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Um mundo mais confortavél, seguro e sustentável

Coordenação: Rita Bragatto. MTb: 22.306. E-mail: phoco.mkt@gmail.com


Produção Gráfica: Alex Bragatto. E-mail: alexbragatto@gmail.com
Capa: The Ideias. E-mail: ideias@theideias.com.br
Revisão: Marcela Rossetto. MTb: 22.305.
Apoio: Fábio Trigo, José Wilson Ranieri Júnior e Renata Lopes.

Endereço para contato com o autor, Daniel de Carvalho Luz:


Avenida Independência, 2.757.
CEP 18087-101
Sorocaba – SP – Brasil
E-mail: daniel.luz@jci.com
ÍNDICE

AGRADECIMENTOS........................................................................ 9
PREFÁCIO....................................................................................... 11
ESCLARECIMENTO.......................................................................... 13
1. O QUE VOCÊ BUSCA?................................................................. 17
2. IRRITAÇÕES ................................................................................ 21
3. AMIGOS: RISCOS E RECOMPENSAS ........................................... 25
4. VOCÊ PODERIA SIMPLESMENTE ME OUVIR?............................. 29
5. A INVEJA .................................................................................... 33
6. A MÃE E O SÁBIO....................................................................... 37
7. ESTABELECENDO METAS............................................................ 41
8. O MELHOR PRESENTE................................................................ 45
9. A TRISTEZA QUE É UM LIVRO NÃO LIDO.................................... 51
10. VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO.......................................................... 55
11. OPORTUNIDADE SOB SEUS PÉS................................................. 59
12. TRABALHANDO COM ALGUÉM DE QUEM VOCÊ NÃO GOSTA... 63
13. QUEM ESTÁ AVALIANDO A EXCELÊNCIA QUE HÁ EM VOCÊ?..... 69
14. CUIDADO COM O QUE VOCÊ DIZ!.............................................. 73
15. DÊ-ME ÂNIMO........................................................................... 77
16. UMA QUESTÃO DE FOCALIZAÇÃO.............................................. 81
17. O TURNO DA NOITE................................................................... 87
18. FAÇA PERGUNTAS...................................................................... 91
19. SÃO JORGE E O DRAGÃO........................................................... 97
20. MORDA A LÍNGUA!.................................................................... 103
21. FÊNIX......................................................................................... 107
22. RECOMEÇAR É QUESTÃO DE ATITUDE....................................... 111
23. O VOO DA MAMANGABA.......................................................... 115
24. O PODER DE UM SONHO........................................................... 119
25. DETERMINAÇÃO........................................................................ 123
26. VIVA A PLENITUDE DO SEU POTENCIAL..................................... 127
27. SEJA UM FINALIZADOR.............................................................. 133
28. PROCRASTINAÇÃO..................................................................... 137
29. QUINZE MINUTOS DE GLÓRIA.................................................... 141
30. 525.600....................................................................................... 145
31. SAINDO DO ATOLEIRO................................................................ 149
32. CRESCIMENTO É MUDANÇA....................................................... 153
33. CEDA E SEJA A MUDANÇA.......................................................... 157
34. O LADO BOM DA ADVERSIDADE................................................. 161
35. ALGUMAS PESSOAS TÊM OLHOS, MAS NÃO VEEM.................... 165
36. DO FATALISMO PARA A ESPERANÇA........................................... 169
37. POR QUE DEVEMOS SAIR DA ZONA DE CONFORTO?................. 173
38. ASSUMINDO RISCOS E ROMPENDO BARREIRAS........................ 177
39. CONSTRUINDO O FUTURO......................................................... 181
40. FAZENDO DIFERENÇA................................................................. 185
41. OBSTINADO SIM, TEIMOSO NÃO!.............................................. 191
42. O ERRO É UM ASPECTO BÁSICO DO SUCESSO............................ 195
43. ASA QUEBRADA.......................................................................... 199
44. AVALIE-SE COM REALISMO......................................................... 203
45. ESTABELECENDO METAS EM SETE PASSOS................................. 207
46. POR FAVOR, NÃO TÃO SÉRIO!..................................................... 211
47. HÁ VAGAS................................................................................... 215
AGRADECIMENTOS

Ninguém escreve um livro sozinho. Foi o que aconteceu com estas pá-
ginas.
Embora subscritas por mim, elas não veriam à luz do dia sem a contri-
buição e a participação de um elevado número de pessoas.
Devo uma singular palavra de gratidão à diretoria da Johnson Controls
– Divisão de Baterias e, em particular, a Carlos Zaim, diretor-geral para
América do Sul, pelo grande apoio e oportunidade de fazer parte de
sua competente equipe. Também não poderia deixar de mencionar a
equipe de marketing, pelo excelente trabalho de definição da capa e
na escolha dos textos.
A vocês, sou muito grato.

Daniel de Carvalho Luz


Outubro de 2010

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 9


PREFÁCIO

Conheci meu colega e amigo Daniel por meio dos negócios com bate-
rias automobilísticas. Estas, para se recarregarem, contam com o bom
funcionamento de outros componentes do sistema de carga e partida
dos veículos.

Já a bateria humana, tão necessária para que enfrentemos os desafios


de nossas vidas, não tem esse privilégio. Encontrar motivação para re-
carregar a própria bateria é trabalho pessoal e intransferível.

E, como o próprio Daniel sempre nos lembra, a verdadeira motivação


flui do interior de cada um de nós.

Entretanto, é reconfortador saber que, para essa tarefa, podemos nos


apoiar no incansável trabalho de pesquisa do Daniel, garimpando ca-
sos e passagens, lapidando esse material bruto, palavra por palavra,
em histórias e reflexões.

Daniel não nos exime de nossa responsabilidade. Ao contrário, ele a


torna mais grave, inspirando-nos com seus textos para que possamos
buscar nossas verdades e nossa energia.

E a melhor forma de eu lidar com a responsabilidade de escrever este


prefácio é concluí-lo de imediato, deixando o caro leitor à vontade para
desfrutar das palavras do mestre.

Fábio Trigo

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 11


ESCLARECIMENTO

Em 2009, o meu primeiro livro, Insight, completou dez anos. Durante


estes dez anos foram muitos leitores que escreveram sobre a impor-
tância deste livro em suas vidas, foram muitos leitores agradecendo e
dizendo frases generosas tais como: “o Insight mudou minha vida”. Isto
naturalmente deixa qualquer autor honrado, feliz e motivado a conti-
nuar escrevendo. É exatamente assim que me sinto. Muito obrigado.
Mas entendo que o que muda uma vida não é uma simples leitura de
um livro. Este ato contribui de maneira ínfima se comparado com a
atitude, a disposição e a vontade de crescer.
Crescer!
O crescimento entendido como um processo permanente de desen-
volvimento e aprimoramento do pleno potencial para UMA VIDA ME-
LHOR.
Entretanto, é comum fazer-se perguntas a respeito do crescimento:
como crescer ou melhorar? Em quais dimensões da vida devo buscar
melhoria e crescimento? Na profissional, na intelectual, na física na
psicoemocional, na espiritual?
A resposta para ir direto ao ponto pode ser encontrada na analogia
com o “bonsai”. Delicada e de beleza inigualável, a arte do “bonsai”,
pacientemente cultivada pelos japoneses, resulta em uma árvore adul-
ta contida em um pequeno vaso, para ser admirada pela pessoa em
sua sala de estar. O crescimento limitado do vegetal é determinado
por um tratamento detalhado, sendo o espaço de enraizamento o mais
importante dos cuidados. O “bonsai” é pequeno, porque o espaço físi-
co para o crescimento é limitado. Nele, a árvore amadurece, mas não
cresce como seria normal se plantada em amplo terreno.
Crescer é soltar as amarras (a vontade), decidir-se por um ponto a ser
alcançado (o objetivo), acelerar os motores e manter firme o curso...
para vencer!
Equivocadamente, muitas pessoas descuidam do seu crescimento em
todas as dimensões da vida pessoal, incluindo aspectos de sua saúde
física e psicoemocional, detalhes da vida espiritual, familiar e profissio-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 13


nal. Tornam-se, com efeito, vítima da própria imprudência e lamentam
a falta de sorte e oportunidades, quando preteridos nas oportunida-
des que a vida oferece ou quando os reveses lhe pegam completamen-
te distraídos e despreparados.
É voz corrente na sabedoria popular que “para os fracassos, temos jus-
tificativas e para o sucesso, temos histórias!” Algumas delas contadas
neste livro, que espero que possa contribuir para despertá-lo para a
ação na busca de seu crescimento, sucesso e conquista de uma VIDA
MELHOR. Que este livro recarregue suas baterias.

Daniel de Carvalho Luz

14
“Quando se busca o cume da montanha, não
se dá importância às pedras do caminho.”
Provérbio Oriental
O QUE VOCÊ BUSCA?

“Minha primeira visão direta do Titanic durou menos do que


dois minutos; contudo, a imagem total de seu imenso casco,
projetando-se a partir do fundo do mar permaneceu
para sempre em minha vida. Agora finalmente,
encerrava-se a busca.
Robert D. Ballard, “Uma última longa
olhada no Titanic”, Geografic National, Dez. 1986

A frase é de Robert Ballard, após descobrir o casco fantasmagórico


do Titanic deitado em seu berço soIitário a mais de três mil metros,
no fundo do Atlântico Norte. Durante mais de setenta e cinco anos
o grandioso navio revestiu-se de celebridade e lenda. Ei-lo de casco
mergulhado em décadas de sedimentos. O convés imundo e retorcido.
Embora ainda impressione, graças as suas dimensões, o toque de ele-
gância desapareceu. Já não é mais o gracioso barco que deslizou, cheio
de pompa, em sua primeira viagem, no início de abril de 1912. Apenas
cinco dias após o começo de sua jornada romântica, a cidadela nave-
gante foi aprisionada e afundada por um iceberg insensível, cruel, que
a aguardava a quase 600 quilômetros a sudeste da Terra Nova.

O resto constitui história trágica bem conhecida. O navio jaz silencioso


e solitário, derramando lágrimas de ferrugem, não apenas por si mes-
mo, porém mais ainda pelas 1.522 vidas que ele arrastou consigo.

Até que uma luz estroboscópica lhe penetrasse o túmulo espantoso e


lamacento, em 1º de setembro de 1985, ninguém sabia com certeza
sua localização. Naquele dia memorável, o homem que havia amado
demais esse navio e, portanto não podia esquecê-lo, que havia vivido
os últimos treze anos “dominado” pela “angustiosa busca desse bar-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 17


co”, obteve sua primeira visão do transatlântico. Até que ponto esse
homem estava fascinado pela aparência da nave? O suficiente para
bater 53.500 fotos dela. O suficiente para esquadrinhar cada metro
quadrado daquela figura gigantesca... quase trezentos metros de com-
primento, trinta de largura e 46.328 toneladas. O suficiente para res-
peitar-lhe a privacidade e deixá-lo como o encontrou, sem perturbá-lo
e inexplorado, visto que todas as tarefas propostas estavam executa-
das. Foi como Ballard escreveu ao final de sua última visita: “... a busca
do Titanic acabou. Que ele descanse em paz.” Missão cumprida.

Em diversas ocasiões, o explorador usou a mesma palavra a fim de des-


crever seu sonho de toda a vida: “busca”. Uma busca e uma espécie de
perseguição, uma procura intensa. Alguns dicionários adicionam uma
dimensão colorida à definição: “... um empreendimento intrépido de
romance medieval, usualmente viagens cheias de aventuras.” É prová-
vel que isto fizesse Robert Ballard sorrir. De maneira bem estranha sua
jornada plena de aventuras constitui, na verdade, um romance com
um navio muito mais idoso do que ele.

O que você busca? Você alimenta um “sonho de toda a vida?” Há algu-


ma coisa “dominando sua vida” a ponto de captar e manter sua aten-
ção durante treze anos ou mais? Qual é a “jornada plena de aventas”
de que você gostaria de participar? Que descoberta você gostaria de
realizar?... Que empreendimento você imagina em segredo? Se não
houver uma busca, a vida se reduz rapidamente a uma nódoa escura,
mancha escura, ou dieta monótona demais para arrancar a pessoa da
cama de manhã. A busca alimenta nosso fogo. Impede que fiquemos
boiando torrente abaixo, apanhando escombros. Mantém nossa men-
te engrenada, incita-nos a progredir. Todos nós estamos rodeados pe-
los resultados da busca encetada por alguém, os quais nos trouxeram
benefícios. Permita-me mencionar aIguns nomes:

Sobre minha cabeça há uma brilhante lâmpada elétrica. Obrigado, Edi-


son.

Sobre meu nariz tenho um par de óculos que me permite enxergar

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bem. Obrigado, Franklin.

Em minha garagem há um carro pronto para me conduzir a qualquer


lugar para onde eu dirigir. Obrigado, Ford.

Pelas prateleiras de minha biblioteca espalham-se livros cheios de coi-


sas interessantes, de pesquisas cuidadosamente conduzidas. Obriga-
do, autores.

Ideias, memórias, pensamentos estimulantes, habilidades criativas e


perícias relampejam por minha mente. Bem embrulhados nas dobras
de minha vida estão a disciplina e a determinação, a recusa terminan-
temente de desistir quando a situação se torna difícil, um amor pela
liberdade existente em nosso país, um respeito pela autoridade. Obri-
gado, professores.

Eu poderia prosseguir nesta lista até a página seguinte. Você também.


Só porque algumas pessoas dedicaram-se a sonhar, a perseguir seus
sonhos, a acompanhá-los e completar sua busca, nossas vidas torna-
ram-se mais confortáveis, mais estáveis. Isto é suficiente para me in-
centivar a prosseguir, se não servir para mais nada.
E você? Sonha escrever um artigo ou um livro? Escreva-o! Você está
tentando descobrir se todo esse trabalho no trato das crianças vale a
pena? Claro que vale a pena! Continue! Gostaria de voltar para a uni-
versidade e concluir aquele curso? Volte, vá estudar!... Pague o preço,
ainda que isso leve anos!

Diferente do homem que encerrou a sua busca de localizar o Titanic,


prossiga. Não desista!

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“As tempestades fazem os carvalhos
aprofundarem suas raízes.”
George Herbert
IRRITAÇÕES

“Se não gosta de alguma coisa, mude-a.


Se não puder mudá-la, mude sua atitude. Não reclame.”
Maya Angelou

Agarrado no sedimento arenoso, onde o rio desembocava no ocea-


no, Lippe, o molusco, abriu gentilmente a sua concha, a fim de sugar
água do mar, exatamente como vinha fazendo durante toda a sua vida.
Dessa vez, entretanto, a água que corria pelo seu sistema de filtragem
deixou um incômodo grão de areia em seu corpo. Ele não o conseguia
deslocar. Nada que ele fizesse seria capaz de eliminar aquela partícula
de sílica posta em seu corpo. Apesar de o grão de areia não lhe amea-
çar a vida, era deveras irritante. O dia do molusco ficou absolutamente
arruinado.

Dois dias depois, ficou óbvio que aquele grão de areia tinha-se aloja-
do ali, para ficar. Ficara encravado entre a carne mole da ostra e sua
concha. O menor movimento de Lippe era suficiente para acentuar a
irritação: mais ou menos como uma pedrinha dentro do sapato cria
uma dor crescente à medida que se anda.

Todavia, ostras e seres humanos enfrentam irritações, reagindo de ma-


neira bastante diferente. Podemos tirar o sapato e retirar a pedrinha;
a ostra não pode desfazer-se de sua concha, a fim de extrair o grão de
areia. Por isso mesmo, o Criador proveu a ostra de uma secreção espe-
cial, cujo nome é nacre. Mais ou menos como uma aranha pode expelir

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 21


material para armar a sua teia, a ostra pode secretar o nacre, em redor
do fator de irritação, a fim de abrandar o incômodo.

Dotado de um instinto, dado pelo Criador, Lippe formou um cisto


protetor, em redor da substância estranha, e foi revestindo sistema-
ticamente o grão de areia com sua secreção. Isso embotou as ares-
tas cortantes do grão. Mesmo assim, o fragmento de sílica continuava
exercendo pressão contra a carne da ostra. Lippe, então, liberou maior
quantidade de secreção, envolvendo o grão de areia com uma segunda
camada de nacre. Os meses arrastavam-se e se tornaram anos, mas a
irritação não se ia. Embora agora o nacre tivesse formado uma prote-
ção arredondada e lisa, e não lhe cortasse mais a carne, formara-se
uma excrescência interna de tal volume que o molusco sentia como se
alguém estivesse pressionando um dedo em seu lado.

Lippe sentia-se derrotado. Apesar de todo o seu duro trabalho, o fator


de irritação havia aumentado de volume.

Ele estava certo de que aquela imensa excrescência o havia tornado


um fenômeno anormal. “Ninguém, jamais, haverá de me querer”,
lamuriava-se. Quando o apanhador de ostras lançou a sua caçapa e
retirou Lippe de sua incrustação, no sedimento do fundo do mar, não
ofereceu resistência. O senso de depressão havia substituído o deleite
da vida. E ele costumava pensar: “Haveria algo pior do que esses últi-
mos sete anos de sofrimento?”

Na manhã seguinte, o preparador das ostras cortou o músculo, que


mantinha juntas as duas metades da concha, e deixou a ostra escorre-
gar para dentro de uma tigela. A cozinha explodiu com um grito de ex-
citação: “Vejam só o que eu encontrei! É a maior pérola que já vi. Vale
uma fortuna!” A maneira como aquela ostra havia trabalhado a causa
de sua dor tornara-se fonte de prazer e alegria para outrem.

A pérola é a única gema formada por um organismo vivo, razão pela


qual também é a mais frágil de todas as gemas. As pérolas são riscadas
com facilidade e começam a dissolver-se quando entram em contato

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com algum ácido. Outras gemas resultam de sedimentação ou de car-
bono sujeitos a tremendo calor e pressão, nas entranhas da terra. Ape-
sar de todas as gemas terem muito valor comercial, uma pérola grande
e perfeita, que se desenvolveu no interior de uma ostra sem qualquer
manipulação humana, pode chegar a um preço mais elevado do que
um diamante perfeitamente lapidado.

Nem todas as ostras produzem pérolas: menos de dez por cento delas
são produtivas. Usualmente, conseguem livrar-se dos grãos de areia
que se alojam em seus sistemas. E, mesmo quando não conseguem
desvencilhar-se de algum fator de irritação, algumas ajustam-se à dor.
Por semelhante modo, nem todos suportam bem as aflições e os pro-
blemas; mas aqueles que conseguem resistir à severidade dos testes
têm uma rica oportunidade de produzir uma pérola.

