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Cristalino

2010

Cristalino
Artigos Selecionados do Universo de Cristal
Perfeito

Traduções para português do Brasil por


Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo

Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo


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Cristal Perfeito
30/07/2010
Cristalino

Copyright © 2009 por Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo

N.T. as notas do tradutor Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo se


encontram grafadas em itálico.

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A Teoria Geral da Fatalidade

18/01/2007 às 11:48

1ª Lei da Fatalidade

“Tudo acontece quando nada atrapalha”.

Esta Lei tem como conseqüência imediata o que segue:

“Tudo se atrapalha quando nada acontece”.

Corolário Cósmico da Completeza:

a-) um sistema só será completo se a resultante das ações


concorrentes para o seu funcionamento perfeito for o imponderável.

b-) se a completeza está no imponderável, então a perfeição nada


mais é que um equilíbrio (aniquilação mútua) insondável e acidental
(temporário) de falhas.

Corolário da Fatalidade Intrínseca da Novidade:

a-) todo fato novo, previsível ou não, surpreende quando acontece; e


tudo se atrapalha.

2ª Lei da Fatalidade

“A transformação é produto da observação, fatal e unicamente”.

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Corolário da Condenação Eterna:

a-) todo observador estará condenado a mudar, primeiramente, a


idéia alheia e, depois, a sua própria idéia seguidamente, até que a
entropia do sistema observado estabeleça a confusão geral.

Corolário do Esquecimento Newtoniano:

a-) a toda observação opor-se-á uma transformação em tal


intensidade que jamais o observável poderá ser completamente
compreendido.

b-) compreensão é sinônimo de cegueira nos domínios da criação.

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I - O Átomo

27/01/2007 às 13:05

Sabemos, da física atômica elementar, ser a matéria constituída de


espécies atômicas cuja estrutura nuclear e órbitas eletrônicas as
individualizam. No modelo clássico, à semelhança dos sistemas
planetários, os elétrons distribuem-se em camadas ou níveis de
energia ao redor do núcleo, formando o que se convencionou chamar
nuvem eletrônica. Lembrando de que falamos de matéria ordinária,
ou cenomatéria, os elétrons do mundo atômico se individualizam por
seus números quânticos correspondentes.

Por sua vez, as partículas constituintes do núcleo atômico, prótons e


nêutrons (admitamos um modelo simplificado), se ajustam a
distâncias muito pequenas umas das outras, pois a força de caráter
nuclear, que mantém juntas partículas de mesma carga com
partículas de carga neutra, tem alta intensidade e curto alcance, além
do qual, predominam as interações eletrostáticas coulombianas.

A ordem de grandeza da primeira órbita de Bohr3 para o raio nuclear


poderá dar uma idéia da distância relativa da periferia do núcleo
atômico para a primeira órbita: a primeira órbita atômica é cerca de
50.000 mil vezes o tamanho do núcleo atômico.

Como uma ilustração dessas relações do mundo atômico, tomemos


como análogo o sistema solar, visto na figura, e as enormes
proporções das órbitas planetárias para o raio do Sol. Na figura
temos na quinta órbita o planeta Júpiter, faltando as representações
das órbitas de Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Essas órbitas não
representadas na figura são de tal ordem de grandeza que impossível
seria representá-las nesta escala. Pode-se ainda observar “estranhos”
corpos chamados Ulysses, New Horizons, Rosetta, Messenger e Sirtf:
são naves terrestres a perscrutar o sistema solar. Os pontos ao fundo

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são estrelas ou galáxias distantes que, na nossa analogia, seriam


outros átomos deslocados de seus lugares próprios, ou aglomerados
destes, presentes numa solução sólida. Porém, discutiremos isso mais
adiante.

Courtesy NASA/JPL-Caltech

Voltando ao mundo atômico, às distâncias interorbitais, da primeira


órbita até a mais externa, soma-se a incerteza de se encontrar um
elétron numa certa posição num dado instante, dada pelo Princípio da
Incerteza devido a Heisenberg 19. Desse princípio tem-se que quão
mais precisamente a posição de uma partícula é determinada, menor
a precisão com que se determina o seu movimento ou onde ela se
encontrará num próximo instante. Isto tudo torna o átomo um imenso
“vazio”, guardadas as proporções, à semelhança de um sistema
planetário visto sob uma ótica de longo alcance conforme ilustrado.
Nestas condições, tudo o que possa interagir com o átomo em sua
estrutura, seja de natureza ondulatória ou partícula (a rigor,
características indissociáveis), tem apenas uma probabilidade de
encontrar os seus constituintes nas órbitas eletrônicas ou no núcleo.

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II - Elementos de Estruturas Cristalinas

03/02/2007 às 11:47

Iniciaremos por definir uma rede cristalina ordinária como um


conjunto de pontos geometricamente distribuídos no espaço, os quais
representam a posição de equilíbrio dos átomos constituintes da
matéria no seu estado sólido.

Numa rede cristalina, os átomos permanecem em constante


movimento oscilatório em torno das suas posições de equilibro,
mesmo à temperatura do zero absoluto, onde à energia do ponto zero
associa-se uma freqüência característica. O movimento de agitação
térmica dos átomos em torno das suas posições de equilíbrio pode ser
razoavelmente descrito a partir da resolução do problema do
oscilador harmônico mais termos de anarmonicidade responsáveis,
por exemplo, pelo fenômeno de dilatação dos corpos.

Passaremos agora a um conjunto de definições a partir do qual


muitos fenômenos do estado sólido podem ser satisfatoriamente bem
descritos.

Cristal Perfeito: rede cristalina de dimensões infinitas que, tendo


todos os seus lugares ocupados, reúne átomos da mesma espécie em
condições de equilíbrio termodinâmico;

Monocristal: segmento tridimensional finito de um cristal perfeito;

Policristal: conjunto de monocristais espacialmente distribuídos e


justapostos pelos contornos (limites dos monocristais);

Lacunas: lugar geométrico da rede cristalina desocupado, isto é,


ausência de um átomo numa das posições da rede;

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Dilacuna: par de lacunas associadas;

Zona de Depleção: região do cristal com grande concentração de


lacunas;

Intersticial: átomo que, fora de um lugar próprio da rede, ocupa os


interstícios da mesma;

Di-intersticial: par de átomos intersticiais associados;

Aglomerado de Intersticiais: região de concentração de átomos que,


fora de seus lugares na rede, distribuem-se por poucos espaços
interatômicos da mesma;

Átomos de Impureza: átomos estranhos à espécie constituinte da rede


que, entretanto, podem ocupar posições intersticiais ou
substitucionais (nos lugares próprios da rede), dependendo das suas
afinidades com a espécie constituinte.

O conjunto de definições acima, com exceção feita à definição de


cristal perfeito, engloba o conjunto de defeitos elementares da
matéria em seu estado sólido. Por exemplo, monocristais e
policristais são estruturas do estado sólido que, dependendo das
condições termodinâmicas, têm suas características estruturais
alteradas. Por sua vez, lacunas, intersticiais, aglomerados e átomos
de impureza são defeitos intimamente ligados aos fenômenos de
difusão, os quais podem recombinar-se ou dissolver-se na solução
sólida.[1]

1 Camargo, M.U.C – Estudo de danos de radiação em um aço inoxidável austenítico tipo


AISI 321 com adições de Nb, submetido a tratamentos térmicos, mecânicos e irradiações com
nêutrons rápidos – Tese de Mestrado IPEN-USP – 1979.

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Noções do Fenômeno de Transporte em Meios do


Estado Sólido

12/02/2007 às 12:05

Sendo os elétrons portadores da carga elementar g, de cujo


movimento tem origem o fenômeno de transporte chamado corrente
elétrica, somente átomos portando elétrons em bandas de energia
cuja população está fracamente ligada ao núcleo guardarão as
propriedades de bons condutores de eletricidade. O fenômeno de
condução elétrica em materiais no estado sólido é o movimento dos
portadores de carga “acelerados” por uma excitação externa. Como a
energia associada ao fenômeno terá um comprimento de onda e
freqüência intrínsecas, para cada portador de carga teremos ondas
materiais se propagando no meio condutor.

Através da rápida revisão de alguns conceitos e parâmetros da


estrutura atômica, demonstra-se ser o átomo um relativo “vazio”.
Dessa forma, se tivermos uma rede cristalina perfeita, isto é, com
todos os átomos constituintes em seus devidos lugares e isenta de
demais defeitos, numa temperatura tal que o movimento dos átomos
em torno de suas posições de equilíbrio seja suficientemente
pequeno; nestas condições, teríamos os portadores de carga
movimentando-se livremente através da rede, sem que esta lhes
oferecesse qualquer resistência. É como se define resistência elétrica
nula: um cristal perfeito na temperatura do zero absoluto, ou seja, à
temperatura em que os átomos estão vibrando apenas com a
amplitude e freqüência características do ponto zero, o cristal
perfeito tem resistência nula. Assim, um material nestas condições
seria transparente ao movimento de cargas eletrônicas.

Por outro lado, a presença de defeitos comuns nos materiais como


lacunas, átomos intersticiais e de impurezas, deslocações bem como
a vibração dos átomos em torno das suas posições na rede, que
aumentam com a temperatura, torna-se obstáculo ao movimento das

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cargas, pois, a interação dessas com as imperfeições fazem com que


a propagação deixe de ser infinita para ser finita; isto é, os portadores
de carga passam a ter um caminho livre médio. Em outras palavras,
dentro de um meio hipotético ideal, onde os portadores de carga
teriam livre trânsito, na realidade, existe todo um universo de
defeitos de dimensões finitas a se opor ao movimento dos portadores
que os enxergam como obstáculos. Figurativamente, deixa o material
de ser transparente para ser um meio resistente e, ao colocarmos o
portador como observador, deixa o material de ser um vazio não
observável para ser um universo de corpos de toda uma gama de
imperfeições que se distribuem num imenso “vazio”. Algo como a
figura abaixo.

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A Luz

14/02/2007 às 12:21

Sabemos hoje, graças à intuição de notáveis observadores da


natureza, ser a luz um fenômeno ondulatório – ondas
eletromagnéticas – cuja interação com os meios materiais dependerá
da freqüência ou freqüências do raio luminoso e, portanto, da energia
dos fótons que compõem o feixe energético luminoso. A visão
humana, limitada que é, percebe e distingue freqüências numa faixa
relativamente estreita. Esta faixa vai do vermelho (menor freqüência
visível) ao violeta (no limite superior). Abaixo e acima destas
freqüências, respectivamente, encontramos as bandas do
infravermelho e do ultravioleta. Dentro desta escala, os raios de luz
podem ter duas classificações bem gerais: raios monocromáticos e
policromáticos. Os raios monocromáticos são feixes de fótons
monoenergéticos (isto é, fótons de mesma energia) e, portanto, de
mesma freqüência ou dentro de uma faixa de freqüências estreita o
bastante. Desses raios tem-se a radiação luminosa monocromática,
que nada mais é que uma cor definida ou pura. Os raios
policromáticos são feixes de fótons de freqüências diversas, cuja
largura do espectro de freqüências da luz visível pode abranger do
infravermelho ao ultravioleta. A luz de tais raios é dita policromática,
ou seja, uma mistura de cores ou freqüências distintas.

A interação da luz com a matéria, por sua natureza ondulatória, passa


a ser exclusivamente dependente da freqüência dos fótons que
compõem o feixe luminoso. Por sua vez, a natureza do meio em que
a luz se propaga passa a ser o observável no sistema que
introduziremos. Como sabemos, a luz tem módulos de velocidades
diferentes de acordo com o meio de propagação, sendo 300.000 km/s
sua velocidade máxima válida para o vácuo absoluto, isto é, medida
na ausência de manifestações materiais.

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Com base nos fenômenos de interação da luz com a matéria, temos


inúmeros exemplos, dentre os quais citaremos apenas alguns, que
nos explicam uma série de fenômenos naturais, alguns dos quais
ainda carentes de um tratamento mais criterioso. Vejamos: a cor azul
da nossa atmosfera; a muito conhecida experiência do Físico inglês
Isaac Newton5 que analisou a luz solar (veja figura abaixo); o desvio
sofrido pela luz emitida por estrelas situadas atrás do disco solar nas
vizinhanças do Sol; os filtros monocromadores e as guias de luz (por
exemplo, as fibras ópticas). Ainda macroscopicamente, lembraremos
alguns tipos de cristais que, por sua abundante ocorrência na
natureza e vasta aplicação, muito nos auxiliarão na defesa de um
posterior modelo analógico. Falaremos genericamente dos cristais
iônicos e dos cristais de quartzo.

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Cristais Iônicos

Estas estruturas cristalinas são formadas por átomos íon-positivos e


íon-negativos que se intercalam ligando-se eletronicamente no
arranjo cristalino. Estes cristais são, via de regra, transparentes à luz
visível; isto é, as freqüências da luz visível não interagem com essas
estruturas. Isto quer dizer que fótons do infravermelho ao ultravioleta
não “enxergam” os arranjos cristalinos, propagando-se livremente
pelos espaços interatômicos. Entretanto, se algum defeito estiver
presente nestes cristais, serão desenvolvidos o que chamamos
comumente de centros de cor. Estes defeitos poderão ser: lacunas
íon-positivas ou íon-negativas que podem recombinar-se com, por
exemplo, elétrons ou átomos de impureza de uma maneira geral;
falhas ou distorções na rede etc. Na presença de defeitos, isto é,
quebrada a perfeita periodicidade da rede, os fótons passam a
interagir com esses centros de imperfeições (manifestações
materiais), resultando na emissão de freqüências particulares do
espectro da luz incidente, ou seja, cores.

Cristais de Quartzo

À semelhança dos cristais iônicos, os cristais de quartzo quando


puros e perfeitos são transparentes aos comprimentos de onda da luz
visível. A ocorrência de grande gama de cores desses cristais na
natureza deve-se ao grau e tipo de impurezas, bem como à presença
de defeitos estruturais, o que invariavelmente está relacionado com a
região de ocorrência. Disto decorre a raridade de certas gemas.
Artificialmente, uma forma de se desenvolver centos de cor em
cristais é irradiá-los com partículas energéticas capazes de criar
defeitos em grande concentração. Átomos intersticiais, lacunas,
excitação das camadas eletrônicas e outros tipos de defeitos criados
por irradiações; dependendo do tipo, energia e intensidade; podem
produzir as mais diferentes cores para os cristais inicialmente
transparentes.

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Aqui, ao fazermos de um raio de luz nosso observador, dentro da


estrutura cristalina nada nos será visível senão defeitos, incluindo-se
entre essas imperfeições os estados de excitação. Em outras palavras,
a perfeição cristalina não é observável fisicamente por interferência
da luz dentro de certo espectro de freqüências.

Reações do Estado Sólido e Interações Entre Defeitos

24/02/2007 às 9:25

As reações no estado sólido, entre os defeitos até agora


mencionados, serão doravante melhor descritas com o objetivo de
lançar mais tarde uma visão do macrocosmo por analogia. Os vários
tipos de reações e as condições em que essas podem ocorrer no
campo microscópico serão lembradas sem qualquer relação
hierárquica ou aspecto quantitativo associado a elas.

Recombinação de Pares de Defeitos

Lembrando que estamos considerando toda a manifestação material


observável como um “defeito” do meio onde ela ocorre, através da
apreensão e discussão de alguns conceitos da Física, procuraremos
dar corpo às idéias que estamos desenvolvendo. Assim,
emprestaremos da Física Clássica os seguintes princípios:

· A toda a ação corresponde uma reação igual em intensidade e em


sentido contrário;

· Dois corpos materiais não ocupam o mesmo lugar no espaço sem


perda de identidade.

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Da Física contemporânea vamos emprestar, por enquanto, a idéia de


Dirac6 sobre os buracos de energia. Segundo Dirac, o Universo seria
constituído por entes portadores de energia positiva e discretizada
(quantizada) e portadores de energia negativa numa distribuição
contínua.

Neste trabalho sugere-se que, considerando uma estrutura


periodicamente perfeita e de dimensões infinitas como o meio em
que matéria e/ou energia se manifestam, em sendo o observável nada
mais que um defeito naquele meio, nada mais razoável do que
esperar níveis de energias não continuamente observáveis.

Passaremos a falar dos pares de defeitos e de sua coexistência.


Voltando ao modelo cristalino, um átomo deslocado de sua posição
na rede deixa atrás de si um “buraco” ao qual chamaremos lacuna. A
lacuna será a ausência do átomo deslocado e, portanto, seu par
indissociável na origem. Acontece que átomos da mesma espécie são
indistinguíveis por esse “buraco” e, assim, qualquer lacuna é par de
qualquer átomo da espécie que a gerou, inclusive aqueles que ainda
ocupam seus lugares próprios na rede. Para átomos que vibram em
torno das suas posições de equilíbrio na rede, a geração e aniquilação
do par de defeitos se dá na mesma freqüência da oscilação. Por essa
razão, a existência espacial da matéria, o arranjo atômico periódico e
outras propriedades do estado sólido seriam indetectáveis por
métodos físicos no zero absoluto (ou seja, por interferência), não
fosse a energia do ponto zero e a freqüência de oscilação (criação-
aniquilação de defeitos) associada a essa energia. A anarmonicidade
e a defasagem dos movimentos de vibração dos átomos nos sólidos,
ao que também podemos associar idéias de imperfeições, aparecem
como os fatores que permitem a detecção da estrutura em sua
existência. Se o movimento dos átomos fosse tal que em cada
período de oscilação todos passassem pela origem ao mesmo tempo
(recombinando-se todos simultaneamente com seus pares), então, a
existência física da matéria no estado sólido seria pulsante na
freqüência de vibração. Vale lembrar que no extremo oposto desta

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situação de ordem absoluta está o que conhecemos por estados


líquido, gasoso e plasma; onde todo e qualquer arranjo ordenado foi
destruído. Para átomos que se encontram em interstícios, isto é, fora
dos poços (buracos) de energia que os retém no arranjo cristalino, a
recombinação (aniquilação do par de defeitos) passa a ser uma
probabilidade dependente da energia necessária para o átomo migrar,
interagir e recombinar-se com o seu par.

27/02/2007 às 12:51

Recombinação Elétron-Pósitron

A idéia devida a Dirac sobre os buracos de energia, que tem servido


de base para as teorias de coexistência de matéria e antimatéria
(lembremos a indissociabilidade de matéria e energia), vem agora
realimentar a discussão que mantivemos até aqui. Evento já
observado em inúmeras experiências, a recombinação de pares
elétron-pósitron nos coloca diante de um Universo de dimensões
jamais sonhadas pela ciência pré-Einsteniana.

Em primeiro lugar, lembremos o fenômeno de irradiação de luz dos


elétrons. Estas partículas de carga elétrica negativa e massa de
repouso m = 9.1 x 10-28 g, seja na sua propagação num campo
elétrico ordinário, seja nas órbitas atômicas, eventualmente podem
irradiar freqüências na faixa do visível. Esta emissão de energia
radiante é indissociável da sua própria função de existência ou, em
outras palavras, de sua energia total. Quando aceleradas em campos,
estas partículas emitem luz característica de sua freqüência de
vibração; isto é, a quantidade de energia (E = mc2) e a sua energia
cinética traduzem-se pela emissão de fótons. Por outro lado, quando
se encontra num sistema em equilíbrio dinâmico, tal como numa
órbita atômica, estas partículas-onda não podem ter sua existência
detectada senão através de uma perturbação externa. A perturbação,
excitando o elétron para níveis de energia acima do fundamental,
confere a este um caráter de defeito e, nesse caso, a recombinação se

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dá pela desexcitação do nível de energia através da emissão de fótons


de luz característicos de cada nível. Esta experiência nos informa e
individualiza a natureza de cada átomo, bem como descreve a sua
estrutura de camadas eletrônicas.

Há relativamente pouco tempo, a Física das partículas elementares


detectou uma partícula de comportamento muito semelhante ao do
elétron, com exceção da carga que, de mesmo valor, apresentava
sinal positivo. Batizada com o nome de pósitron, esta partícula
trouxe aos olhos da ciência o Universo do “Anti”, proposto
filosoficamente até então. Finalmente, a evolução dos experimentos
da Física Nuclear mostrou que esta partícula (ente do Universo de
energia negativa) poderia manifestar-se em sua forma no Universo
material (do lado de energia positiva), portanto, na forma de um
“defeito” e, eventualmente, recombinar-se com seu par, o elétron.
Mostraram ainda as experiências que o encontro de ambas na
presença de um campo forte o suficiente para que haja conservação
de momento no recuo da interação, faz com que as mesmas
aniquilem-se mutuamente, emitindo dois fótons de energia E = 0.511
keV, na mesma direção e sentidos opostos para a conservação de
momento. O evento sugere que as antipartículas possuem massa
negativa, sendo necessário um fóton de energia E > 2mc2 para, no
processo inverso, criar o par nas mesmas circunstâncias acima (por
exemplo, nas vizinhanças de um núcleo atômico onde o campo é
forte o bastante). Revela ainda a experiência que a recombinação
manifesta-se pela emissão de luz, indicando uma desexcitação de
energia em forma material (defeito) para um estado energético mais
fundamental (luz).

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10/03/2007 às 10:25

Difusão – Aglomerados (sem perda de identidade)

Experiências com sólidos irradiados (nas quais a criação de defeitos


simples em concentrações muito maiores que as encontradas no
equilíbrio térmico propicia melhores condições para o estudo do
comportamento destes) mostram que lacunas por um lado, e átomos
intersticiais por outro, uma vez que tenham mobilidade no meio,
podem migrar e se associar em grupos sem que necessariamente
percam sua identidade de defeito puntiforme.

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Em materiais
policristalinos existem
evidências de que, em
certas condições
termodinâmicas,
átomos intersticiais
migram para
discordâncias da rede e
se aglomeram. Por sua
vez, as lacunas
migrariam
preferencialmente para
regiões onde existem
tensões compressivas.
Esses aglomerados
freqüentemente
recebem o nome de
anéis (“loops” ou
espirais) de intersticiais
ou de lacunas. Estes
anéis, perfeitos ou não
na sua forma, são
agrupamentos planares
de defeitos simples, em forma de disco, dispostos entre planos
atômicos habitados. As distorções conseqüentes desses aglomerados
têm a forma de anéis que circundam a periferia do defeito e se fazem
sentir por algumas distâncias atômicas. Essas distorções, por sua vez,
funcionam como forças de atração de defeitos com a mesma
identidade, assimilando-os para os aglomerados.

18/03/2007 às 13:47

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Difusão – Sumidouros (com perda de identidade)

Certos mecanismos da difusão no estado sólido funcionam como


sumidouros de defeitos; isto é, os defeitos simples como lacunas e
intersticiais que ali chegam perdem a sua identidade. Citaremos três
mecanismos muito aceitos que tentam explicar os fenômenos
relacionados com esses sumidouros. Antes, porém, adiantaremos a
definição de precipitados, que serão discutidos mais detalhadamente
no item seguinte.

Quando, por exemplo, uma solução sólida é resfriada bruscamente,


uma nova distribuição em equilíbrio térmico é buscada pela solução
através do processo de difusão. Quando a temperatura final é tal que
outras fases sólidas possam existir em equilíbrio, essas fases
precipitam, inicialmente como pequenos núcleos que tendem a
crescer às custas de átomos que se encontram na fase primitiva, à
qual costumeiramente chamamos fase matriz. Chamaremos essas
pequenas porções embrionárias da nova fase simplesmente de
precipitados, e suas fronteiras com a matriz chamaremos de
interface.

• O primeiro modelo considera que: numa região de interface entre


um precipitado coerente e a matriz, as lacunas que se aproximam têm
a sua velocidade reduzida, sem contudo perderem a sua identidade,
aumentando a probabilidade de recombinação com átomos
intersticiais, resultando no desaparecimento do par de defeitos. As
interfaces entre precipitados incoerentes e a matriz, entretanto,
atraem preferencialmente lacunas, funcionando assim não como
sumidouros, mas como centros de aglomeração destes defeitos;

• O segundo modelo diz: forças compressivas que podem existir nas


interfaces entre precipitados coerentes e a matriz desencorajam a
ancoragem de átomos intersticiais que ali chegam; mas, por outro
lado, atraem lacunas estabelecendo uma corrente destes defeitos

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naquela direção, aumentando a taxa de recombinação ao longo da


interface;

• O terceiro modelo, muito aceito, admite que: os precipitados


impedem o movimento de deslocações (discordâncias da rede) pelo
cristal, ancorando-as e, portanto, aumentando a eficiência dos
sorvedouros fixos, no caso, as deslocações.

27/03/2007 às 10:57

Precipitação

Quando uma solução em equilíbrio termodinâmico, por um processo


qualquer, é aquecida ou resfriada bruscamente, os processos de
difusão são acelerados no sentido de a solução encontrar o estado de
equilíbrio correspondente à condição final. Um modelo muito
simples, mas de larga aplicação, prediz que para processos simples,
ou únicos, decorrerá um tempo T para que o processo relaxe de 1/e
da diferença entre a concentração inicial CI e a concentração final
CF, dada por uma equação do tipo:

CF = (1 – CF/CI) e(-t/T)

Onde T é a chamada constante de relaxação do processo e t é o


tempo decorrido da reação.

Situações reais, em particular do estado sólido, envolvem vários


processos bem como a ocorrência de produtos de reação diversos.
Podendo ser estudados a partir do modelo mais simples acima (no
caso de predominância de um dos processos sobre os outros), uma
boa aproximação pode ser conseguida se na equação acima
deixarmos de considerar uma única constante de relaxação, mas um
espectro de constantes que represente a atuação dos diversos
processos envolvidos. No entanto, não cessam aqui as complicações,

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pois, se durante a mudança de um estado para outro forem mudadas


as condições iniciais e finais (suponhamos que a faixa de
aquecimento ou de resfriamento da solução ultrapasse a linha de
equilíbrio de fase), tanto a seqüência quanto a variedade de
precipitação de novas fases poderão ser afetadas, influindo assim na
concentração de equilíbrio final qualitativa e quantitativamente. Por
exemplo, admitamos que se tenha uma solução sólida em equilíbrio
termodinâmico que se encontra num dado campo alfa de
temperatura, isto é, a fase alfa da solução está em equilíbrio. Agora,
admitamos que a nossa solução seja resfriada bruscamente até o
campo beta de temperatura, ultrapassando a linha de equilíbrio de
fases beta – alfa e que a fase alfa seja metaestável no campo beta.

O que teremos como resultado será uma solução sólida supersaturada


que tenderá ao equilíbrio através do processo de difusão, fazendo-o
pela nucleação e crescimento de porções da fase beta, até que o
equilíbrio seja alcançado. Se a situação for tal que apenas pequenos
núcleos da fase beta tenham condições de existência (em termos de
concentrações relativas de equilíbrio), tudo se passa como se a fase
beta fosse uma estrutura de defeitos da fase alfa, pois, os mesmos
átomos que a constituem foram arrancados de seus lugares na
estrutura antiga. A nova fase, portanto, cresce em detrimento da
antiga.

Particularizando mais ainda, se o resfriamento for tal que a


temperatura final tenda à temperatura de equilíbrio de fases por
valores inferiores, haverá flutuações estatísticas na concentração da
fase beta, cujos núcleos crescerão e desaparecerão continuamente,
tendo assim uma vida média associada à existência desses centros
que, primeiramente na forma de pequenos embriões nascem, crescem
até um dado raio subcrítico, e desaparecem em seguida a favor da
manutenção do equilíbrio termodinâmico. Por outro lado, se a
situação for favorável ao crescimento da fase beta, o núcleo crescerá
até atingir o raio crítico, a partir do qual o equilíbrio passa a ser
buscado por diminuição da energia livre, resultando em crescimento

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espontâneo da fase beta ou, em outras palavras, decomposição


espontânea da fase alfa.

