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Cristina Barros
Estudante de 2º Ciclo em Geografia Humana, Ordenamento do Território e Desenvolvimento, Departamento de Geografia,
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
cristinabarros1@hotmail.com
Rui Gama
Departamento de Geografia – Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT)
rgama@fl.uc.pt
Resumo
As áreas rurais em Portugal têm conhecido importantes transformações no quadro da integração europeia. De
espaço produtor de alimentos, assistimos à (re)descoberta desse espaço como reserva de heranças, tradições, memórias
culturais e ambientais. O planeamento estratégico através do marketing territorial vislumbra-se como uma potencial
ferramenta para a promoção do desenvolvimento em espaço rural, podendo actuar em domínios como a valorização do
património paisagístico, cultural, histórico e arquitectónico, e ainda na criação de condições para a melhoria da
qualidade de vida da população residente. Tendo como pano de fundo a rede das Aldeias do Xisto, projecto de recuperação
e dinamização turística de 24 aldeias do Centro de Portugal, procuramos avaliar até que ponto as estratégias de
marketing territorial podem ser uma mais-valia para a promoção e dinamização de aldeias deprimidas e com dificuldades
de afirmação.
Palavras-chave: Planeamento estratégico. Marketing territorial. Áreas rurais. Rede das Aldeias do Xisto.
Résumé:
Marketing territorial, un instrument de valorisation des zones rurales: exemple d’application dans le réseau des villa-
ges du schiste
Dans le contexte de l’intégration européenne les zones rurales du Portugal ont connu des changements importants.
Considérés pendant des siècles, comme un simple espace de production d’alliments, nous assistons aujourd’hui à la (re)
découverte des zones rurales conçus comme une importante réserve d’anciennes traditions culturelles et
environnementales. Une planification stratégique fondée sur le marketing territorial se révèle un outil potentiel de
développement des zones rurales. Son action peut se concentrer sur des domaines tels que la valorisation du patrimoine
naturel, culturel, historique et architectural, et il peut aussi aider à créer les conditions d’améliorement de la qualité
de vie des résidents. Ayant comme arrière-plan le Réseau Villages du Schiste, projet de récupération et de promotion
touristique de 24 villages au centre du Portugal, on vise à évaluer dans quelle mesure les stratégies de marketing
territorial peuvent être une plus-value pour la promotion des villages déprimés, dont le pouvoir d’affirmation est très
limité, en leur accordant, ainsi, une toute nouvelle dynamique.
Mots-clés: Planification stratégique. Marketing territorial. Zones rurales. Réseau Villages du Schiste
Abstract:
Territorial marketing as a tool of rural areas recovery: example of an application in the Schist Villages network
In the context of European integration rural areas in Portugal have experienced significant changes. For centuries
considered as a mere space for food production, we see now a days the (re)discovery of rural areas as an important
reserve of ancient legacies of cultural and environmental traditions. A strategic planning based on territorial marketing
emerges as a potential tool for development of rural areas. Strategic planning can focus on areas such as the enhancement
of natural, cultural, historical and architectural heritage, and it can also help to create conditions for improving the
quality of life of the residents. The Schist Villages, a project of recovery and tourist promotion of 24 villages in central
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Geografia Cristina Barros e Rui Gama
Portugal, is the background to this research, which aims to evaluate to what extent the territorial marketing strate gies
can be a surplus value for the promotion of depressed villages struggling with subsistence difficulties, by giving them a
new dynamics.
Keywords: Strategic planning. Territorial marketing. Rural areas. Schist Villages network
1. O Marketing Territorial. Uma perspectiva para o divulgação que permitam atrair mais indivíduos e em-
planeamento e gestão do território presas para esse mesmo espaço.
O marketing territorial tem conhecido aplicabi-
Num contexto de globalização e de acesa compe- lidade em domínios como a reabilitação, renovação ou
titividade assiste-se, cada vez mais, a cenários de con- revitalização de áreas rurais e urbanas. “A sua maior
corrência entre territórios pela captação de recursos, popularidade tem sido alcançada na promoção de
investimentos, negócios, residentes e até visitantes e grandes acontecimentos” (Cidrais, 1998: 17). Mas, na
turistas, capazes de gerar dinâmicas positivas no(s) actualidade este instrumento vai para além da simples
território(s) palco destes movimentos. publicitação dos acontecimentos, servindo para “pro-
Numa primeira fase o marketing destinava-se mover o desenvolvimento sustentável de um territó-
apenas à promoção e divulgação de empresas e marcas rio, contribuindo para melhorar o ambiente e a quali-
de grande consumo, alargando o âmbito da sua aplica- dade de vida, aumentando a eficácia da utilização de
ção com o passar dos anos. Hoje, os poderes públicos, recursos” (Cidrais, 1998: 17). A função do marketing
os serviços públicos e as colectividades locais também deve ser “capaz de compatibilizar a promoção de um
recorrem ao marketing. São sobejamente conhecidas as território com as suas estratégias dinamizadoras, am-
campanhas eleitorais, as campanhas religiosas e de ca- bas concebidas e concertadas por uma rede de actores”
ridade, as campanhas para a protecção do ambiente, (Fonseca e Ramos, 2006: 11), no sentido de desenvolver
para a segurança rodoviária e as acções levadas a cabo o seu tecido económico.
pelos Municípios para atrair residentes, investidores, O marketing territorial surge da necessidade de
empresas ou turistas. promover e afirmar o território, de valorizar a identi
Decorre deste último ponto que aos territórios dade local e divulgar os aspectos positivos, mas são ou-
podem ser aplicados os princípios oriundos da gestão e tros os aspectos que contribuem para a crescente utili-
do marketing empresarial, na medida em que os terri- zação deste instrumento nas práticas de planeamento e
tórios têm os seus produtos, serviços e identidades pró- gestão do território e ainda como instrumento de divul-
prias e clientes para esses mesmos produtos, serviços e gação turística (Quadro I).
identidades. Consideramos que o marketing territorial pode e
Para alguns autores a principal finalidade do mar deve ser uma ferramenta essencial nas estratégias de
keting territorial consiste em dotar o território de uma desenvolvimento que privilegiem uma abordagem de
nova imagem, substituindo imagens percebidas como integração, “de incremento da cidadania, da qualidade
vagas ou negativas pelos residentes, futuros residentes de vida, de acordo com as reais necessidades dos cida-
ou turistas. Mas, segundo Cidrais (1998: 16), por oposi- dãos” (Cidrais, 1998: 21). O marketing territorial, atra-
ção, é também considerado como um processo de dinâ-
mica social segundo o qual as empresas se integram Quadro I
Potencialidades do Marketing Territorial.
produtivamente nos propósitos da sociedade e dos seus
valores.
