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SUMÁRIO

9 ANÁLISE AMBIENTAL INTEGRADA..................................................................... 6


9.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A COMPARTIMENTAÇÃO
DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA ................................................................................. 6
9.2 ANÁLISE INTEGRADA DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA REGIONAL - AAR... 14
9.2.1 Compartimento Alto Xingu ........................................................................................ 16
9.2.1.2 Unidade de Paisagem Alto Xingu Pecuária................................................................. 20
9.2.1.3 Unidade de Paisagem Alto Xingu Agrícola ................................................................ 21
9.2.1.4 Unidade de Paisagem Alto Xingu Extrativismo.......................................................... 23
9.2.1.5 Unidade de Paisagem Parque Indígena do Xingu ....................................................... 24
9.2.2 Compartimento Médio Xingu...................................................................................... 29
9.2.2.2 Unidade de Paisagem Formações da Serra do Cachimbo ........................................... 30
9.2.2.3 Unidade de Paisagem Florestas do Iriri....................................................................... 30
9.2.2.4 Unidade de Paisagem Florestas do Bacajá .................................................................. 33
9.2.2.5 Unidade de Paisagem Florestas do Rio Fresco............................................................ 34
9.2.2.6 Unidade de Paisagem Floresta e Pecuária ................................................................... 35
9.2.3 Compartimento Baixo Xingu ...................................................................................... 41
9.2.4 Considerações Finais sobre a Análise Integrada da Bacia do rio Xingu .................... 48
9.3 ANÁLISE INTEGRADA DA ÁREA DE INFLUÊNCIA INDIRETA-AII .............. 54
9.3.1 Compartimento Xingu/Bacajá..................................................................................... 57
9.3.2 Compartimento Transamazônica e PA 415 ................................................................ 70
9.3.3 Ria do Xingu ............................................................................................................... 81
9.4 ANÁLISE INTEGRADA DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DIRETA – AID E
DIRETAMENTE AFETADA – ADA........................................................................ 94
9.4.1 Reservatório do Xingu ................................................................................................ 98
9.4.2 Reservatório dos Canais............................................................................................ 131
9.4.3 Trecho de Restituição de Vazão................................................................................ 145
9.4.4 Trecho de Vazão Reduzida ....................................................................................... 160
9.5 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL INTEGRADO DO TRECHO DE VAZÃO
REDUZIDA – TVR .................................................................................................. 175
9.5.1 Caracterização Física do TVR .................................................................................. 175
9.5.2 Levantamentos de Campo – Procedimentos Metodológicos .................................... 180
9.5.2.1 Levantamentos Topobatimétricos ............................................................................. 180
9.5.2.2 Levantamentos Limnológicos e de Qualidade da Água ............................................ 181
9.5.2.2.1Levantamentos de Ictiofauna.................................................................................... 186
9.5.2.3 Levantamentos Socioeoconômicos ........................................................................... 188
9.5.3 Caracterização Socioambiental Integrada do TVR ................................................... 190
9.5.3.1 Setor São Pedro ......................................................................................................... 190
9.5.3.2 Setor Ilha da Fazenda/Ressaca .................................................................................. 194
9.5.3.3 Setor Paquiçamba ...................................................................................................... 208
9.5.4 Caracterização Biótica Integrada para o TVR (Aspectos Ecológicos Associados à
Dinâmica Hídrica Sazonal) ....................................................................................... 214
9.5.4.1 Considerações Gerais ................................................................................................ 216
9.5.4.2 Alimentação............................................................................................................... 217
9.5.4.3 Reprodução................................................................................................................ 218
9.5.4.4 Ictioplâncton .............................................................................................................. 218
9.5.4.5 Migrações e Piracema................................................................................................ 219

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9.5.4.6 Espécies da fauna associada aos ambientes de pedrais ............................................. 221
9.5.5 Caracterização Limnológica e da Qualidade das Águas ........................................... 222
9.5.6 Identificação dos Principais Canais de Escoamento da Água................................... 224
9.5.6.1 Metodologia............................................................................................................... 225
9.5.6.2 Resultados e Discussões ............................................................................................ 227
9.5.7 Modelagem Matemática............................................................................................ 241
9.5.7.1 Modelagem Matemática do TVR - rio Xingu ........................................................... 241
9.5.7.2 Modelagem Matemática do rio Bacajá ..................................................................... 248
9.5.7.3 Modelagem Matemática dos Igrapés Ituna, Itatá e Bacajaí....................................... 251
9.5.8 Informações Obtidas nos Levantamentos de Campo................................................ 252
9.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................262

LISTA DAS FIGURAS

FIGURA 9.1-1 - Atributos do meio físico integrados na compartimentação da Área de


Abrangência Regional - AAR ..................................................................................... 9
FIGURA 9.1-2 - Uso do solo e cobertura vegetal .................................................................................. 11
FIGURA 9.1-3 - Evolução do processo de desmatamento na bacia do rio Xingu ....................... 12
FIGURA 9.1-4 -Unidades de conservação, terras indígenas e áreas prioritárias .......................... 13
FIGURA 9.2-1 - Compartimentos e unidades de paisagem ................................................................ 15
FIGURA 9.3-1 - Atributos do meio físico integrados na compartimentação da Área de
Influencia Indireta - AII.............................................................................................. 55
FIGURA 9.3-2 - Compartimentos da Área de Influência Indireta - AII ......................................... 56
FIGURA 9.3-3 - (a) Floresta Ombófila Aberta com palmeiras, na margem esquerda do rio
Xingu, na região do entorno da T.I Paquiçamba (b) Floresta Ombrófila
Aberta com cipó ............................................................................................................ 59
FIGURA 9.3-4 - Planícies aluviais nas margens do rio Bacajá ......................................................... 62
FIGURA 9.3-5 - Área de Afloramento Rochoso no rio Xingu .......................................................... 65
FIGURA 9.4-1 - Compartimentos Ambientais da AID/ADA ............................................................ 97
FIGURA 9.4-2 - Evolução do desflorestamento entre 2000 e 2006 ................................................. 99
FIGURA 9.4-3 - Relevo de colina com pastagem plantada no ........................................................ 131
FIGURA 9.4-4 - Euterpe oleracea na região do Reservatório dos Canais .................................... 133
FIGURA 9.4-5 - Grau de prioridade dos fragmentos florestais na região .................................... 133
FIGURA 9.4-6 - Grau de prioridade dos fragmentos florestais na ................................................. 134
FIGURA 9.5-1 - Compartimentos do TVR............................................................................................ 179
FIGURA 9.5-2 - Atividades Indígenas no TVR ................................................................................... 189
FIGURA 9.5-3 - Atividades domésticas realizadas diariamente no rio Xingu (Fotografia:
Roberto E. Santo) ....................................................................................................... 192
FIGURA 9.5-4 - Ambiente de floresta aluvial inundado no interior .............................................. 194
FIGURA 9.5-5 - Rua Principal da Ressaca, ao longo da qual estão ............................................... 195
FIGURA 9.5-6 - Equipamento de telefonia em instalação no Garimpo ........................................ 196
FIGURA 9.5-7 - Localidade de Garimpo do Galo - atividade de garimpo .................................. 197
FIGURA 9.5-8 - Captura de peixes ornamentais, nas proximidades.............................................. 198
FIGURA 9.5-9 - Transporte Escolar após o fim do período de aula .............................................. 199
FIGURA 9.5-10 - Escola de Ensino Fundamental e Infantil na Ilha da Fazenda. (Fotografia:
Morgana Almeida) ..................................................................................................... 199
FIGURA 9.5-11 - Poço para a bastecimento de água na Ressaca, vendo-se em primeiro plano
os tubos que conduzem a água até as moradias ................................................. 200
FIGURA 9.5-12 - Poço para abastecimento de água na Ilha da Fazenda ..................................... 201

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FIGURA 9.5-13 - Imóvel rural na margem direita do rio Xingu, com grande área
transformada em pastagem, no setor Ilha da Fazenda/Ressaca do TVR .... 202
FIGURA 9.5-14 - Local de desova de Podocnemis unifilis (tracajá). (Foto: Juarez Pezutti).. 203
FIGURA 9.5-15 - Distribuição espacial e número de ninhos de Podocnemis expansa
monitorados (Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e
Crocodilianos). ............................................................................................................ 204
FIGURA 9.5-16 - Distribuição espacial e número de ninhos de Podocnemis unifilis
monitorados (Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e
Crocodilianos). ............................................................................................................ 204
FIGURA 9.5-17 - Principais ambientes de caça e pesca no TVR. Legenda: 01- área do
barramento; 02- Rio Bacajá; 03 - Rio Bacajaí; 04-Igarapé do Itatá; 05-
Igarapé do Ituna; 06-Comunidade da Ilha da Fazenda; 07-Comunidade da
Ressaca; 08-Região do Caituca; 09-Área do Porfírio; 10-Área de Pasto
(Entre a comunidade do Galo e Verena); 11-Área de extração de Açaí,
(Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e Crocodilianos) .............. 205
FIGURA 9.5-18 - Locais de pesca de quelônios utilizados pelos comunitários da ilha da
Fazenda. Legenda: 01 - Ilha da Fazenda; 02- Região do furo do bananal;
03-Boiadouro do Bananal; 04-Furo do Meio; 05-Boiadouro do Furo do
Meio; 06-Furo do Mendes; 07-Praia Grande; 08- Ilha da Praia Grande; 09-
Boiadouro do Itatá; 10-Boiadouro do Zé Guilherme; 11-Boiadouro do João
Machado; 12- Região do Arroz Cru; 13-Ilha do Pimental; 14-Região do
Itaboca; 15-Ilha do Papagaio; 16-Rio Bacajá; 17-Ilha do Limão; 18-Ilha da
Bela Vista; 19- Região de terra firme; 20- Igarapé do Itatá; 21-Igarapé do
Ituna, (Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e Crocodilianos) .. 206
FIGURA 9.5-19 - Ninhos de tracajá, cujos ovos foram coletados por moradores da região.
(Foto: Juarez Pezutti) ................................................................................................ 207
FIGURA 9.5-20 - Cachoeiras do rio Xingu, habitats exclusivos das espécies da família
Podostemaceae, com destaque ao fundo de representantes das Formações
Pioneiras (Foto: Leandro Ferreira - MPEG). ...................................................... 211
FIGURA 9.5-21 - Ciclo de vida de Mourera fluviatilis Aublet em rochas das corredeiras do
rio Xingu. O ciclo vegetativo começa na vazante do rio expões as rochas (A
e B); a floração ocorre posteriormente (C) e a frutificação quando o nível
do rio encontra-se baixo e as rochas já expostas (D). (Foto: Leandro
Ferreira - MPEG). ...................................................................................................... 212
FIGURA 9.5-22 - Vista do rio Xingu na frente do CNEC, na Volta Grande, exemplificando os
ambientes disponívies, tais como ilhas, corredeiras, canais anastomosados e
floresta aluvial. Fotografia: Tommaso Giarrizzo .............................................. 215
FIGURA 9.5-23 - Pacu (Myleus sp) e aracus (Leporinus spp) dentre os blocos rochosos do rio
Xingu, na Volta Grande (Fotografias: Victoria Isaac e Tommaso Giarrizzo)
......................................................................................................................................... 215
FIGURA 9.5-24- Podostomáceas (direita) expostas em corredeiras da VG, periliton (meio) e
esponjas (direita) submersos, que proliferam nos blocos rochosos dos
pedrais do rio Xingu. Fotografias: Tommaso Giarrizzo, ................................ 215
FIGURA 9.5-25 - Exemplar de Hypancistrus zebra capturado por um pescador ornamental no
trecho pouco acima das grandes cachoeiras de Belo Monte. Fotografia
Tommaso Giarrizzo. .................................................................................................. 216
FIGURA 9.5-26 - Área e extensão do trecho de vazão reduzida..................................................... 229
FIGURA 9.5-27 - Canais de escoamento superficial do rio Xingu (em azul) em época de seca
na região dos pedrais (tons de rosa na imagem) - visão montante para
jusante. ........................................................................................................................... 230
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FIGURA 9.5-28 - Cachoeira Grande situada no final da região com predomínio dos pedrais
no TVR .......................................................................................................................... 231
FIGURA 9.5-29 - Conjunto de ilhas aluviais que foram o setor São Pedro na margem
esquerda do rio Xingu (visão jusante para montante)...................................... 232
FIGURA 9.5-30 - Vila da Ilha da Fazenda no período de cheia do rio Xingu ............................ 233
FIGURA 9.5-31 - Vila da Ilha da Fazenda no período de seca do rio Xingu .............................. 234
FIGURA 9.5-32 - Vila da Ressaca no período de cheia do rio Xingu ........................................... 234
FIGURA 9.5-33 - Vila da Ressaca no período de seca do rio Xingu ............................................. 235
FIGURA 9.5-34 - Pedrais (ton de rosa) e ilhas aluviais (verde) no setor paquiçamba (Visão
montante para jusante) .............................................................................................. 235
FIGURA 9.5-35 - Aldeia Paquiçamba no período de cheia do rio Xingu .................................... 236
FIGURA 9.5-36 - Aldeia Paquiçamba no período de seca do rio Xingu ...................................... 236
FIGURA 9.5-37 - Trecho final de pedrais do setor jusante do rio Bacajá .................................... 237
FIGURA 9.5-38 - Visão aérea do final dos pedrais e início da bacia sedimentar do Amazonas.
......................................................................................................................................... 238
FIGURA 9.5-39 - Visão aérea do final dos pedrais com destaque para o Furo do Rio Xingu e
a região do entorno da Cachoeira Grande. .......................................................... 238
FIGURA 9.5-40 - Visão aérea do final dos pedrais (continuação da margem direita da Foto
8.35)................................................................................................................................ 239
FIGURA 9.5-41 - Detalhe da vegetação dos pedrais inundada numa vazão de 21.195 m3/s . 239
FIGURA 9.5-42 - Detalhe da local de restituição da vazão numa vazão de 21.195 m3/s ....... 240
FIGURA 9.5-43 – Inspeção de Campo no Trecho de Vazão Reduzida do Rio Xingu ............. 253
FIGURA 9.5-44 - Pedrais submersos na vazão de 7.000 m3/s (ponto 469, setor Ressaca/Ilha
da Fazenda) .................................................................................................................. 254
FIGURA 9.5-45 - Marcas de níveis d’água em palmeiras, próximo ao Reservatório dos Canais
(ponto no setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 7.000 m3/s).................. 254
FIGURA 9.5-46 - Planície inundada no rio Bacajá na vazão de 7.000 m3/s (ponto 474) ....... 255
FIGURA 9.5-47- Área de borda de ilha com água avançando sob a vegetação, em direção ao
interior da ilha (ponto 439, setor São Pedro, vazão de 3.500 m3/s) ............ 255
FIGURA 9.5-48 - Margem esquerda do rio Xingu, área não alagada (ponto 042, setor São
Pedro, vazão de 3.500 m3/s) ................................................................................... 256
FIGURA 9.5-49 - Canal seco em ilha - segundo barqueiro é um canal de piracema (ponto 186,
Setor São Pedro, vazão de 3.500 m3/s)................................................................ 256
FIGURA 9.5-50 - Área em ilha com acúmulos de água, pouco profundos e não conectados
com o canal do rio (ponto 173, setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de
3.500 m3/s) ................................................................................................................... 257
FIGURA 9.5-51 - Área alagada no interior de uma ilha. palmeiras ao fundo (p) estavam nas
margens da ilha; ainda havia conexão com o canal do rio (ponto 182, setor
Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 3.500 m3/s)................................................ 257
FIGURA 9.5-52 - Solo bastante úmido (s), em ilha, indicando secagem recente (ponto 182,
setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 3.500 m3/s) ..................................... 258
FIGURA 9.5-53- Lagoa no interior da ilha, profunda e não conectada com o canal do rio na
vazão de 3.500 m3/s (entre pontos 021 e 022, setor São Pedro) .................. 258
FIGURA 9.5-54 - Área de pedrais com areia, em ilha, ainda com pequenos acúmulos de água,
não conectados com o rio (ponto 188, setor São Pedro, vazão de 3500m3/s)
......................................................................................................................................... 259
FIGURA 9.5-55 - Área de pedrais e areia (ponto 033, setor Paquiçamba, vazão de 3500m3/s)
......................................................................................................................................... 259
FIGURA 9.5-56 - Área de pedrais no rio Xingu onde, devido a menores vazões, formam-se
corredeiras (ponto 040, setor Paquiçamba, vazão de 3.500 m3/s) ............... 260
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FIGURA 9.5-57 - Vegetação arbustiva em área de pedrais no rio Xingu (ponto 479, setor
Paquiçamba, vazão de 3, 500m3/s) ....................................................................... 260
FIGURA 9.5-58 - Podostemáceas em corredeiras no rio Xingu - cachoeira do Landi (ponto
164, setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 3. 500m3/s)............................ 261

LISTA DOS QUADROS

QUADRO 9.1-1 Correlação entre os compartimentos de análise integrada da AAR, AII e


AID/ADA...................................................................................................... 8
QUADRO 9.2-1 Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Alto Rio
Xingu........................................................................................................... 26
QUADRO 9.2-2 Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Médio Rio
Xingu........................................................................................................... 38
QUADRO 9.2-3 Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Baixo Rio
Xingu........................................................................................................... 46
QUADRO 9.3-1 Principais Características dos Compartimentos Ambientais da Área de
Influência Indireta -AII ............................................................................... 88
QUADRO 9.4-1 Relação entre os Compartimentos Ambientais e Situação Relativa dos
Municípios da AID/ADA............................................................................ 96
QUADRO 9.4-2 Compartimentos Ambientais do Empreendimento ..................................... 161
QUADRO 9.5-1 Compartimentos do TVR Caracterização dos Setores do Trecho de Vazão
Reduzida (TVR)........................................................................................ 177
QUADRO 9.5-2 Pontos de Amostragem Limnológicos e de Qualidade das Águas no TVR 183
QUADRO 9.5-3 Parâmetros físicos e químicos analisados das águas do Estudo de Qualidade
das Águas Superficiais do AHE Belo Monte/PA ..................................... 185
QUADRO 9.5-4 Parâmetros físicos e químicos analisados dos sedimentos do Estudo de
Qualidade .................................................................................................. 186
QUADRO 9.5-5 Parâmetros biológicos analisados no Estudo de Qualidade das Águas
Superficiais ............................................................................................... 186
QUADRO 9.5-6 Número de Coletas de Ictiofauna, por Período, nos Ambientes do TVR ... 187
QUADRO 9.5-7 Utilização de ambientes sazonalmente alagados por quelônios aquáticos na
região da Volta Grande do Xingu, de acordo com a percepção de
pescadores (cores mais escuras indicam os meses mais mencionados para
cada fenômeno). ........................................................................................ 208
QUADRO 9.5-8 Imagens Selecionadas para o Estudo do Comportamento Temporal e
Espacial da Calha e dos Canais de Escoamento do rio Xingu em Regimes
Hidrológicos de Seca e Vazante ............................................................... 226
QUADRO 9.5-9 Seções topobatimétricas por setores do TVR.............................................. 241
QUADRO 9.5-10 Resultados da Influência do rio Xingu nos Afluentes............................... 252

LISTA DE ANEXOS

Anexo 9.5-1 - Técnicas de Sensoriamento Remoto para Mapeamento e Análise Temporal e


Espacial de Cursos D’água e de Ambientes Aquáticos

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9 ANÁLISE AMBIENTAL INTEGRADA

9.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A


COMPARTIMENTAÇÃO DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA

A análise ambiental integrada no contexto deste EIA objetiva caracterizar as áreas de


influência do AHE Belo Monte, tendo como elemento estruturador a análise das inter-relações
dos atributos que compõem o quadro ambiental dessas áreas; busca-se, ainda, identificar as
fragilidades e restrições atuais assim como as tendências de evolução da qualidade ambiental
da região.

Considerando as diferentes áreas de influência estudadas, essa análise partiu de informações


macro-regionais para identificar grandes compartimentos territoriais, que apresentam
características regionais semelhantes, no caso da Área de Abrangência Regional – AAR, para
se chegar a um aprofundamento das informações condizente com os levantamentos de dados
primários, realizados para a AID e ADA do empreendimento.

A compartimentação das áreas de influência do empreendimento, AAR, AII e AID/ADA,


baseou-se no conceito de paisagem, entendida como representativa da dinâmica dos
elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo uns com os outros, determinam um
conjunto único, em contínua evolução em uma determinada porção do espaço. Uma unidade
de paisagem deve buscar uma aproximação com a realidade geográfica, se apoiando em
atributos físico capazes de delimitar espaços que guardam relativa homogeneidade em relação
aos elementos que as compõem. É relativa porque depende do nível de detalhamento em que
se processa a análise, variando, conforme a escala de trabalho adotada.

Assim, uma bacia hidrográfica com as dimensões territoriais da drenada pelo rio Xingu
(509.000km2) embora constitua uma unidade territorial, contém heterogeneidades locais,
representada pela fisiografia de seu território, pelas formas de uso que se estabelecem dentro
de seus limites e pelos diferentes biomas que ela encerra. De forma similar, as áreas propostas
como AII e AID/ADA do empreendimento são porções territoriais que em escala regional
apresentam características semelhantes; no entanto, na medida em que se amplia o foco, as
diversidades são realçadas, podendo-se identificar unidades cada vez menores, porém, com
maior grau de homogeneidade.

A identificação de unidades e subunidades contidas dentro de um território é um exercício


necessário para a compreensão das dinâmicas que se estabelecem entre seus elementos em
função das intervenções previstas, já que áreas distintas tenderão a apresentar respostas
também diferenciadas a uma mesma pressão de uso.

Esse processo de análise vem ao encontro da diretriz proposta no Plano Amazônia


Sustentável-PAS, em sua edição de maio de 2008, de que uma estratégia de desenvolvimento
consistente para a Amazônia precisa apropriar a diversidade ambiental, econômica, social,
cultural e política, refletida nas unidades territoriais, como elemento central de organização
das ações, sob pena de não dialogar concretamente com as forças sociais atuantes em cada
contexto desse vasto território.

Para a identificação de espaços territoriais homogêneos a abordagem metodológica geral


privilegiou o cruzamento dos atributos ambientais selecionados integrando-os em Sistema
Geográfico de Informações – SIG. Essa compartimentação física das áreas de influência

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resultou em unidades espaciais mais detalhadas na medida em que se amplia a escala de
análise. O QUADRO 9.1-1 mostra a correlação entre os compartimentos ambientais definidos
para as diversas áreas de influência estudadas. Observa-se que as áreas de influência mais
relacionadas ao empreendimento estão localizadas ao norte da bacia, entre os trechos
correspondentes ao médio/baixo curso do rio Xingu.

Na caracterização das unidades físico-territoriais para a análise integrada da AAR,


correspondente ao espaço territorial drenado pela bacia do rio Xingu foram utilizados os
procedimentos metodológicos e a divisão espacial dos componentes-síntese (ecossistema
terrestre, ecossistema aquático, modos de vida, organização territorial e base econômica)
realizada pelos estudos ambientais da Atualização do Inventário Hidrelétrico da Bacia
Hidrográfica do Rio Xingu (ELETROBRÁS, 2007, Apêndice A).

A partir desse referencial buscou-se uma etapa de maior integração, agregando os resultados
apresentados para cada componente-síntese em uma mesma base espacial. Nesse sentido, para
a integração da compartimentação territorial da bacia adotou-se uma primeira divisão
utilizando elementos do meio físico natural. Essa subdivisão corresponde a diferentes
características geológicas, pedológicas e de modelado do terreno, conforme pode ser
visualizado na FIGURA 9.1-1.

A superposição desses temas, utilizando técnicas de geoprocessamento, resultou na


identificação de três grandes compartimentos, os quais apresentam correspondência com a
divisão utilizada no planejamento dos recursos hídricos, uma vez que representam distinções
físicas capazes de subdividir o rio Xingu em alto, médio e baixo curso.

Esses grandes compartimentos foram posteriormente subdivididos em unidades menores, que


agregam maior nível de detalhamento dos diferentes ambientes, representados pelos
ecossistemas regionais e pelas formas de ocupação antrópica sobre esses sistemas naturais,
refletindo, portanto, Unidades de Paisagem físico-bióticas e socioeconômicas.

Nessa subdivisão dos compartimentos em unidades menores adotou-se como base a divisão
proposta para o ecossistema terrestre na Atualização do Inventário Hidrelétrico da Bacia do
rio Xingu (ELETROBRÁS, 2007).

Como principal elemento definidor destas unidades, dentro de cada compartimento, levou-se
em especial consideração os domínios vegetacionais uma vez que eles refletem as condições
da biota local, além das formas de ocupação, resultantes da dinâmica das atividades
antrópicas, responsável pela transformação das paisagens naturais da região.

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QUADRO 9.1-1
Correlação entre os compartimentos de análise integrada da AAR, AII e AID/ADA
Compartimentos da AAR Compartimentos da AII Compartimentos da AID/ADA

Cabeceiras dos Formadores


do Rio Xingu

Alto Xingu Agrícola


Unidades

Alto
Xingu Alto Xingu Pecuária

Alto Xingu Extrativismo

Alto Xingu Parque Indígena


do Xingu

Formações da Serra do
Cachimbo

Florestas do Rio Fresco


Unidades

Médio Floresta e Pecuária


Xingu

Florestas do Rio Iriri

Florestas do Rio Bacajá


Xingu/Bacajá Reserva- Reserva-
TVR
tório do tório dos
Xingu Canais
TRV
Transamazônica
Transamazônica/PA-415
Unidades

Baixo
Xingu
Ria do Xingu
Ria do Xingu

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FIGURA 9.1-1 – Atributos do meio físico integrados na compartimentação da Área de Abrangência Regional - AAR

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Em se tratando dessa bacia hidrográfica há que se ressaltar os vários fatores de pressão sobre
os ecossistemas que resultaram em extensos e contínuos desflorestamentos nas bordas dessa
bacia. As dificuldades de controle dessas ações predatórias estão muito relacionadas à
carência na regularização fundiária, a grilagem de terras públicas e aos vetores de penetração
nas áreas florestais, criados pela abertura de vias de acesso. É reconhecido que a derrubada se
concentra em uma faixa de no máximo 100 km a partir das estradas. Destacam-se, nesta
bacia, a rodovia BR-230 (Transamazônica), ao norte, que determina intensa ocupação com
padrão de desflorestamento em “espinha de peixe”, a PA-150, situada a leste, a BR-163, a
oeste, bem como a BR-080, que cruza a área de estudo ao sul, ligando São José do Xingu a
Peixoto Azevedo.

Em contraposição a esse quadro de avanço da ação antrópica, tem-se que grande parte do
território da bacia é constituída de áreas legalmente protegidas, seja como Unidades de
Conservação, seja como Terras Indígenas.

A identificação das unidades de paisagem resultou da análise conjunta dos aspectos


ambientais relativos à ocupação do espaço regional representados nas ilustrações descritas a
seguir. A FIGURA 9.1-2 mostra a distribuição das tipologias vegetacionais e as principais
formas de uso e ocupação do solo; a FIGURA 9.1-3 representa as frentes de ocupação e a
evolução do processo de desmatamento na bacia (imagens do projeto PRODES) e a FIGURA
9.1-4 mostra a distribuição das áreas legalmente protegidas na bacia do rio Xingu, além das
Áreas Prioritárias para Conservação, indicadas pelo PROBIO.

Os demais aspectos dos ecossistemas físico e aquático e do meio socioeconômico e cultural


serviram como elementos descritores das unidades de paisagem identificadas, tendo sido
reunidos em quadros-síntese, que descrevem as principais características de cada
compartimento ambiental e suas respectivas unidades de paisagem.

A compartimentação da área correspondente à AII do empreendimento seguiu os mesmos


critérios utilizados para a identificação de unidades da AAR, ou seja, foram utilizados como
elementos delimitadores desses compartimentos a integração de fatores físicos, biótico e
socioeconômico, este último representado pelo uso e ocupação antrópica. Como esperado,
foram identificados três compartimentos, que guardam grande correspondência com as
unidades de paisagem da AAR, conforme pode ser visto no QUADRO 9.1-1.

No caso da compartimentação da AID/ADA, optou-se por uma divisão baseada nos sítios de
intervenção do empreendimento, uma vez que eles representam os locais onde incidirão os
principais impactos ambientais tanto na fase construtiva do empreendimento quanto nas
subseqüentes. Ainda no QUADRO 9.1-1 pode-se ver que os quatro compartimentos que
compõem esta área de influência estão correlacionados aos trechos Médio e Baixo Xingu,
correspondendo à zona de transição de domínios bem marcados por características estruturais,
topográficas e hidrológicas que, em conjunto, definem o potencial hidroenergético do AHE
Belo Monte.

6365-EIA-G91-001b 10
FIGURA 9.1-2 – Uso do solo e cobertura vegetal

6365-EIA-G91-001b 11 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.1-3 – Evolução do processo de desmatamento na bacia do rio Xingu

6365-EIA-G91-001b 12 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.1-4 –Unidades de conservação, terras indígenas e áreas prioritárias

6365-EIA-G91-001b 13 Leme Engenharia Ltda.


9.2 ANÁLISE INTEGRADA DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA REGIONAL -
AAR

A FIGURA 9.2-1 mostra a compartimentação da bacia hidrográfica do rio Xingu em Alto,


Médio e Baixo curso e a subdivisão desses compartimentos em Unidades de Paisagem,
seguindo os procedimentos metodológicos explicitados no item anterior.

Os principais atributos e condicionantes sócio-ambientais que caracterizam as unidades são


apresentados em quadros-síntese, com o intuito de facilitar a correlação entre esses atributos e
entre as diversas unidades de paisagem, permitindo análises prospectivas do comportamento
desses atributos em termos de tendência de evolução natural da região.

No caso da AAR, cuja caracterização é baseada em dados secundários (especialmente da


Atualização do Inventário Hidrelétrico da Bacia do rio Xingu, ELETROBRÁS, 2007), é
natural que as informações sobre os diversos aspectos ambientais que caracterizam um
determinado território apresentem níveis de detalhamento diferenciados. Esse fato é menos
relevante no caso do ecossistema terrestre, cujos atributos são normalmente objetos de
mapeamentos regionais em escalas de representação variadas. Para o ecossistema aquático,
além do fato de que seus atributos estão correlacionados ao sistema de fluxo das águas, que
não necessariamente encontra correspondência com uma divisão territorial especifica, o baixo
nível de conhecimento de seus atributos na região somente permitem inferências regionais.

Para a caracterização limnológica da bacia foi utilizado o estudo realizado pela


ELETROBRÁS (op.cit.) onde se procurou ressaltar a variação espacial ao longo do rio Xingu,
as diferenças entre os tributários e seu comportamento sazonal, buscando estabelecer um
quadro geral para grandes áreas, inferidas a partir das características bióticas, geológicas e
fisiográficas. A partir das informações referentes à demografia e ao uso atual das terras
procurou-se realizar uma análise da bacia que refletisse a situação atual da qualidade da água.
Foram utilizados dados da literatura quanto à produção de carga de nutrientes (nitrogênio e
fósforo), por habitante e por municipio, e coeficientes de exportação de nitrogênio e fósforo,
pelos ambientes naturais e pela atividade agropecuária. A disponibilidade de nitrogênio e de
fósforo para o ambiente aquático está relacionada ao processo de eutrofização dos corpos
d’água.

Para a ictiofauna, a partir dos dados disponíveis procurou-se ressaltar a riqueza de espécies na
bacia, os ambientes que favorecem os endemismos e as espécies reofílicas, tais como
corredeiras e cachoeiras, e aqueles importantes para a reprodução e alimentação, como as
várzeas e as lagoas marginais. Levou-se em conta também as áreas consideradas prioritárias
para a conservação (MMA, 2007), tanto por sua riqueza faunística quanto pelo grau de
desconhecimento, no que se refere à sua composição zoológica.

No que se refere aos atributos socioeconômicos, considerou-se os procedimentos adotados na


Atualização do Inventário Hidrelétrico da Bacia do rio Xingu (ELETROBRÁS, 2007),
enfocando as porções dos territórios municipais abrangidos pela bacia, complementando-as
com informações levantadas na caracterização socioeconômica da AAR deste EIA. Desta
forma, foram incorporados na presente análise os municípios de Pacajá, Placas e Uruará, que
embora não possuam território na bacia, estão localizados no eixo de rodovia Transamazônica
e próximos à área prevista para implantação do AHE Belo Monte, podendo vir a sofrer
influência indireta do mesmo.

6365-EIA-G91-001b 14 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.2-1 – Compartimentos e unidades de paisagem

6365-EIA-G91-001b 15 Leme Engenharia Ltda.


9.2.1 Compartimento Alto Xingu

Dentro desse compartimento há que se distinguir a parte sul, região de domínio das savanas
com presença de topografia mais elevada, variando entre 400 e 750m, onde ocorrem
associações de terrenos caracterizados por colinas, rampas e morros residuais. A litologia
predominante corresponde a arenitos, siltitos e folhelhos, que sustentam Latossoslos e
Argissolos nas partes mais planas e Neossolos e Plintossolos nas áreas de maior declive. Esses
solos são de baixa fertilidade, com problemas de toxidez por alumínio e sujeitos à erosão
laminar e em sulcos.

O restante da área compreendida neste compartimento está inserido no Planalto dos


Parecis/Alto Xingu, a montante da Cachoeira de Von Martius. É constituído por terrenos de
topografia mais baixa, variando entre 480 e 520m, com relevo de rampas subhorizontais,
podendo ocorrer morros e morrotes residuais. Os vales são amplos e com planícies aluviais
contínuas, resultantes de ampla sedimentação das calhas dos rios nesse compartimento.

Predominam rochas graníticas, riolíticas, arenitos e siltitos, além de coberturas detrito-


lateríticas da Formaçao Araguaia. Nessa região ocorrem Latossolos nos topos e associações
de Latossolos e Neossolos nos vales; nas escarpas e nos morros e morrotes ocorrem
associações de Argissolos, Plintossolos e Neossolos Litólicos. São solos de baixa fertilidade
natural, com problemas de toxidez por alumínio; no entanto, são pouco susceptíveis a
processos erosivos.

Do ponto de vista hidrológico a parte mais ao sul, corresponde às nascentes dos formadores
do rio Xingu (Culuene e Sete de Setembro); às águas emendadas na cabeceira do rio Sete de
Setembro, e às cabeceiras do Von den Stein, Ronuro, Tamitatoala, Curisevo e Suiá-miçu. A
rede de drenagem desse trecho reflete um forte condicionamento estrutural e marca mudanças
na tipologia dos canais de drenagem, apresentando pequeno volume de água, declividade
geralmente acentuada e dependente da entrada de matéria orgânica do ambiente terrestre para
sustento da comunidade aquática

O restante da área inserida no alto curso do rio Xingu é caracterizado pela ocorrência de
amplas planícies aluviais em uma situação que pode ser considerada anômala em relação aos
demais cursos de água da bacia. Apresenta rios com alta sinuosidade, meândricos, associados
a extensas planícies de inundação, compreendendo o alto curso do rio Xingu até a cachoeira
de Von Martius e parte ou a totalidade de rios como o Suiá-Miçu, Curisevo, Tuatuari,
Tamitatoala, Ronuro, Auiá-miçu, Manissauá-miçu, Huiá-miçu e Paturi.

As planícies de inundação, com a formação de lagos de várzea, praias e vegetação flutuante


representam ambientes que favorecem a diversificação da ictiofauna, por fornecer condições
adequadas à reprodução e alimentação de muitas espécies. Esses ambientes, associados à
sazonalidade da precipitação, costumam influenciar as características das águas, seja pela
atenuação dos efeitos do uso do solo, seja pelo fornecimento de matéria orgânica originada de
sua produção autóctone.

Além de sua importância como criadouro e local de provimento de recursos tróficos para a
ictiofauna, os ambientes aquáticos dessa unidade caracterizam-se por um grande número de
espécies raras, citando-se Leporinus desmotes, Leporinus friderici, Schizodon vittatus,
Curimatella dorsalis, Hemiodus microlepis, Electrophorus electricus, Gymnorhamphichthys
hypostomus, Eigenmania cf. macrops, E. virescens e Hemisorubim platyrhyncus. Citam-se

6365-EIA-G91-001b 16
também espécies ornamentais como Corydoras xinguensis, Hypostomus cf. emarginatus,
Hopiancistrus tricornis, Pimelodus ornatus e Peckoltia vittata.

Os desmatamentos nos altos cursos dos rios e uso de insumos agrícolas podem gerar
comprometimento dos ambientes aquáticos e dos recursos hídricos e pesqueiros para a
população indígena e ribeirinhos.

Nos poucos dados de qualidade da água disponíveis para essa área devem ser ressaltados os
valores baixos de condutividade dos rios amostrados na época seca e seu aumento
significativo na época chuvosa, mostrando que o efeito da sazonalidade do clima contribui
para o carreamento de nutrientes e de sedimentos e seu depósito parcial nas planícies aluviais.
Podem-se notar também valores altos de fósforo e nitrogênio em algumas amostras, que
devem estar relacionados ao tipo e a intensidade do uso do solo, uma vez que a região detém
extensas áreas de cultivo de grãos, e ao efeito exportador de matéria orgânica das áreas
alagadas, durante esta estação.

No caso de retirada da vegetação por queimada os efeitos do desmatamento são


potencializados uma vez que as cinzas, ricas em nutrientes minerais, são transportadas pela
chuva até os cursos de água por escoamento superficial. As queimadas e a degradação do solo
podem, também, constituir fontes de contaminação por mercúrio e outros metais que se
encontram naturalmente na região, principalmente chumbo, níquel e zinco.

Em contraposição deve-se também levar em conta que o trecho correspondente ao alto curso
do rio Xingu tem como particularidade a inserção do Parque Indígena do Xingu, além de
outras Terras Indígenas e Unidades de Conservação, que atuam como fatores de preservação
dos recursos hídricos do ponto de vista qualitativo e quantitativo.

Quanto ao uso dos recursos hídricos, estudos publicados pela ANA (MMA, 2005) revelam
para toda a região hidrográfica Amazônica um índice inferior a 5%, tido como excelente. A
bacia do rio Xingu se insere neste panorama, antevendo-se que não há conflitos do ponto de
vista quantitativo quando se considera os usos das águas no contexto global da bacia
hidrográfica. No entanto, a faixa de nascentes dos formadores e de alguns importantes
afluentes do rio Xingu, região considerada estratégica para preservação dos recursos hídricos
do ponto de vista qualitativo e quantitativo, já demonstra níveis preocupantes de degradação
ambiental que pode se refletir nos demais setores da bacia hidrográfica a jusante.

Os principais usos dos recursos hídricos que envolvem derivação de águas na bacia estão
associados ao abastecimento humano e à agropecuária, particularmente irrigação das culturas
de grãos, sobressaindo neste aspecto a porção territorial inserida no Alto curso do rio Xingu, e
a dessedentação do gado, nas áreas que bordejam a bacia, especialmente na borda leste. O uso
industrial é pouco significativo na bacia, motivo pelo qual não foi incluído na estimativa
global das demandas hídricas.

Em relação ao ecossistema terrestre, as tipologias vegetais, em especial os domínios das


grandes regiões fitogeográficas, cujos limites são estabelecidos pela barreira geográfica
estabelecida pelo rio Xingu, e as formas de apropriação do solo estabelecidas pelas atividades
econômicas permitiram distinguir cinco unidades de paisagem dentro do compartimento Alto
Xingu, com características específicas em relação aos aspectos físicos, bióticos e
socioeconômicos.

6365-EIA-G91-001b 17
Nesse compartimento do Alto Xingu deve-se ressaltar que levantamentos realizados em
alguns municípios do norte do estado do Mato Grosso, incluídos na bacia, registraram 67
sítios arqueológicos até o momento; em sua maioria (50 sítios) são sítios cerâmicos a céu
aberto e ocorrem principalmente nos municípios de Paranatinga (27) e São Félix do Aragauia.

Apresentam-se a seguir, as principais características ambientais dessas unidades, a partir das


quais são sintetizadas no QUADRO 9.2-1, inserido ao final da descrição das unidades de
paisagem deste compartimento denominado Alto Xingu, as fragilidades, potencialidades,
conflitos e tendências de evolução dessas unidades, mantida a situação atual diagnosticada.
Observa-se ainda que a visualização dessas unidades é apresentada na FIGURA 9.2-1

9.2.1.1 Unidade de Paisagem Cabeceiras dos Formadores do Rio Xingu

Os fatores determinantes na delimitação desta unidade foram a sazonalidade climática que


condiciona a presença de savanas e as características fisiográficas, representadas por terrenos
mais elevados em relação ao restante da área compreendida pelo alto curso do rio Xingu. Tem
como peculiaridades, além do tipo de vegetação, o fato de abarcar a região das cabeceiras do
Xingu e fazer parte do Arco do Desflorestamento.

Essa área situa-se no extremo sul da bacia hidrográfica, abrangendo territórios de municípios
do Estado do Mato Grosso como Campinópolis, Planalto da Serra, Água Boa entre outros. Os
municípios situados na porção oriental são polarizados por Barra do Garça e os da parte
ocidental estão ligados a Sinop(situado nas proximidades da bacia); apenas Paranatinga, Nova
Brasilândia e Planalto da Serra são polarizados por Cuiabá.

Os municípios incluídos nessa unidade (listados no QUADRO 9.2-1) apresentam, de modo


geral, taxas médias de crescimento populacional maior do que o do Estado do Mato Grosso,
no período de 2000 a 2007 essa taxa foi de 1,86%, altas taxas de urbanização, entre 60% e
70%, IDH1 médio (0,70). Os indicadores de infra-estrutura de saneamento mostram graves
deficiências nos serviços de esgotamento sanitário e ausência de banheiros nas moradias que
chegam a 12% das habitações. Além disso, a falta de tratamento expõe permanentemente a
água distribuída aos riscos de pós-contaminação, e a ocorrência de intermitências no
abastecimento

As variações climáticas são acentuadas, com marcada sazonalidade e precipitações médias


elevadas no período de dezembro a março, enquanto o período entre maio e setembro é
caracterizado por déficits hídricos.

Essa área situa-se em compartimentos geomorfológicos de Planaltos (Planalto dos


Guimarães/Alcantilados, e parcialmente Planalto Alto Xingu/Parecis) e Depressões
(Araguaia/Tocantins, Paranatinga), em terrenos com altitude entre 400 e 750m, caracterizados
por rampas, colinas, morros residuais e escarpas (no Planalto do Alto Xingu/Parecis). As
unidades de solos são variáveis, prevalecendo associações de Latossolos, além de Neossolos
Quartzarênicos, nas rampas arenosas, Plintossolos, presentes nas escarpas e Cambissolos.

1
IDH – O Diagnóstico da Área de Abrangência Regional do Meio Socioeconômico e Cultural deste EIA
classifica o IDH dos municípios da bacia do rio Xingu em três classes, a saber: Baixo – quando o IDH está entre
0,000 e 0,499; Médio – IDH entre 0,500 e 0,799; e Alto – IDH entre 0,800 e 1,000.

6365-EIA-G91-001b 18
As características dos terrenos e, principalmente, do clima sazonal, com déficits hídricos
acentuados em parte do ano, condicionam a presença de savanas, constituindo-se em uma
faixa que marca o limite norte dos Cerrados nessa região.

Outra característica importante e determinante da importância ecológica dessa área


corresponde ao seu caráter de divisor de águas, abarcando as nascentes dos formadores do rio
Xingu e de grande parte de seus tributários no alto curso, como os rios Culuene e Sete de
Setembro. Apesar dessa importância para os recursos hídricos da bacia hidrográfica, em seus
aspectos qualitativos e quantitativos, essa área apresenta ocupação com atividades
agropecuárias, o que implica redução gradual e significativa de sua cobertura vegetal.
Aproximadamente 36% de sua área encontram-se atualmente ocupados por sistemas
antropogênicos.

As reservas legais dessa região têm percentuais variáveis; elas correspondem a 80% da
propriedade quando recobertas por formações florestais e 35% quando as formações são de
Cerrado. Estas variações dificultam a avaliação da situação dos municípios em relação ao
mínimo de cobertura vegetal estabelecido pela legislação. Verifica-se, entretanto, a presença
de manchas remanescentes de savanas, em meio a grandes áreas ocupadas.

O processo de fragmentação da cobertura vegetal se dá a partir do sul, pelos interflúvios,


sendo mais intenso nos altos cursos. A conversão das formações savânicas em áreas de uso
agropecuário é mais expressiva a oeste, nas rampas pouco dissecadas no reverso da escarpa, já
no Planalto dos Parecis / Alto Xingu. Esse processo de supressão de cobertura vegetal é
evidenciado inclusive dentro das Terras Indígenas (TIs) Parabubure e Pimentel Barbosa e
junto aos formadores do rio Xingu. Destaca-se, ainda, nesse contexto, o setor sudeste,
relacionado com a Depressão Araguaia/Tocantins, caracterizado pela presença de águas
emendadas (cabeceiras do rio Sete de Setembro), atualmente sob forte pressão de ocupação.

Em função da íntima relação com o meio terrestre circunvizinho, essas regiões sofrem intensa
pressão oriunda da alteração da bacia de drenagem, podendo esta se refletir a jusante, apesar
do efeito diluidor representado pelo aumento progressivo das vazões.

A área apresenta intensa atividade agropecuária e significativa redução de sua cobertura


vegetal original, o que pode determinar localmente um aporte de nutrientes maior do que seria
esperado. Os municípios situados nessa região de cabeceiras que mais contribuem com a
exportação de nutrientes na bacia são Paranatinga drenado pelos rios Curisevo, Tamitatoala e
Ronuro e Nova Ubiratã, drenado pelos rios Ronuro e Von den Stein.

Embora não se disponha de dados sistemáticos de parâmetros limnológicos, admite-se que


estes aspectos possam estar influenciando as características de qualidade da água e das
comunidades aquáticas.

Devido ao seu pequeno volume de água e declividade, de modo geral, acentuada, as


cabeceiras dos rios se caracterizam por serem sistemas dependentes da entrada de matéria
orgânica do ambiente terrestre para sustento da comunidade aquática. As águas apresentam,
no seu estado natural poucos nutrientes, o que determina comunidades ícticas de pequeno
porte e composta de espécies restritas a esses ambientes.

As informações sobre a composição ictiofaunística nessa unidade são escassas; apesar disso,
espécies raras estão registradas nesse trecho da bacia, assim como de interesse comercial. No

6365-EIA-G91-001b 19
primeiro caso, citam-se Cyphocharax spiluropsis, Steindachnerina cf.amazonica e, no
segundo, (Rhaphiodon vulpinus, Hoplias cf. malabaricus). Em síntese, as principais
características definidoras desta área relacionam-se com a predominância de organismos de
menor porte e reduzida diversidade de espécies, porém com alta probabilidade de ocorrência
de endemismos.

Entre as espécies representativas da fauna regional conhecidas no domínio do cerrado citam-


se como exemplos de endemismos a raposinha (Pseudalopex vetulus), entre os mamíferos; e,
entre as aves, o chorozinho-de-bico-comprido (Herpsilochmus longirostris), o andarilho
(Geositta poeciloptera), o soldadinho (Antilophia galeata), a bandoleta (Cypsnagra
hirundinacea), a campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens), o capacetinho-do-oco-do-pau
(Poospiza cinerea) e o pula-pula-de-barriga-branca (Basileuterus hypoleucus).

Ao contrário do que ocorre com a fauna amazônica, no Cerrado os rios não apresentam papel
significante como barreira à dispersão de espécies da fauna de vertebrados. Isso se deve
principalmente a grande capacidade de dispersão desses organismos. A fauna amazônica é
composta em grande parte por espécies típicas do interior da floresta, enquanto que a grande
maioria das espécies do Cerrado é típica de áreas abertas.

Nessa unidade situam-se várias TIs de pequena extensão e a RECEC do Culuene, também de
pequeno porte; estas áreas sofrem forte pressão devido ao avanço da fronteira agrícola,
registrando uma série de desmatamentos dentro dessas unidades de conservação e proteção.

No entanto, por se tratar de uma região de transição entre o cerrado do Planalto Central e as
formações florestais da Amazônia, e por abrigar os formadores do rio Xingu essa região é
classificada no Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica
brasileira – PROBIO como Áreas de Extrema Importância para Conservação.

O avanço da fronteira agrícola devido à expansão da agropecuária representa a maior


fragilidade atual desta unidade, ameaçando os remanescentes de cerrado (savana) da região e
causando pressão sobre as áreas indígenas circunvizinhas. A tendência de evolução do
processo de ocupação dessa unidade é a do deslocamento da pecuária e do extrativismo no
sentido norte, devido à pressão do avanço das culturas cíclicas. Por sua vez esse tipo de
atividade faz uso intensivo de insumos, o que poderá vir a comprometer o uso futuro da água
dos formadores do rio Xingu, comprometendo a biota aquática e o uso da água para a
população ribeirinha e as comunidades indígenas situadas logo a jusante, especialmente as
aldeias indígenas do Parque Indígena do Xingu.

9.2.1.2 Unidade de Paisagem Alto Xingu Pecuária

O elemento determinante da delimitação dessa unidade foi o uso do solo predominantemente


com pastagens, com presença de remanescentes de formações florestais de transição.

Situa-se a leste da região do Alto Xingu, em setor da bacia caracterizado por clima sazonal
com déficit hídrico em parte do ano. Ocupa rampas detrito-lateríticas do Planalto do Alto
Xingu/Parecis, em solos com baixa suscetibilidade à erosão e adequados à mecanização.

A forte sazonalidade climática condiciona a presença de formações de transição, onde


prevalecem contatos de florestas estacionais com savana e com florestas ombrófilas,
configurando as denominadas Florestas Secas do Mato Grosso.

6365-EIA-G91-001b 20
Há uma variação faunística importante nessas formações florestais ecotonais, embora a
distinção entre a fauna da Floresta Ombrófila e da Floresta Estacional não seja clara. Contudo,
são conhecidas algumas espécies cuja distribuição está restrita à periferia da Amazônia
(Sclerurus albigularis, por exemplo, espécie de ave associada a esses ambientes periféricos).

Essa unidade apresenta extensas áreas de pecuária, atividade introduzida na década de 1970 e
em expansão atualmente; observam-se desflorestamentos recentes atingindo remanescentes
florestais. Secundariamente apresenta usos diversos associados à agropecuária e extrativismo
de borracha, madeira e lenha.

A taxa de urbanização dos municípios desta unidade (listados no QUADRO 9.2-1) é variável,
mas de modo geral, mantem-se ao redor de 50%. O indice de Desenvolvimento Humano -
IDH apresenta valores médios (0,70) e a infra-estrutura de saneamento é deficitária.

Intensamente desflorestados, os municípios são polarizados por São Félix do Araguaia,


situado fora da área da bacia, e apresentam níveis de supressão de vegetação acima dos
limites legais para a Amazônia Legal, sendo muito graves e críticos em alguns municípios
(Alto Boa Vista, São José do Xingu e Vila Rica). Verifica-se também a supressão de
vegetação nativa dentro de TIs.

Os remanescentes naturais encontram-se reduzidos a fragmentos parcialmente isolados na


matriz de pastagens e passam a apresentar grande importância por representar as últimas
amostras de uma vegetação característica do ecótono ombrófilo/savânico. Entretanto, nos
limites sul e norte dessa unidade, vetores recentes de desflorestamento têm reduzido ainda
mais a superfície florestada.

A criticidade das taxas de desflorestamentos nessa área, aliada à preocupação de preservar os


remanescentes florestais, poderá ser fator de redução do quadro de desflorestamentos, a partir
de intensificação do uso das terras já desprovidas de cobertura vegetal nativa e da recuperação
das áreas degradadas. Não há em seu território nenhuma Unidade de Conservação.

O avanço da atividade agropecuária sobre a TI Maralwat Sede já se caracteriza como frente


conflito e as taxas de desflorestamento acima dos limites legais comprometem a diversidade
biológica em formações ecotonais.

9.2.1.3 Unidade de Paisagem Alto Xingu Agrícola

Unidade que tem como fator determinante para sua individualização a cobertura florestal e o
uso do solo, com predomínio de culturas cíclicas, apresentando como peculiaridade elevadas
taxas de desflorestamentos recentes e em curso.

Ocupa uma extensa faixa localizada na porção centro-sul do compartimento Alto Xingu, sobre
as rampas detrito-lateríticas do Planalto do Alto Xingu/Parecis, em solos sem restrições à
mecanização, embora necessitem correção e adubação. O clima tem características de
transição, entre a forte sazonalidade típica do bioma dos Cerrados e o bioma Amazônico.

As condições climáticas e fisiográficas favorecem a presença de vegetação florestal de


transição, caracterizada pelo contato de florestas ombrófilas e estacionais, compondo a

6365-EIA-G91-001b 21
“Floresta Associada ao Planalto dos Parecis”. Também nesse trecho podem ser esperadas
espécies animais com distribuição restrita à periferia da Amazônia.

É uma área onde a ocupação se deu recentemente constituindo, portanto, uma região em que
processos de alteração da dinâmica da paisagem estão em curso. Predominam nessa unidade
culturas cíclicas tecnificadas, principalmente soja, nas áreas não protegidas e a pecuária
extensiva. Como os solos necessitam correção e adubação, pode-se esperar importante aporte
de insumos o que, somado aos efeitos adversos decorrentes da supressão da cobertura vegetal
na unidade Savanas Meridionais, podem determinar alterações nos cursos d’água e nos
recursos hídricos superficiais e subterrâneos, devido à exportação de nutrientes do sistema
terrestre.

A ocupação recente, resultante do vetor de expansão agrícola a partir das Savanas


Meridionais, é determinante de desflorestamentos de grandes extensões em direção norte, até
o limite do Parque Xingu, representando pressão crescente sobre as TIs situadas nas áreas
limítrofes.

Os municípios dessa unidade, listados no QUADRO 9.2-1 e todos pertencentes ao Estado de


Mato Grosso, apresentam alta taxa de urbanização, em sua maioria acima de 80% da
população. Os IDH observados são elevados, com vários municípios apresentando índices
acima de 0,80, situando a média dos municípios em 0,77. É expressiva a população oriunda
dos estados do sul do País. Outra constatação é quanto às melhores condições de acesso a
saneamento básico, quando comparados aos municípios da bacia localizados no Estado do
Pará.

Essa ocupação da área originou-se com a abertura da BR-163 no início dos anos setenta,
consolidando-se com os projetos privados de colonização dos anos oitenta. Nesse período,
predominava na economia regional a pecuária bovina e a extração madeireira, secundados
pela produção de arroz. Entretanto, a rápida penetração da soja no Centro-Norte do Estado,
notadamente no eixo Nova Mutum/Sorriso, provocou o deslocamento das antigas atividades
para o extremo Norte, particularmente da pecuária.

A urbanização das cidades dessa unidade apresenta uma estrutura produtiva diversificada e as
atividades urbanas estão estreitamente vinculadas às atividades de pecuária, da agricultura
moderna e da extração madeireira. Essa unidade é a que apresenta o ritmo mais significativo
de crescimento, em decorrência da influência de Sinop (com sede nas margens da BR-163,
esse município está localizado na borda sudoeste da bacia e possui pequena parte de seu
território dentro da bacia do rio Xingu) em seu espaço polarizador.

Nas áreas limítrofes do Parque do Xingu os processos de desflorestamento são intensos e


crescentes, constatando-se situações graves em diversos municípios. Observam-se ainda
desflorestamentos dentro de TIs e de UCs (Esec Rio Ronuro), ou seja, essas unidades tendem
a serem descaracterizadas caso não haja um processo de fiscalização efetivo.

A expansão da fronteira agrícola nesta unidade tem causado erosão, assoreamento e


contaminação da água com agrotóxicos. Nesta região e nas nascentes no Alto Xingu foram
eliminadas as florestas de proteção das nascentes, aumentando o risco de assoreamento e
contaminação das águas. Além da maior exposição do solo à ação das chuvas, a atividade
agropecuária pode contribuir com nutrientes minerais dos adubos químicos e agrotóxicos por
meio do escoamento superficial.

6365-EIA-G91-001b 22
A paisagem fragmentada caracteriza-se pela presença de grandes manchas de remanescentes
florestais, com limites abruptos e geométricos, em meio a grandes extensões de pastagens e de
agrossistemas. Aparentemente, os desmatamentos ocorrem de forma isolada e coalescente,
com evidente substituição da matriz florestal original para agropecuária (atualmente ocupando
cerca de 37% da unidade).

Essa área é classificada como Área de Muito Alta Importância para Conservação, apesar do
avanço da fronteira agrícola; sua fragilidade é caracterizada pelo conflito desmatamento
versus extensas áreas bem conservadas, estas representadas pelo Parque Indígena do Xingu e
outras TIs de menor porte. Outro fator de conflito é a utilização intensiva de insumos
agrícolas que poderá vir a comprometer as águas do rio Xingu e seus afluentes nesse trecho da
bacia, o que poderá seu uso pela população indígena e de ribeirinhos que vivem às margens
desses cursos de água.

O cenário tendencial dessa região, mantida a situação atual de ausência de controle das
atividades econômicas, é o de forte redução da diversidade biológica nas áreas não protegidas,
invasões e isolamento das TIs e UCs, com comprometimento de ambientes aquáticos e dos
recursos hídricos e pesqueiros, em um setor da bacia hidrográfica muito pouco conhecido em
seus aspectos bióticos.

9.2.1.4 Unidade de Paisagem Alto Xingu Extrativismo

As formações florestais e o uso e ocupação baseados na atividade de extrativismo


correspondem aos elementos determinantes na sua individualização, sendo a peculiaridade
dessa área a dinâmica recente e ainda incipiente de ocupação.

Corresponde à área delimitada a sudoeste da bacia hidrográfica, ainda sobre as rampas detrito-
lateríticas do Planalto do Alto Xingu/Parecis, em solos com boa porosidade, profundos, pouco
suscetíveis a processos erosivos e adequados à mecanização. Compreende as sub-bacias de
tributários da margem esquerda do alto curso do rio Xingu: Huaiá-Miçu e contribuintes da
margem esquerda do rio Arraias.

A cobertura vegetal corresponde ao contato Floresta Ombrófila/Floresta Estacional


(Formações florestais do Planalto dos Parecis), limitando-se a noroeste com formações
estacionais e campinaranas da Formação da Serra do Cachimbo.

Difere da unidade anterior pelo padrão de ocupação, ainda incipiente, embora com taxas de
desflorestamentos elevadas, determinando situações muito graves (município de Nova Santa
Helena, Guarantã do Norte) e graves (Matupá e Peixoto Azevedo). Apenas União do Sul
permanece com taxas de desflorestamento dentro dos limites previstos para a Amazônia
Legal, correspondentes a 20% da área.

Observam-se grandes extensões desflorestadas nas proximidades do limite da bacia


hidrográfica, atualmente em expansão para leste, em desmatamentos isolados e coalescentes,
onde ainda prevalece a matriz florestal, mas com expansão de culturas cíclicas, associada ao
extrativismo florestal relacionado à exploração de madeira.

A distinção entre a fauna da floresta ombrófila e da floresta estacional e de contato da floresta


ombrófila e estacional não é tão clara a partir da análise dos dados existentes. Entretanto, são
conhecidas algumas espécies cuja distribuição está restrita à periferia da Amazônia. Um

6365-EIA-G91-001b 23
exemplo é vira-folha-de-garganta-cinza (Sclerurus albigularis), espécie de ave associada a
esses ambientes periféricos da Amazônia, entrando por essas formações estacionais, sem, no
entanto, ocorrer nas porções centrais do bioma. Este padrão de distribuição peri-amazônica é
descrito para várias espécies animais. Provavelmente, as diferenças entre a floresta ombrófila
e a floresta estacional, na região estudada, são determinantes da distribuição de vários táxons,
entretanto, este tal fato deve ser mais bem estudado.

Também nesta unidade é registrado o avanço da fronteira agrícola, com expansão das culturas
cíclicas e pastagens sobre as florestas; no entanto é uma ocupação mais recente mas que já
altera a paisagem natural e compromete a diversidade biológica.

De modo geral os municípios dessa unidade (Marcelândia, Cláudia, União do Sul, Santa
Carmem e Vera e parte leste de Sinop) apresentam alta taxa de urbanização, de 60% a 70%.
Esses municípios são polarizados por Sinop e situam-se próximos ao eixo da BR 163. Devido
a essa posição estratégica, com a possibilidade de asfaltamento dessa rodovia, a atividade de
extrativismo vegetal vem sendo rapidamente substituída pela pecuária de corte e pela
produção de grãos.

9.2.1.5 Unidade de Paisagem Parque Indígena do Xingu

São fatores determinantes de sua delimitação os limites institucionais do Parque do Xingu.


Sob o aspecto biológico essa unidade, subdividida no sentido longitudinal pelo rio Xingu,
apresenta centros de endemismos específicos, devido à barreira geográfica formada pela calha
do rio Xingu. As áreas situadas na margem esquerda do rio Xingu pertencem ao denominado
centro de endemismo Pará 1 (SICK, 1967; AYRES; CLUTTON-BROCK, 1992),
correspondente às Florestas Úmidas do Interflúvio do Tapajós-Xingu, cujo limite oriental é
estabelecido pelo rio Xingu. Suas peculiaridades referem-se à continuidade florestal e à
presença de expressivas planícies aluviais. A margem direita, representada pela Transição
Floresta Ombrófila e Floresta Estacional, pertence ao centro de endemismo Pará 2, onde estão
presentes espécies animais relacionadas com o interflúvio Xingu - Araguaia/Tocantins.

Essa unidade ocupa a porção central da bacia do rio Xingu em seu alto curso e seu limite
corresponde ao das TIs existentes nesse trecho da bacia.

Apresenta extensa cobertura florestal contínua, associada às formações pioneiras das planícies
fluviais do rio Xingu e de seus afluentes, revestindo as rampas do Planalto do Alto
Xingu/Parecis, contrastando com as áreas vizinhas, marcadas pela fragmentação e conversão
em áreas de pastagem ou culturas cíclicas.

As Florestas Úmidas do Interflúvio do Tapajós-Xingu da margem esquerda do rio Xingu se


distinguem das Florestas do Interflúvio Xingu/Tocantins, situadas na margem direita do rio
Xingu por apresentar maior umidade e táxons restritos apenas às florestas dessa margem, caso
do cuxiú-de-nariz-branco (Chiropotes albinasus), do jacamim-de-costas-verdes (Psohpia
viridis dextralis), da mãe-de-taoca-de-cara-branca (Rhegmatorhina gymnops), da mãe-da-
taoca (Phlegopsis nigromaculata bawmani) e da papa-taoca (Pyriglena leuconota similis).

Apesar de guardar grande semelhança com as Florestas Estacionais a fauna destas unidades
difere em razão das diferenças ambientais existentes entre as formações ombrófilas e aquelas
de transição ombrófila/estacional.

6365-EIA-G91-001b 24
A Área de Endemismo Pará 2, correspondente à margem direita tem como representantes
exclusibos o cuxiú-preto (Chiropotes satanás), entre os primatas e, entre as aves, jacamim-de-
costas-verdes (Psohpia viridis interjecta), a mãe-de-taoca (Phlegopsis nigromaculata
confinis), e a papa-taoca (Pyriglena leuconota interposita0. Pode ser evidenciada ainda uma
diferenciação ao sul, na região do Planalto dos Parecis/Alto Xingu, na transição Floresta
Ombrófila e Floresta Estacional, onde a fauna se distingue em razão do caráter de transição
condicionando a ocorrência de espécies como vira-folhas-de-garganta-cinza (Sclerurus
albigularis), que apresentam padrões de distribuição peri-amazônico.

Outra característica marcante desta área corresponde à hidrografia, caracterizada por rios
afluentes do rio Xingu, com amplas planícies de inundação nos baixos cursos.

Evidenciam-se, nessas planícies, expressivas áreas de Formações Pioneiras de influência


fluvial (campos de várzea), compostas de formações herbáceas ou arbustivo/herbáceas,
presentes em continuidade com as florestas de transição. Constituem associações vegetais
com identidade ecológica própria, com chances de conter endemismos. Da mesma maneira,
pode-se esperar uma comunidade faunística paludícola diferenciada das comunidades
ombrófilas do entorno. Note-se que, devido à saturação hídrica do substrato, as várzeas
compõem ambientes restritivos, com baixa diversidade de espécies comparativamente aos
habitats florestais.

Diferentemente das demais unidades do Alto Xingu, esta se encontra sob proteção legal,
fazendo parte da TI Parque Indígena do Xingu. Prevalecem atividades de extrativismo
florestal, caça e pesca, bem como pequenas roças. As áreas desprovidas de cobertura vegetal
são de pequenas extensões e, de modo geral, relacionadas às aldeias. Apesar das restrições de
uso impostas pela criação do Parque, a área é considerada de Prioridade Muito Alta para
Conservação.

Nos limites externos dessa unidade, ocorrem extensas áreas de desflorestamentos recentes o
que fazem antever futuros conflitos devido à expansão desses desflorestamentos, promovendo
o isolamento do Parque e a degradação de recursos hídricos e pesqueiros, podendo interferir
no modo de vida indígena. A pressão sobre formações florestais pode se dar não apenas pela
sua supressão, mas pelo efeito de borda, como fator de degradação da paisagem e do aumento
da suscetibilidade das florestas às perturbações. Essa pressão sobre o Parque do Xingu ocorre
tanto nas áreas limítrofes da margem esquerda quanto na margem direita.

Ainda que os municípios com território (ver QUADRO 9.2-1) nessa unidade apresentem
médias e altas taxas de urbanização, nesta unidade específica os indicadores sociais e
econômicos municipais não são representativos uma vez que ela é quase exclusivamente
habitada por povos indígenas e populações tradicionais, cujos modos de vida não são medidos
por esses indicadores.

A pesca tem-se despontado como atividade turística na região, que começa a ser praticada
também como uma opção para o turismo fotográfico e de aventura. Há ainda um incipiente
turismo cultural envolvendo as comunidades indígenas do Parque Xingu. De acordo com
agências turísticas, há um aumento crescente de turistas na região do Alto Xingu não somente
na temporada de pesca, mas também em outras datas.

6365-EIA-G91-001b 25
QUADRO 9.2-1
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Alto Rio Xingu
Continua
Cabeceiras dos Formadores do Rio
Características Ambientais Alto Xingu Agrícola Alto Xingu Pecuária Alto Xingu Extrativismo Parque Indígena do Xingu
Xingu
Localização na Bacia Extremo sul do alto curso do rio Xingu. Centro-Sul/Sudoeste/Sudeste Sudeste (Margem Direita). Sudoeste (margem esquerda). Posição central no alto curso, abrangendo o Parque do Xingu
Municípios polarizados por Cuiabá:
Municípios polarizados por Cuiabá:
Nova Brasilândia, Planalto da Serra,
Organização Territorial Paranatinga. Municípios polarizados Municípios polarizados por São Felix Municípios polarizados por Sinop: Municípios polarizados por Cuiabá: Paranatinga. Municípios
Paranatinga. Municípios polarizados
(municípios parcial ou por Barra do Garças: Gaúcha do norte, do Araguaia: São José do Xingu, Porto Marcelândia, Nova Santa Helena, polarizados por Sinop: Nova Ubiratã, Feliz Natal, Marcelândia.
por Barra do Garças: Campinápolis,
integralmente abrangidos Canarana, Ribeirão Cascalheira, Alegre do Norte, Canabrava do Norte, Cláudia, União do Sul, Sinop, Santa Municípios polarizados por Barra do Garças: Querência, Canarana.
Nova Xavantina, Água Boa, Canarana,
pela unidade) Querência. Municípios polarizados por Confressa, Vila Rica. Carmem, Vera. Municípios polarizados por São Felix do Araguaia: São José do Xingu
Gaúcha do Norte, Ribeirão
Sinop: Feliz Natal, Nova Ubiratã.
Cascalheira..
Municípios com forte extrativismo
Municípios que possuem a pecuária vegetal, e crescimento recente da Domínio de Terras Indigenas; atividades econômicas incipientes. No
Municípios com agricultura consolidada, baseada principalmente na cadeia soja
Base Econômica como atividade principal apresentando agricultura. Padrão de início da fase de entorno presença de atividade extrativista e crescimento da agricultura,
ou em transição da pecuária para a agricultura com produção de grãos
crescimento no período. transição, onde a cadeia soja aparece principalmente da soja; em São José predomínio da pecuária
com forte potencial de crescimento

Alta taxa de urbanização; IDH mais elevado da bacia e alguns municípios com Alta taxa de urbanização, IDH mais
Taxa de urbanização por volta de 50%, Municípios com alta taxa de urbanização; IDH de médio para alto;
Modos de Vida expressivo crescimento populacional como Sorriso, Sinop e Feliz Natal; elevados da bacia e alguns municípios
IDH médio, baixos indicadores de expressiva migração dos estados do sul do país; melhores indicadores
expressiva migração dos estados do sul do país. Melhores indicadores de acesso com pequeno crescimento
infra-estrutura de saneamento de acesso a saneamento
a saneamento básico populacional.

Predomínio do clima Aw (classificação


Predomínio do clima Am (classificação
de Köppen); sazonal, com precipitação Área de transição entre os climas Am e Aw (classificação de Köppen); sazonal, Área de transição entre os climas Am3 e Aw (classificação de
de Köppen); sazonal, com precipitação
média anual de 2000 mm, inverno seco com precipitação média anual de 2000 mm; baixa amplitude térmica anual, Köppen); sazonal; com precipitação média anual de 2000 mm; baixa
Clima média anual de 2500 mm; baixa
e pluviosidade máxima no verão; baixa mantendo temperatura média em torno de 24°C. amplitude térmica anual, mantendo temperatura média em torno de
amplitude térmica anual, mantendo
amplitude térmica anual, temperatura 24°C.
temperatura média em torno de 24°C.
média de 22°C.
Colinas, rampas e morros residuais
tabulares dos Planaltos dos Guimarães /
Alcantilados e das Depressões de
Paranatinga e do Alto Araguaia /
Rampas detrito-lateríticas do Planalto dos Parecis / Alto Xingu, com predomínio de solos adequados para agricultura e Rampas detrito-lateríticas do Planalto dos Parecis / Alto Xingu, com
Tocantins. Ocorrência de Cambissolos,
Fisiografia e solos pastagem, favorecendo a ocupação antrópica e a pressão sobre a biota. predomínio de solos adequados para agricultura e pastagem, porém
Argissolos, Latossolos favorecem a
com uso antrópico restrito por se encontrar em Terras Indígenas.
ocupação agropecuária. Neossolos em
escarpas e relevos residuais,
determinam áreas com baixa aptidão
agrícola
Compreende sub-bacias de rios com
Compreende os cursos superiores de
Nascentes de formadores do rio Xingu; planícies fluviais amplas, afluentes da
formadores do rio Xingu: Suiá-Miçu, Compreende as sub-bacias de
águas emendadas na cabeceira do rio margem direita do alto curso do rio Rios com amplas planícies de inundação nos baixos cursos. Afluentes
Tanguro, Sete de Setembro, Culuene, tributários da margem esquerda do alto
Sete de Setembro (Depressão do Alto Xingu: rio Paturi e afluentes da do rio Xingu da margem esquerda: Culuene, Tamitatoala, Ronuro,
Hidrografia Tamitatoala, Ronuro, Arraias e curso do rio Xingu: Manisau-Miçu,
Araguaia / Tocantins); cabeceiras do margem direita do rio Suiá-Miçu. Arraias, Jarininha.
principais tributários do alto curso Huiaia-Miçu, contribuintes da margem
Von den Stein, Ronuro, Tamitatoala, Nascentes e grande parte do rio Afluentes da margem direita: Sete de Setembro, Tanguro, Suiá-Miçu.
convergem para o rio Xingu nesse esquerda do rio Arraias.
Curisevo e Suiá-Miçu. Comandante Fontoura, que deságua no
trecho, drenando uma ampla área.
trecho superior do Médio rio Xingu.
Os poucos dados de qualidade da água disponíveis para a região do alto Xingu, evidenciam valores baixos de condutividade dos rios amostrados na época seca e seu aumento significativo na época chuvosa, mostrando que o efeito da
Qualidade das águas sazonalidade do clima contribui para o carreamento de nutrientes e de sedimentos e seu depósito parcial nas planícies aluviais. Podem-se notar também valores altos de fósforo e nitrogênio em algumas amostras, que devem estar
relacionados ao tipo e à intensidade do uso do solo, uma vez que a região detém extensas áreas de cultivo de grãos, e ao efeito exportador de matéria orgânica das áreas alagadas, durante essa estação.

6365-EIA-G91-001b 26 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.2-1
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Alto Rio Xingu
Continuação
Cabeceiras dos Formadores do Rio
Características Ambientais Alto Xingu Agrícola Alto Xingu Pecuária Alto Xingu Extrativismo Alto Xingu Parque Indígena do Xingu
Xingu
Nesse restante da área abrangida pelo alto curso do rio Xingu, as formações savânicas assumem expressão arbórea e florestal, identificada como Zona de Contato ou de Tensão Ecológica,
também conhecida como ecorregião das Florestas Secas do Mato Grosso, onde as formações adquirem forte caráter transicional. Esse ecótono possui identidade ecológica dada pelas
especificidades resultantes da mistura de tipos vegetacionais e das floras ombrófila e estacional. Na área de estudo, caracteriza os municípios Cláudia, Nova Ubiratã e Gaúcha do Norte, por
Savanas Parque e Gramíneo Lenhosa;
exemplo. Fisionomicamente, essa formação apresenta densa cobertura foliar, dossel bastante homogêneo, com aproximadamente 20m de altura, e grande densidade de indivíduos,
Formações vegetais Arborizada e Florestada; início da zona
caracterizados por áreas basais reduzidas. Em geral, apresenta escassa serapilheira e raras epífitas. A baixa freqüência de exemplares caducifólios confere pequeno grau de deciduidade a estas
de Contato Savana/ Floresta Estacional.
comunidades vegetais, um dos aspectos considerado diferenciador da Floresta Estacional que ocorre em outras regiões do Estado de Mato Grosso. Espécies de valor econômico, mais comuns
nas proximidades dos cursos d’água, estão aí representadas, tais como jatobá (Hymenaea sp.), peroba (Aspidosperma sp.), cedro-rosa (Cedrela fissilis), cumbaru (Dipteryx sp.) (SEPLAN/MT,
2003).
Unidade Zoogeográfica: Cerrado ou
Savana. Endemismos de Cerrado com
Presença de duas Zoogeográficas:
registro na região: Pseudalopex vetulus
Unidade Zoogeográfica: Transição Unidade Zoogeográfica: Transição Margem esquerda do rio Xingu: caracterizada pela presença de parte
(mamífero); Herpsilochmus
Floresta Ombrófila - Estacional Floresta Ombrófila - Estacional da Unidades Zoogeográficas: região das das espécies da Floresta Ombrófila e de espécies próprias do centro de
longirostris, Geositta poeciloptera,
próximo às cabeceiras do rio Xingu. margem direita do rio Xingu. Fauna Florestas Estacionais/Florestas endemismo Pará 1 caracterizado pelas Florestas Úmidas do Interflúvio
Antilophia galeata, Cypsnagra
Fauna caracterizada pela presença de caracterizada pela presença de parte Ombrófilas da margem esquerda do rio do Tapajós-Xingu.
Fauna hirundinacea, Porphyrospiza
parte das espécies da Fl Ombrófila de das espécies da Floresta Ombrófila da Xingu. Fauna associada a ambientes Margem direita do Rio Xingu: fauna caracterizada pela presença de
caerulescens, Poospiza cinerea e
ambas as margens do rio Xingu e, margem direita e, ainda, de espécies periféricos da Amazônia: ex.:Sclerurus parte das espécies do centro de endemismo Pará 2, correspondente ao
Basileuterus hypoleucus (aves).
ainda, de espécies cuja distribuição cuja distribuição restringe-se à albigularis. interfluvio Xingu-Tocantins.
Presença de cavernas propicia para a
restringe-se à periferia amazônica. periferia amazônica. Nas duas margens presença de comunidades faunísticas associadas às
ocorrência de morcegos e de fauna
formações palustres das planícies de inundação.
especializada como troglóbios, animais
exclusivos desses ambientes.
Além de sua importância como criadouro e local de provimento de recursos tróficos para a ictiofauna, os ambientes aquáticos dessa unidade caracterizam-se por um grande número de espécies
raras, citando-se Leporinus desmotes, Leporinus friderici, Schizodon vittatus, Curimatella dorsalis, Hemiodus microlepis, Electrophorus electricus, Gymnorhamphichthys hypostomus,
Ictiofauna Eigenmania cf. macrops, E. virescens e Hemisorubim platyrhyncus. Citam-se também espécies ornamentais como Corydoras xinguensis, Hypostomus cf. emarginatus, Hopiancistrus tricornis,
Pimelodus ornatus e Peckoltia vittata. Os desmatamentos nos altos cursos dos rios e uso de insumos agrícolas, podem gerar comprometimento dos ambientes aquáticos e dos recursos hídricos e
pesqueiros para a população indígena e ribeirinhos.
Florestas Secas Tropicais do Mato
Cerrado, Florestas Secas Tropicais do Mato Grosso. Florestas Úmidas do Interflúvio do Tapajós-Xingu e Florestas Secas
Ecorregião Cerrado. Grosso, Cerrado, Florestas Úmidas do
Tropicais do Mato Grosso.
Interflúvio do Tapajós-Xingu.
Predomínio de culturas cíclicas
Predomínio de pecuária, com ocupação
tecnificadas e pecuária, em extensas áreas Extrativismo não sustentável,
Diversos usos de caráter desde a década de 70. Em menor
em contato com as formações florestais principalmente de madeira, precedendo Prevalecem áreas com cobertura florestal onde se realiza extrativismo
agropecuário com predomínio de escala, usos diversos associados à
Usos principais ainda predominantes, mas sob crescente a expansão recente de agricultura. florestal, caça e pesca pelas populações indígenas, além de pequenas
pecuária nos cerrados, ocupando agropecuária e extrativismo (borracha,
pressão de desflorestamentos. Cerca de Cerca de 29% da área encontram-se roças.
cerca de 36% do território. madeira, lenha). Cerca 56% da área
37% da área encontram-se com ocupação com ocupação antrópica.
encontram-se com ocupação antrópica.
antrópica.
Unidades de Conservação RESEC do Culuene (de pequena Não há unidades de conservação.
ESEC Rio Ronuro.
(UCs) extensão). .
Várias pequenas: Parabubure, Chão Parque do Xingu Naruwoto, Capoto/Jarina e outras ainda sem
Terras Indígenas (TIs) Preto, Marechal Rondon, Pimentel Não há terras indígenas. Marawat Sede, Urubu Branco. Rio Arrais BR 080. delimitação oficial
Barbosa, Bakairi. .

Levantamentos realizados em alguns municípios do norte do estado do Mato Grosso, pertencentes ao compartimento denominado Alto Xingu, registraram 67 sítios arqueológicos até o momento; em sua maioria (50 sítios) são sítios
Patrimônio Arqueológico
cerâmicos a céu aberto e ocorrem principalmente nos municípios de Paranatinga (27) e São Félix do Aragauia.

6365-EIA-G91-001b 27 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.2-1
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Alto Rio Xingu
Conclusão
Cabeceiras dos Formadores do Rio
Características Ambientais Alto Xingu Agrícola Alto Xingu Pecuária Alto Xingu Extrativismo Parque Indígena do Xingu
Xingu
Áreas de Extrema Importância para
Conservação: Cabeceiras do Xingu +
Áreas de Importância Muito Alta para
Teles Pires, Interflúvio Araguaia / Áreas de Muito Alta Importância para Conservação: P.I do Xingu i Naruwoto, ncluindo T.I. Batovi, e
Conservação: Cabeceiras do Xingu,
Áreas Prioritárias (APs) Mortes, RESEC do Culuene, Ribeirão T.I. Capoto Jarina e Xingu 2.
ESEC Ronuro e Ribeirão Cascalheira e
Cascalheira e Querência, T.I. Bakairi,
Querência.
T.I. Marechal Rondon, T.I. Parabubure
e T.I. Pimentel Barbosa.
Extensas áreas desflorestadas em décadas
passadas. Desflorestamentos recentes intensos e Retomada recente de
Localizados, relacionados às aldeias.
Desflorestamentos Intensos. Intensos e crescentes. localizados a sul desta unidade e mais desflorestamentos, expandindo-se a
acentuados a norte (municípios de Confresa e partir de áreas antropizadas.
Vila Rica).
Situações graves a muito graves de
Não analisadas devido à dificuldade em Prevalecem situações graves e críticas
desflorestamento. Apenas Ribeirão Situação crítica em Alto Boa Vista, muito grave
avaliar os limites legais para supressão em vários municípios parcialmente
Cascalheira permanece dentro do em São José do Xingu e Vila Rica, grave em Muito baixas.
Taxas de Desflorestamento de vegetação (uma vez que as reservas incluídos na subárea, principalmente
limite legal de desflorestamento. Sem Canabrava do Norte e um pouco acima do limite
legais têm dimensões variáveis em Marcelândia, Santa Carmem e
dados quantitativos para Canarana e legal nos demais municípios.
dependendo do tipo de vegetação). Cláudia.
Paranatinga.
Grandes manchas remanescentes de
savanas em meio a grandes extensões Grandes manchas de remanescentes
Grandes extensões desflorestadas nas
fortemente antropizadas e florestais em meio a grandes extensões
proximidades do limite da bacia
agrossistemas. Fragmentação a partir de pastagens e de agrossistemas.
Matriz de pastagens. Remanescentes de hidrográfica, atualmente em expansão
do sul, aparentemente por vizinhança e Limites abruptos e geométricos. Extensa matriz florestal contínua.
Nível de Fragmentação vegetação nativa correspondem a para leste em desmatamentos isolados
pelos interflúvios, mais intensa nos Desmatamentos isolados e
aproximadamente 54%. e coalescentes, onde ainda prevalece a
altos cursos e a oeste, nas rampas coalescentes, com substituição da
matriz florestal. Crescente expansão de
pouco dissecadas no reverso das matriz florestal original para
culturas cíclicas.
escarpas no Planalto dos Parecis / Alto agropecuária (37% da subárea).
Xingu.
Área de avanço da fronteira agrícola - Área de avanço da fronteira agrícola -
Área de avanço da fronteira agrícola -
desmatamentos versus extensas áreas desmatamentos versus extensas áreas
desmatamentos versus extensas áreas
bem conservadas; expansão de culturas bem conservadas; expansão de culturas Não observadas.
Fragilidades bem conservadas; expansão de culturas
cíclicas em direção a Terras Indígenas. cíclicas sobre as florestas. Áreas de .
cíclicas em solos com problemas de
Áreas de ocupação recente (alteração ocupação recente (alteração da
conservação.
da paisagem em curso). paisagem em curso).
Desflorestamentos dentro de TIs
Desmatamentos em TIs; forte
(Parabubure e Pimentel Barbosa) e de
antropização nas nascentes do rio Sete
UCs (ESEC Rio Ronuro); Desmatamentos dentro de TI (Maralwat Sede); Desmatamentos nos altos cursos dos formadores promovem
de Setembro, onde estão as águas Redução local da diversidade
desflorestamentos acima dos limites uso agropecuário em TI; desflorestamentos impactos nos cursos d’água da TI; efeito de borda nos locais
emendadas e de inúmeros formadores biológica; desflorestamentos acima dos
Conflitos Existentes legais; taxas elevadas de acima dos limites legais; taxas de em que os desflorestamentos das áreas vizinhas chegam ao
da Bacia do Rio Xingu; taxas de limites legais; taxas de desmatamentos
desmatamentos e de redução das desmatamentos elevadas em remanescentes; limite do Parque.
desmatamentos elevadas; redução das elevadas; redução das florestas.
florestas; redução local da diversidade redução local da diversidade biológica.
savanas; redução local da diversidade
biológica; grande aporte de insumos
biológica.
agrícolas.
Avanço de culturas cíclicas com Forte redução da diversidade biológica
deslocamento da pecuária e do em áreas não protegidas. Redução gradual da diversidade
Desflorestamentos crescentes em direção a essa subárea,
extrativismo para norte. Aumento da Desflorestamentos em direção a TIs: biológica devido à degradação da
Pressão crescente sobre Tis, degradando os promovendo isolamento do Parque Xingu. Crescente
pressão sobre o Parque do Xingu. isolamento de TIs e de UCs com paisagem. Intensificação dos
recursos naturais dessas áreas. Redução de degradação de recursos hídricos e pesqueiros, interferindo
Intensificação da agricultura, do uso de comprometimento de ambientes desflorestamentos em direção a TIs e
Tendências de Situações remanescentes de formações ecotonais. nos modos de vida indígenas. Pressão sobre formações
insumos e da pressão sobre recursos aquáticos e dos recursos hídricos e isolamento de TIs. Pressão sobre
Futuras Aumento da criticidade das taxas de florestais: efeito de borda e do aumento da suscetibilidade das
hídricos pode comprometer o uso pesqueiros. Pressão sobre formações formações florestais protegidas: efeito
desflorestamento. Por outro lado, chances de florestas às perturbações. Chances de desflorestamentos e
futuro das águas, tanto em termos florestais protegidas: efeito de borda de borda e conseqüente aumento da
recuperação de áreas degradadas. outras atividades ilegais como extração de madeira e caça.
qualitativos quanto quantitativos. como fator de degradação da paisagem suscetibilidade das florestas ao fogo e
Redução da diversidade biológica em e de aumento da suscetibilidade das outras perturbações.
escala regional. florestas, notadamente ao fogo.

6365-EIA-G91-001b 28 Leme Engenharia Ltda.


9.2.2 Compartimento Médio Xingu

Esse trecho, correspondente ao médio curso do rio Xingu, constitui o maior dos três
compartimentos da bacia hidrográfica e é caracterizado por rochas do embasamento cristalino
do Cráton Amazônico. Sobre essas rochas desenvolveram-se colinas e rampas pedimentares,
com altitudes variando entre 150 e 430m, componentes da Depressão da Amazônia
Meridional, onde ocorrem Argissolos com associações de Latossolos e Neossolos Litólicos,
muito sensíveis à interferência antrópica.

Dentro dessa Depressão sobressaem-se, de forma generalizada morrotes, morros e serras


residuais, com altitudes entre 500 e 750m, pertencentes aos Planaltos Residuais do Sul da
Amazônia. Este relevo relaciona-se a associações onde predominam Neossolos e afloramentos
de rochas, podendo ocorrer também associações com Argissolos. Os terrenos de morrotes,
morros e serras residuais apresentam susceptibilidade à erosão laminar, em sulcos, rastejo, e a
movimentos de massa quando da remoção da cobertura vegetal.

Em relação ao sistema de drenagem podem ser individualizadas duas grandes unidades: a


primeira corresponde às áreas drenadas pelo médio curso do rio Xingu e pela bacia do rio
Iriri, cujos canais de drenagem são esculpidos em rochas, com planícies aluviais estreitas e
descontínuas, ocorrência de rápidos, pedrais e trechos encachoeirados. As águas são
transparentes, com baixa concentração de nutrientes e matéria orgânica dissolvida. A segunda
unidade agrega o conjunto de drenagens das sub-bacias dos rios Fresco e Bacajá, afluentes da
margem direita do rio Xingu, que se caracterizam por canais também esculpidos em rochas,
apresentando baixa sinuosidade e sem a presença de trechos encachoeirados.

Predominam nesse trecho do médio curso do rio Xingu ecossistemas florestais bem
preservados, em especial na sua porção central, devido à maciça presença de Terras Indígenas
e de Unidades de Conservação. Entretanto as bordas da bacia, especialmente no setor oriental,
zonas de contato entre o cerrado e as florestas ombrófilas, encontram-se sob forte processo de
desflorestamento, e avanço da atividade pecuária, que coloca em risco as áreas protegidas.

Considerando a distribuição geográfica dos grandes biomas nesse trecho, tem-se que nas
bacias dos rios Iriri e Bacajá predominam as formações florestais enquanto que na bacia do
rio Fresco dominam formações vegetacionais típicas de zona de contato, com manchas de
formações florestais entremeadas com áreas de cerrado típico e de contato cerrado/floresta.
Pela maior facilidade de penetração a fronteira agrícola na bacia se dá a partir dessas áreas de
cerrado e de contato.

A ictiofauna dessa área é relativamente pouco estudada. Dos registros de ictiofauna


disponíveis na bacia hidrográfica do rio Xingu (correspondentes a 786 espécies), 57 espécies
referem-se à bacia hidrográfica do Iriri e 35 ao trecho entre a cachoeira Von Martius até a
montante da confluência com o Iriri.

É importante ressaltar a atividade de pesca comercial em São Félix do Xingu; a produção


estimada pela Colônia de Pescadores de São Félix do Xingu é de aproximadamente 15t/mês.
Um total de 140 pescadores está filiado à Colônia, criada há cerca de dois anos. De acordo
com informações locais, algumas espécies capturadas na região de São Félix não são
encontradas abaixo da Volta Grande, no trecho do baixo Xingu, destacando-se: pirarucu,
pacu-manteiga, caranha, tambaqui e dourada.

6365-EIA-G91-001b 29 Leme Engenharia Ltda.


O QUADRO 9.2-2 (apresentado ao final deste item) detalha as características ambientais das
cinco unidades de paisagem individualizadas no compartimento Médio Xingu e que podem
ser visualizadas na FIGURA 9.2-1.

9.2.2.2 Unidade de Paisagem Formações da Serra do Cachimbo

Também nessa unidade os limites fisiográficos e o tipo de vegetação foram os elementos


determinantes para sua individualização. Apesar de sua pequena extensão quando comparada
às demais unidades da bacia, essa unidade foi individualizada devido ao fato de ser a única
região de ocorrência de campinaranas na bacia hidrográfica do rio Xingu, além de apresentar
características topográficas peculiares devido à Formação do Cachimbo.

Essa unidade destaca-se no limite oeste da bacia, tendo como condicionante o substrato:
ocupa os relevos residuais tabulares do Planalto Residual do Sul da Amazonas, em Neossolos
Litólicos, Neossolos Quartzarênicos, afloramentos rochosos e Argissolos vermelho-amarelos.
Apresenta susceptibilidade à erosão, rastejo e a movimentos de massa quando da remoção de
cobertura vegetal natural. Nela são identificados solos rasos, com baixa fertilidade, problemas
de toxidez por alumínio e baixa capacidade de retenção de umidade.

Corresponde às nascentes do rio Curuá, um dos formadores do rio Iriri, que associada às
formações vegetais de Campinarana e Floresta Estacional, contribui para a fragilidade natural
da unidade, considerada de extremamente alta a muito alta prioridade para conservação da
biodiversidade.

Devido à presença dessa vegetação peculiar, pode-se esperar uma fauna característica de
ambientes abertos e deciduais. Embora a distinção entre a fauna da floresta ombrófila e da
floresta estacional não esteja muito clara, são conhecidas algumas espécies cuja distribuição
está restrita à periferia da Amazônia; esse padrão de distribuição peri-amazônica é descrito na
literatura para várias espécies animais.

A cobertura vegetal apesar de se apresentar ainda bastante íntegra, com significativas áreas
contínuas, começa a apresentar áreas antropizadas devido ao extrativismo de madeira,
principalmente de lenha. Os desflorestamentos são mais concentrados nas áreas das florestas
estacionais. Verificam-se também vetores de ocupação nas proximidades dos limites da TI
Panará. A pressão de ocupação dessa área, advinda da BR -163, situada no limite ocidental da
bacia, e a grande extensão do município de Altamira o que dificulta a fiscalização desse
território, fazem prever uma tendência de agravamento do desflorestamento nessa unidade.

9.2.2.3 Unidade de Paisagem Florestas do Iriri

A fisiografia definida pela bacia do rio Iriri, principal afluente do rio Xingu, a continuidade
florestal, especialmente devido à presença de áreas legalmente protegidas foram os fatores
determinantes na individualização dessa unidade. Ela tem como peculiaridade a e a presença
de extensas áreas sob proteção legal. Nesse trecho encontra-se também a denominada “Terra
do Meio”, área de conflito pela posse da terra, recentemente transformada em Estação
Ecológica, portanto de proteção integral.

A Estação Ecológica da Terra do Meio foi recentemente criada com o intuito de preservar as
formações florestais ombrófilas situadas na margem esquerda do rio Xingu (ecorregião
Interflúvio Xingu/Tapajós), entre este rio e seu afluente Iriri, alvos de desflorestamentos e de

6365-EIA-G91-001b 30 Leme Engenharia Ltda.


extração predatória de madeira, principalmente de mogno (Swietenia macrophylla). Dos
33.877 km² que compõem a área dessa Unidade, 94,5% encontram-se no município de
Altamira, sendo a restante parte do território do município de São Félix do Xingu.

Ainda dentro da bacia do Xingu/Iriri cita-se, ainda, o Parque Nacional da Serra do Pardo,
limítrofe à Estação Ecológica Terra do Meio, também recentemente criado nos território de
Altamira e São Félix do Xingu, abarcando florestas ombrófilas da ecorregião Interflúvio
Xingu/Tapajós.

Essas duas UCs, em conjunto com as Terras Indígenas (TIs) situadas a norte (Kararaô,
Cachoeira Seca e Baú), ao sul (Menkragnoti e Kayapó) e a leste (Kuruaya), têm importante
papel para garantir a continuidade florestal. Além disso, protegem ecossistemas florestais da
denominada Terra do Meio, onde a pressão de desflorestamento tem sido intensa.

Várias UCs de Uso Sustentável (Floresta Nacional de Altamira, Reserva Extrativista Riozinho
do Anfrísio) foram criadas para garantir a exploração de produtos da floresta por meio de
manejo sustentável, contribuindo para a redução das taxas de conversão das florestas em
pastagens ou agrossistemas. Todas se encontram na margem esquerda do rio Xingu,
protegendo florestas ombrófilas da ecorregião Interflúvio Xingu/Tapajós.

Essas UCs, em conjunto com as TIs, formam um mosaico de áreas sob proteção legal com
diversos níveis de restrição de uso, que favorece a manutenção da floresta, da diversidade
biológica e das funções ecológicas dos sistemas naturais, embora algumas já apresentem em
suas bordas invasões da frente de desmatamento conforme pode ser visualizado na FIGURA
9.1-3.

A unidade de paisagem denominada Floresta do Iriri ocupa o setor oeste do médio curso do
rio Xingu, abarcando a bacia do rio Iriri, à exceção do alto curso do rio Curuá, que faz parte
da unidade anteriormente descrita. Elevadas precipitações, em gradiente que varia de 2.000
a2.500mm, a sul dessa unidade, 1.500 a 2.000mm no setor norte, nas proximidades de
Altamira, e os baixos déficits hídricos favorecem a cobertura florestal, em um contínuo de
Florestas Ombrófilas apenas localmente substituído por formações savânicas ou por
transições de savanas e florestas, em correspondência a Neossolos Litólicos distróficos
associados a afloramentos rochosos.

Em relação à hidrografia os cursos de água nesse compartimento apresentam canais


predominantemente em rochas, poucas planícies aluviais, bem como grande quantidade de
pedrais, rápidos e cachoeiras. Compreende o canal principal do médio curso do rio Xingu,
entre a Cachoeira de Von Martius e a foz do rio Iriri , a maior parte do rio Iriri e seu principal
afluente, o rio Curuá.

A localização desses canais erosivos e em rocha, a jusante de canais aluviais com amplas
planícies fluviais, em contraste com o padrão básico das bacias hidrográficas, evidencia
anomalias de caráter neotectônico no condicionamento desse aspecto da hidrografia da Bacia
do rio Xingu. São rios com águas transparentes, ligeiramente ácidas, com baixa concentração
de íons, nutrientes e matéria orgânica dissolvida.

Há que se registrar a presença de PCHs no rio Curuá; estão em início de operação as PCHs
Salto Buriti (10.000kW), Salto Curuá (30.000kW) e Salto Três de Maio (15.000kW), sendo
que esta última está em fase de estudo e será localizada no rio Três de Maio, afluente do rio

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Curuá; embora em número limitado essa seqüência de pequenas centrais hidrelétricas em um
rio quase que totalmente inserido em áreas protegidas (TIs e UCs).

Os dados existentes não mostram ainda alterações significativas por atividades antrópicas.
Observa-se apenas ao longo dos rios Xingu e Iriri um aumento da condutividade elétrica da
água, o que é esperado ao longo do eixo longitudinal de um curso d’água. Efeitos antrópicos
observados estão restritos às áreas com maior ocupação, como em São Felix do Xingu e São
José do Xingu, onde os valores de exportação de nutrientes são mais elevados, em função da
área ocupada pelos sistemas agropecuários.

A ictiofauna dessa área é pouco conhecida. Dos registros de ictiofauna disponíveis na bacia
hidrográfica do rio Xingu (correspondentes a 467 espécies), 57 espécies referem-se à bacia
hidrográfica do Iriri e 35 ao trecho entre a cachoeira Von Martius até a montante da
confluência com o Iriri.

No que se refere aos aspectos zoogeográficos, a margem esquerda do rio Xingu encontra-se
na Área de Endemismo da Amazônia conhecida como Pará 1, apresentando, entre seus
componentes faunísticos, espécies cujos limites de distribuição oriental são condicionados
pelo rio Xingu. Conforme já citado, destacam-se Chiropotes albinasus, entre os primatas e,
entre as aves: Psohpia viridis dextralis, Rhegmatorhina gymnops, Phlegopsis nigromaculata
bawmani, Pyriglena leuconota similis.

O sistema de terrenos abarca rampas e colinas pedimentares da Depressão da Amazônia


Meridional e morrotes, morros e serras residuais do Planalto Residual da Amazônia, com a
predominância de Argissolos e Cambissolos Haplicos, nas áreas suaves onduladas, e
Argissolos e Neossolos Litólicos distróficos nas áreas mais onduladas.

