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2009.1
Monografia apresentada ao
Departamento de Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio) para a obtenção do
Título de Bacharel em Direito.
2009.1
DEDICATÓRIA
INTRODUÇÃO .............................................................................. 08
CAPÍTULO 1
O PODER
1.1. O poder para Michel Foucault ......................................... 10
1.2. Genealogia Foucaultiana ................................................. 11
1.3. A normalização – disciplina ............................................. 14
CAPÍTULO 2
A LOUCURA
2.1. A formulação da loucura.................................................. 22
2.2. O poder psiquiátrico e o internamento ............................ 23
CAPÍTULO 3
CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE DIREITO E LITERATURA
3.1. Literatura como forma interpretativa................................ 29
3.2. Law and Literature Moviment .......................................... 30
CAPÍTULO 4
MICHEL FOUCAULT E “O ALIENISTA”
4.1. A estória de “O Alienista” de Machado de Assis ............ 34
4.2. O poder de Foucault em “O Alienista” ............................ 38
4.3. A loucura foucaultiana na obra literária .......................... 43
4.4. Poder e loucura como questão jurídica na obra de
Machado de Assis..........................................................45
CONCLUSÃO................................................................................ 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 50
INTRODUÇÃO
1
FONSECA, Márcio Alves Da. Michel Foucault e o Direito. 1ª ed. São Paulo: Editora Max Limonad,
2002. p. 19-20. (Doravante, FONSECA. Michel Foucault e o Direito).
9
O PODER
2
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. 35.
Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 161. (Doravante, FOUCAULT. Vigiar e Punir).
3
Hobbes engendrou uma teoria segundo a qual o Estado originou-se do contrato firmado entre os
indivíduos enquanto estes se encontravam no estado de natureza. Esta postura faz com que o
filósofo seja enquadrado como contratualista, categoria em que são também incluídos Locke e
Rousseau. (SANTOS, Marília Andrade Dos. O Leviatã. Disponível em
<br.monografias.com/trabalhos/o-leviata>. Acesso em 01 de junho de 2009.)
11
4
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976);
tradução de Maria Ermínia Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 31. (Doravante,
FOUCAULT. Em defesa da sociedade).
5
MAIA, Antônio C. Sobre a analítica do poder de Foucault. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, São
Paulo, 7(1-2): 83-103, outubro de 1995. p. 88.
6
FOUCAULT. Em defesa da sociedade. Op.cit., p. 35.
12
7
DUARTE, André. Foucault no século 21. CULT - Revista Brasileira de Cultura. Abril. Ano 12.
São Paulo, 2009. p. 46. (Doravante, DUARTE. Foucault no século 21)
8
POGREBINSCHI, Thamy. Foucault, para além do poder disciplinar e do biopoder. Revista Lua
Nova. nº63. São Paulo, 2004. p. 199. (Doravante, POGREBINSCHI. Foucault, para além do poder
disciplinar e do biopoder)
9
DUARTE. Foucault no século 21. Op. cit., p. 46.
10
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas; tradução de Roberto Cabral de Melo
Machado e Eduardo Jardim Morais. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2002. p. 51. (Doravante,
FOUCAULT. A verdade e as formas jurídicas)
11
FONSECA. Michel Foucault e o Direito. Op. cit., p. 100-101.
13
14
POGREBINSCHI. Foucault, para além do poder disciplinar e do biopoder. Op. cit., p. 197.
15
FOUCAULT. Vigiar e Punir. Op. cit., p. 118.
16
Ibid. p. 143.
17
Ibid. p. 120.
15
21
FOUCAULT, Michel. O poder psiquiátrico: curso no Collège de France (1973-1974); tradução
de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 84. (Doravante, FOUCAULT. O poder
psiquiátrico).
22
FOUCAULT. Vigiar e Punir. Op. cit., p. 123.
23
Idem.
24
Idem.
17
25
FOUCAULT. Vigiar e Punir. Op. cit., p. 167.
26
Ibid. p. 125.
18
27
FOUCAULT. Vigiar e Punir. Op. cit., p. 126-127.
28
Ibid. p. 127.
29
Ibid. p. 127-132.
