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LISTA DE ANEXOS
Assim, uma bacia hidrográfica com as dimensões territoriais da drenada pelo rio Xingu
(509.000km2) embora constitua uma unidade territorial, contém heterogeneidades locais,
representada pela fisiografia de seu território, pelas formas de uso que se estabelecem dentro
de seus limites e pelos diferentes biomas que ela encerra. De forma similar, as áreas propostas
como AII e AID/ADA do empreendimento são porções territoriais que em escala regional
apresentam características semelhantes; no entanto, na medida em que se amplia o foco, as
diversidades são realçadas, podendo-se identificar unidades cada vez menores, porém, com
maior grau de homogeneidade.
A partir desse referencial buscou-se uma etapa de maior integração, agregando os resultados
apresentados para cada componente-síntese em uma mesma base espacial. Nesse sentido, para
a integração da compartimentação territorial da bacia adotou-se uma primeira divisão
utilizando elementos do meio físico natural. Essa subdivisão corresponde a diferentes
características geológicas, pedológicas e de modelado do terreno, conforme pode ser
visualizado na FIGURA 9.1-1.
Nessa subdivisão dos compartimentos em unidades menores adotou-se como base a divisão
proposta para o ecossistema terrestre na Atualização do Inventário Hidrelétrico da Bacia do
rio Xingu (ELETROBRÁS, 2007).
Como principal elemento definidor destas unidades, dentro de cada compartimento, levou-se
em especial consideração os domínios vegetacionais uma vez que eles refletem as condições
da biota local, além das formas de ocupação, resultantes da dinâmica das atividades
antrópicas, responsável pela transformação das paisagens naturais da região.
Alto
Xingu Alto Xingu Pecuária
Formações da Serra do
Cachimbo
Baixo
Xingu
Ria do Xingu
Ria do Xingu
Em contraposição a esse quadro de avanço da ação antrópica, tem-se que grande parte do
território da bacia é constituída de áreas legalmente protegidas, seja como Unidades de
Conservação, seja como Terras Indígenas.
No caso da compartimentação da AID/ADA, optou-se por uma divisão baseada nos sítios de
intervenção do empreendimento, uma vez que eles representam os locais onde incidirão os
principais impactos ambientais tanto na fase construtiva do empreendimento quanto nas
subseqüentes. Ainda no QUADRO 9.1-1 pode-se ver que os quatro compartimentos que
compõem esta área de influência estão correlacionados aos trechos Médio e Baixo Xingu,
correspondendo à zona de transição de domínios bem marcados por características estruturais,
topográficas e hidrológicas que, em conjunto, definem o potencial hidroenergético do AHE
Belo Monte.
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FIGURA 9.1-2 – Uso do solo e cobertura vegetal
Para a ictiofauna, a partir dos dados disponíveis procurou-se ressaltar a riqueza de espécies na
bacia, os ambientes que favorecem os endemismos e as espécies reofílicas, tais como
corredeiras e cachoeiras, e aqueles importantes para a reprodução e alimentação, como as
várzeas e as lagoas marginais. Levou-se em conta também as áreas consideradas prioritárias
para a conservação (MMA, 2007), tanto por sua riqueza faunística quanto pelo grau de
desconhecimento, no que se refere à sua composição zoológica.
Dentro desse compartimento há que se distinguir a parte sul, região de domínio das savanas
com presença de topografia mais elevada, variando entre 400 e 750m, onde ocorrem
associações de terrenos caracterizados por colinas, rampas e morros residuais. A litologia
predominante corresponde a arenitos, siltitos e folhelhos, que sustentam Latossoslos e
Argissolos nas partes mais planas e Neossolos e Plintossolos nas áreas de maior declive. Esses
solos são de baixa fertilidade, com problemas de toxidez por alumínio e sujeitos à erosão
laminar e em sulcos.
Do ponto de vista hidrológico a parte mais ao sul, corresponde às nascentes dos formadores
do rio Xingu (Culuene e Sete de Setembro); às águas emendadas na cabeceira do rio Sete de
Setembro, e às cabeceiras do Von den Stein, Ronuro, Tamitatoala, Curisevo e Suiá-miçu. A
rede de drenagem desse trecho reflete um forte condicionamento estrutural e marca mudanças
na tipologia dos canais de drenagem, apresentando pequeno volume de água, declividade
geralmente acentuada e dependente da entrada de matéria orgânica do ambiente terrestre para
sustento da comunidade aquática
O restante da área inserida no alto curso do rio Xingu é caracterizado pela ocorrência de
amplas planícies aluviais em uma situação que pode ser considerada anômala em relação aos
demais cursos de água da bacia. Apresenta rios com alta sinuosidade, meândricos, associados
a extensas planícies de inundação, compreendendo o alto curso do rio Xingu até a cachoeira
de Von Martius e parte ou a totalidade de rios como o Suiá-Miçu, Curisevo, Tuatuari,
Tamitatoala, Ronuro, Auiá-miçu, Manissauá-miçu, Huiá-miçu e Paturi.
Além de sua importância como criadouro e local de provimento de recursos tróficos para a
ictiofauna, os ambientes aquáticos dessa unidade caracterizam-se por um grande número de
espécies raras, citando-se Leporinus desmotes, Leporinus friderici, Schizodon vittatus,
Curimatella dorsalis, Hemiodus microlepis, Electrophorus electricus, Gymnorhamphichthys
hypostomus, Eigenmania cf. macrops, E. virescens e Hemisorubim platyrhyncus. Citam-se
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também espécies ornamentais como Corydoras xinguensis, Hypostomus cf. emarginatus,
Hopiancistrus tricornis, Pimelodus ornatus e Peckoltia vittata.
Os desmatamentos nos altos cursos dos rios e uso de insumos agrícolas podem gerar
comprometimento dos ambientes aquáticos e dos recursos hídricos e pesqueiros para a
população indígena e ribeirinhos.
Nos poucos dados de qualidade da água disponíveis para essa área devem ser ressaltados os
valores baixos de condutividade dos rios amostrados na época seca e seu aumento
significativo na época chuvosa, mostrando que o efeito da sazonalidade do clima contribui
para o carreamento de nutrientes e de sedimentos e seu depósito parcial nas planícies aluviais.
Podem-se notar também valores altos de fósforo e nitrogênio em algumas amostras, que
devem estar relacionados ao tipo e a intensidade do uso do solo, uma vez que a região detém
extensas áreas de cultivo de grãos, e ao efeito exportador de matéria orgânica das áreas
alagadas, durante esta estação.
Em contraposição deve-se também levar em conta que o trecho correspondente ao alto curso
do rio Xingu tem como particularidade a inserção do Parque Indígena do Xingu, além de
outras Terras Indígenas e Unidades de Conservação, que atuam como fatores de preservação
dos recursos hídricos do ponto de vista qualitativo e quantitativo.
Quanto ao uso dos recursos hídricos, estudos publicados pela ANA (MMA, 2005) revelam
para toda a região hidrográfica Amazônica um índice inferior a 5%, tido como excelente. A
bacia do rio Xingu se insere neste panorama, antevendo-se que não há conflitos do ponto de
vista quantitativo quando se considera os usos das águas no contexto global da bacia
hidrográfica. No entanto, a faixa de nascentes dos formadores e de alguns importantes
afluentes do rio Xingu, região considerada estratégica para preservação dos recursos hídricos
do ponto de vista qualitativo e quantitativo, já demonstra níveis preocupantes de degradação
ambiental que pode se refletir nos demais setores da bacia hidrográfica a jusante.
Os principais usos dos recursos hídricos que envolvem derivação de águas na bacia estão
associados ao abastecimento humano e à agropecuária, particularmente irrigação das culturas
de grãos, sobressaindo neste aspecto a porção territorial inserida no Alto curso do rio Xingu, e
a dessedentação do gado, nas áreas que bordejam a bacia, especialmente na borda leste. O uso
industrial é pouco significativo na bacia, motivo pelo qual não foi incluído na estimativa
global das demandas hídricas.
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Nesse compartimento do Alto Xingu deve-se ressaltar que levantamentos realizados em
alguns municípios do norte do estado do Mato Grosso, incluídos na bacia, registraram 67
sítios arqueológicos até o momento; em sua maioria (50 sítios) são sítios cerâmicos a céu
aberto e ocorrem principalmente nos municípios de Paranatinga (27) e São Félix do Aragauia.
Essa área situa-se no extremo sul da bacia hidrográfica, abrangendo territórios de municípios
do Estado do Mato Grosso como Campinópolis, Planalto da Serra, Água Boa entre outros. Os
municípios situados na porção oriental são polarizados por Barra do Garça e os da parte
ocidental estão ligados a Sinop(situado nas proximidades da bacia); apenas Paranatinga, Nova
Brasilândia e Planalto da Serra são polarizados por Cuiabá.
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IDH – O Diagnóstico da Área de Abrangência Regional do Meio Socioeconômico e Cultural deste EIA
classifica o IDH dos municípios da bacia do rio Xingu em três classes, a saber: Baixo – quando o IDH está entre
0,000 e 0,499; Médio – IDH entre 0,500 e 0,799; e Alto – IDH entre 0,800 e 1,000.
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As características dos terrenos e, principalmente, do clima sazonal, com déficits hídricos
acentuados em parte do ano, condicionam a presença de savanas, constituindo-se em uma
faixa que marca o limite norte dos Cerrados nessa região.
As reservas legais dessa região têm percentuais variáveis; elas correspondem a 80% da
propriedade quando recobertas por formações florestais e 35% quando as formações são de
Cerrado. Estas variações dificultam a avaliação da situação dos municípios em relação ao
mínimo de cobertura vegetal estabelecido pela legislação. Verifica-se, entretanto, a presença
de manchas remanescentes de savanas, em meio a grandes áreas ocupadas.
Em função da íntima relação com o meio terrestre circunvizinho, essas regiões sofrem intensa
pressão oriunda da alteração da bacia de drenagem, podendo esta se refletir a jusante, apesar
do efeito diluidor representado pelo aumento progressivo das vazões.
As informações sobre a composição ictiofaunística nessa unidade são escassas; apesar disso,
espécies raras estão registradas nesse trecho da bacia, assim como de interesse comercial. No
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primeiro caso, citam-se Cyphocharax spiluropsis, Steindachnerina cf.amazonica e, no
segundo, (Rhaphiodon vulpinus, Hoplias cf. malabaricus). Em síntese, as principais
características definidoras desta área relacionam-se com a predominância de organismos de
menor porte e reduzida diversidade de espécies, porém com alta probabilidade de ocorrência
de endemismos.
Ao contrário do que ocorre com a fauna amazônica, no Cerrado os rios não apresentam papel
significante como barreira à dispersão de espécies da fauna de vertebrados. Isso se deve
principalmente a grande capacidade de dispersão desses organismos. A fauna amazônica é
composta em grande parte por espécies típicas do interior da floresta, enquanto que a grande
maioria das espécies do Cerrado é típica de áreas abertas.
Nessa unidade situam-se várias TIs de pequena extensão e a RECEC do Culuene, também de
pequeno porte; estas áreas sofrem forte pressão devido ao avanço da fronteira agrícola,
registrando uma série de desmatamentos dentro dessas unidades de conservação e proteção.
No entanto, por se tratar de uma região de transição entre o cerrado do Planalto Central e as
formações florestais da Amazônia, e por abrigar os formadores do rio Xingu essa região é
classificada no Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica
brasileira – PROBIO como Áreas de Extrema Importância para Conservação.
Situa-se a leste da região do Alto Xingu, em setor da bacia caracterizado por clima sazonal
com déficit hídrico em parte do ano. Ocupa rampas detrito-lateríticas do Planalto do Alto
Xingu/Parecis, em solos com baixa suscetibilidade à erosão e adequados à mecanização.
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Há uma variação faunística importante nessas formações florestais ecotonais, embora a
distinção entre a fauna da Floresta Ombrófila e da Floresta Estacional não seja clara. Contudo,
são conhecidas algumas espécies cuja distribuição está restrita à periferia da Amazônia
(Sclerurus albigularis, por exemplo, espécie de ave associada a esses ambientes periféricos).
Essa unidade apresenta extensas áreas de pecuária, atividade introduzida na década de 1970 e
em expansão atualmente; observam-se desflorestamentos recentes atingindo remanescentes
florestais. Secundariamente apresenta usos diversos associados à agropecuária e extrativismo
de borracha, madeira e lenha.
A taxa de urbanização dos municípios desta unidade (listados no QUADRO 9.2-1) é variável,
mas de modo geral, mantem-se ao redor de 50%. O indice de Desenvolvimento Humano -
IDH apresenta valores médios (0,70) e a infra-estrutura de saneamento é deficitária.
Unidade que tem como fator determinante para sua individualização a cobertura florestal e o
uso do solo, com predomínio de culturas cíclicas, apresentando como peculiaridade elevadas
taxas de desflorestamentos recentes e em curso.
Ocupa uma extensa faixa localizada na porção centro-sul do compartimento Alto Xingu, sobre
as rampas detrito-lateríticas do Planalto do Alto Xingu/Parecis, em solos sem restrições à
mecanização, embora necessitem correção e adubação. O clima tem características de
transição, entre a forte sazonalidade típica do bioma dos Cerrados e o bioma Amazônico.
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“Floresta Associada ao Planalto dos Parecis”. Também nesse trecho podem ser esperadas
espécies animais com distribuição restrita à periferia da Amazônia.
É uma área onde a ocupação se deu recentemente constituindo, portanto, uma região em que
processos de alteração da dinâmica da paisagem estão em curso. Predominam nessa unidade
culturas cíclicas tecnificadas, principalmente soja, nas áreas não protegidas e a pecuária
extensiva. Como os solos necessitam correção e adubação, pode-se esperar importante aporte
de insumos o que, somado aos efeitos adversos decorrentes da supressão da cobertura vegetal
na unidade Savanas Meridionais, podem determinar alterações nos cursos d’água e nos
recursos hídricos superficiais e subterrâneos, devido à exportação de nutrientes do sistema
terrestre.
Essa ocupação da área originou-se com a abertura da BR-163 no início dos anos setenta,
consolidando-se com os projetos privados de colonização dos anos oitenta. Nesse período,
predominava na economia regional a pecuária bovina e a extração madeireira, secundados
pela produção de arroz. Entretanto, a rápida penetração da soja no Centro-Norte do Estado,
notadamente no eixo Nova Mutum/Sorriso, provocou o deslocamento das antigas atividades
para o extremo Norte, particularmente da pecuária.
A urbanização das cidades dessa unidade apresenta uma estrutura produtiva diversificada e as
atividades urbanas estão estreitamente vinculadas às atividades de pecuária, da agricultura
moderna e da extração madeireira. Essa unidade é a que apresenta o ritmo mais significativo
de crescimento, em decorrência da influência de Sinop (com sede nas margens da BR-163,
esse município está localizado na borda sudoeste da bacia e possui pequena parte de seu
território dentro da bacia do rio Xingu) em seu espaço polarizador.
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A paisagem fragmentada caracteriza-se pela presença de grandes manchas de remanescentes
florestais, com limites abruptos e geométricos, em meio a grandes extensões de pastagens e de
agrossistemas. Aparentemente, os desmatamentos ocorrem de forma isolada e coalescente,
com evidente substituição da matriz florestal original para agropecuária (atualmente ocupando
cerca de 37% da unidade).
Essa área é classificada como Área de Muito Alta Importância para Conservação, apesar do
avanço da fronteira agrícola; sua fragilidade é caracterizada pelo conflito desmatamento
versus extensas áreas bem conservadas, estas representadas pelo Parque Indígena do Xingu e
outras TIs de menor porte. Outro fator de conflito é a utilização intensiva de insumos
agrícolas que poderá vir a comprometer as águas do rio Xingu e seus afluentes nesse trecho da
bacia, o que poderá seu uso pela população indígena e de ribeirinhos que vivem às margens
desses cursos de água.
O cenário tendencial dessa região, mantida a situação atual de ausência de controle das
atividades econômicas, é o de forte redução da diversidade biológica nas áreas não protegidas,
invasões e isolamento das TIs e UCs, com comprometimento de ambientes aquáticos e dos
recursos hídricos e pesqueiros, em um setor da bacia hidrográfica muito pouco conhecido em
seus aspectos bióticos.
Corresponde à área delimitada a sudoeste da bacia hidrográfica, ainda sobre as rampas detrito-
lateríticas do Planalto do Alto Xingu/Parecis, em solos com boa porosidade, profundos, pouco
suscetíveis a processos erosivos e adequados à mecanização. Compreende as sub-bacias de
tributários da margem esquerda do alto curso do rio Xingu: Huaiá-Miçu e contribuintes da
margem esquerda do rio Arraias.
Difere da unidade anterior pelo padrão de ocupação, ainda incipiente, embora com taxas de
desflorestamentos elevadas, determinando situações muito graves (município de Nova Santa
Helena, Guarantã do Norte) e graves (Matupá e Peixoto Azevedo). Apenas União do Sul
permanece com taxas de desflorestamento dentro dos limites previstos para a Amazônia
Legal, correspondentes a 20% da área.
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exemplo é vira-folha-de-garganta-cinza (Sclerurus albigularis), espécie de ave associada a
esses ambientes periféricos da Amazônia, entrando por essas formações estacionais, sem, no
entanto, ocorrer nas porções centrais do bioma. Este padrão de distribuição peri-amazônica é
descrito para várias espécies animais. Provavelmente, as diferenças entre a floresta ombrófila
e a floresta estacional, na região estudada, são determinantes da distribuição de vários táxons,
entretanto, este tal fato deve ser mais bem estudado.
Também nesta unidade é registrado o avanço da fronteira agrícola, com expansão das culturas
cíclicas e pastagens sobre as florestas; no entanto é uma ocupação mais recente mas que já
altera a paisagem natural e compromete a diversidade biológica.
De modo geral os municípios dessa unidade (Marcelândia, Cláudia, União do Sul, Santa
Carmem e Vera e parte leste de Sinop) apresentam alta taxa de urbanização, de 60% a 70%.
Esses municípios são polarizados por Sinop e situam-se próximos ao eixo da BR 163. Devido
a essa posição estratégica, com a possibilidade de asfaltamento dessa rodovia, a atividade de
extrativismo vegetal vem sendo rapidamente substituída pela pecuária de corte e pela
produção de grãos.
Essa unidade ocupa a porção central da bacia do rio Xingu em seu alto curso e seu limite
corresponde ao das TIs existentes nesse trecho da bacia.
Apresenta extensa cobertura florestal contínua, associada às formações pioneiras das planícies
fluviais do rio Xingu e de seus afluentes, revestindo as rampas do Planalto do Alto
Xingu/Parecis, contrastando com as áreas vizinhas, marcadas pela fragmentação e conversão
em áreas de pastagem ou culturas cíclicas.
Apesar de guardar grande semelhança com as Florestas Estacionais a fauna destas unidades
difere em razão das diferenças ambientais existentes entre as formações ombrófilas e aquelas
de transição ombrófila/estacional.
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A Área de Endemismo Pará 2, correspondente à margem direita tem como representantes
exclusibos o cuxiú-preto (Chiropotes satanás), entre os primatas e, entre as aves, jacamim-de-
costas-verdes (Psohpia viridis interjecta), a mãe-de-taoca (Phlegopsis nigromaculata
confinis), e a papa-taoca (Pyriglena leuconota interposita0. Pode ser evidenciada ainda uma
diferenciação ao sul, na região do Planalto dos Parecis/Alto Xingu, na transição Floresta
Ombrófila e Floresta Estacional, onde a fauna se distingue em razão do caráter de transição
condicionando a ocorrência de espécies como vira-folhas-de-garganta-cinza (Sclerurus
albigularis), que apresentam padrões de distribuição peri-amazônico.
Outra característica marcante desta área corresponde à hidrografia, caracterizada por rios
afluentes do rio Xingu, com amplas planícies de inundação nos baixos cursos.
Diferentemente das demais unidades do Alto Xingu, esta se encontra sob proteção legal,
fazendo parte da TI Parque Indígena do Xingu. Prevalecem atividades de extrativismo
florestal, caça e pesca, bem como pequenas roças. As áreas desprovidas de cobertura vegetal
são de pequenas extensões e, de modo geral, relacionadas às aldeias. Apesar das restrições de
uso impostas pela criação do Parque, a área é considerada de Prioridade Muito Alta para
Conservação.
Nos limites externos dessa unidade, ocorrem extensas áreas de desflorestamentos recentes o
que fazem antever futuros conflitos devido à expansão desses desflorestamentos, promovendo
o isolamento do Parque e a degradação de recursos hídricos e pesqueiros, podendo interferir
no modo de vida indígena. A pressão sobre formações florestais pode se dar não apenas pela
sua supressão, mas pelo efeito de borda, como fator de degradação da paisagem e do aumento
da suscetibilidade das florestas às perturbações. Essa pressão sobre o Parque do Xingu ocorre
tanto nas áreas limítrofes da margem esquerda quanto na margem direita.
Ainda que os municípios com território (ver QUADRO 9.2-1) nessa unidade apresentem
médias e altas taxas de urbanização, nesta unidade específica os indicadores sociais e
econômicos municipais não são representativos uma vez que ela é quase exclusivamente
habitada por povos indígenas e populações tradicionais, cujos modos de vida não são medidos
por esses indicadores.
A pesca tem-se despontado como atividade turística na região, que começa a ser praticada
também como uma opção para o turismo fotográfico e de aventura. Há ainda um incipiente
turismo cultural envolvendo as comunidades indígenas do Parque Xingu. De acordo com
agências turísticas, há um aumento crescente de turistas na região do Alto Xingu não somente
na temporada de pesca, mas também em outras datas.
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QUADRO 9.2-1
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Alto Rio Xingu
Continua
Cabeceiras dos Formadores do Rio
Características Ambientais Alto Xingu Agrícola Alto Xingu Pecuária Alto Xingu Extrativismo Parque Indígena do Xingu
Xingu
Localização na Bacia Extremo sul do alto curso do rio Xingu. Centro-Sul/Sudoeste/Sudeste Sudeste (Margem Direita). Sudoeste (margem esquerda). Posição central no alto curso, abrangendo o Parque do Xingu
Municípios polarizados por Cuiabá:
Municípios polarizados por Cuiabá:
Nova Brasilândia, Planalto da Serra,
Organização Territorial Paranatinga. Municípios polarizados Municípios polarizados por São Felix Municípios polarizados por Sinop: Municípios polarizados por Cuiabá: Paranatinga. Municípios
Paranatinga. Municípios polarizados
(municípios parcial ou por Barra do Garças: Gaúcha do norte, do Araguaia: São José do Xingu, Porto Marcelândia, Nova Santa Helena, polarizados por Sinop: Nova Ubiratã, Feliz Natal, Marcelândia.
por Barra do Garças: Campinápolis,
integralmente abrangidos Canarana, Ribeirão Cascalheira, Alegre do Norte, Canabrava do Norte, Cláudia, União do Sul, Sinop, Santa Municípios polarizados por Barra do Garças: Querência, Canarana.
Nova Xavantina, Água Boa, Canarana,
pela unidade) Querência. Municípios polarizados por Confressa, Vila Rica. Carmem, Vera. Municípios polarizados por São Felix do Araguaia: São José do Xingu
Gaúcha do Norte, Ribeirão
Sinop: Feliz Natal, Nova Ubiratã.
Cascalheira..
Municípios com forte extrativismo
Municípios que possuem a pecuária vegetal, e crescimento recente da Domínio de Terras Indigenas; atividades econômicas incipientes. No
Municípios com agricultura consolidada, baseada principalmente na cadeia soja
Base Econômica como atividade principal apresentando agricultura. Padrão de início da fase de entorno presença de atividade extrativista e crescimento da agricultura,
ou em transição da pecuária para a agricultura com produção de grãos
crescimento no período. transição, onde a cadeia soja aparece principalmente da soja; em São José predomínio da pecuária
com forte potencial de crescimento
Alta taxa de urbanização; IDH mais elevado da bacia e alguns municípios com Alta taxa de urbanização, IDH mais
Taxa de urbanização por volta de 50%, Municípios com alta taxa de urbanização; IDH de médio para alto;
Modos de Vida expressivo crescimento populacional como Sorriso, Sinop e Feliz Natal; elevados da bacia e alguns municípios
IDH médio, baixos indicadores de expressiva migração dos estados do sul do país; melhores indicadores
expressiva migração dos estados do sul do país. Melhores indicadores de acesso com pequeno crescimento
infra-estrutura de saneamento de acesso a saneamento
a saneamento básico populacional.
Levantamentos realizados em alguns municípios do norte do estado do Mato Grosso, pertencentes ao compartimento denominado Alto Xingu, registraram 67 sítios arqueológicos até o momento; em sua maioria (50 sítios) são sítios
Patrimônio Arqueológico
cerâmicos a céu aberto e ocorrem principalmente nos municípios de Paranatinga (27) e São Félix do Aragauia.
Esse trecho, correspondente ao médio curso do rio Xingu, constitui o maior dos três
compartimentos da bacia hidrográfica e é caracterizado por rochas do embasamento cristalino
do Cráton Amazônico. Sobre essas rochas desenvolveram-se colinas e rampas pedimentares,
com altitudes variando entre 150 e 430m, componentes da Depressão da Amazônia
Meridional, onde ocorrem Argissolos com associações de Latossolos e Neossolos Litólicos,
muito sensíveis à interferência antrópica.
Predominam nesse trecho do médio curso do rio Xingu ecossistemas florestais bem
preservados, em especial na sua porção central, devido à maciça presença de Terras Indígenas
e de Unidades de Conservação. Entretanto as bordas da bacia, especialmente no setor oriental,
zonas de contato entre o cerrado e as florestas ombrófilas, encontram-se sob forte processo de
desflorestamento, e avanço da atividade pecuária, que coloca em risco as áreas protegidas.
Considerando a distribuição geográfica dos grandes biomas nesse trecho, tem-se que nas
bacias dos rios Iriri e Bacajá predominam as formações florestais enquanto que na bacia do
rio Fresco dominam formações vegetacionais típicas de zona de contato, com manchas de
formações florestais entremeadas com áreas de cerrado típico e de contato cerrado/floresta.
Pela maior facilidade de penetração a fronteira agrícola na bacia se dá a partir dessas áreas de
cerrado e de contato.
Essa unidade destaca-se no limite oeste da bacia, tendo como condicionante o substrato:
ocupa os relevos residuais tabulares do Planalto Residual do Sul da Amazonas, em Neossolos
Litólicos, Neossolos Quartzarênicos, afloramentos rochosos e Argissolos vermelho-amarelos.
Apresenta susceptibilidade à erosão, rastejo e a movimentos de massa quando da remoção de
cobertura vegetal natural. Nela são identificados solos rasos, com baixa fertilidade, problemas
de toxidez por alumínio e baixa capacidade de retenção de umidade.
Corresponde às nascentes do rio Curuá, um dos formadores do rio Iriri, que associada às
formações vegetais de Campinarana e Floresta Estacional, contribui para a fragilidade natural
da unidade, considerada de extremamente alta a muito alta prioridade para conservação da
biodiversidade.
Devido à presença dessa vegetação peculiar, pode-se esperar uma fauna característica de
ambientes abertos e deciduais. Embora a distinção entre a fauna da floresta ombrófila e da
floresta estacional não esteja muito clara, são conhecidas algumas espécies cuja distribuição
está restrita à periferia da Amazônia; esse padrão de distribuição peri-amazônica é descrito na
literatura para várias espécies animais.
A cobertura vegetal apesar de se apresentar ainda bastante íntegra, com significativas áreas
contínuas, começa a apresentar áreas antropizadas devido ao extrativismo de madeira,
principalmente de lenha. Os desflorestamentos são mais concentrados nas áreas das florestas
estacionais. Verificam-se também vetores de ocupação nas proximidades dos limites da TI
Panará. A pressão de ocupação dessa área, advinda da BR -163, situada no limite ocidental da
bacia, e a grande extensão do município de Altamira o que dificulta a fiscalização desse
território, fazem prever uma tendência de agravamento do desflorestamento nessa unidade.
A fisiografia definida pela bacia do rio Iriri, principal afluente do rio Xingu, a continuidade
florestal, especialmente devido à presença de áreas legalmente protegidas foram os fatores
determinantes na individualização dessa unidade. Ela tem como peculiaridade a e a presença
de extensas áreas sob proteção legal. Nesse trecho encontra-se também a denominada “Terra
do Meio”, área de conflito pela posse da terra, recentemente transformada em Estação
Ecológica, portanto de proteção integral.
A Estação Ecológica da Terra do Meio foi recentemente criada com o intuito de preservar as
formações florestais ombrófilas situadas na margem esquerda do rio Xingu (ecorregião
Interflúvio Xingu/Tapajós), entre este rio e seu afluente Iriri, alvos de desflorestamentos e de
Ainda dentro da bacia do Xingu/Iriri cita-se, ainda, o Parque Nacional da Serra do Pardo,
limítrofe à Estação Ecológica Terra do Meio, também recentemente criado nos território de
Altamira e São Félix do Xingu, abarcando florestas ombrófilas da ecorregião Interflúvio
Xingu/Tapajós.
Essas duas UCs, em conjunto com as Terras Indígenas (TIs) situadas a norte (Kararaô,
Cachoeira Seca e Baú), ao sul (Menkragnoti e Kayapó) e a leste (Kuruaya), têm importante
papel para garantir a continuidade florestal. Além disso, protegem ecossistemas florestais da
denominada Terra do Meio, onde a pressão de desflorestamento tem sido intensa.
Várias UCs de Uso Sustentável (Floresta Nacional de Altamira, Reserva Extrativista Riozinho
do Anfrísio) foram criadas para garantir a exploração de produtos da floresta por meio de
manejo sustentável, contribuindo para a redução das taxas de conversão das florestas em
pastagens ou agrossistemas. Todas se encontram na margem esquerda do rio Xingu,
protegendo florestas ombrófilas da ecorregião Interflúvio Xingu/Tapajós.
Essas UCs, em conjunto com as TIs, formam um mosaico de áreas sob proteção legal com
diversos níveis de restrição de uso, que favorece a manutenção da floresta, da diversidade
biológica e das funções ecológicas dos sistemas naturais, embora algumas já apresentem em
suas bordas invasões da frente de desmatamento conforme pode ser visualizado na FIGURA
9.1-3.
A unidade de paisagem denominada Floresta do Iriri ocupa o setor oeste do médio curso do
rio Xingu, abarcando a bacia do rio Iriri, à exceção do alto curso do rio Curuá, que faz parte
da unidade anteriormente descrita. Elevadas precipitações, em gradiente que varia de 2.000
a2.500mm, a sul dessa unidade, 1.500 a 2.000mm no setor norte, nas proximidades de
Altamira, e os baixos déficits hídricos favorecem a cobertura florestal, em um contínuo de
Florestas Ombrófilas apenas localmente substituído por formações savânicas ou por
transições de savanas e florestas, em correspondência a Neossolos Litólicos distróficos
associados a afloramentos rochosos.
A localização desses canais erosivos e em rocha, a jusante de canais aluviais com amplas
planícies fluviais, em contraste com o padrão básico das bacias hidrográficas, evidencia
anomalias de caráter neotectônico no condicionamento desse aspecto da hidrografia da Bacia
do rio Xingu. São rios com águas transparentes, ligeiramente ácidas, com baixa concentração
de íons, nutrientes e matéria orgânica dissolvida.
Há que se registrar a presença de PCHs no rio Curuá; estão em início de operação as PCHs
Salto Buriti (10.000kW), Salto Curuá (30.000kW) e Salto Três de Maio (15.000kW), sendo
que esta última está em fase de estudo e será localizada no rio Três de Maio, afluente do rio
Os dados existentes não mostram ainda alterações significativas por atividades antrópicas.
Observa-se apenas ao longo dos rios Xingu e Iriri um aumento da condutividade elétrica da
água, o que é esperado ao longo do eixo longitudinal de um curso d’água. Efeitos antrópicos
observados estão restritos às áreas com maior ocupação, como em São Felix do Xingu e São
José do Xingu, onde os valores de exportação de nutrientes são mais elevados, em função da
área ocupada pelos sistemas agropecuários.
A ictiofauna dessa área é pouco conhecida. Dos registros de ictiofauna disponíveis na bacia
hidrográfica do rio Xingu (correspondentes a 467 espécies), 57 espécies referem-se à bacia
hidrográfica do Iriri e 35 ao trecho entre a cachoeira Von Martius até a montante da
confluência com o Iriri.
No que se refere aos aspectos zoogeográficos, a margem esquerda do rio Xingu encontra-se
na Área de Endemismo da Amazônia conhecida como Pará 1, apresentando, entre seus
componentes faunísticos, espécies cujos limites de distribuição oriental são condicionados
pelo rio Xingu. Conforme já citado, destacam-se Chiropotes albinasus, entre os primatas e,
entre as aves: Psohpia viridis dextralis, Rhegmatorhina gymnops, Phlegopsis nigromaculata
bawmani, Pyriglena leuconota similis.
Encontra-se, em grande parte, sob administração federal, seja como Terras Indígenas
(Cachoeira Seca, Arara, Kararaô, Xipaya, Kuraya, Baú, Panará, Menkragnoti), seja como
Unidade de Conservação de Proteção Integral ou de Uso Sustentável.
O uso do solo está associado, em grande parte dessa área, aos modos de vida indígenas, sendo
a exploração para pecuária restrita a áreas descontínuas, principalmente na denominada Terra
do Meio, nas proximidades da área urbana de São Félix do Xingu (situada na margem direita),
atualmente sob forte pressão de desflorestamento. Este processo de conversão de florestas em
pastagens é observado inclusive em áreas de declividade elevada, muito suscetíveis a
processos erosivos, como no vale do rio Xingu, a montante da cidade de São Félix do Xingu.
Embora com amplas áreas passíveis de mecanização e aptas para agricultura e pecuária,
ressalta-se o potencial extrativista dessa área, seja de madeira, seja de outros produtos
florestais como açaí e castanha, ainda pouco explorados. Destaca-se, igualmente, o potencial
mineral para ouro, o que pode levar a futuros conflitos de uso da terra.
Atualmente depositária de uma diversidade biológica ainda muito pouco conhecida, esta área
encontra-se vulnerável à ocupação predatória, pela pressão decorrente do avanço da fronteira
pecuária e pelo potencial mineral. Note-se que as TIs poderão cumprir papel de zona de
amortecimento das UCs, bem como de corredores entre essas áreas de uso restrito, desde que
corretamente manejadas e protegidas.
Os municípios desta unidade, Brasil Novo, São Felix e Guaratã do Norte, apresentam altas
taxas de urbanização e, em sua maioria apresentam IDH médio (0,70). O crescimento
demográfico, entre 2000 e 2007, foi bem pequeno (entre 0,1 e 1,5%). De modo geral os
indicadores de infra-estrutura de saneamento apontam para um quadro de grande deficiência.
São elementos determinantes para a delimitação dessa unidade a fisiografia definida pela
bacia do rio Bacajá e os aspectos bióticos relativos à formação florestal ainda em bom estado
de conservação.
Abrange as formações florestais da margem direita do rio Xingu, na porção nordeste de seu
médio curso, incluindo a bacia do rio Bacajá. As precipitações médias anuais variam entre
1.500 a 2.000mm, apresentando déficit hídrico médio anual de 300 a 400 mm.
Essa área inclui-se na Área de Endemismo Pará 2 (SICK, 1967; AYRES; CLUTTON-
BROCK, 1992), onde estão presentes espécies animais relacionados com o interflúvio Xingu -
Araguaia/Tocantins: Chiropotes satanas, entre os primatas e, entre as aves, Psohpia viridis
interjecta, Phlegopsis nigromaculata confinis, Pyriglena leuconota interposita.
Em grande parte ocupada por TIs (Apyterewa, Trincheira Bacajá, Koatinemo, Araweté
Igarapé Ipixuna, Koatinemo), apresenta usos associados principalmente ao extrativismo
vegetal.
Uma potencial fonte de conflito que poderá vir a se instalar ao longo do rio Bacajá é
representada pelas rochas vulcano sedimentares, com potencial aurífero, o que poderá atrair a
atividade de garimpo, hoje localizada preferencialmente na calha do rio Xingu, especialmente
no trecho da Volta Grande.
Entre os municípios (ver QUADRO 9.2-2) compreendidos nessa unidade, Senador José
Porfírio e São Felix do Xingu apresentam pequena população, com baixas taxas de
urbanização (menos de 45%) e baixo crescimento populacional (entre 0,1 e 1,5%), com
excessão de Anapú, que nos últimos anos apresentou intensificação das atividades de extração
de madeira. Ressalta-se a presença de populações ribeirinhas ao longo do rio Xingu e seus
afluentes.
Esta unidade de paisagem que abrange a quase totalidade da bacia do rio Fresco é segmentada
nos limites dos estados de Mato Grosso e Pará por uma extensa área em que predomina a
pastagem e por isso configurando outra unidade, que será descrita na sequência. A porção
norte desta unidade é quase que totalmente constituída por Terras Indígenas (TIs Kayapo e
Badjonkore), e por isso encontra-se ainda em bom estado de conservação, enquanto que a
parte sul (ver FIGURA 9.1-3) não protegida por instrumentos legais, apresenta várias frentes
de desmatament. A cobertura vegetal relativamente bem conservada, associada aos fatores
bióticos relacionados ao tipo de vegetação predominante (contato floresta/savana) e por
pertencer ao centro de endemismo Pará 2, determinaram sua caracterização como unidade de
paisagem.
O rio Fresco apresenta características diferentes das do rio Xingu, com águas menos ácidas e
maior condutividade. Outro aspecto a ser ressaltado é a variabilidade dos valores, que pode
ser atribuída à sozonalidade do clima como a influências antrópicas localizadas, já que o
processo de ocupação dessa sub-bacia é intenso.
Apresenta grande potencial extrativista (castanha, açaí, jaborandi - atualmente muito raro, de
acordo com informações locais, madeira e lenha, entre outros produtos da floresta), para
preservação de flora e fauna, associado ao relevo movimentado, bem como à agricultura e
pastagem, mas com práticas de correção e adubação. Há também potencial mineral associado
a rochas vulcano sedimentares (greenstones)
Ocupada por TIs, cujos limites determinam, em grande parte, seu recorte espacial, tem usos
associados ao modo de vida indígena, prevalecendo o extrativismo, notadamente de madeira,
lenha e castanha.
Cumaru do Norte, além de São Félix do Xingu, que tem parte do município nessa unidade, é o
município com maior carga de nutrientes da bacia. Em termos de variação de cargas, Tucumã,
Ourilândia do Norte e Bannach contribuem mais significativamente. Estes são também
municípios com elevados índices de desflorestamentos. Note-se também que na bacia do rio
Fresco, notadamente no município de Cumaru do Norte se concentram atividades de garimpo.
O uso do solo foi o elemento determinante para a delimitação desta unidade, que se
caracteriza pelo intenso processo de desflorestamentos. Ocupa o extremo leste e sudeste da
porção média da bacia do rio Xingu, já sob influência da região do Arco do Desflorestamento.
Também faz parte das rampas e colinas da Depressão da Amazônia Meridional e dos morros,
morrotes e serras do Planalto Residual, em terras aptas para agricultura e pastagens; esse
Integra a Área de Endemismo Pará 2 (SICK, 1967; AYRES; CLUTTON-BROCK, 1992), mas
podem ser esperados elementos característicos de ambientes periféricos da Amazônia.
Atualmente, devido aos desflorestamentos, espera-se o predomínio de fauna heliófila e de
borda. Populações de espécies estritamente florestais podem remanescer em fragmentos, e
estar suscetíveis à extinção local.
A unidade comporta parte das nascentes dos formadores do rio Fresco. A despeito desse
aspecto, a ocupação com a pecuária determina os elevados percentuais de desflorestamento,
com alguns municípios apresentando situações muito graves e críticas, com elevado
percentual de seu território desprovido de cobertura vegetal natural. Destacam-se os
municípios de Tucumã com taxa de 88% de desflorestamentos, Bannach, com 63%, Cumaru
do Norte (33%) e São Félix do Xingu (14%). Destes, os dois últimos apresentam parcelas de
seus territórios sob proteção legal, na forma de UCs e TIs, caso de São Félix do Xingu, ou de
TIs (Cumaru do Norte), o que concentra os desflorestamentos nas áreas não protegidas.
Portanto, esses percentuais de desflorestamento mostram que nem as APPs e nem as reservas
legais são respeitadas.
Esta frente de ocupação também parte do município de São Félix do Xingu e avança rumo à
Terra do Meio, no sentido oeste, consistindo no avanço de madeireiros e pecuaristas, usando
como frente de penetração uma antiga estrada de garimpo. A partir dessa estrada principal,
madeireiros abriram mais de 600km de estradas ilegais em busca das árvores de mogno. A
maioria dos madeireiros vem das regiões de Redenção, Rio Maria, Xinguara, Tucumã,
Ourilândia e São Félix do Xingu.
Patrimônio Arqueológico Náo há sítios arqueológicos registrados No município de Ourilândia do Norte há registro de 9 sítios cerâmcios a céu aberto.
Muito Alta: TI Capoto/Jarina, Xingu 2, Xingu- Áreas de Muito Alta Prioridade: T.I
Iriri, Rio Iriri 2, Médio Xingu, Alto Xingu; Áreas Apyterewa, Araweté Igarapé Ipixuna,
Área Extremamente Alta: Kayapó, Áreas de
Áreas de Prioridade Extremamente Alta: Extremamente Alta: T.I. Panará, T.I. Koatinemo; Extremamente Alta prioridade:
Áreas Prioritárias (APs) Muito Alta Prioridade: Badjonkore, T.I Inexistente.
interflúvio Xingu / Teles Pires e TI Panará. Menkragnoti, T.I Kayapó, Novas Áreas T.I. Trincheira Bacaja, Serrra dos Carajás,
Badjonkore, Capoto/ Jarina.