Encontra-se, em grande parte, sob administração federal, seja como Terras Indígenas
(Cachoeira Seca, Arara, Kararaô, Xipaya, Kuraya, Baú, Panará, Menkragnoti), seja como
Unidade de Conservação de Proteção Integral ou de Uso Sustentável.

O uso do solo está associado, em grande parte dessa área, aos modos de vida indígenas, sendo
a exploração para pecuária restrita a áreas descontínuas, principalmente na denominada Terra
do Meio, nas proximidades da área urbana de São Félix do Xingu (situada na margem direita),
atualmente sob forte pressão de desflorestamento. Este processo de conversão de florestas em
pastagens é observado inclusive em áreas de declividade elevada, muito suscetíveis a
processos erosivos, como no vale do rio Xingu, a montante da cidade de São Félix do Xingu.

Embora com amplas áreas passíveis de mecanização e aptas para agricultura e pecuária,
ressalta-se o potencial extrativista dessa área, seja de madeira, seja de outros produtos
florestais como açaí e castanha, ainda pouco explorados. Destaca-se, igualmente, o potencial
mineral para ouro, o que pode levar a futuros conflitos de uso da terra.

Atualmente depositária de uma diversidade biológica ainda muito pouco conhecida, esta área
encontra-se vulnerável à ocupação predatória, pela pressão decorrente do avanço da fronteira
pecuária e pelo potencial mineral. Note-se que as TIs poderão cumprir papel de zona de
amortecimento das UCs, bem como de corredores entre essas áreas de uso restrito, desde que
corretamente manejadas e protegidas.

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A ocupação mais recente configura-se por significativas áreas de recorte geométrico,
contíguas ou isoladas, mas, de modo geral, acompanhando vias de acesso, formando linhas na
matriz florestal. Esse processo de avanço em linhas pode ser observado a partir da margem do
rio Xingu, na altura da PA- 279 e Joales, em São Félix do Xingu, em direção oeste, na região
da Terra do Meio. No limite oeste dessa unidade observa-se também pressão recente, também
em linhas, acompanhando as vias de acesso.

Os municípios desta unidade, Brasil Novo, São Felix e Guaratã do Norte, apresentam altas
taxas de urbanização e, em sua maioria apresentam IDH médio (0,70). O crescimento
demográfico, entre 2000 e 2007, foi bem pequeno (entre 0,1 e 1,5%). De modo geral os
indicadores de infra-estrutura de saneamento apontam para um quadro de grande deficiência.

A quase totalidade da área é composta de TI e UCs, com a presença de populações


tradicionais, destacando-se as residentes nas Reservas Extrativistas do Rio Iriri e do Riozinho
do Anfrísio.

9.2.2.4 Unidade de Paisagem Florestas do Bacajá

São elementos determinantes para a delimitação dessa unidade a fisiografia definida pela
bacia do rio Bacajá e os aspectos bióticos relativos à formação florestal ainda em bom estado
de conservação.

Abrange as formações florestais da margem direita do rio Xingu, na porção nordeste de seu
médio curso, incluindo a bacia do rio Bacajá. As precipitações médias anuais variam entre
1.500 a 2.000mm, apresentando déficit hídrico médio anual de 300 a 400 mm.

A presença de tipos de terrenos caracterizados por morrotes, morros e serras do Planalto


Residual da Amazônia, na porção leste dessa área associa-se, às florestas ombrófilas densas,
substituídas por feições abertas dessas formações, nas proximidades do rio Xingu, onde
prevalecem Rampas e Colinas pedimentares da Depressão da Amazônia Meridional. Também
nessa região a floresta forma um continuum, sendo muito restritas as áreas de
desflorestamentos. A matriz é, portanto, florestal. Apenas ao sul há ocorrências disjuntas e de
pequenas extensões de formações savânicas localmente sobre topos de morros, em solos
rasos, com baixas fertilidade e capacidade de retenção de umidade.

Conforme abordado anteriormente ressalta-se o valor cênico e, portanto, o potencial turístico


do trecho da Volta Grande do rio Xingu, que nessa unidade engloba a margem direita desse
rio, onde o canal rochoso torna-se extremamente complexo. O uso, ainda incipiente, para
turismo e lazer determinou a criação, recentemente, pelo governo do Estado do Pará, de um
Sítio de Pesca destinado à pesca esportiva.

Essa área inclui-se na Área de Endemismo Pará 2 (SICK, 1967; AYRES; CLUTTON-
BROCK, 1992), onde estão presentes espécies animais relacionados com o interflúvio Xingu -
Araguaia/Tocantins: Chiropotes satanas, entre os primatas e, entre as aves, Psohpia viridis
interjecta, Phlegopsis nigromaculata confinis, Pyriglena leuconota interposita.

Em grande parte ocupada por TIs (Apyterewa, Trincheira Bacajá, Koatinemo, Araweté
Igarapé Ipixuna, Koatinemo), apresenta usos associados principalmente ao extrativismo
vegetal.

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Ainda que apresentando ecossistemas bastante íntegros, processos de fragmentação começam
a se evidenciar a partir das bordas, onde desflorestamentos recentes (notadamente em
2003/2004) são observados, a partir da unidade Floresta e Pecuária, com a qual faz limite, no
mesmo padrão em linhas acompanhando vias de acesso, conforme descrito para a unidade da
Floresta do Iriri. Outro importante vetor de pressão sobre essas florestas pode ser observado
ao norte, na região da Volta Grande, a partir da unidade Transamazônica.

Uma potencial fonte de conflito que poderá vir a se instalar ao longo do rio Bacajá é
representada pelas rochas vulcano sedimentares, com potencial aurífero, o que poderá atrair a
atividade de garimpo, hoje localizada preferencialmente na calha do rio Xingu, especialmente
no trecho da Volta Grande.

Entre os municípios (ver QUADRO 9.2-2) compreendidos nessa unidade, Senador José
Porfírio e São Felix do Xingu apresentam pequena população, com baixas taxas de
urbanização (menos de 45%) e baixo crescimento populacional (entre 0,1 e 1,5%), com
excessão de Anapú, que nos últimos anos apresentou intensificação das atividades de extração
de madeira. Ressalta-se a presença de populações ribeirinhas ao longo do rio Xingu e seus
afluentes.

A deficiência de sistema de coleta e tratamento de esgotos nos núcleos urbanos mais


populosos, como Tucumã e São Félix do Xingu, tende a comprometer a qualidade das águas
superficiais de forma pontual, especialmente no que se refere à contaminação fecal,
contribuindo para a disseminação de doenças de veiculação hídrica.

9.2.2.5 Unidade de Paisagem Florestas do Rio Fresco

Esta unidade de paisagem que abrange a quase totalidade da bacia do rio Fresco é segmentada
nos limites dos estados de Mato Grosso e Pará por uma extensa área em que predomina a
pastagem e por isso configurando outra unidade, que será descrita na sequência. A porção
norte desta unidade é quase que totalmente constituída por Terras Indígenas (TIs Kayapo e
Badjonkore), e por isso encontra-se ainda em bom estado de conservação, enquanto que a
parte sul (ver FIGURA 9.1-3) não protegida por instrumentos legais, apresenta várias frentes
de desmatament. A cobertura vegetal relativamente bem conservada, associada aos fatores
bióticos relacionados ao tipo de vegetação predominante (contato floresta/savana) e por
pertencer ao centro de endemismo Pará 2, determinaram sua caracterização como unidade de
paisagem.

Compreende o setor centro/sudeste do Médio Xingu, onde o gradiente de precipitações é


decrescente de oeste (2.000 a 2.500mm médios anuais) para leste (1.500 a 2.000mm médios
anuais), em morros, morrotes e serras com presença de Neossolos Litólicos associados a
afloramentos rochosos nos topos e predomínio de Argissolos e Cambissolos.

O rio Fresco apresenta características diferentes das do rio Xingu, com águas menos ácidas e
maior condutividade. Outro aspecto a ser ressaltado é a variabilidade dos valores, que pode
ser atribuída à sozonalidade do clima como a influências antrópicas localizadas, já que o
processo de ocupação dessa sub-bacia é intenso.

As características fisiográficas condicionam extensas áreas de contato da floresta ombrófila


com savanas, presente nas rampas e colinas da Depressão da Amazônia Meridional, e sua
substituição por formações savânicas nos relevos mais movimentados.

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Também fazendo parte da Área de Endemismo Pará 2, pode-se esperar a ocorrência de fauna
similar à descrita para a unidade Florestas do Bacajá, com possível predomínio de espécies
heliófilas ou com menores exigências quanto ao sombreamento, em decorrência das
características da vegetação. A presença de elementos de fauna associada às savanas pode ser
esperada.

Apresenta grande potencial extrativista (castanha, açaí, jaborandi - atualmente muito raro, de
acordo com informações locais, madeira e lenha, entre outros produtos da floresta), para
preservação de flora e fauna, associado ao relevo movimentado, bem como à agricultura e
pastagem, mas com práticas de correção e adubação. Há também potencial mineral associado
a rochas vulcano sedimentares (greenstones)

Ocupada por TIs, cujos limites determinam, em grande parte, seu recorte espacial, tem usos
associados ao modo de vida indígena, prevalecendo o extrativismo, notadamente de madeira,
lenha e castanha.

Áreas de desflorestamentos recentes, a partir de 2003/2004 com diferentes dimensões,


ocorrem isoladas na matriz florestal, sendo o vetor de desflorestamento associado à unidade
limítrofe, a partir de onde se expande a pecuária.

Cumaru do Norte, além de São Félix do Xingu, que tem parte do município nessa unidade, é o
município com maior carga de nutrientes da bacia. Em termos de variação de cargas, Tucumã,
Ourilândia do Norte e Bannach contribuem mais significativamente. Estes são também
municípios com elevados índices de desflorestamentos. Note-se também que na bacia do rio
Fresco, notadamente no município de Cumaru do Norte se concentram atividades de garimpo.

As atividades mineradoras, principalmente os garimpos presentes na região, provocam efeitos


desde a destruição de habitats ribeirinhos, aumento da turbidez e assoreamento dos cursos de
água pelo desmonte dos barrancos devido ao jateamento com água, até a contaminação com
óleos e combustíveis das máquinas empregadas na extração. Os rios também podem ser
contaminados com elementos altamente tóxicos aos organismos aquáticos e ao ser humano,
como o mercúrio. Não existem muitos dados sobre a bacia do rio Xingu, porém existem áreas
de garimpo expressivas na região do alto rio Fresco.

Os desmatamentos no entorno das TIs, com aumento gradual de efeitos de borda já se


configuram como fragilidade e com tendência ao crescimento de conflitos entre população
indígena e não indígena. Outro fator de fragilidade/conflito é a retirada seletiva da madeira
realizada de forma não sustentável, reduzindo a oferta de produtos da floresta, causando a
redução de diversidade biológica. O potencial mineral associado a rochas vulcano
sedimentares (greenstones) pode determinar atividades ilegais de mineração, promovendo
degradação dos ecossistemas e conflitos pelo uso da terra.

9.2.2.6 Unidade de Paisagem Floresta e Pecuária

O uso do solo foi o elemento determinante para a delimitação desta unidade, que se
caracteriza pelo intenso processo de desflorestamentos. Ocupa o extremo leste e sudeste da
porção média da bacia do rio Xingu, já sob influência da região do Arco do Desflorestamento.

Também faz parte das rampas e colinas da Depressão da Amazônia Meridional e dos morros,
morrotes e serras do Planalto Residual, em terras aptas para agricultura e pastagens; esse

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potencial, aliado ao fato de apresentar uma vegetação mais aberta e portanto de fácil
penetração, além do fato de não apresentar restrições em termos de área legalmente protegida,
levaram a redução da vegetação a fragmentos isolados dentro de extensas áreas de pastagem.

Originalmente caracterizava-se pela presença de florestas de transição resultantes do contato


de elementos ombrófilos e estacionais, localmente savânicos. O substrato geológico determina
o potencial mineral dessa unidade (associado a rochas vulcano sedimentares, greenstones, e à
presença de granitos alcalinos e subalcalinos mineralizados).

Integra a Área de Endemismo Pará 2 (SICK, 1967; AYRES; CLUTTON-BROCK, 1992), mas
podem ser esperados elementos característicos de ambientes periféricos da Amazônia.
Atualmente, devido aos desflorestamentos, espera-se o predomínio de fauna heliófila e de
borda. Populações de espécies estritamente florestais podem remanescer em fragmentos, e
estar suscetíveis à extinção local.

A unidade comporta parte das nascentes dos formadores do rio Fresco. A despeito desse
aspecto, a ocupação com a pecuária determina os elevados percentuais de desflorestamento,
com alguns municípios apresentando situações muito graves e críticas, com elevado
percentual de seu território desprovido de cobertura vegetal natural. Destacam-se os
municípios de Tucumã com taxa de 88% de desflorestamentos, Bannach, com 63%, Cumaru
do Norte (33%) e São Félix do Xingu (14%). Destes, os dois últimos apresentam parcelas de
seus territórios sob proteção legal, na forma de UCs e TIs, caso de São Félix do Xingu, ou de
TIs (Cumaru do Norte), o que concentra os desflorestamentos nas áreas não protegidas.
Portanto, esses percentuais de desflorestamento mostram que nem as APPs e nem as reservas
legais são respeitadas.

As localidades com menor quantidade de remanescentes florestais, observáveis nessa escala


de trabalho, correspondem às áreas de influência da mancha urbana de São Félix do Xingu e
da rodovia BR-158/PA 150, bem como ao município de Tucumã. São áreas de ocupação
pretérita, a partir da qual se estendem vetores de desflorestamento em linhas para norte, em
direção da unidade Florestas do Bacajá, a sul/sudoeste sobre a unidade das Florestas do Rio
Fresco, bem como a oeste, a partir da cidade de São Félix do Xingu, já na unidade Florestas
do Iriri, na margem direita (Terra do Meio). Na porção sul o avanço da pecuária tem outro
padrão de fragmentação, verificando-se grandes extensões de recorte geométrico, quadrados
ou retangulares isolados ou contíguos a áreas de desmatamento pretérito, aparentemente
avançando por vizinhança.

Esta frente de ocupação também parte do município de São Félix do Xingu e avança rumo à
Terra do Meio, no sentido oeste, consistindo no avanço de madeireiros e pecuaristas, usando
como frente de penetração uma antiga estrada de garimpo. A partir dessa estrada principal,
madeireiros abriram mais de 600km de estradas ilegais em busca das árvores de mogno. A
maioria dos madeireiros vem das regiões de Redenção, Rio Maria, Xinguara, Tucumã,
Ourilândia e São Félix do Xingu.

A prevalecer esse quadro de intenso e não controlado processo de desflorestamento é de se


prever um quadro de exaustão dos recursos naturais e consequentemente da diversidade
biológica ao longo de toda essa faixa que constitui o limite leste da bacia do médio rio Xingu,
pressionando as Terras Indígenas em seus limites orientais.

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Os municípios desta unidade apresentam taxas de urbanização variáveis, sendo a média em
torno de 50%. Grande crescimento populacional para São Felix e Cumarú, baixo para
Bannach e Ourilândia, negativo para Tucumã. O IDH é médio e são precários os indicadores
de infra-estrutura de saneamento.

O QUADRO 9.2-2 sintetiza as informações para as unidades de paisagem identificadas para o


compartimento médio Xingu.

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QUADRO 9.2-2
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Médio Rio Xingu
Continua
Formações da Serra do
Características Ambientais Florestas do Rio Iriri Florestas do Rio Bacajá Florestas do Rio Fresco Floresta e Pecuária
Cachimbo
Porção oeste do médio curso do rio Xingu
Porção nordeste do médio curso do rio Xingu
(margem esquerda) e bacia do rio Iriri. Uma
Porção sudoeste do médio curso do rio (margem direita). A porção norte desta Porções sudeste e centro-leste do médio curso Porções sudeste e leste do médio curso do rio
Localização na Bacia Hidrográfica pequena porção da extremidade norte desta
Xingu. unidade é abrangida pela AII do UHE Belo do rio Xingu (Margem Direita). Xingu (margem direita).
unidade é abrangida pela AII do UHE Belo
Monte.
Monte.
Municípios sob influência da rodovia Municípios polarizados por São Félix do
Municípios sob influência da rodovia
Organização Territorial Transamazônica: Altamira e Brasil Novo. Xingu, Redenção e Marabá: São Félix do Municípios polarizados por São Félix do
Transamazônica: Senador José Porfírio,
(municípios parcial ou Municípios sob influência da rodovia BR Municípios sob influência da rodovia BR 163: Xingu, Ourilândia do Norte, Cumaru do Xingu, Redenção e Marabá: São Félix do
Anapu, Altamira. Município polarizado por
integralmente abrangidos pela 163: Altamira, Guarantã do Norte. Guarantã do Norte, Matupá, Peixoto Azevedo. Norte, Tucumã. Municípios polarizados por Xingu, Ourilândia do Norte, Porto Alegre do
São Félix do Xingu, Redenção e Marabá: São
unidade) Município polarizado por São Félix do Xingu, São Félix do Araguaia: Santa Cruz do Xingu e Norte, Tucumã, Cumaru do Norte, Bannach.
Félix do Xingu.
Redenção e Marabá: São Félix do Xingu. Vila Rica.
Domínio de Terras Indígenas e Unidades de
Conservaçao; atividades de extativismo, Municípios que possuem a pecuária como atividade principal e por apresentarem crescimento
Atividade de extrativismo e pecuária Terras Indígenas limitam atividades
Base Economica agropecuária incipiente, a exceçao da área no período, com destaque para São Felix do Xingu e os municípios satélites. Avanço de
incipiente, porém em crescimento agropecuárias
compreendida pela APA do Triunfo, com madereiros e pecuaristas em direção às Terra do Meio, situada a oeste.
atividade pecuária em expansão.
Alta taxa de urbanização dos municípios sob
Alto percentual de urbanização; IDH influência da BR 163; IDH médio; taxas
Grau de urbanização menor que 50%, exceto
médio; crescimento demográfico geométricas de crescimento populacional
para Altamira que registrou valores acima de Taxa de urbanização variável e na média em 50%; São Felix e Cumarú tiveram, no período
moderado; indicadores de infra-estrutura entre 0 e 5%; IDH baixo para Brasil Novo e
70% para o período de 1996 e 2007; baixo entre 2000 e 2007, taxa de crescimento entre 5 e 10%; Bannach e Ourilândia com taxas entre
Modos de Vida médios, principalmente para São Felix; baixo nível de infra-estrutura de
crescimento populacional (inferior a 5%) e 0 e 1%, e taxas negativas para Tucumã; IDH médio e precários indicadores de infra-estrutura
abastecimento de água e coleta de resíduos saneamento.
existência de populações ribeirinhas ao longo de saneamento.
sólidos A quase totalidade da área é composta de TI e
do Rio Xingu.
Unidades e Conservação com a presença de
povos indígenas e populações tradicionais
Predomínio de clima Am (segundo
Área de transição entre os climas Am e Aw
De 1.500 a 2.000mm de precipitação média classificação de Köppen); sazonal, com
Predomínio do clima Am3 (segundo (segundo classificação de Köppen);
anual a norte e de 2.000 a 2.500mm a sul. precipitação média anual de 1.800 a 2.200
classificação de Köppen); precipitação Precipitações médias anuais entre 1.500 e precipitação média anual de 1.800 a
Clima Gradiente de déficit hídrico menor a norte mm e período de estiagem compreendido
média anual de 2000 a 2500mm e 100 a 2.000mm e déficits de 200 a 300mm. 2.200mm; baixa amplitude térmica anual,
(300 a 400mm), médio ao centro (200 a entre junho a setembro; baixa amplitude
200mm de déficit hídrico. mantendo temperatura média em torno de
300mm) e menor a sul (100 a 200mm). térmica anual, mantendo temperatura média
24°C.
em torno de 24°C.
Predominam nesta unidade as Rampas e colinas da Depressão da Amazônia Meridional, com
predomínio de Argissolos em áreas suave onduladas, e os Morrotes, morros e serras residuais
Relevos residuais tabulares dos Planaltos
dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia, com Neossolos e afloramentos rochosos. De um
Residuais do Sul da Amazõnia, com Predominam nesta unidade as Rampas e colinas da Depressão da Amazônia Meridional, com
modo geral, os terrenos nesta unidade são susceptíveis à erosão e apresentam áreas com
Neossolos e afloramentos rochosos predomínio de Argissolos em áreas suave onduladas, e os Morrotes, morros e serras residuais
aptidão agrícola boa a restrita para lavouras, chegando a áreas sem aptidão agrícola. Nas
determinam áreas com aptidão para abrigo dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia, com Neossolos e afloramentos rochosos. De um
Fisiografia e solos áreas abrangidas pela AII do UHE Belo Monte ocorrem granitóides e migmatitos, observando
e proteção da fauna e flora. Presença modo geral, os terrenos nesta unidade são susceptíveis à erosão e apresentam áreas com
a ocorrência de colinas, com predomínio de Argissolos, em associação com Latossolos,
também de Argissolos. Alta aptidão agrícola boa a restrita para lavouras, chegando a áreas sem aptidão agrícola.
determinando aptidão variável de boa a restrita para lavoura e boa para pastagem plantada, e
suscetibilidade à erosão quando da
ocorrência de Morrotes e Morros e Serras residuais, com Neossolos e afloramentos rochosos,
remoção da cobertura vegetal.
determinando, por vezes, áreas com aptidão restrita para lavoura ou sem aptidão para o uso
agrícola.
Compreende a bacia do rio Iriri e o trecho
Nascentes de formadores do rio Curuá, Compreende a maior parte da bacia do Rio Compreende as nascentes dos tributários da
Hidrografia médio do rio Xingu, entre a cachoeira de Von Compreende a bacia do rio Bacajá.
afluente do rio Iriri. Fresco. margem direita do rio Fresco.
Martius e a foz do rio Iriri.
Águas claras, ligeiramente ácidas, bem Condutividade alta; carga de sedimentos superior a dos demais rios da bacia; essa condição está relacionada aprocessos geoquímicos
oxigenadas, pobres em nutrientes, característicos dessas sub-bacias, em função de variações do substrato geológico, somada às influências antrópicas, especialmente no rio
Qualidade das águas Sem informação específica. condutividade crescente ao longo do curso do Fresco, onde as taxas de desflorestamento são elevadas.
rio; influência antrópica nas proximidades de
São Félix do Xingu.

6365-EIA-G91-001b 38 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.2-2
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Médio Rio Xingu
Continuação
Formações da Serra do
Características Ambientais Florestas do Rio Iriri Florestas do Rio Bacajá Florestas do Rio Fresco Floresta e Pecuária
Cachimbo
Extensas áreas contínuas de Florestas
Ombrófilas Aberta e Densa, esta última
prevalecendo a leste

A porção norte desta unidade encontra-se dentro


Predomínio de Florestas Ombrófilas contínuas. dos limites estabelecidos pela AII do AHE Belo
Localmente, Savanas associadas às formações florestais. Monte; a porção drenada pelo rio Bacajá Prevalecem extensas áreas de
A leste contato Savana/Floresta Ombrófila. encontra-se em bom estado de conservação, Florestas Ombrófilas co, Remanescentes de Floresta Ombrófila e
Campinaranas, Floresta Estacional,
Floresta Ombrófila Densa Aluvial e áreas de vegetação com predomínio de Florestas Ombrófila Aberta ocorrências disjuntas e de contatos Florestas Ombrófila/Estacional e
Formações vegetais Contato Campinarana / Floresta
dos pedrais na calha do rio Xingu, após a confluência do com Palmeira e Cipós e Densa Submontana, pequenas extensões de formações Floresta Ombrófila/Savana em meio a
Ombrófila, Refúgio.
rio Iriri. Área de florestas mais preservadas no estremo sendo parcialmente incluída na TI Trincheira do savânicas localmente sobre topos extensas áreas de pastagem.
norte da unidade, que integra a T.I. Arara. Bacajá. de morros, ao sul.

Na parte noroeste, sob influência da rodovia


Transassurini, essas formações vegetais
encontram-se muito alteradas devido aos
assentamentos rurais, onde ocorrem culturas
cíclicas e pastagens,
Unidades Zoogeográficas: Área de endemismo Pará 1.
Fauna Ombrófila da margem esquerda do rio Xingu.
Inúmeros táxons apresentam limite leste da distribuição Unidades Zoogeográficas: Área de endemismo Pará 2, inúmeros táxons apresentam
Fauna relacionada zoogeograficamente Unidades Zoogeográficas: Área de
geográfica determinado pelo rio Xingu, sendo muitos limite oeste da distribuição geográfica determinado pelo rio Xingu. Fauna
com as Formações da Serra do Cachimbo endemismo Pará 2, entretanto com
deles endêmicos do interflúvio Tapajós-Xingu. umbrófila da margem direita do rio Xingu: Chiropotes satanas, primata que tem o
e a Florestas Estacionais Presença de predomínio de fauna heliófila e de borda.
Fauna Chiropotes albinasus, primata que tem o limite oriental limite ocidental de sua distribuição definido pelo curso do rio Xingu. Entre as aves:
cavernas propicias à ocorrência de fauna Populações de espécies estritamente florestais
de sua distribuição definido pelo curso do rio Xingu. Psophia viridis interjecta, Phlegopsis nigromaculata confinis, Pyriglena leuconota
especializada nesses ambientes (morcegos, podem remanescer em fragmentos, podendo
Entre as aves: Psohpia viridis dextralis, Rhegmatorhina interposita.
peixes). estar suscetíveis à extinção local.
gymnops, Phlegopsis nigromaculata bawmani, .
Pyriglena leuconota similis. Presença de cavernas
propicia fauna especializada.
A ictiofauna dessa área é relativamente pouco estudada. Dos registros de ictiofauna disponíveis na bacia hidrográfica do rio Xingu (correspondentes a 467 espécies), 57 espécies referem-se
à bacia hidrográfica do Iriri e 35 ao trecho entre a cachoeira Von Martius até a montante da confluência com o Iriri. Verifica-se também a presença de espécies de valor comercial
Ictiofauna Sem informação específica
exploradas por pescadores de São Félix do Xingu. Há registros de espécies raras (Myteus rubripinnis) e de valor comercial (Geophagus albifrons, Cyphocharax festivus) na bacia do rio
Fresco.
Florestas Secas Tropicais do Mato Grosso,
Florestas Úmidas do Interflúvio Xingu- Florestas Úmidas do Interflúvio Xingu- Interflúvio Xingu -Tocantins, Florestas Secas
Ecorregião Florestas Úmidas do Interflúvio do Xingu- Interflúvio Xingu/Tocantins.
Tapajós. Tocantins. Tropicais do Mato Grosso.
Tapajós.
Prevalece uso florestal, associado ao modo de
Prevalece uso florestal, associado ao modo de Prevalece uso florestal, associado ao modo de Prevalece uso pecuário, em extensas áreas
Pecuária, extrativismo (lenha, vida indígena. Subordinadamente,
vida indígena, sendo que apenas cerca de 2% vida indígena, bem como extrativismo de desflorestadas. Cerca de 65% da área
subordinadamente, madeira). Cerca de preservação e pecuária. Cerca de 3% da área
Usos principais da área encontra-se com ocupação antrópica, madeira, lenha e castanha. Cerca de 13% da encontra-se com ocupação antrópica,
13% da área encontra-se com ocupação encontra-se com ocupação antrópica,
o que indica o nível de conservação dessa área encontra-se com ocupação antrópica, evidenciando a significativa pressão
antrópica indicando elevado nível de conservação da
área. indicando que a região está bem conservada. antrópica sobre os ecossistemas terrestres.
biota.
Estação Ecológica da Terra do Meio, Parque
Nacional Serra do Pardo; Floresta Nacional
do Xingu, Reserva Extrativista Riozinho do
Anfrizio, Floresta Nacional de Altamira; Não há unidades de conservação.
Unidades de Conservação (UCs) Não há unidades de conservação.
Floresta Estadual do Iriri, Reserva Extrativista .
do Iriri, Parque Nacional do Jamanxim,
Reseva Extrativista do Xingu, Área de
Proteção Ambiental Triunfo do Xingu.

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QUADRO 9.2-2
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Médio Rio Xingu
Conclusão
Características
Formações da Serra do Cachimbo Florestas do Rio Iriri Florestas do Rio Bacajá Florestas do Rio Fresco Floresta e Pecuária
Ambientais
Cachoeira Seca, Arara, Kararaô, Xipaya, Apyterewa, Trincheira Bacaja, Koatinemo,
Terras Indígenas (TIs) Borda da TI Panará. Kuraya, Baú, Panará, Menkragnoti, Kayapó, Araweté Igarapé Ipixuna; e Arara da Volta Kayapó, Badjonkore e Capoto/ Jarina. Inexistente.
Capoto/Jarina. Grande.

Patrimônio Arqueológico Náo há sítios arqueológicos registrados No município de Ourilândia do Norte há registro de 9 sítios cerâmcios a céu aberto.

Muito Alta: TI Capoto/Jarina, Xingu 2, Xingu- Áreas de Muito Alta Prioridade: T.I
Iriri, Rio Iriri 2, Médio Xingu, Alto Xingu; Áreas Apyterewa, Araweté Igarapé Ipixuna,
Área Extremamente Alta: Kayapó, Áreas de
Áreas de Prioridade Extremamente Alta: Extremamente Alta: T.I. Panará, T.I. Koatinemo; Extremamente Alta prioridade:
Áreas Prioritárias (APs) Muito Alta Prioridade: Badjonkore, T.I Inexistente.
interflúvio Xingu / Teles Pires e TI Panará. Menkragnoti, T.I Kayapó, Novas Áreas T.I. Trincheira Bacaja, Serrra dos Carajás,
Badjonkore, Capoto/ Jarina.
Identificadas Pelos Grupos Regionais Interflúvio Rio Anaku;
Xingu / Iriri. Especial: Arara Volta Grande do Xingu.
Desflorestamentos antigos na região de
Em expansão nos últimos anos, notadamente em
Em expansão nos últimos anos, notadamente influência de São Félix do Xingu e em
Principalmente na Floresta Estacional e nas 2003/2004, a partir de vetores externos (BR 163, Em expansão nos últimos anos, notadamente em
em 2003/2004, nas bordas, a partir de Bannach, Ourilândia e Cumaru do Norte, a
Desflorestamentos formações de contato (Campinarana São Félix do Xingu e Transamazônica). 2003/2004, nas bordas, a partir de vetores externos
vetores externos (São Félix do Xingu e partir de vetores externos.
/Floresta Estacional). Expansão dos desflorestamentos principalmente (São Félix do Xingu).
Transamazônica). Desflorestamentos recentes em direção
na Terra do Meio.
oeste.
Embora todos os municípios dessa unidade
Dentro do limite legal no município de Altamira apresentem taxas de desflorestamento acima do
Dentro do limite legal no município de
e em situação grave no município de São Félix do limite legal, a supressão da vegetação ocorre, de Situação grave em São Félix do Xingu e
Altamira e Senador José Porfírio, acima do
Taxas de Desflorestamento Dentro do limite legal. Xingu, porém com desflorestamentos menos modo geral, fora das TIs. Excetua-se Cumaru do Cumaru. Muito grave e crítica em Bannach
limite no município de Anapu, e em situação
intensos nas áreas municipais situadas dentro da Norte, onde a taxa, considerando as TIs, chega a e Tucumã.
grave em São Félix do Xingu.
unidade. 33% de seu território (e 44% considerando
somente a área municipal sem TI).
Prevalecem áreas de desflorestamento antigos e
recentes, em linhas, avançando na matriz
florestal, principalmente na Terra do Meio, com Áreas de desflorestamentos recentes, com Cobertura vegetal contínua, em mosaico de Áreas de desflorestamentos recentes de
Nível de Fragmentação Significativas áreas contínuas. "garimpo de madeira" nessa região. Extensos diferentes dimensões, isoladas na matriz formações florestais e encraves savânicos. Áreas grandes extensões avançando
desflorestamentos nas encostas do vale do rio florestal. de desflorestamentos incipientes no limite sudeste. aparentemente por vizinhança.
Xingu, nas proximidades da cidade de São Félix
do Xingu e de Altamira.
Forte pressão de desflorestamento para pecuária
Área com formações vegetais incomuns
em áreas florestais do entorno de TIs e UCs, bem Forte pressão de desflorestamento em
(Campinarana), pouco freqüentes (Floresta Forte pressão de desflorestamento para pecuária em áreas florestais limítrofes à unidade,
como em áreas de declividade elevada, muito formações de contato (Floresta
Fragilidades Estacional) e de transição sem medidas de especialmente ao sul da unidade Florestas do Bacajá e a leste da unidade Florestas do rio Fresco.
suscetíveis a processos erosivos. Conversão de Ombrófila/Savana) e nas áreas de
proteção legal e com tendência à ocupação .
florestas em campos antrópicos e reduzida nascentes dos afluentes do rio Fresco.
com pastagem.
exploração sustentável de produtos da floresta.
Desflorestamentos incipientes em TIs, grandes Forte pressão de desflorestamento para
Desflorestamentos em área de extrema manchas esparsas de desflorestamentos, bem pecuária, acima dos limites legais, em APP
Forte pressão de desflorestamento para pecuária
Conflitos Existentes prioridade para conservação e nas como desflorestamentos em linha no sentido Desflorestamentos em TIs. e sem observar as Reservas Legais. Forte
em áreas florestais do entorno.
proximidades e dentro da TI. leste/oeste da unidade. Contraste marcante entre pressão de desflorestamento em
áreas sob proteção legal e áreas de uso. remanescentes.
Desflorestamentos nas bordas das TIs e UCs, Desflorestamentos em TI e no seu entorno, com
avançando gradativamente para seu interior. aumento gradual de efeitos de borda. Retirada Exaustão dos recursos naturais e redução
Desflorestamentos em ecossistemas
Isolamento das áreas protegidas e aumento seletiva da madeira realizada de forma não crítica da diversidade biológica. Potencial
incomuns devido a pressões externas à Desflorestamentos em TIs e redução de
gradual de efeitos de borda. Caso não sejam sustentável, reduzindo a oferta de produtos da mineral associado a rochas vulcano
Tendências de Situações unidade e à bacia (BR – 163), bem como diversidade biológica. Potencial mineral
implementados os Planos de Manejo das UCs de floresta. Redução de diversidade biológica. sedimentares (greenstones) pode
Futuras em decorrência da extensão do município associado a rochas vulcano sedimentares
Uso Sustentável, persistirão processos de Potencial mineral associado a rochas vulcano determinar atividades ilegais de mineração,
de Altamira, que dificulta a fiscalização e o (greenstones) poderá levar a conflitos de uso
exploração não sustentável da floresta, sedimentares (greenstones) pode determinar ampliando a degradação dos ecossistemas
ordenamento de seu território.
acarretando importante redução de diversidade atividades ilegais de mineração, promovendo terrestres.
biológica e da oferta de produtos florestais. degradação dos ecossistemas.

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9.2.3 Compartimento Baixo Xingu

A região situada no baixo curso do rio Xingu é caracterizada por terrenos pertencentes a três
unidades de relevo distintas. Na região da rodovia Transamazônica predominam colinas com
altitudes entre 250 e 300m, representativas do Planalto Marginal do Amazonas, em uma faixa
estreita que secciona a bacia no sentido sudoeste-nordeste e constitui o divisor entre o
Planalto e a Depressão do Amazonas. Esses terrenos são sustentados por rochas sedimentares
paleozóicas (arenitos, siltitos, ritimitos, folhelhos) e ígneas mesozóicas (diabásio) da Bacia
Sedimentar do Amazonas e sedimentos cenozóicos associados às planícies fluviais. Nesse
trecho predominam Latossolos, Argissolos e Nitossolos, que têm como características a
susceptibilidade à erosão laminar e em sulcos quando da remoção da cobertura vegetal.

O trecho da Depressão do Amazonas contido nesse compartimento é caracterizado por


terrenos em forma de colinas e rampas subhorizontais delimitadas por encostas íngremes. As
altitudes situam-se entre 50 e 200m. Esses terrenos são sustentados por rochas sedimentares
mesozóicas representadas pela Formação Alter do Chão (arenitos e argilitos) e, sedimentos
cenozóicos associados às coberturas detrito-lateríticas terciárias e às planícies fluviais. Os
solos predominantes são os Latossolos e Plitossolos Petricos Concrecionários, que têm baixa
susceptibilidade à erosão.

Finalmente, há que se distinguir no último trecho do baixo Xingu, terrenos planos com
inclinação inferior a 1% e altitudes entre 5 e 20m, componentes da Planície Fluviolacustre do
Amazonas, sendo formados pela planície alagada que se mantém submersa, com lâminas de
água de alguns centímetros mesmo nos períodos de estiagem, formando brejos, alagadiços e
lagos; outros ambientes presentes são as planícies de inundação que são alagadas apenas no
período das enchentes e os baixos terraços. Esses ambientes, de vital importância para o
ecossistema aquático regional, são formados por sedimentos aluvionares, constituídos por
argilas e siltes, com eventuais níveis de areia fina e de cascalho, ricos em matéria orgânica. Os
solos predominantes são os Gleissolos Háplicos, Neossolos Flúvicos, Plintossolos Argiluvicos
e Neossolos Litólicos. Todos esses terrenos são muito sensíveis às interferências antrópicas.

Excetuando-se o trecho diretamente vinculado à rodovia Transamazônica, que se encontra


grandemente alterado por atividades antrópicas, as demais regiões do baixo Xingu apresentam
ambientes bem conservados, com florestas ombrófilas densas e formações pioneiras nas
várzeas do Amazonas.

A identificação de unidades de paisagem neste trecho do baixo Xingu está muito vinculada às
formas de ocupação do território sendo que a exceção da parte mais ao sul, onde ocorre
intensa antropização devido a influencia da rodovia Transamazônica, o restante do
compartimento é caracterizado pelas ecorregiões dos interfluvios Tapajós-Xingu (margem
esquerda) e Xingu-Tocantins (margem direita) e ainda pela presença de partes da ecorregião
denominada Várzeas do Gurupá. São áreas de baixa ocupação humana e grande importância
para a fauna e flora amazônica.

Considerando tais características, este compartimento correspondente ao trecho do Baixo


Xingu foi subdividido em apenas duas unidades de paisagem, que podem ser visualizadas na
FIGURA 9.2-1sendo suas principais características sintetizadas no QUADRO 9.2-3

6365-EIA-G91-001b 41 Leme Engenharia Ltda.


9.2.3.1 Unidade de Paisagem Transamazônica

O elemento determinante de delimitação desta unidade refere-se ao uso do solo, que define
um padrão de desflorestamento em “espinha de peixe” ao longo da área de influência da BR-
230.

Situa-se ao norte da bacia hidrográfica, em correspondência às colinas amplas e médias do


Planalto Marginal do Amazonas. Essa unidade abrange grande parte do trecho da margem
esquerda do rio Xingu denominado Volta Grande e se caracteriza pela presença de canais
predominantemente em rochas que, nesse trecho assumem maior complexidade, além da
ocorrência de planícies fluviais muito estreitas, bem como grande quantidade de pedrais,
rápidos e cachoeiras. Compreende o canal principal do Xingu, a jusante da foz do rio Iriri,
estendendo-se até a localidade de Belo Monte.

A presença destes pedrais, rápidos e cachoeiras indicam o caráter erosivo e jovem desse
trecho da bacia hidrográfica, onde ainda se faz presente de modo marcante a resistência
diferencial das rochas e das estruturas que secionam o perfil longitudinal dos rios.
Corresponde também a região de nascentes de afluentes da margem esquerda do baixo curso
do rio Xingu.

Continuam a se evidenciar anomalias de caráter neotectônico e o rio Xingu mantém-se com as


mesmas características: águas transparentes, ligeiramente ácidas, com baixa concentração de
íons, nutrientes e matéria orgânica dissolvida.

Os solos predominantes, Latossolos e Argissolos, bem como associações de Nitossolos


Vermelhos Eutroférricos e Latossolos favorecem a agricultura e pecuária, embora necessitem
correções e adubação.

Essa unidade, cuja ocupação deu-se nas décadas de 1960 e 70, encontra-se sob influência da
rodovia BR–230 – Transamazônica – e apresenta como característica marcante o padrão de
desflorestamento em “espinha de peixe”, associado às vias de acesso transversais à rodovia.

A cobertura florestal intensamente fragmentada, restringe-se aos remanescentes de modo


geral com características secundárias devido à exploração seletiva de madeira, ao efeito de
borda e ao isolamento dos fragmentos na matriz antrópica.

As áreas situadas na margem esquerda do rio Xingu fazem parte da Área de endemismo Pará
1 enquento que as situadas na margem direita pertecem à Área Para 2. No entanto, devido ao
seu baixo nível de conservação as populações remanescentes de espécies estritamente
florestais provavelmente encontram-se muito suscetíveis à extinção local, seja devido ao
isolamento, seja devido à pequena extensão dos fragmentos florestais e ao seu estado de
conservação.

Prevalece o uso pecuário, notadamente na região de Altamira, verificando-se também culturas


perenes como cacau e café e culturas de subsistência. O extrativismo é pouco expressivo,
embora se verifique produção extrativista de madeira, lenha, castanha e açaí. Como as sedes
dos municípios desta região estão situadas ao longo da rodovia Transamazônica, esta unidade
compreende várias sedes municipais, como Placas, Uruará, Medicilândia, Brasil Novo,
Anapu, Vitória do Xingu e Altamira, cidade pólo da região.

6365-EIA-G91-001b 42 Leme Engenharia Ltda.


O principal fator indutor da ocupação nesta região foi o processo de colonização dirigida da
década de 1970, resultando em uma profusão de assentamentos rurais, ao longo da
Transamazônica, e especialmente nas proximidades de Altamira que, em termos regionais já
tinha uma estrutura urbana mais desenvolvida.

O uso da terra predominante é com a pecuária de corte, praticada em propriedades maiores no


entorno da cidade de Altamira e ao longo da rodovia Transamazônica e em loteamentos com
menores áreas no interior da região denominada Volta Grande do Xingu.

Alguns dos municípios apresentam elevadas taxas de desflorestamento, destacando-se Vitória


do Xingu, com 54% de seu território desprovido de cobertura vegetal, e Brasil Novo, com
33%. Altamira, embora com apenas 2,8% de desflorestamentos (explicado pela grande
externsão deste município), apresenta níveis críticos no entorno da sede municipal, onde se
concentram as atividades agropecuárias.

A ictiofauna dessa área é relativamente bem conhecida. Verifica-se alta diversidade e


presença de espécies endêmicas (Hydrolycus armatus, por exemplo). Nessa área está
concentrada a maior atividade de pesca na bacia, tanto de peixes para consumo (aratu-caneta -
Laemolyta próxima; piaus – Leporinus friderici; pacu - Myleus pacu; branquinha –Curimata
cyprinoides, C. vittata; jaraqui –Semaprochilodus brama) quanto de espécies ornamentais
(Ancistrus ranunculus; Aequidens michaeli, Scobinancistrus aureatrus).

O potencial espeleológico propiciado pelas características geológicas dos arenitos da


Formação Maecuru, determina a ocorrência de espécies animais caracteristicamente
cavernícolas, adaptadas às condições desses ambientes.

Altamira é o pólo regional e o município de maior população da parte paraense da bacia;


apresentou crescimento de cerca de 2% ao ano entre 2000 e 2007. Os demais municípios
apresentaram crescimento de população pequeno ou mesmo negativo, somente Pacajá e
Placas tiveram crescimento mais significativo; IDH dos mais baixos entre os municípios da
bacia, assim como os indicadores de infra-estrutura de saneamento; presença de população
ribeirinha no Xingu e afluentes.

Vários são os fatores que fragilizam os ecossistemas desta unidade e contribuem para criar um
quadro de conflitos que tem na grilagem de terra associada à carência na legalização das terras
a base desse quadro de conflitos já instalado nesta região. As crescentes taxas de
desflorestamento acima do limite legal nos municípios de Vitória do Xingu, Brasil Novo,
Medicilândia, Uruará, Placas, Anapu e Pacajá; a prática predatória da exploração madeireira e
a biopirataria comprometem os recursos extrativistas e a diversidade biológica. Por outro
lado, a ausência de uma adequada infra-estrutura de saneamento compromete a qualidade das
águas dos igarapés que drenam as áreas urbanas e a pouca eficiência dos governos locais
contribui para o crescimento desordenado dos núcleos urbanos.

9.2.3.2 Unidade de Paisagem Ria do Xingu

O trecho final da bacia hidrográfica do rio Xingu, aqui denominado Ria do Xingu por
abranger essa formação fluvial, abrange a Área de Endemismo Pará 1, correspondente ao
interflúvio Tapajós/Xingu situado na margem esquerda do rio Xingu e a Área de Endemismo
Pará 2, correspondente aos terrenos da margem direita no interfluvio Xingu/Tapajós. Além
desses dois domínios abrange, também, as várzeas do rio Amazonas, situadas na foz do rio

6365-EIA-G91-001b 43 Leme Engenharia Ltda.


Xingu. Compreende extensos ecossistemas florestais caracterizados por florestas ombrófilas
densas e florestas ombrófilas aluvais, que revestem rampas de platôs com lateritas e colinas e
rampas da Depressão do Amazonas e planícies aluviais, especialmente na região da foz do rio
Xingu.

O substrato, caracterizado por associações de Latossolos amarelos distróficos e Plintossolos


Pétricos concrecionários, determinando restrições para agricultura, com impedimentos físicos
devido a concreções lateríticas ferruginosas e cascalho.

Apresenta, contudo, grande potencial extrativista, verificando-se atividades de extrativismo de


açaí, madeira e lenha, bem como de castanha. A utilização da terra para pecuária ainda é
restrita a pequenas manchas, devido à dificuldade de acesso e à presença da RESEX Verde
Para Sempre, criada recentemente (em 2004). As atividades extrativas, a agricultura de
subsistência e a pesca são as principais atividades da população local, constituída por
ribeirinhos e comunidades quilombolas, que nessa região estão localizadas em Gurupá (12
comunidades) e Porto de Moz (cinco comunidades).

O trecho final do rio Xingu, encontra-se dentro da Planície Flúvio-Lagunar do Amazonas,


caracterizada por uma rede hidrográfica complexa, com canais múltiplos, ilhas, furos, lagos,
diques aluviais, canais anastomosados e meandros abandonados. Nessa área há extensas
formações pioneiras, conhecidas como unidade zoogeográfica Várzeas do Gurupá, detentora
de uma fauna típica, reunindo alguns táxons cuja distribuição está fortemente associada a
esses ambientes, como o pica-pau-anão-da-várzea (Picumnus varzeae), o formigueiro-liso
(Myrmoborus lugubris), o joão-de-barriga-branca (Synallaxis propinqua), o joão-escamoso
(Cranioleuca mueller) e o joão-da-canarana (Certhiaxis mustelinus), solta-asa-do-sul
(Hypocnemoides maculicauda), poiaeiro-de-sobrancelha (Ornithion inerme), alegrinho-
amarelo (Inezia subflava) e tico-tico-cigarra (Ammodramus aurifrons) espécies tipicamente
associadas a florestas aluviais e vegetação ribeirinha. A fauna desses ambientes difere
significativamente daquela associada aos demais ambientes amazônicos, dado que apenas
parte das espécies freqüenta áreas de várzea.

Suas características quanto aos sistemas aquáticos estão relacionadas ao rio Amazonas, e
também se apresentam distintas das demais unidades analisadas.

A ictiofauna apresenta espécies que só ocorrem no baixo curso do rio. Espécies como Pellona
flavipinnis, Loricaria sp, Brachyplatystoma filamentosum, Doras cf. eigenmanni,
Hemisorubim platyrhynchus, Semaprochilodus insignis, Serrasalmus aff manueli, entre
outras, foram registradas somente nesse trecho (ELB/ELN, 2001).

A ria do Xingu é caracterizada por um canal muito largo e profundo, com margens altas,
sendo afetada por variações do nível d’água decorrentes das marés. Esses ambientes
apresentam características intermediárias entre rios e lagos e são pouco conhecidos do ponto
de vista ecológico. Ao final desta ria, a calha do rio sofre um estreitamento e é onde são
depositadas as areias formando bancos de areia, conhecidos como os tabuleiros de desova de
tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) do baixo Xingu; esses tabuleiros reúnem um
conjunto de ilhas agrupadas formando um polígono de aproximadamente 8,0 km2, no
município de Senador José Porfírio.

A ictiofauna do baixo Xingu apresenta diferenças significativas em relação ao trecho a


montante, em função da barreira geográfica e ecológica provavelmente representada pela

6365-EIA-G91-001b 44 Leme Engenharia Ltda.


região das grandes cachoeiras em Belo Monte. De acordo com Camargo et al (op.cit.), entre
as espécies registradas apenas no baixo curso estão: Thalassophryne amazonica, espécie
peçonhenta, Pseudotylosurus microps, Hyphessobrycn pulchripinnis, além de várias espécies
ornamentais como Nannostomus eques, Carnegiella strigata, Pyrrhulina sp., Rivulus sp. e de
interesse para alimentação como Anchovia clupeoides, Anchoviella vaillanii, entre outras.
Citam-se ainda espécies raras presentes nesse trecho como Lycengraulis batesii.

Registra-se, também, a ocorrência de botos (Cetaceae: Inia geoffrensis e Sotalia fluviatilis)


nesse trecho do rio Xingu, ausentes em seus trechos médio e superior

Em especial nessa unidade torna-se importante ressaltar o uso do rio Xingu como via de
navegação; o trecho que se estende da localidade de Belo Monte até a foz do Rio Xingu,
possui aproximadamente 236 km. De Senador José Porfírio até a sua foz o rio Xingu possui
boas condições para a navegação, sendo constituído pela ria, com baixa declividade e
apresentando grande largura (quase em forma de estuário), estreitando-se apenas na sua foz.
As larguras atingem 7 km e as profundidades são superiores a 6 m no período de águas altas e
médias. Durante a estiagem este valor se aproxima aos 2,7 m. Este trecho é navegável durante
todo o ano, sem maiores preocupações quanto ao calado das embarcações.

Os municípios que integram essa unidade são Senador José Porfírio, Vitória do Xingu, Brasil
Novo, Medicilândia, que estão sob influência da rodovia Transamazônica. Os municípios sob
influência do rio Amazonas pertencentes a essa unidade são Gurupá, Prainha e Porto de Moz.

O trecho de Belo Monte até o município Senador José Porfírio (63km), apresenta boas
condições de navegação nos períodos de águas altas e médias de janeiro a setembro. Durante
os meses de estiagem (agosto a dezembro) a altura d’água atinge a ordem de 2,3 m de
profundidade, permitindo a navegação de embarcações de até 1,8 m de calado devido à
presença de pedras e bancos de areia.

O rio Xingu é utilizado principalmente para o transporte de combustível e cargas gerais, como
madeira, além de servir para o transporte de passageiros entre localidades próximas.

Os principais portos, obedecendo o sentido nascente-foz, são encontrados nos municípios de


Altamira (a 70 km da sede do município), Senador José Porfírio e Porto de Moz, todos
localizados no trecho denominado baixo Xingu.

Dentre os portos citados, o de Altamira possui destaque, sendo o único registrado no


Ministério dos Transportes. Foi criado no ano de 1974 para o escoamento da produção das
agrovilas que seriam implantadas na BR-230 (Transamazônica). O Porto de Altamira está
situado na margem esquerda do rio Xingu e escoa principalmente derivados de petróleo. Na
área do porto se encontram as instalações da Petrobrás para armazenamento de diesel,
gasolina e querosene.

6365-EIA-G91-001b 45 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.2-3
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Baixo Rio Xingu
Continua
Caractererísticas
Transamazônica Ria do Xingu
Ambientais
Porção centro sul do baixo curso do rio Xingu (interflúvio Jarauçu - Iriri / Xingu). Esta unidade abrange a
Localização na Bacia Hidrográfica Corresponde ao trecho final do rio Xingu, já sob influência do rio Amazonas.
porção mediana da AII do UHE Belo Monte.

Organização Territorial (municípios


Municípios sob influência da rodovia Transamazônica: Altamira, Brasil Novo, Medicilândia, Vitória do Municípios sob influência da rodovia Transamazônica: Senador José Porfírio, Vitória do Xingu, Brasil
parcial ou integralmente abrangidos
Xingu, Senador José Porfírio, Anapu, Placas, Uruará e Pacajá. (municípios limítrofes da Bacia do Rio Xingu) Novo, Medicilândia. Município sob influência do rio Amazonas: Gurupá, Prainha e Porto de Moz.
pela unidade)

Atividades de pecuária, agricultura e extrativismo; destaque para a produção de cacau; município de Altamira
Predomina atividades de agricultura de subsistência, extrativismo vegetal e a pesca; não há atividades
Base Econômica apresenta uma área plantada constante desde 1990 e uma forte tendência de crescimento da pecuária e do
agropecuárias de expressão comercial.
extrativismo. Funciona como pólo regional da Transamazônica
Altamira pólo regional. Demais municípios apresentam crescimento de população pequeno ou mesmo Pequeno percentual de população urbana, menos de 50%; pequeno crescimento ou mesmo crescimento
negativo; somente Pacajá e Placas têm crescimento mais significativo; IDH dos mais baixos da bacia, assim
negativo da população, principalmente a rural; IDH dos mais baixos da bacia; baixos indicadores de
Modos de Vida
como os indicadores de infra-estrutura de saneamento; presença de população ribeirinha no Xingu e infra-estrutura de saneamento. Presença de populações; comunidades Quilombolas em Gurupá e Porto de
afluentes; Ocupação de terras teve origem nos assentamentos do INCRA da década de 70. Moz.
Predomínio do clima Am (segundo classificação de Köppen); sazonal, com precipitação média anual de
Predomínio do clima Am sazonal (classificação de Köppen); precipitação média anual de 1800 mm e período
2000 a 2500mm; déficit de 200 a 300mm; período de estiagem compreendido entre agosto e dezembro;
Clima de estiagem entre junho e novembro; baixa amplitude térmica anual, com temperatura média em torno de
baixa amplitude térmica anual, mantendo temperatura média em torno de 26°C.
26°C.
Predominam as colinas do Planalto Marginal do Amazonas e as rampas e colinas da Depressão do
Rampas de platôs com lateritas, colinas e rampas da Depressão do Amazonas, onde estão presentes
Amazonas, com ocorrências de rochas sedimentares e vulcânicas básicas da Bacia do Amazonas, com
associações de Latossolos e plintossolos pétricos concrecionários, com restrições à agricultura e com
Latossolos associados a Nitossolos, adequados à agricultura e pastagem, com susceptibilidade erosiva
potencial extrativista. Os terrenos destas unidades apresentam susceptibilidade erosiva ligeira a forte.
variando de Ligeira a Forte. Na extremidade centro sul desta unidade, em terrenos também abrangidos pela
Presença de UC de Uso Sustentável, compatível com as potencialidades da unidade.
Fisiografia e solos AII do UHE Belo Monte, ocorrem rochas graníticas, com o desenvolvimento das rampas e colinas da
Depressão da Amazônia Meridional, com predomínio de Argissolos em áreas suave onduladas, e de
Na foz do rio Xingu, Planície Fluviolacustre do Amazonas, favorável ao assoreamento, presença de
morrotes, morros e serras residuais dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia, com Neossolos e
Gleissolos e Neossolos.
afloramentos rochosos, levando os terrenos a apresentarem susceptibilidade erosiva Moderada a Forte e
aptidão agrícola boa a restrita para lavouras, além de áreas sem aptidão agrícola.
Afluentes da margem esquerda: rios Jarauçu e Acaraí.

Afluentes da margem direita: rio Majari


Compreende as nascentes dos formadores do rio Jarauçu e tributários da margem esquerda do baixo curso Na ria do Xingu ocorre canal largo e profundo, com margens altas, sendo afetado por variações do nível
dos rios Iriri e Xingu. No trecho da Volta Grande predominam canais em rochas, com planícies fluviais d’água decorrentes das marés.
Hidrografia
estreitas e descontínuas e grande quantidade de pedrais, rápidos e cachoeiras. Compreende o canal principal .
do Xingu, entre a foz do rio iriri e a cidade de Senador José Porfírio. Na foz do rio Xingu ocorre canais múltiplos, com ilhas, paranás, furos, lagos, diques aluviais, cordões
fluviais do tipo slikke e schorre, praias, canais anastomosados, meandros abandonados, além de feições
mais comumente associadas com o período das enchentes, como os igapós, que correspondem a trechos
de florestas que ficam inundadas durante as enchentes.
Águas claras, ligeiramente ácidas, bem oxigenadas, relativamente pobres em nutrientes.
Qualidade das águas
Influência antrópica marcada pela presença de efluentes domésticos nas proximidades de Altamira.
Remanescentes de floresta ombrófila alterada nos fundos dos lotes dos assentamentos rurais em meio a Floresta Ombrófila Densa e Floresta Ombrófila Aluvial em bom estado de conservação.
Formações vegetais extensas áreas de uso antrópico. Florestas mais preservadas na porção oeste da subárea e na porção norte da Nas planícies presença de Formações Pioneiras de Influência Fluvial (campos de várzea); região sujeita a
T.I Arara. inundações freqüentes.
Unidades Zoogeográficas: Floresta Ombrófila do Interflúvio Tapajós-Xingu DNA margem esquerda do
Rio Xingu
Floresta Ombrófila do Interfluvio Xingu Tocantins na margem direita.
Unidades Zoogeográficas: Área de endemismo Pará 1, entretanto com predomínio de fauna heliófila e de
Fauna borda. Populações de espécies estritamente florestais podem remanescer em fragmentos, podendo estar muito
Nas planícies, Unidade Zoogeográfica Várzea do Rio Amazonas. Alguns táxons ocorrem exclusivamente
suscetíveis à extinção local. Ocorrência de cavernas propícia a presença de fauna cavernícola.
nas áreas de várzea da região Amazônica. Aves cuja ocorrência está restrita à várzea: Myrmotherula
assimilis, Myrmoborus lugubris, Synallaxis propinqua, Cranioleuca mueller e Certhiaxis mustelinus
.

6365-EIA-G91-001b 46 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.2-3
Características das Unidades de Paisagem do Compartimento Baixo Rio Xingu
Conclusão
Caractererísticas
Transamazônica Ria do Xingu
Ambientais
Similar a do rio Amazonas. Registro de espécies de ambiente lêntico e semi lênticos (Serrasalmus
É relativamente bem conhecida, apresentando alta diversidade, endemismos, presença de espécies raras e rhombeus), de valor comercial (Arapaima gigas) e de espécies ornamentais nos afluentes (Pimelodus
Ictiofauna ornamentais, em decorrência do número e complexidade dos canais fluviais que caracterizam esta área, albipinnis e Pimelodus ornatus).
denotando a importância biológica da mesma. A complexidade ambiental e o regime de cheias e vazantes determinam ambientes propícios à reprodução e
alimentação de peixes. Presença de peixes de grande porte, como o pirarucu (Arapaima gigas).
Ecorregião Interflúvio do Xingu-Tapajós e Interflúvio Xingu /Araguaia Tocantins. Interflúvio Tapajós- Xingu, Interflúvio Xingu –Tocantins e Várzeas do Gurupá.

Uso predominante com pecuária de corte, agricultura diversificada e, em menor escala, extrativismo de
madeira, lenha, castanha e açaí. Predomínio de propriedades com grandes áreas no entorno de Altamira e ao
Usos principais Extrativismo: açaí, madeira e lenha, castanha. Subordinadamente, pecuária, porém ainda em trechos
longo da rodovia Transamazônica. Mais de 63% da área encontram-se com ocupação antrópica, indicando
restritos dentro da matriz florestal.
significativa pressão sobre os ecossistemas.

Unidades de Conservação (UCs) Pequena parcela territorial da RESEX Verde para Sempre. RESEX Verde para Sempre. Limita-se a leste com a Floresta Nacional de Caxiuanã.

Terras Indígenas (TIs) Inexistentes.

Há 156 sítios arqueológicos registrados no IPHAN para os municípios que compõem o compartimento baixo Xingu, sendo em sua maioria sítios cerâmicos a céu aberto (112). Ocorrem, ainda, 8 sítios cerâmicos em
cavidades naturais e 7 com gravuras rupestres em matacões, aflorados em céu aberto. O município de Altamira é o que registra maior número de sítios cadastrados (65), seguido de Vitória do Xingu (47) e Senador Jose
Patrimônio Arqueológico Porfírio (24). É importante ressaltar que o grande número de sítios arqueológicos registrados nos municípios de Altamira e de Vitória do Xingu reflete as pesquisas arqueológicas realizadas durante os estudos de
viabilidade ambiental da antiga UHE Kararaô e, posteriormente, os levantamentos arqueológicos realizados para os estudos ambientais do AHE Belo Monte em 2001. Portanto, essa supremacia numérica não corresponde
a uma maior densidade de sítios arqueológicos nesses municípios, mas a um maior número de levantamentos arqueológicos realizados.

Especial: Tabuleiro das Tartarugas.


Especial: Tabuleiro das Tartarugas (pequena parcela), Área de Prioridade Muito Alta: Estuário (Ilhas
Áreas Prioritárias (APs) Área prioritária para conservação segundo o MMA com grau médio quanto às ações recomendadas
Gurupá).
(recuperação, inventário biológico e criação de UC).

Desflorestamentos antigos em padrão de "espinha de peixe" na área de influência da Transamazônica.


Desflorestamentos Desflorestamentos recentes mais expressivos apenas a sul, nas proximidades da foz do Rio Iriri e em direção ao Desflorestamentos recentes pontuais e de pequenas dimensões.
rio Bacajá.
Situação crítica em Vitória do Xingu, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas, Anapu e Pacajá ao longo do
Dentro do limite legal.
Taxas de Desflorestamento eixo da Transamaônica. Em Altamira é critica próximo a área urbana, sendo abaixo do limite legal nas demais
regiões do município.

Áreas de desflorestamentos recentes, a partir das áreas de pecuária. Áreas de desflorestamentos recentes e Baixa intensidade de fragmentação, concentrada principalmente nas proximidades da calha do Rio Xingu.
Nível de Fragmentação
disjuntas a sul e a norte, pressionando unidades limítrofes. Vegetação formando um continuum, em uma área de relevante interesse ecológico.

Intensa ocupação com taxas de desflorestamento acima do limite legal nos municípios de Vitória do Xingu,
Fragilidades Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas, Anapu e Pacajá com comprometimento da atividade extrativista; Não foram identificadas fragilidades para essas unidades
comprometimento da qualidade das águas nos igarapés que drenam áreas urbanas, especialmente em Altamira.
Desmatamentos a montante. Riscos de contaminação das
Não há informações
Conflitos Existentes Desflorestamento acima dos limites legais. águas por atividades antrópicas nas margens do rio Amazonas.

Remanescentes florestais passam a ter grande importância por representar os últimos habitats para a fauna
Por apresentar potencial mineral para extração de bauxita, poderá ocorrer conflitos decorrentes da extração
ombrófila. Tendência à intensificação de uso devido à redução da cobertura vegetal, com aumento de
Tendências de Situações Futuras não disciplinada desse mineral em área protegida (RESEX Verde Para Sempre), levando a conflitos de uso
produtividade por unidade de área; potenciais impactos da implantação do AHE Belo Monte, inclusive sobre o
e propiciando degradação dos ecossistemas terrestres e aquáticos.
patrimônio arqueológico existente.

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9.2.4 Considerações Finais sobre a Análise Integrada da Bacia do rio Xingu

A bacia hidrográfica do rio Xingu desenvolve-se no sentido sul/norte, abarcando um gradiente


latitudinal de aproximadamente 12º. Esta característica tem fortes implicações nos aspectos
climáticos, com variações de temperatura, decrescente de norte para sul e de precipitações,
tanto mais sazonais quanto mais a sul. Tem implicações também na cobertura vegetal
evidenciando-se um gradiente crescente de biomassa de sul para norte, com savanas marcando
o extremo sul e florestas ombrófilas a norte, bem como uma faixa de transição entre ambas.

Verifica-se uma condição anômala da bacia em seu alto curso, marcada pelo ressalto
correspondente à cachoeira de Von Martius, que propicia a presença de expressivas planícies
aluviais a montante da mesma, resultado de uma dinâmica natural de erosão e deposição nesse
trecho.

Ainda que em grande parte preservadas pela presença de Terras Indígenas, as planícies e parte
dos formadores e afluentes do rio Xingu estão sujeitos a pressões de ocupação do entorno,
devido à expansão da fronteira agropecuária. Note-se que as nascentes não se encontram
abarcadas por áreas legalmente protegidas, seja Unidades de Conservação ou Terras
Indígenas.

A partir da cachoeira de Von Martius, o rio Xingu penetra na Depressão da Amazônia


Meridional, que predomina em toda a região do médio curso do rio Xingu. À exceção do
setor oeste, nos terrenos relacionados à Formação Cachimbo, onde prevalece a floresta
estacional e campinaranas, todo o amplo espaço correspondente aos terrenos do médio curso
do rio Xingu caracteriza-se predominantemente pela presença da floresta ombrófila. A fauna
típica de ambientes abertos das formações savânicas do extremo sul é substituída por
elementos ombrófilos, que nos Cerrados estão restritos às florestas justafluviais, por onde se
dispersam no sentido sul. À medida que a floresta se estabelece, a dependência do ambiente
sombrio, característica de algumas espécies de primatas e de aves, principalmente, determina
variações em ambas as margens do rio Xingu, evidenciando-se assim centros de endemismos
distintos em ambos os interflúvios da bacia.

Destacam-se, no trecho médio da bacia hidrográfica do rio Xingu, as sub-bacias dos rios
Fresco e Bacajá, onde variações do substrato geológico respondem também por características
diferenciadas das águas de ambos os rios, em contraste com os demais cursos d’água,
incluindo o próprio rio Xingu. É também na Bacia do rio Fresco que se observam extensas
áreas de pecuária e vetores de ocupação que se estendem à margem esquerda do rio Xingu, no
interflúvio Xingu/Iriri, pressionando extensos contínuos florestais ali presentes.

Ao norte, estruturas geológicas de direção NW-SE e de direção NE-SW condicionam curvas


anômalas no canal fluvial, dando origem à denominada “Volta Grande” no rio Xingu. A calha
do rio assume, neste trecho, grande complexidade, dada à presença de inúmeros canais com
diferentes larguras, profundidades e orientações, freqüentemente em uma disposição
geométrica e não hierarquizada. Alteram-se afloramentos rochosos, bancos de areia e ilhas, o
que se reflete na diversidade de ambientais aquáticos e de transição, bem como naquela das
comunidades biológicas.

Essas estruturas controlam também o contato entre a Depressão da Amazônia Meridional e


Depressão do Amazonas, caracterizado pelo Planalto Marginal da Amazônia, na região onde
se encontra a rodovia Transamazônica. Estes elementos marcam o limite com o baixo curso

6365-EIA-G91-001b 48 Leme Engenharia Ltda.


do rio Xingu, caracterizado pela ria e pelas amplas e complexas várzeas, ao adentrar a planície
aluvial do rio Amazonas.

A intensa ocupação antrópica desse trecho sob influência da rodovia determina uma ocupação
relacionada às vias de acesso, formando um padrão de desflorestamento característico e
promove uma significativa redução da diversidade biológica.

A organização da cobertura vegetal na bacia do rio Xingu responde não apenas aos
condicionantes físicos, mas também aos condicionantes legais. Amplas áreas contínuas
observadas relacionam-se a Terras Indígenas ou a Unidades de Conservação, no entorno das
quais processos de desflorestamento e níveis variáveis de fragmentação são observados.

Pode-se observar um corredor de Áreas Especiais que são protegidas ou de destinação


específica representadas por unidades de conservação e terras indígenas. Essas áreas
desempenham funções essenciais em termos de uso sustentável da floresta e outros recursos
naturais, valorização da biodiversidade, manutenção de serviços ambientais, respeito aos
direitos dos povos indígenas e outras populações tradicionais (extrativistas e ribeirinhos).

Algumas dessas áreas apresentam sérios conflitos, destacando-se entre elas: a região do médio
rio Xingu e inúmeros igarapés que formam alguns dos seus afluentes, como o Riozinho do
Anfrísio e rios Curuá, Iriri e Rio Novo. Essa área transformou-se em alvo de conflitos de terra
e de disputa pela riqueza de seus recursos naturais, sem que houvesse controle algum por
parte do governo federal. Está inserida dentro de um conjunto maior de áreas protegidas -
Corredor da Bacia Hidrográfica do Xingu, que reúne também um conjunto de terras indígenas
constituindo um mosaico de unidades de conservação de proteção integral.

Poucos estudos foram realizados na bacia hidrográfica do rio Xingu, relativos à composição
de flora e de fauna. Afora levantamentos destinados à avaliação de impactos de hidrelétricas
na região da Volta Grande e de alguns estudos isolados no alto curso, coletas pontuais de
material zoológico complementam as informações. Evidenciam-se, portanto, lacunas de
conhecimento no que se refere à composição biológica deste amplo espaço.

De maneira semelhante, a ictiofauna da bacia do rio Xingu é ainda pouco conhecida, assim
como as características limnológicas dos rios e igarapés. Os dados existentes, entretanto,
permitem evidenciar uma fauna caracterizada por endemismos no alto curso, que se diferencia
sensivelmente das comunidades ícticas de jusante.

Permite evidenciar também que a diversidade e a complexidade dos ambientes existentes na


Volta Grande propiciam elevada diversidade da ictiofauna, constatada em vários estudos
realizados nesse trecho. Espécies potencialmente endêmicas, ornamentais e raras encontram-
se registradas e são indicativas de condições diferenciadas desse trecho do rio Xingu.

No que concerne aos conflitos relacionados aos fatores bióticos, o desflorestamento para
posse das terras, implantação de pastagens ou de culturas cíclicas, assume importância central,
decorrendo deste processo efeitos adversos sobre a diversidade biológica e sobre os recursos
hídricos da bacia.

Os principais vetores de desflorestamento associam-se às áreas de ocupação antrópica e estão


a sul, nas cabeceiras, a leste, principalmente na bacia do rio Fresco, e no Planalto Marginal,

6365-EIA-G91-001b 49 Leme Engenharia Ltda.


associado à rodovia Transamazônica. Note-se, ainda, vetor de pressão a oeste, a partir da BR-
163, sobre ecossistemas relacionados à Formação Cachimbo.

Sobre as formações savânicas e de transição do alto curso do rio Xingu expandem-se as


culturas de grãos e a pecuária, sucedendo a extração madeireira. Tendo por vetor o
denominado “Arco do Desflorestamento” que, a partir do cerrado, acompanha a franja de
formações de contato, esta forma de ocupação pressiona as regiões de cabeceiras e as
formações de transição, até o limite das Terras Indígenas (TIs) e demais terras sob proteção
legal.

Evidencia-se, portanto, associada à dinâmica natural de erosão e deposição no alto curso, um


processo de antropização que atua como catalizador, podendo levar ao comprometimento das
nascentes e dos rios e várzeas presentes no nesse setor da bacia do rio Xingu, inclusive dentro
de Terras Indígenas.

O segundo grande vetor de ocupação, mais fortemente evidenciado na região de São Félix do
Xingu, Bannach e Tucumã está relacionado à expansão da pecuária. Realizada de forma
desordenada, essa ocupação evidencia graves impactos sobre as florestas, substituídas por
pastagens ou muito fragmentadas, e sobre os cursos de água, uma vez que as formações
justafluviais são, em sua maior parte, suprimidas.

Esse vetor de ocupação se estende no sentido oeste (margem esquerda do rio Xingu), bem
como a norte/nordeste e a sul, para onde se irradia o processo de desflorestamento,
pressionando Terras indígenas e Unidade s de Conservação (UCs).

O amplo revestimento florestal da bacia hidrográfica sofre, novamente, solução de


continuidade ao norte, em correspondência ao Planalto Marginal da Amazônia, por onde se
desenvolve a rodovia Transamazônica. Este é o terceiro grande vetor de ocupação observado
e que se irradia a sul, em direção à TI Apyterewa, e, a norte, ao longo da ria do Xingu.

Uma das principais características da bacia do rio Xingu é a presença de expressivas áreas sob
proteção legal no trecho paraense da bacia hidrográfica do rio Xingu, na forma de TIs e UCs.
Cerca de 280.000 km2 (ou 57 % da Bacia) encontram-se sob proteção, dos quais cerca de
240.000 km2 no Estado do Pará.

Destas áreas, 40.000 km2 aproximadamente representam Unidades de Conservação de Uso


Sustentável, o que permite afirmar que o objetivo proposto para grande parte do território da
bacia hidrográfica corresponde à exploração dos produtos da floresta, reservando o uso
intensivo aos setores onde já ocorreu a conversão da floresta em ambientes antrópicos.

No que se refere ao potencial mineral, ressalta-se a região do Baixo Xingu, na Depressão da


Amazônia, com potencial para minério de alumínio dentro dos limites de Unidade de
Conservação de Uso Sustentável, assim como áreas no interior de TIs (Menkragnoti e
Kayapó) com potencial para ouro. Estas características podem se configurar em futuros
conflitos, caso ocorram pressões para exploração.

Quanto aos usos da água, não se observam, atualmente, conflitos de uso desses recursos.
Assim, a disponibilidade hídrica não deverá constituir fator limitante para a expansão de
atividades agropecuárias, tampouco para a geração de energia elétrica, ainda que se configure

6365-EIA-G91-001b 50 Leme Engenharia Ltda.


como um fator relevante a ser considerado no planejamento dos usos múltiplos da Bacia
Hidrográfica do Xingu.

Em relação aos aspectos socioeconômicos a caracterização da bacia do rio Xingu, apresentada


neste EIA, mostra que o papel do rio Xingu como elemento estruturador da ocupação do
território está circunscrito a alguns trechos. Um desses trechos é justamente aquele localizado
entre a cidade de Altamira e a Volta Grande e, mais adiante, entre Vitória do Xingu e Gurupá.

Do ponto de vista exclusivo da ocupação das zonas rurais, destaca-se a predominância de


agricultores (em sua maioria gaúchos e paranaenses), em áreas consolidadas, com tendência
para a expansão da agricultura comercial. O modo de apropriação do território combina a
presença de médios e grandes estabelecimentos com a força de trabalho assalariado.

Na porção paraense da bacia, a cidade de Altamira isoladamente polariza os demais


municípios sem perspectiva de compartilhamento imediato com outro núcleo urbano. A
cidade de Altamira, sede do maior dos municípios da bacia, ocupa a posição estratégica de
interseção dos eixos da Transamazônica e do rio Xingu o que a manteve como o principal
centro regional, além do fato de os serviços públicos disponíveis nos demais centros urbanos
serem muito precários. Nesses termos, a condição de espaço polarizador de Altamira é dada
pela sua centralidade geográfica, disponibilidade de transporte, espaço de circulação de
mercadorias, pessoas e serviços e oferta de serviços públicos diversos.

Deve-se salientar, ainda, o papel da rodovia Transamazônica como estruturadora do transporte


rodoviário na região de Altamira. Essa rodovia deve se configurar como o grande eixo de
afluxo de pessoas, mercadorias e insumos que chegarão à área, em decorrência da
implantação do AHE Belo Monte.

De Altamira em direção a oeste, essa rodovia se articula, em Rurópolis, com a BR 163,


Cuiabá-Santarém, que se de desenvolve no sentido norte-sul a oeste da bacia, atravessando-a
em alguns trechos.

No sentido leste, a Transamazônica segue em direção a Tucuruí e a Marabá, devendo se


converter em um forte eixo estruturador de fluxos entre áreas de implantação de grandes
empreendimentos: Projeto Grande Carajás e outros empreendimentos minerários da
Companhia Vale do Rio Doce (Vale), a UHE Tucuruí e, futuramente, o próprio AHE Belo
Monte.

Ao norte de Altamira, o rio Xingu constitui a principal referência na construção das


identidades coletivas. Ao longo de suas margens observa-se baixa densidade demográfica –
exceto pelas sedes dos municípios de Senador Porfírio e Porto de Moz – ainda predominando
a presença das populações ribeirinhas (os beiradeiros). Essas populações utilizam o rio como
via de transporte, para pescar e para atividades domésticas. É possível encontrar também
nessa região, migrantes que ali chegaram motivados pelos projetos de colonização.
Geralmente, são remanescentes do período anterior à Transamazônica ou do processo de
interiorização do povoamento que alcançou o rio.

É importante ressaltar que a despeito dos fluxos populacionais viabilizados pela presença da
rodovia, ao longo do rio Xingu se pode observar a presença de espaços ainda isolados que
preservam seus modos de vida tradicionais – pescadores, ribeirinhos e extrativistas. A essa

6365-EIA-G91-001b 51 Leme Engenharia Ltda.


condição de isolamento correspondem às áreas menos desmatadas, se comparadas àquelas que
margeiam o eixo da rodovia Transamazônica.

Outro atributo ambiental que deve ser levado em consideração em qualquer processo de
intervenção sobre o território da bacia do rio Xingu, é a forte presença de sítios arqueológicos
cerâmicos a céu aberto e, portanto, muito vulneráveis às ações antrópicas.

A grande quantidade desses sítios em ambos os estados reflete, por um lado, a alta
visibilidade desses sítios, em geral aflorantes em superfície, e, por outro lado, a maior
densidade demográfica das sociedades indígenas agricultoras, às quais eles se associam em
sua esmagadora maioria.

As diferenças quantitativas observadas entre sítios registrados na porção meridional do estado


do Pará e setentrional do estado do Mato Grosso refletem a maior incidência de
levantamentos arqueológicos no primeiro, em detrimento do último. Da mesma forma, o
baixo número de registro na porção média da bacia certamente pode ser atribuído à ausência
de pesquisa e mesmo de intervenções uma vez que se trata de área sob proteção legal.

Os levantamentos arqueológicos realizados na bacia do rio Xingu mostram uma divisão


natural e cultural entre as porções xinguanas do norte do Mato Grosso e do sul do Pará, sendo
que mesmo na atualidade, essa articulação não ocorre. Portanto, o contexto arqueológico
regional onde se insere o AHE Belo Monte é o do Pará meridional.

Finalmente, vale destacar que o Plano Amazônia Sustentável-PAS (maio de 2008), define
como objetivo principal a promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira,
mediante a implantação de um novo modelo pautado na valorização de seu patrimônio natural
e no aporte de investimentos em tecnologia e infra-estrutura, voltado para a viabilização de
atividades econômicas dinâmicas e inovadoras com a geração de emprego e renda, compatível
com o uso sustentável dos recursos naturais e a preservação dos biomas, e visando a elevação
do nível de vida da população.

Como primeiro de uma série de objetivos específicos, identificados em função dos problemas
enfrentados na Amazônia brasileira, esse Plano propõe a promoção do ordenamento territorial
e a gestão ambiental, de modo a possibilitar (i) o combate à grilagem; (ii) a resolução de
conflitos fundiários e destinação das terras públicas; (iii) o controle sobre a exploração ilegal
e predatória de recursos naturais; e (iv) a proteção dos ecossistemas regionais.

Na Amazônia brasileira, a ausência de ordenamento territorial, associada à escassa presença


do Estado na região, propicia o surgimento de uma série de conflitos sociais sobre os direitos
de acesso à terra e aos recursos naturais. Em muitos casos, esses conflitos têm sido
acompanhados por graves problemas ambientais, destacando-se o desmatamento acelerado.

Na definição e implementação de políticas de desenvolvimento adequadas às diferentes


realidades regionais, o conhecimento da sua diversidade é um fator determinante para o
sucesso das políticas.

Conseqüentemente, a regionalização ou “territorialização” das estratégias é condição


necessária para o alcance de resultados satisfatórios, assegurando um mínimo de fidelidade às
diretrizes, estratégias e linhas de ação planejadas, visto que as múltiplas ações terão pesos,
combinações e expressões diversas nos diferentes territórios.

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Esse processo de territorialização da Amazônia para fins de implementação de políticas de
desenvolvimento regional sustentável, no âmbito do PAS, já foi deflagrado com o Plano de
Desenvolvimento Regional Sustentável para a Área de Influência da Rodovia BR-163
(Cuiabá-Santarém); o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável para o Arquipélago
do Marajó; e o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu, em processo de
elaboração.

Dentro desse contexto, espera-se que a visão integrada dos principais atributos ambientais que
subdivide a bacia do rio Xingu em compartimentos definidos por seus recursos hídricos e em
unidades de paisagem, possa contribuir para a compreensão desse vasto e complexo território
e para subsidiar políticas de ordenamento territorial, que resultem no efetivo desenvolvimento
sustentável dessa bacia hidrográfica.

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9.3 ANÁLISE INTEGRADA DA ÁREA DE INFLUÊNCIA INDIRETA-AII

Retomando a análise apresentada no item anterior, que mostra a situação ambiental do


território abrangido pela bacia do rio Xingu, observa-se na FIGURA 9.2-1 apresentada no
referido item, que a área definida no EIA como AII do AHE Belo Monte, situa-se nos trechos
médio inferior e baixo da bacia, em uma região que constitui a zona de transição entre os
domínios das formações cristalinas dos Planaltos da Amazônia e a Bacia Sedimentar do
Amazonas. A AII foi delimitada considerando as drenagens afluentes às áreas de intervenção
direta do empreendimento, e abrange partes das seguintes unidades de paisagem definidas na
AAR: Floresta do Bacajá, Transamazônica e Ria do Xingu.

É importante destacar que as áreas antropizadas da AII, assim como da AID/ADA do AHE
Belo Monte são separadas do restante das frentes de ocupação do alto e médio Xingu pelas
áreas sob regime de proteção legal, representadas por unidades de conservação e terras
indígenas, que dominam grande parte da porção central dessa bacia hidrográfica.

Considerando os mesmos atributos ambientais utilizados na subdivisão das unidades de


paisagem da AAR, a Área de Influência Indireta do empreendimento foi subdividida em três
compartimentos ambientais, os quais apresentam estreita correlação com as unidades de
paisagem da AAR, com pequenos ajustes em seus limites, devido ao maior detalhamento da
cartografia utilizada. Os mapas temáticos, apresentados em forma de esboço na FIGURA 9.3-
1, foram elaborados para os diagnósticos temáticos, onde se encontram representados na
escala 1:250.000 e serviram de base para a definição dos compartimentos ambientais da AII.

A FIGURA 9.3-2 apresenta essa compartimentação, cujas principais características são


sintetizadas no QUADRO 9.3-1, apresentado ao final deste ítem.
A integração de componentes ambientais que normalmente são caracterizados utilizando
unidades de análise diferentes é sempre uma tarefa complexa, especialmente quando se busca
integrá-los em um espaço geográfico comum. Os atributos do meio socioeconômico e
cultural, especialmente os dados estatísticos oficiais, são apresentados por municípios ou no
máximo, por distritos censitários, que nem sempre são definidos por limites fisiográficos;
além disso, o comportamento dinâmico inerente às variáveis socioeconômicas faz com que a
abrangência de suas inter-relações varie no tempo e no espaço, ao contrário das variáveis do
meio físico, por exemplo, que são mais estáveis e com limites espaciais mais bem definidos.
Dessa forma, optou-se por considerar como AII para o meio socioeconômico e cultural o
espaço que compreende, além da porção do território da bacia do rio Xingu definida como AII
para os meios físico e biótico, a totalidade dos territórios abrangidos pelos municípios
integrantes da Região de Integração Xingu, definida pelo Governo do Estado do Pará como
sendo Altamira, Senador José Porfírio, Anapu, Vitória do Xingu, Pacajá, Placas, Porto de
Moz, Uruará, Brasil Novo, Gurupá e Medicilândia. O conjunto desses municípios ocupa uma
área de 243.587 km², cerca de 20% da extensão territorial do Estado do Pará. O município de
Altamira é o mais extenso, com 160.755 km², representando mais de 60% da AII. A FIGURA
9.3-2 mostra a localização desses municípios, evidenciando que vários deles não fazem parte
da bacia hidrográfica do rio Xingu; o elemento de ligação entre eles e que justifica a sua
inserção na AII é o fato de estarem sob influência direta da rodovia Transamazônica, em sua
maioria com suas sedes situadas ao longo desta rodovia. Por essa importante via de acesso é
de se prever que um empreendimento do porte do AHE Belo Monte irá exercer influência,
ainda que indireta, na vida social e econômica desses municípios.

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FIGURA 9.3-1 – Atributos do meio físico integrados na compartimentação da Área de Influencia Indireta - AII

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FIGURA 9.3-2 – Compartimentos da Área de Influência Indireta - AII

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Apesar dos limites e territórios diferenciados entre a AII dos meios físico e socioeconômico
foi possível a integração dos atributos relacionados ao meio socioeconômico e cultural nos
compartimentos físico e biótico definidos para esta análise integrada adotando-se os
procedimentos descritos a seguir.

Considerou-se como integrante do compartimento denominado Transamazônica e PA-115, as


características mais ligadas às sedes municipais e suas áreas de entorno, situadas ao longo da
rodovia Transamazônica, quais sejam: Placas, Uruará, Medicilândia, Brasil Novo, Altamira,
Senador José Porfírio, Anapu e Pacajá. Também faz parte deste compartimento a sede
municipal de Vitória do Xingu cujo principal eixo viário de ligação com os municípios
vizinhos é a PA-415.

No compartimento denominado Ria do Xingu localiza-se o município e a sede municipal de


Porto de Moz. A zona rural do município de Gurupá, localizado no extremo norte da AII,
também faz parte desta unidade de análise.

O Compartimento Xingu/Bacajá compreende a zona rural dos municípios de Brasil Novo,


Altamira, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Anapu e Pacajá, todos, integrantes da AII
em relação ao meio socioeconômico e cultural.

Destaca-se que o município de José Porfírio, cujo território de 13.287 Km2 é fragmentado em
duas porções, não contínuas, pelo município de Anapu. A porção norte situa-se em área
localizada entre a margem direita do rio Xingu e a rodovia PA-167. A porção sul situa-se
entre os municípios de Anapu e Altamira, respectivamente a Leste e a Oeste. Neste caso, a
parte norte deste município foi considerada como pertencente ao Compartimento
Transamazônica e PA-115 e as características rurais da parte sul desse municipio foi
considerada no Compartimento Xingu/Bacajá.

9.3.1 Compartimento Xingu/Bacajá

Este compartimento situa-se na porção sul da AII, abrangendo 14.376 km2 e engloba terrenos
situados nas margens esquerda e direita do rio Xingu ao sul de Altamira, além dos localizados
nas margens esquerda e direita da Volta Grande do Xingu, esses últimos se estendendo pelas
bacias dos rios Itatá, Ituna, Bacajaí e Bacajá.

Apresenta correspondência parcial com as seguintes unidades de paisagem da AAR: Florestas


do Rio Iriri e Florestas do Rio Bacajá (Compartimento Médio Xingu) e unidade
Transamazônica do Compartimento Baixo Xingu.

A rede hidrográfica é formada pelo rio Xingu e seus afluentes pela margem direita no trecho
que se estende desde a confluência com o rio Iriri até a localidade de Belo Monte, destacando-
se os rios Bacajá, Itata, Ituna e Bacajaí. Pela margem esquerda do Xingu compreende os
afluentes no trecho entre a foz do Iriri e a extremidade de jusante da Ilha Babaquara e entre o
igarapé Paratizinho e a localidade de Belo Monte.

Os terrenos deste compartimento são formados por granitóides e migmatitos, observando a


ocorrência de colinas da Depressão da Amazônia Meridional, com predomínio de Argissolos,
em associação com Latossolos; esses solos determinam aptidão variável de boa a restrita para
lavoura e boa para pastagem plantada. Atualmente esses terrenos encontram-se ainda
recobertos pela matriz florestal, devidamente protegida pelas Terras Indígenas Trincheira

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Bacajá e Arara da Volta Grande, localizadas na margem direita do rio Xingu e pela TI
Paquiçamba, situada na margem esquerda deste rio.

Onde ocorre relevo dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia, há morrotes, morros e
serras, com Neossolos e afloramentos rochosos, determinando, por vezes, áreas com aptidão
restrita para lavoura ou sem aptidão para o uso agrícola. Na porção centro-norte tem-se uma
faixa de rochas metavulcano-sedimentares, dominada por morros e morrotes, com ocorrências
de Argissolos com boa aptidão para lavoura ou pastagem plantada, e Neossolos Litólicos sem
aptidão para uso agrícola. O eixo da rodovia Transassurini situado nessa porção centro-norte,
constitui uma frente de ocupação devido não apenas a presença dessa via de acesso como
também aos assentamentos rurais do INCRA; nesse trecho, assim como na porção interna da
Volta Grande, correspondente à margem esquerda do rio Xingu e sob influência da rodovia
Transamazônica as formações florestais estão reduzidas a fragmentos isolados em meio a
extensas áreas de pastagem plantada com criação de gado de corte e secundariamente ocorrem
áreas de agricultura de subsistência e comercial, sobressaindo, nesta última, a cultura do
cacau.

No baixo trecho do rio Bacajá, ainda ocorrem grandes fragmentos florestais da Floresta
Ombrófila Aberta com cipós, bem conservados devido a presença de TIs e a dificuldade de
acesso. Nesse trecho prevalece o uso florestal, associado ao modo de vida indígena. No
entanto, a ocorrência de garimpos de ouro em áreas de rochas vulcano sedimentares
(greenstones) e novos assentamentos rurais planejados poderão vir a ameaçar a integridade
florestal dessa área.

Os aspectos relacionados aos ecossistemas terrestres foram individualizados tomando como


referência os três domínios fitofisionômicos que ocorrem no compartimento e que são
também característicos de toda a AII: as florestas de terra-firme (Floresta Ombrófila Aberta
Submontana com cipós e/ou com palmeiras), as formações de várzea (Floresta Ombrófila
Aberta Aluvial) e as formações pioneiras que recobrem a região dos pedrais presente no rio
Xingu.

É importante destacar que, a maior parte das informações sobre a fauna da AII do AHE Belo
Monte foi caracterizada, basicamente, com dados levantamentos secundários, tendo sido
evidenciado uma grande lacuna de informações para a área em questão. No entanto, para os
grupos dos quelônios e crocodilianos, como também ictiofauna, foram realizados
levantamentos primários que abrangeram a AII. Embora as três fitofisionomias identificadas
na região ocorram nos três compartimentos, optou-se por descrever os diversos grupos
correlacionando-os no compartimento que apresenta maior ocorrência dessas fisionomias
vegetais.

Entre as três fitofisionomias que ocorrem neste compartimento, destacam-se as Florestas


Ombrófilas Aberta Submontana na qual ora predominam palmeiras ora há maior ocorrência
de cipós; essa tipologia florestal é regionalmente conhecida como floresta de terra-firme
(FIGURA 9.3-3). As formações vegetais, com ou sem interferência humana, representam
74% da AII. Neste compartimento ainda são encontrados grandes parcelas contínuas dessa
fitofisionomia, especialmente na região dos igarapés da margem direita do Xingu; Bacajá,
Bacajaí, Ituna e Itatá. Já na margem esquerda em função da Transamazônica e de seus
travessões as florestas de terra-firme encontram-se bastante alteradas.

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A Floresta Ombrófila Aberta com cipós é a tipologia mais impactada por diversos usos da
terra como a agricultura de subsistência e as pastagens, sendo considerável o percentual de
áreas de capoeiras abandonadas. Nesta fitofisionomia, a maior riqueza de espécies é
representada pelas familias Mimosaceae, Sapotaceae, Caesalpiniaceae, Fabaceae, Lauraceae e
Moraceae.

FIGURA 9.3-3 – (a) Floresta Ombófila Aberta com palmeiras, na margem esquerda do rio
Xingu, na região do entorno da T.I Paquiçamba (b) Floresta Ombrófila
Aberta com cipó

Na Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras as familias com maior riqueza de espécies
foram Mimosaceae, Fabaceae, Lauraceae, Caesalpiniaceae e Moraceae, Myrtaceae e
Sapotaceae.

Nas áreas próximas aos travessões da Transamazônica localizados na região da Volta Grande,
margem esquerda do rio Xingu e próxima a rodovia Transassurini, a vegetação de terra firme
está bastante alterada e os fragmentos florestais que aí ocorrem são de dimensões reduzidas
estando em sua maioria isolados, fatores que fazem prever uma baixa capacidade de
sustentação da biota terrestre nesse trecho.

Essas formações florestais de terra-firme, que ocorrem em áreas mais afastadas da rede de
drenagem e em cotas altimétricas mais elevadas, basicamente recobrindo as colinas, morros e
morrotes, constituem habitat para a maior parte da mastofauna (embora muitas espécies
ocorram também em ambientes aluviais). Portanto, em geral, os hábitats de floresta ombrófila
têm diversidade de mamíferos maior do que as florestas de várzea, tanto para primatas como
para outros grupos de mamíferos não voadores. Contudo, algumas espécies de primatas
vivendo em ambientes de várzea contam com populações maiores, portanto, com maior
abundância de indivíduos.

Cerca de quarenta espécies de mamíferos terrestres não voadores listadas para a AII são
tipicamente florestais, mas muitas utilizam também capoeiras e mesmo pastagens ou áreas
agrícolas. É o caso, por exemplo, daquelas com ampla distribuição, utilizando inclusive
ambientes existentes no Cerrado. Esses animais adaptam-se aos mosaicos de vegetação,
incluindo áreas perturbadas ou mesmo desflorestadas, desde que tenham acesso a refúgios

6365-EIA-G91-001b 59 Leme Engenharia Ltda.


com maior cobertura contra predação ou caça. A conservação dessas espécies depende das
características de conectividade entre os fragmentos remanescentes, o efeito de borda, o grau
de isolamento, seu tamanho e grau de alteração. Neste sentido, considerando o mapa de uso e
cobertura vegetal da AII, nesta Unidade ainda há extensos maciços florestais na margem
direita do rio Xingu. No entanto, o mesmo não acontece na margem esquerda, onde pode-se
observar a substituição da vegetação original por pasto, culturas ou áreas alteradas
abandonadas. A paisagem que predomina são mosaicos de fragmentos florestais de diversos
tamanhos entrecortados com outros usos do solo, cuja distribuição acompanha o traçado da
BR – 230 e dos travessões.

É importante destacar que, para o grupo dos mamíferos, um importante fator que determina
sua distribuição territorial é a barreira formada pelo rio Xingu. Essa barreira é
particularmente importante para os primatas que são, em princípio, bons indicadores da
qualidade de hábitat. Ocorrem na região Ateles marginatus (coatá-de-testa-branca) e
Chiropotes albinasus (cuxiú-de-nariz-branco), que são espécies mais vulneráveis aos efeitos
antrópicos, especialmente por suas distribuições geográficas restritas, o que coloca o coatá
como vulnerável na lista da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, 2007).

A distribuição de Ateles marginatus é exclusiva do interflúvio Xingu-Tapajós, que


experimenta ampla colonização humana devido à construção da rodovia Santarém-Cuiabá. Há
algumas espécies de mamíferos de distribuição mais restrita, como é o caso do cuxiú-de-
nariz-branco (Chiropotes albinasus), restrito apenas às florestas da margem esquerda do rio
Xingu. Já a espécie de primata cuxiú-preto (Chiropotes satanas) ocorre apenas nas florestas
da margem direita do rio Xingu.

Entre as espécies de mamíferos endêmicas da Amazônia que ocorrem na AII há registro de


duas espécies de catita (Monodelphis brevicauda e M. emiliae), da preguiça-real (Choloepus
didactylus), de dois morcegos (Saccopteryx canescens e Diclidurus scutatus), do macaco-
barrigudo (Lagotthrix lagothrichia), e do furão (Mustela africana).

As diferenças observadas entre sítios na composição e estrutura de comunidades de


mamíferos na AII são relativamente consistentes com as características ecológicas de cada
área. Os fatores mais relevantes neste caso são as diferenças esperadas para cada
fitofisionomia ou hábitat de mamíferos, por exemplo, o contraste entre florestas inundadas e
de terra firme e os efeitos da fragmentação de hábitat.

As aves representam uma alta proporção da diversidade de vertebrados na floresta; são bons
indicadores de degradação florestal, por responderem às mudanças de hábitat em diferentes
escalas. Algumas aves de sub-bosque são altamente relacionadas ao dossel da mata e evitam
clareiras, sendo vulneráveis ao isolamento em fragmentos florestais circundados por
pastagens. A organização ecológica da comunidade das aves se correlaciona com a estrutura
da vegetação e apresenta suscetibilidade às modificações ambientais na estrutura florestal, tais
como aberturas no dossel, fragmentação e bordas de mata.

A distribuição geográfica da avifauna regional também possui dispersão condicionada à


barreira formada pelo rio Xingu, que segrega duas importantes áreas de endemismo
representadas pelo interflúvio Tocantins-Xingu e pelo interflúvio Xingu-Tapajós. Alguns
táxons possuem distribuição distinta em interflúvios opostos do rio Xingu como, por exemplo,
na margem esquerda ocorrem as subespécies do jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis
dextralis); da papa-taoca (Pyriglena leuconota interjecta) e da mãe-de-taoca (Phlegopsis

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nigromaculata bawman) e mãe-de-taoca-de-cara-branca (Rhegmatorhina gymnops). Na
margem direita ocorrem especificamente as sub-espécies P. viridis interjecta; P.
nigromaculata confinis e P. leuconota interposita.

Com relação aos fluxos migratórios das aves, em especial, para a Amazônia, ainda são
escassas informações qualitativas sobre os pontos de pouso, dormitório e alimentação das
espécies visitantes na literatura científica. Dentre os padrões mais importantes a serem
pesquisados, inclusive na bacia do Rio Xingu, destacam-se as migrações regulares
desencadeadas por enchentes na Amazônia, sobretudo, de aves ribeirinhas, tais como o
bacurau-da-praia (Chordeiles rupestris). Em inventário realizado na região foram registradas
cinco espécies visitantes setentrionais: a águia-pescadora (Pandion haliaetus), a batuíra-de-
coleira (Charadrius collaris), o maçarico-pintado (Actitis macularia) e duas andorinhas
(Riparia riparia e Hirundo rústica).