Permite o conhecimento sobre a realidade territorial
São, efectivamente, estas duas representações Cria novas atracções que melhorem a qualidade de vida das pessoas
que pretendemos trazer ao nosso estudo, na medida em residentes
Contribui para dinamizar o tecido económico e produtivo local
que entendemos o marketing territorial como um ins-
Promove o bem-estar e a qualidade de vida
trumento estratégico cuja finalidade é, por um lado,
Melhora a auto-estima e a identidade local
responder de forma positiva às necessidades das pes Desenvolve um conjunto de imagens coerentes sobre o território
soas que vivem num determinando território, intervin- Desenvolve e posiciona uma “Marca Territorial” que valoriza o território
do em aspectos que melhorem a qualidade de vida e o Projecta o território para espaços mais vastos (regional, nacional, mundial)
Assegura a satisfação dos cidadãos, investidores e visitantes
sentimento de identidade e pertença a esse mesmo ter-
Cria uma imagem hospitaleira e entusiástica, de modo a atrair novas
ritório e, por outro, melhorar a qualidade e competiti- empresas, investimentos e visitantes.
vidade do território, criando dinâmicas de promoção e Fonte: Adaptado de Kotler, Haider e Rein (1993) e Cidrais, 1998.
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uma aplicação na rede das Aldeias do Xisto
vés dos seus métodos, permite construir uma imagem evitando os processos de despovoamento a que temos
favorável, aliciante e persuasiva do território, no sen assistido ao longo dos últimos anos.
tido de manter os actuais residentes e formular estraté- As transformações verificadas nos espaços rurais
gias para captar determinados públicos-alvo, consoante vão no sentido de conferir uma nova visão e novas fun-
o seu interesse e/ou vocação. ções para estas áreas, capazes de inverter os processos
de abandono e aproveitar o seu potencial (paisagístico,
1.1. O planeamento estratégico e a operaciona cultural, histórico e arquitectónico) para atrair visitan-
lização através do marketing territorial tes, turistas e investimento.
O marketing territorial é considerado um instru- Os territórios rurais beneficiam de uma “renovada
mento de grande eficácia a que o planeamento estraté- atracção com origem na ideia segundo a qual a preser-
gico recorre para pôr em prática as acções de dinamiza- vação de recursos do património natural e construído,
ção do território. O marketing territorial é o resultado bem como das produções tradicionais, encontram uma
da actuação dos diferentes actores (públicos ou priva- procura de mercado susceptível de contribuir para a re-
dos) e da comunicação (interna e externa) que os diver- vitalização das economias locais” (Neves et al, 2001: 1).
sos componentes do território estabelecem com os pú- São muitos os territórios rurais que ao longo dos
blicos com os quais se relacionam. últimos anos têm recebido financiamentos no sentido
Definir uma estratégia de marketing para um ter- de realizar intervenções que, por um lado, criem condi-
ritório significa desenvolver um “processo complexo de ções para a permanência de moradores nessas áreas
recolha e análise de informação, tomar decisões, criar (infra-estruturas, habitação, centros de saúde, esco-
condições para a sua execução e executar um conjunto las), e, por outro, ajudem a promover esse território
de medidas de valorização e promoção de produtos e de junto de outros públicos (potenciais moradores, empre-
relacionamentos” (Cidrais, 1998). sários, visitantes e turistas).
Uma das grandes limitações apontadas para a Temos insistido na ideia de que coexistem actual-
elaboração de planos de marketing estratégicos pren- mente dois espaços rurais, um para viver e outro para
de-se com a dificuldade de reunir consensos entre os visitar (Figueiredo, 2003), pelo que um plano de marke-
diferentes actores presentes no território. Efectiva- ting territorial estratégico deverá englobar essas duas
mente, costumam surgir tensões entre interesses indi- valências, no sentido de conferir uma melhoria da qua-
viduais e colectivos de actores e cidadãos com percep- lidade de vida dos residentes e na criação de condições
ções, estratégias e finalidades divergentes. Noisette e (infra-estruturas de apoio, acessibilidades, postos de
Vallérugo (1996) referem que uma boa coordenação informação) para atrair mais visitantes e principal
prova que existe uma política pública constante e coe mente mais turistas.
rente e que os recursos são eficientemente utilizados. Não devemos esquecer que as áreas rurais “são
A questão da coordenação baseia-se também na defini- espaços abertos, com características específicas que se
ção da escala adequada para as acções de marketing reflectem e interligam com os territórios da globaliza-
e, acima de tudo, na forma correcta de coordenar po- ção através das cidades que neles se inserem e organi-
líticas, recursos e actores de escalas diferentes num zam. A qualidade das relações que conseguem com o
mesmo território, encontrar consensos e espaços de exterior, através dos seus actores e indivíduos, são fun-
concertação. damentais para a posição que ocupam e podem ocupar
no espaço das redes internacionais de lugares” (Cidrais,
1.2. Marketing territorial para o desenvolvi 1998). Por isso, é essencial que a estratégia de marke-
mento das áreas rurais ting territorial projecte o território para espaços mais
amplos no sentido de conquistar mais-valias e adquirir
1.2.1. Estratégias de marketing para as áreas vantagens competitivas.
rurais
As áreas rurais deparam-se com inúmeros proble- 1.2.2. Os recursos rurais e as estratégias de
mas, sendo que a maioria encontra-se em recessão pro- marketing territorial
longada, com muitas dificuldades em desenvolver novas A composição do produto turístico das áreas ru-
estratégias de desenvolvimento. Mas, na actualidade a rais prende-se essencialmente com os recursos exis-
União Europeia tem vindo a olhar mais de perto para tentes, onde predominam os recursos naturais, recur-
estes problemas e a conceder novos e importantes sos histórico-arquitectónicos e recursos culturais
apoios destinados ao fortalecimento da economia rural, (Quadro II).
