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Resumo

Intervenções para reduzir a


mortalidade infantil pré-escolar e O presente trabalho teve como objetivo ana-
lisar o possível impacto de intervenções para
materna no Brasil reduzir a mortalidade de crianças e mães
brasileiras. Através de uma combinação de
métodos demográficos diretos e indiretos,
avaliaram-se as tendências temporais, as va-
Potential interventions to improve riações regionais e a distribuição por causas

the health of mothers and children da mortalidade de mães e crianças. Avaliou-


se também a atual cobertura de programas
in Brazil preventivos. Com base nesses parâmetros,
assim como em uma revisão da literatura
sobre a efetividade das intervenções dispo-
níveis, foram obtidas estimativas do impac-
to potencial de cada tipo de intervenção. A
mortalidade em crianças vem sendo reduzi-
da, mas os níveis atuais ainda são elevados e
há importantes desigualdades regionais, com
o Nordeste e Norte apresentando os mais
altos índices. Devido à predominância de
causas perinatais na mortalidade de crian-
ças brasileiras, as medidas de maior poten-
cial são aumentos na qualidade e cobertura
do atendimento pré-natal e ao parto, segui-
dos pelo manejo integrado de doenças in-
fecciosas e de problemas nutricionais.
Melhorias no pré-natal e parto também con-
tribuiriam para reduzir a mortalidade ma-
terna. É importante, ainda, garantir a
sustentabilidade dos avanços já alcançados
em áreas como as imunizações, a terapia de
reidratação oral e o planejamento familiar,
assim como investir intensamente na redu-
ção das importantes desigualdades regionais.

Palavras-chave: Mortalidade infantil, ten-


dências. Mortalidade materna, tendências.
Prevenção primária. Cuidado pré-natal. Cui-
dado perinatal. Eqüidade no acesso. Promo-
ção da saúde. Epidemiologia. Brasil.

Cesar G. Victora
Faculdade de Medicina
Centro de Pesquisas Epidemiológicas
Universidade Federal de Pelotas
Av. Duque de Caxias, 250
96030-002 Pelotas, RS - Brasil
E-mail: cvictora@terra.com.br

Rev. Bras. Epidemiol.


3 Vol. 4, Nº 1, 2001
Abstract 1. Introdução

This review was aimed at analyzing the po- O Banco Mundial está realizando, junta-
tential impact of interventions to reduce mente com o Ministério da Saúde, um estu-
maternal and child mortality in Brazil. A do de programas para melhorar a saúde
combination of direct and indirect demo- materno-infantil no Brasil. Como base para
graphic methods was used to describe time este empreendimento, o presente artigo foi
trends, regional variations and cause-specific requisitado para analisar possíveis interven-
distribution of mortality. Current coverage ções nessa área.
levels of preventive interventions were also Os níveis de mortalidade no Brasil não
assessed. Based on these parameters, as well são compatíveis com o potencial econômi-
as on a review of the international literature co do país. O Brasil está situado na 85a posi-
on the effectiveness of different interven- ção entre 192 países segundo o nível de mor-
tions, the latter were ranked according to talidade de menores de cinco anos1 . Embo-
their potential impact. Child mortality levels ra tenha havido progresso nos últimos anos,
are falling, but current rates are still high and maiores intervenções são claramente neces-
there are major regional differences, with the sárias para garantir a sobrevivência de mães
highest rates observed in the Northeastern e crianças.
and Northern Regions. Due to the predomi- O marco conceitual da presente análise
nance of perinatal causes in underfive child é baseado no modelo proposto originalmen-
mortality, the most promising interventions te por Mosley e Chen2 e desenvolvido por
include improving the quality and coverage outros autores 3 . As doenças terminais –
of antenatal and delivery care, followed by como problemas perinatais ou diarréia –
the integrated management of infectious dis- constituem as causas imediatas (ou pro-
eases and nutritional counseling. Improve- ximais) do óbito. Sua ocorrência é determi-
ment in antenatal and delivery care will also nada, em ultima instância, por fatores soci-
contribute to reducing maternal mortality. ais, econômicos e culturais – como renda,
It is also important to ensure the sustainability educação e posse de terra – que constituem
of current achievements, including vaccine os determinantes distais. Tais fatores influ-
coverage, oral rehydration therapy and fam- enciam a ocorrência das causas imediatas
ily planning, as well as to invest heavily in de morte através de determinantes de nível
reducing major regional differences. intermediário, que incluem tanto a exposi-
ção a fatores de risco (por exemplo condi-
Keywords: Infant mortality, trends. Mater- ções inadequadas de nutrição, saneamento,
nal mortality, trends. Primary prevention. aglomeração, etc) quanto a falta de acesso a
Prenatal care. Perinatal care. Equity in ac- fatores de proteção (por exemplo vacinas,
cess. Health promotion. Epidemiology. Bra- manejo adequado das doenças infecciosas,
zil. atenção pré-natal etc.).
Esta revisão inclui uma minuciosa des-
crição dos níveis e tendências das causas
proximais de morte, assim como a avaliação
do provável impacto de mudanças nas
determinantes de nível intermediário. Des-
tes, muitos são passíveis de modificação atra-
vés de intervenções sanitárias ou em setores
afins. A importância dos determinantes
distais é imensa. Historicamente, estes são
responsáveis pelos altos níveis de mortali-
dade no país e pela intensa disparidade en-
tre as regiões, mas tais fatores não serão

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abordados na presente revisão por serem bre mortalidade: estimativas indiretas de
menos passíveis de modificação por inter- mortalidade baseadas em censos e pesqui-
venções diretas, de curto prazo. A avaliação sas domiciliares, e coeficientes baseados no
de fatores de risco para a mortalidade foi Registro Civil. Cada uma dessas fontes apre-
restrita, sempre que possível, a estudos nos senta vantagens e desvantagens, descritas
quais fatores de confusão de natureza abaixo.
socioeconômica houvessem sido controla-
dos. Isto contribui para a identificação de 2.1.1 Estimativas indiretas a partir de censos
intervenções que estariam causalmente as- e inquéritos domiciliares
sociadas à mortalidade, eliminando fatores
cuja associação com a mortalidade é espú- Os métodos desenvolvidos por Brass e
ria, resultando de sua maior freqüência em Trussel4 permitem estimar os coeficientes
famílias de baixa renda. de mortalidade infantil e pré-escolar a partir
A revisão inicia abordando os estudos de informações provenientes de censos e
disponíveis sobre as causas imediatas de inquéritos domiciliares. Mulheres em idade
mortes de mães e crianças no Brasil, inclu- reprodutiva respondem perguntas sobre o
indo a análise de fontes confiáveis sobre total de filhos nascidos e o número de so-
mortalidade e a descrição de tendências tem- breviventes, bem como sobre nascimentos
porais e da distribuição geográfica nas cinco ocorridos nos últimos 12 meses. Estas infor-
regiões do país. mações são modeladas para que se possa
A seguir, avalia-se a efetividade das in- estimar a mortalidade em crianças de várias
tervenções disponíveis contra as principais faixas etárias.
causas de morte, sendo apresentados os da-
dos existentes sobre a cobertura dessas in- 2.1.1.1 Estimativa indireta do coeficiente
tervenções. Com base nestes dados, com- de mortalidade infantil (CMI)
para-se a relativa efetividade das interven-
ções. Finalmente, será considerada a Celso Simões, demógrafo sênior da Fun-
factibilidade de aumentar a cobertura de dação Instituto Brasileiro de Demografia e
cada intervenção, sendo feitas recomenda- Estatística (IBGE) publicou para o Ministé-
ções especificas. rio da Saúde estimativas indiretas do coefi-
Devido à ausência de informações abran- ciente de mortalidade infantil5 para as regi-
gentes sobre a morbidade, esta revisão usa ões do país, baseadas nos censos de 1980 e
principalmente dados sobre a mortalidade 1991 e nas Pesquisas Nacionais por
como base para recomendações para as po- Amostragem Domiciliar (PNAD) de 1992 a
líticas de saúde. As principais causas de 1996a . No presente documento, resultados
mortalidade e de morbidade na infância são provenientes dessa publicação, bem como
as mesmas; seria, portanto, improvável que tabulações especiais (Simões C, dados não
as presentes recomendações sofressem mu- publicados) foram usadas para descrever
danças significativas no caso da existência de níveis e tendências regionais de mortalidade
dados abrangentes sobre morbidade. entre 1980 e 1998.
Resultados provenientes dos diferentes
2. Metodologia censos e inquéritos foram modelados utili-
zando-se uma função logística e extra-
2.1 Métodos e fontes de dados para polados para se estimar a mortalidade até
mortalidade infantil e pré-escolar 1998. Duas possíveis limitações devem ser
levadas em conta na interpretação destes
Na elaboração desta monografia foram resultados. Em primeiro lugar, devido aos
usadas duas fontes principais de dados so- procedimentos utilizados, flutuações de cur-
a
Como a amostra para a Região Norte nas PNADS se restringe a áreas urbanas, as estimativas para essa região são baseadas
somente nas informações dos censos de 1980 e 1991.

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to prazo na mortalidade são ignoradas, re- (Sudeste) a 19% (Norte) do total de mortes
sultando em uma curva relativamente alisa- de menores de cinco anos.
da. Em segundo lugar, as estimativas de
mortalidade mais robustas derivadas de 2.1.2 Dados de mortalidade do Registro Civil
qualquer pesquisa são referentes a uma data
em média cinco anos anterior a essa pesqui- Informações sobre as mortes registradas
sa. Os resultados das PNAD de 1996, portan- no Brasil são coletadas por cartórios locais,
to, se referem ao início da década de 1990, o compiladas em nível municipal ou estadual,
que faz com que as estimativas para anos e enviadas ao Ministério da Saúde. O Siste-
recentes sejam baseadas em projeções. ma de Informações de Mortalidade (SIM),
As estimativas derivadas pelo IBGE são disponível através da internet7 , contém in-
semelhantes às obtidas pela Pesquisa Nacio- formações sobre a mortalidade até o final
nal de Demografia e Saúde, que integra a de 1997.
iniciativa global dos Demographic and Health O principal problema com relação aos
Surveys (DHS). Esta pesquisa6 – a qual será dados oficiais de mortalidade é o sub-regis-
referida como PNDS de 1996 – divulgou esti- tro de óbitos. A publicação de Simões, aci-
mativas regionais de mortalidade para 1991 ma mencionada, estima que em 1996 o se-
de 43 (Norte – somente áreas urbanas), 74 guinte percentual de mortes não tenha sido
(Nordeste), 38 (Sudeste), 25 (Sul) e 39 (Cen- registrado: Norte (41,3%), Nordeste (44,9%),
tro-Oeste) por 1.000 nascidos vivos. Para o Sudeste (1,7%), Sul (1,8%) e Centro-Oeste
mesmo ano, os coeficientes estimados pelo (17,4%). A média nacional foi de 19,1%. Para
IBGE foram de 42, 71, 32, 26 e 30, respectiva- mortalidade infantil, as estimativas corres-
mente. O CMI nacional para 1991 foi de 48, pondentes foram de 52,2%, 66,7%, 6,5%,
de acordo com a PNDS e de 45, de acordo 13,6%c e 23,9%, sendo a média nacional igual
com o IBGE. a 43,7%. É provável que a maioria das mor-
tes não registradas ocorra nas áreas rurais
2.1.1.2 Estimativa indireta do coeficiente do Norte e Nordeste, sendo possível que cau-
de mortalidade pré-escolar (CMPE) sas de morte particularmente comuns nes-
sas áreas – como, por exemplo, doenças
As técnicas desenvolvidas por Brass- infecciosas – tenham sido subestimadas.
Trussel4 podem também ser utilizadas para Observa-se que, para a maioria dos esta-
se obter estimativas para os coeficientes de dos das Regiões Sul e Sudeste, os níveis de
mortalidade pré-escolar (1-4 anos) e de me- sub-registro de óbitos são baixos e, portan-
nores de cinco anos (0-5 anos). As publica- to, as estatísticas do Registro Civil podem
ções do IBGE realizadas por Simões não con- fornecem resultados mais precisos e sensí-
têm tais estimativas, mas o DHS 1996 as for- veis a flutuações de curto prazo do que os
nece. Dado o atraso de cinco anos, intrínse- métodos indiretos. Optou-se, no entanto, por
co a esse método, as estimativas são refe- utilizar consistentemente as estimativas in-
rentes a 1991b . Estimativas regionais de mor- diretas, por serem estas mais válidas em ní-
talidade pré-escolar foram de 10 (Norte ur- vel nacional e permitirem uma comparação
bano), 16 (Nordeste), 6 (Sudeste), 5 (Sul) e 8 entre as regiões do país, um dos principais
(Centro-Oeste) mortes por 1.000 nascidos objetivos da presente análise.
vivos. Uma comparação entre estes resulta- Como mencionado acima, uma possível
dos e os coeficientes de mortalidade infantil limitação das estimativas do IBGE é o uso de
citados acima demonstra que a mortalidade projeções feitas a partir de dados do início
pré-escolar (1-4 anos) representa de 13% da década. Como o sub-registro é estimado

b
Estimativas indiretas podem ser obtidas para períodos mais recentes, de até dois anos antes do censo ou pesquisa, mas essas
são baseadas na experiência reprodutiva de mulheres jovens, e são menos confiáveis do que as informações referentes ao
período cerca de cinco anos anterior à coleta de dados. O alto índice de sub-registro para a Região Sul, onde os serviços de
saúde são bastante desenvolvidos, é devido, em grande parte, à existência de vários cemitérios ilegais no estado do Paraná
(Celso Simões, comunicação pessoal).

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dividindo-se o número de óbitos registrados ção de mortes atribuídas a causas mal defi-
pelo número esperado de mortes baseado nidas (incluindo mortes sem assistência mé-
nas estimativas indiretas, este poderá ser dica e aquelas atribuídas a sinais e sintomas
superestimado caso a queda nos níveis de inespecíficos). Esta proporção é especial-
mortalidade seja mais rápida do que a pre- mente alta nas Regiões Norte e Nordeste,
vista pelas estimativas do IBGE. Não há, no 16,0% e 25,5% em 1995-7, respectivamente.
entanto, uma maneira de avaliar a magnitu- Essas mortes foram excluídas do denomi-
de de tal problema enquanto não forem nador no cálculo da mortalidade proporci-
computadas as estimativas da mortalidade onal específica por causae .
no final da década de 1990, baseadas nos Para se estimar os coeficientes de mor-
dados do censo de 2000. talidade infantil específicos por causa (por
O sub-registro de nascimentos também mil nascidos vivos), as proporções de mor-
pode distorcer as estimativas de mortalida- tes por causa foram multiplicadas pela esti-
de infantil e pré-escolar. Embora o sistema mativa indireta do coeficiente de mortalida-
informatizado de registro de nascimentos do de infantil. A seguir, os coeficientes específi-
Ministério da Saúde (SINASC) haja melhora- cos por causa foram multiplicados pelo nú-
do consideravelmente nos últimos anos, sua mero estimado de nascidos vivos para se
cobertura ainda é baixa em áreas com um calcular o número anual absoluto de mortes
alto número de partos domiciliares. O sub- por causa para 1995-7. Como não há infor-
registro de nascimentos pode ser contorna- mações indiretas disponíveis sobre mortali-
do através da utilização de informações do dade pré-escolar após o início da década de
censo sobre o número de menores de um 1990, o total anual de mortes para 1995-97
ano, para se estimar o numero de nascidos foi calculado multiplicando-se o número
vivos. As estimativas feitas por Simões fo- estimado de mortes infantis por 0,172, a ra-
ram utilizadas. zão média entre as causas de mortes pré-
Informações sobre mortes registradas escolares e infantis registradas no períodof .
foram utilizadas para calcular a mortalidade
infantil proporcional (proporção de mortes 2.2 Métodos e fontes de dados para
infantis em relação ao total de mortes em mortalidade materna
todas as idades) e a mortalidade pré-escolar
proporcional (proporção de mortes pré-es- Morte materna é definida como a morte
colares em relação ao total de mortes em de gestante ou mulher que esteve em gesta-
todas as idades), assim como coeficientes ção durante as seis semanas (42 dias) anteri-
proporcionais de mortalidade infantil e pré- ores ao óbitog , devida a qualquer causa di-
escolar específicos por causa. Como todas reta ou indiretamente relacionada à gesta-
as proporções acima têm como denomina- ção e a seu manejo8,9 . Mortes maternas são
dor o número de óbitos registrados, elas são divididas em mortes obstétricas diretas (e.g.,
menos afetadas pelo sub-registro que tam- hemorragia, sepsis etc.) e indiretas (e.g., do-
bém afetaria seu denominador d . enças já existentes complicadas pela gesta-
Outro problema que pode afetar análi- ção).
ses específicas por causa é a grande propor- O indicador mais utilizado para a morta-

d
Como o sub-registro pode ser mais comum em determinadas idades (por exemplo, para recém-nascidos), ou devido a deter-
minadas causas (por exemplo, diarréia e outras doenças relacionadas à pobreza), é possível que a mortalidade proporcional
também seja distorcida, mas certamente em menor grau do que nos coeficientes de base populacional, derivados de estatísti-
cas oficiais.
e
A exclusão dos óbitos mal definidos do denominador da mortalidade proporcional específica por causa é baseada no pressupos-
to de que os óbitos mal definidos seriam devidos às mesmas causas do que aqueles com causa registrada. Embora haja a possibi-
lidade de erro, não há outra alternativa válida para a atribuição de uma ou mais causas específicas aos óbitos mal definidos.
f
Isso pressupõe que o grau de sub-registro é o mesmo para lactentes e para crianças de 1 a 4 anos, uma pressuposição prova-
velmente incorreta, mas que constitui a melhor alternativa devido à ausência de informações sobre sub-registro por idade.
g
Com a melhora do tratamento médico, algumas mulheres podem vir a morrer devido a causas maternas após este período. A
OMS recentemente propôs o conceito de “morte materna tardia” para mortes ocorridas entre 42 e 364 dias após o término da
gestação. A maioria dos estudos consultados não inclui as mortes maternas tardias.

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lidade materna é o número de mortes ma- 2.2.2 Dados de mortalidade do Registro Civil
ternas por 100.000 nascidos vivos, denomi-
nado razão de mortalidade materna. Esta não O Sistema de Informações de Mortalidade
é uma taxa ou coeficiente pois o denomina- (SIM) está disponível através da internet, forne-
dor é o número de nascimentos, e o nume- cendo dados de mortalidade até o final de 1997.
rador o número de mulheres. Além do sub-registro de mortes, descrito aci-
Existem diversas opções para se estimar ma, causas maternas são vítimas de uma
a mortalidade materna em países em desen- subnotificação sistemática, inclusive em países
volvimento, mas nenhuma totalmente desenvolvidos12 , onde em geral metade das
satisfatória. Os principais métodos serão dis- mortes maternas tendem a ser atribuídas a ou-
cutidos a seguir. tras causas. Dois estudos nacionais com
metodologia adequada avaliaram a subno-
2.2.1 Estimativas indiretas a partir de censos tificação de causas maternas entre os atestados
e inquéritos domiciliares de óbito registrados, através de entrevistas com
as famílias e os médicos que assistiram mulhe-
Estimativas indiretas de mortalidade res falecidas com 10 a 49 anos de idade. Essa
materna são geralmente obtidas através do abordagem metodológica é conhecida como
método de sobrevivência das irmãs RAMOS (Reproductive Age Mortality Surveys –
(sisterhood method) 10 , onde os adultos par- Inquéritos de Mortalidade em Idade Reprodu-
ticipantes de um inquérito domiciliar são tiva). Esses inquéritos são considerados o “pa-
questionados sobre possíveis mortes de ir- drão-ouro” para se estimar a mortalidade ma-
mãs por causas maternas. Esse método é terna. Os inquéritos demonstraram que, em São
amplamente utilizado, mas apresenta uma Paulo, o número de mortes maternas
desvantagem importante, do ponto de vista registradas teria de ser multiplicado por 2,24
de avaliação em saúde: o mesmo resulta em para se obter o número real de mortes13 , en-
estimativas para um período de 10 a 12 anos quanto que na zona urbana de Recife, esse fa-
anterior ao inquérito. Além disso, há evidên- tor foi estimado em 2,114 . Em 1994, o Ministério
cias recentes de que o método deixa de da Saúde recomendou que se usassem os se-
contabilizar um número substancial de mor- guintes fatores: 2,04 para o Sul; 2,24 para o Su-
tes maternas11 . Outra importante restrição deste; e 3 para o resto do país15 .
do método é o pressuposto de que a Para a presente análise, calculou-se a
fecundidade seja constante nos anos anteri- média anual de mortes atribuídas a causas
ores ao inquérito, o que certamente não se maternas nos anos de 1995-97, que foi poste-
aplica ao caso brasileiro (ver abaixo). riormente corrigida para compensar o sub-
Já foi proposto um método direto de so- registro, utilizando-se as estimativas de co-
brevivência das irmãs, no qual informações bertura do Registro Civil elaboradas por
mais detalhadas são coletadas, incluindo a Simões. O número de mortes resultante foi
idade com que morreu a irmã do entrevista- então multiplicado pelos fatores de correção
do. Esse método fornece estimativas mais para subnotificação de causas maternas, des-
recentes de mortalidade, mas na prática tem critos no parágrafo acima. Os fatores resul-
resultado em estimativas significativamente tantes, incorporando ambas as correções, fo-
mais baixas do que as obtidas através do mé- ram de 5,1 para o Norte, 5,4 para o Nordeste,
todo indireto. Sua confiabilidade, portanto, 2,3 para o Sudeste, 2,1 para o Sul, 3,6 para o
é questionável. No Brasil, ambas as versões Centro-Oeste e 3,1 para o país como um todo.
deste método foram utilizadas na PNDS de Os números corrigidos foram então dividi-
1996 para fornecer estimativas nacionaish , dos pelo número estimado de nascidos vivos
mas não existem resultados em nível regio- para se calcular os índices de mortalidade ma-
nal. terna de cada região do país.

h
O PNDS perguntou sobre mortes nos dois meses – e não nas seis semanas – seguintes ao fim da gestação.