A área de influência indireta do AHE Belo Monte possui cerca de 440 espécies de aves
inventariadas, entre elas alguns táxons singulares e relevantes devido ao seu caráter endêmico
e ao seu status de conservação. Das aves registradas, dez táxons são incluídos em algum grau
de ameaça de extinção, seja em nível nacional (BRASIL, 2003) ou em nível mundial (IUCN,
2007).

Destas, quatro estão incluídas na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
(Instrução Normativa n° 3, de 27 de maio de 2003, Ministério do Meio Ambiente), duas como
vulneráveis: a arara-azul-grande Anodorhyncus hyacinthinus (Latham, 1790), e a ararajuba
Guaruba guarouba (Gmelin, 1788); e outras duas sub-espécies de distribuição restrita aos
Estados do Maranhão ao Pará, nos interflúvios entre os rios Xingu/Tocantins e
Tapajós/Tocantins: o mutum-de-penacho Crax fasciolata pinima (Pelzeln, 1870), considerado
“em perigo”; e ainda o araçari-de-pescoço-vermelho Pteroglossus bitorquatus bitorquatus
(Vigors, 1826), classificado como vulnerável (Brasil 2003). Além de dois psitacídeos da
arara-azul, Anodorhynchus hyacinthinus e ararajuba, Guaruba guarouba, classificados como
vulneráveis, outras seis são espécies de aves incluídas na lista das espécies globalmente
ameaçadas (IUCN, 2007), como próximas de serem consideradas ameaçadas (“Near
Dangered”): a águia–real Harpia harpyja; o uiraçú-falso Morphnus gujanensis; o jacu-estalo-
escamoso Neomorphus squamiger, a jacupiranga Penelope pileata, o limpa-folha-de-bico-
virado Simoxenops ucayalae e o puruchém Synallaxis cherriei. Todas estas espécies foram
registradas durante os levantamentos primários realizados no âmbito dos estudos do EIA e são
associadas a ambientes preservados e que tenham presas mais abundantes como é dos grandes
gaviões (uiraçu-falso e águia-real).

A herpetofauna que ocorre nas Florestas Ombrófilas Abertas em seus diferentes micro-
hábitats como serrapilheira, arbustos, poças temporárias, margens de igarapés, é representada
por espécies de anfíbios e répteis identificadas como potenciais indicadoras da integridade do
hábitat, entre as quais destacam-se: Adelphobates castaneoticus Ceratophrys cornuta,
Adelphobates galactonotus, Plica plica, Arthrosaura reticulata, Arthrosaura kockii e
Ptychoglossus brevifrontalis.

Uma análise da vulnerabilidade das espécies da herpetofauna da área de influência do AHE


Belo Monte, baseada na distribuição geográfica, especificidade ao hábitat e abundância da
população local, indicou que apenas a rã-da-castanha (Dendrobates castaneoticus) pertence à
categoria de maior vulnerabilidade.

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Conforme já comentado, as principais ameaças à conservação da Amazônia na atualidade são
o desflorestamento, o corte seletivo de madeira, a fragmentação da floresta e as queimadas.
Considerando que a tendência de aumento ou persistência da taxa de desmatamento observada
em toda a Amazônia (LAURANCE et al., 2005) seja mantida na área de influência do AHE
de Belo Monte, a tendência evolutiva é a de contínua erosão das comunidades da
herpetofauna associada aos diferentes biótopos florestais, com favorecimento de espécies de
áreas abertas e sinantrópicas.

O segundo domínio florestal da AII é representado pelas Florestas Ombrófilas Densas


Aluviais, ou florestas de várzea (FIGURA 9.3-4), que correspondem a 2,5% da AII e situam-
se predominante nos trechos do rio Xingu compreendido entre a foz do rio Iriri e a cidade de
Altamira, entre esta e a foz do rio Bacajá e no trecho compreendido entre a vila de Belo
Monte e o final da Ria do rio Xingu, já próximo a sua confluência com o rio Amazonas.

Nesta formação florestal a maior riqueza de espécies foi apresentada por Fabaceae e
Sapotaceae, Caesalpiniaceae, Chrysobalanaceae e Euphorbiaceae e Myrtaceae e Sapotaceae.
Em alguns trechos aparecem formações com as palmeiras jauari (Astrocaryum jauari), açaí
(Euterpe oleracea) e caranã (Mauritiella armata), nas zonas mais rebaixadas do relevo.

Os ambientes criados pelas formações aluviais (florestas densas), os ambientes lacustres e os


pedrais associados aos rios Xingu e Iriri, representam biótopos singulares por abrigarem uma
parte considerável das aves inventariadas para a área de influência do AHE Belo Monte. Na
região do AHE Belo Monte, as Florestas Aluviais ainda encontram-se bastante preservadas,
constituindo habitats importantes para a manutenção da fauna regional. Algumas dessas
espécies são intimamente associadas à ambientes ripários, isto é, vivem e utilizam os recursos
presentes à região ribeirinha, entre elas: a cigana Opisthocomus hoazin, martim-pescadores
Ceryle torquata e Chloroceryle spp., anu coroca Crotophaga major, urubuzinho Chelidoptera
tenebrosa, andorinhas Atticora fasciata e Tachycineta albiventer, cardeal Paroaria gullaris e,
em especial, o tico-tico-cigarra Ammodramus aurifrons, espécie que se restringe aos campos
das margens e ilhas dos grandes rios amazônicos (BAGNO; ABREU, 2001).

FIGURA 9.3-4 – Planícies aluviais nas margens do rio Bacajá


com floresta ombrófila aluvial

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Essa associação se dá em função, principalmente, do hábito alimentar das espécies de aves
com essa distribuição e preferência de hábitat, e da oferta de recursos ecológicos relacionados
ao ambiente aquático. Para algumas dessas espécies o nicho reprodutivo também está
relacionado ao ambiente aquático.

Há também espécies florestais peculiares, que apesar de não aquáticas, são altamente
associadas aos habitats existentes nas margens dos rios (RENSEN; PARKER III, 1983;
ROSEMBERG, 1990), entre elas: a curica-urubu Pionopsitta vulturina, a ararajuba Guaruba
guarouba, o papagainho-verde Graydidascalus brachyurus, o beija-flor Polyplancta
aurescens, o arapaçú-do-bico-grande Nasica longirostris, os formicarídeos Sclateria naevia,
Hypocnemoides maculicauda, Sakesphorus luctuosus e Myrmotherula surinamensis, o
puruchém Synallaxis cherriei, o limpa-folha de bico virado Simoxenops ucayale, a maria-
preta-ribeirinha Knipolegus orenocensis e o dançarino-coroa-de-fogo Heterocercus linteatus.

Deve-se enfatizar que essa relação da ocupação de nichos com o ambiente aquático é
resultado da estratificação no hábitat de uma diversidade muito grande de espécies de aves, e
também de outros grupos taxonômicos, que ocorreu durante o processo evolutivo pela
competição de recursos, e que é expresso principalmente por comportamento ecológico de
seleção de hábitat.

O levantamento da ictiofauna neste EIA foi realizado por ambientes (biótopos) preferenciais
(calha do rio, remanso, corredeiras e pedrais, lagoas marginais, áreas de inundação, igarapés)
dos distintos grupos.

O padrão no qual indivíduos de maior tamanho se concentram na parte mais alta do rio é
bastante comum, mas não geral. Dentre as espécies mais abundantes, que permitem essa
análise citam-se Myleus torquatus, Curimata cyprinoides, Caenotropus labyrithicus, todos
Characiformes e apresentaram tamanhos médios maiores, bem como o predador Boulangerela
cuvieri.

O surubim Pseudoplatystoma fasciatum, a pirarara Phractocephalus hemioliopterus e o


filhote Brachyplatystoma filamentosum parecem não precisar percorrer distâncias tão longas
ao longo do rio, no seu ciclo de vida. Estas espécies habitam as águas do rio Xingu, tanto
acima como abaixo das cachoeiras.

Esse ecossistema é também vital para a maioria dos peixes frugívoros das águas do rio Xingu,
que dependem dos frutos da floresta aluvial e da vegetação pioneira; esses peixes pertencem à
ordem dos Characiformes e a algumas famílias da ordem Siluriformes. Pelo menos oito
espécies utilizam recursos da floresta inundada: Colossoma macropomum, Bryconops sp,
Tocantinsia depressa, Leporinus sp, Tometes sp, Myleus schomburgki, Myleus sp e
Triportheus rotundatus. Para a maior parte das árvores, o período de frutificação ocorre
simultaneamente durante as enchentes do rio, coincidindo com a entrada de tambaquis, pacus,
aracus e outros na planície de inundação em busca de alimento

Dois outros grupos associados aos ambientes aquáticos da AII são os mamíferos e quelônios
aquáticos. As lontras (Lontra longicaudis) e ariranhas (Pteronura brasiliensis) são comuns ao
longo da AII, especialmente neste compartimento ambiental. A ocorrência de lontras é alta
nos igarapés Galhoso e Di Maria, e também nas praias do rio Xingu. A Lontra longicaudis é
solitária ou vive em casal e se tem pouca informação acerca das dimensões de sua área de
vida.

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A ariranha tem ampla distribuição na Amazônia, porém a caça predatória reduziu sua
população, sendo, atualmente, ameaçada de extinção. Em áreas protegidas, a população de
ariranhas vem aumentando, mais ainda é considerada rara.

No trecho da Volta Grande ocorre ainda o tracajá (Podocnemis expansa) e do jacaré-coroa


(Paleosuchus trigonatus). As Florestas aluviais são importantes habitats dos quelônios
aquáticos que utilizam tais áreas especialmente no período de cheia e enchente como sítios de
alimentação e abrigo.

As Formações Pioneiras com influência fluvial e/ou lacustre, constituem o terceiro domínio, e
colonizam as áreas de pedrais do rio Xingu, encontradas na calha do rio Xingu desde a
confluência do rio Iriri até a região denominada Volta Grande do Xingu, onde essas
formações têm sua maior expressão espacial (FIGURA 9.3-5). Apesar de ocuparem apenas
4,5% da área da AII as Formaçòes Pioneiras representam um ecossistema de grande
importância biológica na região.

Nos pedrais da região do Iriri há ocorrência de cerca de 44 espécies adaptadas as condições de


dinâmica hídrica do rio Xingu. Nestas formações há grande densidade de poucas espécies de
plantas, sendo as mais comuns encontradas: camu-camu (Myrciaria dubia), Couepia
cataractae, Campsiandra comosa, Psidium paraense, Vitex cf. duckey. No entanto, a maior
área de ocorrência é no trecho da Volta Grande do Xingu onde foram registradas 43 espécies.
Há presença de Podostemaceas, sendo que as principais espécies que ocorrem na região da
Volta Grande são Mourera alcicornis e Mourera fluviatilis. A riqueza de espécies nas
formações pioneiras decresce desde a confluência do rio Iriri com o Xingu até próximo à vila
de Belo Monte.

Entre os biótopos para os peixes deste compartimento destacam-se, na região de confluência


do rio Iriri e no trecho da Volta Grande do Xingu, os pedrais com vegetação pioneira
associada, e o rio apresenta declividade acentuada, com corredeiras e saltos.

Um total de 32 espécies de peixes bentônicos da família Loricariidae ocorrem nos pedrais e


corredeiras, pertencentes a 15 gêneros: Ancistrus (5 spp.), Baryancistrus (6 spp.), Farlowella
(1 sp.), Hopliancistrus (1 sp.), Hypostomus (1 sp.), Leporacanthicus (1 sp.), Loricaria (1 sp.),
Oligancistrus (4 spp.), Panaque (1 sp.), Parancistrus (4 spp.), Peckoltia (2 spp.),
Pseudacanthicus (1 sp.), Pseudancistrus (1 sp.), Scobinancistrus (2 spp.), Squaliforma (1 sp.)
Esses peixes utilizam as fendas e rugosidades das pedras e lajes como habitat, se alimentando
dos vegetais e pequenos animais que ali se acumulam.

Há adaptações eco-morfológicas nos piaus (Leporinus julii; Leporellus vittatus; Leporinus


tigrinus) o que facilita a partição dos recursos, evitando a competição entre espécies muito
próximas. Essas espécies se alimentam de limo e microalgas que crescem sobre os pedrais.
Apresentam anatomia bucal diversa, de acordo com a posição preferencial para a alimentação.

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FIGURA 9.3-5 - Área de Afloramento Rochoso no rio Xingu
no período de cheia

Um total de 32 espécies de peixes bentônicos da família Loricariidae ocorrem nos pedrais e


corredeiras, pertencentes a 15 gêneros. Essas espécies se alimentam de limo e microalgas que
crescem sobre os pedrais. Apresentam anatomia bucal diversa, de acordo com a posição
preferencial para a alimentação.

Em relação aos grupos representativos da fauna regional, os ambientes de pedrais agregam, os


grupos que ocorrem nos ambientes aluviais, além de uma fauna específica, como uma
herpetofauna própria, distinta daquela da Floresta Amazônica, incluindo Anolis auratus,
Kentropyx striata, Cnemidophorus lemniscatus, Tropidurus oreadicus, e Leptodactylus
fuscus. Essas populações possuem relações históricas ora com o Cerrado, ora com as
formações abertas ao norte do Rio Amazonas (Savanas Amazônicas), estando sob processos
de divergência evolutiva e podendo se constituir em táxons distintos e endêmicos desses
isolados.

Algumas espécies de lagartos, como Uranoscodon superciliosum, se distribuem de um modo


restrito às margens do rio Xingu e afluentes, tendo preferência por vegetação densa, que sofre
influência do ciclo sazonal. Esses lagartos têm uma relação muito estreita com o ritmo das
águas, pois se alimentam de presas carregadas pelas águas. Essas associações ou
características locais são também notadas no lagarto arborícoloa Plica plica como também no
lagarto vivíparo Mabuia bistriata. Por outro lado, há certas populações de lagartos, como
Tropidurus oreadicus, bem adaptadas aos ambientes de pedrais da AII do Xingu, mostrando
alta freqüência de utilização de presas aquáticas. Ainda, o lagarto semi-aquático Neusticurus
ecpleopus mostra diferenças de comportamento e morfológicas da associação com os
ambientes locais do rio Xingu.

Foram constatados os seguintes grupos que ocorrem nos ambientes aluviais, especialmente
nos pedrais: duas espécies de anfíbios (Rhinella granulosa e Hypsiboas boans), duas de
lagartos (Cnemidophorus cryptus e Tropidurus oreadicus) e uma de serpente (Eunectes
murinus).

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Em relação às características socioeconômicas e culturais, considerando as observações
quanto aos procedimentos adotados para a inserção dessas características nos compartimentos
físicos desta AII (descritos no início do item 9.3), tem-se que este compartimento denominado
Xingu/Bacajá, é representado pela zona rural dos municípios de Brasil Novo, Altamira,
Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Anapu e Pacajá.

Os indicadores demográficos da zona rural desses municípios demonstram o mesmo padrão


comum à maior parte da região sob influência indireta do AHE Belo Monte. A população é
essencialmente rural, a densidade populacional é baixa, apresentando um lento crescimento ao
longo do tempo. A população também é jovem, com contingentes maiores até 40 anos, e
predominância acentuada da população masculina em todas as idades.

Pacajá, Senador José Porfirio e Uruará apresentam crescimento populacional negativo no


período 1990-2000 especialmente nas áreas rurais. As causas do fenômeno podem ser
buscadas na retração das lavouras tradicionais e na expansão da pecuária – que demanda
menos mão-de-obra, assim como na dificuldade de acesso a terra e ao crédito rural.

A densidade demográfica é baixa, revelando o caráter, ainda que relativo, de despovoamento


em termos demográficos se comparado aos demais municípios da região.

Em termos de mão-de-obra ocupada, o setor primário é o que mais absorve trabalhadores, sem
levar em consideração a contribuição da mão-se-obra familiar na geração da renda. A
agricultura familiar é a base econômica local e encontra limitações para seu crescimento, por
ter baixa capacidade de agregação de valor, poucas alternativas produtivas, geração de
excedente reduzido. Estes resultados são o produto de anos de projetos de assentamentos
dirigidos que não obtiveram sucesso, tornando a região receptora de famílias oriundas do Sul
e Nordeste em busca de terras e áreas de fronteira, mas sem o aparato técnico, estrutural,
institucional e financeiro necessário.

As bases agropecuárias (setor primário) possuem grande peso na estrutura econômica local,
sendo que em municípios como Anapu, Brasil Novo, Pacajá, Placas e Vitória do Xingu a
participação do setor primário chega a quase a metade do PIB municipal.

A principal característica da forma de ocupação consiste do ciclo de desmatamento e


queimada, com exposição acentuada dos solos, deixando-os, em até 05 anos, com graves
problemas de produtividade. Este ciclo é rotineiramente relatado por alguns técnicos agrícolas
regionais como um fato histórico que tem se modificado nos últimos anos.
Em relação ao uso das terras, cabe destacar a importância da pecuária que chega a ocupar
cerca de quatro vezes mais áreas do que as lavouras. O município de Pacajá se destaca como o
10º maior rebanho do Estado do Pará.

A maior parte das terras nesse compartimento ainda é ocupada por Floresta Ombrófila Densa,
ainda preservada por estar em terras ocupadas pela Terra Indígena - TI Bacajá.

No restante das áreas desse compartimento, o extrativismo vegetal é outra atividade


importante, de caráter cultural e de subsistência. A coleta de recursos como fibras, madeiras,
frutos, ervas, entre outros bens, assumem sua importância como estratégia de vida na região.
Importante lembrar que os ciclos econômicos locais estiveram fortemente associados ao
extrativismo vegetal, como foi com a castanha-do-pará, borracha, e madeira. Produtos como a
castanha-do-pará, se analisados separadamente, apresentam baixo valor agregado e

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produtividade. Mas, pelo fato de serem tradicionalmente coletados, têm importância simbólica
expressiva.

Outros produtos fonte do extrativismo como o açaí e o cupuaçu, por exemplo, já possuem
grande expressividade nacional e internacional, embora ainda não haja dados oficiais sobre a
produção de cupuaçu.

O maior foco das atividades extrativistas tem se dirigido para a diversidade biológica dos
recursos da Amazônia e as tentativas de patentes internacionais de aproveitamento dos frutos,
ervas e outros recursos, inclusive nas terras indígenas.

Na AII estão situadas 15 Terras Indígenas, todas no Médio Xingu e a maioria (67%) no
município de Altamira, com diferentes estágios de reconhecimento: 8 (53%) registradas, no
último estágio do reconhecimento, 2 (13%) homologadas no penúltimo estágio; 1 declarada,
no estágio intermediário; 3 (20%) identificadas, no segundo estágio; e 1 (7%) no estágio
inicial. As Terras Indígenas sofrem as mesmas pressões que as Unidades de Conservação -
UC e os assentamentos, sendo registrados conflitos com mineradores, pescadores, caçadores,
madeireiros e posseiros.

As principais áreas na AII, registradas em nome da União e que foram objeto de grilagem,
através do “o fantasma Carlos Medeiros” estão no município de Altamira: Sesmaria Cumbé I
(3.000 ha); Sesmaria Sobrado (19.800 ha); Sesmaria Cumbé II (30.000 ha) e Sesmaria
Fazenda Cafeituba (29.136 ha).

Pode-se observar que após 30 anos de ocupação direcionada e desordenada, a divisão espacial
nessa porção territorial é marcada por relações de desigualdade social, segregação territorial,
degradação do ambiente natural e conflitos armados em torno da posse da terra.

Este quadro fundiário desordenado e com forte pressão para exploração com grilagem de
terras é comum em todos os municípios. Esta é uma condição regional/local inserida na região
de fronteira amazônica. Ao lado da grilagem e pressão por exploração ilegal de recursos
naturais, madeireiros em especial, agricultores e trabalhadores rurais têm na luta pela fixação
a terra por sistemas de produção extrativistas ou agrícolas sustentáveis, a base da ação
comunitária desenvolvida na região.

A madeira é o principal produto extrativista e, ao mesmo tempo, vilã do processo de


crescimento local, visto ser associada às taxas de desmatamento da Amazônia. Atualmente
registra-se elevada produção de lenha e madeira em tora, sendo a da AII responsável por cerca
de 10% da extração do Estado do Pará. Ao longo do eixo da Rodovia Transamazônica, existe
uma grande área desmatada, a Floresta Ombrófila Aberta que já se encontra reduzida a
fragmentos isolados com baixa capacidade de suporte para a biota regional.

A despeito das áreas já desmatadas, neste compartimento destaca-se a presença de três


Reservas Extrativistas (RESEX): a RESEX do Rio Iriri, a RESEX do Riozinho do Anfrísio e
a RESEX do Médio Xingu.

Os ribeirinhos que habitam essa região vivem nas margens dos Rios Xingu, Iriri e Curuá. São
cerca de 350 famílias moradoras das quatro RESEX mencionadas, além da Estação Ecológica
Terra do Meio e do Parque Nacional da Serra do Pardo.

6365-EIA-G91-001b 67 Leme Engenharia Ltda.


A Reserva Extrativista do Riozinho do Anfrísio – afluente do Rio Iriri – foi criada em
novembro de 2004. Está localizado no município de Altamira, na Terra do Meio, dentro da
Bacia Hidrográfica do Rio Xingu. A RESEX limita-se com a Floresta Nacional de Altamira e
com as terras indígenas Xipaya e Cachoeira Seca. O texto de seu decreto informa que a
RESEX possui uma área aproximada de 736 mil hectares e tem como objetivo a proteção dos
meios de vida e a cultura das populações tradicionais, além de assegurar o uso sustentável dos
recursos naturais da área. Segundo dados do Instituto Socioambiental, ali vivem atualmente
24 famílias, num total de 257 pessoas, entre extrativistas nativos, povos indígenas, imigrantes
e extrativistas.

A região do Riozinho do Anfrísio viveu o apogeu do ciclo da extração da borracha nas


décadas de 1940 e 1950. Depois disso, ali se manteve uma população cujo modo de vida está
organizado a partir das atividades extrativistas – em geral, coleta de sementes oleaginosas e
castanha-do-pará. Atualmente, segundo informações do Instituto Chico Mendes, a
comunidade sobrevive da pesca e do cultivo da copaíba e andiroba.

A RESEX do Rio Iriri foi criada em junho de 2006 e abriga aproximadamente 55 famílias. A
Reserva possui área de 398.938 hectares e também está localizada na Terra do Meio, no
município de Altamira, há cerca de 3 dias de barco da sede. A região conhecida como Terra
do Meio possui área de 8 milhões de hectares, e engloba a reserva extrativista do Rio Iriri, as
RESEX do Riozinho do Anfrísio e do Médio Xingu, além da Floresta Estadual do Rio Iriri,
Terras Indígenas e outras Unidades de Conservação.

A Unidade de Conservação mais recentemente criada na região é a RESEX do Médio Xingu,


localizada em Altamira, em uma área marcada pela existência de inúmeros conflitos por posse
de terras, especialmente em função da ação de grileiros. Possui 303 mil hectares de área total
e ocupa uma faixa de 100 quilômetros na margem esquerda do Rio Xingu, no sentido de quem
desce o rio em direção a Altamira, na Terra do Meio. Vivem na Reserva, atualmente, cerca de
50 famílias, num total de 250 habitantes, que têm seu modo de vida tradicionalmente ligado
ao extrativismo.

Embora o setor de serviços seja predominante na geração do PIB ele está alicerçado no setor
primário, principalmente na agricultura e na pecuária. A agricultura na região constitui-se
eminentemente em uma atividade de subsistência, para alimentação das famílias e de algumas
criações, mas com algumas lavouras voltadas ao mercado, como o cacau e a pimenta.
Tradicionalmente, a mandioca e o arroz são culturas de base alimentar na região. A produção
dessas lavouras na Área de Influência Indireta não se destaca, embora, em 2006, Altamira
tenha se colocado como 12º maior produtor de arroz do Pará e 31º de mandioca.

Cinco dos onze municípios da AII são os maiores produtores de cacau do Estado do Pará.
Esta lavoura é a principal cultura da região, para a qual têm se voltado investimentos públicos
e privados, na busca por atingir novos mercados, em especial, o mercado externo. Destaca-se
que Medicilândia, maior produtor de cacau do Pará, é o segundo maior produtor do Brasil,
ficando atrás apenas do município de Ibirataia, situado no Estado da Bahia. O município de
Uruará destaca-se como o 7º maior produtor nacional.

Em relação ao tema Saúde, especificamente no caso da malária, cabe destacar que a


abordagem do diagnóstico considera toda a área da AII, sem especificação de dados
municipais que permitissem o tratamento deste assunto pelos compartimentos estabelecidos

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nesta análise integrada. Por essa razão, ele será tratado, a seguir, considerando toda a área de
influência indireta do empreendimento.

Dados sobre a infra-estrutura revelam a precariedade das áreas em relação ao esgotamento


sanitário e tratamento de água que conduzem a um quadro de saúde também precário.

Essas informações demonstram, ao lado do conhecimento sobre a situação epidemiológica da


AII, que de um total de 63 mil crianças que nasceram vivas nos últimos 10 anos, 1.639
crianças morreram antes de completar um ano de vida, o que corresponde a um Coeficiente de
Mortalidade Infantil de 26 óbitos de menores de um ano por mil nascidos vivos por ano. Este
coeficiente é considerado alto, 20 % maior que o do Estado do Pará, 14 % maior que o da
Região Norte e 30 % maior que o do Brasil. A meta preconizada pela Organização Mundial
de Saúde – OMS para países em desenvolvimento é de menos de 20 óbitos de menores de um
ano por mil nascidos vivos por ano. Em 2006 foram registrados 52 óbitos em Altamira, 26 em
Medicilândia e 24 em Uruará.

A malária é a principal endemia da AII, a mais susceptível a dispersões e a exacerbações


diante de aumento do fluxo migratório, da movimentação de pessoas, da atividade no meio
rural ou ainda do aquecimento econômico. A malária na região funciona como um verdadeiro
indicador econômico: qualquer aquecimento da economia resulta em agravamento da situação
da malária e vice-versa.

Pacajá é o município que concentra o maior número de casos de malária na AII,


representando 36 % do total dos casos. Teve quase 30 mil casos nos últimos 5 anos. Tem
uma média de 6 mil casos por ano, 500 casos por mês ou 16 casos por dia.

Anapu é o terceiro município da AII em número de casos de malária. Concentra 15 % do total


de casos da área. Registrou mais de 12 mil casos nos últimos 5 anos, e teve uma média 2.500
casos por ano, mais de 200 casos por mês ou 7 casos diariamente. Estes 3 municípios juntos
são responsáveis por 80 % dos casos de malária ocorridos na AII. Os demais municípios têm
transmissão de malária, mas com incidências mais baixas. Os municípios com menor
transmissão de malária na AII são Gurupá, com apenas 89 casos em 5 anos, e Placas com 320
casos.

O Índice Parasitário Anual dos Municípios - IPA varia muito entre os municípios da AII, e no
mesmo município ao longo dos anos e apresentam grandes diferenças entre as diversas
localidades de um mesmo município. Os maiores IPAS são os de Anapu, Pacajá e Senador
José Porfírio, que apresentam níveis que caracterizam a área como de alto risco de
transmissão de malária. Todos os demais municípios têm IPAs abaixo de 50 casos por mil
habitantes por ano e são classificados como de baixo risco de transmissão de malária.

Um dos causadores da malária na AII são os Projetos de Assentamentos, implantados pelo


INCRA - Marabá em Pacajá e Anapu, onde se concentra 90 % dos casos dos dois municípios.
Estes assentamentos têm atraído fluxos migratórios através da Rodovia Transamazônica,
principalmente, do Município de Novo Repartimento, e também de Breu Branco, Tucuruí, e
de outros municípios situados do entorno da UHE Tucuruí, segundo informações dos
coordenadores de endemia e Secretários Municipais de Saúde dos Municípios e conforme
relata o vídeo “O Retrato da Malária no Ladário” produzido pela Secretaria Municipal de
Saúde de Pacajá, com apoio da FUNASA e SESPA.

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O maior foco de transmissão de malária da AII atualmente é a região do Ladário em Pacajá,
onde existem quatro Projetos de Assentamento (P.A) e uma invasão: os P.A. Montes Belos,
Rio Bandeira, Raio do Sol e Cururuí, e a invasão de sem-terra Cururuí, que deu origem ao P.A
de mesmo nome. Cada um deles é constituído por vários núcleos com 40 a 120 famílias cada,
dispersos em núcleos isolados pelas dificuldades de acesso.

Existe apenas um posto de saúde para assistir a toda essa população, sem médico nem
enfermeira. A equipe de endemias que cobre toda a área é constituída apenas por 3
microscopistas, 5 guardas de endemias e um técnico de enfermagem. Seriam necessárias 10
equipes do Programa de Saúde da Família - PSF para garantir a assistência básica à saúde da
população do Ladário, compostas por 10 médicos, 10 enfermeiras, 10 auxiliares de
enfermagem e, pelo menos, 70 agentes comunitários de saúde. Mas, o município só dispõe de
uma equipe do PSF, que atua na única unidade desse Programa situada na sede, e que está
sem médico há 02 meses.

A principal via de acesso compartimento é a utilização de via fluvial. O sistema hidroviário na


AII caracteriza-se por ser navegável somente em seu baixo curso – num estirão de 298 km por
embarcações comerciais que transportam anualmente cerca de 80 mil toneladas de cargas
gerais e combustíveis. No trecho do Médio Rio Xingu, a montante de Altamira, existe uma
navegação pioneira que atende à população local; no trecho da Volta Grande, entre Altamira e
Belo Monte do Pontal, somente as pequenas embarcações (canoas) conseguem navegar,
devido às diversas cachoeiras existentes.

Senador José Porfírio (km 173); Porto Dorothy Stang no município de Vitória do Xingu (na
confluência entre os Rios Tucuruí e Xingu); e o Porto de Altamira (Remanso do Pontal) no
município de Vitória do Xingu que é o ponto de conexão da Hidrovia do Xingu com a
Rodovia Transamazônica. O acesso ao porto é feito através do Rio Xingu ou da rodovia BR-
230 (Transamazônica), que é a ele ligada por uma estrada de 1 km. Suas instalações estão
constituídas por um armazém de 50 m x 20 m, um galpão de madeira, escritório e residência
do gerente, casa de força com grupo-gerador etc.

Destaca-se, ainda, a existência de travessias de balsa em dois pontos do Rio Xingu, na cidade
de Altamira e nas localidades de Belo Monte do Pontal e Belo Monte II que permitem o
transporte de veículos e de pedestres. Na primeira travessia, o trajeto da balsa interliga a
cidade de Altamira, na margem esquerda do Rio, com a área rural do município situada na
margem esquerda, através da Transassurini. A travessia na altura das localidades de Belo
Monte interliga os municípios de Anapu e Vitória do Xingu, através da Rodovia
Transamazônica (BR-230).

9.3.2 Compartimento Transamazônica e PA 415

Abrange terrenos da unidade de paisagem Transamazônica uma das subdivisões do


Compartimento Baixo Xingu da AAR, é constituida por uma faixa com direção aproximada
SW-NE e está posicionada imediatamente ao norte do compartimento Xingu/Bacajá,
apresentando uma extensão de 4.750 km2. Compreende terrenos das margens esquerda e
direita do rio Xingu, profundamente antropizado pelo processo de ocupação que se deu no
entorno da rodovia Transamazônica e da PA 415, que liga Altamira a Vitoria do Xingu. Este
processo de ocupação vem acontecendo desde a década de 70, transformando a paisagem
amazônica em pastagens, plantios de cultura branca, áreas de capoeira, etc. A ocupação e o

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desmatamento concentram-se em regiões próximas às rodovias e seus travessões, cujo padrão
de modificação da paisagem observado tem a forma clássica de espinha de peixe.

A porção sul deste compartimento é caracterizada por rochas sedimentares (arenitos, argilitos
e folhelhos) e vulcânicas básicas da Bacia Sedimentar do Amazonas, onde se desenvolvem as
colinas do Planalto Marginal do Amazonas; nessas colinas ocorrem Latossolos e associação
de Nitossolos adequados à agricultura e à pastagem, favorecendo a ocupação agropecuária. A
porção norte do compartimento é dominada por arenitos da Formação Alter do Chão,
observando-se as rampas de platôs com lateritas, colinas e rampas da Depressão do
Amazonas, onde estão presentes associações de Latossolos e plintossolos pétricos
concrecionários, com restrições à agricultura e com potencial extrativista.

A rede hidrográfica é formada pelo rio Xingu e alguns tributários pela margem esquerda,
como os igarapés Panelas, Altamira, Ambé e da Trindade, na região da cidade de Altamira, e
o igarapé Joá. Na margem direita têm-se os igarapés Jarauá e Tamanduazinho.

Em relação ao trecho do rio Xingu que drena este compartimento, cabe ressaltar que ele é
caracterizado por ausência de corredeiras, uma vez que se situa a jusante dos pedrais da Volta
Grande, apresenta pouca declividade e na estiagem sofre efeito da maré do rio Amazonas.

Neste compartimento há registro de várias cavidades naturais em arenitos da Formação


Maecuru, observando uma maior concentração ao sul de Altamira, sendo as mais importantes
os Abrigos da Gruta do Jôa, Santo Antônio e Aturiá, a Gruta do Jôa e a Caverna Kararaô.

Os grupos representativos da flora e da fauna deste compartimento são os mesmos já descritos


no compartimento ambiental Xingu/Bacajá, para os ambientes de terra-firme e várzea. No
entanto, o grau de fragmentação das tipologias vegetais permite inferir que neste
compartimento deve ocorrer a menor diversidade biológica de toda a bacia, com possível
desaparecimento local de espécies sensíveis a alterações de habitat, fragmentação e pressão
por caça. Entre estes destacam-se as espécies de mamíferos de grande porte, predadores de
topo de cadeia, fauna cinegética e espécies de aves associadas ao ambientes de florestas
preservadas.

Por outro lado a fragmentação pode beneficiar espécies de mamíferos de pequeno porte.
Estudos nas florestas tropicais sugerem que muitas das espécies de pequenos mamíferos
atingem elevadas densidades em hábitats perturbados. Na Amazônia, os hábitats e os recursos
utilizados por muitas espécies de pequenos mamíferos são ainda pouco conhecidos.
Investigação recente trouxe novos dados sobre as relações de variáveis do habitat com a
abundância de recursos com cinco espécies de marsupiais e nove espécies de roedores na
Amazônia. Entre os pequenos mamíferos, roedores e marsupiais, há espécies hábitat-
especialistas, mais exigentes em qualidade de ambiente, e espécies-hábitat-generalistas, com
maior capacidade de se aproveitar de ambientes alterados.

A ictiofauna no trecho do rio Xingu, inserida neste compartimento, é caracterizada por


espécies de biótopos aquáticos também presentes no compartimento anterior, porém próximos
à região de Altamira e de Belo Monte. Os Characiformes, como Hemiodus voerdewinkleri e
Bivibranchia fowleri, desses trechos demonstraram padrões inversos do trecho próximo à
confluência do rio Iriri, com os maiores indivíduos ocorrendo no baixo Xingu.

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A arraia-de-fogo (Potamotrigon leopoldi) é uma espécie de grande beleza e interesse para a
aquarofilia, ocorrendo ao longo do Médio Xingu até o Baixo Xingu, com maior abundância
nos arredores de Altamira.

A ariranha (Pteronura brasiliensis)ainda ocorreneste trecho de rio e a lontra (Lontra


longicaudis), possivelmente em menor densidade devido à proximidade com habitações
humanas. Há ocorrência, também, de tracajá (Podocnemis unifilis), que também sofre pressão
de caça uma vez que sua carne e ovos constituem importante fonte de alimentação da
população ribeirinha.

Neste compartimento localizam-se as sedes urbanas e suas áreas de entorno dos municípios de
Altamira, Vitória do Xingu e Senador José Porfírio. Com sedes localizadas fora da bacia
hidrográfica do rio Xingu, mas ao longo do eixo da Transamazônica, estão os municípios de
Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e Placas, situados na porção ocidental da AII, e as sedes de
Anapu e Bacajá, ambas localizadas em sua porção oriental.

Dessa forma, retomando as considerações apresentadas no item 9.3 sobre a compatibilização


dos atributos socioeconômicos e culturais dentro dos compartimentos ambientais
estabelecidos pelos meios físico e biótico, vale reforçar que neste compartimento as
características socioeconômicas e culturais serão enfocadas naqueles atributos mais ligados às
sedes urbanas, que são os locais de maior concentração da população e da infra-estrutura
social e econômica.

Altamira e Senador José Porfírio (antigo município de Souzel) tiveram sua estrutura espacial
herdada do período colonial, expandindo e se consolidando com o “boom” da borracha e com
a exploração de outros produtos vegetais, até meados da década de sessenta. Trata-se de um
período iniciado com a conquista e ocupação portuguesa do vale do Amazonas e de seus
afluentes – implantação de fortificações militares e missões religiosas – moldado pela
exploração extrativista, alicerçado no sistema de aviamento e tendo como suporte uma rede de
núcleos articulados pela circulação fluvial.

As sedes de Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, localizadas respectivamente na margem


direita e esquerda do Rio Xingu, têm sua funcionalidade urbana associada à produção
agropecuária e a comercialização de atividades extrativistas vegetais como a madeira,
borracha, castanha etc.

Com a implantação na década de 1970 pelo governo militar do Programa de Integração


Nacional (PIN) executado através do INCRA, com o objetivo de ocupar os “chamados”
vazios da floresta, a ocupação dessa área foi intensificada tanto pela implantação de projetos
que previram a colonização direcionada por instituições governamentais, com a abertura de
rodovias de interligação, em especial a Transamazônica (BR-230), quanto por migrações
colonizadoras espontâneas, fato que passou a moldar o acesso à região pelo fluxo das
estradas.

A ineficácia de projetos oficiais teve como uma de suas conseqüências o crescimento


desordenado de áreas urbanas, como é o caso de Brasil Novo, Vitória do Xingu, Anapu e
Pacajá, cuja emancipação a condição de município ocorreu na primeira metade da década de
90. Esses municípios funcionavam pontos de apoio e comércio ao longo da Rodovia
Transamazônica e progressivamente foram crescendo, em decorrência do êxodo rural da
década de 80 e meados de 90, aliado à chegada de novos migrantes à região.

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Os efeitos dessa política geraram, entre outros aspectos, a desordem social e econômica e
atinge o setor agrícola. Nesse processo aumentam as dificuldades de obtenção de crédito e o
fluxo de incentivos fiscais é reduzido. Conseqüentemente diminui o nível de investimentos
privados como parte da estagnação econômica e da política de elevadas taxas de juros da
época. As condições precárias da infra-estrutura viária de acesso, principal eixo de circulação
regional compromete a manutenção da integração e refaz o isolamento. Ao mesmo tempo,
ocorre uma diminuição no ritmo de crescimento populacional, sobretudo pela redução dos
fluxos migratórios. Se entre 1970 e 1980 o crescimento ocorreu na base aproximada de 150%,
na década de 80, o crescimento foi menor que 50% (47,4%).

Nessa época consolida-se o eixo de ocupação na faixa lindeira à Rodovia Transamazônica,


que abriga migrantes de várias regiões do país em contraposição à ocupação ribeirinha, que
ocupa as margens do Rio Xingu e os igarapés.
A cidade de Altamira, no contexto das mudanças decorrentes das políticas implementadas a
partir dos anos 1970, consolidou-se como o local de vantagens locacionais mais evidentes em
relação à AII. Além de situar-se próxima aos projetos de colonização particulares ou oficiais e
de ser ponto de cruzamento de rodovia federal, estadual com artérias fluviais, funciona como
local de residência de trabalhadores agrícolas e urbanos que atuam de forma sazonal tanto no
rural como no urbano; de pequenos proprietários e ocupantes, especialmente no que se refere
ao acesso da família a gama de serviços oferecidos.

As atividades do setor secundário são restritas, voltadas para exploração e de transformação


de alimentos. Atividades de beneficiamento da produção da agropecuária – em estágio inicial
–, como a separação de polpas, moagem de grãos e abate de animais, sem, contudo, beneficiar
os produtos para sua forma final, o que representa, de fato, maior agregação de valor no
processo produtivo. Parte significativa das empresas do setor secundário está ligada ao ramo
de madeiras e extração de mineral estando a maior parte das empresas locais localizada na
sede municipal do município de Altamira.

A principal característica do setor terciário refere-se à informalidade das empresas locais


comerciais e de serviços, e o fato de serem pequenas empresas, muitas de caráter familiar.
Destaca-se o comércio varejista de alimentos, bebidas e artigos pessoais, como restaurantes,
pensões, bares e pequenos hotéis, em sua maioria, informais.

Estão ainda presentes os serviços associados à indústria extrativa, como as de comércio de


madeiras, máquinas e equipamentos para a agropecuária e extração de madeira, além de
serviços de reparação de máquinas e equipamentos.

A BR-230 – Rodovia Transamazônica – interliga a maioria das sedes municipais existentes na


AII – Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Placas e Uruará e, em conexão
com as PA-415 e PA-167, permite o acesso às sedes de Vitória do Xingu e Senador José
Porfírio.

Dados do IBGE em 1980 revelaram que o Pará foi o estado da Região Norte que recebeu o
maior número de imigrantes interestaduais durante a década anterior. A malha viária instalada
a partir daquela década foi responsável pela penetração de população em várias direções:
Rodovia Belém-Brasília (BR-153), principal corredor no sentido Sul-Norte que integrou a
parte oriental da Amazônia à região Centro-Sul do Brasil; Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-
163) que se configura como um corredor de acesso que vem facilitar a integração com a
porção ocidental da Amazônia; e, Rodovia Transamazônica (BR-230), corredor de acesso no
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sentido Leste-Oeste, planejada para integrar a Região Norte com o restante do País. De certo
modo o projeto de ocupação dos “espaços vazios” da Amazônia tinha na malha viária o seu
principal instrumento.

Os transportes para o atendimento dos setores da economia são feitos através da Rodovia
Transamazônica que enfrentam dificuldades de acesso e circulação, dada as suas condições de
tráfego, sobretudo durante o período chuvoso. Trata-se de uma via que necessita de
conservação intensa durante os 12 meses do ano. Na época das chuvas (dezembro/ maio) são
comuns as interrupções do tráfego devido à formação de atoleiros, ao rompimento de bueiros
e de aterros, bem como pela destruição de pontes e pontilhões pela força das águas, além das
dificuldades dos veículos pesados para vencerem as rampas acentuadas e escorregadias em
qualquer época do ano. Na época seca, a poeira excessiva aumenta o perigo de acidentes.

As estradas vicinais (conhecidas como travessões), perpendiculares à BR-230 e que permitem


o acesso às localidades rurais interioranas, encontram-se em situação ainda mais precária para
o transporte de pessoas e mercadorias. A falta de recursos pelas prefeituras municipais
inviabiliza o ordenamento dessas estradas e sua manutenção. Somado a esse quadro, tem-se a
abertura de estradas clandestinas para escoamento da exploração madeireira que contribui
para a ocupação desordenada na região.

A Rodovia PA-415, com 49 km de extensão, liga as cidades de Altamira e Vitória do Xingu,


apresentando condições adequadas ao tráfego. Essa rodovia tem interconexão com travessões
que a interliga com a margem esquerda do Rio Xingu e com outras áreas do município de
Vitória do Xingu. As condições de tráfego nestes travessões são precárias, na maior parte dos
trechos. Trata-se de um dos principais acessos para o escoamento da produção da Rodovia
Transamazônica e da via fluvial do Rio Xingu. Além de Altamira, a PA-415 beneficia
diretamente os municípios de Pacajá, Anapu, Vitória do Xingu, Brasil Novo, Medicilândia e
Uruará.

Além do transporte viário, o transporte fluvial também se destaca como um importante meio
de acesso. Nesse compartimento localizam-se os portos de Altamira e Vitória do Xingu, este
último, utilizado para escoamento e circulação de mercadorias em direção ao Rio Amazonas.
Embora historicamente o transporte fluvial seja o principal acesso na AII utilizado para
extração de produtos naturais, não se dispõe de uma rede organizada para atender a
população.

Desde 1970, Altamira é o município mais populoso da AII. Neste ano, com 15.345 habitantes,
sua taxa de participação em relação ao total da população da AII era de 38,5%. Na década de
1970, Altamira apresentava uma alta taxa de crescimento geométrico anual de 11,7% ao ano,
que arrefeceu na década seguinte passando a 4,1% ao ano. O fato mostra que a sede municipal
já se afirmava como centro sub - regional no contexto das relações econômicas e políticas
regionais circunscritas à dinâmica dos fluxos e da atividade comercial que se estabeleciam por
meio dos cursos d’água, bem antes da década de 1970, que marcaria profundamente a
estrutura espacial e socioeconômica regional. (PDRS,versão preliminar, Nov.2008).

A taxa de crescimento na década de 1990 foi de 0,7 %. Recupera sua condição de pólo de
atração demográfica no período 2000 a 2007, com a taxa de crescimento aumentando para
2,5% ao ano; e sua participação da população em relação ao total da AII ainda tem a
importante magnitude de 29%, considerando ao aumento do número de municípios da região.

6365-EIA-G91-001b 74 Leme Engenharia Ltda.


Em 2007 seu grau de urbanização chegou a 75% e 58% em Uruará como reflexo dos
movimentos migratórios interestaduais em busca de oportunidades de trabalho, sobretudo em
relação à exploração madeireira, confirmando a situação recorrente na Região Norte em que
há aumento da concentração populacional em uns poucos pólos de desenvolvimento e de
prestação de serviços.

O restante das sedes municipais localizadas neste compartimento mostrou um padrão de


crescimento populacional comum à região. A população ainda é essencialmente rural, e o
processo de urbanização ocorre lentamente, de forma desestruturada. Na região, a densidade
populacional é baixa, apresentando, também um lento crescimento ao longo do tempo. A
população é jovem, com contingentes maiores até 40 anos, e predominância acentuada da
população masculina em todas as idades, como conseqüência da busca de oportunidades de
trabalho. Dados sobre a fecundidade revelam que ela é alta, bem como a mortalidade infantil,
embora esses indicadores tenham decrescido.

Os registros elevados de fecundidade relacionam-se ao perfil predominante jovem da


população, com pouco ou nenhum acesso a educação e a saúde. Em relação ao elevado índice
de mortalidade infantil na região, há que considerar que a meta preconizada pela Organização
Mundial da Saúde- OMS para países em desenvolvimento é de menos de 20 óbitos de
menores de um ano por mil nascidos vivos em um ano. A redução da mortalidade infantil
deve-se, sobretudo a implantação recente do Programa de Saúde da Família, ainda que os
índices ainda continuem elevados. Em 2006 foram registrados na AII índices em torno de
22,1 óbitos por mil nascidos vivos em um ano. Em 2007 esse índice diminuiu chegando a
14,4 óbitos.
Os mercados locais são caracterizados pela baixa diversificação na produção e oferta de
produtos. A capacitação da mão-de-obra pode ser considerada baixa, reflexo do reduzido
nível de escolaridade da população e das poucas ofertas de cursos de qualidade para
profissionalização. Alimentando este ciclo, os investimentos privados são reduzidos e
praticamente inexistentes em atividades de maior porte ou dinamismo tecnológico,
reproduzindo ciclos de baixa remuneração, pouca amplitude do poder de compra,
simplificação de mercados e das relações de produção.

Levando em consideração a estrutura produtiva, todos os municípios deste compartiemento,


assim como os outros municípios da AII, possuíam, em 2005, participação predominante do
setor de serviços, apresentando, no setor terciário, PIB superior ao PIB primário e secundário.

Os municípios de Pacajá e Anapu foram os que mais contribuíram para o aumento do setor
secundário em 2005. Já no setor de serviços, o crescimento nominal foi maior no município
de Anapu ao lado do município de Uruará. Este crescimento deu-se, sobretudo, em relação ao
aumento da Administração Pública e não pelo dinamismo induzido pelos setores agropecuário
e industrial.

O setor secundário (indústrias) apresenta pouca participação apontando para uma estrutura
produtiva que apresenta pouca capacidade de beneficiamento e agregação de valor.

A principal característica do setor terciário refere-se à informalidade das empresas locais


comerciais e de serviços, e o fato de serem pequenas empresas, muitas de caráter familiar.
Destaca-se o comércio varejista de alimentos, bebidas e artigos pessoais, como restaurantes,
pensões, bares e pequenos hotéis, em sua maioria, informais.

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Estão ainda presentes os serviços associados à indústria extrativa, como as de comércio de
madeiras, máquinas e equipamentos para a agropecuária e extração de madeira, além de
serviços de reparação de máquinas e equipamentos.

Além do transporte viário representado na área pela Rodovia Transamazônica, o transporte


fluvial também se destaca como um importante meio de comunicação nesta unidade, estando
aí localizados os portos de Altamira e Vitória do Xingu, este último, utilizado para
escoamento e circulação de mercadorias em direção ao Rio Amazonas.

Os serviços de telefonia fixa ainda são precários na maior parte das sedes municipais. Em
Altamira, município mais bem atendido da área de estudo, menos de 30% dos domicílios
contava com esse benefício em 2007. Em Uruará, no mesmo ano, esse número era inferior a
15%. Em todos demais municípios, os índices de atendimento situavam-se próximos ou
inferiores a 10%. Comparando com a situação do Estado, os dados revelam a exclusão social
da maioria da população, no que diz respeito ao acesso à telefonia fixa.

A distribuição de energia elétrica é feita pelas Centrais Elétricas do Pará S/A – CELPA. As
redes de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN) alcançam a AII por meio das
subestações Altamira, Transamazônica e Rurópolis, todas com tensão de 230 kV, localizadas,
respectivamente, nos municípios de Altamira, Uruará e Rurópolis. O município de Altamira,
embora interligado ao SIN, também é atendido por esses sistemas. O serviço oferecido é
precário, sendo que dentre os municípios que apresentaram os piores resultados em relação ao
atendimento de energia elétrica, destaca-se o de Senador José Porfírio, que chegou a ter 98
interrupções em 2007, com duração total de 321 horas sem energia elétrica.

Embora todos os municípios disponham de rede geral de abastecimento de água, os índices de


atendimento apresentam-se muito baixos. Nos municípios mais bem atendidos, os domicílios
que dispõem de rede representam entre 20% e 50% dos domicílios dos respectivos
municípios.

A maior parte dos domicílios dos municípios é abastecida por poços ou nascentes encontra-se
nas áreas rurais, à exceção de Altamira, onde domicílios dotados desse tipo de abastecimento
concentram-se nas áreas urbanas e totalizam um número cerca de quatro vezes superior ao
verificado nas áreas rurais.

Em relação ao esgotamento sanitário, cabe destacar que 25% dos domicílios não dispõem de
instalações sanitárias e 61% contam com formas inadequadas de disposição dos dejetos
gerados: fossas rudimentares (forma preponderante, em 55% dos domicílios) ou valas abertas,
cursos d’água e outros escoadouros (formas utilizadas por 6% dos domicílios). Apenas 13%
das residências são servidas por fossas sépticas e 1% por rede geral de esgoto ou pluvial.

Os municípios que podem ser considerados relativamente mais bem atendidos por contarem
com fossas sépticas que atendem de 15 a 30% dos seus domicílios são Altamira e Vitória do
Xingu. As situações mais graves ocorrem em Anapu e Pacajá, onde mais da metade das
residências não dispõem de banheiro ou sanitário.

Quanto ao destino do lixo, nenhum município da AII possui a totalidade dos seus domicílios
particulares permanentes contemplados com o sistema de coleta. Em Altamira, cidade mais
bem atendida em relação a esse serviço, apenas aproximadamente 73% dos domicílios dispõe
desse sistema. Nos demais municípios, a coleta varia entre cerca de 5% dos domicílios, em

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Anapu, a, no máximo, 30%, em Porto de Moz, situado fora deste compartimento. Excetuando-
se Altamira, esses índices de atendimento são inferiores aos do Pará, onde, em média, 54%
dos domicílios contam com sistema de coleta de lixo.

Na maioria dos municípios, o lixo coletado é disposto integralmente em lixões. No entanto,


em Altamira e em Vitória do Xingu, parte desse lixo – 33% e 77%, respectivamente –, tem
como destino final áreas alagadas, contribuindo para agravar as condições sanitárias desses
locais.

Em relação à drenagem urbana, apenas os municípios de Altamira, Brasil Novo, Anapu e


Senador José Porfírio possuem rede. Essas redes, cuja extensão varia entre 1 km, em Anapu, e
30 km, em Altamira, lançam a água captada em cursos d’água (permanentes ou intermitentes)
ou em áreas livres públicas ou particulares.

A estrutura administrativa dos serviços públicos dispõe de um número limitado de secretarias


municipais, que respondem pela gestão dos serviços disponibilizados à população para o
desenvolvimento de planos, programas e ações de saúde, educação, habitação, segurança
pública, transporte, assistência social, entre outras.

Os municípios de Altamira, Medicilândia, Pacajá e Uruará possuem estrutura administrativa


mais complexa e organizada em diversas secretarias específicas.

Todos os outros municípios possuem Secretaria Municipal de Assistência Social ou de


Promoção Social e apenas três Secretarias de Assistência Social, presentes nos municípios de
Uruará, Medicilândia e Placas.

Em Placas, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu –, a presença dos órgãos federais e
estaduais se restringe à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT, no âmbito
federal, e à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER, no estadual. No
município de Placas não há nenhum órgão estadual.

Já o município de Altamira, além dos órgãos mencionados acima, dispõe desde instituições de
ensino, fundações, bancos, secretarias estaduais, defensoria pública e Superintendência
Regional de Segurança Pública. É importante destacar que Altamira e Brasil Novo são os
únicos municípios da AII que contam com a presença de uma sede do INCRA – Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

Dados sobre a segurança pública nos municípios de Altamira e Pacajá revelam taxas acima de
29,2 homicídios por 100.000 habitantes, o que os coloca entre os 556 municípios brasileiros
com maior taxa de homicídios na população total (os 10% mais violentos do país). Na
categoria imediatamente abaixo, que abriga os 25% municípios mais violentos do país, com
taxas entre 16,7 e 29,2 homicídios por 100.000 habitantes, situam-se Uruará, Brasil Novo e
Senador José Porfírio. Anapu, Vitória do Xingu e Medicilândia, com taxas entre 10,1 e 16,7
homicídios por 100.000 habitantes, figuram entre os 40% municípios brasileiros mais
violentos. Placas enquadra-se na categoria em que as taxas variam de 0 a 6,4 homicídios por
100.000 habitantes.

A análise do comportamento da taxa de homicídios na população total, nos municípios sobre


os quais existem dados em todos os anos do triênio, permite constatar um arrefecimento dos
episódios de violência em todos eles em 2006 relativamente ao ano anterior, exceto em

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Vitória do Xingu onde essa taxa dobrou. A queda mais expressiva se deu em Senador José
Porfírio, onde a taxa de homicídios diminui cerca de 70%. Em que pese esse relativo
arrefecimento da violência, entre cujas causas se apontam as políticas de desarmamento
implantadas em 2004, essas taxas continuam altas.

Também é precário o serviço de segurança pública, tendo sido registrado déficits de efetivo
policial de até 1.003,7% em Placas, o que corresponde a 01 policial para cada 3.311
habitantes. Tomando-se por base a relação/habitante por policial equivalente a 1/300, índice
inferior ao recomendado pela ONU que é de 1/250 habitantes, Altamira se destaca em relação
ao restante das sedes municipais, por ser a único município que apresentou déficits inferiores
a 1/87, ou seja, tem um policial para cada 419 pessoas. No restante dos municípios o índice
foi superior a 1000. A região abriga uma única unidade localizada em Altamira.

Embora estejam presentes na área de educação as modalidades de ensino – infantil e


fundamental –sua distribuição está concentrada nas áreas urbanas. Com relação à dependência
administrativa, a iniciativa privada é pouco presente, cabendo às instâncias municipais a
maior parte da oferta de matrículas.

Em relação aos anos efetivos de estudo da população total, tem-se que em Altamira encontra-
se a população com um número maior de anos de estudo da AII, 3,66 anos e em Gurupá a
população com menos anos, apenas 1,63 o que demonstra a precariedade do ensino na AII,
devido basicamente as formas de organização social vigente que espelham os diversos
processos de ocupação e apropriação que ocorreram na AII desde os tempos da colonização
portuguesa, passando pela colonização dirigida e espontânea, das décadas de 60 e 70 do
século XX, até os dias de hoje, onde as frentes de ocupação são lideradas pelos interessados
em explorar os recursos naturais, ainda existentes, e em expandir as fronteiras agropecuárias.

Dados do IBGE revelam que as maiores taxas de aprovação foram registradas nas escolas
localizadas nas áreas urbanas dos municípios de Brasil Novo e Altamira, de 83,6% e 82,7%,
respectivamente. Por outro lado, as menores taxas foram registradas nas escolas das zonas
rurais de Senador José Porfírio (37,3%) e Anapu (47,9%). Na comparação direta com os
dados do Estado do Pará, verifica-se que, com relação à zona rural, 63% dos municípios
apresentaram taxas de aprovação mais baixas que a estadual, de 61,8%. Já com relação à área
urbana, apenas Altamira e Brasil Novo registraram taxas maiores que a observada no Estado
do Pará (73,9%).

Quanto às taxas de reprovação, os maiores índices foram registrados nas escolas localizadas
nas áreas urbanas de Medicilândia (26,2%) e Vitória do Xingu (26,3%) e na zona rural de
Uruará (27,7%). A menor taxa de reprovação foi registrada na área urbana de Brasil Novo, de
9,6%, índice significativamente inferior ao observado no âmbito estadual (15,5%).

A evasão escolar também constitui elemento definidor da situação educacional no Brasil e,


por conseguinte, nos municípios brasileiros, a exemplo daqueles da AII. Em 2005, as maiores
taxas de evasão escolar foram registradas nas zonas rurais de Senador José Porfírio (38,0%) e
Anapu (33,1%), sendo que neste último também foi registrada a maior taxa de abandono da
área urbana – 22,2%. Trata-se de percentuais altos e significativamente superiores aos índices
estaduais – 16,4% na zona rural e 10,6% na área urbana. É importante destacar, uma vez mais,
os índices de Altamira e Brasil Novo, municípios onde foram registradas as menores taxas de
abandono da AII, tanto nas zonas rurais quanto nas áreas urbanas.

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No que diz respeito à distribuição das unidades escolares e docentes por dependência
administrativa, verifica-se que o ensino pré-escolar é ofertado fundamentalmente pelo poder
público municipal. A iniciativa privada se faz presente apenas no município de Altamira, com
10 escolas e 681 matrículas, equivalentes a 21,0% do total de matrículas no município.

A malária é a principal endemia na AII, a mais susceptível a distorções e a exacerbações


diante do aumento do fluxo migratório, da movimentação de pessoas, da atividade do meio
rural ou ainda do aquecimento econômico.

A malária em Senador José Porfírio se concentra nos Garimpos Ressaca, Galo e Itatá, e
Comunidade Ilha da Fazenda, todas situadas na Área de Influência Direta, no trecho da Volta
Grande do Xingu. A malária em Altamira ocorre predominantemente em áreas ribeirinhas de
ocupação antiga e população estável, sendo encontrado também nas margens e ilhas do Rio
Xingu e seus afluentes. Um aspecto relevante em Altamira é a existência de transmissão
urbana da malária, principalmente nos bairros São Domingos I e Jaburu. Os postos indígenas
Ipixuna e Arara (Laranjal) Iriri também possuem um perfil de alta transmissão.

Vitória do Xingu tem pouca ocorrência de casos de malária, mas as áreas mais malarígenas
situam-se na AID, principalmente, a Terra Arroz Cru, os Travessões do CNEC e do km 27
Altamira/Marabá, o km 60 da Rodovia Transamazônica Atamira/Marabá e o Posto Indígena
Paquiçamba.

Os serviços de saúde se caracterizam pela polarização exercida por Altamira. Existem 150
Unidades de Saúde nos municípios da Área de Influência Indireta do AHE Belo Monte, sendo
que Altamira possui 46 unidades de saúde, 31 % do total de unidades da área. Uruará, Porto
de Moz e Medicilândia têm pouco mais de 10 unidades, e os demais municípios menos de 10.

Com exceção de Placas, todos os outros municípios dependem, com maior ou menor grau de
intensidade, de Altamira para procedimentos de média e alta complexidade. Municípios como
Uruará e Brasil Novo possuem serviços com nível de Atenção Secundária à Saúde. Outro
como Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, não possuem hospital. A modalidade de
Atenção Básica à saúde está muito pouco estruturada na maioria dos municípios.

Apenas os municípios de Medicilândia e Uruará estão em regime de Gestão Plena do Sistema


de Saúde Municipal. Os demais estão apenas em Gestão da Atenção Básica à saúde.

Por não disporem de hospital, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu não operam o Sistema
de Informação Hospitalar - SIHSUS e o Sistema de Informação de Controle de Infecção
Hospitalar – SISCIH. Os demais municípios possuem hospital e já operam estes sistemas.

Altamira possui 05 hospitais sendo 1 estadual, 1 municipal, 3 privados vinculados ao SUS e


uma clínica exclusivamente privada. Em Uruará existem 2 hospitais, um deles municipal e
uma clínica privada vinculada ao SUS. Brasil Novo e Porto de Moz têm 1 hospital cada.
Anapu, Medicilândia e Pacajá têm apenas uma unidade mista em cada, e Senador José
Porfírio e Vitória do Xingu não dispõem de unidade com internamento hospitalar.

Altamira, que possui a maior e mais especializada rede hospitalar da AII; porém tem um
déficit de 40% de médicos. Essa situação agrava o atendimento em áreas endêmicas da
malária, que na atualidade estão intimamente associados à atividade madeireira, sendo os
principais responsáveis por sua disseminação em outras regiões do Estado.

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Com relação à estrutura fundiária atual, os municípios inseridos neste compartimento, assim
como os demais da AII, verifica-se que ela é diferenciada segundo o processo histórico de
ocupação de cada um dos municípios. Os municípios onde foram implantados os projetos de
colonização dirigida e espontânea são, ainda hoje, predominantemente rurais. Destacam-se os
assentamentos de famílias migrantes e descendentes, originárias das Regiões Nordeste e Sul, e
que datam das décadas de 1970/1980 e 1980/1990, respectivamente. Dessas experiências
decorre o aumento da especulação e conflito em torno da posse da terra na região e a pressão
sobre as sedes municipais, em particular Altamira.

Nesse contexto, a ocupação e o uso da terra no Estado do Pará correspondem a um mosaico


fundiário complexo sendo identificadas as seguintes áreas; áreas de ocupação tradicional,
remanescentes dos primeiros momentos/períodos de formação da região; áreas indígenas
demarcadas sob a jurisdição do FUNAI; áreas de ocupação recente - áreas já reordenadas pelo
que foram os projetos integrados de colonização - PIC; hoje atualizados para projetos de
assentamento – PA e PDS – Projetos de Desenvolvimento Sustentável, sob jurisdição do
INCRA (INCRA, 1999); e do Instituto de Terras do Pará – INTERPA; áreas de unidades de
conservação federais e estaduais sob a jurisdição do IBAMA e do ITERPA; e áreas de
conflitos sociais pela posse da terra. Desse total 55.6% das terras do Estado do Pará são
Unidades Territoriais de Gestão Especial: Terras Indígenas (23%), Unidades de Conservação
Estadual - UCE (12,6%), Unidades de Conservação Federal – UCF (16,1%) e Marajó (3,9%).
Se forem acrescentadas as áreas sob jurisdição do INCRA e do INTERPA esse percentual
sobe para 85,6%.

No ordenamento territorial e sua formatação regional/local, é possível observar dois grupos de


municípios diferenciados, considerando todo os os municípios da AII do AHE Belo Monte:
municípios que se localizam no Baixo e Médio Xingu, na área de influência da
Transamazônica – nove municípios: Altamira, Vitória do Xingu, Anapu, Pacajá, Senador José
Porfírio, Brasil Novo, Medicilândia, Placas e Uruará; municípios que compõem a Região da
Foz do Xingu, e que estão inseridos no compartimento denominado Ria do Xingu: Porto de
Moz e Gurupá, e que apresentam ordenamento territorial diferenciado dos demais.

A partir da definição de eixos estratégicos das demandas na região quanto ao ordenamento


fundiário correspondendo a consolidação dos Projetos de Assentamento e Projetos de
Desenvolvimento Sustentável (PA e PDS); criação de reservas ecológicas; criação de
condições para o INCRA realizar a reforma agrária; elaboração de diagnóstico e identificação
de áreas para assentamento; promoção da demarcação e documentação de terras públicas;
ordenamento territorial e gestão ambiental relacionam-se o quadro fundiário atual de conflitos
abertos pela posse e uso da terra.

− O território recebe a pressão de setores madeireiros que já esgotaram os recursos


naturais em outras regiões;

− Há a presença de grandes proprietários interessados na apropriação das terras;

− Há a presença de grileiros interessados na especulação fundiária;

− A atuação governamental ainda se faz de forma lenta e descontínua.

Este quadro fundiário desordenado e com forte pressão para exploração com grilagem de
terras é comum em todos os municípios. Esta é uma condição regional/local inserida na região
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de fronteira amazônica. Ao lado da grilagem e pressão por exploração ilegal de recursos
naturais, madeireiros em especial, agricultores e trabalhadores rurais têm na luta pela fixação
a terra por sistemas de produção extrativistas ou agrícolas sustentáveis, a base da ação
comunitária desenvolvida na região.

O município de Altamira é o que detém o maior número de UC e TI em seu território, tendo


três RESEX – Riozinho Anfrísio, Iriri e Médio Xingu que compõem o mosaico de proteção à
Região da Terra do Meio. A RESEX Médio Xingu, a de mais recente criação em junho de
2008, foi estabelecida como recurso para a proteção da população ribeirinha, já que estão
ocorrendo muitas atividades ilícitas na região – grilagem de terra, atividade pecuária,
desmatamento, extração ilegal de madeiras, caça e comércio ilegal de animais silvestres,
pesca comercial e ornamental, mineração e garimpo, causadas por invasores de terra .

O município de Altamira abriga todas estas categorias de UC, presentes na AII: a FLONA de
Altamira, as FES do Cariri e Iriri, além da APA Triunfo do Xingu. Citam-se ainda as FLONA
Caxiuana, Trairão e Tapajós, limítrofes O município de Altamira também abriga todas estas
categorias de UC, presentes na AII: a FLONA de Altamira, as FES do Cariri e Iriri, além da
APA Triunfo do Xingu. Citam-se ainda as FLONA Caxiuana, Trairão e Tapajós, limítrofes a
AII. Alem dessas, a AII também abriga Unidades de Conservação de Proteção Integral,
Projetos de Assentamento, áreas estaduais, arrecadadas como terras devolutas pelo Instituto
de Terras do Pará – ITERPA e incorporadas ao patrimônio fundiário do Estado do Pará,
assentamentos quilombolas e terras indígenas.

9.3.3 Ria do Xingu

Este compartimento abrange a porção norte da AII, com uma área de 8.730 km2. Compreende
terrenos nas duas margens do rio Xingu, desde a extremidade de jusante dos tabuleiros, nas
proximidades da cidade de Senador José Porfírio, até a sua foz no rio Amazonas.

Este compartimento corresponde à unidade de paisagem de mesmo nome, definida na AAR;


resulta do amplo domínio dos arenitos da Formação Alter do Chão, observando-se as rampas
de platôs com lateritas, colinas e rampas da Depressão do Amazonas, onde estão presentes
associações de Latossolos e Plintossolos Pétricos concrecionários, com restrições à agricultura
e com potencial extrativista. Os terrenos da extremidade norte deste compartimento são
abrangidos pela Planície Fluviolacustre do Amazonas, compondo áreas favoráveis aos
processos deposicionais, com ocorrências de Gleissolos e Neossolos, e constituindo, em
grande parte, área de preservação permanente (APP).

Compreende o baixo curso do rio Xingu e seus afluentes, rios Acarai, Jarauçu e Majari. Na ria
do Xingu o canal é largo e profundo, com margens altas, sendo afetado por variações do nível
d’água decorrentes das marés. Na extremidade norte do compartimento são observados canais
múltiplos, com ilhas, paranás, furos, lagos, diques aluviais, cordões fluviais do tipo slikke e
schorre, praias, canais anastomosados, meandros abandonados, além de feições mais
comumente associadas com o período das enchentes, como os igapós, que correspondem a
trechos de florestas que ficam inundadas durante as enchentes.

Este compartimento encontra-se ainda bastante preservado, sendo representativo de grande


parte dos ecossistemas que ocorrem na bacia: Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas
(bem representadas na FLONA de Caxiuanã); e na região próxima a confluência do Xingu
com o Amazonas, há predomínio de Formações Pioneiras com Influência Fluvial e/ou

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Lacustre. Merece destaque a RESEX Verde para Sempre, recobrindo grande parte das terras
da AII situadas na margem esquerda do rio Xingu. Prevalece o uso florestal pela escassa
população local, representada por comunidades tradicionais (ribeirinhos e quilombolas), que
praticam o extrativismo de açaí, castanha, madeira e lenha. Subordinadamente, praticam a
pecuária e agricultura de subsistência, porém ainda em trechos restritos dentro da matriz
florestal

O trecho da ria do Xingu, com ausência de corredeiras, tem pouca declividade e na estiagem
sofre efeito da maré provocada pelo rio Amazonas, influenciando o nível da água do rio e
conseqüentemente a movimentação dos organismos aquáticos. Apresenta extensas praias onde
desovam tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) e são também utilizadas por espécies
de aves associadas as estes ambientes, como maçaricos, corta-água e talha-mares.

A presença de áreas de vegetação aquática, anhingais permite a ocorrência da fauna


diferenciada do trecho de montante das corredeiras e cachoeiras da Volta Grande. A maré
influencia o nível da água do rio e conseqüentemente na movimentação dos organismos
aquáticos.

No rio Xingu, a dourada e também a piramutaba (mas em menor proporção) são visualizadas
e capturadas no trecho baixo do rio, desde a foz do rio, até, no máximo, o povoado de Belo
Monte. A pesca de dourada é bastante desenvolvida nesta região junto com o filhote. Tanto a
dourada como a piramutaba não são encontradas rio acima, após as grandes cachoeiras,
ocorrendo apenas na parte baixa do rio.

Ocorrem ainda neste trecho duas espécies de mapará Hypophthalmus edentatus e H.


fimbriatus habitam tanto o rio Amazonas como a parte baixa do rio Xingu.

As extensas praias são utilizadas para reprodução da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis


expansa) e os anhingais e a vegetação aquática para alimentação e abrigo, como por exemplo.
de peixe-boi Trichechus inunguis. Ocorrem ainda, na região, o boto-tucuxi (Sotalia fluviatilis)
e do boto-vermelho (Inia geoffrensis), associados às áreas de planícies aluviais; essas espécies
só ocorrem no trecho do baixo Xingu, uma vez que ambientes de corredeiras são limitantes
para essas espécies.

A tartaruga-da-amazônia está principalmente concentrada nas praias a jusante de Belo Monte,


no trecho compreendido entre Vitória do Xingu e Senador José Porfírio (tabuleiro de desova
das tartarugas), enquanto que na área da Volta Grande, a montante das cachoeiras, a espécie
predominante é o tracajá (Podocnemis unifilis). Para os quelônios aquáticos as cachoeiras e
corredeiras também constituem divisor na distribuição das duas espécies mais freqüentes no
rio Xingu, assim como acontece com espécies de mamíferos aquáticos como o peixe-boi, o
tucuxi e o boto-cor-de-rosa. A presença de cachoeira e áreas de corredeiras é fator limitante
para a distribuição destas espécies na bacia Amazônia. Na região o peixe-boi ocorre no baixo
rio Xingu, não chegando até a região de Belo Monte. Contudo, talvez por causa da
intensidade da pesca na região, os registros de ocorrência da espécie nos últimos anos têm
sido raros, mesmo no baixo curso do rio Xingu. Já os mustelídeos aquáticos, como a ariranha
e a lontra, ocorrem tanto na Unidade do Xingu/Bacajá, como também na Ria.

Estudos na região registraram 8 espécies de quelônios aquáticos o que representa alta


diversidade. Algumas espécies restringem-se a determinados ambientes, e outras apresentam
diferenças acentuadas na sua abundância relativa entre os ambientes e as estações do ano.

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O tracajá (Podocnemis unifilis), o iaçá (Podocnemis sextuberculata) e o cabeçudo
(Peltocephalus dumerilianus) são considerados espécies vulneráveis pela lista da IUCN
(2007) e a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) de baixo risco por esta mesma lista.

Há dois principais nichos reprodutivos de desova dos quelônios na região do Xingu: as praias
ou tabuleiros de desova, situados fora da área de influência direta do empreendimento, que
variam bastante em extensão, cobertura vegetal nas extremidades e, provavelmente, na
granulometria da areia; e as sarobas, que são pequenos conjuntos de ilhotas formadas por
pedras e areia, com vegetação herbáceo-arbustiva associada. As conformações destas últimas
são extremamente variadas, assim como seu tamanho, e constituem as principais áreas de
desova de P. unifilis a montante de Belo Monte.

A associação dos quelônios aquáticos com os nichos alimentares e reprodutivos disponíveis


na AII são principalmente dependentes do ritmo sazonal de enchente-vazante; na enchente os
animais precisam de itens da vegetação para a alimentação, na estiagem, procuram os bancos
de areia para reprodução. Os itens da dieta incluem talos, folhas e frutos caídos na água na
época de cheia, quando os quelônios estão nas partes inundáveis da floresta aluvial. Além
disso, há evidências de certa diferenciação genética de algumas espécies de quelônios
aquáticos ocorrendo na região da AII.

Próximo à vila de Belo Monte, as ariranhas também são observadas o ano inteiro, com maior
freqüência na seca, enquanto que na cheia elas vão para os poços localizados na região da
Volta Grande, utilizando as pedras como abrigo. Na região de Vitória do Xingu e na
comunidade Vila Nova as ariranhas são vistas principalmente no inverno, especialmente nas
áreas de igapó e nos igarapés. Na região de Senador José Porfírio, a maré exerce grande
influência na movimentação desses animais: quando a maré enche, as ariranhas entram nos
igarapés atrás de alimento.

Tanto a lontra quanto a ariranha, ambas com ampla distribuição geográfica, podem ter maior
ou menor abundância nos ambientes da AII, particularmente nos trechos do rio Xingu, em
função da presença de biótopos importantes para a espécie tais como os pedrais, que
funcionam com abrigos e que são ativamente marcados pelos grupos sociais, como as latrinas
coletivas.

Neste trecho que o correspondente ao baixo curso do rio Xingu os bagres migradores,
(algumas espécies da ordem Siluriformes), que realizam migrações de longas distâncias, como
a piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii), e a dourada (B. flavicans). são visualizadas e
capturadas, desde a foz do rio, até, no máximo, o povoado de Belo Monte. A pesca de
dourada é bastante desenvolvida nesta região junto com o filhote. Tanto a dourada como a
piramutaba não são encontradas rio acima, após as grandes cachoeiras, ocorrendo apenas na
parte baixa do rio.

O surubim Pseudoplatystoma fasciatum, a pirarara Phractocephalus hemioliopterus e o


filhote Brachyplatystoma filamentosum parecem não precisar percorrer distâncias tão longas
ao longo do rio, no seu ciclo de vida. Estas espécies habitam as águas do rio Xingu, tanto
acima como abaixo das cachoeiras.

Duas espécies de mapará Hypophthalmus edentatus e H. fimbriatus habitam tanto o rio


Amazonas como a parte baixa do rio Xingu e a arraia-de-fogo (Potamotrigon leopoldi) ocorre

6365-EIA-G91-001b 83 Leme Engenharia Ltda.


ao longo do Médio Xingu até o Baixo Xingu, com maior abundância nos arredores de
Altamira.

Os grupos representativos do ecossistema terrestre são os das florestas aluviais na região


próxima aos cursos de água e das florestas de terra-firme nas partes mais interiores, descritos
no compartimento Xingu/Bacajá; neste compartimento esses grupos devem estar bem
preservados devido ao alto grau de integridade dos ecossistemas.

Merece destaque as extensas formações pioneiras da planície fluvial do Amazonas, detentora


de uma avifauna típica, reunindo táxons cuja distribuição está fortemente associada a esses
ambientes.

Nessa região, pela maior disponibilidade de ambientes de praias, podem ocorrer maiores
densidades e uso desse habitat por algumas espécies de maçaricos e espécies de aves
aquáticas. Estas aves apresentam ampla distribuição geográfica, mas encontram nas praias
aluviais e estuários habitat apropriado para reprodução e alimentação. Entre estas destacam-se
Tringa solitaria - maçarico-solitário; Actitis macularius - maçarico-pintado; e andorinhas
associadas a ambientes Riparia riparia - andorinha-do-barranco; Hirundo rustica - andorinha-
de-bando; e Petrochelidon pyrrhonota – andorinha-de-dorso-acanelado.

Nas áreas onde ocorrem a floresta de terra firme ainda bem preservada, especialmente àquelas
presentes nas Unidades de Conservação, como a FLONA de Caxiuanã, situada na borda
oriental do baixo Xingu. São áreas importantes para espécies de aves associadas a estes
ambientes como por exemplo a ararajua (Guarouba guaoruba) e àquelas endêmicas de
interflúvios, como o Hylexetastes brigidai, uma espécie de arapaçu associada aos ambientes
bem preservados

Em relação aos aspectos socioeconômicos há que ressaltar que a única sede municipal
localizada nesta unidade é Porto de Moz. O município de Gurupá, localizado no extremo
norte da AII ocupa uma pequena porção desse compartimento.

A sede municipal de Porto de Moz, situada na margem direita do Rio Xingu, juntamente com
as sedes de Senador José Porfírio (margem direita) e Vitória do Xingu (margem esquerda),
situadas no compartimento Transamazônico e PA-415, tem na funcionalidade desses núcleos
urbanos a comercialização de madeira, borracha, castanha do Pará, e de outros produtos da
floresta.

Porto de Moz, assim como Altamira e Senador José Porfírio, esses dois últimos localizados no
compartimento descrito no item 9.3.2, tiveram sua estrutura espacial herdada do período
colonial, expandindo e se consolidando com o boom da borracha e com a exploração de
outros produtos vegetais, até meados da década de sessenta do século XX. Trata-se de um
período iniciado com a conquista e ocupação portuguesa do vale do Amazonas e de seus
afluentes – implantação de fortificações militares e missões religiosas – moldado pela
exploração extrativista, alicerçado no sistema de aviamento e tendo como suporte uma rede de
núcleos articulados pela circulação fluvial.

O Município de Gurupá era primitivamente habitado por índios, até que, em época
desconhecida os holandeses ali estabeleceram, erguendo feitorias e portos fortificados.
Gurupá,que significa “porto de canoas”, foi um importante posto fiscal durante o período de
boom da borracha no início do século passado.

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Porto de Moz apresenta desde 1970 altas taxas de crescimento populacional. No período
70/80, o crescimento médio anual era de 4,6%, passando a 2,5% ao ano entre 80/91, e 4,8%
ao ano em 91/2000. Entre 2000/2007 houve redução para 1,7% ao ano.

Em 1970, o município apresentava 7.523 habitantes e sua participação na população total da


AII era de 19%. Em 2007 registrou 26.489 habitantes, correspondendo a participação de
8,3 % na população da região da AII. Nesse ano, a população urbana atinge 51% da
população total, ultrapassando pela primeira vez o contingente da população rural. E a
densidade populacional permanece pequena, com 1,4 habitantes por km2. Em todo o período
de 1970 a 2007, há maior predominância de população masculina. Segundo dado do IBGE,
em 2007, Porto de Moz apresentou uma taxa urbanizada de 58%.

Gurupá tinha 13.971 habitantes em 1970. As taxas de crescimento médio anual são
crescentes, indo de 1,1% no período 70/80, a 1,8% ao ano entre 80/91, e 2,2% ao ano em
91/2000. Entre 2000/2007 decresce para 0,8%. A população recente de 2007 totaliza 24.384
pessoas, e sua taxa de participação da população em relação ao total populacional dos
municípios é de 7,7%.

Gurupá apresenta população essencialmente rural. Entre 1996 e 2007, as distribuições da


população por idade e sexo apresentam-se muito semelhantes e estabilizadas em todas as
faixas etárias. A população é predominantemente jovem e há maior número de homens em
relação ao de mulheres para todas as faixas etárias. Ocorre também a redução no grupo de até
quatro anos.

As atividades do setor secundário (indústrias) são restritas, voltadas para as atividades


extrativas e de transformação de alimentos. São atividades de beneficiamento da produção da
agropecuária – mas ainda em estágio elementar –, separação de polpas, moagem de grãos,
abate de animais, sem, contudo, beneficiar os produtos para sua forma final.

A exemplo dos outros municípios da AII Porto de Moz e Gurupá apresenta a característica nas
atividades comerciais e de serviços a informalidade das empresas locais e o fato de serem
pequenas empresas, muitas de caráter familiar.

Além do comércio varejista de alimentos, bebidas e artigos pessoais, destacam-se os serviços


de alimentação, como restaurantes, pensões, bares e pequenos hotéis, em sua maioria,
informais.

A principal via de escoamento dos produtos agropecuários para fora da AII é realizada via
fluvial, incluindo o Terminal Hidroviário de Porto de Moz (km 66) da Hidrovia do Xingu.
Gurupá e de Porto de Moz não são atendidas pelas malhas rodoviárias federais e/ou estaduais
e o acesso principal, às mesmas, é por via fluvial.

A distribuição de energia elétrica na AII, assim como em todo o Estado do Pará é feita pelas
Centrais Elétricas do Pará S/A – CELPA. Nos municípios de Gurupá e Porto de Moz, por não
existirem ramificações de rede que permitam o atendimento de forma interligada ao SIN, a
energia distribuída é produzida localmente, por meio de Sistemas Isolados.

Em Porto de Moz pode-se considerar que a qualidade no fornecimento da energia está


adequada, dado os limites fixados pela ANEEL para 2007.

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Em relação à rede de abastecimento de água, Porto de Moz tem 49% dos domicílios atendidos
embora os índices de atendimento sejam muito baixos, situação comum a maioria dos
municípios da AII. Gurupá tem 30% de seus domicílios urbanos ligados a rede de
abastecimento de água.

O abastecimento de água por meio de poços ou nascentes atende menos de 45% dos
domicílios de Gurupá e Porto de Moz, percentual considerado baixo, quando comparado com
outros municípios da AII uma vez que em Placas, por exemplo, 93% dos domicílios usam
esse tipo de abastecimento e em Pacajá 90% dos domicílios são abastecidosess por poços.

Dos municípios da AII, apenas Porto de Moz possui mais de 43% (valor aproximado da
média estadual) dos seus domicílios atendidos por rede geral.

Entre os municípios que podem ser considerados relativamente mais bem atendidos por
contarem com fossas sépticas que atendem de 15 a 30% dos seus domicílios, destaca-se Porto
de Moz, situado neste compartimento, ao lado de Altamira, e Vitória do Xingu, incluídos no
compartimento Transamazônica e PA 415.

Chama atenção o alto percentual de pessoas sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo
na AII, que é de 22,4%. No Estado do Pará este mesmo grupo apresenta percentual de 14,3 %.
Dados do IBGE revelam que Gurupá é o município com menor percentual de pessoas com 10
anos ou mais de idade, sem instrução ou com apenas 01 ano de estudo, o que corresponde a
35,2% da população total, acima da média dos demais municípios.

Gurupá apresenta os piores números de alfabetização e rendimento escolar. Outro dado que
ilustra a situação educacional do município é o fato da população com 1 a 8 anos de estudo
ser de apenas 58,6%, bastante abaixo da média da AII, que é de 67,4%.

Cabe destacar a presença de comunidades quilombolas nos municípios de Gurupá e Porto de


Moz; elas encontram situadas na região da foz do Rio Xingu, na desembocadura para o Rio
Amazonas, sendo algumas com localização ribeirinha, outras situadas em ilhas e as demais no
interior. São, em geral, conhecidas por se constituírem como conjunto de comunidades ligadas
umas às outras, num mapeamento que, nos dias de hoje, revela a herança dos caminhos e
trilhas entre as mesmas para garantir a circulação de alimentos, notícias e pessoas no passado.

Algumas dessas comunidades quilombolas têm registro oficial de identificação, outras estão
em processo de reconhecimento ou de titulação coletiva de terras.

No município de Gurupá são identificadas oficialmente 12 comunidades quilombolas, sendo


que dessas, 10 foram reconhecidas em 2000 e tituladas entre 2004 e 2006 pela Fundação
Cultural Palmares e pelo INCRA.

Segundo o “Projeto Comunidades e Florestas”, a regularização das áreas remanescentes de


quilombos existentes em Gurupá exigiu que as comunidades localizadas nesses locais
realizassem um debate interno resgatando a sua história e a demarcação da terra segundo os
padrões tradicionais de ocupação e uso do território.

Em 1999, as comunidades afro-descendentes solicitaram ao governo do Estado do Pará a


regularização da área quilombola, o que foi feito por meio do Decreto Estadual nº 3.572/99,

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assinado pelo Governador do Estado, e da Instrução Normativa nº 2 de 16 de novembro de
1999, assinada pela presidência do ITERPA.

O documento emitido pelo Governo do Estado é de caráter coletivo e em favor da associação


que representa a população da área, a Associação das Comunidades Remanescentes de
Quilombos de Gurupá (ARQMG). Nesse caso específico, a associação representa não apenas
uma, mas um conjunto de comunidades localizadas em várias áreas do território de Gurupá. A
área total regularizada por esta modalidade é de 87 mil hectares, onde vivem
aproximadamente 350 famílias.

No município de Porto de Moz, tem-se a identificação de 09 comunidades quilombolas.


Entretanto, nenhuma dessas comunidades foi reconhecida com titulação de terras, não sendo
disponibilizada informação sobre o estágio do processo de reconhecimento das mesmas.

Não há informações disponíveis sobre número de famílias, área ocupada e situação fundiária
das comunidades quilombolas do município de Porto de Moz, visto que essas, apesar de terem
sido identificadas pela Fundação Cultural Palmares, ainda não foram reconhecidas, o que
significa que não possuem Laudos Antropológicos. O ITERPA somente disponibiliza
informações para as comunidades quilombolas que se encontram em fase de titulação coletiva
das terras que habitam, sendo esta fase o processo final de reconhecimento como comunidade
afro-descendente tradicional.

Nos municípios de Gurupá e Porto de Moz a experiência construída na resistência das


comunidades ribeirinhas e extrativistas avançou em direção à criação das Reservas
Extrativistas - RESEX. Este fato objetivou uma estratégia para a regularização fundiária local,
não como um fim, e sim como um meio para promover a segurança fundiária dessas
comunidades.

Ressalta-se que, parte do território do município de Porto de Moz está inserida como área da
Reserva Extrativista Verde para Sempre, em uma área de 1,3 milhões de hectares, criada por
Decreto Lei de 8/11/2004. Salienta-se, ainda, que há indicativos históricos de ser esta área
reconhecida como área de conflitos fundiários e sociais, nos quais se incluem as comunidades
quilombolas que habitam o território, ribeirinho ou não, desse município. A titulação dessas
áreas quilombolas, apesar de já identificadas, passa pela negociação de interesses diversos
sobre a terra nesse município.

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QUADRO 9.3-1
Principais Características dos Compartimentos Ambientais da Área de Influência Indireta –AII

Continua

Características Xingu/Bacajá Transamazônica e PA 415 Ria do Xingu

Constitui uma faixa com direção aproximadamente SW-NE,


Abrange toda a porção sul da AII, com uma área de 14.376 km2. Compreende Abrange a porção norte da AII, com uma área de 8.730 km2.
posicionada imediatamente ao norte da Unidade Sul,
terrenos das margens esquerda e direita do rio Xingu ao sul de Altamira, os Compreende terrenos nas duas margens do rio Xingu, desde a
Delimitação apresentando uma extensão de 4.750 km2. Compreende terrenos
terrenos da margem esquerda na Volta Grande do Xingu e também aqueles da extremidade de jusante dos tabuleiros, nas proximidades da cidade
das margens esquerda e direita do rio Xingu, sendo a porção sul
margem direita, se estendendo pelas bacias dos rios Itata, Ituna, Bacajaí e Bacajá. de Senador José Porfírio, até a sua foz no rio Amazonas.
da unidade cortada pela rodovia Transamazônica

Correspondência parcial com as unidades Florestas do Rio Iriri e Florestas do Rio


Correlação com as Unidades de Abrange terrenos da unidade Transamazônica (Compartimento Corresponde à mesma unidade definida na AAR (Compartimento
Bacajá (Compartimento Médio Xingu) e unidade Transamazônica
Análise Integrada da AAR Baixo Xingu). Baixo Xingu).
(Compartimento Baixo Xingu).

Domínio de granitóides e migmatitos, em colinas da Depressão da Amazônia


Porção sul da unidade: rochas sedimentares e vulcânicas básicas
Meridional;Argissolos, em associação com Latossolos, determinando aptidão
da Bacia Sedimentar do Amazonas, onde se desenvolvem as Arenitos da Formação Alter do Chão, em rampas de platôs com
variável de boa a restrita para lavoura e boa para pastagem plantada.
colinas do Planalto Marginal do Amazonas, com ocorrências de lateritas, colinas e rampas da Depressão do Amazonas; associações
Morrotes, morros e serras dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia, com
Aspectos Físicos Latossolos e associação de Nitossolos adequados à agricultura e à de Latossolos e Plintossolos Pétricos Concrecionários, restritos à
Neossolos e afloramentos rochosos, com aptidão restrita para lavoura ou sem
pastagem, Porção norte: dominada por arenitos da Formação agricultura. Na extremidade norte da unidade domina a Planície
aptidão para o uso agrícola.
Alter do Chão, observando-se as rampas de platôs com lateritas, Fluviolacustre do Amazonas, com áreas favoráveis a processos
Porção centro-norte ocorre faixa de rochas metavulcano-sedimentares, em morros
colinas e rampas da Depressão do Amazonas; associações de deposicionais, ocorrências de Gleissolos e Neossolos; constitui, em
e morrotes dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia; Argissolos com boa
Latossolos e Plintossolos pétricos concrecionários, com restrições grande parte, área de preservação permanente (APP).
aptidão para lavoura e pastagem plantada, e Neossolos Litólicos sem aptidão
à agricultura e com potencial extrativista.
agrícola.

Principais afluentes: rios Acarai, Jarauçu e Majari. Na ria do Xingu


o canal é largo e profundo, com margens altas, sendo afetado por
Compreende o rio Xingu e seus afluentes pela margem direita no trecho que se
variações do nível d’água decorrentes das marés.
estende desde a confluência com o rio Iriri até a localidade de Belo Monte, Rio Xingu e algumas nascentes de seus tributários pela margem
Na extremidade norte da unidade são observados canais múltiplos,
destacando-se os rios Bacajá, Itata, Ituna e Bacajaí. Também compreende os esquerda, como os igarapés Panelas, Altamira, Ambé e da
Hidrografia com ilhas, paranás, furos, lagos, diques aluviais, cordões fluviais do
afluentes da margem esquerda do rio Xingu no trecho entre a foz do Iriri e a Trindade, nas proximidades de Altamira, e o igarapé Joá.
tipo slikke e schorre, praias, canais anastomosados, meandros
extremidade de jusante da Ilha Babaquara e entre o igarapé Paratizinho e a Pela margem direita têm-se os igarapés Jarauá e Tamanduazinho.
abandonados, além de feições mais comumente associadas com o
localidade de Belo Monte.
período das enchentes, como os igapós, que correspondem a trechos
de florestas que ficam inundadas durante as enchentes.

Ocorrência de cavidades naturais em arenitos da Formação


Ocorrência de Cavidades
Sem ocorrências. Maecuru, observando uma maior concentração ao sul de Sem ocorrências.
Naturais
Altamira.

Predominância de:
Predominância de: Floresta Ombrófila Densa Submontana na margem esquerda
Predominância de:
Floresta Ombrófila Aberta Submontana com Palmeira Floresta Ombrófila Densa Terras Baixas
Cobertura Vegetal– Floresta Ombrófila Aberta Submontana com cipós e palmeiras (florestas de
Floresta Ombrófila Densa em áreas muito próximas ao rio Xingu – bem representadas na FLONA de Caxiuanã.
Fitofisionomias terra-firme) e Florestal AbertaAluvial
Aluvial Na região próxima a confluência do Xingu com o Amazonas, há
Formações Pioneiras com influência fluvial e/ou lacustre
Capoeiras (áreas antropizadas) predomínio de Formações Pioneiras com Influência Fluvial e/ou
Lacustre

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QUADRO 9.3-1
Principais Características dos Compartimentos Ambientais da Área de Influência Indireta –AII

Continuação

Características Xingu/Bacajá Transamazônica e PA 415 Ria do Xingu

Ocupação antrópica, principalmente com pastagens e secundariamente com


culturas cíclicas no trecho centro-norte do compartimento, correspondente a
margem esquerda do rio Xingu.
Uso florestal associado ao modo de vida indígena no extremo sudoeste do
compartimento, situado na margem direita do rio Xingu (TI Arara).
Extensas áreas de pastagem plantada, agricultura de subsistência
Eixo da rodovia Transassurini na porção centro-norte, com frente de
e comercial em meio a fragmentos florestais da Floresta Neste compartimento, as formações florestais encontram-se ainda
desmatamento mais recente que na Transamazônica, prevalecendo as pastagens.
Ombrófila Aberta, em grande parte com menos de 1.000 ha, bem preservadas, prevalecendo o uso florestal pela escassa
Centro-sul prevalece uso florestal, estando associado ao modo de vida indígena.
isolados e com baixa capacidade de sustentação da biota população, representada por comunidades tradicionais (ribeirinhos e
No trecho entre os rios Bacajá e Itatá prevalece o uso florestal, associado ao
Usos Principais terrestre. quilombolas). Extrativismo de açaí, castanha, madeira e lenha.
modo de vida indígena. Ocorrência de garimpos de ouro em áreas de rochas
Extrativismo de madeira, lenha, castanha e açaí.ainda ocorre Subordinadamente, pecuária e agricultura de subsistência, porém
vulcano sedimentares (greenstones).
nesta região. ainda em trechos restritos dentro da matriz florestal.
No baixo trecho do rio Bacajá, presença de grandes fragmentos florestais da
Floresta Ombrófila Aberta com cipós, bem conservados em parte devido a
presença de TIs.
Na margem esquerda do rio Xingu, correspondente à parte interna da Volta
Grande, ocorrência de Floresta Ombrófila Aberta reduzida a fragmentos
florestais isolados em meio a extensas áreas de vegetação secundária, pastagem e
culturas; presença de cultivo do cacau, sobreado por remanescentes florestais.
Áreas com alta taxa de desflorestamento ao longo da Cobertura vegetal de Floresta Ombrófila Densa na margem
Grandes parcelas de floresta contínuas na região próximas ao Iriri e Bacajá,
Ecossistema Terrestre – Transamazônica e seus travessões, destacando o marcado esquerda do Xingu e Floresta Ombrófila de Terras Baixas,
Bacajaí, Ituna e Itatá. Predominância de Floresta Ombrófila Aberta com
Integridade ecossistêmica e grau processo de fragmentação de hábitats, fruto do pólo madeireiro apresentando vegetação contínua, com esparsas manchas e clareiras
Palmeiras Áreas próximas aos travessões da Transamazônica localizados na
de fragmentação de Altamira e do avanço da pecuária, devido a assentamentos oriundas da ocupação humana. Com destaque para a RESEX Verde
região da Volta Grande, margem esquerda e próxima a Transassurini margem
que tiveram início na década de 70. Para Sempre na margem esquerda.
direita, com vegetação de terra firme bastante alterada.

Pequenos mamíferos - gênero Proechimys, Oryzomys, Marmosa e


Monodelphys
Mamíferos de médio e grande porte - coatá-de-testa-branca (Ateles
marginatus) e cuxiú-preto (Chiropotes satanas) ocorrem na margem direita do Em função do intenso uso e ocupação do solo deste
rio Xingu; cuxiú-de-nariz-branco (Chiropotes albinasus) ocorre somente na compartimento, mamíferos de grande porte são raros e/ou
margem esquerda. Há registro de 2 espécies de catita (Monodelphis brevicauda e presentes apenas em poucos fragmentos maiores. Além deste
M. emiliae), da preguiça-real (Choloepus didactylus), de 2 morcegos grupo, espécies mais sensíveis à fragmentação e alteração de Na região desta Unidade, observa-se a existência de extensas áreas
(Saccopteryx canescens e Diclidurus scutatus), do macaco-barrigudo (Lagotthrix habitat podem desaparecer ou á ter desaparecido deste de floresta de terra firme ainda bem preservada, especialmente
lagothrichia), e do furão (Mustela africana). compartimento. Destaca-se que espécies associadas a ambientes àquelas presentes nas Unidades de Conservação, como a FLONA
Ecossistema Terrestre –
Aves - margem esquerda do rio Xingu: ocorrem as subespécies do jacamim-de- florestais mais preservados não podem mais ser observadas em de Caxiuanã. São áreas importantes para espécies de aves
Indicadores da Floresta de
costas-verdes (Psophia viridis dextralis); da papa-taoca (Pyriglena leuconota áreas alteradas com forte presença humana, como por exemplo, associadas a estes ambientes como por exemplo a ararajua
Terra-Firme
interjecta) e da mãe-de-taoca (Phlegopsis nigromaculata bawman) e mãe-de- jacamim-de-costas-verdes e algumas aves associadas a sub- (Guarouba guaoruba) e àquelas endêmicas de interflúvios, como o
taoca-de-cara-branca (Rhegmatorhina gymnops). Na margem direita ocorrem bosque de mata. Hylexetastes brigidai, uma espécie de arapaçu associada aos
especificamente as sub-espécies P. viridis interjecta; P. nigromaculata confinis e Além disso, as espécies cinegéticas tendem também a ambientes bem preservados.
P. leuconota interposita. Herpetofauna - potenciais indicadoras da integridade desaparecer desta Unidade, como por exemplo, anta, queixada,
do hábitat: Adelphobates castaneoticus Ceratophrys cornuta, Adelphobates cateto, paca, cotia e as grandes aves, como os tinamídeos
galactonotus, Plica plica, Arthrosaura reticulata, Arthrosaura kockii e (macuco, nambus) e os mutuns.
Ptychoglossus brevifrontalis; apenas a rã-da-castanha (Dendrobates
castaneoticus) pertence à categoria de maior vulnerabilidade e tem ocorrência na
AII.