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da Serra perderam população ao longo das últimas rio facilmente se compreendia o abandono e declínio
décadas. populacional das aldeias, as baixas expectativas dos re-
Em 2001, Janeiro de Cima e Barroca, ambas do sidentes e os seus baixos níveis de auto-estima.
concelho do Fundão, eram as aldeias com maiores Numa linha de acção da “Acção Integrada de
quantitativos populacionais, 349 e 322 habitantes, res- Base Territorial do Pinhal Interior” é referido o apoio a
pectivamente. Por outro lado, eram as aldeias integra- projectos de “Infra-estruturas e equipamentos de pro-
das na Serra da Lousã que tinham menos residentes. As moção das potencialidades” como sendo: a requalifica-
aldeias do Candal e do Talasnal contavam apenas com 2 ção ou estabelecimento de novas praias fluviais; a iden-
habitantes cada. tificação de uma rede de percursos activos e culturais
Adoptando valores de referência à escala da fre- numa perspectiva integrada que promova a globalidade
guesia, verificamos que a maior parte das Aldeias do da região; a requalificação de um conjunto de aldeias
Xisto acompanha a tendência de perdas populacionais serranas que sustente uma rede de sítios de interesse
registadas pelas freguesias que as integram. As excep- turístico; os arranjos e sinalização de estradas panorâ-
ções residem nas freguesias da Lousã e Góis, visto se- micas; equipamentos de acolhimento dos visitantes
rem freguesias integradas em dinâmicas recentes de (postos de informação turística, …); e a identificação e
ganhos populacionais pela proximidade a importantes sinalização de percursos pedestres, BTT e TT” (CCDRC,
centros urbanos, como é o caso de Coimbra. 2001).
Conhecer o perfil económico dos territórios assu- O estabelecimento de qualquer estratégia pressu
me especial importância no processo de implementa- põe sempre a vontade de execução de alguns objecti-
ção de qualquer estratégia de desenvolvimento. Como vos, que neste caso se prendiam com a requalificação e
já referimos, trata-se de uma área marcadamente ru- dotação de um conjunto de infra-estruturas essenciais
ral, onde o declínio da actividade agrícola se fez sentir para a promoção da qualidade de vida dos residentes
mais intensamente a partir dos anos 60. Como estamos (como sendo, água, electricidade, saneamento básico,
em presença de estruturas demográficas em processo telefone); a preservação de edifícios com elevado valor
acelerado de envelhecimento, vamos encontrar na patrimonial e social; a promoção da auto-estima dos
maior parte destes territórios baixas taxas de activi residentes, aumentando o seu sentido de pertença a um
dade3, comparativamente com a média nacional. território de rara beleza natural e patrimonial; a divul-
A freguesia de Álvaro (Oleiros), assim como as fre- gação e promoção das suas potencialidades; e a inte-
guesias de Janeiro de Cima e Barroca (Fundão), no con- gração de lugares isolados numa rede que se quer única
texto das freguesias em análise, apresentam as menores e dinâmica.
taxas de actividade (19,70%; 25,90% e 27,80%, respecti- Relativamente aos critérios e segundo Carvalho
vamente), valores muito abaixo da média nacional (2005: 530), as aldeias a fazer parte deste projecto de-
(48,20%). Por outro lado, são as freguesias da Lousã e veriam ter “enquadramento em espaços vincadamente
Vila Velha de Ródão que apresentam as taxas de activi- rurais; enquadramento em ambiente de montanha ou
dade mais elevadas (48,60% e 42,90% respectivamente). média montanha (dos 500 aos 900 metros de altitude);
a dominância da arquitectura rural tradicional local,
2.2. Alguns investimentos realizados e avaliação com utilização de materiais construtivos, técnicas de
global das intervenções construção, volumetrias, cores e ordenamento do aglo-
Segundo Ferrão (2006: 28), o cenário de partida merado, característicos da região; aglomerados que
do Programa das Aldeias do Xisto dava conta que apenas utilizam recursos locais (pedra e madeira) como princi-
13 das 23 aldeias possuíam abastecimento domiciliário pal material construtivo; aglomerados não completa-
de água; somente 10 apresentavam rede de saneamen- mente abandonados pelos seus habitantes, mas reocu-
to e tratamento de efluentes; existia apenas uma uni- pados por outros que mantêm as actividades tradicionais;
dade de alojamento, com dois quartos; e duas unidades predomínio da primeira habitação; componente de alo-
de restauração. A população residente nas 23 aldeias4 jamento turístico que não representa mais de 25% das
era de 1202 habitantes e a frequentar o 1º ciclo do en- residências existentes; enquadramento na rede de per-
sino básico existiam apenas 72 crianças. Com este cená- cursos global; aglomerados em que o material de cons-
trução seja, predominantemente, o xisto e/ou quart
3
Refere-se ao peso da população activa sobre o total da popu-
lação residente. zito e também a desejável existência de imóveis para
4
Numa primeira fase forma seleccionadas 23 aldeias, só mais tar-
serviços (ponto de informação, valência museológica,
de, em 2007 aderiu à Rede a Aldeia de Figueira, do concelho de Proença-
-a-Nova. alojamento turístico, venda de produtos locais”.
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uma aplicação na rede das Aldeias do Xisto
Em 2008, o Programa das Aldeias do Xisto contava Verificamos que as aldeias que apresentaram
já com um investimento total aprovado próximo dos maiores investimentos por habitante foram as aldeias
12,5 milhões de euros, repartidos por quatro domínios de Candal, Talasnal e Casal Novo. Estas três aldeias
de intervenção: infra-estruturas; qualificação dos espa- encontram-se inseridas na Serra da Lousã, num cenário
ços públicos; imóveis públicos ou comunitários e imó- marcado pelo despovoamento e abandono, comprovado
veis particulares. Acresce que a este montante de in- pelos cerca de sete habitantes que em 2001 povoavam
vestimento somam-se cerca de 442183 mil euros estas aldeias. Importa destacar ainda que estas aldeias
destinados à construção e dotação de mobiliário nas Lo- são muito marcadas pelo fenómeno das residências se-
jas do Xisto. cundárias, verificando-se a chegada de indivíduos a
cada fim-de-semana ou período de férias.
