o homem passou a viver em comunidade, sempre se buscou meios para solucionar tais
problemas. “[...] é inerente e inevitável que surjam conflitos. Desde os primórdios da
organização das sociedades este é um dado constante: há conflitos e é preciso estabelecer
mecanismos para resolvê-los, com vista à convivência e à paz social”. (MELO e BENEDUZI,
2016, p. 233).
Para Vasconcelos (2017), o conflito é um fenômeno inerente às relações humanas,
e está ligado a visão e entendimento de cada pessoa quanto a determinados fatos, que vá

1
O conflito é dissenso. Decorre de expectativas, valores e interesses contrariados. Embora seja
contingência da condição humana, e, portanto, algo natural, numa disputa conflituosa costuma-se tratar
a outra parte como adversária, infiel ou inimiga. Cada uma das partes da disputa tende a concentrar todo
o raciocínio e elementos de prova na busca de novos fundamentos para reforçar a sua posição unilateral,
na tentativa de enfraquecer ou destruir os argumentos da outra parte. Esse estado emocional estimula as
polaridades e dificulta a percepção do interesse comum. VASCONCELOS, Carlos Eduardo de.
Mediação de conflitos e práticas restaurativas. (2017, p.21)
11

envolver expectativas, valores ou interesses comuns, e que muda, de acordo com as


circunstâncias históricas, sociais, culturais e econômicas.
Para o autor Vasconcelos (2017), quanto aos conflitos, ele compreende que se dão
através de três elementos: A relação interpessoal entre duas ou mais pessoas, cada uma com
seus valores, sentimentos, crenças e expectativas; O problema objetivo, que é a razão material
concreta, é o interesse pessoal contrariado; Trama ou processo, é como se desenrolou o conflito,
as circunstâncias e as implicações.
Foram várias as formas de resolver os conflitos que existiram antes do Estado se
tornar detentor da jurisdição. Nas civilizações anteriores utilizavam a autotutela, a
autocomposição e a arbitragem para solucionar os problemas, que foram se reinventando com
o passar dos anos e as mudanças sociais.
Para Cintra, Grinover e Dinamarco (2011), a autotutela existiu nas civilizações
primitivas, marcadas pela ausência do Estado, no surgimento do conflito, as partes envolvidas
resolviam o problema sem a utilização de critérios, fazendo “justiça com as próprias mãos”,
onde não era garantido a justiça, caracterizava-se pelo emprego da força, e predominava a
vontade do mais forte, que sobressaia perante o mais fraco.
A autotutela não é permitida na sociedade atual, exceto em casos excepcionais,
como em legítima defesa ou estado de necessidade, ou quando se fizer necessário uma reação
imediata, tais disposições estão regulamentadas nos artigos 23 e 24 do Código Civil de 2002.
Na autocomposição cabia às partes escolherem a forma de resolver o conflito, que
poderia ser unilateral, quando uma das partes toma a decisão, abdicando do seu interesse
pessoal, ou bilateral quando ambas abrem mão dos seus interesses.
Para Cintra, Grinover e Dinamarco (2011), a autocomposição pode ocorrer de três
formas: através da desistência, da submissão, ou da transação. A desistência ou renuncia ocorre
quando unilateralmente uma das partes renuncia seu direito em favor do outrem.
Já a submissão, o interessado apesar de não querer abri mão do bem, reconhece o
direito do outro. Para Vilas-Bôas (2006, p. 5), “[...] Podemos nos depara com a situação da
submissão, nessa hipótese o interessado continua querendo aquele bem, porém prefere ceder ao
outro por algum motivo, estamos assim diante da renúncia à resistência oferecida à pretensão
[...]”.
A transação ocorre de forma bilateral, tendo como característica o sacrifício de
ambas as partes, quanto aos seus interesses, “[...] onde os dois interessados irão ceder um pouco
de tal sorte que eles irão chegar a uma espécie de meio termo”. (VILAS-BÔAS, 2006, p. 5).
12

Ao passar dos anos e das mudanças sociais, se percebeu a necessidade de um novo


modelo, que não mais dependesse somente dos indivíduos, mas sim, da existência da figura de
um terceiro, que trouxesse confiança para as partes, e pudesse auxiliar na resolução dos
conflitos.
Hoje a autocomposição2 é utilizada através de algumas modalidades, duas delas são
a mediação e a conciliação, que serão de grande relevância para este estudo. Já que será
analisado a sua importância para o judiciário como método eficaz na resolução de conflitos.
Outra modalidade da autocomposição é a arbitragem, que era realizada por um
terceiro de confiança, como sacerdotes, ou as pessoas mais velhas. Pois estes eram tidos como
detentores do conhecimento, e aqueles como possuidores de uma ligação divina. (VILAS-
BÔAS, 2006).
De acordo com Cintra, Grinover e Dinamarco (2011 p. 27-28), a escolha dos
árbitros era feitas baseados na confiança.

[...] árbitros, pessoas de sua confiança mútua em quem as partes se louvam


para que resolvam os conflitos. Essa interferência, em geral, era confiada aos
sacerdotes, cujas ligações com as divindades garantiam soluções acertadas, de
acordo com a vontade dos deuses; ou anciãos, que conheciam os costumes do
grupo social integrado pelos interessados. E a decisão do árbitro pauta-se pelos
padrões acolhidos pela convicção coletiva, inclusive pelos costumes.
Historicamente, pois, surge o juiz antes do legislador.

Atualmente a arbitragem e regida no Brasil pela lei n° 13.129 de 2015, que


alterou a lei n° 9.307 de 1996. A arbitragem3 é um sistema de resolução pacífica de conflito,
que mantem algumas características da utilizado no passado, como a escolha pelas partes do
arbitro, e o direito a ser aplicado.
Nunes (2017), destaca que tais métodos ocorreram separadamente, não existindo
marcos divisórios nítidos em cada etapa, e os relatos demonstram que, alguns métodos

2
“É um meio de solução de conflitos, em que um litigante ou ambos litigantes abrem mão de parte de
seus interesses a fim de firmar um acordo e assim ajustar as vontades. Na autocomposição poderá haver
a participação de um mediador, e os direitos transacionados devem ser disponíveis. ” SILVA, de Plácido
e. Vocabulário Jurídico, (2016, p. 173).
3
A arbitragem é um sistema de solução pacífica de controvérsias nacionais e internacionais, rápida e
discreta, quer de direito público quer de privado. Consiste na criação de um julgador não pertencente à
jurisdição normal, escolhido pelas partes conflitantes, para dirimir divergências entre elas. É a escolha
pelas partes de um juiz não togado, ou de um tribunal não constituído por magistrados, mas de
advogados avulsos ou pessoas consideradas como capazes de conhecer e decidir uma questão prestes a
ser submetida à Justiça. ROQUE, Sebastião José. Arbitragem: solução viável, (1997, p.11)
13

conviveram uns com os outros, não excluindo os demais, mas ocorria a predominância de um
em relação aos demais.
Hoje a justiça ocorre majoritariamente por meio do Estado, representado na figura
do juiz, que traz para si a responsabilidade de resolver as divergências entre as partes, através
da aplicação da lei ao caso concreto.
Porém, tal método nem sempre é satisfatório, fácil, rápido ou até mesmo garantido
a todos, o Estado ao cumprir seu papel jurisdicional, já não é mais suficiente para satisfazer as
necessidades sociais. Souza Luciane (2015, p. 54):

É inevitável reconhecer que os mecanismos institucionais tradicionalmente


disponíveis para a resolução de conflitos não têm dado conta desses desafios,
seja no aspecto quantitativo, quando se pensa no direito à razoável duração do
processo, seja no aspecto qualitativo, quando se pensa na pacificação social
que deve ser atingida com a resolução de um conflito, seja ainda no que diz
respeito às necessidades de tornar o sistema acessível para todos os titulares
de direitos, superando os diferentes obstáculos de ordem econômica e cultural
que impedem a realização do acesso à justiça.

Concentrar nos tribunais o único meio capaz para se resolver os conflitos, junto a
grande quantidade de litígios, torna cada vez mais longo a duração dos processos.
Transformando a justiça em um meio dispendioso e moroso, o que também resulta o difícil
acesso para uma parcela da população.
Nesse sentido dispõem Souza Aline e Costa (2017, p.33):

[...] sendo a jurisdição estatal a detentora do poder de julgar as lides, qualquer


tipo de conflito surgido na sociedade passou a ser judicializado, enaltecendo-
se, assim, uma cultura de litigiosidade e de abandono de outros meios de
solução. O resultado disso foi a sobrecarga dos tribunais, que hoje se
encontram abarrotados de processos, pois a demanda não é, na maioria das
vezes, suportada pela estrutura dos órgãos judiciários.

A longa duração do processo, o seu custo se mostra como um instrumento caro, seja
pela necessidade de antecipar custas ao Estado, ou os honorários advocatícios, ou até mesmo
pelo custo elevado das perícias. Tudo isso concorrendo de forma a dificultar o acesso à justiça
através do processo. (CINTRA, GRINIVER e DINAMARCO, 2011).
Ao longo do desenvolvimento social foram muitas as mudanças quanto aos métodos
utilizados para resolver conflitos, que se modificaram gradativamente ao lado da evolução da
sociedade, e se adequaram a cada nova realidade, se aprimorando a novos momentos e
circunstâncias, sempre se adequando a cada momento da população. A utilização dos métodos
14

alternativos de resolução de conflitos, se mostram como alternativas capazes de colaborar com


a justiça, para resolver os problemas enfrentados referente ao seu acesso, a demora judicial, e
seus custos.

2.2 O ACESSO À JUSTIÇA E A IMPORTÂNCIA DOS MEIOS DE RESOLUÇÕES DE


CONFLITOS

Na obra “Acesso à Justiça” Mauro Cappelleti e Bryant Gart, estabelecem três


marcos da implementação do acesso à justiça4, uma subdivisão cronológica que teve início em
1965 nos países do mundo Ocidental. No primeiro marco também denominado de onda,
buscava garantir o acesso à justiça aos mais pobres, por meio de assistência jurídica e orientação
judicial aos que necessitavam.
Na mesma obra, Mauro Cappelleti e Bryant Gart (1988), traz a segunda fase, que
está direcionada a proteção dos direitos difusos, ou seja, a garantia dos direitos coletivos, pois
na época o processo não tinha espaço para o direito difuso, por ser visto como um assunto que
só caberia a duas partes. Já na terceira onda, que foi a mais recente, buscava a proteção judicial.
A terceira fase foi um grande passo para a proteção ao acesso à justiça, foi onde
realmente começou a se concretizar a proteção judicial, através do acesso a assistência judicial,
o conhecimento das pessoas quanto aos seus direitos, e a utilização de métodos não judiciais
para a resolução de conflitos.
Para Cappelleti, Mauro e Gart, Bryant (1988, p. 67):

O fato de reconhecermos a importância dessas reformas não deve impedir-nos


de enxergar os seus limites. [...] O novo enfoque de acesso à justiça, no
entanto, tem alcance muito mais amplo. Essa ‘terceira onda’ de reforma inclui
a advocacia, judicial ou extrajudicial, seja por meio de advogados particulares
ou públicos, mas vai além. Ela centra sua atenção no conjunto geral de
instruções e mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados para processar e
mesmo prevenir disputas na sociedade moderna. [...]

4
[…] Podemos afirmar que a primeira solução para o acesso – a primeira “onda” desse movimento novo
– foi a assistência judiciária; a segunda dizia respeito às reformas tendentes a proporcionar
representação jurídica para os interesses “difusos”, especialmente nas áreas da proteção ambiental e
do consumidor; e o terceiro – e mais recente – é o que nos propomos a chamar simplesmente “enfoque
de acesso à justiça” porque inclui os posicionamentos anteriores, mas vai muito além deles,
representando, dessa forma, uma tentativa de atacar as barreiras ao acesso de modo mais articulado e
compreensivo. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie
Northfleet. Porto Alegre: Fabris, (1988, p. 31).
15

Os autores acima citados abordam no livro os problemas e dificuldades do acesso à


justiça. Alguns problemas ainda recentes que atingem o judiciário seja pelos motivos abordados
pelos autores que ainda não foram superados completamente, ou por novos motivos em
decorrência das desigualdades, ou das mudanças sociais.
De forma bem sucinta o Conselho Nacional de Justiça (2016, p. 40): traz como se
deu esse processo de acesso à justiça, na mesma perspectiva trazida por Cappelleti e Gart já
abordado nesse estudo.