Tomaremos um exemplo não clássico, nem muito didático e, talvez,


um pouco controvertido. Todavia, se há um objetivo que se deseja
atingir com o presente trabalho, ele está no exercício sobre alguns
conceitos bem estabelecidos da Física através de um novo prisma de
observação do cosmo.

Sabe-se ser o átomo de urânio U-235 uma estrutura atômica instável


por natureza. Façamos a analogia de uma massa de U-235 com uma
fase sólida supersaturada que se decompõe espontaneamente com o
tempo (guardadas as probabilidades do processo de desintegração
nuclear). Assim, se tivermos átomos de U-235 em solução sólida, as
partículas de alta energia (fragmentos nucleares) expelidas pelo
processo de fissão natural podem, eventualmente, penetrar em outros
átomos da estrutura, colidindo e transferindo energia cinética aos
núcleos dos átomos-alvo, preconizando o processo de desintegração
dos mesmos. Façamos analogias entre a energia carregada pelos
fragmentos de fissão e a energia livre; e entre a massa do U235 e o
raio da porção de fase precipitada. Uma massa de U-235 subcrítica
poderá ser fissionada somente com o fornecimento de energia livre
não disponível; isto é, irradiando-se o alvo (a massa de U-235) com
partículas aceleradas de uma fonte externa. Isto quer dizer que, nas
condições de subcriticidade da massa, o andamento da reação
envolve aumento da energia livre, não podendo ser espontâneo.
Porém, alcançada a massa crítica, a produção de fragmentos é tal que
a desintegração de outros átomos alvejados passa a ser continuada,
dando lugar ao que se chama reação em cadeia. Nestas condições, o
equilíbrio passa a ser alcançado com a diminuição da energia livre
que do átomo alvejado faz nova fonte de partículas (fragmentos)
super acelerados.

Note-se que o conceito de transformação de fase no exemplo acima


ultrapassa o mero processo de rearranjo dos átomos de uma estrutura

Página 23
Cristalino

cristalina, para atingir uma idéia mais abrangente incorporando o


conceito de transmutação nuclear. Oportunamente, deve-se lembrar a
já introduzida noção de indissociabilidade dos conceitos de
existência, movimento, luz, energia, ambiente e equilíbrio dinâmico;
pois, as suas variadas formas de manifestação encerram tudo o que é
observável na forma ou na transformação.

31/03/2007 às 11:45

Distorções Numa Rede

Chamaremos distorções a todas as tensões, discordâncias (quebras na


periodicidade da rede) ou deslocações de planos habitados por
deslizamento, que ocorram no estado sólido. Sendo assim, essas
distorções poderão resultar de uma série de defeitos estruturais já
mencionados aqui, cuja presença dentro de uma estrutura perfeita
pode se estender por algumas distâncias atômicas, constituindo um
pequeno universo de defeitos.

Vários estudos sobre dinâmica de defeitos puntiformes no estado


sólido revelaram resultados sobre mecanismos de criação e
aniquilação destes, que sugerem múltiplas alternativas de
interpretação. Quando falamos sobre a difusão de defeitos simples
com perda de identidade, três desses mecanismos foram enumerados.
A predominância de um ou outro mecanismo será fortemente
dependente das condições termodinâmicas, do estado inicial da
estrutura, bem como do tempo decorrido da transformação. Portanto,
tornam-se bastante complexos os problemas do estado sólido
quando, perdendo-se o passado do processo, pretende-se estudar
pequenos segmentos da transição. Todavia, um cuidadoso estudo dos
mecanismos atuantes, ou mesmo um tratamento mais acertado das
informações que nos chegam a todo o instante do cosmo, muito
poderão contribuir para a revisão de alguns conceitos do raciocínio
clássico.

Página 24
Cristalino

Se você concordar que o que vemos ai é desordem, sendo um


fenômeno local, é de curto alcance. Necessitamos, então, conceituar
uma ordem que seja de maior alcance, capaz de suportar o recuo
dessas reações. Que ordem é essa?[2]

2 Camargo, M.U.C – Estudo de danos de radiação em um aço inoxidável austenítico tipo AISI
321 com adições de Nb, submetido a tratamentos térmicos, mecânicos e irradiações com
nêutrons rápidos – Tese de Mestrado IPEN-USP – 1979.

Página 25
Cristalino

III - Cristalofísica – Noções e Propriedades

09/04/2007 às 12:14

Introdução

Embora tenhamos abordado apenas superficialmente os conceitos


básicos do universo material do estado sólido, de posse desses,
empreenderemos “viagem” através de uma estrutura cristalina.
Escolhamos para nosso veículo o fóton. Nosso universo agora é um
conjunto de lugares ordenados ocupados pela essência universal no
seu estado energético mais fundamental, ou seja, o “vácuo”. Este
campo, como se fosse a matéria em estado potencial, em
determinadas condições, tais quais aquelas em que se experimenta a
formação de pares de defeitos, libera energia na forma material (em
estado de excitação), pela qual, e conseqüentemente, criar-se-iam
centros de interferência para o fóton viajante.

Antes de iniciarmos os comentários acerca das “constatações” de


nossa viagem, seria interessante lembrar como o tempo parece fluir
mais rapidamente quanto menor for a entidade física e, em
contraposição, mais lentamente quanto maior for essa entidade.
Assim, seria razoável esperar que para pequenas entidades, o
fenômeno de aniquilação ou de relaxação do estado material
ocorresse em intervalos de tempo relativamente mais curtos,
tornando-se o evento observável pelas entidades superiores. Por
outro lado, deve-se atentar para a fundamental diferença entre os
processos de aniquilação e de degradação dos estados materiais.
Enquanto o primeiro segue uma lei de conservação extrínseca à
entidade, o segundo segue uma lei de conservação intrínseca à
própria função existencial da entidade material.

Página 26
Cristalino

A teoria de Dirac já foi, de certa forma, comprovada. Segundo a


mesma, o Universo seria constituído de duas metades; isto é, de um
lado matéria ou estados de energia positivos e, de outro lado,
antimatéria ou estados de energia negativa. Em inúmeras
experiências onde se produziram antipartículas, pode-se observar a
sua aniquilação com seus pares respectivos. Constatou-se que em
condições favoráveis, uma partícula ao encontrar o seu anti, para
uma determinada faixa de energia, segue-se um processo de
aniquilação que tem como produto final a emissão de fótons. Dirac
propôs ainda ser contínuo o lado de energia negativa, enquanto o de
energia positiva discretizado. O fato de toda a matéria poder
converter-se em luz e vice-versa, somado à virtude do fóton não ter
anti correspondente, deixa muitas indagações sobre a natureza geral
de todo o observável. Por essa razão escolhemos o fóton para nossa
nave.

O Modelo de Tensão de Caráter Expansivo – 1a. Parte

10/04/2007 às 10:44

1ª. Parte

Uma onda luminosa potente origina no meio que atravessa uma


pressão suficientemente grande, devido à qual o meio se densifica e,
portanto, aumenta o índice de refração do espaço local onde atua essa
radiação potente. Dessa maneira, esse trabalho considera
indescartável numa melhor explicação para o desvio da luz, previsto
por Einstein7 e mais tarde comprovado, a óptica do efeito. O modelo
puramente mecânico considera que o feixe viajante, ao interagir com
um “campo de atração gravitacional”, sofre pela ação deste um
desvio mecânico atribuído à natureza dual da luz: onda-partícula.
Acreditamos ser mais arrazoada a idéia de que sendo uma estrela
potente emissora de radiação, seja qual for a sua natureza, a pressão
exercida no meio em sua vizinhança (que só se verifica porque o

Página 27
Cristalino

meio responde com uma reação) causaria suficiente densificação do


mesmo, a qual, conseqüentemente, provocaria uma mudança local do
índice de refração desviando o feixe de luz viajante, ainda que com
uma pequena contribuição no efeito total.

Na prática, se chamamos N1 o índice de refração do meio exterior e


N2 a distorção local, ou seja, o índice de refração interno à distorção,
significará o seguinte:

· Ao sair do meio interno para o externo, o feixe sofrerá novo desvio;

· Uma fonte oculta, para observação direta, terá diferentes posições


para observadores colocados ao longo da direção radial do campo
local.

No desdobramento das idéias aqui apresentadas, a luz assume um


papel mais importante do que um simples ente físico itinerante, ou
uma simples sonda, neste semi-universo que conhecemos. A luz é o
ente físico das mutações entre dois universos que coexistem, é a
porta que descerra o oceano infinito da essência universal. Sendo
assim, este ente físico, nossa nave, só pode manifestar-se aos nossos
olhos, ou produzir os resultados da nossa observação, através de duas
maneiras nem sempre separáveis: interagindo com o seu meio de
propagação, ou assumindo o caráter dual. Sobre o caráter dual da luz,
o gênio de Einstein deixou-nos as evidências, cabendo ao
experimento ou mesmo ao acaso a comprovação de suas previsões.
Contudo, nem sempre é possível separar aquilo que reputamos como
comportamento dual da luz, da sua interação mera e simples com a
matéria. Essa interação segue vários processos conhecidos tais como
a reflexão, a refração ou, de uma maneira geral, processos de
espalhamento elástico e inelástico, onde se incluem efeitos como o
fotoelétrico. Não se pretende esgotar aqui os tópicos da física
contemporânea, tampouco reformulá-la. Pretende-se, entretanto,
discutir certas idéias que, antes de contestar, objetivam dar

Página 28
Cristalino

contribuição à conciliação de conceitos conflitantes ou, até hoje,


inconciliáveis.

Os processos de interação da luz com os meios cristalinos


classificam as estruturas, segundo a simetria, em três grandes grupos:

· Cristais de classe superior (isotrópicos), nos quais a luz se propaga


com a mesma velocidade em todas as direções. Esses cristais
apresentam uma indicatriz óptica esférica, isto é, a luz plano
polarizada encontra os mesmos índices de refração em suas direções
de propagação;

· Cristais de média classe (anisotrópicos), que apresentam como


indicatriz óptica um elipsóide biaxial. Estes cristais são uniaxiais no
que respeita à passagem da luz, isto é, apresentam o fenômeno da
birrefringência ou diferentes índices de refração ou velocidades de
propagação para a luz ortogonalmente polarizada, exceto numa única
direção chamada eixo óptico, segundo a qual as secções retas
apresentam geometria circular;

· Cristais de classe inferior (anisotrópicos), que apresentam como


indicatriz óptica um elipsóide triaxial. Sendo assim, esses cristais são
biaxiais no que respeita à passagem da luz, isto é, apresentam o
fenômeno da birrefringência em todas as direções, exceto segundo
seus dois eixos ópticos, em cujas direções o seu comportamento é o
de um meio isotrópico, tendo como secção reta da indicatriz óptica a
geometria circular.

16/04/2007 às 23:37

2ª. Parte

Existem evidências de que a luz apresenta constância na velocidade


de propagação em todas as direções no meio ao qual nos referimos

Página 29
Cristalino

como “vácuo absoluto”. De acordo como modelo que estamos


construindo, e sendo a luz o nosso observador, essa constância não é
uma propriedade da luz, mas do meio. Conseqüentemente, o que a
Física convencionou chamar de “vácuo absoluto” é o nosso
Cristalino, onde as influências de distorções locais como
manifestações materiais estejam ausentes. Quanto à simetria do
Cristalino, se cúbica ou rômbica, a propagação da luz nos revelaria
tais propriedades do meio.

Não sabemos até que ponto o desvio da luz nas vizinhanças de uma
grande massa estelar, previsto por Einstein, pode ser interpretado
como mera atração gravitacional, mesmo considerando que a própria
gravitação apareça neste modelo com uma nova roupagem. Justifica-
se essa atração da luz por uma grande massa estelar a partir da
dualidade; entretanto, entendemos ser exatamente esse
comportamento dual da luz que está a exigir um reinterpretação do
modelo simplificado de atração gravitacional. No modelo do
Cristalino, onde a matéria aparece como uma distorção local, na
forma de um defeito ou aglomerado destes, o que chamamos de
campo gravitacional pode ser entendido sob dois pontos de vista,
aliás, concordantes: do ponto de vista do corpo material “ativo”, este
atua sobre o meio determinando um campo de força de caráter
expansivo; do ponto de vista do corpo material “passivo”, o meio
reage determinando ali uma zona de tensão. A matéria não causa,
mas se ajusta e se conforma às posições, simetria e movimentos de
um meio ordenado.

As tensões que se verificam, em si, são de caráter expansivo e há de


se esperar que localmente o índice de refração do meio sofra
variações em função das tensões locais. Assim, a luz que adentra a
zona de influência dessas tensões encontrará um índice de refração
diferente daquele encontrado no vácuo absoluto, sofrendo desvio.
Isto não é previsto pela hipótese de tratar-se de pura atração
gravitacional. Não se pretende aqui invalidar a hipótese da atração
gravitacional, mas como descartar a hipótese da refração já defendida

Página 30
Cristalino

em fins da década de 1910? Somente juntas essas hipóteses poderão


sustentar o caráter dual da luz na sua variação de velocidade de
propagação, seja na direção ou no módulo.

Retrato dos primórdios do nosso sistema solar: pó.


“Courtesy NASA/JPL-Caltech.”

Propriedades da Física dos Cristais

20/04/2007 às 10:45

Já em 1916, Einstein havia afirmado que a gravidade, talvez, não


fosse uma força, mas sim uma das propriedades observáveis do
próprio espaço-tempo. Indo um pouco além, especulou que o que
chamamos “matéria” é, na realidade, apenas um fenômeno local
exibido por regiões onde a energia do campo está muito concentrada.

Página 31
Cristalino

Em termos mais simples, Einstein encarava a “matéria” como uma


manifestação da energia e, assim fazendo, ousou rejeitar a idéia
tradicional de que matéria e energia são entidades separadas que
coexistem.

Entendemos que a indissociabilidade de matéria e energia, hoje um


fato plenamente aceito, tem perfeita analogia com a
indissociabilidade do defeito e o meio cristalino no qual se
manifesta. Assim como a energia só pode se manifestar através da
sua associação-interação com a matéria, o meio ordenado do espaço-
tempo-cristalino só pode manifestar-se através da sua interação com
o defeito, um fenômeno local onde, além da energia intrínseca (E =
mc2), soma-se a energia de ligação necessária para “arrancar” a
entidade de um lugar próprio da rede, mais a energia de migração
necessária para a entidade executar os saltos pelos interstícios da
rede cristalina. Portanto, o defeito no meio cristalino muito se parece
com a idéia de Einstein sobre a “matéria” como sendo um fenômeno
local exibido por regiões do espaço-tempo onde a energia está muito
concentrada. Por outro lado, se a gravidade, antes de ser uma força,
melhor seria uma das propriedades observáveis do espaço-tempo,
acreditamos ser a reação entre o cristalino e o defeito que se encontra
em seus interstícios, uma interação do tipo gravitacional que, em
qualidade, nada tem de diferente daquilo que se observa no
macrocosmo.

Dizem que Wolfgang Pauli8, um Físico que desistiu de trabalhar na


teoria do campo unificado, desabafou da seguinte forma: “O que
Deus separou, o homem não pode unir”. Com muita razão! Se a
matéria vem a ser a própria criação num universo-material-
observável, segundo a nossa analogia, essa aberração (defeito-
matéria) não pode por si própria devolver-se ao espaço ordenado de
onde se originou, a não ser através da atuação de um campo
externo. Pelo que sabemos, uma vez criado um defeito no meio
cristalino, e isto só é possível pela atuação de um campo externo que
forneça a energia de limiar, somente outra contribuição externa

Página 32
Cristalino

poderá devolvê-lo à estrutura de origem. Certamente, “o que Deus


separou o homem não pode unir”.

Sabe-se que a teoria do campo unificado de Einstein tinha em seu


cerne um conjunto de 16 equações extremamente complexas,
representadas por um tipo de notação matemática avançada na época,
conhecida como notação tensorial. Dez dessas equações
representavam a gravitação e outras seis o eletromagnetismo. Dessas
equações é possível extrair uma conclusão interessante: um campo
gravitacional puro pode existir sem um campo eletromagnético; mas,
um campo eletromagnético puro não pode existir na ausência de um
campo gravitacional.

Se o campo gravitacional é a manifestação observável do espaço


ordenado (espaço-tempo ou cristalino) sobre o defeito (matéria), isto
será sempre verdade. E mais, a grandeza tempo (quarta dimensão ou
uma das dimensões de um outro espaço) deverá sofrer variações
relativas para diferentes zonas de influência da distorção local
provocada pela presença do defeito; isto é, ao afastar-se do núcleo
da distorção local, ou seja, do centro material do defeito, o
observador deverá sentir o tempo fluir cada vez mais lentamente até
que, fora da zona de influência do defeito, este lhe pareça não mais
fluir. Então, o tempo, como a matéria, é um fenômeno local. Aqui
está o paradoxo dos gêmeos proposto de uma forma diferente. Nos
cálculos da teoria da relatividade especial, a viagem hipotética leva
em conta apenas a velocidade e o tempo. Aqui, levamos em conta a
velocidade, o tempo e o espaço percorrido; isto é, a velocidade e o
tempo necessários para produzir o paradoxo resultam num espaço
percorrido mais que suficiente para trazer o itinerante para fora da
zona de influência em que permanece o seu irmão gêmeo.

Propriedades Físicas dos Cristais Descritas com Tensores de


2ª.Ordem

24/04/2007 às 15:04

Página 33
Cristalino

Permeabilidade magnética e dielétrica; impermeabilidade e


susceptibilidade; eletrocondutibilidade e resistividade; condutividade
e expansão térmica; efeito piezocalorífico etc.; descrevem-se nos
cristais mediante o tensor de segunda ordem. Num sistema de
coordenadas ortogonal, a lei diferencial de Ohm4 para os cristais
será:

J1 = S11E1 + S12E2 + S13E3


J2 = S21E1 + S22E2 + S23E3
J3 = S31E1 + S32E2 + S33E3

Antes de prosseguirmos, vejamos dois princípios fundamentais da


cristalofísica:

Página 34
Cristalino

Princípio de Neumann9

A simetria das propriedades físicas de um cristal (entende-se como


simetria da superfície tensorial mediante a qual se descreve a dita
propriedade) está ligada com o seu grupo pontual de simetria. Esta
relação se estabelece pela lei fundamental da cristalofísica conhecida
como princípio de Neumann:

“O grupo de simetria de qualquer propriedade física do cristal deve


incluir um grupo pontual de simetria do cristal”.

Segundo o princípio de Neumann, a propriedade física do cristal


deve ter todos os elementos da simetria do cristal.

Princípio de Curie10

Se no cristal atua um agente físico que possui uma simetria


determinada, a simetria deste cristal situado no campo de ação do
agente varia, e pode ser determinada por meio do princípio de
superposição de simetrias, chamado princípio de Curie:

“O cristal que se encontra sob ação de um agente exterior possuirá


aqueles elementos de simetria que são comuns tanto para o cristal
na ausência do agente, como para o agente na ausência do cristal”.

Para aclarar a simetria do fenômeno resultante, tem importância não


só a simetria dos fenômenos em interação como também a disposição
mútua de seus elementos de simetria. Usando a regra de soma de
Einstein, podemos escrever a lei de Ohm como:

Ji = Sij Ej (i,j = 1,2,3)

Os tensores de segunda ordem que descrevem as propriedades acima


são simétricos, o que reduz o número de componentes independentes
de 9 para 6.

Página 35
Cristalino

Superfície Característica de um Tensor Simétrico de Segunda


Ordem

As propriedades em questão, bem como a sua anisotropia e


afinidades com a simetria do cristal, podem ser bem compreendidas
através da interpretação geométrica dos tensores de segunda ordem
como superfícies de segundo grau, cuja equação geral é:

S11x12+S22x22+S33x32+2S32x3x2+2S13x1x3+2S12x1x2=1

A equação acima pode ser escrita dessa forma em virtude da simetria


do tensor (Sij = Sji). Esta poderia ser, por exemplo, a equação da
superfície característica da eletrocondutibilidade específica do
cristal.

As superfícies de segunda ordem possuem eixos principais nas três


direções perpendiculares entre si. Se tomarmos os eixos principais
como eixos coordenados, a equação acima se torna:

S11x12+ S22x22 + S33x32 = 1

O tensor de segunda ordem no sistema de coordenadas principal terá


uma forma diagonal:

S11 0 0 S1 0 0
0 S22 0 ou 0 S2 0
0 0 S33 0 0 S3

Os valores S1, S2 e S3são as componentes principais do tensor de


eletrocondutibilidade específica. No sistema principal de
coordenadas, as equações para a lei de Ohm são simplificadas:

J1 = S1E1 ; J2 = S2 E2 ; J3 = S3E3

Página 36
Cristalino

Se o campo elétrico está aplicado na direção x1, e E2 = E3 = 0, então


J2 = J3 = 0 e J = E. As mesmas considerações são válidas para x2 e x3.
Por isso, dizemos que os eixos principais nos cristais são as direções
ao longo das quais os vetores de ação e reação coincidem na direção.

Propriedades Geométricas

A magnitude do raio vetor da superfície característica r em uma


direção qualquer está relacionada com a magnitude que caracteriza a
propriedade correspondente na mesma direção, por exemplo a
propriedade S, com a correlação:

S = 1 / r2

Se a propriedade dada faz parte da equação de interação vetor-


vetorial (ação vetorial, reação vetorial), como isso acontece na lei de
Ohm, nesse caso a superfície característica da propriedade nos dá a
possibilidade de determinar a direção do vetor de reação segundo a
direção do vetor de ação e vice-versa.

A magnitude de uma propriedade numa dada direção, como


acabamos de ver, está relacionada com o inverso do quadrado da
distância (raio vetor).

Propriedades Ópticas de Cristais

1ª. Parte

O caráter da passagem da luz através de uma substância está


determinado por suas propriedades dielétricas nas freqüências
ópticas. O índice de refração da luz n = (μ)1/2 = c/v , onde  é a
permeabilidade dielétrica relativa do meio; c é a velocidade da luz no
vácuo; v é a velocidade da luz no meio. Para os meios dielétricos
transparentes, a permeabilidade magnética μ = 1, portanto, n = ()1/2.

Página 37
Cristalino

Para os meios isotrópicos, a permeabilidade dielétrica  e, portanto, o


coeficiente de refração não depende da direção. O vetor de indução
elétrica dado por Δ = E e o vetor de intensidade do campo E
coincidem na direção.

Para os meios anisotrópicos, Δ i= ij Ej , onde ij são componentes do


tensor de segunda ordem. A permeabilidade dielétrica e o coeficiente
de refração do meio anisotrópico dependem substancialmente da
direção. No caso geral, os vetores Δ e E não coincidem na direção.

Das equações de Maxwell11 se depreendem várias peculiaridades da


passagem da luz através dos meios opticamente anisotrópicos. No
caso geral, pelo cristal se propagam em qualquer direção duas ondas
que são plano-polarizadas nas direções mutuamente perpendiculares
e têm velocidades distintas. Respectivamente, são diferentes,
também, seus índices de refração. Esse fenômeno leva o nome de
birrefringência (ou dupla refração). Para representar a dependência
dos índices de refração para as ondas que se propagam através do
cristal, em função de sua normal comum de onda, construir-se-á uma
superfície denominada indicatriz óptica. Suponhamos que x1, x2 e x3
formam um sistema de coordenadas no qual o tensor de
permeabilidade dielétrica tem um aspecto diagonal, ou seja:

1 0 0
ij = 0 2 0
0 0 3

Isto significa que ao longo das direções dos eixos de coordenadas x1,
x2 e x3 , as direções dos vetores Δ e E coincidem. Para descrever as
propriedades ópticas dos cristais é conveniente examinar o tensor de
impermeabilidade magnética ηij, inverso do tensor ij.

A equação da superfície característica do tensor ηij se escreverá:

Página 38
Cristalino

η1x12 + η2x22 + η3x32 = 1,

onde

η1 = 1 / 1, η2 = 1 / 2, η3 = 1 / 3

A equação acima pode ser escrita de um outro modo:

x12 / 1 + x22 / 2 + x32 / 3 = 1

Os coeficientes de refração na direção dos eixos de coordenadas se


chamam coeficientes de refração principais; seus valores são
encontrados segundo equações do tipo: n1 = (1)1/2, n2= (2)1/2 e n3 =
(3)1/2.

A equação da superfície característica pode ainda ser escrita:

x12 / n12 + x22 / n22 + x32 / n32 = 1

A equação obtida é a equação da superfície chamada indicatriz


óptica. No caso geral, é um elipsóide triaxial.

01/05/2007 às 12:27

2ª. Parte

A indicatriz óptica tem uma propriedade importante que é a seguinte:


se do seu centro traçarmos uma reta OP, ao longo da direção em que
se propaga a frente de onda, a secção central perpendicular a essa
direção será uma elipse; os índices de refração de ondas que se
propagam ao longo de OP se determinarão pelos comprimentos dos
semi-eixos desta elipse, e as direções dos semi-eixos AO e OB são,
respectivamente, as direções de oscilação do vetor Δ para cada uma
das ondas.

Página 39
Cristalino

O tensor de permeabilidade dielétrica e o tensor de impermeabilidade


dielétrica escritos na forma diagonal podem conter três, duas ou uma
componente independente para os cristais de categorias inferior e
superior. Por isso, a indicatriz óptica de cristais triclínicos,
monoclínicos e rômbicos será um elipsóide triaxial; a de cristais
trigonais, hexagonais e tetragonais, um elipsóide de revolução; e a
dos cristais cúbicos uma esfera. A figura abaixo ilustra essas
variações. Surpresa? É familiar, não é?

Se a secção transversal da indicatriz óptica tem a forma de um


círculo, isto significa que, na direção perpendicular a esta secção, as
velocidades de fase de duas ondas luminosas coincidem, isto é, nesta

Página 40
Cristalino

direção não há birrefringência. Essa direção se chama eixo óptico do


cristal. Nos cristais de categoria média, a indicatriz óptica tem uma
secção central circular e, por conseguinte, um eixo óptico que
coincide na direção com o eixo de simetria de ordem superior. Os
cristais dos sistemas trigonal, tetragonal e hexagonal são opticamente
uniaxiais. O elipsóide triaxial tem duas secções circulares e,
conseqüentemente, dois eixos ópticos. Os cristais de categoria
inferior são opticamente biaxiais. O índice maior de refração dos
cristais biaxiais é designado por ng, o menor por np e o médio por
nm. Os eixos ópticos estão no plano em que se encontram os eixos
ng e np da indicatriz. Esse plano se chama plano de eixos ópticos. O
ângulo agudo entre os eixos ópticos se denomina ângulo de eixos
ópticos e se designa com 2V.

Nos cristais uniaxiais, qualquer secção central que representa uma


elipse tem como um dos semi-eixos o raio da secção circular. Isto
significa que em qualquer direção do cristal uniaxial se propagam
duas ondas, porém, somente para uma delas, “extraordinária”, o
coeficiente de refração depende da direção. Para a outra, “ordinária”,
o coeficiente de refração no não depende da direção. O índice maior
(ou menor) de refração da onda extraordinária é designado por ne. Se
ne for maior que no, o cristal se chama opticamente positivo. Caso
contrário denomina-se opticamente negativo. A diferença entre ne e
no determina a magnitude da birrefringência do cristal dada por dn =
ne – no, sendo uma das constantes ópticas fundamentais do cristal.

Em cristais biaxiais as ondas são extraordinárias; o coeficiente de


refração e a velocidade de propagação de cada uma delas dependem
da direção. Um cristal biaxial se considera positivo se ng – nm > ng
– np, isto é, ng serve de bissetriz do ângulo agudo 2V. Os cristais
biaxiais, nos quais a bissetriz do ângulo agudo é np, são opticamente
negativos.