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Informações detalhadas sobre as causas capítulos de livros e relatórios de pesquisa.
de mortes maternas de acordo com a déci- Os números de artigos identificados nes-
ma revisão do Classificação Internacional de tes três bancos de dados são mostrados na
Doenças foram obtidas para 1996 e 1997 atra- Tabela 1. Houve muitas repetições, visto que
vés do Ministério da Saúde. vários artigos têm mais de uma palavra cha-
ve e/ou foram incluídos em mais de um ban-
2.2.3 Indicadores de Processo co de dados. Após a exclusão destas repeti-
ções, 568 resumos foram lidos, sendo exclu-
Devido às grandes dificuldades para es- ídos os artigos não relevantes. Entre estes se
timar os níveis de mortalidade materna, par- encontram artigos sobre doenças genéticas,
ticularmente em áreas geográficas reduzi- estudos descritivos (exceto os de cobertura
das, um conjunto de indicadores de proces- estadual ou nacional), estudos realizados em
so foi proposto, incluindo variáveis de ne- serviços de saúde sem base populacional, e
cessidades não satisfeitas de planejamento estudos com óbvias limitações metodo-
familiar e serviços obstétricos; utilização, lógicas. Uma lista de 192 artigos de possível
cobertura e acesso ao atendimento ao par- relevância foi elaborada, sendo cópias obti-
to; e indicadores da qualidade da assistência das para revisão.
médica16 ,17 . Alguns dos dados necessários Entre estes artigos, foram selecionados
para o cálculo destes indicadores encontram- estudos de alta qualidade, nos quais a
se disponíveis rotineiramente, mas outros subnotificação de mortes foi evitada, atra-
requerem amostras representativas de ser- vés de vigilância ativa ou por haver sido rea-
viços de saúde, inexistentes em nosso meio. lizado o estudo em área com baixos índices
de sub-registro. Quando a literatura nacio-
2.3 Revisão da literatura sobre deter- nal de alta qualidade era restrita, fontes in-
minantes da mortalidade de mães e ternacionais foram utilizadas, de preferên-
crianças cia meta-análises, quando disponíveis.
Essa lista foi complementada com con-
Uma revisão sistemática da literatura ci- tatos pessoais com instituições relevantes,
entífica de 1970 a 1990 foi realizada em três incluindo a UNICEF, a OPAS, o IBGE, o Mi-
importantes bancos de dados, nistério da Saúde e a BEMFAM (instituição
MEDLINE (National Library of Medicine, responsável pela PNDS). Outros 27 relatóri-
Estados Unidos), POPLINE (Johns Hopkins os e livros foram obtidos. Os resultados des-
University, Estados Unidos) e LILACS (Lite- ta revisão da literatura serão apresentados
ratura Latino-americana em Ciências de nas seções seguintes.
Saúde, Biblioteca Regional de Medicina, Bra-
sil). Enquanto que o MEDLINE se restringe a 3. Reduzindo a mortalidade de
artigos publicados em periódicos indexados, crianças menores de cinco anos
o POPLINE e o LILACS também incluem
pesquisas não publicadas, tais como textos A Tabela 2 mostra as características
de trabalhos apresentados em congressos, demográficas, socioeconômicas e do aten-

Tabela 1. Número de publicações identificadas na revisão da literatura, 1970-99.


Table 1. Number of publications identified during literature review, 1970-99.

Palavra-chave Base de dados


MEDLINE POPLINE LILACS
Mortalidade Materna 29 135 88
Mortalidade Perinatal 157 228 216
Mortalidade Infantil 157 285 216
Mortalidade pré-escolar 233 1 0

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Tabela 2. Distribuição de dados básicos demográficos, socioeconômicos e relativos à assistência à saúde, por região.
Brasil, ao redor de 1996.
Table 2. Distribution of basic demographic, socioeconomic and health care indicators , by region. Brazil, circa 1996.

Indicadores Ano e Região


fonte Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Brasil
Oeste
População total (milhares) 1996a 11.291 44.768 67.003 23.512 10.501 157.079
População urbana 1996a 62,4% 65,2% 89,3% 77,2% 84,4% 78,4%
Número de nascimentos (estimados) 1996b 341.174 1.127.425 1.284.278 460.506 232.236 3.445.619
Analfabetismo em mulheres 1996c 11,9% 26,6% 9,9% 9,9% 11,8% 14,8%
(15 anos ou mais)
Renda familiar abaixo de 2 salários 1996c 23,1% 40,6% 14,1% 17,8% 21,7% 22,9%
mínimos
Médicos /10.000 habitantes 1996d 6,0 7,8 18,1 12,3 12,5 13,0
Leitos hospitalares/1.000 habitantes 1997a 2,0 2,9 3,3 3,3 3,6 3,1
Enfermeiras/10.000 habitantes 1996d 2,8 3,3 5,1 4,5 3,8 4,2
Hospitalizações no setor público por 1996d 74,6 80,5 70,2 84,1 77,0 76,0
1.000 habitantes
Consultas ambulatoriais mensais no 1996d 0,51 0,61 0,71 0,70 0,68 0,66
setor público por habitante
a) Fonte: Contagem populacional de 1996, IBGE.
b) Fonte: Ministério da Saúde/IBGE (C. Simões).
c) Fonte: PNAD 1996, IBGE.
d) Fonte: Ministério da Saúde.

a) Source: 1996 Population census, IBGE.


b) Source: Ministry of Health/IBGE (C. Simões).
c) Source: PNAD 1996, IBGE.
d) Source: Ministry of Health.

dimento à saúde das regiões brasileiras. 3.1 Níveis e tendências na mortalidade


Embora o Nordeste seja a região mais pobre infantil
do país, é a Região Norte a que possui maior
população rural e os piores indicadores de As Tabelas 3 e 4 mostram que os níveis
assistência médica. nacionais de mortalidade caíram 40% entre
O período de tempo coberto pela pre- 1985-87 e 1995-97, de acordo com estimati-
sente análise foi definido com base na dis- vas indiretas. Dados do Registro Civil confir-
ponibilidade de dados. Informações do Re- maram o declínio da mortalidade infantil na-
gistro Civil sobre o número e as causas de cional, de 128.745 mortes por ano em 1985-
mortes estão disponíveis até o ano de 1997, e 7 para 75.990 dez anos depois, uma redução
projeções de estimativas indiretas de mor- de 41,0%. A mortalidade infantil no Brasil
talidade estão disponíveis até 1998, baseadas vem declinado nas últimas décadas, mas o
em dados coletados no início da década de progresso tem sido mais lento do que para a
1990. Visto que a maioria das informações maioria dos países americanos. De acordo
sobre os determinantes intermediários da com a OPAS19 , o Brasil está entre os países
mortalidade é proveniente de duas PNDS com um declínio no CMI de 60-69% entre
(198618 e 1996), foi calculada a média dos 1950-5 e 1990-5. Dos países estudados, 23
índices de mortalidade em dois períodos de apresentaram reduções mais rápidas do que
três anos (1985-7 e 1995-7), sendo as análises a brasileira e apenas nove apresentaram re-
baseadas na comparação entre esses dois duções mais lentas.
períodos. O uso de médias trienais resultou Todas as regiões do país apresentaram
em estimativas de mortalidade menos sujei- declínio, variando este de 33,2% no Nordes-
tas a flutuações anuais. te a 42,1% no Centro-Oeste (Tabela 4). As

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
10 Victora, C.G.
Tabela 3. Estimativas indiretas dos coeficientes de mortalidade infantil (por 1.000 nascidos
vivos) por Região, 1980-98, baseadas nos Censos Demográficos de 1980 e 1991 e nas PNADs
1992-96.
Table 3. Indirect estimates of infant mortality rates (per 1,000 live births) by Region, 1980-98, based on
the 1980 and 1991 Demographic Censuses and on 1992-96 PNADs.

Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil


1980 83,61 120,46 64,44 57,70 66,44 85,64
1981 80,32 115,55 61,51 55,14 61,65 82,49
1982 76,55 110,49 58,32 52,10 56,89 78,94
1983 72,35 105,36 54,93 48,65 52,32 75,03
1984 67,88 100,26 51,45 44,94 48,04 70,88
1985 63,30 95,27 47,96 41,18 44,15 66,59
1986 58,81 90,47 44,58 37,58 40,69 62,32
1987 54,58 85,93 41,39 34,32 37,68 58,20
1988 50,76 81,70 38,47 31,51 35,12 54,36
1989 47,42 77,82 35,86 29,20 32,97 50,88
1990 44,59 74,30 33,57 27,36 31,19 47,81
1991 42,26 71,15 31,62 25,94 29,74 45,18
1992 40,37 68,37 29,97 24,87 28,56 42,96
1993 38,88 65,92 28,60 24,08 27,61 41,13
1994 37,72 63,80 27,47 23,49 26,85 39,63
1995 36,82 61,96 26,56 23,07 26,25 38,42
1996 36,13 60,39 25,82 22,76 25,77 37,46
1997 35,60 59,05 25,23 22,55 25,39 36,70
1998 35,20 57,91 24,76 22,39 25,09 36,10
Fonte/Source: Celso Simões, comunicação pessoal.

grandes diferenças regionais continuam, 1995-7. As reduções variaram de 32,9% no


sendo o CMI do Nordeste quase três vezes Centro-Oeste a 50,4% no Nordeste. Nova-
mais alto do que o observado no Sul e Su- mente, houve ineqüidades regionais mar-
deste em 1995-7. cantes, sendo os níveis mais baixos de morta-
Multiplicando-se os coeficientes indire- lidade proporcional observados no Sul/Su-
tos de mortalidade infantil pelo número de deste e os mais altos no Norte/Nordeste.
nascimentos em cada região produz-se uma Para checar a consistência interna dos
estimativa de 12.344 mortes por ano na Re- dados, a coluna da extrema direita da Tabela
gião Norte para 1995-97, 68.171 para o Nor- 4 apresenta o coeficiente de correlação en-
deste, 33.255 para o Sudeste, 10.497 para o tre o CMI indireto e outros indicadores de
Sul, 5.992 para o Centro-Oeste e 129.305 para mortalidadei . Enquanto que em 1985-7 houve
o país como um todo. uma correlação elevada (0,75) com a morta-
As estatísticas de mortalidade proporcio- lidade infantil proporcional, esta correlação
nal, baseadas no Registro Civil, também apre- foi menos intensa (0.53) em 1995-7. A redu-
sentaram progressos importantes (Tabela 4), ção no coeficiente de correlação foi devida
pois quando há melhoria nas condições de principalmente ao valor contrastante na Re-
saúde, a mortalidade infantil tende a declinar gião Norte, que apresentou um CMI relati-
mais rapidamente do que a adulta. A morta- vamente baixo (36,2 por mil) mas uma mor-
lidade infantil representou 16,1% de todas as talidade infantil proporcional bastante su-
mortes em 1985-87, declinando para 8,4% em perior (15,7%). As estimativas indiretas do

i
Os coeficientes de correlação variam de -1 (correlação inversa perfeita) a 1 (correlação direta perfeita). Valores próximos de
zero (por exemplo, de -0.4 a 0.4) indicam correlações fracas ou inexistentes.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
11 Vol. 4, Nº 1, 2001
Tabela 4. Mortalidade infantil por Região, 1985-7 e 1995-7: estimativas indiretas e dados do Registro Civil.
Table 4. Infant Mortality by Region, 1985-7 and 1995-7: indirect estimates and official data.

Região
Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Brasil Correlaçãoa
Oeste
Estimativa indireta do CMI 1985-7 58,9 90,6 44,6 37,7 40,8 62,4 1,00
1995-7 36,2 60,5 25,9 22,8 25,8 37,5 1,00
% redução 38,6% 33,2% 42,1% 39,5% 36,8% 39,8%
Proporção de óbitos de menores 1985-7 26,6% 23,4% 12,9% 11,7% 14,1% 16,1% 0,75
de 1 ano sobre todos os óbitos 1995-7 15,7% 11,6% 7,0% 6,3% 9,5% 8,4% 0,53
% redução 41,0% 50,4% 46,0% 46,7% 32,9% 47,6%
Proporção de óbitos pós- 1985-7 59,4% 64,9% 44,1% 48,1% 47,6% 53,6% 0,91
neonatais sobre óbitos infantis 1995-7 39,9% 49,5% 35,0% 40,8% 36,9% 40,8% 0,89
% redução 32,8% 23,6% 20,5% 15,4% 22,4% 20,4%
Distribuição percentual das mortes infantis por causab
Causas perinatais 1985-7 42,1% 42,9% 48,9% 46,4% 48,7% 46,5% -0,72
1995-7 61,4% 53,9% 58,8% 53,0% 56,7% 56,8% -0,19
Malformações 1985-7 4,9% 3,6% 8,1% 11,4% 8,6% 7,1% -0,88
1995-7 8,5% 7,3% 12,2% 16,2% 13,4% 11,2% -0,85
Infecções respiratórias 1985-7 11,5% 11,4% 15,7% 14,2% 12,9% 13,9% -0,69
1995-7 8,9% 9,7% 10,7% 11,1% 8,7% 10,2% -0,27
Diarréia 1985-7 30,1% 27,0% 11,8% 12,5% 12,9% 17,3% 0,78
1995-7 9,3% 15,4% 4,7% 5,0% 6,4% 8,1% 0,99
Outras infecções 1985-7 5,3% 6,1% 5,3% 6,0% 7,1% 5,7% -0,12
1995-7 5,6% 6,0% 5,6% 5,0% 6,1% 5,6% 0,45
Causas maldefinidasc 1985-7 23,9% 45,5% 6,0% 11,0% 11,6% 23,0% 0,97
1995-7 16,0% 25,5% 5,0% 6,3% 6,0% 12,6% 0,97
CMI específico por causas (estimado)c
Causas perinatais 1985-7 24,8 38,9 21,8 17,5 19,9 29,0 0,99
1995-7 22,2 32,6 15,2 12,1 14,6 21,3 0,99
Malformações 1985-7 2,9 3,3 3,6 4,3 3,5 4,4 -0,54
1995-7 3,1 4,4 3,2 3,7 3,4 4,2 0,74
Infecções respiratórias 1985-7 6,7 10,3 7,0 5,4 5,3 8,7 0,95
1995-7 3,2 5,9 2,8 2,5 2,3 3,8 0,98
Diarréia 1985-7 17,7 24,4 5,3 4,7 5,3 10,8 0,96
1995-7 3,3 9,3 1,2 1,1 1,7 3,0 1,00
Outras infecções 1985-7 3,1 5,5 2,4 2,3 2,9 3,5 0,97
1995-7 2,0 3,6 1,4 1,1 1,6 2,1 1,00
Causas maldefinidasc 1985-7 14,1 41,2 2,7 4,1 4,7 14,3 0,98
1995-7 5,8 15,4 1,3 1,4 1,5 4,7 1,00
a) Coeficiente de correlação entre as estimativas indiretas do CMI por região e os demais indicadores de mortalidade para o mesmo triênio.
b) Expressos como percentuais de todas as mortes com causas definidas.
c) Expresso como percentual de todas as mortes infantis.
d) Produto do CMI indireto e da proporção de mortes infantis pela causa em questão.

a) Correlation coefficient between indirect estimates of IMR by region and remaining indicators of mortality for the same three years.
b) Expressed as percentages of all deaths with defined causes.
c) Expressed as a percentage of all infant deaths.
d) Product of the indirect IMR and the proportion of infant deaths due to the specific cause.

Norte são restritas às áreas urbanas; é pro- que no Norte tenha havido um declínio mais
vável que o registro de mortes também es- rápido da mortalidade não-infantil do que
teja confinado a essas áreas. Excluindo-se o nas outras regiões, inflando, portanto, a per-
Norte desta análise, a correlação aumenta centagem de mortes infantis, mas variações
para 0,85. Uma possível explicação é a de na cobertura do registro de óbitos de crian-

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
12 Victora, C.G.
ças e adultos também podem ter ocorrido. A segunda maior causa entre as mortes
Os resultados para o Norte, portanto, de- infantis registradas em 1995-97 foram as
vem ser interpretados com cautela. malformações, que ultrapassaram a diarréia
Quando há redução da mortalidade in- e as infecções respiratórias ao longo da dé-
fantil, a mortalidade pós-neonatal (mortes cada. Estas mortes são extremamente difí-
ocorridas entre os 28 e os 364 dias de vida) ceis de se prevenir, portanto seu peso relati-
tende a cair mais rapidamente do que a vo tende a aumentar quando a mortalidade
mortalidade neonatal (mortes desde o nas- diminui: para o país como um todo, o au-
cimento até os 27 dias). Portanto, como mento foi de 7,1% para 11,2% do total de
mostram os dados nacionais na Tabela 4, a mortes infantis na década estudada. O CMI
proporção de mortes infantis ocorridas no nacional devido a malformações permane-
período pós-neonatal caiu de 53,6% para ceu estável: 4,4 e 4,2 por mil. O aumento apa-
40,8%. Mais uma vez, este declínio foi obser- rente no Nordeste pode talvez ser atribuído
vado em todas as regiões, mas principalmen- a melhorias na notificação. O fato de que as
te na Região Norte, sendo as iniqüidades re- malformações apresentam pouca variabili-
gionais similares àquelas observadas nos in- dade temporal e geográfica é um ótimo da
dicadores anterioresj . As correlações com o consistência dos dados.
CMI indireto foram intensas, apresentando A terceira maior causa de mortes infan-
um alto grau de consistência interna – CMIs tis no país em 1995-7 foram as infecções res-
altos sendo associados sempre a altas pro- piratórias agudas, principalmente a pneumo-
porções de mortes neonatais. nia. A mortalidade proporcional diminuiu de
Essas observações também são consisten- 13,9% dos óbitos em 1985-7 para 10,2% em
tes com aquelas sobre mortalidade propor- 1995-7, e em termos de CMI a redução foi de
cional específica por causak e com os CMIs 8,7 para 3,8 por mil. Declínios importantes
específicos por causa, também mostrados na foram observados em todas as regiões, mas
Tabela 4. Essa última estimativa foi obtida o Nordeste continua apresentando o coefi-
multiplicando-se o CMI indireto pelas pro- ciente mais alto, com 5,9 mortes por mil nas-
porções específicas por causa de mortes cidos vivos.
registradas, representando o número estima- De todas as causas de morte, a diarréia foi
do de mortes por mil nascidos vivos. a que apresentou o maior declínio. De 17,3%
A maior causa de mortes infantis regis- de todas as mortes em 1985-7, passou a ser
tradas no Brasil foram as condições perinatais, responsável por apenas 8,1% após dez anos.
responsáveis por 46,5% da mortalidade infan- O CMI específico para a diarréia caiu dois ter-
til em 1985-7 e por 56,8% em 1995-7. Esse au- ços, de 10,8 para 3,0 por mil. Houve diferen-
mento relativo na mortalidade proporcional ças regionais acentuadas, sendo a mortalida-
esteve presente em todas as regiõesl , mas o de no Nordeste cerca de nove vezes superior
CMI nacional estimado devido a causas à do Sul em 1995-7, e o dobro daquela obser-
perinatais reduziu-se de 29,0 para 21,3 por mil. vada no Sul, dez anos antes. Avaliação reali-
Os coeficientes são mais altos no Norte/Nor- zada na Região Nordeste (ver Seção 3.3.5)
deste e mais baixos no Sul/Sudeste. mostrou um provável impacto da TRO sobre

j
Quando os níveis de CMI são altos, a mortalidade pós-neonatal tende a cair mais rapidamente do que a neonatal. Mas quando o
CMI atinge níveis muito baixos, esta tendência pode ser revertida, pois permanece um resíduo de mortes pós-neonatais (por
exemplo, mortes súbitas, neoplasias, causas externas) de difícil redução, enquanto continuam decrescendo as causas neona-
tais. Isso pode estar acontecendo na Região Sul, que apresentou o menor nível de redução.
k
Ao se interpretar esses dados, deve-se ter em mente que mesmo estando o número absoluto de mortes em queda, coefici-
entes proporcionais de mortalidade podem apresentar um aumento, pois mortes a certas idades ou por certas causas podem
cair mais rapidamente do que mortes a outras idades ou devidas a outras causas. Isso é relevante na interpretação das tendên-
cias da mortalidade proporcional específica por causa. Para que essas tendências sejam mantidas sob perspectiva, nessas análi-
ses serão também apresentados os números anuais de mortes.
l
Em 1985-7 houve uma intensa correlação inversa entre a proporção de mortes infantis por causas perinatais e o CMI (Tabela
4), o que significa que em regiões com mortalidade infantil mais alta a proporção de mortes perinatais foi menor (visto que
mortes pós-perinatais, em sua maioria devidas a infecções, foram mais comuns). A correlação inversa foi menos intensa em
1995-7, indicando que as causas perinatais têm atualmente importâncias praticamente iguais, em termos relativos, em todo o
país.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
13 Vol. 4, Nº 1, 2001
a mortalidade por diarréia. Observando-se o 1991. A mortalidade pré-escolar represen-
país como um todo, parece ter havido uma tou 16% do coeficiente nacional de mortali-
redução ainda maior nas outras regiões, em- dade de menores de cinco anos. Houve ini-
bora fosse esperado um maior impacto no qüidades regionais acentuadas, sendo os
Nordeste, devido aos maiores níveis iniciais. coeficientes do Norte/Nordeste três vezes
Isto não tira o mérito do sucesso da experi- mais altos do que os do Sul/Sudestem .
ência no Nordeste, mas mostra que aparen- Os números de óbitos registrados mos-
temente outras regiões foram ainda mais efi- tram um declínio de 45,4%, em nível nacio-
cientes na redução da diarréia. nal, de 23.761 mortes pré-escolares por ano
A mortalidade proporcional devida a ou- em 1985-7 para 12.996 após uma década. A
tras infecções permaneceu estável: 5,6% e OPAS comparou os coeficientes de declínio
5,7% em 1985-7 e 1995-7, respectivamente, nos países americanos entre 1950-5 e 1990-
mas os coeficientes de mortalidade caíram 5. O Brasil foi classificado no grupo de países
de 3,5 para 2,1 por mil. Novamente, o CMI com 80% ou mais de redução. Dos países
foi especialmente alto na Região Nordeste. com dados disponíveis, sete apresentaram
A causa mais comum dentro desse grupo foi declínios maiores, e 16 menores.
a septicemia (59,4%), seguida pela meningite Em termos da proporção de mortes de
(24,9%). Deve-se ressaltar que a septicemia pré-escolares sobre o total de óbitos, o Nor-
é uma complicação de outra infecção, ge- te apresentou os maiores percentuais, como
ralmente da diarréia, e – na presença de bons ocorreu para a mortalidade infantil. A prin-
cuidados médicos e certificação de óbito – cipal causa de morte foram as infecções res-
as mortes deveriam ser atribuídas à doença piratórias, especialmente a pneumonia, res-
subjacente. Em um estudo realizado no sul ponsável por uma em cada quatro mortes
do Brasil, 34% das mortes atribuídas à septi- em 1985-7, proporção que permaneceria
cemia nos atestados de óbito foram na inalterada dez anos mais tarde.
verdade causadas pela diarréia, 24% pela Outras infecções – que não pneumonia
desnutrição, e 21% por infecções respirató- ou diarréia - foram a segunda maior causa,
rias20 . aumentando proporcionalmente de 15,1%
Por último, a Tabela 4 mostra a propor- em 1985-7 para 22,6% de todas as mortes
ção de mortes devidas a causas mal-defini- em 1995-7. Dentro deste grupo, as mais fre-
das e os CMIs correspondentes. Proporções qüentes foram a meningite (38,5%), a septi-
elevadas indicam baixa qualidade dos servi- cemia (34,2%) e a AIDS (7,2%).
ços médicos, uma vez que muitas crianças Causas externas ocuparam o terceiro lu-
estão morrendo sem um diagnóstico ade- gar, contabilizando 17,9% das mortes em
quado. Essa proporção diminuiu de 23,0% 1985-7 e 21,9% uma década mais tarde. Sua
em 1985-7 para 12,6% dez anos depois. Hou- importância relativa cresceu em todas as
ve diferenças regionais acentuadas, com for- regiões, especialmente por que outras cau-
te correlação estatística com o CMI indireto. sas de morte estão sendo controladas. Aci-
dentes automobilísticos (30,0%) e afogamen-
3.2 Níveis e tendências na mortalidade to (23,8%) foram as principais causas.
de pré-escolares As proporções do total de mortes
pré-escolares devidas a pneumonia, outras
A Tabela 5 mostra os indicadores relati- infecções ou causas externas não apre-
vos à mortalidade pré-escolar. Não há in- sentaram grande variação entre as regiões,
formações sobre as tendências temporais mas deve-se ressaltar que essas proporções
através de estimativas indiretas, visto que o referem-se a um total de mortes três
único estudo recente é a PNDS de 1996, que vezes maior no Nordeste do que no Sul/
fornece dados sobre o período em torno de Sudeste.

m
A amostra da PNDS de 1996 não incluiu as áreas rurais da Região Norte.