Os sofrimentos podem produzir mágoas e tristezas ou pérolas de ex-


traordinário valor.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 23


“Daqui a cinco anos você estará bem próximo de
ser a mesma pessoa que é hoje, exceto
por duas coisas: os livros que ler e as
pessoas de quem se aproximar.”
Charles Jones
AMIGOS: RISCOS E RECOMPENSAS

“Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo


sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a
quantidade e, na desgraça, a qualidade.”
Confúcio

Você tem um amigo íntimo? Não estou falando apenas de alguém a


quem você convida para almoçar, mas, sim, de um amigo genuinamen-
te íntimo, um amigo do tipo que você tinha na faculdade ou no cole-
gial. O tipo de amigo com quem você conversa a respeito de toda e
qualquer coisa. O tipo de amigo que apenas ria quando você dizia algo
realmente idiota. O tipo de amigo com quem você podia ficar à vonta-
de. O tipo de amigo que você sabia que estaria por perto se você pre-
cisasse de alguém com quem conversar ou se estivesse em verdadeiro
apuro ou se estivesse sofrendo.

O que aconteceu com esse tipo de amigo? Por que os homens não de-
senvolvem amizades adultas com essas mesmas qualidades de trans-
parências e vulnerabilidades das amizades da nossa juventude?

Nosso mundo é um lugar muito estranho, onde nunca se pode agradar


a todos ao mesmo tempo. Nós, os homens, mantemo-nos distanciados
uns dos outros só para provar que somos fortes, individualistas, e, no
entanto, todos sabemos que a maioria não é nada disso. Mas se qui-
sermos ter uma amizade adulta com outro homem, os outros poderão
pensar que somos homossexuais. Então, nos escondemos por trás de
uma máscara de “Machão”, adotando uma falsa regra de conduta, que

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poderia ser denominada “Os cinco mandamentos da masculinidade.”

• Homem não pode chorar;

• Não pode demonstrar fraqueza;

• Não precisa de afeição, nem de carinho, nem de calor humano;

• Pode consolar os outros, mas nunca precisará de consolo;

• Pode precisar dele, mas ele não precisará de ninguém.

Após arrancarmos as páginas do calendário dos dias escolares que pas-


saram, atacamos as tarefas de estabelecer uma carreira, escolher a fu-
tura companheira, iniciar uma família, construir uma vida e acumular
coisas. Durante essa fase de “construção” da vida, não dispomos de
muito tempo para os amigos – e a necessidade que sentimos não é tão
grande assim. Afinal, uma esposa recente e filhos satisfazem muitas
das nossas necessidades de relacionamento.

Mas à medida que o tempo marcha em frente surgem dificuldades que


precisam ser compartilhadas com pessoas com os mesmos problemas,
a mesma experiência de vida. Percebemos a necessidade de termos
amigos, amigos genuínos, mas amizades adultas são difíceis de come-
çar e mais difíceis ainda de manter.

A maioria dos homens tem um déficit de amizade, seus balancetes es-


tão vazios quando se trata de verdadeiros amigos. A maioria dos ho-
mens não sabe como fazer nascer um amigo verdadeiro ou como ser
um.

Podemos estar cercados por muitos conhecidos, mas sem ter alguém
com quem realmente possamos conversar. Não temos ninguém com
quem possamos compartilhar os nossos sonhos e temores mais pro-
fundos. Não temos ninguém disposto a apenas ouvir, a apenas ser um
amigo e ouvir, e nem sempre oferecer uma solução rápida.

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Os amigos trazem riscos: rejeição, traição, vergonha, sentimentos ma-
goados. Mas os amigos valem o risco, se pudermos aprender como
encontrá-los.

Desculpe, quantos amigos você tem mesmo?

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 27


“Mesmo que esteja muito ocupado, deve
sempre arranjar tempo para fazer
alguém se sentir importante.”
Dr. René Spitz
VOCÊ PODERIA SIMPLESMENTE ME OUVIR?

“Ouvir não é apenas escutar passivamente.


É uma experiência ativa, em que você
presta verdadeira atenção àquilo que
outra pessoa está dizendo.”
Cecil Osborne

Quando lhe peço que me ouça e você começa a me dar conselhos,


então não está fazendo o que lhe pedi.

Quando lhe peço que me ouça e você começa a dar palpites, está pi-
sando nos meus sentimentos.

Quando lhe peço que me ouça e você acha que precisa tomar alguma
providência para resolver o meu problema, então falhou para comigo,
por mais estranho que isso possa parecer.

Ouça-me! Tudo que lhe pedi foi que você me desse ouvidos, e não que
falasse ou agisse, mas simplesmente que me ouvisse.

Conselhos não custam caro; com alguns trocados consegue-se opinião


de colunistas renomados na teleopinião.

Posso agir por mim mesmo – não sou indefeso; talvez esteja desenco-
rajado e fraquejando, mas não indefeso.

Quando você faz algo por mim que posso e preciso fazer por mim mes-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 29


mo, está contribuindo para aumentar o meu temor e a minha inutili-
dade.

Mas quando você aceitar, como um simples fato, que sinto aquilo que
sinto, não importa o quanto seja irracional, então posso parar de ten-
tar convencê-lo e prosseguir com esta tarefa de compreender o que
está por trás deste sentimento irracional. Quando isto se tornar claro,
as respostas serão obtidas e eu não precisarei de conselhos.
Sentimentos irracionais fazem mais sentido, quando percebemos o
que está por trás deles.

Então, por favor, preste atenção e simplesmente ouça o que tenho a


dizer.

E, se quiser falar, espere, por um momento, a sua vez, e eu lhe darei


ouvidos.

Você conhece a história do ouvido humano que causou uma guerra?

Pois é verdade. Houve uma vez em que um único ouvido humano cau-
sou um conflito internacional. Era o ouvido de um comandante de na-
vio inglês, de nome Jenkins, e do qual os espanhóis tinham as piores
referências possíveis. Dizia-se que o capitão Jenkins não primava pela
honestidade. Para falar claro, o que corria é que o homem era um pira-
ta. Como era hábito, na época, o capitão Jenkins foi preso e condena-
do. A pena foi a de sempre: “Cortem a orelha dele!”

Cumprida a sentença, Jenkins, indignadíssimo com a perda da orelha,


partiu com o que sobrava de seu corpo de volta à Inglaterra, e foi se
queixar ao rei.

Os ingleses, que estavam “por aqui” com os espanhóis, loucos de von-


tade de encontrar um bom motivo para declarar uma boa guerra, não
perderam tempo: declararam A Guerra da Orelha de Jenkins.

Parece incrível, mas não é. Acredite! O que interessa neste momento,

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porém, é outra coisa. O que quero saber é se há, por aí, alguma guerra
a ponto de explodir única e exclusivamente por culpa de sua orelha.

A resposta, na verdade, interessa muito mais a você que a mim. De


qualquer modo, mesmo que sua orelha não esteja pondo em risco a
segurança de ninguém, nem a sua própria, nem a de nenhuma nação
soberana, será útil que você responda, a você mesmo, mais uma per-
gunta:

– Será que minha orelha é mesmo uma boa orelha?

O que quero saber é como você reage quando, no meio de uma con-
versa, na qual você está se empenhando muito em ajudar alguém, este
alguém interrompe o seu discurso e diz que você vá meter o bedelho
na vida de outro, que “você não tem nada a ver com a minha vida!” O
que é que você ouve? Ouve uma ameaça a sua autoridade? Ou ouve
uma espécie de soluço, de gemido, uma voz que lhe pede por favor,
que intimida por debaixo das palavras que pronuncia? Ou grita ou
berra qualquer coisa como: “Estou só assustado, estou envergonhado
pelo que fiz, estou com medo do que você possa fazer! E se você me
abandonar agora, aí, sim, eu estou perdido!”

Se você é daqueles que a cada “Vá meter o bedelho na vida do outro!”


ouve uma ameaça à sua autoridade, lamento, mas não há dúvidas de
que sua orelha esta à beira de causar uma Terceira Guerra Mundial,
mesmo que apenas dentro de sua casa ou de seu departamento.

Mas se você pertence ao outro grupo, ao grupo de homens e mulheres


capazes de ouvir o seu próximo, fique tranquilo que sua audição está
perfeita e você não corre risco algum de acabar sem orelha, como o
capitão Jenkins. E a paz mundial está garantida.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 31


“A inveja é um veneno que se alastra pela alma
adentro, exterminando as virtudes como o caráter,
a personalidade, e a criatividade, ao mesmo
tempo em que faz brotar os males como a
incompetência, a mediocridade e o ciúme.”
Ivan Teorilang
A INVEJA

“A inveja fornece a lama que o


fracasso atira contra o sucesso.”
D. C. Luz

“Conta-se que, um dia, um avarento e um invejoso foram à presen-


ça do deus Júpiter para lhe fazer pedidos. O deus Júpiter, percebendo
logo as fraquezas dos dois, resolveu dar-lhes uma lição, e disse:

– Darei a vocês aquilo que me pedirem, porém Ihes aviso, darei em


dobro para seus vizinhos.

O avarento prontamente pediu ao deus Júpiter que Ihe desse uma sala
repleta de ouro. Assim foi realizado o seu desejo, e ao vizinho foi dado
em dobro. O avarento não ficou muito contente quando viu que seu
vizinho havia ganho duas salas de ouro, porém conformou-se e foi em-
bora.

O invejoso, que a tudo observava, quando lhe coube fazer o pedido,


disse:
– Deus Júpiter, gostaria de Ihe pedir que furasse meu olho direito.
Foi realizado o seu desejo e o seu vizinho teve os dois olhos furados.”
(Fábula de Esopo)

Há pessoas que, em vez de olharem para os progressos, sucessos, coi-


sas e fatos positivos de sua própria vida, ficam o tempo todo prestan-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 33


do atenção e “vivendo” as outras pessoas, querendo para si o que as
outras têm, querendo ser o que as outras são, querendo viver o que as
outras pessoas vivem. São pessoas que fazem da “inveja” o seu padrão
de relacionamento humano. Não conseguem viver a própria vida e
com isso atraem para si o descaso e o desdém dos normais. São dignos
de pena, pois jamais conseguirão livrar-se de suas próprias amarras,
que as levam ao fracasso.

Pode parecer antigo falar de “inveja”. Mas a verdade é que esse é um


mal que ataca certas pessoas e as faz não só atrapalhar a sua vida como
ajuda a infelicitar a comemoração e a vida dos outros.

E como se comporta o invejoso ou invejosa? É simples. Ele ou ela fala


mal de tudo e de todos por todos os motivos. Se você faz muito é
porque quer “aparecer”. Se você não comparece, é porque não quer
participar. Se você fala, é ruim. Se você fica quieto, é pior. Não há como
agradar ou contentar pessoas que não estejam felizes consigo próprias
e que vivem concentradas na vida alheia, no sucesso alheio. Essas pes-
soas não compreendem que quanto mais invejam pior lhes é a própria
vida, pois que terão sempre a dimensão de seus fracassos pelo sucesso
dos outros.

O invejoso não consegue a necessária paz para empreender, para ser


proativo, para realizar coisas certas em benefício de sua empresa, das
pessoas, de seus subordinados, de seus superiores. Ele está sempre
“alerta”, vendo, estudando, observando o que os outros estão falando,
o que os outros estão fazendo, o que os outros estão ganhando, o que
os outros estão sentindo. Nessa obsessão de “viver a vida alheia”, o
invejoso perde a si mesmo e não sabe mais do que é capaz de pensar,
realizar ou sentir.

Essas pessoas precisam de ajuda. Aconselhe. Faça-as ver que, da forma


como vivem e veem o mundo, nunca serão felizes.

Mostre-lhes que a dimensão da felicidade e do sucesso está em fazer


mais do que os outros esperam que façamos, em sermos “credores”

34
e que no relacionamento humano e social a inveja impede o sucesso.
Leve-as a ver seus próprios pontos positivos, suas virtudes e suas pos-
sibilidades de vencer pelos próprios méritos. A pessoa invejosa é uma
pessoa doente que não suporta a si mesma, não suporta sua imagem
e somente consegue se olhar através do espelho do sucesso alheio.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 35


“O coração de uma mãe é um abismo profundo
em cujo fundo você sempre encontra perdão.”
Honoré de Balzac
A MÃE E O SÁBIO

“Deus não pode estar em todos os


lugares, por isso criou as mães.”
Roberto Duailibi, Phrase Book

Conta a história que, um dia, uma mulher foi ter com um velho sábio.
Em seus olhos brilhantes de lágrimas, pode o ancião vislumbrar a tris-
teza; e nos seus lábios sorridentes, descobriu a felicidade.

Disse-lhe a mulher: “Senhor, hoje, o meu filho casou-se e partiu. E ve-


nho buscar na vossa sabedoria consolo para a minha tristeza.”

Perguntou o sábio: “Estarás, acaso, realmente triste? O sorriso em teus


lábios nega o pranto dos teus olhos. E, assim como a chuva é o oposto
do sol e, juntos, criaram o arco-íris, a tristeza e a felicidade que se jun-
tam em teu coração fazem brilhar o teu rosto.

E isto acontece porque sabes que, em verdade, o teu filho não partiu.
Pois um homem sempre estará onde estiverem as suas lembranças, e
que lembrança mais forte pode existir que a de uma mãe extremada?

Para onde voltará ele os seus pensamentos, quando em busca de con-


solo, se não para a lembrança de teus braços?

Entretanto, não podes deter a marcha do tempo; como não te é pos-


sível encarar o vento. Por isso, o teu filho deve seguir. Pois, se não o

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 37


fizer, como ele conhecerá outra mulher e torná-la-á, também, mãe?
Como poderia o amor sobreviver, se estivesse encerrado apenas em
duas pessoas?”

Disse, então, a mulher: “Senhor, agradeço a vossa bondade e a sabe-


doria das vossas palavras.

Mas eis que o meu coração se debate entre a alegria de ver meu filho
preparado para vida, e a tristeza de vê-lo partir. E como pode alguém
encontrar na alegria a razão da própria tristeza? Serei acaso, louca?”

Sorriu o sábio: “– Não. É mãe.”

38
“Para mim, metas são o meu mapa para a vida que
eu quero. Elas têm me ajudado a realizar coisas
que uma vez pensei que eram impossíveis.”
Catherine Pulsifer
ESTABELECENDO METAS

“Os grandes espíritos têm metas.


Os outros, apenas desejos.”
Washington Irving

Havia um atleta que praticava a prova de “salto com vara” fazia vá-
rios anos. Experiente, seu sucesso era o resultado de exaustivos trei-
namentos, disciplina e muita motivação. Para cada série que dava, de
dez saltos, ele conseguia ultrapassar o sarrafo (o grande objetivo deste
esporte) em oito vezes, no mínimo, na altura do seu recorde.

Acostumado aos desafios, aceitou o convite para fazer uma série espe-
cial de dez saltos para uma pesquisa. Objetivo básico desta experiência
era avaliar sua capacidade em executar, repetidamente e com sucesso,
as técnicas do salto. Haveria, porém, uma pequena diferença: ele iria
fazer todos os movimentos completos de um salto, mas não existiria
nenhum sarrafo a ser ultrapassado no alto das barras, claro que sua
primeira reação foi a de estranhar a proposta, pois em toda sua vida
ele não tinha praticado o salto sem o sarrafo. Ficou refletindo como se-
ria estranho correr, saltar com toda a técnica e ultrapassar um sarrafo
imaginário.

Mesmo assim, o atleta executou o que estava combinado.

Indagado sobre a experiência, ele afirmou que não havia alterado nada
na sua técnica de salto. Mas o que ele não sabia é que os estudiosos

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 41


haviam instalado células fotoelétricas nas barras verticais, na mesma
altura de seu recorde. Com elas, os pesquisadores verificavam a cada
salto, se ele conseguia ultrapassar ou não a meta imaginária (que ele
não via).

Nos dez saltos, seu desempenho não foi dos melhores: o “sarrafo ele-
trônico” foi ultrapassado em apenas quatro vezes! (Bem abaixo do
normal.)

Para completar a pesquisa, solicitaram ao atleta que fizesse outra série


de dez saltos, desta vez com o sarrafo colocado na altura do seu recor-
de. Seu desempenho voltou a ser o mesmo de sempre.

Com esta simples história, podemos compreender o quanto o esta-


belecimento de metas é fundamental para o ser humano. Apesar de
ter repetido rigorosamente todos os movimentos do salto, o atleta de-
monstrou um desempenho aquém do normal, pois a sua META não
estava visível. Por mais que ele tivesse se esforçado em executar as
tarefas que normalmente realizava, o simples fato de não poder “visu-
alizar” a meta a ser atingida comprometeu seu desempenho.

Quando as pessoas não têm metas claras e possíveis a seguir, não de-
vemos esperar que alcancem necessariamente bons resultados. Um
líder estabelece as metas a serem seguidas, se possível, com a parti-
cipação dos seus liderados, e divulga-as para que todo o grupo possa
“dar o salto e vencer o sarrafo.”

42
“Ao meio-dia, um pobre velho entrava no templo
e, poucos minutos depois, saía. Um dia, o sacristão
perguntou-lhe o que vinha fazer, pois havia
objetos de valor no templo.
Venho orar, respondeu-lhe o velho.
Mas é estranho que você consiga orar tão
depressa, disse o sacristão.
Bem, retrucou o velho, eu não sei recitar aquelas
orações compridas. Mas, diariamente, ao meio-dia,
eu entro neste templo e só falo:
“Oi, Jesus, é o Zé!”
Em um minuto, estou de saída. É só uma
oraçãozinha, mas tenho certeza de que ele me ouve.
Alguns dias depois, o Zé sofreu um acidente e foi
internado num hospital. Na enfermaria, passou a
exercer uma grande influência sobre todos.
Os doentes mais tristes se tornaram alegres, e
muitas pessoas arrasadas passaram a ser ouvidas.
Disse-lhe um dia a irmã: os outros doentes
falam que foi você quem mudou tudo aqui
na enfermaria. Eles dizem que você
está sempre tão alegre...
É verdade, irmã, estou sempre alegre. É por causa
daquela visita que recebo todo dia, me trazendo
felicidade.
A irmã ficou atônita. Já notara que a cadeira
encostada na cama do Zé estava sempre vazia. Era
um velho solitário.
Que visita? A que horas?
Diariamente, ao meio-dia, respondeu o Zé, com um
brilho nos olhos. Ele vem, fica ao pé da cama.
Quando olho para ele, sorri e diz: “Oi, Zé, é o Jesus!”
Não importa o tamanho da tua oração, e sim
a comunhão que através dela temos com Deus.”
Autor desconhecido
O MELHOR PRESENTE

“... quando o fizestes a um destes meus


pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Jesus Cristo, Mateus 25:40

Frequentemente, nos vemos em dificuldade para saber que presen-


tes daremos a nossos amigos e queridos nas ocasiões especiais. Para
algumas pessoas (especialmente as que “têm tudo”), os presentes pa-
dronizados, comuns, são um tanto desprezíveis. Nada nas lojas chama
nossa atenção de modo especial.