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QUADRO 9.3-1
Principais Características dos Compartimentos Ambientais da Área de Influência Indireta –AII

Continuação

Características Xingu/Bacajá Transamazônica e PA 415 Ria do Xingu

Aves - espécies associadas à ambientes ripários: cigana Opisthocomus hoazin,


martim-pescadores Ceryle torquata e Chloroceryle spp., anu coroca Crotophaga
major, urubuzinho Chelidoptera tenebrosa, andorinhas Atticora fasciata e Na região do baixo Xingu, pela maior disponibilidade de ambientes
Tachycineta albiventer, cardeal Paroaria gullaris e, em especial, o tico-tico- de praias, pode ocorrer maiores densidades e uso desse habitat de
cigarra Ammodramus aurifrons, espécie que se restringe aos campos das algumas espécies de maçaricos e espécies de aves aquáticas. Estas
margens e ilhas dos grandes rios amazônicos. Espécies florestais que apesar de aves apresentam ampla distribuição geográfica, mas encontram nas
Ecossistema Terrestre – não aquáticas, são altamente associadas aos habitats criados por rios: a curica- praias aluviais e estuários habitat apropriado para reprodução e
Indicadores da Floresta Aluvial urubu Pionopsitta vulturina, a ararajuba Guaruba guarouba, o papagainho-verde alimentação. Entre estas destacam-se Tringa solitaria - maçarico-
Graydidascalus brachyurus, o beija-flor Polyplancta aurescens, o arapaçú-do- solitário; Actitis macularius - maçarico-pintado; e andorinhas
bico-grande Nasica longirostris, os formicarídeos Sclateria naevia, associadas a ambientes Riparia riparia - andorinha-do-barranco;
Hypocnemoides maculicauda, Sakesphorus luctuosus e Myrmotherula Hirundo rustica - andorinha-de-bando; e Petrochelidon pyrrhonota
surinamensis, o puruchém Synallaxis cherriei, o limpa-folha de bico virado – andorinha-de-dorso-acanelado.
Simoxenops ucayale, a maria-preta-ribeirinha Knipolegus orenocensis e o
dançarino-coroa-de-fogo Heterocercus linteatus.
Herpetofauna - grupos que ocorrem nos ambientes aluviais, especialmente nos
Ecossistema Terrestre – pedrais: duas espécies de anfíbios (Rhinella granulosa e Hypsiboas boans), duas Nesta Unidade, segundo o mapa de vegetação e uso do solo, as
Indicadores das Formações de lagartos (Cnemidophorus cryptus e Tropidurus oreadicus) e uma de serpente Formações Pioneiras não ocorrem, sendo que as ilha em função do
Pioneiras (Eunectes murinus) ocorrem nesses hábitats. substrato são formadas pela Floresta Ombrófila Densa Aluvial.

Biótopos presentes a montante da região do Iriri, relacionados aos pedrais e a


vegetação pioneira associada. Biótopos singulares presentes na região da Volta
Trecho da ria do Xingu, com ausência de corredeiras, com pouca
Grande do Xingu, com declividade acentuada, com corredeiras.
declividade, que na estiagem sofre efeito da maré, com extensas
O padrão no qual indivíduos de maior tamanho se concentram na parte mais alta
praias onde desovam tartarugas. Presença de áreas de vegetação
do rio é bastante comum, mas não geral. Dentre as espécies mais abundantes,
aquática, anhingais que permite a ocorrência da fauna diferenciada
que permitem essa análise, Myleus torquatus, Curimata cyprinoides,
do trecho de montante. A maré influencia o nível da água do rio e
Caenotropus labyrithicus, todos Characiformes, apresentaram tamanhos médios Biótopos aquáticos também presentes, porém na região próxima
conseqüentemente na movimentação dos organismos aquáticos.
maiores nas partes mais altas do rio, bem como o predador Boulangerela cuvieri. de Altamira e de Belo Monte.
No rio Xingu, a dourada e também a piramutaba (mas em menor
Ecossistema Aquático – O surubim Pseudoplatystoma fasciatum, a pirarara Phractocephalus Já outras espécies de Characiformes, como Hemiodus
proporção) são visualizadas e capturadas no trecho baixo do rio,
Biótopos da ictiofauna (calha do hemioliopterus e o filhote Brachyplatystoma filamentosum parecem não precisar voerdewinkleri e Bivibranchia fowleri, demonstraram padrões
desde a foz do rio, até, no máximo, o povoado de Belo Monte. A
rio, remanso, corredeiras e percorrer distâncias tão longas ao longo do rio, no seu ciclo de vida. Estas inversos, com os maiores indivíduos no baixo Xingu.
pesca de dourada é bastante desenvolvida nesta região junto com o
pedrais, lagoas marginais, áreas espécies habitam as águas do rio Xingu, tanto acima como abaixo das .A arraia-de-fogo (Potamotrigon leopoldi) é uma espécie de
filhote.
de inundação, igarapés) cachoeiras. grande beleza e interesse para a aquarofilia, ocorrendo ao longo
No Xingu, tanto a dourada como a piramutaba não são encontradas
O “acari zebra” (Hypancistrus zebra,) é uma espécie de acari, da família do Médio Xingu até o Baixo Xingu, com maior abundância nos
rio acima, após as grandes cachoeiras, ocorrendo apenas na parte
Loricariidae, de grande importância econômica na pesca de peixes ornamentais, arredores de Altamira.
baixa do rio.
que ocorre na região, desde pouco antes de Belo Monte, ao longo de toda a Volta
Duas espécies de mapará Hypophthalmus edentatus e H. fimbriatus
Grande e até pouco acima de Altamira.
habitam tanto o rio Amazonas como a parte baixa do rio Xingu.
O pacu capivara (Ossubtus xinguensis) é uma espécie rara e endêmica do rio
.
Xingu que ocorre ao longo de toda a área, mas com preferência pela região
encachoeirada do rio, nos arredores de Altamira e na Volta Grande.

Ocorrência de animais que utilizam as praias para reprodução e os


anhingais e a vegetação aquática para alimentação e abrigo, como
Ocorrência da ariranha (Pteronura brasiliensis) e da lontra
Ocorrência da ariranha (Pteronura brasiliensis) e da lontra (Lontra longicaudis). por exemplotartaruga-da-amazônia Podocnemis expansa. de peixe-
Ecossistema Aquático – (Lontra longicaudis), possivelmente em menor densidade devido
Ocorrência de tracajá Podocnemis unifilis. Maior ocorrência de jacaré-coroa boi Trichechus inunguis Ocorrência do boto-tucuxi Sotalia
Indicadores da fauna aquática à proximidade com habitações humanas. Ocorrência de tracajá
Paleosuchus trigonatus utilizando ocos nos barrancos do rio Itatá. fluviatilis e do boto-vermelho Inia geoffrensis, associados à áreas
Podocnemis unifilis.
de planícies aluviais, uma vez que ambientes de corredeiras são
limitantes para essas espécies.

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Características Xingu/Bacajá Transamazônica e PA 415 Ria do Xingu

Os grupos mais freqüentes identificados foram as Podostemáceas (Mourera alcicornis e M.


fluviatilis). Presença nos pedrais da região do Iriri com espécies adaptadas ao ciclo
hidrológico sazonal e as condições de estresse hídrico e substrato presente. A riqueza de
Ecossistema Aquático – espécies nas formações pioneiras decresce desde a confluência do rio Iriri com o Xingu até
Indicadores da vegetação próximo à vila de Belo Monte.
pioneira de pedrais com Observações de campo evidenciam a presença de espécies como o camu-camu ou caçari Não ocorrem nestes compartimentos
influência fluvial. (Myrciaria dubia), a acapurana (Campsiandra laurifolia)
Um total de 32 espécies de peixes bentônicos da família Loricariidae ocorrem nos pedrais e
corredeiras, pertencentes a 15 gêneros. Essas espécies se alimentam de limo e microalgas que
crescem sobre os pedrais. Apresentam anatomia bucal diversa, de acordo com a posição
preferencial para a alimentação.
A maioria dos peixes frugívoros das águas do rio Xingu, que dependem dos frutos da floresta aluvial e da vegetação pioneira pertencem à ordem dos Characiformes e a algumas famílias da ordem Siluriformes. Pelo
Ecossistema Aquático –
menos oito espécies utilizam recursos da floresta inundada: Colossoma macropomum, Bryconops sp, Tocantinsia depressa, Leporinus sp, Tometes sp, Myleus schomburgki, Myleus sp e Triportheus rotundatus. Para a
Indicadores da Floresta Aluvial
maior parte das árvores, o período de frutificação ocorre simultaneamente durante as enchentes do rio, coincidindo com a entrada de tambaquis, pacus, aracus e outros na planície de inundação em busca de alimento.
Sedes dos municípios de Altamira, Vitória do
Xingu e Senador José Porfírio. Fora dos limites
desse compartimento fazem parte as sedes
Aspectos Socioeconômicos e Zona rural dos municípios de Brasil Novo, Altamira, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio,
municipais de Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e Município de Porto de Moz e zona rural do município de Gurupá
Culturais - Localização Anapu e Pacajá.
Placas situadas na porção ocidental da AII, e as
sedes de Anapu e Bacajá, ambas localizadas em
sua porção oriental.
Altamira e Senador José Porfírio tiveram sua estrutura espacial herdada do período colonial, expandindo e se consolidando com o “boom” da
borracha e com a exploração de outros produtos vegetais, até meados da década de sessenta. Trata-se de um período iniciado com a conquista e
ocupação portuguesa do vale do Amazonas e de seus afluentes – implantação de fortificações militares e missões religiosas – moldado pela
Porto de Moz teve sua estrutura espacial herdada do período colonial,
exploração extrativista, alicerçado no sistema de aviamento e tendo como suporte uma rede de núcleos articulados pela circulação fluvial.
como os demais municípios desta AII. Gurupá (“porto de canoas”)
Década de 70 implantação pelo governo militar do Programa de Integração Nacional (PIN), com o objetivo de ocupar os “chamados” vazios da
foi um importante posto fiscal durante o período de boom da
Histórico - Ocupação floresta: a ocupação dessa área foi intensificada tanto pela implantação de projetos que previram a colonização direcionada por instituições
borracha no início do século passado tendo sido ocupada, no período
governamentais, com a abertura de rodovias de interligação, em especial a Transamazônica (BR-230), quanto por migrações colonizadoras
colonial, por holandeses que ali se estabeleceram erguendo feitorias e
espontâneas, fato que passou a moldar o acesso à região pelo fluxo das estradas. A ineficácia de projetos oficiais teve como uma de suas
portos fortificados.
conseqüências o crescimento desordenado de áreas urbanas, como é o caso de Brasil Novo, Vitória do Xingu, Anapu e Pacajá. Esses municípios
funcionavam como pontos de apoio e comércio ao longo da Rodovia Transamazônica e progressivamente foram crescendo, em decorrência do
êxodo rural da década de 80 e meados de 90, aliado à chegada de novos migrantes à região.
Porto de Moz apresenta desde 1970 altas taxas de crescimento
Com exceção de Altamira que se caracteriza por ser o município mais populoso da AII, o restante das sedes municipais localizadas neste populacional. No período 70/80, o crescimento médio anual era de
compartimento mostrou um padrão de crescimento populacional comum à região. A população ainda é essencialmente rural, e o processo de 4,6%, passando a 2,5% ao ano entre 80/91, e 4,8% ao ano em
urbanização ocorre lentamente, de forma desestruturada. Na região, a densidade populacional é baixa, apresentando, também um lento crescimento 91/2000. Entre 2000/2007 houve redução para 1,7% ao ano. Tal fato
Aspectos Demográficos ao longo do tempo. A população é jovem, com contingentes maiores até 40 anos, e predominância acentuada da população masculina em todas as deve-se a política de ocupação de colonização do território paraense
idades, como conseqüência da busca de oportunidades de trabalho. pelo Governo Federal a partir da década de 1970 que promoveu a
migração, e mais recentemente, a uma redução do movimento
migratório ao mesmo tempo em que ocorria a retração das políticas
públicas para a região amazônica como um todo.

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Características Xingu/Bacajá Transamazônica e PA 415 Ria do Xingu

Os mercados locais são caracterizados pela baixa


diversificação na produção e oferta de produtos. A
capacitação da mão-de-obra pode ser considerada baixa, Ocorre o predomínio do setor terciário, de acordo com os
reflexo do reduzido nível de escolaridade da população e das parâmetros do PIB regional, tanto no cômputo regional quanto
Embora o setor de serviços seja predominante na geração do PIB ele está alicerçado no setor
poucas ofertas de cursos de qualidade para profissionalização. no âmbito de cada município da AII. A agricultura familiar é
primário, principalmente na agricultura e na pecuária. O setor primário é o que mais absorve
Alimentando este ciclo, os investimentos privados são a base econômica local e encontra limitações para seu
trabalhadores. As bases agropecuárias possuem grande peso na estrutura econômica local,
reduzidos e praticamente inexistentes em atividades de maior crescimento, por ter baixa capacidade de agregação de valor,
sendo que em municípios como Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Placas e Vitória
porte ou dinamismo tecnológico, reproduzindo ciclos de baixa poucas alternativas produtivas, geração de excedente
do Xingu a participação do setor primário chega a quase a metade do PIB municipal. Além
remuneração, pouca amplitude do poder de compra, reduzido. Estes resultados são o produto de projetos de
da cultura de subsistência, também se cultiva pimenta e o cacau, este último, em
Aspectos econômicos simplificação de mercados e das relações de produção. A assentamentos dirigidos que não obtiveram sucesso, tornando
Medicilândia o maior produtor de cacau do Pará e o segundo maior produtor do Brasil. Em
estrutura produtiva de todos os municípios desta unidade, a região receptora de famílias oriundas do Sul e Nordeste em
relação ao uso das terras, destaca-se a pecuária que chega a ocupar cerca de quatro vezes
assim como todos os outros municípios da AII possuíam, em busca de terras e áreas de fronteira, mas sem o aparato
mais áreas do que as lavouras. O município de Pacajá tem o 10º maior rebanho do Estado do
2005, participação predominante do setor de serviços, técnico, estrutural, institucional e financeiro necessário. A
Pará. Grande parte das terras da margem direita do rio Xingu ainda tem florestas
apresentando, no setor terciário, PIB superior ao PIB primário agricultura na região constitui-se em uma atividade de
preservadas por estar em terras ocupadas por TIs. O extrativismo vegetal é outra atividade
e secundário. Destaca-se o comércio varejista de alimentos, subsistência para alimentação das famílias e de algumas
importante, de caráter cultural e de subsistência. A coleta de recursos como fibras, madeiras,
bebidas e artigos pessoais, como restaurantes, pensões, bares e criações. Ressalta-se que a maior parte das terras do
frutos, ervas, entre outros bens, assumem sua importância como estratégia de vida na região.
pequenos hotéis, em sua maioria, informais. O setor município de Porto de Moz está inserida na RESEX Verde
secundário (indústrias) apresenta pouca participação Para Sempre, cuja área total é de 1.288.717 ha.
apontando para uma estrutura produtiva que apresenta pouca
capacidade de beneficiamento e agregação de valor.

A infra-estrutura viária é precária; a BR-230 – Rodovia Transamazônica, principal via de ligação da AII interliga a maioria das sedes municipais –
A principal via de escoamento dos produtos agropecuários
Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Placas e Uruará que em conexão com as PA-415 e PA-167, permite o acesso às sedes de Vitória do
para fora da AII é realizada por via fluvial no Terminal
Xingu e Senador José Porfírio. As sedes de Gurupá e de Porto de Moz não são atendidas pelas malhas rodoviárias federais e/ou estaduais e o acesso
Hidroviários de Porto de Moz (km 66) da Hidrovia do Xingu.
Infra–Estrutura de Transporte principal, às mesmas, é por via fluvial. As estradas vicinais (conhecidas como travessões), perpendiculares à BR-230 e que permitem o acesso às localidades
Gurupá e de Porto de Moz não são atendidas pelas malhas
rurais interioranas, encontram-se em situação ainda mais precária para o transporte de pessoas e mercadorias. A falta de recursos pelas prefeituras
rodoviárias federais e/ou estaduais e o acesso principal, às
municipais inviabiliza o ordenamento dessas estradas e sua manutenção. Somado a esse quadro, tem-se a abertura de estradas clandestinas para escoamento
mesmas, é por via fluvial.
da exploração madeireira que contribui para a ocupação desordenada na região.

Em todos os municípios da AII a infra-estrutura e os serviços públicos– saneamento, energia elétrica, comunicações, segurança pública, educação e saúde – têm em comum a deficiência desses serviços e o pequeno acesso
Infra-Estrutura aos mesmos pela maior parte da população. Altamira – pólo regional apresenta baixos índices de cobertura para os serviços de saneamento básico, de abastecimento d’água; de domicílios atendidos por rede de esgoto e
Urbana (saneamento, energia percentual expressivo de lançamento em fossas rudimentares (54,01% em Altamira); lançamento em lixões dos resíduos sólidos coletados (66,67% em Altamira) e em áreas alagadas (33,33% em Altamira). Quanto ao
elétrica, rede de abastecimento sistema de energia elétrica em todos os municípios da AII a situação em relação ao fornecimento de energia elétrica e insatisfatório. Em relação à segurança registram-se déficits de efetivo policial de até 1.003,7% em
de água, esgotamento sanitário, Placas, o que corresponde a 1 policial para cada 3311 habitantes. Tomando-se por base a relação/habitante por policial equivalente a 1/300, índice inferior ao recomendado pela ONU que é de 1/250 habitantes, Altamira
destino do lixo, comunicação, se destaca em relação ao restante das sedes municipais, por ser a único município que apresentou déficits inferiores a 1/87, ou seja, tem um policial para cada 419 pessoas. No restante dos municípios o índice foi superior a
segurança pública). 1000. A região abriga uma única unidade de Corpo de Bombeiros localizada em Altamira. O sistema de comunicações – composto pela telefonia fixa e móvel, internet, radiodifusão e televisão – alcança apenas uma
pequena parcela da AII: na telefonia fixa, apenas 14% dos domicílios paraenses em média, tinham acesso a esse serviço em 2008.

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Conclusão

Características Xingu/Bacajá Transamazônica e PA 415 Ria do Xingu

Embora estejam presentes na área de educação as modalidades de ensino – infantil e fundamental – sua distribuição está concentrada nas áreas urbanas. A iniciativa privada é pouco presente, cabendo às instâncias municipais a
maior parte da oferta de matrículas. Em relação aos anos efetivos de estudo da população total, tem-se que em Altamira encontra-se a população com um número maior de anos de estudo da AII 3,6 anos e Gurupá, 1,6 anos, o que
demonstra a precariedade do ensino na AII, devido basicamente as formas de organização social vigentes que espelham os diversos processos de ocupação e apropriação que ocorreram na AII desde os tempos da colonização
portuguesa, passando pela colonização dirigida e espontânea, das décadas de 60 e 70 do século XX, até os dias de hoje, onde as frentes de ocupação são lideradas pelos interessados em explorar os recursos naturais, ainda
existentes, e em expandir as fronteiras agropecuárias. Dados do IBGE revelam que as maiores taxas de aprovação foram registradas nas escolas localizadas nas áreas urbanas dos municípios de Brasil Novo e Altamira, de 83,6% e
82,7%, respectivamente. Quanto às taxas de reprovação, os maiores índices foram registrados nas escolas localizadas nas áreas urbanas de Medicilândia (26,2%) e Vitória do Xingu (26,3%) e na zona rural de Uruará (27,7%). A
menor taxa de reprovação foi registrada na área urbana de Brasil Novo, de 9,6%, índice significativamente inferior ao observado no âmbito estadual (15,5%).
Educação
Em relação à evasão escolar também constitui elemento definidor da situação educacional no Brasil e, por conseguinte, nos municípios brasileiros, a exemplo daqueles da AII. Em 2005, as maiores taxas de evasão escolar foram
registradas nas zonas rurais de Senador José Porfírio (38,0%) e Anapu (33,1%), sendo que neste último também foi registrada a maior taxa de abandono da área urbana – 22,2%. Trata-se de percentuais altos e significativamente
superiores aos índices estaduais – 16,4% na zona rural e 10,6% na área urbana. É importante destacar, uma vez mais, os índices de Altamira e Brasil Novo, municípios onde foram registradas as menores taxas de abandono da AII,
tanto nas zonas rurais quanto nas áreas urbanas.
No que diz respeito à distribuição das unidades escolares e docentes por dependência administrativa, verifica-se que o ensino pré-escolar é ofertado fundamentalmente pelo poder público municipal. A iniciativa privada se faz
presente apenas no município de Altamira, com 10 escolas e 681 matrículas, equivalentes a 21,0% do total de matrículas no município.

De um total de 63 mil crianças que nasceram vivas nos últimos 10 anos, 1.639 crianças morreram A malária é a principal endemia na AII, a mais susceptível a distorções e a exacerbações diante do aumento do fluxo
antes de completar um ano de vida, o que corresponde a um Coeficiente de Mortalidade Infantil de 26 migratório, da movimentação de pessoas, da atividade do meio rural ou ainda do aquecimento econômico. A malária em
óbitos de menores de um ano por mil nascidos vivos por ano. Este coeficiente é considerado alto, 20 Senador José Porfírio se concentra nos Garimpos Ressaca, Galo e Itatá, e Comunidade Ilha da Fazenda, todas situadas na
% maior que o do Estado do Pará, 14 % maior que o da Região Norte e 30 % maior que o do Brasil. A Área de Influência Direta, no trecho da Volta Grande do Xingu. A malária em Altamira ocorre predominantemente em áreas
meta preconizada pela Organização Mundial de Saúde – OMS para países em desenvolvimento é de ribeirinhas de ocupação antiga e população estável, sendo encontrado também nas margens e ilhas do Rio Xingu e seus
menos de 20 óbitos de menores de um ano por mil nascidos vivos por ano. Em 2006 foram registrados afluentes. Um aspecto relevante em Altamira é a existência de transmissão urbana da malária, principalmente nos bairros São
52 óbitos em Altamira, 26 em Medicilândia e 24 em Uruará. Domingos I e Jaburu. Os postos indígenas Ipixuna e Arara (Laranjal) Iriri também possuem um perfil de alta transmissão.
Os serviços de saúde se caracterizam pela polarização exercida por Altamira. Existem 150 Unidades de Saúde nos municípios
A malária é a principal endemia da AII, e funciona como um indicador econômico: qualquer da Área de Influência Indireta do AHE Belo Monte, sendo que Altamira possui 46 unidades de saúde, 31 % do total de
aquecimento da economia resulta em agravamento da situação da malária e vice-versa. Pacajá é o unidades da área. Uruará, Porto de Moz e Medicilândia têm pouco mais de 10 unidades, e os demais municípios menos de 10.
município que concentra o maior número de casos de malária na AII, representando 36 % do total dos Com exceção de Placas, todos os outros municípios dependem, com maior ou menor grau de intensidade, de Altamira para
Saúde casos. Teve quase 30 mil casos nos últimos 5 anos. Anapu é o terceiro município da AII em número procedimentos de média e alta complexidade. Municípios como Uruará e Brasil Novo possuem serviços com nível de
de casos de malária. Concentra 15 % do total de casos da área. Os demais municípios têm transmissão Atenção Secundária à Saúde. Outro como Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, não possuem hospital. A modalidade de
de malária, mas com incidências mais baixas. O Índice Parasitário Anual dos Municípios - IPA varia Atenção Básica à saúde está muito pouco estruturada na maioria dos municípios. Apenas os municípios de Medicilândia e
muito entre os municípios da AII, e no mesmo município ao longo dos anos e apresentam grandes Uruará estão em regime de Gestão Plena do Sistema de Saúde Municipal. Os demais estão apenas em Gestão da Atenção
diferenças entre as diversas localidades de um mesmo município. Os maiores IPAS são os de Anapu, Básica à saúde.
Pacajá e Senador José Porfírio, que apresentam níveis que caracterizam a área como de alto risco de Por não disporem de hospital, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu não operam o Sistema de Informação Hospitalar -
transmissão de malária. Um dos causadores da malária na AII são os Projetos de Assentamentos, SIHSUS e o Sistema de Informação de Controle de Infecção Hospitalar – SISCIH. Os demais municípios possuem hospital e
implantados pelo INCRA - Marabá em Pacajá e Anapu, onde se concentra 90 % dos casos dos dois já operam estes sistemas.
municípios. Existe apenas um posto de saúde para assistir a toda essa população, sem médico nem Altamira possui 05 hospitais sendo 1 estadual, 1 municipal, 3 privados vinculados ao SUS e uma clínica exclusivamente
enfermeira. A equipe de endemias que cobre toda a área é constituída apenas por 3 microscopistas, 5 privada. Em Uruará existem 2 hospitais, um deles municipal e uma clínica privada vinculada ao SUS. Brasil Novo e Porto de
guardas de endemias e um técnico de enfermagem. Moz têm 1 hospital cada. Anapu, Medicilândia e Pacajá têm apenas uma unidade mista em cada, e Senador José Porfírio e
Vitória do Xingu não dispõem de unidade com internamento hospitalar.
A estrutura fundiária atual na AII é diferenciada segundo o processo histórico de ocupação de cada um dos 11 municípios que a compõem. Os municípios onde foram implantados os projetos de colonização dirigida e espontânea
são, ainda hoje, predominantemente rurais. Destacam-se os assentamentos de famílias migrantes e descendentes, originárias das Regiões Nordeste e Sul, e que datam das décadas de 1970/1980 e 1980/1990, respectivamente.
Dessas experiências decorre o aumento da especulação e conflito em torno da posse da terra na região e a pressão sobre as sedes municipais, em particular Altamira. Nesse contexto, a ocupação e o uso da terra no Estado do Pará
correspondem a um mosaico fundiário complexo sendo identificadas as seguintes áreas; áreas de ocupação tradicional, remanescentes dos primeiros momentos/períodos de formação da região; áreas indígenas demarcadas sob a
jurisdição do FUNAI; áreas de ocupação recente - áreas já reordenadas pelo que foram os projetos integrados de colonização - PIC; hoje atualizados para projetos de assentamento – PA e PDS – Projetos de Desenvolvimento
Sustentável, sob jurisdição do INCRA (INCRA, 1999); e do Instituto de Terras do Pará – INTERPA; áreas de unidades de conservação federais e estaduais sob a jurisdição do IBAMA e do ITERPA; e áreas de conflitos sociais
Uso e Ocupação do pela posse da terra. Desse total 55.6% das terras do Estado do Pará são Unidades Territoriais de Gestão Especial: Terras Indígenas (23%), Unidades de Conservação Estadual - UCE (12,6%), Unidades de Conservação Federal –
Solo e Estrutura UCF (16,1%) e Marajó (3,9%). Se forem acrescentadas as áreas sob jurisdição do INCRA e do INTERPA esse percentual sobe para 85,6% (INCRA, 2007).Do ordenamento territorial e sua formatação regional/local, observa-se
Fundiária dois grupos de municípios diferenciados na AII do AHE Belo Monte: municípios que se localizam no Baixo e Médio Xingu, na área de influência da Transamazônica e municípios que compõem a Região da Foz do Amazonas e
encontro com o Xingu – Porto de Moz e Gurupá. Nesses municípios a experiência construída na resistência das comunidades ribeirinhas e extrativistas avançou em direção à criação das Reservas Extrativistas - RESEX. O
município de Altamira, dentre municípios que integram a AII, detém o maior número de UC e TI em seu território e onde estão situadas três RESEX – Riozinho Anfrísio, Iriri e Médio Xingu que compõem o mosaico de proteção à
Região da Terra do Meio. A RESEX Médio Xingu, a de mais recente criação em junho de 2008, foi estabelecida como recurso para a proteção da população ribeirinha, já que estão ocorrendo muitas atividades ilícitas na região –
grilagem de terra, atividade pecuária, desmatamento, extração ilegal de madeiras, caça e comércio ilegal de animais silvestres, pesca comercial e ornamental, mineração e garimpo, causadas por invasores de terra. O município de
Altamira abriga todas estas categorias de UC, presentes na AII: a FLONA de Altamira, as FES do Cariri e Iriri, além da APA Triunfo do Xingu. Alem dessas, a AII também abriga Unidades de Conservação de Proteção Integral,
Projetos de Assentamento, áreas estaduais, arrecadadas como terras devolutas pelo Instituto de Terras do Pará – ITERPA e incorporadas ao patrimônio fundiário do Estado do Pará, assentamentos quilombolas e terras indígenas.

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9.4 ANÁLISE INTEGRADA DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DIRETA – AID E
DIRETAMENTE AFETADA – ADA

O Capítulo 4 – Caracterização do Empreendimento, mostra que a concepção projetada para o


AHE Belo Monte nos Estudos de Viabilidade implica em interferências em uma área expressiva
por parte das estruturas que compõem o arranjo geral do empreendimento. A dispersão espacial
dos diferentes sítios construtivos, justifica uma avaliação do grau de diversidade dos atributos
ambientais a serem direta e indiretamente impactados em cada sitio de intervenção das obras.

Uma abordagem inicial, a partir dos atributos ambientais relevantes do meio físico poderá
subsidiar a antevisão do grau de diversidade entre as regiões onde estão inseridos esses sítios
construtivos, uma vez que tais atributos constituem a base do terreno sobre a qual os atributos
bióticos e socioeconômico e cultural interagem; portanto, eles fornecem os recursos primários
para que se estabeleçam as diferentes relações de sistemas produtores e consumidores de
recursos, que regem a dinâmica ambiental de um determinado espaço territorial .

A calha do rio Xingu e seu entorno na região do AHE Belo Monte apresentam expressivas
diferenciações que estão bem delimitadas nos compartimentos “Baixo e Médio Xingu”, tal
como estabelecidos a partir da fisiografia da bacia desde a análise integrada da AAR e AII.

O “Baixo Xingu” é integralmente abrangido pela Bacia Sedimentar do Amazonas,


verificando-se aí a ocorrência de arenitos, siltitos, folhelhos e conglomerados, aos quais está
associada uma morfologia de relevo caracterizada por formas pouco dissecadas em rampas e
colinas, além de planícies fluviais, relacionadas às unidades geomorfológicas Depressão do
Amazonas e Planície Flúvio-lagunar do Amazonas.

O “Médio Xingu”, na região do AHE Belo Monte, é quase que integralmente inserido nos
domínios do Cráton Amazônico, caracterizado, nesta região, pelas rochas cristalinas do Complexo
Xingu, sendo observado um relevo predominante de colinas e morrotes, associados aos Planaltos
Marginal do Amazonas e Residuais do Sul da Amazônia e à Depressão da Amazônia Meridional,
além de planícies fluviais relacionadas aos depósitos aluvionares quaternários. Nas imediações da
cidade de Altamira, a calha do rio Xingu secciona em um pequeno trecho a Bacia Sedimentar do
Amazonas, com o desenvolvimento de colinas e morrotes, além de terraços.

Uma vez estabelecido esse nível de compartimentação da região do AHE Belo Monte,
embasado nos aspectos dominantes do Meio Físico, pode-se cotejá-los com os espaços
qualificados para a análise do empreendimento em função de seus sítios construtivos,
correspondentes à Área Diretamente Afetada pelo empreendimento, assim como também com
aqueles espaços onde serão verificados efeitos diretos, no caso a Área de Influência Direta do
empreendimento.

Essa compartimentação se justifica na medida em que serão esses os locais que estarão
submetidos à maior pressão, estando sujeitos aos principais impactos do empreendimento.
Portanto, tanto esta análise integrada, quanto a avaliação dos impactos foram elaboradas
adotando-se os territórios diretamente abrangidos pelas intervenções do empreendimento
como unidade da análise espacial. Os compartimentos ambientais analidados são listados a
seguir:

• Reservatório do Xingu;

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• Reservatório dos Canais;

• Trecho de Restituição das Vazões (Jusante da Casa de Força Principal); e

• Trecho de Vazão Reduzida (TVR).

A FIGURA 9.4-1 mostra esta compartimentação da AID/ADA e o encarte apresentado nessa


mesma figura permite visualizar a subdivisão da calha do rio Xingu em trechos em acordo
com suas características fisiográficas. Essa subdivisão torna-se importante na medida em que
alguns atributos ambientais, especialmente os relacionados ao sistema aquático, guardam
maiores relações com os diferentes ambientes criados pelo rio; além disso, esses trechos são
importantes para a localização mais específica de alguns atributos, tanto do meio físico quanto
do ecossistema terrestre. Assim, a correlação entre essas duas representações cartográficas
permite a compreensão da abrangência espacial das inter-relações entre os elementos que
compõem o meio ambiente da região.

No que se refere ao ecossistema terrestre, deve-se ressaltar que no caso da biota terrestre os
grupos são identificados por fitofisionomia, conforme orientação do Termo de Referência.
Essas fitofisionomias têm ocorrência generalizada em toda a AID/ADA, inclusive as mais
específicas como as formações pioneiras e as demais formações vegetais ligadas aos
ambientes fluviais; nesse sentido, torna-se evidente que a distribuição espacial das
fitofisionomias e dos grupos faunísticos a elas associados não apresentam correlação direta
com os compartimentos físicos definidos pelas áreas de intervenção do empreendimento. No
entanto, essas áreas de intervenção também foram levadas em consideração na escolha dos
sítios de amostragens para os inventários de campo, o que tornou possível a caracterização
dos atributos desse ecossistema pelos compartimentos ambientais do AHE Belo Monte, ainda
que para alguns grupos a descrição abrange mais de um compartimento. Esses casos estão
ressaltados no texto.

A integração dos atributos socioeconômicos e culturais aos compartimentos de intervenção do


empreendimento foi realizada, correlacionando-se a AID dos meios físico e biótico à AID e
ADA do meio socioeconômico e cultural. O QUADRO 9.4-1 mostra a correlação entre os
compartimentos de intervenção do empreendimento e os espaços utilizados nos estudos
socioeconômicos para análise de seus atributos.

Assim, dentro do compartimento Reservatório do Xingu foram incluídas as áreas rurais das
duas margens do rio Xingu, no trecho desse rio que poderá vir a formar o reservatório, as
sedes urbanas de Altamira e Brasil Novo e os povoados, aglomerados e Núcleos de
Referências Rurais existentes nesses espaços rurais.

As sedes municipais de Anapu e Brasil Novo, embora situadas fora da AID foram a essa
incorporadas por terem parte de seus territórios diretamente afetados pelo empreendimento e,
enquanto tal, receberá reflexos diretos desses impactos.

Deve-se ressaltar que, em função da grande extensão territorial da área rural da AID e das
diferenças socioeconômicas e culturais observadas entre as diversas realidades que a
compõem, as sedes urbanas dos municípios de Senador José Porfírio, Vitória do Xingu,
Altamira, Anapu e Brasil Novo são caracterizadas em separado das áreas rurais, dentro dos
compartimentos dos quais fazem parte.

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QUADRO 9.4-1
Relação entre os Compartimentos Ambientais e Situação Relativa dos Municípios da
AID/ADA
Compartimentos Áreas Rurais
Sedes Povoados/Outros
Ambientais do Núcleos de Referência Rural
Urbanas Aglomerados
Empreendimento

Agrovila Princesa do Agrovila Cilo Bananal, Agrovila


Reservatório do Xingu, Agrovila Olavo Bilac, Gavianzinho, Padre
Altamira
Xingu Margem Eurico Krautler, Sagrado Coração
Piauiense e Agrovila
Esquerda (ME) de Jesus (Pioneira), Santo Antônio,
Senador Carlos Pena São João Batista, Itapuama.
Filho

Reservatório do Brasil
Santa Juliana
Xingu Novo

Mangueira (Cana Verde),


Reservatório do Transassurini, Travessão dos Cajás,
Xingu Margem Travessão Paratizinho, Travessão do
Agrovila Sol Nascente
Direita (MD) Espelho, Babaquara, Bom Jardim I,
Travessão Pimentel/Quatro Bocas,
Ramal dos Crentes
Bom Jardim I, Bom Jardim II,
Paratizão, Santa Luzia, São
Vitória do Agrovila Leonardo da
Reservatório dos Volta Grande do Francisco das Chagas (Baixada),
Vinci e Belo Monte
Canais Xingu (ME) Xingu Santo Antônio, São José, São Pedro,
São Raimundo Nonato, Deus é
Amor (São Francisco).
Anapu
Belo Monte do Pontal Surubim
Trecho de Vazão Trecho de Vazão
Reduzida (TVR) Reduzida (MD) Senador Ressaca, Ilha da Fazenda
Itatá e Trans-União
José e Garimpo do Galo
Porfírio
Trecho de Margem direita a Senador
Alto Brasil, Bom Pastor e Travessão
Restituição de jusante de Belo José Vila Nova
do Bambu.
Vazão ( TRV) Monte Porfírio
Porção Norte do
município de
Vitoria do Xingu
FONTE: IBGE, Contagem de População, 2007. Leme Engenharia. Pesquisa Socioeconômica
Censitária. Ago/2007 a Fev/2008.

As principais características ambientais desses compartimentos são descritas nos itens


subseqüentes e sintetizadas no QUADRO 9.4-2, apresentado ao final deste item.

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FIGURA 9.4-1 - Compartimentos Ambientais da AID/ADA

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9.4.1 Reservatório do Xingu

Compreende uma porção da ADA/AID com 2.357 km2, abrangendo o Sitio Pimental, local
previsto para o eixo da barragem principal, o reservatório que será formado no rio Xingu, suas
áreas de entorno e as bacias de contribuição dos igarapés Panelas, Altamira, Ambé e
Trindade, todos afluentes do rio Xingu pela sua margem esquerda.

Em relação à compartimentação da bacia do rio Xingu, apresentada na análise integrada da


AII, este espaço está inserido nos compartimentos Xingu/Bacajá e Transamazônica e PA 415,
apresentados na FIGURA 9.3-1 do ítem 9.3.

Neste trecho o rio Xingu tem uma orientação geral SW-NE desde a confluência do rio Iriri até
as imediações da cidade de Altamira, quando inflete para E e, em seguida, para SE até atingir
o Sítio Pimental.

Considerando a área abrangida por esse compartimento, nas áreas mais próximas da calha do
rio Xingu tem-se um relevo de colinas da Depressão da Amazônia Meridional, associadas a
morros e morrotes, testemunhos da dissecação do Planalto Residual do Sul da Amazônia.
Nessa área predominam rochas graníticas, migmatíticas e xistosas do Complexo Xingu, com
predomínio de aqüíferos fissurados, ou seja, aqüíferos desenvolvidos em fraturas ocorrentes
nas rochas, de natureza anisotrópica e capacidade variável de armazenamento de água. Há um
nitido predominio de associação de Argissolos Vermelho-Amarelos e Amarelos, e
secundariamente ocorrem manchas de Latossolo Vermelho-Amarelo, com potencial agrícola
que varia de baixa a média aptidão, dependendo da associação dos tipos de solo que ocorrem
em uma mesma unidade de mapeamento. A susceptibilidade desses solos à erosão varia de
moderada a forte susceptibilidade.

A vegetação original desse compartimento corresponde à Floresta Ombrófila Aberta com


palmeiras nas áreas mais elevadas e nas margens dos rios, onde ocorrem planícies aluviais, a
Floresta Ombrófila Aberta Aluvial. Atualmente essas formações vegetais estão alteradas e
reduzidas a fragmentos isolados em meio a extensas áreas de pastagem e expressivas áreas de
vegetação secundária, especialmente na margem esquerda do rio Xingu. Nas áreas próximas à
margem direita desse rio podem ser encontrados maiores fragmentos das florestas ombrófilas,
principalmente no trecho entre o remanso do futuro reservatório e a região próxima a Rodovia
Transassurini BR 418. Já nas áreas ao longo desta rodovia, que liga Altamira à comunidade da
Ressaca, os fragmentos florestais também estão reduzidos a pequenas dimensões, e o processo
de desflorestamento é atuante, agravado pela presença de assentamentos rurais.

A margem esquerda do rio Xingu tem maior proporção de área desflorestada do que a
margem direita nesse compartimento; apesar disso, o padrão de desflorestamento ao longo do
tempo é semelhante entre as duas margens.

A FIGURA 9.4-2, compilada do estudo de Unidades de Paisagem, Volume 13 deste EIA,


mostra a evolução do processo de desflorestamento na AID no período de 2000 a 2006.
Observa-se que houve um grande incremento no desflorestamento entre os anos de 2000 e
2001 em ambas as margens, diminuindo significativamente entre 2001 e 2002. De 2002 a
2004 houve novo incremento no desflorestamento em ambas as margens, diminuindo
novamente no período subseqüente, entre 2004 e 2006.

6365-EIA-G90-001b 98 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.4-2 - Evolução do desflorestamento entre 2000 e 2006
na AID do AHE Belo Monte

Originalmente recoberta pela Floresta Ombrófila Aberta com palmeiras e/ou cipós, hoje essa
formação florestal está reduzida a fragmentos de pequena dimensão e com baixa
probabilidade de conectividade. O uso do solo predominante ao longo de uma ampla faixa que
acompanha toda a extensão da rodovia Transamazônica na AID é com pastagem para criação
de gado de corte em fazendas de médio a grande porte. O uso para agricultura é restrito à
cultura familiar, sendo poucos os cultivos comerciais, destacando-se entre esses o cacau que é
cultivado com sombreamento da floresta.

Na porção norte do compartimento, em áreas mais afastadas da calha do Xingu e sob


influência direta da rodovia Transamazônica, predomina rochas sedimentares das Formações
Trombetas, Maecuru, Ererê, Curuá e Alter do Chão (folhelhos, ritimitos, siltitos, arenitos e
conglomerados), e rochas vulcânicas básicas (Diabásio Penatecaua). Como essa área está
situada na borda sul da Bacia do Amazonas, onde as formações apresentam-se aflorantes, os
aqüíferos em rochas sedimentares das formações Maecuru e Ererê apresentam características
de aqüífero livre em muitos locais. Esses afloramentos constituem as áreas de recarga dos
aqüíferos, caracterizada principalmente a partir da precipitação pluviométrica. A partir da área
de recarga, o fluxo é em direção ao Norte e a descarga, quando ocorrem zonas de entalhe das
drenagens, também é para o Norte, obedecendo ao mergulho geral para o Norte das camadas
aqüíferas da borda sul da Bacia do Amazonas.

A presença de aqüífero livre de elevada potencialidade constituído pela Formação Alter do


Chão e as áreas de recarga de aqüíferos das formações Maecuru e Ererê identificadas na AID
recomendam a necessidade de cuidados para evitar contaminação desses aqüíferos e a
preservação da qualidade de suas águas. O aqüífero Maecuru sofrerá a influência do
enchimento do reservatório do Xingu nas proximidades de Altamira, o que se torna relevante
na medida em que parte da população da cidade de Altamira utiliza água proveniente da
captação de águas subterrâneas por meio de poços tubulares e cacimbas, estas últimas sujeitas
à contaminação devido a sua pouca profundidade.

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Os levantamentos da qualidade da água subterrânea permitem concluir que a água do aqüífero
superficial constituído pelo aluvião na região de Altamira encontra-se contaminada. O
lançamento de efluentes domésticos nos igarapés, a existência de fossas e a disposição de lixo
de forma inadequada são os agentes poluidores mais significativos, dada as elevadas
concentrações de DBO, de DQO e de coliformes. O lixão de Altamira está implantado em
região com solos que apresentam preferencialmente baixas permeabilidades, onde a migração
de contaminantes para aqüíferos subjacentes é dificultada. Entretanto, a jusante do lixão,
existe drenagem que permite o escoamento superficial do chorume do lixão para o igarapé
Altamira.

Os futuros reservatórios a serem formados deverão, também, favorecer a reativação,


propagação e/ou instalação de novos processos erosivos e de instabilização das encostas
marginais de uma maneira geral, devido ao embate de ondas, submersão parcial de unidades
geológico-geotécnicas susceptíveis às instabilizações e também devido à elevação da
superfície freática. Os estudos de estabilização de encostas caracterizaram, nas encostas do
Reservatório do Xingu os seguintes setores como de suscetibilidade alta aos processos de
instabilização:

- margem esquerda do rio Xingu, próximo à ilha Babaquara: Susceptibilidade a processos


de erosão e movimentos de massa;

- área urbana e entorno de Altamira: Susceptibilidade para surgimento de áreas úmidas e


alagadas, adensamento de solos moles e instabilizações de aterros;

- margem direita do rio Xingu, próximo a Altamira e margem esquerda do rio Xingu, cerca
de 16 km a jusante de Altamira: Susceptibilidade a processos associados à Formação
Maecuru (erosão subterrânea e erosões por solapamento, desbarrancamento, em sulcos e
ravinas).

A elevação permanente dos níveis da água pela formação do reservatório do Xingu poderá
causar inundação, surgências, formação e acréscimo de áreas úmidas e alagadas, em caráter
permanente, e possível instabilizações, nos casos de solos não saturados de baixa resistência,
especialmente em aterros, bastante freqüentes na cidade. Avalia-se que as áreas de maior
criticidade quanto a esses processos são aquelas onde o nível d’água nas cheias atuais está
situado a profundidades menores que 2 a 3 m e nas regiões da foz do igarapé Altamira e entre
o igarapé Altamira e Ambé.

Além disso, à elevação permanente dos níveis da água do aqüífero superficial estará associado
um acréscimo na vulnerabilidade à contaminação desse aqüífero constituído por aluviões,
atualmente já bastante vulnerável. A condição de níveis d’água permanentemente a pequenas
profundidades da superfície permitirá a saturação das fontes de contaminação ou a localização
do nível da água a pequenas distâncias da base dessas fontes. Conseqüentemente, ocorre
acréscimo da carga de contaminantes para o aqüífero e são favorecidos o acesso e a migração
desses contaminantes no aqüífero.

Cabe destacar que os igarapés que drenam a área urbana de Altamira já sofrem inundações
periódicas nas cheias do rio Xingu, situação que poderá ser agravada com a formação do
reservatório.

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Às margens e no entorno dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas vivem 16.420 pessoas
distribuídas em casas sobre palafitas e em condições precárias de segurança e saneamento
básico. Como os eventos de inundação desses igarapés têm freqüência anual, essa população é
retirada e abrigada temporariamente em locais públicos, como igreja e ginásio esportivo,
todos os anos. Além disso, uma das principais atividades econômicas dessa população, que é a
atividade extrativa de argila para o fabrico de tijolos também é afetada pelas cheias anuais. A
argila é lavrada nas planícies aluvionares dos igarapés Panelas e Ambé, junto ao núcleo
urbano de Altamira. Trata-se de uma atividade muito instável e incerta, visto que nenhuma
lavra tem concessão mineral, não há um conhecimento técnico sobre a potencialidade das
jazidas, apresenta deficiência tecnológica e operacional.

Nos arenitos da Formação Maecuru há ocorrência de dezenove cavidades naturais, sendo


registradas as seguintes na AID: Abrigos do Beja, Paratizão, da Gravura, Assurini, Pedra do
Navio, do Tatu, do Sismógrafo e da Cama de Vara, Cavernas Tic Tac, Pedra da Cachoeira e
do Sugiro. Nos folhelhos da Formação Curuá registra-se a Caverna Leonardo da Vinci. Duas
dessas cavidades – Abrigos Assurini e da Gravura – são periodicamente inundadas nas cheias
anuais do rio Xingu.

Essa parte Norte do Compartimento Reservatório do Xingu corresponde à unidade


geomorfológica Planalto Marginal do Amazonas, onde ocorre relevo de colinas e terraços,
com planícies de inundação de pouca expressão espacial. Esses terrenos possuem
suscetibilidades erosivas ligeira a moderada e, subordinadamente, moderada a forte, onde o
relevo é mais acidentado. Nessa área, especialmente abrangendo grande parte das bacias dos
igarapés Panelas, Altamira, Ambé e Trindade, ocorre extensa mancha de Nitossolo Vermelho
Eutrófico e Planossolo Hidromórfico nas planícies desses igarapés. Os Nitossolos estão
associados aos domínios das intrusivas básicas (diabásios), apresentando boa aptidão agrícola
para lavouras. A baixa erodibilidade desses solos, mesmo em relevo colinoso, leva os terrenos
onde ocorrem a apresentar grau ligeiro de susceptibilidade erosiva. Apesar das boas condições
edáficas, as áreas de ocorrências dos Nitossolos são pouco utilizadas para o cultivo de culturas
de ciclo anual, predominando o uso como pastagens.

Os principais recursos minerais deste compartimento estão relacionados aos depósitos de


argila (aluviões e terraços fluviais) e areia e cascalho no leito do rio Xingu situado nas
imediações de Altamira (Potencialidade 1, ou seja, área de ocorrência do bem mineral, com
explotação); possibilidade de ocorrência de ouro associada a sulfetos (pirita) nos folhelhos das
Formações Curuá e Trombetas, porém sem registros diretos de mineralização (Potencialidade
3, ambiente geológico favorável, porém sem indício comprovado); areia e cascalho nas
imediações da ilha Babaquara (Potencialidade 2, ocorrência do bem mineral, porém sem
explotação); e possibilidade de ocorrência de depósitos de areia e cascalho no trecho
Paratizinho / Sítio Pimental e a montante da ilha Babaquara, porém sem registros diretos
(Potencialidade 3).

A areia e o cascalho são explotados para a construção civil no leito do rio Xingu nas
proximidades da cidade de Altamira. Garimpos esporádicos de ouro são verificados em
depósitos secundários na calha do rio Xingu e de alguns de seus afluentes na região da Volta
Grande, junto às localidades da Ressaca e do Galo. Nesta região também são observadas áreas
de extração de ouro em depósitos primários caracterizados por veios de quartzo encaixados
em xistos máficos pertencentes à Suíte Metamórfica Três Palmeiras.

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A atividade garimpeira na região encontra-se em declínio, o que pode ser creditado à exaustão
dos depósitos secundários e ações de fiscalização por parte de órgãos ambientais. A produção
de ouro na região passa a ser focada nos jazimentos primários, tendência que pode ser
constatada a partir dos trabalhos de pesquisa mineral que estão sendo empreendidos na Volta
Grande por empresas de mineração, inclusive com a execução de sondagens rotativas para se
atingir os depósitos em profundidade.

Os estudos sobre a ictiofauna regional foram realizados segundo os ambientes aquáticos


(biótopos), os quais são caracterizados por um gradiente longitudinal ao rio que, superposto
ao grau de conservação das margens e ao ciclo sazonal de mudanças no nível do rio,
delimitam as fontes de alimentos disponíveis para a fauna de peixes, bem como explicam as
diversas adaptações no comportamento das espécies. Estas adaptações otimizam os
mecanismos competitivos e a divisão dos recursos disponíveis.

De forma geral, tem-se que o ambiente associado à calha do rio Xingu (correspondente a
todos os compartimentos que envolvem a calha do rio Xingu, excetuando no caso, apenas o
Reservatório dos Canais) é geralmente sinuoso e irregular, com largura de mais de 1000m,
encostas mais ou menos íngremes e perfil muito variado, muitas vezes profundo e irregular,
com fundo de areia ou de pedra. A presença constante de ilhas, que determinam a formação
de inúmeros canais menores anastomosados, com velocidade de correnteza variável
dependendo da vazão, é sempre importante, quando comparada com as áreas marginais de
inundação.

Nesta diversidade de ambientes do canal do rio Xingu as ordens de maior riqueza de espécies
da ictiofauna são os Siluriformes (07 espécies) e Characiformes (05 espécies). As ordens
Rajiformes (03 espécies) e Perciformes (01 espécie) apresentaram o menor número de
espécies. Estas espécies são de hábitos demersais, em sua maioria são predadores e em geral
de maior tamanho corporal. Os bagres da família Pimelodidae da ordem Siluriformes
apresentaram o maior número de espécies (4), seguida com três espécies as famílias
Characidae, Potamotrygonidae e Auchenipteridae e a família Erythrinidae com duas espécies.
A família Sciaenidae, Perciformes foi representada por somente uma espécie.

Os levantamentos de ictiofauna observaram diferenças de riqueza e composição de espécies


por ambiente aquático do rio, sendo que nos trechos do rio Xingu, inseridos neste
compartimento foram registradas 206 espécies de peixes. Comparando-se este compartimento
com o Trecho de Restituiçao de Vazão, situado no outro extremo da AID, houve menor
similaridade na composição de espécies de peixes.

Foram observadas 49 espécies exclusivas para estes dois compartimentos. As espécies


exclusivas do trecho do Reservatório do Xingu foram: Anchoviella vaillanti, Baryancistrus sp.
4, Baryancistrus sp. 5, Eigenmannia sp., Hemiodus microlepis, Hoplias sp., Hypopomidae sp,
Hypoptopoma aff. gulare, Laemolyta sp, Metynnis hypsauchen, Micromischodus sugillatus,
Moenkhausia sp., Potamotrygon orbignyi, Psedopimelodus cf. bufonius, Roeboides cf
descalvandensis, Serrasalmus cf. rhombeus, Trachelyopterus galeatus. Destaca-se a presença
do pacu capivara neste trecho. E a Arraia-de-fogo (Potamotrigon leopoldi) apresenta maiores
abundâncias nos arredores de Altamira.

Considerando o grupo dos cascudos, este compartimento apresentou a menor riqueza com 20
espécies.

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Em relação à presença de sítios de reprodução este compartimento, juntamente com o TVR,
apresentou importâncias semelhantes, tendo sido identificados 30 locais de piracema. Esse
compartimento apresentou a segunda maior concentração de larvas, sendo que nesse caso as
larvas foram mais abundantes no Lago da Ilha Grande.

Adotando-se um enfoque de análise mais detalhado em relação à calha do rio Xingu, cabe
destacar alguns trechos que se distinguem por apresentarem características fluviais
diferenciadas, permitindo o surgimento de ambientes aquáticos favoráveis a determinados
grupos da ictiofauna regional. Esses trechos são caracterizados, a seguir.

Entre o remanso do futuro reservatório e a ilha Babaquara, correspondendo ao Trecho B5


apresentado no encarte da FIGURA 9.4-1, o rio é encaixado, apresenta declividades da ordem
de 0,13m/km, alternando trechos encachoeirados com corredeiras e trechos mais profundos
(até 15m), observando amplas ilhas aluviais e controle estrutural dos canais sustentados por
rochas graníticas do Complexo Xingu.

Nessas ilhas aluviais, assim como nas poucas planícies que ocorrem nesse trecho (em sua
maioria situadas próximas à ilha Babaquara) a formação vegetal dominante é a Floresta
Ombrófila Aluvial, ainda muito preservada.

Os pedrais nesse trecho do rio Xingu constituem manchas isoladas diferentemente do trecho
da Volta Grande onde ocorrem de forma contínua. No entanto, o tipo de colonização vegetal
de cobre parcialmente os blocos rochosos é similar, sendo constituído por uma vegetação
pioneira arbustiva, muito resistente aos embates das fortes correntezas que dominam o rio
durante o período chuvoso. As águas são transparentes e de pouca profundidade, permitindo
em alguns locais o estabelecimento de periliton.

As ilhas e pedrais constituem ambientes que podem ser inundados em maior ou menor grau,
durante os meses de maior pluviosidade, dependendo da sua inclinação e da altitude do local
considerado. Esses ambientes abrigam, por vezes, lagoas marginais e insulares que constituem
biótopos vitais para a manutenção da ictiofauna da região.

Nos ambientes de corredeiras e cachoeiras a grande maioria dos peixes bentônicos pertence à
família Locariidae, a qual agrega 66% dos peixes amostrados neste ambiente. Os demersais e
pelágicos deste ambiente pertencem às ordens Chariciformes e Perciformes e,
secundariamente Siluriformes.

Já o trecho adjacente a Altamira, entre as ilhas Babaquara e o igarapé Paratizinho (Trecho


B4), apresenta uma morfologia típica de rios da Planície Amazônica, com vale fluvial
encaixado, declividade da ordem de 0,05m/km, e várias ilhas aluviais. O surubim
Pseudoplatystoma fasciatum, a pirarara Phractocephalus hemioliopterus e o filhote
Brachyplatystoma filamentosum podem habitar essa porção do rio Xingu de águas mais
profundas e com menor velocidade, compreendida entre trechos de corredeiras e cachoeiras.

De Paratizinho à ilha da Taboca (Trecho B3) a declividade é da ordem de 0,35m/km,


observando uma rede de canais estruturalmente condicionada e no trecho entre a ilha da
Taboca e o Sítio Pimental a declividade é da ordem de 0,07m/km, sendo observada a
formação de ilhas aluviais e pedrais. Nos ambientes de pedrais do rio Xingu foram
encontradas 32 espécies de peixes bentônicos da família Loricariidae, entre elas o “acari

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zebra” (Hypancistrus zebra,) é uma espécie grande importância econômica na pesca de peixes
ornamentais.

No caso dos Quelônios e Mamiferos Aquáticos neste compartimento foram inventariadas


tocas e áreas de uso de lontras e ariranhas, que são mais abundantes em áreas distantes de
habitações humanas, especialmente na região próxima à confluência do rio Iriri. As três
espécies de crocodilianos inventariadas neste compartimento são comuns ao trecho da Volta
Grande (C. crocodilus, M. niger, P. trigonatus).

Em relação ao ecossistema terrestre, cabe inicialmente destacar que as principais


fitofisionomias existentes na AID/ADA do AHE Belo Monte apresentam ocorrências
generalizadas, ainda que se possa observar o predominio de uma ou mais dessas
fitofisionomias em locais específicos.

Assim, no compartimento Reservatório do Xingu predomina a Floresta Ombrófila Aberta com


palmeiras que, segundo o estudo de Vegetação, Volume 16 deste EIA, apresenta muitas
semelhanças com a mesma floresta onde predominam os cipós. Ambas são regionalmente
conhecidas como Florestas de Terra Firme uma vez que ocorrem nas partes mais afastadas
dos cursos de água e em topografia mais elevada. Elas apresentam o mesmo número de
famílias comuns. A presença de Leguminosae (sensu lato), Lecythidaceae, Sapotaceae e
Euphorbiaceae entre as famílias mais abundantes e diversas é um ponto comum entre os
levantamentos do componente do dossel das matas de terra firme na Amazônia. Outro ponto
importante a ser salientado é que a maioria das espécies com as maiores densidades,
freqüência e dominância são comuns a ambas as fitofisionomias inventariadas.

A distinção entre essas duas fitofisionomias é a maior ou menor presença de palmeiras ou de


cipós, elementos que lhes dão aspectos diferenciados. Elas apresentam disposição espaçada
das árvores o que favorece a colonização por lianas e palmeiras. Esses grupos vegetais
dependem de luz para se desenvolver plenamente. Os cipós proliferam e em alguns casos
podem matar algumas árvores.

É comum se observar as ‘torres de cipós’, constituídas pela colonização de lianas em árvores


mortas. Ente os cipós destacam-se rabo de arara (Acacia multipinnata - Mimosaceae), escada
de jabuti (Bauhinia guianensis - Caesalpiniaceae), Leucocalantha aromatica - Bignoniaceae
e o cipó-abuta (Abuta grandifolia - Menispermaceae); nas áreas mais baixas do vales
aparecem as palmeiras açai (Euterpe oleracea - Arecaceae) e paxiúba (Socratea exorhiza -
Arecaceae) - MPEG, 2001, SALOMÃO et. al., 2007.

Na Floresta Ombrófila Aberta com palmeiras, a fitofisionomia é caracterizada pela presença


de grandes palmeiras com altura de até 30m. Entre as palmeiras destacam-se espécies como o
babaçu (Attalea speciosa), inajá (Attalea maripa), paxiúba (Socratea exorhiza), bacaba
(Oenocarpus bacaba) e em menor escala o patauá (O. bataua) - MPEG, 2001, SALOMÃO et.
al., 2007.

Neste compartimento seis espécies tiveram maior ocorrência, com mais de uma centena de
indivíduos: Mollia gracilis, Cenostigma tocantinum, Cynometra marginata, Attalea speciosa,
Paramachaerium ormosioides e Guapira venosa. Na Floresta Ombrófila Aberta com
palmeiras os estudos identificaram quatro espécies com abundância superior a uma centena:
Attalea speciosa, Cenostigma tocantinum, Protium apiculatum e Guapira venosa. Enquanto

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que na Floresta Ombrófila Aberta com cipós as espécies mais abundantes foram: Guapira
venosa, Cenostigma tocantinum, Alexa grandiflora e Vouacapoua americana.

As Florestas Ombrófilas Aberta Aluviais sofrem inundação durante parte do ano e ocorrem nas
margens do rio Xingu, sendo mais comuns na zona do baixo curso. Em alguns trechos aparecem
formações com as palmeiras jauari (Astrocaryum jauari), açaí (Euterpe oleracea) e caranã
(Mauritiella armata), nas zonas mais rebaixadas do relevo. São florestas localizadas na planície
de inundação, com desnível variando entre 4m e 8m nos picos anuais de enchente e vazante.
Essas formações vegetais, especialmente as das áreas inundáveis, são também muito
importantes para a manutenção da ictiofauna (locais de reprodução e alimentação de peixes) e
de outros organismos aquáticos e semi-aquáticos (quelônios, mamíferos etc.).

Nesta formação florestal, entre as 200 espécies registradas no inventário, seis apresentaram
abundância superior a uma centena Mollia gracilis, Cynometra marginata, Zygia cauliflora,
Paramachaerium ormosioides, Discocarpus essequeboensis e Hevea brasiliensis.

Apresenta-se, na sequência, a fauna terrestre associada a esses ambientes florestais. Deve-se


ressaltar que o alto grau de perturbação das áreas inseridas neste compartimento, levou a
fragmentação e isolamento dos ambientes florestais, fato que dificultou a observação de
indivíduos nos levantamentos de grandes e médios mamíferos.

Entre os grupos da fauna terrestre, cujos habitats se localizam nas florestas de terra-firme
(Florestas Ombrófilas Abertas com Cipós e Palmeiras e seus diferentes microhabitats como
serrapilheira, arbustos, poças temporárias, margens de igarapés, etc.) podem ocorrer em todos
os compartimentos da AID, uma vez que essas florestas são as que apresentam maior
distribuição espacial dentro desta área de influência. Além disso, é importante registrar que
para os grupos da mastofauna, não há diferença no número de espécies entre a floresta
ombrófila densa e a aberta; porém, a riqueza de espécies de mamíferos de médio e grande
porte encontrada na floresta inundável (floresta ombrófila aluvial) é menor que na floresta
não-inundável (floresta ombrófila densa e aberta).

A floresta inundável pode sustentar uma grande biomassa de herbívoros, entretanto os grandes
herbívoros são espécies de hábitos mais terrestres. Por outro lado, as espécies arborícolas
folívoras como as preguiças (Bradypus e Choloepus), e as guaribas (Alouatta) são favorecidas
nos ambientes mais úmidos. Outros arborícolas com dieta generalista também são capazes de
permanecer na floresta inundável durante o período da cheia, como os macacos-prego (Cebus
apella) e os macacos mãos-de-ouro (Saimiri). As espécies de primatas que se utilizam muito
do sub-bosque (Mico e Saguinus) não foram observadas nas ilhas, nem na floresta inundável
das margens do rio Xingu e afluentes, durante a enchente.

As espécies que foram registradas somente neste compartimento foram: Didelphis


marsupialis, Cabassous unicinctus, Bradypus variegatus, Aotus azarae, Ateles marginatus,
Coendou prehensilis, Puma yagouaroundi e Potos flavus.

Nas ilhas existentes neste compartimento, um número menor de espécies já era esperado, pois
estas constituem fragmentos de hábitats terrestres cercados por água. Além disso, grande parte
das ilhas fica coberta por água parte do ano e possuem ambientes de floresta ombrófila
aluvial, cuja diversidade é tipicamente reduzida. As espécies mais avistadas nas ilhas foram
D. leporina, A. belzebul, Tamandua tetradactyla, e Pecari tajacu e nas margens, D. leporina,
C. apella, S. aestuans, A. belzebul e C. moloch.

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As taxas de avistamento não tiveram modificação substancial da fauna inventariada
comparando-se os dados atuais com estudos anteriores realizados nesta localidade. Em geral,
as espécies de roedores de médio e grande porte (Rodentia) e ungulados (ordens Artiodactyla
e Perissodactyla) encontrados nas áreas de estudo são de ampla distribuição para a Amazônia,
com algumas diferenças entre interflúvios. A maioria dos representantes desses grupos é de
interesse da população humana, principalmente como fonte de alimentos. Cerca de 44% dos
entrevistados durante os levantamentos de mamíferos afirmaram que caçam.

Entre os pequenos mamíferos quatro espécies ocorrem associadas com a Floresta Ombrófila
Aberta com palmeiras, de ocorrência generalizada neste compartimento e também no
compartimento do Reservatório dos Canais: os marsupiais Metachirus nudicaudatus e
Monodelphis emiliae, e os roedores Lonchothrix emiliae e Mesomys stimulax.

Na Floresta Ombrófila Aluvial três espécies de roedores foram exclusivamente capturadas:


Neacomys sp.1, Nectomys melanius e Proechimys cf. goeldii. Apenas um exemplar de
Proechimys cf. goeldii foi capturado ao longo deste estudo, e não há informações na literatura
sobre preferências de hábitat para esta espécie.
No que se refere à avifauna o hábitat com maior riqueza de espécies foi a Floresta Ombrófila
Aberta, seguida da Floresta Ombrófila Densa Aluvial e, em terceira posição o conjunto das
vegetações antrópicas (capoeiras em diversos estágios de sucessão, roçados, pomares, quintais
e pastagens).

Na avifauna destaca-se a presença de espécies ameaçadas de extinção neste compartimento:


arara-azul, Anodorhynchus hyacinthinus. O Simoxenops ucayale (limpa-folha-de-bico-virado)
foi registrado na Ilha da Taboca.

Nos levantamentos da avifauna foram observadas diversas espécies de aves que foram
amostradas apenas neste compartimento: aracuã-pequeno (Ortalis motmot) , gavião-branco
(Leucopternis albicollis), batuíra-de-coleira (Charadrius collaris), maçarico-pintado (Actiti
macularius), coruja-de-crista (Lophostrix cristata), caburé (Tachornis squamata), entre
outras espécies.

Na margem direita do rio Xingu, no trecho inserido no compartimento Reservatório do Xingu,


foram amostras as espécies inhambu-galinha ou inanhambu-pé-de-serra (Tinamus guttatus),
gaturamo-verde (Euphonia chrysopasta), bem-te-vi-rajado (Myiodinastes maculatus), pipira-
preta (Tachyphonus rufus), canário-do-campo (Emberizoides herbicola), maria-bonita
(Taeniotriccus Andrei).

Outras espécies foram observadas apenas na margem esquerda, entre elas citam-se puruchém
(Synallaxis cherriei), maria-cabeçuda (Ramphotrigon megacephalum), urubu-da-mata
(Cathartes melambrotus).

Cabe destacar que Synallaxis cherriei é apontada pelo BirdLife como quase ameaçada
mundialmente.

Para os répteis a Ilha Taboca, localizada neste compartimento, tem apenas uma parte da sua
área alagada no período de cheia do rio, o que pode explicar a maior similaridade com as
demais localidades.

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Algumas espécies de anfíbios como Rhinella granulosa e outras espécies, como os lagartos
Cnemidophorus cryptus e Iguana iguana dependem de ambientes abertos, arenosos.
Dependem também da vegetação de formações pioneiras das margens do rio para abrigo e
alimentação. Iguana iguana e Rhinella granulosa utilizam a água do rio para fuga de
predadores e reprodução, respectivamente.

Quanto aos levantamentos de morcegos, este compartimento foi o que apresentou maior
riqueza com 32 espécies identificadas e mais de 230 indivíduos capturados. Neste local
Carollia perspicilata foi a espécie mais abundante, seguida de Artibeus lituratus.

Este compartimento, juntamente com o do TVR, abriga uma espécie de morcego raramente
capturado. Molossops mattogrossensis que tem associação exclusiva com os abrigos em
fendas diminutas nos pedrais do rio Xingu.

As características físico-quimicas e biológicas das águas superficiais são apresentadas para os


principais sistemas hídricos identificados dentro da área de influência do AHE Belo Monte.

Esses sistemas hídricos do rio Xingu e seus tributários, de forma geral, têm nível
relativamente baixo de interferências na qualidade da água, a exceção de alguns locais mais
afetados pelas atividades antrópicas, onde foram detectados maiores concentrações de
nutrientes, principalmente as formas nitrogenadas; essas interferências, no entanto, são
atenuadas pela alta vazão do rio, conforme demonstram as análises realizadas nos estudos da
qualidade das águas, sintetizadas a seguir.

Os primeiros sistemas caracterizados constituem uma área de controle, estabelecida a


montante do Compartimento Reservatorio do Xingu, abrangendo o baixo curso do rio Iriri e o
trecho do rio Xingu a montante do remanso do reservatório planejado (Trecho B 6).

As águas desse do rio Iriri, assim como do rio Xingu, a montante do futuro reservatório do
Xingu, apresentam elevadas temperaturas, com valores acima de 30 oC no período seco,
quando esses rios apresentam baixa profundidade total. Ambos os sistemas apresentam águas
mais ácidas no período de cheia e águas com pH mais neutro na enchente; a contribuição
alóctone de ácidos húmicos, em especial nos períodos de enchente e cheia, podem ter
favorecido estes resultados de pH.

A turbidez dos dois trechos é baixa, com leve aumento nos períodos de cheia e enchente,
devido à contribuição de matéria de origem alóctone que são submersas durante os períodos
de maiores vazões. Estes resultados são corroborados pelos resultados obtidos de sólidos em
suspensão total, que também apresentam valores mais elevados nas campanhas de cheia e
enchente, quando ocorrem maiores contribuições da porção inorgânica nos dois sistemas
hídricos amostrados.

As águas são, em geral, bem oxigenadas e a condutividade elétrica é baixa, revelando baixa
contribuição da bacia de drenagem e do processo de decomposição de matéria orgânica nas
concentrações de íons. Os principais íons analisados revelam baixas concentrações, sendo que
o cálcio apresentou considerável aumento na estação de enchente e os elementos fluoreto,
cloreto, sulfato, mercúrio, níquel e ferro se apresentam em conformidade com os limites
determinados pela legislação para corpos de água classe 1 e 2 (CONAMA 357/05).

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Os trechos dos dois rios analisados apresentam águas contaminadas pelos metais zinco,
chumbo e cromo, sendo as maiores contribuições diagnosticadas nas campanhas de cheia e
enchente. Chumbo, zinco e níquel encontram-se naturalmente nas formações geológicas da
área do futuro empreendimento e, de forma geral, as concentrações de metais na água foram
maiores nas épocas de enchente e cheia do rio, indicando que os mesmos provêm de
processos de lixiviação e intemperismo provocados pelas chuvas sobre os sedimentos e rochas
da bacia. Por sua vez, os compostos nitrogenados e fosfatados tem baixas concentrações,
inferiores ao limite de 0,1 mg/L estabelecido pela legislação.

A partir dos resultados, constata-se que os períodos de cheia e de enchente são os mais
críticos em relação à contribuição de sólidos e matéria orgânica tanto pelo rio Xingu quanto
pelo rio Iriri.

No trecho do rio Xingu a montante de Altamira (Trechos B5 e B4) e já dentro da área a ser
afetada pelo Reservatório do Xingu, as águas apresentam elevadas temperaturas, são ácidas, e
com turbidez baixa, com um discreto aumento na campanha da enchente; as águas
permanecem com elevadas concentrações de OD e de saturação de oxigênio. No período de
enchente foram registrados maiores valores de DBO, porém abaixo do limite determinado
para classe 2.

A condutividade elétrica permanece baixa e com pouca variação sazonal; os principais íons
analisados revelam baixas concentrações, sendo que o brometo apresentou considerável
aumento na estação de cheia. Os elementos fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio, níquel e ferro
se apresentam em conformidade com os limites determinados pela legislação para corpos de
água classe 1 e 2, assim como registrado para o trecho a montante da área a ser represada pelo
futuro barramento.

A contaminação das águas por chumbo continua bastante evidente no rio Xingu, mantendo o
padrão sazonal de aumento no período de enchente. A contaminação por cromo também foi
detectada nas águas durante as campanhas de cheia e enchente e o zinco foi detectado em
desacordo ao limite estabelecido pela legislação apenas em um ponto, com valor pouco
superior ao determinado.

Em relação aos compostos nitrogenados e fosfatados, as concentrações permanecem baixas e


a variação sazonal das diferentes formas de carbono corrobora os padrões encontrados para o
trecho a montante, com a ocorrência de baixas concentrações e maior contribuição de COD
em relação ao CID. Esses resultados indicam que as águas do rio Xingu não sofrem influência
direta significativa no trecho compreendido desde a confluência do rio Iriri até a localidade de
Altamira.

Em relação às comunidades fitoplanctônicas, a classe que domina com a maior quantidade de


organismos é Bacillariophyceae, exceto na época da seca onde a classe dominante em número
de organismos foi Zygnematophyceae. Esses dois grupos de fitoplâncton são característicos
de rios ou lagos com pouca profundidade onde ocorre turbulência e mistura da coluna de
água. Dentre os gêneros que ocorrem da classe Bacillariophyceae, os que se destacam são
Aulacoseira sp, Rhizosolenia sp e Tabelaria sp. Os dois últimos gêneros são mais comumente
encontrados em ambientes com características oligo-mesotróficas, já o gênero Aulacoseria sp
pode ser encontrado em todos os tipos de ambientes aquáticos. Os gêneros mais abundantes
da classe Zygnematophyceae são Mougeotia sp, Cosmarium sp e Spondylosium sp.

6365-EIA-G90-001b 108 Leme Engenharia Ltda.


A composição do fitoplâncton do rio Xingu e seus tributários tem pouca ocorrência de algas
da classe Cyanophyceae o que mostra que o ambiente não se encontra sujeito a grandes
impactos antrópicos capazes de comprometer a qualidade da água do sistema.

Esse trecho do rio Xingu, que poderá vir a ser represado pelo reservatório do AHE Belo
Monte, está sob influência direta do município de Altamira, que é o maior centro urbano da
região e tem uma população de 92.105 habitantes. Localizada na margem esquerda do rio
Xingu, sua área urbana é drenada por três tributários, igarapé Altamira, Igarapé Ambé e o
igarapé Panelas. Estes igarapés são utilizados pela população local para pesca, lavagem de
utensílios domésticos, recreação e despejo de lixo e esgoto doméstico.

Devido a essa ocupação das margens os igarapés Ambé e Altamira são os locais que registram
presença significativa de macrófitas aquáticas tendo sido constatada a presença de cinco
espécies (Eichornea sp., Montrichardia linifera, Neptunia sp., Paspalum sp., Salvinia
auriculata) de um total de nove espécies registradas em toda a área.

Os igarapés apresentam águas com temperaturas médias aproximadamente 2 oC mais baixas


que o rio Xingu, variando de 26,5 a 27,7 oC, águas ácidas e se diferem em relação ao rio
Xingu pelos valores abaixo do estabelecido pela legislação em pelo menos um ponto dos
igarapés nos períodos de vazante, seca e cheia. A situação mais crítica é a do igarapé Ambé
onde os valores estiveram em desconformidade em relação à legislação em todas as
campanhas.

Em conformidade com o rio Xingu, os igarapés apresentam baixa turbidez com valores
inferiores aos limites determinados para sistemas classe 1 nos períodos de seca e cheia. Os
baixos resultados de sólidos em suspensão no período de enchente indicam que outras formas
de sólidos, como dissolvidos ou sedimentáveis podem estar relacionados aos valores de
turbidez. No entanto, no período da cheia, as concentrações de sólidos em suspensão são
superiores em relação aos demais períodos, em todos os igarapés.

O igarapé Panelas apresenta a melhor condição de oxigenação das águas, com valores acima
dos limites das classes 1 e 2 e o igarapé Altamira apresentou a situação mais crítica na cheia
de 2008, quando foi registrada concentração igual a 5,98 mg/L, no limite estabelecido para
classe 1 e acima do estabelecido para classe 2. No igarapé Ambé, as menores concentrações
de OD foram registradas na vazante e na cheia, com valor de 4,67 mg/L foi inferior ao limite
mínimo de 5 mg/L estabelecido para sistemas classe 2.

Os resultados de DBO nos três igarapés indicaram um incremento expressivo de matéria


orgânica em níveis superiores aos limites da legislação para sistemas classes 1 e 2 na
campanha de cheia e no igarapé Panelas na enchente. Nos igarapés Altamira e Ambé, as
concentrações de DBO foram acima do limite da classe 1 e menores que o limite da classe 2
na campanha de janeiro/07. Tanto o valor médio de DBO como o valor médio de potencial
redox da água observados no período de cheia nesses tributários apresentaram diferenças
significativas em relação aos demais períodos, o que demonstra o aporte de matéria orgânica
proveniente principalmente da área urbana de Altamira é muito significativo na época da
cheia.

A condutividade elétrica tem baixos valores nos igarapés, assim como observado para o rio
Xingu. A variação sazonal é pouco evidente, com relativo aumento das concentrações no mês
de maio, referente ao período de vazante.

6365-EIA-G90-001b 109 Leme Engenharia Ltda.


Os resultados de cálcio, magnésio, potássio, sódio e brometo revelam baixas concentrações,
sendo que o brometo apresentou considerável aumento na estação de cheia. Os resultados dos
elementos fluoreto, cloreto, sulfato e ferro dissolvido se apresentam em conformidade com os
limites determinados pela legislação para corpos de água classes 1 e 2, assim como registrado
para o rio Xingu.

Na campanha realizada em janeiro/07, referente ao período de enchente, o igarapé Panelas


apresentou águas com contaminação de chumbo, cromo e níquel e as águas do igarapé
Altamira estiveram contaminadas por chumbo e mercúrio. Neste mesmo período o igarapé
Ambé apresentou contaminação por cromo, zinco e chumbo. Na campanha de cheia foram
observados valores acima dos limites estabelecidos para as análises de zinco e cromo nos
igarapés Panelas e Altamira e apenas para a análise de cromo no igarapé Ambé.

A variação sazonal evidente reforça a importância dos pulsos hidrológicos na qualidade da


água dos igarapés e a ocorrência dos metais Pb, Zn, Fe e Ni nas formações geológicas da área
do futuro empreendimento sugerem que os processos de lixiviação e de intemperismo
provocados pelas chuvas sobre os sedimentos e rochas da bacia podem ser determinantes para
os resultados elevados destes compostos nas águas do rio Xingu e dos igarapés. As
concentrações de mercúrio observadas no igarapé Altamira podem ter sua origem no chorume
do lixão da cidade, onde podem ter ficado depositados materiais provenientes de atividades de
purificação do ouro realizadas antigamente na região.

Em relação aos compostos nitrogenados e fosfatados, as concentrações foram baixas; cabe


destacar, no entanto, a elevada concentração de nitrato na campanha de cheia e valores
moderados nas campanhas de enchente e vazante no igarapé Panelas. Maiores concentrações
de nitrato é um indicativo de contaminações mais antigas e oxidação dos íons amônio.

Assim como destacado para os pontos do rio Xingu, os igarapés que serão remansados pelas
águas do reservatório deverão mudar de categoria e os limites permitidos para as
concentrações de fósforo total serão mais conservadores. As concentrações registradas na
atual situação, principalmente no igarapé Altamira, estariam acima do limite de 0,025 mg/L
estabelecido pela legislação para sistemas intermediários classe 1 e próximos ao limite de
0,05 mg/L para sistemas intermediários classe 2, nos principais períodos do ciclo hidrológico,
com destaque para o ponto de jusante, próximo a foz .

A variação sazonal das diferentes formas de carbono analisadas nesses igarapés corroborou os
padrões descritos para os trechos de montante do rio Xingu com a ocorrência de baixas
concentrações e maior contribuição de COD em relação ao CID.

A partir dos resultados apresentados tem-se que, apesar da ocupação urbana nas margens dos
igarapés Panelas, Altamira e Ambé, os compostos nitrogenados e fosfatados gerados por
esgotos domésticos e determinantes para o processo de eutrofização mantiveram-se em baixas
concentrações. O período de enchente é o mais crítico em relação à turbidez das águas e o
período de cheia em relação à contribuição de sólidos em suspensão.

Em relação à presença de pesticidas organoclorados e organofosforados no sedimento, os


únicos locais onde foram detectadas concentrações de pesticidas (BHC-Delta BHC) foram no
igarapé Ambé próximo a cidade de Altamira e na ilha da Fazenda, já no trecho da Volta
Grande, o que indica que o mesmo pode ter sua origem na agricultura de subsistência da

6365-EIA-G90-001b 110 Leme Engenharia Ltda.


região. Para este composto não existem valores na legislação ambiental que indiquem um
valor máximo permitido.

No trecho do rio Xingu a jusante de Altamira e a montante do sitio Pimental (Trecho B3) os
resultados das análises limnológicas revelam que o rio Xingu mantem águas com elevadas
temperaturas e que estas não são influenciadas pelas temperaturas pouco mais amenas das
águas dos igarapés. Em relação ao pH, os resultados revelam valores semelhantes aos
registrados nos igarapés.

A turbidez e as concentrações de material em suspensão orgânico, inorgânico e total


permaneceram baixas em todas as campanhas e pontos e as águas com elevadas concentrações
de OD e de saturação de oxigênio. O padrão temporal descrito para o consumo de oxigênio
dissolvido medido pela DBO nos pontos de montante do rio Xingu foram mantidos, indicando
baixa influência da contribuição de matéria orgânica originada nos igarapés de Altamira na
qualidade da água do rio Xingu a jusante desta cidade.

A condutividade elétrica permanece baixa e apesar da maior variação temporal dos resultados
de íons totais dissolvidos não foi possível identificar um padrão de contribuição. Os principais
íons analisados revelaram baixas concentrações, sendo que o brometo apresentou considerável
aumento na estação de cheia. Os resultados dos elementos fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio
e ferro se apresentam em conformidade com os limites determinados pela legislação para
corpos de água classe 1 e 2, assim como registrado para os trechos de montante do rio Xingu.

Na campanha do período de enchente, o rio Xingu neste trecho também apresentou águas com
contaminação de chumbo, cromo, níquel dissolvido e zinco. A constante evidência dessa
contaminação e a variação espacial dos resultados dos elementos cromo, chumbo, zinco e
níquel é um indicativo de que não só os igarapés influenciam a qualidade da água em relação
a esses parâmetros, mas toda a bacia de drenagem.

Em relação aos compostos nitrogenados e fosfatados, as concentrações permanecem baixas


nesse trecho. As águas do rio Xingu, no trecho analisado, são pouco influenciadas pelas
contribuições dos igarapés que drenam Altamira e as outras fontes de contribuição são
também determinantes para os resultados obtidos ao longo do perfil longitudinal do rio Xingu
até o sítio Pimental. Apenas os valores de pH logo a jusante de Altamira, parecem ter sido
influenciados pelas águas mais ácidas dos igarapés.

Quanto aos pesticidas organoclorados e organofosforados no sedimento, de forma geral, o rio


Xingu apresenta menores concentrações para todos os parâmetros estudados do que os seus
afluentes, indicando a maior influência dos usos dos recursos da bacia sobre os cursos de água
menores, como é o caso dos tributários. No canal principal do rio Xingu a maior vazão
favorece a diluição das concentrações dos diferentes elementos. Por outro lado, no período de
seca acontece a deposição de materiais em suspensão transportados pelo rio e seus tributários.
Com relação à qualidade dos sedimentos, pode-se dizer que, segundo os paramêtros da
legislação, os mesmos apresentam uma baixa probabilidade de produzir efeitos adversos à
biota existente no rio Xingu e seus tributários.

Os aspectos socioeconômicos e culturais deste compartimento foram estruturados seguindo a


subdivisão adotada na apresentação dos resultados dos levantamentos realizados para o
diagnostico deste meio para a AID, que tratou em separado não apenas os espaços geográficos
de cada margem do rio Xingu como também as áreas urbanas e rurais. Julgou-se pertinente

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nesta análise integrada manter a subdivisão adotada, porém sempre que necessário foram
feitas comparações entre essas áreas.

O compartimento Reservatório do Xingu abrange os terrenos referentes à margem direita e


esquerda do trecho do rio Xingu, incluindo seus afluentes, que serão afetados pelo futuro
Reservatório do Xingu. Também fazem parte deste compartimento as sedes municipais de
Altamira e Brasil Novo e suas áreas rurais.

Nesse compartimento, o principal acesso por terra é realizado pela Rodovia Transamazônica
(BR 230) e, através dos travessões e vicinais, chega-se a quase todas as localidades aí
situadas.

Os principais travessões que cortam a área que corresponde ao Reservatório do Xingu são:
Travessão km 9 Sul (“Vicinal da 9”), Travessão km 13 Sul e Travessão km 15 Sul; ao norte
dessa rodovia o compartimento é cortado pelos travessões km 6 Norte (“Vicinal da 6”), km 8
Norte (“Vicinal da 8”), km 60, km 55 (CNEC) e a Rodovia Transcatitu. Na margem direita
deste compartimento, o principal acesso por terra é realizado pela Transassurini, que corta
essa porção do compartimento no sentido norte-sul, partindo do ponto onde é realizada a
travessia do Rio Xingu em direção à cidade de Altamira e chegando até o TVR, nas
proximidades do povoado de Ressaca.

O deslocamento através do Rio Xingu é ainda muito utilizado pela população das localidades
ribeirinhas e, em alguns casos, é o único possível.

Margem Esquerda do Compartimento Reservatório do Xingu

Além de toda uma extensão de áreas rurais, que serão descritas no decorrer da caracterização
dos terrenos desse compartimento, situam-se nesta margem esquerda do rio Xingu, as sedes
urbanas de Altamira e de Brasil Novo, conforme pode ser visualizado na FIGURA 9.4-1.

Altamira: a cidade de Altamira está situada na margem esquerda do Rio Xingu distando 720
km da capital do Estado do Pará; seu principal acesso rodoviário é a rodovia Transamazônica
(BR-230), o acesso aeroviário é através da rota Belém-Altamira, que dura aproximadamente
uma hora, e o hidroviário é indireto, através do Porto Dorothy Stang, na cidade de Vitória do
Xingu e da rodovia PA-415 que interliga essas duas cidades.

O padrão de ocupação desta cidade, a partir da década de 1970, foi estruturado com a
implantação do Plano Integrado de Colonização – PIC pelo governo federal, que passou a
associar o assentamento de colonos nos lotes rurais e o assentamento de colonos em lotes
urbanos, compondo um plano urbano-rural de ocupação territorial. Assim a cidade de
Altamira cresceu e consolidou sua função de pólo regional tendo em seu entorno próximo as
agrópolis e agrovilas instaladas ao longo da Rodovia Transamazônica, articulando as
atividades econômicas – agricultura e indústria – e as condições de dinamização dos mercados
– produção/consumo, produção/comercialização, população/administração pública.

Essa colonização oficial mudou significativamente a região de Altamira, pois provocou a


ruptura brusca no ritmo da vida econômica local e regional. A partir daí, o foco dos
investimentos foi direcionada aos setores infra-estruturais (agrovilas e agrópolis e estradas), a
agropecuária alterou o padrão de ocupação do espaço e a tradicional economia extrativista deu
às atividades agrícolas e pecuárias. Altamira, nessa ocasião, iniciou um processo de

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revigoramento urbano, alicerçada em uma nova base econômica. Esta situação propiciou a
expansão da estrutura física da cidade de Altamira, que se fortaleceu como espaço da
produção de um novo setor central de comércio e serviços, novos bairros residenciais, além
dos tradicionais bairros de beira-rio.

Na segunda metade da década de 1980, Altamira passou a ser delineada como uma estrutura
de serviços funcionando como ponto de apoio social, político e econômico regional.
Historicamente a cidade findou por se consolidar como espaço de recepção da mão-de-obra
regional liberada. Nos últimos trinta anos, vários projetos de investimento foram implantados
na Amazônia propiciando a atração de contingentes expressivos de população. Neste
contexto, os municípios da Transamazônica serviram de ponto estratégico para a colonização,
dentre eles a cidade de Altamira, que experimentou um crescimento e um adensamento
demográfico desordenados.

Desde 1980, Altamira apresenta maior percentual de população urbana do que rural (72%)
que vive na sua sede municipal, principal centro urbano de referência da região sob a
influência da Transamazônica e do Rio Xingu no Estado do Pará. Em função da dificuldade e
precariedade dos acessos existentes nessa região, mantêm algumas áreas isoladas e torna a
cidade de Altamira o principal pólo de referência e de atração de população. O próprio
traçado da cidade expressa esta condição, na medida em que a expansão de sua ocupação tem
ocorrido a partir da invasão de áreas, chegando às bordas e margens dos igarapés, espaço
sazonalmente inundado pelas “cheias do Xingu”.

O processo de ocupação de Altamira foi marcado pela relação de desigualdade social e


segregação territorial. Diversas áreas ficaram sujeitas a ocupações desordenadas e ilegais e à
exploração e à degradação de seus recursos naturais. Com o aumento da população de
Altamira nos anos 1970, ocorreu o inchaço, uma vez que a cidade não estava estruturada para
receber os imigrantes que vinham de várias regiões do Brasil. Com isso a ocupação expandiu-
se, a partir da década de 1980 sobre as terras planas, os morros, as baixadas e as áreas
alagadiças próximas aos Igarapés Altamira, Panelas e Ambé, que cortam a cidade.

A expansão urbana da cidade de Altamira se deu a partir de várias modalidades de


assentamento: assentamentos planejados, pela Prefeitura Municipal, pela Prelazia do Xingu e
por empresas privadas; e assentamentos espontâneos que correspondem às áreas de ocupação
irregular.

O processo de assentamento espontâneo ocorreu nos moldes das tradicionais “invasões” e a


chegada de moradores ao local ocorria, na maioria das vezes, mediada por vínculos familiares
e pela busca de melhores oportunidades de sustento. Essas invasões movimentavam o
comércio de lotes e na década de 1990 esse processo foi intensificado e, de certo modo,
provocou a emergência de lideranças. Nesse contexto, as populações de baixo poder
aquisitivo começaram a invadir áreas alagadas e encostas íngremes. A ocupação nesses
termos não tem tipo definido de padronização, as moradias crescem mediante a chegada de
novos parentes, formam-se pequenas vilas, com moradias pequenas e passagens estreitas.

As áreas de ocorrência dessas invasões estão situadas principalmente nos alagadiços –


Igarapés Altamira e Ambé – e deram origem aos seguintes bairros: São Sebastião; Peixaria;
Brasília (década de 70); Liberdade; Baixão do Tufi; Boa Esperança e Olaria.

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A ocupação está distribuída sobre três compartimentos do relevo:

− os terraços de topografia plana, comportando a maior parte da malha urbana;

− as planícies de inundação, anualmente inundadas no final da época das chuvas;

− as encostas, com topografias côncavas e convexas.

A região onde se localiza a ADA Urbana apresenta-se intensamente ocupada por bairros que
se formaram ao longo das duas margens do baixo curso dos igarapés Altamira e Ambé,
enquanto as áreas localizadas próximas ao igarapé Panelas apresentam ocupação ainda
incipiente.

Estes bairros de Altamira, constituídos no bojo da expansão urbana da cidade, se formaram a


partir de várias modalidades de assentamentos conduzidos pelo Poder Público, pela Prelazia
do Xingu, por empresas privadas e a partir de invasões de áreas ribeirinhas.

Especialmente nos Igarapés Altamira e Ambé, o processo de formação de assentamentos


espontâneos foi determinante para sua conformação atual. Essas invasões, realizadas por
populações de baixa renda, intensificadas na década de 90 e situadas principalmente em áreas
alagadiças, deram origem aos bairros São Sebastião, Peixaria, Brasília, Liberdade, Baixão do
Tufi, Boa Esperança e Olaria.

A pesquisa censitária realizada nestes igarapés e, nas áreas sujeitas a e sofrer os impactos
decorrentes das cheias do Rio Xingu periodicamente – considerando todas as edificações
existentes até a cota 100 m – revelou um total de 4.747 imóveis, 4.362 famílias residentes,
perfazendo 16.420 (7.675 no Igarapé Altamira e 7.250 no Ambé), que representam 22% da
população da cidade de Altamira. Além dessa população, foram identificados 666
estabelecimentos com atividades comerciais, de serviços ou industriais.

Grande parte da população dessas áreas vive em precárias condições de moradia, destacando-
se as péssimas condições sanitárias: não existe rede de esgotamento, 18% das casas não
possuem instalações sanitárias e o abastecimento de água é realizado em mais de 74% dos
domicílios através de poços, sujeitos a contaminação pela proximidade das fossas e dos
lançamentos de esgoto diretamente nos cursos d’água.

Em Altamira, o rio e os igarapés estão intimamente ligados aos hábitos da população local,
algumas atividades domésticas básicas têm como suporte as águas do rio e dos igarapés: neles
são lavadas as roupas, as bicicletas, os animais usados na tração das carroças, é espaço de
lazer para adultos e crianças, além de existirem pontos de captação para abastecimento de
caminhões de distribuição de água. Portanto, a possibilidade de contato com águas
contaminadas por agentes biológicos (bactérias, vírus e parasitos) é muito presente.

Os principais agentes biológicos encontrados nas águas contaminadas são as bactérias


patogênicas, os vírus e os parasitos. As bactérias patogênicas encontradas na água e/ou
alimentos constituem uma das principais fontes de morbidade e mortalidade em nosso meio.
São responsáveis por numerosos casos de enterites, diarréias infantis e doenças epidêmicas
(como o cólera e a febre tifóide), que podem resultar em casos letais.

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Além das condições precárias de qualidade e abastecimento de água e do esgotamento
sanitário, o sistema de coleta de resíduos sólidos não atende de maneira adequada essas áreas
cobrindo pouco mais de 50% dos domicílios.

Nos igarapés Altamira e Ambé é significativo o número de construções de madeira, mais de


50% das moradias, e de palafitas, ocupando inclusive as áreas de preservação permanente
desses cursos d’água (Lei N 0 45.771, 15/09/1965), que garantem o acesso às casas nos
períodos de cheia, através de “estivas”, pontes instáveis sobre estacas feitas pelos próprios
moradores ou pelo poder público.

Normalmente as cheias que ocorrem no baixo curso do Igarapé Altamira atinge os bairros
Brasília, SUDAM I, Baixão do Tufi e Açaizal (Catedral). Nas margens do Igarapé Ambé são
freqüentemente atingidos pelas cheias os bairros Mutirão (Progresso), Jardim Primavera, Boa
Esperança, Nossa Senhora Aparecida, Olaria e Peixaria.

As ocupações nas margens desses igarapés geram, anualmente, a necessidade do


deslocamento temporário de centenas de famílias. Nos meses de cheia ou no período
conhecido como inverno os moradores que têm a casa inundada são abrigados em locais
preparados pela Prefeitura, que tradicionalmente atende essa população todos os anos,
fornecendo energia, água, entre outros serviços. Após esse período, ou seja, no início do
período de seca, a população inicia o movimento de retorno às suas residências repetindo o
ciclo no período de chuvas seguinte. Quanto maior a intensidade das cheias, maior é o número
de famílias a serem abrigadas e maior é o tempo de abrigo, que varia de quinze/vinte dias até
dois ou três meses.

A área correspondente ao Igarapé Ambé é a mais extensa entre os setores de pesquisa urbanos
na ADA. Além de apresentar ocupação por residências, comércio e serviços, concentra
também atividades de extração de argila. Pelo fato de situar-se nas partes mais baixas dos
igarapés, a extração de argila é interrompida nos períodos das cheias. Nesse setor situa-se um
trecho da Rodovia Ernesto Acioly onde se concentram atividades de comércio e serviços.

O Igarapé Altamira caracteriza-se por ser a região mais povoada em relação aos demais
setores de pesquisa, sendo ocupada por residências e por setores de comércio e de serviços.

A região do Igarapé Panelas é a terceira em extensão, e se constitui numa área de transição


urbano-rural, com ocupação geral menos concentrada. Na área deste igarapé também ocorre
atividades de extração de argila.

A Orla do Xingu constitui-se numa estreita faixa situada na margem esquerda do rio, ocupado
por um cais.

A população residente na sede municipal de Altamira é de 68.665 habitantes, correspondendo


a mais de 72% da população total das Subáreas Urbanas da AID. Representa, também, mais
de 72% do total da população do município, o que revela um grau de urbanização elevado.