A indicatriz óptica de cristais cúbicos tem a forma de esfera. Todas


as suas secções centrais são circunferenciais. Nos cristais cúbicos

Página 41
Cristalino

não há birrefringência. No que respeita à passagem da luz, os cristais


cúbicos se comportam como corpos isotrópicos.

Tensões e Deformações em Cristais, Expansão Térmica

05/05/2007 às 10:32

O estado de tensão homogêneo de um corpo, em certo ponto, pode


ser representado por nove componentes do tensor de tensões em um
sistema de coordenadas escolhido arbitrariamente, ou seja:

t11 t12 t13


tij = t21 t22 t23
t31 t32 t33

Neste caso são aceitas as seguintes designações: o primeiro índice da


componente do tensor de tensões se refere à direção da força; o
segundo se refere à direção da normal à área elementar em que atua a
força.

Portanto, tii , isto é, as componentes normais ou diagonais do tensor


de tensão, são tensões de tração (compressão) na direção dos eixos
coordenados; tij (j  i) são tensões de deslizamento (deslocamento)
ou tangenciais, que se encontram no plano daquelas áreas
elementares nas quais atuam. Da condição de equilíbrio estático de
momentos, com relação aos eixos de coordenadas x1, x2 e x3, se
depreende a igualdade das componentes não diagonais do tensor (tij):

t12 = t21, t23 = t32, t31 = t13.

Portanto, o estado de tensão se descreve completamente com seis


componentes independentes do tensor de tensões: três normais t 11,
t22, t33 ; e três tangenciais t12, t13, t23.

Página 42
Cristalino

Eixos Principais do Tensor de Tensões e Superfícies de Tensões

08/05/2007 às 13:11

O tensor de tensões é simétrico, podendo ser reduzido aos eixos


principais com t1, t2 e t3 sendo chamadas tensões principais.

t1 0 0
0 t2 0
0 0 t3

Os eixos principais do tensor têm uma peculiaridade: nas áreas


perpendiculares a eles, as componentes da tensão tangencial estão
ausentes. A superfície característica de segunda ordem que
corresponde ao tensor tij chama-se superfície de tensões. Sua
equação tem a forma

tij xixj = 1 (1)

ou, ao passar para os eixos principais:

t1x12 + t2 x22 + t3 x32 = 1 (2)

Posto que cada uma das tensões pode ser positiva ou negativa, a
superfície de tensões é um elipsóide ou hiperbolóide efetivo ou
fictício.

No caso particular em que t1 = t2 = t3, a superfície seria esférica.


Portanto, a forma da zona de influência mecânica de um defeito no
sólido pode nos dar informações tanto sobre a simetria do defeito
como do meio. Vide princípio de Curie. No caso, estamos tentando
reintroduzir o conceito einsteniano de “espaço-tempo” como um
verdadeiro meio “cristalino”, cujas propriedades passamos a
observar conforme os conceitos aqui colocados.

Página 43
Cristalino

A direção da força resultante que atua no elemento de área dS pode


ser encontrada mediante a propriedade do raio vetor e a normal à
superfície de tensões. O comprimento do raio vetor r determina a
tensão normal t0 que atua no elemento de superfície dS. Donde,

tn = 1 / r2 (3)

A tensão resultante que atua num elemento de área, portanto, segue


uma lei do tipo inverso do quadrado da distância.

O Tensor de Tensões como Exemplo de Tensor Campestre

11/05/2007 às 18:14

O tensor de tensões é próximo, por seu sentido, à força aplicada ao


cristal. Por isso, o tensor de tensões não depende da simetria do
cristal, tendo sentido tanto para estes, como para os corpos
isotrópicos sob tensão. Para distingui-los de tensores materiais que
descrevem as propriedades físicas de cristais, e que estão vinculadas

Página 44
Cristalino

a sua simetria, semelhante tensor se chama campestre. Para


descrever a deformação de um corpo, suponhamos que, durante a
deformação, a posição de origem não mude e todos os demais pontos
têm um certo deslocamento. Se o ponto A passa a ocupar a posição
A’ e o ponto B, que se separa de A por Δx, passa a ocupar a posição
B’, então A e B terão os deslocamentos expressos por uA e uB. O
vetor u se chama vetor de deslocamento; ui = (xi’ – xi), i = 1, 2, 3; xi
são coordenadas do corpo antes da deformação, xi’ são as
coordenadas depois da deformação. Se ui = xi’ – xi = constante, Δu =
0 e as deformações estão ausentes, isto é, ocorre um translado do
corpo paralelamente a si próprio.

Deformações homogêneas são aquelas para as quais as componentes


do vetor de deslocamento são funções lineares das coordenadas. Os
valores eij não dependem da magnitude do deslocamento.

u1 = e11x1 + e12x2 + e13x3


u2 = e21x1 + e22x2 + e23x3 (4)
u3 = e31x1 + e32x2 + e33x3

Para o incremento dos deslocamentos, no caso de uma deformação


homogênea podemos escrever:

Δu1 = e11Δx1 + e12Δx2 + e13Δx3


Δu2 = e21Δx1 + e22Δx2 + e23Δx3 (5)
Δu3 = e31Δx1 + e32Δx2 + e33Δx3

As expressões acima determinam a interação vetor-vetorial e as nove


magnitudes eij constituem um tensor de segunda ordem, isto é:

e11 e12 e13


eij = dui / dxj = e21 e22 e23 (6)
e31 e32 e33

Página 45
Cristalino

O tensor (eij) se denomina tensor de pequenos deslocamentos. No


caso geral, esse tensor não é simétrico. Sempre, porém, poderá ser
representado em forma de uma soma de tensores, um simétrico e
outro antissimétrico:

eij = rij + wij ; onde rij = 1 / 2 (eij + eji) = rji (7)

Evidentemente, o tensor (rij) é simétrico e o tensor (wij) é


antissimétrico, ou seja:

wij = 1 / 2 (eij – eji) = -wji

e descreve a rotação do corpo como um todo ao redor de um eixo


fixo sem deslocar seus pontos entre si. O tensor (rij) representa um
tensor de deformação propriamente dito. A variação relativa de
volume é:

Δv / v = rii = r11 + r22 + r33 (8)

As componentes diagonais do tensor (rij): r11, r22, r33 são deformações


de compressão e tração dos elementos de comprimento unitário ao
longo dos eixos coordenados. As componentes não diagonais: r32, r31,
r12 determinam as deformações de deslocamento, sendo, por
exemplo, a magnitude 2r32 igual à variação do ângulo entre os
elementos situados antes da deformação paralelamente aos eixos x2 e
x3. As componentes r13 e r12 têm sentido análogo.

Eixos Principais do Tensor de Deformações e Superfície


Característica do Tensor de Deformações

16/05/2007 às 12:21

Posto que o tensor de tensões é simétrico, podemos reduzi-lo aos


eixos principais. Isto significa que, qualquer que seja a deformação

Página 46
Cristalino

do corpo, pode-se escolher um sistema de coordenadas tal em que a


deformação do corpo pode ser representada só por compressões e
trações em três direções perpendiculares entre si, sem deslocamentos.
A deformação pode ser representada por uma superfície
característica de deformações, cuja equação tem a forma:

rij xi xj = 1 (9)

Essa superfície pode tanto ser elipsóide como hiperbolóide, tanto


efetivo como fictício. Se a deformação é homogênea, o deslocamento
devido é dado por:

ui = rij xj (10)

A direção do vetor u e o valor de r para uma direção I qualquer dada,


podem ser encontrados mediante a propriedade do raio vetor e a
normal à superfície de deformação. A expansão em uma direção
arbitrária I se expressa por:

r = rij Ii Ij (11)

Elipsóide de Deformações

19/05/2007 às 11:21

Para imaginar mais claramente a deformação de um corpo, é


conveniente utilizar o chamado elipsóide de deformações: é uma
superfície para a qual passará a esfera de raio unitário observada em
um corpo não deformado, depois da deformação deste corpo. A
equação da esfera de raio unitário é:

x12 + x22 + x32 = 1 (12)

Página 47
Cristalino

Fixemos o raio vetor da esfera Ox , cujas coordenadas são (x1, x2,


x3). Depois da deformação do corpo descrita com o tensor

r1 0 0
0 r2 0
0 0 r3

este raio vetor se converte no vetor Ox’ com coordenadas (x1’, x2’,
x3’).

As componentes do vetor Ox’ estão relacionadas com o vetor Ox


mediante as equações:

x1’ = x1 (1 + r1)
x2’ = x2 (1 + r2) (13)
x3’ = x3 (1 + r3)

Ao sacar dessas equações os valores das componentes do vetor Ox,


substituindo da equação da esfera, vem

x1’2 / (1 + r1)2 + x2’2 / (1 + r2)2 + x3’2 / (1 + r3)2 = 1 (14)

Precisamente, esta é a equação do elipsóide de deformações. O


elipsóide de deformações demonstra de um modo muito claro a
distribuição das deformações de um corpo: por exemplo, as direções
de deformações máximas e mínimas. Chamamos a atenção, neste
momento, para as tão comuns formas elipsoidais do macrocosmo, a
saber: massas estelares, aglomerados, órbitas planetárias, campos
gravitacionais e zonas de influência em geral.

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Cristalino

Tensor de Deformações e Princípio de Neumann

22/05/2007 às 12:31

As deformações que descrevem a reação de um cristal a uma


influência exterior não são sua propriedade física. Portanto, o tensor
de deformações bem como o tensor de tensões, não estão sujeitos
ao princípio de Neumann, a exceção das deformações originadas
pela variação de temperatura (expansão térmica) de cristais.
Lembremos que a expansão térmica se dá às custas da
anarmonicidade na vibração térmica dos átomos em torno de suas
posições na rede; isto é, às custas de defeitos cujas influências
somadas resultam na deformação. Portanto, defeitos de uma
maneira geral fazem exceção à regra acima, pois, trata-se de
influência interior aos cristais.

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Cristalino

Expansão Térmica:

Variando-se uniformemente a temperatura de um cristal de ΔT, este


experimentará uma deformação homogênea descrita por:

rij = αij ΔT (15)

onde, os αij são coeficientes de expansão térmica que são


componentes do tensor simétrico de segunda ordem.

Evidentemente, existem três coeficientes principais de expansão


térmica: α1, α2, α3. As direções principais correspondentes à
deformação podem ser encontradas mediante as correlações

r1 = α1ΔT , r2 = α2ΔT , r3 = α3ΔT.

Propriedades Elásticas dos Cristais. A Lei de Hooke

25/05/2007 às 10:10

Sob ação de tensões mecânicas, os cristais experimentam


deformações. Se a magnitude da tensão é menor que o limite de
elasticidade, a deformação é reversível. Sendo tensões
suficientemente pequenas, a deformação é proporcional à magnitude
da tensão aplicada. Se ao cristal é aplicada uma tensão uniforme
arbitrária (tkl), a deformação homogênea surgida é tal que cada uma
das suas componentes rij está vinculada linearmente com todas as
componentes do tensor de tensões, isto é:

rij = sijkl tkl (i, j, k, l = 1, 2, 3) (16)

Esta expressão é a lei de Hooke na sua forma generalizada, Aqui, sijkl


são as constantes de compressibilidade elástica do cristal. No total,
há 81 coeficientes sijkl. A lei de Hooke pode ser escrita também como

Página 50
Cristalino

tij = cijkl rkl , (17)

onde os cijkl são as constantes de rigidez elástica do cristal. Os


coeficientes sijkl e cijkl formam os tensores de quarta ordem. Devido à
simetria do tensor de deformações e do tensor de tensões, as
componentes dos tensores sijkl e cijkl são simétricas com relação aos
índices i, j, k, l; isto é,

sijkl = sjikl , sijkl = sjikl (18)


sijkl = sijlk , sijkl = sijlk

As correlações acima reduzem o número de componentes para 36.


Graças à simetria de sijkl e cijkl , podemos utilizar notações matriciais.

ri = sij tj (i, j = 1, 2, 3, 4, 5 e 6) (19)


ti = cij rj (i, j = 1, 2, 3, 4, 5 e 6) (20)

A introdução da expressão matricial diminui o número de somandos


do segundo membro da equação inicial (rij = sijkl tkl), porém impõe a
introdução dos multiplicadores 2 e 4 segundo a regra seguinte:

sijkl = smn , quando m e n são iguais a 1, 2, 3


2sijkl = smn , quando m ou n são iguais a 4, 5, 6
4sijkl = smn , quando m e n são iguais a 4, 5, 6

A Energia do Cristal Deformado

28/05/2007 às 11:04

O trabalho realizado por unidade de volume, sendo pequena a


variação de deformação do cristal, se expressa por δW = ti δri.
Quando essa mudança da deformação é isométrica e reversível, δW
pode ser igualado ao crescimento da energia livre δQ , isto é,

δQ = δW = ti δri (21)

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Cristalino

Se for cumprida a lei de Hooke, a equação toma a forma:

δQ = cij rj δri (22)


donde,
δQ / δri = cij rj (23)

diferenciando em relação a rj , vem

δ / δri (δQ / δri) = cij (24)

Posto que Q é função somente do estado do corpo, que se determina


pelas componentes de deformação, a ordem de diferenciação não tem
importância, portanto,

cij = cji
e
sij = sji

Graças a essa simetria, o número de rigidezes e compressibilidades


cai de 36 para 21. Integrando a expressão diferencial acima, obtemos
que o trabalho requerido pela unidade de volume do cristal
necessário para criar a deformação ri , a chamada energia de
deformação, é igual a

1/2 cij ri rj (25)

que não deixa de ser um potencial do tipo

1/2 k x2 ,

correspondente à mola.

Página 52
Cristalino

Módulo de Young, Módulo de Deslizamento e Coeficiente


de Poisson

31/05/2007 às 9:53

Para descrever as propriedades elásticas dos meios tanto isotrópicos


como anisotrópicos, recorre-se freqüentemente às seguintes
constantes:

a- O módulo de Young E, que caracteriza as propriedades elásticas


do meio em uma direção, determina-se pela razão da tensão
mecânica nesta direção, pela magnitude da deformação na mesma
direção;

b- O coeficiente de Poisson S, que se define como a razão da


deformação da compressão transversal pela deformação da tração
longitudinal, originadas por uma tensão mecânica;

c- O módulo de deslizamento m, que se define como a razão do


esforço de deslocamento pela deformação por cisalhamento.

Superfície de Índices dos Coeficientes de Elasticidade

Posto que não se pode representar completamente as propriedades


elásticas dos cristais com uma só superfície, usa-se formar a
superfície de índices para cada coeficiente de elasticidade. Tal
superfície demonstra de um modo claro a variação deste coeficiente
em função da direção do cristal. Praticamente, é importante a
superfície que representa a variação do módulo de Young segundo a
direção. O raio vetor dessa superfície é proporcional à magnitude do
módulo de Young na direção do raio vetor.

Página 53
Cristalino

Propriedades Piezoópticas dos Cristais

04/06/2007 às 15:15

O efeito piezoóptico consiste na variação das propriedades


refringentes dos cristais sob ação das tensões mecânicas exteriores
estáticas ou variáveis (incluam-se os defeitos ou estruturas de
defeitos criados por essas). É conveniente descrever a variação dos
índices de refração com uso da indicatriz óptica. A equação da
indicatriz óptica de qualquer cristal no sistema de eixos principais x1,
x2, x3 tem a forma:

x1 / n12 + x2 / n22 + x3 / n32 = 1

ou

α1 x12 + α 2 x22 + α 3 x32 = 1

onde α 1, α 2, α3 , são as impermeabilidades dielétricas principais do


cristal na ausência de campo. O tensor (α ij) é inverso com relação ao
tensor de permeabilidade dielétrica (εij) e se chama tensor das
constantes de polarização.

Ao se sobrepor o campo das tensões mecânicas, variam a forma e a


orientação da indicatriz óptica e, no caso geral, seus novos eixos
principais não coincidem com os iniciais. No novo sistema arbitrário
de coordenadas x1’, x2’, x3’ , que tem a mesma origem do sistema
principal x1, x2, x3 , a equação da indicatriz óptica pode ser escrita:

α’11x’12 + α’22x’22 + α’33x’32 + 2 α’23x’2 x’3 + α’13x’1x’3 + 2α’12x’1 x’2


=1

As constantes de polarização α’ij relacionadas com o sistema x1’, x2’,


x3’, relacionam-se com as constantes α ij no sistema principal por:

Página 54
Cristalino

α’jk = cji cki α ii

onde os cji e cki são os cossenos diretores dos ângulos entre os eixos
do sistema arbitrário e o principal. As variações das constantes de
polarização Δαij devido à aplicação das tensões mecânicas
(deformações – efeito eletroóptico) são iguais a:

Δαij = α’ij – α ij

As variações das constantes de polarização neste caso (com exatidão


até os termos de primeira ordem) resultam serem proporcionais às
tensões mecânicas (deformações):

Δαij = ijkl tkl


Δαij = Пijklrkl

Os coeficientes ijkl e Пijkl formam o tensor de quarta ordem e se


chamam, respectivamente, constantes piezoópticas e elastoópticas.
Devido ao fato que Δαij = Δαji ; tkl = tlk (na ausência dos momentos
volumétricos), então:

ijkl = jikl
Пijkl = Пijlk

Expressão Matricial: As equações acima, na forma matricial, podem


ser escritas:

Δαm = mn tn

onde,

mn = ijkl , quando n é igual a 1, 2, 3


mn = 2ijkl , quando n é igual a 4, 5, 6

Também,

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Cristalino

Δαm = Пmn rn

onde os Пmn são os coeficientes elastoópticos adimensionais, com a


particularidade de que Пmn = Пijkl para todos os m e n. No caso geral,
mn ≠ nm e Пmn ≠ Пnm . Os coeficientes mn e Пmn estão relacionados
por meio das seguintes correlações:

mn = Пmr Crn ; Пmn = mrSrn

onde Crn e Srn são coeficientes de rigidez elástica e compressibilidade


elástica, respectivamente.[3]

3 N.Perelomova, M. Taguieva – Problemas de Cristalofísica – Ed. Mir, 1975 – Moscou –


URSS.

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Cristalino

IV - Dinâmica de Rede

06/06/2007 às 13:56

Seja us,l o vetor de deslocamento de um átomo em torno de sua


posição de equilíbrio numa rede cristalina, com s = 1,2,…,n sendo o
índice dos átomos dentro da célula em l. Aqui, a expressão da
energia potencial será:

V = Vo + ΔV({ūs,l}) (26)

Considerando pequenos deslocamentos em torno da posição de


equilíbrio, o segundo membro da equação do potencial acima,
desenvolvido em série de Fourier, dará a seguinte expressão para o
potencial:

V = Vo + Σ ujs,l dV + 1 Σ Σ ujs,l uj’s’,l’ d2V +… (27)


j
s,l du s,l 2 s,l s’,l’ du s,lduj’s’,l’
j

j us,l=0 j j’

Na posição de equilíbrio a derivada primeira se anula. A energia


cinética, então, será:

Ec = Σ 1 ms ůjs,l2 (28 )
s,l 2
j

Retomando a expansão em série em (27), os termos de ordem


superior serão desprezados. Por enquanto, e como a primeira
derivada é nula, resta-nos o termo quadrático. Assim, chamamos essa
aproximação de harmônica, pois, a energia potencial é expressa por
um termo quadrático como em (25). Adotemos a notação:

Página 57
Cristalino

d2V = G jj’s,l;s’l’ (29)


dujs,lduj’s’,l’

Então,

V = 1 Σ Σ ujs,l uj’s’,l’ G jj’s,l;s’l’ = 1 Σ Σ ūjs,l Ĝ jj’s,l;s’l’ ūj’s’,l’ (30)


2 s,l s’,l’ 2 s,l s’,l’
j j’ j j’

e,

Fjs,l = - dV = - Σ G jj’s,l;s’l’ uj’s’,l’ (31)


dujs,l s’,l’
j’

Assim,

-Gjj’s,l;s’l’ =componente j da força sobre o átomo (s,l) devido a um


deslocamento unitário do átomo (s’,l’) na direção j’

Consideremos o átomo (s,l). Para o tipo de aproximação que estamos


usando, F = m.a = -kx, isto é;

ms ǖs,l =- Σ Ğs,l;s’l’ūs’,l’(32)
s’,l’

Para essa equação diferencial, procuremos soluções do tipo

ūs,l(t)=ūs,leiωt, donde ǖs,l(t)=-ω2ūs,l

Substituindo,
Σ Ğs,l;s’l’ūs’,l’=msω2ūs,l(33)
s’,l’

Da condição de periodicidade, através do operador de translação

Página 58
Cristalino

Ť(lo)Ğs,l;s’l’=Ğs,l+lo;s’l’+lo=Ğs,l;s’l’=Ğs,s’(h)(34)

Portanto, Ğ só depende de l’-l = h

ūs,l =Ť(lo)ūs,o=eiqlūs,o(35)

Desta última, vê-se que os átomos vibram com mesma freqüência e


amplitude, diferindo por um fator de fase dado por eiql.

Então,

ūs,l(t)=ei(ql–ωt)ūs,o(36)

Façamos ūs,o = Ūs, q

Portanto, fazendo as substituições em (33) teremos

msω2eiqlŪs,q= Σ Ğs,s’(h) Ūs’,qeiq(l+h)


s’,h

Ou,

msω2Ūs,q= Σ Ğs,s’(h) Ūs’,qeiqh=


s’,h

= Σ (ΣeiqhĞs,s’(h))Ūs’,q= Σ řss’(q)Ūs’,q(37)
s’ h s’
__________
=řss’(q)

Donde,

Página 59
Cristalino

Σ {řss’(q)-msω2δss’Ĩ}.Ūs’,q=0(38)
s’

Tínhamos no início 3nN equações, onde N = no de Avogadro. Agora,


com s = 1,2,3,…,n, em virtude do δss’ , temos que resolver 3n
equações.

1 0 0
Ĩ = 0 1 0
0 0 1

Σ (ř jj’ss’(q)-msω2δss’δjj’ ).Ūj’s’,q=0(39)
s’,j’

Como essas 3n equações são lineares e homogêneas, para se ter


soluções

det{ř jj’ss’(q)-msω2δss’δjj’}=0(40)

A Equação da Dinâmica

10/06/2007 às 20:25

Considerando uma rede cristalina de 1(um) átomo por célula, os


índices s, s’ tornam-se dispensáveis. A generalização dos resultados
finais é imediata. A equação da dinâmica em (39) pode ser reescrita

ř(q).Ūq=mω2Ūq(41)
Isto irá gerar

a-) 3 autovetores Ūqα (α=1,2,3). Os módulos dos Ūqα são arbitrários


mas suas direções (polarizações) são bem definidas:

Página 60
Cristalino

ЄqαŪqα(42)
Uqα

Como são autovetores de uma matriz simétrica, são ortogonais e

Єqα.Єqβ=δαβ(43)

Em casos particulares, um dos Є é paralelo a q (modo longitudinal) e


dois são perpendiculares a q (modos transversais).

b-) 3 autovalores m ω2 → ωα(q) (α=1,2,3). Se apenas um modo


normal (q,α) estiver presente, o movimento do átomo da célula l será:

ūl(t)=eiqlŪqα(t)=eiqlЄqαUqα(t)(44)

Onde, Uqα(t)=Uqα(0)e-iωα(q)t

Em geral, porém, haverá uma superposição de modos, isto é,

ūl =ΣΣ=ЄqαUqαeiql(45)
αq

Como ūl é real, devemos ter U-q = Uq

A Hamiltoniana Clássica

13/06/2007 às 11:16

A energia total no sólido monoatômico é:

Ec+V=1mΣ│ůl│2+1ΣΣūlĞ(h)ūl+h(46)
2 l 2lh

Página 61
Cristalino

O termo V acopla todos os átomos entre si.

Mediante uma transformação de coordenadas atômicas para


coordenadas normais, podemos escrever a energia total como uma
soma sobre osciladores independentes. As novas coordenadas são as
amplitudes Uqα (que são os módulos dos vetores de deslocamento),
que não se referem a nenhum átomo em particular, mas a um modo
normal.

a-) A Energia Cinética

│ůl│2=ůl·ůl=(ΣΣЄqαŮqαeiql)·(Σ Σ Єq’βŮq’βeiq’l)
αq βq’

=Σ Σ ei (q+q’)lΣΣŮqα·Ůq’βЄqα·Єq’β
qq’ αβ δαβ

Então, usando (43), vem

=ΣΣ Σ ei (q+q’)lŮqα·Ůq’α(47)
αqq’

Somando sobre os l e usando o resultado

Σeiql=Nδq,0(48 )
l

Vem,

Σ│ůl│2=ΣΣ Σ Ůqα·Ůq’αΣei (q+q’)l=NΣΣŮqα·Ů-qα(49)


l α q q’ l αq

Donde,

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Cristalino

Ec=1mNΣΣŮqα·Ů-qα(50)
2 αq

b-) A Energia Potencial

V=1ΣΣūlĞ(h)ūl+h=
2lh

=1ΣΣ(ΣΣЄqαUqαeiql)·(Σ Σ Єq’βUq’βeiq’(l+h))
2 l h αq βq’

=1Σ Σ Σei (q+q’)lΣΣUqαЄqα·(ΣĞ(h)eiq’h))Uq’βЄq’β


2qq’ l αβ h
Nδq ,-q ř(q’)

=1NΣΣΣUqαЄqα· ř (-q) · U-qβЄ-qβ


2 q αβ
mωβ(-q)2U-qβЄ-qβ

Através de (41) e (43), vem,

=1NΣΣUqαmωα(-q)2U-qα(51)
2 qα

Rearranjando (51),

V=1NmΣΣωα(-q)2 UqαU-qα(52)
2 qα

Com ωα(-q)=ωα(q).

Define-se a coordenada normal como sendo Qqα =√ N.Uqα;assim,

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Cristalino

Ec=mΣΣQqα·Q-qα(53)
2 αq
e,

V=mΣΣωα(q)2QqαQ-qα(54)
2 qα

A partir da Lagrangiana L = Ec–V , obtém-se o momento


canonicamente conjugado a Qqα:

Pqα= dL =mQ-qα(55)
dQ+qα

A hamiltoniana

H= Σ Pqα Q+qα-L
α,q

Fica,

H= Σ ( 1 PqαP-qα+mωα(q)2QqαQ-qα)
α,q 2m 2

= Σ Hα,q(56)
α,q

Onde,

H α,q= 1 PqαP-qα+mωα(q)2QqαQ-qα
2m m

Portanto, chegamos a uma soma de hamiltonianas independentes.

Página 64
Cristalino

O Modelo Vibracional Coletivo

22/06/2007 às 5:10

Este modelo baseia-se na analogia da célula com uma gota líquida. A


determinação do momento no movimento dos átomos em torno de
suas posições de equilíbrio, pelo princípio de Heisenberg, deixa-nos
total incerteza em suas posições. Resulta que, mesmo no caso do
sólido monoatômico, tal analogia com uma gota líquida consiste de
uma distribuição de densidade em torno da posição de equilíbrio,
como uma verdadeira esfera de influência do defeito. Estamos
considerando o átomo fora de sua posição de equilíbrio como sendo
um par lacuna-intersticial associado.

Vibrações em Mecânica Quântica

O conceito clássico correspondente à célula vibrando, é claro, não


poderá ser dado por seus auto-estados, já que, por definição, os auto-
estados são estacionários. Ainda que seja dado ao estado
fundamental sua evolução com o tempo

Ψ0(t) = Ψ0e-iω0t/ћ (57)

sua distribuição de densidade,

ρ0(r) = <Ψ0(t) ‫׀‬ Σ δ(r-rs) ‫׀‬ Ψ1(t)> (58 )


s=1…n

é estática. Aqui, s=1,2,3…n é o índice do átomo na célula.