Inicialmente o movimento de acesso à justiça buscava endereçar conflitos que


ficavam sem solução em razão da falta de instrumentos processuais efetivos
ou custos elevados, voltando-se a reduzir a denominada litigiosidade contida.
Contudo, atualmente, a administração da justiça volta-se a melhor resolver
disputas afastando-se muitas vezes de fórmulas exclusivamente positivadas e
incorporando métodos interdisciplinares a fim de atender não apenas aqueles
interesses juridicamente tutelados mas também outros que possam auxiliar na
sua função de pacificação social.

Para a efetividade do acesso à justiça que aqui já foi pontuado, faz-se necessário o
estudo de vários fatores, pois não é mero ingresso em uma ação processual que possibilita o
acesso à justiça.
Devido as sobrecargas dos tribunais, um litígio demorado, a falta de conhecimento
ou pelos altos custos para as partes. Torna-se cada vez mais importante o uso de outros meios
de resolução de conflitos, tanto para o judiciário como para os particulares, seja ela feita por
meio da mediação ou conciliação, judicial ou extrajudicial.
Para Mauro Cappelleti e Bryant Gart (1988, p.8), a expressão acesso à justiça possui
duas finalidades básicas. ”[...] Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos;
segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justo”.
Na mesma perspectiva do Conselho Nacional de Justiça (2016, p.39):

Nota-se assim que o acesso à justiça está mais ligado à satisfação do usuário
(ou jurisdicionado) com o resultado final do processo de resolução de conflito
do que com o mero acesso ao poder judiciário, a uma relação jurídica
processual ou ao ordenamento jurídico material aplicado ao caso concreto. De
fato, as pesquisas desenvolvidas atualmente têm sinalizado que a satisfação
dos usuários com o devido processo legal depende fortemente da percepção
de que o procedimento foi justo [...].
16

Percebesse que para a sociedade o acesso à justiça5 está mais ligado à sua satisfação,
e ao resultado tido como justo para ele, e não apenas o acesso ao poder judiciário. Portanto o
acesso à justiça será garantido quando, grande parcela da população conseguir ter acesso a um
resultado justo, rápido e de baixo custo, não apenas o acesso ao judiciário, que poderá ser
garantido pela autocomposição.
Para Cintra, Grinover e Dinamarco, (2011) o acesso à justiça não é a mera admissão
ao processo, ou a possibilidade de se ingressar em juízo, que irá se caracterizar o acesso a ela,
para os autores o efetivo acesso à justiça se dará, quando indispensavelmente o maior número
possível de pessoas consiga demandar e defender-se adequadamente, mas também se faz
necessário muito mais para a integralidade do acesso à justiça.
Ao se fala de acesso à justiça, se inclui os métodos autocompositivos, que também
integralizam o procedimento judicial. “[...] a justiça conciliativa passa a ser vista como elemento
integrante da própria política judiciária. ” Por ser tão eficaz quanto o modelo tradicional. “A
falta de percepção de que os chamados “meios alternativos de solução de conflitos” constituem
fundamentalmente um conjunto de instrumentos à disposição do próprio Judiciário, para a
correta organização do “acesso à justiça” [...]” Ada Pellegrini Grinover et al.. (ALMEIDA,
2012, p. 96).
A autocomposição é um método adequado para se defender e demandar, pois na
grande maioria dos casos o acordo é a melhor opção6, seja para garantir um resultado mais
rápido, ou menor custo. O tempo é muito valioso, e ter que se desprender de suas atividades
diárias, seja profissional ou pessoal traz custos.
A nomenclatura alternativa, que dá uma conotação de estar fora da jurisdição, não
deve ser tratado como algo separado, ou que possa ser escolhido. Já que na prática é

5
A expressão “acesso à justiça” serve para definir objetivos precípuos do sistema jurídico, destacando-
se a necessidade de o acesso ser atribuído a todos, indistintamente, além da viabilização para que os
resultados da prestação sejam individual e socialmente adequados, não se restringindo ao acatamento
das disposições judiciárias, como também abrangendo o respeito e a observância aos direitos
fundamentais dos cidadãos. Nunes, Juliana Raquel. A importância da mediação e da conciliação para o
acesso à justiça: uma análise à luz do Novo CPC. (2017, p.13)
6
[...] a Política Pública de Resolução Apropriada de Disputas conduzida preponderantemente pelo
Conselho Nacional de Justiça, tem refletido um movimento de consensualização do Poder Judiciário
uma vez que passa a estabelecer a autocomposição como solução prioritária para os conflitos de
interesse. Isso significa que o legislador crê que a maior parte dos conflitos pode ser resolvida por meios
consensuais. O Código de Processo Civil apresenta uma série de indicações nesse sentido como o
conciliador e o mediador sendo auxiliares da justiça (art. 149) e a criação de centros judiciários de
solução consensual de conflitos (art. 165). De fato, estas indicações refletem normas infralegais
estabelecidas no CNJ, como a Recomendação 50/2014 e a Resolução 125/10, respectivamente. (CNJ,
2016 p. 29)
17

procedimentos obrigatórios no processo civil de acordo com o art. 334 do NCPC/2015, no qual
traz que após o preenchimento dos requisitos da petição inicial, o juiz designará a audiência de
conciliação ou mediação no prazo de 30 dias.
Na perspectiva de Kazuo Watanabe está:

[...] Assentado que os chamados meios alternativos de solução das


controvérsias, mais do que uma alternativa ao processo, configuram
instrumentos complementares, mais idôneos do que o processo para a
pacificação, é preciso estimular a sedimentação de uma cultura que permita
seu vicejar [...]”. (ALMEIDA, et. al., 2012, p.98).

Uma terminologia relativamente nova chamada de Tribunal de Multiportas, é uma


instituição que também se refere ao acesso à justiça, que parte dos mesmos fundamentos dos
demais métodos de resolução de conflitos, é um modelo que possibilita a “inclusão das minorias
no processo de tomada de decisões com relação ao sistema de resolução de conflitos
disponível”. Sérgio Guerra (ALMEIDA, et. al., 2012, p.8).
O Tribunal Multiportas, segundo Gonçalves (2014, p. 187), “ [...] Trata-se, na
verdade, de um modelo de organização judiciária multifacetária, que privilegia a adequação do
conflito ao melhor método para sua resolução, rechaçando o protagonismo das vias judiciais
ordinárias. ”
Para Almeida (2012), o tribunal de múltiplas portas foi um modelo de resolução de
conflitos desenvolvido por Frank Sander, professor da Harvard Low School, seu conteúdo foi
apresentado pela primeira vez no ano de 1976 na Pound Conference.
Para Gonçalves (2014), o Tribunal Multiportas é um centro de resolução de
conflitos multifacetário, e que o sistema judicial deveria possuir várias portas que dirigissem a
vários meios de resolução de controvérsias. Para o autor o Tribunal Multiportas é um sistema
judiciário que acolhe várias modalidades de resolução de conflitos como a heterocomposição,
a autocomposição, as híbridas; judiciais e não judiciais, com a finalidade de encaminhar a lide
ao melhor método para a sua resolução ao caso concreto.
Na perspectiva do Tribunal Multiportas, Mariana Hernandez Crespo trás no
prefácio “[...] os casos são encaminhados para o fórum mais adequado de resolução de acordo
com as especificidades de cada disputa. Em muitos casos, os conflitos podem ser resolvidos em
fóruns nos quais as partes são mais ativamente participativas [...] ”. (ALMEIDA, et. al., 2012,
p.18).
Em sua dissertação Vargas (2012, p. 27) explana sobre o Tribunal Multiportas que:
18

Sua principal atribuição é conduzir cada caso à técnica mais apropriada para
sua resolução, especialmente através da mediação, conciliação e arbitragem.
O objetivo institucional do órgão é o oferecimento de fácil acesso á justiça, a
partir do oferecimento de outras opções de resolução de conflitos, além da
jurisdição estatal, a celebração de acordos que satisfaçam os interesses das
partes, preservem as suas relações e proporcionem economia de tempo e
dinheiro.

Para Gonçalves (2014) a utilização do Tribunal Multiportas tem a possibilidade de


fazer frente a cultura demandista dominante, proporcionando uma transformação na atividade
desenvolvida pelo Estado-juiz, que passaria de intervencionista para incentivador. E com
múltiplas portas poderá assim ocorrer o verdadeiro acesso à justiça, o qual ele acredita não
ocorrer no Brasil.
Assim como na Autocomposição, e o Tribunal Multiporta busca maior autonomia
e participação da população no procedimento, incluindo a tomada de decisão nas resoluções
dos conflitos, a economia, o processo rápido e satisfatório.
Por tais motivos abordados fica claro a importância dos métodos alternativos de
solução de conflitos para o acesso à justiça de modo a colaborar direta e indiretamente, na
qualidade dela. “[...] a implementação de meios alternativos de resolução de controvérsias pode
impactar favoravelmente tanto à eficiência no tempo da prestação jurisdicional quanto à
qualidade da resolução do conflito”. (SOUSA LUCIANE, 2015 p. 50)
Meios alternativos de resolução de conflitos, não são apenas uma possibilidade de
solucionar o problema previamente, mas também desafogar o judiciário, por ser meios
eficientes quanto ao tempo, aos custos, e ao resultado final.
Para Cintra, Grinover e Dinamarco (2011, p. 32-33):

A primeira característica dessas vertentes alternativas é a ruptura com o


formalismo processual. A desformalização é uma tendência, quando se trata
de dar pronta solução aos litígios, constituindo fator de celeridade. Depois,
dada a preocupação social de levar a justiça a todos, também a gratuidade
constitui característica marcante dessa tendência. Os meios informais
gratuitos (ou pelo menos baratos) são obviamente mais acessíveis a todos e
mais céleres, cumprindo melhor a função pacificadora [...].

A escolha do método adequado, deve priorizar alguns aspectos e características


inerentes ao caso concreto, como é aborda pelo Conselho Nacional de Justiça (2016, p. 17),
deve ser levado em consideração o “[...] custo financeiro, celeridade, sigilo, manutenção de
relacionamentos, flexibilidade procedimental, exequibilidade da solução, custos emocionais na
composição da disputa, adimplemento espontâneo do resultado e recorribilidade. [...]”.
19

Do mesmo modo discorrendo quanto ao tema, Nunes (2016, p. 17), traz a mediação
como a possibilidade dos envolvidos saírem satisfeitas, financeiramente e emotivamente “A
mediação não se limita à composição dos envolvidos, na realidade, tem a pretensão de resolver
assuntos emocionais mais intensos [...] ”.
Então para cada relação interpessoal, dentro de um conflito é possível à utilização
de métodos e processos diferente oferecidos as partes, que aceitaram de acordo com os
benefícios que possam ser alcançados por estes.
A conciliação e a mediação possuem como um dos seus objetivos a livre autonomia
das partes, que deve ser estimulado pelos mediadores e conciliadores com aplicação de técnicas
apropriadas para cada instituto com a finalidade atingir a autocomposição. Por meio de tais
métodos se torna possível o acesso à justiça através do diálogo entre as partes e o baixo custo.