Na ADA Urbana residem 16.420 pessoas que ocupam 4.760 imóveis em 5.2188 edificações.
Deste total, 80,71% são de uso residencial, 2,58% são voltadas para as atividades econômicas
e 8,57% são imóveis destinados para ambas as atividades. A estrutura produtiva da cidade de
Altamira está totalmente associada às atividades produtivas da região, ligadas à cultura e
produção extrativista vegetal. Destacam-se, nesse sentido, a indústria extrativista mineral; a

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indústria de transformação; a indústria de beneficiamento; o comércio (atacadista e varejista)
e os serviços.

Na cidade predominam a média, pequena e micro empresas, destacando-se a presença de


empresários das Regiões Sudeste e Nordeste do país, notadamente dos estados do Ceará e da
Bahia. O grau de informalidade da economia local é acentuado, sendo muito freqüente a
utilização de força de trabalho sem carteira assinada, e um baixo nível de remuneração média.

Altamira é o principal mercado regional: a maioria dos empresários locais negocia sua
produção com outros Estados da federação e com Belém. E as compras governamentais são
indicativas do peso do setor público na economia local.

O setor industrial da cidade está concentrado em torno dos ramos de movelaria, serrarias,
fabricação de esquadrias, pequenas metalúrgicas, pequenas confecções e beneficiamento de
alimentos.

Conforme assinalado, de um total de 4.760 imóveis urbanos situados na ADA menos de 3%


são dedicados a atividades econômicas e outros 8,57% apresentam usos mistos, ou seja, são
utilizados para residência e atividade econômica. O perfil comercial da ADA Urbana indica a
predominância de mercearias, vendas de hortifrutigranjeiros, além de atividades comerciais
ligadas à pesca como as peixarias e a venda de gelo para conservação do pescado. Além
desses, farmácias, drogarias são outros estabelecimentos que dominam o uso comercial das
edificações na Área Diretamente Afetada. Esta análise espacial é detalhada nos tópicos
pertinentes à descrição dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas e Orla do Xingu

As atividades econômicas referem-se a atividades comerciais e de serviços, em primeiro


plano, seguido por atividades relacionadas ao setor primário. A exploração de recursos
naturais se dá pela exploração da madeira, da areia e argila dos igarapés (retratadas pela
presença marcante de olarias, especialmente no Igarapé Ambé).

O saneamento básico municipal está sob a responsabilidade da Divisão de Saneamento da


Secretaria Municipal de Saúde e corresponde aos serviços de abastecimento de água,
esgotamento sanitário, drenagem de águas pluviais e coleta de lixo. Na cidade, 85,73% dos
domicílios consomem a água captada em poços construídos, na maioria das vezes, a céu
aberto, sem qualquer proteção e, em terrenos inadequados.

A maioria dos domicílios urbanos não possui canalização própria de água, prevalecendo o uso
do poço construído a céu aberto. Grande parte dos moradores faz algum tipo de tratamento na
água utilizada, principalmente com hipoclorito de sódio.

O IBGE indicou, através do Censo Demográfico 2000, que, do total de 14.326 domicílios
urbanos recenseados, apenas 24% eram atendidos por algum tipo de rede geral. A água,
retirada diretamente do Rio Xingu é tratada com dosagem de sulfato de alumínio, sendo
depois filtrada, para enfim receber dosagens de flúor e cloro.

Os sistemas isolados da COSAMPA são compostos apenas de uma captação simples de um


poço profundo, que alimenta diretamente um reservatório de distribuição sem tratamento.
Estão nessa situação os bairros Mutirão, Boa Esperança, Aparecida e Brasília, e o Conjunto
Habitacional Alberto Soares.

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Os bairros mais distantes do centro urbano, na área de expansão da cidade não dispõem desse
serviço e a maioria da população abastece-se em poços individuais para o uso doméstico.

A situação é mais grave nos bairros periféricos em situações de risco, como no caso dos
moradores das margens dos igarapés. Algumas famílias possuem pequenos poços próximos
dos igarapés, os quais acabam sendo inundados no período de chuvas. A água, assim, recebe
toda sorte de contaminantes, inclusive coliformes fecais.

A cidade de Altamira não dispõe de rede de coleta de esgotos, nem sistemas de tratamento.
Na área central da cidade que drena para o Rio Xingu os efluentes são interligados à rede de
águas pluviais, com sérias conseqüências para a qualidade da água do corpo receptor. Na área
dos igarapés o esgotamento sanitário é inexistente. Região densamente ocupada por palafitas,
as instalações sanitárias, quando existem, são pequenas construções isoladas a poucos metros
das casas, e os dejetos são jogados diretamente abaixo das palafitas. Os hospitais, clínicas e
postos de saúde despejam seus efluentes, sem nenhum tratamento, nas galerias de água pluvial
que deságuam no Rio Xingu.

O manejo e a disposição de resíduos sólidos são de responsabilidade da Secretaria Municipal


de Viação e Obras Públicas, através do Departamento de Limpeza Urbana que realiza as
atividades de coleta domiciliar e de entulhos, varrição e capina, através de 156 funcionários.
Este número, que tem se revelado insuficiente para atender à demanda.

A coleta de resíduos sólidos atende 80% da população, segundo dados do Departamento de


Limpeza Urbana, e é feita “de porta em porta”

O destino desses resíduos sólidos tem sido, há pelo menos 12 anos, um terreno situado na
margem esquerda da Transamazônica, sentido Itaituba, na bacia do Igarapé Altamira, área de
expansão da cidade no bairro Liberdade. Não existe manejo adequado e a previsão é que essa
área se esgote em pouco tempo. A equipe que está elaborando a revisão do PDM, versão
2008, constatou a existência de 20 pessoas, trabalhando diariamente, que catam
principalmente materiais plásticos, algum material em alumínio e metais ferrosos

A cidade de Altamira é abastecida por energia elétrica desde os anos 1970, porém em
precárias condições de oferta o que tem causado restrições para sua expansão econômica. A
CELPA fornece energia a todas as residências no perímetro urbano, bem como para
iluminação pública, atendendo 21.239 residências, segundo dados de 2007. As condições de
iluminação pública na cidade de Altamira são deficientes, o que contribui para o aumento da
violência urbana. Na região Altamira concentra as emissoras de rádio: Rádio Rural de
Altamira (AM); Rádio Cidade (FM); e Rádio Vale do Xingu (FM); e as rádios comunitárias
que são a forma de comunicação alternativa para as populações rurais e ribeirinhas que
habitam a região da Transamazônica e do Baixo Xingu.

Em relação à educação a cidade de Altamira oferece todas as modalidades de ensino: creche,


pré-escolar fundamental médio, profissionalizante, superior e o Ensino de Jovens e Adultos –
EJA. No entanto, sua população apresentou, em 2004, uma média de 3,96 anos de estudo
(SEPOF/DIEPI/GEDE, 2004) o que corresponde ao ensino fundamental da 1ª à 4ª séries,
incompleto e pode ser considerada uma situação de analfabetismo funcional.

Altamira possui cinco hospitais – um estadual, um municipal, três privados vinculados ao


SUS e uma clínica exclusivamente privada – dos quais dois, segundo o Diagnóstico

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Socioeconômico da AII (Volume 9 deste EIA), possuem a maior resolubilidade no conjunto
dos municípios analisados no referido diagnóstico. Existe até um superávit na oferta de leitos
hospitalares que atende aos nove municípios circunvizinhos da regional de saúde de Altamira
(Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Placas, Porto de Moz, Uruará, Senador José
Porfírio e Vitória do Xingu).

As unidades de saúde localizadas na cidade possuem recursos avançados que realizam


procedimentos de alta complexidade como: Tomografia Computadorizada, UTI Adulto,
Infantil e Neonatal, Neurocirurgia etc. A recente implantação do Hospital Regional da
Transamazônica permitiu a realização das maiorias dos procedimentos de alta complexidade,
reduzindo grandemente a necessidade de remoções para Belém.

O efetivo da Polícia Militar segundo a Secretaria de Segurança Pública do Pará é de 220


policiais, insuficiente para atender a sua população, conforme já analisado no Diagnóstico da
(Volume 9 deste EIA), onde se utilizou como parâmetro recomendável a relação
habitante/policial equivalente a 1/300, menor, portanto, que o recomendado pela ONU, que é
de um policial para cada 250 habitantes. Considerando a população total, de 92.105 habitantes
em 2007, o déficit é de quase 40%. O Batalhão da Polícia Militar dispõe de apenas um quartel
e sete viaturas. A Polícia Civil conta com uma delegacia, duas viaturas e um efetivo de 20
funcionários (policiais, escrivão e delegados) e a Guarda Municipal criada em 2003 conta
com efetivo de 65 guardas, para realizar atividades relacionadas à: segurança e/ou proteção do
prefeito e/ou outras autoridades; ronda escolar; proteção de bens, serviços e instalações do
município; patrulhamento ostensivo; defesa civil; proteção ambiental; auxílio no ordenamento
do trânsito; controle e fiscalização de comércio de ambulantes; auxílio à Polícia Militar e
Civil; ações educativas junto à população; patrulhamento de vias públicas; auxílio ao público.

O 9º Grupamento de Bombeiro Militar – GBM também atende a toda região de influência de


Altamira. O seu efetivo é composto por dois oficiais e 36 praças, que dispõem de um veículo
de combate a incêndio, com capacidade de 7.000 litros de água, um veículo para salvamento e
uma moto 48 - 250 cilindradas para vistorias. Existe ainda o 51º Batalhão de Infantaria de
Selva (BIS), um Posto da Polícia Federal e do Serviço de Vigilância da Amazônia.

Com relação à justiça, há uma Comarca com três varas e três promotorias. O Fórum existente
depende de um juiz substituto, que despacha periodicamente, não dispondo de um juiz titular
Em Altamira, o uso do solo é mais diversificado que nos demais compartimentos urbanos da
AID, apresentando além dos usos residenciais (que predominam), comerciais e de serviços
básicos, usos para o lazer, institucionais, culturais e industriais.

O Plano Diretor, atualmente em processo de revisão, previu as seguintes áreas:

− Zonas Industriais foram previstas ao longo da Rodovia Transamazônica, da rodovia


Ernesto Accioly e da Avenida Tancredo Neves

− Zonas de Interesse Paisagístico foram definidas nos três igarapés

− Zona de Orla, ao longo da margem do Rio Xingu, para o incremento de atividades


turísticas e recreativas.

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− Zona Central Histórica foi delimitada com o objetivo de incentivar a proteção do
patrimônio cultural.

− Zonas Residenciais, Comerciais e Mistas, em suas diversas categorias, distribuem-se pelo


tecido urbano, destacando-se a proposição de incentivar a verticalização em uma área
situada próxima a Orla e nas vizinhanças do Centro Histórico.

O Perímetro Urbano, definido nesse Plano Diretor, avança sobre a área rural, em três direções:
(i) Sudoeste englobando o aeroporto; (ii) Leste abrangendo a Gleba do Exército onde está
instalado o 51º Batalhão de Selva; e (iii) Sudeste incorporando o Rio Xingu, a ilha do Arapujá
e a margem direita onde aporta a Balsa que dá acesso à Região do PA Assurini.

O rio e os igarapés estão intimamente ligados aos hábitos locais, principalmente pela
reconstituição da origem populacional e sua relação com as águas. Mulheres e crianças são os
maiores freqüentadores dos igarapés. As atividades domésticas básicas têm como suporte as
águas do rio e dos igarapés: neles são lavados as roupas, as louças, as bicicletas e os animais
usados na tração das carroças.

A sociedade de Altamira é extremamente atuante no que se refere a sua participação nos


Movimentos Sociais. A agenda de lutas sociais e das manifestações públicas na
Transamazônica envolve mais de 100 entidades. São representativas das associações de
pequenos agricultores, cooperativas de pequenos agricultores, sindicatos de trabalhadores
rurais, demais sindicatos, movimentos de mulheres, entidades religiosas, organizações não-
governamentais e movimentos ambientalistas, além das entidades vinculadas à Igreja
Católica.

Brasil Novo: o município está situado no sudoeste do Estado do Pará, às margens da Rodovia
BR-230 - Transamazônica que o corta no sentido Leste-Oeste em uma extensão de
aproximadamente 30 km, entre os km 40 e 70, no trecho Altamira – Itaituba. A sede
municipal está localizada no km 46, abrangendo ambas as margens dessa rodovia. A partir
dessa rodovia de cinco em cinco km no sentido norte-sul partem os “travessões” ou estradas
vicinais para os assentamentos rurais, formando uma malha viária em forma de “espinha de
peixe”. Nos entroncamentos da rodovia com os travessões situados no km 28 e no km 34
existem agrovilas para apoio aos colonos, assentados em módulos agrícolas de 100, 500 e
3.000 hectares.

A Transamazônica é a única via de acesso rodoviário a Brasil Novo. O município possui cerca
de 2.500 km de estradas vicinais. Há uma pista de pouso na cidade ao lado da rodovia,
comportando apenas aeronaves simples de médio e pequeno porte.

Brasil Novo surgiu como um dos assentamentos para a colonização da Amazônia, promovidos
pelo Programa de Integração Nacional - PIN, instituído no ano de 1970 e implantado, a partir
de 1971, pelo Governo Federal. Foi criada em 1971, com 48 (quarenta e oito) casas e o nome
de Agrovila - km 46. No ano seguinte, passou a Agrópolis, centro urbano agroindustrial,
cultural e administrativo com a finalidade de apoiar a integração social dos colonos. As
Agrópolis foram propostas como núcleos de serviços urbanos de apoio a um conjunto de
Agrovilas.

Brasil Novo foi a única Agrópolis implantada nas margens da Transamazônica, entre Altamira
e Itaituba, ocupando inicialmente três lotes de 100 ha, e apesar de ter sido alçada à condição
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de sede municipal continua cumprindo o seu papel original de apoio às agrovilas existentes no
município.

Foram construídas ruas, o armazém da CIBRAZEM (Companhia Brasileira de


Armazenamento, que guardava a produção de grãos até serem vendidos), a COBAL
(Companhia Brasileira de Alimento: fornecedora de alimentos para os colonos recém-
chegados ao PIC), a ACAR-PARÁ, hoje EMATER (Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado do Pará, que dava assessoria agrícola para os colonos); foram
construídas, também, a Escola Brasil Novo, a sede do INCRA, a sede da FNS (Fundação
Nacional de Saúde - SESP), a sede da ECT (Empresa de Correios e Telégrafo), a maioria das
casas dos colonos e as agrovilas das vicinais.

A fertilidade do solo permitiu o desenvolvimento do setor agrícola em Brasil Novo ao passo


em que a posição geográfica, como local de passagem de caminhões e ônibus, atraiu a
instalação de estabelecimentos de comércio e de serviços, provocando um crescimento
demográfico da Agrópolis.

Em 1988 teve início uma mobilização popular, pedindo a criação do Município de Brasil
Novo, fato que ocorreu em abril de 1991.

O município não possui Plano Diretor Municipal e o uso predominante é o residencial,


comercial e de serviços de apoio ao transporte rodoviário. A densidade de ocupação é maior
no núcleo original e diminui, com muitos lotes vazios, nas áreas de expansão situadas a Leste
e Nordeste.

Brasil Novo tem uma população de 7721 habitantes. O crescimento populacional, no período
entre 2000 e 2007 foi de 77,0%, indicando uma taxa de 8,46% a.a. Este crescimento elevou a
densidade demográfica da sede municipal de 1.419,2 hab./km2 para 2506,8 hab./km2 no
mesmo período. Este dado deve ser relativizado, no entanto, em função do movimento de
êxodo observado na área rural dos municípios que fazem parte da AID, expresso na taxa de
crescimento geométrico negativo da ordem de -0,3% a.a, da qual Brasil Novo faz parte.

A população tem perfil jovem, representado pela presença de cerca de 63.0% com idades
correspondendo às faixas de até 29 anos. A população feminina é ligeiramente superior ao
total da população masculina, apresentando percentual de 50,6%. A população em idade
escolar (5 a 14 anos) corresponde a 22,4% do total de habitantes.

As atividades econômicas urbanas em Brasil Novo ligam-se predominantemente ao comércio


e aos serviços. Existem algumas serrarias beneficiadoras de madeira e algumas marcenarias.
Um laticínio encontra-se na parte nova da cidade, do lado esquerdo da rodovia, no sentido
Altamira – Itaituba. Há, também, duas cerâmicas e pequenas confecções de roupas, cestos de
cipó ou palha, vassouras e outros objetos utilitários.

Deve-se destacar que parte da população vive do mercado informal: venda de hortaliças,
produtos manufaturados, remédios naturais, utensílios de cozinha, produtos de beleza,
fabricados nos domicílios.

O abastecimento de gêneros alimentícios, roupas, remédios e artigos diversos é feito por dois
supermercados simples e vários mercadinhos e mercearias, além de lojas, armarinhos e e
farmácias.

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Toda a cidade e abastecida com água encanada. A captação da água para boa parte da cidade é
feita em dois poços do tipo “Amazônia” com sistema de filtragem no próprio poço e
distribuição direta daí até as edificações. Os bairros mais afastados são abastecidos por meio
da captação em poços profundos, com reservatórios elevados de onde a água é distribuída às
residências.

Não há qualquer sistema de esgotamento sanitário na cidade. As edificações adotam, em


grande parte, o sistema de fossas sépticas, havendo, entretanto, nas áreas mais precárias o uso
de fossas negras. O lixo é coletado diariamente e levado a um depósito a céu aberto (lixão),
situado a 2 km do centro da cidade. É preciso sublinhar que há casas com moradores a cerca
de 300 m do lixão.

Na parte central da cidade, quase toda pavimentada, existem alguns trechos com drenagem
pluvial. Por vezes, os moradores lançam o esgotamento sanitário de suas residências nessa
rede. Os demais bairros não têm pavimentação, calçada ou drenagem.

Existe rede de energia elétrica e iluminação pública em toda a cidade, com energia gerada em
Tucuruí e trazida pelo Tramo-Oeste. O “linhão” passa pela cidade entre o Parque de
Exposições e o bairro Vitória Régia.

Brasil Novo dispõe de sistema de telefonia fixa e móvel e de uma agência dos Correios. Há
telefones públicos distribuídos pelas ruas da cidade. A Internet é acessada pelo provedor
Amazoncoop, que atende a toda a região.

Há uma rádio comunitária FM e a cidade conta com a retransmissão via satélite de 02 canais
de televisão aberta (Globo – TV Liberal e TV Cultura). Boa parte da população usa antena
parabólica para a captação de outros canais.

Há 05 escolas na zona urbana, todas em muito boas condições de conservação atendendo


alunos da Educação Infantil; Ensino Fundamental e Ensino Médio. Existe uma Biblioteca
Pública Municipal que disponibiliza 2.100 títulos diversificados.

A rede de serviços de saúde é bem estruturada, com um bom hospital privado com 95 % dos
leitos vinculado ao SUS, que é referência para vários municípios, centro de especialidades
médicas e CAPS – I. Possui 18 médicos de várias especialidades médicas, inclusive
traumatologia. Possui uma das maiores coberturas do PSF da AID, de quase 60 %. Há ainda
um Centro Municipal de Saúde Pública, onde trabalham: um médico, um enfermeiro padrão,
dois odontólogos, um laboratorista e atendentes de saúde.

Os espaços para entretenimento e lazer são poucos. Há duas quadras esportivas para uso da
população, um campo de futebol e um Complexo Esportivo Cultural na cidade. O Parque de
Exposições Agropecuárias é utilizado durante a semana de aniversário da cidade.

Existe um Centro de Convivência (ou Casado Idoso), com áreas de lazer e espaços para
diversas atividades. Há ainda a Praça “Geraldo Barbosa” bastante freqüentada, principalmente
pela juventude, onde estão instalados estabelecimentos como churrascarias, pizzarias, bares e
lanchonetes.

A Delegacia de Polícia e a segurança local sãofeitas por 05 (cinco) policiais militares e 03


(três) três policiais civis, munidos de duas viaturas. A justiça está representada pelo Ministério

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Público, instalado no Fórum local, com Cartório de Único Ofício que atende a todas as
questões judiciais do município.

Há na cidade uma agência do Banco do Brasil, o Bradesco, um Banco Postal (Correios) e um


posto de atendimento da Caixa Econômica Federal.

O município dispõe de Lei Orgânica, Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e do


Orçamento Anual, estas duas últimas tendo mais o caráter de cumprimento da obrigação legal
que de instrumentos de gestão efetiva.

A estrutura administrativa da Administração Municipal é bem simples, funcionando com o


Gabinete do Prefeito, uma Tesouraria, e as seguintes Secretarias: de Administração e
Finanças, da Saúde, de Educação, Cultura e Desportos; de Agricultura, Turismo, Meio
Ambiente e Mineração do Trabalho e Promoção Social.

O município, entretanto, não dispõe de Plano Diretor, bases cartográficas, legislação


urbanística ou edilícia, sistema estruturado de informações municipais nem serviço de
fiscalização atuante ou de dívida ativa implantados.

A principal receita municipal é oriunda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) que,
em 2006, foi de R$ 5.445.797,92 (cinco milhões quatrocentos e quarenta e cinco mil
setecentos e noventa e sete reais e noventa e dois centavos); a arrecadação do Imposto
Territorial Rural (ITR) no mesmo ano ficou em R$ 12.137,35 (doze mil cento e trinta e sete
reais e trinta e cinco centavos), segundo dados do IBGE.

Áreas Rurais da Margem Esquerda: a margem esquerda do Reservatório do Xingu é


caracterizada pela presença de 11 localidades listadas no QUADRO 9.4-1, 02 povoados
(Agrovila Princesa do Xingu e Agrovila Carlos Pena Filho) e 01 outro aglomerado (Agrovila
Vale Piauiense). Além dessas localidades, foram identificados oito núcleos de referência
rural, classificados segundo a identidade espacial e presença de equipamentos sociais. A
denominação dos núcleos de referência rural foi definida de acordo com as informações
obtidas durante as pesquisas socioeconômicas e socioantropológica e, assim como observado
nos outros compartimentos, remete a elementos territoriais, como travessões e rios, ou
aspectos religiosos.

A Área Diretamente Afetada (ADA) corresponde a terras inseridas nos municípios de


Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu, abrangendo um total de 1.241 imóveis rurais
(quase todos lotes originários de assentamentos do INCRA), pertencentes a 912 proprietários.
Ressalta-se que os núcleos de referência rural São João Batista e Agrovila Olavo Bilac,
embora estejam localizados fora da dos limites da AID, foram incluídos no diagnóstico em
função de sua proximidade e das relações sociais, econômicas e culturais com as outras
localidades da AID.

Na margem esquerda, o compartimento do Reservatório do Xingu caracteriza-se por


apresentar uma estrutura fundiária remanescente do projeto de colonização iniciado na década
de 1970. Neste projeto os lotes seriam acessados por vicinais perpendiculares à
Transamazônica implantadas a cada 5 km, entre os quais se situam as agrovilas Carlos Pena
Filho, Vale Piauiense, Princesa do Xingu e Olavo Bilac. Nas margens do Rio Xingu, essa
estrutura encontra-se bastante alterada, muitos lotes hoje foram agrupados em grandes
propriedades como poderá ser visto no Diagnóstico da Área Diretamente Afetada.

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É importante mencionar a concentração de localidades no município de Altamira, na região
localizada ao norte da Rodovia Transamazônica (BR-230) e em seu entorno. As pesquisas
realizadas identificaram apenas duas localidades no município de Brasil Novo e uma Agrovila
Carlos Pena Filho na divisa entre esses municípios. A única localidade distante do eixo da
Rodovia Transamazônica é o Núcleo de Referência Rural Santa Juliana, núcleo este
localizado no remanso do Reservatório do Xingu.

Destaca-se que todos os núcleos e povoados identificados no município de Altamira estão


localizados nas bacias dos igarapés Ambé e Panelas, que atravessam a cidade. Algumas delas,
portanto, também possuem modos de vida tipicamente ribeirinhos e desenvolvem atividades
econômicas relacionadas aos rios, às águas. É das águas do rio que as pessoas retiram o seu
sustento, realizam o seu lazer e organizam sua vida. Além disso, para essas comunidades o rio
é praticamente a única via de locomoção, como ocorre no Núcleo de Referência Rural Santa
Juliana.

Na realidade, a configuração dos modos de vida amazônicos por si só impõem formas


especificas de sobrevivência e organização social, se considerados os “mundos” das águas, da
várzea, da floresta e da terra firme e o conjunto de estratégias e práticas sociais aí dominantes.
É importante considerar que a dinâmica desses modos de vida se constrói na possibilidade de
recriação permanente das formas de sobrevivência, processo este que corresponde a uma
modalidade de reordenação social: famílias se deslocam segundo o ritmo das vazantes e
enchentes de várzeas e rios ou segundo os caminhos do extrativismo. Como se os tempos e os
espaços se definissem de forma associada e dependente – o tempo da várzea, o tempo da
floresta e também o tempo da cidade/núcleo urbano, para onde se dirigem, seja para
comercializar sua produção, seja para atender suas necessidades básicas.

As localidades identificadas apresentam ocupação recente, sendo o núcleo Santa Juliana um


dos que registram a ocupação mais antiga, cerca de 40 anos de existência.

A cobertura vegetal já foi bastante alterada e fragmentada correspondendo a mais da metade


da área total da margem esquerda, tendo sido substituída por pastagens e capoeiras.

Predominam as atividades econômicas voltadas para a pecuária. Ao longo da


Transamazônica, próximo à divisa dos dois municípios verifica-se a presença da cultura do
cacau. A essas atividades devem ser acrescentadas aquelas relacionadas ao extrativismo
mineral e vegetal e à pesca.

Destacam-se as culturas do cacau nas Agrovilas Olavo Bilac e Vale Piauiense e nos núcleos
de referência rural Gaviãozinho e Sagrado Coração de Jesus (Pioneira); da mandioca e seus
derivados (goma e farinha de tapioca) na Agrovila Princesa do Xingu e no Núcleo de
Referência Rural Serrinha; a extração da borracha no núcleo Santa Juliana (onde também é
praticada a pesca) e a oleicultura na Agrovila Carlos Pena Filho.

Quanto à área dos imóveis rurais a ADA e sua distribuição por utilização das terras,
destacam-se duas categorias: a mata natural e o pasto plantado. Do total de áreas dos imóveis
rurais pesquisados, 45,62% representam áreas de pasto plantado e 35,0% são áreas de mata
natural. O expressivo percentual de áreas de pasto plantado é indicativo de que uma das
principais atividades econômicas praticadas é a pecuária bovina.

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As áreas destinadas ao cultivo representam uma pequena parcela do total de áreas declaradas,
apenas 7,34%, com maior destaque para as áreas de cultivos permanentes – 5,51% do total.

Quanto à utilização das terras situadas nos imóveis rurais onde há produção agropecuária, foi
registrada uma área total de 16.886,62 ha, distribuídos entre áreas de cultivo, matas, pastos,
entre outros usos. A principal utilização das terras é representada pelas áreas de pasto, 72,89%
do total de áreas declaradas, num total de 12.307,84 ha. A segunda principal utilização é
representada pelas áreas de matas (15,69%), seguida pelas áreas para cultivo (10,7%),
perfazendo um total de 1.806,42 ha. Entre as áreas de cultivo, predominam as áreas utilizadas
para cultivos permanentes, que representam quase 70% do total de áreas destinadas para este
fim.

O Município de Altamira concentra 67,38% do total de áreas de pasto e 46,4% do total de


áreas de mata dos imóveis rurais da margem esquerda do Rio Xingu onde há produção
agropecuária. Salienta-se, ainda, que as áreas de pasto representam 80,41% do total de áreas
declaradas nos imóveis produtivos desse Município.

Dentre os produtos cultivados considerando a área destinada a cada lavoura, destaca-se a


pupunha, com 705,0 ha ou 36,71% do total de áreas cultivadas. O cacau aparece em segundo
lugar com relação à área cultivada, ocupando 266,57 ha ou 13,88% do total. Os demais
produtos das lavouras permanentes ocupam áreas menos significativas, destacando-se a
banana (9,53%), a pimenta (6,38%) e o café (3,46%).

Quanto às lavouras temporárias, destacam-se os cultivos do arroz, do milho, do feijão e da


mandioca, correspondentes a áreas de 183,42 ha, 138,63 ha, 121,25 ha e 78,51 ha,
respectivamente, ou seja, 9,55% do total de áreas cultivadas são ocupados por lavouras de
arroz, 7,22% pelas de milho, 6,31% são destinados ao cultivo do arroz e 4.09% ao cultivo da
mandioca.

Em Brasil Novo, destaca-se a comercialização da pupunha (25.855 unidades) e a banana (300


kg.).

No Município de Vitória do Xingu, os principais produtos comercializados em kg são o cacau


(52,53%); a banana (34.99%); o café (11.41%); e a pimenta (1.07), considerando como total
entre o conjunto desses produtos – 89.365 kg. Destaca-se, ainda, a comercialização da
totalidade da pupunha produzida neste município.

A pecuária na ADA é uma atividade econômica expressiva. Registrou-se um efetivo total de


26.952 cabeças, sendo 69,77% de bovinos, 0.48% de bubalinos, 1,67% de eqüinos, 1.99% de
suínos, 23,42% de galináceos e 2.67% de caprinos. Ainda de acordo com os dados
apresentados para o conjunto dos tres municípios (verifica-se o caráter predominantemente
comercial da produção pecuária, visto que, do efetivo total, 61,98% são destinados à
comercialização e apenas 38,02% são destinados à subsistência dos produtores.

Os moradores da margem esquerda do Reservatório do Xingu têm na sede urbana do


município de Altamira a referência para atendimento médico e outras demandas, como
comércio e serviços. Ressalta-se que, nessas localidades, a relação de dependência com a sede
municipal é ainda mais marcante em função da grande proximidade.

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A infra-estrutura de serviços presente nessas localidades é melhor do que nas localizadas nos
outros compartimentos. Entretanto, apesar do maior número de equipamentos sociais e
estabelecimentos comerciais disponíveis, o único equipamento social comum a todas as
localidades pesquisadas é a escola de ensino fundamental.

É importante ressaltar que três das 11 localidades da margem esquerda contam com mais de
uma unidade de ensino, a saber: Agrovila Princesa do Xingu, Agrovila Vale Piauiense e
núcleo São João Batista.

Quanto aos postos de saúde, ao contrário do que foi observado nos outros compartimentos,
apenas duas das 10 localidades identificadas não dispõem desse equipamento: os núcleos de
referência rural Sagrado Coração de Jesus (Pioneira) e Santa Juliana. Destaca-se que, em
algumas localidades, o Posto de Saúde está instalado no mesmo prédio da escola municipal,
como em Santo Antônio e Serrinha.

Deve-se salientar, ainda, que Santa Juliana, possivelmente em função de sua localização
muito próxima ao Rio Xingu e maior isolamento em relação à Rodovia Transamazônica e às
áreas mais desenvolvidas, destaca-se dentro do compartimento do Xingu como a localidade
onde a infra-estrutura de serviços é a mais precária, dispondo apenas de um equipamento
social, a escola municipal de ensino fundamental.

Há um grande número de estabelecimentos comerciais nas localidades, sobretudo na margem


esquerda do Reservatório do Xingu. A única localidade que não conta com nenhum
estabelecimento comercial é Santa Juliana. Destaca-se a Agrovila Princesa do Xingu, que
possui 05 estabelecimentos comerciais. Tais estabelecimentos, em geral, são bares e pequenos
armazéns ou mercados, que comercializam os produtos necessários ao atendimento das
necessidades mais básicas da população, como alimentação e higiene.

As igrejas são, depois dos estabelecimentos comerciais, os equipamentos mais comuns na


margem esquerda, estando presentes em todas as localidades, à exceção do núcleo Santa
Juliana. Entre todas as localidades que dispõem desse equipamento, apenas o núcleo Sagrado
Coração de Jesus (Pioneira) possui somente 01 templo religioso. O núcleo Gaviãozinho conta
com a presença de 04 igrejas.

A margem esquerda do Reservatório do Xingu se destaca em relação as áreas da AID por


contar com um número maior de equipamentos voltados ao lazer, especialmente os
relacionados à prática de esportes. Além disso, há diversas praias, principalmente nas
proximidades da Rodovia Transamazônica situada no entorno da cidade de Altamira. Ainda
com relação ao lazer, as Agrovilas Princesa do Xingu e Olavo Bilac destacam-se pela
presença de campos de futebol, quadra de esportes e salão de festas. Destaca-se, ainda, no
Núcleo de Referência Rural Santa Juliana, a existência de uma praia de grande importância
turística.

Esta porção do compartimento do Reservatório do Xingu também se destaca em relação ao


restante dos outros compartimentos por apresentar maior número de equipamentos sociais
relacionados à educação, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, presente nas
Agrovilas Vale Piauiense, Carlos Pena Filho e Olavo Bilac, além do Núcleo de Referência
Rural Santo Antônio.

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A maior parte das moradias não possui banheiro, sendo o esgotamento sanitário realizado
através de fossas rudimentares. No que se refere ao destino do lixo produzido, este geralmente
é queimado, enterrado ou lançado a céu aberto.

Quanto ao abastecimento de água, diferentemente dos outros compartimentos, há um maior


número de localidades nas quais a captação de água não é individual, havendo rede de
abastecimento de água nas Agrovilas Carlos Pena Filho, Princesa do Xingu e Olavo Bilac.
Nas outras localidades, a água para utilização doméstica é proveniente de poço e nascente
(60%) e dos igarapés (10%), sendo a forma de captação individual.

Sobre o fornecimento de energia elétrica, tem-se que 90% das localidades dispõem desse
serviço, sendo o fornecimento realizado pela CELPA. Apenas o Núcleo de Referência Rural
São João Batista não dispõe de energia elétrica.

O padrão construtivo das moradias é bastante simples, mas pode-se dizer que relativamente
superior ao observado nos outros compartimentos, encontrando-se um maior número de casas
construídas em alvenaria. Entretanto, em algumas localidades, como o Núcleo de Referência
Rural Santa Juliana, as moradias são, em sua maioria, casas de madeira, cobertas com telhado
de amianto e palha.

O padrão construtivo das habitações das famílias residentes nos imóveis rurais da margem
esquerda do Rio Xingu é bastante rudimentar. As casas geralmente são de madeira, com piso
de cimento ou terra batida e cobertas com telhas de amianto ou de madeira. São raras as casas
construídas em alvenaria e que possuam melhor padrão de acabamento. Além disso, as
condições sanitárias são precárias, os domicílios não são ligados à rede geral de
abastecimento de água e são poucos aqueles ligados à rede geral de energia elétrica.

Na ADA a maior parte das das moradias são construídas em madeira, havendo, ainda,
construções mais rudimentares, como as de taipa e de palha. As instalações sanitárias das
residências são predominantemente constituídas por fossas rudimentares.

Quanto à forma de abastecimento de água dos domicílios destaca-se o consumo de água


diretamente de poços rasos (68,49%), em sua maioria constuídos de forma rudimentar. Outra
forma utilizada para abastecimento de água é o consumo diretamente o Rio Xingu e
proveniente de nascentes. O lixo é em grande parte queimado, sendo praticado por cerca de
80% dos domicílios. O restante do lixo ou é enterrrado ou jogado em terreno baldio.

Os principais problemas apontados pelos moradores entrevistados são a ausência de


esgotamento sanitário (90%), falta de policiamento e Posto de Saúde – em Santa Juliana. Ao
contrário do que foi observado nos outros compartimentos não foram registradas reclamações
quanto às condições das estradas de acesso.

Margem Direita do Compartimento Reservatório do Xingu

Na margem direita o compartimento é caracterizado pela presença de 11 localidades, sendo


classificado pelo IBGE apenas 01 aglomerado - Agrovila Sol Nascente -, não havendo
povoados neste compartimento. As outras localidades são núcleos de referência rural.

A ocupação da área foi iniciada a partir das margens do rio Xingu, através dos igarapés ou da
abertura de ramais como o Palhal, Ramal dos Crentes, Gorgulho da Rita, Cocal, dentre outros.

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Na década de 90 foi criado o Projeto de Assentamento Assurini, que acentuou a ocupação
dirigida no interior da gleba com a construção da Agrovila Sol Nascente e da Transassurini,
rodovia de integração do referido projeto.

As pesquisas realizadas indicam que a margem direita do compartimento Reservatório do


Xingu é a que possui a ocupação mais recente entre todo os compartimentos que compõem a
AID, referindo-se a um período que varia entre 05 e 35 anos, sendo este último o tempo de
existência registrado no Núcleo de Referência Rural Mangueiras (comunidade de Cana
Verde). Em seguida, tem-se Paratizinho, com aproximadamente 30 anos e o Travessão dos
Cajá, que se constituiu há cerca de 25 anos. O núcleo de constituição mais recente é o
Transassurini, que possui cerca de 07 anos.

A população da margem direita do Reservatório do Xingu na AID é de 3.409 pessoas, sendo


que entre 2000 e 2007 houve um pequeno crescimento populacional, da ordem de 1,73% a.a.
A densidade demográfica observada acompanha os índices das zonas rurais da região.

A população migrante residente na área, correspondendo a cerca de 30% da população total, é


oriunda, em mais de 85% dos casos, de outros municípios do Pará, conforme dados do IBGE.

Quanto ao número de famílias residentes, as entrevistas realizadas durante as pesquisas


socioeconômicas e sócio-antropológicas indicam a presença de, aproximadamente, 265
famílias nas localidades pesquisadas, sendo a distribuição das famílias entre as localidades
bem mais equilibradas do que a observada nos outros compartimentos.

No núcleo Travessão dos Cajá residem cerca de 80 famílias; no Núcleo de Referência Rural
Mangueiras residem 46 famílias, no Travessão Paratizinho, em torno de 20 famílias, no
Transassurini, 15 famílias. Nos outros núcleos o número de famílias residentes gira em torno
de 10 ou menos.

Assim como observado nas localidades identificadas nos outros compartimentos, os


moradores das localidades dessa porção do Reservatório do Xingu têm na sede urbana do
município de Altamira a referência para atendimento médico e outras demandas, como
comércio e serviços. Ressalta-se que, nas localidades situadas nesta porção do compartimento
do Reservatório do Xingu, assim como foi observado na margem esquerda, a relação de
dependência com a sede municipal é ainda mais marcante em função da proximidade.

Outra referência importante para a população dessa margem é a Agrovila Sol Nascente, que,
dotada de um maior número de equipamentos sociais e estabelecimentos comerciais,
desempenha, depois da cidade de Altamira, o papel de centro regional, especialmente quando
considerada a sua localização, na principal via de acesso da Subárea, a Transassurini.

A margem direita do Reservatório do Xingu é caracterizada pela grande concentração de


localidades e de pessoas, quando comparado com os outros compartimentos. Destaca-se que,
de todas as localidades situadas nessa porção do Reservatório do Xingu, as únicas localizadas
às margens do Rio Xingu são os núcleos de referência rural Transassurini e Mangueiras (Cana
Verde), sendo todas as outras localizadas nos principais travessões que cortam o
compartimento e também a Rodovia Transassurini.

As principais atividades econômicas desenvolvidas na margem direita do Reservatório do


Xingu são a agricultura e a pecuária. (Destaca-se a prática da lavoura branca no Núcleo de

6365-EIA-G90-001b 127 Leme Engenharia Ltda.


Referência Rural Transassurini, a produção de cacau nos núcleos Travessão do Espelho e
Travessão Pimentel (Quatro Bocas), sendo que, neste último, as pesquisas realizadas
identificaram ainda a criação de galinhas como atividade econômica. Em nenhuma das
localidades pesquisadas a pesca foi mencionada como atividade econômica desenvolvida.

As benfeitorias encontradas em maior número nos imóveis rurais localizados na margem


direita do Rio Xingu são as habitações, entre casas de colono e casas sede, ocupadas ou não.
Parte dessas casas casas estão desocupadas, situação que pode estar relacionada com um
número cada vez mais comum entre os proprietários e posseiros da região de morar nas sedes
municipais ou povoados, ou, ainda, ser conseqüência do processo de concentração das terras e
diminuição da população, verificado nas áreas rurais de ocupação consolidada na região.

Outra benfeitoria verificada na área refere-se ao número de portos/atracadouros utilizada para


embarque de pessoas e mercadorias.

Assim como observado nos outros compartimentos, foi registrado precariedade da infra-
estrutura de serviços, em especial com relação aos serviços de saúde. Em relação aos
equipamentos de educação, com exceção do núcleo Transassurini, os demais núcleos
possuem, ao menos, uma escola.

Assim como a margem esquerda, a margem direita também se destaca em relação aos outros
compartimentos pela presença de equipamentos sociais relacionados à educação. Entretanto,
além do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, presente na Agrovila Sol
Nascente e no Núcleo de Referência Rural Travessão Pimentel (Quatro Bocas), na margem
direita do Reservatório do Xingu foi registrada a Casa do Professor, equipamento de apoio à
educação encontrado na Agrovila Sol Nascente.

Entre todos os compartimentos, a margem direita é a única cujas localidades dispõem de


algum equipamento relacionado às atividades econômicas. Há uma marcenaria no Núcleo de
Referência Rural Travessão do Espelho e um posto de apoio ao produtor na Agrovila Sol
Nascente.

Assim como observado na margem esquerda, não há infra-estrutura de saneamento básico em


nenhuma das localidades, sendo que grande parte das moradias não possui nem mesmo
banheiro, sendo o esgotamento sanitário realizado através de fossas negras. No que se refere
ao descarte do lixo, este geralmente é queimado, enterrado ou lançado a céu aberto.

Quanto ao abastecimento de água, nesse compartimento a captação de água é exclusivamente


individual, não sendo identificada, nas pesquisas realizadas, rede de abastecimento de água
em nenhuma das 11 localidades. A água para utilização doméstica é proveniente de poço em
100% das localidades situadas na margem direita, diferentemente dos outros compartimentos,
nos quais a água é também captada nos igarapés, nascentes e no rio.

Outra diferença importante entre a margem direita e os outros compartimentos da AID,


incluindo a margem esquerda do Reservatório do Xingu diz respeito à disponibilidade de
energia elétrica. Nenhuma das localidades da margem dispõe desse serviço, nem mesmo a
Agrovila Sol Nascente. Existem, nas localidades, alguns geradores. Não foram identificados,
também, serviços de telefonia fixa em nenhuma das localidades.

6365-EIA-G90-001b 128 Leme Engenharia Ltda.


Na ADA, as instalações sanitárias das residências são predominantemente constituídas por
fossas rudimentares. O restante das fazem uso de fossas sépticas.

Quanto à forma de abastecimento de água dos domicílios destaca-se o consumo de água é


proveniente em grande parte de poços, (em sua maioria rudimentar. A segunda forma mais
comum é o consumo de água diretamente do Rio Xingu, e de água proveniente de nascentes.

Quanto à disposição dos resíduos sólidos destaca-se a queima predominante do lixo. A


exemplo dos outros compartimentos ambientais jogar o lixo em terreno baldio e enterrar é
outra prática comum entre os moradores.

O padrão construtivo das moradias é bastante simples e rudimentar, semelhante ao encontrado


nos outros compartimentos. Na maioria das localidades (as casas são construídas com tábuas e
cobertas com telhas de amianto. Em algumas localidades, como na Agrovila Sol Nascente e
no Núcleo Travessão do Cajá, encontram-se casas construídas em alvenaria, também cobertas
com telhas de amianto.

Em relação aos equipamentos sociais e serviços disponíveis, em todos os núcleos, com


exceção do Transassurini, todos dispõem de uma escola, sendo que o Travessão Pimentel
(Quatro Bocas), dispõem de 3 unidades de ensino. Apenas os núcleos de Itapuama e
Babaquara dispõem de posto de saúde. Deve-se ressaltar que no núcleo Transassurini não
existem equipamentos sociais, apenas estabelecimentos comerciais.

O analfabetismo é elevado na ADA, situação esta verifica em de mais de 18% das pessoas.
Em conjunto analfabetos e aqueles que possuem ensino fundamental de 1ª a 4ª série
incompleto, tem-se 59,7% da população total da margem direita do Rio Xingu, o que é um
percentual alto e que mostra a falta de instrução formal da população local. O acesso à
educação é dificultado por condições socioeconômicas, como baixa renda e à precariedade
dos acessos às cidades, onde há maior oferta de ensino, entre outros fatores.

As igrejas são, depois dos estabelecimentos comerciais, os equipamentos mais comuns nessa
porção do Reservatório do Xingu , assim como no restante dos outros compartimentos
estando presentes na maior parte das localidades, à exceção dos núcleos Transassurini e
Mangueiras (Cana Verde). Destacam-se os núcleos de referência rural Travessão dos Cajá,
Travessão do Espelho e Ramal dos Crentes, que possuem mais de um templo religioso.

Em relação a outros equipamentos, as localidades aqui apresentadas são extremamente


deficientes em equipamentos voltados ao lazer da comunidade, tais como campos de futebol e
quadras poliesportivas. Em Mangueiras (Cana Verde) há o único cemitério da região.

Nos núcleos de referência rural, foi identificada a presença de outros equipamentos sociais
relacionados à educação, como, no Núcleo de Referência Rural Travessão Pimentel (Quatro
Bocas), o PETI. Foi identificado, também, um equipamento voltado a atividades econômicas:
uma marcenaria no Núcleo de Referência Rural Travessão do Espelho.

Por fim, é importante salientar a existência de um porto no Núcleo de Referência Rural


Transassurini, que serve de atracadouro para os barcos que realizam a travessia do Rio Xingu
em direção à cidade de Altamira. Em função da presença do porto, trata-se de um local de
fluxo intenso de pessoas. Em alguns núcleos existem associações e cooperativas, como nos

6365-EIA-G90-001b 129 Leme Engenharia Ltda.


Travessões Cana Verde e das Mangueiras (que desemboca na Transassurini) e no Travessão
Assurini.

A área diretamente afetada (ADA) pelo AHE Belo Monte nas Ilhas do Rio Xingu corresponde
a áreas inseridas nos município de Altamira e Vitória do Xingu, abrangendo um total de 209
imóveis rurais pertencentes a 130 proprietários/posseiros.

Apesar da propriedade dos terrenos das ilhas ser exclusivamente da União Federal e/ou
Estados, estes podem transferir para terceiros, onerosa ou gratuitamente, o seu “domínio útil”,
através de contrato escrito (“aforamento” ou enfiteuse).

Considerando a finalidade principal do imóvel rural, verifica-se que a maior parte do total de
imóveis rurais localizados no compartimento referente às Ilhas do Xingu são utilizados para
moradia e produção.

Observa-se, portanto, que o percentual de imóveis rurais efetivamente utilizados para alguma
atividade produtiva e/ou moradia e/ou lazer na região das Ilhas do Xingu é extremamente
significativo, reafirmando dessa forma a existência de vínculos concretos dos proprietários
com o território, em especial o vínculo de produção, visto que a maioria dos proprietários não
mora nos imóveis rurais, conforme exposto anteriormente.

Quanto à situação fundiária dos imóveis rurais das Ilhas do Rio Xingu, verifica-se que a
maioria dos imóveis rurais pesquisados são minifúndios, 79,43% do total de imóveis, que
ocupam uma área de 2.870,02 hectares ou 45,48% do total.

Ressalta-se que não foram identificadas médias ou grandes propriedades nas ilhas do Xingu, o
que se deve, primeiro pela própria limitação do tamanho das ilhas; segundo, o fato, observado
em campo, das áreas das propriedades/posses declaradas serem, de maneira geral, bem
inferior as áreas totais das ilhas, ou seja, as áreas indicadas como efetivamente ocupadas pelos
informantes são parcelas das ilhas e não toda a área das ilhas.

Os usos das áreas nas propriedades das ilhas do Xingu, que serão detalhados quando da
caracterização da estrutura produtiva, no âmbito deste estudo. Analisando os dados
apresentados, verifica-se que a predominância é de áreas de matas naturais, seguidas pelas
áreas de mata plantada.

As áreas de cultivo representam uma pequena parcela do total de áreas declaradas, com maior
destaque para as áreas de cultivos temporários. .

Nas ilhas, observa-se que predominam os produtos mais tradicionais de subsístência,


mandioca, milho e feijão, típica dos ribeirinhos amazônicos frente às culturas de caráter mais
fortemente comercial. Quanto às lavouras permanentes, que ocupam área significativamente
inferior, destacam-se os cultivos da banana e do cacau.

O extrativismo vegetal como atividade produtiva e econômica praticada nas Ilhas é


significativo, envolvendo parcela representativa de pessoas (ilhéus) que o desenvolvem, bem
como por se configurar como atividade destinada à complementação da base alimentar das
famílias.

6365-EIA-G90-001b 130 Leme Engenharia Ltda.


9.4.2 Reservatório dos Canais

Compreende uma porção da AID/ADA situada na parte interna Volta Grande do Xingu
abrangendo os Sítios Belo Monte e Bela Vista, o reservatório dos Canais, seus canais de
derivação, diques e suas áreas de entorno.

Este espaço de análise é abrangido por terrenos do compartimento Transamazônica e PA 415


definido na AII.

Ao longo do reservatório dos Canais, uma série de igarapés terá seu fluxo seccionado pelos
diques, dentre estes, citam-se: igarapés Santo Antônio, Cobal, Ticaruca, e Paquiçamba. As
calhas dos igarapés Galhoso e Di Maria serão ainda alteradas pela conformação dos canais de
derivação entre os dois reservatórios.

Nesta área, drenada principalmente por igarapés, predominam migmatitos e gnaisses do


Complexo Xingu, resultando em aqüíferos fissurados; subordinadamente, bordejando as
porções oeste e noroeste do compartimento, são verificadas rochas sedimentares das
Formações Trombetas, Maecuru, Ererê, Curuá e Alter do Chão (folhelhos, ritimitos, siltitos,
arenitos e conglomerados), e rochas vulcânicas básicas (Diabásio Penatecaua). Nesta última
Formação há possibilidade de ocorrência de bauxita em rochas que bordejam as porções oeste
e noroeste do compartimento, porém sem registros diretos de mineralização (Potencialidade
3).

Merece atenção os afloramentos na região entre a ombreira esquerda da barragem do Sitio


Belo Monte e a região de montante da Caverna Kararaô, pois neste trecho o aqüífero
Maecuru, associado à presença de cavidades subterrâneas, sofrerá a influência do reservatório,
estando sujeito à elevação do lençol. Nesses arenitos ocorrem ainda as seguintes cavidades
naturais: Abrigos da Grota do Jôa, Santo Antônio e Aturiá e Grota do Jôa.

O relevo predominante é de colinas (FIGURA 9.4-3) da unidade geomorfológica Depressão


da Amazônia Meridional; na porção oeste, tem-se a presença da unidade Planalto Marginal do
Amazonas, com relevo de morrotes e morros em altitudes entre 140 e 200m.

FIGURA 9.4-3 – Relevo de colina com pastagem plantada no


Compartimento Reservatório dos Canais

6365-EIA-G90-001b 131 Leme Engenharia Ltda.


Em relação ao solo, neste compartimento dominam os Argissolos Vermelho-Amarelos e
subordinadamente Cambissolos, Neossolos Litólicos, Afloramentos Rochosos e Argissolos
Acinzentados. Estes últimos são de baixo potencial agrícola, enquanto que os Argissolos
Vermelho-Amarelos possuem aptidão boa para agricultura tecnificada.

Essa conjugação de Argissolos e um relevo marcado por morros e morrotes, geram


susceptibilidade erosiva forte a muito forte, situação que ocorre de forma mais marcante na
margem esquerda da Volta Grande do Xingu. Nessas condições, esses solos apresentam
aptidão restrita para lavouras, situação que pode justificar a baixa ocupação dessa área da
Volta Grande por culturas de ciclo anual.

Nos domínios do Cráton Amazônico, aos quais pertence a maior parte desse compartimento,
predominam aqüíferos fissurados e nas rochas sedimentares, com ocorrência restrita à borda
oeste/noroeste do compartimento e em depósitos aluvionares recentes, ocorrem aqüíferos
porosos.

Nas encostas do futuro Reservatório dos Canais, os estudos de estabilização de encostas


caracterizaram como de suscetibilidade alta aos processos de instabilização os seguintes
setores:

- cabeceira do igarapé Ticaruca, cabeceira do igarapé Cobal e cabeceira do igarapé Santo


Antônio: Susceptibilidade a processos de erosão e movimentos de massa;

- próximo à confluência dos canais de derivação, cabeceira do igarapé Cobal e próximo ao


sitio Belo Monte: Susceptibilidade a processos associados à Formação Maecuru (erosão
subterrânea e erosões por solapamento, desbarrancamento, em sulcos e ravinas).

- cabeceira do igarapé Cobal: Susceptibilidade a processos associados à Formação Alter do


Chão (erosões em sulcos e ravinas).

Ao longo dos ramais da rodovia Transamazônica e na maior parte do território abrangido por
esse compartimento, predominam remanescentes de Floresta Ombrófila Aberta com palmeiras
e secundariamente com cipós, em meio a extensas áreas de pastagem. Nas propriedades rurais
situadas na região dos futuros canais de derivação é praticada a agricultura anual de
subsistência e a cultura de cacau, sombreada pela vegetação secundária.

Os remanescentes das Florestas Ombrófilas Abertas com palmeiras e/ou com cipós neste
compartimento encontram-se reduzidos a fragmentos estando em melhor estado de
conservação apenas na região do entorno imediato da T.I Paquiçamba e na região prevista
para a localização do reservatório dos canais. O açaí (Euterpe oleracea) (FIGURA 9.4-4) é
uma das espécies de maior ocorrência nos remanescentes florestais deste compartimento,
sendo de grande importância como fonte de alimentação e de renda para a população da
região.

6365-EIA-G90-001b 132 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.4-4 – Euterpe oleracea na região do Reservatório dos Canais

Nesse compartimento denominado Reservatório dos Canais o estudo de Unidades de


Paisagem deste EIA (Volume 13) identificou a possibilidade de criação de corredores de
biodiversidade, conectando alguns maiores fragmentos considerados prioritários, situados
entre os travessões 55 e 62, e entre a área prevista para o futuro reservatório e a calha do rio
Xingu, conforme mostra a FIGURA 9.4-5.

FIGURA 9.4-5 - Grau de prioridade dos fragmentos florestais na região


A5 na AID em relação às métricas de paisagem analisadas

Os fragmentos situados na Área 6 do referido estudo foram considerados os de melhores


condições de tamanho e baixo grau de isolamento em todo o território da AID situado na
margem esquerda do rio Xingu. A FIGURA 9.4-6 mostra a localização desses fragmentos
prioritários, considerados pelo estudo com potencial para a conservação, conectividade e
6365-EIA-G90-001b 133 Leme Engenharia Ltda.
locais prováveis para a soltura de animais. Contudo, deve-se ressaltar que os fragmentos
situados a noroeste deverão ser parcialmente afetados pelo reservatório e que o maior desses
fragmentos corresponde a área da TI Paquiçamba e seu entorno.

FIGURA 9.4-6 - Grau de prioridade dos fragmentos florestais na


Região A6 na AID em relação às métricas de
paisagem analisadas

Os igarapés existentes neste Compartimento apresentam água relativamente transparente, de


coloração parda, com fundos de areia e deposição de restos vegetais, como liteira, troncos e
gravetos caídos. São geralmente estreitos e pouco profundos, pelo menos durante o verão,
mas com margens cavadas sobre um barranco e sombreadas por floresta densa. Sofrem
considerável alteração na vazão durante o inverno, quando suas águas também perdem em
parte a transparência e volume de água aumenta muito. Nos levantamentos de campo foram
amostrados alguns igarapés que ficarão afogados pelo empreendimento. Neste compartimento
foram identificadas apenas 116 espécies de peixes. No entanto, destaca-se que estas espécies
habitantes de igarapés possuem uma relação específica com este tipo de ambiente

Entre as ordens de peixes que ocorrem nesses ambientes, a dos Characiformes foi a que
apresentou maior numero de espécies, seguida de Siluriformes e Perciformes. Nos igarapés
amostrados foram encontradas apenas quatro espécies comuns aos setores inventariados:
Apistogramma sp., Hoplias malabaricus, Moenkhausia oligolepis, Poeciliidae sp., o que é um
indicador de especificidade existente na composição faunística desses igarapés e a baixa taxa
de similaridade.

No período de seca foram registradas 19 espécies exclusivas: Ancistrus sp., Brachyhypopomus


beebei, Bryconamericus sp., Cichlidae sp., Copeina sp., Gasteropelecidae sp.,
Gymnorhamphichthys sp., Gymnotus sp., Hemigrammus tridens, Hipopomatinae sp., Hoplias
aimara, Hoplias sp., Hypoptopomatinae sp. 1, Loricariinae sp., Phenacogaster pectinatus,
Pimelodidae sp., Prochilodus nigricans, Rivulus sp., Squaliforma emarginata.

6365-EIA-G90-001b 134 Leme Engenharia Ltda.


Um total de 20 espécies exclusivas foi encontrado neste compartimento, no período de
enchente, sendo: Aequidens sp., Ancistrus sp. “bola”, Astyanax fasciatus, Brachychalcinus
orbicularis, Bryconops sp., Characidae sp. 14, Characidae sp. 16, Characidae sp. 17,
Characidae sp. 3, Characidae sp. 4, Cyphocharax gouldingi, Gasteropelecus sternicla,
Gymnorhamphichthys cf. hypostomus, Hemigrammus marginatus, Heptapterus sp.,
Hyphessobrycon cf. copelandi, Jupiaba cf. ocellata, Leporinus maculatus, Moenkhausia
lepidura, Rivulidae sp.

Quanto à fauna de mamíferos aquáticos nessa região, apenas os igarapés perenes possuem
representantes, porém em menor abundância do que na calha do rio Xingu. Os tracajás e
algumas espécies de crocodilianos também podem ser observados nos igarapés deste
compartimento, no entanto, também em baixa abundância.

Um fator que condiciona a distribuição geográfica da fauna terrestre da região é a própria


calha do rio Xingu, que representa uma barreira natural à dispersão de algumas espécies de
mamíferos, especialmente primatas, subespécies de aves e alguns anfíbios, principalmente da
família Hylidae.

Assim, a diversidade de primatas na região do empreendimento é naturalmente menor que em


outras regiões da Amazônia; no entanto, em função do grau de fragmentação deste
compartimento, primatas que só ocorrem na margem esquerda do rio Xingu, como macaco-
aranha (Ateles marginatus), cuxiú (Chiropotes albinasus) e mico-de-cheiro (Saimiri ustus)
estão confinados nos fragmentos maiores e tendem a desaparecer se a pressão de
desflorestamento continuar. Além destas, várias espécies associadas a ambientes preservados,
foram difíceis de serem observadas, como os predadores de topo de cadeia.

As espécies mais registradas nos locais onde foram realizados os levantamentos de mamíferos
de médio e grande portes foram: S. aestuans, C. apella, Mico argentatus, Callicebus moloch.

A comparação do conjunto de espécies mais registradas sugere certo nível de perturbação da


comunidade deste compartimento, indicado por um aumento na freqüência de animais de
menor porte. Estes são menos caçados e requerem áreas de uso relativamente menores,
sobrevivendo melhor em fragmentos florestais, em florestas secundárias e em florestas
exploradas.

As taxas de registros constituem um índice objetivo da abundância de espécies, apropriado a


comparações entre áreas, principalmente quando o número de observações é insuficiente para
estimativas de densidades populacionais confiáveis. Nesse sentido, foram observadas nas
amostragens realizadas neste compartimento, as menores taxas de registros de indivíduos.

Comparando as taxas de avistamentos por espécie com as de estudos anteriores, foram obtidos
valores comparáveis ou superiores para todas as espécies, exceto A. belzebul (guariba) que
neste compartimento apresentou valores menores. A queda na taxa de observações diretas de
guaribas neste compartimento sugere, mais uma vez, que a pressão de caça nesta área pode ser
um fator importante do ponto de vista da conservação da fauna local.

Como este compartimento é o que apresenta maior área de ecossistemas terrestres, vale
mencionar informações sobre a biogeografia das espécies inventariadas. Com relação aos
primatas, todas as 11 espécies esperadas foram registradas, inclusive Ateles marginatus
(coatá-de-testa-branca). Esta espécie é mais vulnerável aos impactos antrópicos,

6365-EIA-G90-001b 135 Leme Engenharia Ltda.


especialmente por sua distribuição geográfica restrita, o que coloca o coatá como vulnerável
na lista da IUCN. A distribuição de A. marginatus é exclusiva do interflúvio Xingu-Tapajós
que experimenta ampla colonização humana devido à construção da rodovia Santarém-
Cuiabá. Estudos ecológicos já demonstraram a extinção dessa espécie em um raio de 60 km
ao redor de Santarém.

Em geral, as espécies de roedores de médio e grande porte (Rodentia) e ungulados (ordens


Artiodactyla e Perissodactyla) encontrados nas áreas de estudo são de ampla distribuição para
a Amazônia, com algumas diferenças entre interflúvios. A maioria dos representantes desses
grupos é de interesse da população humana, principalmente como fonte de alimentos.

Boa parte da população humana na área de estudo utiliza-se da carne de caça como fonte de
alimento; A porcentagem dos entrevistados que disseram caçar foi maior neste compartimento
(90,3%).

Das 31 espécies de Pequenos Mamíferos registradas neste estudo, 25 estão presentes na


margem esquerda do rio Xingu, das quais 10 de marsupiais e 15 de roedores. Três espécies de
marsupiais (Marmosops cf. noctivagus, Monodelphis emiliae e Monodelphis glirina) e três de
roedores (Neacomys sp.1, Neacomys sp.2 e Lonchothrix emiliae) foram exclusivamente
capturadas nesta margem do rio, neste compartimento.

De 367 exemplares de pequenos mamíferos não-voadores analisados neste estudo (98


coletados recentemente e 269 coletados em 2000-2001), apenas um exemplar foi seguramente
identificado como Neacomys sp.1, indicando que esta espécie é localmente rara. Neste caso, é
preciso cautela para afirmar que o rio Xingu restringe a distribuição geográfica desta espécie,
cuja captura ocorreu apenas neste compartimento.

Um único exemplar do rato-de-espinho Lonchothrix emiliae foi capturado na área de estudo,


em floresta ombrófila aberta com palmeiras na margem esquerda do rio Xingu durante
inventário realizado em 2000-2001. Esta espécie apresenta área de distribuição bastante
restrita.

As espécies de distribuição geográfica mais restrita da herpetofauna são relacionadas às


Florestas de terra firme, como Adelphobates castaneoticus (Dendrobatidae), dos interflúvios
Tapajós-Xingu e Xingu-Tocantis; Adelphobates galactonotus, restrita ao sul da Amazônia, a
leste do rio Tapajós; e Enyalius leechii, com ocorrência ao sul da Amazônia, a leste do rio
Madeira.

Este compartimento é o que apresenta maior proporção de terra firme, quando comparado
com os outros, e também, a maior proporção de área alterada.

A ocorrência de algumas espécies de anfíbios é favorecida nos ambientes antropizados,


normalmente devido à formação de corpos d’água temporários resultantes da compactação do
solo. Este tipo de ambiente pareceu menos importante para as serpentes e lagartos.

Dos chirópteros associados a ambientes cavernícolas foi identificado Natalus stramineus é


uma espécie intrinsicamente sensível, principalmente devido aos hábitos estritamente
cavernícolas. Esteve presente nas quatro cavidades das áreas de influencia do
empreendimento, sendo que algumas ocorrem neste compartimento.

6365-EIA-G90-001b 136 Leme Engenharia Ltda.


As seguintes espécies de aves foram amostradas apenas neste compartimento: garça-vaqueira
(Bubulcus íbis), uiraçu-falso (Morphnus guianensis), gavião-caboclo (Heterospizias
meridionalis), gavião-belo (Busarellus nigricollis), gavião-de-rabo-branco (Buteo
albicaudatus), caracoleiro (Chondrohierax uncinatus), gavião-de-penacho (Spizaetus
ornatus), caracará (Caracara plancus), urubuzinho (Chelidoptera tenebrosa), maçarico-
solitário (Tringa solitária), ararajuba (Guaruba guarouba), bacurau-de-cauda-barrada
(Nyctiprogne leucopyga), beija-flor-azul-de-rabo-branco (Florisuga mellivora), beija-flor-de-
veste-preta(Anthracotorax nigricollis), beija-flor-de-garganta-verde (Amazilia fimbriata),
sanã-do-capim (Laterallus exilis), limpa-folha-de-bico-virado (Simoxenops ucayale),
corujinha-do-mato (Megascops choliba), anambé-de-coroa (Iodopleura isabellae), garça-da-
mata (Agamia agami), arapapá (Cochlearius cochlearius), peixe-frito-pavonino
(Dromococcyx phasianellus).

Entre essas espécies Guaruba guarouba é listada no Anexo 1 do CITES, UICN/Bird Life
International; e Morphnus guianensis é apontada pelo BirdLife como quase ameaçada
mundialmente.

Em relação à qualidade das águas dos igarapés que drenam a região desse compartimento,
todos eles afluentes do rio Xingu, tem-se que os igarapés Galhoso e Di Maria possuem águas
com temperaturas pouco mais baixas em relação ao rio Xingu e em conformidade com as
temperaturas dos igarapés de Altamira; apresentam boa oxigenação e águas ácidas,
registrando situação mais crítica na estação seca; têm baixa turbidez, baixos resultados de
sólidos em suspensão e boa oxigenação, com DBO com baixas concentrações.

Os resultados de cálcio, magnésio, potássio, sódio e brometo revelam baixas concentrações,


sendo que o brometo apresenta considerável aumento na estação de cheia. Os elementos
fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio, níquel e ferro dissolvido se apresentam em conformidade
com os limites determinados pela legislação para corpos de água classes 1 e 2, assim como
registrado para os demais pontos da rede de amostragem.

Na campanha do período de enchente os dois igarapés apresentaram águas com concentrações


de chumbo e cromo acima do limite das classes 1 e 2 e na campanha de cheia foram
observados valores acima dos limites estabelecidos para zinco, chumbo e cromo.

Em relação aos compostos nitrogenados e fosfatados, as concentrações permanecem baixas,


sendo que os limites determinados para os sistemas classes 1 e 2 não são atingidos em
nenhuma campanha.

Os igarapés Paquiçamba e Ticaruca foram amostrados apenas na campanha de seca,


apresentando situação semelhante aos igarapés Galhoso e Di Maria. No entanto, apresentaram
águas com elevadas temperaturas e acidez mais acentuada em setembro/07 (seca), porém com
valores inferiores ao limite mínimo para sistemas classe 2.

O igarapé Paquiçamba apresentou valores acima do limite das classes 1 e 2 para o parâmetro
zinco na seca, e cromo na cheia. Em relação aos compostos nitrogenados e fosfatados, as
concentrações permaneceram baixas.

Assim como destacado para os pontos que serão represados pela barragem do AHE Belo
Monte no rio Xingu, os igarapés Paquiçamba e Ticaruca serão remansados pelas águas do
reservatório dos canais e deverão mudar de categoria, sendo que os limites permitidos para as

6365-EIA-G90-001b 137 Leme Engenharia Ltda.


concentrações de fósforo total serão mais conservadores. Ambos apresentaram concentrações
de fósforo total que podem sofrer grandes incrementos e tornarem-se determinantes para o
desenvolvimento do processo de eutrofização, principalmente no período de seca.

Em relação aos aspectos socioeconômicos e culturais este compartimento denominado


Reservatório dos Canais está basicamente inserido na porção Sul do município de Vitória do
Xingu.

Vitória do Xingu: a população residente na sede municipal de Vitória do Xingu é de 4.251


habitantes, e teve um crescimento populacional de 1,12% ao ano, no período de 2000 a 2007.
Apresenta densidade demográfica de 1380 hab./km2, em função da área urbana, que é de 3,08
km2. A população migrante residente em Vitória do Xingu corresponde a menos de 10% da
população total sendo que 95% dos casos tem por origem outros municípios do Pará.

A principal rua na cidade de Vitória do Xingu é a Avenida Manoel Félix de Farias (na
verdade o prolongamento da PA-415 até o porto. A partir dessa avenida, as demais ruas se
desenvolvem, a maioria em terra e em estado precário de conservação.

O atual Terminal Hidroviário de Passageiros, Dorothy Stang é a porta de entrada e saída da


população e dos produtos da AID com destino para diversas cidades localizadas nas Hidrovias
do Xingu e do Amazonas (Senador José Porfírio, Porto de Moz, Gurupá, Santarém, Belém e
Macapá).

A estrutura portuária é administrada pela prefeitura municipal e está localizada às margens do


Rio Tucuruí. A despeito das condições precárias que limitam a recepção de embarcações de
grande calado e da ausência de investimentos, essa estrutura abriga grandes balsas que
transportam gado, madeira e combustível. O Porto da Reicon, de distribuição de combustível,
o Porto Délio Fernando, focado no transporte de madeira e gado, e o Porto do Gime, que
transporta madeira estão instalados também no Rio Tucuruí.

A cidade não dispõe de captação nem de sistema organizado de distribuição de água. A água
potável é coletada em poços semi-artesianos, armazenada em duas caixas de cimento com
19.000 e 30.000 litros, respectivamente, e distribuída por bombeamento. Existe um déficit de
40% desse serviço atingindo as residências localizadas nas cotas mais elevadas por conta da
deficiência do equipamento, obrigando alguns moradores a furar seus próprios poços ou
buscar água nas residências vizinhas.

Outra questão grave para o município é que não há arrecadação fiscal destinada ao
abastecimento e tratamento de água. Todos os recursos utilizados são oriundos do Governo
Federal e, portanto, caso o equipamento ou mobiliário público esteja danificado, seu reparo
atrasa por conta da demora no repasse, resultando em racionamento e falta d’água na cidade
de Vitória do Xingu.

Não existe rede de coleta ou tratamento de efluentes. Cada residência adota uma solução, em
geral ligação direta com valas e canaletas nas ruas, todas não pavimentadas, com exceção da
Avenida Manoel Félix de Faria. Os dejetos desembocam nos córregos mais próximos, no caso
o rio Tucuruí, o Igarapé do Facão e o Igarapé do Gelo, principais corpos receptores.

A coleta do lixo é realizada esporadicamente pela prefeitura por meio de um caminhão


caçamba aberto, que deposita o lixo recolhido - inclusive o proveniente do posto de saúde e o

6365-EIA-G90-001b 138 Leme Engenharia Ltda.


do frigorífico instalado nas proximidades da cidade - em um valão, sem qualquer tipo de
cuidado ou tratamento. O lixo acumulado nas residências nos períodos em que não há coleta é
deixado na estrada de acesso ao lixão ou em frente às casas, muitas vezes se espalhando pelas
ruas.

A área urbana não dispõe de sistemas de drenagem de águas pluviais e como já descrito, a
cidade está situada à beira do igarapé Tucuruí, entre os igarapés Água Boa e Gerador, também
chamado de Igarapé do Gelo. O principal problema de drenagem está associado aos sistemas
de deságüe, que sofrem influência dos níveis de cheias do Rio Xingu e dos Igarapés.

Vitória do Xingu situa-se sobre os terraços e planícies sedimentares recentes referentes às


flutuações de nível do Rio Xingu e seu afluente, Rio Tucuruí, que banha a cidade. Esta
litologia cria colinas de baixa elevação (30 m) e topos alongados, na maior parte de geometria
convexa e reentrâncias côncavas nas drenagens.

As maiores cheias, segundo levantamento realizado com moradores afeta a maior parte da
área urbana, e, uma solução seria a implantação de diques e canais de cintura para evitar as
inundações mais freqüentes, para recorrências de 25 anos, como é comum em áreas urbanas.
Para tal, é necessário o projeto e a construção de toda uma rede de drenagem na cidade, com a
construção de canais ou galerias de drenagem na área ribeirinha, e sistemas de canaletas e
bueiros nos arruamentos que tenham a capacidade de escoar as águas, mesmo em eventos
extremos que aumentam o nível d’água (águas altas) no Rio Xingu.

O fornecimento de energia é realizado pela CELPA e atende todas as residências dentro do


perímetro urbano. Nas áreas onde ocorre expansão urbana a CELPA amplia sua rede, porém,
como não há um plano diretor municipal, esse incremento desordenado de moradias não
permite uma expansão mais organizada do serviço de energia.

Dos 04 equipamentos de saúde existentes no Município, apenas um Posto de Saúde está


localizado na sede municipal. A cidade não dispõe de hospital, nem de acomodações para
internamento de pacientes, que são encaminhados para Altamira, até mesmo os casos de parto
normal. No entanto, Vitória do Xingu é o único município da AID que se empenha em atingir
a meta de cobrir 100% da população com atendimento das equipes do PSF. Atualmente,
possui 2 equipes do PSF completas, uma delas promovendo o atendimento da sede do
município.

A praça central é o principal ponto de encontro da cidade, onde está situada a Igreja da
padroeira de Vitória do Xingu, que é Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos e o salão de festas
da paróquia.

Na cidade existe uma emissora de rádio e TV e um cartório. O Cemitério situa-se na área


central da cidade onde está a maior parte das igrejas, uma agência dos Correios, um estádio e
um ginásio poliesportivo esse último, juntamente com a Praça Central o principal
equipamento para o lazer da população.

A cidade de Vitória do Xingu tem um padrão de urbanização similar ao de Senador José


Porfírio: três lados de sua área são limitados por igarapés – Igarapé Tucuruí, Igarapé do Gelo
e Igarapé do Facão. A expansão da cidade pode ocorrer no sentido Leste, atravessando o
Igarapé do Gelo e na direção Sul, ao longo da rodovia Ernesto Accioly.

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Apesar de integrar Área de interesse turístico e de influência de empreendimentos com
significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional, Vitória do Xingu não possui
Plano Diretor.

Área Rural do Compartimento

Na região localizada no compartimento relativo ao Reservatório dos Canais situam-se 11


localidades, entre povoados, aglomerados e núcleos de referência rural. Segundo dados do
IBGE foram identificados 01 povoado (Belo Monte) e 01 outro aglomerado (Agrovila
Leonardo da Vinci), localizados no principal eixo de articulação regional, a Rodovia
Transamazônica (BR 230). Além dessas localidades, foram identificados 09 núcleos de
referência rural, dispersos nos principais travessões e vicinais, classificados segundo a
identidade espacial (condição de pertencimento) e presença de equipamentos sociais. A
denominação dos núcleos de referência rural foi definida de acordo com as informações
obtidas durante as pesquisas: socioeconômica censitária e socioantropológica e, geralmente,
remete a elementos territoriais, como travessões e rios, ou equipamentos sociais em geral.

Conforme já exposto, este compartimento é delimitado pela Rodovia Transamazônica e pela


Volta Grande do Xingu. Nela se encontra, a TI Paquiçamba e a Gleba de mesmo nome, e
parte do Projeto Agropecuário Rio Joá.

A Gleba Paquiçamba com 82.043 ha de área – parcelada em lotes com áreas entre 50 a 100
ha, seguida de lotes entre 100 e 200 ha – é ocupada por pequenos produtores. Aqui o processo
de ocupação se intensificou na década de 1980 e foi se consolidando na última década.

Quando o processo de valorização das terras nas imediações da rodovia provocou a


concentração fundiária, ocorreu o alongamento dos travessões, e a penetração e apossamento
de terras para áreas mais interiores do território, em direção ao Rio Xingu. Nessa área se
observa a presença majoritária de posseiros e também de proprietários titulados na década de
1980. Aqui, os pequenos produtores estão descapitalizados e vivem da agricultura de
subsistência (lavoura branca) que é o principal uso das terras (arroz, o milho, o feijão, a
mandioca). Os agricultores, mais capitalizados, dedicam-se a lavoura comercial (café, o cacau
e a pimenta do reino) e à pecuária, a maioria desses agricultores, possuem pastagens e criam
gado bovino através de um sistema extensivo.

O Projeto Agropecuário Rio Joá é um dos mais antigos (data de 1979) e 73% dos seus
65.154,01 ha, está na Subárea 1. É composto por glebas com 600 ha de área em média e lotes
de 1000 ha, perpendiculares à Transamazônica.

A Terra Indígena Paquiçamba possui 4.348 ha, tendo atingido a última fase de
reconhecimento, encontrando-se registrada no cartório e no Serviço de Patrimônio da União.

A cobertura vegetal existente é de Floresta Ombrófila Aberta muito alterada pelo corte de
madeira, e substituição por pastagens ou para agricultura comercial e familiar. Maiores
fragmentos da floresta original podem ser encontrados no entorno e na TI Paquiçamba e na
porção final do trecho da Volta Grande.

É importante destacar que, houve um claro processo de concentração fundiária na região, com
muitos lotes originários dos parcelamentos do INCRA (imóveis rurais pesquisados) sendo
adquiridos por uma única pessoa. Portanto, atualmente convívem na área pesquisada e suas

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proximidades: o pequeno produtor que possui o lote do INCRA, minifundios e médios e
grandes produtores.

A maior densidade demográfica é encontrada no povoado de Belo Monte, onde se concentra a


maior população. A baixa densidade demográfica da Zona Rural de Vitória do Xingu, da qual
fazem parte as demais localidades identificadas seguem as taxas observadas na AII para as
áreas rurais.

A estrutura etária da população residente nesse compartimento tem predominância da


população masculina, com percentual de 54% e jovem (63% com idade de até 29 anos). A
população em idade escolar corresponde a 24% da população total.

Quanto ao número de famílias residentes, as entrevistas realizadas durante as pesquisas


socioeconômica e sócio-antropológica na AID indicam a presença de, aproximadamente, 661
famílias nas localidades pesquisadas, sendo quase metade delas nos núcleos Deus é Amor
(São Francisco) e Bom Jardim II.

Ainda de acordo com a pesquisa realizada, a população que vive nos povoados, aglomerados
e travessões situados nas proximidades do Reservatório do Xingu é majoritariamente de
remanescentes dos projetos de colonização ou migrantes chegados na última década. Segundo
dados de Contagem de População do IBGE, 74% têm como origem, outros municípios do
Estado do Pará. Destaca-se, ainda, neste compartimento, a significativa presença (18% dos
não naturais) de pessoas provenientes do Estado do Maranhão.

As famílias dessa região, em sua grande maioria, dedicam-se à produção rural. Nesse
contexto, a ocupação mais recente caminhou tanto no sentido da antiga área de assentamento,
como na direção das margens do rio Xingu. No caso dos lotes que avançam na direção do rio
Xingu, seus ocupantes (posseiros recentes ou antigos colonos) não estabelecem fortes
vínculos com rio, uma vez que seu modo de vida está associado à dinâmica da agrovila e da
Rodovia Transamazônica.

As localidades identificadas no Reservatório dos Canais possuem entre 20 e 50 anos de


existência, sendo aquele que registra ocupação mais antiga o Núcleo de Referência Rural
Santa Luzia. As principais atividades econômicas desenvolvidas na Volta Grande do Xingu
são a agricultura e a pecuária na modalidade de subsistência e a pesca.

Essas localidades dispõem de infra-estrutura de serviços extremamente simples e a maioria


das famílias tem na sede urbana do município de Altamira a referência para atendimento
médico e outras demandas, como comércio e serviços.

Outra referência importante na região é a Agrovila Leonardo da Vinci, que, conforme exposto
anteriormente, possui melhor infra-estrutura de comércio e serviços que as outras localidades
da região. Embora o povoado de Belo Monte possua um número maior de estabelecimentos
comerciais que a agrovila, em função de sua proximidade à sede de Altamira e à Rodovia
Transamazônica, a Agrovila Leonardo da Vinci acabou se tornando referência para a
população da região.

Um aspecto que merece destaque é a presença de um importante ponto de apoio, localizado


nas proximidades da Ilha da Taboca e do Núcleo de Referência Santa Luzia, entre o
Travessão Transcatitu e o canal de derivação esquerdo. Trata-se do Acampamento da

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Eletronorte que, dotado de posto de saúde, também representa referência para a população
local.

O único equipamento social comum a todas as localidades pesquisadas é a escola e, à exceção


do núcleo Bom Jardim II, cada localidade conta com apenas 1 unidade de ensino, que oferta
as primeiras séries do ensino fundamental.

Quanto aos postos de saúde, apenas quatro das 11 localidades dispõem desse equipamento:
Belo Monte, Agrovila Leonardo da Vinci, Santa Luzia e São Francisco das Chagas. A
precariedade do sistema de saúde local é característica de toda a AID. As pesquisas realizadas
registraram a inexistência de unidades e postos de saúde distribuídos de forma a atender à
demanda existente. A AID é atendida pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS) e pelo serviço de imunização ofertado em caráter sistemático, com campanhas de
vacinação contra a poliomielite, sarampo, entre outras doenças. Segundo as informações
coletadas, um mesmo agente comunitário atende a duas ou até três comunidades e a vacinação
ocorre muitas vezes na escola ou na igreja.

As igrejas estão presentes em 08 localidades do Reservatório dos Canais, sendo que em 5


delas há mais de 1 templo religioso. Destaca-se que, no universo da AID, a igreja representa
um importante espaço de convivência e de manutenção das redes de sociabilidade para além
da família e da vizinhança. Geralmente, o padre visita esporadicamente a comunidade, mas há
um calendário de rituais em torno dos batizados, da primeira comunhão, da crisma e dos
casamentos. Nesses momentos, a comunidade se organiza para viabilizar o evento e,
geralmente, os sábados e domingos são os dias dedicados a prática religiosa, que pode ocorrer
ou não com a presença do padre (como no caso das novenas, que dispensam essa presença).

Os estabelecimentos comerciais são encontrados em 06 das 12 localidades deste


compartimento com destaque para a agrovila Leonardo da Vinci e para o povoado de Belo
Monte, que possuem 08 e 11 estabelecimentos comerciais, respectivamente. Destaca-se que
os estabelecimentos comerciais, em geral, são bares e pequenos armazéns ou mercados, que
comercializam os produtos necessários ao atendimento das necessidades mais básicas da
população, como alimentação e higiene.

Não há infra-estrutura de saneamento básico em nenhuma das localidades e grande parte das
moradias não possui banheiro, sendo o esgotamento sanitário realizado através de instalações
rudimentares (fossas negras). No que se refere ao descarte do lixo, as populações rurais
praticam a queima ou o enterram.

Apenas o povoado de Belo Monte e a Agrovila Leonardo da Vinci possuem rede de


abastecimento de água, de responsabilidade da Prefeitura Municipal de Vitória do Xingu. Nas
outras localidades, a água para utilização doméstica é proveniente de poço, do Rio Xingu e
dos igarapés e, em geral, a forma de captação é individual. Quanto à energia elétrica, 50% das
localidades não dispõem desse serviço.

Existem, ainda, outros equipamentos, como cemitérios e equipamentos de lazer. Os cemitérios


são equipamentos mais comuns às localidades desse compartimento e, ainda assim, existem
em pequena quantidade; são apenas 03 unidades, 01 em cada uma das seguintes localidades:
Belo Monte, Santo Antônio e Bom Jardim I. Quanto ao lazer, apenas o povoado de Belo
Monte conta com equipamentos destinados a esse tipo de atividades.

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Por fim, é importante destacar a existência do Sítio Pesqueiro Turístico Estadual Volta
Grande do Xingu, área especial para pesca esportiva criada por meio da Resolução nº 30 de
14 de junho de 2005 do Conselho Estadual de Meio Ambiente do Estado do Pará – COEMA.
Trata-se de uma área de 278,64 km2, legalmente protegida e localizada no trecho de vazão
reduzida do AHE Belo Monte, na margem esquerda do Rio Xingu, entre o Travessão 55
(CNEC) e a Terra Indígena Paquiçamba.

Neste sítio pesqueiro não são permitidas atividades que possam trazer prejuízos ao meio
ambiente ou ao desenvolvimento do turismo de pesca esportiva ambientalmente sustentável –
tais como atividades industriais, garimpo, pesca comercial, loteamento urbano e exploração
florestal sem manejo sustentável –, sendo permitida apenas a pesca na modalidade pesque e
solte. É neste mesmo sítio pesqueiro que está localizado a Pousada Rio Xingu, de grande
importância para o desenvolvimento turístico do Município de Vitória do Xingu, uma vez que
sua divulgação tem abrangência tanto nacional como internacional.

A Pousada Rio Xingu está localizada no final da Volta Grande, em uma região bastante
isolada e de beleza cênica do Rio Xingu, pela abundância de corredeiras e cachoeiras. O
empreendimento possui uma lotação de 20 pessoas em apartamentos duplos, além das
dependências de cozinha, salas de estar e piscina. É visitada quase exclusivamente por turistas
de outros estados (principalmente SP, e MG) e do exterior (principalmente, USA). Recebe
aproximadamente 200 hóspedes por ano no período de safra, durante a estação mais seca. A
pesca ocorre no rio Xingu e é realizada com linhas e caniços e os princípios do “pesque e
solte” são bem restritos. Isto porque não é permitida a retirada de nenhum exemplar
capturado, fora da área do sítio. Desta forma, somente são extraídos do rio, os peixes que
servirão para a alimentação dos hóspedes e funcionários da pousada. A pousada oferece os
serviços de 10 guias e possui 8 voadeiras,que realizam excursões para pescar. Os
trabalhadores do empreendimento são, na sua maioria, moradores da região.

A Área Diretamente Afetada (ADA) na região do Reservatório dos Canais abrange um total
de 495 imóveis rurais, pertencentes a 323 proprietários/posseiros. Do total dos imóveis rurais
foram contabilizados 354 grupos domésticos, num total de 1.166 pessoas, a maior parte
formada por familiares.

Quanto à situação fundiária dos imóveis rurais da Região dos Canais, verifica-se que a
maioria dos imóveis rurais pesquisados é de pequeno porte. Dentre os produtos cultivados
destaca-se, como principal produto das lavouras permanentes, o cacau, a banana. Os demais
produtos das lavouras permanentes ocupam áreas menos significativas, destacando-se a
pimenta, o coco e a pupunha (0,11%).

Entre as as lavouras temporárias, destacam-se os cultivos do arroz, do milho, da mandioca e


do feijão, muitas vezes cultivadas em consórcio, sendo o mesmo espaço explorado para
produção de lavouras permanentes entremeadas com cultivos temporários.

A pecuária é uma atividade econômica expressiva no campartimento do Reservatório dos


Canais, cuja produção tem caráter predominantemente de subsistência. O extrativismo vegetal
como atividade produtiva e econômica praticada na ADA do AHE Belo Monte na Região dos
Canais é significativo, especialmente por se configurar como atividade destinada à
complementação da base alimentar das famílias.

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Ë importante destacar que, houve um claro processo de concentração fundiária na região, com
muitos lotes originários dos parcelamentos do INCRA (imóveis rurais pesquisados) sendo
adquiridos por uma única pessoa. Portanto, atualmente convivem na área pesquisada e suas
proximidades: o pequeno produtor que possui o lote do INCRA, minifúndios e médios e
grandes produtores.

Núcleo de Referência Rural Santo Antônio: A pesquisa socioeconômica censitária totalizou


87 entrevistados em 105 imóveis rurais, pertencentes a 80 proprietários. A finalidade principal
dos imóveis de Santo Antônio é a moradia seguida do comércio,) produção agrícola e lazer.
Para cerca de 50% dos imóveis o proprietário/posseiro informou não utilizá-lo, confirmando o
alto percentual de desocupação, que pode ser um indicativo da utilização dos lotes como uma
reserva de valor.

Quanto à área dos imóveis rurais e sua distribuição por utilização das terras, destaca-se a mata
natural. Do total de áreas declaradas pelos entrevistados, aproximadamente 80,0% está
ocupada por áreas de mata natural.
A organização territorial do núcleo é de uma típica agrovila, que sofreu um esvaziamento de
sua população, conforme observado em diversos setores rurais do município de Vitória do
Xingu (vide item Caracterização Demográfica no Diagnóstico da AID).

Os principais produtos agrícolas cultivados são o feijão, a mandioca, o milho e outros não
especificados pelos entrevistados, com destaque, quanto à área cultivada, para o feijão, que
ocupa cerca de 40% do total. Considerando os principais produtos cultivados nas lavouras
permanentes e temporárias, verifica-se que predomina o caráter de subsistência da produção.

No Núcleo de Referência Rural Santo Antônio, do total de casas ocupadas a maior parte
possuiacesso à energia elétrica através de sistema de rede geral de distribuição, situação essa
proveniente da sua localização às margens da Transamazônica e do traçado da Linha de
Transmissão do Tramo Oeste, alimentada pela UHE Tucuruí.

Pouco menos da metade da população do Núcleo de Referência Rural Santo Antônio


freqüenta a escola, em geral, a do próprio núcleo ou em localidade próxima.

O Núcleo Santo Antônio possui uma relação estreita com o Rio Xingu, devido à proximidade
que se encontra do mesmo, o grau de isolamento da sede urbana de Vitória do Xingu, a
carência da infra-estrutura, inclusive de transporte, e pela solidariedade da forma de
convivência de seus membros em função do número reduzido de famílias – apenas 39, e,
conseqüentemente, de moradores.

Dessa forma, é possível observar que cerca de 40% do total de respostas são de utilização do
Rio Xingu como fonte de lazer e cerca de 20% para a pesca artesanal. O rio também é
utilizado para atividades caseiras cotidianas como lavar louça ou roupa ,para transporte, para
beber e cozinhar e tomar banho diariamente.

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9.4.3 Trecho de Restituição de Vazão

Compreende uma porção da AID/ADA com 102 km2, abrangendo a calha do rio Xingu e suas
áreas de entorno a jusante do local previsto para a restituição das vazões turbinadas ao curso
normal do rio Xingu, nas imediações da Casa de Força Principal.

Nesse trecho o rio Xingu tem orientação E-W, passando a NNW e apresenta-se encaixado
com predomínio de um canal único em forma de “U”; apresenta poucas ilhas aluviais e
planícies de inundação restritas (Trecho A3). Destaca-se que, neste trecho, o rio Xingu sofre
influência do efeito de maré do rio Amazonas, no período de estiagem.

Situado dentro do domínio da Bacia Sedimentar do Amazonas, este compartimento tem


rochas sedimentares das Formações Maecuru (arenitos e conglomerados), Ererê (siltitos,
folhelhos, arenitos e conglomerados) e Curuá (folhelhos e siltitos), sendo estas unidades
cortadas por falhamentos NE-SW. Apresenta expressivos depósitos aluvionares na margem
direita do Xingu e possibilidade de ocorrência de bauxita em rochas da Formação Alter do
Chão na extremidade de jusante da ADA, porém sem registros diretos de mineralização
(Potencialidade 3).

Os aqüíferos são porosos em depósitos aluvionares recentes e nas rochas sedimentares; possui
corrência restrita de aqüíferos fissurados nas rochas vulcânicas básicas representadas pelo
Diabásio Penatecaua.

Neste compartimento predomina relevo em forma de colinas, registrando-se na margem


direita do rio Xingu ampla área de terraço fluvial. Ao longo da calha do rio a erosão laminar e
em sulcos é de baixa intensidade, tornando-se susceptíveis à erosão na medida em que se
afasta das margens onde o terreno se torna mais acidentado.

Os solos da margem direita são Cambissolos (restritos para uso agrícola) e Latossolos
Amarelos (regular para uso agrícola) e na margem esquerda predominam os Nitossolos
Háplicos e, subordinadamente, Argissolos Vermelho-Amarelos e Argissolos Amarelos, com
bom potencial para o desenvolvimento agrícola. Essas áreas encontram-se no domínio da
Floresta Ombrófila Aberta com palmeiras, hoje muito fragmentada por extensas áreas de
pastagem, especialmente ao longo da PA-415, que liga as cidades de Altamira e Vitória do
Xingu .

Este trecho do rio Xingu compõe o seu baixo curso, onde são visualizadas a dourada e a
piramutaba até próximo à localdade de Belo Monte. Tanto a dourada como a piramutaba não
são encontradas rio acima, após as grandes cachoeiras, ocorrendo apenas na parte baixa do
rio. Também neste trecho são encontrados o surubim (Pseudoplatystoma fasciatum), a
pirarara (Phractocephalus hemioliopterus) e o filhote (Brachyplatystoma filamentosum). Estas
espécies habitam as águas do rio Xingu, tanto acima como abaixo das cachoeiras. A pesca de
dourada é bastante desenvolvida nesta região, juntamente com o filhote.

Nesta região de jusante da casa de força os levantamentos da ictiofauna registraram 133


espécies amostradas durante os estudos do AHE Belo Monte, sendo que as espécies
exclusivas deste trecho do rio Xingu foram: Acarichthys heckelii, Cetengraulis sp.,
Colomesus asellus, Cyphocharax abramoides, Geophagus altifrons, Hemiodontichthys
acipenserinus, Serrasalmus cf. spilopleura, Serrasalmus sp., Tetragonopterus argenteus.

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Foram registrados, 14 locais com ocorrência de piracema e o estudo de distribuição larval
entre os compartimentos do rio indicou uma forte predominância de larvas neste
compartimento; do Baixo Xingu, com 61% dos indivíduos, sendo que grande parte foram
encontrados na frente de Vitória do Xingu.

A pesca comercial neste compartimento é mais preponderante que nos demais, sendo que há
vários pontos de desembarque pesqueiro na região. Já a coleta de peixes ornamentais, não
ocorre neste compartimento, estando concentrada próximo a cachoeira de Belo Monte, na
região de pedrais.

Sobre os Mamíferos Aquáticos deve-se destacar que na Amazônia existem cinco espécies de
mamíferos aquáticos pertencentes a três distintas Ordens: Sirenia, com uma espécie, o peixe-
boi da Amazônia (Trichechus inunguis), a Ordem Cetacea, com duas espécies de golfinhos, o
boto-vermelho (Inia geoffrensis) e o boto-tucuxi (Sotalia fluviatilis) e a Ordem Carnívora,
com duas espécies de mustelídeos aquáticos, a ariranha (Pteronura brasiliensis) e a lontra
(Lontra longicaudis). Todos eles têm ocorrência na área de estudo, porém, a exceção dos
mustelídeos que têm ocorrência generalizada ao longo de toda a AID, os demais somente
ocorrem a jusante do trecho encaixoeirado da Volta Grande.

O peixe boi da Amazônia, único sirênio exclusivamente de água doce, possui distribuição
restrita à bacia amazônica, onde é encontrado desde a Ilha de Marajó (Brasil) até as cabeceiras
do Rio Amazonas, na Colômbia, no Peru e Equador (DOMMING, 1981; BEST, 1984;
REYNOLDS e ODELL, 1991; ROSAS, 1994).

É um herbívoro aquático endêmico da Amazônia, apresenta comportamento bastante discreto e


difícil de ser observado no seu ambiente natural, o que complica a sua observação direta e a
contagem dos indivíduos. As informações são obtidas de um modo geral, de forma indireta, por
meio de entrevistas com os moradores locais, observação de locais com presença de macrófitas
aquáticas e semi-aquáticas, evidencia de locais de comida, presença de fezes, coleta de material
ósseo ou carcaças, pele, mixira, fezes e outras evidenciam da ocorrência da espécie.

Sua distribuição, abundância, e biologia estão relacionadas com as modificações sazonais de


cheias e vazantes que ocorrem na região e, conseqüentemente, à disponibilidade de alimento.
A presença de cachoeira e áreas de corredeiras é o fator limitante para a distribuição dessa
espécie na bacia amazônica.

Todos os entrevistados durante os levantamentos de campo relataram que não existe peixe-boi
na região de Belo Monte, embora indicaram a presença desse animal na região do baixo
Xingu.

O boto-vermelho (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis) são animais piscívoros,


predadores no topo da cadeia alimentar e perseguem suas presas, portanto são facilmente
visíveis e contáveis. Por isso são potenciais espécies para atuar como indicadoras da qualidade
do ambiente aquático quanto à ocorrência de peixes e concentração de contaminantes.

No trecho entre Altamira e a foz do rio Iriri e na região da Volta Grande nenhum cetáceo foi
avistado, confirmando a hipótese de que os botos e tucuxis não ocorrem nessa área. Isso pode
ser explicado por ser uma região localizada acima das muitas cachoeiras existentes,
especialmente na Volta Grande, que parece constituir em barreira para a subida dos cetáceos.

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Na região do município de Senador José Porfírio foram avistados o boto vermelho (Inia
geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis). Em algumas conversas informais com moradores e
pescadores da região, foi informado que os botos sobem um pouco mais o rio na época da
cheia, a partir do mês de janeiro. A partir da cidade de Senador José Porfírio, as duas espécies
de cetáceos, Inia geoffrensis e Sotalia fluviatilis dividem o mesmo habitat, sendo que o tucuxi
tem preferência pela calha do rio e o boto fica mais próximo às margens.

O boto mais avistado o ano inteiro é o vermelho; no inverno são vistos com mais freqüência,
inclusive no Paraná do Tubarão. Na região de Belo Monte, os moradores indicaram apenas a
ocorrência de Inia geoffrensis, que ocorre até a base das corredeiras. O tucuxi, Sotalia
fluviatilis, não é observado nessa região.

Na região de Vitória do Xingu, a jusante das corredeiras, os tucuxis são avistados em grupos
de até 8 indivíduos, porém esporadicamente. Os botos, por outro lado, são vistos com maior
freqüência e em grupos de 2 ou 3 indivíduos.

A vadiagem, como os ribeirinhos chamam popularmente o período de corte e cópula dos


botos, costuma ser mais observada no mês de julho em bandos de 5-6 machos atrás de uma
única fêmea. Os filhotes são mais avistados no mês de outubro.

Existe uma forte interação dos botos com a pesca, pois além de roubarem os peixes das
malhadeiras, eles as rasgam, causando prejuízo aos pescadores. E, se os pescadores têm
oportunidade, matam os botos encontrados próximo às suas redes. Esses mesmos pescadores
que confessaram já terem matado boto, reconhecem a importância do animal para a
manutenção da quantidade de peixes na região.