2.2.1. Avaliação global das intervenções Por outro lado, são as aldeias com maiores quan-
Relativamente aos investimentos totais realizados titativos populacionais as que menos investimentos
foram os Municípios do Fundão, Lousã e Góis os que mais por habitante realizaram. Neste cenário cabem as al-
investiram neste projecto. Por oposição, o Município de deias de Barroca, Janeiro de Cima e Pedrógão Pequeno
Vila de Rei foi o que menos investiu. Em relação aos in- com investimentos inferiores a quatro mil euros por
vestimentos totais por aldeia, observamos que as que habitante. Esta situação remete-nos para a ideia de
mais investiram foram as aldeias de Janeiro de Cima, que os investimentos privilegiaram outros critérios que
Álvaro e Pedrógão Pequeno, a contrapor com as Aldeias não a dimensão populacional, ou não se entenderia os
do Casal Novo e Chiqueiro, que menos investiram. cerca de 194 mil euros distribuídos a uma aldeia com
Mas os valores atrás apresentados redobram o in- apenas dois habitantes. A questão que se coloca é a de
teresse se os cruzarmos com a população residente em saber se a estratégia deve privilegiar aldeias com li-
cada aldeia (Quadro III). miares mínimos (populacionais e de dinâmica econó-
mica) ou repartir investimentos por um maior número
Quadro III de povoações.
Investimento por habitante nas Aldeias do Xisto. Entendemos, também, que muito dificilmente se
conseguirá rentabilizar os investimentos realizados sem
População Despesa
Aldeias do Xisto Residente Total
Investimento por que haja um esforço conjunto de todos os actores lo-
Habitante (Euros)
(2001) (Euros) cais, residentes, autarquias e empresas, numa lógica
Água Formosa 23 156.603,90 6808,9 estratégica de marketing territorial, que alie a compo-
Aigra Nova 8 509.012,10 63626,5
nente qualidade de vida local com a componente de
Aigra Velha 5 83.543,10 16708,6
atracção de investidores, turistas e visitantes.
Álvaro 87 1.035.354,50 11900,6
Barroca 322 810.375,20 2516,7
Benfeita 185 970.260,20 5244,6
Candal 2 388.223,70 194111,8 3. Uma estratégia de marketing territorial para
Casal de S. Simão 5 167.687,80 33537,6 potenciar o desenvolvimento sustentado da rede
Casal Novo 3 382.244,60 127414,9 das Aldeias do Xisto
Cerdeira 5 331.870,00 66374
Chiqueiro 3 129.895,80 43298,6
Após o diagnóstico feito da área de actuação da
Comareira 6 224.799,70 37466,6
Rede, propomo-nos realçar as principais potencialida-
Fajão 82 961.714,60 11728,2
des da área em questão, em termos de atracção tanto
Ferraria de S. João 63 548.154,10 8700,9
Figueira 48 472.407,60 9841,8 de residentes como de turistas e investidores. Não pre-
Foz do Cobrão 81 518.834,40 6405,4 tendemos fazer um inventário exaustivo dos recursos
Gondramaz 9 452.610,30 50290 naturais, patrimoniais e culturais, mas antes, compreen
Janeiro de Baixo 102 400.000,00 3921,6 der como é que o marketing territorial pode, por um
Janeiro de Cima 349 1.240.525,60 3554,5 lado, contribuir para inverter os processos de abandono
Martim Branco 38 283.726,00 7466,5
e, por outro, aproveitar todo o seu potencial (paisagís-
Pedrogão Pequeno 262 1.039.474,30 3967,5
tico, histórico e cultural) para atrair turistas e empre-
Pena 25 236.733,30 9469,3
sas do sector turístico.
Sarzedas 155 818.293,10 5279,3
Talasnal 2 295.739,00 147869,5 Tal como aludimos anteriormente, entendemos
Total 1870 12.458.082,60 Média: 6662,1 que a principal finalidade do marketing territorial con-
Fonte: INE, Censos 2001 e CCDRC, 2006. siste em dotar o território de uma nova imagem, subs-
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tituindo imagens percebidas como vagas ou negativas forem definidas estratégias eficazes e de carácter dura-
pelos residentes, futuros residentes ou turistas. douro. É neste sentido que a ADXTUR – Agência para o
Como vimos, as intervenções realizadas no âmbi- Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto tem fei-
to do Programa das Aldeias do Xisto contribuíram para a to um importante trabalho na definição deste produto
melhoria da qualidade de vida da população local, au- turístico e na dinamização de toda a Rede através de
mentando os seus níveis de conforto e auto-estima. trabalho no terreno com os actores locais. Esta Agência,
O território abrangido pela rede das Aldeias do criada pela entidade Pinus Verde – Associação de Desen-
Xisto tem uma identidade reconhecida, com os seus volvimento da Floresta, congrega as vontades públicas
próprios produtos, serviços e clientes. Entendemos, por e privadas de toda a Região que se revêem na gestão
isso, que a este território podem ser aplicados os prin- partilhada de uma marca, na promoção conjunta do
cípios do marketing territorial. O marketing territorial, território, na criação de riqueza através da oferta de
através dos seus métodos, permite constituir uma ima- serviços turísticos e na preservação da cultura e patri-
gem favorável, aliciante e persuasiva do território no mónio rural de toda a Rede.