2.3 DEFINIÇÕES E ESPÉCIES DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO

Os métodos alternativos de soluções de conflitos, estão previstos em alguns


dispositivos legais e doutrinas, estes trazem definições, características, e estabelecem situações
distintas em que é permitida a utilização da autocomposição, contemplando as possibilidades
da conciliação ou mediação, no campo judicial ou extrajudicial.
A conciliação e mediação são formas de resolução de conflitos, onde uma terceira
pessoa interfere no processo negocial, tendo como função de auxiliar as partes na busca de se
chegar à autocomposição. Para o autor Didier (2015) as diferenças entre a conciliação e
mediação são sutis.
Para Didier (2015, p. 276), “O conciliador tem uma participação mais ativa no
processo de negociação, podendo, inclusive, sugerir soluções para o litígio. A técnica da
conciliação é mais indicada para os casos em que não havia vínculo anterior entre os
envolvidos. ”
Para o Conselho Nacional de Justiça (2016, p. 21), “A mediação e a conciliação são
métodos não vinculantes e se caracterizam pela redução ou delegação do direcionamento e do
controle do procedimento a um terceiro, mas pela manutenção do controle sobre o resultado
pelas partes. ”
No CPC/2015 em seu art. 165, § 2o descreve que, a conciliação ocorrerá
preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, podendo o
conciliador sugerir soluções para o litígio, não podendo utilizar de qualquer tipo de
20

constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. Já o parágrafo terceiro do artigo


mencionado diz que:
O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo
anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões
e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento
da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem
benefícios mútuos.

O art. 1°, e o parágrafo único da lei n. 13.140/2015, fala da mediação como um


meio legal de solucionar conflitos entre as partes, sendo uma atividade técnica exercida por
terceiro imparcial, escolhido ou aceito pelos litigantes, cujo objetivo é de auxiliar e estimular
uma solução consensual para as divergências.
A finalidade do mediador não é resolver o conflito entre as partes, mas fazer com
que de modo imparcial os mediados cheguem a um consenso, auxiliando o acordo não impondo
uma possível solução. Mas incentivando a possibilidade da restauração do diálogo entre as
partes, já que nesse caso as partes possuem vínculo, devendo proporcionar reflexão sobre o
desentendimento, quanto ao acordo este deve ser autônomo.
Ainda quando as distinções da conciliação e mediação, Souza (2015, p. 51), faz um
paralelo entre eles:

Já a mediação, por fim, costuma ser distinguida da conciliação porque nesta o


conciliador buscaria apenas obter o acordo, ou seja, estaria focado na
resolução do conflito tal como levado pelas partes, ao passo que, naquela, o
objetivo é restaurar a comunicação entre as partes, a fim de que estas percebam
por si mesmas qual é a melhor solução para ambas. Trata-se, portanto, a
mediação de um procedimento que, ao mesmo tempo em que resolve o litígio,
restaura o relacionamento entre as partes e as educa para a resolução autônoma
de seus litígios, sendo, portanto, bastante democrático e fortalecedor da
cidadania, [...].

Para Didier (2015) a mediação e conciliação podem se dar de forma judicial ou


extrajudicial, quando o processo já estiver em andamento na forma judicial, o mediador e
conciliador serão auxiliares da justiça, devendo ser aplicada as regras pertinentes a esse tipo de
sujeito processual, como também ao impedimento e suspeição.
A mediação está positivada na lei 13.140/2015, que regulamenta a forma judicial e
extrajudicial, como também as condições para a atuação dos mediadores. A mediação
extrajudicial poderá ser realizada por qualquer pessoa capaz, que tenha a confiança das partes
e que seja qualificada para mediar, independente de integrar algum conselho, entidade de classe
ou associação. Já o mediador judicial deve ser pessoa capaz, graduada há pelo menos dois anos
21

em curso de ensino superior, reconhecida pelo Ministério da Educação, e com capacitação


adquirida através de escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecidas e observado
os requisitos mínimos estabelecidos pelo CNJ e o Ministério de Justiça.
O artigo 21 da lei 13.140/2015, aponta algumas peculiaridades quanto a
mediação extrajudicial, quanto ao convite para iniciar o procedimento, que poderá ser feito por
qualquer meio de comunicação, e que deverá estipular a finalidade proposta para a negociação,
a data e local, sendo considerado rejeitado, caso não seja respondido no prazo de trinta dias
após o convite.
Na mediação judicial, as partes não estão sujeitas à escolha dos mediadores,
como é o caso da extrajudicial, como também, as partes deveram ser assistidas por advogados
ou defensores públicos segundos os termos dos artigos 25 e 26 da lei 13.140/2015.
Relativo a mediação judicial o artigo 24 da lei de mediação diz que:

Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos,


responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e
mediação, pré-processuais e processuais, e pelo desenvolvimento de
programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.

De acordo com a Lei de Mediação, o prazo para a conclusão do procedimento da


mediação judicial, deverá ser concluído em sessenta dias a partir da primeira sessão, salvo no
caso em que as partes em acordo requeiram a prorrogação. Quando houver acordo os autos
deveram ser encaminhados ao juiz, que determina o arquivamento, caso seja requerido pelas
partes haverá a homologação.
Quanto o encerramento, se celebrado o acordo ou não justificar novos esforços
para se chegar ao consenso, seja por declaração do mediador ou manifestação de uma das partes,
será feito a lavratura do termo final. Caso o acordo seja firmado, será constituído como título
executivo extrajudicial e, quando homologado judicialmente, título executivo judicial,
conforme o artigo 20 e o parágrafo único da Lei de Mediação.
De acordo com o Novo CPC artigo 515, incisos II e III, serão títulos executivos
judiciais, “a decisão homologatória de autocomposição judicial” e “a decisão homologatória de
autocomposição extrajudicial de qualquer natureza. ”
Em âmbito extrajudicial ocorrera punição, quando não comparecer, a parte
chamada à primeira mediação, acarretando a aceitação de cinquenta por cento das custas e
honorários sucumbenciais caso ganhe em procedimento arbitral ou judicial posterior, quando
22

tratar da matéria pela qual havia sido convidado, como se estabelece na Lei de Mediação n°
13.140/2015 no artigo 22, inciso IV do parágrafo segundo.
Já na audiência de mediação ou conciliação judicial, está prevista no artigo 334,
parágrafo oitavo do novo CPC, que o não comparecimento injustificado de qualquer das partes
será visto como ato atentatório à dignidade da justiça, sendo aplicado multa de até dois por
cento da vantagem econômica da causa, revertida para União ou Estado.
A seguir apontar-se uma análise da conciliação e mediação sob a ótica do Código
de Processo Civil de 2015 e outros ordenamentos jurídicos e seus princípios.
23

3 A CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Neste segundo capítulo, pretende-se apresentar os princípios basilares da


conciliação e mediação expostos no Novo Código de Processo Civil, aprofundar o estudo da
conciliação e mediação no ordenamento jurídico brasileiro, abordando não somente o
CPC/2015, mas também, outras normas que regulamentam a matéria, como a Lei da Mediação
(Lei n° 13.140/2015), bem como a Resolução n° 125/2010 do Concelho Nacional de Justiça,
que trata da política judiciária nacional de tratamento adequado dos conflitos.
Com uma abordagem mais normativa acerca da temática, este capítulo busca
analisar o desenvolvimento da conciliação e mediação nas respectivas normas, como
mecanismo obrigatório no processo, e os procedimentos necessárias para sua realização.

3.1 DOS PRINCÍPIOS DA CONCILIAÇÃO E DA MEDIAÇÃO

Os princípios são elementos norteadores, instrumentos que determinam os


fundamentos básicos, e ordena condutas a serem seguidas. “ Assim, nem sempre os princípios
se inscrevem nas leis. Mas, porque servem de base ao Direito, são tidos como preceitos
fundamentais para a prática do Direito e proteção aos direitos” (SILVA, 2016, p.1102)
Para Reale (2002, p. 303) “[...] os princípios são “verdades fundantes” de um
sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido
comprovadas, mas também por motivos de ordem prá-tica de caráter operacional [...]”.
Os princípios que estabelecem a conciliação e mediação, estão previstos tanto no
ordenamento jurídico como em doutrinas, estabelecendo as condutas básicas a ser seguidas
tanto pelas partes envolvidas, como os conciliadores e mediadores.
No artigo 166 do Novo CPC encontra-se os principais princípios que norteiam tanto
a conciliação como a mediação, que são os princípios da independência, da imparcialidade, da
autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão
informada.
Os princípios previstos no artigo citado anteriormente, trazem algumas
determinações que devem ser observados na realização da autocomposição, que faz necessário
para a efetivação do seu cumprimento, para uma melhor garantia a todos os envolvidos.
O princípio da imparcialidade diz respeito como o mediador ou conciliador deve
agir quanto à disputa entre as partes, não devendo se posicionar quanto a sua opinião em relação
ao caso, nem tomar partido. “[...] Cabe registrar que essa imparcialidade de intervenção deve
24

ser percebida pelas próprias partes, cabendo ao mediador conduzir o processo de forma a
assegurar tal percepção”. (CNJ, 2016, p. 251)
O Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais, anexo III da Resolução
n° 125/2010 do CNJ, traz no artigo primeiro, inciso quarto, o princípio da imparcialidade como
sendo:

Dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou preconceito,


assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do
trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais
aceitando qualquer espécie de favor ou presente.

A confidencialidade e de fundamental importância, este princípio estabelece que as


informações expostas durante o procedimento não poderão ser usadas em outas audiências nem
fora dela. As informações prestadas pelas partes nas audiências de autocomposição não podem
ser usados contra eles em outro processo.
O parágrafo segundo do artigo 165 do NCPC estabelece que “Em razão do dever
de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas
equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação
ou da mediação”.
Os conciliadores e mediadores não podem falar sobre o que foi discutido na
audiência, devendo ser um ambiente em que as pessoas que participam sintam-se seguras e
abertas para o diálogo. Para Tartuce (2016, p.12), “[...] a preservação do sigilo visa assegurar
que, caso não alcançado um acordo na tentativa de autocomposição, os envolvidos não sejam
prejudicados por terem participado e exposto eventuais fatos desfavoráveis [...]”.
No NCPC encontra-se este princípio de forma expressa no parágrafo primeiro do
artigo 166 diz que: “A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso
do procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por
expressa deliberação das partes”.
Sendo assim a confidencialidade caberá a todos, não apenas aos conciliadores,
mediadores e as partes, mas a todos que fizerem parte do procedimento.
O princípio da independência está relacionado à atuação do conciliador e
mediador, pois não devem sofrer influências externa. Para CNJ (2016, p. 313), conciliadores
e mediadores possui autonomia e o “[...] dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer
pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se
25

ausentes as condições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo dever de
redigir acordo ilegal ou inexequível”.
A conciliação e mediação se caracterizam por ser um ambiente informal e mais
flexível para as partes, que utiliza a oralidade para uma melhor condução. O objetivo da
oralidade é que a audiência seja sempre verbal, pois a partes devem expressar sua vontade, e
deixar claro suas escolhas.
Donizetti (2017, p.150), diz que “A oralidade e a informalidade demonstram que
um dos propósitos da conciliação e da mediação é flexibilizar os procedimentos, de modo a
conferir maior rapidez à superação da controvérsia. ”
O princípio da informalidade e da oralidade, são importantes para uma maior
flexibilização, proporcionando autonomia as partes para debater os problemas, resultando na
resolução da lide, e chegada a um acordo.
Princípio da autonomia da vontade encontra-se no art. 166, § 4o do CPC/2015, no
qual diz que “A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos
interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais”. Nele se
resguarda o direito de decidir das partes. A vontade das partes deve prevalecer e ninguém
poderá intervir nem prejudicar sua escolha, só podendo ocorrer a autocomposição com o
consentimento de ambos.
As disposições do novo Código de Processo Civil buscam sempre resgatar a
autonomia da vontade das partes, como se estabelece no art. 166, parágrafo quarto. Para
Donizetti (2017, p.149), “O conciliador e o mediador também devem respeitar as convicções
dos interessados (autonomia da vontade). Não há como impor qualquer medida coercitiva para
supostamente viabilizar um acordo quando este não foi plenamente aceito por qualquer das
partes [...] ”
O princípio da decisão informada diz respeito ao acordo realizado entre as partes,
que para este ocorrer às partes devem estar cientes dos seus direitos antes da tomada da decisão,
caso no acordo venha a perde um direito esteja ciente dessa perca. Para Conselho Nacional de
Justiça (2016. p. 251):

Princípio da decisão informada. Considerado por alguns como corolário do


princípio da autonomia de vontades ou consensualismo processual, o princípio
da decisão informada estabelece como condição de legitimidade para a
autocomposição a plena consciência das partes quanto aos seus direitos e a
realidade fática na qual se encontram. Nesse sentido, somente será legítima a
resolução de uma disputa por meio de autocomposição se as partes, ao
eventualmente renunciarem a um direito, tiverem plena consciência quanto à
26

existência deste seu direito subjetivo. Da mesma forma, por razões mais bem
explicadas pela psicologia cognitiva, frequentemente as partes têm suas
percepções quanto aos fatos ou aos seus interesses alteradas em razão do
envolvimento emocional de uma disputa. Nesse contexto, cabe ao mediador
aplicar técnicas específicas (e.g. teste de realidade) para que as partes possam
aprender a utilizar da melhor maneira possível o processo autocompositivo.