Tenho uma sugestão. Pode não parecer caro, nem original, mas creia-
me, funciona sempre. Trata-se de um desses presentes que têm imen-
so valor, sem ostentar uma etiqueta de preço. Não pode ser perdido,
nem esquecido. Não há problemas com tamanhos, tampouco. Adapta-
se a todas as formas, idades e personalidades. Este presente ideal é...
você mesmo. Na sua busca pela excelência, não se esqueça do valor
do altruísmo.

É isso mesmo: dê um pouco de você mesmo para os outros.

Dê uma hora de seu tempo a alguém que precisa de você. Envie uma
nota de encorajamento a alguém que está desanimado. Faça um ato
de bondade a alguém obscuro e esquecido.

Teddy Stallard era excelente concorrente ao título de “esquecido”. Não

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 45


se interessava pela escola. Usava roupas velhas, amarfanhadas, nunca
penteava os cabelos. Era um desses meninos na escola que exibiam
uma face desconsolada, sem expressão, um olhar enevoado, sem foco
definido. Quando a professora, srta. Thompson, falava ao Teddy, ele
sempre respondia com monossílabos. Era um camaradinha distante,
destituído de graça, sem qualquer motivação, difícil de a gente gostar.
Embora a professora dissesse que gostava de todos da classe por igual,
bem lá dentro, ela não estava sendo muito verdadeira.

Sempre que ela corrigia as provas de Teddy, sentia certo prazer per-
verso em rabiscar um X ao lado das respostas erradas e, ao lascar um
zero no topo da folha, fazia-o com certo gosto. Ela tinha a obrigação
de conhecer melhor o Teddy; os dados do menino estavam com ela. A
professora sabia mais sobre ele do que gostaria de admitir. O currículo
do garoto era o seguinte:

1ª série – Teddy promete muito, quanto ao rendimento escolar e atitu-


des. Situação doméstica má.

2ª série – Teddy poderia melhorar. A mãe está muito doente. O menino


recebe pouca ajuda em casa.

3ª série – Teddy é um bom aluno, mas sério demais. Aprende devagar.


É lento. A mãe morreu neste ano.

4ª série – Teddy é lento mas tem bom comportamento. O pai é desin-


teressado de todo.

Chegou o dia dos professores. Meninos e meninas da classe da srta.


Thompson lhe trouxeram presentes. Empilharam os pacotinhos na
mesa da professora e rodearam-na, observando-a enquanto ia abrin-
do-os. Entre os presentes havia um, entregue por Teddy Stallard. Ela
ficou surpresa ao ver que ele havia trazido um presente. Mas trouxera
mesmo. O presente dele estava enrolado em papel pardo e fita co-
lante, no qual ele escrevera umas palavras simples: “Para senhorita
Thompson, do Teddy.” Quando ela abriu o pacote de Teddy, caiu sobre

46
a mesa um bracelete vistoso, feito de pedras semelhantes a cristais,
metade das quais já havia desaparecido, e um frasco de perfume ba-
rato.

Os meninos e meninas começaram a sufocar risadas, exibindo sorrisos


afetados, por causa dos presentes de Teddy. Contudo, a srta. Thomp-
son pelo menos teve bom senso suficiente para silenciá-los ao pôr no
pulso, imediatamente, o bracelete e um pouco de perfume. Colocan-
do o pulso à altura das narinas das crianças, para que cheirassem, ela
perguntou: “Não é delicioso esse perfume?” As crianças, seguindo a
pista deixada pela mestra, imediatamente concordaram com “uuu!” e
“ôôô!”

Terminada as aulas, após as crianças terem ido embora, Teddy demo-


rou-se, e foi ficando. Muito lentamente, ele aproximou-se da professo-
ra para lhe dizer:

– Senhorita Thompson... Senhorita Thompson!, a senhora tem o mes-


mo cheiro de minha mãe... e o bracelete dela ficou bonito na senhora
também. Fiquei contente porque a senhora gostou dos meus presen-
tes.

Depois que Teddy saiu, a senhorita Thompson chorou.

No dia seguinte, quando as crianças voltaram à escola, foram recepcio-


nadas por uma nova professora. Senhorita Thompson se tornara uma
pessoa diferente. Já não era a mesma. Passou a ajudar todas as crian-
ças, especialmente Teddy. Pelo fim daquele ano escolar, Teddy mos-
trava uma melhora dramática. Alcançara a maior parte dos alunos e
chegou a ficar à frente de alguns deles.

Senhorita Thompson não recebeu notícias de Teddy, durante longo


tempo. Então, um dia, entregaram-lhe uma carta:

“Querida srta. Thompson: Eu quis que a senhora fosse a primeira a


saber. Estou me formando em segundo lugar, em minha classe. Com

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 47


muito amor, Teddy Stallard.”

Quatro anos mais tarde, ela recebeu nova carta...


“Querida srta. Thompson:

Disseram-me há pouco, que sou o primeiro aluno da classe. Estou me


formando este ano. Quis que a senhora fosse a primeira a saber. A uni-
versidade não tem sido fácil, mas eu gosto.

Com muito amor, Teddy Stallard.”

Mais quatro anos depois...

“Querida srta. Thompson:

A partir de hoje, sou Theodore Stallard, doutor em Medicina. Que


acha? Eu quis que a senhora fosse a primeira a saber. Vou casar-me no
mês que vem, para ser exato, no dia 27. Quero que a senhora venha
e se sente onde minha mãe se sentaria se ela fosse viva. A senhora é
a única pessoa da família que tenho, agora. Meu pai morreu no ano
passado. Com muito amor, Teddy Stallard.”

A srta. Thompson foi àquele casamento e sentou-se onde a mãe de


Teddy teria sentado. Ela o mereceu. Havia feito pelo Teddy algo de que
ele jamais esqueceria.

Que é que você poderia dar como presente? Em vez de simplesmente


dar uma coisa, dê algo que sobreviva a você mesmo. Seja generoso.
Dê-se a si mesmo a algum Teddy Stallard, “um destes pequenos” a
quem você pode ajudar a tornar-se um dos grandes.

48
“Ler proporciona a toda pessoa – pobre, rico,
humilde, importante, a mesma oportunidade
de passar tantas horas quantas quiser na
companhia de homens e das mulheres mais
eminentes que o mundo já produziu.”
David O. McKay
A TRISTEZA QUE É UM LIVRO NÃO LIDO

“Abençoado seja Cadmus, o fenício, ou seja,


quem foi que inventou o livro.”
Thomas Caryle

Certa vez, eu estava dando uma olhada num sebo (livraria de livros
velhos), procurando, entre os volumes de segunda mão que ali esta-
vam, algum livro bom, um achado sempre muito agradável. Encontrei
uma biografia de Daniel Webster publicada por volta de 1940. Como
gosto de biografia, e aquele me parecia bastante interessante, resoIvi
levá-lo.

A capa do livro estava um tanto gasta, dando a impressão de que fora


lido muitas vezes. Comecei a imaginar que ele deveria ter sido uma es-
pécie de tesouro na biblioteca de alguma família. Era possível que eles
o tivessem emprestado a dezenas de conhecidos, e que esses leitores
também se tivessem deliciado com ele. Mas não! Quando comecei a
folhear o livro, percebi que as folhas dele não tinham sido bem apara-
das e muitas delas teriam que ser abertas com espátulas. Essas pági-
nas não cortadas eram uma prova clara de que o livro nunca fora lido.
Exteriormente, dava a impressão de ter sido muito manuseado, mas,
se o fora, tinha sido apenas para enfeitar uma estante ou para escorar
uma porta ou para uma criança pequena sentar sobre ele e alcançar a
mesa ao fazer as refeições. Aquele livro pode ter sido usado, mas cer-
tamente nunca fora lido.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 51


Quem não está se desenvolvendo intelectualmente é como um livro
cujas páginas ainda estão por cortar; não foram lidas. Pode até ter al-
guma utilidade, como era o caso daquele livro, mas teria muito mais
valor se procurasse desenvolver e aguçar sua mente.

Quando uma pessoa toma a firme deliberação de utilizar sua mente


com o propósito de crescer e se desenvolver, seu mundo interior ga-
nha uma nova ordem. Assim que se dispõe a assumir o que eu chamo
de disposição de crescer intelectualmente, seu intelecto que em mui-
tos indivíduos é um aspecto bem pouco desenvolvido ganha uma nova
vida, com novas perspectivas.

Uma das muitas maneiras de nos desenvolver e por meio da leitura.


Em nossa era, dominada pelos meios de comunicação de massa, os
mais jovens estão tendo grande dificuldade para adquirir a disciplina
da leitura, e essa talvez seja uma das maiores perdas de nosso tempo.
Não há nada que substitua o conhecimento que se obtém por meio da
leitura frequente.

Algumas pessoas não possuem mesmo um gosto natural pela leitura,


e nesse caso encontram mais dificuldade para ler. Mas até onde for
possível, devemos nos forçar um pouco para adquirirmos o hábito de
ler sistematicamente.

Eu gosto de estudar “temas empresariais”. É rara a ocasião em que não


estou lendo dois ou três relatos ao mesmo tempo.

Outros talvez prefiram livros de psicologia, teologia, história ou uma


obra de ficção. Mas todos nós precisamos estar sempre lendo um bom
livro ou mais de um, se possível. Quando converso com profissionais
que confessam estar encontrando dificuldades para exercer suas ati-
vidades com eficiência, muitas vezes pergunto: “Que livros você tem
lido ultimamente?” E é quase certo que, quando um profissional está
fracassando em seu trabalho, ele não conseguirá dizer o nome de um
livro que esteja lendo. E se ele não está lendo, é muito provável que
não esteja crescendo também. E se não está se desenvolvendo, pode

52
rapidamente tornar-se ineficiente.

No meu planejamento, separo um tempo mínimo de uma hora por


dia para ler. Já aprendi que sempre que lemos devemos ter um lápis à
mão, para marcar os trechos mais importantes! Criei também uma sé-
rie de sinais de códigos bastante simples, para me ajudar a lembrar de
pensamentos e citações interessantes que devem ser coletados para
aproveitamento futuro.

Sempre que estou lendo, vou anotando ideias e pensamentos que me


ocorrem e que, mais tarde, podem tornar-se a base de um tema para
reflexão ou insight. E muitas vezes ocorrem-me ideias que podem ser
úteis para algum conhecido. Então, geralmente, copio aquela citação
ou referência e envio para a pessoa em questão, como uma forma de
aconselhamento ou estímulo.

Quando leio um livro e sinto que ele me despertou muito, não só a


mente, mas também o coração, procuro adquirir todos os outros tra-
balhos daquele autor. Além disso, anoto a bibliografia, notas de rodapé
e outras informações, para ter o nome de livros que eu possa querer
consultar mais tarde.

Outra coisa que aprendi a fazer nesses últimos anos foi indagar das
pessoas que sei serem bons leitores: “O que você tem lido?” Gosto
muito quando alguém pode me fornecer uma meia dúzia de títulos, e
os coloco em minha lista de livros a serem lidos. É muito fácil identifi-
car, em um grupo de indivíduos, aqueles que leem. É que sempre que
alguém menciona um livro bom, os bons leitores logo pegam um papel
e anotam o título e o nome do autor.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 53


“Unir-se é um bom começo, manter a união é um
progresso, e trabalhar em conjunto é a vitória.”
Henry Ford
VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO

“A glória da amizade não é a mão estendida, nem o


sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia.
É a inspiração espiritual que vem quando você descobre
que alguém acredita e confia em você.“
Ralph Waldo Emerson

Às vezes eu sinto que estamos muito sós neste mundo, com a pesada
tarefa de ter de consertar tudo que está errado. Você, também, às ve-
zes, se sente impotente para melhorar sua vida, sua casa, sua cidade,
sua família, seu mundo, afinal de contas?

Se a sua história é parecida com a minha, vou lhe contar um incidente


bem simples que me fez mudar muito.

Certa vez, fui visitar um apiário (onde se criam abelhas). Era pleno verão
e eu, andando entre fileiras de casas de abelhas, ouvira um zumbido
regular e constante, como se fosse o mar batendo na praia, em ondas e
ondas. Perguntei que zumbido era aquele e o dono do sítio respondeu
que eram as abelhas-exaustores. Sim, senhor: abelhas-exaustores! Em
cada colmeia há um verdadeiro exército de abelhas cuja única razão de
existir está em limpar o ar que a comunidade de abelhas respira.

Conforme o tamanho da colmeia, podem ser milhares de abelhas, de


cabeça virada para dentro da colmeia, e com as asas batendo, em altís-
sima velocidade. Assim “puxam” para fora da colmeia o ar “usado” ao
mesmo tempo que “puxam” para dentro da colmeia o ar limpo. É as-
sim, pois, que cada colmeia dispõe de ar-condicionado: pelo trabalho

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 55


incansável destas benditas abelhas-exaustores.

E é também pelo seu trabalho que o mel das outras abelhas tem aque-
le perfume e gosto perfeitos.

E eu, cá com meus botões, imagino o que possa passar pela cabeça
de cada uma daquelas abelhas-exaustores... que ninguém dá atenção
a ela, que seu trabalho é inútil, afinal o que é que uma única pobre
abelha-exaustor pode fazer pelo ar de uma colmeia inteira de abelhas?

Uma pobre abelha... e eu, um todo-poderoso visitante de um sítio com


milhares de colmeias, cada colmeia com milhares de abelhas, feitas as
contas, somos muito parecidos. Nós dois, a abelha e eu, temos mo-
mentos de exaustão, de desânimo. Mas imediatamente nos aparece
uma ideia salvadora, que torna a pôr cada coisa no seu devido lugar.
Ninguém, sozinho, pode fazer coisa alguma. Mas, em compensação,
ninguém jamais está tão sozinho a ponto de não ter forças para nada.
Sempre, em qualquer condição, na colmeia, em casa, no trabalho, apa-
rece alguém disposto a bater as asas, ao nosso lado, no esforço de lim-
par o ar poluído deste mundo. Limpá-lo da poeira, do medo, da dúvida,
da falta de coragem, da falta de fé...

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“É praticamente uma lei na vida que quando uma
porta se fecha para nós, outra se abre.
A dificuldade está em que, frequentemente,
ficamos olhando com tanto pesar a porta
fechada que não vemos aquela que se abriu.”
Andrew Carnegie
OPORTUNIDADE SOB SEUS PÉS

“Algumas pessoas ficam esperando que a


oportunidade ponha abaixo a porta e entre.”
Anônimo

A mina de Golconda é aquela de onde veio o diamante Koh-i-Noor, que


faz parte das joias da coroa da Inglaterra, e de onde veio, também, o
diamante Orloff, que faz parte das joias da coroa da Rússia. A história
dessa mina se tornou famosa por meio do livro de Russell Conwell,
“Acres of Diamonds”.

Houve um homem chamado Ali Hafed, que vivia no belo país do Irã. Fa-
zendeiro, estava contente com sua situação. Sua fazenda era excelente
e rendosa. Tinha esposa e filhos. Criava carneiros, camelos e plantava
trigo. “Se um homem tem esposa, filhos, camelos, saúde e a paz de
Deus”, dizia ele, “é um homem rico!”

Ali Hafed continuou rico até que, certo dia, um sacerdote veio visitá-
lo e começou a falar em diamantes. E o sacerdote comentou: “Eles
cintilam como um milhão de sóis, na verdade, as coisas mais lindas do
mundo.”

De repente, Ali Hafed passou a sentir-se por demais descontente com


o que possuía. Perguntou ao sacerdote: “Onde se podem encontrar
esses diamantes? Preciso possuí-los.” O sacerdote respondeu: “Dizem
que é possível achá-los em qualquer parte do mundo. Procure um ria-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 59


cho de águas transparentes correndo sobre areia branca, em região
montanhosa, e ali você achará diamantes.”

Ali Hafed, então, tomou uma decisão: vendeu a fazenda, confiou es-
posa e filhos aos cuidados de um vizinho e se lançou em sua jornada à
procura de diamantes.

Viajou pela Palestina, depois ao longo do vale do Nilo, até que, afi-
nal, encontrou-se junto às colunas de Hércules, entrando a seguir na
Espanha. Ele procurava areias brancas, montanhas altas. Diamantes,
porém, não encontrou um só. Com o correr dos anos, um dia, chegou
ele à costa de Barcelona, na Espanha. Estava alquebrado, sem recursos
e sem condições de comunicar-se com a família. Num acesso de deses-
pero, profundamente deprimido, lançou-se ao mar e morreu.
Nesse ínterim, o homem que adquirira a fazenda de Ali Hafed achava
curiosa pedra negra, enquanto seu camelo se dessedentava num ria-
cho. Levou-a para casa, colocou-a sobre a cornija da lareira e esque-
ceu-se dela.

Um dia apareceu o sacerdote. Olhou acidentalmente para a pedra ne-


gra e notou um lampejo colorido brotando de um ponto de onde saíra
uma lasca. Disse ao hospedeiro: “Um diamante! Onde o achou?”

Contou-lhe o fazendeiro: “Encontrei-o nas frias areias do riacho de


águas claras onde levo meu camelo para beber.”

Juntos, arrebanhando as túnicas e correndo tão depressa quanto per-


mitiam as sandálias, dispararam rumo ao riacho. Açodadamente, esga-
ravataram e cavaram e acharam mais diamantes! Esse achado se trans-
formou na Mina de Diamantes Golconda – a maior mina do mundo!

A lição é clara. Os diamantes lá estavam o tempo todo, no quintal de


Ali Hafed. Só que ele não os vira. E, por isso, gastara a vida numa busca
inútil!l

Aprenda que, seja qual for a situação em que você se encontre, há

60
diamantes esperando ser encontrados e minados. Nesta semana, viver
será uma aventura empolgante se você puser em prática esta fé.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 61


“Geralmente os espíritos medíocres condenam
tudo o que está para além do seu alcance.”
La Rochefoucauld
TRABALHANDO COM ALGUÉM DE QUEM
VOCÊ NÃO GOSTA

“Jamais encontrei alguém


de quem não gostasse.”
Will Rogers

Poucas pessoas poderão dizer como Will Rogers. Mas se ele iria sentir
o mesmo, tendo de trabalhar quarenta e quatro horas por semana ao
lado de certas pessoas, é puramente especulativo, mas provavelmente
não teria dito o que disse.

A maioria de nós já se encontrou ou vai se encontrar em situações em


que devemos estar em contato permanente ou ocasional com pessoas
que nos irritam. Isto é normal. Afinal, imaginar que todas as pessoas
que encontramos vão gostar de nós é um tanto egoísta; exigir de nós
mesmos que gostemos de todos que encontramos é um tanto irracio-
nal. Podemos dar valor e respeitar a vida humana tão profundamente
que desejamos o melhor para todos que encontramos. Mas ter afini-
dade com todos é uma coisa irreal.