Já os mustelídeos aquáticos, representados pelas Ariranhas e Lontras tiveram presença


confirmada pelos levantamentos de campo em toda a AID, os quais sugerem, de acordo com a
freqüência de vestígios observada, uma alta densidade de lontras nos igarapés Galhoso e Di
Maria, e altíssima densidade nas praias do rio Xingu denominadas Ponta do Pajé e Costa do
Guará, ambas situadas na região de Senador José Porfírio. Contudo, a análise desses
resultados fornece apenas uma noção de densidade populacional e os dados devem ser
interpretados com cautela, já que muito pouco se conhece acerca da biologia de Lontra
longicaudis. Os indivíduos dessa espécie são solitários ou vivem em casal, e se tem pouca
informação acerca das dimensões de sua área de vida (Rosas, 2004).

Adicionalmente, não se conhece o número de abrigos que uma mesma lontra, ou um casal de
lontras, possa ter em seu território, tornando as estimativas de número de vestígios por
quilômetro de rio um índice questionável para estimar a densidade da espécie em uma
determinada área. No entanto, considerando a regularidade da deposição de fezes em
determinados locais dentro de seus territórios e a distância observada entre esses locais nas
amostragens realizadas no médio Xingu, pode-se deduzir que a quantidade de lontras naquelas
áreas seja realmente elevada.

Os moradores relataram que as lontras são vistas com menor freqüência que as ariranhas,
geralmente sozinhas ou no máximo em grupos de dois indivíduos.

A ariranha, embora presente também nas três áreas amostradas, parece ser menos freqüente que
a lontra. De maneira análoga, recomenda-se cautela ao avaliar o número de vestígios de
ariranha numa determinada área, uma vez que um mesmo grupo de ariranhas possui diversas

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tocas e latrinas comunitárias em seu território, e estas informações podem apenas determinar a
presença ou ausência da espécie, e fornecer, no máximo, uma idéia da quantidade de animais
presentes (ROSAS et al., 2006). Apesar disso, tais índices podem ser úteis como parâmetros
para caracterizar o uso de hábitat por essas espécies.

Assim, altas densidades de vestígios indicam, no mínimo, a importância da área para as


espécies em questão. O desvio de parte da vazão do rio Xingu pelos igarapés Galhoso e
Dimaria, conforme previsto no empreendimento, certamente resultará na destruição de habitats
importantes para a ariranha (Pteronura brasiliensis) e para a lontra (Lontra longicaudis),
espécies classificadas como ameaçadas e insuficientemente conhecida, respectivamente (IUCN,
2006).

As ariranhas foram avistadas na região da Volta Grande durante a seca e a enchente,


alimentando-se nas áreas de praias e nos pedrais. Na cheia, eles vão para as áreas de igapó.
Confirmando as informações fornecidas pelos entrevistados, foi possível observar as tocas
construídas pelas ariranhas, em uso, localizadas na ponta das Ilhas. Próximo à vila de Belo
Monte, as ariranhas também são observadas o ano inteiro, com maior freqüência na seca,
enquanto que na cheia elas vão para os poços localizados na região da Volta Grande. Segundo
os moradores, elas fazem as tocas nas margens, próxima às cachoeiras, mas também utilizam as
pedras como abrigo.

As ariranhas também são vistas com freqüência na região de Vitória do Xingu e na


comunidade Vila Nova, principalmente no inverno, nas áreas de igapó e nos igarapés. De
acordo com os moradores, elas constroem suas tocas no mesmo local onde existe criação de
gado.

Na região de Senador José Porfírio, os moradores relataram que a maré exerce grande
influência na movimentação desses animais; quando a maré enche, elas entram nos igarapés
atrás de alimento.

Quanto aos quelônios aquáticos observa-se que, comparando os dados obtidos nos
levantamentos de campo com o resultado da compilação de revisões das distribuições das
espécies amazônicas, verifica-se que apenas mata-matá não teve seu registro confirmado neste
estudo, apesar da literatura indicar a ocorrência desta espécie na região e que houve uma
elevada abundância de pitiú (Podocnemis sextuberculata), espécie que não foi mencionada
por nenhuma das revisões analisadas. Esta espécie também tem sido mencionada como
abundante nos relatórios do IBAMA, principalmente na região da ria do Xingu. A espécie
Platemys platycephala, também não incluída nas revisões bibliográficas foi capturada nos
levantamentos de campo realizados neste EIA.

Nos trópicos a distribuição de quelônios aquáticos está relacionada ao pulso de inundação dos
rios, que altera a disponibilidade de nutrientes e habitats, com maior oferta de alimento
(BURRY, 1979, BODIE e SEMLITSCH, 2000).

Desta forma, observou-se que Podocnemis unifilis ocorreu em todas as regiões amostradas por
pescarias experimentais, porém, a região a jusante de Belo Monte, apresentou maior
diversidade. Contra as expectativas baseadas na literatura, a tartaruga-da-amazônia (P.
expansa) foi registrada também a montante das cachoeiras da Volta Grande, inclusive com
registros de atividades reprodutivas.

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Essa tartaruga provavelmente não ocorria acima das cachoeiras do rio Xingu, mas diversos
animais adultos foram introduzidos por seringueiros e pelo próprio IBAMA, quando
apreensões na cidade de Altamira eram realizadas. Segundo relatos de técnicos e pessoas da
região, milhares de filhotes provenientes de tanques de criação em cativeiro, foram
introduzidos na região em função do rompimento destes criatórios. Ainda tais relatos
confirmam que estes animais vêm se reproduzindo, retornando anualmente às mesmas praias
para a desova, nos bancos de areia mais altos que se formam às margens do rio.

O canal do rio foi o ambiente com o maior número de indivíduos capturados, seguido pelo
remanso e beira do rio. Assim, os Podocnemidídeos predominam em termos de abundância no
canal principal, com este diferencial entre o trecho a jusante com tartarugas e pitiús, e a
montante com predominância dos tracajás. Estes resultados são corroborados por PEREIRA,
1958 e ALHO et AL., 1979.

Tanto P. expansa quanto P. sextuberculata realizam extensas migrações reprodutivas, saindo


da planície alagada e dos ambientes de alimentação para o canal principal, local das praias
arenosas. Os tracajás não empreendem movimentos sazonais e não apresentam a mesma
seletividade para a escolha dos sítios de desova (PRITCHARD e TREBBAU, 1984).

Em relação à biologia reprodutiva dos quelônios, foram inventariadas praias distribuídas nas
áreas amostradas pelos levantamentos de campo, tendo sido constatado que em 54 desses
bancos de areia foram encontrados desovas de quelônios com pelo menos uma espécie de
quelônio utilizando o sítio para reprodução. O monitoramento revelou que poucas fêmeas de
P. expansa utilizam as praias no trecho à montante das cachoeiras.

Ninhos de P. sectuberculata foram encontrados apenas na área a jusante da AID. Já P. unifilis


reproduz-se em toda a extensão do rio Xingu amostrada no âmbito deste estudo; a tartaruga-
da-amazônia usa, além da região das praias a jusante, outras praias localizadas a montante das
cachoeiras.

Na área correspondente ao compartimento Reservatório do Xingu foi observado o maior


número de locais de desova (30 sítios) de tracajá, mas o maior número de ninhos foi
registrado a jusante da área do empreendimento.

Dois principais ambientes de desova foram identificados: as praias, que variam bastante em
extensão e grau de cobertura vegetal; e as sarobas, que são pequenos conjuntos de ilhotas,
formadas por pedras e areia, com vegetação herbácea-arbustiva associada (região dos
pedrais). Estas regiões foram apontadas como os principais locais de desova de tracajás a
montante de Belo Monte.

Uma das grandes preocupações dos especialistas são a perda de ninhos e as baixas taxas de
eclosão das tartarugas na região. As principais causas da perda de ninhos é a por humanos e
pelo lagarto Tupinambis nigropunctatus. Na região do tabuleiro uma das causas de perda de
ninhos é o alagamento das covas. A produção anual de filhotes no tabuleiro do Embaubal,
vem sendo afetada pelos repiquetes e pelas marés, fator que explica a drástica variação na
produção de filhotes ano após ano, nessa região.

No consumo humano os quelônios considerados preferidos, segundo entrevistas realizadas


junto à população da região, foram o tracajá e o jabuti, seguidos da tartaruga e do cabeçudo.
Os rejeitados constituem um grupo bem mais diversificado, sendo a perema a mais rejeitada,

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seguida do cabeça-torta, da tartaruga, do cabeçudo, do jabuti e do jabuti-machado. Esses
animais são considerados ‘reimosos’, expressão usada regionalmente para definir animais
muito gordurosos e que devem ter restrição no consumo.

Do total de animais caçados pela população ribeirinha monitorada neste estudo, apenas 10%
dos animais caçados (26 tartarugas) foram comercializadas, sendo todo o restante consumido
pelas famílias dos pescadores; portanto, parece se tratar mais de uma atividade de subsistência
da população local.

Foram observadas, nesse trecho, 4 espécies de crocodilianos (C. crocodilus, M. niger, P.


trigonatus, P. palpebrosus)

Entre as aves, foram levantadas nesse compartimento as seguintes espécies: frango-d'água-


azul (Porphyrio Martinica), trinta-réis-de-bico-preto (Gelochelidon nilótica), rolinha-roxa
(Columbina talpacot)i, freirinha (Arundinicola leucocephala), japacanim (Donacobius
atricapilla), canário-do-amazonas (Sturnella militaris), tiziu (Volatinia jacarina), caboclinho-
lindo (Sporophila minuta), cigarra-do-coqueiro (Tiaris fuliginosus), furriel-canário
(Caryothraustes canadensis), pia-cobra (Geothlypis aequinoctialis), polícia-inglesa-do-norte
Sicalis columbiana).

As seguintes espécies são associadas aos ambientes aquáticos e foram capturadas em todos os
compartimentos associados ao rio: biguá, mergulhão (Phalacrocorax brasilianus), biguatinga,
carará (Anhinga anhinga), garça-moura, maguari (Ardea cocoi), garça-branca-grande (Ardea
Alba), garça-branca-pequena (Egretta thula) , carão (Aramus guaraúna), gavião-real (Harpia
harpyja), trinta-réis-grande (Phaetusa simplex), jacana (Jacana jaçanã), trinta-réis-anão
(Sternula superciliaris).

O gavião-real (Harpia harpyja) é apontado pelo BirdLife como quase ameaçado


mundialmente.

Este compartimento apresenta áreas com vegetação de terra firme ainda preservadas,
permitindo que espécies de primatas que somente ocorrem na margem direita do rio Xingu,
encontrem abrigo nestas áreas, com é o caso do cuxiú (Chiropotes utahickae), sagüi-preto
(Saguinus Níger) e mico-de-cheiro (Saimiri sciureus) ocorrem na margem direita do rio
Xingu. Já o Mico argentatus ocorre dos dois lados do rio, mas do lado direito, a espécie já foi
avistada apenas mais ao norte da área de estudo, na região da planície do rio Amazonas
(FERRARI; LOPES, 1990).

Mesmo apresentando áreas ainda de floresta ainda preservadas não foi observado o cachorro-
do-mato (Atelocynus microtis) que, não teve ocorrência registrada na AID.

Em geral, as espécies de roedores de médio e grande porte (Rodentia) e ungulados (ordens


Artiodactyla e Perissodactyla) encontrados nas áreas de estudo são de ampla distribuição para
a Amazônia, com algumas diferenças entre interflúvios. A maioria dos representantes desses
grupos é de interesse da população humana, principalmente como fonte de alimentos.

Com relação aos répteis terrestres, Kentropyx altamazonica (Teiidae) e Mabuya bistriata
(Scincidae) foram registrados em áreas contíguas aos tabuleiros de desova de tartaruga na
Baía de Souzel, a jusante da Volta Grande. Essas duas espécies ocorrem nessa região apenas
em ambientes adjacentes ao rio, sem penetrar na floresta de terra firme.

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No que diz respeito aos estudos de qualidade da água superficial tem-se, neste compartimento
(Trecho A3), a cidade de Vitória do Xingu com 9.693 habitantes e localizada na margem
esquerda do rio Xingu, no início do trecho da ria do Xingu e a jusante da futura Casa de
Força.

Esses estudos registraram que as águas do igarapé Tucuri e do rio Xingu neste trecho
apresentaram elevadas temperaturas durante todas as campanhas de amostragem, com
destaque para os valores acima de 30ºC na campanha de seca, quando os sistemas têm baixa
profundidade.

Ambos os sistemas analisados apresentam águas ácidas, com valores próximos a neutralidade
na campanha de enchente. O igarapé Tucuri apresentou valores críticos e abaixo de 6 nas
campanhas de enchente e vazante. O dois sistemas analisados apresentaram baixa turbidez nos
pontos analisados em todas as campanhas.

As águas são em geral bem oxigenadas e a condutividade elétrica foi baixa no rio Xingu em
todas as campanhas, sofrendo pouca variação sazonal.

A variação sazonal da caracterização de íons totais dissolvidos não apresentou um padrão bem
definido e, o ponto do rio Xingu localizado mais a jusante na Ria do Xingu apresentou a
maior concentração da rede de amostragem com 119,75 mg/L na vazante e teve como
principais contribuintes os elementos cloreto e sódio. Os demais íons analisados revelaram
baixas concentrações, sendo que o brometo apresentou considerável aumento na estação de
cheia. Os resultados dos elementos fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio e ferro estiveram em
conformidade com os limites determinados pela legislação para corpos de água classe 1 e 2.

Todos os pontos de jusante apresentaram valores superiores ao limite estabelecido para cursos
de água classe 2 para cromo nas campanhas de enchente e cheia. Todos os pontos de coleta
neste trecho apresentaram valor superior ao limite para o elemento chumbo na enchente. O
chumbo esteve presente em elevadas concentrações no Xingu durante a cheia, além de cromo,
níquel e zinco em elevadas concentrações, na enchente.

Em relação aos compostos nitrogenados, as concentrações das três formas analisadas foram
baixas nos cursos hídricos analisados, sendo que os limites de 3,7 mg/L de amônio e de 10
mg/L de nitrato determinados para os sistemas classes 1 e 2 não foram atingidos em nenhuma
campanha. Mas é importante destacar a elevada concentração de nitrato no rio Xingu no
período de vazante. As concentrações de fosfato total foram baixas e inferiores ao limite de
0,1 mg/L estabelecido pela legislação.

A caracterização limnológica do trecho do rio Xingu localizado na área a jusante da futura


Casa de Força e que receberá as águas restituídas dos reservatórios do Xingu e dos canais
diagnosticou boa qualidade de água nos principais períodos do ciclo hidrológico.

No trecho da calha do rio Xingu, entre Vitória do Xingu e Senador José Porfírio foram
identificados estandes de macrófitas compostas predominantemente da espécie Montrichardia
linifera distribuídos em cinco bancos entre a estação de coleta TUC01 e RX16 além de
estandes isolados de Echinochloa polystachya formando ilhas que atingem 1 a 2 km2.

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No Igarapé Tucuruí, no trecho que vai do porto de Vitória do Xingu até a sua foz com o rio
Xingu, a ocorrência da aninga se dá uniformemente em suas margens, verificando-se,
também, a presença de pequenos agrupamentos de Eichornea azurea.

Os valores de pH apresentaram um valor médio de 7,0, a condutividade elétrica apresentou


valores médios de 27 µS/cm para todo o período e as concentrações de oxigênio oscilaram em
torno de 8,0 mg/L, não sendo observadas concentrações abaixo do limite máximo permitido
pelo CONAMA 357 para águas de Classe 1 e 2. As concentrações de fósforo total foram
maiores no período de cheia no rio Xingu. As concentrações de nitrogênio total kjeldahl
foram maiores nos períodos de enchente e cheia, indicando o aporte da bacia. Porém, tanto as
concentrações de fósforo total como de nitrogênio foram muito inferiores ao limite máximo
permitido pelo CONAMA 357 para águas de Classe 1 e 2.

Os coliformes termotolerantes E. coli apresentaram concentrações inferiores ao limite


máximo permitido como satisfatório para balneabilidade (CONAMA 274 e CONAMA 357)
no rio Xingu. A DBO (demanda bioquímica de oxigênio) apresentou concentrações maiores
no período de enchente, quando os cursos de água carregam maior quantidade de material em
decomposição originado na bacia de influência e lixiviado pelas chuvas.

O compartimento relativo ao Trecho de Restituição de Vazão compreende a área a jusante da


Casa de Força Principal do AHE Belo Monte, abrangendo a porção do município de Vitória
do Xingu localizada ao norte da Rodovia Transamazônica e a parte Norte do município de
Senador José Porfírio.

Em função de sua localização, trata-se de uma região sob forte influência da Rodovia
Transamazônica (BR-230) e na qual os modos de vida da população, diferentemente dos
compartimentos relativos ao Reservatório dos Canais e Trecho de Vazão Reduzida, não são
tão dependentes do Rio Xingu.

As principais vias de acesso são a Rodovia Transamazônica (BR 230) e a Rodovia Ernesto
Accioly (PA-415), que ligam a sede de Altamira a Vitória do Xingu. Destaca-se, ainda, a
Rodovia PA-167 e os diversos travessões que cortam esse compartimento: Travessões km 45
Norte, km 40 Norte, km 32 Norte, km 23 Norte, km 13 Norte, além do Travessão do Bambu,
Travessão Tijuca, Travessão Timbira e Travessão Boa Vista. Esse compartimento é
caracterizado pela presença de 06 localidades, distribuídas em uma área de 2.855 km2,
conforme quadro a seguir.

Segundo a classificação do IBGE, Vila Nova é considerada outro aglomerado e uma ilha
localizada no Rio Tamanduá, afluente do Rio Xingu. Além dessa localidade, foram
identificados 05 núcleos de referência rural, dispersos nos principais travessões e vicinais,
classificados segundo a identidade espacial e presença de equipamentos sociais. A
denominação dos núcleos de referência rural foi definida de acordo com as informações
obtidas durante as pesquisas socioeconômicas e sócio-antropológicas e, geralmente, remete a
elementos territoriais, como travessões e rios, ou religiosos.

Para fins de caracterização, é importante destacar que embora as sedes urbanas dos
Municípios de Senador José Porfírio e Vitória do Xingu estejam localizadas territorialmente
dentro desse compartimento, estas serão caracterizadas separadamente, sendo que Vitória do
Xingu foi caracterizada no compartimento Reservatório dos Canais, compartimento que
abrange grande parte do seu território.

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Senador José Porfírio

O Município de Senador José Porfírio não tem continuidade territorial, sendo dividido em
duas áreas, um ao norte e outra ao sul do município de Vitória do Xingu e o acesso à sua sede
é feito pela rodovia PA-167, partindo da Transamazônica, ou pelo Rio Xingu a partir de
Vitória do Xingu ou de Belém.

O povoamento que deu origem ao atual município de Senador José Porfírio surgiu por volta
de 1750, quando as antigas missões da Companhia dos Jesuítas após vencerem por terra a
Volta Grande do Rio Xingu, chegaram à região e se estabeleceram. Lá fundaram uma missão
e abriram uma estrada primitiva, para ligar a nova missão à localidade de Cachoeira no rio
Tucuruí. A expulsão dos jesuítas fez com que essa estrada e a missão ficassem praticamente
abandonadas, vindo a ser, posteriormente, reconstruídas por outra missão, dos Capuchos da
Piedade, que promoveu o seu crescimento e desenvolvimento.

Os capuchinhos iniciaram também um povoamento a montante da foz do rio Ambé, afluente


pela margem esquerda do Rio Xingu, que veio a ser o povoado de Altamira e, mais tarde, a
vila de Altamira. As tentativas de estabelecimento de uma ligação entre Cachoeira e o
povoado de Altamira não tiveram sucesso até o final do século XIX, quando José Porfírio de
Miranda Júnior, que desbravou quase todo o Vale do Rio Xingu, fundou também a vila de
Vitória.

O povoamento inicial foi denominado Souzel, nome de uma cidade portuguesa, como
aconteceu em outras localidades do Pará, como Santarém, Faro e Óbidos, por exemplo.
Souzel foi alçado à categoria de município em abril de 1874, tendo sido eleito como seu
intendente José Porfírio de Miranda Junior, que hoje dá o nome ao Município.

A cidade teve seu início nas margens do Rio Xingu e durante décadas ficou limitada às áreas
mais próximas do rio. Apenas na segunda metade do século XX começou, aos poucos, a se
expandir para as áreas mais afastadas, tendo crescido com um traçado bastante regular. As
últimas quadras abertas apresentam ocupação bastante recente.

A sede municipal de Senador José Porfírio possui uma população de 6.278 habitantes,
correspondendo a 5,2% da população total da AID. Essa população por origem outros
municípios do Pará e, assim como as demais cidades da região, e também tem significativa
proporção de migrantes provindos do Estado do Maranhão.

Embora não tenha sido implantado, o Município elaborou e aprovou seu Plano Diretor em
2006. Esse instrumento definiu o ordenamento do território municipal com a definição do
macro zoneamento, considerando a sede do município e dos distritos como áreas urbanas, e
criando duas outras categorias de uso: área de proteção integral e área de expansão
econômica.

O Plano determinava que, no prazo de um ano, deveria ser elaborada a legislação urbanística e
edilícia necessária à sua implementação, a saber: leis de zoneamento, uso e ocupação do solo
urbano, de parcelamento do solo urbano, códigos de obras, de posturas e ambiental.
Entretanto, com a mudança no governo estadual, em função das eleições, o convênio expirou
e não foi renovado, ficando esses instrumentos pendentes, o que implicou a não
implementação do Plano Diretor.

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A sede municipal, por sua vez, foi organizada segundo zonas homogêneas de uso, tendo sido
reconhecidos os usos atualmente predominantes. São confirmadas as categorias de uso
habitacional, comercial, misto, governamental, recreação e de serviços.

A cidade de Senador José Porfírio encontra-se na margem direita do rio Xingu e tem uma
forma bastante regular, próxima de um retângulo cujas laterais são definidas por igarapés. A
malha viária segue a regularidade de seu perímetro urbano com as ruas principais
perpendiculares à margem do Rio Xingu onde existe uma orla urbanizada em alguns pontos
que proporcionam uma área de lazer para a sua população.

A ocupação é mais densa junto ao rio, onde começou o povoamento e os usos predominantes
são: residencial, comercial, misto, governamental, recreativo e de serviços. Os serviços foram
classificados pelo Plano Diretor Municipal de 2006 em dois subgrupos: (a) serviços urbanos,
excluídos os sociais/ comunitários; (b) comunitários/ sociais, saúde, lazer, culturais (excluídas
áreas verdes de uso público para preservação).

A área urbana é contínua, mais adensada nas margens do rio, a partir do Centro e da Rua das
Flores, que faz a ligação com a rodovia, mas ainda com muitos lotes vazios no Maranhenses,
à medida que se avança na direção leste da cidade. O Bairro Novo registra o maior número de
lotes vagos.

O Município tem doado os lotes aos moradores e não cobra Imposto Predial e Territorial
Urbano – IPTU, nem taxa de água. Na parte mais antiga da cidade, segundo informações da
Secretaria de Obras, cerca de 60% dos imóveis estão com titulação regularizada.

As construções, na sua maioria, apresentam recuos frontais e laterais. As ruas largas e planas
formam um espaço aberto e bastante permeável. A quase totalidade das travessas cruza a
cidade no sentido oeste-leste, chegando às margens do Rio Xingu, enquanto as ruas o fazem
no sentido norte-sul.

A largura das vias e a predominância das construções térreas dão uma sensação de espaços
amplos e abertos a toda a cidade e de uma estrita relação com o rio. Não existem ocupações
irregulares, cortiços ou favelas na cidade.

Na parte mais consolidada da cidade, as construções são de alvenaria, com cobertura em


telhas de cerâmica, térreas ou assobradadas. Ainda há casas antigas, em taipa. À medida que
se afasta do centro em direção aos bairros mais recentes, predomina a construção térrea em
madeira, particularmente no Bairro Novo, com telha de barro, de madeira ou fibrocimento.
A trama viária de Senador José Porfírio é ortogonal, composta por ruas e avenidas largas
iniciando às margens do Rio Xingu, no sentido norte-sul, com algumas vias pavimentadas na
área central e parte dos bairros dos Linhares e Maranhenses sendo cerca de 20% delas
asfaltadas e 80% em bloquete.

As demais ruas não têm pavimentação nem calçadas. É evidente a diferença de tratamento do
espaço urbano na orla do rio, entre os bairros Centro e Encantado. As vias que margeiam o rio
são completamente distintas, como se fossem de cidades diferentes.

Boa parte da cidade tem valas abertas em frente às casas, para escoamento das enxurradas,
uma vez que não existe rede de drenagem pluvial Apenas um pequeno trecho dessas valas é

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coberto. Como não existe serviço permanente de limpeza dessas valas, elas acumulam mato e
lixo, não conseguindo escoar a água das chuvas, que não raramente alcança as casas.

O Município não conta com transporte coletivo, tendo grande fluxo de bicicletas e
motocicletas, principalmente na área do centro e de comércio. A sede do Município usa
bastante o transporte hidroviário, basicamente para a ligação com a sede do Município de
Vitória do Xingu e atendimento às áreas rurais lindeiras ao Rio Xingu. Para tanto, conta com
um trapiche e um pequeno terminal de embarque e desembarque de passageiros e carga.

O transporte escolar é feito por 1 microônibus e uma kombi da Prefeitura Municipal, 3


kombis e 2 caminhões locados. Quando da realização da pesquisa, havia previsão de
recebimento até setembro de 2008, pela Prefeitura Municipal, de um ônibus para o transporte
escolar.

Parte da cidade é abastecida de água, cuja captação é feita em poços profundos, de 120 m, e
distribuição por dois sistemas interligados. Apenas as áreas mais distantes do Bairro Novo,
bem como o bairro Piquiá, ainda não são servidas com abastecimento de água.

Não há sistema de esgotamento sanitário na cidade; as edificações adotam o sistema de fossas


sépticas, nas partes mais consolidadas da cidade e fossas negras, nas áreas mais precárias.
Há coleta diária de lixo, em caminhão aberto, na parte central. Nos bairros a coleta é feita em
dias alternados. O lixo coletado é depositado a céu aberto (lixão), em um terreno a 3 km do
centro da cidade. A Prefeitura, regularmente, revolve e cobre o lixo com terra.

Como já mencionado, não há rede de drenagem pluvial na cidade. O terreno extremamente


plano não favorece o escoamento das águas. Para tentar resolver essa questão, têm sido
cavadas valas nas laterais das ruas, sem sarjetas ou meio-fios. Entretanto, não há manutenção
dessas valas; o mato e a sujeira acumulada, inclusive de lixo jogado pelos moradores ou
trazido pelo vento, fazem com que as valas não funcionem como escoadouros da água que,
não raramente, invade as casas. Há 2.000 metros de valas de águas pluviais na cidade. Apesar
delas, nas grandes enchentes, as casas são atingidas pelas águas.

A cidade toda é abastecida por rede de energia elétrica e iluminação pública, com energia
gerada em Tucuruí e dispõe de sistema de telefonia fixa e móvel. Há telefones públicos
distribuídos pelas ruas da cidade e uma agência dos Correios, que funciona como banco
postal.

As escolas na zona urbana, distribuídas nos diversos bairros atendem alunos da Educação
Infantil; Ensino Fundamental e Ensino Médio. Senador José Porfírio possui, na sede
municipal, um Centro de Saúde, uma Unidade Básica de Saúde da Família e uma unidade de
Vigilância Epidemiológica. Há, ainda, um hospital municipal, no Centro, que atende pelo
SUS e pediatria. A unidade onde funcionava o PSF foi transferida para uma casa da Prefeitura
para dar lugar à construção deste um hospital de 15 leitos, obra do governo do Estado do Pará.
As instalações físicas deste hospital são muito amplas, distribuídas em três alas. Entretanto,
não dispõe de centro cirúrgico. Está prevista a implantação de outra equipe do PSF na sede do
município, e as duas devem atuar nesta unidade em construção.

A principal área de entretenimento e lazer da cidade é a orla representada pela Rua


Mangabeira Barata (Rua da Frente) e pela Praia do Leme, além do próprio Rio Xingu.

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Senador José Porfírio é sede de comarca e conta com uma Delegacia de Polícia e um Fórum.
As instalações da Prefeitura Municipal são simples, mas adequadas ao porte do município e as
Secretarias Municipais funcionam em outros imóveis espalhados pela cidade. A Prefeitura
possui 5 Secretarias: Administração e Finanças, Educação, Saúde, Trabalho e Promoção
Social e Agricultura.

O município dispõe de Lei Orgânica e cumpre as exigências legais de elaboração do Plano


Plurianual e das Leis de Diretrizes Orçamentárias e do Orçamento Anual. O município não
conta com bases cartográficas, cadastro imobiliário ou planta de valores, o que dificulta a
cobrança de IPTU e outros tributos. Também não existe um serviço de informações
municipais estruturado, a não ser as relativas às áreas de Saúde e Educação, organizadas em
função das exigências dos programas federais para esses dois setores.

Não há serviço de fiscalização de uso e ocupação do solo, aprovação e fiscalização de


projetos de parcelamento ou de edificações e obras, nem de licenciamento para o
funcionamento de atividades econômicas, pela inexistência dos instrumentos regulatórios.
Também não existe serviço de dívida ativa implantado no Município.

Cabe, entretanto, salientar a existência Lei Municipal nº 002, de 12 de julho de 1983, que
dispõe sobre a determinação de área de terra para a criação de uma Reserva Biológica, com
100 metros de cada lado do Igarapé Nazaré, e a proposta de criação do Monumento Natural de
Senador José Porfírio. Este último, situado na área em que se localiza a gruta Leonardo da
Vinci, com 176 metros de desenvolvimento, pelo fato de que, talvez, seja a única gruta
desenvolvida em rocha folhelho, na Amazônia.

O município de Senador José Porfírio desenvolve vários projetos no âmbito educacional,


cultural e ambiental. Segundo informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Educação
de Senador José Porfírio, nos últimos anos houve grandes investimentos no que se refere à
construção de escolas e qualificação dos profissionais, entretanto, o número de escolas ainda
não é suficiente para atender a demanda da rede municipal de Ensino. Além disso, há carência
quanto à qualificação dos educadores, especialmente nas áreas de conhecimentos mais
específicos. Trata-se de um problema antigo, que preocupa a administração municipal desde a
década de 1990.

Para amenizar esse problema, em 1992, foi criado o Projeto Gavião I, uma parceria do
Município com a Universidade Federal do Pará, com o objetivo de melhor qualificar os
professores da rede municipal de ensino através da realização de cursos de formação de
docentes para o ensino fundamental de 5ª a 8ª série. A partir de 1997, a educação do
município passou por muitas transformações, desde mudanças administrativas até a realização
do primeiro concurso público para docentes no município. Em 1998, deu-se seqüência ao
Projeto Gavião I e início ao Projeto Gavião II, que promove a qualificação de professores no
nível de 2º grau magistério.

Outro projeto importante no setor educacional do município é o Projeto Aprendendo a


Aprender, implantado em 2006 com o objetivo de esclarecer e preparar os docentes para
trabalharem com alunos especiais em turmas normais. O projeto foi orçado no valor de R$
506,00 e tinha o objetivo principal de esclarecer junto a família, a comunidade e outras
instituições o tema abordado, contribuindo assim, para o sucesso pedagógico da inclusão de
alunos com necessidades especiais em salas comuns.

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O Projeto Resgatando a História e Cultura Afro-brasileira, implantado em dezembro de 2006,
representou o intercâmbio entre as escolas da rede municipal da zona rural e urbana do
município de Senador José Porfírio (PA). Seu intuito era o de evidenciar a contribuição dos
africanos na construção da identidade cultural do povo brasileiro, e, ao mesmo tempo, atender
à Lei 10.639 que institui a obrigatoriedade do ensino de História da África e dos Africanos no
currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio. O Projeto, orçado em R$ 3.000,00,
promoveu debates e estudos sobre as influências da cultura africana na construção da cultura
brasileira e apresentou à comunidade local as atividades desenvolvidas durante o ano nas
escolas da rede municipal dentro da disciplina destinada ao ensino da história da África.

Quanto aos projetos realizados em parceria com outras entidades, destacam-se os Projetos
Navegar IV, Tartaruga Viva, Banda Municipal de Música e o Festival do Caratinga. O Projeto
Navegar IV, criado através do convênio entre a Secretaria Estadual de Esporte e Lazer
(SEEL) e a Prefeitura Municipal, é um dos mais importantes de Senador José Porfírio. O
projeto visa o atendimento das crianças de escolas da rede pública de ensino, com idade entre
12 a 15 anos, e busca incentivá-las à prática de esportes náuticos, tais como vela, remo e
canoagem.

O Projeto Navegar possui sede própria, onde são ministradas “aulas de introdução e
segurança, básico de canoagem, vela e remo, introdução de ecossistema, noções de
salvamento, primeiros socorros, práticas de nós e cabos e civismo e cidadania”.

O Projeto Tartaruga Viva, implantado em 2001, tem o objetivo de integrar os alunos da Rede
Municipal de Ensino em um trabalho de preservação ambiental e preservação da cultura local.
Trata-se de uma parceria entre o IBAMA-CENAQUA e diversas Secretarias Municipais de
Senador José Porfírio (Educação, Cultura, Desporto e Turismo; Saúde e Meio Ambiente e
Assistência Social), na tentativa de proteger as tartarugas, através da implantação de um
projeto que envolva adultos e crianças. O trabalho, desenvolvido em conjunto por professores,
alunos e técnicos do IBAMA, objetiva proteger a reprodução das tartarugas, através da coleta
dos filhotes nas covas naturais, levando-os para um viveiro, onde permanecem por um
período específico, para fortalecimento da carapaça e perda do odor característico. Depois, é
feita a contagem e soltura dos filhotes no ambiente natural.

O Projeto da Banda Municipal de Música data de 2000 e é realizado através de parceria entre
a Prefeitura Municipal e o reformatório Carlos Gomes. Entretanto, segundo informações da
Secretaria Municipal de Educação, devido à falta de recursos financeiros e bolsa de estudos
para os alunos da banda principal, o número de alunos vem diminuindo muito com o passar
dos anos.

O Festival do Caratinga, implantado em 1990, tem o objetivo de promover a melhoria da


qualidade de vida da população por meio da realização de atividades de entretenimento e
lazer. Tais atividades são planejadas de forma a valorizar a cultura popular, através da
manutenção e resgate das tradições culturais locais e, também, conscientizar a população
quanto aos impactos da ação humana sobre o meio ambiente e às ações necessárias à
preservação do patrimônio natural.

A pesca do caratinga, realizada pelos pescadores locais, expressa a identidade, força,


determinação e sobrevivência do povo ribeirinho do Xingu. Outrossim, essas atividades vêm
permitindo a compreensão dos impactos da ação humana sobre o meio ambiente e
conseqüentemente os ajustes necessários para a interação do homem com o recurso natural de

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maneira que o patrimônio cultural preserve o natural. O nome do festival remete ao peixe
caratinga, peixe dourado ou prateado, o tipo mais comum e tradicional da região de Senador
José Porfírio, aparecendo, em maior quantidade, entre os meses de dezembro e março e
tornando-se, neste período, a base da alimentação da população local.

O Festival do Caratinga, realizado através de uma parceria entre a Secretaria Municipal de


Educação e as escolas municipais, tem sido, nos últimos anos, uma das maiores manifestações
culturais entre todas as que ocorrem em Senador José Porfírio.

Em Senador José Porfírio há várias associações diretamente relacionadas a organização


coorporativa dos trabalhadores rurais, além da atuação de movimentos de abrangência
regional, como o Movimento para o Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu – MDTX e
a Fundação Viver, Produzir e Preservar – FVPP.

Área Rural do Compartimento

O Trecho de Restituição de Vazão encontra-se dividido pelo estirão do Rio Xingu, situado a
jusante da Casa de Força Principal projetada para o AHE Belo Monte.

Na margem direita, pertencente ao município de Senador José Porfírio e inseridos na Gleba


Belo Monte estão localizados quatro PA: Arapari (9.24 ha), Araraquara (3.940 ha), Canoé
(10.709 ha) e Jaraua (4.737 ha). Na margem esquerda, município de Vitória do Xingu, situam-
se a Gleba Tubarão e parte da Gleba Tapará, além da porção Norte do Projeto Agropecuário
Rio Joá, já mencionado no compartimento do Reservatório dos Canais.

Existe ainda, na parte central da margem esquerda desse compartimento, uma área “em
identificação” proposta para abrigar a TI Juruna. A cobertura vegetal é representada por
fragmentos da Floresta Ombrófila Aberta e áreas de pastagem e de culturas cíclicas com
predominância da primeira. As culturas cíclicas estão mais presentes na porção desse
compartimento localizado no município de Senador José Porfírio (6%).

A densidade demográfica apresentada para a zona rural de Senador José Porfírio é superior às
densidades das zonas rurais da região (2,0 hab./km2), ainda que atualmente, apresente uma
taxa de crescimento geométrico negativo (-7,96).

Quanto ao número de famílias residentes, as entrevistas realizadas durante as pesquisas


socioeconômicas e socioantropológica indicam a presença de, aproximadamente, 550 famílias
nas localidades pesquisadas, sendo 350 delas no aglomerado Vila Nova.

A população migrante residente nas localidades é composta por 860 pessoas, oriundas, em
79% dos casos, de outros municípios do Estado do Pará.

Em linhas gerais, no trecho a jusante do Reservatório dos Canais é onde se encontra a maior
concentração de população ribeirinha da AID. Deve-se destacar que, conforme já apresentado
na caracterização dos compartimentos do Reservatório dos Canais e TVR, os povoados Belo
Monte e Belo Monte do Pontal também estão localizados territorialmente a jusante do
reservatório dos canais. Estes dois povoados constituem locais de recepção de migrantes que
transitam pela Rodovia Transamazônica. A partir desse ponto, em direção a foz do Rio Xingu
e, portanto, em relação aos aglomerados e núcleos que são caracterizados neste

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compartimento, predomina a ocupação tradicional, marcadamente extrativista. As principais
atividades são vinculadas à seringa, à pesca, à coleta de sementes etc.

Desse modo, a caracterização da dinâmica espacial das localidades a jusante passa,


necessariamente, pela função que o ribeirinho atribui ao espaço através da relação com o
espaço da produção, da religiosidade, da recreação, dos mitos e das crenças associados a
presença do rio. O espaço, com todas as suas representações, é a expressão viva da forma pela
qual a população ribeirinha constrói suas referências identitárias: é o seu lugar de liberdade,
de segurança, seu lar, seu "lugar".

Segundo as informações obtidas nas pesquisas de campo, as localidades identificadas nesse


compartimento possuem entre 30 e 101 anos de existência, sendo o aglomerado Vila Nova
aquele que registra a ocupação mais antiga.

O compartimento relativo ao Trecho de Restituição da Vazão apresenta um quadro de


atividades econômicas no qual são mais expressivas as culturas da mandioca e da pimenta-do-
reino e a criação de gado na porção referente ao município de Senador José Porfírio. Já na
porção do compartimento que pertence à Vitória do Xingu, destaca-se a pecuária, praticada
em médios e grandes estabelecimentos e a produção de mandioca nos pequenos. Estas
atividades também são desenvolvidas na modalidade de subsistência, associando-se à pesca.

Na Agrovila Cilo Bananal é desenvolvida a apicultura.

Destaca-se, ainda, a cultura do cacau em Vitória do Xingu, em áreas que possuem


sombreamento da mata. O cultivo é realizado por pequenos produtores, sendo a produção
muito pouco organizada e a comercialização realizada por meio de atravessadores, que
revendem para grandes empresas produtoras de derivados do cacau.

As localidades nesse compartimento dispõem de infra-estrutura de serviços extremamente


simples e a maioria das famílias também utiliza Altamira para atendimento médico e outras
demandas, como comércio e serviços.

A água para utilização doméstica dos moradores das localidades é captada individualmente e,
em geral, é proveniente de poço (60%), do Rio Xingu (15%) e de igarapés (25%). Quanto à
energia elétrica, apenas Vila Nova e a Agrovila Cilo Bananal dispõem desse serviço. Destaca-
se que a energia da Agrovila Cilo Bananal é fornecida pela CELPA.

A exemplo dos outros compartimentos verifica-se precariedade da infra-estrutura de serviços.


Novamente, o único equipamento social comum a todas as localidades pesquisadas é a escola
e, à exceção de Vila Nova, cada localidade conta com apenas 01 unidade de ensino, que oferta
as primeiras séries do ensino fundamental. É importante mencionar que, ao longo da Rodovia
Ernesto Acioly (PA-415), há diversas escolas municipais que atendem à população residente
ao longo dos travessões.

Quanto aos postos de saúde, apenas 04 das 06 localidades dispõem desse equipamento.
Apenas os núcleos de referência rural Bom Pastor e Travessão do Bambu não contam com a
presença de um posto de saúde. Destaca-se, ainda, que o posto de saúde do Núcleo de
Referência Rural, em função de sua localização na Rodovia Ernesto Acioly (PA-415),
caracteriza-se como um importante ponto de apoio aos viajantes e moradores da região.

6365-EIA-G90-001b 159 Leme Engenharia Ltda.


Existem 12 estabelecimentos comerciais nas 06 localidades deste compartimento, sendo 5
deles em Vila Nova e 03 no Núcleo de Referência Rural Alto Brasil.

As igrejas estão presentes em todas as localidades, exceto no Núcleo de Referência Rural


Padre Eurico Krautler. Destaca-se o grande número de igrejas no Núcleo de Referência Rural
Alto Brasil. É importante mencionar, ainda, a grande quantidade de igrejas evangélicas em
toda a AID.

A população deste compartimento conta, ainda, com 02 equipamentos voltados à educação,


sendo 01 em Vila Nova e 01 no núcleo Bom Pastor. Trata-se do PETI – Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil.

Esse compartimento destaca-se por contar com um número maior de equipamentos voltados
ao lazer, especialmente os relacionados à prática de esportes, se comparado aos
compartimentos relativos ao Reservatório dos Canais e TVR. As pesquisas realizadas
identificaram apenas 01 cemitério nas 06 localidades, localizado em Vila Nova.

Os principais problemas apontados pelos moradores entrevistados referem-se à precariedade


da infra-estrutura de saúde, a falta de saneamento básico e de energia elétrica e a má
qualidade das estradas.

Estes problemas refletem-se nos depoimentos dos moradores dos núcleos localizados nesse
compartimento, em relação à possibilidade de implantação do empreendimento.

A possibilidade de implantação do AHE Belo Monte e, principalmente a história de “idas e


vindas” deste empreendimento tem construído, ao longo dos últimos vinte anos,
representações no imaginário coletivo. Grosso modo, essas representações estão centradas
numa idéia de “desenvolvimento” em oposição à idéia de “destruição” da região. Nesses
termos, é importante a compreensão dos significados que podem ser agregados a ambas as
“idéias”. De um lado se tem uma noção de desenvolvimento que se confunde com o exercício
da cidadania dessa população, que hoje vive em condições precárias no que se refere ao
acesso a uma rede de serviços essenciais; expressa através da demanda por investimentos e
negócios para a região. De outro, a percepção da “destruição” nos termos do aumento dos
conflitos e contradições já existentes, considerando a expectativa de que o AHE Belo Monte
seja implantado tal como a experiência ocorrida no município de Tucuruí em meados da
década de 80.

9.4.4 Trecho de Vazão Reduzida

Compreendem 1.675 km2 da ADA/AID, abrangendo o trecho do rio Xingu a jusante da futura
barragem de Belo Monte, que poderá ter redução de vazão, caso o empreendimento venha a
ser construído, além do baixo curso do rio Bacajá e suas áreas de entorno. Por ser considerado
um dos trechos do rio Xingu mais sujeito aos efeitos negativos do empreendimento, a esse
compartimento foi dado um tratamento aprofundado sendo objeto de estudos específicos,
visando ao aprofundamento do conhecimento de seus atributos ambientais com o objetivo de
embasar uma proposta de um hidrograma ecológico para essa região.

Os resultados desses estudos específicos, além das informações provenientes dos estudos
temáticos são reunidos em um diagnóstico integrado específico para esse trecho, apresentado
no item 9.5.

6365-EIA-G90-001b 160 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continua
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais

Compreende uma porção da ADA/AID com 2.357


Compreende uma porção da ADA/AID situada Compreende uma porção da ADA/AID com 102 km2,
km2, abrangendo o Sitio Pimental, o reservatório Compreende uma porção da ADA/AID com 1.675 km2,
na parte interna Volta Grande do Xingu, com abrangendo o trecho da calha do rio Xingu e suas áreas
do Xingu, suas áreas de entorno e as bacias de abrangendo o Trecho de Vazão Reduzida ao longo da
Delimitação 1.016 km2, abrangendo os Sítios Belo Monte e de entorno a jusante do local de restituição das vazões
contribuição dos igarapés Panelas, Altamira, calha do rio Xingu, suas áreas de entorno, e a calha do
Bela Vista, o reservatório dos Canais, seus canais turbinadas ao curso normal do rio Xingu, nas
Ambé e Trindade, todos afluentes do rio Xingu rio Bacaja e suas áreas de entorno.
de derivação e suas áreas de entorno. imediações da Casa de Força Principal.
pela sua margem esquerda.

Correlação com
Compartimentos Todos esses espaços de análise são abrangidos por terrenos dos compartimentos Transamazônica/PA 415 e Xingu/ Bacajá da AII
Ambientais da AII
Desde o sítio Pimental o rio Xingu tem uma orientação
geral NW-SE por cerca de 22 km, quando inflete para
NE e em seguida para N; densa rede de canais, com
Da confluência com o rio Iriri até as imediações da
nítido controle estrutural, conjugada com amplas áreas
cidade de Altamira, o rio Xingu tem uma
de pedrais;
orientação geral SW-NE, quando inflerte para E e
em seguida para SE até atingir o Sítio Pimental
A declividade no trecho entre o Sítio Pimental e a
confluência do rio Bacajá e da ordem de 0,20
No trecho compreendido entre o remanso do
m/km e no trecho a jusante da foz do rio Bacajá a
reservatório e a ilha Babaquara (compartimento
declividade atinge 1,20 m/km;
B5) o rio é encaixado, apresenta declividades da
Os principais afluentes pela margem direita são os rios
ordem de 0,13m/km, alternando trechos
Bacajá, Bacajaí, Ituna e Itatá;
encachoeirados com corredeiras e trechos mais
profundos (até 15m), observando amplas ilhas
Os afluentes pela margem esquerda são de pequeno
aluviais e controle estrutural dos canais; Orientação E-W passando a NNW;
porte quando comparados com os da margem direita (o
Rio encaixado com predomínio de um canal único em
Aspectos hidráulicos do maior deles tem bacia de contribuição da ordem de 150
O trecho adjacente a Altamira, entre as ilhas forma de “U”; poucas ilhas aluviais;
rio Xingu km2); no trecho do Sítio Pimental à foz do rio Bacajá o
Babaquara e Paratizinho (compartimento B4)
(continuação) canal preferencial (navegável na estiagem) é próximo à
apresenta uma morfologia típica de rios da Planícies de inundação restritas;
margem direita;
Planície Amazônica, com vale fluvial encaixado, Influência do efeito de maré no período de estiagem.
declividade da ordem de 0,05m/km, apresentando
A partição das vazões entre os Sítios Pimental e Cana
ilhas aluviais;
Verde I é de cerca de 10% das vazões pela margem
esquerda;
No trecho entre Paratizinho e a ilha da Taboca
(compartimento B3) a declividade é da ordem de
No canal da margem esquerda, próximo à aldeia
0,35m/km, observando uma rede de canais
Paquiçamba, tem-se a veiculação de cerca de 5% das
estruturalmente condicionada;
vazões na estiagem, 20% nas vazões próximas a
10.000 m3/s, e da ordem de 30% nas cheias; as
No trecho entre a ilha da Taboca e o Sítio
profundidades são extremamente variáveis, atingindo
Pimental a declividade é da ordem de 0,07m/km,
um máximo de 34 m nas mais profundas (cheias), um
sendo observada a formação de ilhas aluviais.
mínimo de 5 m nas mais rasas (estiagem - região dos
pedrais); as velocidades são da ordem de 0,1m/s na
estiagem a 1,0 m/s nas cheias

6365-EIA-G90-001b 161 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais

Ocorrência de rochas graníticas, migmatíticas e


xistosas do Complexo Xingu na porção sul do
Amplo domínio de migmatitos do Complexo Xingu,
compartimento (montante da ilha Babaquara) e na
subordinadamente, é observado litótipos de uma seqüência
Predomínio de migmatitos e gnaisses do Complexo
porção compreendida entre o Paratizinho e o Sítio
metavulcano-sedimentar
Xingu e, subordinadamente, bordejando as porções (rochas metamáficas e
Pimental; Ocorrência de rochas sedimentares das Formações
oeste e noroeste do reservatório dos Canais, são
ultramáficas, formações ferríferas bandadas, metarenitos,
Maecuru (arenitos e conglomerados), Ererê (siltitos,
verificadas rochas sedimentares das Formações
metassiltitos e metaconglomerados);
Na porção norte do compartimento predomina as folhelhos, arenitos e conglomerados) e Curuá (folhelhos e
Aspectos geológicos e Trombetas, Maecuru, Ererê, Curuá e Alter do Chão
rochas sedimentares das Formações Trombetas, siltitos), sendo estas unidades cortadas por falhamentos
estruturais (folhelhos, ritimitos, siltitos, arenitos e
Por todo o compartimento são verificados extensos
Maecuru, Ererê, Curuá e Alter do Chão (folhelhos, NE-SW;
conglomerados), e rochas vulcânicas básicas falhamentos e fraturamentos nas direções NW-SE, NE-SW
ritimitos, siltitos, arenitos e conglomerados), e rochas
(Diabásio Penatecaua); e E-W;
vulcânicas básicas (Diabásio Penatecaua); Expressivos depósitos aluvionares na margem direita do
Xingu;
Ocorrências de cavidades naturais em arenitos da Expressivos depósitos aluvionares na calha do Xingu,
Ocorrência de falhas e fraturas nas direções NE-SW,
Formação Maecuru; entre o Sítio Pimental e a foz do Bacajá, e de tributários da
NW-SE e E-W condicionando os canais do rio
margem direita (rio Itatá, Bacajaí e Bacajá;
Xingu;

Ocorrências de cavidades em arenitos da Formação


Maecuru, sendo elas: Abrigos do Beja, Paratizão, da
Gravura, Assurini, Pedra do Navio, do Tatu, do Ocorrências de cavidades naturais em arenitos da
Sismógrafo e da Cama de Vara, Cavernas Tic Tac, Formação Maecuru, sendo elas: Abrigos da Gruta
Cavidades naturais Sem ocorrências de cavidades naturais. Sem ocorrências de cavidades naturais.
Pedra da Cachoeira e do Sugiro; do Jôa, Santo Antônio e Aturiá, Gruta do Jôa e
Caverna Kararaô.
Ocorrência de cavidade em folhelhos da Formação
Curuá (Caverna Leonardo da Vinci).

Na porção norte do compartimento Nas porções noroeste e nordeste do compartimento Predomínio de terrenos com moderada a forte Predomínio de suscetibilidade erosiva forte nos terrenos da
predominaterrenos com suscetibilidades erosivas predominam terrenos com suscetibilidade forte a suscetibilidade erosiva, subordinadamente ocorrem margem esquerda do rio Xingu. Nos terrenos da margem
ligeira a moderada e, subordinadamente, moderada a muito forte. Na porção central os terrenos terrenos de forte a muito forte suscetibilidade. direita se dividem iqualmente em áreas de suscetibilidade
Suscetibilidade erosiva
forte. Na porção sul os terrenos são apresentam com suscetibilidade moderada a forte nula a ligeira e de suscetibilidade forte.
predominantemente de suscetibiliade moderada a com enclaves de áreas com suscetibilidade muito
forte. forte.

6365-EIA-G90-001b 162 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
Ocorrência de depósitos primários e secundários de ouro
Depósitos de argila (aluviões e terraços fluviais) e nas regiões dos rios Itata, Bacajaí e Bacajá e igarapé
areia e cascalho (leito do rio Xingu) nas Lau-Labu (Potencialidade 1);
imediações de Altamira (Potencialidade 1);
Possibilidade de ocorrência de depósitos de areia e
Possibilidade de ocorrência de ouro associada a cascalho no trecho Paratizinho / Sítio Pimental e a
sulfetos (pirita) nos folhelhos das Formações Curuá montante da ilha Babaquara, porém sem registros diretos
Possibilidade de ocorrência de bauxita em rochas
e Trombetas, porém sem registros diretos de (Potencialidade 3); Possibilidade de ocorrência de bauxita em rochas da
da Formação Alter do Chão que bordejam as
Recursos minerais na calha mineralização (Potencialidade 3); Formação Alter do Chão na extremidade de jusante da
porções oeste e noroeste do reservatório dos
e entorno imediato Ocorrência de ouro secundário na calha do rio Xingu ADA, porém sem registros diretos de mineralização
canais, porém sem registros diretos de
Ocorrências de areia e cascalho nas imediações da desde a região da Ressaca até as imediações da (Potencialidade 3).
mineralização (Potencialidade 3).
ilha Babaquara (Potencialidade 2); localidade de Belo Monte (Potencialidade 2);

Possibilidade de ocorrência de depósitos de areia e Possibilidade de ocorrência de bauxita em rochas da


cascalho no trecho Paratizinho / Sítio Pimental e a Formação Alter do Chão que ocorrem na margem direita
montante da ilha Babaquara, porém sem registros do rio Xingu, próximo à localidade de Belo Monte,
diretos (Potencialidade 3). porém sem registros diretos de mineralização
(Potencialidade 3).
Na porção sul do compartimento predomina as
colinas da Depressão da Amazônia Meridional e
morrotes representativos dos Planaltos Residuais Amplo domínio da unidade geomorfológica Domínio de colinas da Depressão da Amazônia Domínio da unidade geomorfológica Planalto Marginal do
do Sul da Amazônia, sendo que na calha do rio Depressão da Amazônia Meridional, verificando- Meridional e de morros e morrotes dos Planaltos Amazonas, verificando-se a ocorrência de colina;
Xingu são observadas áreas de pedrais e ilhas se a ocorrência de colinas; Residuais do Sul da Amazônia;
Unidades geomorfológicas
aluviais; ao longo da calha do rio são observadas Ilhas aluviais e pedrais são verificadas na calha do Ocorrência na margem direita de uma ampla área de
e formas de relevo na calha
expressivas ilhas aluviais e pedrais; Bordejando a porção oeste do reservatório dos Xingu entre o Sítio Pimental e a foz do rio Bacajá; terraço;
e entorno imediato
Canais tem-se a unidade Planalto Marginal do
Porção norte do compartimento é abrangida pelo Amazonas, predominando morrotes e morros com A jusante da foz do rio Bacajá é restrita as ilhas aluviais No entorno da calha do rio a erosão laminar e em sulcos é
Planalto Marginal do Amazonas, com colinas e altitudes entre 140 e 200m; e os pedrais ocupam grande parte da calha do rio; de baixa intensidade.
terraços, bem como algumas planícies de
inundação;
Nas ilhas aluviais no trecho entre a ilha Babaquara
e o remanso do reservatório (compartimento B5)
predominam os neossolos flúvicos e os
afloramentos rochosos, sendo que na margem
esquerda predominam os argissolos vermelho-
amarelos e amarelos e na margem esquerda os Nas ilhas aluviais no trecho Sítio Pimental / foz do rio Na margem direita predominam os cambissolos e os
argissolos e latossolos vermelho-amarelos; Bacajá (compartimento B2) predominam os gleissolos latossolos Amarelos;
Amplo domínio dos argissolos vermelho-
háplicos e os neossolos flúvicos;
amarelos e, por vezes, cambissolos, neossolos
Nas planícies de inundação do trecho ilha Na margem esquerda predominam os nitossolos háplicos e,
litólicos, afloramentos rochosos e argissolos
Babaquara/Paratizinho (compartimento B4) Em ambas as margens predominam dos argissolos subordinadamente, os argissolos vermelho-amarelos e os
acinzentados;
predominam os gleissolos háplicos, sendo que na vermelho-amarelos; argissolos amarelos;
Classes de solos e aptidão margem direita são observados gleissolos háplicos
Predomínio de terras com aptidão agrícola restrita
agrícola e argissolos amarelos e na margem esquerda têm- Quase toda a extensão da margem direita apresenta Na margem esquerda a aptidão agrícola é boa para lavoura
para lavoura em pelo menos um dos níveis de
se os argissolos vermelho-amarelos, os planossolos aptidão agrícola boa para lavoura em pelo menos um em pelo menos um dos níveis de manejo;
manejo, subordinadamente têm-se terrenos com
hidromórficos e uma ampla área de ocorrência de dos níveis de manejo;
aptidão boa no nível de manejo C e aptidão
nitossolos vermelhos; Na margem direita uma parte dos terrenos apresenta
restrita para pastagem plantada no nível de
Nas ilhas aluviais e nos terrenos da margem esquerda aptidão regular para lavoura em pelo menos um dos níveis
manejo B.
No trecho Paratizinho/Sítio Pimental (B3 e B2) predomina a aptidão restrita para a lavoura em pelo de manejo e outra parte apresenta aptidão restrita para
predominam nas ilhas aluviais os gleissolos menos um dos níveis de manejo. lavoura em pelo menos um dos níveis de manejo.
háplicos e nas demais os afloramentos rochosos,
sendo que nas margens predominam os argissolos
vermelho-amarelos; nas ilhas aluviais de terrenos
com aptidão agrícola restrita para lavoura em um
dos níveis de manejo.

6365-EIA-G90-001b 163 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento

continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
Nos entornos dos trechos Paratizinho / Sítio
Pimental e ilha Babaquara / remanso do
reservatório (compartimentos B5, B3 e B2) os
aqüíferos são fissurados;
Predomínio de aqüíferos fissurados nos domínios do
Predomínio de aqüíferos fissurados nos domínios Cráton Amazônico (rochas graníticas do Complexo
No entorno do trecho ilha Babaquara / Paratizinho
do Cráton Amazônico (rochas graníticas do Xingu); Ocorrência de aqüíferos porosos em depósitos aluvionares
(compartimento B4) os aqüíferos são porosos nas
Complexo Xingu); recentes e em rochas sedimentares da Bacia do Amazonas;
áreas de ocorrência das rochas sedimentares e
Unidades aqüíferas Ocorrência localizada de aqüíferos porosos em
fissurados nas áreas de ocorrência do Diabásio
Ocorrência localizada de aqüíferos porosos em depósitos aluvionares recentes; Ocorrência restrita de aqüíferos fissurados nas rochas
Penatecaua;
depósitos aluvionares recentes e em rochas vulcânicas básicas representadas pelo Diabásio Penatecaua.
sedimentares da Bacia do Amazonas. Captação de água subterrânea por meio de poços na ilha
Na ilhas aluviais os aqüíferos são porosos no
da Fazenda.
pacote sedimentar e fissurados no substrato
granítico;
Captação de águas subterrâneas por meio de poços
tubulares e cacimbas na cidade de Altamira.
Entre os rios Bacajá e Itatá ocorrem extensas áreas
Remanescentes alterados de Floresta Ombrófila contínuas de florestas ombrófilas aberta com palmeira e
aberta com palmeiras em meio a extensas áreas de cipós e densa, sendo parcialmente abrangidas pelas TI
pastagens na porção centro norte e a áreas de Arara da Volta Grande. Floresta ombrófila aberta com
Na calha do rio Xingu predomina a floresta
cultura de café e cacau na porção sul. Predomínio palmeiras e cipós associada a manchas de floresta
ombrófila densa aluvial e a vegetação dos pedrais
de pastagens para pecuária de corte. ombrófila densa no interior da T.I Paquiçamba.
na sua porção leste. Na área externa à calha do rio
predominam as áreas de pastagem, com
Floresta ombrófila aberta com palmeiras e cipós e Na margem direita do rio Bacajá ainda predominam
fragmentos isolados de florestas ombrófilas abertas
floresta ombrófila densa no entorno imediato da áreas contínuas de Florestas Ombrófilas Aberta com
com palmeiras e com cipós, ambas alteradas, em
T.I Paquiçamba. Cipós e Palmeiras associado a manchas de floresta Predomina nesse trecho a floresta Ombrófila Aberta com
meio a extensas áreas de pastagem, em especial ao
ombrófila densa. Ao longo do rio Bacajá ocorrem palmeiras, fragmentadas por pastagens.
longo da rodovia Transamazônica e no entorno de
extensas áreas de Floresta Ombrófila Densa Aluvial
Cobertura vegetal e ação Altamira.
Ao longo dos ramais da rodovia Transamazônica, preservadas. A pouca vegetação aluvial existente está associada à calha
antrópica
predominam remanescentes de floresta ombrófila do rio Xingu e de alguns igarapés.
Nas margens direita e esquerda do rio Xingu
alterada nos fundos dos lotes dos assentamentos Floresta ombrófila densa aluvial na calha do rio Xingu
ocorre fragmentos alterados de florestas
rurais em meio a extensas áreas antropizadas. até a confluência com o rio Bacajá. A partir daí
ombrófilas aberta com palmeira e cipós. Pequenas
predomina a extensa área de vegetação dos pedrais.
áreas de culturas temporárias e pastagens, em
Remanescentes alterados de Floresta Ombrófila Trecho mais preservado e com menor atividade
especial, chegam frequentemente até as margens
aberta com palmeiras em meio a extensas áreas de antrópica.
nas áreas de preservação permanente.
pastagens na porção centro norte e a áreas de
cultura de café e cacau na porção sul. Predomínio Entre os rios Bacajá e Itatá ocorrem extensas áreas
de pastagens para pecuária de corte. contínuas de florestas ombrófilas aberta com palmeira e
cipós e densa, sendo parcialmente abrangidas pelas TI
Arara da Volta Grande.

6365-EIA-G90-001b 164 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
No trecho B5 e B4 as águas apresentam elevadas temperaturas,
são ácidas, baixa turbidez, elevadas concentrações de OD. No Os igarapés Galhoso e Di Maria possuem águas com Águas do igarapé Tucuri e do rio Xingu neste trecho
período de enchente foram registrados maiores valores de temperaturas pouco mais baixas que as do rio Xingu e em apresentaram elevadas temperaturas, com destaque para os
DBO, porém abaixo do limite determinado para classe 2. conformidade com as temperaturas dos igarapés de Altamira; valores acima de 30ºC na campanha de seca, quando os
apresentam boa oxigenação e águas ácidas, registrando situação sistemas têm baixa profundidade.
A condutividade elétrica é baixa; os elementos fluoreto, mais crítica na estação seca; têm baixa turbidez, baixos resultados Ambos apresentam águas ácidas, com valores próximos a
cloreto, sulfato, mercúrio, níquel e ferro se apresentam em de sólidos em suspensão e boa oxigenação, com DBO com baixas neutralidade na campanha de enchente. O igarapé Tucuri
conformidade com os limites determinados pela legislação para concentrações. apresentou valores críticos e abaixo de 6 nas campanhas de
corpos de água classe 1 e 2. Contaminação das águas por enchente e vazante. O dois sistemas apresentaram baixa
chumbo, cromo e zinco em desacordo com o limite Os elementos fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio, níquel e ferro turbidez.
estabelecido pela legislação. Compostos nitrogenados e dissolvido estão em conformidade com os limites legais.
fosfatados baixos. As águas são em geral bem oxigenadas e a condutividade
Concentrações de chumbo, cromo e zinco, acima dos limites elétrica foi baixo no rio Xingu, sofrendo pouca variação
Composição do fitoplâncton do rio Xingu e seus tributários têm como no rio Xingu. sazonal.
pouca ocorrência de algas da classe Cyanophyceae o que
mostra que o ambiente não se encontra sujeito a grandes Os igarapés Paquiçamba e Ticaruca apresentaram situação No trecho da calha do rio Xingu, entre Vitória do Xingu e
impactos antrópicos capazes de comprometer a qualidade da semelhante aos igarapés Galhoso e Di Maria. No entanto, Senador José Porfírio foram identificados estandes de
água do sistema. apresentaram águas com elevadas temperaturas e acidez mais macrófitas compostas predominantemente da espécie
Qualidade da água acentuada em setembro/07 (seca), porém com valores inferiores Montrichardia linifera, além de estandes isolados de
No Trecho B4, especificamente os igarapés Ambé e Altamira ao limite mínimo para sistemas classe 2. Echinochloa polystachya formando ilhas que atingem 1 a 2
registram presença significativa de macrófitas aquáticas tendo km2
sido constatada a presença de cinco espécies (Eichornea sp., O igarapé Paquiçamba apresentou valores acima do limite das
Montrichardia linifera, Neptunia sp., Paspalum sp., Salvinia classes 1 e 2 para o parâmetro zinco na seca, e cromo na cheia. No Igarapé Tucuruí, no trecho que vai do porto de Vitória do
auriculata) de um total de nove espécies registradas em toda a Em relação aos compostos nitrogenados e fosfatados, as Xingu até a sua foz com o rio Xingu, a ocorrência da aninga se
área. Os três igarapés de Altamira apresentam incremento concentrações permaneceram baixas. dá uniformemente em suas margens, verificando-se, também, a
expressivo de matéria orgânica em níveis superiores aos limites presença de pequenos agrupamentos de Eichornea azurea.
da legislação.

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QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
Foram observadas diferenças de riqueza e composição de O TVR apresentou 208 espécies, sendo a segunda área mais
espécies por ambiente aquático do rio, sendo que nos trechos rica em espécies de peixes, uma vez que a região denominada
Neste compartimento foram identificadas apenas 116 espécies de
do rio Xingu inseridos neste compartimento apresentaram 206 controle, situada próxima a confluência do rio Iriri com o
peixes. No entanto, destaca-se que estas espécies são habitantes A região de jusante da casa de força teve
espécies de peixes. Comparando este compartimento com o Xingu (na AII) apresentou a maior riqueza dos setores
de igarapés e possuem uma relação específica com este tipo de 133 espécies amostradas durante os
Trecho de Restituiçao de Vazão, situado no outro extremo da estudadas pelo ictiofauna, com 227 espécies. Foram registradas
ambiente. estudos do AHE Belo Monte.
AID, houve a menor similaridade na composição de espécies 49 espécies exclusivas destes dois compartimentos .
de peixes.
A família Characidade foi a mais abundante. Espécies exclusivas do Trecho de
Espécies exclusivas do TVR foram: Acnodon sp., Anchovia
Restituição de Vazão foram: Acarichthys
Foram observadas 49 espécies exclusivas para estes dois clupeoides, Ancistrus sp. 1, Ancistrus sp. 2, Anostomus
No período de seca foram registradas 19 espécies exclussivas: heckelii, Cetengraulis sp., Colomesus
compartimentos. As exclusivas do setor Reservatório do intermedius, Archolaemus blax, Baryancistrus sp.,
Ancistrus sp., Brachyhypopomus beebei, Bryconamericus sp., asellus, Cyphocharax abramoides,
Xingu foram: Anchoviella vaillanti, Baryancistrus sp. 4, Baryancistrus sp. 3, Centromochlus sp., Cetopsis sp.,
Cichlidae sp., Copeina sp., Gasteropelecidae sp., Geophagus altifrons, Hemiodontichthys
Baryancistrus sp. 5, Eigenmannia sp., Hemiodus microlepis, Crenicichla strigata, Doradidae sp., Hemicetopsis candiru,
Gymnorhamphichthys sp., Gymnotus sp., Hemigrammus tridens, acipenserinus, Serrasalmus cf. spilopleura,
Hoplias sp., Hypopomidae sp, Hypoptopoma aff. gulare, Hypancistrus sp. "pão", Oligancistrus sp. 3, Pimelodinae sp,
Hipopomatinae sp., Hoplias aimara, Hoplias sp., Serrasalmus sp., Tetragonopterus
Laemolyta sp, Metynnis hypsauchen, Micromischodus Potamorhina latior, Potamotrygon cf humerosa.
Fauna Aquática Hypoptopomatinae sp. 1, Loricariinae sp., Phenacogaster argenteus.
sugillatus, Moenkhausia sp., Potamotrygon orbignyi,
(ictiofauna) pectinatus, Pimelodidae sp., Prochilodus nigricans, Rivulus sp.,
Psedopimelodus cf. bufonius, Roeboides cf descalvandensis, Observada a maior riqueza de cascudos, registrando-se 23
Squaliforma emarginata. Cerca de 14 locais com ocorrência de
Serrasalmus cf. rhombeus, Trachelyopterus galeatus. espécies, com maior número de espécies exclusivas deste
Um total de 20 espécies exclusivas foi encontrado neste piracema foram identificados durante os
compartimento.Grande abundância de espécies maduras e em
compartimento, no período de enchente, sendo: Aequidens sp., estudos do EIA.
Considerando o grupo dos cascudos, este compartimento processo reprodutivo, durante estudos realizados no âmbito do
Ancistrus sp. “bola”, Astyanax fasciatus, Brachychalcinus
apresentou a menor riqueza com 20 espécies. Este EIA, sendo importante para as espécies reofílicas. Foram
orbicularis, Bryconops sp., Characidae sp. 14, Characidae sp. 16, O estudo de distribuição larval entre os
compartimento, juntamente com o TVR, tem importância encontrados 27 locais com ocorrência de piracema.
Characidae sp. 17, Characidae sp. 3, Characidae sp. 4, compartimentos do rio indicou uma forte
semelhante para a reprodução dos peixes sendo identificados
Cyphocharax gouldingi, Gasteropelecus sternicla, predominância de larvas neste
30 locais de piracema. O reservatório do rio Xingu, apresentou O pacu capivara (Ossubtus xinguensis) é uma espécie rara e
Gymnorhamphichthys cf. hypostomus, Hemigrammus compartimento; do Baixo Xingu, com 61%
a segunda maior concentração de larvas, sendo que nesse caso endêmica do rio Xingu. Pertence à família Characidae, possui
marginatus, Heptapterus sp., Hyphessobrycon cf. copelandi, dos indivíduos, sendo que grande parte
as larvas foram mais abundantes no Lago da Ilha Grande. pequeno porte (máximo 18cm) e ocorre ao longo de toda a área
Jupiaba cf. ocellata, Leporinus maculatus, Moenkhausia foram encontrados na frente de Vitória do
de estudo, mas com preferência pela região encachoeirada do
lepidura, Rivulidae sp. Xingu.
Destaque para a presença do pacu capivara neste trecho e para rio, nos arredores de Altamira e na Volta Grande.
a Arraia-de-fogo (Potamotrigon leopoldi) nos arredores de
Altamira.
Os mamíferos aquáticos que habitam este
compartimento têm associação direta com
a região de remanso e a vegetação aquática
que ali se estabelece, principalmente
peixe-boi, que utiliza estes ambientes
como abrigo e nicho trófico. Junto ao
Observadas em vários pontos, tocas e áreas usadas pelas
peixe-boi, boto e tucuxi só ocorrem neste
ariranhas e lontras, porém outros mamíferos aquáticos (como
compartimento, não ultrapassando as
boto e peixe-boi) não foram observados, tampouco citados
Foram inventariadas tocas e áreas de uso de lontras e ariranhas, A fauna de mamíferos aquáticos habita a região dos igarapés cachoeiras.
pelos moradores como ocorrentes na região.
que são mais abundantes em áreas distantes de habitações perenes, porém em menor abundância.
Fauna Aquática –
humanas. Região de desova de tartaruga-da-
quelônios e Ocorre reprodução dos tracajás nos barrancos e áreas próximas
Tracajás e algumas espécies de crocodilianos também podem ser amazônia que ocorre naturalmente até as
mamíferos ao rio, durante a seca.
Três espécies de crocodilianos ocorrem neste compartimento e observadas nos igarapés deste compartimento, no entanto, em cachoeiras. Neste compartimento, há
no TVR: (C. crocodilus, M. niger, P. trigonatus). baixa abundância; várias praias que se formam e são muito
As três espécies de crocodilianos observadas no
utilizadas pelos quelônios aquáticos para
compartimento do reservatório do Xingu, também habitam este
reprodução. Trecho onde foi observada
compartimento.
maior riqueza de quelônios aquáticos e
crocodilianos.

Foram observadas 4 espécies de


crocodilianos (C. crocodilus, M. niger, P.
trigonatus, P. palpebrosus)

6365-EIA-G90-001b 166 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
As espécies que foram registradas somente neste A diversidade de primatas neste compartimento é naturalmente menor Durante os levantamentos, apresenta a seguir as espécies que Este compartimento apresenta áreas
compartimento foram: Didelphis marsupialis, Cabassous que em outras regiões da Amazônia; o grau de fragmentação deste foram registradas somente neste compartimento: Dasypus próximas com vegetação de terra firme
unicinctus, Bradypus variegatus, Aotus azarae, Ateles compartimento fez com que os primatas que só ocorrem na margem septemcinctus, Priodontes maximus, Cyclopes didactylus, ainda preservadas, especialmente aquelas
marginatus, Coendou prehensilis, Puma yagouaroundi e esquerda, como macaco-aranha (Ateles marginatus), cuxiú Coendou nycthemera e Puma concolor. dentro de Unidades de Conservação. Desta
Potos flavus. (Chiropotes albinasus) e mico-de-cheiro (Saimiri ustus) foram forma, espécies de primatas que somente
confinados nos fragmentos maiores e tendem a desaparecer se a Neste compartimento, a riqueza de grandes mamíferos na ilhas ocorrem na margem direita do rio Xingu,
Para as ilhas existentes neste compartimento, um número pressão de desflorestamento continuar. foi menor, uma vez que as florestas ombrófilas aluviais, encontram abrigo nestas áreas, com é o
menor de espécies já era esperado, pois estas constituem apresentam diversidade é tipicamente reduzida. caso do cuxiú (Chiropotes utahickae),
fragmentos de hábitats terrestres cercados por água. Além As espécies mais registradas nos locais que foram realizados os sagüi-preto (Saguinus Níger) e mico-de-
disso, grande parte das ilhas fica coberta por água parte do levantamentos foram: S. aestuans, C. apella, Mico argentatus, As espécies mais avistadas nas ilhas foram D. leporina, A. cheiro (Saimiri sciureus) ocorrem na
ano e possuem ambientes de floresta ombrófila aluvial, Callicebus moloch belzebul, Tamandua tetradactyla, e Pecari tajacu e nas margem direita.
cuja diversidade é tipicamente reduzida. margens, D. leporina, C. apella, S. aestuans, A. belzebul e C.
A comparação do conjunto de espécies mais registradas sugere certo moloch Mico argentatus ocorre dos dois lados do
As espécies mais avistadas nas ilhas foram D. leporina, A. nível de perturbação da comunidade deste compartimento, indicado rio, mas do lado direito, a espécie já foi
belzebul, Tamandua tetradactyla, e Pecari tajacu e nas por um aumento na freqüência de animais de menor porte. As espécies mais registradas nos levantamentos de grandes e avistada apenas mais ao norte da área de
margens, D. leporina, C. apella, S. aestuans, A. belzebul e médios mamíferos, foram: D. leporina, C. apella, S. aestuans e estudo, na região da planície do rio
C. moloch. Comparando as taxas de avistamentos por espécie com as do estudo A. belzebul. Amazonas (Ferrari & Lopes, 1990).
anteriores, no geral, foram obtidos valores comparáveis ou superiores Mesmo apresentando áreas ainda de
As taxas de avistamento não tiveram modificação para todas as espécies, exceto A. belzebul (guariba) que neste Comparando as taxas de registro de animais deste floresta ainda preservadas não foi
substancial da fauna inventariada comparando-se os dados compartimento apresentou valores menores. compartimento com os compartimentos dos reservatórios (dos observado o cachorro-do-mato (Atelocynus
atuais com estudos anteriores realizados nesta localidade. Canais e do Xingu), a taxa de registro foi maior, indicando microtis). Aliás, em nenhum
A queda na taxa de observações diretas de guaribas neste maior abundância do grupo inventariado neste compartimento. compartimento da AID.
Em geral, as espécies de roedores de médio e grande porte compartimento sugere, mais uma vez, que a pressão de caça nesta
Fauna Terrestre – (Rodentia) e ungulados (ordens Artiodactyla e área pode ser um fator importante do ponto de vista da conservação As taxas de avistamento não tiveram modificação substancial Em geral, as espécies de roedores de
Medios e Grandes Perissodactyla) encontrados nas áreas de estudo são de da fauna local. da fauna inventariada comparando os dados atuais com estudos médio e grande porte (Rodentia) e
Mamíferos ampla distribuição para a Amazônia, com algumas anteriores realizados nesta localidade. ungulados (ordens Artiodactyla e
diferenças entre interflúvios. A maioria dos representantes Como este compartimento é o que apresenta maior área de Perissodactyla) encontrados nas áreas de
desses grupos é de interesse da população humana, ecossistemas terrestres, vale mencionar informações sobre a Em geral, as espécies de roedores de médio e grande porte estudo são de ampla distribuição para a
principalmente como fonte de alimentos. biogeografia das espécies inventariadas. Com relação aos primatas, (Rodentia) e ungulados (ordens Artiodactyla e Perissodactyla) Amazônia, com algumas diferenças entre
todas as 11 espécies esperadas foram registradas, inclusive Ateles encontrados nas áreas de estudo são de ampla distribuição para interflúvios. A maioria dos representantes
Cerca de 44% dos entrevistados durante os levantamentos marginatus (coatá-de-testa-branca). Esta espécie é mais vulnerável a Amazônia, com algumas diferenças entre interflúvios. A desses grupos é de interesse da população
de mamíferos afirmaram que caçam. aos impactos antrópicos, especialmente por sua distribuição maioria dos representantes desses grupos é de interesse da humana, principalmente como fonte de
geográfica restrita, o que coloca o coatá como vulnerável na lista da população humana, principalmente como fonte de alimentos. alimentos.
IUCN. A distribuição de A. marginatus é exclusiva do interflúvio
Xingu-Tapajós que experimenta ampla colonização humana devido à Cerca de 62,5% dos entrevistados neste compatimento
construção da rodovia Santarém-Cuiabá. Estudos ecológicos já disseram que caçam.
demonstraram a extinção dessa espécie em um raio de 60 km ao redor
de Santarém.

Em geral, as espécies de roedores de médio e grande porte (Rodentia)


e ungulados (ordens Artiodactyla e Perissodactyla) encontrados nas
áreas de estudo são de ampla distribuição para a Amazônia, com
algumas diferenças entre interflúvios. A maioria dos representantes
desses grupos é de interesse da população humana, principalmente
como fonte de alimentos.

Boa parte da população humana na área de estudo utiliza-se da carne


de caça como fonte de alimento; A porcentagem dos entrevistados
que disseram caçar foi maior neste compartimento (90,3%).

6365-EIA-G90-001b 167 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
O rio Xingu constitui uma barreira de distribuição de algumas
espécies de pequenos mamíferos. Como este compartimento
apresenta a maior área ainda preservada, cabe registrar que
neste estudo, das 31 espécies de pequenos mamíferos
observadas, 25 estão presentes na margem direita do rio Xingu,
sendo oito de marsupiais e 17 de roedores. Uma única espécie
de marsupial (Monodelphis cf. brevicaudata) e cinco espécies
Das 31 espécies registradas neste estudo, 25 estão presentes na de roedores (Neacomys cf. guianae, Rhipidomys nitela,
margem esquerda do rio Xingu, das quais 10 de marsupiais e 15 de Dactylomys dactylynus, Echimys chrysurus e Makalata
Quatro espécies de pequenos mamíferos ocorrem roedores. Três espécies de marsupiais (Marmosops cf. noctivagus, didelphoides) foram capturadas exclusivamente nesta margem,
associadas com a floresta ombrófila aberta com palmeiras, Monodelphis emiliae e Monodelphis glirina) e três de roedores neste compartimento.
que ocorre de forma mais abrangente neste compartimento (Neacomys sp.1, Neacomys sp.2 e Lonchothrix emiliae) foram
e também no cmopartimento do reservatório dos canais: os exclusivamente capturadas nesta margem do rio, neste Na floresta ombrófila aberta com cipós que tem maior
marsupiais Metachirus nudicaudatus e Monodelphis compartimento. distribuição neste compartimento, quatro espécies foram
Como os ambientes florestais neste
Fauna Terrestre – emiliae, e os roedores Lonchothrix emiliae e Mesomys capturadas com exclusividade, sendo duas de marsupiais
compartimento são similares aos que
Pequenos stimulax De 367 exemplares de pequenos mamíferos não-voadores analisados (Didelphis marsupialis e Monodelphis cf. brevicaudata) e duas
ocorrem no compartimento Reservatório
Mamíferos . neste estudo (98 coletados recentemente e 269 coletados em 2000- de roedores (Neacomys cf. guianae e Rhipidomys nitela).
do Xingu as espécies de pequenos
Três espécies de roedores foram exclusivamente 2001), apenas um exemplar foi seguramente identificado como Dentre estas espécies, Monodelphis cf. brevicaudata e
mamíferos são também comuns.
capturadas na floresta ombrófila densa aluvial: Neacomys Neacomys sp.1, indicando que esta espécie é localmente rara. Neacomys cf. guianae estão presentes apenas na margem
sp.1, Nectomys melanius e Proechimys cf. goeldii. direita do rio Xingu.
Apenas um exemplar de Proechimys cf. goeldii foi Um único exemplar do rato-de-espinho Lonchothrix emiliae foi
capturado ao longo deste estudo, e não há informações na capturado na área de estudo, em floresta ombrófila aberta com Por fim, três espécies de roedores foram exclusivamente
literatura sobre preferências de hábitat para esta espécie. palmeiras na margem esquerda do rio Xingu durante inventário capturadas na floresta ombrófila densa aluvial: Neacomys sp.1,
realizado em 2000-2001. Esta espécie apresenta área de distribuição Nectomys melanius e Proechimys cf. goeldii.
bastante restrita.
Uma nova espécie de roedor do gênero Oecomys foi registrada
neste compartimento, podendo ser considerada localmente
comum. Está presente nas margens direita e esquerda do rio
Xingu, habitando floresta ombrófila aberta e parece ter
preferência pela floresta ombrófila aberta com cipós, já que 12
dos 13 exemplares foram coletados nesta fitofisionomia.

6365-EIA-G90-001b 168 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
As espécies de distribuição geográfica mais restrita são relacionadas a Também foi observado neste trecho a presença de grupos de Com relação aos répteis terrestres,
Nos levantamentos da avifauna foram observadas diversas florestas de terra firme, como Adelphobates castaneoticus arara-azul, associados aos ambientes ainda preservados da Kentropyx altamazonica (Teiidae) e
espécies de aves que foram amostradas apenas neste (Dendrobatidae), dos interflúvios Tapajós-Xingu e Xingu-Tocantis; região. Mabuya bistriata (Scincidae) foram
compartimento: Ortalis motmot, Leucopternis albicollis, Adelphobates galactonotus, restrita ao sul da Amazônia, a leste do rio registrados em áreas contíguas aos
Charadrius collaris Actiti, macularius, Lophostrix Tapajós; e Enyalius leechii, com ocorrência ao sul da Amazônia, a O gavião-real (Harpia harpyja) é considerado a ave de rapina tabuleiros de desova de tartaruga na Baía
cristata, Tachornis squamata, Glaucidium brasilianum, leste do rio Madeira. mais forte do globo, é naturalmente rara em sua área de de Souzel, a jusante da Volta Grande.
Heterocercus linteatus , Ramphotrigon ruficauda, distribuição, um indivíduo foi observado nesta região.
Avocettula recurvirostris; Mycteria americana; Dacnis Este compartimento é o que apresenta maior proporção de terra firme, Essas duas espécies ocorrem nessa região
flaviventer, Sporophila americana, Sporophila lineola; quando comparado com os outros, e também, a maior proporção de As seguintes espécies de aves foram amostradas apenas no apenas em ambientes adjacentes ao rio,
Cissopis leverianus; Synallaxis gujanensis, Tigrisoma área alterada. compartimento da Volta Grande do Xingu: sem penetrar na floresta de terra firme.
lineatum; Leucopternis schistacea; Chordeiles acutipennis; Nyctidromus albicollis; Crax fasciolata; Spizaetus tyrannus;
Penelope superciliaris. A ocorrência de algumas espécies de anfíbios é favorecida nos Falco deiroleucus; Psophia viridis, Eurypyga helias ; Entre as aves, foram levantadas nesse
ambientes antropizados, normalmente devido à formação de corpos Gypopsitta vulturina, Pulsatrix perspicillata, compartimento as seguintes espécies:
Espécies de aves que foram amostradas apenas na margem d’água temporários resultantes da compactação do solo. Este tipo de Chordeiles rupestris, Dendrocygna autumnalis, Cotinga Porphyrio Martinica, Gelochelidon
direita e neste compartimento: Tinamus guttatus; Euphonia ambiente pareceu menos importante para as serpentes e lagartos. cayana, Hydropsalis climacocerca, Chamaeza nobilis, nilótica, Columbina talpacoti,
chrysopasta; Myiodinastes maculatus; Tachyphonus rufus Sublegatus obscurior, Knipolegus orenocensis, Arundinicola leucocephala , Donacobius
; Emberizoides herbicola; Taeniotriccus andrei Dos chirópteros associados a ambientes cavernícolas foi identificado Tyrannopsis sulphurea, Caprimulgus rufus. atricapilla, Sturnella militaris , Volatinia
Natalus stramineus é uma espécie intrinsicamente sensível, jacarina, Sporophila minuta, Tiaris
Espécies de aves que foram amostradas apenas na margem principalmente devido ao hábitos estritamente cavernícolas. Esteve As áreas sazonalmente alagadas foram particularmente fuliginosus,
esquerda e neste compartimento: Synallaxis cherriei, presente nas quatro cavidades das áreas de influencia do importantes para anfíbios, embora apenas duas espécies Caryothraustes canadensis, Geothlypis
Ramphotrigon megacephalum; Cathartes melambrotus. empreendimento, sendo que algumas ocorrem neste compartimento. tenham ocorrido exclusivamente neste hábitat (Phyllomedusa aequinoctialis, Sicalis columbiana
bicolor e Trachycephalus venulosus.
Synallaxis cherriei é apontada pelo BirdLife como quase As seguintes espécies de aves foram amostradas apenas neste As seguintes espécies associadas aos
ameaçada mundialmente compartimento: Bubulcus ibis, Morphnus guianensis; Heterospizias Entre as espécies associadas a este compartimento, destacam- ambientes aquáticos foram capturadas em
meridionalis; Busarellus nigricollis; Buteo albicaudatus; se Hypsiboas boans e H. wavrini que ocorrem na vegetação às todos os compartimentos associados ao
Fauna Terrestre – Destaca-se a presença de espécies ameaçadas de extinção Chondrohierax uncinatus; Spizaetus ornatus; Caracara plancus; margens de rios (e, no caso de H. boans, também de outros rio: Phalacrocorax brasilianus, Anhinga
Avifauna, Répteis, que foram observadas neste compartimento: arara-azul, Chelidoptera tenebrosa; Tringa solitaria, Guaruba guarouba; corpos d’água, como igarapés dentro da floresta) e dependem anhinga, Ardea cocoi, Ardea Alba, Egretta
Anfíbios e Anodorhynchus hyacinthinus .Simoxenops ucayale (limpa- Nyctiprogne leucopyga; Florisuga melli; Anthracotorax nigricollis; da subida anual das águas para o desenvolvimento de seus thula, Aramus guaraúna,
Quiropteros folha-de-bico-virado) foi registrado na Área 2 – Ilha da Amazilia fimbriata; Laterallus exilis; Simoxenops ucayale, girinos.. Também é possível que o lagarto Crocodilurus Harpia harpyja, Phaetusa simplex, Jacana
Taboca. Megascops choliba; Iodopleura isabellae; Agamia agami; amazonicus, registrado na região apenas nos estudos de jaçanã, Sternula superciliaris
Cochlearius cochlearius;Dromococcyx phasianellus, Gymnoderus viabilidade ambiental do antigo projeto da UHE Kararaô é
Para os répteis a Ilha Taboca, localizada neste foetidus. associado a áreas alagáveis (Martins, 2006).
compartimento, tem apenas uma parte da sua área alagada
no período de cheia do rio, o que pode explicar a maior Destas espécies ressalta-se que Guaruba guarouba é listada no Outras espécies associadas a esta área são os lagartos
similaridade com as demais localidades. Anexo 1 do CITES, UICN/Bird Life International; eMorphnus Uranoscodon superciliosus, e os ofídios dos gêneros Helicops,
guianensis é apontada pelo BirdLife como quase ameaçada Hydrodynastes e Hydrops. Além disso, ofídios do gênero
Algumas espécies de anfíbios como Rhinella granulosa e mundialmente Dipsas e Sibon nebulata alimentam-se de moluscos e,
outras espécies, como os lagartos Cnemidophorus cryptus e consequentemente, são dependentes das populações desses
Iguana iguana dependem de ambientes abertos, arenosos. animais.
Dependem também da vegetação de formações pioneiras
das margens do rio para abrigo e alimentação. Iguana Neste compartimento, os levantamentos de chirópteros tiveram
iguana e Rhinella granulosa utilizam a água do rio para menor abundância quando comparado com o Reservatório do
fuga de predadores e reprodução, respectivamente. Xingu, porém a riqueza de espécies foi a mesma, com 32
espécies. Também C. perspicilata foi a mais abundante,
Para os levantamentos de morcegos, este compartimento seguida de Artibeus obscurus.
foi o que apresentou maior riqueza com 32 espécies
identificadas e mais de 230 indivíduos capturados. Neste Este compartimento tem abundância de habitats que permitem
local Carollia perspicilata foi a espécie mais abundante, abrigar uma espécies de morcego raramente capturado.
seguida de Artibeus lituratus. Destaca-se o Molossops mattogrossensis, associado aos
abrigos em fendas nos pedrais do rio.
Este compartimento e o compartimento do TVR abrigam
uma espécies de morcego raramente capturado. Molossops
mattogrossensis que tem associação exclusiva com os
abrigos em fendas diminutas nos pedrais do rio Xingu.

6365-EIA-G90-001b 169 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais

Presença de Terras Indígenas (Paquiçamba, Arara da Volta


Predomínio de áreas de pastagem plantada em
Grande), vilas de Belo Monte do Pontal, da Ressaca e da
ambas as margens do rio Xingu, com destaque para
Fazenda; Garimpo de ouro do Galo e da Ressaca e
a margem esquerda para pecuária de corte.
comunidades de Cana Verde e São Pedro.
Área com predomínio de extensas
Parte da área urbana de Altamira e principais praias
Pesca comercial de peixes ornamentais. pastagens plantadas
encontram-se na área de inundação.
Presença de agricultura anual de subsistência na área das .
propriedades rurais situadas na região dos futuros canais de Pastagem na porção nordeste no entorno da vila de Belo Presença do terminal de desembarque de
Extração de cascalho e areia no rio Xingu e argila
derivação; Monte. Pastagem e culturas anuais de subsistência e perenes combustível da Petrobrás.
nos igarapés de Altamira.
(café) em assentamentos na porção oeste.
Maior concentração de produtores de cacau na área dos canais de A pesca comercial neste compartimento é
Ao longo do eixo da rodovia Transassurini e dos
Usos principais derivação, associados à vegetação secundária. Trecho com maiores e mais conservados remanescentes mais preponderante que nos demais, há
seus ramais laterais prevalece a ocupação antrópica,
florestais, em especial nas proximidades da foz do rio Bacajá e vários pontos de desembarque pesqueiro
com pastagens e culturas cíclicas e permanentes
Predomínio de áreas de pastagem plantada no restante da área. nas terras indígenas. na região.
(café/cacau).
Não há produção pesqueira estimada e comercial, em função da Restrição de navegação na região dos pedrais. Há poucos locais de coleta de peixes
Produção pesqueira equivalente ao compartimento
característica atual da região ornamentais, concentrados próximo a
de restituição de vazão.
Presença de hotel de pesca na margem esquerda. cachoeira de Belo Monte, na região de
pedrais.
Há vários pesqueiros de coleta de peixes
Região com maior produção pesqueira por viagem quando
ornamentais.
comparado com os outros compartimentos. Pois está distante
dos maiores centros de ocupação humana. Há vários pesqueiros
de coleta de peixes ornamentais.

Unidades de Conservação
Não há registro oficial Não há registro oficial Presença da Reserva Pesqueira Não há registro oficial
(UCs)

Terras Indígenas (TIs) Terras Indígenas Paquiçamba e Arara da Volta Grande

Ocupações mais antigas próximas a Altamira e ao Processo de ocupação humana já consolidado ao longo da rodovia
Frentes ativas de desmate no entorno das terras indígenas, no
Processo de longo da rodovia Transamazônica. Frentes pontuais Transamazônica e dos seus ramais laterais e de interligação. Frentes
final da rodovia Transassurini e ao longo da margem direita do Áreas de desmate ativas não identificadas.
Desflorestamento e pouco representativas de desmatamentos em lotes ativas de desmate no entorno da T.I Paquiçamba.
rio Bacajá.
de assentamentos na porção sudeste.

6365-EIA-G90-001b 170 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais

O compartimento Trecho de Restituição de Vazão compreende


a área a jusante da Casa de Força Principal do AHE Belo
Esse compartimento abrange as margens Este compartimento abrange terras dos municípios de Anapu Monte, abrangendo a porção do município de Vitória do Xingu
direita e esquerda do Reservatório do Xingu e Devido a sua localização, este compartimento será afetado pela e José Porfírio. Comparado aos outros compartimentos é o localizada ao norte da Rodovia Transamazônica e parte do
pequena parcela do compartimento implantação do AHE Belo Monte criando três porções territoriais que possui maior extensão territorial, baixa densidade município de Senador José Porfírio.
Reservatório dos Canais. Também fazem no sentido SW/NW: (i) ao Sul, limitada pelos canais de derivação demográfica e é o mais isolado pela precariedade dos Está sob forte influência da Rodovia Transamazônica e
parte deste compartimento as sedes e pelo primeiro trecho da vazão reduzida; (ii) a Nordeste, acessos rodoviários. apresenta modos de vida da população diferente dos
municipais de Altamira e Brasil Novo. definida pela margem direita do Reservatório dos Canais, pelo compartimentos relativos ao Reservatório dos Canais e Trecho
Altamira sofrerá impactos diretos do TVR e pela Transamazônica; e (iii) a Noroeste, delimitada pelas Os principais travessões que cortam esse compartimento são: de Vazão Reduzida, não apresentando grande dependência
empreendimento e Brasil Novo foi margens esquerdas dos Reservatórios dos Canais e do Xingu e Travessão do Itatá,; travessão PA Ressaca, Travessão do com o rio Xingu.
Aspectos
considerada por apresentar áreas favoráveis pela Transamazônica. Bispo, do Pirarara, do Soldado, dos Boiadeiros, dos Taxistas, As principais vias de acesso são a Rodovia Transamazônica
Socioeconômicos
para reassentamento rural. Travessão Surubim e Travessão Trans União. (BR 230) e a Rodovia Ernesto Accioly (PA-415), que ligam a
No Reservatório dos Canais situam-se 12 localidades, entre sede de Altamira a Vitória do Xingu. Destaca-se, ainda, a
Características
O principal acesso por terra é realizado pela povoados, aglomerados e núcleos de referência rural, tendo sido O compartimento do TVR é caracterizado pela presença de Rodovia PA-167 e diversos travessões que cortam esse
Gerais
BR 230 e, através dos travessões e vicinais, identificado 01 povoado (Belo Monte). Além dessas localidades, 07 localidades, entre povoados e núcleos de referência rural. compartimento: Travessões km 45 Norte, km 40 Norte, km 32
chega-se a quase todas as localidades aí foram identificados 10 núcleos de referência rural classificados Foram identificados 04 povoados, três deles concentrados na Norte, km 23 Norte, km 13 Norte, além do Travessão do
situadas. segundo a identidade espacial (condição de pertencimento) e região conhecida como Ressaca, no ponto médio da Volta Bambu, Travessão Tijuca, Travessão Timbira e Travessão Boa
presença de equipamentos sociais. Presença da Terra Indígena Grande e 03 núcleos de referência rural dispersos nos Vista. Esse compartimento é caracterizado pela presença de 06
O Rio Xingu é muito utilizado pela Paquiçamba, uma Gleba de mesmo nome, e parte do Projeto principais travessões. No TVR também se situa a Terra localidades. Vila Nova é considerada um aglomerado e, além
população das localidades ribeirinhas e, em Agropecuário Rio Joá. A população é majoritariamente de Indígena Arara da Volta Grande do Xingu. dessa localidade, foram identificados 05 núcleos de referência
alguns casos, é a única via de acesso possível. remanescentes dos projetos de colonização ou migrantes A ocupação vem avançando pelos travessões que partem rural, dispersos nos principais travessões e vicinais. As
chegados na última década. tanto da Transassurini, Município de Senador José Porfírio, localidades identificadas nesse compartimento possuem entre
como da Transamazônica, no Município de Anapu. 30 e 101 anos de existência, sendo o aglomerado Vila Nova
aquele que registra a ocupação mais antiga.