Os princípios acima mencionados, são alguns dos elementos essenciais que


devem ser observados para que ocorra um bom exercício da conciliação e mediação, seja em
âmbito judicial ou extrajudicial.

3.2 CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

O Novo Código de Processo Civil é uma referência quanto a mediação e conciliação


na legislação brasileira, trazendo grandes inovações algumas delas já mencionadas no decorrer
do presente trabalho. Como os princípios basilares da mediação e conciliação, independência,
imparcialidade, autonomia da vontade, confidencialidade, oralidade, informalidade e decisão
informada estabelecidos no artigo 166 que aqui já foram abordados e as diferenças entre a
conciliação e mediação.
Algumas outras especificidades e novidades quanto ao Novo CPC, e a conciliação
e mediação serão abordadas neste capítulo. Como também uma comparação entre o Antigo
CPC e o Novo CPC.
Didier aponta que a nova estruturação do ordenamento incentiva a solução
consensual, acreditando o autor que, “pode-se inclusive, defender a atualmente a existência de
um princípio do estímulo da solução por autocomposição – obviamente para os casos em que
ela é recomendável. Trata-se de princípio que orienta toda a atividade estatal na solução dos
conflitos jurídicos” (2015, p. 274)
A reforma do CPC trouxe importantes mudanças em relação aos métodos de
solução de conflitos, estimulando o procedimento da conciliação e mediação, como fica claro
no artigo 3°, parágrafo segundo onde estabelece que “O Estado promoverá, sempre que
possível, a solução consensual dos conflitos. ”
O novo código não apenas estimula a conciliação e mediação, mas sim torna
obrigatória a realização de audiências, busca garantir meios para que esta seja realizada, através
da criação de centros judiciários como disciplina o art. 165 “Os tribunais criarão centros
judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e
27

audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a


auxiliar, orientar e estimular a autocomposição”.
Os artigos 174 e 175 do Código de Processo Civil de 2015, estabelece que serão
criadas câmaras de conciliação e mediação nas esferas públicas da União, dos Estados, do
Distrito Federal, e os Municípios referentes a solução de conflitos em âmbito administrativo. O
que não exclui as formas de mediação e conciliação extrajudicial, que poderão ser vinculados
a órgãos institucionais ou realizada por profissionais independentes. Sendo assim, com o
advento do NCPC é permitido a resolução consensual de conflitos, que ocorrerá tanto
judicialmente como extrajudicialmente.
O Novo CPC/2015 também cuidou de estabelece as condições básicas para o
funcionamento das câmeras privadas, bem como para a atuação dos mediadores e conciliadores,
como estabelece o artigo 167:

Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação e


mediação serão inscritos em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de
justiça ou de tribunal regional federal, que manterá registro de profissionais
habilitados, com indicação de sua área profissional.

O parágrafo quinto do artigo 167 causou discussões pela condição estabelecida


aos advogados, restringindo o exercício caso também prestassem a função de conciliar ou
mediar, “Os conciliadores e mediadores judiciais cadastrados na forma do caput, se advogados,
estarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções. ”
O entendimento do Enunciado n° 477do FONAMEC - Fórum Nacional de
Mediação e Conciliação (2016, p. 9), diz que “Não se aplica aos advogados que atuam como
conciliadores ou mediadores, vinculados aos CEJUSCs, o impedimento do artigo 167, § 5º, do
CPC. (Enunciado aprovado na reunião ordinária de 22/04/2015, com redação atualizada na
reunião extraordinária de 28/04/2016). ”

7
JUSTIFICATIVA PARA O ENUNCIADO nº 47 – A atividade jurisdicional stricto sensu volta-se à
solução dos litígios dentro do processo, pela manifestação da vontade estatal, apreciando o mérito da
ação. Os CEJUSCs são órgãos de natureza diversa, tendo por função precípua fomentar e homologar os
acordos a que as partes chegaram, atividade puramente formal sem caráter de jurisdição stricto sensu.
Nos termos do artigo 7º, inciso IV, da Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça, a atividade da
conciliação e da mediação é concentrada nos CEJUSCs. Por isso, estando o conciliador ou o mediador
subordinado ao Juiz Coordenador dos CEJUSCs, não há qualquer vinculação do conciliador ou
mediador operante nos CEJUSCs ao juízo do processo, razão porque não se aplica aos advogados
atuantes nas comarcas em que há CEJUSCS instalados o impedimento do artigo 167, § 5º, do Código
de Processo Civil (Lei 13.105, de 16 de março de 2015). Fórum Nacional de Mediação e Conciliação,
(2016, p. 9)
28

Porém, de acordo com Conselho Nacional de Justiça (2017, p. 24), “[...] em


conformidade com o deliberado pela Comissão de Acesso à Justiça e Cidadania (CAJC)
mediador advogado não pode ter atuação dúplice no mesmo CEJUSC, ou seja, como mediador
e como advogado no mesmo centro, ainda que em processos distintos [...]. ”
Quanto ao CPC de 2015 o autor Didier (2015, p. 273), faz um breve relato sobre
algumas novidades estabelecidas pelo código, ratificando o incentivo do uso dos meios de
conciliação e mediação mediante a legislação brasileira:

O poder legislativo tem reiteradamente incentivado a autocomposição, com a


edição de diversas leis neste sentido. O CPC ratifica e reforça essa tendência:
a) dedica um capítulo inteiro para regular a mediação e a conciliação (arts.
165-175); b) estrutura o procedimento de modo a pôr a tentativa de
autocomposição como ato anterior ao oferecimento da defesa pelo réu (arts.
334 e 695); c) permite a homologação judicial de acordo extrajudicial de
qualquer natureza (art. 515, III; art. 725, VIII); permite que, no acordo judicial,
seja incluída matéria estranha ao objeto litigioso do processo (art.515,
parágrafo 2°); e) permite acordos processuais (sobre o processo, não sobre o
objeto do litígio) atípicos (art. 190).

Outra novidade do CPC de 2015 é a possibilidade de o oficial de justiça certificar,


em mandado, caso surja uma proposta de autocomposição apresentada por qualquer das partes,
no momento em que estiver realizando ato de informação que lhe cabe, tais termos estão
previstos no inciso VI do artigo 154.
Alguns casos específicos trazidos pelo CPC de 2015 permite o uso de métodos
alternativos, umas das possibilidades é o litígio coletivo pela posse de imóvel previsto no artigo
565, podendo ser designada a audiência de mediação. As práticas da conciliação e mediação de
conflitos também serão permitidas quanto as ações de família de acordo com o artigo 694 do
referido código, devendo utilizar de todos os esforços para uma solução consensual entre as
partes.
Uma nova determinação prevista no CPC/2015, estabelece que em casos de
tutela antecipada, mesmo quando concedida a parte a medida liminar, o réu será citado para a
audiência de conciliação ou mediação (art. 303, § 1o, II). Como também ocorre no momento
em que for efetivada a tutela cautelar, e logo após a formulação do pedido principal e sua
apresentação, as partes são intimadas para a audiência de conciliação ou de mediação, conforme
expressa o artigo 308 em seu parágrafo terceiro.
Para Nunes (2017) mesmo quando houver a concessão de dispositivos, que se
destinam a antecipação ou resguarda direito da parte, por meio de tutelas de urgência antecipada
ou cautelar, o NCPC persiste na realização da audiência de conciliação ou mediação, de forma
29

a ser priorizado o princípio da autonomia da vontade das partes e a solução consensual da lide.
O que deixa claro, a intenção do legislador de incentivar a resolução do conflito pela
autocomposição, enaltecendo a sua eficácia, quando se busca de todas as formas a sua
realização.
Outro artigo que deixa claro a tentativa do novo CPC, de buscar os métodos de
autocomposição como meio para solução de conflitos é o artigo 359, ele diz que: “Instalada a
audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente do emprego anterior de outros
métodos de solução consensual de conflitos, como a mediação e a arbitragem. ”
Fica evidente que o novo CPC presar pelos métodos consensuais de resolução de
conflitos como regra, mesmo que antes já tenha ocorrido a tentativa de conciliação ou mediação,
judicialmente ou extrajudicialmente. Sendo possível as partes estipularem mudanças no
procedimento antes ou durante o processo, quando a esse for admitido a autocomposição (art.
190).
A audiência de conciliação ou mediação não irá ocorrer, quando a petição inicial
não preencher os requisitos essenciais, ou for caso de improcedência liminar do pedido, quando
ambas as partes manifestarem o desinteresse de forma expressa, ou quando não for admitida
pelo ordenamento a realização (art. 334, § 4°, I e II CPC).
O Código de Processo Civil do ano de 19738, tinha uma abordagem singela quanto
a conciliação e mediação, eram poucos os artigos que traziam conteúdo correspondentes a
temática, sendo conciliação tratada de forma bem sucinta, e já a mediação não foi apreciada.
Porém para Ada Pellegrini Grinover o Antigo CPC “[...] adotou a conciliação sem
distingui-la da mediação, mas está evidente que usou desse vocábulo na acepção geral e ampla,
abrangendo de ambos os meios consensuais de solução de conflitos. [...] ” (ALMEIDA, et. al.
2012, p. 90).
Em relação ao Antigo CPC, e quanto a conciliação o artigo 277 tratava da audiência
de conciliação a ser realizada no prazo de 30 (trinta) dias, e a intimação do réu ocorria com no
mínimo de 10 (dez) dias de antecedência.