sentido de manter os actuais residentes e formular es- O Plano definido pela ADXTUR prevê a constitui-
tratégias para captar determinados públicos-alvo, con- ção da rede das Aldeias do Xisto como um produto tu-
soante o seu interesse e/ou vocação. rístico de excelência, que engloba de forma integrada
No sentido de manter os actuais residentes, jul- as diversas potencialidades do território abrangido pe-
gamos que a iniciativa ancorada ao Programa das Al- las aldeias (Quadro IV). Para tal, o plano prevê efectu-
deias do Xisto foi positiva, na medida em que, através ar um estudo de mercado, um levantamento exaustivo
da reabilitação das casas e imóveis públicos, melhorou-se e eficaz das suas características, das suas marcas dife-
a qualidade de vida e, em alguns casos, evitou-se a sa- renciadoras, do seu posicionamento num mercado já
ída dos habitantes das aldeias. Também, em muitos ca- preenchido por outras marcas/produtos semelhantes e
sos criou-se emprego local (com a abertura de unidades da planificação da melhor estratégia de marketing e
de turismo, de restaurantes, de lojas de produtos lo- comunicação para que seja possível estabelecer uma
cais, …) na sua maioria relacionados com o turismo em identidade própria das demais, nas quais as popula-
espaço rural. ções também se revejam. Prevê-se que o projecto fun-
Não nos revemos na premissa de que o turismo é cione numa lógica de promoção do produto Aldeias do
a “tábua de salvação” para todos os territórios rurais Xisto, numa estratégia assente “numa marca clara-
periféricos, mas entendemos que a principal vocação mente diferenciadora, por um conjunto de suportes de
deste território, por todo o conjunto de recursos natu- comunicação, numa malha de recursos implantados
rais e patrimoniais que reúne, é definitivamente o turis- nas próprias aldeias e/ou Municípios, em típicos pro-
mo em espaço rural. Mas, a aposta neste sector e a dutos locais, numa rede dinâmica de eventos de ani-
conquista de um determinado segmento de mercado, mação que envolvam visitantes, agentes e populações
que se apresenta como exigente, só pode ser feita se locais.”
Quadro IV
Eixos de Intervenção e Linhas de Acção do Plano de Desenvolvimento Sustentado das Aldeias do Xisto.
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Marketing territorial como instrumento de valorização dos espaços rurais: nº 28/29 - 2009/10
uma aplicação na rede das Aldeias do Xisto
Importa destacar que as grandes linhas estratégi- primeira Loja ter sido instalada em Lisboa, numa zona
cas da ADXTUR focam-se na sustentabilidade de um ter- turística da cidade (zona da Sé), funcionando numa ló-
ritório e na promoção dos seus valores endógenos. Atra- gica de marketing como uma verdadeira janela aberta
vés de quatro vectores-chave: factor humano, factor para o território das Aldeias do Xisto.
qualidade de vida, factor economia e factor património.
A ideia de dinamizar e atrair turistas para uma área 3.1. Diagnóstico Estratégico para a rede das
do interior da Região Centro, através do aproveitamento Aldeias do Xisto – Análise SWOT
dos recursos naturais e humanos existentes nas aldeias, A visão do marketing territorial como instru
sem no entanto perder de vista a qualidade de vida dos mento do planeamento estratégico reflecte-se num
habitantes, a preservação da sua identidade e o incre- projecto de desenvolvimento para o território a longo
mento da auto-estima, deve ser encarada como uma prazo, de modo a que permita superar as limitações
ideia de forte componente de marketing territorial. diagnosticadas e promover mudanças estratégicas. Para
Os resultados estão à vista, e numa lógica de po- tal, o processo de marketing territorial estratégico exi-
lítica interna foram realizadas intervenções físicas que ge numa primeira fase a análise e diagnóstico sobre o
melhoraram a qualidade de vida e o conforto dos aglo- território, onde se detectam os principais problemas,
merados; criaram-se novos empregos no sentido de di- bem como as potencialidades de desenvolvimento.
namizar o tecido económico local; evitou-se a saída de A concepção de estratégias para o futuro e o de-
habitantes que de outro modo já não estariam na al- linear de linhas de acção estratégicas só é possível se
deia; desenvolveu-se a cultura e promoveu-se a identi- for feito um diagnóstico exaustivo das dinâmicas inter-
dade de base territorial; definiu-se uma estratégia de nas (ou seja, as vantagens e desvantagens internas do
criação de sinergias entre os actores locais; criou-se um território) e das dinâmicas externas (ou seja, os aspec-
ambiente favorável ao desenvolvimento sustentável. tos positivos do meio envolvente que podem contribuir
Relativamente à política externa, melhorou-se a para aumentar as vantagens competitivas do território,
imagem e a atractividade local; atraiu-se investimentos ou os aspectos negativos da envolvente que podem
e algumas pessoas; afirmou-se o território de actuação comprometer as vantagens competitivas do território)
da Rede; criou-se visibilidade nacional (lembremo-nos (Elizagarate, 2003). Este diagnóstico é geralmente siste-
que a Rede ganhou o Prémio na categoria de animação matizado utilizando uma análise SWOT. Esta análise vai
em 2007, do Instituto de Turismo de Portugal) e até in- permitir o desenvolvimento de acções adequadas de
ternacional (em 2008 venceu o prémio de “Melhor Via- forma a potenciar os pontos fortes, minimizar os pontos
gem de Descoberta” da Revista alemã GeoSaison). fracos, aproveitar as oportunidades e contornar as
O território do Pinhal Interior, sob a marca “Al- ameaças.
deias do Xisto”, passou a ter, por várias ferramentas de De acordo com a caracterização que efectuamos
comunicação, projecção nacional e mesmo internacio- para a área em estudo, consideramos um conjunto de
nal, existindo já operadores turísticos da Europa Cen- factores que constituem uma grande riqueza natural e
tral a comercializar produtos turísticos do território. cultural, e que deverá ser a base da identidade da re-
Consideramos que foi determinante a concentração de gião e o ponto de partida para a afirmação e conscien-
toda a actividade de construção de produtos turísticos cialização do carácter diferenciador da área em ques-
e subsequente promoção, numa única entidade – a ADX- tão (Quadro V).