Os choques de personalidades, bem como as principais divergências


sobre valores, gostos, pontos de vistas e objetivos podem impedir que
desfrutemos da companhia dos outros. Dentro do curso normal da in-
teração social, isto geralmente não provoca uma crise grave. Trabalhar
em relacionamento íntimo com esse indivíduo, entretanto, amplia os
aspectos da diferença. Se acontecer de precisarmos da aprovação des-
sa pessoa, a luta geralmente será com nós mesmos; fazemos o que ela

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 63


espera ou quer, e ficamos ressentidos com nós mesmos por tê-lo feito.
Por outro lado, quanto menos nos importamos ou precisamos dessa
aprovação mais francos somos na expressão de nossas diferenças.

Essa pessoa pode ser nosso chefe, empregado ou um membro da co-


munidade que frequentamos. Mas eis que entramos em choque com
uma pessoa com a qual precisamos nos associar, pelo menos por al-
gum tempo. O que fazemos? O que você está fazendo?

1. É importante identificar a situação na qual estamos e examinar nos-


sas próprias reações e sentimentos para ver o que estamos fazendo
com ela. Talvez estejamos armazenando ressentimentos ou transferin-
do o assunto para alguém que nada tem a ver com o caso, como nosso
cônjuge ou filhos. Talvez estejamos fazendo observações indelicadas a
respeito da pessoa que nos irrita ou criticando-a diante dos outros. Ou
talvez sejamos indiferentes para com ela e nossa reação ao emocional
é como se ela não existisse. Seja o que for, precisamos saber o que
estamos fazendo.

2. Precisamos nos perguntar “Por quê?” Por que ela me irrita deste
modo? Será que me faz lembrar alguém que me prejudicou ou será
que constitui uma ameaça para mim, porque é tão parecida comigo
ou tão diferente? É um choque de personalidade, de valores, de alvos
ou de quê? Será que é uma ameaça porque sinto que ela não gosta de
mim ou será que ela pretende me desacreditar ou conseguir minha
posição?

3. Pergunte a si mesmo se não há um jeito melhor de tratar a situação.


Às vezes você pode precisar tomar tempo com a pessoa para discutir
seus sentimentos. Esta geralmente é a melhor coisa a fazer, a não ser
que a outra pessoa não dê oportunidade a qualquer tipo de comuni-
cação. Então, talvez seja preciso conversar com outra pessoa que saiba
guardar segredos e que possa ajudá-lo a resolver seus sentimentos e
capacitá-lo a criar um pouco de objetividade na situação.

4. Reconheça que vocês não precisam ser amigos do peito para traba-

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lharem juntos. Os relacionamentos talvez nunca cheguem a ser ideais,
mas vocês dois podem trabalhar completando-se, enquanto reconhe-
cem suas diferenças não resolvidas. A maioria das pessoas tem que
trabalhar neste nível.

No excelente musical de Rodgers e Hammerstein, O Rei e Eu, Ana, a


professora inglesa, chega ao Palácio do Rei de Sião. Seu trabalho é en-
sinar aos filhos do rei, uma tarefa difícil na melhor das hipóteses, e na
pior, impossível. Tudo é complicado para Ana: a cultura siamesa, as an-
tigas tradições e o papel de inferioridade da mulher. Ela tem também
que tratar com um Rei que não colabora em nada.

Em pouco tempo, porém, surgiram entre Ana e os filhos do Rei uma


amizade e uma admiração mútua que servem perfeitamente de mo-
delo para quem quer que planeje trabalhar em terra estranha e com
estranhos. Os males entendidos são sutilmente reduzidos ao mínimo.
As crianças, isoladas em seu palácio de conto de fadas, aos poucos
aprendem a conhecer o mundo lá fora.

Certo dia, Ana reuniu seus jovens pupilos ao seu redor e expressou,
numa canção, sua crescente admiração por eles.

“Começo a conhecer bem vocês, e a sentir-me livre e à vontade. Co-


meço a gostar de vocês, e a esperar que gostem de mim. Não notaram
que de repente estou animada e alegre? É devido a todas as coisas
belas e novas que estou aprendendo sobre vocês dia a dia.

Ana fez uma grande descoberta. Ela descobriu que quanto mais conhe-
cia aquelas crianças mais podia olhá-las como seres humanos maravi-
lhosos e belos. Cada dia descobria algo novo e especial sobre elas, e as
descobertas faziam com que se alegrasse por estar viva. Compreendeu
logo que levaria tempo para aprender tudo que ainda tinha de saber.

Agora, o Rei. Para ele, tudo a respeito de Ana era estranho. Por que ela
fazia exigências insolentes, tais como desejar ter sua própria casa fora
do palácio? Por que Ana não compreendia que sua cabeça jamais de-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 65


veria ficar em nível superior à do Rei? De fato, o monarca tinha tantos
problemas com Ana que, depois de algum tempo, em vez de mencio-
nar suas queixas, ele simplesmente resmungava “Et cetera, Et cetera,
Et cetera”. Ana era para ele um verdadeiro “enigma”.

Da mesma forma que dois flocos de neve ou duas impressões digitais


nunca são iguais, nós também somos diferentes em tamanho, forma,
cor, temperamento, interesses, convicções e estilo de vida. Diferencia-
mo-nos dos outros na mais variada gama de aspectos. Todavia, mesmo
sabendo que são diferenças normais, permitimos que elas se tornem
barreiras intransponíveis a relacionamentos que poderiam vir a ser ex-
celentes amizades.

Não seria esta uma boa hora para você tomar a iniciativa e tentar ser
amigo de alguém?

66
“O mal que você pode obter facilmente e em
quantidade: a estrada é suave e está sempre perto.
Contudo, à frente da excelência os deuses imortais
colocaram suor; o caminho para a excelência é
longo, íngrime e áspero, de início. Quando, porém,
você chega ao topo, torna-se fácil, embora duro.”
Hesíodo, 700 a.C.
QUEM ESTÁ AVALIANDO A EXCELÊNCIA
QUE HÁ EM VOCÊ?

“Nós somos aquilo que fazemos repetidamente.


Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito.”
Aristóteles

Quando embarquei nesta jornada literária, muitas semanas atrás, tive


uma grave preocupação: “Conseguirei comunicar a importância da
excelência sem dar a impressão de que ela é sinônimo de sucesso?”
Quero dizer sucesso como se vulgarizou a palavra. Em minha opinião,
já temos um número suficiente de livros sobre esse assunto “sucesso”.
Textos sobre motivação, técnicas para se relacionar bem e autoajuda
orientada para o sucesso estão em profusão ao nosso redor.

Alguns são úteis, outros pouco mais que palha. Entretanto, muito pou-
co se tem escrito sobre o compromisso com a excelência – a verdadei-
ra excelência, o tipo de excelência que transmite qualidade superior,
atenção a minúcias significativas, cuidado com aquilo que realmente
interessa.

A excelência é um conceito difícil de comunicar porque pode ser facil-


mente interpretado como perfeccionismo neurótico ou satisfação es-
nobe. Excelência não é nada disso. Ao contrário, é o material de que se
faz a grandeza. É a diferença entre viver apenas e voar alto e sublime
– o que faz a diferença entre o significativo e o superficial, o duradouro
e o temporário. Os que a buscam fazem-no em razão daquilo que pulsa
lá dentro deles, não em razão do que os outros pensam, falam ou fa-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 69


zem. A excelência autêntica não é desempenho. Ela está aí, quer a note
e tente descobri-la, quer passe sem ser notada.

Quando a Estátua da Liberdade recebeu uma limpeza geral, de que


estava grandemente necessitada, nos anos 1985-86, foi examinada
em todas as minúcias. Os artesãos e artistas que realizaram os reparos
tiveram ampla oportunidade de estudar o trabalho artístico original.
Ficaram impressionados –talvez a palavra mais adequada seja “espan-
tados” – com o projeto do escultor, o notável cidadão francês Frédéric
Bartholdi, e sua equipe que utilizaram suas habilidades artísticas há
mais de um século. Não se esqueceram de nada. Um exemplo é a mag-
nífica obra realizada na coroa e na cabeça da Estátua da Liberdade. A
atenção extrema devotada a pequeninas minúcias foi de tal ordem que
as pessoas poderiam pensar que essa parte do trabalho haveria de ser
examinada por todas as pessoas. Mas o fato é que ninguém jamais a
veria de cima. Desde que foi erguida e fixada em seu lugar, medindo
mais de 50 metros de altura, só algumas gaivotas poderiam admirar-
lhe o penteado. Dificilmente aqueles artistas franceses conseguiriam
sequer imaginar que um dia alguns helicópteros voariam por cima da
estátua, dando tempo ao olho humano para observar e usufruir uma
beleza de tal magnitude. Veja você, o projeto da cabeça da estátua da
liberdade caracterizou-se pela excelência; nunca importou se alguém
haveria de parar para examiná-la e admirá-la ou não.

A mediocridade vai se tornando a palavra-chave de nossa época.


Usam-se agora todas as desculpas imagináveis a fim de torná-la acei-
tável, com grande esperança de que seja preferida. Cortes em orça-
mentos, prazos finais, a opinião da maioria e o pragmatismo teimoso
estão falando mais alto e superam a excelência. Estas forças parecem
estar vencendo a corrida. Medidas que representam incompetência
ou status quo são colocadas diante de nós como sendo o máximo que
podemos esperar agora; e a tragédia é que um número crescente de
pessoas, virtualmente, concorda com a situação. Por que preocupar-se
com coisinhas insignificantes? Por que preocupar-se com voos eleva-
dos, sublimes, se tão poucas pessoas conseguem planar ao menos?
Por que preocupar-se com o genuíno hoje, se o artificial parece tão
real?

70
Para deixar as coisas bem claras: por que pensar com profundidade, e
se a maioria das pessoas deseja alguém que pense em seu lugar? Por
que viver de modo diferente numa sociedade em que é muito mais fá-
cil parecer igual a todo mundo, e nadar a favor da correnteza? Por que
lutar com denodo quando tão poucas pessoas parecem interessadas
nessa guerra? Por que erguer-se corajosamente se isso poderá signifi-
car correr o risco do ridículo, da má interpretação ou ser considerado
sonhador por alguns e tolo por outros?

Devemos esperar que alguém estabeleça nossos padrões ou o ritmo


de nossos passos? Nunca! Há muito da águia em alguns de nós, para
que nos sintamos confortáveis recebendo diretivas da maioria. Minha
firme convicção é de que as pessoas que influenciam e remodelam
poderosamente o mundo são as que se comprometeram a viver acima
da mediocridade. Ainda há muitas oportunidades para a prática da ex-
celência, muita exigência de distinção, para que se fique satisfeito com
apenas ir vivendo. E como escreve,u certa vez, Isaac D’Israeli:

“... que gosto pavoroso satisfazer-se com a mediocridade, quando a


excelência está diante de nós.”

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 71


“Língua não tem osso mas rompe o dorso.”
Provérbio popular trentino
CUIDADO COM O QUE VOCÊ DIZ!

“Toda espécie de feras, de aves, de répteis e de


animais do mar se doma, e tem sido domada
pelo gênero humano, mas a língua nenhum
homem pode domar. É mal incontido,
está cheio de peçonha mortal.
Com ela bendizemos e com ela amaldiçoamos,
não convém que isto seja assim.
Pode a fonte jorrar do mesmo manancial
água doce e água amargosa?”
São Tiago

Todo cuidado é pouco quando você começa a falar. Pare e pense, por
um momento, na importância das palavras.

Porque a verdade é que uma palavra é muito mais que um signo ou um


símbolo. A palavra é uma espécie de ímã! Carregada, como uma pilha,
pela energia da ideia expressa por ela. Além disto, o uso continuado de
qualquer palavra, com o tempo, acaba “carregando” todas as palavras
com vestígios de erro, de negação, de poder destrutivo e também de
justiça, de beleza, de poder para criar, para dar força, para dar vida.

Ao longo dos milênios, as palavras foram sendo marcadas com cargas


maiores ou menores dessas e de muitas outras ideias. Como as pala-
vras são mantidas vivas, pelo contato contínuo entre os homens, elas
acabam chegando até você, muito carregadas de energia. E é por isso
que são tão perigosas: porque a energia das palavras é poderosa, mas
pode ser “negativa” ou “positiva”. Esta ideia é importante, na vida diá-
ria, porque é você quem usa as palavras, aqui e agora, para comunicar
suas ideias.

Mas é importante, também na vida diária, porque você se expressa pe-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 73


las palavras. É como faca de dois gumes e – pior! – sem cabo. Depende,
ao mesmo tempo, de três tipos de energia, para entrar em operação,
como se diz, falando dos sistemas de computação, por exemplo: o que
você faz com as palavras depende, ao mesmo tempo, do que você quer
dizer da pessoa com quem você está conversando, do como você diz,
do lugar da conversa, da relação (de amizade, de solidariedade, de in-
timidade ou não) que há entre vocês dois. Por sorte, sendo você o pri-
meiro a falar, você ainda conserva o poder de dar o “tom” da conversa.
De qualquer modo, em qualquer caso, para dizer seja lá o que for, há
uma regra que não falha nunca: “Pense muito antes de falar!” Há outra
que eu me lembro agora: “Nunca deixe de dizer alguma coisa, que, na
sua opinião, possa fazer muita diferença.”

Não sei da sua crença, mas peça para Deus tornar suas palavras gracio-
sas e ternas, pois talvez amanhã você precise engoli-las!

Não há prazer maior que a sensação de dizer ao fim do dia: “Tive um


bom dia; vivi, pensei e falei, com a firme intenção de fazer o bem.”

74
“As habilidades murcham com as críticas
e florescem com o encorajamento.”
Donald A. Laird
DÊ-ME ÂNIMO

“Um dos mais elevados deveres humanos é o


dever do encorajamento... É fácil rir dos ideais
dos homens; é fácil despejar água fria no seu
entusiasmo; é fácil desencorajar os outros. O mundo
está cheio de desencorajadores.
Temos o dever de encorajar-nos uns aos outros.
Muitas vezes uma palavra de reconhecimento ou de
agradecimento ou de apreço ou de
ânimo tem mantido um homem em pé.”
Willian Barclay

Você pode falar o quanto quiser acerca de diamantes ou de dinossau-


ros ou de pérolas gigantes. Sem dúvida que são raros. Sem dúvida é
difícil encontrá-los. Você terá de penetrar sob montanhas, escavar an-
tigos leitos de lagos ou mergulhar nas sombrias profundezas de lagoas
misteriosas.

Tão raro quanto isso e, muito mais valioso, é o encorajamento, a mo-


tivação.

O encorajamento é espantoso. Pense nisto: Ele tem a capacidade de


levantar os ombros de um homem ou de uma mulher. De acender um
sorriso no rosto de uma criança desanimada. De trazer fogo novo para
as brasas abrandadas de um sonho que se vai apagando. De realmente
mudar o curso do dia... da semana... ou da vida de outro ser humano.

As pessoas que se encorajam são cordiais. Você é?

O âmago da palavra CORDIAL é a palavra “coração”. O âmago do “co-


ração” é kardia, termo grego que na maioria das vezes se refere ao
centro da vida interior de alguém... a fonte ou sede de todas as forças
e funções de nosso interior. Assim, quando pensamos em ser cordiais,

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 77


pensamos em algo que vem do íntimo e se relaciona com o centro da
própria vida. Talvez seja por isso que o dicionário defina assim a pala-
vra CORDIAL:

... de ou relacionamento com o coração: vital, que tende a reviver, ani-


mar ou revigorar, sincero, gracioso...

Ser cordial literalmente brota do coração, conforme o vejo. Sua origem


começa com a crença profundamente arraigada de que o outro sujei-
to é importante, verdadeiramente significativo, merecedor de minha
atenção integral e de meu interesse incomparável, mesmo que o seja
por uns poucos segundos. Quando a cordialidade é estimulada por tal
crença, então, ele predispõe a ser sensível aos sentimentos dessa pes-
soa.

Se uma pessoa está inquieta e na defensiva, a cordialidade alerta-me


para colocá-la à vontade para ajudá-la a sentir-se confortável. Se esti-
ver acanhada, a cordialidade proporciona alívio. Se estiver entediada e
aborrecida, a cordialidade estimula e revigora. Se está triste e melan-
cólica, a cordialidade traz ânimo; ela faz reviver e rejuvenescer.

ENCORAJAMENTO

Grite-o! Divulgue-o!

78
“Aqueles que não fazem nada estão sempre
dispostos a criticar os que fazem algo.”
Oscar Wilde
UMA QUESTÃO DE FOCALIZAÇÃO

“Conta-se que, quando Gutzon Borglum, o escultor, estava


trabalhando para esculpir o busto de Lincoln, que agora se
encontra na cúpula do Capitólio, em Washington D. C.,
a faxineira do prédio observava seu trabalho todas as noites,
até que um dia viu que no mármore conseguia
enxergar o rosto de Lincoln. Depois de algum tempo criou
coragem e perguntou ao escultor: ‘Como o senhor
sabia que Lincoln estava aí na pedra?’ Era uma questão de
focalização. Ela só via a pedra e Borglum via Lincoln.
Se você está procurando buracos, o melhor lugar para
encontrá-los é numa porta de tela. Há milhares deles lá,
mas se você ficar observando os buracos não vai
perceber como a tela protege a casa contra os insetos.”
Stephen Brown, When Being Good isn’t Good Enough.

O julgamento está por terminar.

Após dias de trabalho, finalmente a defesa vai ser ouvida. Dia após dia
as testemunhas juntaram evidências.

Culpado. Culpado.

Afinal, veio a defesa. Mas espere! Onde esta o júri? O quê? Foi tomar
café? E o juiz? Ele cabeceia a mesa do tribunal! A defesa se pronuncia,
mas não há ninguém para ouvir! Ninguém exceto você!

E você é o acusado. É o seu julgamento. Está no tribunal da vida, sem


defesa. Ninguém se importa com isso.

Agora você compreende, vê o significado de tudo. Estava sendo julga-


do mesmo antes de o tribunal se instalar; sentenciado, antes de ser

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 81


proclamada a evidência, condenado sem misericórdia, como que mor-
to antes de vir ao tribunal.

Que tal se isso acontecesse com você?

Se fosse julgado sem ter a oportunidade de replicar e condenado por


motivos falsos proferidos por testemunhas falsas, num tribunal falso?

O que diz de ser prejulgado por preconceitos alheios?


Se isso acontecesse com você?

Não aconteceu? E não acontece? Você não é julgado sem defesa por
todos os que o rotulam, estereotipam, criticam ou condenam simples-
mente baseados em preconceitos?

Mas você não faz o mesmo, também? Cada vez que fornece uma infor-
mação maldosa, que faz um juízo preconcebido ou ri com uma ponta
de zombaria preconceituosa?

Preconceito e prejulgamento são pesar outro indivíduo ou os pontos


de vista dele com a pressão do seu polegar sobre a balança.