19
Por tudo isso, pode-se constatar que o poder disciplinar tem como
função maior adestrar para retirar e se apropriar cada vez mais e melhor dos
corpos dos indivíduos, procurando ligar suas forças e multiplicá-las num
30
Ibid. p. 130.
31
Idem.
32
Ibid. p. 131.
20
33
Ibid. p. 148.
34
Ibid. p. 149.
35
FONSECA. Michel Foucault e o Direito. Op. cit., p. 178.
36
FOUCAULT. Vigiar e Punir. Op. cit., p. 154.
21
37
FONSECA. Michel Foucault e o Direito. Op. cit., p. 179.
CAPÍTULO II
A LOUCURA
38
Doença mental e psicologia Foucault. Disponível em <www.frb.br/ciente/textos>. Acesso em 11
de maio de 2009. Sobre o autor, restou infrutíferas as tentativas de encontrá-lo. (Doravante,
Doença mental e psicologia Foucault).
23
39
Doença mental e psicologia Foucault.
40
FONSECA. Michel Foucault e o Direito. Op. cit., p. 66.
41
FOUCAULT. O poder psiquiátrico. Op. cit., p. 11.
24
42
FOUCAULT. O poder psiquiátrico.
43
Ibid. p. 15.
25
44
Ibid. p. 21.
45
FONSECA. Michel Foucault e o Direito. Op. cit., p. 68.
26
48
Ibid. p. 323.
49
Ibid. p. 322.
28
50
Doença mental e psicologia Foucault
CAPÍTULO III
51
Hans Kelsen constituiu uma ciência do direito livre de toda ideologia e intervenção extrajurídica,
que se concretizou na elaboração de sua teoria pura do direito. (SZYMAŃSKI, Julian. Tópicos
principais de Hans Kelsen. Disponível em
<www.geocities.com/direito_etc/topicos_especiais/faculdade/3_periodo/filosofia_geral_juridica/h
ans_kelsen.htm>. Acesso em 01 de junho de 2009.
30
52
SCHWARTZ, Germano. Direito e Literatura: proposições iniciais para uma observação de
segundo grau do sistema jurídico. Disponível em
<www.almeidadacostaeschwartz.adv.br/artigos/DireitoeLiteratura>. Acesso em 11 de maio de
2009. (Doravante, SCHWARTZ. Direito e Literatura).
53
Idem.
54
Como é exemplo, O Processo, de Kafka; O crime e o castigo, de Dostoievski; até mesmo O
mercador de Veneza, de Shakespeare.
55
“John Henry Wigmore é conhecido entre os estudioso do direito norte-americano como
especialista em assuntos relativos às provas judiciais (evidence). Desenvolveu método próprio, que
consiste em pormenorizado roteiro analítico, que a literatura especializada nomina de Wigmore
Chart. Seu livro mais conhecido Treatise on the Anglo-American System of Evidence in Trials at
Common Law, publicado em 1904, pontificou na prática jurídica norte-americana, até meados do
século XX”. Definição de Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy em Direito e Literatura. Os pais
fundadores: John Henry Wigmore, Benjamin Nathan Cardozo e Lon Fuller, disponível em
<www.buscalegis.ufsc.br/revistas>.
56
Benjamin Nathan Cardozo nasceu em 1870 e faleceu em 1938. De ascendência judaico-
sefardita,Cardozo foi juiz em Nova Iorque e posteriormente ocupou uma vaga na Suprema Corte
em Washington. Estudou direito em Columbia e depois estagiou no escritório de seu pai. O pai foi
31
juiz em Nova Iorque, e ao que parece foi afastado por suspeita de corrupção. Albert Cardozo, logo
após o nascimento de Benjamin, renunciou o cargo de juiz para evitar um processo de
impeachment; manteve, no entanto, a prerrogativa para advogar, profissão que exerceu com
razoável sucesso. É copiosa a literatura especializada que investiga a luta de Benjamin Cardozo
para afastar de si a sombra de desconfiança que havia em relação a seu pai. Definição de Arnaldo
Sampaio de Moraes Godoy em Direito e Literatura. Os pais fundadores: John Henry Wigmore,
Benjamin Nathan Cardozo e Lon Fuller, disponível em <www.buscalegis.ufsc.br/revistas>.
