Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. INTRODUÇÃO
Os corantes orgânicos sintéticos vêm sendo utilizados de forma intensiva em indústrias de
papel, têxtis, cosméticos, alimentos e farmacêuticas, devido a sua facilidade de manejo, baixo custo,
efetividade, estabilidade e variedade de cores. Os efluentes derivados de estas indústrias apresentam
alta demanda química de oxigênio (DQO), sólidos em suspensão e compostos tóxicos derivados da
alta carga de corantes, que por sua vez podem reduzir a penetração de luz e afetar a atividade
fotossintética dos organismos aquáticos em cursos hídricos (Tan et al., 2013).
Por outro lado, a bioacumulação consiste no acúmulo de corantes no interior das células
vivas mediante mecanismos de adsorção e acúmulo metabólico, que por sua vez requer de fontes
de carbono e nitrogênio de fácil assimilação, sendo possível o uso de subprodutos ou resíduos
como substrato (Stolz, 2001; Das e Charumathi, 2012). O processo de biodegradação de corantes
consiste na ruptura do composto poluente em vários subprodutos através da ação de exoenzimas
como lacase, manganês peroxidase e azoreductase. Neste processo, os corantes podem ser
utilizados como fontes de carbono e energia para a célula, ou como fonte de nitrogênio. Os
processos de bioadsorção, bioacumulação e biodegradação podem ocorrer de forma simultânea
em leveduras vivas, sendo a cor da biomassa o indicador do mecanismo envolvido na remoção do
corante. Desta forma, a biomassa celular sem cor sugere que o mecanismo principal é da
biodegradação, enquanto que células coloreadas indicam remoção por processos de bioadsorção
e/ou bioacumulação (Das e Charumathi, 2012, Nascimento et al., 2012).
2. METODOLOGIA
2.1 Reagentes
O corante azóico sintético Reactive Blue 222, contendo dupla ligação azo (CAS: 93051-
44-6) foi gentilmente fornecido pela empresa Aupicor Química (Pomedore, Santa Catarina,
Brasil).
2.2 Leveduras
Sete estirpes de leveduras, Pichia kluyveri, Pichia fermentans D, Pichia fermentans M,
Saccharomyces cerevisiae T, Saccharomyces cerevisiae V, Candida batistae E e Kluyveromyces
marxianus UFV-3, foram avaliadas quanto a sua capacidade de descolorar o corante azoico
Reactive Blue 222. As estirpes foram mantidas a 4 oC e repicadas periodicamente em tubos
contendo agar inclinado de composição: glicose (20 g/L), extrato de levedura (5 g/L), peptona
(10 g/L) e agar (18 g/L). O inóculo foi obtido por cultivo independente de células em frascos
Erlenmeyer de 250 mL contendo 100 mL de meio composto de glicose (20 g/L), extrato de
levedura (5 g/L); peptona (10 g/L) e incubação 30 oC por 24 h sobre agitação orbital de 200 rpm.
2.4 Biodescoloração
A capacidade de remoção do corante em estudo pelas leveduras foi previamente avaliada
em placas de Petri contendo meio composto por: glicose; 10 g/L, K2HPO4; 1,0 g/L,
MgSO4.7H2O; 0,5 g/L, (NH4)2SO4; 1,0 g/L, extrato de levedura, 0,5 g/L, agar; 18 g/L, e corante
sintético Reactive Blue 222; 100 mg/L. A formação de um halo claro em volta da colônia foi
considerada como indicativo da capacidade de bioremoção do corante sintético. O crescimento e
a formação do halo de descoloração foram acompanhados diariamente por um período máximo
de 3 dias. Os cultivos para verificação do efeito de descoloração em meio líquido foram
conduzidos de forma independente em frascos Erlenmeyer de 125 mL contendo 50 mL do
referido meio e corante Reactive Blue 222 em concentrações de 100 mg/L e 300 mg/L a pH 5,5.
Os frascos foram inoculados com 0,1 g/L de células e incubados à temperatura de 30 oC por
período de 72 h sob agitação orbital de 200 rpm. Amostras de 10 mL foram obtidas a intervalos
de 24 h e centrifugadas a 2500 x g por 10 min, sendo o pellet utilizado para a determinação da
concentração celular e o sobrenadante para a determinação da porcentagem de descoloração, pH,
e concentração de glicose.
A cor do Reactive Blue 222 no sobrenadante foi monitorado por meio da medida
absorbância máxima (λmax= 620 nm, determinada por varredura entre 300 e 700 nm) em
espectrofotômetro UV-Visível, utilizando cuvetas de quarzo de 1-cm. A taxa de descoloração foi
calculada utilizando a seguinte equação (Tan et al., 2013) - Descoloração (%) = (A0 – At) /A0 x
100. Onde A0 e At representam a leitura de absorbância inicial e absorbância nos diferentes
tempos avaliados, respectivamente. O pH e % de descoloração foram determinados de forma
imediata após amostragem para evitar mudanças devido à produção de CO2.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 mostra a formação de zona clara em volta das colônias de leveduras em placas
contendo 100 mg/L de corante. Todas as leveduras estudadas promoveram a descoloração do
corante azóico Reactive Blue 222 apôs 24 h de cultivo em meio sólido. As colônias formadas
por células de P. kluyveri, S. cerevisiae T e S. cerevisiae V mostraram cor azul intensa apôs 48 h
de cultivo, indicando processos de bioadsorção e bioacumulação do corante. As estirpes P.
fermentans D e P. fermentans M mostraram colônias com cor azul de menor intensidade
comparadas com as anteriores.
90 90
85 85
Descoloraçao (%)
Descoloraçao (%)
80 80
P.kluyveri
75 75 P.kluyveri
P.fermentansD
P.fermentansD
70 K.marxianus 70 K. marxianus UFV3
P.fermentansM
P.fermentansM
65 C.batistae 65
C.batistaeE
S.cerevisiaeT
60 60 S.cerevisiaeT
S.cerevisiaeV
S.cerevisiaeV
55 55
100 mg/L 300 mg/L
50 50
0 0
0 24 48 72 0 24 48 72
Tempo (h) Tempo (h)
3,5 3,5
C D
3,0 3,0
2,5 2,5
Células (g/L)
Celulas (g/L)
2,0 2,0
1,5 1,5
1,0 1,0
0,5 0,5
100 mg/L 300 mg/L
0,0 0,0
0 24 48 72 0 24 48 72
10 E 10 F
8 8
6
Glicose (g/L)
6
Glicose(g/L)
4 4
2 2
0,8 0,8
0,6 0,6 300 mg/L
0,4 100 mg/L 0,4
0,2 0,2
0,0 0,0
0 24 48 72 0 24 48 72
Tempo (h) Tempo (h)
4. CONCLUSÃO
Este estudo demonstrou que as estirpes de leveduras avaliadas foram capazes de
promover a descoloração aeróbia total de 100 mg/L do corante azóico Reactive Blue 222 após 24
h de cultivo, mediante mecanismos de bioadsorção e bioacumulação. As leveduras estudadas
apresentam potencial relevante como agentes de descoloração biológica em plantas de tratamento
de efluentes que visam a remoção de corantes.
5. REFERÊNCIAS
DAS, N.; CHARUMATHI, D. Remediation of synthetic dyes from wastewater using yeast – An
overview. Indian J. Biotechnol., v.11, p.369-380, 2012.
NASCIMENTO, C.R.S.; NISHIKAWA, M.M.; VAZ, A.M.; ROSA, C.A.; SILVA, M. Textile
azo dye degradation by Candida rugosa INCQS 71011 isolated from a non-impacted area
in Semi-Arid Region of Brazilian Northeast. Afr. J. Biotechnol, v.12, p.6636-6642, 2013.
STOLZ, A. Basic and applied aspects in the microbial degradation of azo dyes. Appl. Microbiol
Biotechnol, v.56, p.69–80, 2001
TAN, L.; NING, S.; ZHANG, X.; SHI, S. Aerobic decolorization and degradation of azo dyes by
growing cells of a newly isolated yeas Candida tropicalis TL-F. Biores. Technol, v.138,
p.307-313, 2013.