6365-EIA-G90-001b 171 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
Além dos povoados citados, observa-se extenso trecho, entre o
barramento até próximo ao Garimpo do Galo, que tem sua
ocupação baseada nos assentamentos do INCRA - Projeto de
Esse Trecho encontra-se dividido pelo estirão
Assentamento (PA) Morro das Araras e PA Ressaca,
do Rio Xingu, situado a jusante da Casa de
ocupações mais antigas e consolidadas; seguindo-se um trecho
Força Principal projetada para o AHE Belo
que faz parte de uma gleba do Instituto de Terras do Pará –
Monte. Na margem direita, pertencente a
ITERPA, denominado Gleba Bacajaí. Este assentamento é
O processo de ocupação se Senador José Porfírio e inseridos na Gleba Belo
mais recente, com cerca de oito anos de existência. Os
intensificou na década de 1980 e Monte estão localizados quatro PA: Arapari
produtores possuem uma associação e reivindicam a
foi consolidado na última década (9.24 ha), Araraquara (3.940 ha), Canoé
regularização das posses junto ao Governo do Estado. A
quando o processo de valorização (10.709 ha) e Jaraua (4.737 ha). Na margem
principal atividade desenvolvida é o cultivo do cacau e a
das terras nas imediações da esquerda, município de Vitória do Xingu, situa-
criação de gado. Esta área faz limite com a TI Arara da Volta Além dos povoados citados, observa-se extenso trecho, entre o barramento até próximo ao
rodovia provocou a concentração se a Gleba Tubarão e parte da Gleba Tapará,
Grande. Garimpo do Galo, que tem sua ocupação baseada nos assentamentos do INCRA - Projeto de
fundiária, ocorrendo o além da porção Norte do Projeto Agropecuário
Assentamento (PA) Morro das Araras e PA Ressaca, ocupações mais antigas e consolidadas;
alongamento dos travessões, e a Rio Joa, já mencionado no compartimento do
Este compartimento caracteriza-se por apresentar uma estrutura seguindo-se um trecho que faz parte de uma gleba do Instituto de Terras do Pará – ITERPA,
penetração e apossamento de Reservatório dos Canais. Existe ainda, na parte
fundiária remanescente do projeto de colonização iniciado na denominado Gleba Bacajaí. Este assentamento é mais recente, com cerca de oito anos de
terras para áreas mais interiores central da margem direita desse
década de 1970. Neste projeto os lotes são acessados por existência. Os produtores possuem uma associação e reivindicam a regularização das posses
do território, em direção ao Rio compartimento, uma área proposta para abrigar
vicinais perpendiculares à Transamazônica. Há concentração junto ao Governo do Estado. A principal atividade desenvolvida é o cultivo do cacau e a
Estrutura Xingu. Nessa área localiza-se se a a TI Juruna. As áreas antrópicas neste
de localidades no município de Altamira, na região localizada criação de gado. Esta área faz limite com a TI Arara da Volta Grande.
Fundiária /Uso presença majoritária de posseiros compartimento são as pastagens e as culturas
ao norte da Rodovia Transamazônica (BR-230) e em seu
do Solo e de proprietários titulados na cíclicas com predominância da primeira,
entorno. Na porção pertencente ao município de Senador José Porfírio situam-se o PA Ressaca; parte
década de 1980. principalmente no Município de Vitória do
do PDS Itatá, e a TI Arara da Volta Grande ue já se encontram delimitados. O restante é
O Projeto Agropecuário Rio Joá é Xingu. As culturas cíclicas estão mais
Foram identificadas duas localidades no município de Brasil ocupado pela Gleba Bacajaí, sob jurisdição estadual e por remanescente da Gleba Ituna.
um dos mais antigos (data de presentes na porção desse compartimento
Novo e uma Agrovila Carlos Pena Filho na divisa entre esses Na porção localizada no município de Anapu encontra-se a Gleba Bacajá – onde estão
1979) e parte deste território está localizado no Município de Senador José
municípios. A única localidade distante do eixo da Rodovia implantados os PA Pilão Poente I, II e III e o PDS Anapu I – e uma pequena parte da Gleba
inserido no compartimento do Porfírio. O trecho situado a jusante do
Transamazônica é o Núcleo de Referência Rural Santa Juliana, Belo Monte. As Terras Indígenas Bacajá e Koatienemo situam-se no limite Sul dessa Subárea.
Reservatório dos Canais. Embora Reservatório dos Canais encontra-se a maior
localizado no Reservatório do Xingu. Outra referência
a ocupação esteja avançando concentração de população ribeirinha da AID.
importante na região é a Agrovila Leonardo da Vinci; pelo fato
pelos travessões, predomina Destaca-se que, o povoado de Belo Monte do
de possuir melhor infra-estrutura de comércio e serviços em
vegetação de Floresta Ombrófila, Pontal constitui local de recepção de migrantes
relação às outras localidades, em função de sua proximidade
estando associada à presença da que transitam pela Rodovia Transamazônica. A
em relação à sede de Altamira e à Rodovia Transamazônica
TI Paquiçamba. partir desse ponto, em direção a foz do Rio
acabou se tornando referência para a população da região.
Xingu e, portanto, em relação aos aglomerados
Grande parte dos núcleos situados nesse compartimento possui
e núcleos que são caracterizados neste
modos de vida tipicamente ribeirinhos e desenvolvem
compartimento, predomina a ocupação
atividades econômicas relacionadas aos rios e igarapés, sendo o
tradicional, marcadamente extrativista.
curso d’ água a fonte de sustento, de lazer e modo de
organização de vida, incluindo o modo de locomoção.

Na margem esquerda predominam atividades econômicas O comércio caracteriza-se por ser mais consolidado, pois parte da população estabelece As atividades econômicas mais expressivas são
voltadas para a pecuária. Ao longo da Transamazônica, relações comerciais regulares. O tipo de garimpo praticado na região e feito de forma as culturas da mandioca e da pimenta-do-reino
próximo à divisa dos municípios de Altamira e Brasil Novo Predomina agricultura de rudimentar, através da utilização da bateia, e é localizado principalmente em terra, nas e a criação de gado na porção referente ao
verifica-se a presença da cultura do cacau. A essas atividades subsistência, sendo que os encostas a algumas centenas de metros da margem. No Garimpo do Galo, o ouro é extraído de município de Senador José Porfírio. Já na
devem ser acrescentadas as relacionadas ao extrativismo pequenos produtores vivem da maneira mecanizada, existindo uma mina com a escavação de túneis e sistema de transporte do porção do compartimento que pertence à
mineral e vegetal e à pesca. lavoura branca que é o principal material por teleférico para a separação do ouro das rochas. São empregados 15 trabalhadores Vitória do Xingu, destaca-se a pecuária,
Cultura do cacau nas Agrovilas Olavo Bilac e Vale Piauiense e uso das terras (arroz, o milho, o residentes no local, que se revezará em turnos, com a mina funcionando 24 horas. A pesca é praticada em médios e grandes
nos núcleos de referência rural Gaviãozinho e Sagrado Coração feijão, a mandioca). Os muito importante para a constituição da renda dos moradores. Estima-se que aproximadamente estabelecimentos e a produção de mandioca
Atividades
de Jesus (Pioneira); da mandioca e seus derivados (goma e agricultores, mais capitalizados, 170 pessoas pratiquem a pesca na região seja para consumo, ou para comercialização nos pequenos. Estas atividades também são
Econômicas
farinha de tapioca) na Agrovila Princesa do Xingu e no Núcleo dedicam-se a lavoura comercial (ornamental ou pesca artesanal de consumo). A pesca de peixes ornamentais possui destaque desenvolvidas na modalidade de subsistência,
de Referência Rural Serrinha; a extração da borracha em Santa (café, o cacau e a pimenta do na Ilha da Fazenda e comunidades vizinhas, onde se concentram moradores que praticam essa associando-se à pesca. Na Agrovila Cilo
Juliana (onde também é praticada a pesca) e a oleicultura na reino) e à pecuária, a maioria atividade. A pesca de subsistência também é fundamental, pois fornece proteínas para a dieta Bananal é desenvolvida a apicultura.
Agrovila Carlos Pena Filho. Na Agrovila Leonardo da Vinci, o desses agricultores, possuem dos ribeirinhos. A população ribeirinha deste setor também pratica a pesca comercial. A Destaca-se a cultura do cacau em Vitória do
setor de serviços emprega a maior parte dos moradores. pastagens e criam gado bovino agropecuária caracteriza-se pelo plantio de culturas temporárias: mandioca, feijão, arroz, Xingu por pequenos produtores, sendo a
Grande número de estabelecimentos comerciais nas localidades através de um sistema extensivo. milho; culturas permanentes: cacau, café e a pecuária. Em parte desses imóveis observa-se produção pouco organizada; a comercialização
situadas ma margem direita; do total de 29 estabelecimentos uma presença mais intensa da atividade agropecuária comercial, sobretudo a criação do gado e é realizada por meio de atravessadores.
comerciais, 23 localizam-se nos núcleos aqui tratados. o cultivo do cacau.
6365-EIA-G90-001b 172 Leme Engenharia Ltda.
QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
continuação
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
As localidades deste compartimento apresentam ocupação mais recente
que as dos compartimentos referentes ao TVR e TRV, sendo o núcleo
Santa Juliana um dos que registram ocupação mais antiga, cerca de 40
anos de existência. Os moradores da margem esquerda do Rio Xingu têm
na sede urbana do município de Altamira a referência para atendimento
Essas localidades dispõem de infra-estrutura de serviços
médico e outras demandas, como comércio e serviços.
extremamente simples e a maioria das famílias tem na sede urbana do
Quanto aos postos de saúde, apenas duas das 10 localidades identificadas
município de Altamira a referência para atendimento médico e outras
não dispõem desse equipamento: os núcleos de referência rural Sagrado
demandas, como comércio e serviços. Neste compartimento situa-se o
Coração de Jesus (Pioneira) e Santa Juliana;
Acampamento da Eletronorte que funciona como ponto de apoio, e é
Santa Juliana, possivelmente em função de sua localização muito próxima
dotado de posto de saúde. Os estabelecimentos comerciais são
ao Rio Xingu e maior isolamento em relação à Rodovia Transamazônica e
encontrados em 05 das 11 localidades deste compartimento com
às áreas mais desenvolvidas, destaca-se como a localidade onde a infra-
destaque para o povoado de Belo Monte, que possui 11
estrutura de serviços é a mais precária, dispondo apenas de um As localidades nesse compartimento dispõem
estabelecimentos comerciais, a maior parte com bares e pequenos
equipamento social, a escola municipal de ensino fundamental. de infra-estrutura de serviços extremamente
armazéns ou mercados, que comercializam os produtos necessários ao
Há um grande número de estabelecimentos comerciais nas localidades simples e a maioria das famílias tem na sede
atendimento das necessidades mais básicas da população, como As condições de vida da população, em linhas
representadas por bares e pequenos armazéns ou mercados, que urbana do município de Altamira a referência
alimentação e higiene. Não há infra-estrutura de saneamento básico gerais, são bastante precárias. Não há infra-
comercializam os produtos necessários ao atendimento das necessidades para atendimento médico e outras demandas,
em nenhuma das localidades e grande parte das moradias não possui estrutura de saneamento básico em nenhuma
mais básicas da população, como alimentação e higiene. como comércio e serviços. Segundo
nem mesmo banheiro, sendo o esgotamento sanitário realizado das localidades e grande parte das moradias
Quanto ao abastecimento de água, diferentemente dos outros informações locais, as estradas em Vitória do
através de instalações rudimentares (fossas negras). No que se refere não possui banheiro, sendo o esgotamento
compartimentos, há um maior número de localidades nas quais a captação Xingu usadas para o deslocamento até a sede
ao descarte do lixo, as populações rurais praticam a queima ou o sanitário, geralmente, realizado através de
de água não é individual, havendo rede de abastecimento de água nas de Altamira, embora não sejam pavimentadas,
enterram. Existem, ainda, outros equipamentos, como cemitérios e fossas negras. O abastecimento de água na
Agrovilas Carlos Pena Filho, Princesa do Xingu e Olavo Bilac. Nas outras estão em bom estado de conservação, em
equipamentos de lazer. Os cemitérios são equipamentos mais comuns Ressaca e no Garimpo do Galo é feito através
localidades, a água para utilização doméstica é proveniente de poço e virtude dos investimentos realizados pela
às localidades desse compartimento e, ainda assim, existem em de poços rasos existentes em áreas de encosta,
nascente e dos igarapés, sendo a forma de captação individual. Prefeitura Municipal de Altamira.
pequena quantidade. São apenas 03 unidades, 01 em cada uma das localizados, respectivamente, a cerca de 200 m
Quanto à energia elétrica, 90% das localidades dispõem desse serviço, A água para utilização doméstica dos
seguintes localidades: Belo Monte, Santo Antônio e Bom Jardim I. e 700 m dos povoados, com a água sendo
sendo o fornecimento realizado pela CELPA. Apenas o Núcleo de moradores das localidades é captada
Quanto ao lazer, apenas o povoado de Belo Monte conta com levada até as casas e estabelecimentos
Referência Rural São João Batista não dispõe de energia elétrica. individualmente e, em geral, é proveniente de
Infra-Estrutura equipamentos destinados a esse tipo de atividades. Destaca-se a comerciais através de vários tubos de PVC. Em
Não há infra-estrutura de saneamento básico em nenhuma das localidades, poço raso. Quanto à energia elétrica, apenas
existência do Sítio Pesqueiro Turístico Estadual Volta Grande do geral, as localidades contam com infra-
sendo o esgotamento sanitário realizado através de fossas rudimentares. O Vila Nova e a Agrovila Cilo Bananal dispõem
Xingu, área especial para pesca esportiva criada por meio da estrutura de serviços extremamente simples e a
lixo produzido, geralmente é queimado, enterrado ou lançado a céu aberto. desse serviço. Existem 12 estabelecimentos
Resolução nº 30 de 14 de junho de 2005 do Conselho Estadual de maioria das famílias tem na sede urbana do
Na margem direita também registra-se precariedade da infra-estrutura de comerciais nas 06 localidades deste
Meio Ambiente do Estado do Pará – COEMA. Trata-se de uma área município de Altamira, a despeito da distância,
serviços, em especial com relação aos serviços de saúde. A sede urbana do compartimento, sendo 5 deles em Vila Nova e
de 278,64 km2, legalmente protegida e localizada no trecho de vazão a referência para atendimentos médicos e
município de Altamira é a referência para atendimento médico e outras 03 no Núcleo de Referência Rural Alto Brasil.
reduzida do AHE Belo Monte, na margem esquerda do Rio Xingu, outras demandas, como comércio e serviços.
demandas, como comércio e serviços. Apenas os núcleos de Itapuama e A população deste compartimento conta, ainda,
entre o Travessão 55 (CNEC) e a Terra Indígena Paquiçamba. Outra referência importante na região é o
Babaquara dispõem de posto de saúde. Outra referência importante para a com 02 equipamentos voltados à educação,
Neste sítio pesqueiro não são permitidas atividades que possam trazer povoado de Ressaca, que possui um maior
população dessa margem é a Agrovila Sol Nascente, que, dotada de um sendo 01 em Vila Nova e 01 no núcleo Bom
prejuízos ao meio ambiente ou ao desenvolvimento do turismo de número de equipamentos sociais disponíveis
maior número de equipamentos sociais e estabelecimentos comerciais, Pastor. Trata-se do PETI – Programa de
pesca esportiva ambientalmente sustentável – tais como atividades em relação às outras localidades desse
desempenha, depois da cidade de Altamira, o papel de centro regional, Erradicação do Trabalho Infantil.
industriais, garimpo, pesca comercial, loteamento urbano e compartimento.
especialmente quando considerada a sua localização, na principal via de Esse compartimento destaca-se por contar com
exploração florestal sem manejo sustentável –, sendo permitida
acesso desse compartimento, a Transassurini. um número maior de equipamentos voltados ao
apenas a pesca na modalidade pesque e solte. É neste mesmo sítio
A infra-estrutura de saneamento básico é similar a da área rural da lazer, especialmente os relacionados à prática
pesqueiro que está localizado a Pousada Rio Xingu, de grande
margem esquerda. O abastecimento de água é exclusivamente individual de esportes.
importância para o desenvolvimento turístico do Município de Vitória
nas 11 localidades. A água para utilização doméstica é proveniente de
do Xingu, uma vez que sua divulgação tem abrangência tanto
poço .
nacional como internacional.
Nenhuma das localidades dessa margem dispõe de energia elétrica.
Existem, nas localidades, alguns geradores. Ressalta-se a existência de um
porto no Núcleo de Referência Rural Transassurini, que serve de
atracadouro para os barcos que realizam a travessia do Rio Xingu em
direção à cidade de Altamira. Em função da presença do porto, trata-se de
um local de fluxo intenso de pessoas.
Em relação aos equipamentos sociais e serviços disponíveis, em todos os
núcleos, com exceção do Transassurini, todos dispõem de uma escola. No
núcleo Transassurini não existem equipamentos sociais, apenas
estabelecimentos comerciais.

6365-EIA-G90-001b 173 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.4-2
Compartimentos Ambientais do Empreendimento
conclusão
Características
Reservatório do Xingu Reservatório dos Canais Trecho de Vazão Reduzida (TVR) Trecho de Restituição de Vazões (TRV)
Ambientais
O padrão construtivo das moradias é bastante simples, mas pode-se dizer
que relativamente superior ao observado nos outros compartimentos,
encontrando-se um maior número de casas construídas em alvenaria. No
Padrão O padrão construtivo das moradias é bastante simples e rudimentar, semelhante ao encontrado nos outros
Núcleo de Referência Rural Santa Juliana, as moradias são, em sua Como ocorre nos outros compartimentos, o
Construtivo/ compartimentos. Na maioria das localidades as casas são construídas com tábuas e cobertas com telhas de palha ou
maioria, casas de madeira, cobertas com telhado de amianto e palha. padrão construtivo das moradias é simples.
amianto.
Em algumas localidades, como na Agrovila Sol Nascente e no Núcleo
Travessão dos Cajá, encontram-se casas construídas em alvenaria, também
cobertas com telhas de amianto.
Quanto aos postos de saúde, apenas 03 das 07 localidades dispõem
desse equipamento, os povoados de Ressaca e Belo Monte do
Pontal e o Núcleo de Referência Rural Itatá, o que denota,
novamente, a precariedade do atendimento de saúde na região.
Salienta-se, ainda, que alguns desses postos estão localizados em O único equipamento social comum a todas as
edificações extremamente precárias, não possuindo as condições localidades pesquisadas é a escola e, à exceção
O único equipamento social comum a todas as mínimas necessárias para a realização do atendimento, como é o de Vila Nova, cada localidade conta com
Esta porção do compartimento do Reservatório do Xingu também se
localidades pesquisadas é a escola e, à exceção caso do posto de saúde de Itatá. apenas 01 unidade de ensino, que oferta as
destaca em relação ao restante dos outros compartimentos por apresentar
do núcleo Bom Jardim II, cada localidade conta As igrejas, depois dos estabelecimentos comerciais, são os primeiras séries do ensino fundamental. É
maior número de equipamentos sociais relacionados à educação, o
com apenas uma unidade de ensino, que oferta as equipamentos mais comuns e estão presentes em 05 localidades do importante mencionar que, ao longo da
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, presente nas
primeiras séries do ensino fundamental. compartimento, sendo que em 03 delas há mais de 01 templo Rodovia Ernesto Acioly (PA-415), há diversas
Agrovilas Vale Piauiense, Carlos Pena Filho e Olavo Bilac, além do
Inexistem unidades e postos de saúde distribuídos religioso. escolas municipais que atendem à população
Núcleo de Referência Rural Santo Antônio.
para atender a demanda existente, tendo sido Na Ressaca e na Ilha da Fazenda onde estão situados os principais residente ao longo dos travessões. Quanto aos
A margem esquerda do rio Xingu se destaca em relação aos demais por
Equipamentos identificados apenas três das 11 localidades: Belo serviços públicos disponíveis na Volta Grande, voltados para o postos de saúde, apenas 04 das 06 localidades
contar com um número maior de equipamentos voltados ao lazer,
Sociais e de Monte, Santa Luzia e São Francisco das Chagas. atendimento da população residente nesses povoados, no Garimpo dispõem desse equipamento. Apenas os
especialmente os relacionados à prática de esportes. Além disso, há
Lazer As pesquisas realizadas registraram a inexistência do Galo e nos imóveis rurais da região. Na Ressaca está a maior núcleos de referência rural Bom Pastor e
diversas praias, principalmente nas proximidades da Rodovia
de unidades e postos de saúde distribuídos de unidade escolar, a Escola Municipal Luiz Rebelo, que atende cerca Travessão do Bambu não contam com a
Transamazônica situada no entorno da cidade de Altamira. Ainda com
forma a atender à demanda existente. As igrejas de 300 alunos do ensino fundamental até o segundo grau. Possui presença de um posto de saúde. Destaca-se,
relação ao lazer, as Agrovilas Princesa do Xingu e Olavo Bilac destacam-
são os equipamentos mais comuns nesse boa infra-estrutura de salas de aula e gerador próprio. O transporte ainda, que o posto de saúde do Núcleo de
se pela presença de campos de futebol, quadra de esportes e salão de
compartimento, e estão presentes em 08 para o deslocamento dos estudantes até a unidade escolar é feito por Referência Rural, em função de sua localização
festas. Destaca-se, ainda, no Núcleo de Referência Rural Santa Juliana, a
localidades do Reservatório dos Canais, sendo barcos. Os professores que não moram na região ficam durante toda na Rodovia Ernesto Acioly (PA-415),
existência de uma praia de grande importância turística.
que em 5 delas há mais de um templo religioso. a semana hospedados na Ilha da Fazenda. caracteriza-se como um importante ponto de
Na Ilha da Fazenda funciona outra escola, voltada para as crianças apoio aos viajantes e moradores da região.
do ensino infantil e fundamental até a 4ª série que atende 76 alunos
e, à noite, funciona para o Ensino de Jovens e Adultos, atendendo
10 alunos. Para o atendimento básico à saúde existem dois postos
de saúde, na Ressaca e na Ilha da Fazenda. Há poucos
equipamentos de lazer, como quadras de esportes. Próximo às
localidades ribeirinhas, há praias freqüentadas pela população local.
A cidade de Altamira é o espaço polarizador da AID e detêm 75% da
população do município e 62% da AID. O seu padrão de urbanização
revela a expansão desordenada de sucessivas ocupações advindas de
movimentos migratórios que se encaixaram sobrepostos uns aos outros,
com a abertura e ampliação de áreas de periferia em processo de
crescimento.
Aspectos A população residente na sede municipal de Altamira é de 68.665
Socioeconômico habitantes, Representa, 72% do total da população do município, o que
s revela um grau de urbanização elevado. A estrutura produtiva da cidade de
Altamira está totalmente associada às atividades produtivas da região,
Área Urbana ligadas à cultura e produção extrativista vegetal. Destacam-se, nesse
sentido, a indústria extrativista mineral; a indústria de transformação; a
indústria de beneficiamento; o comércio (atacadista e varejista) e os
serviços. O setor industrial da cidade está concentrado em torno dos ramos
de movelaria, serrarias, fabricação de esquadrias, pequenas metalúrgicas,
pequenas confecções e beneficiamento de alimentos.

6365-EIA-G90-001b 174 Leme Engenharia Ltda.


9.5 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL INTEGRADO DO TRECHO DE VAZÃO
REDUZIDA – TVR

Para caracterização do trecho de vazão reduzida de forma integrada foram criados setores de
análise com características distintas e realizados levantamentos dos diversos temas
relacionados ao ecossistema local, aos aspectos físicos e à caracterização socioeconômica.

O diagnóstico apresentado reflete uma síntese de tudo aquilo que foi identificado nos
diagnósticos dos diversos temas que se interagem nesse trecho. Dessa forma, essa
caracterização baseou-se nos levantamentos topobatimétricos de diversas seções transversais
em cada um dos setores do TVR; nos dados limnológicos e da qualidade das águas; nos
levantamentos da fauna, e nos dados socioeconômicos.

A caracterização sócioambiental integrada buscou a identificação das comunidades


ribeirinhas, formas de vida, usos da água, infra- estrutura, meios de transporte, presença de
garimpo e relação com a pesca como atividade de subsistência e comercial.

Por meio de uma caracterização biótica integrada do TVR foi possível identificar a
importância da formação de habitats relacionados diretamente com as vazões do rio Xingu,
além de espécies de anfíbios e mamíferos aquáticos e semi aquáticos, aves, quelônios e
tracajás que dependem dos ambientes de pedrais e planícies de inundação para o ciclo de
reprodução, alimentação e refúgio.

A identificação dos principais canais de escoamento da água para diversas vazões do rio
Xingu e a modelagem matemática desse rio e de seus afluentes pela margem direita,
contribuíram para um conhecimento do comportamento da vazão na calha do rio e seus
efeitos de remanso sobre os principais afluentes.

Por fim, informações de campo foram obtidas em duas vistorias realizadas em condições de
vazões diferentes (7.000m3/s e 3.500m3/s) onde se buscou identificar os locais inundados
nessas duas situações. Entrevistas com as comunidades locais subsidiaram a caracterização de
problemas relacionados à estiagem acentuada do rio Xingu. Nessa oportunidade, foram
avaliadas as restrições naturais quanto à navegação e problemas de rebaixamento dos poços
de captação ou degradação da qualidade da água nesses poços quando o rio Xingu se encontra
muito baixo.

9.5.1 Caracterização Física do TVR

O trecho do rio Xingu denominado de Volta Grande do Xingu, que sofrerá redução de vazão
quando da entrada em operação do AHE Belo Monte, faz parte do macrocompartimento
Médio Xingu, definido em função das características fisiográficas da bacia, conforme
diagnóstico ambiental integrado da AAR e AII da Análise Integrada, itens 9.1 e 9.2 deste
Capítulo. Em parte do TVR (cerca de 50 km), a calha do rio expõe as rochas graníticas do
Complexo Xingu em amplas áreas, configurando os pedrais e evidenciando uma profusão de
canais condicionados por estruturas (falhas e fraturas), com direções predominantes NW-SE,
NE-SW e E-W. A extensão restante da calha do rio corta as rochas graníticas do Complexo
Xingu, sendo observada uma ampla distribuição de ilhas aluviais (planícies de inundação),
delimitadas por canais com condicionamento estrutural (falhas e fraturas) nas mesmas
direções supracitadas. O entorno da calha do rio Xingu neste trecho é dominado por colinas

6365-EIA-G90-001b 175 Leme Engenharia Ltda.


médias e pequenas pertencentes à Depressão da Amazônia Meridional, além de morrotes e
morros representativos dos Planaltos Residuais do Sul da Amazônia.

Os principais afluentes estão localizados na margem direita, enquanto que aqueles pela
margem esquerda são de pequeno porte. As profundidades da calha do corpo hídrico principal
são extremamente variáveis, atingindo um máximo de 34 m nas partes mais profundas
(durante as cheias) e um mínimo de 5 m nas partes mais rasas (por ocasião da estiagem, na
região de ocorrência dos pedrais). As velocidades da água são da ordem de 0,1 m/s na
estiagem a 1,0 m/s nas cheias.

São detectados depósitos primários e secundários de ouro nas regiões dos rios Itatá, Bacajaí e
Bacajá, bem como a ocorrência de ouro secundário na calha do rio Xingu desde a localidade
de Ressaca até o final do trecho. Nos terrenos no entorno da Volta Grande do Xingu, a erosão
laminar e em sulcos é ocasional e de baixa intensidade nas formas colinosas, enquanto que
nas áreas de morrotes e morros os processos erosivos são mais significativos.

Quase toda a extensão da margem direita apresenta aptidão agrícola boa para lavoura em pelo
menos um dos níveis de manejo. Nas ilhas aluviais e nos terrenos da margem esquerda
predomina a aptidão restrita para a lavoura em pelo menos um dos níveis de manejo.

Considerando os diferentes fatores ambientais relativos ao Meio Físico, a Volta Grande do


Xingu foi subdividida em 4 setores de análise com características distintas, na tentativa de
melhor subsidiar um conhecimento dos recursos ambientais presentes nesse estirão. O
QUADRO 9.5-1, a seguir, apresenta a caracterização de cada um desses setores considerando
diversas variáveis atreladas a esses fatores físicos, sendo que a FIGURA 9.5-1 ilustra essa
setorização.

6365-EIA-G90-001b 176 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.5-1
Compartimentos do TVR Caracterização dos Setores do Trecho de Vazão Reduzida (TVR)
Continua
Setores/ Variáveis Ambientais São Pedro Ilha da Fazenda/ Ressaca Paquiçamba Jusante do rio Bacajá

Compartimentos abrangidos
- B2 - B2 - B2 - B1 e A3
pelo setor
Área do setor - Setor com área total de 49,9 km2. - Setor com área total de 156,9 km2. - Setor com área total de 100,5 km2. - Setor com área total de 315,5 km2.
- Praticamente ausentes os depósitos aluvionares na calha do rio;
- Depósitos Aluvionares (areia, argila, argila arenosa e - Depósitos Aluvionares (areia, argila, argila
- Restritos Depósitos Aluvionares (areia, argila, argila arenosa e
- Depósitos Aluvionares (areia, orgânica, silte e cascalhos) constituindo ilhas; arenosa e orgânica, silte e cascalhos)
orgânica, silte e cascalhos) nas margens da calha;
argila, argila arenosa e orgânica, - Depósitos Aluvionares (areia, argila, argila arenosa e constituindo ilhas;
- Ampla ocorrência de exposições de migmatitos e granitóides
silte e cascalhos) constituindo orgânica, silte e cascalhos) nas margens do rio, - Restritos Depósitos Aluvionares (areia, argila,
(pedrais);
ilhas; principalmente, na foz dos rios Ituna, Itatá, Bacajaí e argila arenosa e orgânica, silte e cascalhos) nas
Geologia - Nítido controle estrutural dos canais;
- Praticamente ausentes as Bacajá; margens da calha;
- Predomínio de falhamentos / fraturamentos nas direções NW,
exposições rochosas (pedrais); - Exposições restritas de migmatitos e granitóides - Ocorrência de exposições de migmatitos e
EW e NE;
- Predomínio de falhamentos / (pedrais); granitóides (pedrais);
- Complexidade geológica, estrutural e de preenchimento dos
fraturamentos com direção NW. - Predomínio de falhamentos / fraturamentos nas direções - Predomínio de falhamentos / fraturamentos nas
canais, com conseqüente complexidade de suas características
NW, NE, EW e NS. direções NW, NE, EW e NS.
geométricas.
- Predomínio de ilhas aluviais com
- Ilhas aluviais com Planícies de Inundação praticamente ausentes
amplas Planícies de Inundação
- Ocorrência de ilhas aluviais com Planícies de Inundação - Ocorrência de ilhas aluviais com Planícies de (2,4%);
(73%);
(26,5%); Inundação (41,2%); - Restrita ocorrência de Planícies Fluviais nas margens,
- Planícies Fluviais praticamente
- Maior concentração de Planícies Fluviais nas margens - Planícies Fluviais restritas nas margens; apresentando maior concentração na margem direita;
ausentes nas margens;
Geomorfologia ao longo dos rios da margem direita; - Ocorrência de Pedrais (31,3 %); - Ampla ocorrência de Pedrais (53,6%);
- Pedrais praticamente ausentes
- Ocorrência de pedrais (7,6%); - Restrita ocorrência de morrotes em ilhas - Ocorrência de Morrotes (11,4 %) e colinas (7,6%) nas ilhas;
(1,1%);
- Restrita ocorrência de morrotes em ilhas (0,6%); (0,6%); - Canais intermitentes estreitos, longos longitudinais e transversais
- Ocorrência de um único morrote
- Canais permanentes, longitudinais, largos e longos - Canais intermitentes, curtos e longos, estreitos, (21,0%) e canal largo no trecho entre a vila de Belo Monte e a
em ilha (0,2%);
(25,7%). longitudinais e transversais (26,9%). restituição da vazão a partir do Canal de Fuga da Casa de Força
- Canais permanentes estreitos,
Principal (4%).
longitudinais e longos (25,7%).
- Ocorrência da associação Argissolo Amarelo +
- Ocorrência da associação Gleissolo + Neossolo
Neossolo Quartzarênico + afloramentos de
Quartzarênico + Plintossolo ou Neossolo Flúvico, da - Predomínio de afloramento de rochas e da associação Argissolo
- Predomínio da associação rocha, da associação Neossolo Flúvico +
associação Argissolo Vermelho-Amarelo + Neossolo Vermelho-Amarelo + Neossolo Litólico + Argissolo
Gleissolo + Neossolo Gleissolo Háplico + Neossolo Quartzarênico e
Litólico + Argissolo Acinzentado e da associação Acinzentado;
Quartzarênico + Plintossolo ou afloramentos de rochas;
Neossolo Flúvico + Gleissolo Háplico + Neossolo - Sem aptidão agrícola nas áreas de ocorrência de afloramentos de
Neossolo Flúvico; - Aptidão restrita para lavoura em práticas
Solos Quartzarênico; rochas (pedrais);
- Aptidão restrita para lavoura em agrícolas de baixo a médio nível tecnológico
- Aptidão restrita para lavoura em práticas agrícolas de - Aptidão restrita para lavoura em práticas agrícolas de baixo,
práticas agrícolas de baixo a (Níveis de Manejo A e B) nas áreas de
baixo a médio nível tecnológico (Níveis de Manejo A e médio e alto nível tecnológico (Níveis de Manejo A, B e C) nas
médio nível tecnológico (Níveis ocorrência dos Argissolos e Neossolos
B); áreas de ocorrência da associação Argissolo Vermelho-Amarelo
de Manejo A e B). Flúvicos;
- Sem aptidão agrícola nas áreas de ocorrência de + Neossolo Litólico + Argissolo Acinzentado.
- Sem aptidão agrícola nas áreas de ocorrência
afloramentos de rochas (pedrais).
de afloramentos de rochas (pedrais).
- Pastagens plantadas no terço superior da margem
direita;
- Presença das vilas da Fazenda, Ressaca e garimpo do
Galo na margem direita;
- Predomínio de pastagens plantadas nos dois terços inferiores do
- Floresta aluvial nas ilhas;
- Pastagens plantadas e presença da - Pastagens plantadas apenas no terço superior setor; Processo recente de ocupação antrópica, com frentes de
- Presença de florestas ciliares em ambas as margens,
localidade São Pedro na margem da margem esquerda; desmate na margem direita;
exceto no terço superior da margem direita;
esquerda; - Presença da TI Paquiçamba,com florestas - Maior gradiente de declividade;
- Presença de vegetação dos pedrais nas proximidades da
Uso do solo e cobertura vegetal - Ausência de floresta ciliar nas preservadas; - Ocorrência da vegetação dos pedrais e florestas ombrófilas nos
foz do rios Ituna, Bacajaí e Bacajá;
margens; - Presença tanto de floresta aluvial nas ilhas morrotes;
- Uso de agricultura de subsistência nas ilhas próximas ao
- Floresta ombrófila aluvial quanto de vegetação típica dos pedrais (porte - Vegetação dos pedrais de porte arbóreo nas áreas de maior
povoado da Ilha da Fazenda, ainda que não detectável
preservada nas ilhas. herbáceo/arbustivo e arbóreo). acumulação de sedimentos;
na escala de mapeamento;
- Baixa ocorrência de florestas aluviais
- Processo recente de ocupação antrópica, com frentes de
desmate, no trecho a jusante do Garimpo do Galo;
- Presença da Terra Indígena (TI) Arara da Volta Grande
do Xingu.

6365-EIA-G90-001b 177 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.5.1-1
Compartimentos do TVR Caracterização dos Setores do Trecho de Vazão Reduzida (TVR)
Conclusão
Setores/ Variáveis Ambientais São Pedro Ilha da Fazenda/ Ressaca Paquiçamba Jusante do rio Bacajá

- Região de deplecionamento, visível em imagens nas


- Região de grande deplecionamento nas áreas
áreas de ocorrência de pedrais;
de ocorrência de pedrais e nos canais de
- Região com presença de água nos canais com vazões
algumas ilhas aluviais; - Região de ocorrência de grande deplecionamento nas áreas dos
- Deplecionamento lateral não entre 715 m3/s e 7.312 m3/s;
- Pequena bacia de contribuição lateral da pedrais, em especial no terço inferior na região da cachoeira
detectável nas imagens de satélite - Pequena bacia de contribuição lateral da margem
margem esquerda, com a presença de 4 Grande;
nas respectivas vazões; esquerda com um pequeno tributário;
Deplecionamento, tributários e tributários e 2 igarapés; - Presença de diversos tributários, cerca de 10 igarapés e o rio
- uso do rio para navegação local - Grande bacia de contribuição lateral da margem direita
navegabilidade - Ocorrência de rotas de navegação dos índios da Lau-Labu;
dos moradores da localidade de com a presença de 8 tributários, 3 igarapés (Ouro Verde,
TI Paquiçamba para os povoados da Ressaca e - Grandes dificuldades para navegação devido à presença das
São Pedro; Ressaca) e dos rios Ituna, Itatá, Bacajaí e Bacajá;
Ilha da Fazenda e para a cidade de Altamira (a principais cachoeiras e corredeiras do TVR;
- Presença da principal rota de navegação entre os
ser confirmada pelos resultados dos estudos
povoados da Ressaca e Ilha da Fazenda e a cidade de
etnoecológicos, ora em desenvolvimento);
Altamira;
- ).
- Índices morfométricos não
apresentam variações espaciais
- Pouca variação dos índices morfométricos nas vazões de - Grande variação dos índices morfométricos dos - Grande variação dos índices morfométricos dos pedrais (e canais,
nas imagens de satélite nas
referência detectáveis nas imagens; pedrais nas vazões de referência; por conseqüência) nas vazões de referência;
vazões de referência;
Variáveis fisiográficas na calha - 87 planícies aluviais na calha do rio, com dimensão - 33 planícies aluviais na calha do rio, com - 7 planícies aluviais na calha do rio, com dimensão média de 100
- 102 planícies aluviais na calha do
do rio Xingu e em seu entorno média de 47,8 ha, 4 morrotes com dimensão média de dimensão média de 125 ha, 2 morrotes com ha, 39 morrotes com dimensão média de 92 ha, 383 pedrais com
rio, com tamanho médio de 35,7
28,4 hectares, 1060 pedrais com tamanho médio de 1,1 dimensão média de 28 ha, 381 pedrais com dimensão médioa de 44 ha e umauma área de colinas, com 2401
hectares, 01 morrote, 34 pedrais
ha. dimensão média de 8,2 ha. ha.
com tamanho médio de 1,6
hectares.
- Levantamento de 13 seções topobatimétricas;
- Levantamento de 4 seções - Declividade de 0,2m/km no início do trecho
topobatimétricas para representado pela margem direita do rio Xingu, com
- Levantamento de 6 seções topobatimétricas;
caracterização do regime de velocidade média de 0,13 m/s na estiagem;
- Declividade de 0,25m/km no trecho da TI
escoamento; - No trecho representado pelas duas margens (seções 1, 8
Paquiçamba no período de estiagem, reduzindo
- Em condições de estiagem, para e 9), que passa pela Ressaca e Ilha da Fazenda, a
a quase zero a partir do ponto onde se localiza
vazões de 700 a 1.000 m3/s, a velocidade permanece inalterada e a declividade se
a TI Paquiçamba e a foz do Bacajá;
distribuição das vazões entre os aproxima de zero;
- As velocidades médias neste setor, na
canais das margens esquerda e - A partir da seção 2, as vazões voltam a ser veiculadas
estiagem, são da ordem de 0,13 m/s, reduzindo
direita é da ordem de 9% e 91%, preferencialmente pela margem direita; na estiagem a
para 0,03 m/s no final deste setor;
respectivamente. A velocidade declividade se acentua atingindo uma média de
- Nas condições de cheia média anual, a
média é da ordem de 0,23 m/s e a 0,45m/km, enquanto a velocidade média fica em torno - Ausência de seções topobatimétricas por dificuldade de acesso à
declividade média neste setor é da ordem de
Variáveis hidráulicas associadas e declividade de 0,11 m/km. de 0,30 m/s; calha do rio;
0,24m/km e a velocidade média de 1,0m/s.
à calha/canais - No final do setor, próximo à - Nas condições de cheia média anual (Q=23.414m3/s) a - Impossibilidade de modelagem hidráulica desse setor;
- Com ocorrência de vazões de estiagem, cerca
seção Nova 3, a declividade declividade até a montante da Paquiçamba fica em torno - Declividade média de 1,2m/km.
de 5% e 95% da vazão escoam,
aumenta para 0,43 m/km e a de 0,25m/km e a velocidade média da ordem de 1,0m/s;
respectivamente, pelas margens esquerda e
velocidade para 0,51 m/s; - No inicio do setor, representado somente pela margem
direita. Para vazões da ordem de 10.000 m3/s,
- Em condição de cheia média direita do rio Xingu, 88% do escoamento do rio correm
esse percentual altera-se para 20% e 80%.
anual (Q=23.414m3/s) a por essa margem;
Observou-se que para vazões variáveis entre
velocidade média do setor é de - A partir das localidades de Ressaca e Ilha da Fazenda, o
700 m3/s e 1.000 m3/s as diferenças de
0,87 m/s com declividade da escoamento se torna único e volta a se dividir pouco
profundidade da lâmina d´água não são
linha d´água de 0,22m/km; antes da TI Paquiçamba, sendo 95% escoados pela
significativas.
- Não há entrada de afluentes margem direita na estiagem e cerca de 70% nas cheias;
significativos neste setor. - Neste setor estão os principais afluentes do trecho da
Volta Grande (rios Ituna, Itatá, Bacajaí e Bacajá).

6365-EIA-G90-001b 178 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-1 – Compartimentos do TVR

6365-EIA-G91-001b 179 Leme Engenharia Ltda.


9.5.2 Levantamentos de Campo – Procedimentos Metodológicos

Como subsidio ao diagnóstico dos diversos temas que se integram no TVR, foram feitos
levantamentos de dados primários no rio Xingu e nos igarapés (qualidade da água) em
2000/2001 e 2007/2008.

Para caracterizar as condições físicas da calha do rio Xingu, as velocidades de escoamentos,


vazões e níveis d água, foram feitos levantamentos topobatimétricos de seções ao longo do rio
Xingu. A qualidade da água foi caracterizada pela amostragem e análise de diversos
parâmetros em 19 pontos distribuídos no rio Xingu e igarapés do TVR.

Os habitats constituídos de pedrais e florestas aluviais foram caracterizados pela sua


importância na manutenção de todo um ciclo de vida aquática e terrestre. Em
complementação à descrição do diagnóstico sobre a composição da vegetação do TVR foram
feitas duas campanhas de campo para avaliar a inundação dos ambientes de florestas aluviais
nas margens e ilhas e inundações nos pedrais, locais de reprodução, alimentação e refúgio da
fauna aquática.

A composição da ictiofauna levantou dados que permitiram avaliar a biodiversidade da


ictiofauna, aspectos relativos à ecologia da ictiofauna, pesca comercial de peixes para
consumo humano e a pesca comercial de peixes ornamentais.

Os usos da água nesse trecho foram avaliados a partir de pesquisa antropológica e de visitas a
campo na qual foram feitas entrevistas com as comunidades ribeirinhas para se conhecer as
diversas formas de uso, desde o lazer ao uso da navegação para escoamento da produção.

Dessa forma buscou-se avaliar as possíveis interferências da redução de vazão no ciclo


hidrosocial consolidado no TVR, o que pode conduzir à impactos gerais na estrutura do
ambiente (ecossistema) comprometendo a função e os serviços ambientais (acessos a água,
peixes, escolas, etc).

9.5.2.1 Levantamentos Topobatimétricos

No trecho entre o eixo e a foz do rio Bacajá – 44 km – foram levantadas 18 seções


topobatimétricas, sendo 13 no período de 2000 a 2001, no âmbito dos Estudos de Viabilidade
conduzidos pela ELETROBRÁS/ELETRONORTE, e 5 seções em março de 2008.

As seções levantadas em 2001 tinham um enfoque específico de se identificar as vazões


mínimas no TVR e, portanto, restringiram-se aos canais do rio Xingu, com exceção de 3
seções que foram completas, incluindo as ilhas. Por meio desses levantamentos foi possível
caracterizar as seções de escoamento e os níveis d’água na data do levantamento de campo.

Para estudar como as seções, já disponíveis, sem indicação precisa das ilhas poderiam ser
representadas no Modelo Matemático, foram também identificados os níveis da cartografia
elaborada para a escala 1:25.000, informações da geomorfologia para o trecho em análise e a
caracterização do uso do solo, focada na detecção das áreas com presença de floresta aluvial.
Na comparação da topobatimetria, cartografia e geomorfologia, verificou-se que em algumas
seções, notadamente aquelas com pedrais, a cartografia apresentava uma boa coerência com
as seções topobatimétricas. Em outras foram constatadas diferenças notáveis atribuídas,
aparentemente, a um levantamento que retratava, na realidade, o topo das árvores.

6365-EIA-G91-001b 180 Leme Engenharia Ltda.


A localização das seções topobatimétricas e os níveis d’água medidos no campo à época da
realização dos levantamentos estão apresentados na FIGURA 7.7.2-52: Localização das
Seções Topobatimétricas, no Diagnóstico de Recursos Hídricos e em tabelas do capítulo deste
EIA referente ao Diagnóstico de Recursos Hídricos para as Áreas de Influência Direta (AID)
e Diretamente Afetada (ADA).

Através do levantamento de novas seções topobatimétricas, no âmbito do presente EIA,


procurou-se caracterizar alguns trechos específicos onde já podiam ser antevistos possíveis
impactos mais significativos, sobre diferentes variáveis ambientais, decorrentes da redução de
vazão. Nesse contexto, foram definidas seções no trecho do rio Xingu na margem esquerda,
no compartimento São Pedro, em frente à TI Paquiçamba e uma seção no trecho
encachoeirado, próximo à seção HEC II, já existente. Na FIGURA 7.7.2-52: Localização das
Seções Topobatimétricas, estas novas seções são representadas pelas denominações seção
nova1, 2, 3 etc.

As 18 seções então disponíveis foram inseridas em um modelo matemático - HEC-RAS,


versão 4, (US ARMY CORPS OF ENGINEERS, 2006) -, para representar a calha do rio
Xingu no TVR.

9.5.2.2 Levantamentos Limnológicos e de Qualidade da Água

As metodologias utilizadas nos estudos limnológicos e de qualidade da água para a seleção da


rede de amostragem, das variáveis físicas, químicas e hidrobiológicas e do período no qual
deveriam ser feitas as coletas, assim como a metodologia de tratamento dos dados, foram
direcionadas para fornecer informações a respeito da atual condição dos sistemas hídricos e
subsidiar ações de monitoramento e controle de possíveis impactos decorrentes dos processos
relacionados à implantação e à operação do AHE Belo Monte.

A caracterização limnológica e de qualidade da água do TVR contou não só com a análise de


dados obtidos através das coletas feitas para o presente EIA, mas também com a interpretação
de dados secundários, incluindo aqueles levantados nos estudos ambientais realizados em
2000/2001 para o AHE Belo Monte, lembra-se, já considerando o arranjo atual das obras
principais e conformação dos dois compartimentos do reservatório, bem como com um TVR
com a mesma extensão daquele ora em pauta.

A rede de amostragem de 42 pontos foi selecionada de forma a caracterizar, para fins de


diagnóstico, as variáveis limnológicas, a qualidade da água e os sedimentos na Área de
Influência Direta (AID) e na Área Diretamente Afetada (ADA), bem como subsidiar a
identificação e a avaliação de impactos decorrentes do futuro represamento das águas do rio
Xingu e pela criação do reservatório dos canais. Além disso, objetivou-se ainda avaliar os
possíveis efeitos sobre a qualidade das águas e a microflora e a microfauna aquáticas
decorrentes do pulso hidrológico anual verificado no rio Xingu e, no caso específico do
estudo em questão, para o TVR. Para tanto, foram realizadas quatro campanhas de
amostragem de forma a caracterizar a qualidade da água e as variáveis limnológicas durante
os períodos de enchente, vazante, seca e cheia, como especificado a seguir:

• 1ª campanha: janeiro/2007 – representativa do período de enchente;

• 2ª campanha: maio/2007 – representativa do período de vazante;

6365-EIA-G91-001b 181 Leme Engenharia Ltda.


• 3ª campanha: setembro/2007 – representativa do período de seca; e

• 4ª campanha: março/2008 – representativa do período de cheia.

O TVR foi especificamente representado pelo Setor Amostral III dos estudos limnológicos e
de qualidade das águas, compreendendo 19 pontos de amostragem como descrito no
QUADRO 9.5-2 e apresentado no Desenho 6365-EIA-DE-G92-006).

6365-EIA-G91-001b 182 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.5-2
Pontos de Amostragem Limnológicos e de Qualidade das Águas no TVR

Coordenadas UTM
Setor Ponto Localização Descrição
22M
Rio Xingu e tributários da margem direita
imediatamente a montante da
IITU Igarapé Ituna 9612864 391202
confluência com o rio Xingu
RESSACA Rio Xingu a montante da Ilha da Fazenda 9605109 395716

FAZENDA Rio Xingu Ilha da Fazenda 9605831 397063

RX 04 Rio Xingu a jusante da Ilha da Fazenda 9604506 398892

imediatamente a montante da
Igarapé Terra confluência com o rio Xingu - sob
TI 03 9603900 414875
Indígena influência da TI Arara da Volta
Grande do Xingu

RX 20 Rio Xingu sob influência da TI Paquiçamba 9612597 411004


a montante da confluência do rio
RX 05 Rio Xingu 9611979 419119
Bacajá
a jusante da confluência do rio
RX 06 Rio Xingu 9613197 422128
Bacajá
III- Futuro
trecho de BAC 02 Rio Bacajá a montante do ponto BAC01 9608353 423488
vazão imediatamente a montante da
reduzida BAC 01 Rio Bacajá 9611460 421033
confluência com o rio Xingu
do AHE
Xingu Rio Xingu e tributários da margem esquerda
(Volta Igarapé
área a ser inundada pelo reservatório
Grande do IGLH (M) Galhoso 9633754 396417
dos canais
Xingu) Montante
Igarapé
área a ser inundada pelo reservatório
PAQUIÇ. (M) Paquiçamba 9638657 396324
dos canais
Montante
área a ser inundada pelo reservatório
Igarapé dos canais - imediatamente a
PAQUIÇ. 9632445 412047
Paquiçamba montante da confluência com o rio
Xingu

RX 21 Rio Xingu a montante do igarapé Ticaruca 9632498 416888


Igarapé imediatamente a montante da
TICARUCA 9632970 418045
Ticaruca confluência com o rio Xingu
RX 17 Rio Xingu no final do trecho de vazão restituída 9654245 423568

RX 11 Rio Xingu a montante do igarapé Cobal 9655929 420042


imediatamente a montante da
IGCO Igarapé Cobal 9656208 416556
confluência com o rio Xingu
IGCO (M) Igarapé Cobal a montante do ponto IGCO 9656499 416230

6365-EIA-G91-001b 183 Leme Engenharia Ltda.


Na campanha de março/2008, foi realizada ainda uma avaliação nictemeral do ponto Fazenda,
de forma a caracterizar a qualidade da água por meio de medidas de hora em hora em um
ciclo de 24 horas.

Para a determinação dos metais nos sedimentos do rio Xingu e seus tributários foram
realizadas duas campanhas de coleta de sedimentos: uma em setembro de 2007, na estação
seca; e outra em março de 2008, representativa do período de cheia.

A avaliação da biomassa aérea e subaquática, bem como a identificação visual das espécies de
macrófitas aquáticas presentes no TVR foi realizada durante as campanhas dos meses de maio
de 2007 e março de 2008. Assim, e em especial no que tange à campanha de março do
presente ano, se teve a oportunidade de retratar a reação dessa biomassa e das macrófitas
aquáticas frente ao carreamento de nutrientes e sedimentos advindos das áreas de entorno do
TVR, processo este característico do período de cheia.

Os parâmetros físicos e químicos da água e do sedimento, assim como os parâmetros


hidrobiológicos analisados estão listados nos quadros a seguir (QUADRO 9.5-3, QUADRO
9.5-4 e QUADRO 9.5-5).

6365-EIA-G91-001b 184 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.5-3
Parâmetros físicos e químicos analisados das águas do Estudo de Qualidade das Águas
Superficiais do AHE Belo Monte/PA
Caracterização física e química da água
Parâmetros Unidade
Em campo
pH*
Condutividade elétrica * (µS/cm)
Turbidez* (NTU)
Oxigênio dissolvido* (mg/L)
Temperatura* (ºC)
Potencial redox* (mV)
Transparência da coluna de água (m)
Profundidade (m)
Em laboratório
DBO mg/L
N total mg/L
Nitrato µg/L
Amônio µg/L
Fósforo total µg/L
Carbono total dissolvido mg/L
Carbono inorgânico dissolvido mg/L
Carbono orgânico dissolvido mg/L
Material em suspensão mg/L
Material em suspensão inorgânico mg/L
Material em suspensão orgânico mg/L
Íons totais dissolvidos mg/L
Fluoreto µg/L
Cloreto mg/L
Brometo µg/L
Sulfato mg/L
Sódio mg/L
Potássio mg/L
Magnésio mg/L
Cálcio mg/L
Mercúrio dissolvido mg/L
Cromo dissolvido mg/L
Ferro dissolvido mg/L
Níquel dissolvido mg/L
Chumbo dissolvido mg/L
Zinco dissolvido mg/L
*Parâmetros também analisados nas avaliações nictermerais

6365-EIA-G91-001b 185 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.5-4
Parâmetros físicos e químicos analisados dos sedimentos do Estudo de Qualidade
das Águas Superficiais do AHE Belo Monte/PA

Caracterização física e química do sedimento


Parâmetros Unidade
Em laboratório
Pesticidas organoclorados mg/Kg sedimento
Pesticidas organofosforados mg/Kg sedimento
N total Kjeldahl mg/g sedimento
Fósforo total µg/g sedimento
Carbono total dissolvido mg/g sedimento
Cromo dissolvido mg/Kg sedimento
Ferro dissolvido mg/Kg sedimento
Níquel dissolvido mg/Kg sedimento
Mercúrio dissolvido mg/Kg sedimento
Chumbo dissolvido mg/Kg sedimento
Zinco dissolvido mg/Kg sedimento

QUADRO 9.5-5
Parâmetros biológicos analisados no Estudo de Qualidade das Águas Superficiais
do AHE Belo Monte/PA

Caracterização hidrobiológica
Parâmetros Unidade
Colimetria
Coliformes totais NMP/100mL
Coliformes fecais (E.Coli) NMP/100mL
Comunidades
Fitoplâncton organismos/m3
Zooplâncton organismos/m3
Bentos indivíduos/m2
Macrófitas biomassa

9.5.2.2.1 Levantamentos de Ictiofauna

Para análise da composição da ictiofauna no TVR foram utilizados dados obtidos em


campanhas de campo além de outros disponíveis na bibliografia (literatura científica, registros
de coleções de museus e bancos de dados digitais). As campanhas de coletas de dados
primários foram realizadas durante dois períodos de levantamentos distintos: o primeiro entre
dezembro de 2000 e novembro de 2001 e o segundo entre setembro de 2007 e abril de 2008.

A combinação de dados antigos e novos permitiu uma maior abrangência espacial e temporal
e um esforço amostral mais intenso, que não seria possível se apenas fosse utilizado um único
ciclo hidrológico. Esta estratégia garante a maior validade das conclusões do estudo, que não
se remete apenas a uma situação específica de um ano particular e abrange uma certa
variabilidade, entre anos, das condições ambientais. Outra vantagem da realização dos estudos
em 2007 e 2008 refere-se à possibilidade de preenchimento de lacunas no conhecimento da
6365-EIA-G91-001b 186 Leme Engenharia Ltda.
ictiofauna associada a ambientes ainda não estudados nos trabalhos anteriormente
desenvolvidos para o AHE Belo Monte, como os igarapés, as corredeiras e os pedrais. Os
ambientes amostrados para o TVR em cada um dos períodos encontram-se no QUADRO 9.5-
6.

QUADRO 9.5-6
Número de Coletas de Ictiofauna, por Período, nos Ambientes do TVR

2000 2001 2007 2008


AMBIENTE Seca Ench Ench Ench Vaz Seca Seca Ench Cheia
Nov-00 Dez-00 Jan 01 Jul 01 Set 01 Out 01 Set 07 Dez 07 8-Mar
Canal do rio 2 2 1 3 1 1
Corredeiras e
1 1 1 2 2 3
pedrais
Remansos do rio 3 3 3 3 3 1
Igarapés 12 12 15
Total de coletas
6 5 5 7 4 2 14 14 18
por período
Total de coletas
11 18 28 18
por ano

A estratégia de amostragem seguiu os princípios de variabilidade espacial e temporal,


contemplando todos os ambientes aquáticos de importância para a ictiofauna e pesca e
diferentes épocas do ano, de acordo com o ciclo hidrológico anual. Dependendo do ambiente
amostrado, diferentes formas de coleta foram usadas para um mesmo ambiente (malhadeira,
tarrafa, espinhel, puçá, peneira, arrasto, parcela, mergulho livre, mergulho compressor e censo
visual). A escolha do método de amostragem foi determinada pela melhor forma de amostrar
o ambiente de maneira a amostrar o máximo da diversidade possível. Porém, dependendo da
vazão do rio, alguns ambientes se tornavam inacessíveis, seja por falta de água ou por
aumento de volume.

Todos os exemplares capturados foram identificados ao nível taxonômico o mais


detalhadamente possível, tendo sido medidos e pesados individualmente. O material
preservado foi levado ao laboratório de Biologia Pesqueira da Universidade Federal do Pará
(UFPA), em Belém, para posteriores estudos.

Além das coletas de exemplares adultos e jovens da ictiofauna, amostras específicas foram
recolhidas adicionalmente para o estudo do ictioplâncton. Para tal, em fevereiro de 2008, nos
seguintes biótopos: i) calha do rio; ii) lagos; iii) corredeiras; iv) remanso; v) igarapés; vi)
áreas de inundação, de acordo com a disponibilidade dos mesmos. As amostras de
ictioplâncton foram obtidas por arrasto com uma rede cônica de 1,60m de comprimento,
0,60m de diâmetro e uma abertura de malha de 300µm. Cada arrasto teve uma duração média
de 4 minutos e foi sempre realizado em sentido de contra-corrente. Foram realizadas coletas
nas margens (do rio e de áreas de inudação) e no canal do rio, na superfície e a 2 m de
profundidade,

Além disso, ainda foram feitas observações diretas em campo sobre adaptações da ictiofauna
aos diversos momentos do ciclo hidrológico, acompanhamento de pescarias e entrevistas com
pescadores.

6365-EIA-G91-001b 187 Leme Engenharia Ltda.


Os dados obtidos foram utilizados de forma a permitir análises de:

• Biodiversidade da ictiofauna – riqueza de espécies, raridade, endemismo e abundância


numérica das espécies coletadas, comparando períodos do ano e ambientes, através de
testes estatísticos;

• Análise da distribuição e espaço temporal do ictioplâncton;

• Ecologia da ictiofauna – aspectos relevantes à ecologia da comunidade e/ou grupo de


espécies que poderão ser afetadas pelo empreendimento, destacando relações tróficas da
comunidade, biologia reprodutiva e conectividade dos ambientes;

• Pesca comercial de peixes para consumo humano – informações sobre as características


técnicas e ambientais da pesca artesanal (captura, esforço, rendimentos, locais de pesca,
comercialização, etc.), voltado para a captura de peixes para o consumo da população
local ou regional;

• Pesca comercial de peixes ornamentais – informações sobre as características técnicas e


ambientais da pesca artesanal (captura, esforço, rendimentos, locais de pesca,
comercialização, etc.) voltado para a captura de peixes vivos para serem comercializados
junto a aquaristas e colecionadores; e

• Aspectos socioeconômicos do uso da ictiofauna – estudos específicos sobre as


características socioeconômicas das comunidades ribeirinhas, focalizando a dependência
das populações em relação aos recursos pesqueiros, desde o ponto de vista econômico,
cultural e de sobrevivência, , incluindo um diagnóstico da pesca amadora na região.

9.5.2.3 Levantamentos Socioeoconômicos

A caracterização do meio socieconômico para o TVR foi realizada a partir de observações de


campo, entrevistas e levantamentos de informações derivadas da pesquisa socioantropológica
e dos estudos do meio biótico sobre a icitiofauna e a pesca, realizados no âmbito do presente
EIA, tendo sido ainda considerados os estudos antropológicos realizados para a FUNAI sobre
as duas reservas indígenas – TI Paquiçamba e TI Arara da Volta Grande. A FIGURA 9.5-2
mostra em mapa os usos que as comunidades indígenas fazem do rio e da mata.
Especificamente no tocante às comunidades indígenas que guardam relação espacial e
antropológica com o TVR, há que se destacar que ainda não foram levadas em conta
informações mais atualizadas e detalhadas a respeito das mesmas dado que os estudos
etnoecológicos, abrangendo essas duas TIs, entre outras, ainda não foram concluídos.

Procurou-se identificar as principais características das populações presentes em cada um dos


setores do TVR, destacando-se as relações que são estabelecidas com o rio Xingu e a
importância deste para os modos de vida praticados, as formas de produção e de subsistência,
as relacões sociais e comunitárias, a navegação e a acessibilidade, as formas de abastecimento
de água e a disponibilidade de serviços públicos, principalmente saúde e educação.

6365-EIA-G91-001b 188 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-2 – Atividades Indígenas no TVR

6365-EIA-G91-001b 189 Leme Engenharia Ltda.


9.5.3 Caracterização Socioambiental Integrada do TVR

Conforme constatado pelos estudos socioantropológicos do EIA, a Volta Grande do Xingu se


apresenta como um diversificado universo socioambiental. É um espaço em que convivem e
se interagem, muitas vezes de forma conflituosa:

a. as comunidades indígenas tradicionais com áreas reconhecidas, modos de vida


intimamente vinculados ao rio, vivendo da caça, pesca, agricultura e extrativismo vegetal;

b. populações ribeirinhas (antigas e mais recentes, muitos moradores estalecidos na região


nas décadas de 70 e 80 em lotes dos assentamentos do INCRA), que ocupam de forma
dispersa o espaço - nas ilhas e beiras do rio, que também têm seus modos vida marcados
por hábitos fortemente associados aos ciclos da natureza e a proximidade do rio Xingu e
demais igarapés - fazem uso dos recursos florestais, praticam a agricultura e a pesca e
tem no sistema de poliprodução sua fonte de sustento.

c. produtores mais identificados com atividade agropecuária, principalmente a criação de


gado e a produção do cacau, com menor relação com as dinâmicas estabelecidas pelo rio
Xingu, embora, muitas vezes, dependente do rio, principalmente para o escoamento da
produção.

d. garimpeiros, que se inserem no processo de mobilidade espacial – circulando por vários


garimpos, chegando e partindo, gerando uma econômia especifica, estreitamente
associada a formação e adensamento dos povoados.

Complementa o quadro de referências espaciais dessas populações que vivem na Volta


Grande, destacam-se os estreitos vínculos com a cidade de Altamira, principal referencia
urbana, espaço de oportunidades e suprimento de serviços e acesso ao mercado –
comercialização e aquisição de produtos, que é visitado com regularidade.

Neste contexto geral, observam-se situações mais específicas, condicionadas por fatores como
o local de moradia no TVR (povoados, ilhas isoladas, imóveis rurais), a atividade de produção
e ou subsistência praticada e em qual local da Volta Grande. Portanto, a seguir procurou-se
descrever as principais características sociais dos trechos do TVR indentificados.

9.5.3.1 Setor São Pedro

Observações de campo feitas no âmbito de diferentes levantamentos temáticos realizados para


o presente EIA indicam não haver problemas de navegação nesse trecho em nenhuma
condição de estiagem.

No tocante à caracterização do empreendimento, não há previsão de direcionamento da


liberação do fluxo para o canal esquerdo.

A ocupação deste setor do TVR é configurada por lotes de assentamento do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), dispostos perpendicularmente em relação ao rio.
São Pedro é o núcleo de referência rural2 e nas proximidades das residências de uma das

2
Os Núcleos de referência rural se caracterizam como locais onde são desenvolvidas atividades de interesse
comunitário (escolas, postos de saúde e igrejas). Quase sempre encontram-se em um imóvel rural, no qual o
6365-EIA-G91-001b 190 Leme Engenharia Ltda.
propriedades existe uma escola de ensino fundamental, que atende 36 crianças moradoras em
imoveis rurais próximos, e uma pequena capela católica onde, eventualmente, são selebradas
missas. Embora esteja em território pertencente ao município de Vitória do Xingu, a escola é
mantida pela Prefeitura de Senador José Porfírio. O professor fica hospedado todo o mês na
casa do proprietário do imovel e o transporte das crianças é também custeado pela Prefeitura.

O diagnóstico socioeconômico da AID identificou 20 imóveis rurais ao longo da margem


esquerda do rio Xingu, em uma extensão de aproximadamente 10 km, estimando-se cerca de
60 moradores. As ilhas próximas também são habitadas, estimando-se mais 20 moradores
permanentes. Existem, ainda, proprietários que residem em Altamira.

De acordo com as informações obtidas pela pesquisa sócio antropológica e pesquisa de


campo, a principal atividade comercial praticada pelos moradores deste setor é a pesca. O
pescado é mantido congelado e levado semanalmente para ser comercializado em Altamira.
Chega-se, nos períodos de maior abundancia, a conseguir até 300 kg de peixe em cinco dias
de pesca. Acontece de forma sazonal e é praticada por pescadores que se dedicam
parcialmente ou totalmente a atividade, utilizando rede de espera, malhadeiras ou linha de
mão. É bastante frequente também a pesca de subsistência, que ocorre de forma contínua,
complementa as demais atividades econômicas e é uma produção voltada para o consumo da
família.

Além da pesca, a agropecuária é também praticada e envolve o plantio de culturas temporárias


- mandioca, feijão, arroz; milho -; culturas permanentes - cacau, coco, café -; e pequena
atividade pecuária com a criação de gado, porcos e galinhas. Outra atividade da população
ribeirinha, seja comercialmente ou para consumo próprio, é o extrativismo vegetal: açaí,
babaçu, castanha-do-pará.

Todos os grupos domésticos nesse trecho utilizam o rio como a principal alternativa para seus
deslocamentos, já que para se chegar ao travessão mais próximo é necessário andar cerca de
10 km. Assim, as pequenas embarcações (voadeiras e rabetas) fazem o transporte de
estudantes, levam pessoas ao posto de saúde, transportam o pescado e a produção agrícola
que é comercializada, permite a compra de produtos nas proximidades (Ressaca) ou em
Altamira.

Os levantamentos de campo mostraram os imóveis rurais deste trecho do TVR não possuem
energia elétrica e a utilização da água para abastecimento humano é feita, principalmente, por
meio de poços rasos, com informações de moradores que eles secam em períodos de
acentuada estiagem. Nesses casos, a água é retirada diretamente do rio. Mesmo quando os
poços estão com água suficiente - para uma maior comodidade são construídos mais próximos
das residências - o rio é muito utilizado para tarefas diárias, como a lavagem de roupa, banho
e limpeza do pescado para as refeições, além de ser espaço de recreação e convívio entre dos
moradores (FIGURA 9.5-3).

proprietário cede o espaço para que o equipamento seja construído. Embora não se tenha a formação de um
agrupamento de moradias no entorno desses equipamentos, a não ser as residências do proprietário do imóvel e
seus familiares, constituem importantes pontos de referência para a população de um determinado território,
consolidando-se ali uma identidade espacial (Ex: São Pedro, Santo Antônio, Paratizão etc) que congrega
moradores dos imóveis rurais próximos.

6365-EIA-G91-001b 191 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-3 - Atividades domésticas realizadas diariamente no rio Xingu
(Fotografia: Roberto E. Santo)

Neste trecho há presença de 102 planícies aluviais na calha do rio, com tamanho médio de
35,7ha e 34 pedrais com 1,6ha. As ilhas são cobertas por Floresta Ombrófila Densa Aluvial.
Este tipo de vegetação trata-se de uma formação ribeirinha ou floresta ciliar que ocorre ao
longo dos cursos de água ocupando os terraços antigos das planícies quaternárias. No rio
Xingu, em função da geomorfologia fluvial vigente, esta formação é mais representativa nas
ilhas aluviais, vales dos igarapés e trechos estreitos da faixa ciliar, sendo mais preponderantes
na região do baixo Xingu.

Esta vegetação sofre influência da flutuação do nível do rio Xingu nos períodos de cheias e de
vazantes, quando são alagadas ou pelo menos umedecidas pelas enchentes. O nível de
inundação é muito variável podendo oscilar entre 4 e 8 m nos picos anuais de enchente e
vazante. Existem, portanto, várzeas mais altas e várzeas mais baixas. No entanto, o lençol de
águas subterrâneas das florestas aluviais é muito superficial.

As ilhas aluviais observadas no trecho de São Pedro são resultantes da deposição de


sedimentos o que permitiu o estabelecimento da vegetação florestal, que são alimentadas por
um canais anostomasados interligados, muito variáveis em tamanho sendo regionalmente
conhecidos como, furos, sumidouro ou paranás. Este trecho localiza-se na margem esquerda
do rio Xingu, lado oposto do caminho preferencial do escoamento. Observa-se que as ilhas
que formam o setor São Pedro estão mais agrupadas quando se compara com o setor Ilha da
Fazenda/Ressaca.

Os solos que suportam esta tipologia vegetacional típica são geralmente de origem
hidromórfica, do grupo glei húmico; de drenagem deficiente e incorporam considerável teor
de matéria orgânica e de nutrientes, os quais são anualmente alimentados pelo sistema de
cheia e vazante.

As matas de várzea apresentam um dossel emergente menos compacto e fechado do que as


matas de terra firme, atingindo uma altura aproximada 20-30m. A diversidade de espécies

6365-EIA-G91-001b 192 Leme Engenharia Ltda.


vegetais é alta, ocorrendo cerca de 120-150 espécies de árvores, mas comparativamente
menor, que as florestas de terra firme.

Nos levantamentos realizados no âmbito do EIA foram registradas 200 espécies nas 20
parcelas amostradas. As espécies que apresentaram maior abundância foram: Mollia gracilis,
Cynometra marginata, Zygia cauliflora, Paramachaerium ormosioides, Discocarpus
essequeboensis e seringueira (Hevea brasiliensis). Esta formação também registra alta taxa de
espécies com baixa freqüência, sendo que 32% das espécies florestais amostradas ocorreram
com apenas um indivíduo.

Espécies de interesse comercial foram observadas nas parcelas amostradas próximo a região
de São Pedro, porém em baixa densidade, como sumaúma (Ceiba pentandra) e ucuúba
branca/ucuúba da várzea (Virola surinamensis), sendo esta última presente na lista de espécies
ameaçadas de extinção, considerada vulnerável pela Portaria nº 37-N, de 3 de abril de 1992.

Em alguns trechos aparecem formações com as palmeiras jauari (Astrocaryum jauari), açaí
(Euterpe oleracea) e caranã (Mauritiella armata), especialmente nas zonas mais rebaixadas
do relevo. No entanto, estas formações não chegam a configurar um elemento de paisagem.

A análise comparativa da composição florística das parcelas alocadas para os levantamentos


nas florestas aluviais não permitiu que se verificasse diferença significativa entre trechos com
esta formação florestal existentes a montante do sítio Pimental e em parcelas amostradas que
se localizavam próximas ao setor São Pedro (Ilha da Taboca).

O sub-bosque das matas de várzea é limpo, com pouca regeneração das espécies do dossel.
Provavelmente a mortalidade produzida pela inundação selecione poucas mudas, reduzindo
drasticamente o número de indivíduos jovens. Algumas espécies deste estrato apresentam
geralmente porte reduzido com adaptação ecofisiológica para sobreviver submersos por um
determinado período. Neste estrato ocorrem Oxandra riedelinana (Annonaceae) e Ticorea
longifolia (Rutaceae) e, dentre as árvores emergentes tem-se: o açacu (Hura crepitans -
Euphorbiaceae), a piranheira (Piranhea trifoliolata - Euphorbiaceae), a abiurana da várzea
(Pouteria glomerata - Sapotaceae) e acapurana (Campsiandra laurifolia). Algumas destas
espécies produzem frutos em abundância sendo consideradas espécies chave para a fauna
aquática que utiliza as matas de várzea para reprodução e nicho alimentar, como por exemplo,
peixes e quelônios aquáticos.

As florestas de várzea são ambientes de extrema importância para alguns grupos de animais
aquáticos, apesar de constituírem habitats temporários. Observou-se que a distribuição de
quelônios aquáticos está relacionada ao pulso de inundação do rio, que altera a disponibilidade
de nutrientes e habitats, com maior oferta de alimento. Os resultados dos levantamentos dos
quelônios corroboraram com esta afirmação, uma vez que as maiores abundâncias foram
observadas nos períodos de enchente e cheias.

Desta forma, as capturas em áreas de inundação ocorreram apenas na cheia (FIGURA 9.5-4),
uma vez que peremas (R. punctularia) e lalás (M. gibba) ficam enterrados no solo ou no
folhiço durante o período seco, conforme informações empíricas obtidas de moradores da
região e comprovadas nos estudos específicos de quelônios aquáticos.

Entre as 8 espécies de quelônios observadas na região do empreendimento, apenas 3 foram


capturadas nos trechos de florestas aluviais de São Pedro e Ilha da Fazenda/Ressaca, são elas:

6365-EIA-G91-001b 193 Leme Engenharia Ltda.


cabeça torta (Mesoclemmys gibba), aperema (Rhynoclemmys puncularia) e tracajá
(Podocnemis unifilis). Esta última espécie é a mais abundante na região.

FIGURA 9.5-4 – Ambiente de floresta aluvial inundado no interior


de ilha (Foto: Juarez Pezutti)

Questionários estruturados aplicados junto aos moradores locais, no âmbito dos


levantamentos de quelônios aquáticos, evidenciaram a importância deste grupo, em especial
os tracajás como fonte de alimento. Ovos e animais adultos são coletados e usados para
alimentação e/ou produção de remédios.

9.5.3.2 Setor Ilha da Fazenda/Ressaca

Este setor do TVR destaca-se, do ponto de vista socioeconômico, por conter em sua extensão
três localidades, classificadas pelo IBGE como povoados: Ressaca e Garimpo do Galo, ambos
na margem direita, e a Ilha da Fazenda, todos pertencentes ao município de Senador José
Porfírio. Juntas concentram a maior parte dos moradores do TVR, com cerca de 800
habitantes: Ressaca – 471 hab., Ilha da Fazenda 221 hab. e Garimpo do Galo – 111, dados da
Contagem de População de 2007 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE. Essas localidades, nas décadas de 80 e 90, foram intensamente impactadas pela
atividade garimpeira. A exploração de ouro na região, segundo as informações obtidas,
ocorreu de forma intensa, em áreas próximas a esses povoados, até por volta de 1997, e desde
então a atividade tem diminuído.

A Ilha da Fazenda é o povoado mais antigo e existe desde as primeiras décadas do século
passado. Conforme relatos de seus moradores, no período mais intenso do garimpo, o
povoado chegou a ter cerca de 150 famílias residentes, praticamente o dobro do número atual,
sofrendo um processo de esvaziamento com o declínio desta atividade.

Deve-se atentar que há na região uma relativa mobilidade dos moradores, com movimentos de
emigração e imigração constantes, de pessoas que se deslocam em busca de emprego, muitas
vezes resultando no retorno a região, ou os que se estabeleceram em outros locais,
6365-EIA-G91-001b 194 Leme Engenharia Ltda.
principalmente em Altamira, retornando para a manutenção de suas posses ou de suas
residências.

Ressaca e Garimpo do Galo são núcleos típicos de áreas de garimpo, com a presença de vários
estabelecimentos comerciais como armazéns, bares, vendas, que se formaram a partir dessa
atividade de exploração mineral. Atualmente, nessas duas localidades observam-se várias
casas desabitadas. O comércio, além do atendimento aos garimpeiros que ainda continuam em
atividade, atende também a população da região e, segundo estudos antropológicos realizados
para a FUNAI1, as comunidades indígenas da TI Arara da Volta Grande e da TI Paquiçamba,
que se abastecem de produtos industrializados nesses locais: açúcar, munição, café,
combustível.

Outra forma de comércio presente na região são os chamados “marreteiros”, embarcações que
transitam na região, usadas como moradia e comércio itinerante e que vendem frutas,
verduras, carnes de gado e de caça, além de peixes (FIGURA 9.5-5).

FIGURA 9.5-5 - Rua Principal da Ressaca, ao longo da qual estão


presentes vários estabelecimentos comerciais.

Existe rede de iluminação pública na Ressaca e na Ilha da Fazenda, instalada pela Prefeitura
de Senador José Porfírio há alguns anos, que funciona com o acionamento diário de um
gerador, das 19 às 23 horas, no entanto, não é fornecido o combustível com regularidade.
Quando dos levantamentos de campo, em junho de 2008, estavam em instalação, nos três
povoados, equipamentos de telefonia acionados por energia solar (FIGURA 9.5-6).

6365-EIA-G91-001b 195 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-6 - Equipamento de telefonia em instalação no Garimpo
do Galo

A estrutura econômica encontrada neste setor do TVR possibilita certa dinâmica, sendo a
circulação de moeda mais efetiva que outros trechos do rio Xingu, devido ao garimpo, ao
comércio e a renda gerada pela pesca, especialmente a ornamental. O comércio se encontra
mais bem consolidado, pois pelo menos parte das populações estabelecem relações comerciais
regulares.

O tipo de garimpo praticado na região, embora ocorra a exploração de ouro no leito do rio
Xingu e, de forma mais rudimentar, através da utilização da bateia, é localizado
principalmente em terra, nas encostas a algumas centenas de metros da margem. No Garimpo
do Galo, o ouro é extraído de maneira mecanizada, existindo uma mina com a escavação de
túneis e sistema de transporte do material por teleférico para a separação do ouro das rochas.
São empregados 15 trabalhadores residentes no local, que se revezará em turnos, com a mina
funcionando 24 horas (FIGURA 9.5-7).

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FIGURA 9.5-7 – Localidade de Garimpo do Galo – atividade de garimpo

Na Ressaca, a técnica utilizada é o lançamento de um jato de água no barranco, com a lama


resultante sendo bombeada para a uma calha de madeira forrada com uma manta apropriada,
que separa o ouro. Outro local onde, atualmente, também está sendo desenvolvida a atividade
fica próximo à foz do Igarapé Itatá.

A pesca é muito importante para a constituição da renda dos moradores. Estima-se que
aproximadamente 170 pessoas pratiquem a pesca na região seja para consumo, ou para
comercialização (ornamental ou pesca artesanal de consumo). A pesca de peixes ornamentais
(FIGURA 9.5-8) possui destaque na Ilha da Fazenda e comunidades vizinhas, onde se
concentram moradores que praticam essa atividade, garantindo uma renda média entre 50 e
300 reais por pescador, por dia de trabalho, dependendo da época do ano. A pesca de
subsistência também é fundamental, pois fornece proteínas para a dieta dos ribeirinhos. O
consumo de pescado ocorre 3 vezes por semana e alcança em média 139g per capita.dia-1, o
que corresponde a 22 kg.ano-1, o dobro do que é consumido pelos moradores de Altamira e
mais do que a média nacional.

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FIGURA 9.5-8 - Captura de peixes ornamentais, nas proximidades
da Ilha da Fazenda. (Fotografia: Roberto E. Santo)

Atualmente, existem dois atravessadores, que contratam informalmente homens de várias


idades para atuarem nessas pescarias. Esses atravessadores compram toda a produção dos seus
contratados e por sua vez vendem a produção para exportadores, sediados em Altamira.

Após a chegada dos pesqueiros, os pescadores entregam as produções aos atravessadores,


para a quantificação e qualificação dos indivíduos. Os atravessadores ficam mantendo os
peixes vivos, realizando trocas periódicas de água, até o dia de entregarem a produção para os
exportadores. Ao mesmo tempo em que cumprem com a função de comercializar os peixes
ornamentais, os atravessadores são donos de comércios e, portanto, fornecem produtos
alimentícios para os pescadores, que pagam com parte ou toda a produção de peixes
capturados, criando laços de dependência entre eles. O pagamento do valor excedente é
realizado pelo atravessador semanalmente ou quinzenalmente para cada um dos seus
contratados. Os estudos do meio biótico sobre a pesca ornamental estimram a renda mensal
média dos pescadores em cerca de R$1.000,00

Conforme constatado pelos estudos socioantropológicos e os levantamentos de campo, é na


Ressaca e na Ilha da Fazenda onde estão situados os principais serviços públicos disponíveis
na Volta Grande, voltados para o atendimento da população residente nesses povoados, no
Garimpo do Galo e nos imóveis rurais da região.

Na Ressaca está a maior unidade escolar, a Escola Municipal Luiz Rebelo, que atende cerca
de 300 alunos do ensino fundamental até o segundo grau. É mantido pela Prefeitura Municipal
de Senador José Porfírio, funcionando em três turnos. Possui boa infra-estrutura de salas de
aula e gerador próprio. O transporte para o deslocamento dos estudantes até a unidade escolar
é feito por barcos. Os professores que não moram na região ficam durante toda a semana
hospedados na Ilha da Fazenda (FIGURA 9.5-9).

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FIGURA 9.5-9 - Transporte Escolar após o fim do período de aula
na Escola Municipal Luiz Rabelo, na localidade
de Ressaca

Na Ilha da Fazenda funciona outra escola, voltada para as crianças do ensino infantil e
fundamental até a 4ª série, que atende 76 alunos e, à noite, funciona para o Ensino de Jovens e
Adultos, atendendo 10 alunos. Esta escola é mantida pela Prefeitura de Senador José Porfírio,
que é responsável pelo pagamento dos professores, fornecimento da merenda escolar e
transporte dos alunos. A igreja evangélica colabora através do fornecimento de um m otor de
luz (FIGURA 9.5-10).

FIGURA 9.5-10 - Escola de Ensino Fundamental e Infantil na Ilha da Fazenda.


(Fotografia: Morgana Almeida)

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Para o atendimento básico à saúde existem dois postos de saúde, na Ressaca e na Ilha da
Fazenda. Um enfermeiro, morador na Ilha da Fazenda e funcionário da Prefeitura de Senador
José Porfírio, trabalha nessas duas unidades, cumprindo meio período do dia de trabalho em
cada um dos dois equipamentos. Uma outra funcionária da Prefeitura, que fica na Ilha da
Fazenda, é encarregada dos exames para detecção da malária. A presença de médicos é
eventual e, em caso de procedimentos de maior complexidade e consultas, os serviços de
saúde existentes em Altamira são procurados.

O abastecimento de água na Ressaca e no Garimpo do Galo é feito através de poços rasos


existentes em áreas de encosta, localizados, respectivamente, a cerca de 200 m e 700 m dos
povoados, com a água sendo levada até as casas e estabelecimentos comerciais através de
vários tubos de PVC. O esgotamento sanitário é feito por fossas (FIGURA 9.5-11).

FIGURA 9.5-11 - Poço para a bastecimento de água na Ressaca, vendo-se em primeiro plano
os tubos que conduzem a água até as moradias

Na Ilha da Fazenda, o abastecimento de água é feito por 6 poços rasos localizados próximos à
margem do rio Xingu. Uma pequena rede de abastecimento atende o Posto de Saúde, a casa
que serve de alojamento para os professores que lecionam na Ressaca e algumas residências.
A água é bombeada de um dos poços, através de um motor acionado por gerador, para uma
caixa de água elevada e distribuída por tubos de PVC. Segundo os moradores, mesmo nos
períodos de maior seca os poços, quase sempre, se mantêm com água. É grande a
possibilidade de esses poços estarem contaminados pela proximidade das fossas das casas e
por suas características construtivas (FIGURA 9.5-12).

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FIGURA 9.5-12 - Poço para abastecimento de água na Ilha da Fazenda

Na margem direita, além dos povoados citados, observa-se extenso trecho, entre o barramento
até próximo ao Garimpo do Galo, que tem sua ocupação baseada nos assentamentos do
INCRA - Projeto de Assentamento (PA) Morro das Araras e PA Ressaca, ocupações mais
antigas e consolidadas; seguindo-se um trecho que faz parte de uma gleba do Instituto de
Terras do Pará – ITERPA, denominado Gleba Bacajaí. Este assentamento é mais recente, com
cerca de oito anos de existência. Os produtores possuem uma associação e reivindicam a
regularização das posses junto ao Governo do Estado. A principal atividade desenvolvida é o
cultivo do cacau e a criação de gado. Essta área faz limite com a TI Arara da Volta Grande.

Além dos povoados, em que as principais atividades são o garimpo e o comércio (Ressaca e
Garimpo do Galo) e a pesca ornamental (Ilha da Fazenda), a população ribeirinha deste setor
pratica a pesca comercial ou para a alimentação e a agropecuária tradicionalmente verificada
na região, como o plantio de culturas temporárias: mandioca, feijão, arroz, milho; culturas
permanentes: cacau, café e a pecuária. Em parte desses imóveis observa-se uma presença mais
intensa da atividade agropecuária comercial, sobretudo a criação do gado e o cultivo do cacau
(FIGURA 9.5-13).

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FIGURA 9.5-13 – Imóvel rural na margem direita do rio Xingu, com grande área
transformada em pastagem, no setor Ilha da Fazenda/Ressaca do TVR

A Ressaca pode se configurar como um local com potencial para tornar-se, com a construção
do empreendimento, atrativo de população devido à proximidade com o Sitio Pimental, onde
será construído o barramento. Distando apenas 16 km, cerca de 30 a 40 minutos de barco, de
onde será instalado o canteiro de obras do Sítio Pimental e um grande alojamento, os bares,
armazéns e vendas do vilarejo poderão atrair usuários dentre os trabalhadores que serão
instalados no local.

Em todo o setor destaca-se o intensivo uso do transporte fluvial, responsável pela interação
entre os moradores localmente, bem como na conexão destes com Altamira, pólo de
referência para abastecimento, comércio, serviços e escoamento da produção. Embora exista
estrada que permita o acesso terrestre entre Altamira e a região da Ressaca, há uma
preferência dos moradores pelo transporte fluvial, por considerarem a viagem muito
desconfortável e demorada, devido às péssimas condições da estrada.

Em termos locais, é pelo rio, através de transporte fluvial: que os alunos chegam até as
escolas; se torna viável o atendimento nos postos de saúde e o abastecimento de produtos nos
armazéns da Ressaca para a população ribeirinha; são mantidas as relações de vizinhança e
parentesco; o lazer nas praias é possível; e a pesca comercial ou para a alimentação é
estruturada, baseada em locais de pesca mapeados pelos moradores ao longo de muitas
décadas e conforme cada período do ano.

Para Altamira, a navegação permite que a população busque pelos serviços de maior
complexidade (atendimento à saúde, serviços bancários, instituições públicas diversas), o
abastecimento de produtos seja realizado, além de ser o caminho de escoamento da produção
que será comercializada: pescado, produtos agrícolas e extrativistas: cacau, farinha, castanha,
dentre outros.

Para a Ressaca e outras localidades (Igarapé Ituna, por exemplo), principalmente nos períodos
de cheia, são mantidas linhas de barco para deslocamento de pessoas e transporte de carga.

Os ambientes existentes no Setor da Ilha da Fazenda/Ressaca são muito semelhantes ao do


setor São Pedro. Este setor também é composto por ilhas cobertas por Floresta Ombrófila
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Densa Aluvial. As características das formações aluviais no Setor Ilha da Fazenda/Ressaca
são as mesmas já descritas para o Setor São Pedro, no entanto, observa-se que as ilhas são
mais alongadas e se localizam preferencialmente na margem direita do rio Xingu.

Em linhas gerais, as formações florestais aluviais deste Setor e também do Setor de São Pedro
ainda encontram-se bem preservadas e, conforme mencionado anteriormente, não foi
observada diferenças na composição florística entre as localidades amostradas de floresta
ombrófila densa aluvial.

Neste trecho foram observadas e monitoradas as atividades reprodutivas tanto de tartaruga-da-


amazônia (Podocnemis expansa) quanto de tracajá (Podocnemis unifilis) (FIGURA 9.5-14)
no âmbito dos levantamentos do EIA entre os meses de setembro e dezembro de 2007
(FIGURA 9.5-15 e FIGURA 9.5-16, respectivamente).

FIGURA 9.5-14 – Local de desova de Podocnemis unifilis (tracajá). (Foto: Juarez Pezutti)

6365-EIA-G91-001b 203 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-15 - Distribuição espacial e número de ninhos de Podocnemis expansa
monitorados (Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e
Crocodilianos).

FIGURA 9.5-16 - Distribuição espacial e número de ninhos de Podocnemis unifilis


monitorados (Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e
Crocodilianos).

6365-EIA-G91-001b 204 Leme Engenharia Ltda.


Com relação ao uso dos recursos da fauna existentes na região do Setor Ilha da
Fazenda/Ressaca, foram identificadas como principais áreas de caça e pesca dos moradores da
ilha da Fazenda, o rio Bacajá e o igarapé do Itatá.

A anta (Tapirus terrestres), o tatu (Dasypus spp), a paca (Agouti paca), o porcão (Tayassy
pecary), o caititu (Tayassy caititu) e o jabuti (Chelonoides sp) foram os principais animais
caçados citados pelos comunitários da região. A anta, apesar de ser considerada uma espécies
terrestre geralmente ocorre em áreas associadas a rios e florestas úmidas.

A FIGURA 9.5-17 apresenta os principais locais apontados por ribeirinhos e moradores do


setor Ilha da Fazenda/Ressaca como locais de caça de animais terrestres, pesca ou “apanha”
de quelônios.

FIGURA 9.5-17 - Principais ambientes de caça e pesca no TVR. Legenda: 01- área do
barramento; 02- Rio Bacajá; 03 - Rio Bacajaí; 04-Igarapé do Itatá; 05-
Igarapé do Ituna; 06-Comunidade da Ilha da Fazenda; 07-Comunidade da
Ressaca; 08-Região do Caituca; 09-Área do Porfírio; 10-Área de Pasto
(Entre a comunidade do Galo e Verena); 11-Área de extração de Açaí,
(Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e Crocodilianos)

6365-EIA-G91-001b 205 Leme Engenharia Ltda.


A região do Caitucá, localizada no Setor Paquiçamba foi identificada como área de grande
interesse para coleta de tracajá e também de peixes ornamentais, especificamente dos acaris.
Os moradores locais conhecem com detalhes as áreas preferenciais e de ocorrência de
quelônios e jacarés. Normalmente, tais áreas preferenciais constituem os “boiadouros”, os
quais são relativamente profundos (cerca de 6 m), com fundo constituído de folhiço,
utilizados como esconderijo pelos os tracajás.

A FIGURA 9.5-18 apresenta os “boiadouros” citados pelos ribeirinhos como áreas


preferenciais de coleta e ocorrência de quelônios aquáticos. Os locais destacados
apresentaram pelo menos um grande boiadouro, a saber: do Bananal, do Furo do Meio; do
Itatá; do Zé Guilherme; do João Machado. Estes locais abrangem os seguintes setores da
Volta Grande: São Pedro, Ilha da Fazenda/Ressaca e Jusante do Bacajá.

FIGURA 9.5-18 - Locais de pesca de quelônios utilizados pelos comunitários da ilha da


Fazenda. Legenda: 01 - Ilha da Fazenda; 02- Região do furo do bananal;
03-Boiadouro do Bananal; 04-Furo do Meio; 05-Boiadouro do Furo do
Meio; 06-Furo do Mendes; 07-Praia Grande; 08- Ilha da Praia Grande; 09-
Boiadouro do Itatá; 10-Boiadouro do Zé Guilherme; 11-Boiadouro do João
Machado; 12- Região do Arroz Cru; 13-Ilha do Pimental; 14-Região do
Itaboca; 15-Ilha do Papagaio; 16-Rio Bacajá; 17-Ilha do Limão; 18-Ilha da
Bela Vista; 19- Região de terra firme; 20- Igarapé do Itatá; 21-Igarapé do
Ituna, (Fonte: Relatório Final: componente Quelônios e Crocodilianos)

6365-EIA-G91-001b 206 Leme Engenharia Ltda.


As ilhas do Pimental, Limão e Bela Vista foram indicadas como áreas com grande quantidade
de caça. Na ilha do Pimental foi relatada a presença de lagos onde é possível encontrar
tracajás, jacarés e puraquê (Electrophorus electricus). Segundo os ribeirinhos, desovas de
tracajá são encontradas com facilidade na ilha do Papagaio e nas margens do rio Bacajá. Para
esta última região também foi identificada a ocorrência dos quelônios perema (Rhinoclemys
punctularia), cabeça-torta (Mesoclemys gibba) e jabuti (Chelonoidis carbonaria e C.
denticulata) - (FIGURA 9.5-19).

Enquanto que, a região das margens, constituída de matas de terra firme, situada na margem
direita do rio Xingu, compreendida entre a comunidade da Ressaca e a entrada do igarapé
Bacajaí, foi indicada como local importante para a captura de jabutis.

Com relação aos jacarés, além da ilha do Pimental, os jacarés também são caçados em
igarapés da região, como Itatá e Ituna, locais preferenciais do jacaré-coroa (Paleosuchus
trigonatus).

FIGURA 9.5-19 - Ninhos de tracajá, cujos ovos foram coletados por moradores da região.
(Foto: Juarez Pezutti)

A enchente é o período em que os quelônios aquáticos, e certamente inúmeros outros animais,


entram na floresta alagada para se alimentarem. Os ambientes de pedrais também são
alagados e utilizados pelos quelônios neste mesmo período. Segundo as observações de
campo e informações de moradores locais, os animais permanecem nestes ambientes por
cerca de três meses, quando então começam a sair para o rio, à procura de áreas mais
profundas. O QUADRO 9.5-7 apresenta as movimentações dos quelônios, com a utilização
de ambientes em vazões distintas na região da Volta Grande do rio Xingu.

6365-EIA-G91-001b 207 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.5-7
Utilização de ambientes sazonalmente alagados por quelônios aquáticos na região da Volta
Grande do Xingu, de acordo com a percepção de pescadores (cores mais escuras indicam os
meses mais mencionados para cada fenômeno).

Mês jan fev Mar abr mai jun jul Ago set out nov dez
alagamento
da floresta X X X X X
alagamento
dos sarobais
(pedrais) X X X X X
Entrada na
várzea X X X X X
saída do
varzea X X X X X
emersão da
várzea X X X X X
Emersão dos
sarobais X X X X
Vazão m3/s
(média 1931-
2008) 7719.6 12736.5 18138.6 19985.5 15591.2 7064.7 2877.2 1562.7 1066.4 1115.1 1870.0 3735.1
Vazão m3/s
(mínimo) 1123.2 3946.6 9560.5 9817.1 6587.3 2872.1 1416.6 908.2 477.1 444.1 605.1 1167.2
Vazão m3/s
(máximo) 17901,7 24831.0 30129.4 29258.0 27370.0 13396.4 4710.2 2353.2 1557.0 2140.0 4036.3 9752.0

De acordo com observações de campo e com os estudos etnobiológicos desenvolvidos no


âmbito do EIA, a dieta do tracajá é composta por: pitaica, ipe, uruá (molusco gastrópode),
areia, lama, sapateiro, aninga e abiurana. Já a tartaruga-da-amazônia se alimenta de pitaica,
ipe, uruá, pracuuba, areia, lama, sapateiro, aninga, abiurana, capurana e munumã. Espécies
vegetais presentes tanto na floresta de várzea e formações pioneiras, quanto nas áreas de
vegetação campestre sazonalmente inundável. A disponibilidade destes itens alimentares varia
conforme o regime hidrológico do rio.

A maior parte dos itens alimentares encontra-se disponível no período de enchente e cheia.
Ainda segundo informações de observações empíricas dos ribeirinhos, durante a seca os
animais se alimentam basicamente de uruá, lama e areia .

9.5.3.3 Setor Paquiçamba

Segundo informações obtidas nos levantamento de campo junto aos barqueiros, durante o
período de seca os índios Jurunas da TI Paquiçamba chegam a avançar rio abaixo até
encontrarem ponto de retorno que os permita subir o rio através do canal principal (na
margem direita). Estas informações sobre as alterações de traçado, bem como sobre o
acréscimo de tempo para o percurso, deverão ser checadas no âmbito dos estudos
etnoecológicos, ainda em desenvolvimento.

Este setor do TVR possui como característica socioeconômica de diferenciação a presença de


duas Terras Indígenas demarcadas, e as informações sobre suas populações foram baseadas
nos estudos antropológicos já citados, anteriormente (RELATÓRIO CIRCUNSTANCIADO
DE IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO DA T.I. ARARA DA VOLTA GRANDE DO
XINGU).

6365-EIA-G91-001b 208 Leme Engenharia Ltda.


A Terra Indígena dos Jurunas, denominada TI Paquiçamba, que está situada à margem
esquerda do rio Xingu, entre o Igarapé Mangueira e Paraíso, com uma área de 4.384 ha e dois
núcleos populacionais. A população estimada é de 80 pessoas. O acesso à área a partir de
Altamira é feito por navegação, a uma distância de aproximadamente 55 km.

A outra terra indígena é onde vivem os Araras, localizada na Volta Grande do rio Xingu entre
os igarapés Bacajá e Bacajaí, no município de Senador José Porfírio. Estão nessa localidade
desde o final do século XIX e início do XX, quando se deslocaram do médio Bacajá para a
região do baixo Xingu. A TI Arara possui cerca de 25000 ha e dois núcleos habitados por
cerca de 80 pessoas.

As populações indígenas estruturam suas vidas baseadas nas atividades de pesca, caça,
extrativismo vegetal e a agricultura, tendo os rios Xingu e Bacajá como únicos meios de
transporte para acesso às aldeias. Existem laços de parentesco entre moradores das duas
comunidades e membros dos Araras e dos Jurunas vivendo fora dos limites das duas TI, na
própria região ou em Altamira.

Os importantes vínculos das populações ribeirinhas com o rio Xingu, já verificado nos
setores anteriormente descritos, é particularmente forte para este setor, com o uso do rio
estanto integrado ao modo de vida praticado pelas populações das duas Terras Indígenas.