Página 65
Cristalino

Para que se estabeleça uma correspondência clássica para uma


densidade oscilante, devemos examinar uma descrição dependente
do tempo. Consideremos a função

Ψ(t) = Ψe-iω0t/ћ + ε Ψxe-iωxt/ћ (59)

onde ε é a amplitude de oscilação, infinitesimal, e Ψx é um auto-


estado excitado da célula. A distribuição de densidade para esta
função de onda dependente do tempo, diferente daquela para o
estado estacionário, oscila harmonicamente sobre sua distribuição do
estado fundamental:

ρ(r,t) = <Ψ(t) ‫׀‬Σ δ(r-rs) ‫ ׀‬Ψ(t)> =


s=1…n
= ρ0(r) + 2εcosωtρ0x(r) + 0(ε2) (60)

com ρ0x(r) sendo a densidade de transição para o auto-estado


excitado

ρ0x(r) = <Ψ0 ‫׀‬ Σ δ(r-rs) ‫׀‬ Ψk> (61)


s=1…n

Com Ψ(t) dependendo do tempo, vemos que o movimento não é


amortecido, ou seja, ele não pode perder energia para nenhum outro
modo e, portanto, é bem descrito como um modo normal de
oscilação.

O que descrevemos foi a correspondência clássica para vibrações


harmônicas no limite de pequena amplitude. Note-se que no limite de
pequena amplitude não há implicação de que a hamiltoniana é
harmônica.

Página 66
Cristalino

No modelo coletivo, todavia, quando este resultado é extrapolado


para amplitudes maiores, para fornecer um espectro completo de
níveis de energia, a hamiltoniana harmônica é assumida. Com isso,
fica estabelecido que vibrações de densidade existem tanto quanto
estados excitados. Por outro lado, se considerarmos os átomos dentro
da célula indistinguíveis, qualquer modo corresponderá ao efeito
soma de todos os átomos e poderia ser satisfatoriamente descrito
como “coletivo”.

Vibrações na Forma ou Esfera de Influência

25/06/2007 às 14:26

Por analogia com a gota líquida, suponhamos que a célula possa


suportar oscilações na forma. A forma de uma gota líquida, sendo
de densidade constante em toda a sua extensão, é definida pela
especificação do raio r(θ) como função do ângulo. Por sua vez, r(θ) é
caracterizado pelo conjunto de parâmetros de deformação (vetores de
deslocamento) ūα,q segundo a expansão do multipolo

r(θ) = r0 { 1 + Σα,qūαq* Ψαq(θ) } + 0(u2) (62)

com u-q = uq*.

Agora, diferentemente da gota líquida, a densidade da célula não é


constante em toda a sua extensão. Mas, isto não importa. O que
interessa é que a densidade mantém a sua forma radial conforme
oscila. Assumamos que ela o faz para os chamados estados coletivos.
A expressão para r(θ) acima aplica-se , então, para cada superfície de
equi-densidade. Tais modos de oscilação são frequentemente
relacionados a modos de conservação de volume ou fluxo

Página 67
Cristalino

irrotacional. Outros modos são naturalmente possíveis, mas


requerem uma parametrização diferente.

A hamiltoniana descrevendo oscilações de pequena amplitude nestes


modos

H = 1 Σα,q ( ‫׀‬ Qαq ‫׀‬ 2 + mωα ‫׀‬ Qq α ‫׀‬ 2 (63)


2 (q)2

que é apenas a equação (56) reescrita, tem a bem conhecida solução


clássica:

Qαq = ε αq cosωα (q)t ;

E = Σα,q 1 ‫׀‬ ε αq ‫׀‬ 2 ωqα 2 m (64)


2

O movimento é quantizado com a introdução das coordenadas do


momento em (55) e exigindo que:

[ Qαq,Pαq ] = iћ ou

[ Qαq,Pβq’ ] = iћδα,βδq,q’ (65)

Seguindo o método usual para solução do problema do oscilador


harmônico, fazemos a transformação para os operadores de fônons.

Página 68
Cristalino

a+α,q = ( ωαqm )1/2 ( Qα-q - i Pαq )


2ћ ωαqm

aα,q = ( ωαqm )1/2 ( Qαq + i Pα-q ) (66)


2ћ ωα qm

Pode ser imediatamente verificado que esses operadores obedecem


os comutadores

[ aα,q,a+α,q ] = 1

ou

[ aα,q,a+α,q ] = δα,βδq,q’ (67)

Em termos dos operadores de fônons, o hamiltoniano coletivo torna-


se

Hc = Σα,q ћωα (q) [ a+α,q.aα,q + 1 ] (68 )


2

Aqui, temos o problema essencialmente resolvido. A função de onda


do estado fundamental Φ0(Q) é definida por

aα,qΦ0(Q) = 0 (69)

das equações do movimento.

[ H,a+α,q ] = ћωα (q)a+α,q (70)

para todo o α,q.

Página 69
Cristalino

Segue que para cada α, uma banda de estados excitados pode ser
gerada do estado fundamental, por sucessiva aplicação do operador
de criação a+α,q.

Os níveis de energia serão dados por

E = Σα,q ћωα (q) [ nα,q + 1 ] (71)


2

Dizemos que há nα,q “quantas” de energia ou fônons no modo (q,α).


No estado fundamental, não há nenhum fônon (nα,q=0), mas E≠0:
energia do ponto zero.

O operador a+α,q (aα,q) aumenta (diminui) de ћωα (q) a energia do


modo de vibração com o vetor de onda q e polarização α; ou,
abreviadamente, cria (ou destrói) um fônon no modo (q,α).

Coordenadas Normais no Sistema Quântico

27/06/2007 às 14:41

De acordo com o princípio da correspondência, é sempre possível


recuperar as equações clássicas do movimento da mecânica
quântica, contanto que cada variável clássica tenha sido substituída
pelo valor esperado do correspondente operador quântico.

Consideremos o estado estacionário de n-fônon ‫׀‬n>, e admitamos a


variável Q deslocada de uma distância є no instante t=0.

‫׀‬Ψn(t=0)> = exp ( -i є^p ) ‫׀‬n> =


ћ

Página 70
Cristalino

= exp { є ( mω ) 1/2 (â+-â) } ‫׀‬n> (72)


A omissão dos índices α e q visou simplicidade de notação, e os


operadores correspondentes às coordenadas P e Q serão ^P e ^Q,
assim como â+ e â. O valor de ^P substituído acima, foi sacado das
equações (66), onde foram definidos â+ e â. A equação no tempo
desta função de onda segue a equação Schrödinger do movimento.

[ H,â+(t) ] = iћ δ â+(t) = ћωâ+(t) (73)


δt

que tem solução

â+(t) = â+e-iωt (74)

Assim,

‫׀‬Ψn(t)> = e-(i/ћ)ωnt exp { є ( mω )1/2 ( â+e-iωt-âeiωt ) } ‫׀‬n> (75)


Dessa maneira, a função de onda tem todas as propriedades clássicas


exigidas:

<^Q> = єcosωt

<^P> = - mωєsenωt

<H> = ωn + 1 є2mω2 (76)


2

Página 71
Cristalino

Para o oscilador puro considerado aqui, não há limite para a


amplitude є. Na prática, todavia, a maioria dos sistemas tornam-se
anarmônicos para grandes amplitudes de oscilação. Mostraremos
agora que, para uma amplitude infinitesimal, qualquer hamiltoniana
tem as propriedades clássicas correspondentes de um oscilador
harmônico.

Para qualquer hamiltoniana é possível definir os operadores de


excitação e de desexcitação, âα+ e âα, tal que

âα+|0> = ‫׀‬α>

âα‫׀‬α> = |0>

âα|0> = 0 (77)

Além disso, esses operadores obedecem equações do movimento do


tipo do oscilador harmônico

[ H,âα+ ] |0> = ћωαâα+ |0>

[ H,âα ] |0> = -ћωαâα |0>

[ âα,âα+ ] |0> = |0> (78 )

As coordenadas podem também ser definidas como

^Qα = ( ћ ) 1/2 (âα++âα)


2 mαωα

^Pα = ( ћ mαωα ) 1/2 (âα+-âα) (79)


2

Página 72
Cristalino

por analogia com as expressões que definem âα+ e âα, com uma
escolha arbitrária do parâmetro de massa. Se gerarmos agora a
função de onda dependente do tempo

‫׀‬Ψ(t)> = e-iω0t/ћ exp { є ( mαωα )1/2 ( âα+e-iωt-âαeiωt ) } |0> (80)


Então, em virtude das relações acima, obtemos novamente as


relações clássicas

<^Q> = єcosωαt + 0(є2)

<^P> = - mαωαєsenωαt + 0(є2)

<H> = ω0 + 1 є2mαωα2 + 0(є3) (81)


2

Enfatizamos que essas relações são válidas para qualquer


hamiltoniana. A diferença é que, para a hamiltoniana de um oscilador
não harmônico, elas são válidas somente para indicação da ordem de
amplitude є, que deve conseqüentemente ser infinitesimal. É
significativo, portanto, descrever ^Pα e ^Qα como coordenadas
normais e as correspondentes oscilações como modos normais.
Preferimos, todavia, descreve-las como pseudo-coordenadas uma vez
que, como os operadores âα+ e âα, elas em geral obedecem às relações
de comutação do oscilador somente quando operando sobre o estado
fundamental:

[ ^Qα,^Pk ] |0> = δkαiћ |0> (82)

Página 73
Cristalino

A Contribuição Anarmônica

30/06/2007 às 10:20

O truncamento da expressão do potencial no termo de grau 2 feito


em (27) significa uma aproximação harmônica que deixa a desejar
quando fenômenos como a dilatação dos corpos necessitam ser
explicados. Para simplicidade de notação, reescrevamos a
hamiltoniana da seguinte forma:

H = p2 + mω2 (x-xo)2 - α(x-xo)3 (83)


2m 2

onde (x-x0)=y=variação da distância interatômica e -α(x-xo)3=V é o


nosso potencial de perturbação. É sabido que na aproximação
harmônica, <y>=0.

Seja

‫׀‬Ψn(1)> = |n> + Σ <k|V|n> |k> (84)


k E0nE0k

onde ‫׀‬Ψn(1)> é a função de onda perturbada de 1ª. ordem e |n> é a


função de onda de ordem 0 (zero); então,

<Ψn(1)|y|Ψn(1)> = ( <n| + Σ <n|V|k> <k| ) y ( |n> + Σ <k’|V|n> |k> ) =


k En-Ek k’ En-Ek’

= <n|y|> + 2 Σ <n|V|k><k|V|n>
En-Ek

Página 74
Cristalino

Com
En-Ek = ћω (n-k)

y = ( ћ ) 1/2 (â++â)
2mω

V = -α ( ћ ) 3/2 (â++â)3
2mω

Então

<y> = 3α ћω (n + 1 ) (85)
(mω )
2 2 2
__________________

valor da energia não

perturbada

<y>≠0 significa que a distância entre átomos é função da


temperatura. O termo de segunda ordem não exprime esta
dependência.

Vejamos. Para o cálculo da energia do cristal deformado em (25),


partimos da premissa de que quando a deformação é isotérmica e
reversível, sua variação pode ser igualada ao crescimento de energia
livre, conforme (22).

F=U-TS=F(V,T) é a energia livre

F=-kT logZ, onde Z é a função de partição

Página 75
Cristalino

Z = Σ e-E/kT
estados

E = U0 + Σα,q ћωα (q) [ nα,q + 1 ] (86)


2

onde U0 é a energia potencial mínima e E é a energia do cristal.

Então

Z = e-βU0 П ( Σ e-βћωα(q)(n+1/2) ) ;β=1/kT


α,q n

Z = e-βU0 П e-βћωα(q).1/2 Σ e-βћωα(q).n


α,q n

usemos

Σxn = 1
n 1-x

Z = e-βU0 П e-βћωα(q).1/2 1
α,q 1- e-βћωα(q)

Z = e-βU0 П 1 (87)
α,q 2sh(βћωα(q)/2)

Página 76
Cristalino

Então,

F = U0 + kT Σ log(2sh(βћωα(q)/2kT) (88 )
α,q

P = -( δF )T = - δU0 - δ Σ kTlog(2sh(βћωα(q)/2kT)
δV δV δV α,q

usando a regra cíclica,

( δP )T ( δV )P ( δT )V = 1
δV δT δP

( δV )P = - (δP/δT)V
δT (δP/δV)T

k = -1 (δV)T = compressibilidade
V δP

α = 1 (δV)P = -(δP)V . k (89)


V δT δT

na aproximação harmônica, (δ/δV)ωα(q)=0

Tomemos

γ = -γδlnωα(q) = -V δω = constante Grüneisen


δlnV ω δV

Introduzindo esses elementos

Página 77
Cristalino

P = - δU0 -kT Σ ( coth ћωα(q) ) ћ δωα(q)


δV 2kT 2kT δV

com

δω = - γ ω ,vem
δV V

P = - δU0 -1 Σ ( coth ћω ) γћω (90)


δV V 2kT 2

Ē(T) = Σ ћω (n + 1 ) = Σ ћω ( 1 + 1 ) =
2 2 e -1
βћω

= Σ ћω coth ( ћω )
2 2kT

Então,

P = - δU0 + 1 γ Ē(T)
δV V

δP = 1 γ Cv
δT V

α = 1 γ kCv (91)
V

A equação (91) dá o valor de α introduzido em (15). [4]

4 Rowe, D.J. – Nuclear Collective Motion, Methuen & Co., London 1970.

Página 78
Cristalino

V - O Universo de Defeitos em Cristais

03/07/2007 às 13:11

Introdução

A partir da descrição tensorial das tensões e deformações em


cristais, através da análise e quantificação da dinâmica da rede,
chegamos a resultados cujos significados físicos são de suma
importância para a idéia aqui desenvolvida. O fenômeno da dilatação
dos corpos, visto agora como um problema da dinâmica de defeitos
na estrutura cristalina, é exatamente o elo entre aquilo que se
procurou estabelecer até aqui e a seção seguinte.

A Dinâmica de Defeitos em Cristais

A Termodinâmica de Não Equilíbrio

Se considerarmos o par lacuna-intersticial como sendo os tipos de


defeitos mais elementares encontrados numa estrutura cristalina, a
contribuição anarmônica que determina uma dependência da
temperatura para o parâmetro da rede, transforma o fenômeno da
dilatação num problema real da dinâmica de defeitos. Com rigor
físico, a própria vibração do átomo, em torno da sua posição de
equilíbrio numa rede cristalina, constitui uma constante emissão e
absorção do par lacuna-intersticial na freqüência de vibração. Por
outro lado, o fator de fase introduzido em (35) estabelece um fluxo
de defeitos não nulo, embora estacionário. Todavia, por ser resultante
da dinâmica de defeitos em equilíbrio térmico, o fenômeno da
dilatação observado logra ser reversível com a temperatura.

Página 79
Cristalino

O problema da dinâmica de defeitos, porém, não é tão simples


quando se tem um estado termodinâmico de não equilíbrio; isto é,
defeitos em concentrações maiores do que aquelas em equilíbrio
térmico. Isto ocorre quando, além dos defeitos termicamente
produzidos, tem-se uma fonte adicional a produzi-los, resultando
num fluxo não estacionário. Essa fonte pode ser, por exemplo, a
irradiação por partículas energéticas capazes de, na transmissão de
energia, “arrancar” átomos de suas posições na rede, aumentado as
concentrações de defeitos. É importante observar que no exemplo
acima, bem como em outros exemplos que poderíamos relacionar
como compressão, tração, torção, etc.; o estado de não equilíbrio é
estabelecido a partir da atuação de um campo externo. Os fluxos
resultantes do estado termodinâmico de não equilíbrio podem, como
já foi comprovado dentro de certas faixas de temperatura, provocar
acúmulos de defeitos cujos efeitos são irreversíveis num simples
processo de resfriamento. A
figura ilustra o aglomerado
NGC-1851, cuja forma
globular poderá ocorrer em
cristais. De fato, trata-se de
um grande aglomerado da
constelação Columba,
localizada no hemisfério sul,
a cerca de 45.000 anos-luz de
nós. Usamos aqui como uma
Ilustração para o Acúmulo de
Defeitos num Cristal.
“Courtesy NASA/JPL-Caltech.”

Página 80
Cristalino

06/07/2007 às 10:17

Difusão para Aglomerados

Um dos efeitos mais notáveis que podem ocorrer é a formação de


cavidades cujo desenvolvimento tem como fenômeno crítico o
inchaço dos materiais irradiados que estão no estado sólido e,
portanto, são compostos por grãos cristalinos. As cavidades resultam
do fluxo seletivo de lacunas para estes sorvedouros, cuja eficiência
de absorção de defeitos certamente dependerá das condições
termodinâmicas. Existe um certo consenso sobre quais seriam essas
condições:

a) A existência de supersaturação de lacunas. Para isto, devemos


ter uma temperatura suficientemente baixa para que a
concentração de lacunas criadas termicamente seja menor
que a concentração de lacunas produzidas pela irradiação;

b) Que as lacunas migrem para as cavidades antes dos


intersticiais. Isto implica em uma temperatura
suficientemente alta para que as lacunas tenham mobilidade
apreciável. Dessas duas condições pode-se notar que a
formação de cavidades ocorre num intervalo de temperatura
limitado. Por exemplo, para a irradiação neutrônica nos aços
inoxidáveis, esse intervalo de temperatura está
compreendido entre 360º. e 650º. C;

c) Que mais lacunas que intersticiais alcancem o núcleo da


cavidade. Isto exige a presença de sorvedouros seletivos para
os defeitos puntiformes, absorvendo mais intersticiais do que
lacunas, resultando num fluxo maior de lacunas do que de

Página 81
Cristalino

intersticiais para a cavidade. Existem evidências de que


deslocações e precipitados dispersos desempenham esse
papel seletivo na absorção de defeitos puntiformes. Ora,
deslocações e precipitados, uma vez postulado o cristal
perfeito, nada mais são que imperfeições que podem ou não
estar em associação. Em outras palavras, são regiões do
campo cristalino-perfeito onde ocorre uma quebra da
simetria.

Na nossa analogia, precipitados podem ser análogos da concentração


de grandes massas estelares a exercer forte atração gravitacional
sobre massas menores. A figura abaixo ilustra a formação de um
sistema planetário em torno de uma estrela, como se fosse o nosso
sol em seus primórdios.

Nascimento de um Sistema Planetário Incomum.


“Courtesy NASA/JPL-Caltech.”

Página 82
Cristalino

09/07/2007 às 11:35

Séries Periódicas de Sorvedouros

Com o que foi colocado acima, o fenômeno da formação de


cavidades mostra ser resultante da dinâmica de defeitos em estado de
não equilíbrio térmico. Como poderíamos estudá-lo a luz do que já
foi visto para o estado estacionário?

Vimos que a dilatação dos corpos se dá por um aumento da


concentração de defeitos em função da temperatura. Ali, pelo
enfoque que demos, os sorvedouros (pontos de acúmulos de defeitos)
são as próprias posições da rede cristalina, e os desvios das
posições médias descritos pelo termo anarmônico, nada mais
significam que desvios da própria concentração média de defeitos. Se
temos isto estabelecido, passamos a estudar o estado termodinâmico
de não equilíbrio segundo um modelo no qual se assume que os
sorvedouros formam, primeiramente, uma série periódica, isto é, uma
rede de sorvedouros. Assim, passaremos a tratar a formação de
cavidades, e o conseqüente inchaço, como simplesmente um
processo de dilatação irreversível.

Ao assumirmos a série periódica de sorvedouros, podemos dividir o


espaço num conjunto de células primitivas. Para simplificação,
assumiremos também que cada uma dessas células tem inversão de
simetria em torno do centro. Como conseqüência, as componentes
normais dos fluxos de defeitos puntiformes se anulam nos contornos
das células. Naturalmente, este é o principal motivo de assumirmos
tal série.

Página 83
Cristalino

Independente dessa simetria, todavia, a célula pode conter um


número arbitrário de sorvedouros de diferentes tipos. De fato, da
necessidade imposta pela definição de célula primitiva, ela contém
mais que um sorvedouro, se mais que um tipo existe no sólido; de
outra forma, a hipótese de periodicidade espacial torna-se
inconsistente.

É razoável, então, pensar que uma célula primitiva contendo


sorvedouros para intersticiais, também os contenha para as lacunas.
O que vemos não parecem ser arranjos periódicos? Ora, se não o são,
não custa imaginar.

Página 84
Cristalino

[N.T. - O texto que segue é uma Cortesia do Laboratório de Jato-


Propulsão da NASA]. As Sete Irmãs, também conhecidas Plêiades,
um aglomerado de estrelas, parecem flutuar numa cama de plumas
nesta nova imagem de infra-vermelho do Telescópio Spitzer Space
da NASA. Nuvens de pó circundam as estrelas, envolvendo-as num
véu esvoaçante.

Plêiades, localizado a mais que 400 anos-luz daqui, na constelação


do Touro, é objeto de muitas lendas e escrituras. Esse aglomerado de
estrelas formou-se quando os dinossauros ainda perambulavam pela
Terra, cerca de 100 milhões de anos atrás. Ele é significantemente
mais jovem que o nosso Sol com os seus 5 bilhões de anos. Os dois
corpos estelares mais brilhantes do aglomerado, e também os de
maior massa, são conhecidos na mitologia Grega como os dois pais,
Atlas e Pleione, e suas sete filhas, Alcyone, Electra, Maia, Merope,
Taygeta, Celaeno e Asterope. Há ainda milhares de corpos de
pequena massa ali, incluindo muitas pequenas estrelas como o nosso
Sol. Alguns cientistas acreditam que o nosso Sol nasceu e
desenvolveu-se numa região de aglomerado como Plêiades, antes
de migrar para a sua atual e mais isolada morada.

11/07/2007 às 3:26

Equações da Continuidade para Defeitos em Cristais Simples

Para tal estrutura de rede, é necessário somente considerar as


equações de defeitos puntiformes na célula primitiva. Enfatizamos
que isto é simplesmente uma questão de conveniência e nada mais.
Qualquer número de células primitivas, interligadas ou não, poderia
ser igualmente bem enfocado, como ficou demonstrado no Capítulo
IV sobre a Dinâmica de Rede.

Página 85
Cristalino

As equações da continuidade válidas para vacâncias (lacunas) e


intersticiais são:

δCv + divjv = K-αCiCv (92)


δt

δCi + divji = K-αCiCv (93)


δt

onde Ci e Cv são as frações atômicas de defeitos e j i e jv denotam os


respectivos fluxos. A quantidade K é a taxa de produção de defeitos
em deslocamentos por átomo por segundo (dpa s-1), e α é o
coeficiente de recombinação intrínseco. Somente por simplicidade
ignorar-se-á a possibilidade de formação de “loops” de vacâncias.

Das equações (92) e (93) se depreende que se Ci ou Cv são


constantes, K é nula e α também, implicando que divj i = divjv = 0;
isto é, trata-se de um fluxo estacionário, não podendo haver acúmulo
de defeitos em nenhum ponto. A rigor, para que se estabeleça um
fluxo estacionário, não é preciso que K e α sejam zero; basta para
isto que os balanços dados nos segundos membros de (92) e (93)
sejam nulos. Isto é o que acontece no estado de equilíbrio térmico.

13/07/2007 às 10:26

Condições de Contorno para as Equações da Continuidade

As equações (92) e (93) aplicam-se a todas as partes da célula


primitiva, exteriores aos sorvedouros internos, às quais chamamos

Página 86
Cristalino

região matriz. Essas equações devem ser resolvidas dentro do


volume total da célula, Vc, com condições de contorno do tipo
genérico

jLl = v [ c ( sLl - cLl ) ] (94)

para as superfícies interiores definidas pelos sorvedouros internos;


isto é, as superfícies dadas pelas fronteiras dos sorvedouros. Cada
tipo de sorvedouro é denotado pelo símbolo L, o qual é entendido
conter toda a informação necessária; isto é, se é uma cavidade ou
uma deslocação, de que tamanho é, e assim por diante. O índice l dá
a localização de cada sorvedouro, enquanto sLl representa ou a
superfície do sorvedouro em si ou, onde aparece como argumento de
uma função, a avaliação (influência) do sorvedouro na superfície
particular. Essa é a superfície ou zona de influência definida em (1).

As outras grandezas em (94) são:

1. jLl - a componente do fluxo de defeitos puntiformes ao longo


da normal à interface matriz-sorvedouro, dirigida para dentro
do sorvedouro;
2. v – a velocidade de transferência da matriz para o
sorvedouro;
3. vcLl – a taxa de emissão térmica do sorvedouro do tipo L
situado em l.

Literalmente, a equação (94) diz que: o fluxo de defeitos puntiformes


na direção do sorvedouro do tipo L, localizado em l, é igual à fração
dos defeitos que chegam na interface em direção ao sorvedouro; isto

Página 87
Cristalino

é, a taxa de absorção de defeitos dada por vc(sLl) menos a taxa de


emissão térmica do sorvedouro dada por vc(cLl).

17/07/2007 às 10:51

Eficiência de Absorção, Taxa de Emissão Térmica e Difusividade

Mesmo assumindo as séries periódicas, o problema proposto é difícil


se há mais que um tipo de sorvedouro presente. Ao invés de tentar
resolvê-lo, trataremos aqui dos primeiros momentos das equações
(92) e (93). Isto é feito pela integração das equações sobre o volume
da célula. O resultado da equação (92) é:

∫ δCv dV + ∑ JvLl = KVM - α ∫ CiCvdV (95)


VM δt Ll VM

onde JvLl é a integral de jvLl sobre a superfície do sorvedouro sLl, e


VM é o volume da matriz dentro do volume da célula V C. Daqui por
diante, as equações correspondentes aos intersticiais podem ser
obtidas pelo simples intercâmbio do índice v por i. Lembramos que
não há perda de defeitos através dos contornos da célula, por
construção.

O primeiro termo, ou seja, o lado esquerdo da equação (95) deve ser


reescrito como:

∫ δCv dV = δ ∫ CvdV - HV (96)


VM δt δt VM

onde,

Página 88
Cristalino

HV = ∫ Cv(S) uN dS - ∑ ∫ Cv(SLl) un dSLl (97)


S Ll S
Ll

aqui, uN é a velocidade normal de transferência através da superfície


S envolvendo a célula primitiva e un é a quantidade correspondente
para cada interface sorvedouro-matriz. HV nada mais é que uma
diferença de fluxos integrados. O efeito de relaxação de volume
associado com defeitos puntiformes na solução é geralmente
pequeno. Assim o volume VM é constante. Portanto, a superfície
exterior S deverá expandir em resposta ao acréscimo de volume dos
sorvedouros internos. Este efeito está incorporado em HV através do
somatório.

Aqui, podemos ver que no problema do inchaço provocado por


cavidades, HV é dependente da taxa de crescimento dessas cavidades.

Todavia, a principal questão aqui se refere aos J vLl (fluxos não


estacionários) e as correspondentes quantidades para intersticiais.
Redefiniremos os fluxos em termos de uma “eficiência de absorção”,
k2Ll,V, e uma “taxa de emissão térmica”, KLl,V, pela seguinte relação:

JvLl = Dvk2Ll,V ∫ CvdV - KLl,V VM (98 )


VM

com uma definição correspondente para os intersticiais. Na equação


(98 ), Dv é a difusividade de vacâncias. Evidentemente, neste ponto,
temos apenas uma relação para dois parâmetros. Assim,
completamos a prescrição para a determinação de cada um
separadamente, estipulando que a relação KLl,V/Dv deve se anular
quando a temperatura se aproxima do zero absoluto.