8
No início da vigência do Código de Processo Civil de 1973, a utilização da conciliação era facultativa,
a critério do juiz da causa. Somente a partir de 1995, a audiência de conciliação no processo sumário
(art. 277, CPC) passou a ser de designação obrigatória. Na mesma época, o art. 331 passou a determinar
a realização de audiência preliminar, versando a causa sobre direitos que admitam a transação. Kazuo
Watanabe. Tribunal Multiportas: investindo no capital social para maximizar o sistema de solução de
conflitos no Brasil. Organizadores: Rafael Almeida, Tania Almeida, Mariana Crespo (2012, p. 90,
2012).
30

O parágrafo primeiro do artigo 277 do Antigo CPC, estabelecia que a conciliação


seria reduzida a termo e homologada por sentença, podendo o juiz ser auxiliado por conciliação.
O parágrafo segunda do respectivo artigo determinava que, o não comparecimento
injustificável na audiência reputaria verdadeiros os fatos alegados na inicial, salvo se contrário
resultar as provas dos autos.
O CPC de 1973 estabelecia em seu artigo 331 que, o juiz designaria a chamada
audiência preliminar para a realização da primeira tentativa de composição. Uma das inovações
do NCPC/2015 é a audiência de conciliação ou mediação no início do procedimento comum, o
artigo 334 traz:

Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de


improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação
ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser
citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

O prazo para designar a audiência de conciliação ou mediação no NCPC permanece


o mesmo de 30 (trinta) dias, porém o prazo para a citação do réu são de 20 (vinte) dias de
antecedência, previsto no artigo 334. No parágrafo primeiro do referido artigo, diz que, o
conciliador e mediador, é quem deve necessariamente atuar na audiência de conciliação ou
mediação. O parágrafo oitavo do mesmo artigo, estabelece que, o não comparecimento
injustificado de uma das partes na audiência de conciliação, será considerado um ato atentatório
à dignidade da justiça e será sancionado com multa. Tais fatos se distinguem do antigo CPC.
O valor jurídico do acordo da conciliação assinado pelas partes é homologado pelo
juiz, possuía valor de sentença, como estabelece o artigo 449 do CPC/1973. O novo código que
estabelece que as decisões homologadas em audiência de autocomposição judicial ou
extrajudicial qualquer que seja a natureza, serão títulos executivos judiciais. (Art. 515, II e III
do CPC).
O Novo Código de Processo Civil foi um dos marcos da legislação brasileira,
quanto ao estabelecimento da autocomposição que incentiva, regulamenta, e ordena, através de
normas jurídicas. Mediante a análise de alguns artigos estabelecidos no NCPC, fica evidente a
importância instituída pelo código aos métodos de resolução consensual de conflitos seja em
âmbito judicial ou extrajudicial. Outras normas correspondentes a conciliação e mediação
estabelecidas em legislações ainda será abordado neste capítulo.

3.3 A RESOLUÇÃO N° 125 DO CNJ E A LEI 13.140/ 2015


31

A conciliação e mediação são uns dos institutos que fazem parte dos métodos
alternativos de solução de conflitos e vem ganhando grandes destaques nas últimas décadas, a
Resolução n° 125 de 2010 do Conselho Nacional de Justiça é um dos instrumentos que
proporciona a realização destes mecanismos, antes do Código de Processo Civil a Resolução
era o instrumento mais importante referente os métodos de autocomposição. No entanto a
conciliação se faz presente no ordenamento jurídico brasileiro desde a constituição de 1824,
segundo Bacellar (2016, p. 83):

A conciliação é nossa velha conhecida no brasil, e desde a Constituição do


Império já havia estímulo à sua realização com a determinação de sua
Majestade Imperial de quem nenhum processo pudesse ter princípio, sem que
primeiro se tivessem intentado os meios de reconciliação (arts. 161 e 162).

A Resolução 125 do CNJ de 2010, estabelece em seu artigo primeiro a criação


da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos, buscando assegurar a
todos a solução dos conflitos através de meios adequados a situações especificas.
Para o Conselho Nacional de Justiça (2015), a criação da resolução 1259 do
Conselho Nacional de Justiça partiu da ideia de que a responsabilidade pela criação de políticas
públicas para o tratamento dos conflitos caberia ao Judiciário, seja através da heterocomposição
ou da autocomposição. Esta orientação tem como objetivo de organizar no território nacional,
não só os serviços em âmbito da atividade processual, como também incentivar o Judiciário nas
atividades pré-processuais de conciliação e mediação na prevenção de demandas.
A responsabilidade do Concelho Nacional de Justiça é de regulamentar os
procedimentos fundamentais da organização e composição para a atuação dos tribunais. Como
se estabelece no artigo 3° da Resolução n° 125/2010 do CNJ.

O CNJ auxiliará os tribunais na organização dos serviços mencionados no art.


1º, podendo ser firmadas parcerias com entidades públicas e privadas, em
especial quanto à capacitação de mediadores e conciliadores, seu
credenciamento, nos termos do art. 167, § 3°, do Novo Código de Processo
Civil, e à realização de mediações e conciliações, na forma do art. 334, dessa
lei.

9
A criação da Resolução 125 do CNJ foi decorrente da necessidade de se estimular, apoiar e difundir a
sistematização e o aprimoramento de práticas já adotadas pelos tribunais. Desde a década de 1990, houve
estímulos na legislação processual a autocomposicao, acompanhada na década seguinte de diversos
projetos piloto nos mais diversos campos da autocomposicao [...] (CNJ, 2015, p.11)
32

De acordo com Conselho Nacional de Justiça (2015), São objetivos da


Resolução n° 125, a disseminação da cultura de pacificação social previstos no artigo segundo,
a reafirmação da função do agente apoiador da implantação de políticas públicas estabelecido
no artigo terceiro, e organizar programas a incentivar à autocomposição como descreve o artigo
quarto.
São competências do CNJ de acordo com a Resolução n° 125, organizar programas
que promovam o incentivo a autocomposição, o programa deve constituir uma rede com a
participação dos órgãos do Poder Judiciário, entidades públicas e privadas, universidades e
instituições de ensino (art. 5°). Segundo o artigo sexto e seus inciso, para o desenvolvimento
dessa rede se faz necessário determinar várias funções, como estabelecer diretrizes para a
implementação de política pública para o tratamento adequados aos conflitos, capacitação para
os servidores, mediadores, conciliadores e facilitadores, a criação de cadastro nacional de
mediadores e conciliadores buscando interligar com os cadastros dos tribunais de justiça e os
tribunais regionais federais, como também monitorar, a instalação de Centros Judiciários de
Solução de Conflitos e Cidadania, o funcionamento, avaliar a capacitação e treinamento dos
mediadores e conciliadores, orientar e dar apoio para garantir a efetivação da política judiciária
nacional instituída pela Resolução.
A Resolução também determina aos tribunais a criação de centros Consensuais
de Solução de Conflitos (art. 7°). Bem como impõe a atuação do conciliador e mediador,
estabelecendo que só será possível a realização de sessões com conciliadores/mediadores
capacitados (art.12).
Sales e Chaves (2014) ressaltam a importância da capacitação de qualidade dos
conciliadores e mediadores, para que o procedimento ocorra da melhor forma possível, sem
causar prejuízo as partes, buscando a solução do conflito, que será alcançada com a utilização
de técnicas adequadas, que só será possível por meio da capacitação.
Para Didier (2015) o considerado estabelecido na resolução n° 125/2010 do CNJ
cumpre sua função, deixando claro a importância do ato regulamentador e seus objetivos.
Os considerados da Resolução 125/2010 do CNJ, traz algumas das suas
competências, como o controle da atuação, administrativa e financeira do poder judiciário; o
zelo pelo cumprimento do art. 37 da CF; a eficiência operacional, o acesso ao sistema de justiça
e a responsabilidade social como objetivos estratégicos do poder judiciário; o direito ao acesso
à Justiça, previsto no art. 5º, XXXV da CF, como vertente formal perante os órgãos judiciários,
implicando no acesso à ordem da justiça justa; a competência do Judiciário de estabelecer
políticas públicas de tratamento adequado dos conflitos, de forma a organizar, não somente os
33

serviços prestados nos processos judiciais, como também outros mecanismos de solução de
conflitos, como a mediação e a conciliação; a consolidação de política pública permanente de
incentivo e aperfeiçoamento dos meios consensuais de conflitos; considerando a conciliação e
a mediação instrumentos efetivos da pacificação social, e a promoção de programas já
implementados no país tem reduzido a judicialização dos conflitos, a quantidade de recursos e
de execução de sentenças; considera também imprescindível estimular, apoiar, difundir e
aprimorar as práticas já adotadas e a uniformização dos serviços de conciliação e mediação;
A Resolução n° 125 do Conselho Nacional de Justiça, estabelece a Política
Judicial Nacional de tratamento adequado dos conflitos, e o papel do CNJ de organizar e
regulamentar as ações que envolvam a conciliação e a mediação, no que for correspondente ao
domínio do Poder Judiciário.
A Lei 13.140 de 2015 foi promulgada no dia 26 de junho de 2015, intitulada Lei
de Mediação, abrangeu no seu regulamento normas correspondentes ao instituto da mediação
entre particulares como dispositivo de resolução de controvérsias e a autocomposição de
divergências no campo da administração pública (art. 1°).
A mediação é abordada de forma exclusiva na lei 13.140/2015, seu dispositivo
contém algumas semelhanças com o NCPC, mas também contém normas específicas quanto os
procedimentos, e os mediadores.
A definição de mediação vem expressa no parágrafo único do artigo 1° da Lei
13.140/2015, o qual diz que: “Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro
imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a
identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia. ” A lei determina que a
mediação pode ocorrer judicialmente ou extrajudicialmente, como também as características
dos mediadores para a atuação na esfera judicial e extrajudicial previsto nos artigos 9° e 11 da
referida lei, tais características já foram abordadas neste trabalho, no capítulo primeiro quando
são abordadas as definições e as espécies de conciliação e mediação.
A Lei de Mediação possui princípios próprios constituído no artigo 2° e seus
incisos, estabelecendo que a mediação deverá seguir os preceitos da imparcialidade do
mediador, isonomia entre as partes, oralidade, informalidade, autonomia da vontade das
partes, busca do consenso, confidencialidade e boa-fé. Alguns destes princípios são os mesmos
trazidos pelo NCPC, os que se deferem expressamente são os da boa-fé, a busca do consenso e
isonomia entre as partes.
Segundo Terres (2016) para uma boa execução no procedimento da mediação,
deve ser respeitado os princípios para que através da negociação seja alcançado um bom
34

resultado para ambas as partes. Para Céspedes (2017), para que se aconteça o resultado por
meio da mediação e necessário que as partes tenham disposição inicial, esforço, flexibilidade e
receptividade para resolver o conflito.
A legislação busca sempre garantir a realização do acordo entre as partes, e nessa
perspectiva a Lei de Mediação determina em seu artigo 2°, §1° que será obrigatória a
participação na primeira audiência, quando tiver cláusula contratual anterior. Porém ninguém
está obrigado a permanecer (2°, § 2°), e o não comparecimento a audiência de mediação
acarretará em punição (art. 22, IV). Sendo irrecorrível a decisão quando no andamento do
processo as partes optarem pela mediação (art.16, §1°).
A Lei de Mediação assim como as outras legislações brasileiras abordadas neste
capítulo, buscam o incentivo ao uso dos métodos autocompositivos diante de sua importância
na resolução dos conflitos, por meio do diálogo na busca do bem-estar social.
No próximo capítulo pretende-se analisar mediante dados, a eficiência e a
efetividade da conciliação e mediação nas Justiças do Estado da Paraíba no Tribunal Estadual
e do Trabalho por meio do Relatório da justiça em Números. Como também, da Semana
Nacional de Conciliação no Estado da Paraíba, Tribunal de Justiça Estadual mostrando seus
dados e fazendo um comparativo com os dados da Justiça Estadual da Paraíba fornecidos no
Relatório da justiça em Números.
35