TUR, que estabeleceu uma estratégia de actuação arti- O elevado nível de qualidade ambiental e paisa-
culada com os Municípios e os agentes privados. gística constitui para a área de estudo uma mais-valia
As estratégias de promoção e divulgação passam que interessa potenciar. Efectivamente, as áreas serra-
também por uma série de eventos que têm marcado a nas (Serras da Lousã, Açor e Muradal), a floresta de pi-
dinamização cultural e desportiva nas aldeias. nhal e eucaliptal, o atravessamento de importantes
Prosseguindo a estratégia integrada para a divul- cursos de água (Mondego, Alva, Ceira e Zêzere), as bar-
gação e promoção da Rede, foi desenvolvida uma inicia- ragens (Santa Luzia, Cabril, Aguieira e Castelo de Bode)
tiva de criação de uma rede de lojas de proximidade, representam um ambiente diversificado, permitindo
com a marca “Aldeias do Xisto”. Estas lojas vendem aos visitantes encontrar um refúgio para fugir ao stress
produtos característicos da região, principalmente arte citadino, podendo desfrutar de magníficas paisagens,
sanato, mas também produtos locais como o queijo, o num ambiente de elevado valor patrimonial. Também,
vinho, as ervas aromáticas, as infusões e a doçaria re- o facto de onze das 24 aldeias se inserirem em Rede
gional. Um dado curioso prende-se com o facto de a Natura 2000, uma aldeia em Área Protegida e duas al-
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Cadernos de
Geografia Cristina Barros e Rui Gama
deias em albufeiras, constitui um cenário de elevado território relativamente a outros que competem pelo
valor natural e paisagístico. mesmo segmento de mercado turístico.
Preocupações recentes, impulsionadas pela União A par das potencialidades descritas anterior-
Europeia e Estado Central, vão no sentido de defender mente, verifica-se um conjunto de aspectos positivos
e preservar o património local, as tradições e a memó- envolventes passíveis de contribuir para o crescimento
ria. Este cenário contribui para elevar a auto-estima da e desenvolvimento da rede das Aldeias do Xisto. De
população e sentimento de pertença a um território de entre as oportunidades, sistematizadas no Quadro VI,
elevado valor patrimonial, e, por outro lado, contribui destacamos a atenção por parte da Administração
para o crescente interesse de turistas e visitantes que Central e organismos desconcentrados em encarar os
encaram no património um elo entre o passado, o pre- espaços rurais como espaços que encerram um poten-
sente e o futuro. cial imenso.
A promoção e a criação de uma imagem de marca Referimos ainda um conjunto de alterações nas
forte foram passos muito importantes na divulgação motivações turísticas, como sendo a procura crescente
desta Rede que tenta preservar os traços da identidade pelo turismo em espaço rural, turismo de natureza e
local. A estes factos não foi alheio o Instituto de Turis- turismo de aldeia. O aumento de incentivos comunitá-
mo de Portugal, ao premiar esta Rede como “Melhor rios e nacionais em termos de dinamização de estrutu-
Animação” no ano de 2007, e a Revista alemã GeoSai- ras turísticas, que a par com os incentivos à formação e
son ao premiar a Rede no ano de 2008 como a “Melhor profissionalização poderão vir a trazer para esta área
Viagem Descoberta”. Estes são apenas alguns dos pon- um novo dinamismo em termos económicos.
tos que julgamos serem as vantagens internas da Rede, Por fim, elencamos um conjunto de ameaças que
e que deverão ser potenciadas num cenário de compe- podem comprometer a viabilidade do projecto da rede
tição com os outros territórios. das Aldeias do Xisto (Quadro VI). A tendência para o
Relativamente aos pontos fracos consideramos abandono dos espaços rurais, principalmente pelas ge-
que, o contexto de decréscimo demográfico associado rações mais jovens, tem ao longo das últimas décadas
ao envelhecimento populacional; o predomínio de bai- caracterizado o país e parece não dar sinais de abran-
xos níveis de escolarização e uma elevada taxa de anal- damento. Mesmo tendo por base os cenários mais opti-
fabetismo; as baixas taxas de actividade associadas à mistas, o despovoamento constitui a maior das ameaças
actual crise económica e à falta de oportunidades de para as áreas rurais interiores.
emprego são as principais fraquezas com que se debate O cenário de periferismo relativamente aos gran-
esta área (Quadro V). des eixos viários que estruturam o território nacional,
Entendemos que a sazonalidade na procura turís- aliado às acessibilidades que caracterizam estas áreas,
tica assente fundamentalmente nas férias e fins-de-se- constituiu séria ameaça para a rede das Aldeias do Xis-
mana prolongados é um cenário que, através de actua- to. Por outro lado, a forte dependência exterior no sen-
ções direccionadas urge contrariar. Também, a falta de tido de dependência de mecanismos financeiros nacio-
centros de informação turística nas aldeias e a pouca ou nais e comunitários, arrasta esta área para um cenário
nenhuma informação in loco são desvantagens deste de inércia e debilidade dos sectores económicos.
Quadro V
Pontos Fortes e Pontos Fracos da rede das Aldeias do Xisto
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Marketing territorial como instrumento de valorização dos espaços rurais: nº 28/29 - 2009/10
uma aplicação na rede das Aldeias do Xisto
Quadro VI
Oportunidades e Ameaças para a rede das Aldeias do Xisto.
Oportunidades Ameaças
Programas de financiamento comunitários e nacionais Tendência para o despovoamento nos espaços rurais
Empenho da Administração Central e CCDRC no desenvolvimento dos espaços Fraca dinâmica demográfica e estrutura etária envelhecida
rurais periféricos Debilidade dos sectores económicos tradicionais
Aposta nacional no sector do turismo Posição periférica relativamente aos grandes eixos viários estruturantes
Incentivos nacionais e comunitários ao desenvolvimento de projectos no sector do do território nacional
turismo cultural, do turismo em espaço rural e do turismo natureza. Forte dependência exterior
Procura crescente pelo turismo rural, turismo cultural, turismo de natureza, tu- Falta de manutenção das áreas envolventes das aldeias
rismo de aldeia Dificuldade em concorrer com outros territórios pela atracção de novos
Incentivos às empresas de animação turística, de alojamento e restauração residentes e investidores
Aposta nos mercados estrangeiros (principalmente alemão e nórdico) Cenário de dificuldade em competir com outros territórios com similar
Atracção de novos residentes, papel fundamental pelo capital de novas ideias qualidade turística
Num cenário de crescente competitividade entre Entendemos que o território onde se articula a
territórios, tem-se revelado tarefa difícil a atracção de rede das Aldeias não pretende atrair todo o tipo de
novos residentes com espírito de investimento nestes mercado, mas fundamentalmente os turistas, os inves-
territórios mais frágeis. tidores e novos residentes.