Página 89
Cristalino

20/07/2007 às 10:28

As Equações da Difusão

Estamos buscando uma equação constitutiva para a integral de Cv no


volume. Assim, podemos expressar o termo final de (95) na forma:

α ∫ CiCvdV = α VM <Ci><Cv> + I (99)


VM

onde, por abreviação, introduziremos a notação

<C> = V-1M ∫ CdV (100)


VM

para ambos os defeitos. A quantidade I é, portanto,

I = α ∫ (Ci-<Ci>)(Cv-<Cv>). dV (101)
VM

Isto é uma medida da associação média de desvios das concentrações


de defeitos de suas médias espaciais. Em outras palavras, o que foi
posto acima significa que no sólido, como foi visto, se as oscilações
dos átomos forem tomadas pela média numa aproximação harmônica
simples, o termo I da equação acima não existiria e o fenômeno da
dilatação não poderia ser explicado. O desvio da posição média lá
introduzido com a contribuição anarmônica é traduzido aqui como
um desvio nas médias espaciais. Não fosse os desvios das médias
dados por (Ci-<Ci>)e(Cv-<Cv>), o balanço dos defeitos seria zero. A

Página 90
Cristalino

expressão (101) é, portanto, a tradução da equação (85) no problema


da termodinâmica de não equilíbrio.

Assim, rearranjando os termos da equação (95), e usando as


definições subseqüentes, chegamos à seguinte equação de momento:

δ<Cv> + ∑ ( Dvk2LV<Cv>-KLV ) - K + α <Ci><Cv> =


δt L

= V-1M (HV–I) (102)

notar-se-á que foram introduzidas duas novas quantidades:

k2LV = ∑ k2Ll,V (103)


l

KLV = ∑ KLl,V (104)


l

Então, essas quantidades, somadas sobre todas as posições de cada


tipo de sorvedouro dentro da célula, são propriedades médias. São a
“eficiência de absorção” e a “taxa de emissão térmica” dos
sorvedouros do tipo L.

Da equação (102), vê-se que uma teoria simples de difusão resulta


dessas manipulações se for possível argüir que o lado direito desta
equação é desprezível. Agora, onde ocorre o inchaço do volume, sua
dependência do tempo é normalmente pequena. Assim, HV pode ser
desprezado para um alto grau de precisão. Além disso, I pode ser
normalmente desprezado com base na auto-consistência; isto é,
assumimos que ele é pequeno, resolvemos o problema à mão e,

Página 91
Cristalino

então, checamos a premissa inicial. Isto é geralmente consistente


porque, nos casos explorados, Ci e Cv diferem substancialmente de
sua média volumétrica somente muito próximo de um sorvedouro.
Observar os relativos vazios, em contraste com as altas
concentrações próximas aos sorvedouros, na figura que escolhemos
para ilustrar o fenômeno. Ali, mais que um tipo de sorvedouro
devem estar presentes. Por essa razão, segue a diversidade de tipos
de aglomerações. Deve ser considerado também que se trata de
“velhas estruturas”, cujas evoluções já se encontram muito distantes
do seu instante inicial.

Desde que para a superfície de um sorvedouro em si, Ci e Cv são da


ordem de CL, segue que a razão de I para o termo de recombinação
que é mantido, é da ordem de VINF/VM para mais, onde VINF é um
“Volume Efetivo de Influência” de cada sorvedouro. (CL é
geralmente pequeno comparado com <C>), assim, I deve ser também
descartado.

O resultado final é, então, o conjunto de equações da difusão


abaixo:

δ<Cv> + ∑ ( Dvk2LV<Cv>-KLV ) - K + α <Ci><Cv> = 0 (105)


δt L

δ<Ci> + ∑ ( Dik2LI<Ci>-KLI ) - K + α <Ci><Cv> = 0 (106)


δt L

Essas equações devem ser resolvidas, numericamente se necessário


for, para obter <Ci> e <Cv> como funções do tempo para uma certa
condição inicial prescrita. Tal procedimento é correto, pelo menos
em princípio, se a eficiência de absorção k2L e a taxa de emissão KL

Página 92
Cristalino

são conhecidas para cada defeito e


para cada tipo de sorvedouro. É
claro o que deve ser o subseqüente
procedimento. Devemos resolver a
equação da continuidade dentro de
cada célula para computar JvLl e,
daqui, calcular k2Ll,V e KLl,V para
cada tipo de sorvedouro. O mesmo
deve ser feito para intersticiais.
Somente então, estaremos prontos
para partir para as equações (105) e (106).

[N.T. O texto é uma Cortesia do Laboratório de Jato-Propulsão da NASA].


A imagem de Ultra-Violeta vista acima corresponde a um grupo de diversos
tipos de galáxias. NGC 3190 é uma galáxia do tipo disco espiralado de pó.
NGC 3187 já é uma galáxia com forma altamente distorcida. Essas duas
galáxias estão separadas por apenas 35 kilo-parsecs (que equivale à metade
do diâmetro da Via Láctea). Uma galáxia em forma de um anel elíptico, e
uma outra de forma irregular também estão presentes.

26/07/2007 às 10:21

Séries Aleatórias de Sorvedouros

A série periódica é útil como base para as mais complexas


distribuições aleatórias de sorvedouros que serão discutidas agora.
Com relação ao que foi visto no modelo da rede de sorvedouros,
duas principais diferenças surgem ao considerarmos a série aleatória
de sorvedouros. Em primeiro lugar, não há superfícies internas
naturais onde os fluxos de defeitos devam ser considerados nulos (o
que nos permitiu a analogia com uma célula numa rede cristalina,
que tem seus átomos vibrando em torno de suas posições de

Página 93
Cristalino

equilíbrio; porém, nos contornos da célula o fluxo de defeitos é


nulo). Em segundo lugar, qualquer volume sobre o qual as médias
espaciais são tomadas, deve ser grande o bastante para que as
quantidades sejam representativas do todo. Isto não implica que nada
menos que o volume total do corpo será suficiente. Contudo, o
volume deve ser grande em extensão quando comparado com o
espaçamento médio entre sorvedouros.

Na escala aludida acima, portanto, consideraremos uma superfície


fechada contendo um volume V. Como anteriormente, a contribuição
da matriz nesse volume é VM. Podemos executar todos os passos que
levaram à equação (102), exceto que agora devemos incorporar
também a contribuição do fluxo na superfície (isto é, a superfície
mais externa, cuja contribuição tinha sido desprezada por
construção),

JN = ∫ J.NdS (107)
S

no lado esquerdo da equação (95) e nas equações subseqüentes


apropriadas. O resultado é que a equação (102) é substituída por

δ<Cv> + ∑ ( Dvk2LV<Cv>-KLV ) - K + α <Ci><Cv> =


δt L

= V-1M (HV-I-JNV) (108 )

O índice adicional em JNV denota que ele se refere às vacâncias. As


definições, a equação (98 ) e as seguintes, têm precisamente o
mesmo significado que para a série periódica, mas para volumes
maiores.

Página 94
Cristalino

A equação (108), como ela está, refere-se a uma configuração


específica de sorvedouros. Assim, ela contém muito mais
informações do que poderíamos possivelmente esperar necessitar. O
que se requer é uma média sobre todas as configurações possíveis;
isto é, uma média geral (do conjunto). Deduzir essa média é,
portanto, o próximo passo crucial.

30/07/2007 às 18:21

A Dedução de uma Média Geral para as Concentrações de Defeitos

A essa altura, a escolha do volume V da amostra vem na frente.


Logicamente, se ele é pequeno, a variação da concentração média
dentro de S (superfície de contorno) variará enormemente de uma
configuração para outra. De fato, nesta situação, algumas
configurações nem mesmo seriam permissíveis dentro de S. Por
outro lado, se V é suficientemente grande, então cada defeito já
sentirá muitas regiões diferentes, onde um ou outro tipo de
sorvedouro está espacialmente isolado, onde está localmente
associado com outros, e assim por diante. Isto tem a seguinte
conseqüência. Suponha-se que definamos a probabilidade de uma
configuração particular de sorvedouro como
P(…r1L;…r2L;…r3L;…rNLL),
onde somente as posições rlL de NL sorvedouros do tipo L são
enumeradas. As posições restantes devem ser entendidas pela
seqüência de pontos dentro do argumento. Assim, a média geral de
<CV>, por exemplo, será dada por

<Cv> = ∫ <Cv> P(…r1L;…r2L;…r3L;…rNLL) Π drlL (109)


L,l

Página 95
Cristalino

então, a conseqüência do argumento dado acima é a expectativa de


que

<Cv> ≈ <Cv> (110)

se o volume V da amostra é suficientemente grande.

Similarmente, devemos esperar que

∫ <Ci><Cv> P(…r1L;…r2L;…r3L;…rNLL) Π drlL ≈ <Ci><Cv> (111)


L,l

Assim, na formação da média geral da equação (108 ) (isto é,


multiplicando por P e integrando sobre rlL), a única questão crucial
remanescente é a avaliação de

∫ k2LV< Cv> P(…r1L;…r2L;…r3L;…rNLL) Π drlL (112)


L,l

e a integral análoga de KLV. Mas, em virtude de (110), a expressão


(112) é também, aproximadamente, k2LV<Cv>, onde

k2LV = ∫ k2LV P(…r1L;…r2L;…r3L;…rNLL) Π drlL (113)


L,l

enquanto que, da equação (103)

k2LV = NLk2Ll,V (114)

porque a média para cada sorvedouro do mesmo tipo deve ser a


mesma.

Página 96
Cristalino

Similarmente, segue que

KLV = NLKLl,V (115)

Portanto, basta-nos somente conhecer a média geral de um


sorvedouro de cada tipo. Além disso, tomaremos a média geral da
equação (98 ) e usaremos as equações (114) e (115) para achar

k2LV = [ (NL/VM) JVLl + KLV ] / DV<Cv> (116)

onde JVLl é a média geral de JVLl. Assim, nós não só podemos


identificar os termos produzidos pela média geral aqui, mas também,
em virtude da equação (116), compreender como eles são calculados.

06/08/2007 às 10:17

A Equação da Difusão para Séries Aleatórias de Sorvedouros

É importante fazer uma pequena pausa para enfatizar a simplificação


introduzida pela última equação. A quantidade JVLl é o fluxo de
vacâncias para o sorvedouro do tipo L, situado em rl. Em qualquer
configuração, o fluxo dependerá dos sorvedouros vizinhos a este,
seu tipo e posição relativa. Mas, após extrair a média geral como na
equação (109), tais detalhes são obviamente mascarados. Além disso,
enquanto a execução da média sobre as posições de todos os outros
sorvedouros deve ainda deixar uma dependência em rl (em virtude da
posição relativa do sorvedouro em questão com respeito à superfície
de contorno S), em integrando sobre rl, essa dependência em si é
também removida. Assim, JVLl é independente de l. Esse índice deve

Página 97
Cristalino

ser omitido e, contanto que o volume V seja grande o suficiente,


todas essas considerações se aplicam.

O resultado final, portanto, é que a média geral da equação (108 )


será dada por

δ<Cv>/δt + ∑ ( Dvk2LV<Cv>-KLV ) - K + α <Ci><Cv> =


L

= V-1M (HV-I-JNV) (117)

Neste ponto, as aproximações são puramente estatísticas.


Voltaremos, agora, a atenção para o lado direito da equação (117).
Visto que os argumentos que levaram a desprezar HV e I para a série
periódica foram independentes dessa periodicidade, eles cabem
igualmente bem aqui para sua média geral. Além disso, desde que o
volume da amostra que tenhamos escolhido seja grande, a taxa de
produção total de defeitos dentro de V, isto é, KVM , será quase que
inteiramente atenuada pelo fluxo para sorvedouros dentro de V. Isto
é, JNV será desprezível comparado com KVM. Como resultado,
chegamos finalmente a, precisamente, às mesmas equações de
difusão já deduzidas para a série periódica, havendo mudanças
apenas em sua interpretação. Literalmente, as quantidades <Ci> e
<Cv> serão substituídas por suas médias gerais <Ci> e <Cv>,
respectivamente, enquanto a eficiência de absorção e a taxa de
emissão térmica serão encontradas a partir da média geral do fluxo
para um tipo particular de sorvedouro, conforme prescrito pela
equação (116).

Página 98
Cristalino

A Análise Local das Equações da Difusão

10/08/2007 às 11:39

O Espaço-Fase de Equações Autônomas

O sistema de equações em (105) e (106), por não conter a variável


independente de forma explícita, é dito ser um sistema autônomo não
linear. Sistemas autônomos de equações, quando são interpretados
como descrevendo o movimento de um ponto no espaço-fase, são
particularmente susceptíveis a algumas técnicas muito elegantes de
análise local. Fazendo-se a análise local do sistema, próximo ao que
conhecemos como pontos críticos, podemos fazer previsões
notavelmente precisas acerca das propriedades globais da solução.

É conveniente estudar o comportamento aproximado de uma equação


autônoma de ordem n, quando ela está na forma de um sistema de n
equações de primeira ordem acopladas. Também, por convenção,
entenderemos a variável independente do sistema como sendo o
tempo t, e as variáveis dependentes y1, y2,…,yn como coordenadas de
posição. A forma geral de tal sistema é:

dy1/dt = f1(y1, y2,…,yn)


dy2/dt = f2(y1, y2,…,yn) (118 )
.

.
dyn/dt = fn(y1, y2,…,yn)

Página 99
Cristalino

A solução do sistema em (118 ) é uma curva ou trajetória no espaço


n-dimensional chamado espaço-fase. A trajetória é parametrizada em
termos de t: y1=y1(t); y2=y2(t);… yn=yn(t).

Assumiremos que f1, f2,…fn são continuamente diferenciáveis com


relação a cada um de seus argumentos. Assim, pelo teorema da
existência e unicidade das equações diferenciais, qualquer condição
inicial y1(0)=a1, y2(0)=a2,…yn(0)=an, dá origem a uma única
trajetória através dos pontos (a1, a2,…an).

Para compreender melhor essa propriedade de unicidade


geometricamente, note-se que para cada ponto na trajetória [y1(t),
y2(t),...yn(t)], o sistema (118 ) associa um único vetor de velocidade
[dy1/dt, dy2/dt,...dyn/dt] que é tangente à trajetória naquele ponto.
Segue imediatamente que duas trajetórias não podem cruzar-se; de
outra forma, o vetor tangente ao ponto de intersecção não será único.

14/08/2007 às 10:18

Pontos Críticos no Espaço-Fase


Se há quaisquer soluções para o sistema de equações algébricas
simultâneas

f1(y1, y2,…,yn) =0
f2(y1, y2,…,yn) =0 (119)
.

.
fn(y1, y2,…,yn) =0

Página 100
Cristalino

então, há trajetórias degeneradas especiais no espaço-fase que são


pontos coincidentes. (A velocidade neste ponto é zero, tal que o
vetor-posição não se move). Tais pontos são chamados pontos
críticos.

Note-se que enquanto uma trajetória pode aproximar-se de um ponto


crítico conforme t→∞, ela não pode encontrar tal ponto num tempo
finito. A prova é simples. Suponha-se que fosse possível a uma
trajetória encontrar um ponto crítico no tempo T. Então, o sistema de
equações obtido por substituição de fi por –fi exibiria um
comportamento impossível: o vetor-posição [y1(t), y2(t),...yn(t)]
permaneceria imóvel no ponto crítico e, então, subitamente
começaria a mover-se no tempo T. (Lembre-se que num sistema
autônomo f1, f2,…fn; as componentes do vetor de velocidade
dependem explicitamente somente da posição da partícula e não do
tempo).

Veremos como uma análise local das soluções nas vizinhanças dos
pontos críticos nos permitem realmente deduzir o comportamento
global das soluções.

21/08/2007 às 10:48

Espaço-Fase Bidimensional

O espaço-fase bidimensional (plano de fase) é usado para estudar um


sistema de duas equações acopladas de primeira ordem. Os possíveis
comportamentos globais de uma trajetória num sistema
bidimensional são:

Página 101
Cristalino

1. a trajetória deve aproximar-se de um ponto crítico quando


t→ +∞.
2. a trajetória deve aproximar-se de +∞ quando t→ +∞.
3. a trajetória deve permanecer imóvel para (em relação a) um
ponto crítico para todos os t.
4. a trajetória deve descrever uma órbita fechada ou círculo.
5. a trajetória deve aproximar-se de uma órbita fechada
(subindo ou descendo na direção da órbita) quando t→ ∞.
(Estas seriam oscilações sobre os auto-estados do modelo
vibracional coletivo?).

As primeiras três possibilidades também ocorrem nos sistemas


unidimensionais. Mas, a quarta e quinta possibilidades, não podem
ocorrer num espaço-fase de menos de duas dimensões.

Em seguida, enumeraremos os possíveis comportamentos globais


para trajetórias próximas a um ponto crítico:

1. todas as trajetórias devem aproximar-se do ponto crítico ao


longo de curvas que são linhas assintóticas a retas (que
jamais se tocam) quando t→ +∞. Chama-se tal ponto crítico
de nó estável.
2. todas as trajetórias devem aproximar-se do ponto crítico ao
longo de curvas espirais quando t→ +∞. Tal ponto crítico é
chamado de ponto de espiral estável. (É possível também
que as trajetórias se aproximem do ponto crítico por curvas
que não são nem espirais e nem linhas assintóticas a retas).
3. todas as trajetórias reversas (isto é y(t) com t decrescente)
devem mover-se na direção do ponto crítico ao longo de
caminhos que são linhas assintóticas a retas quando t→ -∞.
Tal ponto crítico é chamado nó instável. Quando t aumenta,
todas as trajetórias que começam próximas a um nó instável,
devem afastar-se do nó ao longo de linhas que são

Página 102
Cristalino

aproximadamente retas, pelo menos até que a trajetória se


encontre longe do nó.
4. todas as trajetórias reversas devem mover-se na direção do
ponto crítico ao longo de curvas espirais quando t→ -∞. Tal
ponto crítico é chamado ponto de espiral instável.
Conforme t aumenta, todas as trajetórias afastam-se de um
ponto de espiral instável ao longo de trajetórias que têm,
pelo menos inicialmente, a forma de espirais.
5. algumas trajetórias devem aproximar-se de um ponto crítico
enquanto outras afastam-se do ponto crítico quando t→ +∞.
Tal ponto crítico é chamado ponto de sela.
6. todas as trajetórias devem formar órbitas fechadas em torno
do ponto crítico. Tal ponto crítico é chamado centro.

Note-se que enquanto nós e pontos de sela ocorrem no espaço-fase


unidimensional, espirais e centros não podem existir em menos que
duas dimensões. A indissociabilidade, por exemplo, do par lacuna-
intersticial nos dá as duas dimensões mínimas.

23/08/2007 às 13:18

Sistemas Autônomos Lineares

Uma vez que os sistemas lineares bidimensionais podem exibir


qualquer dos comportamentos acima, torna-se apropriado estudar
sistemas lineares antes de partir para sistemas não lineares. Com isto
em mente, introduzimos um método fácil para resolver sistemas
lineares autônomos.

O método usa álgebra matricial elementar. Um sistema autônomo


bidimensional linear

dy1/dt = ay1+by2 (120)

Página 103
Cristalino

dy2/dt = cy1+dy2

deve ser reescrito na forma

dY/dt = MY (121)

É fácil verificar que se os auto-valores λ1 e λ2 da matriz M são


distintos, e V1 e V2 são auto-vetores de M associados com os auto-
valores λ1 e λ2 , então a solução geral de (121) tem a forma

Y(t) = C1V1eλ1t +C2V2eλ2t (122)

onde C1 e C2 são constantes de integração que são determinadas pela


posição inicial Y(0).

O sistema linear em (121) tem um ponto crítico na origem (0,0). É


fácil classificar esse ponto crítico desde que λ1 e λ2 sejam conhecidos.
Note-se que λ1 e λ2 satisfazem a condição de auto-valores

det[M-Iλ] = det a-λ b = λ2-λ(a+d)+ad-bc = 0


(123)
c d-λ

Se λ1 e λ2 são reais e negativos, então todas as trajetórias aproximam-


se da origem quando t→ +∞ e (0,0) é um nó estável. Por outro lado,
se λ1 e λ2 são reais e positivos, então todas as trajetórias afastam-se da
origem (0,0) quando t→ +∞ e (0,0) é um nó instável. Também, se λ1
e λ2 são reais mas se λ1 é positivo e λ2 é negativo, então (0,0) é um
ponto de sela; isto é, as trajetórias aproximam-se da origem na
direção V2 e afastam-se na direção V1.

Página 104
Cristalino

As soluções λ1 e λ2 de (123) podem ser complexas. Todavia, quando


a matriz M é real, então λ1 e λ2 devem ser uma par complexo
conjugado. Se λ1 e λ2 são imaginários puros, então o vetor Y(t)
representa uma órbita fechada para qualquer C1 e C2 e o ponto crítico
(0,0) é um centro. Se λ1 e λ2 são complexos com partes reais não
nulas, então o ponto crítico (0,0) é um ponto de espiral. Quando a
parte real Re λ1,2 < 0, então Y(t) → 0 quando t→ +∞ e (0,0) é um
ponto de espiral estável; por outro lado, quando Re λ1,2 > 0, então
(0,0) é um ponto de espiral instável.

A figura abaixo ilustra razoavelmente o que seja ponto de espiral


estável. Lembrar que pelo teorema da existência e unicidade das
equações diferenciais, as trajetórias descritas pelos pontos no espaço-
fase não devem se cruzar.

PIA09579: A Galáxia M81 Fica Linda de Rosa. Cortesia da NASA/JPL-


Caltech/ESA/Harvard-Smithsonian CfA

Página 105
Cristalino

[N.T. - O texto que segue é uma Cortesia do Laboratório de Jato-Propulsão


da NASA]. A pitoresca galáxia espiralada conhecida como Messier 81, ou
M81, aparece como exatamente é nesta nova composição dos telescópios
Spitzer e Hubble e do Explorador da Evolução das Galáxias da NASA. A
M81 é uma galáxia espiral “bem definida”, o que significa que todos os seus
elegantes braços curvam-se na direção do seu centro (o que seria o ponto
crítico). Ela está localizada cerca de 12 milhões de anos-luz de distância, na
constelação da Ursa Maior, e é uma das mais brilhantes galáxias que podem
ser vistas da terra através de telescópios.

As cores na figura representam um trio de comprimentos de onda: o


azul corresponde à luz ultravioleta capturada pelo Explorador da
Evolução de Galáxias; o amarelo-esmaecido corresponde à banda
de luz visível vista pelo Hubble; e o vermelho corresponde à luz
infravermelha detectada pelo Spitzer (lembrar que as bandas do
infravermelho e ultravioleta não são visíveis a olho nu). As áreas
azuladas mostram as mais quentes e jovens estrelas, enquanto as
áreas róseas denotam rastros de poeira que seguem os braços da
espiral. O centro alaranjado é constituído de velhas estrelas.

27/08/2007 às 0:35

Análise do Ponto Crítico de Sistemas Não-Lineares Bidimensionais

Para ilustrar a utilidade e o poder da análise local do ponto crítico,


nós a usaremos para deduzir as características globais de sistemas
não lineares. A aproximação que usaremos será a seguinte: primeiro,
identificaremos os pontos críticos; então, faremos uma análise local
do sistema, muito próximo a esse ponto crítico, levando em conta o
que o sistema exato poderá usualmente ser aproximado por um
sistema autônomo linear próximo a um ponto crítico. Usando
análise matricial, identificaremos a natureza do ponto crítico do
sistema linear. Finalmente, reuniremos os resultados da nossa análise

Página 106
Cristalino

local e sintetizaremos um quadro global qualitativo da solução para


um sistema não linear.

Exemplo 1

O sistema não linear,

dy1/dt = y1-y1y2
(124)
dy2/dt = -y2+y1y2

conhecido como equações de Volterra, é um modelo simples de uma


relação presa-predador entre duas populações como de coelhos e
raposas, ou de lacunas e instersticiais: y1 (a população de coelhos)
crescerá além dos limites (exponencialmente) se y2 (a população de
raposas) for zero. Todavia, se y1 é zero, então y2 decairá para zero em
virtude da fome (exponencialmente).

O que acontece se y1 e y2 são inicialmente positivos?

Há dois pontos críticos, (0,0) e (1,1). Próximo a (0,0), tomaremos


(y1,y2) = (ε1,ε2) e aproximaremos a equação diferencial exata para:

dε1/dt ≈ ε1
(para ε1,ε2 →0)
dε2/dt ≈ ε2

A solução para este sistema exibe comportamento de ponto de sela;


trajetórias próximas a (0,0) aproximam-se da origem verticalmente e
afastam-se horizontalmente quando t→+∞.

Próximo ao ponto (1,1), faremos (y1,y2) = (1+ε1,1+ε2) e


aproximaremos a equação exata para:

Página 107
Cristalino

dε1/dt ≈ -ε2
(para ε1,ε2 →0)
dε2/dt ≈ ε1

Os auto-valores da matriz M para este sistema linear são ±i. Portanto,


o ponto crítico em (1,1) é um centro tendo órbitas fechadas no
sentido anti-horário quando t→+∞. A rotação no sentido anti-horário
em torno de (1,1) é consistente com as direções de aproximação e
afastamento das trajetórias próximas ao ponto de sela.

O que podemos inferir acerca do comportamento global?

Suponha-se que a condição inicial fosse y1(0)=y2(0)=a (0<a<1).


Então, conforme t aumentasse de zero, o vetor [y1(t),y2(t)] mover-se-
ia no sentido anti-horário em torno de (1,1). (Se ele se movesse no
sentido horário, nós teríamos comportamento descontínuo porque
para a suficientemente próximo de 1, nós sabemos que o sentido é
anti-horário. Verifica-se diretamente de (124) que o sentido é anti-
horário). Conforme t aumenta, o vetor deve continuar a girar em
torno de (1,1). Ele não pode cruzar os eixos y1 e y2 porque esses são
trajetórias em si. Uma análise profunda mostra que esta trajetória não
pode aproximar-se do infinito. Portanto, para um certo t, o vetor deve
rodear o ponto (1,1) e, eventualmente, reatravessar a linha que liga
(0,0) e (1,1). Além disso, ele deve cruzar o ponto inicial (a,a).

Em resumo, todas as trajetórias em (124) com y1(0)>0,y2(0)>0 são


fechadas e envolvem o ponto (1,1) indiferente da condição inicial
para t=0. Isto nos faz lembrar dos sistemas planetários que, embora
sua condição inicial seja apenas presumida pela ciência, vem a exibir
este tipo de comportamento. Também chamamos estes de sistemas
estacionários.

Página 108
Cristalino

Assim, as populações y1 e y2 oscilam com o tempo. Todavia, é


importante notar que enquanto a conclusão de que as trajetórias são
exatamente fechadas é correta, ela não pode ser justificada somente
pela análise local. Embora seja freqüentemente possível inferir o
comportamento global da análise local de pontos críticos instáveis e
estáveis, neste exemplo a análise local dá uma descrição incompleta
da natureza das trajetórias no espaço-fase.

01/09/2007 às 8:30

Dificuldade com a Análise Linear

É assim chamada porque se faz uma linearização do sistema não


linear para análise nas vizinhanças de cada ponto crítico.

Além do fato de nem sempre ser possível a linearização de sistemas


não lineares, a estrutura dos pontos críticos não lineares pode ser
muito mais complicada que aquela dos sistemas lineares. Podem
haver pontos de sela tendo muitas direções chegando ou saindo, e
nós para os quais as trajetórias não são assintóticas a linhas retas
quando t→+∞. Não existem métodos matriciais simples para
identificação da estrutura de tais pontos críticos não lineares.
Freqüentemente, são exigidas análises atemporais.

Há uma dificuldade mais sutil com a análise linear do ponto crítico


quando o método matricial sugere que o ponto crítico é um centro.
Quando o sistema é linear, então podemos garantir que se os
autovalores são imaginários, o ponto crítico é um centro. Todavia, se
uma aproximação linear para um sistema não linear tem um centro,
não é ainda correto concluir que o sistema não linear também tem um
centro. Qualquer distorção ou perturbação de uma órbita fechada,

Página 109
Cristalino

não importa quão pequena seja, pode resultar numa órbita aberta
(pequenas distorções de nós, pontos de espiral e pontos de sela não
mudam o aspecto qualitativo desses pontos críticos). Portanto, ainda
que uma aproximação linear para o sistema não linear tenha um
centro, o sistema não linear pode realmente ser um ponto de espiral.