4 ANÁLISE DE DADOS DA CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NO ESTADO DA


PARAÍBA

Neste capítulo, será feita uma observação, primeiramente, do percentual de dados


colhidos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os quais estão demonstrados no Relatório
da Justiça em Números, no período compreendido entre 2016 a 2018, tendo como anos-base
2015 a 2017, analisando-se as justiças estadual e trabalhista, realizando-se um comparativo
entre ambas, sendo especialmente verificados os índices de conciliação obtidos por estas
justiças no Estado da Paraíba. Ainda, justifica-se a não utilização dos índices de conciliação das
demais justiças abordadas no citado Relatório, pois, no Relatório da Justiça em Números ano
2016, são contemplados os índices de conciliação das justiças estadual, trabalhista, federal e
militar. Já no Relatório da Justiça em Números ano 2017 e ano 2018, apresentam-se os
percentuais de conciliação das justiças estadual, federal, trabalhista e eleitoral, não
apresentando os números da justiça militar nestes últimos anos citados, portanto.
Tendo em vista que a proposta do referido estudo é uma análise da conciliação e
mediação no Estado da Paraíba e para que este trabalho relate uma análise fidedigna de
resultados, optou-se por realizar a análise sobre os índices de conciliação obtidos nas justiças
estadual e trabalhista do Estado da Paraíba, sendo observados especialmente os percentuais
apresentados pelo Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba (TJPB), o qual representa a Justiça
Estadual do respectivo Estado, bem como os percentuais apresentados pelo Tribunal Regional
do Trabalho da Paraíba (TRT 13ª Região), que representa a justiça do trabalho na Paraíba.
Não foi possível analisar a justiça federal, pois os Relatórios da Justiça em Números,
publicados nos mencionados anos objetos deste estudo, não trazem a análise da justiça federal
de cada Estado isoladamente, por exemplo, justiça federal da Paraíba, justiça federal do Rio
Grande do Norte, justiça federal do Ceará, entre outras. O que os relatórios trazem são os índices
de conciliação dos Tribunais Regionais Federais (TRF), dentre eles, demonstra os índices
obtidos pelo TRF da 5º Região, que seria um Tribunal a nível de região Nordeste, que abrange
alguns estados do Nordeste e não apenas o da Paraíba. Consequentemente, os dados refletem
também os dados das conciliações não só da justiça federal do Estado da Paraíba, de todos os
Estados que fazem parte da 5° Região da Justiça Federal. Logo, não seria possível transmitir
uma análise real dos índices de conciliação e mediação das justiças no Estado da Paraíba se
fossem compradas as justiças estadual, trabalhista e federal, por exemplo.
Também não foi possível fazer um comparativa que incluísse a justiça militar, pois
os índices de conciliação desta justiça apenas são demonstrados no Relatório da Justiça em
36

Números ano 2016, não sendo tal análise comtemplada nos Relatórios da Justiça em Números
anos 2017 e 2018, sendo que estes anos citados (2017 e 2018) também fazem parte deste estudo.
Igualmente, também não foi possível utilizar a justiça eleitoral na análise comparativa de
índices de conciliação que será feita adiante, pois no Relatório da Justiça em Números ano 2016
não foram apresentados dados referentes às conciliações nesta justiça.
Do mesmo modo, também serão analisados os dados da Semana Nacional de
Conciliação, também fornecidos pelo CNJ, correspondentes aos acordos obtidos através de
mediação e conciliação, que ocorreram entre os anos de 2015 a 2017, mas neste, será analisado
apenas o Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba.

4. 1 ÍNDICES DE CONCILIAÇÃO DO RELATÓRIO DA JUSTIÇA EM NÚMEROS NO


ESTADO DA PARAÍBA: UMA ANÁLISE DA JUSTIÇA ESTADUAL E DA JUSTIÇA DO
TRABALHO

A análise de dados realizada pelo CNJ traz os resultados dos índices das decisões
terminativas e sentenças de processos realizados por meio da conciliação ou mediação nos
tribunais brasileiros através de acordos, em termos estatísticos. Porém, neste estudo, só será
levado em consideração os dados referentes aos acordos ocorridos nas justiças estadual e do
trabalho do Estado da Paraíba.
O levantamento de dados realizou-se como base nos acordos provenientes de
conciliação ocorridos na justiça da Paraíba, com ênfase na Justiça Estadual e na Justiça do
Trabalho, levando-se em consideração os dados dos Relatórios da Justiça em Números,
publicados nos anos de 2016 a 2018, os quais têm como anos-base 2015, 2016 e 2017.
Os dados da 12° edição do Relatório da Justiça em Números de 2016, tem como
ano-base de 2015. Logo, os gráficos a seguir foram publicados em 2016, mas os dados neles
demonstrados dizem respeito ao que fora realizado no ano de 2015.
37

Gráfico 01: índice de conciliação na Justiça Estadual, por tribunal.

Fonte: CNJ, 2016. Relatório Justiça em Números.

Na 12° edição do Relatório da Justiça em Números publicado no ano de 2016,


contabilizou-se pela primeira vez a quantidade de processos resolvidos através de acordos. O
gráfico acima demonstrado, trata dos índices de conciliação obtidos nos tribunais brasileiros.
Analisando-o, é possível verificar que o Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba (TJPB),
apresentou uma porcentagem de acordos realizados no ano de 2015 de 14,5%, sendo superior
a média nacional da justiça estadual, que foi de 9,4%, o que demonstra um bom desempenho
da conciliação paraibana, quando comparada com a respectiva média nacional da justiça
estadual. Porém, mesmo superando a média nacional, o TJPB se encontra no grupo de pequeno
porte.
O Relatório da Justiça em Números do CNJ (2016), classifica os tribunais em
grupos de: grande porte, médio porte e pequeno porte, utilizando uma técnica estatística
multivariada, que tem como objetivo criar agrupamentos respeitando as características do
38

mesmo ramo de justiça, o que diferencia os grupos são: as despesas totais da justiça, a
quantidade de processos que tramitaram, o total de magistrados e a força de trabalho.
O Relatório da Justiça em Números diz em quais justiças a divisão irá ocorrer.

[...] Os ramos de justiça que contam com essa separação são:


Justiça Estadual (27 tribunais), Justiça do Trabalho (24 tribunais) e Justiça
Eleitoral (27 tribunais). Tendo em vista que a Justiça Federal é subdivida em
apenas cinco regiões e que a Justiça Militar Estadual conta com apenas três
tribunais, não faria sentido classificá-los conforme a metodologia. (CNJ,
2016, p. 21)

Sendo assim, o Tribunal de Justiça da Paraíba e o Tribunal Regional do Trabalho


da Paraíba, fazem parte do grupo de pequeno porte no relatório de 2016, em decorrência das
despesas, a quantidade de processos, o total de magistrados e a força de trabalho.
Gráfico 02: índice de conciliação na Justiça do Trabalho, por tribunal.

Fonte: CNJ, 2016. Relatório Justiça em Números.

A Justiça do Trabalho na Paraíba, representada pelo Tribunal Regional do Trabalho


13ª Região (TRT 13), teve um percentual, no ano de 2015, de 22,7% dos casos resolvidos por
39

meio de acordos/conciliação, a média nacional trabalhista foi de 25,3%. Apesar de ter ficado
abaixo da média nacional da justiça do trabalho, obteve, contudo, um percentual de conciliação
acima do percentual alcançado na justiça Estadual.
O Relatório da Justiça em Números (CNJ 2016, p. 167), justifica que:

O índice é maior que o dobro do apresentado pela Justiça Estadual, o que pode
ser explicado pelo próprio rito processual trabalhista, no qual a tentativa de
conciliação entre as partes ocorre em audiência antes de perfectibilizado o
litígio judicial, isto é, antes de aduzida a defesa pela parte reclamada. A
referida ordem de atos só chegou à justiça comum com a entrada em vigor da
Lei n. 13.105, de 2015, de modo que eventuais efeitos positivos só poderão
ser avaliados nas próximas edições deste relatório.

De acordo com o Relatório da Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça


(2016), outros fatores que favorecem o índice da justiça do trabalho são a especificidade da
matéria, e a recorrência de casos, como também o nível de especificação dos magistrados, o
que facilita o consenso entre as partes.
Assim, percebe-se que o motivo que leva a justiça do trabalho obter o maior índice
de conciliação é seu rito processual e a especificidade de sua matéria. Para os resultados do
relatório do ano de 2017 que tem como ano-base 2016, especulava-se que ocorreria um aumento
de conciliação em decorrência da entrada em vigor do novo CPC.
Segundo o Relatório da Justiça em Números do (CNJ, 2016, p. 99):

A tendência é que estes percentuais aumentem, tendo em vista a entrada em


vigor em março de 2016 do novo Código de Processo Civil (Lei n 13.105, de
16 de março de 2015), que prevê a realização de uma audiência prévia de
conciliação e mediação como etapa obrigatória, anterior à formação da lide,
como regra geral para todos os processos cíveis.

A partir dos próximos dados é que será possível analisar se houve ou não, o aumento
do percentual de acordos realizados por meio da conciliação ou mediação na justiça. Os
próximos gráficos tiveram sua publicação na 13° edição o Relatório da Justiça em Números do
ano 2017, e correspondem aos acordos provenientes de conciliação realizados em 2016.
40

Gráfico 03: índice de conciliação na Justiça Estadual, por tribunal.

Fonte: CNJ, 2017. Relatório Justiça em Números.

A Justiça Estadual da Paraíba, representada pelo TJPB, no ano de 2016, de acordo


com o gráfico, obteve um percentual de 13,9%, preservando-se, contudo, acima da média
nacional da justiça estadual, que foi de 10,9%. No entanto, é possível observar, comparando-se
os índices de conciliação obtidos nos anos em análise que houve uma queda de conciliações em
2016, quando comparado com os percentuais obtidos em 2015.
41

Gráfico 04: índice de conciliação na Justiça do Trabalho, por tribunal.

Fonte: CNJ, 2017. Relatório Justiça em Números.

Já a justiça do trabalho da Paraíba, representada pelo TRT 13, apresentou o índice


de conciliação no ano de 2016, de 22,2%, obtendo resultado inferior, desta vez, a média
nacional trabalhista do respectivo ano, que foi de 25,8% e demonstrando também uma pequena
queda quando comparado com o índice de conciliação obtido no ano de 2015 (22,7%). Houve,
porém, um aumento tímido do índice nacional de conciliações da justiça trabalhista no ano de
2016 (25,8%), quando comparado com o ano de 2015 (25,3%).
Considerando a média nacional de conciliações de ambas as justiças, verifica-se
que a justiça trabalhista permanece a frente da justiça estadual nos dois anos já analisados, quais
sejam, 2015 e 2016, os quais estão demonstrados nos Relatórios da Justiça em Números ano
2016 e 2017, respectivamente.
Os gráficos a seguir são relativos a 14° edição do Relatório da Justiça em Números
do ano de 2018, tendo como ano-base 2017, onde será analisado o índice de conciliação obtido
nacionalmente e pelo TJPB.
42

Gráfico 05: índice de conciliação na Justiça Estadual, por tribunal.

Fonte: CNJ, 2018. Relatório Justiça em Números.

O índice de conciliação obtido pelo TJPB no ano de 2017 foi de 13,1%, sendo
possível perceber que ocorreu uma pequena queda em relação ao ano de 2016 (um percentual
de 13,9%), porém se manteve superior à média nacional (10,7%). Com relação a justiça estadual
da Paraíba, representada pelo TJPB, foi possível verificar que ocorre uma pequena queda a cada
ano.
Logo, percebe-se que o índice de conciliações na justiça estadual, média nacional,
teve um aumento gradativo, embora tímido, por dois anos seguidos (2015 e 2016), contudo,
observou-se uma queda, ínfima, no percentual de conciliação do último ano analisado (2017)
quando comparado ao ano anterior, também analisados (ano-base 2015, 9,4%; ano-base 2016,
10,9% e ano-base 2017, 10,7%). Obtendo a aumento esperado, porém não muito significativo.
43

Gráfico 06: índice de conciliação na Justiça Trabalho, por tribunal.

Fonte: CNJ, 2018. Relatório Justiça em Números.

Na justiça do trabalho da Paraíba, ano-base 2017, o TRT 13 apresentou a


porcentagem de 21,0%, tendo uma queda de aproximadamente um ponto em relação ao ano
anterior. Verifica-se também que ficou abaixo do índice que reflete a média nacional de
conciliação na justiça do trabalho, que foi de 24,8%. No que diz respeito a justiça do trabalho
do Estado da Paraíba, representada pelo TRT 13, observa-se uma pequena diminuição gradativa
dos índices de conciliação nos anos analisados, sendo que no ano-base 2015 apresentou um
percentual de 22,7%, havendo uma mínima queda desse percentual no ano-base 2016, passando
a um percentual de 22,2% e, por fim, no ano-base de 2017, o índice de conciliações foi de
21,0%.
Ainda, observa-se também uma diminuição, embora pequena, mas gradativa, a
nível nacional, dos índices de conciliação da justiça trabalhista, a qual apresentou no ano-base
2015 um percentual de 25,3%, tendo melhorado no ano-base 2016, passando para um percentual
de 25,8%, caindo no ano-base de 2017, chegando a um percentual de 24,8%.
44

A partir da análise dos gráficos do Relatório Justiça em Números dos anos de 2016
a 2018 constatou-se que a Justiça Estadual vem tendo uma queda anualmente da porcentagem
de casos resolvidos por meio de conciliação. A Justiça do Trabalho, quando comparada a Justiça
Estadual, apresenta índices bem mais satisfatórios de conciliações. Nota-se que a especulação
sobre o aumento de conciliações em decorrência da entrada em vigor do novo CPC não se
concretizou.