57
JUNQUEIRA, Eliane Botelho. Literatura e Direito: uma outra leitura do mundo das leis. 1ª ed.
Rio de Janeiro: Letra Capital, 1998. p. 22. (Doravante, JUNQUEIRA. Literatura e Direito).
58
OLIVO, Luis Carlos Cancellier De. O estudo do Direito através da literatura. 1ª ed. Tubarão:
Editoria Studium, 2005. p. 21.
59
PRADO, Daniel Nicory Do. Aloysio de Carvalho Filho: Pioneiro nos estudos sobre “Direito e
Literatura” no Brasil. Disponível em
<www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/salvador/daniel_nicory_do_prado.pdf>. Acesso em 11
de maio de 2009.
32
robustos, sãos e inteligentes” 63. Dr. Bacamarte gozava apenas das alegrias
reservadas a quem sobrevive num mundo relativo, onde nada é absoluto.
Não procurou beleza ou simpatia em sua esposa para não correr o “risco de
preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar
da consorte” 64.
Porém, Dona Evarista não lhe deu filhos, razão pela qual terminou
ali a dinastia dos Bacamartes, tendo curado suas mágoas na própria ciência,
que para ele tinha esse inefável dom. A partir de então, Dr. Simão
Bacamarte passou a se dedicar inteiramente à prática da medicina, lhe
chamando atenção o exame da patologia cerebral.
Também chamado de alienista, por dedicar-se ao cuidado dos
alienados, nosso médico percebeu que em Itaguaí não havia quem
explorasse a saúde psíquica dos cidadãos. Os loucos viviam soltos ou
trancados em alcovas se furiosos. Foi aí que Simão Bacamarte pediu licença
à vereança para tratar desses loucos num lugar específico a ser construído.
Tendo a licença concedida, em pouco tempo a casa estava pronta. Chamada
de Casa Verde, por conta da cor de suas várias janelas, teve sua inauguração
digna de imensa pompa e logo começou a receber os loucos de todas as
vilas e arraiais vizinhos inclusive.
Dedicando todo seu tempo ao asilo, na qualificação de seus
enfermos, no estudo de suas rotinas, hábitos, costumes, sempre anotando
suas observações, Dr. Bacamarte tinha ocupado todo o seu dia. Se não
estava trabalhando, estava pensando e concluindo suas descobertas. Vendo
isto, Dona Evarista sentiu-se só e abandonada, razão pela qual, ele a
mandou ao Rio de Janeiro para consolar-se. Este foi o espaço que ganhou
para ampliar sua área de estudo.
Recolhendo à Casa Verde, o Costa, a prima do Costa, o Mateus,
Martim Brito, José Borges do Couto Leme, Chico das cambraias, o escrivão
63
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. O Alienista. Porto Alegre: L&PM, 1998. p. 14.
(Doravante, MACHADO DE ASSIS. O Alienista).
64
Idem.
36
amizade que tinha com o Dr. Bacamarte; e sua esposa Dona Evarista por
haver se vislumbrado demais com a vida de luxo que agora vivia.
Fato é que após todo esse alvoroço, o alienista oficiara à Câmara
dizendo que a verdadeira doutrina não era aquela que ele aplicara até o
momento, mas a oposta. A hipótese patológica agora era atribuída ao
equilíbrio ininterrupto das faculdades mentais do sujeito. Estes sim seriam
agora trancafiados na Casa Verde para serem tratados. A proposta foi aceita
pela Câmara, que regulamentou tal exercício pelo período de um ano a fim
de que a nova teoria fosse experimentada, mandando fechar a Casa Verde
se assim fosse necessário para manter a ordem pública. Dr. Bacamarte,
tendo aceitado essas limitações, começou seu novo estudo a fim de
confirmar sua teoria, recolhendo, então, para pesquisas aqueles de
pensamento sensato e equilibrado.