Preconceito é fazer seu julgamento de discriminação contra outros,


baseando-se em coisas que eles não fizeram, que não puderam modi-
ficar e delas não deveriam arrepender-se.

Não há nada de lógico, absolutamente. Nada de razoável, racional ou


justo. O preconceito não tem resposta para isso. É uma emoção, não
uma convicção.

Quando um homem fala de seus preconceitos, diz: EU SINTO.

Quando fala de suas opiniões, diz: EU ACHO.

Quando fala de suas convicções, diz EU SEI!

82
Você pode desafiar as convicções dele pela lógica ou mudar suas opini-
ões mediante argumentos. Mas não os seus preconceitos. Eles não po-
dem ser expressos facilmente com palavras. São reações não verbais
que um homem raramente admite.

De onde vieram esses preconceitos? Para principiar, poucos de nós


aprendemos a tê-los. Apanhamo-los como uma doença. É uma mo-
léstia. Uma moléstia do caráter transmitida tão fácil e acidentalmente
como qualquer uma de ordem física.

Você e eu estamos contaminados. Todos temos preconceitos. E, o que


é pior, somos transmissores. Nossos filhos os apanham de nós quando
“pegam no ar” os significados ocultos de nossas palavras descuidadas
ou ironias. Qualquer escorregadela da língua, por inocente que pareça
ser, pode criar atitudes nocivas ou deixar um resíduo de preconceito.
Criticamos porque crítica faz algo por nós. Algo que não queremos di-
zer e enfrentar, mas que nos faz sentir bem – no momento.

Isso nos deveria revelar serem na realidade essas atitudes críticas, crô-
nicas, sintomas de distúrbio emocional. O brigão, o lamuriento, o de-
preciador ou o novidadeiro (fofoqueiro) são doentes. Gente que cria
encrenca é, normalmente, gente perturbada.

As pessoas espicaçam outras para resguardar seus próprios sentimen-


tos de culpa ao apontarem para outros como piores do que elas.

Ou para usar os outros como bode expiatório de erros que acham difí-
cil reconhecer como seus.

Ou para acalmar tensões emocionais e frustrações das suas próprias


personalidades.

Ou para satisfazer aos seus próprios desejos e imaginárias aspirações,


já que não podem ou não querem realizá-los.

Você tem coragem suficiente para verificar isso em você mesmo? Pos-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 83


so propor-lhe uma pequena prova?

É VERDADE OU NÃO: você nunca critica no intuito de justificar seu pró-


prio fracasso ou frustração? Não conseguiu o que queria ou perdeu
o que tinha? E, assim, voltou-se contra pessoas que encontrou pelo
caminho? Ou fez recair sobre um terceiro a culpa de seu infortúnio?

É VERDADE OU NÃO: você nunca critica para obter sua ambição? Nun-
ca deseja desgraça para o inimigo, para o competidor ou pessoas que
ameaçam seu sucesso? Deixa seu mexerico espezinhar os que estão no
seu caminho? Você deprecia os que estão abaixo de você para ganhar
aprovação dos que estão acima?

É VERDADE OU NÃO: Você nunca critica com o fito de acalmar seus


sentimentos de culpa ou de diminuir sua própria culpa e responsabili-
dade? Você concorda com a maioria, contra suas melhores convicções,
e depois põe-se a fazer mexericos e a criticar a minoria cuja posição
honesta Ihe causou sentimento de culpa? Você habitualmente “afer-
retoa” aqueles que surpreende fazendo coisas que já fez e das quais
saiu impune?

Com esses testes você pode avaliar-se e assim conhecer o resultado.


Mas isso não comprova sua suspeita de que seu interesse em achar
defeitos nos outros tem raízes emocionais? Que essa crítica crônica
é apenas um sintoma de problemas muito mais profundos? Que no
fundo é uma questão moral?

Isso nos permite levar a bom termo, por procuração, nossas piores ten-
dências. Um exemplo: William Causins, professor no Instituto Seatle
de Administração de Imóveis, recomenda que os proprietários “man-
tenham ao menos um casal escandaloso em cada prédio de aparta-
mento, para deixar os inquilinos contentes. A presença desse par”, ele
insiste, “deixa-os entretidos em bisbilhotices e, inconscientemente, o
faz felizes.”

A crítica pode ser um problema moral tanto para o que fala como para

84
o que ouve. São necessários dois para “cortar a casaca”. O ouvinte é
tão culpado quanto o que fala. Nenhum homem de bem dá seu apoio
quando uma pessoa ausente e provavelmente inocente está sendo
aviltada. É da responsabilidade humana protestar se um ser humano é
depreciado. Por que não dizer cortesmente: “Prefiro não ouvir críticas
sobre alguém que não está presente para se defender.” Ou perguntar:
“Por que acha que me interessa essa história sobre ele?”

Se você sabe algo que vai ferir ou macular a vida ou a reputação de


outra pessoa, enterre o caso. Esqueça-o. Encerre-o imediatamente. Ele
descansará em paz. E você também.

Lembre-se: “Os grandes homens debatem sobre ideias; os médios, so-


bre acontecimentos; os MESQUINHOS, sobre as pessoas.”

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 85


“Se seus esforços forem vistos com indiferença,
não desanime. Também o sol ao nascer
dá um espetáculo todo especial e mesmo assim
a maioria da plateia continua dormindo.”
Edu Francisco Teixeira
O TURNO DA NOITE

“... Aquele que te guarda não dorme.”


Salmos 121-36

No momento em que escrevo este texto, o relógio marca 1h05min, é


madrugada e chove muito. Uma pergunta assalta meu pensamento:
Há muitas pessoas acordadas neste momento? A resposta veio imedia-
tamente: o turno da noite.

Você já trabalhou no turno da noite? É um pouco estranho.

É levantar no fim do dia e ir para a cama ao nascer do sol.

É tomar café com leite, quando a maioria das pessoas está sentada
comendo feijão com arroz.

É um mundo diferente do turno do dia.

Na cidade, o trânsito diminui, o ar fica mais frio, e os compradores re-


tardatários somem gradualmente na escuridão. Fora da cidade, na pe-
riferia, a vizinhança fica mais silenciosa, as calçadas vazias. Você pode
ouvir um cão a seis quarteirões de distância latindo para o que quer
que amole os cães à noite.

A maioria das janelas fica às escuras. A maioria dos carros está na ga-
ragem. A maioria das pessoas já dorme.

Mas nem todos.

Não os do turno da noite.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 87


No terceiro andar de um hospital, uma enfermeira caminha em dire-
ção a uma unidade de tratamento intensivo, seus sapatos macios de
couro quase não fazem barulho enquanto se movimenta de leito em
leito. Seus olhos experientes observam os monitores, gráficos, frascos
de soro, luzes pulsantes e os rostos abatidos dos homens e mulheres
sedados.

Um padeiro na cozinha de uma padaria coloca uma bandeja de boli-


nhos no forno, depois espalha chocolate granulado sobre uma dúzia
de sonhos para seus fregueses habituais. Ele cantarola, acompanhan-
do a música do rádio, enquanto que um calor delicioso e perfumado
enche a pequena cozinha em que trabalha.

Sob a luz forte e artificial das lâmpadas de vapor de mercúrio, uma


turma de operários se apressa em fazer reparos em uma das principais
vias de acesso ao centro da cidade. Em breve, a primeira leva de traba-
lhadores habituais vai passar velozmente por ali, sem um pensamento
sequer para os que labutaram a noite inteira a fim de possibilitar maior
agilidade no tráfego.

Um homem com barba por fazer, vestido de roupão, num quarto, veri-
fica a água num vaporizador e depois se curva sobre o berço para ou-
vir novamente o respirar ofegante de seu filhinho de nove meses. No
quarto ao lado, a mulher esgotada entra num sono atrasado enquanto
o pai faz o seu turno da noite.

Um jovem soldado, num posto de escuta no perímetro de sua atuação,


treme de frio na escuridão úmida. Ele usa um rifle automático em um
braço e esfrega com as mãos as pálpebras pesadas. Cochilar está fora
de questão.
A 42.000 pés de altura sobre o mar enluarado, o piloto de um jato vira
duas chaves, murmura uma afirmativa para um controlador de tráfe-
go aéreo distante, puxa uma alavanca e guia sua aeronave de modo a
fugir de uma área de turbulência que está se formando no horizonte.
Enquanto trezentos e cinquenta e oito vidas dormem na semiescuri-
dão as suas costas, ele observa as estrelas, o oceano negro e prateado
lá embaixo e aceita com gratidão a xícara de café quente das mãos da
aeromoça.

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Muito antes de o dia nascer, uma mãe insone levanta da cama e cai
de joelhos no tapete. No silêncio pesado, ela murmura uma prece por
uma filha numa cidade distante.

Neste mesmo instante, em outro lugar, uma filha dedicada segura a


mão de sua mãe doente que teve uma recaída e tenta desesperada-
mente confortá-la.

É o turno da noite.

É um policial numa ronda, percorrendo as ruas escuras varridas pela


chuva numa tempestade.

É uma turma do corpo de bombeiros com o equipamento pronto espe-


rando o telefone tocar.

É um disc jockey de uma estação FM, apertando botões, mesclando


CDs e lendo a previsão do tempo do dia seguinte para uma audiência
invisível, espalhada cidade afora, esperando para ouvir uma voz amiga
à noite.

É um grupo de trabalhadores comprometidos, produzindo em uma in-


dústria de autopeças as necessidades dos clientes do dia seguinte.

É possível que muitos de nós não pense muito nesses homens e mu-
lheres que trabalham enquanto dormimos. Podemos tomá-los como
certos, mas eles estão em seus postos do mesmo jeito. Eles marcam o
ponto quando chegam e quando vão embora. Seus olhos estão abertos
e alertas enquanto os nossos se fecham. Eles estão colocando as rou-
pas de trabalho enquanto vestimos o pijama. Estão em algum lugar “lá
fora” todas as noites do mundo. Precisamos e dependemos deles mais
do que pensamos.

A eles o nosso respeito e gratidão.

Bom dia. Durmam bem!

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 89


“É melhor perguntar duas vezes do
que se perder uma vez.”
Provérbio dinamarquês
FAÇA PERGUNTAS

“A única pergunta tola é a pergunta


que você não faz...”
Placa no Laboratório de Ciência de
uma escola de segundo grau

Ouvi dizer que Sócrates era considerado sábio não porque soubesse
todas as respostas certas, mas porque sabia fazer as perguntas certas.

Perguntas – as perguntas certas – podem ser penetrantes, conduzindo


a respostas reveladoras. Elas podem expor motivos ocultos bem como
capacitar-nos a enfrentar a verdade que não havíamos admitido nem
para nós mesmos.

“The Book of the Questions” (O livro das perguntas), do Dr. Gregory


Stock, é um desses livros que tenho dificuldade em largar. Ele inclui
quase 275 perguntas penetrantes que nos fazem sair de nossa casca.
Você se descobre incapaz de esconder ou evitar a inquietação. Quer
alguns exemplos?

– Se você estivesse para morrer esta noite, sem a oportunidade de se


comunicar com quem quer que fosse, do que mais se arrependeria de
não ter dito a alguém? Por que ainda não Ihe disse?

– Você descobre que seu maravilhoso filhinho de um ano, devido a


uma confusão feita no hospital, não é seu. Você iria trocar a criança
para tentar corrigir o engano?

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 91


– Sua casa, com tudo o que você possui, pega fogo. Após salvar seus
entes queridos e animaizinhos de estimação, você tem tempo para en-
trar lá a salvo pela última vez e apanhar algum item. Qual seria?

– Se descobrisse que um bom amigo seu estava com Aids, você o evi-
taria? E se fosse o seu irmão ou irmã?

É engraçado como as perguntas nos forçam a encarar de frente a ques-


tão. Achei interessante que as perguntas menos frequentes no livro
de Stock eram as que começavam com “por que”. Contudo, estas não
ficam circundando, vão direto ao cerne da questão. Por exemplo:

Por que você existe? Por que você, às vezes, mente? Por que você es-
colheu esta profissão? Por que você ainda trabalha nesta empresa?

As perguntas também estimulam a criatividade. Implícita ou explicita-


mente, a criatividade sempre começa com uma pergunta. E, tanto em
sua vida profissional quanto na pessoal, a qualidade de sua produtivi-
dade é determinada pela qualidade de suas perguntas – pela maneira
como você aborda circunstâncias, problemas, necessidades e oportu-
nidades.

Estive pensando sobre a natureza das perguntas: uma pergunta é uma


abertura à criação. Uma pergunta é uma questão indefinida e inde-
finidora. Uma pergunta é um convite à criatividade. Uma pergunta é
o início da aventura. Uma pergunta é uma resposta disfarçada. Uma
pergunta mexe e provoca aquilo que ainda não foi mexido nem pro-
vocado. Uma pergunta é um ponto de partida. Uma pergunta não tem
fim nem início. Uma pergunta quer uma companheira.

Faça uma pergunta tola e consiga uma resposta inteligente. Mas o que
são perguntas tolas?

Esta é uma pergunta tola muito boa.

O filósofo Alan Watts disse que se fosse estabelecer uma universidade

92
onde o aprendizado real pudesse acontecer, ele faria a cada aluno, no
primeiro dia de aula, apenas uma pergunta como base para os próxi-
mos seis anos de aprendizado daquele aluno.

Sua pergunta seria: “O que você considera uma boa vida?” Se o aluno
respondesse “Uma bela casa”, Watts iria fazer-lhe uma série de per-
guntas: O que é uma casa? O que você precisa saber a respeito de ar-
quitetura? Construção? Quantos estilos de arquitetura existem? Quais
são eles? Onde ocorreram? Quais eram as bases da construção? E do
paisagismo?

Se outro aluno respondesse “Boa saúde”, Watts tinha outro programa


de perguntas: O que é doença? O que você precisa saber de psicolo-
gia? Anatomia? Neuroanatomia? Neurofisiologia? E assim por diante.

“O que você considera uma boa vida?” é um excelente exemplo de


uma pergunta criativa e plena de significado. Ela não pede uma ação
prematura. Ela não é julgadora, aconselhadora ou agressiva. É simples,
breve e aberta o bastante para motivar a exploração.

Nos casos mais dramáticos, perguntas tolas podem mudar o rumo de


uma vida. Foi certamente o caso de R. Bunckminster Fuller, o inventor
do domo geodésico. Em 1927, aos trinta e dois anos de idade, ele es-
tava à beira do Lago Michigan, revendo sua vida, com desespero: uma
filha morrera aos quatro anos de idade. Cinco fábricas faliram. Ele es-
tava enfrentando a bancarrota, com um bebê recém-nascido. Antes de
fazer o que viera fazer – acabar com tudo nas águas –, ele entrou em
diálogo consigo mesmo.

Ele primeiro perguntou se havia uma inteligência maior operando o


universo. Sim, ele resolveu, na base do “sofisticado desígnio de tudo,
do microcosmo dos átomos às macromagnitudes das galáxias”. Depois
perguntou: “Quem sabe melhor se eu terei algum valor para o univer-
so? Eu ou Deus?” Em vista da resposta que ele forjou, ele resolveu que
o próprio fato de sua existência significava que ele tinha algum propó-
sito, algum valor. Mas qual? Em resposta, ele encontrou dentro de si

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 93


esta próxima pergunta muito pessoal:

“O que minha experiência me diz que precisa ser cuidado, que se for
bem cuidado trará vantagens para toda a humanidade, e se for deixa-
do de lado poderá muito rapidamente deixar a humanidade com gran-
des problemas?”

Ele retornou do Lago Michigan e passou os sessenta e cinco anos se-


guintes de sua vida respondendo a essa pergunta, finalmente sendo
descrito como “um Da Vinci do Século XX”.

Aquilo qualifica aquela pergunta como magnificamente tola. Pergunta


tola – Qual é a sua atitude com relação à situação? (Atitude significa
um estado mental, isto é, desprezo, julgamento, crítica.)

– Que benefícios você recebe da existência dessa situação?

– Qual é a realidade da situação?

– O que você gostaria de ver acontecer?

– O que mais você gostaria que acontecesse?

– O que você precisa fazer agora?

– Como sua vida mudaria se essa situação mudasse?

– O que você está disposto a mudar para que isso seja como você gos-
taria que fosse?

Aproveite as oportunidades. A única maneira que conheço é fazendo


perguntas provocativas. Por sua natureza, as perguntas o levarão às
praias do entendimento.

Até breve!

94
“Qualquer um pode zangar-se. É fácil. Mas
zangar-se contra a pessoa certa, no momento
certo, na medida certa, com a finalidade certa não
é fácil e não está ao alcance de qualquer um.”
Aristóteles
SÃO JORGE E O DRAGÃO

“Não somente temos o direito de nos enraivecer,


mas em determinadas situações, não estaremos
certos senão nos enraivecermos, desde que injustamente.”
L. E. Maxwell

Um vagabundo a pedir esmola, num vilarejo antigo e pitoresco, parou


junto a uma pensão que tinha o interessante nome de “Hospedaria de
São Jorge e o Dragão”.

– Por favor, senhora, pode arranjar-me um pouco de comida? – ele


pediu à senhora que o atendeu à porta da cozinha.

– Um pouco de comida? Para um vagabundo qualquer, um mendigo?


Não! – ela retrucou, áspera. Por que não trabalha para viver, como
homem honesto? Vá embora.

Ao meio da estrada, o vagabundo parou, olhou para as palavras “São


Jorge e o Dragão” e, após uma breve reflexão, voltou e tornou a bater.

– Agora o que você quer? – perguntou-lhe a senhora enraivecida.

– Por favor, senhora – foi a resposta –, se São Jorge também está aí,
posso desta vez falar com ele?

A gente tem, frequentemente, que pedir pela segunda vez para atra-
vessar o dragão interior das pessoas, não é verdade? Porque há muito

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 97


mais de dragão do que de São Jorge em todos nós.

Às vezes vemos São Jorge. Um sorriso. Um alô. Palavras amáveis.

Depois o dragão mostra os dentes. Fogo, enxofre e erupção de ar quen-


te!

E com que rapidez e frequência uma cena segue a outra. Certos dias,
você pode defrontar-se com uma fila inteira de dragões. Noutros, sen-
te-se como um deles.

Sim, todos nós temos estados de espíritos mutáveis ou recorremos à


melancolia. Mas o distúrbio toma vulto quando a frustração de nossos
pequenos problemas diários se transforma em irritação; quando o de-
sespero por causa de circunstâncias desfavoráveis nos leva à depres-
são; quando a agitação com tudo que vai mal com você se transforma
em raiva.

E o dragão mostra os dentes.

Por que ficamos com raiva? O que podemos fazer com ela? Qual a sua
causa?

Se você pudesse colocar um termômetro em suas emoções, verificaria


toda uma escala de temperaturas raivosas.