Identificadas Pelos Grupos Regionais Interflúvio Rio Anaku;
Xingu / Iriri. Especial: Arara Volta Grande do Xingu.
Desflorestamentos antigos na região de
Em expansão nos últimos anos, notadamente em
Em expansão nos últimos anos, notadamente influência de São Félix do Xingu e em
Principalmente na Floresta Estacional e nas 2003/2004, a partir de vetores externos (BR 163, Em expansão nos últimos anos, notadamente em
em 2003/2004, nas bordas, a partir de Bannach, Ourilândia e Cumaru do Norte, a
Desflorestamentos formações de contato (Campinarana São Félix do Xingu e Transamazônica). 2003/2004, nas bordas, a partir de vetores externos
vetores externos (São Félix do Xingu e partir de vetores externos.
/Floresta Estacional). Expansão dos desflorestamentos principalmente (São Félix do Xingu).
Transamazônica). Desflorestamentos recentes em direção
na Terra do Meio.
oeste.
Embora todos os municípios dessa unidade
Dentro do limite legal no município de Altamira apresentem taxas de desflorestamento acima do
Dentro do limite legal no município de
e em situação grave no município de São Félix do limite legal, a supressão da vegetação ocorre, de Situação grave em São Félix do Xingu e
Altamira e Senador José Porfírio, acima do
Taxas de Desflorestamento Dentro do limite legal. Xingu, porém com desflorestamentos menos modo geral, fora das TIs. Excetua-se Cumaru do Cumaru. Muito grave e crítica em Bannach
limite no município de Anapu, e em situação
intensos nas áreas municipais situadas dentro da Norte, onde a taxa, considerando as TIs, chega a e Tucumã.
grave em São Félix do Xingu.
unidade. 33% de seu território (e 44% considerando
somente a área municipal sem TI).
Prevalecem áreas de desflorestamento antigos e
recentes, em linhas, avançando na matriz
florestal, principalmente na Terra do Meio, com Áreas de desflorestamentos recentes, com Cobertura vegetal contínua, em mosaico de Áreas de desflorestamentos recentes de
Nível de Fragmentação Significativas áreas contínuas. "garimpo de madeira" nessa região. Extensos diferentes dimensões, isoladas na matriz formações florestais e encraves savânicos. Áreas grandes extensões avançando
desflorestamentos nas encostas do vale do rio florestal. de desflorestamentos incipientes no limite sudeste. aparentemente por vizinhança.
Xingu, nas proximidades da cidade de São Félix
do Xingu e de Altamira.
Forte pressão de desflorestamento para pecuária
Área com formações vegetais incomuns
em áreas florestais do entorno de TIs e UCs, bem Forte pressão de desflorestamento em
(Campinarana), pouco freqüentes (Floresta Forte pressão de desflorestamento para pecuária em áreas florestais limítrofes à unidade,
como em áreas de declividade elevada, muito formações de contato (Floresta
Fragilidades Estacional) e de transição sem medidas de especialmente ao sul da unidade Florestas do Bacajá e a leste da unidade Florestas do rio Fresco.
suscetíveis a processos erosivos. Conversão de Ombrófila/Savana) e nas áreas de
proteção legal e com tendência à ocupação .
florestas em campos antrópicos e reduzida nascentes dos afluentes do rio Fresco.
com pastagem.
exploração sustentável de produtos da floresta.
Desflorestamentos incipientes em TIs, grandes Forte pressão de desflorestamento para
Desflorestamentos em área de extrema manchas esparsas de desflorestamentos, bem pecuária, acima dos limites legais, em APP
Forte pressão de desflorestamento para pecuária
Conflitos Existentes prioridade para conservação e nas como desflorestamentos em linha no sentido Desflorestamentos em TIs. e sem observar as Reservas Legais. Forte
em áreas florestais do entorno.
proximidades e dentro da TI. leste/oeste da unidade. Contraste marcante entre pressão de desflorestamento em
áreas sob proteção legal e áreas de uso. remanescentes.
Desflorestamentos nas bordas das TIs e UCs, Desflorestamentos em TI e no seu entorno, com
avançando gradativamente para seu interior. aumento gradual de efeitos de borda. Retirada Exaustão dos recursos naturais e redução
Desflorestamentos em ecossistemas
Isolamento das áreas protegidas e aumento seletiva da madeira realizada de forma não crítica da diversidade biológica. Potencial
incomuns devido a pressões externas à Desflorestamentos em TIs e redução de
gradual de efeitos de borda. Caso não sejam sustentável, reduzindo a oferta de produtos da mineral associado a rochas vulcano
Tendências de Situações unidade e à bacia (BR – 163), bem como diversidade biológica. Potencial mineral
implementados os Planos de Manejo das UCs de floresta. Redução de diversidade biológica. sedimentares (greenstones) pode
Futuras em decorrência da extensão do município associado a rochas vulcano sedimentares
Uso Sustentável, persistirão processos de Potencial mineral associado a rochas vulcano determinar atividades ilegais de mineração,
de Altamira, que dificulta a fiscalização e o (greenstones) poderá levar a conflitos de uso
exploração não sustentável da floresta, sedimentares (greenstones) pode determinar ampliando a degradação dos ecossistemas
ordenamento de seu território.
acarretando importante redução de diversidade atividades ilegais de mineração, promovendo terrestres.
biológica e da oferta de produtos florestais. degradação dos ecossistemas.
A região situada no baixo curso do rio Xingu é caracterizada por terrenos pertencentes a três
unidades de relevo distintas. Na região da rodovia Transamazônica predominam colinas com
altitudes entre 250 e 300m, representativas do Planalto Marginal do Amazonas, em uma faixa
estreita que secciona a bacia no sentido sudoeste-nordeste e constitui o divisor entre o
Planalto e a Depressão do Amazonas. Esses terrenos são sustentados por rochas sedimentares
paleozóicas (arenitos, siltitos, ritimitos, folhelhos) e ígneas mesozóicas (diabásio) da Bacia
Sedimentar do Amazonas e sedimentos cenozóicos associados às planícies fluviais. Nesse
trecho predominam Latossolos, Argissolos e Nitossolos, que têm como características a
susceptibilidade à erosão laminar e em sulcos quando da remoção da cobertura vegetal.
Finalmente, há que se distinguir no último trecho do baixo Xingu, terrenos planos com
inclinação inferior a 1% e altitudes entre 5 e 20m, componentes da Planície Fluviolacustre do
Amazonas, sendo formados pela planície alagada que se mantém submersa, com lâminas de
água de alguns centímetros mesmo nos períodos de estiagem, formando brejos, alagadiços e
lagos; outros ambientes presentes são as planícies de inundação que são alagadas apenas no
período das enchentes e os baixos terraços. Esses ambientes, de vital importância para o
ecossistema aquático regional, são formados por sedimentos aluvionares, constituídos por
argilas e siltes, com eventuais níveis de areia fina e de cascalho, ricos em matéria orgânica. Os
solos predominantes são os Gleissolos Háplicos, Neossolos Flúvicos, Plintossolos Argiluvicos
e Neossolos Litólicos. Todos esses terrenos são muito sensíveis às interferências antrópicas.
A identificação de unidades de paisagem neste trecho do baixo Xingu está muito vinculada às
formas de ocupação do território sendo que a exceção da parte mais ao sul, onde ocorre
intensa antropização devido a influencia da rodovia Transamazônica, o restante do
compartimento é caracterizado pelas ecorregiões dos interfluvios Tapajós-Xingu (margem
esquerda) e Xingu-Tocantins (margem direita) e ainda pela presença de partes da ecorregião
denominada Várzeas do Gurupá. São áreas de baixa ocupação humana e grande importância
para a fauna e flora amazônica.
O elemento determinante de delimitação desta unidade refere-se ao uso do solo, que define
um padrão de desflorestamento em “espinha de peixe” ao longo da área de influência da BR-
230.
A presença destes pedrais, rápidos e cachoeiras indicam o caráter erosivo e jovem desse
trecho da bacia hidrográfica, onde ainda se faz presente de modo marcante a resistência
diferencial das rochas e das estruturas que secionam o perfil longitudinal dos rios.
Corresponde também a região de nascentes de afluentes da margem esquerda do baixo curso
do rio Xingu.
Essa unidade, cuja ocupação deu-se nas décadas de 1960 e 70, encontra-se sob influência da
rodovia BR–230 – Transamazônica – e apresenta como característica marcante o padrão de
desflorestamento em “espinha de peixe”, associado às vias de acesso transversais à rodovia.
As áreas situadas na margem esquerda do rio Xingu fazem parte da Área de endemismo Pará
1 enquento que as situadas na margem direita pertecem à Área Para 2. No entanto, devido ao
seu baixo nível de conservação as populações remanescentes de espécies estritamente
florestais provavelmente encontram-se muito suscetíveis à extinção local, seja devido ao
isolamento, seja devido à pequena extensão dos fragmentos florestais e ao seu estado de
conservação.
Vários são os fatores que fragilizam os ecossistemas desta unidade e contribuem para criar um
quadro de conflitos que tem na grilagem de terra associada à carência na legalização das terras
a base desse quadro de conflitos já instalado nesta região. As crescentes taxas de
desflorestamento acima do limite legal nos municípios de Vitória do Xingu, Brasil Novo,
Medicilândia, Uruará, Placas, Anapu e Pacajá; a prática predatória da exploração madeireira e
a biopirataria comprometem os recursos extrativistas e a diversidade biológica. Por outro
lado, a ausência de uma adequada infra-estrutura de saneamento compromete a qualidade das
águas dos igarapés que drenam as áreas urbanas e a pouca eficiência dos governos locais
contribui para o crescimento desordenado dos núcleos urbanos.
O trecho final da bacia hidrográfica do rio Xingu, aqui denominado Ria do Xingu por
abranger essa formação fluvial, abrange a Área de Endemismo Pará 1, correspondente ao
interflúvio Tapajós/Xingu situado na margem esquerda do rio Xingu e a Área de Endemismo
Pará 2, correspondente aos terrenos da margem direita no interfluvio Xingu/Tapajós. Além
desses dois domínios abrange, também, as várzeas do rio Amazonas, situadas na foz do rio
Suas características quanto aos sistemas aquáticos estão relacionadas ao rio Amazonas, e
também se apresentam distintas das demais unidades analisadas.
A ictiofauna apresenta espécies que só ocorrem no baixo curso do rio. Espécies como Pellona
flavipinnis, Loricaria sp, Brachyplatystoma filamentosum, Doras cf. eigenmanni,
Hemisorubim platyrhynchus, Semaprochilodus insignis, Serrasalmus aff manueli, entre
outras, foram registradas somente nesse trecho (ELB/ELN, 2001).
A ria do Xingu é caracterizada por um canal muito largo e profundo, com margens altas,
sendo afetada por variações do nível d’água decorrentes das marés. Esses ambientes
apresentam características intermediárias entre rios e lagos e são pouco conhecidos do ponto
de vista ecológico. Ao final desta ria, a calha do rio sofre um estreitamento e é onde são
depositadas as areias formando bancos de areia, conhecidos como os tabuleiros de desova de
tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) do baixo Xingu; esses tabuleiros reúnem um
conjunto de ilhas agrupadas formando um polígono de aproximadamente 8,0 km2, no
município de Senador José Porfírio.
Em especial nessa unidade torna-se importante ressaltar o uso do rio Xingu como via de
navegação; o trecho que se estende da localidade de Belo Monte até a foz do Rio Xingu,
possui aproximadamente 236 km. De Senador José Porfírio até a sua foz o rio Xingu possui
boas condições para a navegação, sendo constituído pela ria, com baixa declividade e
apresentando grande largura (quase em forma de estuário), estreitando-se apenas na sua foz.
As larguras atingem 7 km e as profundidades são superiores a 6 m no período de águas altas e
médias. Durante a estiagem este valor se aproxima aos 2,7 m. Este trecho é navegável durante
todo o ano, sem maiores preocupações quanto ao calado das embarcações.
Os municípios que integram essa unidade são Senador José Porfírio, Vitória do Xingu, Brasil
Novo, Medicilândia, que estão sob influência da rodovia Transamazônica. Os municípios sob
influência do rio Amazonas pertencentes a essa unidade são Gurupá, Prainha e Porto de Moz.
O trecho de Belo Monte até o município Senador José Porfírio (63km), apresenta boas
condições de navegação nos períodos de águas altas e médias de janeiro a setembro. Durante
os meses de estiagem (agosto a dezembro) a altura d’água atinge a ordem de 2,3 m de
profundidade, permitindo a navegação de embarcações de até 1,8 m de calado devido à
presença de pedras e bancos de areia.
O rio Xingu é utilizado principalmente para o transporte de combustível e cargas gerais, como
madeira, além de servir para o transporte de passageiros entre localidades próximas.
Atividades de pecuária, agricultura e extrativismo; destaque para a produção de cacau; município de Altamira
Predomina atividades de agricultura de subsistência, extrativismo vegetal e a pesca; não há atividades
Base Econômica apresenta uma área plantada constante desde 1990 e uma forte tendência de crescimento da pecuária e do
agropecuárias de expressão comercial.
extrativismo. Funciona como pólo regional da Transamazônica
Altamira pólo regional. Demais municípios apresentam crescimento de população pequeno ou mesmo Pequeno percentual de população urbana, menos de 50%; pequeno crescimento ou mesmo crescimento
negativo; somente Pacajá e Placas têm crescimento mais significativo; IDH dos mais baixos da bacia, assim
negativo da população, principalmente a rural; IDH dos mais baixos da bacia; baixos indicadores de
Modos de Vida
como os indicadores de infra-estrutura de saneamento; presença de população ribeirinha no Xingu e infra-estrutura de saneamento. Presença de populações; comunidades Quilombolas em Gurupá e Porto de
afluentes; Ocupação de terras teve origem nos assentamentos do INCRA da década de 70. Moz.
Predomínio do clima Am (segundo classificação de Köppen); sazonal, com precipitação média anual de
Predomínio do clima Am sazonal (classificação de Köppen); precipitação média anual de 1800 mm e período
2000 a 2500mm; déficit de 200 a 300mm; período de estiagem compreendido entre agosto e dezembro;
Clima de estiagem entre junho e novembro; baixa amplitude térmica anual, com temperatura média em torno de
baixa amplitude térmica anual, mantendo temperatura média em torno de 26°C.
26°C.
Predominam as colinas do Planalto Marginal do Amazonas e as rampas e colinas da Depressão do
Rampas de platôs com lateritas, colinas e rampas da Depressão do Amazonas, onde estão presentes
Amazonas, com ocorrências de rochas sedimentares e vulcânicas básicas da Bacia do Amazonas, com
associações de Latossolos e plintossolos pétricos concrecionários, com restrições à agricultura e com
Latossolos associados a Nitossolos, adequados à agricultura e pastagem, com susceptibilidade erosiva
potencial extrativista. Os terrenos destas unidades apresentam susceptibilidade erosiva ligeira a forte.
variando de Ligeira a Forte. Na extremidade centro sul desta unidade, em terrenos também abrangidos pela
Presença de UC de Uso Sustentável, compatível com as potencialidades da unidade.
Fisiografia e solos AII do UHE Belo Monte, ocorrem rochas graníticas, com o desenvolvimento das rampas e colinas da
Depressão da Amazônia Meridional, com predomínio de Argissolos em áreas suave onduladas, e de
Na foz do rio Xingu, Planície Fluviolacustre do Amazonas, favorável ao assoreamento, presença de
morrotes, morros e serras residuais dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia, com Neossolos e
Gleissolos e Neossolos.
afloramentos rochosos, levando os terrenos a apresentarem susceptibilidade erosiva Moderada a Forte e
aptidão agrícola boa a restrita para lavouras, além de áreas sem aptidão agrícola.
Afluentes da margem esquerda: rios Jarauçu e Acaraí.
Uso predominante com pecuária de corte, agricultura diversificada e, em menor escala, extrativismo de
madeira, lenha, castanha e açaí. Predomínio de propriedades com grandes áreas no entorno de Altamira e ao
Usos principais Extrativismo: açaí, madeira e lenha, castanha. Subordinadamente, pecuária, porém ainda em trechos
longo da rodovia Transamazônica. Mais de 63% da área encontram-se com ocupação antrópica, indicando
restritos dentro da matriz florestal.
significativa pressão sobre os ecossistemas.
Unidades de Conservação (UCs) Pequena parcela territorial da RESEX Verde para Sempre. RESEX Verde para Sempre. Limita-se a leste com a Floresta Nacional de Caxiuanã.
Há 156 sítios arqueológicos registrados no IPHAN para os municípios que compõem o compartimento baixo Xingu, sendo em sua maioria sítios cerâmicos a céu aberto (112). Ocorrem, ainda, 8 sítios cerâmicos em
cavidades naturais e 7 com gravuras rupestres em matacões, aflorados em céu aberto. O município de Altamira é o que registra maior número de sítios cadastrados (65), seguido de Vitória do Xingu (47) e Senador Jose
Patrimônio Arqueológico Porfírio (24). É importante ressaltar que o grande número de sítios arqueológicos registrados nos municípios de Altamira e de Vitória do Xingu reflete as pesquisas arqueológicas realizadas durante os estudos de
viabilidade ambiental da antiga UHE Kararaô e, posteriormente, os levantamentos arqueológicos realizados para os estudos ambientais do AHE Belo Monte em 2001. Portanto, essa supremacia numérica não corresponde
a uma maior densidade de sítios arqueológicos nesses municípios, mas a um maior número de levantamentos arqueológicos realizados.
Áreas de desflorestamentos recentes, a partir das áreas de pecuária. Áreas de desflorestamentos recentes e Baixa intensidade de fragmentação, concentrada principalmente nas proximidades da calha do Rio Xingu.
Nível de Fragmentação
disjuntas a sul e a norte, pressionando unidades limítrofes. Vegetação formando um continuum, em uma área de relevante interesse ecológico.
Intensa ocupação com taxas de desflorestamento acima do limite legal nos municípios de Vitória do Xingu,
Fragilidades Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas, Anapu e Pacajá com comprometimento da atividade extrativista; Não foram identificadas fragilidades para essas unidades
comprometimento da qualidade das águas nos igarapés que drenam áreas urbanas, especialmente em Altamira.
Desmatamentos a montante. Riscos de contaminação das
Não há informações
Conflitos Existentes Desflorestamento acima dos limites legais. águas por atividades antrópicas nas margens do rio Amazonas.
Remanescentes florestais passam a ter grande importância por representar os últimos habitats para a fauna
Por apresentar potencial mineral para extração de bauxita, poderá ocorrer conflitos decorrentes da extração
ombrófila. Tendência à intensificação de uso devido à redução da cobertura vegetal, com aumento de
Tendências de Situações Futuras não disciplinada desse mineral em área protegida (RESEX Verde Para Sempre), levando a conflitos de uso
produtividade por unidade de área; potenciais impactos da implantação do AHE Belo Monte, inclusive sobre o
e propiciando degradação dos ecossistemas terrestres e aquáticos.
patrimônio arqueológico existente.
Verifica-se uma condição anômala da bacia em seu alto curso, marcada pelo ressalto
correspondente à cachoeira de Von Martius, que propicia a presença de expressivas planícies
aluviais a montante da mesma, resultado de uma dinâmica natural de erosão e deposição nesse
trecho.
Ainda que em grande parte preservadas pela presença de Terras Indígenas, as planícies e parte
dos formadores e afluentes do rio Xingu estão sujeitos a pressões de ocupação do entorno,
devido à expansão da fronteira agropecuária. Note-se que as nascentes não se encontram
abarcadas por áreas legalmente protegidas, seja Unidades de Conservação ou Terras
Indígenas.
Destacam-se, no trecho médio da bacia hidrográfica do rio Xingu, as sub-bacias dos rios
Fresco e Bacajá, onde variações do substrato geológico respondem também por características
diferenciadas das águas de ambos os rios, em contraste com os demais cursos d’água,
incluindo o próprio rio Xingu. É também na Bacia do rio Fresco que se observam extensas
áreas de pecuária e vetores de ocupação que se estendem à margem esquerda do rio Xingu, no
interflúvio Xingu/Iriri, pressionando extensos contínuos florestais ali presentes.
A intensa ocupação antrópica desse trecho sob influência da rodovia determina uma ocupação
relacionada às vias de acesso, formando um padrão de desflorestamento característico e
promove uma significativa redução da diversidade biológica.
A organização da cobertura vegetal na bacia do rio Xingu responde não apenas aos
condicionantes físicos, mas também aos condicionantes legais. Amplas áreas contínuas
observadas relacionam-se a Terras Indígenas ou a Unidades de Conservação, no entorno das
quais processos de desflorestamento e níveis variáveis de fragmentação são observados.
Algumas dessas áreas apresentam sérios conflitos, destacando-se entre elas: a região do médio
rio Xingu e inúmeros igarapés que formam alguns dos seus afluentes, como o Riozinho do
Anfrísio e rios Curuá, Iriri e Rio Novo. Essa área transformou-se em alvo de conflitos de terra
e de disputa pela riqueza de seus recursos naturais, sem que houvesse controle algum por
parte do governo federal. Está inserida dentro de um conjunto maior de áreas protegidas -
Corredor da Bacia Hidrográfica do Xingu, que reúne também um conjunto de terras indígenas
constituindo um mosaico de unidades de conservação de proteção integral.
Poucos estudos foram realizados na bacia hidrográfica do rio Xingu, relativos à composição
de flora e de fauna. Afora levantamentos destinados à avaliação de impactos de hidrelétricas
na região da Volta Grande e de alguns estudos isolados no alto curso, coletas pontuais de
material zoológico complementam as informações. Evidenciam-se, portanto, lacunas de
conhecimento no que se refere à composição biológica deste amplo espaço.
De maneira semelhante, a ictiofauna da bacia do rio Xingu é ainda pouco conhecida, assim
como as características limnológicas dos rios e igarapés. Os dados existentes, entretanto,
permitem evidenciar uma fauna caracterizada por endemismos no alto curso, que se diferencia
sensivelmente das comunidades ícticas de jusante.
No que concerne aos conflitos relacionados aos fatores bióticos, o desflorestamento para
posse das terras, implantação de pastagens ou de culturas cíclicas, assume importância central,
decorrendo deste processo efeitos adversos sobre a diversidade biológica e sobre os recursos
hídricos da bacia.
O segundo grande vetor de ocupação, mais fortemente evidenciado na região de São Félix do
Xingu, Bannach e Tucumã está relacionado à expansão da pecuária. Realizada de forma
desordenada, essa ocupação evidencia graves impactos sobre as florestas, substituídas por
pastagens ou muito fragmentadas, e sobre os cursos de água, uma vez que as formações
justafluviais são, em sua maior parte, suprimidas.
Esse vetor de ocupação se estende no sentido oeste (margem esquerda do rio Xingu), bem
como a norte/nordeste e a sul, para onde se irradia o processo de desflorestamento,
pressionando Terras indígenas e Unidade s de Conservação (UCs).
Uma das principais características da bacia do rio Xingu é a presença de expressivas áreas sob
proteção legal no trecho paraense da bacia hidrográfica do rio Xingu, na forma de TIs e UCs.
Cerca de 280.000 km2 (ou 57 % da Bacia) encontram-se sob proteção, dos quais cerca de
240.000 km2 no Estado do Pará.
Quanto aos usos da água, não se observam, atualmente, conflitos de uso desses recursos.
Assim, a disponibilidade hídrica não deverá constituir fator limitante para a expansão de
atividades agropecuárias, tampouco para a geração de energia elétrica, ainda que se configure
É importante ressaltar que a despeito dos fluxos populacionais viabilizados pela presença da
rodovia, ao longo do rio Xingu se pode observar a presença de espaços ainda isolados que
preservam seus modos de vida tradicionais – pescadores, ribeirinhos e extrativistas. A essa
Outro atributo ambiental que deve ser levado em consideração em qualquer processo de
intervenção sobre o território da bacia do rio Xingu, é a forte presença de sítios arqueológicos
cerâmicos a céu aberto e, portanto, muito vulneráveis às ações antrópicas.
A grande quantidade desses sítios em ambos os estados reflete, por um lado, a alta
visibilidade desses sítios, em geral aflorantes em superfície, e, por outro lado, a maior
densidade demográfica das sociedades indígenas agricultoras, às quais eles se associam em
sua esmagadora maioria.
Finalmente, vale destacar que o Plano Amazônia Sustentável-PAS (maio de 2008), define
como objetivo principal a promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira,
mediante a implantação de um novo modelo pautado na valorização de seu patrimônio natural
e no aporte de investimentos em tecnologia e infra-estrutura, voltado para a viabilização de
atividades econômicas dinâmicas e inovadoras com a geração de emprego e renda, compatível
com o uso sustentável dos recursos naturais e a preservação dos biomas, e visando a elevação
do nível de vida da população.
Como primeiro de uma série de objetivos específicos, identificados em função dos problemas
enfrentados na Amazônia brasileira, esse Plano propõe a promoção do ordenamento territorial
e a gestão ambiental, de modo a possibilitar (i) o combate à grilagem; (ii) a resolução de
conflitos fundiários e destinação das terras públicas; (iii) o controle sobre a exploração ilegal
e predatória de recursos naturais; e (iv) a proteção dos ecossistemas regionais.
Dentro desse contexto, espera-se que a visão integrada dos principais atributos ambientais que
subdivide a bacia do rio Xingu em compartimentos definidos por seus recursos hídricos e em
unidades de paisagem, possa contribuir para a compreensão desse vasto e complexo território
e para subsidiar políticas de ordenamento territorial, que resultem no efetivo desenvolvimento
sustentável dessa bacia hidrográfica.
É importante destacar que as áreas antropizadas da AII, assim como da AID/ADA do AHE
Belo Monte são separadas do restante das frentes de ocupação do alto e médio Xingu pelas
áreas sob regime de proteção legal, representadas por unidades de conservação e terras
indígenas, que dominam grande parte da porção central dessa bacia hidrográfica.
Destaca-se que o município de José Porfírio, cujo território de 13.287 Km2 é fragmentado em
duas porções, não contínuas, pelo município de Anapu. A porção norte situa-se em área
localizada entre a margem direita do rio Xingu e a rodovia PA-167. A porção sul situa-se
entre os municípios de Anapu e Altamira, respectivamente a Leste e a Oeste. Neste caso, a
parte norte deste município foi considerada como pertencente ao Compartimento
Transamazônica e PA-115 e as características rurais da parte sul desse municipio foi
considerada no Compartimento Xingu/Bacajá.
Este compartimento situa-se na porção sul da AII, abrangendo 14.376 km2 e engloba terrenos
situados nas margens esquerda e direita do rio Xingu ao sul de Altamira, além dos localizados
nas margens esquerda e direita da Volta Grande do Xingu, esses últimos se estendendo pelas
bacias dos rios Itatá, Ituna, Bacajaí e Bacajá.
A rede hidrográfica é formada pelo rio Xingu e seus afluentes pela margem direita no trecho
que se estende desde a confluência com o rio Iriri até a localidade de Belo Monte, destacando-
se os rios Bacajá, Itata, Ituna e Bacajaí. Pela margem esquerda do Xingu compreende os
afluentes no trecho entre a foz do Iriri e a extremidade de jusante da Ilha Babaquara e entre o
igarapé Paratizinho e a localidade de Belo Monte.
Onde ocorre relevo dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia, há morrotes, morros e
serras, com Neossolos e afloramentos rochosos, determinando, por vezes, áreas com aptidão
restrita para lavoura ou sem aptidão para o uso agrícola. Na porção centro-norte tem-se uma
faixa de rochas metavulcano-sedimentares, dominada por morros e morrotes, com ocorrências
de Argissolos com boa aptidão para lavoura ou pastagem plantada, e Neossolos Litólicos sem
aptidão para uso agrícola. O eixo da rodovia Transassurini situado nessa porção centro-norte,
constitui uma frente de ocupação devido não apenas a presença dessa via de acesso como
também aos assentamentos rurais do INCRA; nesse trecho, assim como na porção interna da
Volta Grande, correspondente à margem esquerda do rio Xingu e sob influência da rodovia
Transamazônica as formações florestais estão reduzidas a fragmentos isolados em meio a
extensas áreas de pastagem plantada com criação de gado de corte e secundariamente ocorrem
áreas de agricultura de subsistência e comercial, sobressaindo, nesta última, a cultura do
cacau.
No baixo trecho do rio Bacajá, ainda ocorrem grandes fragmentos florestais da Floresta
Ombrófila Aberta com cipós, bem conservados devido a presença de TIs e a dificuldade de
acesso. Nesse trecho prevalece o uso florestal, associado ao modo de vida indígena. No
entanto, a ocorrência de garimpos de ouro em áreas de rochas vulcano sedimentares
(greenstones) e novos assentamentos rurais planejados poderão vir a ameaçar a integridade
florestal dessa área.
É importante destacar que, a maior parte das informações sobre a fauna da AII do AHE Belo
Monte foi caracterizada, basicamente, com dados levantamentos secundários, tendo sido
evidenciado uma grande lacuna de informações para a área em questão. No entanto, para os
grupos dos quelônios e crocodilianos, como também ictiofauna, foram realizados
levantamentos primários que abrangeram a AII. Embora as três fitofisionomias identificadas
na região ocorram nos três compartimentos, optou-se por descrever os diversos grupos
correlacionando-os no compartimento que apresenta maior ocorrência dessas fisionomias
vegetais.
FIGURA 9.3-3 – (a) Floresta Ombófila Aberta com palmeiras, na margem esquerda do rio
Xingu, na região do entorno da T.I Paquiçamba (b) Floresta Ombrófila
Aberta com cipó
Na Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras as familias com maior riqueza de espécies
foram Mimosaceae, Fabaceae, Lauraceae, Caesalpiniaceae e Moraceae, Myrtaceae e
Sapotaceae.
Nas áreas próximas aos travessões da Transamazônica localizados na região da Volta Grande,
margem esquerda do rio Xingu e próxima a rodovia Transassurini, a vegetação de terra firme
está bastante alterada e os fragmentos florestais que aí ocorrem são de dimensões reduzidas
estando em sua maioria isolados, fatores que fazem prever uma baixa capacidade de
sustentação da biota terrestre nesse trecho.
Essas formações florestais de terra-firme, que ocorrem em áreas mais afastadas da rede de
drenagem e em cotas altimétricas mais elevadas, basicamente recobrindo as colinas, morros e
morrotes, constituem habitat para a maior parte da mastofauna (embora muitas espécies
ocorram também em ambientes aluviais). Portanto, em geral, os hábitats de floresta ombrófila
têm diversidade de mamíferos maior do que as florestas de várzea, tanto para primatas como
para outros grupos de mamíferos não voadores. Contudo, algumas espécies de primatas
vivendo em ambientes de várzea contam com populações maiores, portanto, com maior
abundância de indivíduos.
Cerca de quarenta espécies de mamíferos terrestres não voadores listadas para a AII são
tipicamente florestais, mas muitas utilizam também capoeiras e mesmo pastagens ou áreas
agrícolas. É o caso, por exemplo, daquelas com ampla distribuição, utilizando inclusive
ambientes existentes no Cerrado. Esses animais adaptam-se aos mosaicos de vegetação,
incluindo áreas perturbadas ou mesmo desflorestadas, desde que tenham acesso a refúgios
É importante destacar que, para o grupo dos mamíferos, um importante fator que determina
sua distribuição territorial é a barreira formada pelo rio Xingu. Essa barreira é
particularmente importante para os primatas que são, em princípio, bons indicadores da
qualidade de hábitat. Ocorrem na região Ateles marginatus (coatá-de-testa-branca) e
Chiropotes albinasus (cuxiú-de-nariz-branco), que são espécies mais vulneráveis aos efeitos
antrópicos, especialmente por suas distribuições geográficas restritas, o que coloca o coatá
como vulnerável na lista da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, 2007).
As aves representam uma alta proporção da diversidade de vertebrados na floresta; são bons
indicadores de degradação florestal, por responderem às mudanças de hábitat em diferentes
escalas. Algumas aves de sub-bosque são altamente relacionadas ao dossel da mata e evitam
clareiras, sendo vulneráveis ao isolamento em fragmentos florestais circundados por
pastagens. A organização ecológica da comunidade das aves se correlaciona com a estrutura
da vegetação e apresenta suscetibilidade às modificações ambientais na estrutura florestal, tais
como aberturas no dossel, fragmentação e bordas de mata.
Com relação aos fluxos migratórios das aves, em especial, para a Amazônia, ainda são
escassas informações qualitativas sobre os pontos de pouso, dormitório e alimentação das
espécies visitantes na literatura científica. Dentre os padrões mais importantes a serem
pesquisados, inclusive na bacia do Rio Xingu, destacam-se as migrações regulares
desencadeadas por enchentes na Amazônia, sobretudo, de aves ribeirinhas, tais como o
bacurau-da-praia (Chordeiles rupestris). Em inventário realizado na região foram registradas
cinco espécies visitantes setentrionais: a águia-pescadora (Pandion haliaetus), a batuíra-de-
coleira (Charadrius collaris), o maçarico-pintado (Actitis macularia) e duas andorinhas
(Riparia riparia e Hirundo rústica).
A área de influência indireta do AHE Belo Monte possui cerca de 440 espécies de aves
inventariadas, entre elas alguns táxons singulares e relevantes devido ao seu caráter endêmico
e ao seu status de conservação. Das aves registradas, dez táxons são incluídos em algum grau
de ameaça de extinção, seja em nível nacional (BRASIL, 2003) ou em nível mundial (IUCN,
2007).
Destas, quatro estão incluídas na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
(Instrução Normativa n° 3, de 27 de maio de 2003, Ministério do Meio Ambiente), duas como
vulneráveis: a arara-azul-grande Anodorhyncus hyacinthinus (Latham, 1790), e a ararajuba
Guaruba guarouba (Gmelin, 1788); e outras duas sub-espécies de distribuição restrita aos
Estados do Maranhão ao Pará, nos interflúvios entre os rios Xingu/Tocantins e
Tapajós/Tocantins: o mutum-de-penacho Crax fasciolata pinima (Pelzeln, 1870), considerado
“em perigo”; e ainda o araçari-de-pescoço-vermelho Pteroglossus bitorquatus bitorquatus
(Vigors, 1826), classificado como vulnerável (Brasil 2003). Além de dois psitacídeos da
arara-azul, Anodorhynchus hyacinthinus e ararajuba, Guaruba guarouba, classificados como
vulneráveis, outras seis são espécies de aves incluídas na lista das espécies globalmente
ameaçadas (IUCN, 2007), como próximas de serem consideradas ameaçadas (“Near
Dangered”): a águia–real Harpia harpyja; o uiraçú-falso Morphnus gujanensis; o jacu-estalo-
escamoso Neomorphus squamiger, a jacupiranga Penelope pileata, o limpa-folha-de-bico-
virado Simoxenops ucayalae e o puruchém Synallaxis cherriei. Todas estas espécies foram
registradas durante os levantamentos primários realizados no âmbito dos estudos do EIA e são
associadas a ambientes preservados e que tenham presas mais abundantes como é dos grandes
gaviões (uiraçu-falso e águia-real).
A herpetofauna que ocorre nas Florestas Ombrófilas Abertas em seus diferentes micro-
hábitats como serrapilheira, arbustos, poças temporárias, margens de igarapés, é representada
por espécies de anfíbios e répteis identificadas como potenciais indicadoras da integridade do
hábitat, entre as quais destacam-se: Adelphobates castaneoticus Ceratophrys cornuta,
Adelphobates galactonotus, Plica plica, Arthrosaura reticulata, Arthrosaura kockii e
Ptychoglossus brevifrontalis.
Nesta formação florestal a maior riqueza de espécies foi apresentada por Fabaceae e
Sapotaceae, Caesalpiniaceae, Chrysobalanaceae e Euphorbiaceae e Myrtaceae e Sapotaceae.
Em alguns trechos aparecem formações com as palmeiras jauari (Astrocaryum jauari), açaí
(Euterpe oleracea) e caranã (Mauritiella armata), nas zonas mais rebaixadas do relevo.
Há também espécies florestais peculiares, que apesar de não aquáticas, são altamente
associadas aos habitats existentes nas margens dos rios (RENSEN; PARKER III, 1983;
ROSEMBERG, 1990), entre elas: a curica-urubu Pionopsitta vulturina, a ararajuba Guaruba
guarouba, o papagainho-verde Graydidascalus brachyurus, o beija-flor Polyplancta
aurescens, o arapaçú-do-bico-grande Nasica longirostris, os formicarídeos Sclateria naevia,
Hypocnemoides maculicauda, Sakesphorus luctuosus e Myrmotherula surinamensis, o
puruchém Synallaxis cherriei, o limpa-folha de bico virado Simoxenops ucayale, a maria-
preta-ribeirinha Knipolegus orenocensis e o dançarino-coroa-de-fogo Heterocercus linteatus.
Deve-se enfatizar que essa relação da ocupação de nichos com o ambiente aquático é
resultado da estratificação no hábitat de uma diversidade muito grande de espécies de aves, e
também de outros grupos taxonômicos, que ocorreu durante o processo evolutivo pela
competição de recursos, e que é expresso principalmente por comportamento ecológico de
seleção de hábitat.
O levantamento da ictiofauna neste EIA foi realizado por ambientes (biótopos) preferenciais
(calha do rio, remanso, corredeiras e pedrais, lagoas marginais, áreas de inundação, igarapés)
dos distintos grupos.
O padrão no qual indivíduos de maior tamanho se concentram na parte mais alta do rio é
bastante comum, mas não geral. Dentre as espécies mais abundantes, que permitem essa
análise citam-se Myleus torquatus, Curimata cyprinoides, Caenotropus labyrithicus, todos
Characiformes e apresentaram tamanhos médios maiores, bem como o predador Boulangerela
cuvieri.
Esse ecossistema é também vital para a maioria dos peixes frugívoros das águas do rio Xingu,
que dependem dos frutos da floresta aluvial e da vegetação pioneira; esses peixes pertencem à
ordem dos Characiformes e a algumas famílias da ordem Siluriformes. Pelo menos oito
espécies utilizam recursos da floresta inundada: Colossoma macropomum, Bryconops sp,
Tocantinsia depressa, Leporinus sp, Tometes sp, Myleus schomburgki, Myleus sp e
Triportheus rotundatus. Para a maior parte das árvores, o período de frutificação ocorre
simultaneamente durante as enchentes do rio, coincidindo com a entrada de tambaquis, pacus,
aracus e outros na planície de inundação em busca de alimento
Dois outros grupos associados aos ambientes aquáticos da AII são os mamíferos e quelônios
aquáticos. As lontras (Lontra longicaudis) e ariranhas (Pteronura brasiliensis) são comuns ao
longo da AII, especialmente neste compartimento ambiental. A ocorrência de lontras é alta
nos igarapés Galhoso e Di Maria, e também nas praias do rio Xingu. A Lontra longicaudis é
solitária ou vive em casal e se tem pouca informação acerca das dimensões de sua área de
vida.
As Formações Pioneiras com influência fluvial e/ou lacustre, constituem o terceiro domínio, e
colonizam as áreas de pedrais do rio Xingu, encontradas na calha do rio Xingu desde a
confluência do rio Iriri até a região denominada Volta Grande do Xingu, onde essas
formações têm sua maior expressão espacial (FIGURA 9.3-5). Apesar de ocuparem apenas
4,5% da área da AII as Formaçòes Pioneiras representam um ecossistema de grande
importância biológica na região.
Foram constatados os seguintes grupos que ocorrem nos ambientes aluviais, especialmente
nos pedrais: duas espécies de anfíbios (Rhinella granulosa e Hypsiboas boans), duas de
lagartos (Cnemidophorus cryptus e Tropidurus oreadicus) e uma de serpente (Eunectes
murinus).
Em termos de mão-de-obra ocupada, o setor primário é o que mais absorve trabalhadores, sem
levar em consideração a contribuição da mão-se-obra familiar na geração da renda. A
agricultura familiar é a base econômica local e encontra limitações para seu crescimento, por
ter baixa capacidade de agregação de valor, poucas alternativas produtivas, geração de
excedente reduzido. Estes resultados são o produto de anos de projetos de assentamentos
dirigidos que não obtiveram sucesso, tornando a região receptora de famílias oriundas do Sul
e Nordeste em busca de terras e áreas de fronteira, mas sem o aparato técnico, estrutural,
institucional e financeiro necessário.
As bases agropecuárias (setor primário) possuem grande peso na estrutura econômica local,
sendo que em municípios como Anapu, Brasil Novo, Pacajá, Placas e Vitória do Xingu a
participação do setor primário chega a quase a metade do PIB municipal.
A maior parte das terras nesse compartimento ainda é ocupada por Floresta Ombrófila Densa,
ainda preservada por estar em terras ocupadas pela Terra Indígena - TI Bacajá.
Outros produtos fonte do extrativismo como o açaí e o cupuaçu, por exemplo, já possuem
grande expressividade nacional e internacional, embora ainda não haja dados oficiais sobre a
produção de cupuaçu.
O maior foco das atividades extrativistas tem se dirigido para a diversidade biológica dos
recursos da Amazônia e as tentativas de patentes internacionais de aproveitamento dos frutos,
ervas e outros recursos, inclusive nas terras indígenas.
Na AII estão situadas 15 Terras Indígenas, todas no Médio Xingu e a maioria (67%) no
município de Altamira, com diferentes estágios de reconhecimento: 8 (53%) registradas, no
último estágio do reconhecimento, 2 (13%) homologadas no penúltimo estágio; 1 declarada,
no estágio intermediário; 3 (20%) identificadas, no segundo estágio; e 1 (7%) no estágio
inicial. As Terras Indígenas sofrem as mesmas pressões que as Unidades de Conservação -
UC e os assentamentos, sendo registrados conflitos com mineradores, pescadores, caçadores,
madeireiros e posseiros.