4.1 ANÁLISE DA SEMANA NACIONAL DE CONCILIAÇÃO NO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA

A Semana Nacional de Conciliação10 é um movimento pela conciliação que


acontece desde de 2006, podendo ser realizado entre os meses de agosto e dezembro. Ocorre
nos Tribunais de Justiça Estaduais de todo o país e seus dados são fornecidos pelo Conselho
Nacional de Justiça.
As informações referentes aos acordos da Semana Nacional de Conciliação serão
analisadas de forma a comparar a quantidade de casos em que se alcançou a resolução dos
conflitos por meio da conciliação ou mediação nos anos de 2015 a 2017 no Estado da Paraíba,
bem como uma análise dos dados da Semana Nacional da Conciliação como os dados do
Relatório da Justiça em Números, referentes ao Tribunal Estadual da Paraíba.
No ano de 2015 a Semana Nacional de Conciliação teve seu início no dia 23 e
encerrou no dia 27 de novembro, o tema da campanha foi “o caminho mais curto para resolver
seus problemas”. Segundo reportagem de Gestão e planejamento (2015) no site do CNJ, a
Semana Nacional de Conciliação de 2015, teve o objetivo de reforçar os benefícios da
conciliação para as partes, como a rapidez, e a eficácia na resolução de conflitos.
Na Paraíba, a Semana Nacional de Conciliação de 2015, ocorreu entre os dias 23 e
26 de novembro durando apenas quatro dias, em outros Estados a programação ocorreu nos
cinco dias. De acordo com os resultados gerais analisados por meio do Conselho Nacional de
Justiça (2016), para o primeiro dia foi marcado um total de 103 (cento e três) audiências, sendo
que foram realizadas 76 (setenta e seis), que equivale a 73.79% da quantidade total, das quais

10
A conciliação é uma política adotada pelo CNJ desde 2006, com a implantação do Movimento pela
Conciliação em agosto daquele ano. Anualmente, o Conselho promove as Semanas Nacionais pela
Conciliação, quando os tribunais são incentivados a juntar as partes e promover acordos nas fases pré-
processual e processual. Por intermédio da Resolução CNJ 125/2010, foram criados os Centros
Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCs) e os Núcleos Permanentes de Métodos
Consensuais de Solução de Conflitos (NUPEMEC), que visam fortalecer e estruturar unidades
destinadas ao atendimento dos casos de conciliação. (CNJ, 2018, p. 137)
45

resultaram na definição de 49 (quarenta e nove) acordos, perfazendo um percentual de 64,47%


do total de audiências realizadas. Já no segundo dia, os dados dos atendimentos evidenciaram
que foram marcadas 202 audiências, no entanto, foram desenvolvidas 174 audiências de
conciliação, representando 86,14% do valor inicial, cujos resultados expressaram a delimitação
de 128 acordos conciliatórios (significando 73,56% do total de audiências realizadas). No
terceiro dia, ocorreu que todas as audiências marcadas foram realizadas, expressando um total
de 158 (cento e cinquenta e oito) sessões, das quais foram efetuados 101 (cento e um) acordos,
marcando a efetivação conciliatória em 63.92% dos casos; assim como no terceiro dia, no
último dia de atendimento ocorreu a realização de 100% das audiências marcadas, cujo total
numérico equivaleu a 182 reuniões de conciliação, onde se obteve um total de 133 (cento e
trinta e três acordos), correspondendo a um percentual de 73.08% das audiências realizadas.
Esses dados apontam que a experiência paraibana na realização da Semana
Nacional de Conciliação, em 2015, possibilitou a realização total de 563 audiências
conciliatórias, que representa cerca de 89,98% de um total de 645 marcadas, dentre as quais se
efetivaram a definição de 411 acordos – expressados em 68,75% de efetivação de acordos.
Os casos que fizeram parte da Semana Nacional de Conciliação foram os que
tratassem de matérias dos juizados cíveis, criminais e das relações de consumo, causas cíveis e
de direito de família (TJPB, 2015).
De acordo com reportagem de Gestão e planejamento (2015) no site do CNJ, a
Semana Nacional de Conciliação do ano de 2015 conta com o Plano de Comunicação que inclui
a divulgação publicitária, como imprensa e mídias sócias, como também cronogramas junto aos
tribunais e CNJ. A divulgação garante força e visibilidade a campanha, contribuindo para o
maior número de participação e a chegada ao acordo.
A Semana Nacional de Conciliação do ano de 2016, ocorreu entre os dias 21 e 25
de novembro. Neste tocante, esclarece-se que, em virtude de erro notório e grotesco na planilha
que tabulou os dados da Semana Nacional de Conciliação do respectivo ano, apenas os dias 21
e 22 de novembro de 2016 não poderão ser analisados, pois o erro está presente justamente
nestas datas, sendo visível que um dos dados sobre conciliação informados nas citadas datas
está equivocado, sendo que não poderão ser objeto da presente análise por tal motivo, a fim de
evitar a inconsistência da análise aqui proposta. Ressalta-se que se tentou contatar o TJPB para
verificar e comprovar o dado equivocado, tanto por e-mail quanto por telefone até a data de
entrega do presente trabalho, porém, sem êxito, pois todos os contatos tentados não tiveram
resposta.
46

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (2017), no terceiro dia da Semana


Nacional de Conciliação do ano de 2016, todas as audiências marcadas foram realizadas,
expressando um total de 446 (quatrocentos e quarenta e seis) sessões, das quais foram efetuados
273 (duzentos e setenta e três) acordos, marcando a efetivação conciliatória em 61,21% dos
casos. No quarto dia, foi marcado um total de 537 (quinhentos e trinta e sete) audiências, sendo
realizadas 438 (quatrocentos e trinta e oito), o que equivale a 81,56% da totalidade, das quais
resultou em 353 (trezentos e cinquenta e três) acordos, equivalente a um percentual de 80,59%.
No quinto e último dia de atendimento foi marcado um total de 301 (trezentos e uma)
audiências, sendo realizada todas, equivalendo a 100,00%, das quais resultaram na definição de
229 (duzentos e vinte e nove) acordos, tendo um percentual de 76,08%.
Esses dados apontam que a experiência paraibana na realização da Semana
Nacional de Conciliação, em 2016, possibilitou a realização total de 1.185 (um mil cento e
oitenta e cinco) audiências conciliatórias, o que representa cerca de 93, 66%, de um total de
1.284 marcadas, dentre as quais se efetivaram a definição de 855 (oitocentos e cinquenta e
cinco) acordos, expressando aproximadamente 72,62% de efetivação da proposta conciliatória.
Em 2017 ocorreu a XII Semana Nacional de Conciliação que foi realizada entre os
dias 27 de novembro a 1° de dezembro. Através da campanha em favor da conciliação são
selecionados processos que possuam viabilidade para o acordo, e intimam-se as partes
envolvidas. O tema da campanha foi “Conciliar: nós concordamos”. Segundo reportagem da
Gestão e planejamento (2017) no site do CNJ, o objetivo da campanha é mostras as partes como
se dá a conciliação, que a escolha pela conciliação cabe aos envolvidos, e só acontece quando
ambas as partes estiverem de acordo. E para que isso ocorra, o Poder Judiciário fica à disposição
para esclarecer dúvidas e mostrar os benefícios dos métodos de solução de conflitos. Tendo
como meta, facilitar a informação aos cidadãos quanto a conciliação.
A Semana Nacional de Conciliação do ano de 2017, ocorreu entre os dias 27 de
novembro a 01 de dezembro, ocorrendo todos os dias previstos. Segundo (CNJ, 2018), no
primeiro dia, foram marcadas 36 (trinta e seis) audiências, sendo realizadas 26 (vinte e seis),
equivalendo a 72,22% da quantidade total, das quais resultaram na definição de 8 (oito) acordos,
perfazendo um percentual de 30,77%. No segundo dia, foram marcadas 287 (duzentas e oitenta
e sete) audiências, realizadas 254 (duzentas e cinquenta e quatro), o que equivale a 88,50% da
quantidade total, das quais foram efetuadas 92 (noventa e dois) acordos, possuindo um
percentual de 36,22%. No terceiro dia, as audiências foram marcadas 261 (duzentas e sessenta
e uma) audiências, sendo realizadas 231 (duzentas e trinta e um) sessões, tendo um percentual
de 88.51% da quantidade total, ocorrendo 44 (quarenta e quatro) acordos, marcando a
47

efetivação conciliatória em 19,05% dos casos. No quarto dia, foi marcado um total de 452
(quatrocentas e cinquenta e duas) audiências, sendo realizadas 388 (trezentas e oitenta e oito),
o que equivale a 85,84% da totalidade, das quais resultou em 134 (cento e trinta e quatro)
acordos, equivalente a um percentual de 34,54%. No último dia de atendimento, foram
marcadas 1.039 (um mil e trinta e novo) audiências, sendo realizadas 949 (novecentos e
quarenta e nove), equivalendo a 91,34% da quantidade total, das quais resultaram na definição
de 438 (quatrocentos e trinta e oito) acordos, perfazendo um percentual de 46,15%.
Os dados apontam que a experiência paraibana na realização da Semana
Nacional de Conciliação, em 2017, possibilitou a realização total de 1.848 audiências
conciliatórias, que representa cerca de 85,28%, de um total de 2.075 audiências marcadas,
dentre as quais se efetivaram a definição de 716 acordos, expressando aproximadamente
33,34% de efetivação da proposta conciliatória.
Segundo reportagem do site do TJPB de 2017, 21 (vinte e uma) comarcas fizeram
parte da Semana Nacional de Conciliação. Ainda, de acordo com reportagem, os processos que
fizeram parte das audiências estavam em fase pré-processual e processual, nos termos do artigo
334 do Código de Processo Civil, ou em fase de conhecimento ou execução de sentença (quando
solicitado pelas partes), e no 2º Grau.
Pode-se verificar, mediante os dados da Semana Nacional de Conciliação dos
anos de 2015 a 2017, que as quantidades de casos resolvidos através da conciliação pelo
Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba foram expressivas e relevantes.
No tópico seguinte, será feito o confronto e comparação dos dados verificados
na Semana Nacional de Conciliação (2016-2018) e no Relatório Justiça em Números (2016-
2018).