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Cadernos de
Geografia Cristina Barros e Rui Gama
outro” na Foz do Cobrão (Vila Velha de Ródão), os laga- do turismo na área de actuação da rede das Aldeias do
res tradicionais de azeite, a observação de veados na Xisto.
Serra da Lousã, o conjunto de trilhos que irão ligar todas
as aldeias, e desportos aventura, como o BTT, canoagem 3.2.1.2 A atracção de investimento privado
ou escalada. A potenciação do turismo nesta área deverá Ao longo dos últimos anos, na maioria dos conce-
envolver um maior número de actores locais, que, numa lhos que integram a rede das Aldeias do Xisto tem-se
estratégia concertada, poderão rentabilizar da melhor assistido a um ciclo vicioso que tem originado o enfra-
forma os seus recursos e promover as suas qualidades, quecimento económico e social: desemprego, despovoa
tanto no mercado nacional, como internacional. mento e envelhecimento.
Entendemos que o território da rede das Aldeias Se considerarmos a escala das Aldeias, o desen-
tem condições para oferecer um turismo de elite e de volvimento do tecido produtivo é quase utópico. Efecti-
qualidade, isto é, apoiado nas características tradicio- vamente, trata-se de economias muito marcadas pelas
nais, na arquitectura do xisto tradicional, na riqueza actividades tradicionais ligadas à agricultura e pecuária,
paisagística e ambiental, na ruralidade e o no sossego. que entretanto entraram em declínio, perdendo-se a
No que concerne às estratégias de promoção, jul- base económica que suportava muitas destas regiões.
gamos que um reforço na divulgação nos órgãos de co- Acresce que a área de articulação da rede das Aldeias do
municação social, como a rádio, a TV e a Internet, po- Xisto, no interior do Centro português, possui um carác-
dem ter excelentes resultados. Embora os custos de ter rural e periférico, com muitas dificuldades de atrair
publicitação sejam elevados para uma Rede que agora capital e criar condições que possam atrair empresas.
começa a dar os primeiros passos, julgamos que as cam- No contexto do Projecto de dinamização do con-
panhas publicitárias na TV e rádios nacionais poderão junto das 24 Aldeias do Xisto julgamos que haverá pou-
ter um papel fundamental na atracção de um significa- co espaço para a criação de novas empresas. No entan-
tivo número de admiradores e curiosos. Também a pro- to, se as previsões optimistas se confirmarem, julgamos
moção junto de operadores turísticos nacionais e inter- que haverá potencial e mercado para a criação de no-
nacionais pode contribuir decisivamente para o vas empresas ligadas ao sector turístico. Mas tal só é
conhecimento e divulgação das Aldeias do Xisto. possível concretizando-se uma política de apoio aos in-
No Quadro VIII procuramos sistematizar um con- vestidores. Efectivamente, há um imenso potencial tu-
junto de acções estratégicas com vista à dinamização rístico nesta área, mas muitos empresários consideram
Quadro VIII
Acções Estratégicas para a dinamização e atracção de turistas para a rede das Aldeias do Xisto
Acções Estratégicas
Reforçar as unidades de alojamento nas Aldeias do Xisto, e espaço envolvente
Organizar excursões e visitas guiadas entre as aldeias
Melhorar as acessibilidades, tanto no acesso à aldeia como no seu interior
Incentivar o artesanato local através da concessão de apoio financeiro aos artesãos
Potencial a Carta Gastronómica da Rede das Aldeias do xisto e criar um festival gastronómico anual, em cada aldeia
Informação in loco das intervenções realizadas, possíveis percursos pedestres, sítios de interesse e informações sobre as outras aldeias do xisto, um mapa
da Rede com informação dos sítios que o turista pode visitar
Distribuir gratuitamente a revista Aldeias do Xisto nas principais portas de entrada do País (Lisboa, Porto e Vilar Formoso)
Dar prioridade à promoção nos mercados estrangeiros
Estabelecer convites aos maiores operadores turísticos internacionais, no sentido de passarem quatro a seis noites nas aldeias do xisto e desenvolverem
pacotes promocionais para venda nos mercados internacionais
Promover acções de formação profissional dos recursos humanos ligados ao sector turístico
Criar postos/centros de turismo de pequena dimensão nas Aldeias do Xisto. A articulação centro de turismo e loja das aldeias do xisto é um aspecto a ter
em consideração
Ligado ao calendário de eventos culturais, promover festivais de música clássica ou jazz vocacionados para um segmento turístico específico
No verão, a realização de eventos ligados ao cinema ao ar livre poderão ser uma aposta em termos de animação nocturna. A escolha seleccionada de filmes
a visualizar em cenários de grande beleza paisagística e cultural poderão ser uma combinação de grande nível
Apoiar a criação de mais empresas de animação turística, nomeadamente na área da animação desportiva
Dinamizar a Rede das Praias Fluviais, mantendo a qualidade da água
Criar um espaço museológico vocacionado para a mostra da actividade dos pedreiros do xisto, dos artesãos locais, onde o turista possa conhecer todo o
potencial da região, toda a sua história e identidade da população local
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Marketing territorial como instrumento de valorização dos espaços rurais: nº 28/29 - 2009/10
uma aplicação na rede das Aldeias do Xisto
arriscado investir em áreas marcadas pelo quadro eco- plicado, na medida em que muitas das empresas criadas
nómico e social descrito. Defendemos também que uma privilegiaram a contratação de habitantes locais.