Para provar que um ponto crítico é realmente um centro, devemos


demonstrar a existência de órbitas fechadas. Métodos aproximados
não devem ser usados na prova. A técnica usual consiste da
integração do sistema de equações diferenciais novamente, para
construir uma quantidade independente do tempo que é
freqüentemente chamada de uma integral de energia. Naturalmente,
uma integral de energia para o sistema será muito difícil encontrar
quando os fatores de integração apropriados não são óbvios.
Vejamos como construir integrais de energia:

Exemplo 2

O sistema não linear em (124) tem um ponto crítico em (1,1) que foi
sugerido, usando a análise matricial, ser um centro. Para provar essa
asserção, multiplicaremos as equações pelos fatores de integração
[(1-y1)/y1,(1-y2)/y2] e somaremos as equações resultantes. A nova
equação está na forma de uma derivada total. Integrando com relação
a t, resulta:

y1+y2 - ln(y1y2) = C (125)

que representa uma família de curvas fechadas contendo o ponto


(1,1). Provou-se, assim, que (1,1) é um centro.

Página 110
Cristalino

04/09/2007 às 10:37

Comportamento de um Sistema Não Linear de Ordem Superior


Próximo a um Ponto Crítico Estável

Próximo a um ponto Crítico Estável: um ponto crítico é estável se


os autovalores do sistema de equações obtidos por linearização do
sistema não linear nas vizinhanças do ponto crítico têm a parte real
negativa. Isto é, de longe, o caso mais simples. Pode ser provado que
todas as trajetórias de todas as equações não lineares que se originam
suficientemente próximas a um ponto crítico estável, sempre decaem
na direção daquele ponto crítico quando t→+∞. O efeito não linear
não muda o comportamento qualitativo (ou mesmo quantitativo) de
um sistema próximo a um ponto crítico estável.

Próximo a um Centro: um centro simples é um ponto crítico para o


qual todos os autovalores do sistema linearizado são imaginários
puros e distintos. Este caso é, talvez, o mais difícil. Para começar, a
solução para o sistema linearizado não necessita ser periódoca
porque as autofreqüências não devem ser mensuráveis. Por exemplo,
um sistema real de quarta ordem poderia ter autovalores ±i, ±i√2.
Pode-se ver que há soluções que não são periódicas. Todavia, todas
as soluções para um sistema linear para um centro simples são
“quase periódicas” no sentido de que existem períodos de tempo T
arbitrariamente grandes, sobre os quais a solução se repete para
qualquer tolerância especificada.

Matematicamente falando, para qualquer ε>0, existe uma seqüência


ilimitada de períodos de tempo T1, T2, T3,… tal que, para cada Ti,
|y(t+ Ti)–y(t)|<ε para todo t.

Página 111
Cristalino

O comportamento de um sistema não linear nas vizinhanças de um


centro simples pode ser ainda mais complicado. A existência de um
termo não linear deve romper as órbitas de um sistema linear
inteiramente. As órbitas não devem ser extensivamente “quase
periódicas”. De fato, elas devem exibir um comportamento aleatório
muito complicado.

Sistemas Hamiltonianos: um sistema hamiltoniano tem a forma:

dqj/dt = -dH/dpj (126)


dpj/dt = dH/dqj (127)

onde j=1,2,…,m e H=H(p1,p2,…pm,q1,q2,…qm)é chamado hamiltoniano.

Os sistemas hamiltonianos têm duas propriedades importantes.


Primeiro, o hamiltoniano é uma integral da energia do movimento.
Isto significa que

H[p(t),q(t)] = H[p(0),q(0)] (128 )

por conservação, e

dH/dt[p(t),q(t)] = ∑j (dH/dpjdpj/dt+dH/dqjdqj/dt) = 0 (129)

Segundo, os sistemas hamiltonianos têm conservação de volume no


espaço-fase. Isto significa que se traçamos trajetórias que se
originam de todos os pontos dentro de uma região de volume V no
espaço-fase, então, para todo t=0 os pontos finais dessas trajetórias

Página 112
Cristalino

após um tempo t preenchem uma reagião com o mesmo volume V,


para todos os t. Matematicamente, esta condição é que o Jacobiano

J(t) = ∂[p(t),q(t)]/∂[p(0),q(0)] (130)

satisfaça J(t)=1 para todos os t.

Em virtude dos sistemas hamiltonianos preservarem o volume no


espaço-fase, os pontos críticos estáveis devem ser centros.5

5 Rowe, D.J. – Nuclear Collective Motion, Methuen & Co., London 1970

Página 113
Cristalino

VI - Preparação da Unificação das Interações


Fundamentais

A Física é a ciência da matéria e forças; no passado, seus principais


avanços foram ou as descobertas das subestruturas (e isto se
relaciona à matéria) ou a compreensão de que duas forças muito
diferentes são a manifestação de uma simples interação (e isto é uma
propriedade das forças). A cadeia dada por átomo-núcleo-nucleon-
quark, descreve a primeira linha de desenvolvimento, enquanto a
segunda remonta a unificação de Newton do peso na Terra em meio
a atração dos corpos astronômicos. Mais tarde, Maxwell unificaria os
fenômenos elétrico e magnético; e somente vinte anos atrás (década
de 60) o decaimento beta-nuclear foi unificado com o decaimento
muon e a existência de uma ligação universal fraca (weak)
estabelecida. Desde então temos vivido com 4(quatro) diferentes e
não relacionadas forças fundamentais: gravitacional, fraca,
eletromagnética e forte. As ligações fortes envolvendo hadrons são
agora admitidas ser apenas um pálido vestígio das intensas forças
atuando entre os quarks dentro de cada hadron. Forças
gravitacionais são tão fracas que ninguém teve sucesso ainda na
detecção de seu efeito no mundo subnuclear. As duas interações que
parecem, a priori, menos dissimilares são a eletromagnética e a
fraca; a primeira sendo intermediada por fótons e a segunda por
weakons hipotéticos. Essas partículas virtuais, usualmente indicadas
pelos símbolos W+ e W-, possuem carga elétrica e devem possuir
grande massa, uma vez que até agora elas não foram produzidas em
qualquer colisão de alta energia. Recentes experiências com
neutrinos indicam que sua energia de repouso tem que ser maior do
que 30 GeV.

Esta década foi o início de um novo processo de unificação das


interações fracas e eletromagnéticas, e isso a despeito das notáveis
diferenças entre os mediadores dessas forças. Gell-Mann15, de
maneira até que bem humorada, listou os diferentes comportamentos

Página 114
Cristalino

dos dois mediadores: “Você pode ver a imensa similaridade das


propriedades dos fótons e dos weakons W± : o fóton é eletricamente
neutro, o weakon é carregado; o fóton move-se à velocidade da luz e
tem massa de repouso zero, o weakon tem energia de repouso de 50
ou 100 GeV, próxima de zero, mas há uma notável diferença; para o
fóton o acoplamento é de paridade invariante ou direito-esquerdo
simétrico, para o weakon nós sabemos ser puramente esquerdo”.
“Exceto essas diferenças menores, os acoplamentos são virtualmente
idênticos e apresentam uma analogia matemática quase perfeita que
nenhum teórico dos campos pode perceber até o momento”.

A primeira entre essas muitas diferenças entre fótons e weakons foi


resolvida pela descoberta feita no CERN em 1973, de um novo tipo
de força fraca, a então chamada “interação fraca neutra”. A teoria
que abrange o mais amplo espectro de fatos experimentais, todavia, é
uma teoria de campos proposta em 1967 por Steven Weinberg16 da
Universidade de Harvard, e independentemente, alguns meses mais
tarde, por Abdus Salam17 do Centro Internacional de Física Teórica
de Trieste. Seu desenvolvimento é intimamente ligado ao conceito de
“renormalização” que tem transformado a eletrodinâmica quântica
de uma interminável fonte de infinitos embaraçosos, numa
respeitável teoria. Teorias desse tipo foram também conhecidas com
o nome de teorias de “Gauge”. Aqui, pela primeira vez encontramos
as palavras mágicas que os Físicos repetem tão assiduamente nos
dias de hoje, enquanto discutem unificação das interações: Teorias
de Gauge. Há um outro grupo de palavras mágicas e misteriosas que
acompanham aquelas primeiras: simetria espontaneamente
quebrada. Uma das melhores apresentações dessas idéias foi dada
por Weinberg durante uma reunião da Academia Americana de Artes
e Ciência em Boston:

“As boas novas são que há uma classe de teorias quânticas dos
campos, conhecidas como teorias de gauge, que oferecem um
prospecto de unificação das interações fracas, eletromagnéticas e,
talvez, as fortes, num elegante formalismo matemático. Para explicar

Página 115
Cristalino

essas teorias, eu gostaria de fazer referência a algo muito mais


familiar: a relatividade geral. Um dos princípios fundamentais da
Física é que suas leis não são dependentes da orientação do
laboratório. Mas, suponhamos que seja estabelecido um laboratório
girante no qual a orientação variaria com o tempo. As leis da
natureza, então, seriam as mesmas? Newton diria que não. Ele
sustentaria que a rotação de um laboratório em relação ao espaço
absoluto produz uma variação na forma das leis da natureza. Esta
variação pode ser vista, por exemplo, na existência das forças
centrífugas. Einstein, todavia, dá uma resposta diferente. Ele diz que
as leis da natureza são exatamente as mesmas tanto para o
laboratório girante quanto para o laboratório em repouso. No
laboratório girante o observador vê um enorme firmamento de
galáxias girando na direção oposta. Este fluxo de matéria produz um
campo que age no laboratório e, em resposta, produz efeitos
observáveis como a força centrífuga. Na teoria de Einstein, aquele
campo é a gravitação. Em outras palavras, o princípio da
invariância, a idéia de que as leis da natureza são as mesmas tanto
no laboratório girante como no laboratório em repouso, requer a
existência da força de gravitação. Além disso, esse campo
gravitacional é responsável não somente pelas forças centrífugas mas
também pela força gravitacional ordinária entre a terra e a maçã de
Newton.”

“As teorias de Gauge são similares. Elas são teorias nas quais há um
princípio de invariância que logicamente requer a existência de
forças em si. Todavia, nas teorias de Gauge, o princípio da
invariância ou a simetria – usa-se as palavras como intercambiáveis –
não é a simetria espacial com a qual estamos familiarizados, mas
uma simetria interna. Sempre que tais simetrias surgem, elas forçam
as partículas a cair dentro de uma família natural – dubletos,
tripletos, etc. – tais como as famílias de níveis de energia de átomos
comuns. As partículas que operam as regras para as teorias de
Gauge, assim como o quantum da radiação gravitacional, o gráviton,
opera para a relatividade geral, formam uma família em si cujos

Página 116
Cristalino

integrantes são determinados pela natureza da simetria. Na versão


mais simples de uma teoria de Gauge de interações fracas e
eletromagnéticas proposta no fim da década de 60, aquela família
consiste do fóton – o quantum da radiação eletromagnética, a
partícula que transmite a força elétrica – e uma pesada e carregada
partícula intermediadora chamada weakon, ou a partícula W, que
produz os rayons urânicos descobertos por Becquerel18. Na teoria
mais simples, a massa da partícula W é cerca de 75 vezes a massa de
um átomo de hidrogênio e, portanto, muito pesada em comparação
com as massas típicas das partículas elementares; assim, o “range”
(alcance destas) é extremamente curto, cerca de 0.003 Fermis. O fato
de ser a massa grande explica porque a força fraca é tão fraca: é
difícil para tal partícula ser intercambiada. Neste tipo de teoria, a
força fraca permanece revelada como tendo exatamente a mesma
resistência intrínseca que a força eletromagnética, e as experiências
em muito altas energias mostrarão que as forças têm a mesma ordem
de magnitude.

Além do fóton, W+ e W-, há um outro membro da família, um vetor


de bóson intermediador neutro, que pode ser chamado de partícula Z.
Ele é ligeiramente mais pesado que o W e produz um tipo
inteiramente novo de ligação fraca envolvendo a troca de partícula Z
neutra. A teoria prévia não predisse que uma força fraca poderia ser
produzida por correntes neutras, e quando esta idéia foi
primeiramente proposta por teóricos, ela foi desprezada. Mas, em
1973, evidências de tais correntes neutras foram observadas num
certo número de experiências”.

Para esclarecer o mecanismo que dá essas grandes massas aos


weakons e sua relação com o vácuo, Sidney Coleman18 escreve: “Em
geral, não há razão porque uma invariância de leis que governam um
sistema mecânico quântico seria também uma invariância do estado
fundamental do sistema. Assim, por exemplo, as forças nucleares são
rotacionalmente invariantes, mas isto não implica que o estado
fundamental de um núcleo é necessariamente invariante rotacional.

Página 117
Cristalino

Isto é uma trivialidade para o núcleo, mas tem conseqüências


altamente não triviais se considerarmos sistemas que, ao contrário do
núcleo, são de extensão espacial infinita. O exemplo padrão é o
ferromagneto de Heisenberg19, que é uma rede cristalina infinita e
dipolos magnéticos, com interações entre vizinhos próximos tal que
os dipolos vizinhos tendem a alinhar-se. Ainda que as leis da
natureza sejam rotacionalmente invariantes, o estado fundamental
não é; ele é um estado no qual todos os dipolos estão alinhados numa
direção arbitrária. Um pequeno homem vivendo dentro de tal
ferromagneto teria uma dificuldade de detectar a invariância
rotacional das leis da natureza; todas as sua experiências seriam
corrompidas pelo campo magnético fundamental. Se seu aparato
experimental interage apenas fracamente com o campo fundamental,
ele pode detectar a invariância rotacional como uma invariância
aproximada; todavia, se interage fortemente, ele pode comprometer
tudo; no entanto, ele não teria razão para suspeitar que ele estava de
fato numa simetria exata. Também, o pequeno homem não teria
esperanças de detectar diretamente que o estado fundamental no qual
se encontra é de fato um dos infinitos estados possíveis que têm
diferentes orientações no espaço. Uma vez que ele é de dimensão
finita (este é o significado técnico de “pequeno” homem), ele pode
somente variar a direção de um número finito de dipolos ao mesmo
tempo; mas, para ir de um estado fundamental do ferromagneto para
outro, ele deve mudar as direções de um número infinito de dipolos:
uma tarefa impossível”.

Nosso vácuo (que é por definição o estado de energia zero, momento


zero, carga zero, etc.) está em algo polarizado e nossa experiência
corrompida: nós medimos a energia de repouso do fóton e
encontramos zero, enquanto a energia do weakon é de 80 GeV.
Todavia, se fôssemos fazendo experiências para energias muito
maiores que 100 GeV, os weakons se comportariam quase como
partículas de pequena massa e as forças fracas teriam a mesma
intensidade das eletromagnéticas. Nesta faixa de energia, a simetria
oculta se tornaria aparente, como foi o caso no primitivo e ainda

Página 118
Cristalino

quente universo, e como aconteceu no exemplo do ferromagneto,


que para alta temperatura perde sua polarização cedendo ao
movimento térmico dos dipolos. Como o exemplo acima mostra, a
quebra de simetria tem existência conhecida de outros setores da
Física. Todavia, a aplicação desses conceitos às interações
fundamentais é muito recente e coloca alguns velhos problemas
numa completamente nova perspectiva. (As diferentes constituições
e naturezas dos corpos astronômicos poderia ser vista por este
prisma? Seriam devidas à quebra de simetria?). A compreensão da
relevância das simetrias quebradas é provavelmente o mais
importante avanço na física teórica das partículas, após a descoberta
da não conservação de paridade. Cedendo às possibilidades
oferecidas pelo mecanismo da quebra de simetria, é agora possível
construir teorias tão simétricas quanto necessário para satisfazer o
princípio da invariância do Gauge e, ao mesmo tempo, explicar as
grandes assimetrias observadas no mundo físico. Estas assimetrias
dominam o mundo da baixa temperatura, com o qual lidamos, mas
desaparece quando a temperatura é tão alta que a energia envolvida
nas colisões entre partículas é muito maior que centenas de GeV.

Voltando à apresentação de Weinberg deste intrigante assunto: “Eu


quero dizer uma palavra sobre o mais paradoxal aspecto das teorias
de Gauge. Com justiça, você deve ter-se surpreendido acerca das
bases para minha referência a uma simetria que impôs um
relacionamento de família envolvendo o fóton e as partículas W e Z
que produzem as ligações fracas. Além de tudo, elas não são de tudo
semelhantes; o fóton não tem massa e as outras são muito mais
pesadas que qualquer partícula conhecida. Como elas podem ser
identificadas como membros de uma mesma família? A explicação
para isto aparece numa disciplina inteiramente diferente (diferente?),
a Física do Estado Sólido. É a idéia de quebra de simetria. Ainda
que uma teoria postule um alto grau de simetria, não é necessário que
os estados descritos pela teoria; isto é, o estado das partículas,
exibam simetria. Isto soa paradoxal, mas deixem-me dar um
exemplo. Uma taça redonda é simétrica em torno do eixo central. Se

Página 119
Cristalino

uma bola é colocada dentro da taça, ela rola em redor e vai para o
repouso em torno do eixo de simetria, ou seja, o fundo da taça. Se ela
fosse para o repouso em qualquer outro lugar, pareceria que a
solução para o problema violou a simetria do problema. Mas,
poderíamos ter uma outra taça na qual uma saliência simétrica tenha
sido feita no fundo. Nesta taça, uma bola iria repousar em algum
ponto no vale redondo formado no fundo da taça, o que quebra a
simetria, pois a bola não está sobre o eixo de simetria. Por isso,
problemas simétricos podem ter solução assimétrica. Este tipo de
quebra de simetria é análogo àquele evidente nas teorias de Gauge.
Uma expressão melhor seria “simetria oculta”, porque a simetria está
realmente presente e pode-se usá-la para fazer predições, inclusive a
existência de forças fracas. Neste particular exemplo, pode-se usar a
simetria para predizer a forma com que a bola oscilará se for
perturbada; nas teorias de Gauge unificadas das interações fracas e
eletromagnéticas, prediz-se a existência de interações e muitas das
suas propriedades. Nada na Física parece tão esperançoso para mim
como a idéia de que é possível para uma teoria ter um muito alto
grau de simetria que é oculto de nós num plano de vida comum.”

No modelo do cristalino, já introduzido aqui, a distorção local do


campo representada pelo defeito e sua interação – campo
gravitacional – é a saliência no fundo da taça do exemplo de
Weinberg, isto é, o motivo de quebra da simetria superior, oculta na
nossa escala física.

Weinberg continua: “Há também uma especulação muito


interessante que, para uma certa temperatura, a forma da segunda
taça voltará para a primeira; isto é, a presença da saliência depende
das condições físicas externas de temperatura, densidade, etc. Isto
sugere que no universo primitivo, quando a temperatura foi
extremamente alta, as forças da natureza não devem ter sido
meramente relacionadas por uma simetria oculta, mas antes, foram
realmente todas semelhantes; as interações fracas, eletromagnéticas e

Página 120
Cristalino

fortes, devem todas terem sido de longo alcance, do tipo inverso do


quadrado com a mesma intensidade.”

No nosso modelo, a fase mais primitiva do universo é o


imponderável frio de um meio perfeitamente ordenado e de
dimensões infinitas. Também, se para uma certa temperatura uma
distorção local pode ser recozida, como no exemplo da taça, isto
somente poderá ocorrer por imposição de condições físicas externas
aos limites da distorção. Que campo é este? Parece ser o Cristalino.

Há ainda algumas questões incômodas, e que não querem calar:


como unificar as interações a partir de uma base de conhecimento
parcial e elementar sobre o Universo?

O estabelecimento de um conhecimento imparcial e profundo acerca


das próprias interações está a exigir um mergulho no vazio essencial
de todos os fenômenos. Por ser imponderável, está a exigir também
o abandono de certos paradigmas da ciência, por exemplo, de que
necessitamos de “naves – agentes interferentes” para penetrar o
desconhecido, trazendo à luz as suas reações. Do ponto de vista da
Física contemporânea, a questão é: como interagir com o nada?

A nossa visão-concepção de Universo estaria toda distorcida? Se


aceitarmos o postulado de um Cristal Perfeito, a resposta é: Sim!

Página 121
Cristalino

06/09/2007 às 10:24

Uma Visão Global da Unificação das Interações

Agora sabemos que as ligações eletromagnéticas e fracas são muito


similares, e temos a teoria de sua unificação que tem o mérito de
atribuir as principais diferenças entre essas duas interações, à
simetria oculta que forma nosso mundo, mas não se manifesta
completamente no fenômeno que observamos. Deste ponto de vista,
os mediadores das interações fracas e eletromagnéticas, os
hipotéticos weakons e fótons, tornam-se da mesma família, a
despeito de terem muito diferentes massas e de estarem numa base
muito diferente de todas as outras partículas, porque sua existência
resulta de uma muito fundamental simetria da natureza, que surge
sob o nome de “invariância de gauge”. Esta invariância é o
princípio que compele Weinberg a dizer: “Como, então, responder a
questão: o que é a luz? A resposta na qual eu agora tenho a maior fé
é: O fóton é o mais visível membro da família das partículas
elementares exigidas por um grupo de gauge generalizado que media
as interações eletromagnéticas, fracas e, talvez, as fortes (tão longe
quanto posso ver, ninguém tem reclamado ser capaz de incluir
gravitação neste esquema). Se estas idéias teóricas e as experiências
que estão em andamento vingarem (isto é, forem bem sucedidas), nós
começaremos a compreender de uma forma fundamental o que a luz
é, e que o fóton (tanto como outras partículas que são menos
familiares porque nós vivemos numa escala de tempo muito mais
ampla do que elas) forma a manifestação de um princípio de simetria
da natureza que descreve a interação da matéria. Esse princípio é
tanto ou mais fundamental que qualquer coisa que nós conhecemos
sobre o mundo”.

O ponto de vista que prevalece hoje é que os mediadores das forças


fortes – os gluons – são também gerados como os weakons e fótons,
por uma simetria de gauge. Se a troca de gluons for provada ser o
mecanismo que liga os quarks aos hadrons nos próximos anos, então

Página 122
Cristalino

nós estaremos de volta ao ponto de vista clássico da Física, que fez


distinção entre “matéria” e “forças”: quarks e leptons são matéria,
enquanto fótons, weakons e gluons são as causas das forças. Aqui,
também, as surpresas não são excluídas, mas o quadro que parece
emergir é simétrico e de conseqüência permanente.

Aqui, uma última observação sobre os efeitos do conhecimento


adquirido com aceleradores de partículas na compreensão do
problema da origem do universo. O “status” no campo das
interações fundamentais é tal que hoje é possível falar de uma
maneira científica dos estágios primitivos do desenvolvimento do
universo e construir modelos que possam ser comparados com dados
astrofísicos. O assunto foge ao escopo do presente artigo, mas o
amplo sucesso mundial do livro de Weinberg “Os primeiros três
minutos” demonstra quão fascinante é abrir o pensamento. Aqui, eu
gostaria de enfatizar que um completo entendimento do problema da
origem tem sua única fonte num profundo conhecimento do
comportamento da matéria ante a transferência de momento e
energias iguais ou maiores que aquelas encontradas até agora.

11/09/2007 às 2:28

Uma Técnica para “Fusão do Vácuo”

As Idéias de Bruno Touschek

Nos últimos anos, o estudo dos quarks por meio de experiências de


espalhamento foi completado e aprofundado pelo rápido crescimento
de um novo recurso da Física de Alta Energia: os “storage rings” –
aceleradores de partículas em forma de anéis. Por muitos anos os
Físicos sonharam em fazer melhor uso da energia de suas partículas,
tendo dois feixes iguais de partículas colidindo: neste caso o
baricentro da colisão está em repouso no laboratório e a energia
liberada se iguala à soma das energias de ambos os feixes. Todavia,

Página 123
Cristalino

somente no início dos anos 60 que vários desenvolvimentos na


tecnologia dos aceleradores abriram caminho para a construção dos
“storage rings” que poderiam manter dois feixes suficientemente
intensos por períodos longos o suficiente para produzir um não
desprezível número de colisões por segundo em cada um dos pontos
onde os feixes se interceptam. No CERN, a construção do
Intersecting Storage Ring (ISR) completou-se em 1970, e as colisões
entre dois feixes de prótons de 30 GeV revelou muitas facetas
inesperadas das interações fortes. Ainda mais produtiva foi a linha
defendida por Bruno Touschek20, que em 1959 propôs o estudo das
aniquilações de pósitrons e elétrons acumulados no mesmo anel
magnético. Ele era tão favorável ao uso desta reação, em particular
com relação à colisão entre fótons, porque ele acreditava que ela era
muito mais simples de interpretar. Prótons são objetos realmente
complicados, e suas interações fortes, embora interessantes, não são
facilmente tratáveis por uma descrição simples como a permitida
pelo comportamento puntiforme dos elétrons e dos pósitrons.
Touschek tinha duas idéias claras e simples:

i – O sistema e+e- (pósitron elétron) tem o número quântico de um


bóson e, portanto, para as altas energias disponíveis, é uma fonte
eletromagnética de partículas bastante relevante para o estudo das
ligações fortes bem como para a eletrodinâmica;

ii – Elétrons e pósitrons de igual energia têm a propriedade de


seguirem a mesma trajetória (com velocidade inversa) num campo
magnético. Assim, eles naturalmente interceptar-se-iam num anel
magnético simples e, na colisão, toda a energia seria liberada, uma
vez que o centro de massa estaria em repouso.

13/09/2007 às 12:43

As Cores de Oscar Greenberg

Página 124
Cristalino

O elétron e o pósitron, cada um carregando a energia E, na


aniquilação produzem um fóton de energia 2E, que está em repouso
no laboratório porque inicialmente o elétron e o pósitron têm
velocidades iguais e opostas. O fóton é virtual porque sua energia e
momento são completamente descasados (não conservados em
virtude da ausência de um campo forte para o recuo), e ele pode
existir somente por um tempo que é da ordem de ћ/2E. Para 1.5 GeV
este tempo é tão pequeno quanto 2 x 10-25s; isto é, é muito menor que
os tempos típicos das interações fortes. A brevidade deste tempo
não permite a produção de hadrons normais (tais como pions, kaons
ou prótons) porque eles estendem-se no espaço sobre dimensões da
ordem de 1 fm, e necessitam tempos da ordem de 10-23s para serem
criados. Isto não afeta, todavia, a produção de leptons e, em
particular, de pares de muons, que são certamente menores que um
centésimo de fermi. Antes das experiências começarem, foi predito
que a razão R (dada pelo número de eventos nos quais hadrons são
produzidos pelo número de eventos nos quais o par μ+μ- é produzido)
deveria ser muito menor que 1/10. Os resultados obtidos mostraram
que, nesta faixa de energia, R é da ordem de 2.