Na parte mais baixa do termômetro, as hostilidades gélidas, irracio-


nais, que fazem uma pessoa odiar. Mais para cima, o frio antagonismo
de contínua animosidade e velhos rancores.

Então, a uma temperatura normal, as costumeiras suscetibilidades e


irritações. Você reconhece seus sintomas – sensibilidade à flor da pele,
impaciência à menor dificuldade, fluxo de palavras ásperas.

Daí para diante o mercúrio se eleva. Há flamas temperamentais que


lampejam como jatos de vapor. Estas podem tornar-se ódio fervente,

98
escaldante – o sangue sobe, o pescoço e a face enrubescem, o ego não
deixa ninguém interferir. E o termômetro alcança o topo quando a fú-
ria explode em violência física – o ponto culminante da raiva.

Para tal extensão, da frigidez do ódio à febre do rancor, as causas con-


jugadas são muitas.

Vamos enumerar algumas situações promotoras de raiva e ver se são


familiares.

O ciúme quando um tipo que não Ihe agrada consegue aquela “pro-
moção” que você queria. O ressentimento quando você comete um
erro que o outro não deixa passar. (De dez casos de raiva, nove são
causados quando alguém fere nossa autoestima).

Ou o insulto quando alguém o critica ou zomba de sua capacidade para


negociar, de sua inteligência, de suas maneiras ou gosto.

Pode ser raiva cega que sentimos quando uma tarefa vai mal, as coisas
não se encaminham ou o trabalho se amontoa.

Pode ser a frustração de você sentir-se impotente para manter uma


situação ou inábil para realizar alguma tarefa necessária.

Obviamente, em todas essas situações, a causa primordial é a mesma.


A raiva brota de alguma frustração do ego, quando a autoestima de
alguma pessoa é afetada.

Há também razões não egoístas para a raiva. Você a sente ao ver outra
pessoa sendo maltratada ou abusada. Ou a raiva honesta ao Ihe faze-
rem uma injustiça. Essas raivas são válidas.

Vê-se, pois, que a raiva como emoção pode ser boa ou má, benéfica ou
nociva. Tudo depende inteiramente das razões por que se apresenta e
do uso que você faz dela.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 99


A raiva explosiva é sempre um mal necessário, que o fere e aos outros.
É um desejo violento de punir os outros, infligir sofrimento ou mesmo
vingar-se.

Se a raiva pode ser correta ou errada, como você pode julgá-la ao ser
possuído por ela?

Ou você simplesmente a rejeita de imediato, englobando tudo sob o


título não lisonjeiro de loucura.

A raiva é sempre um vício ou pode ser, por vezes, uma virtude?

Admitamos que a maioria de nós a considere um vício ou, ao menos,


algo menos que nobre.

Mas será o ódio o rei dos males ou o seu primeiro-ministro?

Por certo você terá essa impressão ao ver como agimos quando com
raiva. A maioria das pessoas mente para não admitir que está enraive-
cida.

– Eu não estou zangado – dizem. Naturalmente que não! Nunca perco


a paciência!

Ou negam o fato, atalhando como uma pessoa que vi “berrando”:


“Não estou erguendo a voz.”

Na verdade, a raiva de uma pessoa pode prejudicar outros, atentando


contra suas personalidades, ferindo-lhes a autoestima, danificando-
lhes o equilíbrio emocional.

Mas a raiva pode também prestar bons serviços a outros. Pode de-
safiar injustiças ou corrigir males que os oprimem. Pode investir com
rigor contra o mal.

A raiva de Abraham Lincoln, ao ver pela primeira vez um mercado de

100
escravos em Nova Orleans, fê-lo ordenar:

– Fora daqui, rapazes. Se eu vir outra vez uma coisa dessa, vou agir
severamente.

A raiva feroz de Tolstói contra a guerra, de Gandhi contra a opressão,


de Martin Luther King contra a injustiça.

Naturalmente, trata-se aqui de uma raiva sutil. Mas pode ser explosivo
perigoso e, se mal empregado, destrutivo.

A raiva é uma emoção válida, natural. Como emoção, não é em si mes-


ma nem boa, nem má.

Minha raiva é certa ou errada? Esta é uma questão que você deve pro-
por-se todas as vezes que suas emoções começam a perder as rédeas.
E se elas ameaçam explodir – cuidado!

Tenha calma.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 101


“Uma língua afiada é a única ferramenta
cortante que se amola com o uso.”
Washington Irving
MORDA A LÍNGUA!

“É mais fácil dizer do que fazer,


a não ser que você seja gago.”
R. Lewton

Quantas vezes você já disse algo de modo inadequado e, em conse-


quência, desejou morder a língua? Não tente lembrar-se de todas as
ocorrências. Seria muito penoso. Apenas aprenda a evitar desastres
semelhantes no futuro.

Primeiramente, deixe a afirmação ou a pergunta atravessar a sua men-


te, depois revise-a, a fim de verificar se está correta. As quinze bilhões
de células do cérebro trabalham com incrível rapidez. Com a prática,
você pode aprender a controlar e reformular numa fração de segundo
aquilo que deseja dizer. Simplesmente pisque os olhos uma ou duas
vezes e isso Ihe dará tempo suficiente para encontrar um modo melhor
de se expressar.

Um homem que retornava de uma pescaria não muito bem-sucedida


carregava meia dúzia de pequenos peixes numa linha. No cais, ele en-
controu um companheiro, com um grande peixe. A regra estabelecida
entre os pescadores é cada um não fazer alarde de seus peixes grandes
e lamentar a falta de sorte dos outros.

O homem que trazia os peixes pequenos, vendo o grande peixe que o


outro carregava, disse: “Só um, hein?” Ambos riram.

Por motivos que nunca se tornaram claros para muitos homens, a


maioria das mulheres rejeita com veemência a ideia de aparecer em
qualquer lugar com um vestido igual ao da outra. Lembro-me de que

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 103


estava passando pela rua, há muitos anos, com minha então futura
esposa. Ela estava usando um lindo vestido novo. Nisso, veio em nos-
sa direção uma jovem com um vestido idêntico. Achei interessante e
falei: “Veja, um vestido igual ao seu!” Naquele instante, a outra jovem
estava lado a lado conosco e disse, contorcendo os lábios: “Eu comprei
o meu primeiro, queridinha.” Nada bom.

Uma resposta melhor foi a de uma mulher, conhecida por seu vasto
guarda-roupa, que encontrou outra numa festa de luxo, usando uma
duplicata de seu vestido. As duas mulheres se entreolharam por um
momento, com um olhar frio e avaliador. Então, a primeira, chegando
mais perto, disse para outra: “Quero dar-lhe os parabéns por seu ex-
celente gosto.” Isso quebrou o gelo e ambas riram. Elas levaram tudo
na brincadeira e denominaram-se “as gêmeas” durante aquela noite.

A maneira como você diz as coisas é de grande importância, se deseja


relacionar-se bem com as pessoas.

COMO FAZER INIMIGOS E AFASTAR AMIGOS

Aqui estão algumas maneiras de se fazer inimigos e afastar amigos:

“Vou dizer o que eu acho que você deve fazer.”


Esta é uma presunção arrogante de sabedoria superior. Ninguém é tão
sábio a ponto de sair por aí dizendo a todos o que eles devem fazer; e
se alguém fosse suficientemente sábio para fazer isso, teria conheci-
mento bastante para evitar dar conselhos não solicitados que, de qual-
quer forma, raramente são aceitos.

“Meu conselho para você é...”


A questão é a mesma do caso anterior.

“A grande verdade sobre este assunto é...”


É mesmo? Você alcançou a verdade final? É possível, mas não é prová-
vel. Você vai ser uma pessoa solitária.

“Vou mostrar onde você errou.”


Deste jeito, você está falando com um ex-amigo. Ou, então, com um
masoquista que adora apanhar. A arrogância intelectual desse tipo ge-

104
ralmente brota de uma mistura peculiar de ignorância e inferioridade.

“Estou Ihe dizendo isso para o seu próprio bem.”


Esqueça isso! Ninguém Ihe pediu conselho. Quem sabe o que é bom
para mim? Não consigo fazer metade das coisas que são para o meu
bem e sei que deveria estar fazendo.

“Seu problema, pelo que posso ver...”


Mais uma de um distribuidor internacional de arrogância.

“OIhe, deixe-me mostrar como se faz isso.”


Aprecio seu desejo de ajudar, mas lamento profundamente sua manei-
ra de falar, como se possuísse alguma habilidade técnica que fizesse
você ser superior.

“Agora veja como eu teria procedido...”


Muito obrigado! Passei por uma experiência difícil, fiz o melhor que
pude e falhei. Você chega agora para oferecer conselho depois que
tudo já passou. Não gosto de sua atitude.

“Estava tudo ótimo (serviço, comida, arranjo de flores, palestra ou


qualquer outra coisa), mas há apenas uma coisa que eu teria feito um
pouco diferente.”
Agradeço-lhe por nada. Você não está me ajudando, embora pense
que esteja. Você está se mostrando superior, num esforço de compen-
sar seus sentimentos de inferioridade em outras áreas.

“Isso é interessante. Veja, por exemplo, o meu caso...”


Olhe para os meus olhos, amigos. Logo agora que comecei a dizer algu-
ma coisa, você entrou na conversa e quer dominar o assunto. Não, eu
não vou tomá-lo como exemplo.

Há milhares de frases desastrosas, rudes e inapropriadas. Uma pessoa


sensível aprenderá, de experiências malsucedidas, como proceder de
modo conveniente em relação às pessoas.

Pense nisso e morda a língua!

Boa sorte!

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 105


“... 0 espírito humano é virtualmente indestrutível
e sua capacidade de erguer-se das cinzas
permanece enquanto o corpo respira.”
Alice Miller
FÊNIX

“O teste do sucesso não é o que você faz quando


está por cima. Sucesso é que altura você atinge quando
dá a volta por cima depois de chegar ao fundo do poço.”
George S. Patton

No dia 29 de janeiro de 1996, uma labareda tomou conta de uma das


construções mais valiosas de Veneza: a casa de ópera La Fenice, de 204
anos de idade. Centenas de pessoas viram o edifício ser consumido
pelas chamas.

Isso causou tristeza? Sem dúvida. Causou desespero? Não. A constru-


ção da La Fenice já havia sido retardada em 1792 por causa de um
incêndio. Outro incêndio, em 1836, obrigou a população a reconstruir
a casa de ópera. Também, após o incêndio de 1996, os venezianos co-
meçaram a reconstruí-la.

Por coincidência, La Fenice significa “a Fênix”, referindo-se à ave mito-


lógica de grande porte que merecia o título de animal mais raro da face
da terra, simplesmente por ser a única de sua espécie.

Fênix possuía uma parte da plumagem feita de ouro e a outra colorida


de um vermelho incomparável. A isso ainda aliava uma longevidade
jamais observada em nenhum outro animal. Seu habitat eram os de-
sertos escaldantes e inóspitos da Arábia, o que justificava sua fama de
quase nunca ter sido vista por ninguém.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 107


Quando Fênix percebia que sua vida secular estava chegando ao fim,
fazia um ninho com ervas aromáticas, que entrava em combustão ao
ser exposto aos raios do sol. Em seguida, atirava-se em meio às cha-
mas para ser consumida até quase não deixar vestígios. Do pouco que
sobrava de seus restos mortais, arrastava-se milagrosamente uma es-
pécie de verme que se desenvolvia de maneira rápida para se transfor-
mar numa nova ave, idêntica à que havia morrido.

A crença nessa ave lendária figura na mitologia de vários e diferentes


povos antigos, tais como gregos, egípcios e chineses. Apesar disso, em
todas essas civilizações seu mito preserva o mesmo significado simbó-
lico: o renascer das próprias cinzas.

Até hoje, essa ideia é bastante conhecida e explorada de maneira sim-


bólica.

Podemos restaurar o que os incêndios destroem em nossa vida? Às ve-


zes. Em outras circunstâncias é melhor que as cinzas sejam esquecidas,
para que algo completamente novo seja construído.

Renascer é o processo por meio do qual você lamenta sua perda e de-
pois se levanta e começa tudo de novo. É um dos principais segredos
para alcançar o sucesso. As pessoas realizadas são aquelas que nunca
desistiram de tentar ser assim.

Enquanto você está processando integralmente os aspectos físico, psi-


cológico e emocional da decepção, vai começar a notar que continua
vivo. Algumas pessoas pensam que não podem suportar aquela crise
de jeito nenhum, porque é demais para elas. Notar que você é um
sobrevivente daquela experiência é uma conscientização importante.
Isso é chamado de viver o tempo presente. Você não está mais revi-
vendo repetidamente o passado na sua cabeça. Está pronto para viver
o presente, aqui e agora.

O que aflora em seguida é a noção de que pode existir um futuro. Con-


siderar um futuro significa preparar-se para olhar para frente e imagi-

108
nar que tem opções.
A criatividade entra no quadro quando você acredita que na verdade
poderia visualizar uma vida, elaborar um plano para conscientizá-la e,
então, resolver avançar passo a passo. Você considera as possibilida-
des que nunca imaginou e começa a estabelecer objetivos, atividades
que o colocam mais uma vez no tabuleiro do jogo da vida.

Será preciso avaliar se é mais sensato continuar a batalhar pelo mesmo
objetivo que perseguia antes ou se é melhor formular uma nova meta.
Também terá de determinar um novo curso de ação, construído sobre
as lições que aprendeu com a crise, revisando seus planos em tudo
que for necessário.

Depois de uma decepção, seus objetivos iniciais não serão monumen-


tais. Serão passos minúsculos de bebê que vão aumentando aos pou-
cos. Não serão passos para trás, retrocedendo aos velhos e bons tem-
pos, nem farão com que você ande em círculos, sem saber direito o
que fazer com sua vida. Esses novos passos serão dados para frente,
na direção do seu futuro. Seu novo futuro pode até ser semelhante ao
passado, antes da crise. Mas agora você pode abordá-lo de olhos mais
abertos e com a vantagem do conhecimento que adquiriu.

Apesar de não serem passos gigantescos associados a conquistas sig-


nificativas, seus objetivos novos estarão na direção certa. Não deixe de
reconhecê-los. Tenha o cuidado de não menosprezá-los, desacreditá-
los ou desqualificá-los por não estarem no mesmo nível das realiza-
ções anteriores. Parte desse processo de andar para frente e dar-se
permissão para estar num nível diferente – apesar de novo – de reali-
zação. Como diz o ditado, às vezes, você precisa “ir mais devagar para
ir mais depressa”.

Algumas vezes, como a Fênix, temos que renascer das cinzas – deve-
mos passar pelo fogo e sair fortalecidos, renovados e renascidos.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 109


“A atitude... alimenta meu fogo ou destrói
minha esperança. Quando tenho a atitude
certa nenhuma barreira é tão alta, nenhum
abismo é tão profundo, nenhum sonho é tão
impossível e nenhum desafio grande
demais pra mim.”
Charles Swindoll
RECOMEÇAR É QUESTÃO DE ATITUDE

“Qualquer desafio que enfrentamos não é tão


importante quanto nossa atitude frente a ele,
pois é ela que determina nosso sucesso ou derrota.”
Norman Vincent Peale

As pessoas frequentemente me perguntam quem são meus heróis.


Tenho vários, mas um ocupa lugar de destaque na minha galeria de
heróis: Thomas Alva Edison. Ele inventou a lâmpada elétrica, o projetor
de imagens e as baterias que dão partida em nossos carros.

Sempre gostei de repetir a história verídica de um incidente na vida de


Thomas Edison que ilustra perfeitamente os benefícios da atitude posi-
tiva. O filho de Edison, Charles, incluiu o evento em seu livro intitulado
“The Eletric Thomas Edison” (Thomas Edison, o elétrico).

Numa tarde de dezembro, o grito “fogo” ecoou pela fábrica. Combus-


tão espontânea ocorrera na sala de filmes.

“Em instantes todo material de embalagem, celuloide para discos, fil-


mes e outros bens inflamáveis desapareceram por completo... Quando
não consegui encontrar meu pai, fiquei preocupado. Estaria a salvo?
Com todos os seus bens desaparecendo na fumaça, seu espírito teria
desanimado? Ele tinha 67 anos, uma idade que seria difícil recomeçar.
Então eu o vi no pátio da fábrica, correndo em minha direção.

‘Onde esta sua mãe? Vá buscá-la! Diga que traga as amigas! Elas nunca

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 111


verão um incêndio assim outra vez!’

Pode acreditar? Em vez de lamentar-se: ‘Oh, Deus, o que fiz para me-
recer isso? Vivi fielmente 67 anos e é esta minha recompensa?’, ele
diz ‘Filho, vá buscar sua mãe. Esta é uma visão incrível! Veja só esse
incêndio!’”

O filho de Edison continua:

“Às 5h30 da manhã, mal o fogo começou a ser controlado, ele reuniu
os empregados e anunciou: “Vamos reconstruir!”

Um dos homens deveria alugar todas as oficinas na área. Outro conse-


guir um guindaste da Erie Railroad Company. Em seguida, quase como
uma ideia secundária, ele acrescentou: ‘Olhem, por acaso alguém sabe
onde podemos arranjar algum dinheiro?’

Mais tarde ele explicou: ‘É sempre possível conseguir capital depois de


um desastre. Nós acabamos de nos livrar de um monte de lixo! Vamos
construir um prédio maior e melhor sobre essas ruínas’. Ao dizer isso,
Edison enrolou o casaco para servir de travesseiro, encolheu-se em
uma mesa e adormeceu imediatamente.”

Que grande exemplo para nós! No entanto, o que fez com que perseve-
rasse apesar da dificuldade? Qual foi o combustível que o impulsionou
a superar tamanha tragédia?

Tanto nos heróis famosos como nos desconhecidos, você encontrará


algo comum, um denominador comum. Trata-se da atitude! Isso mes-
mo: atitude.

Sua atitude é mais importante do que você pode imaginar. É a coisa


mais importante em você – mais importante do que seu grau de esco-
laridade, seu passado, sua aparência ou seu dinheiro.

Sua atitude o ajudará a conquistar amigos ou fazer inimigos; atrairá ou

112
repelirá as pessoas.

Sua atitude é até mais importante do que suas habilidades para deter-
minar sua capacidade de obter sucesso.

O importante não é a condição financeira de sua família, tampouco


seus problemas, quem é seu chefe ou quanto você ganha; o importan-
te é a sua atitude para com a família, os problemas, a autoridade e o
dinheiro.

A atitude faz toda a diferença do mundo.

Estou completamente convencido da verdade quase escondida por


trás da máxima: “Dez por cento da vida são feitos do que acontece
com você, e os outros noventa por cento de como você reage ao que
lhe acontece.”

Encontre duas pessoas que frequentem a mesma escola, tenham os


mesmos professores, façam compras nas mesmas lojas, vivam na mes-
ma cidade e frequentem a mesma igreja.

Uma sofre e a outra é bem-sucedida. Por quê?