As principais áreas na AII, registradas em nome da União e que foram objeto de grilagem,
através do “o fantasma Carlos Medeiros” estão no município de Altamira: Sesmaria Cumbé I
(3.000 ha); Sesmaria Sobrado (19.800 ha); Sesmaria Cumbé II (30.000 ha) e Sesmaria
Fazenda Cafeituba (29.136 ha).
Pode-se observar que após 30 anos de ocupação direcionada e desordenada, a divisão espacial
nessa porção territorial é marcada por relações de desigualdade social, segregação territorial,
degradação do ambiente natural e conflitos armados em torno da posse da terra.
Este quadro fundiário desordenado e com forte pressão para exploração com grilagem de
terras é comum em todos os municípios. Esta é uma condição regional/local inserida na região
de fronteira amazônica. Ao lado da grilagem e pressão por exploração ilegal de recursos
naturais, madeireiros em especial, agricultores e trabalhadores rurais têm na luta pela fixação
a terra por sistemas de produção extrativistas ou agrícolas sustentáveis, a base da ação
comunitária desenvolvida na região.
Os ribeirinhos que habitam essa região vivem nas margens dos Rios Xingu, Iriri e Curuá. São
cerca de 350 famílias moradoras das quatro RESEX mencionadas, além da Estação Ecológica
Terra do Meio e do Parque Nacional da Serra do Pardo.
A RESEX do Rio Iriri foi criada em junho de 2006 e abriga aproximadamente 55 famílias. A
Reserva possui área de 398.938 hectares e também está localizada na Terra do Meio, no
município de Altamira, há cerca de 3 dias de barco da sede. A região conhecida como Terra
do Meio possui área de 8 milhões de hectares, e engloba a reserva extrativista do Rio Iriri, as
RESEX do Riozinho do Anfrísio e do Médio Xingu, além da Floresta Estadual do Rio Iriri,
Terras Indígenas e outras Unidades de Conservação.
Embora o setor de serviços seja predominante na geração do PIB ele está alicerçado no setor
primário, principalmente na agricultura e na pecuária. A agricultura na região constitui-se
eminentemente em uma atividade de subsistência, para alimentação das famílias e de algumas
criações, mas com algumas lavouras voltadas ao mercado, como o cacau e a pimenta.
Tradicionalmente, a mandioca e o arroz são culturas de base alimentar na região. A produção
dessas lavouras na Área de Influência Indireta não se destaca, embora, em 2006, Altamira
tenha se colocado como 12º maior produtor de arroz do Pará e 31º de mandioca.
Cinco dos onze municípios da AII são os maiores produtores de cacau do Estado do Pará.
Esta lavoura é a principal cultura da região, para a qual têm se voltado investimentos públicos
e privados, na busca por atingir novos mercados, em especial, o mercado externo. Destaca-se
que Medicilândia, maior produtor de cacau do Pará, é o segundo maior produtor do Brasil,
ficando atrás apenas do município de Ibirataia, situado no Estado da Bahia. O município de
Uruará destaca-se como o 7º maior produtor nacional.
O Índice Parasitário Anual dos Municípios - IPA varia muito entre os municípios da AII, e no
mesmo município ao longo dos anos e apresentam grandes diferenças entre as diversas
localidades de um mesmo município. Os maiores IPAS são os de Anapu, Pacajá e Senador
José Porfírio, que apresentam níveis que caracterizam a área como de alto risco de
transmissão de malária. Todos os demais municípios têm IPAs abaixo de 50 casos por mil
habitantes por ano e são classificados como de baixo risco de transmissão de malária.
Existe apenas um posto de saúde para assistir a toda essa população, sem médico nem
enfermeira. A equipe de endemias que cobre toda a área é constituída apenas por 3
microscopistas, 5 guardas de endemias e um técnico de enfermagem. Seriam necessárias 10
equipes do Programa de Saúde da Família - PSF para garantir a assistência básica à saúde da
população do Ladário, compostas por 10 médicos, 10 enfermeiras, 10 auxiliares de
enfermagem e, pelo menos, 70 agentes comunitários de saúde. Mas, o município só dispõe de
uma equipe do PSF, que atua na única unidade desse Programa situada na sede, e que está
sem médico há 02 meses.
Senador José Porfírio (km 173); Porto Dorothy Stang no município de Vitória do Xingu (na
confluência entre os Rios Tucuruí e Xingu); e o Porto de Altamira (Remanso do Pontal) no
município de Vitória do Xingu que é o ponto de conexão da Hidrovia do Xingu com a
Rodovia Transamazônica. O acesso ao porto é feito através do Rio Xingu ou da rodovia BR-
230 (Transamazônica), que é a ele ligada por uma estrada de 1 km. Suas instalações estão
constituídas por um armazém de 50 m x 20 m, um galpão de madeira, escritório e residência
do gerente, casa de força com grupo-gerador etc.
Destaca-se, ainda, a existência de travessias de balsa em dois pontos do Rio Xingu, na cidade
de Altamira e nas localidades de Belo Monte do Pontal e Belo Monte II que permitem o
transporte de veículos e de pedestres. Na primeira travessia, o trajeto da balsa interliga a
cidade de Altamira, na margem esquerda do Rio, com a área rural do município situada na
margem esquerda, através da Transassurini. A travessia na altura das localidades de Belo
Monte interliga os municípios de Anapu e Vitória do Xingu, através da Rodovia
Transamazônica (BR-230).
A porção sul deste compartimento é caracterizada por rochas sedimentares (arenitos, argilitos
e folhelhos) e vulcânicas básicas da Bacia Sedimentar do Amazonas, onde se desenvolvem as
colinas do Planalto Marginal do Amazonas; nessas colinas ocorrem Latossolos e associação
de Nitossolos adequados à agricultura e à pastagem, favorecendo a ocupação agropecuária. A
porção norte do compartimento é dominada por arenitos da Formação Alter do Chão,
observando-se as rampas de platôs com lateritas, colinas e rampas da Depressão do
Amazonas, onde estão presentes associações de Latossolos e plintossolos pétricos
concrecionários, com restrições à agricultura e com potencial extrativista.
A rede hidrográfica é formada pelo rio Xingu e alguns tributários pela margem esquerda,
como os igarapés Panelas, Altamira, Ambé e da Trindade, na região da cidade de Altamira, e
o igarapé Joá. Na margem direita têm-se os igarapés Jarauá e Tamanduazinho.
Em relação ao trecho do rio Xingu que drena este compartimento, cabe ressaltar que ele é
caracterizado por ausência de corredeiras, uma vez que se situa a jusante dos pedrais da Volta
Grande, apresenta pouca declividade e na estiagem sofre efeito da maré do rio Amazonas.
Por outro lado a fragmentação pode beneficiar espécies de mamíferos de pequeno porte.
Estudos nas florestas tropicais sugerem que muitas das espécies de pequenos mamíferos
atingem elevadas densidades em hábitats perturbados. Na Amazônia, os hábitats e os recursos
utilizados por muitas espécies de pequenos mamíferos são ainda pouco conhecidos.
Investigação recente trouxe novos dados sobre as relações de variáveis do habitat com a
abundância de recursos com cinco espécies de marsupiais e nove espécies de roedores na
Amazônia. Entre os pequenos mamíferos, roedores e marsupiais, há espécies hábitat-
especialistas, mais exigentes em qualidade de ambiente, e espécies-hábitat-generalistas, com
maior capacidade de se aproveitar de ambientes alterados.
Neste compartimento localizam-se as sedes urbanas e suas áreas de entorno dos municípios de
Altamira, Vitória do Xingu e Senador José Porfírio. Com sedes localizadas fora da bacia
hidrográfica do rio Xingu, mas ao longo do eixo da Transamazônica, estão os municípios de
Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e Placas, situados na porção ocidental da AII, e as sedes de
Anapu e Bacajá, ambas localizadas em sua porção oriental.
Altamira e Senador José Porfírio (antigo município de Souzel) tiveram sua estrutura espacial
herdada do período colonial, expandindo e se consolidando com o “boom” da borracha e com
a exploração de outros produtos vegetais, até meados da década de sessenta. Trata-se de um
período iniciado com a conquista e ocupação portuguesa do vale do Amazonas e de seus
afluentes – implantação de fortificações militares e missões religiosas – moldado pela
exploração extrativista, alicerçado no sistema de aviamento e tendo como suporte uma rede de
núcleos articulados pela circulação fluvial.
Dados do IBGE em 1980 revelaram que o Pará foi o estado da Região Norte que recebeu o
maior número de imigrantes interestaduais durante a década anterior. A malha viária instalada
a partir daquela década foi responsável pela penetração de população em várias direções:
Rodovia Belém-Brasília (BR-153), principal corredor no sentido Sul-Norte que integrou a
parte oriental da Amazônia à região Centro-Sul do Brasil; Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-
163) que se configura como um corredor de acesso que vem facilitar a integração com a
porção ocidental da Amazônia; e, Rodovia Transamazônica (BR-230), corredor de acesso no
6365-EIA-G91-001b 73 Leme Engenharia Ltda.
sentido Leste-Oeste, planejada para integrar a Região Norte com o restante do País. De certo
modo o projeto de ocupação dos “espaços vazios” da Amazônia tinha na malha viária o seu
principal instrumento.
Os transportes para o atendimento dos setores da economia são feitos através da Rodovia
Transamazônica que enfrentam dificuldades de acesso e circulação, dada as suas condições de
tráfego, sobretudo durante o período chuvoso. Trata-se de uma via que necessita de
conservação intensa durante os 12 meses do ano. Na época das chuvas (dezembro/ maio) são
comuns as interrupções do tráfego devido à formação de atoleiros, ao rompimento de bueiros
e de aterros, bem como pela destruição de pontes e pontilhões pela força das águas, além das
dificuldades dos veículos pesados para vencerem as rampas acentuadas e escorregadias em
qualquer época do ano. Na época seca, a poeira excessiva aumenta o perigo de acidentes.
Além do transporte viário, o transporte fluvial também se destaca como um importante meio
de acesso. Nesse compartimento localizam-se os portos de Altamira e Vitória do Xingu, este
último, utilizado para escoamento e circulação de mercadorias em direção ao Rio Amazonas.
Embora historicamente o transporte fluvial seja o principal acesso na AII utilizado para
extração de produtos naturais, não se dispõe de uma rede organizada para atender a
população.
Desde 1970, Altamira é o município mais populoso da AII. Neste ano, com 15.345 habitantes,
sua taxa de participação em relação ao total da população da AII era de 38,5%. Na década de
1970, Altamira apresentava uma alta taxa de crescimento geométrico anual de 11,7% ao ano,
que arrefeceu na década seguinte passando a 4,1% ao ano. O fato mostra que a sede municipal
já se afirmava como centro sub - regional no contexto das relações econômicas e políticas
regionais circunscritas à dinâmica dos fluxos e da atividade comercial que se estabeleciam por
meio dos cursos d’água, bem antes da década de 1970, que marcaria profundamente a
estrutura espacial e socioeconômica regional. (PDRS,versão preliminar, Nov.2008).
A taxa de crescimento na década de 1990 foi de 0,7 %. Recupera sua condição de pólo de
atração demográfica no período 2000 a 2007, com a taxa de crescimento aumentando para
2,5% ao ano; e sua participação da população em relação ao total da AII ainda tem a
importante magnitude de 29%, considerando ao aumento do número de municípios da região.
Os municípios de Pacajá e Anapu foram os que mais contribuíram para o aumento do setor
secundário em 2005. Já no setor de serviços, o crescimento nominal foi maior no município
de Anapu ao lado do município de Uruará. Este crescimento deu-se, sobretudo, em relação ao
aumento da Administração Pública e não pelo dinamismo induzido pelos setores agropecuário
e industrial.
O setor secundário (indústrias) apresenta pouca participação apontando para uma estrutura
produtiva que apresenta pouca capacidade de beneficiamento e agregação de valor.
Os serviços de telefonia fixa ainda são precários na maior parte das sedes municipais. Em
Altamira, município mais bem atendido da área de estudo, menos de 30% dos domicílios
contava com esse benefício em 2007. Em Uruará, no mesmo ano, esse número era inferior a
15%. Em todos demais municípios, os índices de atendimento situavam-se próximos ou
inferiores a 10%. Comparando com a situação do Estado, os dados revelam a exclusão social
da maioria da população, no que diz respeito ao acesso à telefonia fixa.
A distribuição de energia elétrica é feita pelas Centrais Elétricas do Pará S/A – CELPA. As
redes de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN) alcançam a AII por meio das
subestações Altamira, Transamazônica e Rurópolis, todas com tensão de 230 kV, localizadas,
respectivamente, nos municípios de Altamira, Uruará e Rurópolis. O município de Altamira,
embora interligado ao SIN, também é atendido por esses sistemas. O serviço oferecido é
precário, sendo que dentre os municípios que apresentaram os piores resultados em relação ao
atendimento de energia elétrica, destaca-se o de Senador José Porfírio, que chegou a ter 98
interrupções em 2007, com duração total de 321 horas sem energia elétrica.
A maior parte dos domicílios dos municípios é abastecida por poços ou nascentes encontra-se
nas áreas rurais, à exceção de Altamira, onde domicílios dotados desse tipo de abastecimento
concentram-se nas áreas urbanas e totalizam um número cerca de quatro vezes superior ao
verificado nas áreas rurais.
Em relação ao esgotamento sanitário, cabe destacar que 25% dos domicílios não dispõem de
instalações sanitárias e 61% contam com formas inadequadas de disposição dos dejetos
gerados: fossas rudimentares (forma preponderante, em 55% dos domicílios) ou valas abertas,
cursos d’água e outros escoadouros (formas utilizadas por 6% dos domicílios). Apenas 13%
das residências são servidas por fossas sépticas e 1% por rede geral de esgoto ou pluvial.
Os municípios que podem ser considerados relativamente mais bem atendidos por contarem
com fossas sépticas que atendem de 15 a 30% dos seus domicílios são Altamira e Vitória do
Xingu. As situações mais graves ocorrem em Anapu e Pacajá, onde mais da metade das
residências não dispõem de banheiro ou sanitário.
Quanto ao destino do lixo, nenhum município da AII possui a totalidade dos seus domicílios
particulares permanentes contemplados com o sistema de coleta. Em Altamira, cidade mais
bem atendida em relação a esse serviço, apenas aproximadamente 73% dos domicílios dispõe
desse sistema. Nos demais municípios, a coleta varia entre cerca de 5% dos domicílios, em
Em Placas, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu –, a presença dos órgãos federais e
estaduais se restringe à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT, no âmbito
federal, e à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER, no estadual. No
município de Placas não há nenhum órgão estadual.
Já o município de Altamira, além dos órgãos mencionados acima, dispõe desde instituições de
ensino, fundações, bancos, secretarias estaduais, defensoria pública e Superintendência
Regional de Segurança Pública. É importante destacar que Altamira e Brasil Novo são os
únicos municípios da AII que contam com a presença de uma sede do INCRA – Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
Dados sobre a segurança pública nos municípios de Altamira e Pacajá revelam taxas acima de
29,2 homicídios por 100.000 habitantes, o que os coloca entre os 556 municípios brasileiros
com maior taxa de homicídios na população total (os 10% mais violentos do país). Na
categoria imediatamente abaixo, que abriga os 25% municípios mais violentos do país, com
taxas entre 16,7 e 29,2 homicídios por 100.000 habitantes, situam-se Uruará, Brasil Novo e
Senador José Porfírio. Anapu, Vitória do Xingu e Medicilândia, com taxas entre 10,1 e 16,7
homicídios por 100.000 habitantes, figuram entre os 40% municípios brasileiros mais
violentos. Placas enquadra-se na categoria em que as taxas variam de 0 a 6,4 homicídios por
100.000 habitantes.
Também é precário o serviço de segurança pública, tendo sido registrado déficits de efetivo
policial de até 1.003,7% em Placas, o que corresponde a 01 policial para cada 3.311
habitantes. Tomando-se por base a relação/habitante por policial equivalente a 1/300, índice
inferior ao recomendado pela ONU que é de 1/250 habitantes, Altamira se destaca em relação
ao restante das sedes municipais, por ser a único município que apresentou déficits inferiores
a 1/87, ou seja, tem um policial para cada 419 pessoas. No restante dos municípios o índice
foi superior a 1000. A região abriga uma única unidade localizada em Altamira.
Em relação aos anos efetivos de estudo da população total, tem-se que em Altamira encontra-
se a população com um número maior de anos de estudo da AII, 3,66 anos e em Gurupá a
população com menos anos, apenas 1,63 o que demonstra a precariedade do ensino na AII,
devido basicamente as formas de organização social vigente que espelham os diversos
processos de ocupação e apropriação que ocorreram na AII desde os tempos da colonização
portuguesa, passando pela colonização dirigida e espontânea, das décadas de 60 e 70 do
século XX, até os dias de hoje, onde as frentes de ocupação são lideradas pelos interessados
em explorar os recursos naturais, ainda existentes, e em expandir as fronteiras agropecuárias.
Dados do IBGE revelam que as maiores taxas de aprovação foram registradas nas escolas
localizadas nas áreas urbanas dos municípios de Brasil Novo e Altamira, de 83,6% e 82,7%,
respectivamente. Por outro lado, as menores taxas foram registradas nas escolas das zonas
rurais de Senador José Porfírio (37,3%) e Anapu (47,9%). Na comparação direta com os
dados do Estado do Pará, verifica-se que, com relação à zona rural, 63% dos municípios
apresentaram taxas de aprovação mais baixas que a estadual, de 61,8%. Já com relação à área
urbana, apenas Altamira e Brasil Novo registraram taxas maiores que a observada no Estado
do Pará (73,9%).
Quanto às taxas de reprovação, os maiores índices foram registrados nas escolas localizadas
nas áreas urbanas de Medicilândia (26,2%) e Vitória do Xingu (26,3%) e na zona rural de
Uruará (27,7%). A menor taxa de reprovação foi registrada na área urbana de Brasil Novo, de
9,6%, índice significativamente inferior ao observado no âmbito estadual (15,5%).
A malária em Senador José Porfírio se concentra nos Garimpos Ressaca, Galo e Itatá, e
Comunidade Ilha da Fazenda, todas situadas na Área de Influência Direta, no trecho da Volta
Grande do Xingu. A malária em Altamira ocorre predominantemente em áreas ribeirinhas de
ocupação antiga e população estável, sendo encontrado também nas margens e ilhas do Rio
Xingu e seus afluentes. Um aspecto relevante em Altamira é a existência de transmissão
urbana da malária, principalmente nos bairros São Domingos I e Jaburu. Os postos indígenas
Ipixuna e Arara (Laranjal) Iriri também possuem um perfil de alta transmissão.
Vitória do Xingu tem pouca ocorrência de casos de malária, mas as áreas mais malarígenas
situam-se na AID, principalmente, a Terra Arroz Cru, os Travessões do CNEC e do km 27
Altamira/Marabá, o km 60 da Rodovia Transamazônica Atamira/Marabá e o Posto Indígena
Paquiçamba.
Os serviços de saúde se caracterizam pela polarização exercida por Altamira. Existem 150
Unidades de Saúde nos municípios da Área de Influência Indireta do AHE Belo Monte, sendo
que Altamira possui 46 unidades de saúde, 31 % do total de unidades da área. Uruará, Porto
de Moz e Medicilândia têm pouco mais de 10 unidades, e os demais municípios menos de 10.
Com exceção de Placas, todos os outros municípios dependem, com maior ou menor grau de
intensidade, de Altamira para procedimentos de média e alta complexidade. Municípios como
Uruará e Brasil Novo possuem serviços com nível de Atenção Secundária à Saúde. Outro
como Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, não possuem hospital. A modalidade de
Atenção Básica à saúde está muito pouco estruturada na maioria dos municípios.
Por não disporem de hospital, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu não operam o Sistema
de Informação Hospitalar - SIHSUS e o Sistema de Informação de Controle de Infecção
Hospitalar – SISCIH. Os demais municípios possuem hospital e já operam estes sistemas.
Altamira, que possui a maior e mais especializada rede hospitalar da AII; porém tem um
déficit de 40% de médicos. Essa situação agrava o atendimento em áreas endêmicas da
malária, que na atualidade estão intimamente associados à atividade madeireira, sendo os
principais responsáveis por sua disseminação em outras regiões do Estado.
Este quadro fundiário desordenado e com forte pressão para exploração com grilagem de
terras é comum em todos os municípios. Esta é uma condição regional/local inserida na região
6365-EIA-G91-001b 80 Leme Engenharia Ltda.
de fronteira amazônica. Ao lado da grilagem e pressão por exploração ilegal de recursos
naturais, madeireiros em especial, agricultores e trabalhadores rurais têm na luta pela fixação
a terra por sistemas de produção extrativistas ou agrícolas sustentáveis, a base da ação
comunitária desenvolvida na região.
O município de Altamira abriga todas estas categorias de UC, presentes na AII: a FLONA de
Altamira, as FES do Cariri e Iriri, além da APA Triunfo do Xingu. Citam-se ainda as FLONA
Caxiuana, Trairão e Tapajós, limítrofes O município de Altamira também abriga todas estas
categorias de UC, presentes na AII: a FLONA de Altamira, as FES do Cariri e Iriri, além da
APA Triunfo do Xingu. Citam-se ainda as FLONA Caxiuana, Trairão e Tapajós, limítrofes a
AII. Alem dessas, a AII também abriga Unidades de Conservação de Proteção Integral,
Projetos de Assentamento, áreas estaduais, arrecadadas como terras devolutas pelo Instituto
de Terras do Pará – ITERPA e incorporadas ao patrimônio fundiário do Estado do Pará,
assentamentos quilombolas e terras indígenas.
Este compartimento abrange a porção norte da AII, com uma área de 8.730 km2. Compreende
terrenos nas duas margens do rio Xingu, desde a extremidade de jusante dos tabuleiros, nas
proximidades da cidade de Senador José Porfírio, até a sua foz no rio Amazonas.
Compreende o baixo curso do rio Xingu e seus afluentes, rios Acarai, Jarauçu e Majari. Na ria
do Xingu o canal é largo e profundo, com margens altas, sendo afetado por variações do nível
d’água decorrentes das marés. Na extremidade norte do compartimento são observados canais
múltiplos, com ilhas, paranás, furos, lagos, diques aluviais, cordões fluviais do tipo slikke e
schorre, praias, canais anastomosados, meandros abandonados, além de feições mais
comumente associadas com o período das enchentes, como os igapós, que correspondem a
trechos de florestas que ficam inundadas durante as enchentes.
O trecho da ria do Xingu, com ausência de corredeiras, tem pouca declividade e na estiagem
sofre efeito da maré provocada pelo rio Amazonas, influenciando o nível da água do rio e
conseqüentemente a movimentação dos organismos aquáticos. Apresenta extensas praias onde
desovam tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) e são também utilizadas por espécies
de aves associadas as estes ambientes, como maçaricos, corta-água e talha-mares.
No rio Xingu, a dourada e também a piramutaba (mas em menor proporção) são visualizadas
e capturadas no trecho baixo do rio, desde a foz do rio, até, no máximo, o povoado de Belo
Monte. A pesca de dourada é bastante desenvolvida nesta região junto com o filhote. Tanto a
dourada como a piramutaba não são encontradas rio acima, após as grandes cachoeiras,
ocorrendo apenas na parte baixa do rio.
Há dois principais nichos reprodutivos de desova dos quelônios na região do Xingu: as praias
ou tabuleiros de desova, situados fora da área de influência direta do empreendimento, que
variam bastante em extensão, cobertura vegetal nas extremidades e, provavelmente, na
granulometria da areia; e as sarobas, que são pequenos conjuntos de ilhotas formadas por
pedras e areia, com vegetação herbáceo-arbustiva associada. As conformações destas últimas
são extremamente variadas, assim como seu tamanho, e constituem as principais áreas de
desova de P. unifilis a montante de Belo Monte.
Próximo à vila de Belo Monte, as ariranhas também são observadas o ano inteiro, com maior
freqüência na seca, enquanto que na cheia elas vão para os poços localizados na região da
Volta Grande, utilizando as pedras como abrigo. Na região de Vitória do Xingu e na
comunidade Vila Nova as ariranhas são vistas principalmente no inverno, especialmente nas
áreas de igapó e nos igarapés. Na região de Senador José Porfírio, a maré exerce grande
influência na movimentação desses animais: quando a maré enche, as ariranhas entram nos
igarapés atrás de alimento.
Tanto a lontra quanto a ariranha, ambas com ampla distribuição geográfica, podem ter maior
ou menor abundância nos ambientes da AII, particularmente nos trechos do rio Xingu, em
função da presença de biótopos importantes para a espécie tais como os pedrais, que
funcionam com abrigos e que são ativamente marcados pelos grupos sociais, como as latrinas
coletivas.
Neste trecho que o correspondente ao baixo curso do rio Xingu os bagres migradores,
(algumas espécies da ordem Siluriformes), que realizam migrações de longas distâncias, como
a piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii), e a dourada (B. flavicans). são visualizadas e
capturadas, desde a foz do rio, até, no máximo, o povoado de Belo Monte. A pesca de
dourada é bastante desenvolvida nesta região junto com o filhote. Tanto a dourada como a
piramutaba não são encontradas rio acima, após as grandes cachoeiras, ocorrendo apenas na
parte baixa do rio.
Nessa região, pela maior disponibilidade de ambientes de praias, podem ocorrer maiores
densidades e uso desse habitat por algumas espécies de maçaricos e espécies de aves
aquáticas. Estas aves apresentam ampla distribuição geográfica, mas encontram nas praias
aluviais e estuários habitat apropriado para reprodução e alimentação. Entre estas destacam-se
Tringa solitaria - maçarico-solitário; Actitis macularius - maçarico-pintado; e andorinhas
associadas a ambientes Riparia riparia - andorinha-do-barranco; Hirundo rustica - andorinha-
de-bando; e Petrochelidon pyrrhonota – andorinha-de-dorso-acanelado.
Nas áreas onde ocorrem a floresta de terra firme ainda bem preservada, especialmente àquelas
presentes nas Unidades de Conservação, como a FLONA de Caxiuanã, situada na borda
oriental do baixo Xingu. São áreas importantes para espécies de aves associadas a estes
ambientes como por exemplo a ararajua (Guarouba guaoruba) e àquelas endêmicas de
interflúvios, como o Hylexetastes brigidai, uma espécie de arapaçu associada aos ambientes
bem preservados
Em relação aos aspectos socioeconômicos há que ressaltar que a única sede municipal
localizada nesta unidade é Porto de Moz. O município de Gurupá, localizado no extremo
norte da AII ocupa uma pequena porção desse compartimento.
A sede municipal de Porto de Moz, situada na margem direita do Rio Xingu, juntamente com
as sedes de Senador José Porfírio (margem direita) e Vitória do Xingu (margem esquerda),
situadas no compartimento Transamazônico e PA-415, tem na funcionalidade desses núcleos
urbanos a comercialização de madeira, borracha, castanha do Pará, e de outros produtos da
floresta.
Porto de Moz, assim como Altamira e Senador José Porfírio, esses dois últimos localizados no
compartimento descrito no item 9.3.2, tiveram sua estrutura espacial herdada do período
colonial, expandindo e se consolidando com o boom da borracha e com a exploração de
outros produtos vegetais, até meados da década de sessenta do século XX. Trata-se de um
período iniciado com a conquista e ocupação portuguesa do vale do Amazonas e de seus
afluentes – implantação de fortificações militares e missões religiosas – moldado pela
exploração extrativista, alicerçado no sistema de aviamento e tendo como suporte uma rede de
núcleos articulados pela circulação fluvial.
O Município de Gurupá era primitivamente habitado por índios, até que, em época
desconhecida os holandeses ali estabeleceram, erguendo feitorias e portos fortificados.
Gurupá,que significa “porto de canoas”, foi um importante posto fiscal durante o período de
boom da borracha no início do século passado.
Gurupá tinha 13.971 habitantes em 1970. As taxas de crescimento médio anual são
crescentes, indo de 1,1% no período 70/80, a 1,8% ao ano entre 80/91, e 2,2% ao ano em
91/2000. Entre 2000/2007 decresce para 0,8%. A população recente de 2007 totaliza 24.384
pessoas, e sua taxa de participação da população em relação ao total populacional dos
municípios é de 7,7%.
A exemplo dos outros municípios da AII Porto de Moz e Gurupá apresenta a característica nas
atividades comerciais e de serviços a informalidade das empresas locais e o fato de serem
pequenas empresas, muitas de caráter familiar.
A principal via de escoamento dos produtos agropecuários para fora da AII é realizada via
fluvial, incluindo o Terminal Hidroviário de Porto de Moz (km 66) da Hidrovia do Xingu.
Gurupá e de Porto de Moz não são atendidas pelas malhas rodoviárias federais e/ou estaduais
e o acesso principal, às mesmas, é por via fluvial.
A distribuição de energia elétrica na AII, assim como em todo o Estado do Pará é feita pelas
Centrais Elétricas do Pará S/A – CELPA. Nos municípios de Gurupá e Porto de Moz, por não
existirem ramificações de rede que permitam o atendimento de forma interligada ao SIN, a
energia distribuída é produzida localmente, por meio de Sistemas Isolados.
O abastecimento de água por meio de poços ou nascentes atende menos de 45% dos
domicílios de Gurupá e Porto de Moz, percentual considerado baixo, quando comparado com
outros municípios da AII uma vez que em Placas, por exemplo, 93% dos domicílios usam
esse tipo de abastecimento e em Pacajá 90% dos domicílios são abastecidosess por poços.
Dos municípios da AII, apenas Porto de Moz possui mais de 43% (valor aproximado da
média estadual) dos seus domicílios atendidos por rede geral.
Entre os municípios que podem ser considerados relativamente mais bem atendidos por
contarem com fossas sépticas que atendem de 15 a 30% dos seus domicílios, destaca-se Porto
de Moz, situado neste compartimento, ao lado de Altamira, e Vitória do Xingu, incluídos no
compartimento Transamazônica e PA 415.
Chama atenção o alto percentual de pessoas sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo
na AII, que é de 22,4%. No Estado do Pará este mesmo grupo apresenta percentual de 14,3 %.
Dados do IBGE revelam que Gurupá é o município com menor percentual de pessoas com 10
anos ou mais de idade, sem instrução ou com apenas 01 ano de estudo, o que corresponde a
35,2% da população total, acima da média dos demais municípios.
Gurupá apresenta os piores números de alfabetização e rendimento escolar. Outro dado que
ilustra a situação educacional do município é o fato da população com 1 a 8 anos de estudo
ser de apenas 58,6%, bastante abaixo da média da AII, que é de 67,4%.
Algumas dessas comunidades quilombolas têm registro oficial de identificação, outras estão
em processo de reconhecimento ou de titulação coletiva de terras.
Não há informações disponíveis sobre número de famílias, área ocupada e situação fundiária
das comunidades quilombolas do município de Porto de Moz, visto que essas, apesar de terem
sido identificadas pela Fundação Cultural Palmares, ainda não foram reconhecidas, o que
significa que não possuem Laudos Antropológicos. O ITERPA somente disponibiliza
informações para as comunidades quilombolas que se encontram em fase de titulação coletiva
das terras que habitam, sendo esta fase o processo final de reconhecimento como comunidade
afro-descendente tradicional.
Ressalta-se que, parte do território do município de Porto de Moz está inserida como área da
Reserva Extrativista Verde para Sempre, em uma área de 1,3 milhões de hectares, criada por
Decreto Lei de 8/11/2004. Salienta-se, ainda, que há indicativos históricos de ser esta área
reconhecida como área de conflitos fundiários e sociais, nos quais se incluem as comunidades
quilombolas que habitam o território, ribeirinho ou não, desse município. A titulação dessas
áreas quilombolas, apesar de já identificadas, passa pela negociação de interesses diversos
sobre a terra nesse município.
Continua
Predominância de:
Predominância de: Floresta Ombrófila Densa Submontana na margem esquerda
Predominância de:
Floresta Ombrófila Aberta Submontana com Palmeira Floresta Ombrófila Densa Terras Baixas
Cobertura Vegetal– Floresta Ombrófila Aberta Submontana com cipós e palmeiras (florestas de
Floresta Ombrófila Densa em áreas muito próximas ao rio Xingu – bem representadas na FLONA de Caxiuanã.
Fitofisionomias terra-firme) e Florestal AbertaAluvial
Aluvial Na região próxima a confluência do Xingu com o Amazonas, há
Formações Pioneiras com influência fluvial e/ou lacustre
Capoeiras (áreas antropizadas) predomínio de Formações Pioneiras com Influência Fluvial e/ou
Lacustre
Continuação
Continuação
Continuação
Continuação
A infra-estrutura viária é precária; a BR-230 – Rodovia Transamazônica, principal via de ligação da AII interliga a maioria das sedes municipais –
A principal via de escoamento dos produtos agropecuários
Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Placas e Uruará que em conexão com as PA-415 e PA-167, permite o acesso às sedes de Vitória do
para fora da AII é realizada por via fluvial no Terminal
Xingu e Senador José Porfírio. As sedes de Gurupá e de Porto de Moz não são atendidas pelas malhas rodoviárias federais e/ou estaduais e o acesso
Hidroviários de Porto de Moz (km 66) da Hidrovia do Xingu.
Infra–Estrutura de Transporte principal, às mesmas, é por via fluvial. As estradas vicinais (conhecidas como travessões), perpendiculares à BR-230 e que permitem o acesso às localidades
Gurupá e de Porto de Moz não são atendidas pelas malhas
rurais interioranas, encontram-se em situação ainda mais precária para o transporte de pessoas e mercadorias. A falta de recursos pelas prefeituras
rodoviárias federais e/ou estaduais e o acesso principal, às
municipais inviabiliza o ordenamento dessas estradas e sua manutenção. Somado a esse quadro, tem-se a abertura de estradas clandestinas para escoamento
mesmas, é por via fluvial.
da exploração madeireira que contribui para a ocupação desordenada na região.
Em todos os municípios da AII a infra-estrutura e os serviços públicos– saneamento, energia elétrica, comunicações, segurança pública, educação e saúde – têm em comum a deficiência desses serviços e o pequeno acesso
Infra-Estrutura aos mesmos pela maior parte da população. Altamira – pólo regional apresenta baixos índices de cobertura para os serviços de saneamento básico, de abastecimento d’água; de domicílios atendidos por rede de esgoto e
Urbana (saneamento, energia percentual expressivo de lançamento em fossas rudimentares (54,01% em Altamira); lançamento em lixões dos resíduos sólidos coletados (66,67% em Altamira) e em áreas alagadas (33,33% em Altamira). Quanto ao
elétrica, rede de abastecimento sistema de energia elétrica em todos os municípios da AII a situação em relação ao fornecimento de energia elétrica e insatisfatório. Em relação à segurança registram-se déficits de efetivo policial de até 1.003,7% em
de água, esgotamento sanitário, Placas, o que corresponde a 1 policial para cada 3311 habitantes. Tomando-se por base a relação/habitante por policial equivalente a 1/300, índice inferior ao recomendado pela ONU que é de 1/250 habitantes, Altamira
destino do lixo, comunicação, se destaca em relação ao restante das sedes municipais, por ser a único município que apresentou déficits inferiores a 1/87, ou seja, tem um policial para cada 419 pessoas. No restante dos municípios o índice foi superior a
segurança pública). 1000. A região abriga uma única unidade de Corpo de Bombeiros localizada em Altamira. O sistema de comunicações – composto pela telefonia fixa e móvel, internet, radiodifusão e televisão – alcança apenas uma
pequena parcela da AII: na telefonia fixa, apenas 14% dos domicílios paraenses em média, tinham acesso a esse serviço em 2008.
Conclusão
Embora estejam presentes na área de educação as modalidades de ensino – infantil e fundamental – sua distribuição está concentrada nas áreas urbanas. A iniciativa privada é pouco presente, cabendo às instâncias municipais a
maior parte da oferta de matrículas. Em relação aos anos efetivos de estudo da população total, tem-se que em Altamira encontra-se a população com um número maior de anos de estudo da AII 3,6 anos e Gurupá, 1,6 anos, o que
demonstra a precariedade do ensino na AII, devido basicamente as formas de organização social vigentes que espelham os diversos processos de ocupação e apropriação que ocorreram na AII desde os tempos da colonização
portuguesa, passando pela colonização dirigida e espontânea, das décadas de 60 e 70 do século XX, até os dias de hoje, onde as frentes de ocupação são lideradas pelos interessados em explorar os recursos naturais, ainda
existentes, e em expandir as fronteiras agropecuárias. Dados do IBGE revelam que as maiores taxas de aprovação foram registradas nas escolas localizadas nas áreas urbanas dos municípios de Brasil Novo e Altamira, de 83,6% e
82,7%, respectivamente. Quanto às taxas de reprovação, os maiores índices foram registrados nas escolas localizadas nas áreas urbanas de Medicilândia (26,2%) e Vitória do Xingu (26,3%) e na zona rural de Uruará (27,7%). A
menor taxa de reprovação foi registrada na área urbana de Brasil Novo, de 9,6%, índice significativamente inferior ao observado no âmbito estadual (15,5%).
Educação
Em relação à evasão escolar também constitui elemento definidor da situação educacional no Brasil e, por conseguinte, nos municípios brasileiros, a exemplo daqueles da AII. Em 2005, as maiores taxas de evasão escolar foram
registradas nas zonas rurais de Senador José Porfírio (38,0%) e Anapu (33,1%), sendo que neste último também foi registrada a maior taxa de abandono da área urbana – 22,2%. Trata-se de percentuais altos e significativamente
superiores aos índices estaduais – 16,4% na zona rural e 10,6% na área urbana. É importante destacar, uma vez mais, os índices de Altamira e Brasil Novo, municípios onde foram registradas as menores taxas de abandono da AII,
tanto nas zonas rurais quanto nas áreas urbanas.
No que diz respeito à distribuição das unidades escolares e docentes por dependência administrativa, verifica-se que o ensino pré-escolar é ofertado fundamentalmente pelo poder público municipal. A iniciativa privada se faz
presente apenas no município de Altamira, com 10 escolas e 681 matrículas, equivalentes a 21,0% do total de matrículas no município.
De um total de 63 mil crianças que nasceram vivas nos últimos 10 anos, 1.639 crianças morreram A malária é a principal endemia na AII, a mais susceptível a distorções e a exacerbações diante do aumento do fluxo
antes de completar um ano de vida, o que corresponde a um Coeficiente de Mortalidade Infantil de 26 migratório, da movimentação de pessoas, da atividade do meio rural ou ainda do aquecimento econômico. A malária em
óbitos de menores de um ano por mil nascidos vivos por ano. Este coeficiente é considerado alto, 20 Senador José Porfírio se concentra nos Garimpos Ressaca, Galo e Itatá, e Comunidade Ilha da Fazenda, todas situadas na
% maior que o do Estado do Pará, 14 % maior que o da Região Norte e 30 % maior que o do Brasil. A Área de Influência Direta, no trecho da Volta Grande do Xingu. A malária em Altamira ocorre predominantemente em áreas
meta preconizada pela Organização Mundial de Saúde – OMS para países em desenvolvimento é de ribeirinhas de ocupação antiga e população estável, sendo encontrado também nas margens e ilhas do Rio Xingu e seus
menos de 20 óbitos de menores de um ano por mil nascidos vivos por ano. Em 2006 foram registrados afluentes. Um aspecto relevante em Altamira é a existência de transmissão urbana da malária, principalmente nos bairros São
52 óbitos em Altamira, 26 em Medicilândia e 24 em Uruará. Domingos I e Jaburu. Os postos indígenas Ipixuna e Arara (Laranjal) Iriri também possuem um perfil de alta transmissão.
Os serviços de saúde se caracterizam pela polarização exercida por Altamira. Existem 150 Unidades de Saúde nos municípios
A malária é a principal endemia da AII, e funciona como um indicador econômico: qualquer da Área de Influência Indireta do AHE Belo Monte, sendo que Altamira possui 46 unidades de saúde, 31 % do total de
aquecimento da economia resulta em agravamento da situação da malária e vice-versa. Pacajá é o unidades da área. Uruará, Porto de Moz e Medicilândia têm pouco mais de 10 unidades, e os demais municípios menos de 10.
município que concentra o maior número de casos de malária na AII, representando 36 % do total dos Com exceção de Placas, todos os outros municípios dependem, com maior ou menor grau de intensidade, de Altamira para
Saúde casos. Teve quase 30 mil casos nos últimos 5 anos. Anapu é o terceiro município da AII em número procedimentos de média e alta complexidade. Municípios como Uruará e Brasil Novo possuem serviços com nível de
de casos de malária. Concentra 15 % do total de casos da área. Os demais municípios têm transmissão Atenção Secundária à Saúde. Outro como Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, não possuem hospital. A modalidade de
de malária, mas com incidências mais baixas. O Índice Parasitário Anual dos Municípios - IPA varia Atenção Básica à saúde está muito pouco estruturada na maioria dos municípios. Apenas os municípios de Medicilândia e
muito entre os municípios da AII, e no mesmo município ao longo dos anos e apresentam grandes Uruará estão em regime de Gestão Plena do Sistema de Saúde Municipal. Os demais estão apenas em Gestão da Atenção
diferenças entre as diversas localidades de um mesmo município. Os maiores IPAS são os de Anapu, Básica à saúde.
Pacajá e Senador José Porfírio, que apresentam níveis que caracterizam a área como de alto risco de Por não disporem de hospital, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu não operam o Sistema de Informação Hospitalar -
transmissão de malária. Um dos causadores da malária na AII são os Projetos de Assentamentos, SIHSUS e o Sistema de Informação de Controle de Infecção Hospitalar – SISCIH. Os demais municípios possuem hospital e
implantados pelo INCRA - Marabá em Pacajá e Anapu, onde se concentra 90 % dos casos dos dois já operam estes sistemas.
municípios. Existe apenas um posto de saúde para assistir a toda essa população, sem médico nem Altamira possui 05 hospitais sendo 1 estadual, 1 municipal, 3 privados vinculados ao SUS e uma clínica exclusivamente
enfermeira. A equipe de endemias que cobre toda a área é constituída apenas por 3 microscopistas, 5 privada. Em Uruará existem 2 hospitais, um deles municipal e uma clínica privada vinculada ao SUS. Brasil Novo e Porto de
guardas de endemias e um técnico de enfermagem. Moz têm 1 hospital cada. Anapu, Medicilândia e Pacajá têm apenas uma unidade mista em cada, e Senador José Porfírio e
Vitória do Xingu não dispõem de unidade com internamento hospitalar.
A estrutura fundiária atual na AII é diferenciada segundo o processo histórico de ocupação de cada um dos 11 municípios que a compõem. Os municípios onde foram implantados os projetos de colonização dirigida e espontânea
são, ainda hoje, predominantemente rurais. Destacam-se os assentamentos de famílias migrantes e descendentes, originárias das Regiões Nordeste e Sul, e que datam das décadas de 1970/1980 e 1980/1990, respectivamente.
Dessas experiências decorre o aumento da especulação e conflito em torno da posse da terra na região e a pressão sobre as sedes municipais, em particular Altamira. Nesse contexto, a ocupação e o uso da terra no Estado do Pará
correspondem a um mosaico fundiário complexo sendo identificadas as seguintes áreas; áreas de ocupação tradicional, remanescentes dos primeiros momentos/períodos de formação da região; áreas indígenas demarcadas sob a
jurisdição do FUNAI; áreas de ocupação recente - áreas já reordenadas pelo que foram os projetos integrados de colonização - PIC; hoje atualizados para projetos de assentamento – PA e PDS – Projetos de Desenvolvimento
Sustentável, sob jurisdição do INCRA (INCRA, 1999); e do Instituto de Terras do Pará – INTERPA; áreas de unidades de conservação federais e estaduais sob a jurisdição do IBAMA e do ITERPA; e áreas de conflitos sociais
Uso e Ocupação do pela posse da terra. Desse total 55.6% das terras do Estado do Pará são Unidades Territoriais de Gestão Especial: Terras Indígenas (23%), Unidades de Conservação Estadual - UCE (12,6%), Unidades de Conservação Federal –
Solo e Estrutura UCF (16,1%) e Marajó (3,9%). Se forem acrescentadas as áreas sob jurisdição do INCRA e do INTERPA esse percentual sobe para 85,6% (INCRA, 2007).Do ordenamento territorial e sua formatação regional/local, observa-se
Fundiária dois grupos de municípios diferenciados na AII do AHE Belo Monte: municípios que se localizam no Baixo e Médio Xingu, na área de influência da Transamazônica e municípios que compõem a Região da Foz do Amazonas e
encontro com o Xingu – Porto de Moz e Gurupá. Nesses municípios a experiência construída na resistência das comunidades ribeirinhas e extrativistas avançou em direção à criação das Reservas Extrativistas - RESEX. O
município de Altamira, dentre municípios que integram a AII, detém o maior número de UC e TI em seu território e onde estão situadas três RESEX – Riozinho Anfrísio, Iriri e Médio Xingu que compõem o mosaico de proteção à
Região da Terra do Meio. A RESEX Médio Xingu, a de mais recente criação em junho de 2008, foi estabelecida como recurso para a proteção da população ribeirinha, já que estão ocorrendo muitas atividades ilícitas na região –
grilagem de terra, atividade pecuária, desmatamento, extração ilegal de madeiras, caça e comércio ilegal de animais silvestres, pesca comercial e ornamental, mineração e garimpo, causadas por invasores de terra. O município de
Altamira abriga todas estas categorias de UC, presentes na AII: a FLONA de Altamira, as FES do Cariri e Iriri, além da APA Triunfo do Xingu. Alem dessas, a AII também abriga Unidades de Conservação de Proteção Integral,
Projetos de Assentamento, áreas estaduais, arrecadadas como terras devolutas pelo Instituto de Terras do Pará – ITERPA e incorporadas ao patrimônio fundiário do Estado do Pará, assentamentos quilombolas e terras indígenas.
Uma abordagem inicial, a partir dos atributos ambientais relevantes do meio físico poderá
subsidiar a antevisão do grau de diversidade entre as regiões onde estão inseridos esses sítios
construtivos, uma vez que tais atributos constituem a base do terreno sobre a qual os atributos
bióticos e socioeconômico e cultural interagem; portanto, eles fornecem os recursos primários
para que se estabeleçam as diferentes relações de sistemas produtores e consumidores de
recursos, que regem a dinâmica ambiental de um determinado espaço territorial .
A calha do rio Xingu e seu entorno na região do AHE Belo Monte apresentam expressivas
diferenciações que estão bem delimitadas nos compartimentos “Baixo e Médio Xingu”, tal
como estabelecidos a partir da fisiografia da bacia desde a análise integrada da AAR e AII.
O “Médio Xingu”, na região do AHE Belo Monte, é quase que integralmente inserido nos
domínios do Cráton Amazônico, caracterizado, nesta região, pelas rochas cristalinas do Complexo
Xingu, sendo observado um relevo predominante de colinas e morrotes, associados aos Planaltos
Marginal do Amazonas e Residuais do Sul da Amazônia e à Depressão da Amazônia Meridional,
além de planícies fluviais relacionadas aos depósitos aluvionares quaternários. Nas imediações da
cidade de Altamira, a calha do rio Xingu secciona em um pequeno trecho a Bacia Sedimentar do
Amazonas, com o desenvolvimento de colinas e morrotes, além de terraços.
Uma vez estabelecido esse nível de compartimentação da região do AHE Belo Monte,
embasado nos aspectos dominantes do Meio Físico, pode-se cotejá-los com os espaços
qualificados para a análise do empreendimento em função de seus sítios construtivos,
correspondentes à Área Diretamente Afetada pelo empreendimento, assim como também com
aqueles espaços onde serão verificados efeitos diretos, no caso a Área de Influência Direta do
empreendimento.
Essa compartimentação se justifica na medida em que serão esses os locais que estarão
submetidos à maior pressão, estando sujeitos aos principais impactos do empreendimento.
Portanto, tanto esta análise integrada, quanto a avaliação dos impactos foram elaboradas
adotando-se os territórios diretamente abrangidos pelas intervenções do empreendimento
como unidade da análise espacial. Os compartimentos ambientais analidados são listados a
seguir:
• Reservatório do Xingu;
No que se refere ao ecossistema terrestre, deve-se ressaltar que no caso da biota terrestre os
grupos são identificados por fitofisionomia, conforme orientação do Termo de Referência.
Essas fitofisionomias têm ocorrência generalizada em toda a AID/ADA, inclusive as mais
específicas como as formações pioneiras e as demais formações vegetais ligadas aos
ambientes fluviais; nesse sentido, torna-se evidente que a distribuição espacial das
fitofisionomias e dos grupos faunísticos a elas associados não apresentam correlação direta
com os compartimentos físicos definidos pelas áreas de intervenção do empreendimento. No
entanto, essas áreas de intervenção também foram levadas em consideração na escolha dos
sítios de amostragens para os inventários de campo, o que tornou possível a caracterização
dos atributos desse ecossistema pelos compartimentos ambientais do AHE Belo Monte, ainda
que para alguns grupos a descrição abrange mais de um compartimento. Esses casos estão
ressaltados no texto.
Assim, dentro do compartimento Reservatório do Xingu foram incluídas as áreas rurais das
duas margens do rio Xingu, no trecho desse rio que poderá vir a formar o reservatório, as
sedes urbanas de Altamira e Brasil Novo e os povoados, aglomerados e Núcleos de
Referências Rurais existentes nesses espaços rurais.
As sedes municipais de Anapu e Brasil Novo, embora situadas fora da AID foram a essa
incorporadas por terem parte de seus territórios diretamente afetados pelo empreendimento e,
enquanto tal, receberá reflexos diretos desses impactos.
Deve-se ressaltar que, em função da grande extensão territorial da área rural da AID e das
diferenças socioeconômicas e culturais observadas entre as diversas realidades que a
compõem, as sedes urbanas dos municípios de Senador José Porfírio, Vitória do Xingu,
Altamira, Anapu e Brasil Novo são caracterizadas em separado das áreas rurais, dentro dos
compartimentos dos quais fazem parte.
Reservatório do Brasil
Santa Juliana
Xingu Novo
Compreende uma porção da ADA/AID com 2.357 km2, abrangendo o Sitio Pimental, local
previsto para o eixo da barragem principal, o reservatório que será formado no rio Xingu, suas
áreas de entorno e as bacias de contribuição dos igarapés Panelas, Altamira, Ambé e
Trindade, todos afluentes do rio Xingu pela sua margem esquerda.
Neste trecho o rio Xingu tem uma orientação geral SW-NE desde a confluência do rio Iriri até
as imediações da cidade de Altamira, quando inflete para E e, em seguida, para SE até atingir
o Sítio Pimental.
Considerando a área abrangida por esse compartimento, nas áreas mais próximas da calha do
rio Xingu tem-se um relevo de colinas da Depressão da Amazônia Meridional, associadas a
morros e morrotes, testemunhos da dissecação do Planalto Residual do Sul da Amazônia.
Nessa área predominam rochas graníticas, migmatíticas e xistosas do Complexo Xingu, com
predomínio de aqüíferos fissurados, ou seja, aqüíferos desenvolvidos em fraturas ocorrentes
nas rochas, de natureza anisotrópica e capacidade variável de armazenamento de água. Há um
nitido predominio de associação de Argissolos Vermelho-Amarelos e Amarelos, e
secundariamente ocorrem manchas de Latossolo Vermelho-Amarelo, com potencial agrícola
que varia de baixa a média aptidão, dependendo da associação dos tipos de solo que ocorrem
em uma mesma unidade de mapeamento. A susceptibilidade desses solos à erosão varia de
moderada a forte susceptibilidade.
A margem esquerda do rio Xingu tem maior proporção de área desflorestada do que a
margem direita nesse compartimento; apesar disso, o padrão de desflorestamento ao longo do
tempo é semelhante entre as duas margens.
Originalmente recoberta pela Floresta Ombrófila Aberta com palmeiras e/ou cipós, hoje essa
formação florestal está reduzida a fragmentos de pequena dimensão e com baixa
probabilidade de conectividade. O uso do solo predominante ao longo de uma ampla faixa que
acompanha toda a extensão da rodovia Transamazônica na AID é com pastagem para criação
de gado de corte em fazendas de médio a grande porte. O uso para agricultura é restrito à
cultura familiar, sendo poucos os cultivos comerciais, destacando-se entre esses o cacau que é
cultivado com sombreamento da floresta.
- margem direita do rio Xingu, próximo a Altamira e margem esquerda do rio Xingu, cerca
de 16 km a jusante de Altamira: Susceptibilidade a processos associados à Formação
Maecuru (erosão subterrânea e erosões por solapamento, desbarrancamento, em sulcos e
ravinas).
A elevação permanente dos níveis da água pela formação do reservatório do Xingu poderá
causar inundação, surgências, formação e acréscimo de áreas úmidas e alagadas, em caráter
permanente, e possível instabilizações, nos casos de solos não saturados de baixa resistência,
especialmente em aterros, bastante freqüentes na cidade. Avalia-se que as áreas de maior
criticidade quanto a esses processos são aquelas onde o nível d’água nas cheias atuais está
situado a profundidades menores que 2 a 3 m e nas regiões da foz do igarapé Altamira e entre
o igarapé Altamira e Ambé.
Além disso, à elevação permanente dos níveis da água do aqüífero superficial estará associado
um acréscimo na vulnerabilidade à contaminação desse aqüífero constituído por aluviões,
atualmente já bastante vulnerável. A condição de níveis d’água permanentemente a pequenas
profundidades da superfície permitirá a saturação das fontes de contaminação ou a localização
do nível da água a pequenas distâncias da base dessas fontes. Conseqüentemente, ocorre
acréscimo da carga de contaminantes para o aqüífero e são favorecidos o acesso e a migração
desses contaminantes no aqüífero.
Cabe destacar que os igarapés que drenam a área urbana de Altamira já sofrem inundações
periódicas nas cheias do rio Xingu, situação que poderá ser agravada com a formação do
reservatório.
A areia e o cascalho são explotados para a construção civil no leito do rio Xingu nas
proximidades da cidade de Altamira. Garimpos esporádicos de ouro são verificados em
depósitos secundários na calha do rio Xingu e de alguns de seus afluentes na região da Volta
Grande, junto às localidades da Ressaca e do Galo. Nesta região também são observadas áreas
de extração de ouro em depósitos primários caracterizados por veios de quartzo encaixados
em xistos máficos pertencentes à Suíte Metamórfica Três Palmeiras.
De forma geral, tem-se que o ambiente associado à calha do rio Xingu (correspondente a
todos os compartimentos que envolvem a calha do rio Xingu, excetuando no caso, apenas o
Reservatório dos Canais) é geralmente sinuoso e irregular, com largura de mais de 1000m,
encostas mais ou menos íngremes e perfil muito variado, muitas vezes profundo e irregular,
com fundo de areia ou de pedra. A presença constante de ilhas, que determinam a formação
de inúmeros canais menores anastomosados, com velocidade de correnteza variável
dependendo da vazão, é sempre importante, quando comparada com as áreas marginais de
inundação.
Nesta diversidade de ambientes do canal do rio Xingu as ordens de maior riqueza de espécies
da ictiofauna são os Siluriformes (07 espécies) e Characiformes (05 espécies). As ordens
Rajiformes (03 espécies) e Perciformes (01 espécie) apresentaram o menor número de
espécies. Estas espécies são de hábitos demersais, em sua maioria são predadores e em geral
de maior tamanho corporal. Os bagres da família Pimelodidae da ordem Siluriformes
apresentaram o maior número de espécies (4), seguida com três espécies as famílias
Characidae, Potamotrygonidae e Auchenipteridae e a família Erythrinidae com duas espécies.
A família Sciaenidae, Perciformes foi representada por somente uma espécie.
Considerando o grupo dos cascudos, este compartimento apresentou a menor riqueza com 20
espécies.
Adotando-se um enfoque de análise mais detalhado em relação à calha do rio Xingu, cabe
destacar alguns trechos que se distinguem por apresentarem características fluviais
diferenciadas, permitindo o surgimento de ambientes aquáticos favoráveis a determinados
grupos da ictiofauna regional. Esses trechos são caracterizados, a seguir.
Nessas ilhas aluviais, assim como nas poucas planícies que ocorrem nesse trecho (em sua
maioria situadas próximas à ilha Babaquara) a formação vegetal dominante é a Floresta
Ombrófila Aluvial, ainda muito preservada.
Os pedrais nesse trecho do rio Xingu constituem manchas isoladas diferentemente do trecho
da Volta Grande onde ocorrem de forma contínua. No entanto, o tipo de colonização vegetal
de cobre parcialmente os blocos rochosos é similar, sendo constituído por uma vegetação
pioneira arbustiva, muito resistente aos embates das fortes correntezas que dominam o rio
durante o período chuvoso. As águas são transparentes e de pouca profundidade, permitindo
em alguns locais o estabelecimento de periliton.
As ilhas e pedrais constituem ambientes que podem ser inundados em maior ou menor grau,
durante os meses de maior pluviosidade, dependendo da sua inclinação e da altitude do local
considerado. Esses ambientes abrigam, por vezes, lagoas marginais e insulares que constituem
biótopos vitais para a manutenção da ictiofauna da região.
Nos ambientes de corredeiras e cachoeiras a grande maioria dos peixes bentônicos pertence à
família Locariidae, a qual agrega 66% dos peixes amostrados neste ambiente. Os demersais e
pelágicos deste ambiente pertencem às ordens Chariciformes e Perciformes e,
secundariamente Siluriformes.
Neste compartimento seis espécies tiveram maior ocorrência, com mais de uma centena de
indivíduos: Mollia gracilis, Cenostigma tocantinum, Cynometra marginata, Attalea speciosa,
Paramachaerium ormosioides e Guapira venosa. Na Floresta Ombrófila Aberta com
palmeiras os estudos identificaram quatro espécies com abundância superior a uma centena:
Attalea speciosa, Cenostigma tocantinum, Protium apiculatum e Guapira venosa. Enquanto
As Florestas Ombrófilas Aberta Aluviais sofrem inundação durante parte do ano e ocorrem nas
margens do rio Xingu, sendo mais comuns na zona do baixo curso. Em alguns trechos aparecem
formações com as palmeiras jauari (Astrocaryum jauari), açaí (Euterpe oleracea) e caranã
(Mauritiella armata), nas zonas mais rebaixadas do relevo. São florestas localizadas na planície
de inundação, com desnível variando entre 4m e 8m nos picos anuais de enchente e vazante.
Essas formações vegetais, especialmente as das áreas inundáveis, são também muito
importantes para a manutenção da ictiofauna (locais de reprodução e alimentação de peixes) e
de outros organismos aquáticos e semi-aquáticos (quelônios, mamíferos etc.).
Nesta formação florestal, entre as 200 espécies registradas no inventário, seis apresentaram
abundância superior a uma centena Mollia gracilis, Cynometra marginata, Zygia cauliflora,
Paramachaerium ormosioides, Discocarpus essequeboensis e Hevea brasiliensis.
Entre os grupos da fauna terrestre, cujos habitats se localizam nas florestas de terra-firme
(Florestas Ombrófilas Abertas com Cipós e Palmeiras e seus diferentes microhabitats como
serrapilheira, arbustos, poças temporárias, margens de igarapés, etc.) podem ocorrer em todos
os compartimentos da AID, uma vez que essas florestas são as que apresentam maior
distribuição espacial dentro desta área de influência. Além disso, é importante registrar que
para os grupos da mastofauna, não há diferença no número de espécies entre a floresta
ombrófila densa e a aberta; porém, a riqueza de espécies de mamíferos de médio e grande
porte encontrada na floresta inundável (floresta ombrófila aluvial) é menor que na floresta
não-inundável (floresta ombrófila densa e aberta).
A floresta inundável pode sustentar uma grande biomassa de herbívoros, entretanto os grandes
herbívoros são espécies de hábitos mais terrestres. Por outro lado, as espécies arborícolas
folívoras como as preguiças (Bradypus e Choloepus), e as guaribas (Alouatta) são favorecidas
nos ambientes mais úmidos. Outros arborícolas com dieta generalista também são capazes de
permanecer na floresta inundável durante o período da cheia, como os macacos-prego (Cebus
apella) e os macacos mãos-de-ouro (Saimiri). As espécies de primatas que se utilizam muito
do sub-bosque (Mico e Saguinus) não foram observadas nas ilhas, nem na floresta inundável
das margens do rio Xingu e afluentes, durante a enchente.
Nas ilhas existentes neste compartimento, um número menor de espécies já era esperado, pois
estas constituem fragmentos de hábitats terrestres cercados por água. Além disso, grande parte
das ilhas fica coberta por água parte do ano e possuem ambientes de floresta ombrófila
aluvial, cuja diversidade é tipicamente reduzida. As espécies mais avistadas nas ilhas foram
D. leporina, A. belzebul, Tamandua tetradactyla, e Pecari tajacu e nas margens, D. leporina,
C. apella, S. aestuans, A. belzebul e C. moloch.
Entre os pequenos mamíferos quatro espécies ocorrem associadas com a Floresta Ombrófila
Aberta com palmeiras, de ocorrência generalizada neste compartimento e também no
compartimento do Reservatório dos Canais: os marsupiais Metachirus nudicaudatus e
Monodelphis emiliae, e os roedores Lonchothrix emiliae e Mesomys stimulax.
Nos levantamentos da avifauna foram observadas diversas espécies de aves que foram
amostradas apenas neste compartimento: aracuã-pequeno (Ortalis motmot) , gavião-branco
(Leucopternis albicollis), batuíra-de-coleira (Charadrius collaris), maçarico-pintado (Actiti
macularius), coruja-de-crista (Lophostrix cristata), caburé (Tachornis squamata), entre
outras espécies.
Outras espécies foram observadas apenas na margem esquerda, entre elas citam-se puruchém
(Synallaxis cherriei), maria-cabeçuda (Ramphotrigon megacephalum), urubu-da-mata
(Cathartes melambrotus).
Cabe destacar que Synallaxis cherriei é apontada pelo BirdLife como quase ameaçada
mundialmente.
Para os répteis a Ilha Taboca, localizada neste compartimento, tem apenas uma parte da sua
área alagada no período de cheia do rio, o que pode explicar a maior similaridade com as
demais localidades.
Quanto aos levantamentos de morcegos, este compartimento foi o que apresentou maior
riqueza com 32 espécies identificadas e mais de 230 indivíduos capturados. Neste local
Carollia perspicilata foi a espécie mais abundante, seguida de Artibeus lituratus.
Este compartimento, juntamente com o do TVR, abriga uma espécie de morcego raramente
capturado. Molossops mattogrossensis que tem associação exclusiva com os abrigos em
fendas diminutas nos pedrais do rio Xingu.
Esses sistemas hídricos do rio Xingu e seus tributários, de forma geral, têm nível
relativamente baixo de interferências na qualidade da água, a exceção de alguns locais mais
afetados pelas atividades antrópicas, onde foram detectados maiores concentrações de
nutrientes, principalmente as formas nitrogenadas; essas interferências, no entanto, são
atenuadas pela alta vazão do rio, conforme demonstram as análises realizadas nos estudos da
qualidade das águas, sintetizadas a seguir.
As águas desse do rio Iriri, assim como do rio Xingu, a montante do futuro reservatório do
Xingu, apresentam elevadas temperaturas, com valores acima de 30 oC no período seco,
quando esses rios apresentam baixa profundidade total. Ambos os sistemas apresentam águas
mais ácidas no período de cheia e águas com pH mais neutro na enchente; a contribuição
alóctone de ácidos húmicos, em especial nos períodos de enchente e cheia, podem ter
favorecido estes resultados de pH.
A turbidez dos dois trechos é baixa, com leve aumento nos períodos de cheia e enchente,
devido à contribuição de matéria de origem alóctone que são submersas durante os períodos
de maiores vazões. Estes resultados são corroborados pelos resultados obtidos de sólidos em
suspensão total, que também apresentam valores mais elevados nas campanhas de cheia e
enchente, quando ocorrem maiores contribuições da porção inorgânica nos dois sistemas
hídricos amostrados.
As águas são, em geral, bem oxigenadas e a condutividade elétrica é baixa, revelando baixa
contribuição da bacia de drenagem e do processo de decomposição de matéria orgânica nas
concentrações de íons. Os principais íons analisados revelam baixas concentrações, sendo que
o cálcio apresentou considerável aumento na estação de enchente e os elementos fluoreto,
cloreto, sulfato, mercúrio, níquel e ferro se apresentam em conformidade com os limites
determinados pela legislação para corpos de água classe 1 e 2 (CONAMA 357/05).
A partir dos resultados, constata-se que os períodos de cheia e de enchente são os mais
críticos em relação à contribuição de sólidos e matéria orgânica tanto pelo rio Xingu quanto
pelo rio Iriri.
No trecho do rio Xingu a montante de Altamira (Trechos B5 e B4) e já dentro da área a ser
afetada pelo Reservatório do Xingu, as águas apresentam elevadas temperaturas, são ácidas, e
com turbidez baixa, com um discreto aumento na campanha da enchente; as águas
permanecem com elevadas concentrações de OD e de saturação de oxigênio. No período de
enchente foram registrados maiores valores de DBO, porém abaixo do limite determinado
para classe 2.
A condutividade elétrica permanece baixa e com pouca variação sazonal; os principais íons
analisados revelam baixas concentrações, sendo que o brometo apresentou considerável
aumento na estação de cheia. Os elementos fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio, níquel e ferro
se apresentam em conformidade com os limites determinados pela legislação para corpos de
água classe 1 e 2, assim como registrado para o trecho a montante da área a ser represada pelo
futuro barramento.
A contaminação das águas por chumbo continua bastante evidente no rio Xingu, mantendo o
padrão sazonal de aumento no período de enchente. A contaminação por cromo também foi
detectada nas águas durante as campanhas de cheia e enchente e o zinco foi detectado em
desacordo ao limite estabelecido pela legislação apenas em um ponto, com valor pouco
superior ao determinado.
Esse trecho do rio Xingu, que poderá vir a ser represado pelo reservatório do AHE Belo
Monte, está sob influência direta do município de Altamira, que é o maior centro urbano da
região e tem uma população de 92.105 habitantes. Localizada na margem esquerda do rio
Xingu, sua área urbana é drenada por três tributários, igarapé Altamira, Igarapé Ambé e o
igarapé Panelas. Estes igarapés são utilizados pela população local para pesca, lavagem de
utensílios domésticos, recreação e despejo de lixo e esgoto doméstico.
Devido a essa ocupação das margens os igarapés Ambé e Altamira são os locais que registram
presença significativa de macrófitas aquáticas tendo sido constatada a presença de cinco
espécies (Eichornea sp., Montrichardia linifera, Neptunia sp., Paspalum sp., Salvinia
auriculata) de um total de nove espécies registradas em toda a área.
Em conformidade com o rio Xingu, os igarapés apresentam baixa turbidez com valores
inferiores aos limites determinados para sistemas classe 1 nos períodos de seca e cheia. Os
baixos resultados de sólidos em suspensão no período de enchente indicam que outras formas
de sólidos, como dissolvidos ou sedimentáveis podem estar relacionados aos valores de
turbidez. No entanto, no período da cheia, as concentrações de sólidos em suspensão são
superiores em relação aos demais períodos, em todos os igarapés.
O igarapé Panelas apresenta a melhor condição de oxigenação das águas, com valores acima
dos limites das classes 1 e 2 e o igarapé Altamira apresentou a situação mais crítica na cheia
de 2008, quando foi registrada concentração igual a 5,98 mg/L, no limite estabelecido para
classe 1 e acima do estabelecido para classe 2. No igarapé Ambé, as menores concentrações
de OD foram registradas na vazante e na cheia, com valor de 4,67 mg/L foi inferior ao limite
mínimo de 5 mg/L estabelecido para sistemas classe 2.
A condutividade elétrica tem baixos valores nos igarapés, assim como observado para o rio
Xingu. A variação sazonal é pouco evidente, com relativo aumento das concentrações no mês
de maio, referente ao período de vazante.
Assim como destacado para os pontos do rio Xingu, os igarapés que serão remansados pelas
águas do reservatório deverão mudar de categoria e os limites permitidos para as
concentrações de fósforo total serão mais conservadores. As concentrações registradas na
atual situação, principalmente no igarapé Altamira, estariam acima do limite de 0,025 mg/L
estabelecido pela legislação para sistemas intermediários classe 1 e próximos ao limite de
0,05 mg/L para sistemas intermediários classe 2, nos principais períodos do ciclo hidrológico,
com destaque para o ponto de jusante, próximo a foz .
A variação sazonal das diferentes formas de carbono analisadas nesses igarapés corroborou os
padrões descritos para os trechos de montante do rio Xingu com a ocorrência de baixas
concentrações e maior contribuição de COD em relação ao CID.
A partir dos resultados apresentados tem-se que, apesar da ocupação urbana nas margens dos
igarapés Panelas, Altamira e Ambé, os compostos nitrogenados e fosfatados gerados por
esgotos domésticos e determinantes para o processo de eutrofização mantiveram-se em baixas
concentrações. O período de enchente é o mais crítico em relação à turbidez das águas e o
período de cheia em relação à contribuição de sólidos em suspensão.
No trecho do rio Xingu a jusante de Altamira e a montante do sitio Pimental (Trecho B3) os
resultados das análises limnológicas revelam que o rio Xingu mantem águas com elevadas
temperaturas e que estas não são influenciadas pelas temperaturas pouco mais amenas das
águas dos igarapés. Em relação ao pH, os resultados revelam valores semelhantes aos
registrados nos igarapés.
A condutividade elétrica permanece baixa e apesar da maior variação temporal dos resultados
de íons totais dissolvidos não foi possível identificar um padrão de contribuição. Os principais
íons analisados revelaram baixas concentrações, sendo que o brometo apresentou considerável
aumento na estação de cheia. Os resultados dos elementos fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio
e ferro se apresentam em conformidade com os limites determinados pela legislação para
corpos de água classe 1 e 2, assim como registrado para os trechos de montante do rio Xingu.
Na campanha do período de enchente, o rio Xingu neste trecho também apresentou águas com
contaminação de chumbo, cromo, níquel dissolvido e zinco. A constante evidência dessa
contaminação e a variação espacial dos resultados dos elementos cromo, chumbo, zinco e
níquel é um indicativo de que não só os igarapés influenciam a qualidade da água em relação
a esses parâmetros, mas toda a bacia de drenagem.
Nesse compartimento, o principal acesso por terra é realizado pela Rodovia Transamazônica
(BR 230) e, através dos travessões e vicinais, chega-se a quase todas as localidades aí
situadas.
Os principais travessões que cortam a área que corresponde ao Reservatório do Xingu são:
Travessão km 9 Sul (“Vicinal da 9”), Travessão km 13 Sul e Travessão km 15 Sul; ao norte
dessa rodovia o compartimento é cortado pelos travessões km 6 Norte (“Vicinal da 6”), km 8
Norte (“Vicinal da 8”), km 60, km 55 (CNEC) e a Rodovia Transcatitu. Na margem direita
deste compartimento, o principal acesso por terra é realizado pela Transassurini, que corta
essa porção do compartimento no sentido norte-sul, partindo do ponto onde é realizada a
travessia do Rio Xingu em direção à cidade de Altamira e chegando até o TVR, nas
proximidades do povoado de Ressaca.
O deslocamento através do Rio Xingu é ainda muito utilizado pela população das localidades
ribeirinhas e, em alguns casos, é o único possível.
Além de toda uma extensão de áreas rurais, que serão descritas no decorrer da caracterização
dos terrenos desse compartimento, situam-se nesta margem esquerda do rio Xingu, as sedes
urbanas de Altamira e de Brasil Novo, conforme pode ser visualizado na FIGURA 9.4-1.
Altamira: a cidade de Altamira está situada na margem esquerda do Rio Xingu distando 720
km da capital do Estado do Pará; seu principal acesso rodoviário é a rodovia Transamazônica
(BR-230), o acesso aeroviário é através da rota Belém-Altamira, que dura aproximadamente
uma hora, e o hidroviário é indireto, através do Porto Dorothy Stang, na cidade de Vitória do
Xingu e da rodovia PA-415 que interliga essas duas cidades.
O padrão de ocupação desta cidade, a partir da década de 1970, foi estruturado com a
implantação do Plano Integrado de Colonização – PIC pelo governo federal, que passou a
associar o assentamento de colonos nos lotes rurais e o assentamento de colonos em lotes
urbanos, compondo um plano urbano-rural de ocupação territorial. Assim a cidade de
Altamira cresceu e consolidou sua função de pólo regional tendo em seu entorno próximo as
agrópolis e agrovilas instaladas ao longo da Rodovia Transamazônica, articulando as
atividades econômicas – agricultura e indústria – e as condições de dinamização dos mercados
– produção/consumo, produção/comercialização, população/administração pública.
Na segunda metade da década de 1980, Altamira passou a ser delineada como uma estrutura
de serviços funcionando como ponto de apoio social, político e econômico regional.
Historicamente a cidade findou por se consolidar como espaço de recepção da mão-de-obra
regional liberada. Nos últimos trinta anos, vários projetos de investimento foram implantados
na Amazônia propiciando a atração de contingentes expressivos de população. Neste
contexto, os municípios da Transamazônica serviram de ponto estratégico para a colonização,
dentre eles a cidade de Altamira, que experimentou um crescimento e um adensamento
demográfico desordenados.
Desde 1980, Altamira apresenta maior percentual de população urbana do que rural (72%)
que vive na sua sede municipal, principal centro urbano de referência da região sob a
influência da Transamazônica e do Rio Xingu no Estado do Pará. Em função da dificuldade e
precariedade dos acessos existentes nessa região, mantêm algumas áreas isoladas e torna a
cidade de Altamira o principal pólo de referência e de atração de população. O próprio
traçado da cidade expressa esta condição, na medida em que a expansão de sua ocupação tem
ocorrido a partir da invasão de áreas, chegando às bordas e margens dos igarapés, espaço
sazonalmente inundado pelas “cheias do Xingu”.
A região onde se localiza a ADA Urbana apresenta-se intensamente ocupada por bairros que
se formaram ao longo das duas margens do baixo curso dos igarapés Altamira e Ambé,
enquanto as áreas localizadas próximas ao igarapé Panelas apresentam ocupação ainda
incipiente.
A pesquisa censitária realizada nestes igarapés e, nas áreas sujeitas a e sofrer os impactos
decorrentes das cheias do Rio Xingu periodicamente – considerando todas as edificações
existentes até a cota 100 m – revelou um total de 4.747 imóveis, 4.362 famílias residentes,
perfazendo 16.420 (7.675 no Igarapé Altamira e 7.250 no Ambé), que representam 22% da
população da cidade de Altamira. Além dessa população, foram identificados 666
estabelecimentos com atividades comerciais, de serviços ou industriais.
Grande parte da população dessas áreas vive em precárias condições de moradia, destacando-
se as péssimas condições sanitárias: não existe rede de esgotamento, 18% das casas não
possuem instalações sanitárias e o abastecimento de água é realizado em mais de 74% dos
domicílios através de poços, sujeitos a contaminação pela proximidade das fossas e dos
lançamentos de esgoto diretamente nos cursos d’água.
Em Altamira, o rio e os igarapés estão intimamente ligados aos hábitos da população local,
algumas atividades domésticas básicas têm como suporte as águas do rio e dos igarapés: neles
são lavadas as roupas, as bicicletas, os animais usados na tração das carroças, é espaço de
lazer para adultos e crianças, além de existirem pontos de captação para abastecimento de
caminhões de distribuição de água. Portanto, a possibilidade de contato com águas
contaminadas por agentes biológicos (bactérias, vírus e parasitos) é muito presente.
Normalmente as cheias que ocorrem no baixo curso do Igarapé Altamira atinge os bairros
Brasília, SUDAM I, Baixão do Tufi e Açaizal (Catedral). Nas margens do Igarapé Ambé são
freqüentemente atingidos pelas cheias os bairros Mutirão (Progresso), Jardim Primavera, Boa
Esperança, Nossa Senhora Aparecida, Olaria e Peixaria.
A área correspondente ao Igarapé Ambé é a mais extensa entre os setores de pesquisa urbanos
na ADA. Além de apresentar ocupação por residências, comércio e serviços, concentra
também atividades de extração de argila. Pelo fato de situar-se nas partes mais baixas dos
igarapés, a extração de argila é interrompida nos períodos das cheias. Nesse setor situa-se um
trecho da Rodovia Ernesto Acioly onde se concentram atividades de comércio e serviços.
O Igarapé Altamira caracteriza-se por ser a região mais povoada em relação aos demais
setores de pesquisa, sendo ocupada por residências e por setores de comércio e de serviços.
A Orla do Xingu constitui-se numa estreita faixa situada na margem esquerda do rio, ocupado
por um cais.
Na ADA Urbana residem 16.420 pessoas que ocupam 4.760 imóveis em 5.2188 edificações.
Deste total, 80,71% são de uso residencial, 2,58% são voltadas para as atividades econômicas
e 8,57% são imóveis destinados para ambas as atividades. A estrutura produtiva da cidade de
Altamira está totalmente associada às atividades produtivas da região, ligadas à cultura e
produção extrativista vegetal. Destacam-se, nesse sentido, a indústria extrativista mineral; a
Altamira é o principal mercado regional: a maioria dos empresários locais negocia sua
produção com outros Estados da federação e com Belém. E as compras governamentais são
indicativas do peso do setor público na economia local.
O setor industrial da cidade está concentrado em torno dos ramos de movelaria, serrarias,
fabricação de esquadrias, pequenas metalúrgicas, pequenas confecções e beneficiamento de
alimentos.
A maioria dos domicílios urbanos não possui canalização própria de água, prevalecendo o uso
do poço construído a céu aberto. Grande parte dos moradores faz algum tipo de tratamento na
água utilizada, principalmente com hipoclorito de sódio.
O IBGE indicou, através do Censo Demográfico 2000, que, do total de 14.326 domicílios
urbanos recenseados, apenas 24% eram atendidos por algum tipo de rede geral. A água,
retirada diretamente do Rio Xingu é tratada com dosagem de sulfato de alumínio, sendo
depois filtrada, para enfim receber dosagens de flúor e cloro.
A situação é mais grave nos bairros periféricos em situações de risco, como no caso dos
moradores das margens dos igarapés. Algumas famílias possuem pequenos poços próximos
dos igarapés, os quais acabam sendo inundados no período de chuvas. A água, assim, recebe
toda sorte de contaminantes, inclusive coliformes fecais.
A cidade de Altamira não dispõe de rede de coleta de esgotos, nem sistemas de tratamento.
Na área central da cidade que drena para o Rio Xingu os efluentes são interligados à rede de
águas pluviais, com sérias conseqüências para a qualidade da água do corpo receptor. Na área
dos igarapés o esgotamento sanitário é inexistente. Região densamente ocupada por palafitas,
as instalações sanitárias, quando existem, são pequenas construções isoladas a poucos metros
das casas, e os dejetos são jogados diretamente abaixo das palafitas. Os hospitais, clínicas e
postos de saúde despejam seus efluentes, sem nenhum tratamento, nas galerias de água pluvial
que deságuam no Rio Xingu.
O destino desses resíduos sólidos tem sido, há pelo menos 12 anos, um terreno situado na
margem esquerda da Transamazônica, sentido Itaituba, na bacia do Igarapé Altamira, área de
expansão da cidade no bairro Liberdade. Não existe manejo adequado e a previsão é que essa
área se esgote em pouco tempo. A equipe que está elaborando a revisão do PDM, versão
2008, constatou a existência de 20 pessoas, trabalhando diariamente, que catam
principalmente materiais plásticos, algum material em alumínio e metais ferrosos
A cidade de Altamira é abastecida por energia elétrica desde os anos 1970, porém em
precárias condições de oferta o que tem causado restrições para sua expansão econômica. A
CELPA fornece energia a todas as residências no perímetro urbano, bem como para
iluminação pública, atendendo 21.239 residências, segundo dados de 2007. As condições de
iluminação pública na cidade de Altamira são deficientes, o que contribui para o aumento da
violência urbana. Na região Altamira concentra as emissoras de rádio: Rádio Rural de
Altamira (AM); Rádio Cidade (FM); e Rádio Vale do Xingu (FM); e as rádios comunitárias
que são a forma de comunicação alternativa para as populações rurais e ribeirinhas que
habitam a região da Transamazônica e do Baixo Xingu.
Com relação à justiça, há uma Comarca com três varas e três promotorias. O Fórum existente
depende de um juiz substituto, que despacha periodicamente, não dispondo de um juiz titular
Em Altamira, o uso do solo é mais diversificado que nos demais compartimentos urbanos da
AID, apresentando além dos usos residenciais (que predominam), comerciais e de serviços
básicos, usos para o lazer, institucionais, culturais e industriais.
O Perímetro Urbano, definido nesse Plano Diretor, avança sobre a área rural, em três direções:
(i) Sudoeste englobando o aeroporto; (ii) Leste abrangendo a Gleba do Exército onde está
instalado o 51º Batalhão de Selva; e (iii) Sudeste incorporando o Rio Xingu, a ilha do Arapujá
e a margem direita onde aporta a Balsa que dá acesso à Região do PA Assurini.
O rio e os igarapés estão intimamente ligados aos hábitos locais, principalmente pela
reconstituição da origem populacional e sua relação com as águas. Mulheres e crianças são os
maiores freqüentadores dos igarapés. As atividades domésticas básicas têm como suporte as
águas do rio e dos igarapés: neles são lavados as roupas, as louças, as bicicletas e os animais
usados na tração das carroças.
Brasil Novo: o município está situado no sudoeste do Estado do Pará, às margens da Rodovia
BR-230 - Transamazônica que o corta no sentido Leste-Oeste em uma extensão de
aproximadamente 30 km, entre os km 40 e 70, no trecho Altamira – Itaituba. A sede
municipal está localizada no km 46, abrangendo ambas as margens dessa rodovia. A partir
dessa rodovia de cinco em cinco km no sentido norte-sul partem os “travessões” ou estradas
vicinais para os assentamentos rurais, formando uma malha viária em forma de “espinha de
peixe”. Nos entroncamentos da rodovia com os travessões situados no km 28 e no km 34
existem agrovilas para apoio aos colonos, assentados em módulos agrícolas de 100, 500 e
3.000 hectares.
A Transamazônica é a única via de acesso rodoviário a Brasil Novo. O município possui cerca
de 2.500 km de estradas vicinais. Há uma pista de pouso na cidade ao lado da rodovia,
comportando apenas aeronaves simples de médio e pequeno porte.
Brasil Novo surgiu como um dos assentamentos para a colonização da Amazônia, promovidos
pelo Programa de Integração Nacional - PIN, instituído no ano de 1970 e implantado, a partir
de 1971, pelo Governo Federal. Foi criada em 1971, com 48 (quarenta e oito) casas e o nome
de Agrovila - km 46. No ano seguinte, passou a Agrópolis, centro urbano agroindustrial,
cultural e administrativo com a finalidade de apoiar a integração social dos colonos. As
Agrópolis foram propostas como núcleos de serviços urbanos de apoio a um conjunto de
Agrovilas.
Brasil Novo foi a única Agrópolis implantada nas margens da Transamazônica, entre Altamira
e Itaituba, ocupando inicialmente três lotes de 100 ha, e apesar de ter sido alçada à condição
6365-EIA-G90-001b 119 Leme Engenharia Ltda.
de sede municipal continua cumprindo o seu papel original de apoio às agrovilas existentes no
município.
Em 1988 teve início uma mobilização popular, pedindo a criação do Município de Brasil
Novo, fato que ocorreu em abril de 1991.
Brasil Novo tem uma população de 7721 habitantes. O crescimento populacional, no período
entre 2000 e 2007 foi de 77,0%, indicando uma taxa de 8,46% a.a. Este crescimento elevou a
densidade demográfica da sede municipal de 1.419,2 hab./km2 para 2506,8 hab./km2 no
mesmo período. Este dado deve ser relativizado, no entanto, em função do movimento de
êxodo observado na área rural dos municípios que fazem parte da AID, expresso na taxa de
crescimento geométrico negativo da ordem de -0,3% a.a, da qual Brasil Novo faz parte.
A população tem perfil jovem, representado pela presença de cerca de 63.0% com idades
correspondendo às faixas de até 29 anos. A população feminina é ligeiramente superior ao
total da população masculina, apresentando percentual de 50,6%. A população em idade
escolar (5 a 14 anos) corresponde a 22,4% do total de habitantes.
Deve-se destacar que parte da população vive do mercado informal: venda de hortaliças,
produtos manufaturados, remédios naturais, utensílios de cozinha, produtos de beleza,
fabricados nos domicílios.
O abastecimento de gêneros alimentícios, roupas, remédios e artigos diversos é feito por dois
supermercados simples e vários mercadinhos e mercearias, além de lojas, armarinhos e e
farmácias.
Na parte central da cidade, quase toda pavimentada, existem alguns trechos com drenagem
pluvial. Por vezes, os moradores lançam o esgotamento sanitário de suas residências nessa
rede. Os demais bairros não têm pavimentação, calçada ou drenagem.
Existe rede de energia elétrica e iluminação pública em toda a cidade, com energia gerada em
Tucuruí e trazida pelo Tramo-Oeste. O “linhão” passa pela cidade entre o Parque de
Exposições e o bairro Vitória Régia.
Brasil Novo dispõe de sistema de telefonia fixa e móvel e de uma agência dos Correios. Há
telefones públicos distribuídos pelas ruas da cidade. A Internet é acessada pelo provedor
Amazoncoop, que atende a toda a região.
Há uma rádio comunitária FM e a cidade conta com a retransmissão via satélite de 02 canais
de televisão aberta (Globo – TV Liberal e TV Cultura). Boa parte da população usa antena
parabólica para a captação de outros canais.
A rede de serviços de saúde é bem estruturada, com um bom hospital privado com 95 % dos
leitos vinculado ao SUS, que é referência para vários municípios, centro de especialidades
médicas e CAPS – I. Possui 18 médicos de várias especialidades médicas, inclusive
traumatologia. Possui uma das maiores coberturas do PSF da AID, de quase 60 %. Há ainda
um Centro Municipal de Saúde Pública, onde trabalham: um médico, um enfermeiro padrão,
dois odontólogos, um laboratorista e atendentes de saúde.
Os espaços para entretenimento e lazer são poucos. Há duas quadras esportivas para uso da
população, um campo de futebol e um Complexo Esportivo Cultural na cidade. O Parque de
Exposições Agropecuárias é utilizado durante a semana de aniversário da cidade.
Existe um Centro de Convivência (ou Casado Idoso), com áreas de lazer e espaços para
diversas atividades. Há ainda a Praça “Geraldo Barbosa” bastante freqüentada, principalmente
pela juventude, onde estão instalados estabelecimentos como churrascarias, pizzarias, bares e
lanchonetes.
A principal receita municipal é oriunda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) que,
em 2006, foi de R$ 5.445.797,92 (cinco milhões quatrocentos e quarenta e cinco mil
setecentos e noventa e sete reais e noventa e dois centavos); a arrecadação do Imposto
Territorial Rural (ITR) no mesmo ano ficou em R$ 12.137,35 (doze mil cento e trinta e sete
reais e trinta e cinco centavos), segundo dados do IBGE.
Destacam-se as culturas do cacau nas Agrovilas Olavo Bilac e Vale Piauiense e nos núcleos
de referência rural Gaviãozinho e Sagrado Coração de Jesus (Pioneira); da mandioca e seus
derivados (goma e farinha de tapioca) na Agrovila Princesa do Xingu e no Núcleo de
Referência Rural Serrinha; a extração da borracha no núcleo Santa Juliana (onde também é
praticada a pesca) e a oleicultura na Agrovila Carlos Pena Filho.
Quanto à área dos imóveis rurais a ADA e sua distribuição por utilização das terras,
destacam-se duas categorias: a mata natural e o pasto plantado. Do total de áreas dos imóveis
rurais pesquisados, 45,62% representam áreas de pasto plantado e 35,0% são áreas de mata
natural. O expressivo percentual de áreas de pasto plantado é indicativo de que uma das
principais atividades econômicas praticadas é a pecuária bovina.
Quanto à utilização das terras situadas nos imóveis rurais onde há produção agropecuária, foi
registrada uma área total de 16.886,62 ha, distribuídos entre áreas de cultivo, matas, pastos,
entre outros usos. A principal utilização das terras é representada pelas áreas de pasto, 72,89%
do total de áreas declaradas, num total de 12.307,84 ha. A segunda principal utilização é
representada pelas áreas de matas (15,69%), seguida pelas áreas para cultivo (10,7%),
perfazendo um total de 1.806,42 ha. Entre as áreas de cultivo, predominam as áreas utilizadas
para cultivos permanentes, que representam quase 70% do total de áreas destinadas para este
fim.
É importante ressaltar que três das 11 localidades da margem esquerda contam com mais de
uma unidade de ensino, a saber: Agrovila Princesa do Xingu, Agrovila Vale Piauiense e
núcleo São João Batista.
Quanto aos postos de saúde, ao contrário do que foi observado nos outros compartimentos,
apenas duas das 10 localidades identificadas não dispõem desse equipamento: os núcleos de
referência rural Sagrado Coração de Jesus (Pioneira) e Santa Juliana. Destaca-se que, em
algumas localidades, o Posto de Saúde está instalado no mesmo prédio da escola municipal,
como em Santo Antônio e Serrinha.
Deve-se salientar, ainda, que Santa Juliana, possivelmente em função de sua localização
muito próxima ao Rio Xingu e maior isolamento em relação à Rodovia Transamazônica e às
áreas mais desenvolvidas, destaca-se dentro do compartimento do Xingu como a localidade
onde a infra-estrutura de serviços é a mais precária, dispondo apenas de um equipamento
social, a escola municipal de ensino fundamental.
Sobre o fornecimento de energia elétrica, tem-se que 90% das localidades dispõem desse
serviço, sendo o fornecimento realizado pela CELPA. Apenas o Núcleo de Referência Rural
São João Batista não dispõe de energia elétrica.
O padrão construtivo das moradias é bastante simples, mas pode-se dizer que relativamente
superior ao observado nos outros compartimentos, encontrando-se um maior número de casas
construídas em alvenaria. Entretanto, em algumas localidades, como o Núcleo de Referência
Rural Santa Juliana, as moradias são, em sua maioria, casas de madeira, cobertas com telhado
de amianto e palha.
O padrão construtivo das habitações das famílias residentes nos imóveis rurais da margem
esquerda do Rio Xingu é bastante rudimentar. As casas geralmente são de madeira, com piso
de cimento ou terra batida e cobertas com telhas de amianto ou de madeira. São raras as casas
construídas em alvenaria e que possuam melhor padrão de acabamento. Além disso, as
condições sanitárias são precárias, os domicílios não são ligados à rede geral de
abastecimento de água e são poucos aqueles ligados à rede geral de energia elétrica.
Na ADA a maior parte das das moradias são construídas em madeira, havendo, ainda,
construções mais rudimentares, como as de taipa e de palha. As instalações sanitárias das
residências são predominantemente constituídas por fossas rudimentares.
A ocupação da área foi iniciada a partir das margens do rio Xingu, através dos igarapés ou da
abertura de ramais como o Palhal, Ramal dos Crentes, Gorgulho da Rita, Cocal, dentre outros.
No núcleo Travessão dos Cajá residem cerca de 80 famílias; no Núcleo de Referência Rural
Mangueiras residem 46 famílias, no Travessão Paratizinho, em torno de 20 famílias, no
Transassurini, 15 famílias. Nos outros núcleos o número de famílias residentes gira em torno
de 10 ou menos.
Outra referência importante para a população dessa margem é a Agrovila Sol Nascente, que,
dotada de um maior número de equipamentos sociais e estabelecimentos comerciais,
desempenha, depois da cidade de Altamira, o papel de centro regional, especialmente quando
considerada a sua localização, na principal via de acesso da Subárea, a Transassurini.
Assim como observado nos outros compartimentos, foi registrado precariedade da infra-
estrutura de serviços, em especial com relação aos serviços de saúde. Em relação aos
equipamentos de educação, com exceção do núcleo Transassurini, os demais núcleos
possuem, ao menos, uma escola.
Assim como a margem esquerda, a margem direita também se destaca em relação aos outros
compartimentos pela presença de equipamentos sociais relacionados à educação. Entretanto,
além do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, presente na Agrovila Sol
Nascente e no Núcleo de Referência Rural Travessão Pimentel (Quatro Bocas), na margem
direita do Reservatório do Xingu foi registrada a Casa do Professor, equipamento de apoio à
educação encontrado na Agrovila Sol Nascente.
O analfabetismo é elevado na ADA, situação esta verifica em de mais de 18% das pessoas.
Em conjunto analfabetos e aqueles que possuem ensino fundamental de 1ª a 4ª série
incompleto, tem-se 59,7% da população total da margem direita do Rio Xingu, o que é um
percentual alto e que mostra a falta de instrução formal da população local. O acesso à
educação é dificultado por condições socioeconômicas, como baixa renda e à precariedade
dos acessos às cidades, onde há maior oferta de ensino, entre outros fatores.
As igrejas são, depois dos estabelecimentos comerciais, os equipamentos mais comuns nessa
porção do Reservatório do Xingu , assim como no restante dos outros compartimentos
estando presentes na maior parte das localidades, à exceção dos núcleos Transassurini e
Mangueiras (Cana Verde). Destacam-se os núcleos de referência rural Travessão dos Cajá,
Travessão do Espelho e Ramal dos Crentes, que possuem mais de um templo religioso.
Nos núcleos de referência rural, foi identificada a presença de outros equipamentos sociais
relacionados à educação, como, no Núcleo de Referência Rural Travessão Pimentel (Quatro
Bocas), o PETI. Foi identificado, também, um equipamento voltado a atividades econômicas:
uma marcenaria no Núcleo de Referência Rural Travessão do Espelho.
A área diretamente afetada (ADA) pelo AHE Belo Monte nas Ilhas do Rio Xingu corresponde
a áreas inseridas nos município de Altamira e Vitória do Xingu, abrangendo um total de 209
imóveis rurais pertencentes a 130 proprietários/posseiros.
Apesar da propriedade dos terrenos das ilhas ser exclusivamente da União Federal e/ou
Estados, estes podem transferir para terceiros, onerosa ou gratuitamente, o seu “domínio útil”,
através de contrato escrito (“aforamento” ou enfiteuse).
Considerando a finalidade principal do imóvel rural, verifica-se que a maior parte do total de
imóveis rurais localizados no compartimento referente às Ilhas do Xingu são utilizados para
moradia e produção.
Observa-se, portanto, que o percentual de imóveis rurais efetivamente utilizados para alguma
atividade produtiva e/ou moradia e/ou lazer na região das Ilhas do Xingu é extremamente
significativo, reafirmando dessa forma a existência de vínculos concretos dos proprietários
com o território, em especial o vínculo de produção, visto que a maioria dos proprietários não
mora nos imóveis rurais, conforme exposto anteriormente.
Quanto à situação fundiária dos imóveis rurais das Ilhas do Rio Xingu, verifica-se que a
maioria dos imóveis rurais pesquisados são minifúndios, 79,43% do total de imóveis, que
ocupam uma área de 2.870,02 hectares ou 45,48% do total.
Ressalta-se que não foram identificadas médias ou grandes propriedades nas ilhas do Xingu, o
que se deve, primeiro pela própria limitação do tamanho das ilhas; segundo, o fato, observado
em campo, das áreas das propriedades/posses declaradas serem, de maneira geral, bem
inferior as áreas totais das ilhas, ou seja, as áreas indicadas como efetivamente ocupadas pelos
informantes são parcelas das ilhas e não toda a área das ilhas.
Os usos das áreas nas propriedades das ilhas do Xingu, que serão detalhados quando da
caracterização da estrutura produtiva, no âmbito deste estudo. Analisando os dados
apresentados, verifica-se que a predominância é de áreas de matas naturais, seguidas pelas
áreas de mata plantada.
As áreas de cultivo representam uma pequena parcela do total de áreas declaradas, com maior
destaque para as áreas de cultivos temporários. .
Compreende uma porção da AID/ADA situada na parte interna Volta Grande do Xingu
abrangendo os Sítios Belo Monte e Bela Vista, o reservatório dos Canais, seus canais de
derivação, diques e suas áreas de entorno.
Ao longo do reservatório dos Canais, uma série de igarapés terá seu fluxo seccionado pelos
diques, dentre estes, citam-se: igarapés Santo Antônio, Cobal, Ticaruca, e Paquiçamba. As
calhas dos igarapés Galhoso e Di Maria serão ainda alteradas pela conformação dos canais de
derivação entre os dois reservatórios.
Nos domínios do Cráton Amazônico, aos quais pertence a maior parte desse compartimento,
predominam aqüíferos fissurados e nas rochas sedimentares, com ocorrência restrita à borda
oeste/noroeste do compartimento e em depósitos aluvionares recentes, ocorrem aqüíferos
porosos.
Ao longo dos ramais da rodovia Transamazônica e na maior parte do território abrangido por
esse compartimento, predominam remanescentes de Floresta Ombrófila Aberta com palmeiras
e secundariamente com cipós, em meio a extensas áreas de pastagem. Nas propriedades rurais
situadas na região dos futuros canais de derivação é praticada a agricultura anual de
subsistência e a cultura de cacau, sombreada pela vegetação secundária.
Os remanescentes das Florestas Ombrófilas Abertas com palmeiras e/ou com cipós neste
compartimento encontram-se reduzidos a fragmentos estando em melhor estado de
conservação apenas na região do entorno imediato da T.I Paquiçamba e na região prevista
para a localização do reservatório dos canais. O açaí (Euterpe oleracea) (FIGURA 9.4-4) é
uma das espécies de maior ocorrência nos remanescentes florestais deste compartimento,
sendo de grande importância como fonte de alimentação e de renda para a população da
região.
Entre as ordens de peixes que ocorrem nesses ambientes, a dos Characiformes foi a que
apresentou maior numero de espécies, seguida de Siluriformes e Perciformes. Nos igarapés
amostrados foram encontradas apenas quatro espécies comuns aos setores inventariados:
Apistogramma sp., Hoplias malabaricus, Moenkhausia oligolepis, Poeciliidae sp., o que é um
indicador de especificidade existente na composição faunística desses igarapés e a baixa taxa
de similaridade.
Quanto à fauna de mamíferos aquáticos nessa região, apenas os igarapés perenes possuem
representantes, porém em menor abundância do que na calha do rio Xingu. Os tracajás e
algumas espécies de crocodilianos também podem ser observados nos igarapés deste
compartimento, no entanto, também em baixa abundância.
As espécies mais registradas nos locais onde foram realizados os levantamentos de mamíferos
de médio e grande portes foram: S. aestuans, C. apella, Mico argentatus, Callicebus moloch.
Comparando as taxas de avistamentos por espécie com as de estudos anteriores, foram obtidos
valores comparáveis ou superiores para todas as espécies, exceto A. belzebul (guariba) que
neste compartimento apresentou valores menores. A queda na taxa de observações diretas de
guaribas neste compartimento sugere, mais uma vez, que a pressão de caça nesta área pode ser
um fator importante do ponto de vista da conservação da fauna local.
Como este compartimento é o que apresenta maior área de ecossistemas terrestres, vale
mencionar informações sobre a biogeografia das espécies inventariadas. Com relação aos
primatas, todas as 11 espécies esperadas foram registradas, inclusive Ateles marginatus
(coatá-de-testa-branca). Esta espécie é mais vulnerável aos impactos antrópicos,
Boa parte da população humana na área de estudo utiliza-se da carne de caça como fonte de
alimento; A porcentagem dos entrevistados que disseram caçar foi maior neste compartimento
(90,3%).
Este compartimento é o que apresenta maior proporção de terra firme, quando comparado
com os outros, e também, a maior proporção de área alterada.
Entre essas espécies Guaruba guarouba é listada no Anexo 1 do CITES, UICN/Bird Life
International; e Morphnus guianensis é apontada pelo BirdLife como quase ameaçada
mundialmente.
Em relação à qualidade das águas dos igarapés que drenam a região desse compartimento,
todos eles afluentes do rio Xingu, tem-se que os igarapés Galhoso e Di Maria possuem águas
com temperaturas pouco mais baixas em relação ao rio Xingu e em conformidade com as
temperaturas dos igarapés de Altamira; apresentam boa oxigenação e águas ácidas,
registrando situação mais crítica na estação seca; têm baixa turbidez, baixos resultados de
sólidos em suspensão e boa oxigenação, com DBO com baixas concentrações.
O igarapé Paquiçamba apresentou valores acima do limite das classes 1 e 2 para o parâmetro
zinco na seca, e cromo na cheia. Em relação aos compostos nitrogenados e fosfatados, as
concentrações permaneceram baixas.
Assim como destacado para os pontos que serão represados pela barragem do AHE Belo
Monte no rio Xingu, os igarapés Paquiçamba e Ticaruca serão remansados pelas águas do
reservatório dos canais e deverão mudar de categoria, sendo que os limites permitidos para as
A principal rua na cidade de Vitória do Xingu é a Avenida Manoel Félix de Farias (na
verdade o prolongamento da PA-415 até o porto. A partir dessa avenida, as demais ruas se
desenvolvem, a maioria em terra e em estado precário de conservação.
A cidade não dispõe de captação nem de sistema organizado de distribuição de água. A água
potável é coletada em poços semi-artesianos, armazenada em duas caixas de cimento com
19.000 e 30.000 litros, respectivamente, e distribuída por bombeamento. Existe um déficit de
40% desse serviço atingindo as residências localizadas nas cotas mais elevadas por conta da
deficiência do equipamento, obrigando alguns moradores a furar seus próprios poços ou
buscar água nas residências vizinhas.
Outra questão grave para o município é que não há arrecadação fiscal destinada ao
abastecimento e tratamento de água. Todos os recursos utilizados são oriundos do Governo
Federal e, portanto, caso o equipamento ou mobiliário público esteja danificado, seu reparo
atrasa por conta da demora no repasse, resultando em racionamento e falta d’água na cidade
de Vitória do Xingu.
Não existe rede de coleta ou tratamento de efluentes. Cada residência adota uma solução, em
geral ligação direta com valas e canaletas nas ruas, todas não pavimentadas, com exceção da
Avenida Manoel Félix de Faria. Os dejetos desembocam nos córregos mais próximos, no caso
o rio Tucuruí, o Igarapé do Facão e o Igarapé do Gelo, principais corpos receptores.
A área urbana não dispõe de sistemas de drenagem de águas pluviais e como já descrito, a
cidade está situada à beira do igarapé Tucuruí, entre os igarapés Água Boa e Gerador, também
chamado de Igarapé do Gelo. O principal problema de drenagem está associado aos sistemas
de deságüe, que sofrem influência dos níveis de cheias do Rio Xingu e dos Igarapés.
As maiores cheias, segundo levantamento realizado com moradores afeta a maior parte da
área urbana, e, uma solução seria a implantação de diques e canais de cintura para evitar as
inundações mais freqüentes, para recorrências de 25 anos, como é comum em áreas urbanas.
Para tal, é necessário o projeto e a construção de toda uma rede de drenagem na cidade, com a
construção de canais ou galerias de drenagem na área ribeirinha, e sistemas de canaletas e
bueiros nos arruamentos que tenham a capacidade de escoar as águas, mesmo em eventos
extremos que aumentam o nível d’água (águas altas) no Rio Xingu.
A praça central é o principal ponto de encontro da cidade, onde está situada a Igreja da
padroeira de Vitória do Xingu, que é Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos e o salão de festas
da paróquia.
A Gleba Paquiçamba com 82.043 ha de área – parcelada em lotes com áreas entre 50 a 100
ha, seguida de lotes entre 100 e 200 ha – é ocupada por pequenos produtores. Aqui o processo
de ocupação se intensificou na década de 1980 e foi se consolidando na última década.
O Projeto Agropecuário Rio Joá é um dos mais antigos (data de 1979) e 73% dos seus
65.154,01 ha, está na Subárea 1. É composto por glebas com 600 ha de área em média e lotes
de 1000 ha, perpendiculares à Transamazônica.
A Terra Indígena Paquiçamba possui 4.348 ha, tendo atingido a última fase de
reconhecimento, encontrando-se registrada no cartório e no Serviço de Patrimônio da União.
A cobertura vegetal existente é de Floresta Ombrófila Aberta muito alterada pelo corte de
madeira, e substituição por pastagens ou para agricultura comercial e familiar. Maiores
fragmentos da floresta original podem ser encontrados no entorno e na TI Paquiçamba e na
porção final do trecho da Volta Grande.
É importante destacar que, houve um claro processo de concentração fundiária na região, com
muitos lotes originários dos parcelamentos do INCRA (imóveis rurais pesquisados) sendo
adquiridos por uma única pessoa. Portanto, atualmente convívem na área pesquisada e suas
Ainda de acordo com a pesquisa realizada, a população que vive nos povoados, aglomerados
e travessões situados nas proximidades do Reservatório do Xingu é majoritariamente de
remanescentes dos projetos de colonização ou migrantes chegados na última década. Segundo
dados de Contagem de População do IBGE, 74% têm como origem, outros municípios do
Estado do Pará. Destaca-se, ainda, neste compartimento, a significativa presença (18% dos
não naturais) de pessoas provenientes do Estado do Maranhão.
As famílias dessa região, em sua grande maioria, dedicam-se à produção rural. Nesse
contexto, a ocupação mais recente caminhou tanto no sentido da antiga área de assentamento,
como na direção das margens do rio Xingu. No caso dos lotes que avançam na direção do rio
Xingu, seus ocupantes (posseiros recentes ou antigos colonos) não estabelecem fortes
vínculos com rio, uma vez que seu modo de vida está associado à dinâmica da agrovila e da
Rodovia Transamazônica.
Outra referência importante na região é a Agrovila Leonardo da Vinci, que, conforme exposto
anteriormente, possui melhor infra-estrutura de comércio e serviços que as outras localidades
da região. Embora o povoado de Belo Monte possua um número maior de estabelecimentos
comerciais que a agrovila, em função de sua proximidade à sede de Altamira e à Rodovia
Transamazônica, a Agrovila Leonardo da Vinci acabou se tornando referência para a
população da região.
Quanto aos postos de saúde, apenas quatro das 11 localidades dispõem desse equipamento:
Belo Monte, Agrovila Leonardo da Vinci, Santa Luzia e São Francisco das Chagas. A
precariedade do sistema de saúde local é característica de toda a AID. As pesquisas realizadas
registraram a inexistência de unidades e postos de saúde distribuídos de forma a atender à
demanda existente. A AID é atendida pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS) e pelo serviço de imunização ofertado em caráter sistemático, com campanhas de
vacinação contra a poliomielite, sarampo, entre outras doenças. Segundo as informações
coletadas, um mesmo agente comunitário atende a duas ou até três comunidades e a vacinação
ocorre muitas vezes na escola ou na igreja.
Não há infra-estrutura de saneamento básico em nenhuma das localidades e grande parte das
moradias não possui banheiro, sendo o esgotamento sanitário realizado através de instalações
rudimentares (fossas negras). No que se refere ao descarte do lixo, as populações rurais
praticam a queima ou o enterram.
Neste sítio pesqueiro não são permitidas atividades que possam trazer prejuízos ao meio
ambiente ou ao desenvolvimento do turismo de pesca esportiva ambientalmente sustentável –
tais como atividades industriais, garimpo, pesca comercial, loteamento urbano e exploração
florestal sem manejo sustentável –, sendo permitida apenas a pesca na modalidade pesque e
solte. É neste mesmo sítio pesqueiro que está localizado a Pousada Rio Xingu, de grande
importância para o desenvolvimento turístico do Município de Vitória do Xingu, uma vez que
sua divulgação tem abrangência tanto nacional como internacional.
A Pousada Rio Xingu está localizada no final da Volta Grande, em uma região bastante
isolada e de beleza cênica do Rio Xingu, pela abundância de corredeiras e cachoeiras. O
empreendimento possui uma lotação de 20 pessoas em apartamentos duplos, além das
dependências de cozinha, salas de estar e piscina. É visitada quase exclusivamente por turistas
de outros estados (principalmente SP, e MG) e do exterior (principalmente, USA). Recebe
aproximadamente 200 hóspedes por ano no período de safra, durante a estação mais seca. A
pesca ocorre no rio Xingu e é realizada com linhas e caniços e os princípios do “pesque e
solte” são bem restritos. Isto porque não é permitida a retirada de nenhum exemplar
capturado, fora da área do sítio. Desta forma, somente são extraídos do rio, os peixes que
servirão para a alimentação dos hóspedes e funcionários da pousada. A pousada oferece os
serviços de 10 guias e possui 8 voadeiras,que realizam excursões para pescar. Os
trabalhadores do empreendimento são, na sua maioria, moradores da região.
A Área Diretamente Afetada (ADA) na região do Reservatório dos Canais abrange um total
de 495 imóveis rurais, pertencentes a 323 proprietários/posseiros. Do total dos imóveis rurais
foram contabilizados 354 grupos domésticos, num total de 1.166 pessoas, a maior parte
formada por familiares.
Quanto à situação fundiária dos imóveis rurais da Região dos Canais, verifica-se que a
maioria dos imóveis rurais pesquisados é de pequeno porte. Dentre os produtos cultivados
destaca-se, como principal produto das lavouras permanentes, o cacau, a banana. Os demais
produtos das lavouras permanentes ocupam áreas menos significativas, destacando-se a
pimenta, o coco e a pupunha (0,11%).
Quanto à área dos imóveis rurais e sua distribuição por utilização das terras, destaca-se a mata
natural. Do total de áreas declaradas pelos entrevistados, aproximadamente 80,0% está
ocupada por áreas de mata natural.
A organização territorial do núcleo é de uma típica agrovila, que sofreu um esvaziamento de
sua população, conforme observado em diversos setores rurais do município de Vitória do
Xingu (vide item Caracterização Demográfica no Diagnóstico da AID).
Os principais produtos agrícolas cultivados são o feijão, a mandioca, o milho e outros não
especificados pelos entrevistados, com destaque, quanto à área cultivada, para o feijão, que
ocupa cerca de 40% do total. Considerando os principais produtos cultivados nas lavouras
permanentes e temporárias, verifica-se que predomina o caráter de subsistência da produção.
No Núcleo de Referência Rural Santo Antônio, do total de casas ocupadas a maior parte
possuiacesso à energia elétrica através de sistema de rede geral de distribuição, situação essa
proveniente da sua localização às margens da Transamazônica e do traçado da Linha de
Transmissão do Tramo Oeste, alimentada pela UHE Tucuruí.
O Núcleo Santo Antônio possui uma relação estreita com o Rio Xingu, devido à proximidade
que se encontra do mesmo, o grau de isolamento da sede urbana de Vitória do Xingu, a
carência da infra-estrutura, inclusive de transporte, e pela solidariedade da forma de
convivência de seus membros em função do número reduzido de famílias – apenas 39, e,
conseqüentemente, de moradores.
Dessa forma, é possível observar que cerca de 40% do total de respostas são de utilização do
Rio Xingu como fonte de lazer e cerca de 20% para a pesca artesanal. O rio também é
utilizado para atividades caseiras cotidianas como lavar louça ou roupa ,para transporte, para
beber e cozinhar e tomar banho diariamente.
Compreende uma porção da AID/ADA com 102 km2, abrangendo a calha do rio Xingu e suas
áreas de entorno a jusante do local previsto para a restituição das vazões turbinadas ao curso
normal do rio Xingu, nas imediações da Casa de Força Principal.
Nesse trecho o rio Xingu tem orientação E-W, passando a NNW e apresenta-se encaixado
com predomínio de um canal único em forma de “U”; apresenta poucas ilhas aluviais e
planícies de inundação restritas (Trecho A3). Destaca-se que, neste trecho, o rio Xingu sofre
influência do efeito de maré do rio Amazonas, no período de estiagem.
Os aqüíferos são porosos em depósitos aluvionares recentes e nas rochas sedimentares; possui
corrência restrita de aqüíferos fissurados nas rochas vulcânicas básicas representadas pelo
Diabásio Penatecaua.
Os solos da margem direita são Cambissolos (restritos para uso agrícola) e Latossolos
Amarelos (regular para uso agrícola) e na margem esquerda predominam os Nitossolos
Háplicos e, subordinadamente, Argissolos Vermelho-Amarelos e Argissolos Amarelos, com
bom potencial para o desenvolvimento agrícola. Essas áreas encontram-se no domínio da
Floresta Ombrófila Aberta com palmeiras, hoje muito fragmentada por extensas áreas de
pastagem, especialmente ao longo da PA-415, que liga as cidades de Altamira e Vitória do
Xingu .
Este trecho do rio Xingu compõe o seu baixo curso, onde são visualizadas a dourada e a
piramutaba até próximo à localdade de Belo Monte. Tanto a dourada como a piramutaba não
são encontradas rio acima, após as grandes cachoeiras, ocorrendo apenas na parte baixa do
rio. Também neste trecho são encontrados o surubim (Pseudoplatystoma fasciatum), a
pirarara (Phractocephalus hemioliopterus) e o filhote (Brachyplatystoma filamentosum). Estas
espécies habitam as águas do rio Xingu, tanto acima como abaixo das cachoeiras. A pesca de
dourada é bastante desenvolvida nesta região, juntamente com o filhote.
A pesca comercial neste compartimento é mais preponderante que nos demais, sendo que há
vários pontos de desembarque pesqueiro na região. Já a coleta de peixes ornamentais, não
ocorre neste compartimento, estando concentrada próximo a cachoeira de Belo Monte, na
região de pedrais.
Sobre os Mamíferos Aquáticos deve-se destacar que na Amazônia existem cinco espécies de
mamíferos aquáticos pertencentes a três distintas Ordens: Sirenia, com uma espécie, o peixe-
boi da Amazônia (Trichechus inunguis), a Ordem Cetacea, com duas espécies de golfinhos, o
boto-vermelho (Inia geoffrensis) e o boto-tucuxi (Sotalia fluviatilis) e a Ordem Carnívora,
com duas espécies de mustelídeos aquáticos, a ariranha (Pteronura brasiliensis) e a lontra
(Lontra longicaudis). Todos eles têm ocorrência na área de estudo, porém, a exceção dos
mustelídeos que têm ocorrência generalizada ao longo de toda a AID, os demais somente
ocorrem a jusante do trecho encaixoeirado da Volta Grande.
O peixe boi da Amazônia, único sirênio exclusivamente de água doce, possui distribuição
restrita à bacia amazônica, onde é encontrado desde a Ilha de Marajó (Brasil) até as cabeceiras
do Rio Amazonas, na Colômbia, no Peru e Equador (DOMMING, 1981; BEST, 1984;
REYNOLDS e ODELL, 1991; ROSAS, 1994).
Todos os entrevistados durante os levantamentos de campo relataram que não existe peixe-boi
na região de Belo Monte, embora indicaram a presença desse animal na região do baixo
Xingu.
No trecho entre Altamira e a foz do rio Iriri e na região da Volta Grande nenhum cetáceo foi
avistado, confirmando a hipótese de que os botos e tucuxis não ocorrem nessa área. Isso pode
ser explicado por ser uma região localizada acima das muitas cachoeiras existentes,
especialmente na Volta Grande, que parece constituir em barreira para a subida dos cetáceos.
O boto mais avistado o ano inteiro é o vermelho; no inverno são vistos com mais freqüência,
inclusive no Paraná do Tubarão. Na região de Belo Monte, os moradores indicaram apenas a
ocorrência de Inia geoffrensis, que ocorre até a base das corredeiras. O tucuxi, Sotalia
fluviatilis, não é observado nessa região.
Na região de Vitória do Xingu, a jusante das corredeiras, os tucuxis são avistados em grupos
de até 8 indivíduos, porém esporadicamente. Os botos, por outro lado, são vistos com maior
freqüência e em grupos de 2 ou 3 indivíduos.
Existe uma forte interação dos botos com a pesca, pois além de roubarem os peixes das
malhadeiras, eles as rasgam, causando prejuízo aos pescadores. E, se os pescadores têm
oportunidade, matam os botos encontrados próximo às suas redes. Esses mesmos pescadores
que confessaram já terem matado boto, reconhecem a importância do animal para a
manutenção da quantidade de peixes na região.
Adicionalmente, não se conhece o número de abrigos que uma mesma lontra, ou um casal de
lontras, possa ter em seu território, tornando as estimativas de número de vestígios por
quilômetro de rio um índice questionável para estimar a densidade da espécie em uma
determinada área. No entanto, considerando a regularidade da deposição de fezes em
determinados locais dentro de seus territórios e a distância observada entre esses locais nas
amostragens realizadas no médio Xingu, pode-se deduzir que a quantidade de lontras naquelas
áreas seja realmente elevada.
Os moradores relataram que as lontras são vistas com menor freqüência que as ariranhas,
geralmente sozinhas ou no máximo em grupos de dois indivíduos.
A ariranha, embora presente também nas três áreas amostradas, parece ser menos freqüente que
a lontra. De maneira análoga, recomenda-se cautela ao avaliar o número de vestígios de
ariranha numa determinada área, uma vez que um mesmo grupo de ariranhas possui diversas
Na região de Senador José Porfírio, os moradores relataram que a maré exerce grande
influência na movimentação desses animais; quando a maré enche, elas entram nos igarapés
atrás de alimento.
Quanto aos quelônios aquáticos observa-se que, comparando os dados obtidos nos
levantamentos de campo com o resultado da compilação de revisões das distribuições das
espécies amazônicas, verifica-se que apenas mata-matá não teve seu registro confirmado neste
estudo, apesar da literatura indicar a ocorrência desta espécie na região e que houve uma
elevada abundância de pitiú (Podocnemis sextuberculata), espécie que não foi mencionada
por nenhuma das revisões analisadas. Esta espécie também tem sido mencionada como
abundante nos relatórios do IBAMA, principalmente na região da ria do Xingu. A espécie
Platemys platycephala, também não incluída nas revisões bibliográficas foi capturada nos
levantamentos de campo realizados neste EIA.
Nos trópicos a distribuição de quelônios aquáticos está relacionada ao pulso de inundação dos
rios, que altera a disponibilidade de nutrientes e habitats, com maior oferta de alimento
(BURRY, 1979, BODIE e SEMLITSCH, 2000).
Desta forma, observou-se que Podocnemis unifilis ocorreu em todas as regiões amostradas por
pescarias experimentais, porém, a região a jusante de Belo Monte, apresentou maior
diversidade. Contra as expectativas baseadas na literatura, a tartaruga-da-amazônia (P.
expansa) foi registrada também a montante das cachoeiras da Volta Grande, inclusive com
registros de atividades reprodutivas.
O canal do rio foi o ambiente com o maior número de indivíduos capturados, seguido pelo
remanso e beira do rio. Assim, os Podocnemidídeos predominam em termos de abundância no
canal principal, com este diferencial entre o trecho a jusante com tartarugas e pitiús, e a
montante com predominância dos tracajás. Estes resultados são corroborados por PEREIRA,
1958 e ALHO et AL., 1979.
Em relação à biologia reprodutiva dos quelônios, foram inventariadas praias distribuídas nas
áreas amostradas pelos levantamentos de campo, tendo sido constatado que em 54 desses
bancos de areia foram encontrados desovas de quelônios com pelo menos uma espécie de
quelônio utilizando o sítio para reprodução. O monitoramento revelou que poucas fêmeas de
P. expansa utilizam as praias no trecho à montante das cachoeiras.
Dois principais ambientes de desova foram identificados: as praias, que variam bastante em
extensão e grau de cobertura vegetal; e as sarobas, que são pequenos conjuntos de ilhotas,
formadas por pedras e areia, com vegetação herbácea-arbustiva associada (região dos
pedrais). Estas regiões foram apontadas como os principais locais de desova de tracajás a
montante de Belo Monte.
Uma das grandes preocupações dos especialistas são a perda de ninhos e as baixas taxas de
eclosão das tartarugas na região. As principais causas da perda de ninhos é a por humanos e
pelo lagarto Tupinambis nigropunctatus. Na região do tabuleiro uma das causas de perda de
ninhos é o alagamento das covas. A produção anual de filhotes no tabuleiro do Embaubal,
vem sendo afetada pelos repiquetes e pelas marés, fator que explica a drástica variação na
produção de filhotes ano após ano, nessa região.
Do total de animais caçados pela população ribeirinha monitorada neste estudo, apenas 10%
dos animais caçados (26 tartarugas) foram comercializadas, sendo todo o restante consumido
pelas famílias dos pescadores; portanto, parece se tratar mais de uma atividade de subsistência
da população local.
As seguintes espécies são associadas aos ambientes aquáticos e foram capturadas em todos os
compartimentos associados ao rio: biguá, mergulhão (Phalacrocorax brasilianus), biguatinga,
carará (Anhinga anhinga), garça-moura, maguari (Ardea cocoi), garça-branca-grande (Ardea
Alba), garça-branca-pequena (Egretta thula) , carão (Aramus guaraúna), gavião-real (Harpia
harpyja), trinta-réis-grande (Phaetusa simplex), jacana (Jacana jaçanã), trinta-réis-anão
(Sternula superciliaris).
Este compartimento apresenta áreas com vegetação de terra firme ainda preservadas,
permitindo que espécies de primatas que somente ocorrem na margem direita do rio Xingu,
encontrem abrigo nestas áreas, com é o caso do cuxiú (Chiropotes utahickae), sagüi-preto
(Saguinus Níger) e mico-de-cheiro (Saimiri sciureus) ocorrem na margem direita do rio
Xingu. Já o Mico argentatus ocorre dos dois lados do rio, mas do lado direito, a espécie já foi
avistada apenas mais ao norte da área de estudo, na região da planície do rio Amazonas
(FERRARI; LOPES, 1990).
Mesmo apresentando áreas ainda de floresta ainda preservadas não foi observado o cachorro-
do-mato (Atelocynus microtis) que, não teve ocorrência registrada na AID.
Com relação aos répteis terrestres, Kentropyx altamazonica (Teiidae) e Mabuya bistriata
(Scincidae) foram registrados em áreas contíguas aos tabuleiros de desova de tartaruga na
Baía de Souzel, a jusante da Volta Grande. Essas duas espécies ocorrem nessa região apenas
em ambientes adjacentes ao rio, sem penetrar na floresta de terra firme.
Esses estudos registraram que as águas do igarapé Tucuri e do rio Xingu neste trecho
apresentaram elevadas temperaturas durante todas as campanhas de amostragem, com
destaque para os valores acima de 30ºC na campanha de seca, quando os sistemas têm baixa
profundidade.
Ambos os sistemas analisados apresentam águas ácidas, com valores próximos a neutralidade
na campanha de enchente. O igarapé Tucuri apresentou valores críticos e abaixo de 6 nas
campanhas de enchente e vazante. O dois sistemas analisados apresentaram baixa turbidez nos
pontos analisados em todas as campanhas.
As águas são em geral bem oxigenadas e a condutividade elétrica foi baixa no rio Xingu em
todas as campanhas, sofrendo pouca variação sazonal.
A variação sazonal da caracterização de íons totais dissolvidos não apresentou um padrão bem
definido e, o ponto do rio Xingu localizado mais a jusante na Ria do Xingu apresentou a
maior concentração da rede de amostragem com 119,75 mg/L na vazante e teve como
principais contribuintes os elementos cloreto e sódio. Os demais íons analisados revelaram
baixas concentrações, sendo que o brometo apresentou considerável aumento na estação de
cheia. Os resultados dos elementos fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio e ferro estiveram em
conformidade com os limites determinados pela legislação para corpos de água classe 1 e 2.
Todos os pontos de jusante apresentaram valores superiores ao limite estabelecido para cursos
de água classe 2 para cromo nas campanhas de enchente e cheia. Todos os pontos de coleta
neste trecho apresentaram valor superior ao limite para o elemento chumbo na enchente. O
chumbo esteve presente em elevadas concentrações no Xingu durante a cheia, além de cromo,
níquel e zinco em elevadas concentrações, na enchente.
Em relação aos compostos nitrogenados, as concentrações das três formas analisadas foram
baixas nos cursos hídricos analisados, sendo que os limites de 3,7 mg/L de amônio e de 10
mg/L de nitrato determinados para os sistemas classes 1 e 2 não foram atingidos em nenhuma
campanha. Mas é importante destacar a elevada concentração de nitrato no rio Xingu no
período de vazante. As concentrações de fosfato total foram baixas e inferiores ao limite de
0,1 mg/L estabelecido pela legislação.
No trecho da calha do rio Xingu, entre Vitória do Xingu e Senador José Porfírio foram
identificados estandes de macrófitas compostas predominantemente da espécie Montrichardia
linifera distribuídos em cinco bancos entre a estação de coleta TUC01 e RX16 além de
estandes isolados de Echinochloa polystachya formando ilhas que atingem 1 a 2 km2.
Em função de sua localização, trata-se de uma região sob forte influência da Rodovia
Transamazônica (BR-230) e na qual os modos de vida da população, diferentemente dos
compartimentos relativos ao Reservatório dos Canais e Trecho de Vazão Reduzida, não são
tão dependentes do Rio Xingu.
As principais vias de acesso são a Rodovia Transamazônica (BR 230) e a Rodovia Ernesto
Accioly (PA-415), que ligam a sede de Altamira a Vitória do Xingu. Destaca-se, ainda, a
Rodovia PA-167 e os diversos travessões que cortam esse compartimento: Travessões km 45
Norte, km 40 Norte, km 32 Norte, km 23 Norte, km 13 Norte, além do Travessão do Bambu,
Travessão Tijuca, Travessão Timbira e Travessão Boa Vista. Esse compartimento é
caracterizado pela presença de 06 localidades, distribuídas em uma área de 2.855 km2,
conforme quadro a seguir.
Segundo a classificação do IBGE, Vila Nova é considerada outro aglomerado e uma ilha
localizada no Rio Tamanduá, afluente do Rio Xingu. Além dessa localidade, foram
identificados 05 núcleos de referência rural, dispersos nos principais travessões e vicinais,
classificados segundo a identidade espacial e presença de equipamentos sociais. A
denominação dos núcleos de referência rural foi definida de acordo com as informações
obtidas durante as pesquisas socioeconômicas e sócio-antropológicas e, geralmente, remete a
elementos territoriais, como travessões e rios, ou religiosos.
Para fins de caracterização, é importante destacar que embora as sedes urbanas dos
Municípios de Senador José Porfírio e Vitória do Xingu estejam localizadas territorialmente
dentro desse compartimento, estas serão caracterizadas separadamente, sendo que Vitória do
Xingu foi caracterizada no compartimento Reservatório dos Canais, compartimento que
abrange grande parte do seu território.
O Município de Senador José Porfírio não tem continuidade territorial, sendo dividido em
duas áreas, um ao norte e outra ao sul do município de Vitória do Xingu e o acesso à sua sede
é feito pela rodovia PA-167, partindo da Transamazônica, ou pelo Rio Xingu a partir de
Vitória do Xingu ou de Belém.
O povoamento que deu origem ao atual município de Senador José Porfírio surgiu por volta
de 1750, quando as antigas missões da Companhia dos Jesuítas após vencerem por terra a
Volta Grande do Rio Xingu, chegaram à região e se estabeleceram. Lá fundaram uma missão
e abriram uma estrada primitiva, para ligar a nova missão à localidade de Cachoeira no rio
Tucuruí. A expulsão dos jesuítas fez com que essa estrada e a missão ficassem praticamente
abandonadas, vindo a ser, posteriormente, reconstruídas por outra missão, dos Capuchos da
Piedade, que promoveu o seu crescimento e desenvolvimento.
O povoamento inicial foi denominado Souzel, nome de uma cidade portuguesa, como
aconteceu em outras localidades do Pará, como Santarém, Faro e Óbidos, por exemplo.
Souzel foi alçado à categoria de município em abril de 1874, tendo sido eleito como seu
intendente José Porfírio de Miranda Junior, que hoje dá o nome ao Município.
A cidade teve seu início nas margens do Rio Xingu e durante décadas ficou limitada às áreas
mais próximas do rio. Apenas na segunda metade do século XX começou, aos poucos, a se
expandir para as áreas mais afastadas, tendo crescido com um traçado bastante regular. As
últimas quadras abertas apresentam ocupação bastante recente.
A sede municipal de Senador José Porfírio possui uma população de 6.278 habitantes,
correspondendo a 5,2% da população total da AID. Essa população por origem outros
municípios do Pará e, assim como as demais cidades da região, e também tem significativa
proporção de migrantes provindos do Estado do Maranhão.
Embora não tenha sido implantado, o Município elaborou e aprovou seu Plano Diretor em
2006. Esse instrumento definiu o ordenamento do território municipal com a definição do
macro zoneamento, considerando a sede do município e dos distritos como áreas urbanas, e
criando duas outras categorias de uso: área de proteção integral e área de expansão
econômica.
O Plano determinava que, no prazo de um ano, deveria ser elaborada a legislação urbanística e
edilícia necessária à sua implementação, a saber: leis de zoneamento, uso e ocupação do solo
urbano, de parcelamento do solo urbano, códigos de obras, de posturas e ambiental.
Entretanto, com a mudança no governo estadual, em função das eleições, o convênio expirou
e não foi renovado, ficando esses instrumentos pendentes, o que implicou a não
implementação do Plano Diretor.
A cidade de Senador José Porfírio encontra-se na margem direita do rio Xingu e tem uma
forma bastante regular, próxima de um retângulo cujas laterais são definidas por igarapés. A
malha viária segue a regularidade de seu perímetro urbano com as ruas principais
perpendiculares à margem do Rio Xingu onde existe uma orla urbanizada em alguns pontos
que proporcionam uma área de lazer para a sua população.
A ocupação é mais densa junto ao rio, onde começou o povoamento e os usos predominantes
são: residencial, comercial, misto, governamental, recreativo e de serviços. Os serviços foram
classificados pelo Plano Diretor Municipal de 2006 em dois subgrupos: (a) serviços urbanos,
excluídos os sociais/ comunitários; (b) comunitários/ sociais, saúde, lazer, culturais (excluídas
áreas verdes de uso público para preservação).
A área urbana é contínua, mais adensada nas margens do rio, a partir do Centro e da Rua das
Flores, que faz a ligação com a rodovia, mas ainda com muitos lotes vazios no Maranhenses,
à medida que se avança na direção leste da cidade. O Bairro Novo registra o maior número de
lotes vagos.
O Município tem doado os lotes aos moradores e não cobra Imposto Predial e Territorial
Urbano – IPTU, nem taxa de água. Na parte mais antiga da cidade, segundo informações da
Secretaria de Obras, cerca de 60% dos imóveis estão com titulação regularizada.
As construções, na sua maioria, apresentam recuos frontais e laterais. As ruas largas e planas
formam um espaço aberto e bastante permeável. A quase totalidade das travessas cruza a
cidade no sentido oeste-leste, chegando às margens do Rio Xingu, enquanto as ruas o fazem
no sentido norte-sul.
A largura das vias e a predominância das construções térreas dão uma sensação de espaços
amplos e abertos a toda a cidade e de uma estrita relação com o rio. Não existem ocupações
irregulares, cortiços ou favelas na cidade.
As demais ruas não têm pavimentação nem calçadas. É evidente a diferença de tratamento do
espaço urbano na orla do rio, entre os bairros Centro e Encantado. As vias que margeiam o rio
são completamente distintas, como se fossem de cidades diferentes.
Boa parte da cidade tem valas abertas em frente às casas, para escoamento das enxurradas,
uma vez que não existe rede de drenagem pluvial Apenas um pequeno trecho dessas valas é
O Município não conta com transporte coletivo, tendo grande fluxo de bicicletas e
motocicletas, principalmente na área do centro e de comércio. A sede do Município usa
bastante o transporte hidroviário, basicamente para a ligação com a sede do Município de
Vitória do Xingu e atendimento às áreas rurais lindeiras ao Rio Xingu. Para tanto, conta com
um trapiche e um pequeno terminal de embarque e desembarque de passageiros e carga.
Parte da cidade é abastecida de água, cuja captação é feita em poços profundos, de 120 m, e
distribuição por dois sistemas interligados. Apenas as áreas mais distantes do Bairro Novo,
bem como o bairro Piquiá, ainda não são servidas com abastecimento de água.
A cidade toda é abastecida por rede de energia elétrica e iluminação pública, com energia
gerada em Tucuruí e dispõe de sistema de telefonia fixa e móvel. Há telefones públicos
distribuídos pelas ruas da cidade e uma agência dos Correios, que funciona como banco
postal.
As escolas na zona urbana, distribuídas nos diversos bairros atendem alunos da Educação
Infantil; Ensino Fundamental e Ensino Médio. Senador José Porfírio possui, na sede
municipal, um Centro de Saúde, uma Unidade Básica de Saúde da Família e uma unidade de
Vigilância Epidemiológica. Há, ainda, um hospital municipal, no Centro, que atende pelo
SUS e pediatria. A unidade onde funcionava o PSF foi transferida para uma casa da Prefeitura
para dar lugar à construção deste um hospital de 15 leitos, obra do governo do Estado do Pará.
As instalações físicas deste hospital são muito amplas, distribuídas em três alas. Entretanto,
não dispõe de centro cirúrgico. Está prevista a implantação de outra equipe do PSF na sede do
município, e as duas devem atuar nesta unidade em construção.
Cabe, entretanto, salientar a existência Lei Municipal nº 002, de 12 de julho de 1983, que
dispõe sobre a determinação de área de terra para a criação de uma Reserva Biológica, com
100 metros de cada lado do Igarapé Nazaré, e a proposta de criação do Monumento Natural de
Senador José Porfírio. Este último, situado na área em que se localiza a gruta Leonardo da
Vinci, com 176 metros de desenvolvimento, pelo fato de que, talvez, seja a única gruta
desenvolvida em rocha folhelho, na Amazônia.
Para amenizar esse problema, em 1992, foi criado o Projeto Gavião I, uma parceria do
Município com a Universidade Federal do Pará, com o objetivo de melhor qualificar os
professores da rede municipal de ensino através da realização de cursos de formação de
docentes para o ensino fundamental de 5ª a 8ª série. A partir de 1997, a educação do
município passou por muitas transformações, desde mudanças administrativas até a realização
do primeiro concurso público para docentes no município. Em 1998, deu-se seqüência ao
Projeto Gavião I e início ao Projeto Gavião II, que promove a qualificação de professores no
nível de 2º grau magistério.
Quanto aos projetos realizados em parceria com outras entidades, destacam-se os Projetos
Navegar IV, Tartaruga Viva, Banda Municipal de Música e o Festival do Caratinga. O Projeto
Navegar IV, criado através do convênio entre a Secretaria Estadual de Esporte e Lazer
(SEEL) e a Prefeitura Municipal, é um dos mais importantes de Senador José Porfírio. O
projeto visa o atendimento das crianças de escolas da rede pública de ensino, com idade entre
12 a 15 anos, e busca incentivá-las à prática de esportes náuticos, tais como vela, remo e
canoagem.
O Projeto Navegar possui sede própria, onde são ministradas “aulas de introdução e
segurança, básico de canoagem, vela e remo, introdução de ecossistema, noções de
salvamento, primeiros socorros, práticas de nós e cabos e civismo e cidadania”.
O Projeto Tartaruga Viva, implantado em 2001, tem o objetivo de integrar os alunos da Rede
Municipal de Ensino em um trabalho de preservação ambiental e preservação da cultura local.
Trata-se de uma parceria entre o IBAMA-CENAQUA e diversas Secretarias Municipais de
Senador José Porfírio (Educação, Cultura, Desporto e Turismo; Saúde e Meio Ambiente e
Assistência Social), na tentativa de proteger as tartarugas, através da implantação de um
projeto que envolva adultos e crianças. O trabalho, desenvolvido em conjunto por professores,
alunos e técnicos do IBAMA, objetiva proteger a reprodução das tartarugas, através da coleta
dos filhotes nas covas naturais, levando-os para um viveiro, onde permanecem por um
período específico, para fortalecimento da carapaça e perda do odor característico. Depois, é
feita a contagem e soltura dos filhotes no ambiente natural.
O Projeto da Banda Municipal de Música data de 2000 e é realizado através de parceria entre
a Prefeitura Municipal e o reformatório Carlos Gomes. Entretanto, segundo informações da
Secretaria Municipal de Educação, devido à falta de recursos financeiros e bolsa de estudos
para os alunos da banda principal, o número de alunos vem diminuindo muito com o passar
dos anos.
O Trecho de Restituição de Vazão encontra-se dividido pelo estirão do Rio Xingu, situado a
jusante da Casa de Força Principal projetada para o AHE Belo Monte.
Existe ainda, na parte central da margem esquerda desse compartimento, uma área “em
identificação” proposta para abrigar a TI Juruna. A cobertura vegetal é representada por
fragmentos da Floresta Ombrófila Aberta e áreas de pastagem e de culturas cíclicas com
predominância da primeira. As culturas cíclicas estão mais presentes na porção desse
compartimento localizado no município de Senador José Porfírio (6%).
A densidade demográfica apresentada para a zona rural de Senador José Porfírio é superior às
densidades das zonas rurais da região (2,0 hab./km2), ainda que atualmente, apresente uma
taxa de crescimento geométrico negativo (-7,96).
A população migrante residente nas localidades é composta por 860 pessoas, oriundas, em
79% dos casos, de outros municípios do Estado do Pará.
Em linhas gerais, no trecho a jusante do Reservatório dos Canais é onde se encontra a maior
concentração de população ribeirinha da AID. Deve-se destacar que, conforme já apresentado
na caracterização dos compartimentos do Reservatório dos Canais e TVR, os povoados Belo
Monte e Belo Monte do Pontal também estão localizados territorialmente a jusante do
reservatório dos canais. Estes dois povoados constituem locais de recepção de migrantes que
transitam pela Rodovia Transamazônica. A partir desse ponto, em direção a foz do Rio Xingu
e, portanto, em relação aos aglomerados e núcleos que são caracterizados neste
A água para utilização doméstica dos moradores das localidades é captada individualmente e,
em geral, é proveniente de poço (60%), do Rio Xingu (15%) e de igarapés (25%). Quanto à
energia elétrica, apenas Vila Nova e a Agrovila Cilo Bananal dispõem desse serviço. Destaca-
se que a energia da Agrovila Cilo Bananal é fornecida pela CELPA.
Quanto aos postos de saúde, apenas 04 das 06 localidades dispõem desse equipamento.
Apenas os núcleos de referência rural Bom Pastor e Travessão do Bambu não contam com a
presença de um posto de saúde. Destaca-se, ainda, que o posto de saúde do Núcleo de
Referência Rural, em função de sua localização na Rodovia Ernesto Acioly (PA-415),
caracteriza-se como um importante ponto de apoio aos viajantes e moradores da região.
Esse compartimento destaca-se por contar com um número maior de equipamentos voltados
ao lazer, especialmente os relacionados à prática de esportes, se comparado aos
compartimentos relativos ao Reservatório dos Canais e TVR. As pesquisas realizadas
identificaram apenas 01 cemitério nas 06 localidades, localizado em Vila Nova.
Estes problemas refletem-se nos depoimentos dos moradores dos núcleos localizados nesse
compartimento, em relação à possibilidade de implantação do empreendimento.
Compreendem 1.675 km2 da ADA/AID, abrangendo o trecho do rio Xingu a jusante da futura
barragem de Belo Monte, que poderá ter redução de vazão, caso o empreendimento venha a
ser construído, além do baixo curso do rio Bacajá e suas áreas de entorno. Por ser considerado
um dos trechos do rio Xingu mais sujeito aos efeitos negativos do empreendimento, a esse
compartimento foi dado um tratamento aprofundado sendo objeto de estudos específicos,
visando ao aprofundamento do conhecimento de seus atributos ambientais com o objetivo de
embasar uma proposta de um hidrograma ecológico para essa região.
Os resultados desses estudos específicos, além das informações provenientes dos estudos
temáticos são reunidos em um diagnóstico integrado específico para esse trecho, apresentado
no item 9.5.
Correlação com
Compartimentos Todos esses espaços de análise são abrangidos por terrenos dos compartimentos Transamazônica/PA 415 e Xingu/ Bacajá da AII
Ambientais da AII
Desde o sítio Pimental o rio Xingu tem uma orientação
geral NW-SE por cerca de 22 km, quando inflete para
NE e em seguida para N; densa rede de canais, com
Da confluência com o rio Iriri até as imediações da
nítido controle estrutural, conjugada com amplas áreas
cidade de Altamira, o rio Xingu tem uma
de pedrais;
orientação geral SW-NE, quando inflerte para E e
em seguida para SE até atingir o Sítio Pimental
A declividade no trecho entre o Sítio Pimental e a
confluência do rio Bacajá e da ordem de 0,20
No trecho compreendido entre o remanso do
m/km e no trecho a jusante da foz do rio Bacajá a
reservatório e a ilha Babaquara (compartimento
declividade atinge 1,20 m/km;
B5) o rio é encaixado, apresenta declividades da
Os principais afluentes pela margem direita são os rios
ordem de 0,13m/km, alternando trechos
Bacajá, Bacajaí, Ituna e Itatá;
encachoeirados com corredeiras e trechos mais
profundos (até 15m), observando amplas ilhas
Os afluentes pela margem esquerda são de pequeno
aluviais e controle estrutural dos canais; Orientação E-W passando a NNW;
porte quando comparados com os da margem direita (o
Rio encaixado com predomínio de um canal único em
Aspectos hidráulicos do maior deles tem bacia de contribuição da ordem de 150
O trecho adjacente a Altamira, entre as ilhas forma de “U”; poucas ilhas aluviais;
rio Xingu km2); no trecho do Sítio Pimental à foz do rio Bacajá o
Babaquara e Paratizinho (compartimento B4)
(continuação) canal preferencial (navegável na estiagem) é próximo à
apresenta uma morfologia típica de rios da Planícies de inundação restritas;
margem direita;
Planície Amazônica, com vale fluvial encaixado, Influência do efeito de maré no período de estiagem.
declividade da ordem de 0,05m/km, apresentando
A partição das vazões entre os Sítios Pimental e Cana
ilhas aluviais;
Verde I é de cerca de 10% das vazões pela margem
esquerda;
No trecho entre Paratizinho e a ilha da Taboca
(compartimento B3) a declividade é da ordem de
No canal da margem esquerda, próximo à aldeia
0,35m/km, observando uma rede de canais
Paquiçamba, tem-se a veiculação de cerca de 5% das
estruturalmente condicionada;
vazões na estiagem, 20% nas vazões próximas a
10.000 m3/s, e da ordem de 30% nas cheias; as
No trecho entre a ilha da Taboca e o Sítio
profundidades são extremamente variáveis, atingindo
Pimental a declividade é da ordem de 0,07m/km,
um máximo de 34 m nas mais profundas (cheias), um
sendo observada a formação de ilhas aluviais.
mínimo de 5 m nas mais rasas (estiagem - região dos
pedrais); as velocidades são da ordem de 0,1m/s na
estiagem a 1,0 m/s nas cheias
Na porção norte do compartimento Nas porções noroeste e nordeste do compartimento Predomínio de terrenos com moderada a forte Predomínio de suscetibilidade erosiva forte nos terrenos da
predominaterrenos com suscetibilidades erosivas predominam terrenos com suscetibilidade forte a suscetibilidade erosiva, subordinadamente ocorrem margem esquerda do rio Xingu. Nos terrenos da margem
ligeira a moderada e, subordinadamente, moderada a muito forte. Na porção central os terrenos terrenos de forte a muito forte suscetibilidade. direita se dividem iqualmente em áreas de suscetibilidade
Suscetibilidade erosiva
forte. Na porção sul os terrenos são apresentam com suscetibilidade moderada a forte nula a ligeira e de suscetibilidade forte.
predominantemente de suscetibiliade moderada a com enclaves de áreas com suscetibilidade muito
forte. forte.
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
Nos entornos dos trechos Paratizinho / Sítio
Pimental e ilha Babaquara / remanso do
reservatório (compartimentos B5, B3 e B2) os
aqüíferos são fissurados;
Predomínio de aqüíferos fissurados nos domínios do
Predomínio de aqüíferos fissurados nos domínios Cráton Amazônico (rochas graníticas do Complexo
No entorno do trecho ilha Babaquara / Paratizinho
do Cráton Amazônico (rochas graníticas do Xingu); Ocorrência de aqüíferos porosos em depósitos aluvionares
(compartimento B4) os aqüíferos são porosos nas
Complexo Xingu); recentes e em rochas sedimentares da Bacia do Amazonas;
áreas de ocorrência das rochas sedimentares e
Unidades aqüíferas Ocorrência localizada de aqüíferos porosos em
fissurados nas áreas de ocorrência do Diabásio
Ocorrência localizada de aqüíferos porosos em depósitos aluvionares recentes; Ocorrência restrita de aqüíferos fissurados nas rochas
Penatecaua;
depósitos aluvionares recentes e em rochas vulcânicas básicas representadas pelo Diabásio Penatecaua.
sedimentares da Bacia do Amazonas. Captação de água subterrânea por meio de poços na ilha
Na ilhas aluviais os aqüíferos são porosos no
da Fazenda.
pacote sedimentar e fissurados no substrato
granítico;
Captação de águas subterrâneas por meio de poços
tubulares e cacimbas na cidade de Altamira.
Entre os rios Bacajá e Itatá ocorrem extensas áreas
Remanescentes alterados de Floresta Ombrófila contínuas de florestas ombrófilas aberta com palmeira e
aberta com palmeiras em meio a extensas áreas de cipós e densa, sendo parcialmente abrangidas pelas TI
pastagens na porção centro norte e a áreas de Arara da Volta Grande. Floresta ombrófila aberta com
Na calha do rio Xingu predomina a floresta
cultura de café e cacau na porção sul. Predomínio palmeiras e cipós associada a manchas de floresta
ombrófila densa aluvial e a vegetação dos pedrais
de pastagens para pecuária de corte. ombrófila densa no interior da T.I Paquiçamba.
na sua porção leste. Na área externa à calha do rio
predominam as áreas de pastagem, com
Floresta ombrófila aberta com palmeiras e cipós e Na margem direita do rio Bacajá ainda predominam
fragmentos isolados de florestas ombrófilas abertas
floresta ombrófila densa no entorno imediato da áreas contínuas de Florestas Ombrófilas Aberta com
com palmeiras e com cipós, ambas alteradas, em
T.I Paquiçamba. Cipós e Palmeiras associado a manchas de floresta Predomina nesse trecho a floresta Ombrófila Aberta com
meio a extensas áreas de pastagem, em especial ao
ombrófila densa. Ao longo do rio Bacajá ocorrem palmeiras, fragmentadas por pastagens.
longo da rodovia Transamazônica e no entorno de
extensas áreas de Floresta Ombrófila Densa Aluvial
Cobertura vegetal e ação Altamira.
Ao longo dos ramais da rodovia Transamazônica, preservadas. A pouca vegetação aluvial existente está associada à calha
antrópica
predominam remanescentes de floresta ombrófila do rio Xingu e de alguns igarapés.
Nas margens direita e esquerda do rio Xingu
alterada nos fundos dos lotes dos assentamentos Floresta ombrófila densa aluvial na calha do rio Xingu
ocorre fragmentos alterados de florestas
rurais em meio a extensas áreas antropizadas. até a confluência com o rio Bacajá. A partir daí
ombrófilas aberta com palmeira e cipós. Pequenas
predomina a extensa área de vegetação dos pedrais.
áreas de culturas temporárias e pastagens, em
Remanescentes alterados de Floresta Ombrófila Trecho mais preservado e com menor atividade
especial, chegam frequentemente até as margens
aberta com palmeiras em meio a extensas áreas de antrópica.
nas áreas de preservação permanente.
pastagens na porção centro norte e a áreas de
cultura de café e cacau na porção sul. Predomínio Entre os rios Bacajá e Itatá ocorrem extensas áreas
de pastagens para pecuária de corte. contínuas de florestas ombrófilas aberta com palmeira e
cipós e densa, sendo parcialmente abrangidas pelas TI
Arara da Volta Grande.
Unidades de Conservação
Não há registro oficial Não há registro oficial Presença da Reserva Pesqueira Não há registro oficial
(UCs)
Ocupações mais antigas próximas a Altamira e ao Processo de ocupação humana já consolidado ao longo da rodovia
Frentes ativas de desmate no entorno das terras indígenas, no
Processo de longo da rodovia Transamazônica. Frentes pontuais Transamazônica e dos seus ramais laterais e de interligação. Frentes
final da rodovia Transassurini e ao longo da margem direita do Áreas de desmate ativas não identificadas.
Desflorestamento e pouco representativas de desmatamentos em lotes ativas de desmate no entorno da T.I Paquiçamba.
rio Bacajá.
de assentamentos na porção sudeste.
Na margem esquerda predominam atividades econômicas O comércio caracteriza-se por ser mais consolidado, pois parte da população estabelece As atividades econômicas mais expressivas são
voltadas para a pecuária. Ao longo da Transamazônica, relações comerciais regulares. O tipo de garimpo praticado na região e feito de forma as culturas da mandioca e da pimenta-do-reino
próximo à divisa dos municípios de Altamira e Brasil Novo Predomina agricultura de rudimentar, através da utilização da bateia, e é localizado principalmente em terra, nas e a criação de gado na porção referente ao
verifica-se a presença da cultura do cacau. A essas atividades subsistência, sendo que os encostas a algumas centenas de metros da margem. No Garimpo do Galo, o ouro é extraído de município de Senador José Porfírio. Já na
devem ser acrescentadas as relacionadas ao extrativismo pequenos produtores vivem da maneira mecanizada, existindo uma mina com a escavação de túneis e sistema de transporte do porção do compartimento que pertence à
mineral e vegetal e à pesca. lavoura branca que é o principal material por teleférico para a separação do ouro das rochas. São empregados 15 trabalhadores Vitória do Xingu, destaca-se a pecuária,
Cultura do cacau nas Agrovilas Olavo Bilac e Vale Piauiense e uso das terras (arroz, o milho, o residentes no local, que se revezará em turnos, com a mina funcionando 24 horas. A pesca é praticada em médios e grandes
nos núcleos de referência rural Gaviãozinho e Sagrado Coração feijão, a mandioca). Os muito importante para a constituição da renda dos moradores. Estima-se que aproximadamente estabelecimentos e a produção de mandioca
Atividades
de Jesus (Pioneira); da mandioca e seus derivados (goma e agricultores, mais capitalizados, 170 pessoas pratiquem a pesca na região seja para consumo, ou para comercialização nos pequenos. Estas atividades também são
Econômicas
farinha de tapioca) na Agrovila Princesa do Xingu e no Núcleo dedicam-se a lavoura comercial (ornamental ou pesca artesanal de consumo). A pesca de peixes ornamentais possui destaque desenvolvidas na modalidade de subsistência,
de Referência Rural Serrinha; a extração da borracha em Santa (café, o cacau e a pimenta do na Ilha da Fazenda e comunidades vizinhas, onde se concentram moradores que praticam essa associando-se à pesca. Na Agrovila Cilo
Juliana (onde também é praticada a pesca) e a oleicultura na reino) e à pecuária, a maioria atividade. A pesca de subsistência também é fundamental, pois fornece proteínas para a dieta Bananal é desenvolvida a apicultura.
Agrovila Carlos Pena Filho. Na Agrovila Leonardo da Vinci, o desses agricultores, possuem dos ribeirinhos. A população ribeirinha deste setor também pratica a pesca comercial. A Destaca-se a cultura do cacau em Vitória do
setor de serviços emprega a maior parte dos moradores. pastagens e criam gado bovino agropecuária caracteriza-se pelo plantio de culturas temporárias: mandioca, feijão, arroz, Xingu por pequenos produtores, sendo a
Grande número de estabelecimentos comerciais nas localidades através de um sistema extensivo. milho; culturas permanentes: cacau, café e a pecuária. Em parte desses imóveis observa-se produção pouco organizada; a comercialização
situadas ma margem direita; do total de 29 estabelecimentos uma presença mais intensa da atividade agropecuária comercial, sobretudo a criação do gado e é realizada por meio de atravessadores.
comerciais, 23 localizam-se nos núcleos aqui tratados. o cultivo do cacau.
6365-EIA-G90-001b 172 Leme Engenharia Ltda.
QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
As localidades deste compartimento apresentam ocupação mais recente
que as dos compartimentos referentes ao TVR e TRV, sendo o núcleo
Santa Juliana um dos que registram ocupação mais antiga, cerca de 40
anos de existência. Os moradores da margem esquerda do Rio Xingu têm
na sede urbana do município de Altamira a referência para atendimento
Essas localidades dispõem de infra-estrutura de serviços
médico e outras demandas, como comércio e serviços.
extremamente simples e a maioria das famílias tem na sede urbana do
Quanto aos postos de saúde, apenas duas das 10 localidades identificadas
município de Altamira a referência para atendimento médico e outras
não dispõem desse equipamento: os núcleos de referência rural Sagrado
demandas, como comércio e serviços. Neste compartimento situa-se o
Coração de Jesus (Pioneira) e Santa Juliana;
Acampamento da Eletronorte que funciona como ponto de apoio, e é
Santa Juliana, possivelmente em função de sua localização muito próxima
dotado de posto de saúde. Os estabelecimentos comerciais são
ao Rio Xingu e maior isolamento em relação à Rodovia Transamazônica e
encontrados em 05 das 11 localidades deste compartimento com
às áreas mais desenvolvidas, destaca-se como a localidade onde a infra-
destaque para o povoado de Belo Monte, que possui 11
estrutura de serviços é a mais precária, dispondo apenas de um As localidades nesse compartimento dispõem
estabelecimentos comerciais, a maior parte com bares e pequenos
equipamento social, a escola municipal de ensino fundamental. de infra-estrutura de serviços extremamente
armazéns ou mercados, que comercializam os produtos necessários ao
Há um grande número de estabelecimentos comerciais nas localidades simples e a maioria das famílias tem na sede
atendimento das necessidades mais básicas da população, como As condições de vida da população, em linhas
representadas por bares e pequenos armazéns ou mercados, que urbana do município de Altamira a referência
alimentação e higiene. Não há infra-estrutura de saneamento básico gerais, são bastante precárias. Não há infra-
comercializam os produtos necessários ao atendimento das necessidades para atendimento médico e outras demandas,
em nenhuma das localidades e grande parte das moradias não possui estrutura de saneamento básico em nenhuma
mais básicas da população, como alimentação e higiene. como comércio e serviços. Segundo
nem mesmo banheiro, sendo o esgotamento sanitário realizado das localidades e grande parte das moradias
Quanto ao abastecimento de água, diferentemente dos outros informações locais, as estradas em Vitória do
através de instalações rudimentares (fossas negras). No que se refere não possui banheiro, sendo o esgotamento
compartimentos, há um maior número de localidades nas quais a captação Xingu usadas para o deslocamento até a sede
ao descarte do lixo, as populações rurais praticam a queima ou o sanitário, geralmente, realizado através de
de água não é individual, havendo rede de abastecimento de água nas de Altamira, embora não sejam pavimentadas,
enterram. Existem, ainda, outros equipamentos, como cemitérios e fossas negras. O abastecimento de água na
Agrovilas Carlos Pena Filho, Princesa do Xingu e Olavo Bilac. Nas outras estão em bom estado de conservação, em
equipamentos de lazer. Os cemitérios são equipamentos mais comuns Ressaca e no Garimpo do Galo é feito através
localidades, a água para utilização doméstica é proveniente de poço e virtude dos investimentos realizados pela
às localidades desse compartimento e, ainda assim, existem em de poços rasos existentes em áreas de encosta,
nascente e dos igarapés, sendo a forma de captação individual. Prefeitura Municipal de Altamira.
pequena quantidade. São apenas 03 unidades, 01 em cada uma das localizados, respectivamente, a cerca de 200 m
Quanto à energia elétrica, 90% das localidades dispõem desse serviço, A água para utilização doméstica dos
seguintes localidades: Belo Monte, Santo Antônio e Bom Jardim I. e 700 m dos povoados, com a água sendo
sendo o fornecimento realizado pela CELPA. Apenas o Núcleo de moradores das localidades é captada
Quanto ao lazer, apenas o povoado de Belo Monte conta com levada até as casas e estabelecimentos
Referência Rural São João Batista não dispõe de energia elétrica. individualmente e, em geral, é proveniente de
Infra-Estrutura equipamentos destinados a esse tipo de atividades. Destaca-se a comerciais através de vários tubos de PVC. Em
Não há infra-estrutura de saneamento básico em nenhuma das localidades, poço raso. Quanto à energia elétrica, apenas
existência do Sítio Pesqueiro Turístico Estadual Volta Grande do geral, as localidades contam com infra-
sendo o esgotamento sanitário realizado através de fossas rudimentares. O Vila Nova e a Agrovila Cilo Bananal dispõem
Xingu, área especial para pesca esportiva criada por meio da estrutura de serviços extremamente simples e a
lixo produzido, geralmente é queimado, enterrado ou lançado a céu aberto. desse serviço. Existem 12 estabelecimentos
Resolução nº 30 de 14 de junho de 2005 do Conselho Estadual de maioria das famílias tem na sede urbana do
Na margem direita também registra-se precariedade da infra-estrutura de comerciais nas 06 localidades deste
Meio Ambiente do Estado do Pará – COEMA. Trata-se de uma área município de Altamira, a despeito da distância,
serviços, em especial com relação aos serviços de saúde. A sede urbana do compartimento, sendo 5 deles em Vila Nova e
de 278,64 km2, legalmente protegida e localizada no trecho de vazão a referência para atendimentos médicos e
município de Altamira é a referência para atendimento médico e outras 03 no Núcleo de Referência Rural Alto Brasil.
reduzida do AHE Belo Monte, na margem esquerda do Rio Xingu, outras demandas, como comércio e serviços.
demandas, como comércio e serviços. Apenas os núcleos de Itapuama e A população deste compartimento conta, ainda,
entre o Travessão 55 (CNEC) e a Terra Indígena Paquiçamba. Outra referência importante na região é o
Babaquara dispõem de posto de saúde. Outra referência importante para a com 02 equipamentos voltados à educação,
Neste sítio pesqueiro não são permitidas atividades que possam trazer povoado de Ressaca, que possui um maior
população dessa margem é a Agrovila Sol Nascente, que, dotada de um sendo 01 em Vila Nova e 01 no núcleo Bom
prejuízos ao meio ambiente ou ao desenvolvimento do turismo de número de equipamentos sociais disponíveis
maior número de equipamentos sociais e estabelecimentos comerciais, Pastor. Trata-se do PETI – Programa de
pesca esportiva ambientalmente sustentável – tais como atividades em relação às outras localidades desse
desempenha, depois da cidade de Altamira, o papel de centro regional, Erradicação do Trabalho Infantil.
industriais, garimpo, pesca comercial, loteamento urbano e compartimento.
especialmente quando considerada a sua localização, na principal via de Esse compartimento destaca-se por contar com
exploração florestal sem manejo sustentável –, sendo permitida
acesso desse compartimento, a Transassurini. um número maior de equipamentos voltados ao
apenas a pesca na modalidade pesque e solte. É neste mesmo sítio
A infra-estrutura de saneamento básico é similar a da área rural da lazer, especialmente os relacionados à prática
pesqueiro que está localizado a Pousada Rio Xingu, de grande
margem esquerda. O abastecimento de água é exclusivamente individual de esportes.
importância para o desenvolvimento turístico do Município de Vitória
nas 11 localidades. A água para utilização doméstica é proveniente de
do Xingu, uma vez que sua divulgação tem abrangência tanto
poço .
nacional como internacional.
Nenhuma das localidades dessa margem dispõe de energia elétrica.
Existem, nas localidades, alguns geradores. Ressalta-se a existência de um
porto no Núcleo de Referência Rural Transassurini, que serve de
atracadouro para os barcos que realizam a travessia do Rio Xingu em
direção à cidade de Altamira. Em função da presença do porto, trata-se de
um local de fluxo intenso de pessoas.
Em relação aos equipamentos sociais e serviços disponíveis, em todos os
núcleos, com exceção do Transassurini, todos dispõem de uma escola. No
núcleo Transassurini não existem equipamentos sociais, apenas
estabelecimentos comerciais.
Para caracterização do trecho de vazão reduzida de forma integrada foram criados setores de
análise com características distintas e realizados levantamentos dos diversos temas
relacionados ao ecossistema local, aos aspectos físicos e à caracterização socioeconômica.
O diagnóstico apresentado reflete uma síntese de tudo aquilo que foi identificado nos
diagnósticos dos diversos temas que se interagem nesse trecho. Dessa forma, essa
caracterização baseou-se nos levantamentos topobatimétricos de diversas seções transversais
em cada um dos setores do TVR; nos dados limnológicos e da qualidade das águas; nos
levantamentos da fauna, e nos dados socioeconômicos.
Por meio de uma caracterização biótica integrada do TVR foi possível identificar a
importância da formação de habitats relacionados diretamente com as vazões do rio Xingu,
além de espécies de anfíbios e mamíferos aquáticos e semi aquáticos, aves, quelônios e
tracajás que dependem dos ambientes de pedrais e planícies de inundação para o ciclo de
reprodução, alimentação e refúgio.
A identificação dos principais canais de escoamento da água para diversas vazões do rio
Xingu e a modelagem matemática desse rio e de seus afluentes pela margem direita,
contribuíram para um conhecimento do comportamento da vazão na calha do rio e seus
efeitos de remanso sobre os principais afluentes.
Por fim, informações de campo foram obtidas em duas vistorias realizadas em condições de
vazões diferentes (7.000m3/s e 3.500m3/s) onde se buscou identificar os locais inundados
nessas duas situações. Entrevistas com as comunidades locais subsidiaram a caracterização de
problemas relacionados à estiagem acentuada do rio Xingu. Nessa oportunidade, foram
avaliadas as restrições naturais quanto à navegação e problemas de rebaixamento dos poços
de captação ou degradação da qualidade da água nesses poços quando o rio Xingu se encontra
muito baixo.
O trecho do rio Xingu denominado de Volta Grande do Xingu, que sofrerá redução de vazão
quando da entrada em operação do AHE Belo Monte, faz parte do macrocompartimento
Médio Xingu, definido em função das características fisiográficas da bacia, conforme
diagnóstico ambiental integrado da AAR e AII da Análise Integrada, itens 9.1 e 9.2 deste
Capítulo. Em parte do TVR (cerca de 50 km), a calha do rio expõe as rochas graníticas do
Complexo Xingu em amplas áreas, configurando os pedrais e evidenciando uma profusão de
canais condicionados por estruturas (falhas e fraturas), com direções predominantes NW-SE,
NE-SW e E-W. A extensão restante da calha do rio corta as rochas graníticas do Complexo
Xingu, sendo observada uma ampla distribuição de ilhas aluviais (planícies de inundação),
delimitadas por canais com condicionamento estrutural (falhas e fraturas) nas mesmas
direções supracitadas. O entorno da calha do rio Xingu neste trecho é dominado por colinas
Os principais afluentes estão localizados na margem direita, enquanto que aqueles pela
margem esquerda são de pequeno porte. As profundidades da calha do corpo hídrico principal
são extremamente variáveis, atingindo um máximo de 34 m nas partes mais profundas
(durante as cheias) e um mínimo de 5 m nas partes mais rasas (por ocasião da estiagem, na
região de ocorrência dos pedrais). As velocidades da água são da ordem de 0,1 m/s na
estiagem a 1,0 m/s nas cheias.
São detectados depósitos primários e secundários de ouro nas regiões dos rios Itatá, Bacajaí e
Bacajá, bem como a ocorrência de ouro secundário na calha do rio Xingu desde a localidade
de Ressaca até o final do trecho. Nos terrenos no entorno da Volta Grande do Xingu, a erosão
laminar e em sulcos é ocasional e de baixa intensidade nas formas colinosas, enquanto que
nas áreas de morrotes e morros os processos erosivos são mais significativos.
Quase toda a extensão da margem direita apresenta aptidão agrícola boa para lavoura em pelo
menos um dos níveis de manejo. Nas ilhas aluviais e nos terrenos da margem esquerda
predomina a aptidão restrita para a lavoura em pelo menos um dos níveis de manejo.
Compartimentos abrangidos
- B2 - B2 - B2 - B1 e A3
pelo setor
Área do setor - Setor com área total de 49,9 km2. - Setor com área total de 156,9 km2. - Setor com área total de 100,5 km2. - Setor com área total de 315,5 km2.
- Praticamente ausentes os depósitos aluvionares na calha do rio;
- Depósitos Aluvionares (areia, argila, argila arenosa e - Depósitos Aluvionares (areia, argila, argila
- Restritos Depósitos Aluvionares (areia, argila, argila arenosa e
- Depósitos Aluvionares (areia, orgânica, silte e cascalhos) constituindo ilhas; arenosa e orgânica, silte e cascalhos)
orgânica, silte e cascalhos) nas margens da calha;
argila, argila arenosa e orgânica, - Depósitos Aluvionares (areia, argila, argila arenosa e constituindo ilhas;
- Ampla ocorrência de exposições de migmatitos e granitóides
silte e cascalhos) constituindo orgânica, silte e cascalhos) nas margens do rio, - Restritos Depósitos Aluvionares (areia, argila,
(pedrais);
ilhas; principalmente, na foz dos rios Ituna, Itatá, Bacajaí e argila arenosa e orgânica, silte e cascalhos) nas
Geologia - Nítido controle estrutural dos canais;
- Praticamente ausentes as Bacajá; margens da calha;
- Predomínio de falhamentos / fraturamentos nas direções NW,
exposições rochosas (pedrais); - Exposições restritas de migmatitos e granitóides - Ocorrência de exposições de migmatitos e
EW e NE;
- Predomínio de falhamentos / (pedrais); granitóides (pedrais);
- Complexidade geológica, estrutural e de preenchimento dos
fraturamentos com direção NW. - Predomínio de falhamentos / fraturamentos nas direções - Predomínio de falhamentos / fraturamentos nas
canais, com conseqüente complexidade de suas características
NW, NE, EW e NS. direções NW, NE, EW e NS.
geométricas.
- Predomínio de ilhas aluviais com
- Ilhas aluviais com Planícies de Inundação praticamente ausentes
amplas Planícies de Inundação
- Ocorrência de ilhas aluviais com Planícies de Inundação - Ocorrência de ilhas aluviais com Planícies de (2,4%);
(73%);
(26,5%); Inundação (41,2%); - Restrita ocorrência de Planícies Fluviais nas margens,
- Planícies Fluviais praticamente
- Maior concentração de Planícies Fluviais nas margens - Planícies Fluviais restritas nas margens; apresentando maior concentração na margem direita;
ausentes nas margens;
Geomorfologia ao longo dos rios da margem direita; - Ocorrência de Pedrais (31,3 %); - Ampla ocorrência de Pedrais (53,6%);
- Pedrais praticamente ausentes
- Ocorrência de pedrais (7,6%); - Restrita ocorrência de morrotes em ilhas - Ocorrência de Morrotes (11,4 %) e colinas (7,6%) nas ilhas;
(1,1%);
- Restrita ocorrência de morrotes em ilhas (0,6%); (0,6%); - Canais intermitentes estreitos, longos longitudinais e transversais
- Ocorrência de um único morrote
- Canais permanentes, longitudinais, largos e longos - Canais intermitentes, curtos e longos, estreitos, (21,0%) e canal largo no trecho entre a vila de Belo Monte e a
em ilha (0,2%);
(25,7%). longitudinais e transversais (26,9%). restituição da vazão a partir do Canal de Fuga da Casa de Força
- Canais permanentes estreitos,
Principal (4%).
longitudinais e longos (25,7%).
- Ocorrência da associação Argissolo Amarelo +
- Ocorrência da associação Gleissolo + Neossolo
Neossolo Quartzarênico + afloramentos de
Quartzarênico + Plintossolo ou Neossolo Flúvico, da - Predomínio de afloramento de rochas e da associação Argissolo
- Predomínio da associação rocha, da associação Neossolo Flúvico +
associação Argissolo Vermelho-Amarelo + Neossolo Vermelho-Amarelo + Neossolo Litólico + Argissolo
Gleissolo + Neossolo Gleissolo Háplico + Neossolo Quartzarênico e
Litólico + Argissolo Acinzentado e da associação Acinzentado;
Quartzarênico + Plintossolo ou afloramentos de rochas;
Neossolo Flúvico + Gleissolo Háplico + Neossolo - Sem aptidão agrícola nas áreas de ocorrência de afloramentos de
Neossolo Flúvico; - Aptidão restrita para lavoura em práticas
Solos Quartzarênico; rochas (pedrais);
- Aptidão restrita para lavoura em agrícolas de baixo a médio nível tecnológico
- Aptidão restrita para lavoura em práticas agrícolas de - Aptidão restrita para lavoura em práticas agrícolas de baixo,
práticas agrícolas de baixo a (Níveis de Manejo A e B) nas áreas de
baixo a médio nível tecnológico (Níveis de Manejo A e médio e alto nível tecnológico (Níveis de Manejo A, B e C) nas
médio nível tecnológico (Níveis ocorrência dos Argissolos e Neossolos
B); áreas de ocorrência da associação Argissolo Vermelho-Amarelo
de Manejo A e B). Flúvicos;
- Sem aptidão agrícola nas áreas de ocorrência de + Neossolo Litólico + Argissolo Acinzentado.
- Sem aptidão agrícola nas áreas de ocorrência
afloramentos de rochas (pedrais).
de afloramentos de rochas (pedrais).
- Pastagens plantadas no terço superior da margem
direita;
- Presença das vilas da Fazenda, Ressaca e garimpo do
Galo na margem direita;
- Predomínio de pastagens plantadas nos dois terços inferiores do
- Floresta aluvial nas ilhas;
- Pastagens plantadas e presença da - Pastagens plantadas apenas no terço superior setor; Processo recente de ocupação antrópica, com frentes de
- Presença de florestas ciliares em ambas as margens,
localidade São Pedro na margem da margem esquerda; desmate na margem direita;
exceto no terço superior da margem direita;
esquerda; - Presença da TI Paquiçamba,com florestas - Maior gradiente de declividade;
- Presença de vegetação dos pedrais nas proximidades da
Uso do solo e cobertura vegetal - Ausência de floresta ciliar nas preservadas; - Ocorrência da vegetação dos pedrais e florestas ombrófilas nos
foz do rios Ituna, Bacajaí e Bacajá;
margens; - Presença tanto de floresta aluvial nas ilhas morrotes;
- Uso de agricultura de subsistência nas ilhas próximas ao
- Floresta ombrófila aluvial quanto de vegetação típica dos pedrais (porte - Vegetação dos pedrais de porte arbóreo nas áreas de maior
povoado da Ilha da Fazenda, ainda que não detectável
preservada nas ilhas. herbáceo/arbustivo e arbóreo). acumulação de sedimentos;
na escala de mapeamento;
- Baixa ocorrência de florestas aluviais
- Processo recente de ocupação antrópica, com frentes de
desmate, no trecho a jusante do Garimpo do Galo;
- Presença da Terra Indígena (TI) Arara da Volta Grande
do Xingu.
Como subsidio ao diagnóstico dos diversos temas que se integram no TVR, foram feitos
levantamentos de dados primários no rio Xingu e nos igarapés (qualidade da água) em
2000/2001 e 2007/2008.
Os usos da água nesse trecho foram avaliados a partir de pesquisa antropológica e de visitas a
campo na qual foram feitas entrevistas com as comunidades ribeirinhas para se conhecer as
diversas formas de uso, desde o lazer ao uso da navegação para escoamento da produção.
Para estudar como as seções, já disponíveis, sem indicação precisa das ilhas poderiam ser
representadas no Modelo Matemático, foram também identificados os níveis da cartografia
elaborada para a escala 1:25.000, informações da geomorfologia para o trecho em análise e a
caracterização do uso do solo, focada na detecção das áreas com presença de floresta aluvial.
Na comparação da topobatimetria, cartografia e geomorfologia, verificou-se que em algumas
seções, notadamente aquelas com pedrais, a cartografia apresentava uma boa coerência com
as seções topobatimétricas. Em outras foram constatadas diferenças notáveis atribuídas,
aparentemente, a um levantamento que retratava, na realidade, o topo das árvores.
O TVR foi especificamente representado pelo Setor Amostral III dos estudos limnológicos e
de qualidade das águas, compreendendo 19 pontos de amostragem como descrito no
QUADRO 9.5-2 e apresentado no Desenho 6365-EIA-DE-G92-006).
Coordenadas UTM
Setor Ponto Localização Descrição
22M
Rio Xingu e tributários da margem direita
imediatamente a montante da
IITU Igarapé Ituna 9612864 391202
confluência com o rio Xingu
RESSACA Rio Xingu a montante da Ilha da Fazenda 9605109 395716
imediatamente a montante da
Igarapé Terra confluência com o rio Xingu - sob
TI 03 9603900 414875
Indígena influência da TI Arara da Volta
Grande do Xingu
Para a determinação dos metais nos sedimentos do rio Xingu e seus tributários foram
realizadas duas campanhas de coleta de sedimentos: uma em setembro de 2007, na estação
seca; e outra em março de 2008, representativa do período de cheia.
A avaliação da biomassa aérea e subaquática, bem como a identificação visual das espécies de
macrófitas aquáticas presentes no TVR foi realizada durante as campanhas dos meses de maio
de 2007 e março de 2008. Assim, e em especial no que tange à campanha de março do
presente ano, se teve a oportunidade de retratar a reação dessa biomassa e das macrófitas
aquáticas frente ao carreamento de nutrientes e sedimentos advindos das áreas de entorno do
TVR, processo este característico do período de cheia.
QUADRO 9.5-5
Parâmetros biológicos analisados no Estudo de Qualidade das Águas Superficiais
do AHE Belo Monte/PA
Caracterização hidrobiológica
Parâmetros Unidade
Colimetria
Coliformes totais NMP/100mL
Coliformes fecais (E.Coli) NMP/100mL
Comunidades
Fitoplâncton organismos/m3
Zooplâncton organismos/m3
Bentos indivíduos/m2
Macrófitas biomassa
A combinação de dados antigos e novos permitiu uma maior abrangência espacial e temporal
e um esforço amostral mais intenso, que não seria possível se apenas fosse utilizado um único
ciclo hidrológico. Esta estratégia garante a maior validade das conclusões do estudo, que não
se remete apenas a uma situação específica de um ano particular e abrange uma certa
variabilidade, entre anos, das condições ambientais. Outra vantagem da realização dos estudos
em 2007 e 2008 refere-se à possibilidade de preenchimento de lacunas no conhecimento da
6365-EIA-G91-001b 186 Leme Engenharia Ltda.
ictiofauna associada a ambientes ainda não estudados nos trabalhos anteriormente
desenvolvidos para o AHE Belo Monte, como os igarapés, as corredeiras e os pedrais. Os
ambientes amostrados para o TVR em cada um dos períodos encontram-se no QUADRO 9.5-
6.
QUADRO 9.5-6
Número de Coletas de Ictiofauna, por Período, nos Ambientes do TVR
Além das coletas de exemplares adultos e jovens da ictiofauna, amostras específicas foram
recolhidas adicionalmente para o estudo do ictioplâncton. Para tal, em fevereiro de 2008, nos
seguintes biótopos: i) calha do rio; ii) lagos; iii) corredeiras; iv) remanso; v) igarapés; vi)
áreas de inundação, de acordo com a disponibilidade dos mesmos. As amostras de
ictioplâncton foram obtidas por arrasto com uma rede cônica de 1,60m de comprimento,
0,60m de diâmetro e uma abertura de malha de 300µm. Cada arrasto teve uma duração média
de 4 minutos e foi sempre realizado em sentido de contra-corrente. Foram realizadas coletas
nas margens (do rio e de áreas de inudação) e no canal do rio, na superfície e a 2 m de
profundidade,
Além disso, ainda foram feitas observações diretas em campo sobre adaptações da ictiofauna
aos diversos momentos do ciclo hidrológico, acompanhamento de pescarias e entrevistas com
pescadores.
Neste contexto geral, observam-se situações mais específicas, condicionadas por fatores como
o local de moradia no TVR (povoados, ilhas isoladas, imóveis rurais), a atividade de produção
e ou subsistência praticada e em qual local da Volta Grande. Portanto, a seguir procurou-se
descrever as principais características sociais dos trechos do TVR indentificados.
A ocupação deste setor do TVR é configurada por lotes de assentamento do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), dispostos perpendicularmente em relação ao rio.
São Pedro é o núcleo de referência rural2 e nas proximidades das residências de uma das
2
Os Núcleos de referência rural se caracterizam como locais onde são desenvolvidas atividades de interesse
comunitário (escolas, postos de saúde e igrejas). Quase sempre encontram-se em um imóvel rural, no qual o
6365-EIA-G91-001b 190 Leme Engenharia Ltda.
propriedades existe uma escola de ensino fundamental, que atende 36 crianças moradoras em
imoveis rurais próximos, e uma pequena capela católica onde, eventualmente, são selebradas
missas. Embora esteja em território pertencente ao município de Vitória do Xingu, a escola é
mantida pela Prefeitura de Senador José Porfírio. O professor fica hospedado todo o mês na
casa do proprietário do imovel e o transporte das crianças é também custeado pela Prefeitura.
Todos os grupos domésticos nesse trecho utilizam o rio como a principal alternativa para seus
deslocamentos, já que para se chegar ao travessão mais próximo é necessário andar cerca de
10 km. Assim, as pequenas embarcações (voadeiras e rabetas) fazem o transporte de
estudantes, levam pessoas ao posto de saúde, transportam o pescado e a produção agrícola
que é comercializada, permite a compra de produtos nas proximidades (Ressaca) ou em
Altamira.
Os levantamentos de campo mostraram os imóveis rurais deste trecho do TVR não possuem
energia elétrica e a utilização da água para abastecimento humano é feita, principalmente, por
meio de poços rasos, com informações de moradores que eles secam em períodos de
acentuada estiagem. Nesses casos, a água é retirada diretamente do rio. Mesmo quando os
poços estão com água suficiente - para uma maior comodidade são construídos mais próximos
das residências - o rio é muito utilizado para tarefas diárias, como a lavagem de roupa, banho
e limpeza do pescado para as refeições, além de ser espaço de recreação e convívio entre dos
moradores (FIGURA 9.5-3).
proprietário cede o espaço para que o equipamento seja construído. Embora não se tenha a formação de um
agrupamento de moradias no entorno desses equipamentos, a não ser as residências do proprietário do imóvel e
seus familiares, constituem importantes pontos de referência para a população de um determinado território,
consolidando-se ali uma identidade espacial (Ex: São Pedro, Santo Antônio, Paratizão etc) que congrega
moradores dos imóveis rurais próximos.
Neste trecho há presença de 102 planícies aluviais na calha do rio, com tamanho médio de
35,7ha e 34 pedrais com 1,6ha. As ilhas são cobertas por Floresta Ombrófila Densa Aluvial.
Este tipo de vegetação trata-se de uma formação ribeirinha ou floresta ciliar que ocorre ao
longo dos cursos de água ocupando os terraços antigos das planícies quaternárias. No rio
Xingu, em função da geomorfologia fluvial vigente, esta formação é mais representativa nas
ilhas aluviais, vales dos igarapés e trechos estreitos da faixa ciliar, sendo mais preponderantes
na região do baixo Xingu.
Esta vegetação sofre influência da flutuação do nível do rio Xingu nos períodos de cheias e de
vazantes, quando são alagadas ou pelo menos umedecidas pelas enchentes. O nível de
inundação é muito variável podendo oscilar entre 4 e 8 m nos picos anuais de enchente e
vazante. Existem, portanto, várzeas mais altas e várzeas mais baixas. No entanto, o lençol de
águas subterrâneas das florestas aluviais é muito superficial.
Os solos que suportam esta tipologia vegetacional típica são geralmente de origem
hidromórfica, do grupo glei húmico; de drenagem deficiente e incorporam considerável teor
de matéria orgânica e de nutrientes, os quais são anualmente alimentados pelo sistema de
cheia e vazante.
Nos levantamentos realizados no âmbito do EIA foram registradas 200 espécies nas 20
parcelas amostradas. As espécies que apresentaram maior abundância foram: Mollia gracilis,
Cynometra marginata, Zygia cauliflora, Paramachaerium ormosioides, Discocarpus
essequeboensis e seringueira (Hevea brasiliensis). Esta formação também registra alta taxa de
espécies com baixa freqüência, sendo que 32% das espécies florestais amostradas ocorreram
com apenas um indivíduo.
Espécies de interesse comercial foram observadas nas parcelas amostradas próximo a região
de São Pedro, porém em baixa densidade, como sumaúma (Ceiba pentandra) e ucuúba
branca/ucuúba da várzea (Virola surinamensis), sendo esta última presente na lista de espécies
ameaçadas de extinção, considerada vulnerável pela Portaria nº 37-N, de 3 de abril de 1992.
Em alguns trechos aparecem formações com as palmeiras jauari (Astrocaryum jauari), açaí
(Euterpe oleracea) e caranã (Mauritiella armata), especialmente nas zonas mais rebaixadas
do relevo. No entanto, estas formações não chegam a configurar um elemento de paisagem.
O sub-bosque das matas de várzea é limpo, com pouca regeneração das espécies do dossel.
Provavelmente a mortalidade produzida pela inundação selecione poucas mudas, reduzindo
drasticamente o número de indivíduos jovens. Algumas espécies deste estrato apresentam
geralmente porte reduzido com adaptação ecofisiológica para sobreviver submersos por um
determinado período. Neste estrato ocorrem Oxandra riedelinana (Annonaceae) e Ticorea
longifolia (Rutaceae) e, dentre as árvores emergentes tem-se: o açacu (Hura crepitans -
Euphorbiaceae), a piranheira (Piranhea trifoliolata - Euphorbiaceae), a abiurana da várzea
(Pouteria glomerata - Sapotaceae) e acapurana (Campsiandra laurifolia). Algumas destas
espécies produzem frutos em abundância sendo consideradas espécies chave para a fauna
aquática que utiliza as matas de várzea para reprodução e nicho alimentar, como por exemplo,
peixes e quelônios aquáticos.
As florestas de várzea são ambientes de extrema importância para alguns grupos de animais
aquáticos, apesar de constituírem habitats temporários. Observou-se que a distribuição de
quelônios aquáticos está relacionada ao pulso de inundação do rio, que altera a disponibilidade
de nutrientes e habitats, com maior oferta de alimento. Os resultados dos levantamentos dos
quelônios corroboraram com esta afirmação, uma vez que as maiores abundâncias foram
observadas nos períodos de enchente e cheias.
Desta forma, as capturas em áreas de inundação ocorreram apenas na cheia (FIGURA 9.5-4),
uma vez que peremas (R. punctularia) e lalás (M. gibba) ficam enterrados no solo ou no
folhiço durante o período seco, conforme informações empíricas obtidas de moradores da
região e comprovadas nos estudos específicos de quelônios aquáticos.
Este setor do TVR destaca-se, do ponto de vista socioeconômico, por conter em sua extensão
três localidades, classificadas pelo IBGE como povoados: Ressaca e Garimpo do Galo, ambos
na margem direita, e a Ilha da Fazenda, todos pertencentes ao município de Senador José
Porfírio. Juntas concentram a maior parte dos moradores do TVR, com cerca de 800
habitantes: Ressaca – 471 hab., Ilha da Fazenda 221 hab. e Garimpo do Galo – 111, dados da
Contagem de População de 2007 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE. Essas localidades, nas décadas de 80 e 90, foram intensamente impactadas pela
atividade garimpeira. A exploração de ouro na região, segundo as informações obtidas,
ocorreu de forma intensa, em áreas próximas a esses povoados, até por volta de 1997, e desde
então a atividade tem diminuído.
A Ilha da Fazenda é o povoado mais antigo e existe desde as primeiras décadas do século
passado. Conforme relatos de seus moradores, no período mais intenso do garimpo, o
povoado chegou a ter cerca de 150 famílias residentes, praticamente o dobro do número atual,
sofrendo um processo de esvaziamento com o declínio desta atividade.
Deve-se atentar que há na região uma relativa mobilidade dos moradores, com movimentos de
emigração e imigração constantes, de pessoas que se deslocam em busca de emprego, muitas
vezes resultando no retorno a região, ou os que se estabeleceram em outros locais,
6365-EIA-G91-001b 194 Leme Engenharia Ltda.
principalmente em Altamira, retornando para a manutenção de suas posses ou de suas
residências.
Ressaca e Garimpo do Galo são núcleos típicos de áreas de garimpo, com a presença de vários
estabelecimentos comerciais como armazéns, bares, vendas, que se formaram a partir dessa
atividade de exploração mineral. Atualmente, nessas duas localidades observam-se várias
casas desabitadas. O comércio, além do atendimento aos garimpeiros que ainda continuam em
atividade, atende também a população da região e, segundo estudos antropológicos realizados
para a FUNAI1, as comunidades indígenas da TI Arara da Volta Grande e da TI Paquiçamba,
que se abastecem de produtos industrializados nesses locais: açúcar, munição, café,
combustível.
Outra forma de comércio presente na região são os chamados “marreteiros”, embarcações que
transitam na região, usadas como moradia e comércio itinerante e que vendem frutas,
verduras, carnes de gado e de caça, além de peixes (FIGURA 9.5-5).
Existe rede de iluminação pública na Ressaca e na Ilha da Fazenda, instalada pela Prefeitura
de Senador José Porfírio há alguns anos, que funciona com o acionamento diário de um
gerador, das 19 às 23 horas, no entanto, não é fornecido o combustível com regularidade.
Quando dos levantamentos de campo, em junho de 2008, estavam em instalação, nos três
povoados, equipamentos de telefonia acionados por energia solar (FIGURA 9.5-6).
A estrutura econômica encontrada neste setor do TVR possibilita certa dinâmica, sendo a
circulação de moeda mais efetiva que outros trechos do rio Xingu, devido ao garimpo, ao
comércio e a renda gerada pela pesca, especialmente a ornamental. O comércio se encontra
mais bem consolidado, pois pelo menos parte das populações estabelecem relações comerciais
regulares.
O tipo de garimpo praticado na região, embora ocorra a exploração de ouro no leito do rio
Xingu e, de forma mais rudimentar, através da utilização da bateia, é localizado
principalmente em terra, nas encostas a algumas centenas de metros da margem. No Garimpo
do Galo, o ouro é extraído de maneira mecanizada, existindo uma mina com a escavação de
túneis e sistema de transporte do material por teleférico para a separação do ouro das rochas.
São empregados 15 trabalhadores residentes no local, que se revezará em turnos, com a mina
funcionando 24 horas (FIGURA 9.5-7).
A pesca é muito importante para a constituição da renda dos moradores. Estima-se que
aproximadamente 170 pessoas pratiquem a pesca na região seja para consumo, ou para
comercialização (ornamental ou pesca artesanal de consumo). A pesca de peixes ornamentais
(FIGURA 9.5-8) possui destaque na Ilha da Fazenda e comunidades vizinhas, onde se
concentram moradores que praticam essa atividade, garantindo uma renda média entre 50 e
300 reais por pescador, por dia de trabalho, dependendo da época do ano. A pesca de
subsistência também é fundamental, pois fornece proteínas para a dieta dos ribeirinhos. O
consumo de pescado ocorre 3 vezes por semana e alcança em média 139g per capita.dia-1, o
que corresponde a 22 kg.ano-1, o dobro do que é consumido pelos moradores de Altamira e
mais do que a média nacional.
Na Ressaca está a maior unidade escolar, a Escola Municipal Luiz Rebelo, que atende cerca
de 300 alunos do ensino fundamental até o segundo grau. É mantido pela Prefeitura Municipal
de Senador José Porfírio, funcionando em três turnos. Possui boa infra-estrutura de salas de
aula e gerador próprio. O transporte para o deslocamento dos estudantes até a unidade escolar
é feito por barcos. Os professores que não moram na região ficam durante toda a semana
hospedados na Ilha da Fazenda (FIGURA 9.5-9).
Na Ilha da Fazenda funciona outra escola, voltada para as crianças do ensino infantil e
fundamental até a 4ª série, que atende 76 alunos e, à noite, funciona para o Ensino de Jovens e
Adultos, atendendo 10 alunos. Esta escola é mantida pela Prefeitura de Senador José Porfírio,
que é responsável pelo pagamento dos professores, fornecimento da merenda escolar e
transporte dos alunos. A igreja evangélica colabora através do fornecimento de um m otor de
luz (FIGURA 9.5-10).
FIGURA 9.5-11 - Poço para a bastecimento de água na Ressaca, vendo-se em primeiro plano
os tubos que conduzem a água até as moradias
Na Ilha da Fazenda, o abastecimento de água é feito por 6 poços rasos localizados próximos à
margem do rio Xingu. Uma pequena rede de abastecimento atende o Posto de Saúde, a casa
que serve de alojamento para os professores que lecionam na Ressaca e algumas residências.
A água é bombeada de um dos poços, através de um motor acionado por gerador, para uma
caixa de água elevada e distribuída por tubos de PVC. Segundo os moradores, mesmo nos
períodos de maior seca os poços, quase sempre, se mantêm com água. É grande a
possibilidade de esses poços estarem contaminados pela proximidade das fossas das casas e
por suas características construtivas (FIGURA 9.5-12).
Na margem direita, além dos povoados citados, observa-se extenso trecho, entre o barramento
até próximo ao Garimpo do Galo, que tem sua ocupação baseada nos assentamentos do
INCRA - Projeto de Assentamento (PA) Morro das Araras e PA Ressaca, ocupações mais
antigas e consolidadas; seguindo-se um trecho que faz parte de uma gleba do Instituto de
Terras do Pará – ITERPA, denominado Gleba Bacajaí. Este assentamento é mais recente, com
cerca de oito anos de existência. Os produtores possuem uma associação e reivindicam a
regularização das posses junto ao Governo do Estado. A principal atividade desenvolvida é o
cultivo do cacau e a criação de gado. Essta área faz limite com a TI Arara da Volta Grande.
Além dos povoados, em que as principais atividades são o garimpo e o comércio (Ressaca e
Garimpo do Galo) e a pesca ornamental (Ilha da Fazenda), a população ribeirinha deste setor
pratica a pesca comercial ou para a alimentação e a agropecuária tradicionalmente verificada
na região, como o plantio de culturas temporárias: mandioca, feijão, arroz, milho; culturas
permanentes: cacau, café e a pecuária. Em parte desses imóveis observa-se uma presença mais
intensa da atividade agropecuária comercial, sobretudo a criação do gado e o cultivo do cacau
(FIGURA 9.5-13).
A Ressaca pode se configurar como um local com potencial para tornar-se, com a construção
do empreendimento, atrativo de população devido à proximidade com o Sitio Pimental, onde
será construído o barramento. Distando apenas 16 km, cerca de 30 a 40 minutos de barco, de
onde será instalado o canteiro de obras do Sítio Pimental e um grande alojamento, os bares,
armazéns e vendas do vilarejo poderão atrair usuários dentre os trabalhadores que serão
instalados no local.
Em todo o setor destaca-se o intensivo uso do transporte fluvial, responsável pela interação
entre os moradores localmente, bem como na conexão destes com Altamira, pólo de
referência para abastecimento, comércio, serviços e escoamento da produção. Embora exista
estrada que permita o acesso terrestre entre Altamira e a região da Ressaca, há uma
preferência dos moradores pelo transporte fluvial, por considerarem a viagem muito
desconfortável e demorada, devido às péssimas condições da estrada.
Em termos locais, é pelo rio, através de transporte fluvial: que os alunos chegam até as
escolas; se torna viável o atendimento nos postos de saúde e o abastecimento de produtos nos
armazéns da Ressaca para a população ribeirinha; são mantidas as relações de vizinhança e
parentesco; o lazer nas praias é possível; e a pesca comercial ou para a alimentação é
estruturada, baseada em locais de pesca mapeados pelos moradores ao longo de muitas
décadas e conforme cada período do ano.
Para Altamira, a navegação permite que a população busque pelos serviços de maior
complexidade (atendimento à saúde, serviços bancários, instituições públicas diversas), o
abastecimento de produtos seja realizado, além de ser o caminho de escoamento da produção
que será comercializada: pescado, produtos agrícolas e extrativistas: cacau, farinha, castanha,
dentre outros.
Para a Ressaca e outras localidades (Igarapé Ituna, por exemplo), principalmente nos períodos
de cheia, são mantidas linhas de barco para deslocamento de pessoas e transporte de carga.
Em linhas gerais, as formações florestais aluviais deste Setor e também do Setor de São Pedro
ainda encontram-se bem preservadas e, conforme mencionado anteriormente, não foi
observada diferenças na composição florística entre as localidades amostradas de floresta
ombrófila densa aluvial.
FIGURA 9.5-14 – Local de desova de Podocnemis unifilis (tracajá). (Foto: Juarez Pezutti)
A anta (Tapirus terrestres), o tatu (Dasypus spp), a paca (Agouti paca), o porcão (Tayassy
pecary), o caititu (Tayassy caititu) e o jabuti (Chelonoides sp) foram os principais animais
caçados citados pelos comunitários da região. A anta, apesar de ser considerada uma espécies
terrestre geralmente ocorre em áreas associadas a rios e florestas úmidas.
FIGURA 9.5-17 - Principais ambientes de caça e pesca no TVR. Legenda: 01- área do
barramento; 02- Rio Bacajá; 03 - Rio Bacajaí; 04-Igarapé do Itatá; 05-
Igarapé do Ituna; 06-Comunidade da Ilha da Fazenda; 07-Comunidade da
Ressaca; 08-Região do Caituca; 09-Área do Porfírio; 10-Área de Pasto
(Entre a comunidade do Galo e Verena); 11-Área de extração de Açaí,
(Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e Crocodilianos)
Enquanto que, a região das margens, constituída de matas de terra firme, situada na margem
direita do rio Xingu, compreendida entre a comunidade da Ressaca e a entrada do igarapé
Bacajaí, foi indicada como local importante para a captura de jabutis.
Com relação aos jacarés, além da ilha do Pimental, os jacarés também são caçados em
igarapés da região, como Itatá e Ituna, locais preferenciais do jacaré-coroa (Paleosuchus
trigonatus).
FIGURA 9.5-19 - Ninhos de tracajá, cujos ovos foram coletados por moradores da região.
(Foto: Juarez Pezutti)
Mês jan fev Mar abr mai jun jul Ago set out nov dez
alagamento
da floresta X X X X X
alagamento
dos sarobais
(pedrais) X X X X X
Entrada na
várzea X X X X X
saída do
varzea X X X X X
emersão da
várzea X X X X X
Emersão dos
sarobais X X X X
Vazão m3/s
(média 1931-
2008) 7719.6 12736.5 18138.6 19985.5 15591.2 7064.7 2877.2 1562.7 1066.4 1115.1 1870.0 3735.1
Vazão m3/s
(mínimo) 1123.2 3946.6 9560.5 9817.1 6587.3 2872.1 1416.6 908.2 477.1 444.1 605.1 1167.2
Vazão m3/s
(máximo) 17901,7 24831.0 30129.4 29258.0 27370.0 13396.4 4710.2 2353.2 1557.0 2140.0 4036.3 9752.0
A maior parte dos itens alimentares encontra-se disponível no período de enchente e cheia.
Ainda segundo informações de observações empíricas dos ribeirinhos, durante a seca os
animais se alimentam basicamente de uruá, lama e areia .
Segundo informações obtidas nos levantamento de campo junto aos barqueiros, durante o
período de seca os índios Jurunas da TI Paquiçamba chegam a avançar rio abaixo até
encontrarem ponto de retorno que os permita subir o rio através do canal principal (na
margem direita). Estas informações sobre as alterações de traçado, bem como sobre o
acréscimo de tempo para o percurso, deverão ser checadas no âmbito dos estudos
etnoecológicos, ainda em desenvolvimento.
A outra terra indígena é onde vivem os Araras, localizada na Volta Grande do rio Xingu entre
os igarapés Bacajá e Bacajaí, no município de Senador José Porfírio. Estão nessa localidade
desde o final do século XIX e início do XX, quando se deslocaram do médio Bacajá para a
região do baixo Xingu. A TI Arara possui cerca de 25000 ha e dois núcleos habitados por
cerca de 80 pessoas.
As populações indígenas estruturam suas vidas baseadas nas atividades de pesca, caça,
extrativismo vegetal e a agricultura, tendo os rios Xingu e Bacajá como únicos meios de
transporte para acesso às aldeias. Existem laços de parentesco entre moradores das duas
comunidades e membros dos Araras e dos Jurunas vivendo fora dos limites das duas TI, na
própria região ou em Altamira.
Os importantes vínculos das populações ribeirinhas com o rio Xingu, já verificado nos
setores anteriormente descritos, é particularmente forte para este setor, com o uso do rio
estanto integrado ao modo de vida praticado pelas populações das duas Terras Indígenas.
São duas as principais fontes de renda para as duas TI: o extrativismo da castanha-do-pará,
colhida em castanhais dispersos nas áreas das Terras Indígenas e comercializada para
compradores que recolhem o produto na região ou vendido em Altamira. A pesca também é
importante para a renda das duas comunidades que vendem parte do que produzem. É relatado
também a pesca ornamental como fonte de renda.
Este setor apresenta tanto vegetação aluvial classificada como Florestal Ombrófila Densa
Aluvial, quanto vegetação de pedrais, denominada como Formação Pioneira com Influência
Fluvial ou Lacustre.
Apesar das Formações Pioneiras estarem também presentes nos Setores anteriormente
mencionados, é no Setor Paquiçamba e principalmente no Setor Jusante do rio Bacajá que esta
tipologia florestal domina a paisagem.
Essas Formações Pioneiras crescem sobre rochas graníticas afloradas no leito do rio Xingu e
pertencem ao complexo geológico do Xingu, ocorrendo desde a confluência do rio Iriri com o
Xingu, até a vila de Belo Monte, sendo denominadas localmente de pedrais ou pedregais.
Nestes ambientes de pedrais os principais fatores para a manutenção da biodiversidade são os
processos físicos e biológicos, entre os quais o ciclo hidrológico é um dos fatores
fundamentais (PAROLIN, 2001).
Durante o período das cheias, quando o nível do rio Xingu aumenta, algumas plantas ficam
parcial ou totalmente submersas. Durante a época seca, quando a vazão do rio Xingu diminui
consideravelmente, as falhas e fraturas dos afloramentos formam uma rede de canais que
controla a drenagem, por onde a água flui. Nesse caso as plantas sofrem e resistem a novo
estresse, desta vez causada pela força hidro-mecânica do fluxo da corrente que atuam nas
raízes e na parte inferior do caule. Provavelmente as plantas possuem mecanismos adaptativos
que permitem uma fixação eficiente das raízes entre as falhas geológicas (FERREIRA;
STOHLGREN, 1999).
Nesse setor o nível de suas águas, entre as estações de seca e enchente, pode atingir até 12
metros, com períodos de inundação variando de 50 a 270 dias por ano (JUNK, 1989). Isto
resulta em uma sincronização da maioria dos processos ecológicos de plantas, animais e das
populações humanas, tais como reprodução das plantas, migração de animais e atividades de
pesca, entre outros.
As espécies mais abundantes na região dos trechos dos pedrais da Volta Grande e portanto,
muito concentradas nesse setor são: camu-camu (Myrciaria floribunda), (Swartzia
leptopetala), (Vitex cf. duckei), oiti (Couepia cataractae) e (Eugenia patens).
As podostemaceas são ervas aquáticas que vivem fixas às rochas nas cachoeiras e corredeiras.
Apresentam alta plasticidade fenotípica, com aparelhos vegetativos heterogêneos, algumas
espécies com aspecto de musgos, algas ou liquens, outras com estruturas semelhantes a
verdadeiros caules e folhas.
FIGURA 9.5-21 - Ciclo de vida de Mourera fluviatilis Aublet em rochas das corredeiras do
rio Xingu. O ciclo vegetativo começa na vazante do rio expões as rochas
(A e B); a floração ocorre posteriormente (C) e a frutificação quando o
nível do rio encontra-se baixo e as rochas já expostas (D). (Foto: Leandro
Ferreira – MPEG).
Embora os estudos para essa família sejam limitados, sua importância ecológica é
incontestável, em função da diversidade de interações que apresentam com a fauna, a exemplo
da macroinvertebrados bentônicos, insetos polinizadores, espécies de peixes que nelas
encontram a base de sua alimentação e diversos organismos que se alimentam das próprias
plantas e de sua fauna associada, como por exemplo, maçaricos e outras aves aquáticas e
semi-aquáticas.
Os dados disponíveis até o momento sobre a família Podostemaceae apontam para um alto
grau de endemismo das espécies, e uma forte especificidade quanto ao hábitat em que
ocorrem. As espécies apresentam adaptações genéticas que as tornam altamente
especializadas em ambientes fluviais de leito rochoso banhado por águas bem oxigenadas.
Na margem esquerda do rio Xingu, ao longo da Volta Grande, município de Vitória do Xingu,
o território foi dividido, na década de 70, em lotes do INCRA. Descendo o rio, após a TI
Paquiçamba, e considerando a delimitação dos lotes do assentamento previstos na planta do
INCRA, pode-se estimar a existência de cerca de 50 imóveis rurais margeando o rio, até a
localidade de Belo Monte. Se for adotada para esses imóveis a mesma média de moradores
verificada para esta margem do rio na pesquisa censitária, realizada na área a ser
territorialmente afetada pelo reservatório dos canais e diques - 3 pessoas por imóvel -, a
população estimada em cerca 150 moradores.
O perfil desses imóveis se assemelha aos encontrados ao longo dos demais setores do TVR,
com o predomínio da pequena produção agrícola, criação de gado e atividades ligadas a
pesca.
Nesta parte do TVR a navegação é bastante restrita em quase toda a sua extensão, em função
das características do rio Xingu, com várias cachoeiras e pedrais.
Destaca-se, ainda, que esta área é enquadrada por resolução do Conselho Estadual do Meio
Ambiente do Estado do Pará – COEMA, de 2005, como “Sítio Pesqueiro Turístico Estadual
Volta Grande do Xingu”, espaço territorial de domínio público, especialmente protegido, para
promover o manejo sustentável e o desenvolvimento de atividade de lazer, cultura e turismo
ecológico. Esta categoria de divisão territorial é amparada nos artigos 73, 75 e 76 da lei
estadual 5.887, de 09.05.95 e conforme determina a lei estadual Nº 6.167, de 07.12.98, o
decreto estadual Nº 3.551/99 e o decreto estadual Nº 3.553/99. O sítio foi decretado pelo
governo do Estado, de acordo com a resolução do COEMA, usando-se como documentos
técnicos os estudos de prospecção realizados por técnicos da Secretaria de Meio Ambiente do
Estado do Pará.
O sítio possui teoricamente espaço para três empreendimentos, mas apenas um atua no
momento. Deve-se ressaltar que o sítio ainda não possui um plano de manejo, apesar de ter
sido decretado há quase três anos. Para sua implantação não foi realizado um estudo de
impacto e nem foram registradas as atividades ou pessoas que podem ser afetadas
negativamente pela criação desta reserva. A resolução do COEMA, que tem inviabilizado o
acesso aos recursos pesqueiros da área delimitada à ribeirinhos e indígenas, tem gerado
situações de conflito, inclusive determinando uma ação do Ministério Público Federal
solicitando a seu cancelamento, por se entender que a proibição da entrada de pescadores na
área delimitada no rio, violava os direitos básicos da comunidade ribeirinha local e de
indígenas, que tradicionalmente habitam a região e utilizam o rio como meio de subsistência.
Sob o ponto de vista da ictiofauna esta região representa o início da parte alta do rio, após as
primeiras corredeiras. Durante as enchentes observam-se vários grupos de peixes subindo as
corredeiras e se deslocando rio acima. A abundância e a densidade de peixes neste setor é
notável e o estado de conservação das ilhas fluviais e pedrais é considerado bom, quando
comparado com outros trechos do rio, devido a pouca densidade populacional. As grandes
cachoeiras representam ambientes propícios para a pesca de pacus e tucunarés.
Este Setor contém a maior área de pedrais da região da Volta Grande com 53,6% da área com
essas formações, enquanto que, as ilhas aluviais são insignificantes.
Nesse setor observa-se grande deplecionamento nas áreas dos pedrais, em especial no terço
inferior na região da cachoeira Grande. Presença de diversos tributários, cerca de 10 igarapés
e o rio Lau-Labu.
Apesar da pouca contribuição de igarapés ao longo de todo o TVR, há que se destacar que
uma rede de pequenos igarapés drena a região do TVR com importante função ecológica.
Nestes pequenos cursos de água aloja-se uma fauna distinta daquela encontrada no curso
maior do rio Xingu. As matas de galerias dessas drenagens fornecem abrigo e alimento à
fauna íctica e garantem a integridade dos cursos d’água. Apesar da degradação que já existe
hoje pelo uso intensivo do solo, o papel ecológico dos igarapés é ainda importante,
funcionando como corredor hídrico de deslocamentos dessa fauna específica.
FIGURA 9.5-23 - Pacu (Myleus sp) e aracus (Leporinus spp) dentre os blocos rochosos do rio
Xingu, na Volta Grande (Fotografias: Victoria Isaac e Tommaso Giarrizzo)
Uma das principais características do rio Xingu que interfere diretamente nos ecossistemas é a
sua grande variabilidade de habitats e ambientes. No rio Xingu, o ciclo hidrológico é
relativamente previsível e implica na ocorrência de grandes flutuações de nível da água, com
amplitude média anual de cerca de 8 m.
À medida que as chuvas começam, ocorre a elevação da cota do rio. Entre dezembro e março
ocorrem rápidas mudanças do nível das águas, tendo início a inundação, primeiro nas partes
mais baixas das margens e ilhas e depois entrando definitivamente nas regiões mais altas das
florestas, formando igapós, ou lagoas marginais.
O ciclo hidrológico do rio com os seus pulsos, determinados pela sucessão de períodos secos
e chuvosos, possui uma influência definitiva na estruturação da fauna íctica e no
desenvolvimento das suas estratégias de vida. O ingresso da água nas áreas laterais dos corpos
aquáticos implica no enriquecimento dos solos e no aumento considerável da área, de nichos e
de alimentos disponíveis para os peixes. Com o retorno das águas, ocorre a lavagem da
matéria orgânica em decomposição, o que contribui positivamente para aumentar a
concentração de nutrientes nas águas do rio.
Quando as áreas mais baixas das ilhas começam lentamente a ser inundadas, sem ainda ter
ocorrido o transbordamento total do rio, praticamente todas as espécies realizam
deslocamentos laterais, passando do canal principal do rio para os igapós, através dos
chamados “sangradouros”.
Desta forma, percebe-se que as áreas de inundação suportam a produção biológica do
ecossistema e são responsáveis, diretamente, pela produtividade pesqueira, garantindo os
rendimentos da pesca pela manutenção da fauna íctica.
9.5.4.2 Alimentação
A maioria dos peixes frugívoros das águas do rio Xingu pertence à ordem dos Characiformes
e a algumas famílias da ordem Siluriformes. A título de análise foram selecionadas, nos
estudos de ictiofauna realizados para este EIA, no âmbito do compartimento ambiental do
TVR, 8 espécies de peixes que utilizam recursos da floresta inundada, as quais foram
agrupadas em função do tipo de fruto por elas consumido. Assim há 3 grupos de espécies: 1)
aquelas mais seletivas que utilizam entre 3 e 4 espécies de frutos diferentes, como é o caso
das sardinhas; 2) espécies com uma dieta muito diversificada, com utilização de
aproximadamente 20 tipos diferentes de frutos (ex.: pacus), e 3) espécies intermediárias, como
alguns aracus, que utilizam aproximadamente 10 tipos diferentes de fruto.
Para a grande maioria das espécies, o período de frutificação ocorre simultaneamente durante
as enchentes do rio, coincidindo com a entrada dos indivíduos na planície de inundação, onde
terão acesso facilitado aos frutos produzidos.
A pobreza em produção primária total das águas do rio é substituída, no período de chuva, por
uma grande produção de frutos e sementes e pelo aporte de material alóctone que fertilizam
todo o sistema.
O modelo trófico estimado para fauna aquática com foco na ictiofauna demonstrou, mediante
a análise dos fluxos entre os ambientes existentes ao longo do rio Xingu, que a maior fonte de
energia para a teia alimentar tem origem na vegetação aluvial, que representa também 83% da
biomassa total. Isto significa que os produtores primários do ecossistema aquático não se
encontram na água, mas sim na vegetação que está no ambiente terrestre. Desta forma, a
produção deste componente fica disponível para a fauna aquática durante o período de
inundação. Outros produtores primários de relevância para o sistema são as podostemáceas
(15%) e o perilíton (0,03%). Já o fitoplâncton não pode ser considerado de relevância, pela
pouca representatividade de sua produção, com números bem mais baixos que os outros
produtores.
Os dados indicam que um grande número de espécies realiza deslocamentos entre dezembro e
fevereiro, subindo o rio na busca de canais ou entradas de água para desovar nas áreas de
inundação. Os jovens nascidos nesta época são observados pelos pescadores durante o inverno
dentro dos lagos, nas matas alagadas ou nas beiras dos remansos.
Foi observada uma maior freqüência (65%) de locais de piracema e desova em ambientes
relativamente preservados, com pouca pressão antrópica e com vegetação predominantemente
arbórea. Isto poderia explicar a preferência dos peixes pelas ilhas, em relação às margens do
rio. As ilhas fluviais apresentam ambientes mais preservados, devido ao seu isolamento das
vias de transporte terrestre e por não apresentarem, em geral, uso agropecuário intenso do
solo. Nas margens do rio, a quantidade de locais preservados e com vegetação arbórea é
menor e os peixes que aí chegam acabam utilizando outros ambientes, como os pastos ou
capoeiras, para compensar a falta da vegetação natural.
Na Volta Grande, 43% dos indivíduos foram classificados como virgens, que ocorrem
praticamente o ano todo. Isto denota a importância desta região como habitat de espécimes
jovens. Em segundo lugar neste setor destacam-se os indivíduos desovados. No rio Bacajá,
ainda que amostrado somente durante a enchente, destaca-se a presença de indivíduos em
reprodução, desovados e em repouso, indicando que esta é também uma importante área de
desova.
9.5.4.4 Ictioplâncton
Os resultados do estudo de distribuição de ovos e larvas da ictiofauna, com base nas coletas
do mês de fevereiro de 2008, indicou uma forte predominância de larvas no setor do Baixo
A maior parte das larvas amostradas (82%) estava no estágio inicial de desenvolvimento,
ainda com o saco vitelino. As informações preliminares obtidas nos levantamentos de
ictioplâncton indicam que a desova ocorre em massa e é iniciada em um momento bem
definido no tempo, provavelmente controlada por fatores externos. O nível da água é
certamente o fator determinante, porém não necessariamente o único para explicar uma
desova sincrônica, tanto entre os setores como entre os biótopos.
Estudos preliminares que tinham sido feitos para o reconhecimento da área de estudo no rio
Xingu pela equipe de ictiofauna para o presente EIA, em dezembro de 2007, não verificaram
a presença de ictioplâncton nesse mês.
Desta forma, a partir dos resultados do ictioplâncton deduz-se claramente que uma grande
quantidade de peixes estava desovando ao longo da área de estudo, no mês de fevereiro de
2008, na enchente, quando o rio tinha uma vazão de aproximadamente 8.000 m3/s. Estes
dados também indicam que a desova ocorre tanto acima como abaixo das cachoeiras do rio
Xingu, e que os ambientes de inundação (lagoas ou remansos nas margens de cursos de água)
são fundamentais para que a desova ocorra. A presença de todas as formas larvais dentro das
lagoas indica que a desova vinha ocorrendo desde alguns dias, nesses ambientes.
Com relação aos padrões de migração, as espécies de peixes da Amazônia podem ser
divididas em duas categorias. A primeira inclui as espécies que realizam migrações durante a
seca ou enchente entre o canal do rio, áreas alagadas e os tributários. Nesta categoria incluem-
se os bagres siluriformes, que realizam migrações de longas distâncias, como a piramutaba
(Brachyplatystoma vaillantii), e a dourada (B. flavicans), mas que não tem relevância para o
TVR, pois não ultrapassam as grandes cachoeiras de Belo Monte. Também são espécies
migradoras aquelas que realizam deslocamentos laterais e longitudinais sazonais, mesmo que
percorrendo distâncias bem menores do que os bagres. Dentre elas destacam-se Prochilodus
nigricans (curimatã), Semaprochilodus spp. (ariduia) e Myleus spp. (pacu). Este grupo é bem
representativo na bacia do rio Xingu e tem grande importância ecológica e econômica no
TVR.
O segundo grupo de espécies refere-se às espécies sedentárias, que possuem desovas várias
vezes ao ano e apresentam adaptações para permanecer em águas com menos quantidade de
oxigênio ou de menos produndidade. Algumas apresentam comportamentos de acasalamento
No rio Xingu, a dourada e também a piramutaba (mas em menor proporção) são visualizadas
e capturadas no trecho baixo do rio, desde a sua foz até, no máximo, a Vila de Belo Monte. Os
pescadores relatam que observam cardumes de dourada subindo o rio Amazonas todo ano, a
partir de junho, no período de vazante e durante a seca. Ao passarem pela desembocadura do
rio Xingu, os cardumes entram e sobem o canal deste rio. Os deslocamentos possuem uma
velocidade média de 500 a 1000 m/dia. Os peixes vão até Belo Monte, aonde chegam mais ou
menos no final do ano. À medida que as águas sobem com a chegada das chuvas, eles
desaparecem da região. Contudo, indivíduos jovens de dourada, de menos do que 20 cm de
comprimento total, são vistos nas poças formadas durante o inverno nas proximidades de
Porto de Moz e nas ilhas na frente desta cidade, indicando que a ria do Xingu atua, em parte,
como uma extensão do imenso estuário amazônico, oferecendo ambientes de berçário e
recrutamento para os jovens dessas espécies. No entanto, nem a dourada e tampouco a
piramutaba foram encontradas rio acima, após as grandes cachoeiras, ocorrendo apenas na
parte baixa do rio Xingu.
Relatam, porém, que algumas espécies são exclusivas da região baixa do rio e não podem
subir as cachoeiras. É o caso do mapará, do tambaqui, do pirarucu e outras inúmeras espécies
da ictiofauna.
Desta forma, as conclusões preliminares são: as cachoeiras não são uma barreira geográfica
eficiente para toda a ictiofauna e há deslocamentos entre a parte baixa e parte alta do rio, para
boa parte da fauna.
Os ambientes de pedrais constituem habitats temporários para a fauna terrestre, pois uma vez
submersos, esta fauna busca os ambientes laterais que também constituem sua área de uso.
Desta forma, as rochas e abrigos naturais formados quando emersos são utilizados por
lagartos e anfíbios, cujos levantamentos identificaram uma herpetofauna bastante diversa.
Nenhuma espécie da herpetofauna terrestre registrada nos estudos atuais do EIA estão
presentes nas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção. Tampouco espécies
endêmicas foram detectadas. As restrições de distribuição da herpetofauna basicamente estão
associadas a ambientes de terra firme, abrangendo as regiões de interflúvios.
Também são abrigos de Peropteryx macrotis que apresentam enormes e ubíquas populações
nos pedrais do baixo médio Xingu na estação seca, sendo que os animais tendem a ocupar
fendas e paredes verticais. Foram também observados Furipterus horrens (Chiroptera:
Furipteridae) usando a região dos pedrais, que é geralmente cavernícola. Furipterus horrens
foi encontrado em pedrais de “terra firme” na estação chuvosa, distantes cerca de, no máximo
duzentos metros da margem do rio. Outras espécies consideradas mais raras de morcegos
encontradas nos pedrais são: Peropteryx leucoptera (Chiroptera: Emballonuridae) e
Macrophyllum macrophyllum (Chiroptera: Phyllostomidae), este último de estrita relação com
áreas ripárias.
A ariranha, embora presente na região do empreendimento, parece ser menos freqüente que a
lontra. As taxas de densidades de vestígios indicaram a importância dos igarapés e áreas
aluviais para estas duas espécies de mustelídeos. São habitats importantes para a ariranha
(Pteronura brasiliensis) e para a lontra (Lontra longicaudis), espécies classificadas como
ameaçadas e insuficientemente conhecida, respectivamente (IUCN, 2006).
O TVR pode ser caracterizado de duas formas distintas sob o ponto de vista limnológico e da
qualidade das águas: a parte onde estão as concentrações urbanas de Ressaca e Ilha da
Fazenda e o restante do trecho, este com contribuições difusas.
Os pontos de monitoramento apresentaram boa oxigenação de suas águas com valores acima
dos limites das classes 2 em todas as campanhas, sendo que as saturações de OD mostraram
uma relação direta com as concentrações absolutas. Alguns pontos apresentaram resultado de
DBO na enchente acima do limite classe 1, porém abaixo de 5,0 mg/L, valor determinado
para sistemas classe 2. Este resultado indica um aumento de carga orgânica em locais
próximos às ocupações urbanas.
A condutividade elétrica foi registrada em baixas concentrações neste trecho do rio Xingu,
assim como observado para os demais pontos da rede de amostragem, não apresentando
variação sazonal evidente. A exceção foi para o rio Bacajá, que apresentou concentrações
mais elevadas, ainda que suas águas não tenham influenciado, de forma evidente, os valores
de condutividade obtidos para o rio Xingu, exceto no período de seca, quando a contribuição
do rio Bacajá se tornou mais efetiva. Este resultado alerta para as futuras condições da
qualidade da água a ser imposta ao estirão do rio Xingu a sofrer redução de vazão. A falta de
padrão dos resultados de íons totais dissolvidos foi também registrada nestes pontos e as
águas do rio Bacajá não afetaram as concentrações deste parâmetro obtidas para o rio Xingu.
Essas variações nos valores de condutividade a jusante da foz do rio Bacajá não influenciam a
biota aquática do rio Xingu, pois a mesma apresenta tolerância às variações de condutividade
desta região. Alterações que podem ocorrer entre 40-60 µS/cm até 100-120 µS/cm são de
pequena escala considerando-se a capacidade de tolerância de peixes, anfíbios, plâncton e
macroinvertebrados bentônicos, que suportam variações até muito maiores3.
3
Lochwood (1964) destaca que organismos de águas interiores podem tolerar alterações em condutividade entre
50 µS/cm até 150 µS/cm através da sua capacidade de regulação osmótica.
6365-EIA-G91-001b 223 Leme Engenharia Ltda.
variação entre estes períodos pouco evidente, com baixos valores detectados. As
concentrações de carbono total dissolvido foram maiores no rio Bacajá, onde a variação
sazonal foi mais evidente. Os resultados do rio Xingu não foram afetados pela contribuição
das águas do rio Bacajá.
A partir dos resultados obtidos, pode-se observar que o rio Bacajá influenciou os valores de
sólidos em suspensão e condutividade elétrica registrados no rio Xingu no período de seca,
quando o volume de água deste corpo hídrico sofreu redução efetiva. A DBO nos dois
sistemas foi elevada na enchente, indicativo de incremento da carga orgânica.
A caracterização limnológica do TVR indicou boa qualidade das águas, com elevadas
concentrações de oxigênio dissolvido, baixos valores de DBO e reduzidas concentrações de
nutrientes fosfatados e nitrogenados. A presença de chumbo e cromo acima dos limites
determinados pela legislação diagnosticada em toda a bacia de drenagem foi também
observada neste trecho. O zinco dissolvido esteve relacionado diretamente com a contribuição
do igarapé Ressaca.
A partir da análise dos resultados foi possível concluir que a presença da vila de Belo Monte
não influenciou os valores dos compostos nitrogenados e fosfatados registrados no rio Xingu.
Porém, a DBO foi superior ao limite mínimo de 5 mg/L estabelecido pela legislação para
sistemas classe 2, na campanha de enchente no ponto RX11, localizado a jusante dessa
localidade.
A caracterização limnológica dos igarapés da margem direita indicou semelhança com àquela
registrada para o rio Xingu, com destaque para os valores de turbidez acima do limite
estabelecido para sistemas classe 2.
Os três igarapés amostrados da margem esquerda, que serão inundados pelo reservatório dos
canais, apresentaram concentrações de fósforo total que podem sofrer grandes incrementos e
tornarem-se determinantes para o desenvolvimento do processo de eutrofização,
principalmente no período de seca.
A conformação e extensão da calha natural do rio Xingu no TVR , bem como os seus canais
preferenciais de escoamento, estão mapeadas nas bases cartográficas disponíveis para os
estudos ambientais. Essas bases (restituição aerofotogramétrica e bases cartográficas do
IBGE/DSG) foram geradas a partir de fotografias aéreas obtidas no período seco e com baixas
Para se atingir esses objetivos foram utilizadas técnicas e produtos de sensoriamento remoto e
de geoprocessamento descritas a seguir.
9.5.6.1 Metodologia
a) Revisão de Literatura
Nesta etapa foi feita a leitura e a análise dos principais trabalhos de mapeamento de
ecossistemas aquáticos com foco nas metodologias e produtos de sensoriamento remoto
utilizados. O resultado desta revisão encontra-se no Anexo 9.5-1.
Realizou-se uma ampla pesquisa na base de dados dos principais fornecedores de imagens de
satélite com o objetivo de localização de cenas que recobrissem toda a extensão do TVR em
diferentes regimes hidrológicos. As imagens identificadas, representativas dos períodos de
seca e vazante, selecionadas a partir do critério técnico de ausência ou presença de até 5%de
nuvens sobre o TVR, encontram-se discriminadas no QUADRO 9.5-8. Não foram localizadas
imagens de satélite (radar e do espectro ótico) adquiridas nos períodos de cheia e enchente
que permitissem a visualização do TVR na escala de trabalho adotada (1:100.000).
Vazão
Leitura da
estimada Tempo de
Data da Sensor e Régua em Regime
em Permanência
Imagem Satélite Altamira hidrológico
Altamira da Vazão (%)
(m)
(m3/s)
Seca com pico de
TM
vazão mínima de
20/10/1998 Landsat- 92,71 680 94,3%
656 m3/s em 14 de
5
outubro
Seca com uma
TM
vazão mínima de
17/08/2001 Landsat- 93,18 1.414 79,8
865 m3/s em 12 de
5
outubro
Vazante de um
TM
ano com máximo
27/06/1996 Landsat- 94,30 4.496 49,3
de 20.979 m3/s em
5
29 de abril
Vazante de um
CCD
ano com máximo
25/06/2006 CBERS- 94,99 7.312 40,25
de 27.298 m3/s em
2
22 de abril
Vazante de um
CCD
ano com máximo
31/05/2005 CBERS- 95,45 9.432 35,11
de 25.762 m3/s em
2
01 de abril
• Criação de uma máscara de corte para as imagens. Esta máscara correspondeu à calha do
rio Xingu e foi definida a partir da análise e interpretação conjunta da rede de drenagem
da restituição aerofotogramétrica e da imagem de satélite de maior vazão disponível
(9.432m3/s).
Realizou-se a análise espacial das imagens geradas em conjunto com a base cartográfica e
com os registros fotográficos e de campo para verificar o comportamento dos canais de
escoamento e área de inundação do rio Xingu para diferentes reduções de vazões.
Nesta etapa foram geradas e impressas as cartas imagem que integram este EIA e que
serviram de subsídio às análises espaciais. Sobre as Composições Coloridas Cultitemporais –
CCM foram também cartografadas algumas informações geográficas de relevante interesse,
tais como as vilas, terras indígenas, dentre outros.
4
O resultado espacial apresentado também é válido para o aumento da lâmina d’água nas mesmas vazões
consideradas onde teremos uma menor exposição dos pedrais e modificações no canal de escoamento.
6365-EIA-G91-001b 227 Leme Engenharia Ltda.
pulso de inundação de vazões de 7.312 m3/s para 680 m3/s. Entretanto, no ambiente natural
essa redução ocorre normalmente de forma gradual ao longo do de período de vazante. Assim,
as imagens CCM 1, 2 e 3 apresentadas na carta imagem do Desenho 6365-EIA-DE-G91-032
detalham e simulam uma redução gradual do pulso de inundação com vazões de 7.312 m3/s
para 4.496 m3/s, de 4.496 m3/s para 1.414 m3/s e de 1.414 m3/s - 680 m3/s.
A análise visual desses produtos, em conjunto com as fotografias de campo, permite avaliar a
extensão espacial da redução do pulso de inundação e a conformação e a distribuição espacial
dos canais de escoamento superficial da lâmina d’água do rio Xingu nas respectivas vazões.
Os critérios de comparação das vazões foram determinados pela disponibilidade de imagens e
com base em reuniões técnicas envolvendo as equipes que estiveram envolvidas nos Estudos
de Viabilidade (ELETROBRÁS/ELETRONORTE, 2002).
A diferença entre esses valores deve estar relacionada ao critério utilizado para as medições.
Provavelmente, no estudo de viabilidade a extensão do TVR foi medida ao longo do canal
preferencial de escoamento no período de estiagem (época de obtenção das fotografias aéreas
que dão origem às bases cartográficas) enquanto que no presente EIA utilizou-se a medição
ao longo da porção central da calha do rio Xingu.
O critério de medição na porção central da calha é o mais indicado, pois não apresenta a
influência das vazões que modificam a extensão e forma dos canais preferenciais de
escoamento entre os pedrais que compõem esse trecho. A conformação e a extensão de alguns
desses canais do rio Xingu dependem da vazão considerada no momento da medição, sendo
que quanto menor a vazão, maiores são as suas extensões, pois parte das direções de
escoamento da água nesses canais passa a ser controlada pelas fraturas rochosas existentes na
região dos pedrais. Nesse sentido, por questões de padronização do critério técnico de
medição, o valor de 100 km foi sempre referenciado neste EIA quando se menciona a
extensão do TVR.
A
FIGURA 9.5-27 mostra e detalha a complexidade dos canais de escoamento do rio Xingu no
terço final do TVR situado a montante de Belo Monte para uma vazão de seca nas imagens do
Google Earth para uma vazão não identificada.
Observa-se também que até a confluência do rio Bacajá os canais de escoamento são
preminantemente largos e paralelos às margens do rio Xingu. A partir dessa confluência os
canais tornam-se mais estreitos e passam a ser controlados pelas fraturas geológicas
existentes. Assim, as direções dos canais de escoamento são bastante diversificadas neste
trecho do TVR.
FIGURA 9.5-29 – Conjunto de ilhas aluviais que foram o setor São Pedro na margem
esquerda do rio Xingu (visão jusante para montante)
Os canais de escoamento superficial que margeiam as ilhas aluviais predominantes neste setor
são perenes e também não apresentam alterações perceptíveis nas imagens utilizadas até a
vazão de 680 m3/s. O trecho de ocorrência de pedrais neste setor, que estão concentrados no
entorno e a jusante da foz do rio Bacajá (FIGURA 9.5.6-1), fica submerso na vazão
aproximada de 4.500 m3/s. Trechos de pedrais expostos são observados na imagem de vazão
correspondente a 1.414 m3/s.
c) Setor Paquiçamba
A imagem comparativa CCM entre as vazões de 7.312 m3/s e 4.496 m3/s, apresentada na carta
imagem, mostra a grande área de exposição de pedrais na região do entorno da Cachoeira
Grande. Na imagem comparativa entre as vazões de 4.496 m3/s e 1.414 m3/s observa-se
também uma maior exposição de pedrais nessa região, com a interrupção de escoamento em
alguns de seus canais. Observou-se, durante a realização dos trabalhos de campo, a
interrupção do fluxo de escoamento no Furo do rio Xingu, com uma vazão aproximada de
1.110 m3/s. A imagem comparativa entre as vazões de 1.414 m3/s e 680 m3/s não mostra
variação na conformação e distribuição espacial dos canais de escoamento.
A FIGURA 9.5-37 mostra o Furo do rio Xingu e a área de inundação dos pedrais na vazão de
7.300 m3/s no final da região dos pedrais. A FIGURA 9.5-38 apresenta visão panorâmica
aérea do final da região dos pedrais e o início da bacia sedimentar do rio Amazonas com a
vazão de 1.100 m3/s.
As FIGURA 9.5-39 e FIGURA 9.5-40 mostram o trecho final dos pedrais com vazão do rio
Xingu de 21.195 m3/s. Já a FIGURA 9.5-41 mostra um detalhe da vegetação dos pedrais
submersa e a FIGURA 9.5-42 ilustra o local da futura restituição da vazão a ser turbinada
pela Casa de Força Principal do AHE Belo Monte na bacia sedimentar do Amazonas, no
período de cheia.
FIGURA 9.5-39 - Visão aérea do final dos pedrais com destaque para o Furo do Rio Xingu e
a região do entorno da Cachoeira Grande.
FIGURA 9.5-41 - Detalhe da vegetação dos pedrais inundada numa vazão de 21.195 m3/s
As seções de Pimental e Nova 3 – início e fim do trecho São Pedro - são seções mais largas e
não indicam presença de ilhas, diferentemente das seções Nova 1 e Nova 2, bastante
representativas desse trecho e que apresentam grande quantidade de ilhas entre as duas
margens.
Uma análise de perímetros molhados em cada seção foi feita para se avaliar o ganho que se
tem de seção molhada e por conseqüência, de habitats, quando se aumenta a vazão. O
GRÁFICO 9.5-1 mostra as curvas de acréscimo de perímetro molhado para diferentes
vazões.
GRÁFICO 9.5-1 – Acréscimo de perímetro molhado (%) em função da vazão – Setor São
Pedro.
A análise dessa figura mostra que somente na seção Nova 3 é que se observa ganho
significativo de área molhada com pequeno acréscimo de vazão. Para as demais seções só se
observa acréscimo de área molhada para vazões superiores a 18.000m3/s. A interpretação
desse gráfico em conjunto com o desenho da seção, conforme GRÁFICO 9.5-2, mostra que
inclinações acentuadas das curvas de perímetro molhado estão relacionadas a inundações de
ilhas, normalmente planas nesse trecho.
O GRÁFICO 9.5-2 apresenta a seção Nova 2 com diferentes vazões para que se possam
analisar as alterações de seções. As vazões utilizadas nessa avaliação foram escolhidas
aleatoriamente de forma que representassem condições de estiagem e cheias.
WS PF 2 WS PF 3
WS PF 1 WS PF 2
10 5 Ground 10 5 WS PF 1
Bank Sta Groun d
Ban k Sta
10 0 10 0
95 95
Elevation (m)
85 85
80 80
75 75
0 500 1000 1500 2 000 2 500 300 0 35 00 0 500 1000 1500 2 000 2500 30 00 3 500
WS PF 3 WS PF 2
WS PF 2 WS PF 1
10 5 WS PF 1 10 5 Groun d
Ground Ban k Sta
Bank Sta
10 0 10 0
95 95
Eleva tion (m)
85 85
80 80
75 75
0 500 1000 1500 2 000 2 500 300 0 35 00 0 500 1000 1500 2 000 2500 30 00 3 500
St ation (m) Station (m)
GRÁFICO 9.5-2 - Seção Nova 2 com vazões de 700m3/s e 970m3/s (a); 3.639m3/s,
4.292m3/s e 7.851m3/s (b); 15.557m3/s e 20.438m3/s(c) e 23.414m3/s
e 26.050m3/s (d)
A análise da modelagem nesse setor do São Pedro mostra que para qualquer condição de
escoamento o canal preferencial concentra mais de 90% do escoamento, enquanto que a
margem esquerda fica com menos de 10% do fluxo, lâmina d'água da ordem do metro e
velocidades próximas a 0,1 m/s nas três primeiras seções e 0,4 m/s na seção mais a jusante.
Esse setor é o maior setor do TVR e o que tem o maior número de seções, sendo que 3 dessas
seções são representadas somente pela margem direita do rio Xingu – seções 04, 05 e 06 uma
vez que a margem esquerda representa o setor da Paquiçamba.
O GRÁFICO 9.5-3 que apresenta a variação do perímetro molhado com a vazão mostra a
grande variedade de seções encontradas nesse trecho. Algumas seções acrescentam bastante o
perímetro molhado com vazões baixas – 03, 04, 06 e Nova 5 + HECII.
A análise da seção 4 mostra que para vazões de estiagem de 700 e 970m3/s a parte da seção,
pela margem esquerda, fica completamente seca e já com vazões de 3.639m3/s é possível
observar água correndo por essa margem, entretanto as ilhas que dividem as margens só são
inundadas com vazões superiores a 18.000m3/s. Essa análise pode ser observada no
GRÁFICO 9.5-4.
SEÇÃ O 04 MD QBAIXAS (70 0, 970) SEÇÃO 04 ME QBAIXA S (700, 970)
.08 .1
11 0 11 0
L eg en d Leg en d
W S PF 2 WS PF 2
W S PF 1 WS PF 1
G round 10 5 Groun d
Bank Sta Ban k Sta
10 0
10 0
95
90
Eleva tion (m)
90
80
85
80
70
75
60 70
0 500 1 000 1500 2 000 25 00 0 10 00 2000 30 00 4 000
St atio n (m) Station (m)
SEÇÃ O 04 Q MEDIA S A (3 639, 4292, 7851) SEÇÃO 04 Q A LTA S ( 15557, 1 6000, 20438)
.05 .025
11 0 L eg en d 11 0 Leg en d
W S PF 3 WS PF 3
W S PF 2 WS PF 2
W S PF 1 WS PF 1
G round Groun d
10 0 10 0
Bank Sta Ban k Sta
90 90
Eleva tion (m)
80 80
70 70
60 60
0 100 0 2000 3000 4 000 5 000 600 0 70 00 0 100 0 2000 3000 4 000 5000 60 00 7 000
GRÁFICO 9.5-4 – Seção 04 com vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem direita (a);
vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem esquerda (b); 3.639m3/s,
4.292m3/s e 7.851m3/s (c) e 15.557m3/s e 20.438m3/s(d).
WS PF 2 WS PF 2
WS PF 1 WS PF 1
Ground Groun d
Bank Sta Ban k Sta
10 0 10 0
90 90
Eleva tion (m)
70 70
60 60
0 500 1000 1500 2 000 2 500 300 0 35 00 0 100 200 300 4 00 500 60 0 7 00
St ation (m) Station (m)
SEÇÃO 06 QMEDIAS A (3 639, 4292, 7851) SEÇÃO 06 QALTAS (15557, 1 6000, 20438)
.045 .045
11 0 Legend 11 0 Legend
WS PF 3 WS PF 3
WS PF 2 WS PF 2
WS PF 1 WS PF 1
Ground Groun d
10 0 Bank Sta 10 0 Ban k Sta
90 90
Eleva tion (m)
80 80
70 70
60 60
0 1000 2 000 3000 4 000 50 00 0 1000 2 000 3000 4000 5 000
St ation (m) Station (m)
GRÁFICO 9.5-5 – Seção 06 com vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem direita (a);
vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem esquerda (b); 3.639m3/s,
4.292m3/s e 7.851m3/s (c) e 15.557m3/s e 20.438m3/s(d)
b) Setor Paquiçamba
A análise das seções nesse setor conforme apresentam os GRÁFICO 9.5-4, GRÁFICO 9.5-5
e GRÁFICO 9.5-7 mostra essa margem esquerda, onde está localizada a TI Paquiçamba, com
pequena lâmina d’água nas estiagens e o canal preferencial na margem direita. O GRÁFICO
9.5-7 mostra a presença de uma ilha dividindo as duas margens e que só é inundada para
vazões superiores a 20.000m3/s, permanecendo ainda uma parte alta que não inunda para
nenhuma vazão de cheia.
WS PF 2 WS PF 2
WS PF 1 WS PF 1
10 0 Ground Groun d
Bank Sta Ban k Sta
10 0
90
90
80
Eleva tion (m)
60
70
50
40 60
0 200 4 00 600 8 00 10 00 -100 0 100 200 30 0 400 5 00
St ation (m) Station (m)
SEÇÃO 05 QMEDIAS A (3 639, 4292, 7851) SEÇÃO 05 QALTAS (15557, 1 6000, 20438)
.05 .06
12 0 Legend 12 0 Legend
WS PF 3 WS PF 3
WS PF 2 WS PF 2
11 0 WS PF 1 11 0 WS PF 1
Ground Groun d
Bank Sta Ban k Sta
10 0 10 0
90 90
Eleva tion (m)
70 70
60 60
50 50
40 40
0 10 00 200 0 3000 400 0 5000 60 00 0 10 00 2000 3000 40 00 5000 6 000
St ation (m) Station (m)
WS PF 2
WS PF 1
110 Ground
Bank Sta
100
90
Elevation (m)
80
70
60
50
40
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Station (m)
GRÁFICO 9.5-7 – Seção 05 com vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem direita (a);
vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem esquerda (b); 3.639m3/s,
4.292m3/s e 7.851m3/s (c) e 15.557m3/s e 20.438m3/s(d) e 23.414m3/s e
26.050m3/s (e).
Por meio da modelagem feita para esse trecho é possível concluir ainda que existe velocidade
e profundidade nessas seções em frente à TI Paquiçamba, e que apesar de serem
profundidades pequenas que podem limitar o deslocamento das comunidade indígenas
(informação a ser confirmada nos estudos etnoecológicos), essas variáveis confirmam a
existência de escoamento nesse local, mesmo para a vazão de 700 m3/s.
Nesse setor não foram levantadas seções topobatimétricas pelas dificuldades de acesso a calha
central do rio Xingu e principalmente pela complexidade da modelagem desse trecho que é
formado por pedrais que se espalham por quilômetros de largura.
d) Conclusões
Estudos feitos para vazões de estiagens de 700 m3/s e 970 m3/s mostraram que para todos os
setores as áreas com escoamento são razoavelmente concordantes e, portanto, não existem
diferenças significativas de profundidades e área molhada para essas duas vazões. A análise
da vazão de 970m3/s justifica-se pela proximidade desse valor à vazão mínima média mensal
– 1017m3/s e a comparação com a vazão de 700m3/s foi uma busca por um valor que pudesse
não representar acréscimos de impactos, mas que permitisse alguma vazão no reservatório dos
canais durante as estiagens.
Importa ressaltar que as seções topobatimétricas levantadas são retratos de alguns pontos no
rio e não conseguem representar as partes mais baixas das ilhas por onde a água possa entrar
com vazões menores do que os 18.000m3/s.
Como não existe levantamento de seções no rio Bacajá, o estudo baseou-se na restituição
1:25.000 para avaliar o comportamento do remanso do rio Xingu nesse afluente. Para este
cálculo utilizou-se o fundo do rio Xingu medido na seção7 próxima à foz desse afluente. Na
seção da Cachoeira a 1,5 km da foz considerou-se o fundo na cota 72m (cota do NA para uma
vazão de estiagem no Xingu Q~1.000 m3/s), ou seja a cachoeira aflora nas estiagens.
Além das duas seções mencionadas, foram selecionadas preferencialmente seções ao longo do
rio Bacajá, onde na restituição havia indicação de NA (Nível d’água). O trecho representado
ao longo do curso d’água foi de cerca de 82 km. Para determinar as seções batimétricas no
Bacajá foi considerado que com o nível d’água na cota 77 m na foz do rio Xingu, obtém-se
uma vazão de 13.000 m3/s nesse rio, o que corresponde às vazões que ocorrem no período de
maio a julho. Transferindo isso para o rio Bacajá, tem-se uma vazão da ordem de 600 m3/s.
Partindo do princípio que essa vazão escoa pelo leito menor do rio Bacajá, delimitado na
• Cenário 1 - Bacajá - vazão de 1.465 m3/s (max. média mensal de março). As vazões no rio
Xingu foram fixadas em 1.500 m3/s (Alternativa I da ELB), 2.500 m3/s (Alternativa II da
ELB), 4.000 m3/s, 7.851 m3/s ( MLT) e 23.414 m3/s (Cheia média anual).
• Cenário 2 - Bacajá - vazão de 840 m3/s (média mensal de abril). Verifica-se que para essa
vazão no Bacajá as vazões no rio Xingu podem variar dentro de amplo espectro. Fixou-se,
portanto, as vazões no rio Xingu em 2.000 m3/s, 4.000 m3/s, 7.851 m3/s ( MLT) e 23.414
m3/s (Cheia média anual).
Destaca-se que o modelo usado nesse afluente não foi calibrado pela ausência de dados de
campo, utilizando-se de parâmetros da bibliografia como referência. Os GRÁFICO 9.5-8,
GRÁFICO 9.5-9 e GRÁFICO 9.5-10 mostram o comportamento do Xingu e Bacajá para os
três cenários avaliados em trecho de até 60 km da foz.
A análise dos GRÁFICO 9.5-8, GRÁFICO 9.5-9 e GRÁFICO 9.5-10 permitem concluir
que :
FUNDO Qxingu = 1500 m³/s Qxingu = 2500 m³/s Qxingu = 4000 m³/s Qxingu = 7851 m³/s Qxingu = 23414 m³/s
87
86
85
84
83
82
81
80
79
78
77
76 E
75
74 F
73 1
2
72
3
71 4
5A
70
5B
69 5
68
45000 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0
FUNDO Qxingu = 2000 m³/s Qxingu = 4000 m³/s Qxingu = 7851 m³/s Qxingu = 23414 m³/s
87
86
85
84
83
82
81
80
79
78
77
76 E
75
74 F
73 1
2
72
3
71 4
5A
70
5B
69 5
68
45000 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0
3
GRÁFICO 9.5-9 - Cenário 2 (abril). - rio Bacajá - Vazão de 840 m /s
82
81
80
D
79
78
77
E
76
75
F
74
1
73 2
72 3
4
71
5A
70
5B
69
5
68
60000 55000 50000 45000 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0
Para avaliar a influência dos níveis d’água do rio Xingu nos rios Ituna, Itatá e Bacajaí, foram
utilizados os níveis d’água obtidos nos cálculos de remanso do trecho da Volta Grande.
Para este cálculo determinou-se as seções a partir da cartografia 1:25.000, inferindo-se a cota
do fundo do rio pela seção mais próxima a foz e a partir de níveis d’água, curvas de nível e
pontos cotados da cartografia, considerando que o leito menor do rio seria capaz de escoar as
cheias normais destes rios, definiu-se as seções.
Seguindo os mesmos procedimentos adotados para a escolha dos cenários do rio Bacajá,
elaborou-se cenários de combinação de vazões de cheias, médias e de estiagem no rio Xingu
nos corpos hídricos em pauta.
Eleitos os cenários de cálculo, a partir dos níveis d`água calculados nos estudos de
modelagem do rio Xingu no TVR, para as várias vazões de interesse, foram efetuados os
cálculos de remanso desse afluentes e estabelecida a influência do Xingu em cada um dos
afluentes considerados.
A partir de análise inicial constatou-se que a foz do Ituna encontra-se acima dos níveis d’água
máximos anuais do rio Xingu, razão pela qual foi necessário estudar em detalhes somente os
rios Itatá e Bacajaí, coletando-se elementos suficientes do Ituna para comprovar que níveis
freqüentes do rio Xingu não afetam os níveis d’água deste afluente, consideração que deve ser
reavaliada quando for feito um levantamento em campo das seções topobatimétricas desses
afluentes.
Foram definidos 3 cenários para se verificar os efeitos do Xingu nos igarapés Itatá e Bacajaí
considerando: ocorrência de vazões média mensal de março; vazão média mensal de abril e
vazão mínima média mensal de maio conforme apresentado no QUADRO 9.5-10.
6365-EIA-G91-001b 251 Leme Engenharia Ltda.
QUADRO 9.5-10
Resultados da Influência do rio Xingu nos Afluentes
Vazões
afluentes Vazões Xingu (m3/s)
(m3/s)
Itatá 23.414 7.851 4.000 2.500 2.000 1.800 1.500
95 2 km 1 km n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre
51 2,5 km 1,2 km n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre
2 - 1,5 km 1,2 km 1 km 1 km 1 km 1 km
Bacajaí 23.414 7.851 4.000 2.500 2.000 1.800 1.500
136 10 km 2 km n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre
72 15 km 5 km 3 km 3 km 3 km 3 km 3 km
3 - 9 km 7 km 5 km 5 km 5 km 5 km
Os cenários de vazões muito baixas nos igarapés Itatá (2m3/s) e Bacajaí (3m3/s) com vazões
de cheia no rio Xingu (23.414m3/s) não foram avaliados por não se constituírem em um
cenário factível.
Ainda como forma de se identificar o comportamento do rio Xingu para diversas vazões,
foram realizadas duas vistorias de campo na região do TVR a fim de se observar e registrar,
através de fotografias e levantamento de coordenadas, os ambientes inundados em diferentes
vazões do rio Xingu. Os pontos plotados na FIGURA 9.5-43 são aqueles aos quais se faz
referência neste texto.
As vistorias ocorreram em épocas de vazões de 7.000 m3/s, nos dias 12 e 13 de junho de 2008,
e de vazão de 3.500 m3/s, nos dias 4, 5, 6 e 7 de julho do mesmo ano.
Foram objeto de observação ilhas com partes inundadas, ilhas e margens que estiveram
inundadas recentemente e secaram com a redução natural da vazão, pedrais, locais com
exposição de areia e planícies aluviais. Algumas áreas também foram vistoriadas por terra
como, por exemplo, o interior das ilhas, buscando identificar locais onde havia acúmulos de
água sem conexão com o rio. Para vazões por volta de 7.000 m3/s, foram encontradas
algumas áreas de ilhas com água e os pedrais completamente submersos (FIGURA 9.5-44).
As margens do rio Xingu apresentavam marcas de água recente (FIGURA 9.5-45), mas não
foi encontrada nenhuma inundação de margem, o que ratifica a informação da modelagem
matemática que mostra inundações de margem somente para vazões de cheias (23.414m3/s).
Planícies inundadas em proporções maiores foram encontradas nos afluentes, conforme
FIGURA 9.5-46.
6365-EIA-G91-001b 252 Leme Engenharia Ltda.
FIGURA 9.5-43 – Inspeção de Campo no Trecho de Vazão Reduzida do Rio Xingu
Na segunda vistoria, a presença de ilhas com partes inundadas não foi muito comum, sendo
normalmente observada a região de pedrais com vegetação e areia, ou bordas de ilhas
alagadas (FIGURA 9.5-47). Devido à densidade da vegetação, em alguns pontos não foi
possível determinar até onde a água avançava em direção ao interior da ilha, mas em pontos
onde esta verificação foi possível, pode-se inferir que para vazões da ordem de 3.500 m3/s a
água penetra entre 0,5 a 2 m sob a vegetação de algumas ilhas. Quanto às margens, o processo
se repetiu quando da primeira vistoria, somente com maior intensidade (FIGURA 9.5-48).
FIGURA 9.5-47- Área de borda de ilha com água avançando sob a vegetação, em direção ao
interior da ilha (ponto 439, setor São Pedro, vazão de 3.500 m3/s)
A partir da vistoria por terra, em alguns pontos foi possível verificar a presença de água no
interior de certas ilhas, entretanto o que se observou muitas vezes foram canais secos
(FIGURA 9.5-49) e, quando havia acúmulos de água, estes eram pequenos, pouco profundos
e não conectados com o canal do rio (FIGURA 9.5-50). Foi verificado em um local
(FIGURA 9.5-51) avanço da água do rio sob a vegetação formando um lago também pequeno
e pouco profundo, porém neste caso ele ainda estava conectado com o rio. O solo ainda úmido
e o relevo relativamente plano entre as margens da ilha e o interior desses canais foi uma
evidência de que com vazões maiores essas áreas são alagadas (FIGURA 9.5-52).
FIGURA 9.5-49 - Canal seco em ilha - segundo barqueiro é um canal de piracema (ponto
186, Setor São Pedro, vazão de 3.500 m3/s)
FIGURA 9.5-51 - Área alagada no interior de uma ilha. palmeiras ao fundo (p) estavam nas
margens da ilha; ainda havia conexão com o canal do rio (ponto 182, setor
Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 3.500 m3/s)
6365-EIA-G91-001b 257 Leme Engenharia Ltda.
s
s s
FIGURA 9.5-52 - Solo bastante úmido (s), em ilha, indicando secagem recente (ponto 182,
setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 3.500 m3/s)
A FIGURA 9.5-53 (ponto 021) ilustra um local no interior de uma ilha identificado por
pescadores como local de piracema, onde foram encontrados alguns peixes e ariranhas.
Durante o percurso pela ilha verificou-se a presença de pequenos acúmulos de água e áreas de
canal com solo bem úmido predominando sobre áreas de solo seco, evidenciando secagem
recente.
FIGURA 9.5-53- Lagoa no interior da ilha, profunda e não conectada com o canal do rio na
vazão de 3.500 m3/s (entre pontos 021 e 022, setor São Pedro)
Comparando a ocorrência de áreas com exposição de pedrais e de areia entre as duas vistorias,
percebeu-se que a exposição desses locais foi bem maior na vazão mais baixa, chegando
inclusive a dificultar a navegação, sendo criadas corredeiras.
FIGURA 9.5-54 - Área de pedrais com areia, em ilha, ainda com pequenos acúmulos de
água, não conectados com o rio (ponto 188, setor São Pedro, vazão de
3500m3/s)
FIGURA 9.5-55 - Área de pedrais e areia (ponto 033, setor Paquiçamba, vazão de 3500m3/s)
FIGURA 9.5-57 - Vegetação arbustiva em área de pedrais no rio Xingu (ponto 479, setor
Paquiçamba, vazão de 3, 500m3/s)
Nos afluentes visitados (Bacajá, Bacajaí, Ituna e Itatá) a presença de água alagando as
margens foi mais comum do que no rio Xingu. A navegação foi mais fácil no rio Bacajá,
devido aos maiores volume de água e profundidades da lâmina d´água. Neste rio, chegou-se a
percorrer uma distância aproximada de 10 km até o ponto 077. Nos igarapés Ituna e Bacajaí e
no igarapé Itatá, a distância máxima percorrida foi de aproximadamente 5 km, até os pontos
133, 156 e 114, respectivamente.
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