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
14 Victora, C.G.
Tabela 5. Mortalidade pré-escolar (1-4 anos) por região, 1985-7 e 1995-7: estimativas indiretas baseadas na PNAD 1996
e dados do Registro Civil.
Table 5. Child mortality (1-4 years) by region, 1985-7 and 1995-7: indirect estimates based on 1996 PNAD and official data.

Região
Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Brasil
Oeste
Estimativas indiretas
CMIa 1991 43 74 38 25 39 48
Mortalidade pré-escolar (1-4 anos)a 1991 10 16 6 5 8 9
Mortalidade de menores de 5 anosa 1991 52 89 43 29 46 57
Proporção de óbitos de 1-4 anos sobre 1991 19% 18% 13% 17% 17% 16%
menores de 5 anosa
Proporção de óbitos de 1-4 anos sobre 1985-7 6,3% 5,2% 1,8% 2,0% 3,0% 3,0%
todos os óbitos registrados 1995-7 3,2% 2,1% 1,1% 1,1% 1,9% 1,4%
Distribuição percentual dos óbitos de 1-4 anos por causab
Infecções respiratórias 1985-7 22,8% 26,5% 26,0% 18,8% 17,8% 24,4%
1995-7 23,8% 27,0% 23,6% 21,3% 17,9% 23,8%
Outras infecções 1985-7 18,9% 16,4% 13,8% 13,5% 14,6% 15,1%
1995-7 25,2% 22,5% 22,8% 21,3% 21,5% 22,6%
Causas externas 1985-7 14,4% 12,5% 19,6% 22,9% 28,7% 17,9%
1995-7 22,8% 18,3% 22,1% 23,8% 28,6% 21,9%
Diarréia 1985-7 27,1% 21,9% 7,9% 10,5% 9,0% 14,6%
1995-7 13,0% 12,9% 4,3% 5,6% 6,7% 7,8%
Causas maldefinidasc 1985-7 33,1% 52,2% 13,9% 15,7% 17,7% 33,3%
1995-7 27,1% 31,5% 10,7% 8,1% 8,3% 18,6%
a) Fonte: Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde 1996; estimativas para a Região Norte são restritas a áreas urbanas.
b) Expressos como percentuais de todas as mortes com causas definidas.
c) Expresso como percentual de todas as mortes de 1-4 anos.

a) Source: 1996 National Demography and Health Survey; estimates for the North Region are restricted to urban areas.
b) Expressed as percentages of all deaths with defined causes.
c) Expressed as a percentage of all child deaths.

Assim como com a mortalidade infantil, Resumindo:


a mortalidade de pré-escolares por diarréia
apresentou uma redução acentuada na dé- A mortalidade de menores de cinco anos caiu
cada, de 14,6% para 7,8% do total de mortes. cerca de 40-50% entre 1985-7 e 1995-7.
Reduções significativas foram observadas
em todas as regiões, mas as disparidades Os níveis de mortalidade são mais altos no
persistiram, a proporção no Nordeste per- Nordeste e Norte e mais baixos no Sul e Su-
manecendo três vezes mais alta do que a do deste; o Centro-Oeste se encontra em posi-
Sudeste. ção intermediária. Como as pesquisas na
Por último, as mortes por causas indefi- Região Norte não cobrem as áreas rurais, a
nidas diminuíram de um terço de todas as mortalidade nesta região pode estar sendo
mortes para 18,6%, ao longo da década. Tais subestimada.
mortes são significativamente mais comuns
no Nordeste e Norte. Causas perinatais contabilizam metade de
As principais causas de mortalidade pré- todas as mortes entre menores de cinco
escolar são, portanto, as mesmas que as de anos. Ao contrário da maioria das causas de
mortalidade infantil, exceto pela emergên- morte, a mortalidade devida a essas causas é
cia das causas externas. relativamente mais estável. O Norte e o Nor-

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
15 Vol. 4, Nº 1, 2001
deste apresentam coeficientes particular- destas mortes. Prematuridade e baixo peso
mente altos. ao nascer foram responsáveis por 13,0%, in-
fecções neonatais (excluindo tétano) por
Mortes devidas a doenças infecciosas, e es- 12,7% e outras causas (incluindo problemas
pecialmente à diarréia, têm diminuído rapi- maternos) por 14,0%.
damente, mas ainda são responsáveis por As seguintes intervenções são potencial-
um grande número de óbitos no Norte e mente efetivas para a redução da mortalida-
Nordeste. de por causas perinatais.

3.3 Possíveis intervenções contra a 3.3.1.1 Melhorando a atenção pré-natal


mortalidade de menores de cinco anos
Uma atenção pré-natal adequada pode
As análises acima mostram que as prin- reduzir a mortalidade através da detecção e
cipais causas da mortalidade infantil e pré- do tratamento de doenças maternas (como
escolar são semelhantes, com exceção das por exemplo, sífilis, diabetes, hipertensão,
causas perinatais que, por definição, só afe- HIV/AIDS, e outras infecções), do manejo
tam lactentes. A Tabela 6 mostra as princi- da nutrição materna, da vacinação contra o
pais causas de mortalidade de menores de tétano e do aconselhamento contra o fumo
cinco anos, relacionando as principais pos- e bebidas alcoólicas, que contribuiriam para
síveis intervenções contra essas causas. Os reduzir o número de mortes devidas a par-
indicadores disponíveis da cobertura destas tos prematuros, baixo peso ao nascer,
intervenções, por região, encontram-se na síndrome de sofrimento respiratório e pro-
Tabela 7. blemas maternos.
Um pré-natal adequado requer serviços
3.3.1 Causas perinatais acessíveis (em termos de local geográfico e
de horário de funcionamento), de baixo cus-
Causas perinatais são responsáveis por to e de qualidade adequada. Os indicadores
quase metade (48,5%) de todas as mortes de disponíveis da utilização de pré-natal nas
menores de cinco anos no Brasil. Essa esti- regiões brasileiras incluem a proporção de
mativa não inclui natimortos, visto que os gestantes que não freqüentaram o pré-na-
coeficientes de mortalidade de menores de tal, que o iniciaram no primeiro trimestre de
cinco anos se restringem a crianças nascidas gravidez e o número médio de consultas pré-
vivasn . O Nordeste tem os coeficientes mais natais. O único indicador proxy disponível
altos (Tabela 4), e houve pouco progresso na da qualidade do pré-natal é a proporção de
ultima década, enquanto que a maioria das mulheres que receberam duas ou mais imu-
demais causas de mortalidade de menores nizações contra o tétano durante a gesta-
de cinco anos decaíram acentuadamente. O ção. Assim como a maioria dos indicadores
sucesso da redução da mortalidade de me- presentes na Tabela 7, estes estão baseados
nores de cinco anos no Brasil depende, em na PNDS de 1996 e se referem a crianças
grande parte, de um impacto efetivo contra nascidas nos cinco anos que antecederam a
as mortes perinatais. pesquisa.
O Ministério da Saúde publicou uma sub- A Tabela 7 mostra que 13,2% das mães
divisão detalhada da mortalidade por cau- brasileiras não freqüentaram nenhuma con-
sas perinatais em 198521 . A síndrome de so- sulta pré-natal, variando entre 4,9% no Sul e
frimento respiratório (21,0%), a hipóxia ou a 25,2% no Nordeste. O ideal é que o pré-natal
anoxia (11,7%) e outros problemas respira- comece no início da gravidez para que se
tórios (28,7%) juntos contabilizaram 61,4% possam detectar e tratar precocemente

n
O termo “mortalidade perinatal” é usado em referência aos natimortos (mortes fetais a partir da 28a semana de gestação)
adicionados às mortes ocorridas durante a primeira semana de vida, independente da causa. Neste artigo, usamos o termo
mortalidade por causas perinatais em referência a mortes de nascidos vivos por causas especificas do período perinatal.

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
16 Victora, C.G.
Tabela 6. Número de óbitos pelos principais grupos de causas, e possíveis intervenções contra estas causas. Brasil, 1995-7.
Table 6. Number of deaths by main groups of causes, and possible interventions against these causes. Brazil, 1995-7.

Victora, C.G.
Intervenções para reduzir a mortalidade infantil
17
Vol. 4, Nº 1, 2001
Rev. Bras. Epidemiol.
Tabela 6. Continuação.

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
18 Victora, C.G.
Tabela 7. Distribuição de indicadores relevantes para possíveis intervenções contra a mortalidade de menores de
cinco anos, por região, Brasil, ao redor de 1996.
Table 7. Distribution of relevant indicators for possible interventions on underfive mortality, by region, Brazil, circa 1996.
Região
Intervenção e indicadores relevantes Ano e Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Brasil
Fonte Oeste
ATENÇÃO PRÉ-NATAL
Sem atendimento pré-natal 1996a 17,1% 25,2% 6,1% 4,9% 7,0% 13,2%
Pré-natal iniciado no primeiro trimestre 1996a 55,7% 51,9% 74,2% 79,7% 71,7% 66,0%
Número mediano de consultas 1996a 6,3 6,4 8,1 8,3 7,6 7,4
Recebeu 2 ou mais doses de vacina antitetânica 1996a 51,0% 49,6% 38,2% 47,1% 53,7% 45,3%
Fez menos de 5 consultas de pré-natal b 1996a 44,5% 49,3% 20,8% 18,0% 24,7% 31,9%
ATENÇÃO AO PARTO
Partos hospitalares 1996a 81,9% 83,4% 97,0% 97,4% 97,1% 91,5%
Partos por médicos 1996a 55,1% 57,4% 92,7% 87,6% 92,0% 77,6%
Partos por profissional treinado 1996a 75,0% 76,3% 96,1% 93,1% 96,4% 87,7%
Cesarianas 1996a 25,5% 20,4% 47,2% 44,6% 49,1% 36,4%
NUTRIÇÃO MATERNA
Altura média (cm) 1996a 154,4 154,7 157,5 157,9 156,6 156,3
Índice de massa corporal médio (kg/m2) 1996a 23,0 23,4 24,5 24,8 23,6 24,0
Índice de massa corporal <18,5 kg/m2 1996 5,9% 7,1% 6,6% 2,7% 8,1% 6,3%
BAIXO PESO AO NASCER (< 2500 g)
Prevalência relatada de BPN 1996a 7,4% 7,4% 8,9% 7,6% 9,1% 8,1%
Informação sobre peso ao nascer não disponível 1996a 14,9% 21,2% 5,5% 2,4% 5,7% 5,7%
Prevalência hospitalar de BPN 1997d 6,4% 7,0% 8,7% 7,9% 7,1% 7,8%
Estimativa corrigida de BPNe 1996a 8,5% 9,0% 9,2% 7,8% 9,4% 8,5%
PLANEJAMENTO FAMILIAR
Mulheres de 15-19 anos que já engravidaram 1996a 23,5% 20,6% 16,2% 16,2% 17,0% 18,1%
Intervalo interpartal <24 meses 1996a 33,3% 37,7% 25,6% 18,1% 22,4% 29,2%
Uso de anticoncepcionais em uniões estáveis 1996a 72,3% 68,2% 79,5% 80,3% 84,5% 76,7%
Coeficiente de fecundidade total 1996a 2,7 3,1 2,2 2,3 2,3 2,5
MANEJO DE CASOS DE IRAs
Procura de atendimento durante IRAs 1996a 14,1% 15,0% 20,4% 20,2% 19,9% 18,2%
AGLOMERAÇÃO
Número médio de pessoas por dormitório 1996c 2,4 2,1 2,1 1,9 2,0 2,1
ESTADO NUTRICIONAL DE <5 ANOS
Déficit de altura/idade 1996a 16,2% 17,9% 5,3% 5,1% 8,2% 10,5%
Déficit de peso/altura 1996a 1,2% 2,8% 2,4% 0,9% 2,9% 2,3%
Déficit de peso/idade 1996a 7,7% 8,3% 4,8% 2,0% 3,0% 5,7%
PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO
Duração mediana do aleitamento (meses) 1996a 10,3 7,0 6,3 7,1 9,8 7,0
Duração mediana do aleitamento exclusivo (meses) 1996a 1,4 0,7 1,3 1,7 0,7 1,1
IMUNIZAÇÕES
Vacinas completas em crianças de 12-23 meses 1996a 63,3% 60,7% 77,5% 87,1% 76,2% 72,5%
MANEJO DE CASOS DE DIARRÉIA
Recebeu TRO durante a diarréia 1996a 75,4% 74,2% 73,2% 67,9% 80,8% 73,4%
Procura de atendimento durante diarréia 1996a 33,3% 27,4% 30,7% 49,6% 36,6% 32,0%
SUPLEMENTAÇAO COM VITAMINA A
Recebeu vitamina A nos últimos 6 meses 1996a 21,5% 40,5% 11,3% 11,1% 8,4% 21,6%
ÁGUA E SANEAMENTO
Acesso a água tratada 1996c 59,7% 56,2% 86,5% 77,0% 65,5% 74,2%
Instalações adequadas de saneamento 1996c 48,6% 37,7% 82,9% 66,6% 26,3% 63,6%
a) Fonte: PNDS 1996 (Região Norte: somente áreas urbanas)
b) Calculados a partir dos dados originais, somando os percentuais de mães sem pré-natal, com 1-3 consultas e um terço das mães com 4-6 consultas.
c) Fonte: PNAD 1996 (Região Norte: somente áreas urbanas)
d) Fonte: SINASC, Ministério da Saúde
e) National Birth Registration System (SINASC), Ministry of Health
f ) Baseado nos resultados da PNDS 1996 DHS mas simulando que 15% dos recém-nascidos sem informação sobre peso ao nascer apresentavam BPN inferior
a 2500 g.
a) Source: 1996 PNDS (North Region: only urban areas)
b) Calculated from original data, adding percentages of mothers without antenatal care, those with 1-3 appointments and one third of mothers with 4-6
appointments.
c) Source: 1996 PNAD (North Region: only urban areas)
d) Source: SINASC, Ministry of Health
e) National Birth Registration System (SINASC), Ministry of Health
f) Based on results of 1996 PNDS DHS, but assuming that 15% of newborns without information on birthweight had LBW below 2,500 g.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
19 Vol. 4, Nº 1, 2001
quaisquer complicações. Dois terços das Se fosse possível reduzir à metade o
mulheres brasileiras que freqüentaram pré- percentual de mães com menos de cinco
natal tiveram sua primeira consulta durante consultas (de 31,9% para 16,0%), teoricamen-
o primeiro trimestre de gestação, variando te 16,2% de todas as mortes por causas
de 80% no Sul a pouco mais de 50% no Nor- perinatais poderiam ser prevenidas, ou 7,8%
deste. O número médio de consultas obser- de todas as mortes de menores de cinco
vado foi adequado – 7,4 para o país como anos. Estes cálculos devem ser interpreta-
um todo, variando entre 8,3 no Sul e 6,3 a 6,4 dos com a devida cautela, em função das
no Norte-Nordeste. várias pressuposições subjacentes, mas su-
Com relação à qualidade do pré-natal, gerem que uma melhoria na cobertura da
cerca de 45% das mulheres receberam duas atenção pré-natal poderia ter um impacto
ou mais doses da vacina antitetânica duran- substancial sobre a mortalidade. Os dados
te a gestação. Essa proporção foi ligeiramente existentes não são suficientes para que se
mais baixa no Sudeste (38%), sendo de cerca estime o provável impacto de uma melhoria
de 50% nas outras quatro regiões. Um adici- na qualidade da atenção pré-natal.
onal de 13,2% das mães recebeu uma única
dose. Outros indicadores da qualidade do Resumindo:
pré-natal não estão disponíveis em nível re-
gional, mas há evidências de que a baixa qua- Em nível nacional, a cobertura e número
lidade seja problema ainda mais grave do médio de consultas à atenção pré-natal são
que a sub-utilização22 . Um estudo realizado altos, mas o Norte e o Nordeste estão defa-
no sul do Brasil23 mostrou que a qualidade sados em relação às demais regiões.
do pré-natal foi especialmente baixa para
mulheres com alto risco gestacional, sem Estudos brasileiros mostram riscos maiores
acesso a médicos particulares ou a planos para crianças cujas mães tiveram pouca ou
de saúde privados. nenhuma freqüência ao pré-natal.
Sete estudos forneceram informações
quantitativas quanto ao impacto da atenção As informações existentes sobre a qualidade
pré-natal na sobrevivência infantil. Os cinco da atenção pré-natal são limitadas, mas essa
estudos com controle de fatores de confu- parece ser baixa. É provável que a questão
são estão na Tabela A1 no anexo A – tais qualitativa seja mais importante do que a
ajustes são essenciais, visto que mães com quantitativa.
menor freqüência às sessões de pré-natal
também tendem a apresentar outros fato- Uma melhoria na atenção pré-natal é medi-
res de risco sociais e biológicos. A maioria da prioritária para a redução da mortalida-
desses estudos investigou a mortalidade de de menores de cinco anos no Brasil.
neonatal precoce – e não a mortalidade de-
vida a causas perinatais – mas estes dois in- 3.3.1.2 Melhorando o atendimento ao
dicadores são muito similares. Os estudos parto e ao recém-nascido
foram realizados em diferentes locais, em
períodos distintos e usando categorias dife- Um atendimento adequado ao parto
rentes de atenção pré-natal para a apresen- pode reduzir o número de mortes por anoxia,
tação de resultados, mas todos revelaram hipóxia e outros problemas respiratórios, e
uma associação protetora da atenção pré- também a incidência de infecções neonatais,
natal. Juntando-se os resultados dos três es- incluindo o tétano. Pode-se, com isso, asse-
tudos com maior detalhamento meto- gurar a sobrevivência de recém-nascidos
dológico (Bailey et al. 24 , Gray et al.25 e prematuros e de baixo peso que poderiam
Menezes et al.26 ), as mães com menos de vir a morrer caso não houvesse um atendi-
cinco consultas apresentaram um risco 2,5 mento adequado.
vezes maior do que as demais. A Tabela 7 mostra que mais de 90% de

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
20 Victora, C.G.
todos os partos no Brasil acontecem em rurgias são voluntárias. Erros no cálculo da
hospitais, variando entre 81,9% no Norte e idade gestacional podem levar a partos pre-
97,4% no Sul. Equipes treinadas – incluindo maturos27 ,28 . A OMS recomenda que não
médicos ou enfermeiras – são responsáveis mais de 15% de todos os partos sejam por
por 87,7% de todos os partos, variando en- cesariana29 . Essas questões serão discutidas
tre 75% no Norte e 96,4% no Centro-Oeste. posteriormente.
As diferenças regionais acentuadas obser- Outra preocupação é a de que, parado-
vadas no pré-natal estão, portanto, presen- xalmente, os coeficientes de cesariana são
tes também no atendimento ao parto. Não mais baixos para gestantes de alto risco do
foi possível encontrar indicadores da aten- que para as de baixo risco, visto que estas
ção ao recém-nascido em nível nacional ou últimas são freqüentemente pacientes pri-
regional. vadas. Portanto, mesmo com a presença de
Como a maioria dos estudos nacionais coeficientes elevados, gestantes de alto risco
sobre sobrevivência neonatal é de base hos- podem ainda fazer menos cesarianas de que
pitalar, somente um deles forneceu infor- necessitariam.
mações sobre os níveis de mortalidade de Somente dois estudos brasileiros inves-
bebês nascidos em casa e em hospitais. Este tigaram a associação entre a cesariana e a
estudo foi realizado em uma comunidade mortalidade neonatal. Em Pelotas, bebês
rural do Nordeste e apresentou um risco nascidos por cesariana apresentaram um ris-
relativo ajustado de 1,2 (0,5-2,8) para morta- co 1,6 vezes maior de morte do que aqueles
lidade neonatal para bebês nascidos em casa, nascidos por parto normal30 . Por outro lado,
comparados com nascimentos hospitalares em Maringá, partos normais foram associa-
(excluindo aqueles com parto domiciliar pre- dos a um aumento de 2,2 vezes nas mortes
visto e que foram encaminhados a um hos- por causas perinatais31 . Em nenhum dos es-
pital devido a complicações durante o tra- tudos foram controladas as variáveis socio-
balho de parto). Após ajuste para a presença econômicas ou de risco gestacional. Além
de complicações, recém-nascidos cujo par- disso, cesarianas eletivas não foram separa-
to seria domiciliar mas que precisaram ser das das não eletivas, o que pode distorcer os
encaminhados a hospitais apresentaram um resultados, uma vez que essas últimas ocor-
risco relativo de 0,3 (0,1-1,4) de morte rem em função de complicações durante o
neonatal. Essa redução do risco é sugestiva, trabalho de parto, e – caso não fosse realiza-
mas não é estatisticamente significativa. da uma cesariana – poderiam levar a índices
O coeficiente de cesarianas no Brasil é ainda maiores de mortalidade.
um dos mais elevados do mundo, alcançan- Não se encontraram estudos sobre os
do 36,4% do total de partos; o coeficiente é efeitos do atendimento a recém-nascidos
mais baixo no Nordeste (20,4%) e Norte sobre a mortalidade. No entanto, há evidên-
(25,5%), mas representa quase a metade do cias indiretas da existência de tais efeitos.
total de partos nas demais regiões. De acor- Uma comparação entre duas coortes de nas-
do com a PNDS de 1996, a maioria dos par- cimentos em Pelotas-RS mostrou que o co-
tos (52,1%) em São Paulo são por cesariana. eficiente de baixo peso ao nascer aumentou
Enquanto que melhorias no atendimen- ligeiramente entre 1982 e 1993 32 , mas mes-
to ao parto e aos recém-nascidos provavel- mo assim o coeficiente de mortalidade
mente levarão a uma redução da mortalida- neonatal decresceu cerca de 30%, de 20,1
de, a situação com relação às cesarianas é para 14,3. Em 1982 não existiam unidades de
mais complexa. Níveis excessivamente bai- atendimento intensivo a recém-nascidos na
xos de cesarianas aumentariam a mortali- cidade, mas em 1993 estas já haviam sido
dade, por expor recém-nascidos ao risco de instaladas nas três maiores maternidades da
traumatismos obstétricos e de anoxia e cidade. Para o estado do Rio Grande do Sul,
hipóxia. Por outro lado, coeficientes de ce- o coeficiente de baixo peso ao nascer per-
sariana altos indicam que muitas dessas ci- maneceu estável entre 1980 e 1992, mas a

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
21 Vol. 4, Nº 1, 2001
mortalidade neonatal caiu 45%33 . Durante disponham de um sistema efetivo de refe-
esse período houve uma grande expansão rência, visto que estas não têm condições de
do atendimento intensivo a recém-nascidos manejar a maioria das complicações gra-
no estado. ves37 . Como cerca de 90% de todos os par-
Dado o número reduzido de estudos so- tos acontecem em hospitais, o treinamento
bre níveis de mortalidade associados com do pessoal envolvido e melhorias no equi-
local do parto, cesarianas e atendimento ao pamento e nos insumos são prioritários.
recém-nascido, assim como às dificuldades Essa questão será discutida em maior pro-
em sua interpretação, não foi possível reali- fundidade na Seção 4, sobre mortalidade
zar uma simulação formal do provável im- materna.
pacto destes fatores sobre a mortalidade No
entanto, o conhecimento acumulado suge- Resumindo:
re que o aumento na cobertura de partos
hospitalares, a prevenção de cesarianas des- Em sua grande maioria, os partos no Brasil
necessárias e uma melhoria no atendimento acontecem em hospitais, mas ainda ocor-
ao recém-nascido deve ter um efeito bené- rem muitos partos domiciliares no Norte e
fico sobre a mortalidade neonatal. Há am- Nordeste.
plas oportunidades para melhorias nessas
áreas. Há poucas informações sobre a qualidade
Tal conclusão é reforçada pelo fato de do atendimento ao parto e aos recém-nas-
que os níveis de mortalidade perinatal e cidos, mas a constatação de altos coeficien-
neonatal no Brasil são bastante altos em re- tes de mortalidade perinatal - apesar da dis-
lação à freqüência de baixo peso ao nascer tribuição relativamente adequada do peso
(ver seção abaixo). Estudos de Pelotas34 e ao nascer - sugerem que sua qualidade é
Fortaleza35 mostram mortalidade perinatal baixa.
excessivamente alta entre recém-nascidos
com peso normal ao nascer e com cresci- O percentual de cesarianas (36%) é um dos
mento intra-uterino adequado. O excesso de mais altos do mundo. Mesmo existindo pou-
mortalidade entre estas crianças se deve, ca evidência de que isto leve a um aumento
provavelmente, ao atendimento inadequa- na taxa de mortalidade, este coeficiente re-
do ao parto. Também é relevante a observa- presenta um desperdício importante de re-
ção de que em países desenvolvidos cerca cursos que poderiam ser destinados a ou-
de 6% das crianças apresentaram baixo peso tros aspectos do atendimento ao parto.
ao nascer e, no entanto, a mortalidade in-
fantil é de cerca de 6 por mil, ou cerca de 7 O treinamento da equipe hospitalar e o for-
vezes mais baixa do que a brasileira. Varun necimento do equipamento obstétrico es-
Gauri* , do Banco Mundial, realizou uma sencial em áreas rurais são medidas prio-
análise de regressão da mortalidade infantil ritárias com um impacto potencialmente
sobre o baixo peso ao nascer, mostrando alto na mortalidade de menores de cinco
que o Brasil é claramente um outlier na anos.
reta de regressão. A mortalidade infantil no
Brasil, por exemplo, é três vezes maior do 3.3.1.3 Prevenindo o baixo peso ao nascer
que na Malásia, onde a prevalência de baixo
peso ao nascer é igual à nossa. São considerados como de baixo peso
Intervenções para melhorar o atendi- ao nascer (BPN) recém-nascidos com peso
mento ao parto incluem o treinamento de inferior a 2500 g4. O BPN é determinado por
parteiras tradicionais em áreas rurais36 , mas dois processos distintos: a duração da gesta-
para atingir impacto é essencial que estas ção e a velocidade de crescimento fetal. Um

* Gauri V. Comunicação pessoal.

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
22 Victora, C.G.
feto pode apresentar BPN por haver nasci- No entanto, mesmo estudos provenien-
do antes da data prevista (parto prematuro) tes de hospitais públicos situados nas capi-
ou por haver nascido pequeno para sua ida- tais nordestinas – que atendem à população
de gestacional como conseqüência de um carente das regiões urbanas – apresentam
retardo de crescimento intrauterino (RCIU)5. índices relativamente baixos de BPN: 7,4%
No Brasil, cerca de metade dos recém-nas- em Fortaleza e 7,6% em Natal. Dois estudos
cidos de BPN são prematuros, e metade so- em áreas rurais do Ceará também encon-
freram RCIU38 . traram baixas prevalências de BPN para cri-
Uma recente revisão39 mostrou que as anças examinadas por parteiras tradicionais:
principais causas de partos prematuros in- 5,0% e 5,5%, embora o equipamento de pe-
cluem infecções genitais, partos múltiplos, sagem não fosse padronizado. O Programa
hipertensão materna, baixo índice de massa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde
corporal (IMC) pré-gestacional, disfunções mantém um grande número de comunida-
uterinas, e trabalho materno pesado. Por des urbanas e rurais de baixa renda sob vigi-
outro lado, as principais causas de RCIU são: lância permanente. Em 140 municípios do
baixo consumo de calorias durante a gesta- Ceará, a prevalência média de BPN em 1994-
ção, fatores étnicos, baixo índice de massa 6 foi de 5,1%, variando entre 0,1% e 20,7% e
corporal (IMC) pré-gestacional, baixa esta- com desvio padrão de 4,5 pontos per-
tura materna, e tabagismo. Portanto, o bai- centuais41 . Na presente análise, foi simulada
xo peso ao nascer é uma combinação de uma uma prevalência de BPN de 15% quando as
série de problemas diferentes, que reque- mães não puderam dar informações sobre
rem intervenções distintas. Uma atenção o peso de seus recém-nascidos na PNDS (Ta-
pré-natal apropriada trata da maioria destes bela 7). Mesmo após essa correção, as dife-
problemas, mas o estado nutricional da mãe renças regionais foram muito pequenas, um
antes e durante a gestação também é im- achado surpreendente.
portante. Vários estudos brasileiros fornecem in-
A Tabela 7 traz as informações disponí- formações sobre os riscos relativos de mor-
veis sobre BPN de acordo com duas fontes: talidade infantil associada com BPN. A Ta-
a PNDS de 1996 (onde foi requisitado que as bela A2 no Anexo I mostra os estudos iden-
mães lembrassem os pesos de crianças nas- tificados, com metodologias apropriadas,
cidas nos cinco anos anteriores) e o SINASC que incluíram ajustes para diferenças
(Sistema de Informações sobre Nascidos Vi- socioeconômicas. Todos os estudos mos-
vos). Houve uma alta concordância entre as tram um aumento do risco de mortalidade
duas fontes – a diferença máxima foi de dois para recém-nascidos com BPNp . Três estu-
pontos percentuais para a Região Centro- dos tendo a mortalidade infantil como des-
Oeste. Os pesos relatados pelas mães ten- fecho (Barros et al.42 , Bailey et al.24 e Menezes
dem a ser bastante semelhantes aos pesos et al.43 ) mostram riscos relativos de 11,0, 9,7
registrados40 , mas as mães não puderam dar e 6,1. Estudos que estratificaram recém-nas-
informações sobre o peso de uma em cada cidos com BPN mostraram ser a mortalida-
cinco crianças no Nordeste e de uma em de infantil entre prematuros pelo menos duas
sete no Norte. Como partos domiciliares vezes mais alta do que entre aqueles com
acontecem predominantemente em famíli- RCIU.
as pobres da área rural, os coeficientes para Quando se parte de prevalências relati-
o Norte e o Nordeste podem estar sendo vamente baixas, como é caso no Brasil, a
subestimados. prevenção do baixo peso ao nascer é uma

p
Estes cálculos são baseados no tratamento do peso ao nascer como uma variável dicotômica (<2500 g versus $2500 g). Inter-
venções visando melhorar o peso ao nascer, se efetivas, levariam a aumentos em toda a distribuição de peso, isto é, recém-
nascidos pesariam x gramas a mais do que sem tais intervenções. Devido a limitações nos dados, não foi possível levar isso em
consideração.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
23 Vol. 4, Nº 1, 2001
tarefa difícil. Uma intervenção promissora é 3.3.1.4 Melhorando a nutrição materna
a detecção e o tratamento da bacteriúria
assintomática na gestação; uma recente Melhorias na nutrição de mulheres em
meta-análise 44 mostrou uma redução de idade reprodutiva poderiam auxiliar na pre-
40% nos partos prematuros em mulheres venção do BPN, uma vez que partos prema-
com bacteriúria tratada com antibióticos turos e restrição de crescimento intra-
durante a gestação, mas seu autor recomen- uterino são mais freqüentes em mulheres
dou cautela na interpretação dos resultados desnutridas. Dois indicadores de desnutri-
devido a deficiências metodológicas presen- ção são comumente utilizados: o IMC (índi-
tes nos estudos. A detecção e o tratamento ce de massa corporal, calculado através da
da bacteriúria já fazem parte das recomen- divisão do peso em kg pelo quadrado da al-
dações do pré-natal no Brasil. tura em cm) e a altura. Um IMC abaixo de
Até mesmo no Sul, onde os serviços de 18,5kg/m2 indica desnutrição, enquanto que
saúde estão entre os melhores do país e a valores de 25 ou mais indicam sobrepeso,
mortalidade é a mais baixa, os coeficientes estando associados a um aumento no risco
de PBN têm se mantido estáveis, ou até mes- de mortalidade devida a doenças crônicas45 .
mo apresentado um pequeno aumento du- A Tabela 7 mostra que as mães são mais
rante as últimas duas décadas. A prevalência altas no Sul e Sudeste e mais baixas no Norte
nacional estimada (8,5%) é apenas ligeira- e Nordeste. Um padrão semelhante foi ob-
mente superior à prevalência atual de 6,0% servado com relação ao IMC médio. Poucas
em países desenvolvidos, sendo considera- mulheres apresentaram IMC inferior a 18,5,
velmente inferior à estimativa mundial de sendo a maior prevalência na Região Centro-
18% para os países com baixo nível de de- Oeste (8,1%) e a menor na Região Sul (2,7%).
senvolvimento. Supondo um risco relativo Estudos brasileiros confirmam a conhe-
de 9,0 para a mortalidade infantil em recém- cida associação entre nutrição materna e peso
nascidos de BPN, uma redução de 8,5% para ao nascer46 ,47 . Dois estudos mostraram uma
7,0% preveniria 7,1% de todas as mortes in- associação entre antropometria e mortalida-
fantis, ou 6,1% de todas as mortes entre de neonatal precoce. Em Pelotas, o peso pré-
menores de cinco anos. gestacional mostrou-se associado com mor-
Duas abordagens específicas para uma talidade em uma análise não-ajustada (não
melhora no BPN – melhorar a nutrição ma- foram apresentados resultados ajustados); a
terna e reduzir o fumo durante a gravidez – mortalidade também esteve associada, inici-
serão discutidas abaixo. almente, com a altura materna, mas essa as-
sociação perdeu sua significância após ajuste
Resumindo: para renda familiar. Em Natal, recém-nasci-
dos cujas mães pesaram menos de 50kg tive-
Os índices de BPN no Brasil são razoavel- ram um risco de morte 1.4 vezes maior (1.0-
mente baixos, havendo pouca perspectiva 1.8). O pequeno número de estudos realiza-
de reduzí-los ainda mais. dos e a forma como seus resultados foram
apresentados não permitem que se derivem
Se fosse possível reduzir a prevalência de BPN estimativas sumárias.
para 7,0% no país, seria razoável esperar uma De qualquer maneira, a factibilidade de
queda de 6,1% na mortalidade de menores melhores indicadores antropométricos em
de cinco anos. grandes populações é limitada. A altura de
um adulto é determinada principalmente
No entanto, a prevenção do BPN é tarefa durante sua infância, o que faz com que in-
difícil até mesmo em países desenvolvidos, tervenções tenham efeito somente após um
sendo improvável, portanto, que tenha um longo período de tempo. Além disso, a ten-
papel importante na redução da mortalida- dência secular de crescimento está presente
de de menores de cinco anos no Brasil. em todas as regiões do Brasil e, mesmo com

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
24 Victora, C.G.
a recente desaceleração, a altura das mulhe- efeito colateral um aumento no sobrepeso e
res continua aumentando no decorrer dos obesidade, o que seria preocupante pelo fato
anos48 . de estas prevalências já apresentarem au-
A triagem de mães de alto risco – por mentos recentes.
exemplo, as de baixo IMC ou de baixa estatu-
ra – é uma possível alternativa. No entanto, os É improvável que melhorias na nutrição
dados disponíveis indicam que a efetividade materna tenham efeitos importantes sobre
de tal abordagem é baixa 49 , visto que a a mortalidade de menores de cinco anos.
antropometria possui baixa sensibilidade e
especificidade50 . Em outras palavras, a tria- 3.3.1.5 Reduzindo o fumo durante a
gem antropométrica produz muitos resulta- gestação
dos falso-positivos e falso-negativos. Além
disso, as possíveis intervenções apresentam Na Pesquisa Nacional de Saúde e Nutri-
baixa efetividade. A suplementação calórica ção (PNSN) de 1989, 27,1 % das mulheres
resulta em modestos acréscimos ao consu- entre os 15 e os 49 anos de idade eram fu-
mo calórico materno, uma vez que uma gran- mantes (tabulações especiais fornecidas pelo
de parte do suplemento parece acabar subs- Instituto Nacional do Câncer). Não há esti-
tituindo a dieta normal51 . Como conseqüên- mativas regionais. Uma revisão da literatura
cia, seu impacto sobre o crescimento fetal é brasileira53 mostrou que a prevalência mé-
limitado, e não há efeito evidente sobre a du- dia do fumo entre gestantes é de semelhante
ração da gestação. Um grande número de magnitude. Essa revisão confirmou a litera-
mulheres, portanto, teriam de ser triadas e tura internacional: há efeitos evidentes do
tratadas para que se previnam alguns poucos fumo durante a gestação no baixo peso ao
casos de RCIU ou de parto prematuro. A nascer e no retardo do crescimento intra-
combinação da baixa sensibilidade da tria- uterino; os efeitos em relação a partos pre-
gem antropométrica com a baixa eficácia da maturos não são consistentes, mas estudos
intervenção indica que tal abordagem de ris- tendem a mostrar que os recém-nascidos
co teria um efeito muito pequeno sobre a de fumantes apresentam riscos maiores. Es-
prevalência geral de desfechos desfavoráveis tudos brasileiros sobre fumo e mortalidade
da gestação, mesmo em países com os me- – especialmente perinatal – mostram riscos
nores níveis de desenvolvimento, onde a des- relativos entre 1.0 e 1.4. Três estudos detec-
nutrição é comum. taram diferenças significativas, enquanto que
Uma abordagem populacional – encora- quatro não encontraram diferenças.
jar uma melhora na alimentação materna Uma meta-análise da eficácia de progra-
durante a gravidez – causaria muito prova- mas de interrupção do fumo na gravidez
velmente um aumento nos coeficientes naci- mostrou uma redução de 49% no número de
onais de sobrepeso e obesidade, que já se fumantes, um decréscimo de 19% na pre-
encontram em crescimento, especialmente valência de BPN e uma redução não signifi-
no Nordeste52 . Os níveis médios de IMC (Ta- cativa de 18% nos partos prematuros; não foi
bela 7) estão já bastante próximos de 25, o encontrado efeito sobre a prevalência de peso
nível máximo recomendado para indivíduos. abaixo de 1500 g, nem sobre a mortalidade
perinatal54 . Com base nessa revisão e na lite-
Resumindo: ratura brasileira, há um possível efeito do
fumo sobre a mortalidade precoce, mas o
As intervenções disponíveis para melhorar a aumento do risco parece ser muito pequeno.
nutrição materna em um país como o Bra-
sil, onde a prevalência de desnutrição em Resumindo:
adultos é baixa, são de factibilidade limitada.
Uma em cada quatro gestantes brasileiras é
Intervenções nutricionais podem ter como fumante.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
25 Vol. 4, Nº 1, 2001
É possível controlar o fumo durante a gesta- de famílias pobres, o que pode confundir os
ção, mas o impacto sobre a mortalidade in- resultados. Não há, nesses estudos, nenhu-
fantil será pequeno ou nulo, já que o maior ma evidência de que os filhos de mães ado-
principal efeito do fumo é sobre o retardo lescentes tenham um risco maior de morta-
de crescimento e não sobre a prematuri- lidade, resultado que está de acordo com
dade, responsável pela mortalidade da mai- uma recente revisão internacional55 . Recém-
oria dos recém-nascidos de baixo peso. nascidos de mães muito jovens (menores de
15 anos) podem apresentar riscos mais ele-
O controle do fumo durante a gestação não vados, mas estes são pouco freqüentes em
é uma medida prioritária para a redução da relação ao número de nascidos de mães en-
mortalidade de menores de cinco anos no tre os 18 e os 29 anos de idade, que apresen-
Brasil. tam riscos semelhantes às mães de outras
faixas etárias.
3.3.1.6 Promovendo o planejamento Os resultados referentes ao intervalo en-
familiar tre nascimentos são mais interessantes. Em
nível nacional, 29,2% de todos os nascimen-
A literatura brasileira mostra que três va- tos ocorrem menos de 24 meses após nasci-
riáveis relacionadas ao comportamento mento anterior, mas essa proporção varia
reprodutivo estão também relacionadas a entre 18.1% no Sul e 37,7% no Nordeste (Ta-
aumentos na mortalidade de menores de cin- bela 7). Esse número é substancialmente in-
co anos: gravidez durante a adolescência, in- ferior aos 46,3% observados na PNDS de 1986.
tervalos interpartais curtos e alta paridade. Na PNDS de 1996, intervalos inferiores a
A Tabela 7 mostra que mães com menos 24 meses foram associados a um risco 2,2
de 20 anos de idade representaram 18,1% vezes maior de mortalidade de menores de
dos partos registrados na PNDS de 1996. A cinco anos, mas esses resultados não foram
proporção foi mais alta no Norte (23,5%) e ajustados para fatores de confusão socio-
Nordeste (20,6%) e mais baixa no Sul e Su- econômicos, que podem ter exagerado esse
deste (16,2% em ambos). Mais preocupante efeito. Todos os estudos disponíveis mos-
ainda é o fato de que o número de gravidez tram um aumento no risco de mortalidade
em adolescentes vem aumentando: na PNDS para crianças nascidas após um pequeno
de 1986, 10,5% das mulheres entre os 15 e os intervalo entre nascimentos, embora nem
19 anos de idade já tinham tido filhos nasci- todas as diferenças tivessem significância
dos vivos, enquanto que dez anos depois essa estatística. É difícil sumarizar tais resultados
proporção tinha aumentado para 14,3%. em uma única estimativa porque diferentes
Na PNDS de 1996, a estimativa indireta pontos de corte foram utilizados, mas apa-
de mortalidade infantil para mães com me- rentemente os intervalos entre nascimentos
nos de 20 anos foi 30% superior à de mães inferiores a 24 meses estão associados a um
com 20 a 29 anos de idade (a faixa etária de risco cerca de 1,5 a 2 vezes maior de morta-
menor risco). A mortalidade de menores de lidade infantil. Utilizando-se um risco relati-
cinco anos foi 29% superior. Comparadas a vo de 1,8, uma redução de 50% na propor-
todas as outras mães, aquelas com idades ção de intervalos interpartais inferiores a 24
inferiores a 18 anos apresentaram um au- meses levaria a uma redução de 9,5% no
mento de 24% na mortalidade de menores número de mortes infantis, correspondente
de cinco anos entre seus filhos. Estes dados a uma redução de 8,1% no total de mortes
não sofreram ajustes para fatores socio- entre menores de cinco anos.
econômicos. Os resultados de quatro estu- O papel da alta paridade, ou ordem de
dos que levaram em consideração fatores nascimento, como fator de risco para a mor-
de confusão socioeconômicos estão resu- talidade infantil também foi investigado. As
midos na Tabela A3. Tais ajustes são impor- tabulações da PNDS de 1996 não fornecem
tantes porque muitas mães adolescentes vêm resultados de ordem de nascimento por re-

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


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26 Victora, C.G.
gião, mas a Tabela 7 mostra que o coeficien- portância na etiologia da mortalidade infan-
te de fecundidade total (número médio de til no futuro.
crianças nascidas de mulheres que comple-
taram sua vida reprodutiva) é mais alto no Os atuais esforços visando uma melhoria nos
Nordeste (3,1) e mais baixo no Sudeste (2,2). serviços de planejamento familiar devem ser
Na PNDS de 1996, a mortalidade de me- mantidos, mas esforços adicionais pela re-
nores de cinco anos foi 60% maior (risco re- dução da fecundidade com o objetivo de
lativo de 1,6) entre crianças com ordem de reduzir a mortalidade de menores de cinco
nascimento igual a três ou mais; esses resul- anos não parecem ser justificados.
tados não são ajustados para nível socio-
econômico, e não houve teste de signi- 3.3.2 Infecções respiratórias agudas
ficância. A Tabela A5, no Anexo A, traz os
quatro estudos brasileiros com riscos relati- Infecções respiratórias agudas (IRA) são
vos ajustados para fatores de confusão. Em- responsáveis por 12,2% de todas as mortes de
bora todos os estudos tendam a mostrar li- menores de cinco anos no Brasil. Praticamen-
geiras elevações no risco para crianças de te todas essas mortes são por pneumonia, e
ordem de nascimento alta, nenhuma é esta- neste artigo esses dois termos são usados como
tisticamente significativa. sinônimos. Reconhecendo-se o fato de que
O declínio da fecundidade no Brasil é um mortes por pneumonia podem ser erronea-
dos mais rápidos do mundo: a fecundidade mente classificadas no grupo das “outras in-
total decresceu de 6,3 filhos em 1970 para fecções”, essa proporção tende a ser ainda
2,6 em 199556 . Essa tendência continua, de- maior. A mortalidade respiratória vem decres-
vendo o país alcançar níveis de substituição cendo substancialmente em todo o país.
de fecundidade (replacement fertility) até o Como mostra a Tabela 4, mortes devi-
ano de 201557 . Na PNDS de 1996, 76,7% das das a IRAs são duas vezes mais freqüentes
mulheres em uniões estáveis utilizavam al- no Nordeste do que no Sul e Sudeste. As se-
gum método anticoncepcional (Tabela 7). guintes intervenções são potencialmente efe-
tivas contra a mortalidade por pneumonia.
Resumindo:
3.3.2.1 Melhorando o manejo de casos
Embora a idade materna e a paridade sejam
amplamente consideradas como fatores de Um manejo apropriado dos casos atra-
risco importantes para a mortalidade de me- vés do uso de antibióticos é a peça principal
nores de cinco anos, é importante ajustar para no controle da mortalidade por pneumonia.
fatores de confusão socioeconômicos. Os es- Teoricamente, praticamente todas as mor-
tudos brasileiros que realizaram esse controle tes por pneumonia podem ser prevenidas
sugerem que essas variáveis não se encontram com um tratamento imediato com antibió-
entre os principais determinantes da mortali- ticos. Não existem estudos de base comuni-
dade de menores de cinco anos no Brasil. tária no Brasil sobre a efetividade do trata-
mento da pneumonia com antibióticos, mas
Por outro lado, pequenos intervalos inter- uma meta-análise de seis intervenções reali-
partais estão consistentemente associados zadas em países em desenvolvimento mos-
com riscos mais elevados, sendo que sua trou reduções de 35% na mortalidade infan-
prevenção poderia evitar até 8,1% de todas til, e de 53% na mortalidade pré-escolar (1-4
as mortes de menores de cinco anos. anos) devidas a infecções respiratórias58 .
Há dois pré-requisitos para o manejo
A rapidez do declínio da fecundidade no Bra- adequado dos casos de pneumonia. Em pri-
sil e a tendência crescente ao uso de anti- meiro lugar, é necessário que os familiares
concepcionais sugerem que fatores de risco levem as crianças a serviços de saúde quan-
reprodutivos terão um papel de menor im- do estas demonstrarem sinais de risco. A

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


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27 Vol. 4, Nº 1, 2001
Tabela 7 mostra que 18,2% das crianças bra- profissionais de saúde e a utilização apro-
sileiras com infecções respiratórias foram priada de antibióticos são capazes de redu-
levadas a serviços de saúde, variando entre zir em quase 50% a mortalidade por pneu-
14,1% no Norte e 20,4% no Sudeste. Estas monia em países menos desenvolvidos.
taxas de busca de atendimento, isoladamente,
não podem ser consideradas inadequadas; O manejo adequado de casos de pneumonia
se todas as crianças com sintomas respira- pode reduzir a mortalidade de menores de
tórios – 47,9% das crianças visitadas na PNDS cinco anos no Brasil em 3,9%.
de 1996 tiveram tosse nas últimas duas se-
manas – fossem levadas aos serviços de saú- 3.3.2.2 Reduzindo o aglomeramento
de, o sistema provavelmente não consegui-
ria dar conta da demanda. A questão chave A aglomeração, medida através do nú-
é ensinar aos familiares quando a busca do mero de pessoas convivendo com a criança
atendimento é essencial, especialmente dentro do mesmo espaço físico, pode levar a
quando a criança apresenta respiração rápi- uma elevação da mortalidade devido ao au-
da ou difícil. A segunda condição é a de que mento da exposição a organismos pato-
um profissional de saúde saiba discriminar gênicos. Existe somente um estudo brasileiro
as crianças com risco de morte por pneu- sobre aglomeração e mortalidade por pneu-
monia daquelas com infecções respiratórias monia60 . Após ajustes para fatores de confu-
menores, e tratar as primeiras utilizando os são, crianças de famílias com três ou mais
antibióticos apropriados. filhos menores de cinco anos apresentaram
Esta estratégia requer uma intervenção um risco de mortalidade por pneumonia 2,2
em nível comunitário para educar as famíli- vezes maior do que filhos únicos, risco que
as, assim como o acesso a trabalhadores de aumenta 22% para cada ocupante adicional
saúde bem treinados e aos medicamentos do dormitório da criança. Resultados seme-
essenciais. Estas medidas fazem parte da es- lhantes foram encontrados em dois estudos
tratégia do AIDPI59 , sendo adotadas em vá- sobre a incidência de pneumonia. Esses estu-
rios estados brasileiros. O AIDPI tem tam- dos mostram que os riscos de desenvolver
bém um componente comunitário, que in- pneumonia em crianças que freqüentam cre-
clui a educação sobre quando levar as crian- ches, comparadas com crianças que não as
ças doentes aos serviços de saúde; no entan- freqüentam, são cinco vezes maiores em For-
to, a implementação desse componente por taleza61 e 11 vezes em Porto Alegre62 .
enquanto tem sido limitada. A Tabela 7 mostra que o número médio
O provável impacto de uma melhora no de pessoas por dormitório no Brasil é de 2,1,
manejo de casos de pneumonia no Brasil com limitada variabilidade entre regiões– de
pode ser estimado através da utilização dos 1,9 no Sul a 2,4 no Norte. Não há dados dis-
dados de efetividade provenientes da meta- poníveis sobre freqüência a creches.
análise citada acima: presumindo-se que 80% Uma redução do número de pessoas por
das crianças brasileiras com pneumonia te- dormitório de 2,1 para 1,5 levaria a uma que-
nham sido levadas a serviços de saúde – uma da de 13,2% na mortalidade por pneumonia,
estimativa razoável, dada a infraestrutura dos ou uma redução de 1,6% na mortalidade de
serviços de saúde no país, 32,2% de todas as menores de cinco anos. Isto exigiria inter-
mortes por problemas respiratórios, e 3,9% venções ou no setor habitacional (o que acar-
de todas as mortes de menores de cinco anos retaria em custos muito elevados) ou no pla-
seriam teoricamente prevenidas por uma nejamento familiar. Em relação ao último,
melhora no manejo de casos. as tendências atuais provavelmente condu-
zirão a famílias menores e a menores níveis
Resumindo: de aglomeramento.
Embora não fosse possível encontrar
Intervenções incluindo o treinamento de dados regionais sobre uso de creches, o au-

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


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28 Victora, C.G.
mento da participação feminina na força de risco quatro vezes maior de morte por pneu-
trabalho, assim como evidências indiretas, monia. Esta revisão incluiu o único estudo
sugerem que tal uso esteja crescendo rapi- brasileiro sobre o assunto, realizado em Por-
damente. Sendo as creches utilizadas pre- to Alegre e Pelotas.
dominantemente por crianças vindas de gru- A Tabela 7 mostra que 5,7% das crianças
pos socioeconômicos mais altos (que apre- brasileiras menores de cinco anos apresen-
sentam baixíssimo risco de morte por pneu- tam peso abaixo do normal para sua faixa
monia) 63 , é improvável que investimentos etária, proporção que varia entre 2,0% no
nessa área levem a uma redução no coefici- sul e 8,3% no Nordeste. As prevalências de
ente de mortalidade. Além disso, é necessá- baixa estatura para a idade (indicando um
rio levar em conta os efeitos positivos das déficit nutricional de longa duração) são ain-
creches para a socialização das crianças e da mais elevadas em todas as regiões, en-
do ponto de vista da família. quanto que as prevalências de emaciamento
– baixo peso em relação à altura (indicando
Resumindo: a perda de peso) – são menores. Deve-se
ressaltar que em uma população saudável,
A aglomeração está associada com uma ele- espera-se que 2,3% das crianças apresentem
vação no risco de mortalidade por pneumo- baixo peso em relação à idade ou à altura,
nia. devido basicamente a motivos genéticos.
Utilizando-se o risco relativo de 4,0 ba-
Cerca de 1,6% do total de mortes entre me- seado na revisão internacional, e presumin-
nores de cinco anos poderiam ser preveni- do-se que fosse possível eliminar metade da
das por reduções na aglomeração. diferença entre a prevalência brasileira de
baixo peso para a idade (5,7%) e aquela ob-
Intervenções visando melhorias na habita- servada em populações bem nutridas (2,3%),
ção são de baixa factibilidade e de custo ele- seriam prevenidas 4,4% das mortes por pneu-
vado, mas a redução do tamanho das famí- monia, o que corresponde a 0,5% do total
lias também pode contribuir para diminuir das mortes de menores de cinco anos. No
a aglomeração. Nordeste, a redução do número de mortes
por pneumonia seria de 10,3%, devido à
O uso de creches pode estar emergindo maior prevalência de desnutrição. Não há
como um problema para a incidência de informações disponíveis para que se possa
pneumonia. estimar o impacto de uma redução na
prevalência de baixa estatura para a idade.
3.3.2.3 Melhorando a nutrição Resultados de pesquisas antropométricas
nacionais mostram haver a prevalência de
Um estado nutricional adequado é es- baixo peso para a idade entre menores de
sencial para assegurar uma resposta imuno- cinco anos caído em mais de 60% entre 1975
lógica adequada64 . Além da mortalidade, a e 198968 , e em 20% adicionais entre 1989 e
desnutrição afeta também a morbidade e o 1996. Uma análise não quantitativa sugere
desenvolvimento intelectual65 . A presente que essa evolução foi devida a um pequeno
revisão tem como objetivo principal estimar aumento na renda familiar, associado a uma
seu impacto sobre a mortalidade de meno- substancial expansão no fornecimento de
res de cinco anos. serviços (saúde, saneamento e educação) e
O indicador de estado nutricional mais a programas de alimentação, ambos os quais
freqüentemente utilizado é a prevalência de foram facilitados por tendências demográ-
baixo peso em relação à idade. Em recente ficas favoráveis na urbanização e no tama-
revisão internacional66 foi estimado que cri- nho das famílias 68.
anças abaixo de -2 escores-Z (em relação à Uma ingesta alimentar inadequada – seja
referência da NCHS/OMS67 ) apresentam um em termos quantitativos ou qualitativos - é

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
29 Vol. 4, Nº 1, 2001
uma das três principais causas de desnutri- Uma redução na prevalência de baixo peso
ção, ao lado das infecções e da falta de cui- para a idade poderia prevenir 4,4% das mor-
dados adequados. Progressos no manejo de tes por pneumonia, ou 0,5% do total de mor-
casos de doenças infecciosas (abordados em tes de menores de cinco anos.
outra seção deste relatório) devem contri-
buir para maiores reduções na prevalência Os programas de suplementação alimentar
de desnutrição. Os programas específicos de e de monitorização do crescimento apre-
alimentação são geralmente considerados sentam efetividade discutível.
como de factibilidade limitada e de alto cus-
to69 ,70 , embora alguns estudos sugiram que As recentes tendências favoráveis na nutri-
sua eficácia possa ser aumentada através de ção de crianças brasileiras e a baixa efeti-
seu direcionamento a crianças mais jo- vidade de programas nutricionais sobre a
vens71 ,72 . A estratégia do AIDPI inclui um mortalidade de menores de cinco anos indi-
módulo de aconselhamento nutricional, re- cam que esta não é uma intervenção
centemente avaliado no Sul do Brasil73 , apre- prioritária.
sentando mudanças positivas no desempe-
nho dos profissionais de saúde, na educação 3.3.2.4 Prevenindo o baixo peso ao nascer
e comportamento maternos e nas dietas das
crianças. Houve também melhoras signifi- Questões relacionadas ao BPN foram tra-
cativas no ganho de peso, mas somente para tadas acima (seção 3.3.1.3). O BPN é um co-
crianças com idade superior a 12 meses e, nhecido fator de risco para mortes por mo-
portanto, além da idade de maior risco de tivos respiratórios durante a infância. Em
mortalidade. Tais resultados são promisso- recente revisão, estimou-se um risco relati-
res, mas requerem replicação. vo de mortalidade respiratória, associado
Atividades de monitoração do cresci- com o BPN, de 6.4 no primeiro mês de vida
mento estão sendo promovidas no Brasil, e de 2,9 nos 11 meses seguintes. Esta revisão
bem como em vários países em desenvolvi- incluiu o único estudo brasileiro sobre o as-
mento. No entanto, a cobertura real tende a sunto. No impacto estimado da prevenção
ser baixa: a PNDS de 1996 mostra que 11,4% do BPN sobre a mortalidade discutido na
de todas as crianças tiveram seus pesos seção 3.3.1.3 já estão incluídas as mortes por
registrados em suas curvas de crescimento pneumonia, visto que os estudos sobre as
nos dois meses anteriores à pesquisa. Avali- quais esse provável impacto se baseia refe-
ações independentes da efetividade da rem-se à mortalidade total.
monitorização do crescimento têm sido ge-
ralmente desfavoráveis, visto que não há 3.3.2.5 Promovendo o aleitamento
evidências seguras de que tais programas materno
melhorem o estado nutricional da popula-
ção74 ,75 . A monitorização do crescimento O aleitamento materno oferece prote-
após os 12 meses de idade tem uma efeti- ção contra a morte por pneumonia e outras
vidade ainda menor, visto que crianças ten- infecções77 , por fornecer anticorpos e subs-
dem a permanecer nos mesmos canais de tâncias antimicrobianas, além de assegurar
crescimento após essa idade76 . uma nutrição adequada nos primeiros me-
ses de vida. Em uma revisão internacional
Resumindo: dos efeitos da nutrição sobre a pneumonia –
que incluiu um artigo brasileiro – estimou-
As prevalências de desnutrição diminuíram se que crianças com idade inferior a 18 me-
rapidamente no Brasil nas últimas duas dé- ses que não recebiam leite materno apre-
cadas, sendo atualmente baixas na maior sentavam um risco duas vezes maior de
parte do país, com exceção das regiões Nor- morte por causas respiratórias. Uma meta-
te e Nordeste. análise mais recente, incorporando dados

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
30 Victora, C.G.
adicionais, sugeriu um risco relativo de 2,5 metade das crianças que atualmente não
durante o primeiro ano de vida78. recebem aleitamento materno passem a
A duração do aleitamento materno no recebê-lo, seriam evitadas 9,2% das mortes
Brasil está muito aquém das recomendações de menores de cinco anos por pneumonia,
atuais de 6 meses de aleitamento materno o que corresponde a 1,1% do total de mor-
exclusivo, e continuação do aleitamento pelo tes de menores de cinco anos.
menos até os 24 meses de idade79. Somente Intervenções específicas para promover
17% das crianças brasileiras recebem aleita- o aleitamento são efetivas 81,82, um achado
mento materno até os 20-23 meses de idade, confirmado em estudos brasileiros nos quais
em contraste com a média dos países em o aconselhamento face-a-face por profis-
desenvolvimento, estimada em 53%. A Ta- sionais treinados tem sido altamente positi-
bela 7 mostra que as durações medianas no vo80,83-85. O aconselhamento sobre o aleita-
Brasil são de 1,1 e 7,0 meses, respectivamen- mento materno faz parte do treinamento em
te. A durações do aleitamento total é mais AIDPI no Brasil.
alta no Norte e Centro-Oeste, provavelmen-
te devido à tradição indígena. Há razões para Resumindo:
crer que a duração mediana de 1,1 mês para
o aleitamento materno exclusivo possa ter A duração do aleitamento materno no Bra-
sido superestimada, visto que o questioná- sil vem aumentando, mas ainda está bastan-
rio da PNDS não enfatizou a exclusão de cri- te aquém das recomendações internacionais
anças que receberam água ou chás.
Uma comparação das duas PNDS reve- Um aumento na duração do aleitamento
lou tendências positivas. Em 1986, 73,5% das materno deve prevenir 9,2% das mortes por
crianças de 0 a 3 meses de idade recebiam pneumonia.
leite materno, enquanto que em 1996 essa
proporção foi de 85,4%. Para crianças de 4 a Estudos nacionais confirmam que a promo-
6 meses, as proporções foram de 49,3% em ção do aleitamento materno é factível e efe-
1986 e 67,3% em 1996, e entre os 7 e 9 meses tiva.
estas foram de 39,9% e 43,1%. Tal melhora,
principalmente na faixa dos 4 aos 6 meses de 3.3.2.6 Imunizações
idade, foi atribuída ao Programa Nacional
de Aleitamento Materno80 , que incluiu me- Estudos etiológicos sugerem que os prin-
didas ligadas à proteção (legislação traba- cipais agentes de morte por pneumonia em
lhista, controle do marketing de substitutos crianças jovens são bacterianos (especial-
para o leite materno), promoção (uso da mente os pneumococos e o Haemophilus
mídia, treinamento profissional) e apoio (gru- influenzae do tipo b, ou Hib) e virais (especi-
pos de mães, material de informação e almente o vírus respiratório sincicial, ou
aconselhamento direto) ao aleitamento ma- VRS86 ).
terno. Contudo, ainda são necessárias me- O Programa Ampliado de Imunizações
lhoras consideráveis, visto que a duração da no Brasil inclui as seguintes vacinações para
amamentação no Brasil segue sendo bastan- menores de cinco anos87 :
te inferior à observada na maior parte dos • vacina contra a tuberculose (BCG) logo
países em desenvolvimento e aos níveis re- após o nascimento;
comendados internacionalmente. • vacina contra a poliomielite aos 2, 4, 6 e
A metodologia usada na revisão interna- 15 meses de idade;
cional foi empregada para estimar-se o im- • vacina tríplice bacteriana (DPT) contra a
pacto de um aumento na duração do aleita- difteria, o tétano e a coqueluche , aos 2,
mento materno na mortalidade por pneu- 4, 6 e 15 meses;
monia. Presumindo-se que, em todas as ida- • vacina contra o sarampo aos 9 e 15 me-
des desde o nascimento até os 11 meses, ses;

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
31 Vol. 4, Nº 1, 2001
• vacina contra sarampo, rubéola e caxum- pneumonia poderiam ser prevenidas atra-
ba, dada aos 15 meses; vés da vacinação universal e que a eficácia
• vacina contra o Hib aos 2, 4 e 6 meses; da vacina está muito próxima dos 100%, al-
• vacina contra a hepatite B ao nascer e no cançar os 80% de cobertura significaria uma
primeiro e sexto meses. redução de 16% na mortalidade por pneu-
monia, ou uma redução de 2,0% na mortali-
Entre estas doenças, estima-se que o Hib dade de menores de cinco anos.
seja responsável por cerca de 20% dos casos
de pneumonia nos países menos desenvol- Resumindo:
vidos88 . Esta vacina preveniu 22% do total
de internações hospitalares por pneumonia As vacinas contra o sarampo e o Hib podem
no Chile89 e 20% de todos os casos de pneu- prevenir a mortalidade por pneumonia.
monia na Gâmbia90 . No Uruguai, a introdu-
ção dessa vacina foi associada a uma acen- A cobertura da vacina contra o sarampo no
tuada redução nos casos de Hib91 . Vacinas Brasil é alta, sendo sua incidência atualmen-
contra pneumococos e o vírus respiratório te baixa; é improvável que maiores investi-
sincicial estão ainda em fase de desenvolvi- mentos em vacinação reduzam o coeficien-
mento, e devem ter um impacto adicional te de mortalidade.
sobre a incidência de pneumonia.
O sarampo, embora não seja considera- A vacina contra o Hib encontra-se no início
do uma infecção respiratória na Classifica- de sua fase de implementação. Alcançar uma
ção Internacional de Doenças, tem grandes cobertura de 80% levaria a uma redução de
conseqüências sobre o aparelho respiratório 16% no número de mortes por pneumonia,
e pode levar a mortes possivelmente atribuí- ou 2,0% no número total de mortes de me-
veis a causas respiratórias. A vacina contra o nores de cinco anos.
sarampo pode prevenir cerca de 10% de to-
dos os casos de pneumonia em áreas onde 3.3.3 Malformações congênitas
sua cobertura é baixa (B. Kirkwood, comuni-
cado pessoal, citado em Victora et al.66). Com a redução das demais causas de
Segundo a PNDS de 1996, a cobertura morte, aumentou a proporção de mortes
vacinal em crianças de 12 a 23 meses foi de devidas a malformações congênitas. Atual-
87,2% para sarampo, 92,6% para BCG, 80,8% mente, as malformações estão em segundo
para DPT e 80,7% para pólio. A Tabela 7 lugar entre as causas de mortalidade infantil,
mostra que 72,5% das crianças brasileiras e em terceiro na mortalidade de menores de
nessa faixa etária receberam todas essas va- cinco anos, sendo responsáveis por 10,5%
cinas. A cobertura foi menor no Nordeste e destas. Em 1997, anomalias cardiovasculares
Norte e mais alta no Sul. As vacinas tríplice foram responsáveis 39,4% de todas as mortes
viral e contra o Hib e a hepatite encontram- devidas a malformações, e anomalias do sis-
se ainda em fase inicial de implementação, tema nervoso central por 18,8%. Estas mor-
sendo sua cobertura nacional pequena. tes afetam predominantemente crianças no
Em todo o país, as mortes infantis primeiro ano de vida. A Tabela 4 mostra que
registradas devidas ao sarampo diminuíram a variabilidade regional é mínima, visto se-
de 1433 em 1979 para 17 em 1997, É, portan- rem essas mortes de difícil prevenção.
to, improvável que maiores esforços visan- As estratégias para reduzir os coeficien-
do um aumento na cobertura da vacina con- tes de mortalidade por malformações con-
tra o sarampo tenham impacto sobre a mor- gênitas incluem:
talidade por pneumonia. No entanto, há uma • assegurar uma ingestão adequada de
considerável necessidade de expansão da folatos por ocasião da concepção, seja
cobertura da vacina contra o Hib: conside- através de suplementos vitamínicos92 , ou
rando-se que 20% de todas as mortes por através de fortificação de alimentos93 ;

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
32 Victora, C.G.
• evitar a ingestão de bebidas alcoólicas e 3.3.4 Outras Infecções
a utilização de drogas ou medicamentos
durante a gravidez; Mortes atribuídas por infecções que não
• tratar a diabete antes da concepção e a pneumonia ou a diarréia representam 8,1%
continuar o tratamento ao longo da ges- do número total de óbitos de menores de
tação; cinco anos. Como mostram as Tabelas 4 e 5,
• realização de triagem fetal e abortos se- essas mortes vêm decrescendo em número
letivos. ao longo dos últimos anos. Em 1996, 49,3%
dessas mortes foram por septicemia, e 30,5%
O diagnóstico e tratamento do diabete, por meningite. Como mencionado acima, a
assim como o aconselhamento sobre o ál- maioria dos casos de septicemia é resultante
cool e as drogas, devem ser parte integral de de complicações da pneumonia ou da diar-
uma atenção pré-natal de boa qualidade. réia, sendo portanto preveníveis através de
Investimentos no pré-natal visando uma re- medidas direcionadas contra tais doenças.
dução da mortalidade materna e perinatal Em relação à meningite, uma em cada três
devem também contribuir para prevenir al- mortes foi atribuída a meningococos, e as
gumas malformações. A fortificação ou outras duas a agentes não especificados. A
suplementação com folatos não é ainda con- distribuição regional indica que as mortes
siderada uma medida de saúde pública em devidas a essas infecções são mais freqüen-
nosso meio. A indução do aborto para fetos tes nas regiões Norte e Nordeste.
malformados é ilegal no Brasil. O HIV/AIDS matou cerca de 300 meno-
Não há dados sobre a cobertura dessas res de cinco anos por ano em 1996-97, em
intervenções por região. Cada uma dessas torno de 0,2% do total de mortes. Embora
medidas é direcionada contra alguns pou- seu impacto atual seja baixo, o HIV merece
cos tipos de malformação, responsáveis por especial atenção, devido a seu potencial epi-
apenas uma pequena proporção do núme- dêmico. Outras infecções específicas, con-
ro total de malformações congênitas. É pro- tra as quais existem métodos preventivos ou
vável, portanto, que nenhuma medida isola- terapêuticos, não contabilizaram um núme-
da tenha um impacto substancial sobre a ro significativo de mortes de menores de cin-
mortalidade de menores de cinco anos. co anos em 1996-97: a malária causou 33
mortes registradas por ano, e a hepatite viral,
Resumindo: 36. A sífilis congênita causou 125 mortes em
1996, podendo ser prevenida através de di-
As malformações congênitas são um grupo agnostico e tratamento pré-natais.
complexo que inclui vários problemas de Embora não causem um grande núme-
etiologias diferentes. ro de mortes entre menores de cinco anos,
certas doenças podem ter efeitos em longo
Um atendimento médico de boa qualidade prazo. Por exemplo, repetidos episódios de
pode contribuir para a prevenção das malária podem levar à anemia e afetar o de-
malformações devidas ao diabete e sempenho escolar e a produtividade na vida
desaconselhar o uso de álcool e drogas, mas adulta; e as hepatites B e C podem aumentar
é difícil quantificar seu possível impacto. o risco de câncer de fígado94 .

Na atual conjuntura, possíveis medidas con- 3.3.4.1 Melhorando o manejo de casos


tra as malformações congênitas não teriam
um impacto importante sobre a mortalida- Um tratamento adequado com a utiliza-
de de menores de cinco anos. ção de antibióticos pode prevenir a maioria
das mortes devidas a infecções bacterianas.
A detecção precoce é essencial, mas infec-
ções severas, como a meningite e a septice-

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
33 Vol. 4, Nº 1, 2001
mia também requerem tratamento hospita- Em um cálculo aproximado, estima-se que
lar, com antibióticos poderosos. Não há in- cerca de 1,6% das mortes de menores de
formações regionais sobre a cobertura ou cinco anos possam ser evitadas através de
qualidade do manejo de casos de infecção um manejo adequado dessas infecções.
severa.
O manejo de crianças pequenas com in- 3.3.4.2 Promovendo o aleitamento
fecções severas faz parte do programa de materno
treinamento da estratégia da AIDPI. Investi-
mentos no treinamento de pessoal e na dis- A promoção do aleitamento materno foi
ponibilidade de medicamentos acarretarão revisada anteriormente neste relatório (se-
provavelmente uma redução na mortalida- ção 3.3.2.5). Em um estudo brasileiro96 , de-
de. Contudo, casos mais severos serão en- monstrou-se que crianças desmamadas
caminhados a hospitais, sendo, portanto, apresentam uma probabilidade 3.1 vezes
também necessárias melhorias nos serviços maior de morrer de infecções que não a di-
de internação. arréia ou a pneumonia, relativamente àque-
A ausência de dados dificulta estimar o las em aleitamento exclusivo ou parcial.
impacto das intervenções sobre essas infec- A mesma metodologia utilizada na revi-
ções. Um grande número dessas mortes pa- são internacional sobre pneumonia foi em-
rece ser devido a complicações ou da diar- pregada para se estimar o impacto de um
réia ou da pneumonia, e outras incluem in- aumento na duração do aleitamento sobre a
fecções tratáveis, como meningite menin- mortalidade por outras infecções. Presumin-
gocócica ou a causada pelo Hib. Presumin- do-se que, em todas as idades desde o nasci-
do-se que: a) 50% das “outras infecções” são mento ate os 11 meses, metade das crianças
de origem bacteriana; b) sua letalidade po- não amamentadas passassem a receber leite
deria ser reduzida em, digamos, 50% através materno, seriam evitadas 16,1% das mortes
da utilização de antibióticos; e c) 80% dessas por outras infecções entre menores de cin-
crianças fossem levadas a serviços de saúde, co anos, o que corresponde a 1,3% do total
seria possível evitar 20% dessas mortes, o de mortes de menores de cinco anos.
que corresponderia a 1,6% do total de mor-
tes de menores de cinco anos. Tal cálculo Resumindo:
deve, no entanto, ser interpretado com cau-
tela, devido à quantidade de pressuposições O aleitamento materno protege contra do-
em que se baseia. enças infecciosas em geral.
Um importante problema no Brasil é a
freqüência com que infecções hospitalares Seria possível evitar 16,1% das mortes devi-
levam à septicemia. Um estudo realizado em das a outras infecções por um aumento na
Pelotas e Porto Alegre mostrou que até dois duração do aleitamento.
terços das mortes de crianças internadas em
hospitais com diarréia tiveram como fator 3.3.4.3 Imunizações
contribuinte infecções hospitalares95 . Não
obstante, inexistem dados precisos sobre a A categoria de infecções que não a diar-
importância das infecções hospitalares na réia ou a pneumonia inclui várias doenças
mortalidade de menores de cinco anos. imuno-preveníveis (como tétano, difteria,
coqueluche, tuberculose, sarampo, caxum-
Resumindo: ba e rubéola), que já não se encontram entre
as principais causas de mortalidade no Bra-
Muitas doenças pertencentes ao grupo das sil devido, em grande parte, aos programas
“outras infecções” são de origem bacteriana, de vacinação. Como mencionado acima, é
devendo ser tratadas com antibióticos, seja muito pequeno o número de mortes causa-
em centros de saúde ou em hospitais. das por hepatite viral entre menores de cin-

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
34 Victora, C.G.
co anos; a vacinação contra a hepatite B, veis e, no Sul, hoje, somente um em cada mil
portanto, não deve ter um impacto impor- lactentes morre de diarréia.
tante sobre a mortalidade. Vacinas meningo- Há três tipos principais de diarréia: diar-
cócicas foram usadas no Brasil no passado, réia aquosa aguda (que leva à desidratação,
mas sua eficácia foi seriamente questiona- sendo tratada através da terapia de reidra-
da, sendo seu uso rotineiro interrompido. tação oral (TRO) ou – em casos graves – pela
Entre as vacinas atualmente utilizadas, administração endovenosa de fluidos);
somente a vacina contra o Hib apresenta po- disenteria, ou diarréia sanguinolenta (que
tencial para promover maiores reduções na requer a utilização de antibióticos) e diar-
mortalidade devida a outras infecções, visto réia persistente (cujo manejo é mais difícil,
ser este agente uma das principais causas de exigindo modificações na dieta). Como a in-
meningite97 . No Uruguai, a meningite causa- cidência de diarréia decresceu e o uso da
da pelo Hib foi praticamente eliminada atra- TRO aumentou, a maioria dos casos de mor-
vés da vacinação98 . Presumindo-se que 30% te por diarréia, hoje, são devidos à diarréia
dos casos de meningite no Brasil são causa- persistente95.
dos pelo Hibr , e que a eficácia da vacina é de Uma avaliação dos fatores responsáveis
95%, 7,0% de todas as mortes por outras in- pela acentuada redução na mortalidade por
fecções (0,6% da mortalidade total de meno- diarréia no Nordeste, na década de 8099 ,
res de cinco anos) seriam evitadas se fosse mostrou que melhorias no manejo de casos
atingida uma cobertura vacinal de 80%. tiveram um papel importante, seguidos de
mudanças positivas no fornecimento de água,
Resumindo: na cobertura da vacinação contra o saram-
po, e na duração do aleitamento materno,
O alcance de uma cobertura de 80% com a além de reduções na prevalência de desnu-
vacina anti-Hib significaria uma provável trição. O fato de que o recente declínio nos
redução de 0,6% na mortalidade de meno- níveis de diarréia foi mais lento no Nordeste
res de cinco anos. (Tabela 4) do que nas demais regiões do país
sugere que estas tiveram um sucesso ainda
O grupo das “outras infecções” inclui muitas maior na redução da diarréia, apesar de apre-
enfermidades que já foram praticamente sentar níveis iniciais ainda mais baixos.
erradicadas através da vacinação, como a
poliomielite, a difteria e o sarampo. É neces- 3.3.5.1 Melhorando o manejo de casos
sário dar continuidade a esses esforços para
que tais doenças sejam mantidas sob con- O manejo apropriado dos casos de diar-
trole, mas é improvável que haja maiores réia é altamente efetivo no controle da diar-
reduções na mortalidade de menores de cin- réia. Em sua grande maioria, os casos de di-
co anos por aumento de cobertura vacinal. arréia podem ser tratados em casa através
da TRO. A Tabela 7 mostra que três quartos
3.3.5 Diarréia das crianças em qualquer região do país re-
ceberam algum tipo de reidrataçãos , quan-
Houve uma queda acentuada na morta- do apresentaram diarréia, um aumento
lidade por diarréia no país, sendo esta doen- acentuado comparado com a taxa de 24,3%
ça responsável atualmente por cerca de 8% constatada em um inquérito representativo
to número total de mortes entre menores realizado no Nordeste em 1990100 .
de cinco anos. A mortalidade é nove vezes De todas as crianças com diarréia, 32,0%
maior no Nordeste do que no Sul. Mortes foram levadas a serviços de saúde, variando
por diarréia são praticamente 100% evitá- entre 27,4% no Nordeste e 49,6% no Sul.

r
Homa, Akira . Comunicado pessoal. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz/Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2000.
s
A definição de TRO utilizada na PNDS de 1996 inclui envelopes de sais de reidratação oral (44% do total de crianças com diar-
réia), soro caseiro (16%) e/ou aumento no volume de líquidos normalmente recebidos pela criança (55%).

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
35 Vol. 4, Nº 1, 2001
Como a maioria dos episódios de diarréia mortes por diarréia e de 54% nas por saram-
são autolimitados, estes índices não são ne- po. O impacto sobre a diarréia foi confirma-
cessariamente baixos, contanto que crian- do em um estudo brasileiro, que constatou
ças com sinais de risco sejam levadas imedi- uma redução de 20% no número de episódi-
atamente aos serviços de saúde. os severos103 . No entanto, a vitamina A não
A estratégia do AIDPI inclui o treinamento reduz a mortalidade por pneumonia104 e seu
de profissionais de saúde no manejo apro- efeito sobre o sarampo não é relevante no
priado da diarréia aquosa, da disenteria e da Brasil, onde essa doença foi praticamente
diarréia persistente. Quando for adequada- erradicada.
mente implementado, o componente comu- A deficiência de vitamina A está presente
nitário do AIDPI deverá também contribuir em certas áreas rurais do Nordeste, de clima
para que crianças com sinais de gravidade semi-árido. Programas de suplementação
sejam trazidas rapidamente aos serviços de foram implementados em algumas dessas
saúde. áreas. A Tabela 7 mostra que 41% das crian-
Teoricamente, padrões adequados de ças no Nordeste, 20% no Norte e cerca de
busca de assistência, aliados a um manejo 10% ou menos nas demais regiões já recebe-
de casos de boa qualidade, poderiam preve- ram suplementos de vitamina At . Para se-
nir quase totalmente as mortes por diarréia, rem efetivos, os suplementos de vitamina A
sendo sua eficácia estimada em 80%101 . Se devem ser administrados a cada 4-6 meses a
80% das crianças com diarréia severa fos- crianças vivendo em áreas de alto risco.
sem levadas a serviços de saúde, e 80% des- Não há estimativas confiáveis sobre a
sas mortes prevenidas, 5,1% do total de mor- proporção de mortes por diarréia que ocor-
tes entre menores de cinco anos poderiam re em áreas com deficiência de vitamina A.
ser evitadas. Presumindo-se que algo em torno de 50%
das mortes de menores de cinco anos no
Resumindo: Nordeste ocorram em tais áreas e que 80%
dessas crianças recebessem suplementos
A maior parte das crianças brasileiras com regulares de vitamina A, 8,6% do total de
diarréia recebe soluções reidratantes ou uma mortes por diarréia, e 0,7% do total de mor-
quantidade maior de líquidos. Houve me- tes entre menores de cinco anos no Brasil
lhoras acentuadas nos últimos anos. seriam prevenidas.

Entre crianças levadas a serviços de saúde, é Resumindo:


possível prevenir pelo menos 80% das mor-
tes por diarréia. A deficiência de vitamina A ocorre em áreas
rurais do semi-árido nordestino.
5,1% do total da mortalidade de menores de
cinco anos poderia ser prevenida através de A suplementação com vitamina A poderia
um manejo adequado dos casos de diarréia. prevenir 8,6% das mortes por diarréia, ou
0,7% de todas as mortes de menores de cin-
3.3.5.2 Suplementação com vitamina A co anos no Brasil.

Em populações deficientes, a suplemen- 3.3.5.3 Imunizações


tação com vitamina A deu repetidas mos-
tras de eficácia na redução da mortalidade Dentre as vacinas atualmente emprega-
infantil por diarréia e sarampo. Uma meta- das no país, somente a anti-sarampo pode-
análise 102 mostrou reduções de 29% nas ria ter algum impacto contra a diarréia, visto

t
A suplementação com Vitamina A deveria ter sido investigada em relação aos seis meses que antecederam a pesquisa, e não
a toda a vida da criança.

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
36 Victora, C.G.
que, nos meses seguintes a um episódio de cional78, que incluía um estudo brasileiro,
sarampo, as crianças são especialmente sus- constatou riscos relativos de morte por di-
cetíveis à diarréia severa105 . Em áreas de baixa arréia de 6,1 para lactentes com idade inferi-
cobertura vacinal, esta vacina poderia pre- or a seis meses, e de 1,9 para aqueles com
venir de 6 a 26% das mortes por diarréia en- idades entre os 6 e os 11 meses.
tre menores de cinco anos. Como discutido na seção 3.3.2.5, há gran-
No entanto, a grande maioria das mor- de escopo para melhorias nos hábitos de alei-
tes de menores de cinco anos por diarréia tamento materno no Brasil. A metodologia
no Brasil ocorre antes da criança atingir os usada na revisão internacional sobre pneu-
nove meses, idade na qual a vacinação é re- monia66 foi empregada para estimar o im-
comendada. Além disso, a cobertura atual pacto de um aumento na duração do aleita-
da vacinação contra o sarampo está próxi- mento materno na mortalidade por diarréia.
ma dos 90%, havendo, assim, pouca possibi- Se, em todas as idades desde o nascimento
lidade de aumento. O possível impacto da até os 11 meses, metade das crianças que
vacinação contra o sarampo na mortalidade atualmente não recebem aleitamento ma-
por diarréia no Brasil deve, portanto, ser terno passassem a recebê-lo, seriam evita-
pequeno. das 20,1% das mortes por diarréia de meno-
A introdução de novas vacinas poderia res de cinco anos, o que corresponde a 1,6%
contribuir para a prevenção da diarréia. A do total de mortes de menores de cinco anos.
vacina contra o rotavírus parece bastante
promissora, visto que tal agente é responsá- Resumindo:
vel por algo em torno de 20% do total de
mortes por diarréia nos países em desenvol- O aleitamento materno fornece uma forte
vimento106 . Essa vacina já foi introduzida nos proteção contra a diarréia.
EUA, havendo sido testada em Belém, onde
preveniu cerca de 46% dos casos de diarréia A duração média do aleitamento materno
severa por este agente107 . Com tal nível de no Brasil é pequena, apesar de progressos
eficácia contra a mortalidade, uma cobertu- recentes.
ra de 80% teoricamente preveniria 7,3% das
mortes por diarréia, ou 0,6% do total de Um aumento na duração do aleitamento
mortes de menores de cinco anos. materno preveniria 20,1% das mortes por
diarréia, ou 1,6 % do total de mortes de me-
Resumindo: nores de cinco anos.

A vacinação contra o sarampo pode auxiliar 3.3.5.5 Melhorando o estado nutricional


na prevenção da diarréia severa; no entanto,
os níveis atuais de vacinação são altos, e não A melhoria do estado nutricional de me-
há escopo para grandes melhorias. nores de cinco anos foi abordada na seção
3.3.2.3. Estimar o possível impacto da des-
A introdução de uma vacina contra o nutrição na mortalidade por diarréia é tare-
rotavírus poderia prevenir 7,3% das mortes fa complexa, pois a diarréia é uma das prin-
por diarréia, ou cerca de 0,6% do total de cipais causas – assim como uma conseqü-
mortes de menores de cinco anos. ência – da desnutrição. Em uma revisão de
vários estudos brasileiros99, foi proposto um
3.3.5.4 Promovendo o aleitamento risco relativo de 2,0 para crianças com baixo
materno peso para a idade. Se fosse possível eliminar
metade da diferença entre a prevalência na-
Entre todas as doenças infecciosas, a di- cional atual (5,7%) e a prevalência ideal em
arréia é a mais fortemente associada ao des- uma população bem nutrida (2,3%), isto é,
mame. Uma recente meta-análise interna- reduzir a prevalência nacional para 4,0%,

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
37 Vol. 4, Nº 1, 2001
seriam evitadas apenas 1,6% das mortes por Supondo-se que crianças vivendo sem
diarréia, ou 0,1% do total de mortes de me- um abastecimento de água adequado apre-
nores de cinco anos. No Nordeste, 4,0% das sentem uma mortalidade 3,9 maior, uma
mortes por diarréia seriam evitadas. redução de 50% no número de domicílios
sem tratamento de água preveniria 21,4% das
Resumindo: mortes por diarréia, ou 1,7% do total mortes
de menores de cinco anos. Esse número está
Melhorias nutricionais provavelmente evi- muito próximo da estimativa feita pela revi-
tariam cerca de 1,6% das mortes por diar- são mencionada acima. Em nível internaci-
réia, ou 0,1% do total de mortes de menores onal, melhorias podem também afetar ou-
de cinco anos. tros tipos de doença, incluindo a ascaridíase,
a dracunculíase, as infecções por ancilosto-
3.3.5.6 Melhorando o saneamento mídeos, a esquistossomose, o tracoma, e in-
fecções de pele112 . No entanto, nenhuma
Melhorias no abastecimento de água e dessas doenças é uma causa importante de
no saneamento podem diminuir o número mortalidade no Brasil.
de mortes por diarréia, através de uma re- Embora investimentos em saneamento
dução na exposição a patógenos entéricos. sejam onerosos, sua contribuição para a saú-
Assim como a qualidade da água, sua quan- de e bem-estar é fundamental, e decisões
tidade também é importante108 . A abundân- não devem ser tomadas apenas com base
cia de água contribui para a melhoria das em sua contribuição para a prevenção da
práticas de higiene, visto que grande parte mortalidade de menores de cinco anos.
dos casos de diarréia são preveníveis pela
lavagem e não veiculados pela água (em in- Resumindo:
glês, water-washed, not water-borne).
A literatura brasileira confirma a associ- O abastecimento adequado de água é im-
ação entre o fornecimento de água e a mor- portante na prevenção da diarréia.
talidade de menores de cinco anos109 . So-
mente um estudo abordou o papel do for- Há grandes diferenciais regionais no acesso
necimento de água na mortalidade por diar- à água e no saneamento.
réia: na Região Sul, o risco observado foi 3,9
vezes maior em domicílios sem água Uma redução de 50% no número de domi-
encanada110 , mas não houve efeito das ins- cílios sem abastecimento adequado de água
talações de saneamento após ajuste para o pode prevenir 21,4% das mortes por diar-
fornecimento de água e status socioeco- réia, ou 1,7% do total de mortes de menores
nômico. Em uma abrangente revisão111 , es- de cinco anos.
timou-se que 21% do total de mortes por
diarréia poderiam ser evitadas através de 3.3.5.7 Promovendo práticas de higiene
melhorias no abastecimento de água.
Como mostra a Tabela 7, há uma varia- A promoção da higiene pessoal e domés-
ção acentuada no fornecimento de água e tica visando a prevenção da diarréia inclui a
saneamento entre as regiões brasileiras. En- lavagem das mãos após a defecação e antes
quanto que três quartos dos domicílios naci- da preparação de alimentos, a fervura da
onais possuem água tratada, essa proporção água, o armazenamento de alimentos já pre-
varia entre 56% no Nordeste e 87% no Sul. parados no refrigerador (ou, caso isso não
Instalações adequadas de saneamento estão seja possível, que os alimentos sejam nova-
disponíveis em 64% de todos os domicílios, e mente fervidos antes de oferecidos às crian-
as disparidades regionais são ainda mais acen- ças), a utilização de copos e colheres em vez
tuadas, indo de somente 26% no Centro-Oeste de mamadeiras, e o destino adequado das
e 38% no Nordeste a 83% no Sudeste. fezes de crianças. Um estudo piloto realizado

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
38 Victora, C.G.
em Fortaleza mostrou que a maioria das mães uma crescente causa de morte, especialmen-
tinham a capacidade e a vontade necessárias te entre crianças de 1 a 4 anos de idade.
para melhorar as práticas de higiene113 .
Há evidências, baseadas em um número A prevenção de acidentes é tarefa comple-
limitado de estudos, de que alguns desses com- xa, envolvendo vários setores da sociedade.
portamentos podem ser modificados, causan-
do um impacto sensível na morbidade por di- A prevenção de 30% das mortes por lesão
arréia114 ,115 , mas maiores estudos são neces- física levaria a uma redução de 1,5% na mor-
sários sobre seu possível impacto na mortali- talidade de menores de cinco anos, mas a
dade e sua factibilidade. No Brasil, não há esti- factibilidade das medidas de prevenção não
mativas em nível regional sobre a freqüência está documentada.
dessas práticas e nem avaliações de seu im-
pacto, o que impossibilita uma estimativa de 3.4 Priorizando as intervenções contra a
seu possível efeito sobre a mortalidade. mortalidade de menores de cinco anos

3.3.6 Causas externas Para que se possa priorizar as interven-


ções visando maiores reduções na mortali-
Causas externas são responsáveis por dade, é necessário considerar os seguintes
22% das mortes de crianças entre 1 e 4 anos fatores: a) possível impacto, com base na
de idade, e de 5% do total de mortes de me- proporção de mortes de menores de cinco
nores de cinco anos. A prevenção de aci- anos evitáveis pela intervenção; b) efeti-
dentes teria um impacto pequeno sobre a vidade; c) escopo para melhorias na cober-
mortalidade infantil, visto que as causas ex- tura, tendo em vista os níveis atuais; d)
ternas representam apenas uma pequena factibilidade; e) eqüidade; f) custo e g)
fração desses óbitos, mas seu impacto sobre sustentabilidade. Os primeiros cinco critéri-
a mortalidade pré-escolar pode ser impor- os foram os utilizados para priorizar as in-
tante. Acidentes automobilísticos e afoga- tervenções discutidas na seção anterior. Con-
mentos são as causas mais comuns de mor- siderações sobre custo e sustentabilidade
te dentro dessa categoria. Muitas lesões farão parte de uma análise subseqüente.
registradas como sendo acidentais podem A Tabela 8 sumariza a priorização das
ser devidas à violência doméstica, a qual é intervenções visando reduzir a mortalidade
sabidamente subnotificada. de menores de cinco anosu . Além dessas,
A prevenção das lesões físicas é tarefa duas prioridades gerais são propostas: com-
complexa e que inclui vários setores116 ,117 , bate aos diferenciais regionais para promo-
envolvendo legislação, aplicação das leis e ver a eqüidade, e investimentos na sustenta-
educação pública. A prevenção de 30% das bilidade dos progressos já alcançados.
mortes devidas a causas externas teria um
impacto de 1,5% na mortalidade de meno- 3.4.1 Promovendo a eqüidade: prioridade
res de cinco anos. Entretanto, uma redução para as regiões Norte e Nordeste e para as
de tal magnitude é uma hipótese otimista, áreas rurais
cuja factibilidade é questionável.
As análises acima mostram que os coefi-
Resumindo: cientes de mortalidade nas regiões Norte e
Nordeste são consideravelmente mais ele-
Em termos relativos, as causas externas são vados do que os observados nas outras três

u
A soma das frações preveníveis na Tabela 8 pode exceder os 100% uma vez que as doenças têm múltiplas causas. Por exem-
plo, se fosse possível erradicar o vírus do sarampo, a redução na mortalidade seria de 100%; a vacinação integral das crianças
com uma vacina eficaz também levaria a uma redução de 100% (mesmo se o vírus ainda existisse) ; melhorias nos níveis de
vitamina A poderiam levar a uma redução de 20%; o tratamento de complicações bacterianas do sarampo ou melhorias no
aleitamento materno também preveniriam um grande número de mortes; e assim por diante.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
39 Vol. 4, Nº 1, 2001
regiões. As causas de morte que apresenta- registro de mortes nessas áreas remotas.
ram importantes declínios nas demais regi- Como quase 40% (Tabela 2) da população
ões – como a diarréia e outras infecções – da Região Norte é rural (a mais alta propor-
ainda são responsáveis por um grande nú- ção no país) os verdadeiros níveis de morta-
mero de mortes no Norte e Nordeste. Além lidade nessa região devem ser pelo menos
disso, com algumas poucas exceções, a co- tão altos quanto os da Região Nordeste.
bertura das intervenções é sistematicamen- O Projeto Nacional para a Redução da
te menor nessas regiões. Mortalidade Infantil, lançado em 1995, favo-
A quantidade de dados existentes sobre a receu 913 municípios, majoritariamente na
mortalidade em áreas rurais é limitada. Na Região Nordeste, com ações básicas nas áre-
PNDS de 1996 estimou-se que o CMI indireto as de saneamento, alocação de profissionais
em áreas rurais seria 55% mais elevado do de saúde comunitária, alimentação infantil
que em áreas urbanas, e a mortalidade de (promoção do aleitamento materno e dis-
crianças entre 1 e 4 anos de idade seria 110% tribuição de leite), acompanhamento nutri-
maior. Os níveis de cobertura das interven- cional, imunização, atenção pré-natal e aten-
ções são também sistematicamente inferio- dimento pediátrico118 . Esses municípios fo-
res em áreas rurais. Embora dados detalha- ram selecionados com base em informações
dos não estejam disponíveis, é provável que a sobre indicadores de pobreza baseados no
alta mortalidade em áreas rurais inclua mui- Censo Demográfico. Avaliar as intervenções
tos óbitos por doenças infecciosas contra as que fazem parte desse projeto não é função
quais existem medidas efetivas e baratas. Nas desse documento, mas o direcionamento ge-
áreas rurais, a prevalência de desnutrição é ográfico específico dessas intervenções é
também bastante superior à média nacional, adequado ao propósito de reduzir a morta-
e pode requerer estratégias específicas. lidade.
A Tabela 9 mostra o impacto estimado
das mesmas intervenções incluídas na Ta- 3.4.2 Necessidade de continuar investindo nas
bela 8 apenas para as regiões Norte e Nor- intervenções bem sucedidas
deste, levando em conta a distribuição das
mortes e a freqüência dos fatores de risco Nas últimas décadas, importantes resul-
nessas regiões. Para a maioria das interven- tados foram atingidos com algumas inter-
ções, o impacto esperado seria mais pro- venções específicas, como as imunizações,
nunciado, dadas as maiores prevalências de o planejamento familiar e o manejo da diar-
fatores de risco. Isto se aplica especialmente réia. Seu sucesso levou a declínios acentua-
às intervenções contra a mortalidade por dos no número de casos de doenças como a
diarréia. A expansão do AIDPI nessas regi- pólio (hoje erradicada), o sarampo e a diar-
ões é especialmente relevante, uma vez que réia. A possibilidade de reduzir ainda mais a
poderia melhorar o manejo de casos (redu- freqüência de algumas dessas doenças é li-
zindo em 14,4% o número de mortes de mitada, uma vez que enormes progressos já
menores de cinco anos), promover o aleita- foram feitos. No entanto, isso não significa
mento materno (5,3%), e fornecer suple- que as intervenções deixaram de ser neces-
mentação com vitamina A (1,5%) e aconse- sárias, pois, na ausência de medidas de con-
lhamento nutricional (1,2%).v trole, essas doenças poderão ressurgir.
Enquanto que para a maioria das estatís- As seções seguintes abordam as inter-
ticas de mortalidade os níveis no Nordeste venções com maior potencial para redução
são os menos favoráveis, as áreas rurais da da mortalidade de menores de cinco anos,
Região Norte não são cobertas pelas pesqui- em ordem decrescente de possível impacto
sas por amostragem, e praticamente não há (ver Tabela 8).

v
Como foi dito anteriormente, tais reduções não são estritamente aditivas, mas estima-se que o AIDPI poderia reduzir em
cerca de 20% a mortalidade de menores de cinco anos no Norte e Nordeste.

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
40 Victora, C.G.
Tabela 8. Possível impacto e factibilidade de intervenções contra a mortalidade de menores de 5 anos no Brasil.
Table 8. Possible impact and feasibility of interventions against underfive mortality in Brazil.

Victora, C.G.
Intervenções para reduzir a mortalidade infantil
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Rev. Bras. Epidemiol.
Tabela 8. Continuação.

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42 Victora, C.G.
Tabela 8. Continuação.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
43 Vol. 4, Nº 1, 2001
Tabela 9. Possível impacto de intervenções contra a mortalidade de menores de cinco anos nas Regiões Norte e
Nordeste (ver Tabela 8 para a discussão sobre a factibilidade das intervenções).
Table 9. Possible impact of interventions against underfive mortality in the North and Northeast Regions (see Table 8 for the
discussion on feasibility of interventions).

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
44 Victora, C.G.
Tabela 9. Continuação.

3.4.3 Necessidade de priorizar o atendimento onde atualmente acontecem quase 90% dos
pré-natal e ao parto partos. Nas áreas rurais, parteiras tradicio-
nais terão de ser treinadas para encaminhar
O sucesso na redução da mortalidade de mulheres com complicações no parto.
menores de cinco anos no Brasil depende,
em grande parte, de como serão enfrenta- 3.4.4 Necessidade de melhorar o manejo de
das as causas perinatais, responsáveis por doenças infecciosas
cerca de metade de todos os óbitos de cri-
anças. De acordo com a Tabela 8, a atenção Embora a mortalidade por causas infec-
pré-natal e ao parto são as medidas com o ciosas haja decrescido em todas as regiões,
mais alto potencial de redução da mortali- ainda ocorrem muitas mortes evitáveis, es-
dade de menores de cinco anos. A mortali- pecialmente no Norte e Nordeste. O trata-
dade por causas perinatais é especialmente mento da pneumonia e de outras infecções
alta nas regiões Norte e Nordeste. bacterianas (incluindo a disenteria) através
É difícil quantificar o impacto sobre a de antibióticos, e a terapia de reidratação
mortalidade de melhorias nos padrões de oral para a diarréia podem prevenir cerca
atendimento pré-natal e ao parto, mas os de 11% das mortes de menores de cinco anos.
altos níveis de mortalidade perinatal - na A estratégia do AIDPI, promovida pela OMS
presença de taxas moderadas de baixo peso e UNICEF, começa a ser implementada em
ao nascer - indicam a existência de sérias vários estados brasileiros, principalmente do
deficiências no atendimento ao parto. Nordeste. Entre as medidas adotadas encon-
As intervenções nessa área incluem asse- tram-se o treinamento de profissionais de
gurar pelo menos cinco consultas à atenção saúde em unidades básicas de saúde,
pré-natal para todas as mulheres, garantir o melhorias nos serviços (especialmente o su-
acompanhamento de todos os partos por primento de medicamentos essenciais) e a
parte de um profissional de saúde treinado promoção de atividades comunitárias. A
(médicos ou enfermeiras) e, especialmente, cobertura do treinamento ainda é pequena,
reciclar e supervisionar o pessoal de saúde na sendo necessários maiores investimentos.
área de serviços pré-natais. Em nível nacio- O Programa Nacional de Agentes Comu-
nal, há uma urgente necessidade de melho- nitários de Saúde (PACS) está integrado ao
rar a qualidade do atendimento hospitalar, Projeto Nacional de Redução da Mortalida-

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
45 Vol. 4, Nº 1, 2001
de Infantil, em vários dos municípios mais Por enquanto, nenhum investimento es-
pobres do país. Embora existam resultados pecífico para a prevenção do BPN (além da-
promissores desse programa, particular- queles resultantes da melhoria da atenção
mente quanto à educação para a saúde, sua pré-natal) é recomendado.
efetividade no combate a doenças infeccio-
sas seria muito maior se lhes fosse permiti- 3.4.7 Necessidade de promover o aleita-
do receitar antibióticos simples para qua- mento materno
dros clínicos bem definidos, como ocorre
em diversos países com documentado su- Aumentar a duração do aleitamento pode
cesso na redução da mortalidade58. Infeliz- contribuir na prevenção de 4,0% das mortes
mente, questões corporativistas têm impe- de menores de cinco anos. O aconselha-
dido que agentes comunitários prescrevam mento personalizado, face a face, é especi-
antibióticos em áreas do país que não atra- almente efetivo. A estratégia do AIDPI inclui
em profissionais qualificados. o treinamento de profissionais de saúde nes-
sa área, e esta redução de 4% seria acrescida
3.4.5 Necessidade de aumentar o intervalo ao efeito do AIDPI relativo ao manejo de
entre gestações casos de doenças infecciosas.
Outra intervenção válida nessa área é a
Reduzir pela metade a proporção de in- Iniciativa Hospital Amigo da Criança, pro-
tervalos interpartais inferiores a 24 meses movida pelo UNICEF e OMS, que hoje cobre
pode teoricamente prevenir 8,1% das mor- 119 hospitais no país119 .
tes de menores de cinco anos. Embora atu-
almente o planejamento familiar seja utili- 3.4.8 Introdução da vacina anti-Hib
zado por três quartos das mulheres em rela-
cionamentos estáveis, e essa taxa esteja au- Alcançar 80% de cobertura com a vacina
mentando, os baixos índices de utilização de anti-Hib levará provavelmente a uma queda
anticoncepcionais no Nordeste (68%) indi- de 2,6% na mortalidade de menores de cin-
cam que ainda há possibilidade de melhoras co anos, devido a seus efeitos contra a me-
(Tabela 7). ningite e a pneumonia. Dados os atuais ní-
veis de cobertura por outras vacinas no país,
3.4.6 Necessidade de prevenir o baixo peso esse é um objetivo factível. O Ministério da
ao nascer Saúde encontra-se agora nos estágios inici-
ais da fase de implementação dessa vacina.
Reduzir a prevalência de BPN de 8,5%
para 7,0% teoricamente levaria a um decrés- Resumindo:
cimo de 7,4% na mortalidade de menores de
cinco anos. No entanto, as atuais preva- A maior prioridade para reduzir a mortali-
lências já são razoavelmente baixas e as in- dade de menores de cinco anos no Brasil é
tervenções disponíveis são de eficácia limi- investir na eqüidade entre as regiões, visto
tada, fazendo deste um objetivo de difícil que o Norte/Nordeste, e especialmente suas
realização. áreas rurais, ainda apresentam altos coefici-
Como recém-nascidos de BPN apresen- entes de mortalidade por causas já contro-
tam um risco de mortalidade dez vezes mai- ladas nas demais regiões.
or, uma estratégia mais promissora pode ser
o acompanhamento freqüente desses re- A prioridade seguinte é assegurar a sus-
cém-nascidos, programa já implementado tentabilidade dos importantes progressos já
em alguns estados. São necessárias maiores alcançados em áreas como a cobertura
informações sobre a efetividade de tais pro- vacinal, o planejamento familiar, e o manejo
gramas antes que sejam endossados para de casos de diarréia.
uma utilização mais ampla.

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
46 Victora, C.G.
Maiores reduções na mortalidade de meno- sub-notificação w . Juntando-se as fontes
res de cinco anos dependerão, em grande mais confiáveis, os níveis da RMM no Brasil
parte, da redução do número de óbitos por parecem haver estado ao redor de 150-200
causas perinatais. Melhorias na cobertura e na década de 1990. Nossa estimativa atual
qualidade da atenção pré-natal e ao parto indica que em torno de 5.500 mulheres mor-
são de extrema urgência. rem por causas maternas no Brasil a cada
ano, um número cerca de quatro vezes mai-
Outras prioridades incluem o manejo inte- or do que o número oficial de mortes
grado de doenças infecciosas, o aumento do registradas.
intervalo entre nascimentos, a promoção do O número de mortes maternas regis-
aleitamento materno e a vacinação contra o tradas decaiu durante a década de 80, de
Hib. cerca de 2.500 mortes por ano em 1979-81
para cerca de 1.500 em 1992, mas desde en-
4. Reduzindo a mortalidade tão o número anual tem se mantido razoa-
materna velmente estável, entre 1.500 e 1.800, indi-
cando a ausência de progressos, ou, alterna-
Em recente revisão das estatísticas glo- tivamente, de uma melhora no registro.
bais da mortalidade materna, realizada pela A Tabela 11 mostra as cinco fontes que
OMS e UNICEF, concluiu-se que o Brasil fornecem estimativas regionais, todas base-
pertence ao grupo dos “países sem estimati- adas nas mortes registradas. As duas estatís-
vas de mortalidade materna”. Essa afirma- ticas do Ministério da Saúde não foram
ção talvez seja demasiado severa, mas sem corrigidas para o sub-registro e a sub-notifi-
dúvida existem grandes dificuldades no aces- cação. As outras três fontes mostram níveis
so a dados sobre a mortalidade materna. O consideravelmente mais altos no Norte e
restante da presente seção foi afetado por Nordeste. As duas estimativas da década de
estas limitações. 1980 colocam o Norte em primeiro lugar,
mas a estimativa mais recente indica um ín-
4.1 Níveis e tendências na mortalidade dice no Nordeste cerca de 20% mais alto do
materna que o do Norte.
A iniqüidade na RMM entre o Norte/
A Tabela 10 mostra as razões de mortali- Nordeste e o Sul/Sudeste parece ter decres-
dade materna estimadas por Siqueira et al.120 , cido entre o início da década de 1980 e as
Beckere e Lechtig121 , Fonseca e Laurenti122 estimativas atuais. Isso não pode ser atribu-
pela UNICEF/OMS, pela PNDS de 1996, pela ído ao uso de correções, visto que estas ten-
OPAS123 , pelo Ministério da Saúde124 ,125 e dem a inflar a RMM em maior grau no Nor-
pelo presente relatório. te/Nordeste. Uma possível explicação para
Como foi discutido na seção sobre a redução nesse diferencial será discutida ao
metodologia, toda e qualquer estimativa tem decorrer desta seção.
suas limitações. As estimativas do Ministério A Tabela 11 traz também duas outras
da Saúde124,125 para 1995 e 1996, assim como formas de avaliar a mortalidade materna. As
as de Fonseca e Laurenti122 para 1988 são as mortes maternas contabilizam 2,9% do total
mais baixas, visto que não incluem corre- de mortes registradas em mulheres entre os
ções para o sub-registro, nem para a sub- 10 e os 49 anos de idade. Essa proporção é
notificação de causas maternas. As estimati- mais alta no Norte/Nordeste do que no res-
vas de Siqueira et al.120, Becker e Lechtig121 e to do país, achado este compatível com os
da OPAS123 são intermediárias; o sub-regis- diferenciais na RMM. A razão de causas di-
tro foi levado em consideração, mas não a retas sobre indiretas é também um indica-

w
É interessante ressaltar que a RMM estimada por Becker para 1984 é de cerca de metade da RMM indireta da PNDS de 1996,
referente a 1983-84. Isto justifica a necessidade de correção para a sub-notificação das mortes maternas (Becker efetuou corre-
ção para o sub-registro) utilizando-se um fator de cerca de 2 (os fatores utilizados em nossas estimativas variam entre 2.04 e 3).

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
47 Vol. 4, Nº 1, 2001
Tabela 10. Estimativas da razão de mortalidade materna (por 100.000 nascimentos) para o Brasil, 1980-1997, segundo
diferentes fontes.
Table 10. Estimates of maternal mortality ratio (per 100,000 births) for Brazil, 1980-1997, according to different sources.

Fonte Ano da RMM Comentários


Estimativa
Siqueira 1980 154 Baseado em óbitos registrados multiplicados por um fator de
correção refletindo o percentual da população vivendo em
municípios com problemas de registro; a RMM não ajustado foi igual
a 70. Não houve correção para subnotificação de causas maternas
entre os óbitos registrados.
Ministério da Saúde 1984 120 Mesma metodologia de Siqueira.
(Becker)
PNDS 1996 1983-84 217 Método indireto de sobrevivência das irmãs
PNDS 1996 1983-96 161 Método direto de sobrevivência das irmãs
Fonseca 1988 63 Baseado em óbitos registrados, sem correção
UNICEF/OMS 1990 220 Estimativa baseada em modelo de regressão, usando como variáveis
independentes o coeficiente geral de fecundidade e a proporção de
nascimentos assistidos por profissional treinado.
OPAS 1991 114 Metodologia não especificada
Ministério da Saúde 1995 44 Baseado em óbitos registrados, sem correção
Ministério da Saúde 1996 39 Baseado em partos hospitalares, sem correção
Estimativa atual 1995-97 147 Baseado em óbitos registrados, corrigido para sub-registro de óbitos
e subnotificação de causas maternas entre os óbitos registrados

Tabela 11. Razões de mortalidade materna e indicadores relacionados por Região, 1980 a 1997, de diferentes fontes.
Table 11. Maternal mortality ratios and related indicators by Region, 1980 to 1997, from different sources.

Região
Fonte e ano da estimativa Indicador Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Brasil
Oeste
Siqueira, 1980 RMM 338 229 83 92 144 154
Becker, 1984 RMM 313 155 70 81 121 120
Fonseca, 1988 RMM 164 64 58 46 65 63
Ministério da Saúde, 1995 RMM 36 38 48 53 34 44
Ministério da Saúde, 1996 RMM hospitalar 39 42 39 38 31 39
Relatório atual, 1995-97 RMM 186 219 117 129 145 147
% causas maternasa 4,8% 4,2% 2,2% 3,2% 2,3% 2,9%
Razão causas diretas/indiretasb 11,8 11,3 3,2 2,7 4,7 4,5
Número estimado de óbitos
635 2474 1499 594 338 5052
a) Percentual de óbitos maternos em relação ao total de óbitos registrados com causa declarada entre mulheres de 10-49 anos. Sem correção para a
subnotificação de causas maternas.
b) Razão entre causas diretas e indiretas, para óbitos maternos registrados; sem correção.

a) Percentage of maternal deaths in relation to total number of reported deaths with a defined cause in 10-49 year old women. No correction for under-reporting
of maternal causes.
b) Ratio between direct and indirect causes , for registered maternal deaths; uncorrected .

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
48 Victora, C.G.
dor da magnitude do problema da mortali- 4.2 Causas proximais da mortalidade
dade materna. Como as causas diretas são materna
mais fáceis de prevenir através de serviços
de saúde adequados, altos índices indicam A Tabela 12 mostra as principais causas
uma situação precária. Os índices estão aci- de mortalidade materna, com base em
ma de 11 no Norte e Nordeste e são de cerca tabulações especiais fornecidas pelo Minis-
de 3 no Sul e Sudeste. tério da Saúde. Esta análise se restringe a
Outro teste de validade para as RMM es- 1996-97, visto que a revisão anterior (9a) da
timadas é investigar sua correlação com o Classificação Internacional de Doenças foi
CMI devido a causas perinatais (Tabela 4), utilizada até 1995.
visto que ambos têm vários determinantes Cerca de quatro em cada cinco mortes
em comum. O coeficiente de correlação foi registradas são por causas obstétricas diretas.
quase perfeito (r=0,94). Para o país como um O principal grupo entre essas é o das doenças
todo, houve 13,3 mortes por causas peri- hipertensivas, que inclui a eclâmpsia/toxemia
natais para cada morte materna. Os coefici- e síndromes relacionadas, responsável por
entes regionais foram de 11,9 (Norte), 14,9 23,6% das mortes maternas registradas. Em
(Nordeste), 13,0 (Sudeste), 9,4 (Sul) e 10,1 seguida vem a sepsis (8,1%) e problemas
(Centro-Oeste). Estes achados são extrema- hemorrágicos durante o parto (8,0%).
mente consistentes. Complicações relacionadas ao aborto
contabilizam 7,4% do total de mortes mater-
Resumindo: nas. Este número é certamente uma sub-
estimativa, visto ser o aborto induzido ilegal
A razão de mortalidade materna no Brasil no país, a não ser em casos de risco à vida da
foi estimada em 150-200 mortes por 100.000 mãe ou de estupro. Os médicos podem relu-
nascimentos vivos. tar, portanto, em informar a verdadeira cau-
sa da morte nessas circunstâncias.
As estatísticas oficiais baseadas em mortes Doenças da placenta, outros problemas
registradas não contabilizam cerca de três durante o parto, embolia e contrações
em cada quatro mortes maternas. uterinas anormais também causam uma
parcela significativa das mortes maternas.
As RMM são mais altas no Norte/Nordeste e Causas indiretas, que incluem problemas
mais baixas no Sul/Sudeste. médicos pré-existentes – doenças cardiovas-

Tabela 12. Distribuição de óbitos maternos conforme a causa registrada. Brasil, 1996-97.
Table 12. Maternal deaths according to registered cause. Brazil, 1996-97.

Grupo de causas Percentual dos óbitos maternos registrados


Doença hipertensiva da gravidez 23,6%
Sepse 8,1%
Hemorragias 8,0%
Abortamentos 7,4%
Condições da placenta 7,2%
Outras complicações do parto 6,6%
Embolia 4,0%
Contrações uterinas anormais 3,1%
Outras causas diretas 10,7%
Causas indiretas 21,3%
Total 100,0%

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
49 Vol. 4, Nº 1, 2001
culares, respiratórias, hepáticas, entre ou- tanto, consistiu de uma avaliação de inter-
tras, que são agravados pela gestação – são venções específicas contra as causas pro-
responsáveis por 21,3% de todas as mortes. ximais mais comuns. A seguir, informações
Um recente documento de agências in- disponíveis sobre a atual cobertura e quali-
ternacionais sobre a mortalidade materna126 dade das intervenções existentes foram ava-
estima que mundialmente as principais cau- liadas, assim como sua factibilidade. Não foi
sas de mortes maternas sejam a hemorragia possível quantificar o impacto estimado de
(25%), sepsis (15%), complicações relacio- cada intervenção, mas informações dispo-
nadas ao aborto (13%), doenças hipertensivas níveis foram utilizadas para relacioná-las em
(12%), obstrução do trabalho de parto (8%) ordem decrescente, segundo seu provável
e causas indiretas (20%). No Brasil, portan- impacto.
to, em comparação com contexto global, a Assim como ocorreu com a mortalidade
hipertensão tem um papel relativamente de menores de cinco anos, as intervenções
maior, sendo as hemorragias menos impor- recomendadas a seguir são necessárias es-
tantes. pecialmente no Norte e Nordeste, onde o
coeficiente de mortalidade é mais elevado.
Resumindo: Uma iniciativa extremamente válida, já
implantada na maioria dos estados brasilei-
As principais causas de mortes maternas ros, são os Comitês Estaduais de Mortalida-
registradas são as doenças hipertensivas da de Materna. Tais comitês investigam mortes
gestação, especialmente a eclâmpsia. maternas para descobrir como essas pode-
riam ter sido evitadas. Mesmo não repre-
Em seguida estão a sepsis e a hemorragia sentando uma intervenção direta na morta-
durante o parto. Mortes devidas a abortos lidade materna, estes comitês provavelmente
vêm em quarto lugar, mas o nível de sub- contribuirão para a identificação de priori-
notificação parece ser alto. dades e adaptação das intervenções às con-
dições locais.
Doenças da placenta, outros problemas du-
rante o parto, embolia e contrações uterinas 4.3.1 Melhorias no atendimento ao parto
anormais também são responsáveis por uma
parcela significativa das mortes maternas. Melhorar o atendimento ao parto é a
principal estratégia para reduzir o número
Causas obstétricas indiretas – doenças pré- de mortes por hemorragia, sepsis, doenças
existentes complicadas pela gestação – são da placenta, contrações uterinas anormais,
responsáveis por uma em cada cinco mortes. embolia, e outras complicações ocorridas
durante o parto. Estas causas são responsá-
4.3 Possíveis intervenções contra a veis por quase 40% das mortes maternas no
mortalidade materna Brasil. Melhorias no atendimento ao parto
poderão também contribuir para uma re-
Como mostra a Tabela 1, a literatura so- dução no número de mortes por doenças
bre mortalidade materna é consideravel- hipertensivas da gestação, aborto e outras
mente menos extensa do que a literatura causas diretas e indiretas.
sobre mortalidade infantil. Devido ao número Em sua maior parte, os problemas obs-
relativamente baixo de casos de morte ma- tétricos não podem ser detectados antes do
terna, a literatura brasileira não conta com início do trabalho de parto. Um atendimen-
nenhum estudo analítico – por exemplo, es- to ao parto adequado requer a presença de
tudos de casos e controles – para identificar uma equipe treinada, a disponibilidade dos
os fatores de risco mais importantes. equipamentos e medicamentos necessários
A abordagem usada para priorizar as (incluindo ocitocina, anti-hipertensivos e
medidas contra a mortalidade materna, por- anticonvulsivantes) e a capacidade para a

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


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50 Victora, C.G.
realização de anestesias, cesarianas de emer- verá não apenas incluir o treinamento de
gência e transfusões sangüíneas. pessoal e o fornecimento de equipamentos
Cerca de 92% do total de partos no Brasil e de suprimentos, mas também enfrentar
ocorrem em hospitais ou centros de saúde, questões relacionadas à maneira pela qual
e 88% são atendidos por profissionais trei- os serviços de saúde são financiados.
nados, especialmente médicos (77% do total
de partos). A Tabela 7 mostra que partos 4.3.2 Melhorias no atendimento pré-natal
domiciliares e partos sem atendimento por
profissionais treinados são mais freqüentes Melhorar a atenção pré-natal é essencial
na Região Norte. para prevenir mortes por doenças hiper-
Parteiras tradicionais realizam um gran- tensivas (24% das mortes maternas), hemor-
de número de partos no Norte e Nordeste, e ragia, sepsis e por outras causas diretas, além
estudos demonstram que as mesmas, com de permitir a indicação correta de cesaria-
um treinamento adequado, têm condições nas. Um pré-natal adequado é também es-
de identificar e encaminhar mulheres com sencial para a mortalidade por causas indi-
complicações no parto. No entanto, na au- retas (21% das mortes maternas).
sência de um sistema funcional e rápido de Como discutido na seção 3.3.1.1, há ur-
referência, é pouco provável que o treina- gente necessidade de melhorar a qualidade
mento de parteiras tradicionais tenha efeito do pré-natal no Brasil. Isso requer treina-
sobre a mortalidade materna, visto que o mento de pessoal e provisão de medicamen-
atendimento a complicações no parto re- tos e exames laboratoriais. Em termos da
quer pessoal e equipamentos especializados. cobertura do pré-natal (Tabela 7), são ne-
O treinamento extensivo de parteiras tradi- cessários investimentos no Norte e Nordes-
cionais (com duração de 6-12 meses, por te para promover sua utilização e possivel-
exemplo) ou sua substituição por agentes de mente aumentar sua acessibilidade em áre-
saúde especialmente treinados são possibi- as remotas.
lidades a serem exploradas. De especial importância é a prevenção e
Apesar da ampla cobertura de partos o tratamento da anemia durante a gestação,
institucionais, há indícios de que freqüen- que afeta não apenas as mortes por hemor-
temente a qualidade do atendimento é ina- ragia – devido ao maior risco para mulheres
dequada. Um estudo realizado nos hospitais que já apresentavam anemia – mas está tam-
de Pelotas mostrou que, em 1982, médicos bém associada à sepsis, sendo ainda uma
atenderam 70% dos partos de mulheres de importante causa obstétrica indireta. A ane-
baixo risco gestacional e apenas 57% daque- mia tem alta prevalência em todas as regiões
les que envolviam mulheres de alto risco, do país – na cidade de São Paulo, 35% das
devido provavelmente a diferenças nos ní- gestantes que freqüentaram serviços pré-
veis de remuneração oferecida. natais sofriam de anemia, sendo níveis simi-
Uma melhora no atendimento puerperal lares observados no Nordeste127 ,128 .
auxiliará na redução das mortes por sepsis Em relação à sepsis, um pré-natal ade-
(8,1% do total de mortes maternas), as quais quado pode contribuir para o tratamento
também podem ser prevenidas por cuida- precoce de infecções genitourinárias durante
dos com a assepsia durante o parto, um a gestação.
problema importante em partos domicilia-
res. Não foi possível encontrar estudos so- 4.3.3 Planejamento familiar
bre a qualidade do atendimento puerperal
no Brasil, mas não é provável que este não A anticoncepção é essencial para redu-
seja superior em qualidade ao atendimento zir o número de mortes relacionadas ao
ao parto ou pré-natal. aborto, através da prevenção da gravidez
Melhorar o atendimento ao parto no indesejada, além de prevenir a mortalidade
Brasil, portanto, é tarefa complexa, que de- por causas obstétricas indiretas, que fre-

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Victora, C.G.
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qüentemente afeta mulheres para as quais a Há algumas evidências indiretas de que
gravidez é contra-indicada. É difícil estimar as cesarianas possam estar contribuindo para
a freqüência de abortos induzidos, visto que a mortalidade materna. Em primeiro lugar,
o procedimento é ilegal, mas há evidências as diferenças regionais na mortalidade ma-
de ser esta uma prática difundida. Há esti- terna são menores do que para a mortalida-
mativas recentes de 1,4 milhão de abortos de infantil. Isto se opõe às tendências glo-
por ano no país, ou cerca de metade do nú- bais132 , visto que diferenciais socioeconô-
mero total de nascimentos129 . Além da mor- micos parecem afetar mais intensamente a
talidade materna, abortos ilegais podem con- mortalidade materna do que a infantil. Uma
tribuir para a morbidade e levar à infer- possível explicação é a de que a RMM no Sul
tilidade permanente. e Sudeste esteja inflada devido ao alto coefi-
Como discutido na seção 3.3.1.6, três ciente de cesarianas nessas regiões. Em se-
quartos das mulheres casadas do Brasil uti- gundo lugar, o fato de que a mortalidade
lizam anticoncepcionais (Tabela 7), mas um materna diminuiu na década de 1980, mas
grande número de abortos é realizado em não nos anos 1990, poderia ser explicado por
mulheres solteiras e jovens130 . Investimen- duas tendências contrárias: por um lado, a
tos visando aumentar o nível de utilização tendência secular à redução na mortalida-
de anticoncepcionais entre mulheres e ho- de, e por outro um aumento nas mortes de-
mens em idade reprodutiva são importan- vidas a cesarianas. Esta hipótese é altamente
tes para a redução a curto prazo do número especulativa, mas merece um estudo mais
de mortes relacionadas ao aborto. Ainda na aprofundado.
área da saúde, atenção adequada deve ser Reduzir os coeficientes de cesarianas é
disponibilizada para mulheres que realiza- uma tarefa muito complexa, pois envolve
ram abortos ilegais, embora estas freqüente- diversos setores da sociedade133 . No passa-
mente relutem em buscar atendimento. Não do, médicos e hospitais recebiam mais pela
foram encontrados estudos sobre a quali- realização de uma cesariana do que de um
dade da atenção pós-aborto. parto normal; embora isto não mais ocorra,
A solução a longo prazo para este pro- essa pode ter sido a causa inicial do grande
blema deverá envolver educação e legisla- aumento no número de cirurgias. Apesar do
ção. A legalização do aborto deverá ser dis- pagamento idêntico, e de recentes medidas
cutida, embora iniciativas recentes tenham penalizando hospitais com altos índices de
encontrado forte oposição. cesarianas, estas podem ser realizadas em
menos de uma hora, enquanto que um par-
4.3.4 Evitando as cesarianas desnecessárias to normal pode se estender por várias ho-
ras. Além disso, as gestantes foram ensina-
Estimativas quanto ao número de mor- das que cesarianas são indolores e tão segu-
tes maternas causadas por cesarianas des- ras quanto o parto normal; as mães de clas-
necessárias são difíceis de se obter, em parte ses econômicas mais elevadas apresentam
devido à relutância dos médicos em admitir os coeficientes mais altos de cesarianas, e
o caráter não essencial da cirurgia, ou mes- mães de classes mais baixas associam a ce-
mo que tenha sido esta a responsável pela sariana à excelência no atendimento médi-
morte. No entanto, toda e qualquer cirurgia co a que também almejam, o que resulta em
apresenta riscos de morte por hemorragia, freqüentes tentativas de persuadir o médico
infecções, ou complicações na anestesia. a optar pela cesariana134 . Por último, a proi-
Como foi dito anteriormente, infecções hos- bição (até recentemente) da esterilização no
pitalares são um problema importante no Brasil, fazia com que mães freqüentemente
Brasil131 ; o coeficiente nacional de cesaria- requisitassem cesarianas aos médicos para
nas de 36,4% – muito acima dos 15% reco- que simultaneamente pudesse ser feita uma
mendados – pode, portanto, ser responsá- laqueadura de trompas clandestina135 ; como
vel por parte da mortalidade materna. a previdência social não cobria tal procedi-

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mento, a família efetuava um pagamento concepção também contribuiria na preven-
adicional ao médico. ção das mortes obstétricas indiretas.
Não há intervenções comprovadamente
eficazes contra a realização desnecessária de Há evidencia indiretas de que cesarianas
cesarianas. Uma abordagem promissora, desnecessárias contribuem para um aumen-
atualmente sendo testada em seis países la- to na mortalidade, mas a factibilidade das
tino-americanos, é a necessidade de uma se- intervenções nessa área é baixa.
gunda opinião médica antes que qualquer
cesariana seja realizada133. 5. Conclusões e recomendações
Algumas evoluções recentes podem au-
xiliar na redução do coeficiente de cesaria- Os níveis de mortalidade materna e de
nas. A previdência social, até recentemente, menores de cinco anos no Brasil são inacei-
não cobria analgesia durante o parto; como tavelmente altos, tendo em vista o potencial
a cobertura se expandiu de modo a incluir econômico do país. As diferenças regionais
tal procedimento, há a possibilidade de uma são excessivamente grandes e eticamente
redução na demanda pelas gestantes, visto inadmissíveis.
que há a alternativa de um parto normal A mortalidade de menores de cinco anos
indolor. Além disso, a laqueadura de trom- vem caindo desde a década de 70, mas os
pas foi legalizada, sendo agora coberta pela níveis atuais ainda são cerca de dez vezes
previdência como cirurgia isolada, reduzin- mais elevados do que nos países mais de-
do, assim, a necessidade da realização de uma senvolvidos. Os níveis de mortalidade ma-
cesariana para possibilitar a esterilização. A terna parecem ter se estabilizado desde o
efetividade de tais medidas na redução do início da década de 1990, sendo atualmente
número de cesarianas ainda está por ser do- em torno de 25-30 vezes mais elevados do
cumentada. que nos países desenvolvidos.
As seções 3 e 4 relacionam as principais
Resumindo: conclusões e recomendações para a preven-
ção da mortalidade materna e de menores
Devido à falta de estudos detalhados, as in- de cinco anos. É positivo o fato de que as
tervenções foram priorizadas de acordo com intervenções com maior potencial de redu-
a proporção de mortes teoricamente ção da mortalidade de menores de cinco
preveníveis e com sua factibilidade. anos – melhorias no atendimento ao parto e
na atenção pré-natal – são também as mais
A primeira prioridade seria uma melhoria promissoras contra a mortalidade materna.
no atendimento ao parto, especialmente em Com base nas conclusões das seções 3 e 4, as
termos qualitativos. Pelo menos 40% das principais recomendações são as seguintes:
mortes maternas no Brasil estão relaciona-
das a práticas inadequadas de atendimento Melhorar a eqüidade através da prio-
ao parto. rização das intervenções nas regiões Norte e
Nordeste, em particular nas áreas rurais.
Uma melhoria na qualidade da atenção pré- Assegurar a sustentabilidade do progres-
natal, e de sua cobertura no Norte e Nordes- so já alcançado nas áreas de imunização,
te, contribuirá na prevenção de mortes por TRO, planejamento familiar e outras áreas
hipertensão, causas obstétricas indiretas, in- com experiências positivas.
fecções e outras causas. Investir na melhora da qualidade do aten-
dimento ao parto e da atenção pré-natal, as-
A curto prazo, a chave para a redução de sim como da cobertura do pré-natal em re-
mortes devidas a abortos é a melhora no giões específicas.
acesso a anticoncepcionais, especialmente Investir no manejo de casos integrado
por parte de mulheres jovens. A anti- de doenças infantis, planejamento familiar,

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53 Vol. 4, Nº 1, 2001
promoção do aleitamento materno e vacina BEMFAM, pelo fornecimento de dados
anti-Hib essenciais e de literatura para a revisão;

Agradecimentos Fernando Barros e Mariângela Silveira, por


sua revisão crítica;
Este trabalho foi financiado pelo Banco
Mundial. Agradeço o apoio de Varun Gauri Gabriel Victora, pela tradução do original em
por suas inúmeras contribuições no decor- inglês;
rer de todo o processo de planejamento,
execução e redação da monografia. e, particularmente, Rosângela Costa
Especiais agradecimentos para os seguin- Lima pela assistência bibliográfica.
tes colegas:
Celso Simões, do IBGE, que generosamente Possível conflito de interesses
forneceu vários conjuntos de tabulações
especiais sobre mortalidade infantil; O autor deste relatório tem atuado em di-
versas ocasiões como consultor da Organiza-
Ana Goretti Maranhão e Hélio de Oliveira, ção Mundial da Saúde, Divisão de Saúde In-
do Ministério da Saúde, Carolina Siu da fantil e do Adolescente, para a avaliação inter-
UNICEF, Nelson Arns Neumman da Pas- nacional da estratégia de Atenção Integral às
toral da Criança e Elizabeth Ferraz da Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI).

Executive Summary

Introduction A thorough review of the Brazilian lit-


erature on levels, trends and determinants
The present paper’s purpose is to analyze of infant, child and maternal mortality led to
potential interventions to improve the health the identification of about 600 papers and
of mothers and children in Brazil, through a books; after an initial screening, about 200
review of the literature and of existing data were selected for full examination. These
sources, resulting in a ranking of interven- provided the background for the analyses of
tions according to likely impact. risk factors and potential interventions.
The following criteria were used to
Methodology prioritize interventions for the further re-
duction of mortality: a) potential impact,
Two main sources of mortality data were based on the proportion of underfive deaths
used in this review: indirect mortality esti- amenable to the intervention; b) effective-
mates based on censuses and surveys, and ness; c) scope for further improvement in
rates based on registered deaths. The latter coverage, based on current levels; d) feasi-
were corrected for under-registration and bility; e) equity; f) cost and g) sustainability.
errors in the assignment of the cause of death Cost and sustainability considerations will be
(for maternal causes). A combination of the added to a later version of this document.
two sources of data allowed the estimation of When reliable data on intervention coverage
cause-specific mortality rates for underfives. or efficacy were not available, the author’s
Data on current coverage of preventive best judgment was used to rank its likely im-
and curative interventions were mostly ob- pact. When data was available, a mathemati-
tained from the 1996 Demographic and cal simulation was carried out to estimate
Health Survey. Other national household the likely impact of a feasible improvement
surveys and Ministry of Health Statistics were in intervention coverage.
also used.

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
54 Victora, C.G.
Underfive mortality levels and trends antenatal and delivery care are urgently
needed. It was not possible to make precise
Underfive mortality levels fell by about estimates of the potential impact of these
40-50% between 1985-87 and 1995-97. Nev- interventions, but since half of all underfive
ertheless, the estimated infant mortality rate deaths take place in the first month of life,
for 1995-97 is still 38 deaths per thousand and current quality of care is low, important
live births, about eight times higher than in gains can be achieved.
the lowest mortality countries in the world. Other priorities include improved case-
Mortality levels are highest in the North- management of infectious diseases (that would
east and North, and lowest in the South and theoretically prevent about 11% of underfive
Southeast; the Center-West falls in between. deaths), birth spacing (8%), breastfeeding pro-
Since surveys of the North region do not motion (4%) and vaccination against
cover rural areas, mortality for this region Haemophilus influenza type b (3%).
may be underestimated. Improving birthweight might lead to a
Perinatal causes account for half of all 7% reduction in underfive mortality but the
underfive deaths. Unlike most causes of efficacy of available interventions is low. Sev-
death, mortality due to these causes is hardly eral other interventions were assessed and
falling. The North and Northeast show par- their additional impact and/or feasibility was
ticularly high rates. judged to be low: less than 2% of underfive
Deaths due to infectious diseases - pneu- deaths would be prevented by each of them.
monia, diarrhea and other infections - ac- These included: improving maternal nutri-
count respectively for 12.2%, 8.0% and 8.1% tion, reducing maternal smoking, reducing
of underfive deaths. These causes, particu- crowding, improving child nutrition, pre-
larly diarrhea, are decreasing rapidly but still venting congenital malformations, vitamin
account for many deaths in the North and A supplementation, improving water and
Northeast. sanitation, and preventing injuries.
Congenital malformations represent The IMCI strategy integrates case-man-
10.5% and injuries account for 5.0% of agement of infectious diseases, breastfeeding
underfive deaths. Both conditions are diffi- promotion and other child survival activi-
cult to prevent. ties, and could possibly lead to a reduction
of about 15% in underfive mortality at the
Interventions against underfive mortality national level, and of over 20% in the North
and Northeast.
A first priority for the further reduction
in underfive mortality in Brazil is to improve Maternal mortality levels and trends
equity among regions, since the North-
Northeast, and particularly its rural areas, Official statistics based on registered
still show high death rates due to causes that deaths fail to report about three in each four
have been greatly reduced in the rest of the maternal deaths. The true maternal mortal-
country, such as infectious diseases. ity ratio for Brazil is estimated at 150-200
A second priority is to ensure the deaths per 100,000 live births, about 25-30
sustainability of important achievements in times greater than for the lowest mortality
areas such as immunization coverage, fam- countries. Mortality ratios are highest in the
ily planning and diarrhea management, North/Northeast and lowest in the South-
which contributed to the marked decline in east/South. The ratios decreased in the 1980’s
mortality in the last decade. but appear to have stabilized in the 1990’s.
Further reductions in underfive mortal- The leading causes of registered mater-
ity will largely depend on decreasing deaths nal deaths are hypertensive disorders of preg-
due to perinatal causes. Improvements in the nancy, particularly eclampsia. These are fol-
coverage and particularly in the quality of lowed by sepsis and hemorrhage during

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childbirth. Deaths due to abortion come in hypertension, indirect obstetric causes, in-
fourth place but under-reporting appears to fections and other causes.
be severe. Placental disorders, other com- In the short term, the key to reducing
plications of labor, embolism and abnormal deaths due to abortion is improving contra-
uterine contractions each also cause a sig- ceptive availability, particularly to young and
nificant share of maternal deaths. Indirect unmarried women. Improved contraception
obstetric causes - preexisting diseases that will also help reduce indirect obstetric deaths.
are complicated by pregnancy - account for There is indirect evidence that unneces-
one in five maternal deaths. sary c-sections are contributing to increase
maternal mortality, but the feasibility of in-
Interventions on maternal mortality terventions in this area is low.

The information available on interven- Conclusions


tion coverage, quality and efficacy did not
permit mathematical simulations of the most Mortality levels for Brazilian children and
likely impacts. Thus, interventions were mothers are many times higher than those
prioritized on the basis of the share of deaths in developed countries. The key interventions
they could theoretically prevent and on their for reducing these unacceptably high rates
feasibility. include improving equity, by investing in the
The first priority would be improving Northeast and North regions, ensuring the
delivery care, particularly in qualitative terms. sustainability of current achievements, and
At least 40% of maternal deaths in Brazil investing heavily in the improvement of de-
could be prevented by adequate delivery livery and antenatal care services, where in-
practices. adequate coverage and poor quality are now
Secondly, improving the quality of ante- responsible for half of all underfive deaths
natal care, and its coverage in the North and and for most maternal deaths in the coun-
Northeast, will help prevent deaths due to try.

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Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
61 Vol. 4, Nº 1, 2001
Lista de abreviaturas

AIDPI Atenção Integral às Doenças Prevalentes na Infância (OMS/UNICEF)


AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
BCG Bacilo Calmette-Guerin (vacina contra a tuberculose)
BEMFAM Sociedade Brasileira para o Bem-estar Familiar
BPN Baixo Peso ao Nascer (inferior a 2500 g)
CMI Coeficiente de Mortalidade Infantil
CMPE Coeficiente de Mortalidade Pré-escolar
DPT Vacina contra Difteria, Tétano e Coqueluche
Hib Haemophilus influenzae tipo b
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana
IMC Índice de Massa Corporal
IRA Infecções Respiratórias Agudas
IBGE Instituto Nacional de Geografia e Estatística
LILACS Banco de dados de Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde
MEDLINE Banco de dados da National Library of Medicine
NCHS National Center for Health Statistics (Centro Nacional para Estatísticas de
Saúde - EUA)
OMS Organização Mundial da Saúde
OPAS Organização Pan-americana da Saúde
PACS Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde
POPLINE Banco de dados sobre população da Johns Hopkins University
PNAD Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde
PNSN Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (1989)
RAMOS Inquéritos de Mortalidade em Idade Reprodutiva
RCIU Retardo de Crescimento Intrauterino
RMM Razão de Mortalidade Materna
SIM Sistema de Informações sobre Mortalidade
SINASC Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos
TRO Terapia de Reidratação Oral
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
VRS Vírus Respiratório Sincicial

Rev. Bras. Epidemiol. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Vol. 4, Nº 1, 2001
62 Victora, C.G.
Anexo A

Resultados da revisão da literatura brasileira


sobre fatores de risco para mortalidade de
menores de cinco anos

Observação: Inclui apenas estudos que levaram em conta variáveis


socioeconômicas como possíveis fatores de confusão.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil Rev. Bras. Epidemiol.


Victora, C.G.
63 Vol. 4, Nº 1, 2001
Vol. 4, Nº 1, 2001
Rev. Bras. Epidemiol.
64
Tabela A1. Revisão da literatura sobre riscos de mortalidade associados com a atenção pré-natal.

Victora, C.G.
Table A1. Literature review on risks of mortality associated with antenatal care.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Tabela A2. Revisão da literatura sobre riscos de mortalidade associados com o baixo peso ao nascer.
Table A2. Literature review on risks of mortality associated with low birthweight.

Victora, C.G.
Intervenções para reduzir a mortalidade infantil
65
Vol. 4, Nº 1, 2001
Rev. Bras. Epidemiol.
Vol. 4, Nº 1, 2001
Rev. Bras. Epidemiol.
66
Victora, C.G.
Tabela A3. Revisão da literatura sobre riscos de mortalidade associados à idade materna.
Table A3. Literature review on risks of mortality associated with maternal age

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


Tabela A4. Revisão da literatura sobre riscos de mortalidade associados com o intervalo interpartal.
Table A4. Literature review on risks of mortality associated with birth spacing

Victora, C.G.
Intervenções para reduzir a mortalidade infantil
67
Vol. 4, Nº 1, 2001
Rev. Bras. Epidemiol.
Vol. 4, Nº 1, 2001
Rev. Bras. Epidemiol.
68
Victora, C.G.
Tabela A5. Revisão da literatura sobre riscos de mortalidade associados com a ordem de nascimento ou paridade.
Table A5. Literature review on risks of mortality associated with birth order or parity.

Intervenções para reduzir a mortalidade infantil


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