Simplesmente, atitude.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 113


“A história nos ensina que o homem não
teria alcançado o possível se, muitas vezes,
não tivesse tentado o impossível.”
Max Weber
O VOO DA MAMANGABA

“A audácia é uma das qualidades mais


preciosas do ser humano. Se Ihe falta isso,
ele nunca irá muito longe.”
Dr. Alexis Carrel, médico francês

No início do século XX, a ciência declarou as mamangabas aerodina-


micamente incapazes de voar. O peso do seu corpo em relação à en-
vergadura de suas asas é desproporcional, explicaram, e por isso as
mamangabas não estavam habilitadas a voar.

Contudo, a despeito do que a ciência afirmou, as mamangabas podem


voar. O voo é o modo mais eficiente que as abelhas e seus semelhantes
têm para ir das colmeias até as flores mais próximas, apanhar néctar e
voltar. E o fazem. Por sorte as mamangabas não leem revistas de ciên-
cia; se o fizessem, nunca mais se atreveriam a sair do chão.

Isso nos leva a crer que vale a pena questionar algumas supostas ver-
dades, ainda que muitas vezes nos tornamos vítimas de desprezo e
incompreensão.

No começo do século XVI, o astrônomo Nicolau Copérnico virou o


mundo científico de pernas para o ar. Até aquele momento havia pre-
valecido a teoria do Universo geocêntrico de Ptolomeu. Copérnico al-
terou tudo anunciando que o Universo era, de fato, heliocêntrico, isto
é, que todos os astros e planetas giravam em redor do Sol. De repente
a Terra tornou-se nada mais, nada menos do que um planeta girando

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 115


ao redor de uma bola de fogo. A teoria de Copérnico abalava dois mil
anos de tradição científica e usava a matemática para provar que todos
estavam errados. O modelo heliocêntrico explicava com sucesso irre-
gularidades astronômicas e hoje em dia é uma verdade absoluta. Mas
Copérnico arriscou-se ao ridículo, ao ostracismo e até mesmo à morte
para divulgá-lo.

Através dos séculos outros também enfrentaram a tempestade ao de-


safiar o pensamento tradicional e a verdade absoluta de sua época.
Cristovão Colombo, Sir Isaac Newton, Charles Darwin, Albert Einstein,
Pablo Picasso, Wolfgang Amadeus Mozart foram alguns deles.

Lembro-me da história de Kierkegaard sobre o viajante solitário que


chegou à vila nas terras altas e viu que a estrada à frente estava blo-
queada por uma montanha. Cansado e desanimado, ele sentou-se e
esperou que a montanha se movesse. Anos depois, ele continuava es-
perando, sentado no mesmo lugar, idoso e decrépito. A essência da
mensagem de Kierkegaard é que os céus não movem montanhas. Nós
é que precisamos escalá-las ou encontrar uma trilha que as contorne.
Se esperarmos pela montanha mover-se ou abordá-la da mesma for-
ma que os outros sempre fizeram, estaremos perdidos, mesmo se não
o percebermos.

De vez em quando precisamos de algo mais: a disposição para ques-


tionar as temporárias verdades absolutas ou, então, simplesmente
ignorá-las como faz a mamangaba. Ela simplesmente voa.

Durante boa parte da vida repetimos antigos hábitos e reações. Partes


de nossa rotina diária são repetidas milhares de vezes. Fazemos sem
questionar se poderíamos fazer melhor... E assim negamos o melhor
de nós mesmos, de nossos talentos e potencialidades, de nossa criati-
vidade. Portanto, “agite” sempre, altere a rotina. Questione verdades.
Mude hábitos antigos. Vire mais uma página. Cultive o espírito de ter
esperanças, olhe para cima, para fora e para frente.

Voe, cercas não foram feitas para quem tem asas.

116
“É difícil dizer o que é impossível, pois a
fantasia de ontem é a esperança de
hoje e a realidade de amanhã.”
Robert H. Goddard
O PODER DE UM SONHO

“Os sonhos se tornam realidade; se não


houvesse essa possibilidade, a natureza
não nos instigaria a tê-los.”
John Updike

Nunca subestime o poder de um único sonho.

Ninguém pode negar o modo como um sonho mudou para sempre


o cenário dos Estados Unidos. Esse sonho chegou à notoriedade nas
escadarias do “Memorial a Lincoln”, em 28 de agosto de 1963. Sob um
sol do meio-dia, o homem que recebeu o prêmio Nobel da Paz, Martin
Luther King Jr., falou a milhares de pessoas. Sua paixão soava em alto e
bom som para os ouvintes sedentos que, em pé, ocupavam toda a área
desse monumento nacional:

“Digo a vocês hoje, meus amigos, que a despeito das dificuldades e


frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho.

... Tenho um sonho de que um dia esta nação se levantará e viverá o


verdadeiro significado de seu credo:

Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas que to-


dos os homens foram criados iguais...

Tenho um sonho de que meus quatro filhos, um dia, vivam em uma


nação onde não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pela essência

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 119


de seu caráter. Tenho um sonho hoje!”

Esse sonho se fez ouvir por todos os Estados Unidos. Logo 100 mil pes-
soas fizeram uma marcha em Selma, Alabama.

Outras fizeram piquetes em Birmingham. Os que se opunham ao so-


nho queimaram as casas dos que faziam o piquete e destruíram seus
carros, mas sua esperança – sustentada pelo sublime sonho de um ho-
mem – permaneceu firme.

Uma nação inteira estremeceu sob o poder do sonho de um homem!

Você já conheceu alguma pessoa que não tinha a menor ideia do que
queria na vida e, ainda assim, tenha sido bem-sucedida? Eu nunca vi.
Todos nós precisamos de alguma coisa pela qual valha a pena lutar. O
sonho nos dá isso.

O mundo de um cego é definido pelos limites de seu tato, o mundo de


um homem ignorante, pelos limites de seu conhecimento, o mundo de
um grande homem é definido por sua visão. Se sua visão – seu sonho
– é grande, então é grande seu potencial de sucesso.

Quando temos um sonho, deixamos de ser expectadores sentados na


poltrona à espera de que tudo acabe bem. Participamos ativamente da
definição do propósito e do significado de nossas vidas. Os ventos das
mudanças não nos levam de um lado para outro. Nosso sonho, quando
perseguido, é o melhor prognóstico de nosso futuro. O que não quer
dizer que temos algum tipo de garantia, mas realmente aumenta em
muito nossas chances de sermos bem-sucedidos...

Ouse sonhar e trabalhar seu sonho. Faça isso a despeito de problemas,


circunstâncias e obstáculos. A história está cheia de homens e mulhe-
res que se depararam com adversidades e, apesar disso, alcançaram
sucesso.

Um velho ditado italiano diz que “entre o dizer e o fazer existem vá-

120
rios pares de sapatos gastos”. Um grande número de pessoas possui
sonhos e muitas delas têm sentimentos profundos com relação a eles.
Mas o que diferencia o idealizador de um sonho de um mero sonhador
são a ação e a fé.

Comece com um sonho, uma prece, sem dinheiro nenhum. É assim


que os sonhos se tornam realidade. Você não precisa se atirar para lá
e para cá atabalhoada e irresponsavelmente. Comece modestamente;
mantenha os pés no chão, certifique-se bem de que está agindo se-
gundo uma perspectiva integral, esteja certo de que detém o controle
e de que você sabe para onde está indo. Não comece querendo abo-
canhar tudo, pois engasgará. Comece modestamente. Centímetro por
centímetro, passo a passo.

“Impossível”. Não acredite nesta palavra! Pode ser que você tenha de
revisar seus planos, reescalonar suas prioridades, remodelar seus pro-
jetos, redefinir sua estratégia, deslocar seu centro de energia, checar
de novo suas respostas tradicionais, sair da rotina... mas não é impos-
sível!

Se você ainda não descobriu qual é seu sonho, provavelmente está


percebendo o quanto está perdendo. O sonho vai lhe dar uma razão
para prosseguir, um caminho a seguir e um alvo a alcançar.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 121


“O que conta não é necessariamente o tamanho
do cachorro na luta. É o tamanho
da luta no cachorro.”
Dwight Eisenhower
DETERMINAÇÃO

“Ninguém pode construir em seu lugar as pontes


que precisarás passar para atravessar o
rio da vida – ninguém exceto tu, só tu.”
Nietzsche

A diferença entre as pessoas comuns e as bem-sucedidas é que as pes-


soas que têm sucesso não ficam perdendo tempo discutindo suas limi-
tações, elas as transcendem. Recebem sua cota justa de obstáculos e
continuam em frente apesar disso. Às vezes ficam machucadas e até
feridas emocionalmente, mas se levantam e recomeçam.

O poder de realizar os próprios sonhos; a força de tornar real o ob-


jetivo... Algumas pessoas parecem estar predestinadas a marcar sua
passagem por este planeta. Não pense que elas são beneficiadas pelo
destino ou escolhidas por uma “conspiração astral”. Elas apenas ousam
realizar. Você também pode ser assim. Quantos sonhos você deixou de
realizar por não se sentir capaz? Como pode saber se é ou não capaz,
se não tentar?

Gente bem-sucedida não nasceu predestinada. Apenas ousou lutar


por seus ideais.

O caminho de quem tem sucesso não é ou não foi fácil. Por vezes, os
obstáculos foram tantos que a vontade de desistir foi maior, vencendo
muitos que almejavam destaque. Mas, para muitos, a realização foi
plena e eles marcaram sua existência.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 123


Quando você achar que é difícil prosseguir, deve lembrar-se dessa his-
tória:

Numa noite de outubro de 1968, um grupo de obstinados torcedores


permaneceu no estádio olímpico da Cidade do México para ver os úl-
timos colocados da Maratona. Mais de uma hora antes, Mamo Wol-
de, da Etiópia, havia cruzado a linha de chegada debaixo de saudações
exuberantes de todos os presentes. Mas, enquanto a multidão espera-
va pelos demais colocados, anoitecia e começava a esfriar.

Parecia que os últimos corredores já haviam chegado ao estádio; as-


sim, os espectadores começaram a ir embora. Foi exatamente nesse
momento que todos começaram a ouvir as sirenes dos carros que
acompanhavam a prova e que chegavam aos portões do estádio na-
quele instante. Todos pararam para observar e viram o último corredor
entrar no estádio e fazer a volta final, completando os mais de quaren-
ta quilômetros da prova. O corredor era John Stephen Akhwari, da Tan-
zânia. Quando ele estava passando pela pista de atletismo, os espec-
tadores puderam ver que sua perna estava enfaixada e sangrando. Ele
havia caído e se machucado durante a prova, mas isso não o impediu
de continuar. As pessoas no estádio se levantaram e o aplaudiram até
ele cruzar a linha de chegada.

O respeitado produtor de documentários, Bud Greenspan, observava a


distância. Depois, intrigado, Bud chegou-se a Akhwari e perguntou por
que ele tinha feito tamanho esforço para chegar ao final da corrida.

O jovem da Tanzânia respondeu em voz baixa: “Meu país não me en-


viou a noventa mil milhas de distância para começar a corrida, eles me
enviaram para terminá-la.”

Não se abata com as dificuldades ou com o agouro de quem o desani-


ma. Não escute aqueles que martelam ao seu ouvido que você não é
capaz. Lute por seus sonhos determinadamente.

Determinação foi o que John F. Kennedy personificou em 1961 quando

124
disse que poria um homem na Lua antes do final daquela década.

Determinação foi a força que levou Walt Disney a perseverar em cons-


truir seu sonho, apesar de ter que declarar falência cinco vezes.

É de exemplos como esses que você pode tirar inspiração nos momen-
tos em que acha que está prestes a desistir, abater-se ou abandonar
seu sonho. Eu sei que preciso usar a determinação dos outros como
inspiração quando sinto que o vértice da gravidade me puxa para baixo
e as coisas parecem difíceis demais.

Lembro-me sempre: outras pessoas já fizeram isso e eu também posso


fazer. Só preciso de determinação para continuar em frente.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 125


“O impossível, em geral, é o que não se tentou.”
Jim Goodwin
VIVA A PLENITUDE DO SEU POTENCIAL

“O que você tem feito é apenas uma


mera fração do que você é.”
Daniel C. Luz

Muitos se perguntam hoje em dia o que é a vida. La Bruyére afirma:


“Existem apenas três eventos na vida do ser humano: nascimento, vida
e morte; e ele não tem consciência de ter nascido, morre em aflição e
se esquece de viver.”

Alguns veem a vida num misto de realismo e pessimismo, como Niet-


zsche: “Ama a vida, enfrenta-a, porque, boa ou má, não temos outra.”
Outros são práticos em relação à vida como Sêneca: “Considerada em
si mesma, a vida não é boa, nem má; ela é tão-somente um lugar para
o bem ou para o mal”; e outros são espirituais como Goethe: “O dom
mais excelente que recebemos de Deus e da natureza é a vida.”

Tenho a impressão de que a maioria das pessoas simplesmente deixa


que a vida passe por elas. Mas também sei que existem algumas pes-
soas – muito poucas – que decidem o que vai acontecer em suas vidas.
Sabem que apenas viver não é suficiente! E vivem o máximo.

Cada um de nós tem a oportunidade de procurar viver em toda a pleni-


tude. A questão é: Será que vamos optar por este caminho?

Uma das maiores tragédias na vida é ver o potencial morrer represado.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 127


Uma tragédia maior é ver o potencial viver sem ser liberado...

Como é triste saber que a maioria das pessoas nunca descobrirá quem
elas são realmente, enquanto que outras se acomodarão com apenas
uma porção de si mesmas!

Viver em plenitude é um desafio para nós porque muito do nosso am-


biente não nos conduz para este propósito. Em todas as sociedades
há tradições, normas, expectativas sociais, costumes e sistemas de
valores que impactam, moldam, suprimem, controlam e, em alguns
casos, oprimem os dons, talentos e capacidades naturais, bem como o
potencial de seus membros. Este processo começa já no início da vida.
Mesmo uma criança recém-nascida recebe mensagens sutis de expec-
tativas comunitárias dos pais, irmãos e de outros membros da família,
os quais, em muitos casos, sufocam e limitam o tremendo potencial
da criança.

Em outras palavras, quando acreditamos nas opiniões das pessoas e


na sua avaliação de nossa habilidade, tais ideias e opiniões nos aprisio-
nam e, eventualmente, se tornam uma armadilha que impede e limita
a maximização de nosso verdadeiro potencial.

Em suma, a História é sempre feita por indivíduos que ousam desafiar


e superam o padrão estabelecido. Por que seguir um caminho se você
pode fazer uma triIha?

É dever de cada um de nós perguntar a nós mesmos as seguintes ques-


tões: Temos nos tornado tudo aquilo de que somos capazes? Temos
nos expandido ao máximo? Temos feito o melhor que podemos? Te-
mos usado nossos dons, talentos e habilidades até o limite?

O potencial que está represado dentro de muitos seres humanos é


sufocado, suprimido e perdido para o mundo! Muitas pessoas vivem
fazendo o mínimo possível, apenas o suficiente para sobreviver. Elas
vivem para andar por aí, não para ir em frente na vida. Elas mantêm o
status que, em vez de elevar o padrão na vida, fazem somente o que é
pedido e esperado.

128
Que maneira triste e deprimente de viver! Desafio você a deixar a mul-
tidão daqueles que seguem este caminho e juntar-se aos poucos que
se comprometeram a alcançar seu potencial pleno por meio do esfor-
ço para maximizar suas habilidades: Afinal, quem mais pode viver a
sua vida senão você? Quem mais pode representar cabalmente você?
Alerto-o para despertar e compartilhar o seu tesouro com o mundo...

O potencial grita para ser liberado na alma de cada ser humano que
entra neste planeta. Cada indivíduo é uma arca de tesouro vivo. Cada
pessoa chega como um novo produto de um fabricante, equipado para
desempenhar e realizar todas as exigências nele colocadas pelo Cria-
dor.

Como tenho afirmado em meus textos anteriores, o lugar mais rico


deste planeta não são as minas de ouro, as minas de diamantes, os
poços de petróleo ou as minas de prata... mas o cemitério. Por quê?
Porque estão sepultados em seus túmulos os sonhos e as visões que
nunca foram realizados, os livros que nunca foram escritos, as telas
que nunca foram pintadas, as canções que nunca foram cantadas e as
ideias que morreram como ideias. Que tragédia a riqueza do cemité-
rio!

Gostaria de saber quantas milhares, talvez milhões de pessoas serão


mais pobres porque não podem beneficiar-se da tremenda riqueza da
medida do seu potencial: os livros que você deixou de escrever, as can-
ções que deixou de compor ou as invenções que continua a adiar. Tal-
vez haja milhões que necessitam do negócio que você ainda vai iniciar.
Você deve maximizar a sua vida para o bem do futuro!

Há uma pequena cidade no interior de Minas Gerais que se tornou fa-


mosa devido a um escultor que havia perdido as duas mãos por causa
da lepra. Ainda jovem e acometido por esta terrível doença, ele cos-
tumava sentar-se e observar, durante horas, o pai trabalhando na sua
oficina de entalhar madeira. Um dia, este jovem decidiu treinar, ele
mesmo, a entalhar e esculpir madeira com os pés e as partes dos bra-
ços que ainda não havia perdido para a lepra.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 129


O espírito vivaz deste jovem liberou o seu potencial represado, e a sua
obra mostrou que, represado dentro deste aleijado, estava um dos
maiores artistas do mundo. É com espanto que os turistas que visitam
a antiga região do ouro em Minas Gerais admiram sua obra.

Meus olhos encheram-se de lágrimas à medida que pesquisava a his-


tória deste grande escultor mutilado: Antônio Francisco Lisboa, o alei-
jadinho. Não pude deixar de pensar nos milhões de pessoas que pos-
suem mãos, braços e pés em perfeita condição de funcionamento, mas
fracassam em deixar algo a sua geração. Este escultor é uma prova e
testemunho de que, no fundo de cada um de nós, existe o potencial
que pode ser maximizado se desejarmos ir além dos nossos temores,
superar os padrões e opiniões da sociedade, saltar as barreiras fabrica-
das do preconceito e desafiar os que dizem não. Não existe obstáculo,
exceto aquele de nossas mentes. Não há limite no nosso potencial,
exceto aquele que a pessoa impõe a si mesma.

É essencial que você enfrente esta questão, porque ela está relaciona-
da a sua realização pessoal e a sua contribuição à humanidade. Não
escolha limitar ou conter o seu potencial. Faço um apelo para que você
se liberte dos seus temores temporários, acorde e volte de novo para
a estrada para ser e tornar-se você mesmo. Você está equipado com
tudo que precisa de modo a fazer tudo o que deve ser feito. Contudo,
não compete a Deus liberar o seu potencial, mas, sim, a você. Você
determina o grau em que seu destino é realizado. Você determina a
medida do seu próprio sucesso...