São duas as principais fontes de renda para as duas TI: o extrativismo da castanha-do-pará,
colhida em castanhais dispersos nas áreas das Terras Indígenas e comercializada para
compradores que recolhem o produto na região ou vendido em Altamira. A pesca também é
importante para a renda das duas comunidades que vendem parte do que produzem. É relatado
também a pesca ornamental como fonte de renda.

A TI Paquiçamba é limitada em toda a sua extensão por lotes de assentamentos do INCRA,


inplantados na década de 70. A TI Arara da Volta Grande é confrontante com área sob
jurisdição do ITERPA, onde assentados e posseiros se organizaram em uma associação
(APRIBAI - Associação dos Produtores Rurais de Ituna, Bacajá e Bacajaí) como já indicado,
que reivindica junto ao órgão do governo do Estado do Pará a oficialização do assentamento,
situação que tem gerado pressões sobre o território da Terra Indígena e conflitos.

Este setor apresenta tanto vegetação aluvial classificada como Florestal Ombrófila Densa
Aluvial, quanto vegetação de pedrais, denominada como Formação Pioneira com Influência
Fluvial ou Lacustre.

Apesar das Formações Pioneiras estarem também presentes nos Setores anteriormente
mencionados, é no Setor Paquiçamba e principalmente no Setor Jusante do rio Bacajá que esta
tipologia florestal domina a paisagem.

Essas Formações Pioneiras crescem sobre rochas graníticas afloradas no leito do rio Xingu e
pertencem ao complexo geológico do Xingu, ocorrendo desde a confluência do rio Iriri com o
Xingu, até a vila de Belo Monte, sendo denominadas localmente de pedrais ou pedregais.
Nestes ambientes de pedrais os principais fatores para a manutenção da biodiversidade são os
processos físicos e biológicos, entre os quais o ciclo hidrológico é um dos fatores
fundamentais (PAROLIN, 2001).

6365-EIA-G91-001b 209 Leme Engenharia Ltda.


É considerada vegetação especializada, em virtude das condições limitantes para o
desenvolvimento das plantas, pois vegetam nas fraturas e falhas das rochas, onde se
acumulam sedimentos arenosos, estando sujeitas à correnteza dos rios.

Durante o período das cheias, quando o nível do rio Xingu aumenta, algumas plantas ficam
parcial ou totalmente submersas. Durante a época seca, quando a vazão do rio Xingu diminui
consideravelmente, as falhas e fraturas dos afloramentos formam uma rede de canais que
controla a drenagem, por onde a água flui. Nesse caso as plantas sofrem e resistem a novo
estresse, desta vez causada pela força hidro-mecânica do fluxo da corrente que atuam nas
raízes e na parte inferior do caule. Provavelmente as plantas possuem mecanismos adaptativos
que permitem uma fixação eficiente das raízes entre as falhas geológicas (FERREIRA;
STOHLGREN, 1999).

Nesse setor o nível de suas águas, entre as estações de seca e enchente, pode atingir até 12
metros, com períodos de inundação variando de 50 a 270 dias por ano (JUNK, 1989). Isto
resulta em uma sincronização da maioria dos processos ecológicos de plantas, animais e das
populações humanas, tais como reprodução das plantas, migração de animais e atividades de
pesca, entre outros.

Os levantamentos da flora amostraram 77 espécies que ocorrem nas Formações Pioneiras,


destacando 10 espécies pela alta abundância relativa obtida. A maior diversidade de espécies
foi obtida no trecho de vazão reduzida, quando comparada com a região de confluência entre
o rio Iriri e Xingu. Não foi observada diferença marcante na composição das espécies entre as
áreas, ou seja, as espécies se distribuem desde o rio Iriri até a região de Belo Monte, onde os
as formações pioneiras (pedrais) desaparecem.

As espécies mais abundantes na região dos trechos dos pedrais da Volta Grande e portanto,
muito concentradas nesse setor são: camu-camu (Myrciaria floribunda), (Swartzia
leptopetala), (Vitex cf. duckei), oiti (Couepia cataractae) e (Eugenia patens).

Nas corredeiras observa-se um grupo bastante distinto de plantas, denominadas de


Podostemaceas. Este grupo de espécies é associado às corredeiras existentes no rio Xingu,
sendo que as duas espécies mais freqüentemente identificadas na região foram Mourera
alcicornis (Tul. Royen) e Mourera fluviatilis Aublet (Podostemaceae). Destaca-se que
Mourera fluviatilis foi incluída na lista de espécies da flora ameaçada de extinção
recentemente publicada pelo IBAMA (Portaria nº 6 de 23 de setembro de 2008) (FIGURA
9.5-20).

6365-EIA-G91-001b 210 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-20 – Cachoeiras do rio Xingu, habitats exclusivos das espécies da família
Podostemaceae, com destaque ao fundo de representantes das
Formações Pioneiras (Foto: Leandro Ferreira – MPEG).

As podostemaceas são ervas aquáticas que vivem fixas às rochas nas cachoeiras e corredeiras.
Apresentam alta plasticidade fenotípica, com aparelhos vegetativos heterogêneos, algumas
espécies com aspecto de musgos, algas ou liquens, outras com estruturas semelhantes a
verdadeiros caules e folhas.

A dinâmica de desenvolvimento dessas espécies, tanto reprodutivo como vegetativo, está


intimamente relacionada com a flutuação sazonal dos níveis das águas, cujo ciclo reprodutivo
está associado à flutuação cíclica do nível do rio Xingu. Florescem quando as pedras que
compõem as cachoeiras e corredeiras onde se fixam começam a ser expostas durante a estação
de vazante dos rios (FIGURA 9.5-21).

6365-EIA-G91-001b 211 Leme Engenharia Ltda.


Durante a estação chuvosa, as plantas crescem vegetativamente; com a descida do nível das
águas, expõem suas flores, que são visitadas por insetos e conseqüentemente polinizadas.
Com a diminuição contínua no nível das águas, as plantas ficam expostas e secam.

FIGURA 9.5-21 - Ciclo de vida de Mourera fluviatilis Aublet em rochas das corredeiras do
rio Xingu. O ciclo vegetativo começa na vazante do rio expões as rochas
(A e B); a floração ocorre posteriormente (C) e a frutificação quando o
nível do rio encontra-se baixo e as rochas já expostas (D). (Foto: Leandro
Ferreira – MPEG).

Embora os estudos para essa família sejam limitados, sua importância ecológica é
incontestável, em função da diversidade de interações que apresentam com a fauna, a exemplo
da macroinvertebrados bentônicos, insetos polinizadores, espécies de peixes que nelas
encontram a base de sua alimentação e diversos organismos que se alimentam das próprias
plantas e de sua fauna associada, como por exemplo, maçaricos e outras aves aquáticas e
semi-aquáticas.

Os dados disponíveis até o momento sobre a família Podostemaceae apontam para um alto
grau de endemismo das espécies, e uma forte especificidade quanto ao hábitat em que
ocorrem. As espécies apresentam adaptações genéticas que as tornam altamente
especializadas em ambientes fluviais de leito rochoso banhado por águas bem oxigenadas.

6365-EIA-G91-001b 212 Leme Engenharia Ltda.


9.5.3.4 Setor Jusante do rio Bacajá

Na margem esquerda do rio Xingu, ao longo da Volta Grande, município de Vitória do Xingu,
o território foi dividido, na década de 70, em lotes do INCRA. Descendo o rio, após a TI
Paquiçamba, e considerando a delimitação dos lotes do assentamento previstos na planta do
INCRA, pode-se estimar a existência de cerca de 50 imóveis rurais margeando o rio, até a
localidade de Belo Monte. Se for adotada para esses imóveis a mesma média de moradores
verificada para esta margem do rio na pesquisa censitária, realizada na área a ser
territorialmente afetada pelo reservatório dos canais e diques - 3 pessoas por imóvel -, a
população estimada em cerca 150 moradores.

O perfil desses imóveis se assemelha aos encontrados ao longo dos demais setores do TVR,
com o predomínio da pequena produção agrícola, criação de gado e atividades ligadas a
pesca.

Na margem direita, a partir do rio Bacajá, em áreas pertencentes ao município de Anapu, as


terras são de domínio da União, sob administração do INCRA, e fazem parte da Gleba Bacajá.
Este trecho apresenta uma ocupação humana reduzida na margem do rio, com o predomínio
de áreas florestadas. No entanto, mais recentemente estão em processo de implantação
assentamentos do INCRA nas proximidades, a partir de travessões originários na rodovia
Transamazônica. Todo um enorme setor censitário do IBGE que engloba esta área, possuía
em 2000 pouco mais de 100 habitantes, em 2007, a Contagem de População detectou a
presença de mais de 1.000 pessoas.

Nesta parte do TVR a navegação é bastante restrita em quase toda a sua extensão, em função
das características do rio Xingu, com várias cachoeiras e pedrais.

Destaca-se, ainda, que esta área é enquadrada por resolução do Conselho Estadual do Meio
Ambiente do Estado do Pará – COEMA, de 2005, como “Sítio Pesqueiro Turístico Estadual
Volta Grande do Xingu”, espaço territorial de domínio público, especialmente protegido, para
promover o manejo sustentável e o desenvolvimento de atividade de lazer, cultura e turismo
ecológico. Esta categoria de divisão territorial é amparada nos artigos 73, 75 e 76 da lei
estadual 5.887, de 09.05.95 e conforme determina a lei estadual Nº 6.167, de 07.12.98, o
decreto estadual Nº 3.551/99 e o decreto estadual Nº 3.553/99. O sítio foi decretado pelo
governo do Estado, de acordo com a resolução do COEMA, usando-se como documentos
técnicos os estudos de prospecção realizados por técnicos da Secretaria de Meio Ambiente do
Estado do Pará.

O sítio possui teoricamente espaço para três empreendimentos, mas apenas um atua no
momento. Deve-se ressaltar que o sítio ainda não possui um plano de manejo, apesar de ter
sido decretado há quase três anos. Para sua implantação não foi realizado um estudo de
impacto e nem foram registradas as atividades ou pessoas que podem ser afetadas
negativamente pela criação desta reserva. A resolução do COEMA, que tem inviabilizado o
acesso aos recursos pesqueiros da área delimitada à ribeirinhos e indígenas, tem gerado
situações de conflito, inclusive determinando uma ação do Ministério Público Federal
solicitando a seu cancelamento, por se entender que a proibição da entrada de pescadores na
área delimitada no rio, violava os direitos básicos da comunidade ribeirinha local e de
indígenas, que tradicionalmente habitam a região e utilizam o rio como meio de subsistência.

6365-EIA-G91-001b 213 Leme Engenharia Ltda.


O empreendimento possui uma capacidade de receber 20 pessoas em apartamentos duplos e é
visitada quase exclusivamente por turistas de outros estados (principalmente SP e MG) e do
exterior (principalmente, USA). Recebe aproximadamente 200 hóspedes por ano
principalmente durante a estação mais seca. A captura de peixes como tucunaré, cachorra,
pescada, surubim e outros é realizada pelos turistas, no sistema de pesca e solte.

Sob o ponto de vista da ictiofauna esta região representa o início da parte alta do rio, após as
primeiras corredeiras. Durante as enchentes observam-se vários grupos de peixes subindo as
corredeiras e se deslocando rio acima. A abundância e a densidade de peixes neste setor é
notável e o estado de conservação das ilhas fluviais e pedrais é considerado bom, quando
comparado com outros trechos do rio, devido a pouca densidade populacional. As grandes
cachoeiras representam ambientes propícios para a pesca de pacus e tucunarés.

Este Setor contém a maior área de pedrais da região da Volta Grande com 53,6% da área com
essas formações, enquanto que, as ilhas aluviais são insignificantes.

A vegetação dominante é classificada como Formações Pioneiras com Influência Lacustre ou


Fluvial Arbustiva e Arbórea. Todas as características descritas anteriormente para esta
formação presente no Setor Paquiçamba também se aplicam no Setor Jusante Bacajá,
inclusive o uso destes hábitats pela fauna aquática.

Nesse setor observa-se grande deplecionamento nas áreas dos pedrais, em especial no terço
inferior na região da cachoeira Grande. Presença de diversos tributários, cerca de 10 igarapés
e o rio Lau-Labu.

No entanto, os levantamentos de quelônios concentraram-se nos trechos mais próximos a foz


do rio Bacajá em função da dificuldade de acesso em alguns períodos do ano.

9.5.4 Caracterização Biótica Integrada para o TVR (Aspectos Ecológicos


Associados à Dinâmica Hídrica Sazonal)

Apesar da pouca contribuição de igarapés ao longo de todo o TVR, há que se destacar que
uma rede de pequenos igarapés drena a região do TVR com importante função ecológica.
Nestes pequenos cursos de água aloja-se uma fauna distinta daquela encontrada no curso
maior do rio Xingu. As matas de galerias dessas drenagens fornecem abrigo e alimento à
fauna íctica e garantem a integridade dos cursos d’água. Apesar da degradação que já existe
hoje pelo uso intensivo do solo, o papel ecológico dos igarapés é ainda importante,
funcionando como corredor hídrico de deslocamentos dessa fauna específica.

O TVR apresenta singularidades que se refletem na variedade de ambientes disponíveis, como


as ilhas com floresta aluvial ombrófila e o rio propriamente dito. Na calha do rio Xingu
também se forma diferentes ambientes pela enormidade de canais anastomosados (FIGURA
9.5-22), presença de inúmeros blocos rochosos e corredeiras que durante a enchente permitem
os deslocamentos da ictiofauna, funcionando como ambiente fundamental para a migração
sazonal de peixes caraciformes. A presença de rochas ou pedrais na calha do rio Xingu cria
locais de refúgios para a fauna aquática, principalmente loricarideos e pequenos caraciformes
(FIGURA 9.5-23), e onde na estiagem proliferam podostemáceas (FIGURA 9.5-24),
arbustos nas partes emersas, bem como invertebrados e periliton (FIGURA 9.5-24) nas partes
submersas, que servem de alimento para os peixes.

6365-EIA-G91-001b 214 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-22 - Vista do rio Xingu na frente do CNEC, na Volta Grande, exemplificando
os ambientes disponívies, tais como ilhas, corredeiras, canais
anastomosados e floresta aluvial. Fotografia: Tommaso Giarrizzo

FIGURA 9.5-23 - Pacu (Myleus sp) e aracus (Leporinus spp) dentre os blocos rochosos do rio
Xingu, na Volta Grande (Fotografias: Victoria Isaac e Tommaso Giarrizzo)

FIGURA 9.5-24- Podostomáceas (direita) expostas em corredeiras da VG, periliton (meio) e


esponjas (direita) submersos, que proliferam nos blocos rochosos dos pedrais
do rio Xingu. Fotografias: Tommaso Giarrizzo,

6365-EIA-G91-001b 215 Leme Engenharia Ltda.


Estas características ambientais favorecem o aumento de nichos ecológicos e a diversificação
das espécies, bem como as taxas de endemismos. Do total de espécies para a ictiofauna
registradas para a bacia, 372 ocorrem no TVR sendo que dessas, 19 espécies são endêmicas.
Dentre as endêmicas, existem 3 espécies que não foram registradas em nenhum outro trecho
da bacia do rio Xingu: Magdontognathus kaitukensis, Teleocichla centisquama e
Leporacanthicus heterodon, além de espécies que ocorrem em trechos que também irão sofrer
grande impacto como é o caso do Hypancistrus zebra (
FIGURA 9.5-25), que ocorre desde pouco acima de Altamira até Belo Monte.

FIGURA 9.5-25 - Exemplar de Hypancistrus zebra capturado por um pescador ornamental


no trecho pouco acima das grandes cachoeiras de Belo Monte. Fotografia
Tommaso Giarrizzo.

9.5.4.1 Considerações Gerais

Uma das principais características do rio Xingu que interfere diretamente nos ecossistemas é a
sua grande variabilidade de habitats e ambientes. No rio Xingu, o ciclo hidrológico é
relativamente previsível e implica na ocorrência de grandes flutuações de nível da água, com
amplitude média anual de cerca de 8 m.

À medida que as chuvas começam, ocorre a elevação da cota do rio. Entre dezembro e março
ocorrem rápidas mudanças do nível das águas, tendo início a inundação, primeiro nas partes
mais baixas das margens e ilhas e depois entrando definitivamente nas regiões mais altas das
florestas, formando igapós, ou lagoas marginais.

O ciclo hidrológico do rio com os seus pulsos, determinados pela sucessão de períodos secos
e chuvosos, possui uma influência definitiva na estruturação da fauna íctica e no
desenvolvimento das suas estratégias de vida. O ingresso da água nas áreas laterais dos corpos
aquáticos implica no enriquecimento dos solos e no aumento considerável da área, de nichos e
de alimentos disponíveis para os peixes. Com o retorno das águas, ocorre a lavagem da
matéria orgânica em decomposição, o que contribui positivamente para aumentar a
concentração de nutrientes nas águas do rio.

A dinâmica sazonal das inundações é um dos principais fatores para a regulação da


intensidade e época da reprodução, recrutamento e produtividade dos peixes.

6365-EIA-G91-001b 216 Leme Engenharia Ltda.


Segundo os dados levantados para a ictiofauna, desde o ano 2000, durante o período de
estiagem não foram observados peixes subindo os rios e nem indivíduos com gônadas
maduras, o que indica que a época seca não representa um período preferencial de reprodução
para a ictiofauna.

Quando as áreas mais baixas das ilhas começam lentamente a ser inundadas, sem ainda ter
ocorrido o transbordamento total do rio, praticamente todas as espécies realizam
deslocamentos laterais, passando do canal principal do rio para os igapós, através dos
chamados “sangradouros”.
Desta forma, percebe-se que as áreas de inundação suportam a produção biológica do
ecossistema e são responsáveis, diretamente, pela produtividade pesqueira, garantindo os
rendimentos da pesca pela manutenção da fauna íctica.

9.5.4.2 Alimentação

A maioria dos peixes frugívoros das águas do rio Xingu pertence à ordem dos Characiformes
e a algumas famílias da ordem Siluriformes. A título de análise foram selecionadas, nos
estudos de ictiofauna realizados para este EIA, no âmbito do compartimento ambiental do
TVR, 8 espécies de peixes que utilizam recursos da floresta inundada, as quais foram
agrupadas em função do tipo de fruto por elas consumido. Assim há 3 grupos de espécies: 1)
aquelas mais seletivas que utilizam entre 3 e 4 espécies de frutos diferentes, como é o caso
das sardinhas; 2) espécies com uma dieta muito diversificada, com utilização de
aproximadamente 20 tipos diferentes de frutos (ex.: pacus), e 3) espécies intermediárias, como
alguns aracus, que utilizam aproximadamente 10 tipos diferentes de fruto.

Para a grande maioria das espécies, o período de frutificação ocorre simultaneamente durante
as enchentes do rio, coincidindo com a entrada dos indivíduos na planície de inundação, onde
terão acesso facilitado aos frutos produzidos.

A pobreza em produção primária total das águas do rio é substituída, no período de chuva, por
uma grande produção de frutos e sementes e pelo aporte de material alóctone que fertilizam
todo o sistema.

O modelo trófico estimado para fauna aquática com foco na ictiofauna demonstrou, mediante
a análise dos fluxos entre os ambientes existentes ao longo do rio Xingu, que a maior fonte de
energia para a teia alimentar tem origem na vegetação aluvial, que representa também 83% da
biomassa total. Isto significa que os produtores primários do ecossistema aquático não se
encontram na água, mas sim na vegetação que está no ambiente terrestre. Desta forma, a
produção deste componente fica disponível para a fauna aquática durante o período de
inundação. Outros produtores primários de relevância para o sistema são as podostemáceas
(15%) e o perilíton (0,03%). Já o fitoplâncton não pode ser considerado de relevância, pela
pouca representatividade de sua produção, com números bem mais baixos que os outros
produtores.

Todos os consumidores se alimentam de vários grupos tróficos, às vezes até de diferentes


níveis. No modelo foi também considerada a predação do homem sobre os recursos
pesqueiros, principalmente a captura dos peixes predadores de médio e grande porte, a qual se
estimou em 0,56g.m-2.ano-1.

6365-EIA-G91-001b 217 Leme Engenharia Ltda.


9.5.4.3 Reprodução

De acordo com os estudos de diagnóstico ambiental para a ictiofauna, peixes em estágios


maduros (pré-desova e após a desova) ocorreram quase que somente durante a enchente.
Considerando que estas freqüências referem-se a toda a fauna, parece evidente que a enchente
é uma época crucial para o fechamento do ciclo reprodutivo da maioria das espécies.

Os dados indicam que um grande número de espécies realiza deslocamentos entre dezembro e
fevereiro, subindo o rio na busca de canais ou entradas de água para desovar nas áreas de
inundação. Os jovens nascidos nesta época são observados pelos pescadores durante o inverno
dentro dos lagos, nas matas alagadas ou nas beiras dos remansos.

Correlações entre a proporção de exemplares “maduros” e o nível do rio Xingu foram


testadas, sendo determinada uma associação positiva e significante entre o aumento do nível
do rio Xingu (enchente ~ cheia) com a proporção de exemplares “maduros” em espécies, tais
como: Agoniates anchovia, Argonectes robertsi, Bivibranchia fowleri,Leporinus sp "verde",
pacu-branco (Myleus torquatus), Roeboides dayi,piranha (Serrasalmus rhombeus) e pocomon
(Tocantinsia depressa), confirmando a sua estratégia sazonal. Já para as espécies de cará
(Geophagus aff altifrons) e flexeira (Hemiodus vorderwinkleri), a correlação foi negativa,
indicando uma preferência para a desova na época menos chuvosa.

Praticamente todos os peixes realizam movimentos dentro do sistema de canais e zona de


inundação. Contudo, a “piracema” ou “arribação” é um movimento regular de migração
longitudinal e lateral, diretamente relacionado à desova ou à dispersão de algumas espécies de
peixes, na área inundável, com época mais ou menos precisa, no início da cheia anual. No rio
Xingu, o que parece mais evidente é a migração lateral dos indivíduos que entram nos canais
de transbordamento do rio, durante a enchente. Este comportamento é encontrado nesse corpo
hídrico para muitas espécies, como, por exemplo, aquelas pertencentes aos gêneros Curimata,
Prochilodus, Leporinus, Myleus, dentre outras.

Foi observada uma maior freqüência (65%) de locais de piracema e desova em ambientes
relativamente preservados, com pouca pressão antrópica e com vegetação predominantemente
arbórea. Isto poderia explicar a preferência dos peixes pelas ilhas, em relação às margens do
rio. As ilhas fluviais apresentam ambientes mais preservados, devido ao seu isolamento das
vias de transporte terrestre e por não apresentarem, em geral, uso agropecuário intenso do
solo. Nas margens do rio, a quantidade de locais preservados e com vegetação arbórea é
menor e os peixes que aí chegam acabam utilizando outros ambientes, como os pastos ou
capoeiras, para compensar a falta da vegetação natural.

Na Volta Grande, 43% dos indivíduos foram classificados como virgens, que ocorrem
praticamente o ano todo. Isto denota a importância desta região como habitat de espécimes
jovens. Em segundo lugar neste setor destacam-se os indivíduos desovados. No rio Bacajá,
ainda que amostrado somente durante a enchente, destaca-se a presença de indivíduos em
reprodução, desovados e em repouso, indicando que esta é também uma importante área de
desova.

9.5.4.4 Ictioplâncton

Os resultados do estudo de distribuição de ovos e larvas da ictiofauna, com base nas coletas
do mês de fevereiro de 2008, indicou uma forte predominância de larvas no setor do Baixo

6365-EIA-G91-001b 218 Leme Engenharia Ltda.


Xingu – compartimento ambiental “trecho de vazão restituída” (TRV) - com 61% dos
indivíduos, sendo que grande parte foi encontrada em frente à cidade de Vitória do Xingu. O
compartimento do reservatório do rio Xingu apresentou a segunda maior concentração de
larvas, responsável por 18% da ocorrência, sendo que neste caso as larvas foram mais
abundantes no Lago da Ilha Grande. O setor do Iriri apresentou o menor número de larvas,
correspondendo somente a 3% da abundância total, e na região da Volta Grande e rio Bacajá
com 9% cada.

A maior quantidade de indivíduos encontrava-se nas áreas recentemente inundadas pelas


águas, que no mês de fevereiro, época de uma das coletas realizadas para o presente EIA,
estavam subindo. A abundância maior de larvas foi encontrada em áreas de remanso (50%),
seguida de lagoas (23%), áreas de inundação (12%), igarapés (8%), calha do rio (4%) e
pedrais (3%).

A maior parte das larvas amostradas (82%) estava no estágio inicial de desenvolvimento,
ainda com o saco vitelino. As informações preliminares obtidas nos levantamentos de
ictioplâncton indicam que a desova ocorre em massa e é iniciada em um momento bem
definido no tempo, provavelmente controlada por fatores externos. O nível da água é
certamente o fator determinante, porém não necessariamente o único para explicar uma
desova sincrônica, tanto entre os setores como entre os biótopos.

Estudos preliminares que tinham sido feitos para o reconhecimento da área de estudo no rio
Xingu pela equipe de ictiofauna para o presente EIA, em dezembro de 2007, não verificaram
a presença de ictioplâncton nesse mês.

Desta forma, a partir dos resultados do ictioplâncton deduz-se claramente que uma grande
quantidade de peixes estava desovando ao longo da área de estudo, no mês de fevereiro de
2008, na enchente, quando o rio tinha uma vazão de aproximadamente 8.000 m3/s. Estes
dados também indicam que a desova ocorre tanto acima como abaixo das cachoeiras do rio
Xingu, e que os ambientes de inundação (lagoas ou remansos nas margens de cursos de água)
são fundamentais para que a desova ocorra. A presença de todas as formas larvais dentro das
lagoas indica que a desova vinha ocorrendo desde alguns dias, nesses ambientes.

9.5.4.5 Migrações e Piracema

Com relação aos padrões de migração, as espécies de peixes da Amazônia podem ser
divididas em duas categorias. A primeira inclui as espécies que realizam migrações durante a
seca ou enchente entre o canal do rio, áreas alagadas e os tributários. Nesta categoria incluem-
se os bagres siluriformes, que realizam migrações de longas distâncias, como a piramutaba
(Brachyplatystoma vaillantii), e a dourada (B. flavicans), mas que não tem relevância para o
TVR, pois não ultrapassam as grandes cachoeiras de Belo Monte. Também são espécies
migradoras aquelas que realizam deslocamentos laterais e longitudinais sazonais, mesmo que
percorrendo distâncias bem menores do que os bagres. Dentre elas destacam-se Prochilodus
nigricans (curimatã), Semaprochilodus spp. (ariduia) e Myleus spp. (pacu). Este grupo é bem
representativo na bacia do rio Xingu e tem grande importância ecológica e econômica no
TVR.

O segundo grupo de espécies refere-se às espécies sedentárias, que possuem desovas várias
vezes ao ano e apresentam adaptações para permanecer em águas com menos quantidade de
oxigênio ou de menos produndidade. Algumas apresentam comportamentos de acasalamento

6365-EIA-G91-001b 219 Leme Engenharia Ltda.


e cuidado parental da prole. Neste grupo estão incluídas espécies das famílias Cichlidae
(Cichla spp., tucunaré), Osteoglossidae (Osteoglossum bicirrhosum, aruanã) e Arapaimidae
(Arapaima gigas, pirarucu), assim como pequenos Ostariophysi (Sciaenidae, Plagioscion spp.
pescada; Cichlidae, Geophagus spp., acará; Doradidae, Hassar orestis botinho; Loricariidae,
Loricaria sp, Hypancistrus spp. Acari e Serrasalmidae, Serrasalmus spp., piranha).

No rio Xingu, a dourada e também a piramutaba (mas em menor proporção) são visualizadas
e capturadas no trecho baixo do rio, desde a sua foz até, no máximo, a Vila de Belo Monte. Os
pescadores relatam que observam cardumes de dourada subindo o rio Amazonas todo ano, a
partir de junho, no período de vazante e durante a seca. Ao passarem pela desembocadura do
rio Xingu, os cardumes entram e sobem o canal deste rio. Os deslocamentos possuem uma
velocidade média de 500 a 1000 m/dia. Os peixes vão até Belo Monte, aonde chegam mais ou
menos no final do ano. À medida que as águas sobem com a chegada das chuvas, eles
desaparecem da região. Contudo, indivíduos jovens de dourada, de menos do que 20 cm de
comprimento total, são vistos nas poças formadas durante o inverno nas proximidades de
Porto de Moz e nas ilhas na frente desta cidade, indicando que a ria do Xingu atua, em parte,
como uma extensão do imenso estuário amazônico, oferecendo ambientes de berçário e
recrutamento para os jovens dessas espécies. No entanto, nem a dourada e tampouco a
piramutaba foram encontradas rio acima, após as grandes cachoeiras, ocorrendo apenas na
parte baixa do rio Xingu.

Porém outras espécies de bagres, como o surubim Pseudoplatystoma fasciatum, a pirarara


Phractocephalus hemioliopterus e o filhote Brachyplatystoma filamentosum parecem não
precisar percorrer distâncias tão longas ao longo do rio, no seu ciclo de vida. Estas espécies
habitam as águas do rio Xingu, tanto acima como abaixo das cachoeiras, e seus
deslocamentos em busca das presas, durante a seca e as enchentes, dentro do sistema de
canais do rio, seguem os mesmo padrões dos caraciformes menores, tendo sido relatadas por
vários pescadores à equipe responsável pelos estudos de ictiofauna para este EIA.

O mapará Hypophthalmus edentatus e H. fimbriatus podem er encontrados nos ambientes


fluviais e lacustres da ria. Indivíduos maduros de H. endentatus sobem o rio no fim da seca e
chegam até Belo Monte, em dezembro e janeiro, permanecendo no rio até a cheia, entre
março e maio. Além disso, devido ao seu comportamento alimentar, que depende do plâncton,
os indivíduos de mapará realizam migrações diárias na coluna d´água, se deslocando para
comer durante a noite para as camadas mais superficiais e para o fundo durante o dia. A outra
espécie, H. fimbriatus não apresenta um comportamento migrador longitudinal evidente, ao
longo do rio, e pode ser capturada durante todo o ano.

No rio Xingu, há muitas espécies pertencentes ao grupo de migradores de curtas distâncias,


tanto na parte inferior como na parte média do rio. Aparentemente, o efeito das corredeiras e
das diferenças de altitude no rio tem um efeito decisivo no comportamento da ictiofauna.
Diferente do que pode ser concluíido em estudos realizados nos rios de água branca, as
migrações longitudinais de espécies migradoras, como o curimatã, os pacus e outros
caracoideos não são muito extensas no rio Xingu. Os peixes são vistos subindo as corredeiras
e nos canais. Estes movimentos ocorrem principalmente no início da enchente, pois as
corredeiras são muito fortes durante o período seco. Porém não se observa a formação de
cardumes conspícuos, como é típico em outros rios da região amazônica. Estes movimentos
ocorrem principalmente no início da enchente, pois as corredeiras são muito fortes durante o
período seco. O que é bastante claro no rio Xingu é o padrão de deslocamentos laterais, no
qual os peixes que ficaram recolhidos durante a seca, nos canais e poças remanescentes do rio,

6365-EIA-G91-001b 220 Leme Engenharia Ltda.


começam a se movimentar rio acima, até encontrar uma entrada de água (sangradouro), na
qual eles terão acesso às áreas inundadas.

a) Observações e Dados de Migração da Ictiofauna com Base Etnoecológica

Os pescadores moradores da região da vila de Belo Monte são experientes na observação de


peixes que transitam pelo rio Xingu. Nas proximidades da vila encontra-se a primeira
cachoeira do rio, limite natural do deslocamento fluvial das embarcações, rio acima. A
atividade econômica nas proximidades destes acidentes geográficos e nos canais
anastomosados da Volta Grande dá a estes pescadores conhecimentos específicos e valiosos
sobre os deslocamentos dos peixes. Segundo eles, muitas espécies, mesmo aquelas que não
são migradoras, podem transpor as cachoeiras, particularmente durante a época de enchente,
quando as quedas não são tão acentuadas como no período de estiagem.

Relatam, porém, que algumas espécies são exclusivas da região baixa do rio e não podem
subir as cachoeiras. É o caso do mapará, do tambaqui, do pirarucu e outras inúmeras espécies
da ictiofauna.

Os dados obtidos no diagnóstico deste EIA sobre curimitã (Prochilodus nigricans),


demonstraram a existência de uma alta diversidade genética, distribuída de forma homogênea
nos indivíduos coletados em todos os pontos amostrais, ao longo do rio, indicando que não há
qualquer indício de isolamento geográfico ou barreira que impeça o fluxo gênico entre as
populações de curimatã ao longo do Rio Xingu e seus afluentes na área entre José Porfírio e a
foz do Iriri.

Desta forma, as conclusões preliminares são: as cachoeiras não são uma barreira geográfica
eficiente para toda a ictiofauna e há deslocamentos entre a parte baixa e parte alta do rio, para
boa parte da fauna.

9.5.4.6 Espécies da fauna associada aos ambientes de pedrais

Os ambientes de pedrais constituem habitats temporários para a fauna terrestre, pois uma vez
submersos, esta fauna busca os ambientes laterais que também constituem sua área de uso.

Desta forma, as rochas e abrigos naturais formados quando emersos são utilizados por
lagartos e anfíbios, cujos levantamentos identificaram uma herpetofauna bastante diversa.

Alguns lagartos como Cnemidophorus cryptus (Teiidae) são dependentes de ambientes


próximos a corpos d’água, uma vez que essa espécie foi identificada apenas em áreas de
floresta aluvial e formações pioneiras nas margens do rio. Crocodilurus amazonicus
(jacarerana), espécie associada a áreas sazonalmente alagáveis não foi observado nos
levantamentos atuais, bem como o Tropidurus oreadicus (Tropiduridae) que habita as ilhas
com lajedo, somente foram registrados em trechos do rio por ocasião dos estudos realizados
entre 1986 e 1989, pelo CNEC.

Nenhuma espécie da herpetofauna terrestre registrada nos estudos atuais do EIA estão
presentes nas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção. Tampouco espécies
endêmicas foram detectadas. As restrições de distribuição da herpetofauna basicamente estão
associadas a ambientes de terra firme, abrangendo as regiões de interflúvios.

6365-EIA-G91-001b 221 Leme Engenharia Ltda.


Os levantamentos de morcegos realizados no âmbito deste EIA identificaram 16 espécies de
morcegos, pertencentes a 13 gêneros e seis famílias que utilizam as fendas dos pedrais do rio
Xingu, sendo que oito (8) dessas espécies foram registradas exclusivamente nessas formações.

Os Pedrais foram os abrigos exclusivos do raro morcego molossídeo Molossops


(Neoplatymops) mattogrossensis e de uma nova espécie associada aos pedrais do Xingu (V.
Tavares and R. Gregorin, in prep.). Essas espécies com limitada capacidade de vôo e corpo
extremamente adaptado a abrigarem-se em fendas, apresentam alto grau de achatamento
dorso-ventral, corpóreo e craniano.

Também são abrigos de Peropteryx macrotis que apresentam enormes e ubíquas populações
nos pedrais do baixo médio Xingu na estação seca, sendo que os animais tendem a ocupar
fendas e paredes verticais. Foram também observados Furipterus horrens (Chiroptera:
Furipteridae) usando a região dos pedrais, que é geralmente cavernícola. Furipterus horrens
foi encontrado em pedrais de “terra firme” na estação chuvosa, distantes cerca de, no máximo
duzentos metros da margem do rio. Outras espécies consideradas mais raras de morcegos
encontradas nos pedrais são: Peropteryx leucoptera (Chiroptera: Emballonuridae) e
Macrophyllum macrophyllum (Chiroptera: Phyllostomidae), este último de estrita relação com
áreas ripárias.

O levantamento de aves registra uma riqueza de 31 espécies consideradas estritamente


aquáticas e outras 27 restritas aos habitats criados por rios.

As espécies mais comuns foram as andorinhas Tachycineta albiventer, Progne tapera,


Atticora melanoleuca, Atticora fasciata, Stelgidopteryx ruficollis. Não foi identificada
nenhuma área específica de reprodução ou de alimento para a avifauna aquática. Aves
migratórias utilizam-se da região do Xingu, porém não houve registro de pontos específicos
de parada e alimentação.

Entre os mamíferos aquáticos os levantamentos indicaram a presença de lontra e ariranhas


usando as florestas aluviais para abrigo, alimento e reprodução. Peixes-boi e botos não
ultrapassam as cachoeiras do rio Xingu e, portanto, não habitam a região da Volta Grande.
Esta informação foi comprovada pelos levantamentos de campo e entrevistas realizados pela
equipe responsável por este tema no âmbito deste EIA.

As lontras e ariranhas são mamíferos aquáticos e foram observadas habitando basicamente os


principais igarapés da região da Volta Grande, Ituna, Galhoso, Di Maria, Itatá, Bacajá, etc.

A ariranha, embora presente na região do empreendimento, parece ser menos freqüente que a
lontra. As taxas de densidades de vestígios indicaram a importância dos igarapés e áreas
aluviais para estas duas espécies de mustelídeos. São habitats importantes para a ariranha
(Pteronura brasiliensis) e para a lontra (Lontra longicaudis), espécies classificadas como
ameaçadas e insuficientemente conhecida, respectivamente (IUCN, 2006).

9.5.5 Caracterização Limnológica e da Qualidade das Águas

O TVR pode ser caracterizado de duas formas distintas sob o ponto de vista limnológico e da
qualidade das águas: a parte onde estão as concentrações urbanas de Ressaca e Ilha da
Fazenda e o restante do trecho, este com contribuições difusas.

6365-EIA-G91-001b 222 Leme Engenharia Ltda.


As temperaturas das águas apresentam valores acima de 30ºC, característicos do rio Xingu,
com leve redução na estação de cheia decorrente, provavelmente, do maior fluxo de água. As
águas ácidas do rio Xingu apresentaram, nas amostragens e análises realizadas para os estudos
ambientais, baixa turbidez, com leve incremento na estação de cheia, como esperado. Assim,
como comumente registrado nos pontos de amostragem, os resultados de sólidos em
suspensão foram baixos.

Os pontos de monitoramento apresentaram boa oxigenação de suas águas com valores acima
dos limites das classes 2 em todas as campanhas, sendo que as saturações de OD mostraram
uma relação direta com as concentrações absolutas. Alguns pontos apresentaram resultado de
DBO na enchente acima do limite classe 1, porém abaixo de 5,0 mg/L, valor determinado
para sistemas classe 2. Este resultado indica um aumento de carga orgânica em locais
próximos às ocupações urbanas.

A condutividade elétrica foi registrada em baixas concentrações neste trecho do rio Xingu,
assim como observado para os demais pontos da rede de amostragem, não apresentando
variação sazonal evidente. A exceção foi para o rio Bacajá, que apresentou concentrações
mais elevadas, ainda que suas águas não tenham influenciado, de forma evidente, os valores
de condutividade obtidos para o rio Xingu, exceto no período de seca, quando a contribuição
do rio Bacajá se tornou mais efetiva. Este resultado alerta para as futuras condições da
qualidade da água a ser imposta ao estirão do rio Xingu a sofrer redução de vazão. A falta de
padrão dos resultados de íons totais dissolvidos foi também registrada nestes pontos e as
águas do rio Bacajá não afetaram as concentrações deste parâmetro obtidas para o rio Xingu.

Essas variações nos valores de condutividade a jusante da foz do rio Bacajá não influenciam a
biota aquática do rio Xingu, pois a mesma apresenta tolerância às variações de condutividade
desta região. Alterações que podem ocorrer entre 40-60 µS/cm até 100-120 µS/cm são de
pequena escala considerando-se a capacidade de tolerância de peixes, anfíbios, plâncton e
macroinvertebrados bentônicos, que suportam variações até muito maiores3.

Os resultados de cálcio, magnésio, potássio, sódio e brometo revelaram baixas concentrações,


sendo que todos apresentaram incremento mais evidente próximo à localidade de Ressaca, na
estação de cheia. Os resultados dos elementos fluoreto, cloreto, sulfato, mercúrio, níquel e
ferro dissolvido se apresentaram em conformidade com os limites determinados pela
legislação para corpos de água classes 1 e 2, assim como registrado para os demais pontos da
rede de amostragem.

As regiões próximas às localidades de Ressaca e da Ilha da Fazenda e ao rio Bacajá


apresentaram valores de chumbo e cromo dissolvidos acima do limite das classes 1 e 2 na
campanha de cheia, sendo que apenas para a localidade de Ressaca foi verificado este tipo de
resultado também para o elemento zinco dissolvido.

Em relação aos compostos nitrogenados e fosfatados, as concentrações permaneceram baixas,


sendo que os limites determinados para os sistemas classes 1 e 2 não foram atingidos em
nenhuma campanha. Cabe destacar a concentração de nitrato próxima ao limite na campanha
de cheia no ponto “Ressaca”. Nos pontos “Ressaca” e “Fazenda” foi determinada a
concentração de carbono total dissolvido apenas nos períodos de cheia e seca, sendo a

3
Lochwood (1964) destaca que organismos de águas interiores podem tolerar alterações em condutividade entre
50 µS/cm até 150 µS/cm através da sua capacidade de regulação osmótica.
6365-EIA-G91-001b 223 Leme Engenharia Ltda.
variação entre estes períodos pouco evidente, com baixos valores detectados. As
concentrações de carbono total dissolvido foram maiores no rio Bacajá, onde a variação
sazonal foi mais evidente. Os resultados do rio Xingu não foram afetados pela contribuição
das águas do rio Bacajá.

A partir dos resultados obtidos, pode-se observar que o rio Bacajá influenciou os valores de
sólidos em suspensão e condutividade elétrica registrados no rio Xingu no período de seca,
quando o volume de água deste corpo hídrico sofreu redução efetiva. A DBO nos dois
sistemas foi elevada na enchente, indicativo de incremento da carga orgânica.

A caracterização limnológica do TVR indicou boa qualidade das águas, com elevadas
concentrações de oxigênio dissolvido, baixos valores de DBO e reduzidas concentrações de
nutrientes fosfatados e nitrogenados. A presença de chumbo e cromo acima dos limites
determinados pela legislação diagnosticada em toda a bacia de drenagem foi também
observada neste trecho. O zinco dissolvido esteve relacionado diretamente com a contribuição
do igarapé Ressaca.

A partir da análise dos resultados foi possível concluir que a presença da vila de Belo Monte
não influenciou os valores dos compostos nitrogenados e fosfatados registrados no rio Xingu.
Porém, a DBO foi superior ao limite mínimo de 5 mg/L estabelecido pela legislação para
sistemas classe 2, na campanha de enchente no ponto RX11, localizado a jusante dessa
localidade.

A caracterização limnológica dos igarapés da margem direita indicou semelhança com àquela
registrada para o rio Xingu, com destaque para os valores de turbidez acima do limite
estabelecido para sistemas classe 2.

Os três igarapés amostrados da margem esquerda, que serão inundados pelo reservatório dos
canais, apresentaram concentrações de fósforo total que podem sofrer grandes incrementos e
tornarem-se determinantes para o desenvolvimento do processo de eutrofização,
principalmente no período de seca.

9.5.6 Identificação dos Principais Canais de Escoamento da Água

Um dos procedimentos adotados para avaliação dos impactos ambientais no TVR é a


espacialização das oscilações naturais das lâminas d’água nos momentos de cheia e seca,
buscando subsidiar a definição das interferências que tal processo sofrerá após a construção
da barragem e desvio de parte da vazão, e o conseqüente impacto desse fato sobre os
ecossistemas aquáticos e marginais.

As informações sobre a extensão lateral e a conformação espacial da calha do rio Xingu


auxiliam também na reavaliação da vazão ecológica inicialmente proposta no âmbito dos
Estudos de Viabilidade do AHE Belo Monte (ELETROBRÁS/ELETRONORTE, 2002). Um
aumento nessa vazão, desde que viável sob o aspecto econômico, poderá minimizar os
impactos negativos sobre os ecossistemas lindeiros e integrantes do TVR.

A conformação e extensão da calha natural do rio Xingu no TVR , bem como os seus canais
preferenciais de escoamento, estão mapeadas nas bases cartográficas disponíveis para os
estudos ambientais. Essas bases (restituição aerofotogramétrica e bases cartográficas do
IBGE/DSG) foram geradas a partir de fotografias aéreas obtidas no período seco e com baixas

6365-EIA-G91-001b 224 Leme Engenharia Ltda.


vazões no rio Xingu, sendo necessário, à época de elaboração do Projeto Básico Ambiental
(PBA) o mapeamento da calha do rio Xingu no período de cheia, bem como aquele relativo à
variação espacial da sua calha e dos seus canais de escoamento do rio Xingu sob diferentes
regimes hidrológicos (cheia, vazante, estiagem e enchimento).

Para se atingir esses objetivos foram utilizadas técnicas e produtos de sensoriamento remoto e
de geoprocessamento descritas a seguir.

9.5.6.1 Metodologia

a) Revisão de Literatura

Nesta etapa foi feita a leitura e a análise dos principais trabalhos de mapeamento de
ecossistemas aquáticos com foco nas metodologias e produtos de sensoriamento remoto
utilizados. O resultado desta revisão encontra-se no Anexo 9.5-1.

b) Levantamento das Imagens de Satélite Disponíveis

Realizou-se uma ampla pesquisa na base de dados dos principais fornecedores de imagens de
satélite com o objetivo de localização de cenas que recobrissem toda a extensão do TVR em
diferentes regimes hidrológicos. As imagens identificadas, representativas dos períodos de
seca e vazante, selecionadas a partir do critério técnico de ausência ou presença de até 5%de
nuvens sobre o TVR, encontram-se discriminadas no QUADRO 9.5-8. Não foram localizadas
imagens de satélite (radar e do espectro ótico) adquiridas nos períodos de cheia e enchente
que permitissem a visualização do TVR na escala de trabalho adotada (1:100.000).

6365-EIA-G91-001b 225 Leme Engenharia Ltda.


QUADRO 9.5-8
Imagens Selecionadas para o Estudo do Comportamento Temporal e Espacial da Calha e dos
Canais de Escoamento do rio Xingu em Regimes Hidrológicos de Seca e Vazante

Vazão
Leitura da
estimada Tempo de
Data da Sensor e Régua em Regime
em Permanência
Imagem Satélite Altamira hidrológico
Altamira da Vazão (%)
(m)
(m3/s)
Seca com pico de
TM
vazão mínima de
20/10/1998 Landsat- 92,71 680 94,3%
656 m3/s em 14 de
5
outubro
Seca com uma
TM
vazão mínima de
17/08/2001 Landsat- 93,18 1.414 79,8
865 m3/s em 12 de
5
outubro
Vazante de um
TM
ano com máximo
27/06/1996 Landsat- 94,30 4.496 49,3
de 20.979 m3/s em
5
29 de abril
Vazante de um
CCD
ano com máximo
25/06/2006 CBERS- 94,99 7.312 40,25
de 27.298 m3/s em
2
22 de abril
Vazante de um
CCD
ano com máximo
31/05/2005 CBERS- 95,45 9.432 35,11
de 25.762 m3/s em
2
01 de abril

c) Processamento digital das imagens.

As principais etapas de processamento digital de imagens foram:

• Execução do georreferenciamento das imagens a partir de pontos de controle coletados na


base cartográfica. O detalhamento da montagem base cartográfica utilizada encontra-se no
Capítulo 6 deste EIA – “Delimitação das Áreas de Influência”.

• Registro entre as imagens multitemporais de satélite, adotando-se como referência a


imagem obtida no período de menor vazão, pois a mesma apresentava-se com melhor
qualidade.

• Criação de uma máscara de corte para as imagens. Esta máscara correspondeu à calha do
rio Xingu e foi definida a partir da análise e interpretação conjunta da rede de drenagem
da restituição aerofotogramétrica e da imagem de satélite de maior vazão disponível
(9.432m3/s).

• Recorte das imagens utilizando-se da máscara de corte criada na etapa anterior.

6365-EIA-G91-001b 226 Leme Engenharia Ltda.


• Geração de diversas imagens comparativas correspondentes às diversas vazões,
utilizando-se de uma adaptação da técnica de realce denominada de Composição Colorida
Multitemporal (CCM). Esta técnica, desenvolvida inicialmente para estudos de dinâmica
de crescimento de áreas urbanas, consiste na análise simultânea de dados pela
sobreposição de imagens de uma mesma banda pré-selecionada, referentes a datas
distintas, no sistema RGB. No caso específico deste trabalho, foram utilizadas as imagens
obtidas na faixa espectral do infravermelho próximo que realça os corpos d´água. O
detalhamento desta técnica e dos princípios teóricos envolvidos são apresentados no
Anexo 1. As imagens comparativas geradas, duas a duas, foram para as vazões de 7.312
m3/s e 680 m3/s, sendo que o refinamento foi feito para as vazões de 7.312 m3/s e 4.496
m3/s; 4.496 m3/s e 1.414 m3/s ; e 1.414 m3/s e 680 m3/s.

d) Levantamento e Análise de Registros Fotográficos e de Campo

Foram analisados os registros fotográficos e anotações técnicas realizados durante os


trabalhos de campo e sobrevôos feitos nos períodos de 01 a 04 de março de 2006 e 29 a 30 de
agosto de 2007. Estes sobrevôos ocorreram, respectivamente, durante a campanha de
reconhecimento no trecho da AID/ADA do empreendimento e durante a inspeção do IBAMA
à região para subsidiar a elaboração do TR para o EIA. No dia 04 de março de 2006, o nível
d´água (NA) do rio Xingu estava em 97,20 m na régua de Altamira, portanto próximo da cota
definida como NA normal do futuro reservatório – 97,0 m. Neste dia, a vazão do rio Xingu
era de 21.195 m3/s, o que corresponde aproximadamente ao período de cheia do rio. Em 30 de
agosto de 2007 a vazão do rio Xingu em Altamira era de cerca de 1.110 m3/s, correspondendo
ao período de estiagem, dado que a média das vazões mínimas é de 1.017 m3/s.

e) Análise das Imagens Geradas

Realizou-se a análise espacial das imagens geradas em conjunto com a base cartográfica e
com os registros fotográficos e de campo para verificar o comportamento dos canais de
escoamento e área de inundação do rio Xingu para diferentes reduções de vazões.

f) Produção de Material Cartográfico

Nesta etapa foram geradas e impressas as cartas imagem que integram este EIA e que
serviram de subsídio às análises espaciais. Sobre as Composições Coloridas Cultitemporais –
CCM foram também cartografadas algumas informações geográficas de relevante interesse,
tais como as vilas, terras indígenas, dentre outros.

9.5.6.2 Resultados e Discussões

As duas cartas imagem apresentadas na FIGURA 9.5-26, mostram os resultados


comparativos da redução da lâmina d´água para as vazões consideradas e suas conseqüências
associadas – aumento da exposição da área dos pedrais e modificações nos canais de
escoamento4.

A imagem Composição Colorida Multitemporal – CCM, apresentada no Desenho 6365-EIA-


DE-G91-032, mostra, para melhor representação da magnitude do processo, a redução do

4
O resultado espacial apresentado também é válido para o aumento da lâmina d’água nas mesmas vazões
consideradas onde teremos uma menor exposição dos pedrais e modificações no canal de escoamento.
6365-EIA-G91-001b 227 Leme Engenharia Ltda.
pulso de inundação de vazões de 7.312 m3/s para 680 m3/s. Entretanto, no ambiente natural
essa redução ocorre normalmente de forma gradual ao longo do de período de vazante. Assim,
as imagens CCM 1, 2 e 3 apresentadas na carta imagem do Desenho 6365-EIA-DE-G91-032
detalham e simulam uma redução gradual do pulso de inundação com vazões de 7.312 m3/s
para 4.496 m3/s, de 4.496 m3/s para 1.414 m3/s e de 1.414 m3/s - 680 m3/s.

A análise visual desses produtos, em conjunto com as fotografias de campo, permite avaliar a
extensão espacial da redução do pulso de inundação e a conformação e a distribuição espacial
dos canais de escoamento superficial da lâmina d’água do rio Xingu nas respectivas vazões.
Os critérios de comparação das vazões foram determinados pela disponibilidade de imagens e
com base em reuniões técnicas envolvendo as equipes que estiveram envolvidas nos Estudos
de Viabilidade (ELETROBRÁS/ELETRONORTE, 2002).

9.5.6.2.1 A Extensão e Área do Trecho de Vazão Reduzida

Reiterando o que já foi abordado, em detalhes, no Capítulo 4 deste EIA – “Caracterização do


Empreendimento”, a extensão do TVR apresentada nos Estudos de Viabilidade
(ELETROBRÁS/ELETRONORTE, 2002) é de cerca de 130 km. No entanto, a utilização de
técnicas de geoprocessamento das bases cartográficas atuais e de processamento digital de
imagens de satélite do rio Xingu indica, nas análises feitas para o EIA, uma extensão
aproximada de 100 km e uma área de 622 km2.

A diferença entre esses valores deve estar relacionada ao critério utilizado para as medições.
Provavelmente, no estudo de viabilidade a extensão do TVR foi medida ao longo do canal
preferencial de escoamento no período de estiagem (época de obtenção das fotografias aéreas
que dão origem às bases cartográficas) enquanto que no presente EIA utilizou-se a medição
ao longo da porção central da calha do rio Xingu.

6365-EIA-G91-001b 228 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-26 – Área e extensão do trecho de vazão reduzida

O critério de medição na porção central da calha é o mais indicado, pois não apresenta a
influência das vazões que modificam a extensão e forma dos canais preferenciais de
escoamento entre os pedrais que compõem esse trecho. A conformação e a extensão de alguns
desses canais do rio Xingu dependem da vazão considerada no momento da medição, sendo
que quanto menor a vazão, maiores são as suas extensões, pois parte das direções de
escoamento da água nesses canais passa a ser controlada pelas fraturas rochosas existentes na
região dos pedrais. Nesse sentido, por questões de padronização do critério técnico de
medição, o valor de 100 km foi sempre referenciado neste EIA quando se menciona a
extensão do TVR.

A
FIGURA 9.5-27 mostra e detalha a complexidade dos canais de escoamento do rio Xingu no
terço final do TVR situado a montante de Belo Monte para uma vazão de seca nas imagens do
Google Earth para uma vazão não identificada.

6365-EIA-G91-001b 229 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-27 – Canais de escoamento superficial do rio Xingu (em azul) em época de seca
na região dos pedrais (tons de rosa na imagem) – visão montante para
jusante.

9.5.6.2.2 Canais Preferenciais de Escoamento e Espacialização da Calha do Rio Xingu


no TVR

A extensão e a distribuição espacial dos canais de escoamento no TVR do rio Xingu


dependem de uma série de fatores físicos, tais como a vazão do rio, a declividade média do
segmento do trecho e a presença de controle geológico estrutural.

As imagens de satélite registram a espacialização da vazão em um determinado momento. O


canal principal de escoamento, identificado na imagem de satélite com vazão de 680 m3/s,
apresenta uma extensão aproximada de 130 km, contabilizado entre o local do barramento até
a Cachoeira Grande (FIGURA 9.5-28). Este local marca o final da região de predomínio dos
pedrais e o início da bacia sedimentar do Amazonas. Desta cachoeira até o local previsto para
a restituição da vazão pelo Canal de Fuga da Casa de Força Principal tem-se ainda mais 13
km de extensão. Cabe ressaltar que este último trecho está também sujeito à interferência da
maré nos períodos de estiagem.

6365-EIA-G91-001b 230 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-28 - Cachoeira Grande situada no final da região com predomínio dos pedrais
no TVR

O Desenho 6365-EIA-DE-G91-031 mostra a imagem Composição Colorida Multitemporal -


CCM gerada a partir da sobreposição das imagens de satélite correspondentes às vazões de
680 m3/s e 7.312 m3/s. Nesta carta, as áreas pretas no interior da calha do rio Xingu
correspondem às lâminas d´água existentes nas vazões consideradas e que não se alteram em
área superficial molhada. As áreas vermelhas correspondem às áreas do TVR que
apresentaram lâmina d´água na imagem com maior vazão e que na imagem de menor vazão já
mostram a exposição de afloramentos rochosos ou bancos de areia.

Observa-se no Desenho 6365-EIA-DE-G91-032 que o trecho do TVR sujeito a maior


redução da lâmina d´água e aumento da exposição de pedrais, durante a diminuição do pulso
de inundação natural do rio Xingu, está compreendido entre a foz do rio Bacajá e a Cachoeira
Grande, em especial para o terço inferior do TVR. No trecho situado entre o Sitio Pimental e a
foz do rio Bacajá a redução da vazão praticamente não modifica a distribuição espacial dos
canais de escoamento e área da lâmina d´água nas vazões avaliadas.

Observa-se também que até a confluência do rio Bacajá os canais de escoamento são
preminantemente largos e paralelos às margens do rio Xingu. A partir dessa confluência os
canais tornam-se mais estreitos e passam a ser controlados pelas fraturas geológicas
existentes. Assim, as direções dos canais de escoamento são bastante diversificadas neste
trecho do TVR.

Apresenta-se a seguir o detalhamento e a análise dos canais de escoamento superficial do rio


Xingu para cada setor do TVR, com vazões de 7.312 m3/s, 4.496 m3/s, 1.414 m3/s e 680 m3/s,
realizado a partir das três Composições Coloridas Multitemporais - CCM que integram a carta
imagem do Desenho 6365-EIA-DE-G91-031. Nessa carta apresentam-se também as
fotografias aéreas panorâmicas obtidas nos sobrevôos com a identificação geográfica do local
de cada registro.

6365-EIA-G91-001b 231 Leme Engenharia Ltda.


a) Setor São Pedro

Os canais de escoamento superficial que margeiam as ilhas aluviais, características desse


setor, (FIGURA 9.5-29) são estreitos, perenes, paralelos às margens do rio Xingu e não
apresentam alterações de área e conformações espaciais perceptíveis nas imagens de satélite
utilizadas (redução de vazão de 7.312 m3/s até 680 m3/s). Cabe ressaltar que de acordo com as
informações obtidas em campo, vazões da ordem de 8.000m3/s já inundam as florestas
aluvias nas ilhas, mas que essa área de inundação não é captada pelas imagens de satélite do
espectro ótico uma vez que ela situa-se sob a copa das árvores.

FIGURA 9.5-29 – Conjunto de ilhas aluviais que foram o setor São Pedro na margem
esquerda do rio Xingu (visão jusante para montante)

b) Setor Ilha da Fazenda – Ressaca

Os canais de escoamento superficial que margeiam as ilhas aluviais predominantes neste setor
são perenes e também não apresentam alterações perceptíveis nas imagens utilizadas até a
vazão de 680 m3/s. O trecho de ocorrência de pedrais neste setor, que estão concentrados no
entorno e a jusante da foz do rio Bacajá (FIGURA 9.5.6-1), fica submerso na vazão
aproximada de 4.500 m3/s. Trechos de pedrais expostos são observados na imagem de vazão
correspondente a 1.414 m3/s.

6365-EIA-G91-001b 232 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5.6-1 – Pedrais nos setor Ilha da Fazenda/Ressaca (visão
jusante para montante)

As FIGURA 9.5-30, FIGURA 9.5-31, FIGURA 9.5-32 e FIGURA 9.5-33 mostram,


respectivamente, a Vila da Ilha da Fazenda e a Vila da Ressaca, situadas na margem direita do
rio Xingu, com vazões do rio Xingu de 21.195 m3/s e 1.110 m3/s. Edificações de referência
estão indicadas nas fotos.

FIGURA 9.5-30 - Vila da Ilha da Fazenda no período de cheia do rio Xingu

6365-EIA-G91-001b 233 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-31 - Vila da Ilha da Fazenda no período de seca do rio Xingu

FIGURA 9.5-32 - Vila da Ressaca no período de cheia do rio Xingu

6365-EIA-G91-001b 234 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-33 - Vila da Ressaca no período de seca do rio Xingu

c) Setor Paquiçamba

Os canais de escoamento superficial que margeiam as ilhas aluviais, intercaladas às áreas de


pedrais, são modificados e/ou interrompidos com a redução de vazão de 7.312 m3/s para
4.500 m3/s. Neste setor, áreas emersas de pedrais já são observadas na imagem com vazão
aproximada de 4.500 m3/s. Um aumento significativo de exposição de pedrais neste setor é
registrado na imagem que mostra a redução dessa vazão de 4.500 m3/s para 1.414 m3/s. Um
canal de escoamento na margem esquerda do rio Xingu permanece visível até a vazão de 680
m3/s (FIGURA 9.5-34).

FIGURA 9.5-34 – Pedrais (ton de rosa) e ilhas aluviais (verde) no setor


paquiçamba (Visão montante para jusante)

6365-EIA-G91-001b 235 Leme Engenharia Ltda.


As FIGURA 9.5-35 e FIGURA 9.5-36 mostram a Aldeia Paquiçamba nas margens do rio
Xingu com vazões de 21.195 m3/s e 1.110 m3/s.

FIGURA 9.5-35 - Aldeia Paquiçamba no período de cheia do rio Xingu

FIGURA 9.5-36 - Aldeia Paquiçamba no período de seca do rio Xingu

6365-EIA-G91-001b 236 Leme Engenharia Ltda.


d) Setor Jusante do rio Bacajá

Neste setor predominam as áreas de ocorrência de pedrais e é onde os canais preferenciais de


escoamento apresentam maiores alterações com a variação da vazão do rio Xingu. Para
vazões superiores a 7.300 m3/s, a quase totalidade dos canais preferenciais de escoamento e os
pedrais adjacentes são totalmente encobertos pela água.

A imagem comparativa CCM entre as vazões de 7.312 m3/s e 4.496 m3/s, apresentada na carta
imagem, mostra a grande área de exposição de pedrais na região do entorno da Cachoeira
Grande. Na imagem comparativa entre as vazões de 4.496 m3/s e 1.414 m3/s observa-se
também uma maior exposição de pedrais nessa região, com a interrupção de escoamento em
alguns de seus canais. Observou-se, durante a realização dos trabalhos de campo, a
interrupção do fluxo de escoamento no Furo do rio Xingu, com uma vazão aproximada de
1.110 m3/s. A imagem comparativa entre as vazões de 1.414 m3/s e 680 m3/s não mostra
variação na conformação e distribuição espacial dos canais de escoamento.

A FIGURA 9.5-37 mostra o Furo do rio Xingu e a área de inundação dos pedrais na vazão de
7.300 m3/s no final da região dos pedrais. A FIGURA 9.5-38 apresenta visão panorâmica
aérea do final da região dos pedrais e o início da bacia sedimentar do rio Amazonas com a
vazão de 1.100 m3/s.

FIGURA 9.5-37 – Trecho final de pedrais do setor jusante do rio Bacajá

6365-EIA-G91-001b 237 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-38 - Visão aérea do final dos pedrais e início da bacia sedimentar do Amazonas.

As FIGURA 9.5-39 e FIGURA 9.5-40 mostram o trecho final dos pedrais com vazão do rio
Xingu de 21.195 m3/s. Já a FIGURA 9.5-41 mostra um detalhe da vegetação dos pedrais
submersa e a FIGURA 9.5-42 ilustra o local da futura restituição da vazão a ser turbinada
pela Casa de Força Principal do AHE Belo Monte na bacia sedimentar do Amazonas, no
período de cheia.

FIGURA 9.5-39 - Visão aérea do final dos pedrais com destaque para o Furo do Rio Xingu e
a região do entorno da Cachoeira Grande.

6365-EIA-G91-001b 238 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-40 - Visão aérea do final dos pedrais (continuação da margem direita da Foto
8.35)

FIGURA 9.5-41 - Detalhe da vegetação dos pedrais inundada numa vazão de 21.195 m3/s

6365-EIA-G91-001b 239 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-42 - Detalhe da local de restituição da vazão numa vazão de 21.195 m3/s

6365-EIA-G91-001b 240 Leme Engenharia Ltda.


9.5.7 Modelagem Matemática

A partir do levantamento de 18 seções topobatimétricas na calha do rio Xingu e das imagens


da restituição 1:25.000 para estimativa das seções topobatimétricas nos afluentes, foi
realizado estudo de modelagem contemplando o curso d’água principal e os afluentes
significativos do TVR. O objetivo desse estudo é entender como o escoamento ocorre ao
longo desse trecho implicando em diferentes áreas molhadas de acordo com as vazões
afluentes.

Os resultados destes estudos permitiram a obtenção de diversas informações, tais como:


ocorrência ou não de escoamentos; profundidades de lâminas d´água e, portanto, associações
com navegabilidade; extensão do remanso do rio Xingu nos afluentes em condições de
diferentes vazões; e outras informações que se fizeram necessárias para prognosticar as
alterações que ocorrerão na dinâmica de escoamento desse trecho mediante diferentes vazões
no rio Xingu.

Os estudos que contemplaram as diferentes modelagens efetuadas estão apresentados no


Capítulo deste EIA referente ao Diagnóstico de Recursos Hídricos para as AID/ADA. Uma
síntese das conclusões desses estudos é descrita a seguir.

9.5.7.1 Modelagem Matemática do TVR - rio Xingu

As 18 seções topobatimétricas levantadas no TVR estão subdivididas nos setores conforme


QUADRO 9.5-9. A FIGURA 7.7.2-52: Localização das Seções Topobatimétricas , mostra a
localização dessas seções.
QUADRO 9.5-9
Seções topobatimétricas por setores do TVR
Seções Distância acumulada
Setores do TVR Distância (m)
topobatimétricas (m)
Pimental 2278 0
Nova 1 2884 2278
São Pedro
Nova 2 4510 5162
Nova 3 5224 9672
Cana Verde 3288 0
ILHA DO NERIS 3481 3288
NOVA 5 + HECII 2214 6768
HECS 3619 8982
SEÇÃO 1 3618 12602
Ressaca/ Ilha da SEÇÃO 8 2629 16219
Fazenda SEÇÃO 9 6356 18848
SEÇÃO 2 3369 25205
SEÇÃO 3 5514 28573
SEÇÃO 4 - MD 3272 34087
SEÇÃO 5 - MD 2133 37359
SEÇÃO 6 - MD 2364 39492
SEÇÃO 3 3896 30868
SEÇÃO 4 - ME 3134 34764
NOVA 4 3013 37898
Paquiçamba
SEÇÃO 5 - ME 3793 40911
SEÇÃO 6 - ME 2810 44704
SEÇÃO 7 2811 47515

6365-EIA-G91-001b 241 Leme Engenharia Ltda.


a) Setor São Pedro

As seções de Pimental e Nova 3 – início e fim do trecho São Pedro - são seções mais largas e
não indicam presença de ilhas, diferentemente das seções Nova 1 e Nova 2, bastante
representativas desse trecho e que apresentam grande quantidade de ilhas entre as duas
margens.

Uma análise de perímetros molhados em cada seção foi feita para se avaliar o ganho que se
tem de seção molhada e por conseqüência, de habitats, quando se aumenta a vazão. O
GRÁFICO 9.5-1 mostra as curvas de acréscimo de perímetro molhado para diferentes
vazões.

GRÁFICO 9.5-1 – Acréscimo de perímetro molhado (%) em função da vazão – Setor São
Pedro.

A análise dessa figura mostra que somente na seção Nova 3 é que se observa ganho
significativo de área molhada com pequeno acréscimo de vazão. Para as demais seções só se
observa acréscimo de área molhada para vazões superiores a 18.000m3/s. A interpretação
desse gráfico em conjunto com o desenho da seção, conforme GRÁFICO 9.5-2, mostra que
inclinações acentuadas das curvas de perímetro molhado estão relacionadas a inundações de
ilhas, normalmente planas nesse trecho.

O GRÁFICO 9.5-2 apresenta a seção Nova 2 com diferentes vazões para que se possam
analisar as alterações de seções. As vazões utilizadas nessa avaliação foram escolhidas
aleatoriamente de forma que representassem condições de estiagem e cheias.

6365-EIA-G91-001b 242 Leme Engenharia Ltda.


NOVA 2 QBAIXAS ( 700, 9 70) NOVA 2 QMEDIAS A (3639, 4292, 7851)
. 03 .08
11 0 Legend 11 0 Legend

WS PF 2 WS PF 3

WS PF 1 WS PF 2

10 5 Ground 10 5 WS PF 1
Bank Sta Groun d
Ban k Sta

10 0 10 0

95 95
Elevation (m)

Elevat ion (m)


90 90

85 85

80 80

75 75
0 500 1000 1500 2 000 2 500 300 0 35 00 0 500 1000 1500 2 000 2500 30 00 3 500

St ation (m) Station (m)


NOVA 2 QALTAS (15557, 1 6000, 20438) NOVA 2 QALTAS ( 23414, 26050)
. 05 .05
11 0 Legend 11 0 Legend

WS PF 3 WS PF 2
WS PF 2 WS PF 1

10 5 WS PF 1 10 5 Groun d
Ground Ban k Sta
Bank Sta

10 0 10 0

95 95
Eleva tion (m)

Elevat ion (m)


90 90

85 85

80 80

75 75
0 500 1000 1500 2 000 2 500 300 0 35 00 0 500 1000 1500 2 000 2500 30 00 3 500
St ation (m) Station (m)

GRÁFICO 9.5-2 - Seção Nova 2 com vazões de 700m3/s e 970m3/s (a); 3.639m3/s,
4.292m3/s e 7.851m3/s (b); 15.557m3/s e 20.438m3/s(c) e 23.414m3/s
e 26.050m3/s (d)

A análise da modelagem nesse setor do São Pedro mostra que para qualquer condição de
escoamento o canal preferencial concentra mais de 90% do escoamento, enquanto que a
margem esquerda fica com menos de 10% do fluxo, lâmina d'água da ordem do metro e
velocidades próximas a 0,1 m/s nas três primeiras seções e 0,4 m/s na seção mais a jusante.

a) Setor Ressaca/ Ilha da Fazenda

Esse setor é o maior setor do TVR e o que tem o maior número de seções, sendo que 3 dessas
seções são representadas somente pela margem direita do rio Xingu – seções 04, 05 e 06 uma
vez que a margem esquerda representa o setor da Paquiçamba.

O GRÁFICO 9.5-3 que apresenta a variação do perímetro molhado com a vazão mostra a
grande variedade de seções encontradas nesse trecho. Algumas seções acrescentam bastante o
perímetro molhado com vazões baixas – 03, 04, 06 e Nova 5 + HECII.

6365-EIA-G91-001b 243 Leme Engenharia Ltda.


GRÁFICO 9.5-3 - Acréscimo de perímetro molhado (%) em função da vazão – Setor
Ressaca/Ilha da Fazenda

A análise da seção 4 mostra que para vazões de estiagem de 700 e 970m3/s a parte da seção,
pela margem esquerda, fica completamente seca e já com vazões de 3.639m3/s é possível
observar água correndo por essa margem, entretanto as ilhas que dividem as margens só são
inundadas com vazões superiores a 18.000m3/s. Essa análise pode ser observada no
GRÁFICO 9.5-4.
SEÇÃ O 04 MD QBAIXAS (70 0, 970) SEÇÃO 04 ME QBAIXA S (700, 970)
.08 .1
11 0 11 0
L eg en d Leg en d

W S PF 2 WS PF 2
W S PF 1 WS PF 1
G round 10 5 Groun d
Bank Sta Ban k Sta
10 0

10 0

95
90
Eleva tion (m)

Elevat ion (m)

90

80
85

80

70

75

60 70
0 500 1 000 1500 2 000 25 00 0 10 00 2000 30 00 4 000
St atio n (m) Station (m)

SEÇÃ O 04 Q MEDIA S A (3 639, 4292, 7851) SEÇÃO 04 Q A LTA S ( 15557, 1 6000, 20438)
.05 .025
11 0 L eg en d 11 0 Leg en d

W S PF 3 WS PF 3

W S PF 2 WS PF 2
W S PF 1 WS PF 1

G round Groun d
10 0 10 0
Bank Sta Ban k Sta

90 90
Eleva tion (m)

Elevat ion (m)

80 80

70 70

60 60
0 100 0 2000 3000 4 000 5 000 600 0 70 00 0 100 0 2000 3000 4 000 5000 60 00 7 000

St atio n (m) Station (m)

GRÁFICO 9.5-4 – Seção 04 com vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem direita (a);
vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem esquerda (b); 3.639m3/s,
4.292m3/s e 7.851m3/s (c) e 15.557m3/s e 20.438m3/s(d).

6365-EIA-G91-001b 244 Leme Engenharia Ltda.


O GRÁFICO 9.5-5 também mostra uma seção que as duas margens se dividem com a
estiagem – vazões de 700 e 970m3/s como está representado nas figuras 24(a e b). Nas figuras
24(c e d) a seção é apresentada de margem a margem onde se observa que a ilha que divide as
duas margens é inundada para vazões da ordem de 15.000m3/s.
SEÇÃO 06 MD QBAIXAS (70 0, 970) SEÇÃO 06 ME QBAIXA S (700, 970)
.12 .03
11 0 Legend 11 0 Legend

WS PF 2 WS PF 2

WS PF 1 WS PF 1
Ground Groun d
Bank Sta Ban k Sta
10 0 10 0

90 90
Eleva tion (m)

Elevat ion (m)


80 80

70 70

60 60
0 500 1000 1500 2 000 2 500 300 0 35 00 0 100 200 300 4 00 500 60 0 7 00
St ation (m) Station (m)

SEÇÃO 06 QMEDIAS A (3 639, 4292, 7851) SEÇÃO 06 QALTAS (15557, 1 6000, 20438)
.045 .045
11 0 Legend 11 0 Legend

WS PF 3 WS PF 3

WS PF 2 WS PF 2
WS PF 1 WS PF 1
Ground Groun d
10 0 Bank Sta 10 0 Ban k Sta

90 90
Eleva tion (m)

Elevat ion (m)

80 80

70 70

60 60
0 1000 2 000 3000 4 000 50 00 0 1000 2 000 3000 4000 5 000
St ation (m) Station (m)

GRÁFICO 9.5-5 – Seção 06 com vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem direita (a);
vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem esquerda (b); 3.639m3/s,
4.292m3/s e 7.851m3/s (c) e 15.557m3/s e 20.438m3/s(d)

b) Setor Paquiçamba

O setor da Paquiçamba é representado basicamente pela margem esquerda do rio Xingu em


uma região com bastante exposição de pedrais. O GRÁFICO 9.5-6 ilustra essa avaliação uma
vez que mostra que em todas as seções a declividade das linhas de acréscimo do perímetro
molhado é bastante acentuada para baixas vazões e portanto, são áreas de leito de rio que
ficam descobertas na estiagem e são molhadas com pouco acréscimo de vazão.

6365-EIA-G91-001b 245 Leme Engenharia Ltda.


GRÁFICO 9.5-6 - Acréscimo de perímetro molhado (%) em função da vazão – Setor
Paquiçamba

A análise das seções nesse setor conforme apresentam os GRÁFICO 9.5-4, GRÁFICO 9.5-5
e GRÁFICO 9.5-7 mostra essa margem esquerda, onde está localizada a TI Paquiçamba, com
pequena lâmina d’água nas estiagens e o canal preferencial na margem direita. O GRÁFICO
9.5-7 mostra a presença de uma ilha dividindo as duas margens e que só é inundada para
vazões superiores a 20.000m3/s, permanecendo ainda uma parte alta que não inunda para
nenhuma vazão de cheia.

6365-EIA-G91-001b 246 Leme Engenharia Ltda.


SEÇÃO 05 MD QBAIXAS (70 0, 970) SEÇÃO 05 ME QBAIXA S (700, 970)
.03 .03
11 0 Legend 11 0 Legend

WS PF 2 WS PF 2

WS PF 1 WS PF 1

10 0 Ground Groun d
Bank Sta Ban k Sta
10 0

90

90
80
Eleva tion (m)

Elevat ion (m)


70
80

60

70

50

40 60
0 200 4 00 600 8 00 10 00 -100 0 100 200 30 0 400 5 00
St ation (m) Station (m)

SEÇÃO 05 QMEDIAS A (3 639, 4292, 7851) SEÇÃO 05 QALTAS (15557, 1 6000, 20438)
.05 .06
12 0 Legend 12 0 Legend

WS PF 3 WS PF 3

WS PF 2 WS PF 2
11 0 WS PF 1 11 0 WS PF 1
Ground Groun d
Bank Sta Ban k Sta

10 0 10 0

90 90
Eleva tion (m)

Elevat ion (m)


80 80

70 70

60 60

50 50

40 40
0 10 00 200 0 3000 400 0 5000 60 00 0 10 00 2000 3000 40 00 5000 6 000
St ation (m) Station (m)

SEÇÃO 05 QALTAS (23414, 26050)


.03
120
Legend

WS PF 2
WS PF 1
110 Ground

Bank Sta

100

90
Elevation (m)

80

70

60

50

40
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Station (m)

GRÁFICO 9.5-7 – Seção 05 com vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem direita (a);
vazões de 700m3/s e 970m3/s na margem esquerda (b); 3.639m3/s,
4.292m3/s e 7.851m3/s (c) e 15.557m3/s e 20.438m3/s(d) e 23.414m3/s e
26.050m3/s (e).

Nas seções 04, 05 e 06, que caracterizam o escoamento em frente à TI Paquiçamba, a


modelagem indicou que o fluxo principal ocorre prioritariamente em sua porção da margem
direita, que recebe 95% do escoamento na estiagem, e cerca de 80% para uma vazão de
11.000 m3/s.

Por meio da modelagem feita para esse trecho é possível concluir ainda que existe velocidade
e profundidade nessas seções em frente à TI Paquiçamba, e que apesar de serem
profundidades pequenas que podem limitar o deslocamento das comunidade indígenas
(informação a ser confirmada nos estudos etnoecológicos), essas variáveis confirmam a
existência de escoamento nesse local, mesmo para a vazão de 700 m3/s.

6365-EIA-G91-001b 247 Leme Engenharia Ltda.


c) Setor Jusante do Bacajá

Nesse setor não foram levantadas seções topobatimétricas pelas dificuldades de acesso a calha
central do rio Xingu e principalmente pela complexidade da modelagem desse trecho que é
formado por pedrais que se espalham por quilômetros de largura.

d) Conclusões

Acréscimos de perímetro molhado em função do aumento de vazão foi um instrumento de


avaliação de formação de habitats. Verificou-se, nesta análise que para todo o trecho do TVR,
a maior parte das ilhas só é inundada para vazões de cheias e, portanto, a grande maioria dos
habitats serão comprometidos com a redução de vazão.

Estudos feitos para vazões de estiagens de 700 m3/s e 970 m3/s mostraram que para todos os
setores as áreas com escoamento são razoavelmente concordantes e, portanto, não existem
diferenças significativas de profundidades e área molhada para essas duas vazões. A análise
da vazão de 970m3/s justifica-se pela proximidade desse valor à vazão mínima média mensal
– 1017m3/s e a comparação com a vazão de 700m3/s foi uma busca por um valor que pudesse
não representar acréscimos de impactos, mas que permitisse alguma vazão no reservatório dos
canais durante as estiagens.

A análise da modelagem para vazões de cheias permitiu verificar como se comportam os


níveis d água nas várias seções, lembrando-se que o ciclo de inundação e estiagem determina
a formação de habitats e condiciona as atuais características da biota. A análise das seções
mostra que as margens do Xingu são íngremes e, portanto, somente as ilhas são inundadas
para determinadas vazões superiores a 18.000m3/s.

Importa ressaltar que as seções topobatimétricas levantadas são retratos de alguns pontos no
rio e não conseguem representar as partes mais baixas das ilhas por onde a água possa entrar
com vazões menores do que os 18.000m3/s.

9.5.7.2 Modelagem Matemática do rio Bacajá

A modelagem matemática do rio Bacajá teve o objetivo de caracterizar a inundação e a


formação de habitats nas margens para uma avaliação de seu comprometimento quando da
redução de vazões na calha do rio Xingu.

Como não existe levantamento de seções no rio Bacajá, o estudo baseou-se na restituição
1:25.000 para avaliar o comportamento do remanso do rio Xingu nesse afluente. Para este
cálculo utilizou-se o fundo do rio Xingu medido na seção7 próxima à foz desse afluente. Na
seção da Cachoeira a 1,5 km da foz considerou-se o fundo na cota 72m (cota do NA para uma
vazão de estiagem no Xingu Q~1.000 m3/s), ou seja a cachoeira aflora nas estiagens.

Além das duas seções mencionadas, foram selecionadas preferencialmente seções ao longo do
rio Bacajá, onde na restituição havia indicação de NA (Nível d’água). O trecho representado
ao longo do curso d’água foi de cerca de 82 km. Para determinar as seções batimétricas no
Bacajá foi considerado que com o nível d’água na cota 77 m na foz do rio Xingu, obtém-se
uma vazão de 13.000 m3/s nesse rio, o que corresponde às vazões que ocorrem no período de
maio a julho. Transferindo isso para o rio Bacajá, tem-se uma vazão da ordem de 600 m3/s.
Partindo do princípio que essa vazão escoa pelo leito menor do rio Bacajá, delimitado na

6365-EIA-G91-001b 248 Leme Engenharia Ltda.


restituição 1:25.000, estimou-se uma profundidade média desse afluente da ordem de 3,5m,
valor este adotado nas seções.

Estudos de correlações de vazões e de análises de hidrogramas de vazões do rio Xingu e do


rio Bacajá foram feitos para se identificar, na série histórica, como as vazões do Bacajá se
comportavam em relação às vazões do Xingu. As conclusões apresentadas são que para uma
mesma vazão no Xingu as vazões no Bacajá variam fortemente. Por exemplo, para a cheia
média anual do Xingu de 23.414 m3/s, ocorreram no Bacajá vazões de 400 m3/s a 1.400 m3/s.

Foram considerados 3 cenários para se verificar os efeitos do Xingu no rio Bacajá,


escolhendo-se vazões prováveis no Bacajá em três dos seis meses mais chuvosos. Para fixar
as vazões no Xingu foram analisados os hidrogramas constantes do Apêndice 7.7.2-12
apresentado no Diagnóstico dos Recursos Hídricos. Com base nesta análise definiram-se
combinações prováveis de vazão nos dois rios. As combinações de vazões no Xingu e Bacajá
escolhidas são:

• Cenário 1 - Bacajá - vazão de 1.465 m3/s (max. média mensal de março). As vazões no rio
Xingu foram fixadas em 1.500 m3/s (Alternativa I da ELB), 2.500 m3/s (Alternativa II da
ELB), 4.000 m3/s, 7.851 m3/s ( MLT) e 23.414 m3/s (Cheia média anual).

• Cenário 2 - Bacajá - vazão de 840 m3/s (média mensal de abril). Verifica-se que para essa
vazão no Bacajá as vazões no rio Xingu podem variar dentro de amplo espectro. Fixou-se,
portanto, as vazões no rio Xingu em 2.000 m3/s, 4.000 m3/s, 7.851 m3/s ( MLT) e 23.414
m3/s (Cheia média anual).

• Cenário 3 - Bacajá - vazão de 40 m3/s (mínima média mensal de maio). Conforme se


constata na Figura 2.4.40, praticamente não ocorrem vazões concomitantes no Xingu
acima de 8.000 m3/s. Desta forma, as vazões no rio Xingu foram fixadas em 1.300 m3/s
(Alternativa I da ELB), 1.800 m3/s (Alternativa II da ELB), 4.000 m3/s e 7.851 m3/s
(MLT).

Destaca-se que o modelo usado nesse afluente não foi calibrado pela ausência de dados de
campo, utilizando-se de parâmetros da bibliografia como referência. Os GRÁFICO 9.5-8,
GRÁFICO 9.5-9 e GRÁFICO 9.5-10 mostram o comportamento do Xingu e Bacajá para os
três cenários avaliados em trecho de até 60 km da foz.

A análise dos GRÁFICO 9.5-8, GRÁFICO 9.5-9 e GRÁFICO 9.5-10 permitem concluir
que :

• Para a vazão de 1.465 m3/s no Bacajá a influencia do Xingu se manifesta em um


trecho da ordem de 15 a 20 km da foz quando esse rio está com vazões da ordem de
23.414m3/s e para vazões menores, de 7.851 m3/s, 4.000 m3/s e 1.500 m3/s as
interferências ficam limitadas a 7 km da foz;

• No caso de cheias médias no Bacajá (840 m3/s) observa-se que, a partir de 25 km da


foz, não se tem influência no rio Bacajá decorrente da Cheia Média Anual no rio
Xingu e para vazões menores, de 7.851 m3/s, 4.000 m3/s e 2.000 m3/s, as linhas d água
se confundem a partir do km 10.

6365-EIA-G91-001b 249 Leme Engenharia Ltda.


• Com vazão baixa no rio Bacajá (40 m3/s) – mínima média mensal de maio, observa-se
que para as vazões de 7.851 m3/s, 4.000 m3/s e 1.800 m3/s no rio Xingu, as influências
desse no Bacajá se manifestam respectivamente até cerca de 25 km, 10 km, e 2,5 km
da foz. Para a vazão de 1.300 m3/s a influencia do Xingu fica limitada a um trecho
próximo a foz.

FUNDO Qxingu = 1500 m³/s Qxingu = 2500 m³/s Qxingu = 4000 m³/s Qxingu = 7851 m³/s Qxingu = 23414 m³/s

87
86
85
84
83
82
81
80
79
78
77
76 E
75
74 F

73 1
2
72
3
71 4
5A
70
5B
69 5
68
45000 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0

GRÁFICO 9.5-8 - Cenário 1 (março). - rio Bacajá - Vazão de 1.465 m3/s

FUNDO Qxingu = 2000 m³/s Qxingu = 4000 m³/s Qxingu = 7851 m³/s Qxingu = 23414 m³/s

87
86
85
84
83
82
81
80
79
78
77
76 E
75
74 F

73 1
2
72
3
71 4
5A
70
5B
69 5
68
45000 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0

3
GRÁFICO 9.5-9 - Cenário 2 (abril). - rio Bacajá - Vazão de 840 m /s

6365-EIA-G91-001b 250 Leme Engenharia Ltda.


FUNDO Qxingu = 1300 m³/s Qxingu = 1800 m³/s Qxingu = 4000 m³/s Qxingu = 7851 m³/s

82

81

80
D
79

78

77
E
76

75
F
74
1
73 2

72 3
4
71
5A
70
5B
69
5
68
60000 55000 50000 45000 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0

GRÁFICO 9.5-10 - Cenário 3 (maio). - rio Bacajá. Vazão de 40 m3/s

9.5.7.3 Modelagem Matemática dos Igrapés Ituna, Itatá e Bacajaí

Para avaliar a influência dos níveis d’água do rio Xingu nos rios Ituna, Itatá e Bacajaí, foram
utilizados os níveis d’água obtidos nos cálculos de remanso do trecho da Volta Grande.

Para este cálculo determinou-se as seções a partir da cartografia 1:25.000, inferindo-se a cota
do fundo do rio pela seção mais próxima a foz e a partir de níveis d’água, curvas de nível e
pontos cotados da cartografia, considerando que o leito menor do rio seria capaz de escoar as
cheias normais destes rios, definiu-se as seções.

Seguindo os mesmos procedimentos adotados para a escolha dos cenários do rio Bacajá,
elaborou-se cenários de combinação de vazões de cheias, médias e de estiagem no rio Xingu
nos corpos hídricos em pauta.

Eleitos os cenários de cálculo, a partir dos níveis d`água calculados nos estudos de
modelagem do rio Xingu no TVR, para as várias vazões de interesse, foram efetuados os
cálculos de remanso desse afluentes e estabelecida a influência do Xingu em cada um dos
afluentes considerados.

A partir de análise inicial constatou-se que a foz do Ituna encontra-se acima dos níveis d’água
máximos anuais do rio Xingu, razão pela qual foi necessário estudar em detalhes somente os
rios Itatá e Bacajaí, coletando-se elementos suficientes do Ituna para comprovar que níveis
freqüentes do rio Xingu não afetam os níveis d’água deste afluente, consideração que deve ser
reavaliada quando for feito um levantamento em campo das seções topobatimétricas desses
afluentes.

Foram definidos 3 cenários para se verificar os efeitos do Xingu nos igarapés Itatá e Bacajaí
considerando: ocorrência de vazões média mensal de março; vazão média mensal de abril e
vazão mínima média mensal de maio conforme apresentado no QUADRO 9.5-10.
6365-EIA-G91-001b 251 Leme Engenharia Ltda.
QUADRO 9.5-10
Resultados da Influência do rio Xingu nos Afluentes

Vazões
afluentes Vazões Xingu (m3/s)
(m3/s)
Itatá 23.414 7.851 4.000 2.500 2.000 1.800 1.500
95 2 km 1 km n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre
51 2,5 km 1,2 km n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre
2 - 1,5 km 1,2 km 1 km 1 km 1 km 1 km
Bacajaí 23.414 7.851 4.000 2.500 2.000 1.800 1.500
136 10 km 2 km n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre n ocorre
72 15 km 5 km 3 km 3 km 3 km 3 km 3 km
3 - 9 km 7 km 5 km 5 km 5 km 5 km
Os cenários de vazões muito baixas nos igarapés Itatá (2m3/s) e Bacajaí (3m3/s) com vazões
de cheia no rio Xingu (23.414m3/s) não foram avaliados por não se constituírem em um
cenário factível.

9.5.8 Informações Obtidas nos Levantamentos de Campo

Ainda como forma de se identificar o comportamento do rio Xingu para diversas vazões,
foram realizadas duas vistorias de campo na região do TVR a fim de se observar e registrar,
através de fotografias e levantamento de coordenadas, os ambientes inundados em diferentes
vazões do rio Xingu. Os pontos plotados na FIGURA 9.5-43 são aqueles aos quais se faz
referência neste texto.

As vistorias ocorreram em épocas de vazões de 7.000 m3/s, nos dias 12 e 13 de junho de 2008,
e de vazão de 3.500 m3/s, nos dias 4, 5, 6 e 7 de julho do mesmo ano.

Como metodologia de observação da existência de determinados habitats associados a vazões,


foi percorrido todo o trecho do rio Xingu entre a foz dos igarapés Galhoso e Di Maria até a
foz do rio Bacajá. Os afluentes Bacajá, Itatá, Ituna e Bacajaí também foram objeto de vistoria,
percorrendo-os até o limite de sua navegabilidade, quando da inspeção realizada de 4 a 7 de
agosto de 2008. O percurso seguiu, preferencialmente, as margens do rio e aquelas de ilhas, já
que o principal objeto dos levantamentos era identificar possíveis áreas alagadas. Com o nível
d’água mais baixo, principalmente na segunda vistoria, as áreas próximas às margens estavam
pouco profundas, o que conduziu a navegação pela calha principal.

Foram objeto de observação ilhas com partes inundadas, ilhas e margens que estiveram
inundadas recentemente e secaram com a redução natural da vazão, pedrais, locais com
exposição de areia e planícies aluviais. Algumas áreas também foram vistoriadas por terra
como, por exemplo, o interior das ilhas, buscando identificar locais onde havia acúmulos de
água sem conexão com o rio. Para vazões por volta de 7.000 m3/s, foram encontradas
algumas áreas de ilhas com água e os pedrais completamente submersos (FIGURA 9.5-44).
As margens do rio Xingu apresentavam marcas de água recente (FIGURA 9.5-45), mas não
foi encontrada nenhuma inundação de margem, o que ratifica a informação da modelagem
matemática que mostra inundações de margem somente para vazões de cheias (23.414m3/s).
Planícies inundadas em proporções maiores foram encontradas nos afluentes, conforme
FIGURA 9.5-46.
6365-EIA-G91-001b 252 Leme Engenharia Ltda.
FIGURA 9.5-43 – Inspeção de Campo no Trecho de Vazão Reduzida do Rio Xingu

6365-EIA-G91-001b Leme Engenharia Ltda. 253


FIGURA 9.5-44 - Pedrais submersos na vazão de 7.000 m3/s (ponto 469, setor Ressaca/Ilha
da Fazenda)

FIGURA 9.5-45 - Marcas de níveis d’água em palmeiras, próximo ao Reservatório dos


Canais (ponto no setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 7.000 m3/s)

6365-EIA-G91-001b 254 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-46 - Planície inundada no rio Bacajá na vazão de 7.000 m3/s (ponto 474)

Na segunda vistoria, a presença de ilhas com partes inundadas não foi muito comum, sendo
normalmente observada a região de pedrais com vegetação e areia, ou bordas de ilhas
alagadas (FIGURA 9.5-47). Devido à densidade da vegetação, em alguns pontos não foi
possível determinar até onde a água avançava em direção ao interior da ilha, mas em pontos
onde esta verificação foi possível, pode-se inferir que para vazões da ordem de 3.500 m3/s a
água penetra entre 0,5 a 2 m sob a vegetação de algumas ilhas. Quanto às margens, o processo
se repetiu quando da primeira vistoria, somente com maior intensidade (FIGURA 9.5-48).

FIGURA 9.5-47- Área de borda de ilha com água avançando sob a vegetação, em direção ao
interior da ilha (ponto 439, setor São Pedro, vazão de 3.500 m3/s)

6365-EIA-G91-001b 255 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-48 - Margem esquerda do rio Xingu, área não alagada (ponto 042, setor São
Pedro, vazão de 3.500 m3/s)

A partir da vistoria por terra, em alguns pontos foi possível verificar a presença de água no
interior de certas ilhas, entretanto o que se observou muitas vezes foram canais secos
(FIGURA 9.5-49) e, quando havia acúmulos de água, estes eram pequenos, pouco profundos
e não conectados com o canal do rio (FIGURA 9.5-50). Foi verificado em um local
(FIGURA 9.5-51) avanço da água do rio sob a vegetação formando um lago também pequeno
e pouco profundo, porém neste caso ele ainda estava conectado com o rio. O solo ainda úmido
e o relevo relativamente plano entre as margens da ilha e o interior desses canais foi uma
evidência de que com vazões maiores essas áreas são alagadas (FIGURA 9.5-52).

FIGURA 9.5-49 - Canal seco em ilha - segundo barqueiro é um canal de piracema (ponto
186, Setor São Pedro, vazão de 3.500 m3/s)

6365-EIA-G91-001b 256 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-50 - Área em ilha com acúmulos de água, pouco profundos e não conectados
com o canal do rio (ponto 173, setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de
3.500 m3/s)

FIGURA 9.5-51 - Área alagada no interior de uma ilha. palmeiras ao fundo (p) estavam nas
margens da ilha; ainda havia conexão com o canal do rio (ponto 182, setor
Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 3.500 m3/s)
6365-EIA-G91-001b 257 Leme Engenharia Ltda.
s
s s

FIGURA 9.5-52 - Solo bastante úmido (s), em ilha, indicando secagem recente (ponto 182,
setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 3.500 m3/s)

A FIGURA 9.5-53 (ponto 021) ilustra um local no interior de uma ilha identificado por
pescadores como local de piracema, onde foram encontrados alguns peixes e ariranhas.
Durante o percurso pela ilha verificou-se a presença de pequenos acúmulos de água e áreas de
canal com solo bem úmido predominando sobre áreas de solo seco, evidenciando secagem
recente.

FIGURA 9.5-53- Lagoa no interior da ilha, profunda e não conectada com o canal do rio na
vazão de 3.500 m3/s (entre pontos 021 e 022, setor São Pedro)

Comparando a ocorrência de áreas com exposição de pedrais e de areia entre as duas vistorias,
percebeu-se que a exposição desses locais foi bem maior na vazão mais baixa, chegando
inclusive a dificultar a navegação, sendo criadas corredeiras.

6365-EIA-G91-001b 258 Leme Engenharia Ltda.


As diferentes tipologias vegetais presentes nos pedrais foram registradas conforme FIGURA
9.5-54, FIGURA 9.5-55, FIGURA 9.5-56 e FIGURA 9.5-57. As podostemáceas foram
encontradas na cachoeira do Landi (FIGURA 9.5-58).

FIGURA 9.5-54 - Área de pedrais com areia, em ilha, ainda com pequenos acúmulos de
água, não conectados com o rio (ponto 188, setor São Pedro, vazão de
3500m3/s)

FIGURA 9.5-55 - Área de pedrais e areia (ponto 033, setor Paquiçamba, vazão de 3500m3/s)

6365-EIA-G91-001b 259 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-56 - Área de pedrais no rio Xingu onde, devido a menores vazões, formam-se
corredeiras (ponto 040, setor Paquiçamba, vazão de 3.500 m3/s)

FIGURA 9.5-57 - Vegetação arbustiva em área de pedrais no rio Xingu (ponto 479, setor
Paquiçamba, vazão de 3, 500m3/s)

6365-EIA-G91-001b 260 Leme Engenharia Ltda.


FIGURA 9.5-58 - Podostemáceas em corredeiras no rio Xingu - cachoeira do Landi (ponto
164, setor Ressaca/Ilha da Fazenda, vazão de 3. 500m3/s)

Nos afluentes visitados (Bacajá, Bacajaí, Ituna e Itatá) a presença de água alagando as
margens foi mais comum do que no rio Xingu. A navegação foi mais fácil no rio Bacajá,
devido aos maiores volume de água e profundidades da lâmina d´água. Neste rio, chegou-se a
percorrer uma distância aproximada de 10 km até o ponto 077. Nos igarapés Ituna e Bacajaí e
no igarapé Itatá, a distância máxima percorrida foi de aproximadamente 5 km, até os pontos
133, 156 e 114, respectivamente.

A navegação em frente à TI Paquiçamba foi também objeto de avaliação. Com a vazão de


3.500m3/s no rio Xingu, percorreu-se com facilidade esse trecho, apesar de que em alguns
pontos a velocidade teve que ser bastante reduzida devido à pequena profundidade da lâmina
d´água. O caminho percorrido passou pelos pontos 450, 105, 045, 046, 047, 106, 107, 048,
049, 451, 050, 051, 052 (já próximo à margem direita).

6365-EIA-G91-001b 261 Leme Engenharia Ltda.


9.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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