Esses resultados devem ser qualitativamente compreendidos,


dizendo-se que o fóton virtual não produz hadrons (que possuem
extensão espacial), mas pares de quark-antiquark, os quais, sendo
puntiformes, comportam-se como pares de muons e sucessivamente
fragmentam-se nos hadrons observados. Todavia, essa disposição
não concorda quantitativamente com os dados experimentais porque
os pares de quarks que podem ser criados possuem cargas elétricas
de 2/3, 1/3 e 1/3 da carga de um muon. Uma vez que a probabilidade
de produção é proporcional ao quadrado da carga, a razão R é
esperada ser igual a (2/3)2 + (1/3)2 + (1/3)2 = 2/3, ao invés do valor 2
observado. Essa contradição seria muito embaraçosa para a
interpretação do quark, não fosse um novo conceito introduzido em
1964 por Oscar Greenberg21. Sobre o novo conceito ele escreveu: “A
nova propriedade é chamada color, embora nada tenha a ver com
visão ou cor dos objetos no mundo macroscópico; neste contexto,

Página 125
Cristalino

color é meramente um rótulo para uma propriedade que expande o


conjunto original dos quarks de 3 para 9. Cada quark do tripleto
original pode aparecer em uma das três cores , ditas vermelha,
amarela ou azul. Todas as versões da teoria do color assumem que
nos barions conhecidos, as três cores dos quarks estão igualmente
representadas; como resultado, a partícula não exibe nenhuma cor.
Similarmente, os mesons são feitos de iguais proporções de pares
quark-antiquark vermelho, amarelo e azul, e são também incolores.”

17/09/2007 às 9:58

A Cromodinâmica Quântica de Sheldon Glashow

A hipótese de cores não só multiplica a razão R por três, colocando-a


de acordo com as observações experimentais, mas é também útil na
explicação de outros fenômenos observados e abre caminho para um
profundo conhecimento das interações fortes e da falta de
observação de quarks livres. (Aqui pode ser desenvolvido um
raciocínio analógico sobre a possibilidade de serem os quarks os
constituintes de um Cristalino, a partir dos quais, pela fusão em
determinadas condições, são criados os hadrons. O modelo do
Cristalino, em princípio, prevê constituintes de uma única espécie
que, todavia, tem suas manifestações diversificadas pelo nível de
excitação ou simetria. Esta seria uma explicação para outros tipos
de partículas como os leptons, que podem ser igualmente excitadas
do vácuo tendo como mediadores – tanto os leptons como os
hadrons – os fótons e weakons). Para descrever as idéias desta
recente e ainda hipotética teoria das interações fortes, é necessário
introduzir um novo rótulo para os quarks: flavour. Desnecessário
dizer que ele nada tem a ver com os sabores dos objetos
macroscópicos; dizemos que os quarks aparecem em três sabores e
cada sabor tem três cores.

Tomando de Sheldon Glashow22 a descrição da ainda especulativa


teoria da cromodinâmica quântica, que faz uso de dois atributos,

Página 126
Cristalino

cor e sabor, para rotular os quarks, ou melhor, os campos


fundamentais da natureza: “Nós podemos propor uma questão
fundamental: o que explica o postulado de que todos os hadrons
devem ser coloridos? Uma aproximação incorpora o modelo de cor
dos hadrons numa classe de teorias chamadas teorias de gauge. A
teoria de gauge em cores postula a existência de oito partículas sem
massa, às vezes chamadas gluons, que são portadoras da força
“forte”, assim como o fóton é portador da força eletromagnética.
Gluons, como os quarks, não foram detectados. Quando um quark
emite ou absorve um gluon, o quark varia de cor mas não seu sabor.
Por exemplo, a emissão de um gluon pode transformar um quark
vermelho num azul ou amarelo, mas não num quark de outro sabor.
Uma vez que os gluons coloridos são os quanta das ligações fortes,
segue-se que a cor é o aspecto dos quarks que é mais importante nas
ligações fortes. A teoria de gauge colorida propõe que a força que
mantém juntos quarks coloridos, representa o verdadeiro caráter da
ligação forte. A mais familiar interação forte dos hadrons (tal como a
ligação de prótons e nêutrons no núcleo) é uma manifestação da
mesma força fundamental; mas, as interações dos hadrons incolores
não são mais que uma remanescência da interação fundamental entre
quarks coloridos. Assim como forças de Van Der Waals23 entre
moléculas é somente um leve vestígio da força eletromagnética que
liga o elétron ao núcleo, a força forte observada entre hadrons é
somente um vestígio daquela que está operando dentro de um hadron
individual.”

19/09/2007 às 4:58

Os Limites da Análise nas Idéias de Kogut, Wilson e Susskind

“A força magnética entre duas partículas carregadas é descrita pela


lei de Coulomb24: a força decresce com o quadrado da distância entre
as cargas. Kogut, Wilson e Susskind argüiram que a força forte entre
dois quarks coloridos comporta-se completamente diferente: ela não

Página 127
Cristalino

diminui com a distância, mas, permanece constante independente da


separação dos quarks. Se seu argumento é válido, uma enorme
quantidade de energia será requerida para isolar um quark. Separar
um elétron da camada de valência de um átomo requer uns poucos
eletronvolts. Desintegrar um núcleo atômico requer uns poucos
milhões de eletronvolts. Em contraste com esses valores, a separação
de um quark simples de apenas uma polegada do próton do qual ele é
constituinte, requereria o investimento de 1013 GeV, energia
suficiente para separar o autor da terra de uns 30 pés. Muito antes de
tal nível de energia ser alcançado, um outro processo interviria. Da
energia fornecida no esforço para extrair um quark simples, um novo
quark-antiquark se materializaria (do vácuo). O novo quark
substituiria aquele removido do próton e reconstituiria a partícula. O
novo antiquark associar-se-ia ao quark deslocado, fazendo um
meson. Ao invés de isolamento de um quark colorido, tudo é
resumido na criação de um meson incolor.

“Se esta interpretação do confinamento do quark é correta, sugere-se


uma engenhosa maneira de terminar a regressão aparentemente
infinita da estrutura fina da matéria. Átomos podem ser analisados
em elétrons e núcleo; núcleos em prótons e nêutrons; e prótons e
nêutrons em quarks. Entretanto, a teoria do confinamento do quark
sugere que a série para aqui. É difícil imaginar como que uma
partícula poderia existir numa estrutura interna se a partícula não
pode ser criada.”

A tentativa feita com a hipótese do “bootstrap” para deter a infinita


regressão no nível dos hadrons, falhou por causa dos quarks. O
confinamento do quark deve ser uma forma de encerrar a série para o
nível da matéria que alcançamos, mas ele é ainda um trabalho
hipotético, embora atrativo. [6]

6 Amaldi, U. – Particle Accelerators and Scientific Culture – CERN-79-06, Experimental


Physics Division, July, 12 1979 – Genova – Italy.

Página 128
Cristalino

Na teoria do modelo do Cristalino, acredito que há um limiar de


energia para o estudo das partículas elementares através da análise
(isto é, por cisão e isolamento e confinamento), a partir do qual
passa a ocorrer a fusão do Cristalino, excitando partículas de
semelhante natureza daquelas que se pretende isolar da estrutura
mais complexa que, segundo o modelo, tiveram sua origem nas
interações dessas partículas primas. Essas partículas primas, nos
primeiros instantes do Universo, teriam se associado através das
ligações fortes, fracas e eletromagnéticas, constituindo os átomos,
moléculas etc.; e através das interações gravitacionais, vieram
constituindo as entidades do macrocosmo. É claro que a hierarquia
das interações submete-se ao seguinte comando: sendo o tamanho
da entidade comparável ao alcance da interação, predomina a
interação de alcance imediatamente superior e, portanto, mais fraca.

Página 129
Cristalino

VII - O Pensamento de Behram Kursunoglu

Primórdios da Eletrodinâmica Quântica

24/09/2007 às 12:16

Por volta do início dos anos 50, as duas mais fundamentais teorias da
Física, relatividade e mecânica quântica, estavam bem estabelecidas.
A mais simples e menor partícula elementar conhecida, o elétron,
era, através do trabalho de Dirac, perfeitamente bem compreendida:
sua interação com o campo eletromagnético, seu comportamento
geral num átomo, e seu papel nos processos químico e molecular
estava em meio às brilhantes descobertas da teoria quântica no geral
e da eletrodinâmica quântica no particular. Todavia, havia então,
ainda, pequenos detalhes na interação do elétron e do campo
eletromagnético que emergiram das experiências de Willis Lamb25
com relação a alguns “desvios” menores nos níveis de energia de um
átomo. Esses “pequenos” desvios das predições não poderiam ser
absorvidos por simples modificações das teorias existentes. Essas
experiências requeriam uma formulação “relativística especial” mais
refinada da teoria quântica; isto é, eletrodinâmica quântica. A
relatividade, como aplicada até então, não permitia uma estrutura
estendida para os elétrons, mas um elétron puntiforme era o único
modelo compatível com os postulados da relatividade especial. A
despeito dessas falhas, Físicos teóricos como Feymann, Schwinger,
Tomanaga, Dyson e outros, tiveram êxito na reformulação da
eletrodinâmica quântica de tal maneira que os “infinitos” da velha
teoria, oriundos parcialmente da descrição puntiforme do elétron e
parcialmente do complexo comportamento quântico produzido pela
exigência relativística, foram eliminados.

Página 130
Cristalino

A Idéia de Behram Kursunoglu

26/09/2007 às 10:47

A nova teoria da eletrodinâmica quântica dissimula a “verdadeira


natureza” da carga elétrica e da massa que carrega essa carga na
trama cinzenta daquilo que foi chamado “renormalização de carga e
massa”. As equações da eletrodinâmica quântica que contém os
parâmetros carga e massa não produzem de algum modo, em todos
os casos, resultados observáveis finitos. Todos os cálculos que
contém a massa e a carga, levam à respostas “infinito”, a menos que
esses infinitos sejam embutidos de uma maneira engenhosamente
formulada e sejam por “decreto” equacionados para os resultados
finitos observados. Este era o conceito da “renormalização” e as
regras para ele foram “logicamente” e “iniqüamente” estabelecidas
tal que qualquer um no campo computaria para qualquer processo
eletromagnético (emissão, absorção, espalhamento de partículas e
fótons, criação e aniquilação de partículas e anti-partículas, etc.) um
resultado finito em boa concordância com a experiência. Isto era tão
convincente que os mais renomados Físicos aceitaram como uma
resposta final às dificuldades da teoria quântica relativística e
adotaram a “renormalizibilidade” de uma teoria física como um
princípio da física. Tudo isso foi feito à custa da lesão da mais
“apaixonante” e interessante região da partícula elementar: sua
constituição interior.

Por exemplo, na eletrodinâmica clássica, a energia potencial de uma


partícula puntiforme com carga elétrica e é definida como e2/r, onde r
é sua distância em relação à outra carga e. Assim, sua energia
própria, isto é, a energia computada para r=0 é obviamente uma
quantidade infinita. Energia própria na teoria quântica, como um
problema de um “corpo infinito”, assume uma forma muito mais
complicada e é, mesmo após o procedimento de renormalização,
ainda uma quantidade infinita. Uma vez que a energia própria não
aparece diretamente nos resultados calculados da eletrodinâmica

Página 131
Cristalino

quântica, os inventores do esquema de renormalização ocultaram-na


sob o tapete e dessa maneira revelaram o fato de que a
“renormalização” contornava dificuldades básicas da eletrodinâmica
quântica sem resolver os problemas atuais.

Experiências têm demonstrado agora a existência de cerca de 200


partículas diferentes que interagem por via de algumas ou todas as
chamadas quatro interações fundamentais conhecidas: forte,
eletromagnética, fraca e gravitacional (mais fraca que a fraca). A
massa, ou mais geralmente a energia, é a fonte do campo
gravitacional e a sua esfera de influência como uma força de atração
se estende a distâncias infinitas. Por essa razão ela é classificada
como uma força de “longo alcance”. Para finalidades mais práticas, a
influência da gravitação (mesmo se causada pela existência de
massa) na proliferação de partículas elementares e no seu
comportamento geral é ignorada. A carga elétrica é a fonte do campo
eletromagnético e sua esfera de influência na forma de forças
atrativas e repulsivas também se estende a distâncias infinitas e,
assim, é um segundo exemplo fundamental de uma “força de longo
alcance”. A razão da força eletromagnética entre duas cargas
elétricas e com igual massa m para a força gravitacional entre as
massas é dada por:

e2 / Gm2 = 1040 ,

onde m é a massa de um elétron e G é a constante gravitacional que


aparece na lei de gravitação universal de Newton. Daqui se conclui
que o erro que se comete ao desprezar a influência da força
gravitacional no comportamento da partícula elementar é, sem
dúvida, muito pequeno. Todavia, mesmo quando a interação
gravitacional é omitida, o sucesso da eletrodinâmica quântica não
poderia ser estendido a uma compreensão real das forças nucleares
que agem somente sobre curtas distâncias, da ordem de 10-15 a 10-13
cm. Além disso, experiências realizadas com partículas como
elétrons, prótons e fótons a muito altas energias (de 100 a 500

Página 132
Cristalino

bilhões de eV) têm, sem qualquer sombra de dúvida, revelado que


não somente partículas pesadas como o próton e o nêutron (barions),
mas também uma partícula leve como o elétron (lepton), que tem
massa 1/2.000 vezes a massa do próton, têm uma estrutura complexa
(estendida) e, de fato, interagem fortemente a muito altas energias.
Experiências têm dado assim, evidências indicando uma unidade
básica de todas as interações. A intensidade e o alcance das
interações fortes foram descobertas ser dependentes da energia, e a
forma dessa dependência lança dúvidas em algumas das convicções
mais aceitas como, por exemplo, que um elétron ou um fóton não
exibem interações fortes.

O quadro emergente da breve discussão acima sobre o “status” atual


do assunto, aponta para a unidade de todas as interações
fundamentais. Esta indicação da unificação da física ou, mais
geralmente, da ciência, tem um apelo estético e filosófico.

Nas três seções seguintes, Kursunoglu tentará resumir a evolução de


alguns esforços e, em particular, concentrar-se-á mais nos últimos
progressos feitos em sua própria pesquisa (teoria da gravitação
generalizada) para conexão entre o menor (a partícula elementar) e o
maior (o universo).

Uma Nova Carga Magnética

01/10/2007 às 12:17

Nos últimos anos passados, houve grande interesse na possível


estrutura composta do próton. Consistiria o próton de três unidades
fundamentais (quarks) portando cargas fracionárias cuja soma é
exatamente +e, ou ele seria constituído de pontos infra-estruturais
(partons) mantidos juntos por uma goma (gluons)? Tais modelos
foram propostos sobre bases teóricas já antigas e uma intensiva
pesquisa experimental sobre esses objetos tem falhado para descobri-

Página 133
Cristalino

los e, de fato, as experiências de colisão mencionadas acima, tendem


a não confirmar esses modelos teóricos.

Kursunoglu inclinou-se a entender que a unidade das ciências


naturais poderia ser melhor demonstrada numa teoria onde a
realidade física completa seja representada por um simples conceito
de campo. A fundamentação matemática para tal eventualidade foi
proposta por Einstein e Schrödinger27 nos últimos anos 40 e
primeiros 50. As equações de campo propostas por aqueles autores
eram baseadas na generalização da teoria da relatividade geral de
Einstein, mas eram ainda incompletas, uma vez que as equações não
continham uma constante fundamental das dimensões de
comprimento e não davam uma interpretação física para várias
quantidades matemáticas contidas em suas teorias. Uma versão
diferente da aproximação de Einstein – Schrödinger foi proposta por
Kursunoglu em 1952 e levou, como uma conseqüência das
considerações geométricas unicamente estabelecidas, a uma teoria
contendo um pequeno comprimento fundamental r0. Descobriu-se
então que para r0 = 0, a nova teoria se reduzia à teoria da relatividade
geral de Einstein de 1916. A existência desse princípio de
correspondência dava uma base firme para as interpretações físicas
da teoria e, quem sabe, removia o maior estorvo para a construção de
uma correta teoria do campo unificado.

No modelo do Cristalino, este comprimento fundamental seria o


parâmetro da rede fundamental do universo.

Uma das conseqüências básicas da teoria era a emergência de um


novo conceito de carga magnética, no qual o monopolo proposto
inicialmente por Dirac, fosse descoberto não existir. A nova carga
magnética desempenha um papel fundamental na compreensão da
natureza das partículas elementares, núcleo, átomos e moléculas. Na
longa corrida, a última estrutura de todos os sistemas naturais era
baseada no nosso conhecimento da estrutura do e (elétron), p
(próton), νe (elétron-neutrino), ν (muon-neutrino) e as suas

Página 134
Cristalino

correspondentes anti-partículas. Esse grupo de partículas se refere


aos órbitons e anti-órbitons, respectivamente.

Um Novo Vácuo

04/10/2007 às 12:31

A estrutura é determinada pelas três interações fundamentais: (1)


interação gravitacional no âmago da partícula elementar, cuja
intensidade é dada por Gm2/ћc, onde G é a constante gravitacional
universal e m é a massa de Planck e é da ordem de 10-5 gramas. As
interações gravitacionais têm caráter de longo alcance; (2) interações
eletromagnéticas, cuja intensidade é medida por e2/ћc, onde e é a
carga elétrica, têm caráter de longo alcance; (3) interações
magnéticas, cuja intensidade é medida por gn2/ћ (n = 0,1,2,…), têm
caráter de curto alcance. As cargas magnéticas gn, que tendem a zero
com o aumento da distância da origem (ou para n→∞), constituem o
núcleo dos órbitons (isto é, elétron, próton, elétron-neutrino e muon-
neutrino) na forma de camadas estratificadas com sinais alternados e
satisfazem a lei fundamental de conservação:

∑n=0,1,2,…∞gn=0(1) ,

onde

gngn-1,n≠0, Lim n→∞gn=0

A lei da conservação (1) implica em sucessivas blindagens da carga


magnética das camadas que, por conseguinte, dá como resultado
forças de caráter de curto alcance. O resultado implica ainda na
ausência de monopolos. Em tudo o que foi posto acima, é assumido
que os neutrinos νe e ν têm massas pequenas (mas finitas)
comparadas às dos elétrons e prótons. Os órbitons e anti-órbitons têm
a mesma carga magnética contida gn, distribuída em seus núcleos de

Página 135
Cristalino

acordo com a lei da conservação, mas diferentes densidades de carga


magnética nas camadas estratificadas. Para distâncias grandes
comparadas a um raio atômico, o acoplamento entre um elétron e um
próton é muito mais devido à atração coulumbiana, e o acoplamento
magnético gn2 é deveras pequeno. No caso de um átomo de
hidrogênio, a atração coulumbiana é contrabalançada pelas atrações e
repulsões magnéticas que aumentam com o decréscimo da distância
entre o elétron e o próton. Assim, ambos, elétron e próton induziriam
“oscilações magnéticas” um no outro, com o elétron ocupando o
estado de maior freqüência de oscilação.

No sentido de discutir estados de ligação mais profundos que os


atômicos, nós precisamos definir o “vácuo” em torno dos órbitons.
Cada órbiton carrega um vácuo em torno de si, consistindo de pares
de órbitons com energia positiva e anti-órbitons com energia
negativa.

Parece-nos como o par lacuna-intersticial num arranjo Cristalino


onde o átomo oscilando em torno de sua posição de equilíbrio
(transitoriedade) deixa atrás de si uma lacuna (não
substancialidade), aniquilando-se mutuamente na freqüência de
oscilação (caminho médio – vacuidade).

Assim, a energia total, o spin total, a carga elétrica total e a carga


magnética total do vácuo são zero. Todavia, deve ser enfatizado que
o vácuo tem uma energia gravitacional líquida positiva.

Essas assertivas estão em plena concordância com a idéia de um


meio Cristalino “perfeito” em seu estado fundamental.

Este tipo de vácuo é inteiramente diferente daquele obtido na


eletrodinâmica quântica, onde a energia total do vácuo não se anula
e, de fato, é infinita. Uma das conseqüências indesejáveis da última
referência à chamada renormalização de carga, massa e energia
própria infinitas, é que esta serve para dissimular as dificuldades

Página 136
Cristalino

fundamentais da eletrodinâmica quântica. Esse estado de coisas, a


despeito do sucesso da eletrodinâmica quântica na explicação do
fenômeno da radiação eletromagnética, leva à necessidade de
esquematizar o núcleo das partículas elementares e, dessa maneira,
eliminar a possibilidade de uma real compreensão de sua estrutura.

Um Novo Spin

11/10/2007 às 10:09

Com base no novo vácuo introduzido acima, podemos considerar


fenômenos para curtas distâncias comparadas com os raios atômicos
e nucleares, como, por exemplo, quando um elétron e um próton
acoplam-se a muito altas energias. Um profundo estado de ligação do
elétron e do próton pode ser produzido pelo acoplamento elétrico e
magnético entre eles e um par νe e seu anti correspondente νe- são
criados do vácuo.

n = e + p + νe- (2)

onde um nêutron é um estado profundamente ligado do p, e e νe-,


com νe- sendo acoplado ao e e p através da sua camada magnética
única. A instabilidade resultante tem a vida de um nêutron livre.

A segunda lei fundamental da conservação se refere ao momento


angular do spin de um órbiton dado por:

(-1)s∑n=0,1,2,…∞ gn2= (-1)s(1/2)ћc (3)

onde s = 0,1; e refere-se ao spin up e spin down; onde

gn2=γnћc (4)

Limn→∞γn=0,Σn=0,1,2,…∞γn=1/2 (5)

Página 137
Cristalino

Assim, de (4) nós vemos que a existência da carga magnética gn é


uma conseqüência da ação quântica de ћ e, portanto, a estrutura dos
órbitons, átomos e moléculas é um fenômeno quântico. A regra de
soma do momento angular do spin para qualquer número de
partículas que estão acopladas magneticamente é dada por:

Sz=±[(1/2)ћΣn=0,1,2,…∞1/c(gn+gn’+gn’’+...)2]1/2(6)

|gn| = |gn’| = |gn’’| = … (7)

É claro, do que foi exposto acima, que as direções do spin e sinais de


gn são correlacionados. Assim, vemos que o conceito de momento
angular do spin emerge como uma propriedade intrínseca que surge
da estrutura de camadas magnéticas da partícula elementar. A
existência do spin requer uma densidade de matéria representada,
nesta teoria, como energia potencial devido às interações
gravitacional, “magnética” e eletromagnética. Na teoria quântica
convencional, o momento angular do spin atribuído a uma partícula
puntiforme é obtido como um “efeito quântico” (isto é, ћ=0).
Kursunoglu não considera isto como uma explicação do spin.

Uma Nova Força

17/10/2007 às 11:21

O conceito do fóton em si e seu spin, também não é necessariamente


uma conseqüência da teoria quântica convencional apenas. A
observação de um fóton requer a sua emissão ou absorção pela
matéria. Assim, requer-se uma densidade material para se conceituar
o fóton. Por exemplo, no caso da aniquilação de pares (e- + e+, etc.)
em fótons, a conservação do momento angular do spin não induz
necessariamente uma propriedade de spin aos fótons. Na presente
teoria, a energia e momento de um fóton de menor massa resulta da

Página 138
Cristalino

integração da “densidade de carga magnética” sobre o espaço e


tempo do par partícula-antipartícula “localizado”. A dependência do
tempo da densidade de força localizada tem um finito mas curto
comprimento de pulso, tal que o pacote de energia é produzido como
soma de um número infinito de “freqüências parciais” vezes ћ.
Assim, para a energia do fóton obtemos o resultado:

Eγ=ћΣn=0,1,2,…∞Wn=ћW(8 )

onde a freqüência parcial Wn ou “energia parcial” En(=ћWn)


representam a aniquilação da n-ésima camada magnética do par e- e
e+. A presente criação do par de fótons cobriria um intervalo de
tempo da ordem de rc/c≈10-23sec, rc é o tamanho médio da partícula e
antipartícula.

Em princípio, todos os sistemas físicos, além dos órbitons e anti-


órbitons, como, por exemplo, nêutron, muon, pion, etc.; bem como
núcleo, átomos, moléculas, correspondem à solução de equações de
campo não lineares numa simetria de espaço-tempo específica. Por
exemplo, os nêutrons ou muons como estados profundamente ligados
de três partículas, resultariam como soluções dependentes do tempo
das equações de campo num sistema de coordenadas elipsoidal ou
esfericamente simétrico.

Essas simetrias de campo são soluções também para as zonas de


influência de defeitos em cristais.

Similares considerações podem ser estendidas aos mais complicados


sistemas com maiores simetrias de espaço-tempo. As forças
interatômicas e intermoleculares, tanto as atrativas como as
repulsivas, podem, esperançosamente, ser explicadas não somente
pela distribuição de carga elétrica e as correspondentes relativamente
de curto alcance forças eletromagnéticas, mas também pelas forças
de curto alcance contribuintes através do “acoplamento magnético”

Página 139
Cristalino

dos átomos e moléculas, respectivamente. Embora a extensão da


distribuição das camadas magnéticas seja muito menor que o alcance
infinito das forças eletromagnéticas e gravitacionais, elas podem
ainda acoplarem-se nas distâncias moleculares. Assim, as chamadas
forças nucleares correspondem ao acoplamento de camadas
magnéticas das partículas para gn2 muito maior (isto é, pequenos
valores de n) que aquele correspondente ao acoplamento atômico ou
molecular (isto é, para grandes valores de n). Para gn2 maiores que
aqueles da força nuclear ordinária, o acoplamento magnético de
órbitons leva, através da formação de um estado profundamente
ligado, a novos tipos de forças (convencionais ligações fracas)
resultando na produção de uma infinita variedade de partículas-
estado.

Um Novo Papel Para a Força Gravitacional

30/10/2007 às 10:21

No sentido de ilustrar a produção de partículas nesta teoria, nós


consideramos, por exemplo, experiências de um “storage ring” onde
colisões de feixes de e- e e+ produzem várias partículas-estado.
Assim, o caso mais simples envolve a produção do par νe e νe- do
vácuo e leva à reação:

e++e-→(e+e-)+(νe-e)=(e+νe)+(e-νe-)=ρ++ρ-(9)

onde os pions ρ+e ρ- são estados profundamente ligados de dois


órbitons, isto é,

ρ+=(e+νe), ρ-=(e-νe-)(10)

Página 140
Cristalino

O próximo estado superior corresponde à energia de colisão do feixe


onde ambos os pares (νe, νe-) e (νμ, νμ-) podem ser criados do vácuo e
combinar (por várias leis de conservação) com e+e e- para produzir:

e++e-→(e+e-)+(νe-νe)+(νμ-νμ)=

(e+νeνμ-)+(e-νe-νμ)=μ++μ-(11)

onde os muons μ+ e μ- são criados como estados profundamente


ligados de três órbitons.

Um significado teórico adicional para o modelo de partículas


elementares acima, pode ser visto a partir da teoria considerando-se
g=0. A relatividade geral e a eletrodinâmica são válidas somente em
cima ou além do horizonte magnético (onde g=0). A região abaixo
do horizonte magnético é o âmago da partícula e é descrita pela
teoria da gravitação generalizada. Essa região é formada pela
“condensação gravitacional” das cargas magnéticas parciais gn.
Assim, a força gravitacional, indiferente de quão fraca ela possa
ser, assume o papel de um “fermento” (levedura) para a formação de
uma partícula. Para g=0, todos os resultados da teoria existente são
recuperados (princípio da correspondência) desta teoria geral quando
o âmago da partícula (em vista dos infinitos discutidos
anteriormente) é excluído da consideração e seu papel é representado
ou por um esquema de “renormalização” ou pela teoria dos quarks e
partons de partículas elementares.

Uma Nova Energia Própria

07/11/2007 às 10:30

Na introdução do conceito de energia própria, foi elaborado e


também mostrado ser ele um muito importante problema não
resolvido da Física. Nesta teoria ele tem em vez do valor infinito

Página 141
Cristalino

obtido na eletrodinâmica quântica, um valor finito. Ele emerge da


definição de massa de uma partícula na forma de:

M=(1/2)m2Es/c2 (12)

onde Es é a energia eletromagnética própria que é finita. A razão do


valor finito de Es na equação (12) é devida à existência de uma carga
magnética g. De fato, para g=0, Es torna-se infinita, como é
descoberto na eletrodinâmica quântica. Os sinais de + e – em (12)
referem-se à existência de partículas e antipartículas que foram
anteriormente preditas, por via de outras teorias, por Dirac no início
dos anos 20. Todavia, nesta teoria o conceito antipartícula, em vista
da inclusão do campo gravitacional, assume um papel mais
fundamental que aquele predito por Dirac. Na próxima seção é
apresentada, como conseqüência cosmológica da presença de
antipartículas, uma predição para a existência em larga escala de
antimatéria no Universo.