Realizando curas, o alienista conseguiu com que todos fossem
liberados do internamento, fato que o intrigou. Concluiu que os cérebros
que acabara de curar eram tão desequilibrados como os outros, não
havendo, portanto, loucos em Itaguaí. Partindo de sua última teoria,
descobriu que ele mesmo guardava as características do perfeito equilíbrio
mental e moral, razão pela qual era ele quem guarnecia de cura. A partir
dessa convicção científica, entregou-se a cura de si mesmo e na Casa Verde
viveu pouco mais de dezessete meses, onde teve fim sua sagaz busca pela
verdade da loucura, sem nada haver alcançado.
Toda essa narrativa está ligada aos impasses das concepções
científicas do século XIX, sendo possível observar uma crítica às verdades
epistemológicas, aos paradigmas petrificados e até mesmo ao positivismo
em si65. Isso pode ser observado na própria figura do Dr. Bacamarte, que
voltando todas as suas pesquisas à descoberta da causa do fenômeno da
65
GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Direito e Literatura: “O Alienista” e a revolta dos
canjicas. Disponível em < jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9972>. Acesso em 02 de junho
de 2009.
38
entre a razão e a insânia, logo, não havia quem detivesse o poder para tanto.
Os loucos viviam soltos, sem nenhum tratamento especial. Não havia
naquela vila quem tratasse e tentasse curar as patologias cerebrais:
67
MACHADO DE ASSIS. O Alienista. Op. cit., p. 15.
40
68
FOUCAULT. O poder psiquiátrico. Op. cit., p. 322-323.
69
MACHADO DE ASSIS. O Alienista. Op. cit., p. 15.
70
Ibid. p. 17,
71
Ibid. p. 18.
41
72
FOUCAULT. O poder psiquiátrico. Op. cit., p. 323.
73
MACHADO DE ASSIS. O Alienista. Op. cit., p. 22-23.
42
“(...) que desse exame e do fato estatístico resultara para ele a convicção
de que a verdadeira doutrina não era aquela, mas a oposta, e portanto que
se devia admitir como normal e exemplar o desequilíbrio das faculdades, e
como hipóteses patológicas todos os casos em que aquele equilíbrio fosse
ininterrupto.” 76
74
GOMES, Roberto. O Alienista: loucura, poder e verdade. Disponível em
<www.geocities.com/sociedadecultura/alienistaloucura>. Acesso em 10 de março de 2009.
(Doravante GOMES. O Alienista: loucura, poder e verdade).
75
MACHADO DE ASSIS. O Alienista. Op. cit., p. 31.
76
Ibid. p. 72.
43
“Machado quer, isso sim, puxar o tapete sobre o qual repousa todo esse
delírio, revelando seu fundamento: o próprio empreendimento
77
FOUCAULT. Vigiar e Punir. Op. cit., p. 153.
78
GOMES. O Alienista: loucura, poder e verdade.
79
Doença mental e psicologia Foucault.
80
GOMES. O Alienista: loucura, poder e verdade.
44
81
Idem.
82
FOUCAULT. O poder psiquiátrico.
45
sanidade e posição das pessoas num mundo de loucos. Faz ainda um alerta
para a condição humana, visto que é vítima perene de insegurança e
fragilizada por não ver seus direitos respeitados. Além disso, “O Alienista”
também acaba por ser uma análise sobre a luta pelo poder, justificada pelas
próprias autoridades locais por verem na figura do alienista tamanho saber,
razão que legitimava o seu poder na pequena vila de Itaguaí.
Vale frisar que o texto literário vem permeado de queixas à evidência
científica e às verdades doutrinadas que muitas vezes constituem a
metodologia jurídica de hoje. O vínculo existente entre o poder e a ciência,
pautada em temas às vezes inquestionáveis, acaba por inibir o direito que
cada um tem de dizer a própria verdade. A isso é que se quer combater, a
fim de deixar o Direito cada vez mais disponível a pensamentos e
conclusões provenientes de outros campos do conhecimento, como neste
caso é a Literatura.
Por fim, apenas como arremate, segue um comentário dedicado à
análise de “O Alienista”:
fonte de saber, mas que seja palco de variados espetáculos com desfechos
significativos que tragam novos questionamentos e relativizações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS