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1) A crise da economia venezuelana

A crise na Venezuela está diretamente ligada com a desvalorização do petróleo no


mercado internacional, o que aconteceu a partir de 2014. As reservas de petróleo
foram descobertas na Venezuela no começo do século XX e, desde então, tornaram-se
a principal fonte de riqueza do país sul-americano.

A Venezuela é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e,


atualmente, é o país com as maiores reservas de petróleo do mundo. Durante o
governo chavista, todos os ganhos sociais da Venezuela foram financiados com o
dinheiro que era trazido ao país por meio da venda de petróleo.

Porém, a riqueza do petróleo criou um país extremamente dependente dessa


commodity (produto que tem seu valor baseado pela oferta no mercado
internacional). A dependência do petróleo fez com que a Venezuela não investisse o
suficiente na sua própria indústria e agricultura. Assim, o país comprava tudo o que
não produzia.

O estopim da crise foi a queda do preço do barril do petróleo no mercado


internacional. Em junho de 2014, o preço do barril de petróleo era de US$111,87 e, em
janeiro de 2015, o valor era de US$48,07. Isso teve resultado direto no PIB do país, que
caiu quase 4% no ano de 2014. A queda do valor do petróleo impactou diretamente o
abastecimento do mercado venezuelano, uma vez que, sem dinheiro, o governo parou
de comprar itens básicos do cotidiano da população.

Além disso, a partir de 2017, o governo americano, liderado pelo presidente Donald
Trump, começou a impor uma série de sanções à economia venezuelana, em
represália ao autoritarismo de Nicolás Maduro no comando da Venezuela. Essas
sanções agravaram a situação econômica e forçaram o país a reduzir a quantidade de
petróleo exportado, por exemplo. Essa redução da produção de petróleo também é
fruto da má gestão da estatal venezuelana, a Petróleos de Venezuela (PDVSA).

Essa atual crise econômica da Venezuela transformou-se na maior crise da história


econômica do país. A redução do valor do barril do petróleo, a ineficiência do governo
e as sanções americanas levaram o país à situação atual. Itens básicos, como
medicamentos, alimentos e papel higiênico, não são encontrados facilmente nos
supermercados, e, quando são encontrados, seus preços são exorbitantes.

A falta de alimentos levou milhares de venezuelanos a passarem fome, e dados


comprovam que, em 2017, a população emagreceu, em média, 11 kg|1|. Muitas mães
têm entregado seus filhos às autoridades por não terem condições de sustentá-los, e
muitas famílias têm sido obrigadas a comprarem carne estragada, pois é a única a que
têm acesso.
A crise da economia venezuelana pode ser mais bem entendida por meio das
estatísticas:

A inflação da Venezuela em 2018 ultrapassou 1.300.000%|2|.

A pobreza extrema do país saltou de 23,6%, em 2014, para 61,2%, em 2017|3|.

Entre 2013 e 2017, o PIB do país caiu 37%, e a estimativa para 2018 é de que ele tenha
caído 15% (ainda não existem dados oficiais sobre o PIB venezuelano em 2018)|4|.

O salário-mínimo atual da Venezuela corresponde atualmente a R$77|5|.

Em decorrência da crise política e econômica no país, quase três milhões de


venezuelanos deixaram o país.

A crise política, econômica e humanitária que atingiu a Venezuela fez com que sua
população procurasse refúgio em nações vizinhas. Como recém-mencionado, quase
três milhões de venezuelanos já fugiram do país desde 2015, e acredita-se que, até o
fim de 2019, esse número possa alcançar a quantidade de cinco milhões de pessoas.
Os dois países que mais receberam refugiados venezuelanos foram Colômbia e Peru. A
entrada de refugiados venezuelanos no Brasil resultou em uma crise migratória em
Roraima, estado de poucos recursos localizado no norte do país. Para entender mais
sobre os impactos da imigração venezuelana no Brasil, sugerimos a leitura deste texto.

Crise política
A crise política é outra faceta do quadro caótico que a Venezuela encara atualmente.
No governo de Hugo Chávez, a relação com a oposição já era tumultuada — como
mencionado, houve uma tentativa de golpe contra Chávez em 2002. No entanto,
durante o governo de Maduro, a guinada do país rumo ao autoritarismo foi total, e sua
situação atual é delicada.

Como já visto, o projeto político do chavismo começou a ser intensamente criticado


por conta de sua guinada ao autoritarismo. Depois da morte de Chávez, a disputa pelo
poder intensificou-se, e a eleição de 2013 foi um símbolo disso: Maduro venceu a
disputa contra Henrique Caprilles, obtendo 50,61% dos votos contra 49,12% de seu
opositor, uma margem de diferença muito pequena.

Maduro assumiu a Venezuela quando a crise da economia do país começava a


despontar. Isso reforçou a oposição do país contra o governo e levou Maduro a usar de
mecanismos de força para combater e calar seus opositores. Em 2016, por exemplo, a
oposição de Maduro começou a articular-se para convocar um referendo revogatório
do mandato de Maduro. O Conselho Nacional Eleitoral do país, porém, adiou a data de
acolhimento das assinaturas necessárias, e o processo de referendo revogatório não
evoluiu por isso.

A pressão sobre o governo Maduro era grande, porque, em 2015, a correlação de


forças no Legislativo venezuelano alterou-se quando a oposição conseguiu eleger a
maioria de parlamentares. A pressão sobre Maduro vinda da Assembleia Nacional o fez
adotar um mecanismo para enfraquecê-la, e, em 2017, Maduro propôs a convocação
de uma Constituinte para redigir uma nova Constituição para a Venezuela.

A oposição acusou Maduro de utilizar a convocação de uma Constituinte como uma


forma para combater e enfraquecer a atuação dos parlamentares na Assembleia
Nacional, e, por isso, a oposição não lançou nenhum candidato para se eleger por esse
modo. O referendo de convocação da Constituinte foi acusado de ser fraudado pelo
governo.

Enquanto toda essa disputa política acontecia, as ruas venezuelanas ferviam com as
manifestações sociais contra o governo de Maduro. A reação do governo foi a de
reprimir os protestos com violência. Além disso, os opositores começaram a ser
perseguidos e presos. Existem denúncias de que tropas do governo estão coordenando
execuções de pessoas que se manifestam contra Maduro.

Em 2018, foi realizada eleição presidencial na Venezuela, com Nicolás Maduro


concorrendo à reeleição contra Henri Falcón. A oposição venezuelana estava
enfraquecida devido à perseguição promovida pelo governo, e Maduro obteve a
vitória ao conquistar quase 68% dos votos. Acontece que essa eleição não foi
reconhecida pela oposição e nem por parte da comunidade internacional, incluindo o
Brasil. A denúncia da oposição foi de fraude realizada por agentes do governo na
contagem e por meio da compra de votos.

O mais recente capítulo da crise política da Venezuela deu-se pelo pronunciamento do


presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, realizado no começo de 2019. O
político venezuelano de 35 anos autoproclamou-se presidente interino da Venezuela
enquanto o país estiver em processo de transição de poder.

Desnecessário mencionar que o anúncio de Guaidó foi imediatamente rejeitado por


Maduro. A situação deste, por sua vez, está cada vez mais delicada, porque parte da
comunidade internacional reconheceu Juan Guaidó como presidente venezuelano. Isso
inclui os países: Estados Unidos, Canadá, Espanha, França e, até mesmo, o Brasil.

Os países como Rússia, China, África do Sul e Cuba declararam apoio a Maduro, e o
presidente venezuelano sustenta-se no poder única e exclusivamente pelo fato de ter
ainda o apoio das Forças Armadas venezuelanas. Isso acontece porque Maduro
reforçou seu apoio aos militares, fornecendo-lhes importantes cargos no governo
venezuelano em troca de fidelidade. Até o momento, a presidência do país segue em
disputa, com Nicolás Maduro sendo o presidente de fato do país, mas com Juan
Guaidó tendo certo reconhecimento internacional.

Os riscos atuais que envolvem a crise da Venezuela são o de ameça de guerra e o de


uma intervenção americana no país. Estudiosos e especialistas de Relações
Internacionais apontam que os Estados Unidos têm conduzido a situação da Venezuela
de maneira a forçar a troca de regime no país. Com o agravamento da crise, a
comunidade internacional passou a pressionar a Venezuela para que o país recebesse
equipes de ajuda humanitária.

A Venezuela, por sua vez, nega essa ajuda humanitária, alegando que ela é apenas
uma justificativa dos Estados Unidos para intervirem diretamente no país. A reação do
presidente Maduro foi ordenar o fechamento das fronteiras do país com Colômbia,
Brasil e Aruba. A situação nas fronteiras com Colômbia e Brasil está tensa, com notícias
de que militares venezuelanos têm reprimido a população, que se aglomera nas
regiões fronteiriças exigindo passagem.

A tensão levou muitos a levantarem a possibilidade de um conflito armado entre Brasil


e Venezuela, mas declarações de agentes do governo brasileiro deram conta de que o
país continuará com a linha de não intervenção no país vizinho. A tensão atual segue
devido a uma possível intervenção dos Estados Unidos na Venezuela — ação criticada
por muitos como forma de os Estados Unidos obterem acesso à produção petrolífera
do país. A situação na Venezuela segue indefinida, e somente a transição democrática
deve servir de solução para a crise que se instalou no país.
2) A Venezuela, que passa por uma crise econômica, social e política, está suspensa do
bloco desde dezembro de 2016 por descumprir obrigações com as quais se
comprometeu em 2012. Em linhas gerais, há que se considerar que a reentrada da
Venezuela no Mercosul não possui apenas motivações econômicas, mas também
políticas, pois visto que atualmente os governos da Argentina, Brasil e Paraguai
configuram-se como de direita, não é interessante manter um país ”esquerdista”
dentro do bloco .

Em termos econômicos, a entrada da Venezuela aumenta o potencial energético do


Mercosul, haja vista que os venezuelanos estão entre os maiores produtores e
exportadores de petróleo do mundo. Além disso, a Venezuela é uma grande
importadora de alimentos e produtos industrializados, o que pode, de certa forma,
propiciar uma oportunidade para o mercado exportador do cone sul.

Os pontos negativos apontados envolvem, sobretudo, a política externa acirrada da


Venezuela e suas relações com os Estados Unidos, o que gera incertezas, haja vista que
os norte-americanos possuem amplas relações de exportação e importação com o
Mercosul. Vale lembrar, no entanto, que mesmo com as divergências políticas, os
Estados Unidos são os maiores importadores do petróleo venezuelano e um dos que
mais exportam para esse país.

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