4.3 RELATÓRIO JUSTIÇA EM NÚMEROS X SEMANA NACIONAL DE


CONCILIAÇÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DA PARAIBA

Não há o que se discutir quanto a eficácia da conciliação e da mediação, tanto é


que fazem parte do ordenamento jurídico brasileiro, que percebeu sua importância e criou
normas para que assim fizessem parte do procedimento de resolução de conflitos dentro e fora
do judiciário, possuindo validade mesmo sem a participação da figura do juiz. Porém, o que se
questiona é a sua efetividade em decorrência, ainda, da baixa quantidade de litígios resolvidos
por meio de acordos. Contudo, vale ressaltar que o número de acordos vem crescendo
48

gradativamente, e o CNJ possui diversos programas para incentivar a sua realização, conforme
já mencionado em capítulo anterior.
Após análise de dados do Relatório da Justiça em Números (2016-2018) e de
suas porcentagens, tendo como anos-base 2015 a 2017, quando em comparação com a Semana
Nacional de Conciliação, também em análise dos anos 2015 a 2017, sendo ambas realizadas no
âmbito da Justiça Estadual dos Estado da Paraíba, nesta ocasião representada pelo TJPB, foi
possível verificar que, no mencionado período de tempo, fica evidente que a Semana de
Nacional de Conciliação consegue alcançar um percentual maior de números de acordo com
relação aos números apresentados pelos Relatórios da Justiça em Números.
O Relatório da Justiça em Números, no que diz respeito aos dados relativos ao
Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, obteve média, no ano-base de 2015, o percentual
correspondente a 14,5% do total de acordos realizados neste ano. No ano-base de 2016 teve a
porcentagem de 13,9%, e no ano-base de 2017 ficou com 13,1%, ambos com relação também
ao total de acordos realizados através de conciliação, nos respectivos anos, o que demonstra
uma queda gradativa anualmente. Ao comparar com os dados da Semana Nacional de
Conciliação, no que diz respeito ao Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, que atingiu a
porcentagem de 68,75% no ano de 2015, em 2016 chegou acerca de 72,15%, e no ano de 2017
atingiu o percentual de 33,34%, todos estes percentuais referentes aos acordos realizados
através de conciliação ou mediação nos respectivos anos, apesar de não ter um percentual
progressivo anualmente, de acordo com os números e em comparação com os percentuais
obtidos no Relatório da Justiça em Números, a Semana Nacional de Conciliação consegue
atingir mais que o dobro do percentual de acordos em todos os anos analisados.
Com a demonstração desses dados, o que se percebe é que na Semana Nacional
de Conciliação a quantidade de acordos estabelecidos por meio da conciliação ou mediação na
Justiça Estadual da Paraíba possuem uma porcentagem mais significativa (apesar da queda na
porcentagem no ano de 2017) do que os índices contidos no Relatório da Justiça em Números
também no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba.
O que pode ser levantado como uma das hipóteses para justificar a baixa quantidade
de casos resolvidos por meio da conciliação ou mediação, seria a pouca publicidade ou
informação sobre o assunto. Em contrapartida, o que se percebe na Semana Nacional de
Conciliação é que há um maior investimento na divulgação, incentivo e informação, já a
conciliação ocorrida diariamente nos fóruns ficam apenas como uma parte obrigatória do
processo, em que as partes têm que comparecer, por ser, agora, após o CPC/2015, uma etapa
obrigatória do rito processual.
49

A falta de conhecimento unido a pouca valorização da autocomposição, podem vir


a ser outros motivos para os baixos índices, ou até mesmo a cultura da judicialização, para
Meinero (2015, p. 435), “ [...] apostar nos meios adequados de tratamento de conflitos a fim de
conter a litigiosidade pode não ser uma solução, se não houver de fato uma mudança de cultura”.
O conhecimento de nada poderá aumentar os índices, se as pessoas não valorizarem e
reconhecerem tais métodos como validos, têm que haver a mudança da ideia de que, somente
o juiz possui a capacidade para resolver os conflitos, e fazer cumprir as decisões, para que se
possa deixar mais de lado o processo da judicialização.
A comunicação é um meio que pode facilitar a resolução de conflitos, por meio de
acordos, o incentivo ao diálogo entre as partes, junto do auxílio de um terceiro devidamente
capacitado, pode modificar os problemas ainda enfrentados no processo de conciliação, para
que venha a ser mais satisfatório seus resultados, como já foi dito anteriormente, o conciliador
ou mediador capacitado terá mais êxito em sua função, pois saberá agir da melhor forma
possível em cada caso concreto.
O incentivo e a divulgação da conciliação para a população são importantes, para
que eles possam compreender seus benefícios e resolver seus conflitos por meio do diálogo,
sem que seja necessário a intervenção do Estado.
Aplicando a teoria desenvolvida pelo filosofo alemão Jürgen Habermas (2003),
através do agir comunicativo e da argumentação, pode-se solucionar consensualmente os
conflitos, a partir do entendimento mútuo. O processo de entendimento mútuo busca um acordo
que necessita da concordância racionalmente motivada por meio da fala, pois, assim como “[...]
O acordo não pode ser imposto à outra parte, não pode ser extorquido ao adversário por meio
de manipulações [...] Habermas, p. 165, 2003 ”).
Segundo Bittar e Almeida (2018, p. 546), “A teoria do agir comunicativo surge
como uma teoria voltada para a compreensão da dimensão da verdade não enquanto
conformidade da mente com as coisas, mas como fruto de uma experiência intersubjetiva e
dialógica no espaço social. [...]”
Para Barreto e Pontes p. 328, 2017:

[...] a partir da concepção de Habermas sobre direito e


legitimidade/factibilidade, é que se pode garantir que os instrumentos de
recepção das demandas massificadas do século XXI não sejam meros
instrumentos formais de resolução de demandas, e sim espaços de diálogos
racionais e coordenados para a pacificação social, e uma realização plena da
jurisdição.
50

Na perspectiva da teoria de Habermas o diálogo é um instrumento que pode


alcançar a resolução de conflitos, e que deve ser utilizado para a chegada ao acordo mutuo. Mas
para que essa comunicação ocorra se faz necessário um incentivo maior a conciliação, para que
as pessoas possam conhecer esse instrumento tão eficaz, não devendo fazer do ambiente da
conciliação, um mero procedimento para resolver litígios, pois deve ser aproveitado da melhor
forma possível, por meio do diálogo.
Portanto, pode-se perceber, através do confronto de dados contidos nos Relatórios
da Justiça em Números e na Semana Nacional da Conciliação, que a conciliação e a mediação
são métodos eficientes e obtém resultados significantes, do mesmo modo, constata-se que ainda
não é alcançada uma efetividade tão relevante quanto deveria e cujo seu potencial possibilita,
visto que a quantidade de audiências realizadas e que não chegam ao acordo ainda tem uma
proporção considerável.
Além disso, foi possível perceber também que, na Semana de Conciliação, há toda
uma campanha de incentivo, estímulo e de informação sobre estes métodos de conflitos, o que
incentiva a população e culmina na aquisição de bons e expressivos resultados no que diz
respeito a obtenção de conciliações. De seu turno, os índices vistos nos Relatórios da Justiça
em Números, quando comparados com os da Semana Nacional de Conciliação, transmitem a
necessidade de investimento frequente e cotidiano, além de ações e políticas públicas, que se
preocupem em informar a população para que esta se estimule, confie e enxergue na conciliação
e na mediação formas, além de eficazes, efetivas, de soluções de seus conflitos, pois tais
métodos demonstram progressivamente sua importância e sua necessidade, com seus números
crescentes, embora que de maneira tímida, para que haja a abolição da cultura da judicialização,
ainda tão presente nos dias atuais.
51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi levantado no presente trabalho, percebe-se que os métodos


consensuais de solução de conflitos não são institutos novos, tendo em vista sua evolução junto
das necessidades humanas, e as mudanças sociais. A conciliação e a mediação se apresentam
hoje, como estratégias de resolução de conflitos no âmbito do ordenamento jurídico e fora dele,
o que contribui com a desburocratização do judiciário e a diminuição dos números de processos.
Os princípios basilares da conciliação e mediação estabelecem um parâmetro a
ser seguido pelas partes, seja ele conciliador ou o conciliado, ambos devem respeitar a
confidencialidade das audiências, sendo um ambiente que deva passar as partes confiança e
seriedade no procedimento. Além disso, a conciliação e a mediação são marcadas pela
informalidade, que é um dos princípios que vai garantir a rapidez do procedimento, junto com
a oralidade, que vai garantir que as partes busquem entre elas o acordo por meio do diálogo, e
o acordo deve partir de uma decisão informada, que as partes fiquem cientes dos seus direitos
e deveres, assim como do que abriu mão para chegar ao acordo.
Os princípios são partes importantes e, quando utilizados, favorecem a chegada
ao acordo rápido e seguro, diminuindo as chances da entrada de uma ação judicial, em
decorrência, diminui a quantidade de processos na justiça, alcançando sua eficiência.
No ordenamento jurídico encontram-se as normas que devem ser seguidas, tais
como o Novo Código de Processo Civil de 2015, que incentiva a solução consensual de
conflitos, valorizando a importância e a efetivação destes métodos, estabelecendo sempre que
possível a audiência de conciliação, tornando obrigatória a sua realização, mesmo que ela já
tenha ocorrido em âmbito extrajudicial e o acordo não tenha sido alcançado, restando claro que
o ordenamento busca sempre a autocomposição, principalmente em virtude de suas vantagens.
Assim como o CPC/2015, a resolução n°125/2010 do CNJ, busca assegurar a
realização conciliação e mediação, por meio de políticas públicas, tendo como um de seus
objetivos a disseminação da cultura de pacificação social.
Foi utilizado os dados da Semana Nacional da Conciliação e do Relatório da
Justiça em Números, sendo em ambos analisados, nos anos 2015 a 2017, o índice de
conciliações obtidas no Estado da Paraíba. Com a análise dos índices presentes nestes
documentos, foi possível responder a problemática levantada, qual seja, se a conciliação e
mediação possuem efetividade e eficiência, se elas conseguem alcançar seu objetivo, que é o
acordo.
52

Foi possível perceber que o número de audiências de conciliação ou mediação


marcadas e realizadas crescem anualmente na Semana Nacional da Conciliação, esse resultado
ocorre em decorrência do empenho da justiça estadual da Paraíba, especialmente nesse evento,
que ocorre em uma semana a cada ano. A quantidade de acordos alcançados nesse tipo de evento
também possui um valor expressivo, nos anos de 2015 e 2016, a quantidade de acordos obtidos
foram mais de 65%, decorrentes das audiências realizadas, sendo um valor bem expressivo.
No ano de 2017 a quantidade de acordos realizados não chegou a ser tão
grandioso quanto os anos anteriores, tendo uma queda bem significativa, chegando apenas
33,34% de efetivação dos acordos nas audiências realizadas. Apesar dessa diminuição, seu
número consegue ser superior aos índices anuais do próprio Tribunal Estadual de Justiça da
Paraíba, mostrados no Relatório da Justiça em Números, que foi o parâmetro utilizado na
pesquisa, a comparação dos resultados do mesmo tribunal em momentos distintos.
A partir da análise dos Relatórios da Justiça em Números e comparando-os com os
dados contidos na Semana Nacional de Conciliação, os dados contidos nos Relatórios mostram
que o Tribunal Estadual da Paraíba não atinge uma porcentagem tão expressiva de acordos
realizados por meio da conciliação ou mediação, onde no ano em que teve o melhor percentual
de acordo, só atingiu 14,5%, que foi no ano-base de 2015. Já na Semana Nacional de
Conciliação, no ano de 2015, o percentual de conciliações foi de 68,75%.
O que se pode levantar quanto aos motivos destes baixos percentuais vistos,
principalmente no Relatórios da Justiça em Números, comparando com os eventos realizados
nos mesmo anos, pela mesma justiça (TJPB), como a Semana Nacional de Conciliação, por
exemplo, é de que no dia-a-dia dos tribunais, a conciliação e mediação fica apenas como mais
uma parte de procedimento, que tem que ser realizada, e caso o acordo não seja alcançado, o
processo continuará e o juiz é quem decidira. O que se vislumbra é que não há uma cultura de
informação diária sobre esses métodos de soluções de conflitos e seus benefícios junto a
população.
As partes acabam participando da audiência, sem mesmo compreender o valor
do acordo, acreditando que se fizer o acordo deixará de ganhar, não conseguindo compreender
o valor do acordo, de conseguir sair com o problema verdadeiramente resolvido, não só com
um resultado.
Uma das medidas que podem ser adotadas para aumentar o percentual de acordos
em audiências de conciliação ou mediação, é prestação de esclarecimentos as pessoas do que é
a conciliação e mediação, a validade do acordo, a rapidez no resultado, demonstrando que um
acordo pode ser bom, mesmo quando não é realizada da forma que se imaginava, mas no fim
53

há uma resolução do problema de modo a satisfazer a necessidade e a angústia das partes ali
presentes.
54

REFERÊNCIAS

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