Foi assinalado anteriormente que tanto a teoria da relatividade


especial como a geral não permitem uma extensão mecânica rígida
para um objeto; e, portanto, o único modelo possível para uma
partícula elementar era a descrição dela como um evento num ponto
do espaço-tempo. Na teoria que está sendo apresentada aqui, o
modelo do ponto é substituído por uma estrutura que tem uma
extensão no espaço-tempo e está também em completo acordo com
os princípios da relatividade geral. A razão fundamental para isto
reside na indeterminância no espaço do número infinito de
superfícies de densidade de carga magnética neutra. Essa
indeterminância se estende ao comprimento de onda de Compton28
do próton ou do nêutron que é dado por ђ/mc, onde ђ é a constante
de Planck dividida por 2П. Nesta teoria, a rigidez, incompatível com
o princípio da relatividade, é substituída pelo princípio da
indeterminância (o único compatível com o princípio da covariância
geral) e esta é a única maneira compatível com a relatividade de se
introduzir uma partícula de núcleo estendido. A predição da

Página 142
Cristalino

indeterminância para a distribuição de cargas magnéticas neutras no


âmago das partículas pela teoria é, na opinião de Kursunoglu, o
mais significante resultado e, num senso geral, faz um primeiro
contato com o comportamento teórico-quântico da natureza.
Kursunoglu compreende que isto é a solução final do problema
crônico da energia própria, bem como uma solução para incorporá-
la numa partícula de âmago de estrutura estendida.

A estrutura composta da partícula demonstra que num processo de


espalhamento é natural esperar uma dependência da seção transversal
S(E,gn), n=1,2…, da carga magnética contida numa camada e de sua
espessura média. Por exemplo, duas partículas idênticas podem se
espalhar pela interpenetração de suas respectivas camadas
estratificadas de densidade de carga magnética. A carga magnética g
assume um espectro de valores, e o total da carga magnética em cada
camada é conservado de tal maneira que a soma da distribuição total
nas camadas estratificadas é zero. Portanto, no espalhamento de duas
partículas idênticas, a máxima interação ocorrerá sempre que o
encontro for entre camadas idênticas da distribuição de carga
magnética, em cujo caso a força é repulsiva. O encontro entre
camadas de sinais opostos leva à atração magnética e essa força é,
em geral (para partículas idênticas), menor que as forças de repulsão.
A freqüência com a qual forças atrativas ou repulsivas ocorrem,
dependerá da energia. A interação de camadas iguais requisitará uma
crescente quantidade de energia no sentido de atravessar de uma
camada para outra. Cada cruzamento de uma barreira neutra, na
direção das camadas mais internas, requisitará uma escala de energia
ainda maior. Quantum mecanicamente, o encontro entre duas
camadas idênticas contribuirá para um efeito “exchange” de
espalhamento.

Assim, em geral, essa teoria prediz, para altas energias, diferentes


comportamentos para o espalhamento de próton de próton, próton de
nêutron, e nêutron de nêutron. Além disso, a produção e a

Página 143
Cristalino

distribuição angular de mesons destes vários processos de


espalhamento será diferente.

Um Novo Universo

09/11/2007 às 12:02

Devemos agora especular sobre a história, uma muito longa história,


da primeira partícula criada, ou partículas, e a construção do nosso
Universo. As leis governantes do Universo no nível fundamental,
além das interações magnéticas e gravitacionais, incluem agora um
número infinito de interações de curto alcance (ou fortes) induzidas
pelo espectro infinito de valores de carga magnética. Há correlações
entre os valores de g e a correspondente força de curto alcance. De
acordo com essa teoria, é assumido que a básica realidade física é
agora um CAMPO e foi, no passado “infinito”, também um
CAMPO. Assim, a origem do nosso universo presente pode ser
discutida do ponto de vista de um “campo primordial”, ao invés de
um “átomo primordial”, deduzido da relatividade geral por George
Lamaitre e mais tarde generalizada por George Gamow na teoria do
“big-bang” do Universo. De acordo com a teoria do “big-bang”, o
Universo, há uns 10 ou 18 bilhões de anos, emergiu de um ponto de
densidade infinita de matéria a uma temperatura infinita. Em poucos
segundos sua temperatura caiu para a faixa de centenas de milhões
de graus Kelvin e permitiu a formação de elementos como o Hélio,
Hidrogênio e outros, seguidos pela formação de estrelas, galáxias,
etc.

No sentido de se ter acesso às implicações cosmológicas desta teoria,


vejamos a ordem de grandeza estimada da energia de ligação do
próton:

mc2=Mc2-Es

onde se tomarmos m como sendo a massa de Planck, então,

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Cristalino

mc2≈1016ergs.

Assim, a temperatura requerida (mínima) no campo primordial teria


sido da ordem de T0≈1032K. Assim, T0 é a temperatura requerida
para reunir as camadas de carga magnética para produzir um próton e
um antipróton. Uma dessas partículas deve ter sido a primeira a ser
produzida no campo primordial causando uma “avalanche” ou
cascata cósmica, iniciando o processo de criação, quase que
simultaneamente, de todas as partículas e antipartículas do Universo
que nascia do campo primordial.

No modelo do campo Cristalino deste trabalho, esse evento


corresponde a uma fusão local do vácuo; Todavia, discordamos que
o evento tenha sido único. Podemos, ainda hoje, observar esses
processos na aparição de novas estrelas que, em outras palavras,
nada mais são que a fusão local de regiões do campo Cristalino,
onde as tensões são tais que a ordem anteriormente existente
(simetria) é quebrada, ocorrendo, então, uma amorfização local
semelhante a uma ponta de temperatura no sólido, iniciando o
primeiro estágio da evolução de um sistema estelar. Pelo que
sustenta a teoria do campo Cristalino, torna-se muito pouco
provável a existência de sequer dois sistemas estelares idênticos;
pois, suas origens serão fortemente dependentes não só da seqüência
de precipitação das fases materiais, mas também de todo o histórico
da região do Cristalino onde a transformação se verifica.

A teoria do “big-bang” sobre a origem do Universo, baseada na


relatividade geral, tem que assumir a existência de uma
“singularidade primordial”, isto é, um ponto de infinita densidade de
matéria num estado de infinita temperatura. A nova teoria infere o
passado do Universo como consistindo de um vácuo do tipo descrito
anteriormente, de dimensões infinitas, cuja evolução sob sua própria
“condensação gravitacional” culminou na criação de partículas e
antipartículas como descrito acima. Assim, a idade do Universo é

Página 145
Cristalino

reconciliada com a idade de seus constituintes fundamentais: as


partículas elementares. A formação de matéria em larga escala, e
também de antimatéria, e a eventual distribuição desses dois
componentes do Universo foi, naturalmente, implementada de
acordo com as leis da Física. O encontro de partícula antipartícula
leva à aniquilação da qual os produtos resultantes são,
principalmente, fótons, ou partículas com massa como os mesons,
etc.. A existência material do Universo versus sua transformação
completa num campo de radiação pela aniquilação partícula-
antipartícula requer que a probabilidade de aniquilação de uma
partícula por sua antipartícula seja menor que a probabilidade de seu
escape e acumulação em regiões onde existam preponderantemente
partículas, ou antipartículas. Na criação de uma partícula ou
antipartícula, uma energia equivalente a sua energia de ligação, isto
é, 1016ergs, é emitida. Essa imensa energia pode ser explicada
parcialmente pela radiação e, principalmente, como a energia
cinética da partícula, que a acelera a distâncias de bilhões de anos luz
do ponto de sua criação. É claro que temos ainda que conseguir da
teoria as probabilidades envolvidas na efetivação da separação da
matéria e antimatéria e da acomodação delas no Universo.

Devido à natureza das mensagens (radiação, explosões supernovas,


sinais de radio de quasares, etc.) que nós recebemos aqui na terra,
não é licito decidir se essas mensagens se originaram de regiões de
matéria ou antimatéria. O desvio cosmológico para o vermelho
devido ao afastamento dos quasares (objetos quase-estrelas) e seus
sinais de radio observados revelam-nos como enormes fontes de
energia. Os eventos observados referem-se a processos que
ocorreram, presumivelmente, nos primeiros segundos do Universo e,
portanto, é perfeitamente admissível que quasares sejam os
demonstradores cósmicos da aniquilação de matéria e antimatéria em
estados colapsados. Uma partícula ou antipartícula elementar teria,
num campo gravitacional muito forte, consumida sua própria energia
de ligação e colapsada num “mini-buraco-negro” ou “anti-mini-
buraco-negro” de raio 10-33cm e massa de 10-5gramas. A

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Cristalino

aniquilação de um mini-buraco-negro com um anti-mini-buraco-


negro emitiria energia 1018 vezes maior que a energia emitida num
encontro entre um próton e um anti-próton. Assim, o fenômeno do
quasar pode, presumivelmente, ser usado como possível evidência
para a existência em grande escala de matéria e antimatéria no
Universo.

Algumas evidências mais sobre a existência de matéria e antimatéria


no Universo são encontradas na radiação dominante observada no
Universo. A razão do número de fótons para o número de partículas
com massa é observada ser da ordem de 109. A discussão acima
sobre a origem do Universo apresenta uma explicação muito mais
razoável para essa radiação dominante que a teoria do “big-bang”.
Além disso, a recente observação de uma “radiação fóssil” ou
“microonda de fundo” de 2.7 K deixa como um resultado que a
expansão e o resfriamento do Universo não estão, se interpretados
corretamente, em conflito com a presente teoria. Isto é o porquê do
“princípio de correspondência” da teoria que a reduz à relatividade
geral para a região além do horizonte de cargas magnéticas.

A Conclusão de Behram Kursunoglu

05/03/2009 às 8:36

A discussão não matemática da teoria generalizada da gravitação


apresentada neste trabalho, mostra que todas as interações
fundamentais de partículas elementares podem ser unificadas num
campo de força. É agradável ver que tal teoria é livre de todos os
infinitos encontrados nas teorias de campo clássica e quântica. A
mais fundamental nova idéia é a aparição de uma nova constante
física da teoria: a carga magnética g. Essa quantidade g assume um
espectro infinito de valores, e este espectro leva à predição de que
uma partícula elementar consiste de camadas estratificadas de
densidades de cargas magnéticas de magnitudes decrescentes e sinais
alternados.

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Cristalino

O conhecimento quantitativo da energia de ligação fornece uma base


fundamental para a descoberta de uma relação entre a criação da
primeira partícula elementar e a origem do Universo. O estado
primordial do Universo foi um campo de força com seu próprio
campo gravitacional. Este campo, por uma “condensação
gravitacional” evoluiu para um estado final onde partículas ou
antipartículas foram criadas, e assim, aconteceu o maior fogo
cósmico na história da natureza, causando a criação do Universo,
que deveria, portanto, ser simétrico com relação à distribuição de
matéria e antimatéria. [7]

7 Kursunoglu, B. – A Non-Technical History of the Generalized Theory of Gravitation


Dedicated to the Albert Einstein Centennial – Center for Theoretical Studies, University of
Miami, Coral Gables, Florida 33124 – USA.

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Cristalino

VIII - O Cristalino

06/03/2009 às 9:06

Não temos a pretensão de inspirar uma nova teoria para a Física.


Afinal, para que uma nova teoria? Como fica estabelecido neste
estudo, a Física é uma ciência da matéria e forças que atuam sobre
esta. Sendo assim, uma teoria da Física impõe a necessidade de um
rigoroso formalismo matemático que possibilite, em primeiro lugar,
fazer predições sobre o desconhecido; em segundo lugar, comprovar
resultados de experimentos da Física clássica, relativista e quântica;
em terceiro lugar, geometrizar o fenômeno e suas interações com o
“mundo” exterior. Isto significa que uma teoria da Física destina-se a
avançar e aprofundar no conhecimento sobre um universo
constituído por matéria sujeita a forças, seja no mundo das partículas
elementares, seja no macrocosmo.

Do nosso ponto de vista, isto não invalida ou compromete os


enormes avanços desta ciência ao descrever a fenomenologia do
universo em que vivemos, mas relativiza-os, uma vez que
acreditamos no universo como um meio em que matéria e forças se
manifestam em “pequenas” regiões do espaço-tempo, onde atuam
tensões devidas a descontinuidades ou quebras de simetria; regiões
de alta concentração de energia; e fluxos impostos pela simetria da
região do espaço-tempo do fenômeno observado. Neste nosso
conceito, fazemos a analogia do espaço-tempo com um meio
Cristalino Perfeito; e de matéria e forças com defeitos e suas
interações com o meio Cristalino, respectivamente. Indo um pouco
além, acreditamos num universo cuja percepção esteja
potencialmente ao alcance de qualquer pessoa. Enfim, não
acreditamos num universo que só possa ser percebido, compreendido
e compartilhado entre Físicos e Matemáticos. Todavia, o caminho da
análise e posterior síntese das teorias, ainda que consuma muitos
milhares de anos, deve conduzir à simplicidade necessária para a

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Cristalino

compreensão daqueles que, de fato, são os olhos da criação, ou seja,


as pessoas comuns. Para essas pessoas, e também para os Físicos, há
uma enorme dificuldade para lidar com conceitos como o “vácuo”,
tão necessário para sustentar as mais avançadas teorias da Física. Isto
significa “impor” aos leigos a idéia de que por trás de toda
fenomenologia que observamos há o nada absoluto. Isto é um
absurdo! Há algo lá sim, porém, que não pode ser medido pelos
métodos da Física que se baseiam na interferência. Mas, “aquilo”
está manifesto na simples constatação inicial que aqui fizemos, de
que a matéria, rigorosamente, é um imenso vazio; quer pensemos do
ponto de vista clássico, e muito mais quando do ponto de vista
quântico que introduz as incertezas de encontrar-se algo no lugar
onde ele deveria estar. “Aquilo” está manifesto na simetria das zonas
de influência dos campos das interações físicas, do mais forte até o
mais fraco, o campo gravitacional. Se o campo gravitacional dos
corpos estelares é um elipsóide, então, existe uma “ordenação” do
espaço circunvizinho cuja simetria é romboédrica? “Aquilo” está
manifesto no fenômeno de difusão observado nos corpos do
macrocosmo: fluxos de gases e matérias, aglomerações de estrelas,
gravitação de galáxias. Em torno de quê? Na direção de quê? Por
que, “preferencialmente”, em certas regiões do espaço? Não
podemos mais ignorar a existência “Daquilo”. Confessadamente,
temos uma grande dificuldade para lidar com o aspecto não-
substancial dos fenômenos, e a Física não se propõe a tratá-lo como
parte integrante, diríamos essencial, da realidade. Os Físicos chamam
de “vácuo” o não substancial extrínseco dos fenômenos, e o definem
como “nada absoluto”. Não bastasse chamar algo que sabemos
existir de “nada”, não tratam do não-substancial intrínseco a todos os
fenômenos de uma forma completa. Por essa razão, quase sabemos o
que é uma partícula elementar, mas não sabemos por que ela se
manifesta do jeito que se manifesta.

Então, por que não buscarmos compreender esse “vácuo” de uma


vez? Mas de que maneira, se como postulado ele é insondável? Não
pode ser visto nem ponderado e, o que é pior, ao aceitá-lo como parte

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Cristalino

integrante e indissociável da realidade, temos que aceitar a existência


de uma Lei oculta em suas profundezas, a qual não podemos
compreender. Isto não poderia mais chamar “Ciência”, mas “Fé”.

Por que não? Em termos da ciência contemporânea, já não há tanta


dificuldade em aceitar que existe algo por trás da fenomenologia
observável. Se o Universo tem uma origem, este “algo” já estava aí
para sustentá-lo. Não é? E mais, é participante, perfeitamente dotado
e parece ser o destino de todas as coisas que transitam pelo Universo
observável. E esse destino não é final, pois, extinguindo-se aqui, o
fenômeno ressurge ali, num fluxo interminável regido por uma lei
oculta. Seu meio de propagação é o Cristalino, um Cristal Perfeito,
que também traduzimos como Dharma Correto, ou Sadharma, ou
Lei Maravilhosa.

O Todo-Vazio como Cristal Perfeito

19/03/2010 às 12:14

Nenhum fenômeno possui uma natureza própria, que possa ser


chamada de ‘eu’. Por quê? Porque eles, os fenômenos, resultam de
uma quebra de simetria de uma ordem superior, devida às impurezas.
Essa quebra de simetria impõe a discriminação como um aspecto
essencial da realidade. Ora, a assim chamada natureza de todos os
fenômenos é um produto de relações causais, nada mais, portanto ‘é’;
esses fenômenos, pelo aspecto temporário, têm como destino
inexorável a sua ‘dissolução’ no Todo-Vazio, portanto ‘não-é’.

Vejamos as imperfeições, ou defeitos, ou falhas em cristais


ordinários. E, então, entenderemos o inconcebível Cristal Perfeito, o
Todo-Vazio.

O Lótus emerge do lodo da mente de uma pessoa.

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Cristalino

Foto em 14/03/2010. Texto em 18/03/2010, 22:00 hs.

Explosão estelar é vista em 3D pela primeira vez

05/08/2010 às 9:52

… essa “estrela”, como todas as outras “estrelas”, nada mais foi


que um fenômeno local …

Um novo instrumento no telescópio permite ampliar o


conhecimento sobre fenômenos.

Astrônomos utilizando o Very Large Telescope (VLT), do European


South Observatory (ESO), conseguiram reconstruir pela primeira vez
em três dimensões (3D) a distribuição de matéria causada por uma

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Cristalino

explosão estelar. Um novo instrumento no telescópio permite


ampliar o conhecimento sobre fenômenos como supernovas.

Segundo os astrônomos do ESO, a visualização em 3D permite


analisar melhor o lançamento de material, calcular velocidades e
direções do despejo. Na concepção artística divulgada ontem pelo
ESO, é possível ver como os resquícios da estrela 1987A, localizada
na Grande Nuvem de Magalhães, galáxia-satélite da Via Láctea, se
espalharam mais na direção horizontal. O fenômeno aconteceu há
168 mil anos-luz de distância da Terra, na Nebulosa da Tarântula.

Visualização em 3D permite analisar o lançamento do material

Isto sugere a existência de uma Simetria de Campo lá, e que essa


“estrela”, como todas as outras “estrelas”, nada mais foi que um
fenômeno local, uma distorção, como imperfeições num Campo
Cristalino.

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Fonte: Diário Catarinense

Distorção do Espaço-Tempo

05/05/2011 às 7:25

 Home iG › Último Segundo › Ciência

Sonda espacial da Nasa comprova teoria de Einstein

Cientistas conseguiram provar que Terra distorce ligeiramente o


espaço ao seu redor, devido à sua gravidade.

AFP | 04/05/2011 19:03

Foto: NASA

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Ilustração da sonda GP-B orbitando a Terra para medir o espaço-


tempo, uma descrição de quatro dimensões do universo, incluindo
altura, largura, comprimento e tempo.

A força da gravidade dos grandes corpos do Universo distorcem o


tempo e o espaço, afirmaram cientistas nesta quarta-feira (4) após
uma sonda da Nasa confirmar dois elementos fundamentais da
teoria geral da relatividade de Albert Einstein.

blá, blá, blá …

“No Universo de Einstein, o tempo e o espaço são deformados pela


gravidade. A Terra distorce ligeiramente o espaço ao seu redor,
devido à sua gravidade”, disse, explicando a teoria que o físico
judeu alemão observou há quase 100 anos, muito antes de existir a
tecnologia necessária para observá-la.

blá, blá, blá …

As medições da sonda se aproximam notoriamente das projeções de


Einstein, segundo as descobertas publicadas na revista científica
Physical Review Letters.

N.T. Muito bem senhores! Nada mais notório que o conceito de


quebra de simetria, o qual também repousa nas idéias de Einstein (“a
matéria é uma distorção local”). Mas, quebra de simetria de quê?
Distorção de quê? A propósito dos posts anteriores, versando sobre o
“Vazio como Não-É”, a Terra, bem como outros corpos estelares e
planetários, repousa nesse espaço-tempo (o qual, em si, é uma
distorção local). Como o espaço-tempo é não-eterno, a Terra deve ser
não-eterna, como já sabemos. Ambos caem na categoria dos Três
Tempos, e esse espaço-tempo não é o Vazio sobre o qual falamos, o
Trono do Leão, o assento do Tathagata, Sagrado como um Cristal
Perfeito, inconcebível Residência Honorífica do Buda.

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Marcos Ubirajara, em 04/05/2011.

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Cristalino

A TEORIA GERAL DA FATALIDADE .............................................................. 3


1ª LEI DA FATALIDADE ................................................................................................... 3
Corolário Cósmico da Completeza: ..................................................................3
Corolário da Fatalidade Intrínseca da Novidade: ......................................3
2ª LEI DA FATALIDADE ................................................................................................... 3
Corolário da Condenação Eterna: ....................................................................4
Corolário do Esquecimento Newtoniano: ......................................................4
I - O ÁTOMO .......................................................................................................... 5
II - ELEMENTOS DE ESTRUTURAS CRISTALINAS .................................... 7
NOÇÕES DO FENÔMENO DE TRANSPORTE EM MEIOS DO ESTADO SÓLIDO............ 9
A LUZ ............................................................................................................................... 11
Cristais Iônicos ...................................................................................................... 13
Cristais de Quartzo .............................................................................................. 13
REAÇÕES DO ESTADO SÓLIDO E INTERAÇÕES ENTRE DEFEITOS........................... 14
Recombinação de Pares de Defeitos ............................................................. 14
Recombinação Elétron-Pósitron .................................................................... 16
Difusão – Aglomerados (sem perda de identidade)................................ 18
Difusão – Sumidouros (com perda de identidade) .................................. 20
Precipitação ........................................................................................................... 21
Distorções Numa Rede ....................................................................................... 24
III - CRISTALOFÍSICA – NOÇÕES E PROPRIEDADES ............................. 26
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 26
O MODELO DE TENSÃO DE CARÁTER EXPANSIVO – 1A. PARTE ............................ 27
1ª. Parte ................................................................................................................... 27
2ª. Parte ................................................................................................................... 29
PROPRIEDADES DA FÍSICA DOS CRISTAIS................................................................... 31
PROPRIEDADES FÍSICAS DOS CRISTAIS DESCRITAS COM TENSORES DE 2ª.ORDEM
.......................................................................................................................................... 33
Princípio de Neumann9 ...................................................................................... 35
Princípio de Curie10 ............................................................................................. 35

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Cristalino

Superfície Característica de um Tensor Simétrico de Segunda Ordem


..................................................................................................................................... 36
Propriedades Geométricas ............................................................................... 37
PROPRIEDADES ÓPTICAS DE CRISTAIS ....................................................................... 37
1ª. Parte ................................................................................................................... 37
2ª. Parte ................................................................................................................... 39
TENSÕES E DEFORMAÇÕES EM CRISTAIS, EXPANSÃO TÉRMICA ............................ 42
Eixos Principais do Tensor de Tensões e Superfícies de Tensões ....... 43
O Tensor de Tensões como Exemplo de Tensor Campestre ................. 44
Eixos Principais do Tensor de Deformações e Superfície
Característica do Tensor de Deformações ................................................. 46
Elipsóide de Deformações ................................................................................. 47
Tensor de Deformações e Princípio de Neumann.................................... 49
Expansão Térmica: .............................................................................................. 50
Propriedades Elásticas dos Cristais. A Lei de Hooke .............................. 50
A Energia do Cristal Deformado .................................................................... 51
Módulo de Young, Módulo de Deslizamento e Coeficiente de Poisson
..................................................................................................................................... 53
Superfície de Índices dos Coeficientes de Elasticidade .......................... 53
Propriedades Piezoópticas dos Cristais....................................................... 54
IV - DINÂMICA DE REDE ................................................................................ 57
A EQUAÇÃO DA DINÂMICA ........................................................................................... 60
A HAMILTONIANA CLÁSSICA ....................................................................................... 61
O MODELO VIBRACIONAL COLETIVO ......................................................................... 65
Vibrações em Mecânica Quântica ................................................................. 65
Vibrações na Forma ou Esfera de Influência ............................................ 67
Coordenadas Normais no Sistema Quântico ............................................. 70
A Contribuição Anarmônica ............................................................................ 74
V - O UNIVERSO DE DEFEITOS EM CRISTAIS .......................................... 79
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 79
A DINÂMICA DE DEFEITOS EM CRISTAIS ................................................................... 79

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Cristalino

A Termodinâmica de Não Equilíbrio ............................................................ 79


Difusão para Aglomerados ............................................................................... 81
Séries Periódicas de Sorvedouros .................................................................. 83
Equações da Continuidade para Defeitos em Cristais Simples .......... 85
Condições de Contorno para as Equações da Continuidade ............... 86
Eficiência de Absorção, Taxa de Emissão Térmica e Difusividade ... 88
As Equações da Difusão ..................................................................................... 90
Séries Aleatórias de Sorvedouros ................................................................... 93
A Dedução de uma Média Geral para as Concentrações de Defeitos
..................................................................................................................................... 95
A Equação da Difusão para Séries Aleatórias de Sorvedouros .......... 97
A ANÁLISE LOCAL DAS EQUAÇÕES DA DIFUSÃO ....................................................... 99
O Espaço-Fase de Equações Autônomas ..................................................... 99
Pontos Críticos no Espaço-Fase ................................................................... 100
Espaço-Fase Bidimensional........................................................................... 101
Sistemas Autônomos Lineares ..................................................................... 103
Análise do Ponto Crítico de Sistemas Não-Lineares Bidimensionais
.................................................................................................................................. 106
Dificuldade com a Análise Linear ............................................................... 109
Comportamento de um Sistema Não Linear de Ordem Superior
Próximo a um Ponto Crítico Estável .......................................................... 111
VI - PREPARAÇÃO DA UNIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES
FUNDAMENTAIS ............................................................................................ 114
UMA VISÃO GLOBAL DA UNIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES....................................... 122
UMA TÉCNICA PARA “FUSÃO DO VÁCUO” ............................................................... 123
As Idéias de Bruno Touschek ........................................................................ 123
As Cores de Oscar Greenberg ........................................................................ 124
A Cromodinâmica Quântica de Sheldon Glashow ................................ 126
Os Limites da Análise nas Idéias de Kogut, Wilson e Susskind ........ 127
VII - O PENSAMENTO DE BEHRAM KURSUNOGLU ............................. 130
PRIMÓRDIOS DA ELETRODINÂMICA QUÂNTICA ..................................................... 130

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Cristalino

A IDÉIA DE BEHRAM KURSUNOGLU......................................................................... 131


UMA NOVA CARGA MAGNÉTICA .............................................................................. 133
UM NOVO VÁCUO ....................................................................................................... 135
UM NOVO SPIN ........................................................................................................... 137
UMA NOVA FORÇA ..................................................................................................... 138
UM NOVO PAPEL PARA A FORÇA GRAVITACIONAL .............................................. 140
UMA NOVA ENERGIA PRÓPRIA ................................................................................ 141
UM NOVO UNIVERSO ................................................................................................. 144
A CONCLUSÃO DE BEHRAM KURSUNOGLU ............................................................. 147
VIII - O CRISTALINO ..................................................................................... 149
O TODO-VAZIO COMO CRISTAL PERFEITO ............................................................. 151
EXPLOSÃO ESTELAR É VISTA EM 3D PELA PRIMEIRA VEZ .................................... 152
DISTORÇÃO DO ESPAÇO-TEMPO .............................................................................. 154

Página 160

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