maior divulgação das potencialidades do território em Em muitas das aldeias em questão assiste-se ao fe-
termos turísticos poderá contribuir para a atracção de nómeno de retorno de emigrantes já em idade de refor-
investimento privado. Também, a consolidação de uma ma que regressam às aldeias onde têm as suas raízes.
lógica de concertação de actores locais, pode contri- De uma maneira geral ainda não se desenvolveu
buir para que empresários do ramo turístico decidam uma imagem forte e coerente que figure como atraente
realizar investimentos na área. para atrair e fixar potenciais residentes. Salientamos
O crescente número de turistas que procuram as ainda alguns casos em que a procura destas aldeias por
Aldeias do Xisto pode potenciar a abertura de novos indivíduos activos faz-se tendo em atenção modos de
restaurantes, novas unidades de alojamento, novas lo- vida alternativos em comunhão com a natureza. É o que
jas de produtos e de empresas de animação turística. A se verifica em algumas aldeias da Serra da Lousã, onde
criação de um selo de Recomendação das Aldeias do vivem alguns estrangeiros, principalmente alemães, ca-
xisto, que indicará o nível de certificação e/ou qualida- talogados como “novos hippies”. Estes habitantes prati-
de, é um passo importante a ter em conta pelos possí- cam a sua agricultura biológica de subsistência, recupe-
veis investidores. ram ao seu modo as casas abandonadas e vivem na
No Quadro IX procuramos sistematizar um con- crença de poderem melhorar o mundo que os envolve.
junto de acções estratégicas no sentido de atrair mais Sendo muito difícil estabelecer estratégias para
investidores privados. atrair novos habitantes, subsiste a ideia de este ser um
espaço atraente para se visitar, mas pouco aliciante
Quadro IX para se viver.
Acções Estratégicas para a atracção de empresas e investimentos para a
rede das Aldeias do Xisto.
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Cadernos de
Geografia Cristina Barros e Rui Gama
nio, poderão ser as alavancas para a dinamização futura Portalegre. Dissertação de Mestrado apresentada à
destas aldeias e territórios envolventes. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa.
Acreditamos que a definição clara de objectivos Cidrais, Álvaro (2001) – “O Marketing Territorial aplicado às
e a definição de estratégias concertadas de intervenção Cidades Médias Portuguesas”. Biblio 3W, 306,
fez-se (embora sem esse propósito), numa lógica de Barcelona.
marketing territorial estratégico. Dinis, Anabela (2003) – “Empresarialidade em Meio Rural:
Mesmo com algumas críticas a apontar que se Marketing, Estratégia e Inovação – Factores de Sucesso
prendem com os critérios que estiveram na base destas para Empresas e Territórios.” Actas do V Seminário Luso-
intervenções, julgamos que os resultados até agora Espanhol de Economia Empresarial. Universidade da
conseguidos vislumbram um futuro de sucesso. Mas a Beira Interior, Covilhã, pp. 28-44.
definição de estratégias para estes espaços marginali- Elizagarate, Victoria de (2003) – Marketing de ciudades. Pirámide,
zados e debilitados requer acompanhamento e monito- Madrid.
rização constantes, que permita a consolidação e a sus- Ferrão, Armando (2006) – “Programa das Aldeias do Xisto:
tentabilidade de um destino turístico que pretende ser Caminhos para o Turismo de Montanha”. Revista Turismo
de qualidade. e Desenvolvimento, nº 6, Aveiro, pp.27-30.
Entendemos que o alargamento da Rede a novos Figueiredo, Elisabete (2003) – Um rural para viver, outro para
participantes, assim como o investimento em estraté- visitar: o ambiente nas estratégias de desenvolvimento
gias de comunicação e promoção mais eficazes poderão para as áreas rurais. Tese de Doutoramento apresentada
ser a chave do desenvolvimento deste projecto. Deste à Universidade de Aveiro, Aveiro.
modo, julgamos que o instrumento marketing territo- Fonseca, Fernando (2006) – O planeamento estratégico em busca
rial deve ser potenciado nas estratégias de actuação de potenciar o território: o caso de Almeida. Tese de
desta Rede, delineando acções eficazes na conquista Mestrado apresentada à Universidade do Minho, Braga.
dos mercados desejados. Só assim se garantirá a susten- Fonseca, Fernando e Ramos, Rui (2006) – “O planeamento estratégico
tabilidade a um projecto que poderá vir a ser um exem- de marketing territorial como instrumento fundamental
plo para outras áreas do país. para o aumento da competitividade e afirmação territorial:
O caso de Almeida”. 12º Congresso da APDR – recursos,
Bibliografia ordenamento, Desenvolvimento, Viseu. 30 p.
Gabriel, Graça e Lourenço, Aristides (2006) – “Valorizar a memória,
Carvalho, Paulo (2005) – Património Cultural e Trajectórias de chegar mais além”. Revista Aldeias do Xisto, nº 3, série
Desenvolvimento em Áreas de Montanha - o exemplo da II. Pinus Verde, p. 41.
Serra da Lousã. Dissertação de Doutoramento Kotler, Ph., Haider, D. e Rein, I. (1993) – Marketing Places.
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Attracting Investment, Industry, and Tourism to Cities,
Coimbra, Coimbra. States and Nations. Free Press, New York.
CCDRC (2001) – Programa Operacional Regional do Centro. Neves, António et al (2001) – “A Competitividade das Áreas
Complemento de programação. Comissão de Rurais, uma abordagem na perspectiva das estratégias
Coordenação da Região Centro, Coimbra. de marketing.” 1º Congresso de Estudos Rurais,
CCDRC (2006) – Programa Operacional da Região Centro Ambiente e usos do Território. UTAD, Vila Real, 15 p.
2000/2006. Relatório de Execução 2006. Comissão de Noisette, Patrice e Vallérugo, Franck (1996) – Le marketing des
Coordenação da Região Centro, Coimbra. villes: un défi pour le développement stratégique.
Cidrais, Álvaro (1998) – O Marketing Territorial aplicado às Editions d’Organisation, Paris.
Cidades Médias Portuguesas: os casos de Évora e Plano de Desenvolvimento Sustentado das Aldeias de Xisto, 2007.
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