Você, como ademais todos os outros indivíduos, possui a responsa-


bilidade de liberar este tremendo tesouro escondido dentro de você.
Tome a decisão de não se satisfazer com nada menos do que a plena
realização do seu ideal.

A responsabilidade para usar o que Deus armazenou dentro de você é


toda sua.

Comece já!

130
“... ‘Preciso fazer algo’ resolverá mais
problemas do que ‘algo precisa ser feito’...”
Glenn Van Ekeren
SEJA UM FINALIZADOR

“Nada é mais exaustivo do que a eterna


pendência de uma tarefa incompleta”
William James

Eu peguei meu dicionário na prateleira e procurei a palavra “comple-


to”. Lá está escrito: “a quem não falta nada do que pode ou deve ter;
preenchido, finalizado, concluído.”

Como isso nos condena! Poucos são aqueles que terminam o que co-
meçaram – e fazem o trabalho completo. Eu não estou me referindo a
um fanatismo neurótico extremado, impraticável, e a desbalanceada
preocupação somente com os detalhes. Estou falando sobre a rara,
mas maravilhosa, experiência de carregar uma responsabilidade até o
término. Irei listar algumas:

1. Um curso na escola – fazendo o seu melhor para atingir o ápice de


sua capacidade, pelo prazer da total realização.

2. Um projeto em casa – fazendo um plano e atacando a tarefa com


toda energia, com um único objetivo: fazer o serviço direito.

3. No trabalho – a fina arte de trabalhar está perdida nos dias de hoje


– realmente chegar lá é estudar o serviço, lendo e expandindo seu co-
nhecimento. Tornando-se um especialista em sua área pelo simples
prazer da realização!

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 133


4. Tarefas diárias – existe um sinal indicativo de “incompleto” escrito
em seus trabalhos domésticos? É sua marca registrada o “amanhã” ou
o clichê “tenho que arrumar isso qualquer hora...”?

Por que não fazer tudo de uma vez e se recusar a desistir até que a
tarefa esteja completa? Por que não prender a respiração e mergulhar
naquele trabalho desagradável com uma determinação renovada de
escrever “terminado” nele?

Do que você se lembra mais – das tarefas que terminou ou daquelas


que ainda estão por fazer? A maioria das pessoas responde imedia-
tamente: “Eu me lembro mais das coisas que deixei por fazer.” A esta
lembrança eu chamo de “peso na consciência”.

Deixar de fazer um progresso significativo ao cumprir uma obrigação


é a causa de muita frustração, estresse e decepção. Somente uma ob-
sessão por terminar o que tem que ser feito pode anular os resultados
e sentimentos negativos associados a tarefas incompletas.

Recentemente, eu estava ministrando uma palestra sobre motivação e


durante o intervalo um homem de estatura baixa, que parecia ter cer-
ca de 40 anos, veio conversar comigo: “Meu problema”, ele disse, “é
que nunca consigo terminar nada. Estou sempre começando as coisas,
esse ou aquele projeto, mas nunca termino. Sempre estou envolvido
com alguma coisa antes de completar qualquer outra”.

Ele me perguntou, então, se eu poderia lhe dar algumas frases afirma-


tivas que pudessem alterar seu sistema de motivação. Corretamente,
ele viu o problema como sendo uma questão de motivação. Por não
acreditar que era um bom finalizador, não terminava nada. Perdia o
interesse na tarefa e a deixava inacabada.

“Você acha que o que precisa são afirmações?”, perguntei-lhe. “Se


você tivesse que aprender a usar um computador, conseguiria fazer
isso sentando-se em seu sofá e repetindo as frases – “Eu sei usar um
computador. Sou um especialista em computadores. Sou um mestre

134
em computadores?”

Ele admitiu que afirmações positivas provavelmente não fariam efeito


em sua capacidade de usar o computador. “Portanto”, eu disse, “a me-
lhor maneira de mudar o seu sistema, a sua motivação, é modificando
sua maneira de agir”.

Reexamine suas tarefas e obrigações pendentes, a pilha de livros não


lidos, o regime interrompido, a correspondência que aguarda respos-
ta, os e-mails para responder, a série de exercícios físicos iniciados na
academia que o espera por semanas e que você está evitando. Sim-
plifique sua abordagem e planeje a forma de desentulhar sua vida,
decidindo-se a levar a termo essas responsabilidades.

Terminar uma tarefa nos dá a satisfação de conseguir um resultado.


Você pode retirá-la de sua lista de trabalhos a executar e começar uma
nova tarefa. É assim que uma vida de realizações acontece. William
James, o pai da psicologia norte-americana, sugeriu três regras para
fazer com que as coisas aconteçam na vida:

1. Comece imediatamente;
2. Faça com entusiasmo;
3. Não abra exceções.

Mude a maneira de ser. Levante-se e fique ativo, gaste as solas dos


sapatos e agarre-se a isso com tenacidade inabalável. Saber o que tem
que ser feito e então fazê-lo é sair da mediocridade e passar para o
nível da excelência.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 135


“As pessoas comuns preocupam-se apenas em
passar o tempo. As que têm talento, em utilizá-lo.”
Arthur Schopenhauer
PROCRASTINAÇÃO

“Nunca deixes para amanhã o


que podes fazer hoje.”
Lord Chesterfield

Já lhe aconteceu de ter um problema tão difícil e tão complexo que


você não sabia por onde começar a resolver? Você já teve um exame
que envolvia tanta matéria que não sabia por onde começar a estudar?
Muitos já passaram por esta situação e se sentiram oprimidos.

Por volta de 1770, Philip Dormer Stanhope – conhecido como Lord


Chesterfield – decidiu escrever para seu filho uma série de cartas que
transmitiam bons conselhos para uma vida que ele considerava ser po-
sitiva. Entre os conselhos havia o famoso “Nunca deixes para amanhã
o que podes fazer hoje”.

Procrastinar é deixar para amanhã algo que se tem que fazer hoje. Em
muitos casos, as razões aparentes que nos levam a cometer esse erro
são: medo, dúvidas ou desculpas. No fundo, porém, o motivo básico é
a falta de motivação.

A procrastinação é fatal. “Qualquer dia desses vou ao dentista”; “Qual-


quer dia desses vou fazer aquela cirurgia”; “Qualquer dia desses vou
passar mais tempo com a família... voltar a estudar... retomar meu re-
gime... realizar aquele sonho”; “Qualquer dia desses vou entrar em
forma”. E o “qualquer dia desses...”, frequentemente, nunca chega.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 137


Um dos meus filmes prediletos é o antiquíssimo “Os Dez Manda-
mentos”, no qual Charlton Heston, no papel de Moisés, separa o Mar
Vermelho para que os Hebreus possam atravessá-lo. A cena que me
chama atenção refere-se às dez pragas que Jeová enviou aos egípcios.
Uma das pragas é a das rãs; havia rãs por toda a parte. O Faraó cha-
ma Moisés e diz: “Muito bem, Moisés, desisto.” E Moisés pergunta:
“Quando você quer que eu acabe com as rãs?” A resposta do Faraó foi
clássica; ele disse: “Amanhã.” Ele devia estar louco! Por que alguém
esperaria tanto tempo para acabar com as rãs?

Como você se sentiria ao passar mais uma noite com as rãs? Por que
cargas d’água uma pessoa adiaria uma oportunidade positiva? Esperá-
vamos que o Faraó dissesse: “Acabe com as rãs agora mesmo!” E, no
entanto, ele respondeu: “Amanhã.”

Fazemos isso o tempo todo. Procrastinamos, deixamos para depois as


mudanças que sabemos ser boas para nós. Por quê? Talvez sejamos
complacentes; talvez sejamos preguiçosos demais para mudar; talvez
estejamos com medo porque não sabemos em que essas mudanças
implicarão; talvez sejamos orgulhosos demais ou simplesmente teimo-
sos. Seja qual for o motivo, procrastinamos.

Ainda mencionando o grande clássico “Os Dez Mandamentos”, Yul


Brynner, que representou o Faraó, tinha uma frase saborosa: “Assim
seja escrito; assim seja feito!”

Minha dica para você, caso tenha tendência a procrastinar, é que hoje
à noite, antes de dormir, anote numa folha de papel algo que pretende
realizar amanhã. Deve ser uma tarefa relacionada com uma meta de
curto, médio ou longo prazo.

Estabeleça um tempo para cumpri-la. Se perceber que levará mais de


uma hora, divida-a em várias partes e comprometa-se a realizar nesse
dia pelo menos uma delas. “Assim seja escrito; assim seja feito!”

Cada um se dirige para um objetivo de forma gradual. Em geral, são

138
pequenos passos.

Se não dermos os passos necessários, não progredimos e poderemos,


no futuro, andar para trás. Seguindo o conselho de Lord Chesterfield,
que consiste em não adiar o que deve ser feito hoje, podemos conse-
guir um encaminhamento organizado, harmonioso e firme na direção
de qualquer objetivo que estabelecemos para nós.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 139


“Você nunca achará tempo para nada.
Se você quer tempo, terá que criá-lo.”
Charles Buxton
QUINZE MINUTOS DE GLÓRIA

“Um caminhante ia por um bosque, quando encontrou


um lenhador que se esforçava para serrar um tronco
de árvore em pedaços pequenos.
O caminhante chegou mais perto, para ver por que
o lenhador lutava tanto, e disse:
‘Desculpe, mas percebi que a sua serra está
totalmente sem corte! Você não quer afiá-la?’
O lenhador gemeu: ‘Não tenho tempo para isso, preciso serrar!’”
Lothar J. Seiwert

A mudança é muito veloz. Quando você percebe, já está processando


essa velocidade no dia a dia. Por isso as pessoas andam se atrope-
lando. Temos sido pressionados, cada vez mais, por mais tempo, mais
recursos, mais informação. Temos a sensação de que o dia passa cada
vez mais rápido. No entanto, a Terra continua demorando 24 horas
para dar a volta completa em torno de seu eixo. E é assim que conta-
mos nosso tempo: em dias, semanas, meses e anos.

Como explicar, então, a sensação de que o deus Cronos está cada vez
mais veloz? Tentando acompanhar seu passo, recolhemos ansiedade,
impotência, cansaço e alienação.

Lembra-se de como era antigamente? Parece que havia mais tempo!


No passado, um ídolo fascinava uma geração inteira. Até os eletrodo-
mésticos duravam mais. Hoje, tudo é descartável. A tecnologia deve
ser rapidamente consumida, porque logo se torna obsoleta.

Esse ritmo causa forte impacto sobre indivíduos, grupos, organizações,


mercados e países. Afeta as relações, os papéis de cada um, as condi-
ções profissionais, o meio ambiente.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 141


• Tenha pressa;
• Desfrute de tudo;
• Processe e descarte;
• Vire-se!

Essas são as mensagens do nosso tempo.

É PARA ONTEM!!!!

Seu superior pede um parecer, um projeto, um trabalho. Você fala que


precisa de uma semana para realizar a tarefa. Ele se espanta e diz:
“Mas isso é para ontem!”

“Essa empresa está uma bagunça, não tem planejamento”, você pensa.

Pouco depois, ele o chama novamente. Dessa vez, para solicitar outro
trabalho urgente. Entre perplexo e irritado, você exclama: “Calma aí,
eu não sou dois!”

É uma loucura! Quando o dia termina, você está arrebentado, estres-


sado, moído. Sente uma necessidade enorme de relaxar, refletir.

Encontrar um tempo seu, dentro desse tempo veloz e alucinado, é ta-


refa quase impossível. O tempo é igual à vida. E a vida não delega aos
outros. É um bem ofertado a você desde o momento em que foi conce-
bido. Não se faz esforço para adquiri-lo, apenas se exige maestria para
preencher esse espaço.

O tempo é seu. É impossível trocá-lo, vendê-lo, estocá-lo. É preciso


assumir responsabilidade pelo seu tempo. Às vezes, você tem a sensa-
ção de que os outros o estão roubando. Filhos, marido, mulher, chefe,
trânsito. Todos parecem culpados. Mas o problema não é deles. É seu!

Você tem o poder sobre o seu tempo. Então não há por que deixar
espaços para sensações desagradáveis, como:

142
A vida está passando e eu não consigo...
• Tirar férias;
• Fazer uma viagem;
• Escrever um livro;
• Terminar o projeto;
• Trabalhar naquilo que gosto.

Você tem o poder sobre seu tempo.

Ele é só seu.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 143


“Planos são sonhos com data para se realizar.”
Michel Lévine
525.600

“O amanhecer é a coisa mais importante na vida.


Chega até nós à meia-noite, limpo. É perfeito quando
se coloca em nossas mãos. Ele espera que
tenhamos aprendido algo do ontem.”
John Wayne

Hora das perguntas! Você sabe quantos minutos e segundos tem um


uma semana? E um ano, você sabe? Pergunta estranha? Sim e não.

Há 525.600 minutos em um ano. Eu, você e qualquer um neste planeta


recebemos diariamente um presente inestimável. Seu nome é tempo.
Cada dia de nossas vidas é presenteado com 24 horas desse artigo in-
tangível, para usarmos como nos convier. Quer você seja rico ou pobre,
jovem ou velho, esperto ou não, branco, marrom, amarelo ou de boli-
nhas, todos recebemos a mesma porção diária: vinte e quatro horas. É
uma divisão igualitária.

Parece que nossa vida gira em torno do tempo, de uma maneira ou


de outra. Cada segundo que encapsula sua vida compõe você, desde
o primeiro fôlego até seu último suspiro. Essa ampulheta funciona até
seu tempo se esgotar, terminando, assim, o jogo da vida. Sua vida, afi-
nal, é o resultado total de como você emprega seu tempo.

Muitas pessoas acreditam que existe uma contabilidade quando o jogo


termina. Essa contabilidade tabula o resultado do que você fez da sua
vida. Você fez parte da solução ou do problema? Minimizou ou exa-
cerbou os desafios? Na contabilidade final, os bens, status e saldos

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 145


bancários não contam. A única coisa relevante é a maneira pela qual
você optou para utilizar o tempo que recebeu.
Você tem exatamente o tempo que lhe foi destinado, nem mais, nem
menos. Como diz o ditado, “é usá-lo ou perdê-lo”. Já que sua vida con-
siste na soma total das escolhas relativas à utilização do tempo, é lógi-
co que o nível de sucesso que você atinge na vida vai depender direta-
mente da sensatez com que você utilizou seu tempo.

A maioria de nós pode olhar ao redor e encontrar lembranças de boas


intenções. Prontamente, vemos coisas que nunca chegamos a fazer a
fim de alcançar um objetivo. Aquela esteira ou bicicleta ergométrica
estão empoeiradas. O piano, cujo objetivo era preencher nossos so-
nhos musicais, permanece silencioso.

Os livros estão empilhados no criado-mudo esperando para serem li-


dos. Como o tempo perdido não volta jamais, agora é a melhor hora
para fazer as coisas que são importantes para você. Como dizia o poeta
Horácio: “Aproveite o dia!”

O tempo é valioso como o dinheiro porque é limitado; recebemos uma


quantidade finita dele.

Se você desperdiça tempo ou perde tempo, estará quebrado da mes-


ma forma que estaria gastando, perdendo ou administrando mal suas
finanças? O tempo é gratuito, você não tem débito de tempo como
tem débitos financeiros. Não pode multiplicá-lo; ele não inflaciona
nem deflaciona. Tempo desperdiçado ou perdido pode ser um fator
que contribui para preocupação monetária, mas não estará no de-
monstrativo da sua conta corrente ou do seu inventário.

Se você mata o tempo, você é considerado um criminoso? Pode ser


preso por usar mal este bem intangível? Por este crime, você pode
ser sentenciado? Poderá cumprir menos tempo de pena se tiver bom
comportamento? Você pode emprestar horas de amanhã para usar
hoje, como se pode emprestar dinheiro por conta dos ganhos de ama-
nhã? Pode transferir sua mesada de tempo, dizendo “Farei isso quando

146
tiver mais tempo?”

Você nunca terá mais tempo. Tempo não é como dinheiro; o tempo
é mais ardiloso e mais precioso que o dinheiro. O tempo só pode ser
gasto e, uma vez gasto, não pode, nunca, ser recobrado.

O tempo é como o concreto que vai girando no misturador. O concreto


é somente um potencial até que o operário abra o reservatório e o
coloque numa forma para que ele tenha alguma utilidade. O tempo
desperdiçado é como o concreto que nunca é usado ou que é retira-
do, mas não é colocado na forma. Só conseguimos crescer se apren-
dermos a moldar nossas vidas dentro dos limites do tempo, porque
somente usando adequadamente o tempo conseguimos ter controle
sobre nós mesmos.

Um dos melhores métodos para dar forma ao nosso tempo é estabele-


cer metas a longo e a curto prazo. O que queremos atingir? Que passos
devemos dar hoje para preencher o objetivo de amanhã? Use cada
minuto porque, se não o fizer, você irá perdê-lo!

E o tempo que perder hoje será perdido para sempre.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 147


“A dificuldade reside não nas novas ideias,
mas em escapar das velhas ideias.”
John Maynard Keynes
SAINDO DO ATOLEIRO

“Desafie-se, acima de tudo. Talvez você se


surpreenda com seus pontos fortes
e com o que você pode realizar.”
Cecile M. Springer

Com frequência, começo meu seminário “Sucesso em tempo de mu-


danças” com a experiência a seguir. Espero todas as pessoas se senta-
rem confortavelmente. Depois lhes digo para pegarem seus pertences
e encontrar outro lugar para se sentar. Você não imagina os resmun-
gos que ouço e os olhares irritados do qual sou alvo. Mas após alguns
momentos de hesitação, a maioria delas se levanta. Então, eu digo:
“Parem, vocês podem ficar onde estão.” Todos deixam-se cair em seus
assentos com um grande suspiro de alívio.

A seguir, faço esta pergunta: “Obviamente muitos de vocês ficaram


aborrecidos quando eu lhes disse para trocar de lugar. Por quê?”

Algumas pessoas dizem que estavam confortáveis e não queriam fazer


isso. Outras dizem que gostam de se sentar perto de seus amigos. Al-
gumas salientam que podem ver melhor de onde estão. Umas poucas
dizem que não gostam que alguém lhes diga onde devem se sentar. A
maioria concorda que poderia trocar de lugar se fosse preciso. Tam-
bém diz que quanto mais perto o novo assento fosse do original mais
fácil seria fazer a mudança.

Então, pergunto: “Se uma pequena mudança, como sentar em um lu-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 149


gar diferente na mesma sala, lhes causa tanto desconforto, como se
sentiriam com uma grande mudança?” Todos riem e entendem o que
quero dizer: se fazer pequenas mudanças é problemático, fazer uma
grande mudança parece ser impossível.

A maioria de nós deseja obter sucesso em sua vida pessoal, profissio-


nal e familiar, mas frequentemente não quer ou não consegue fazer as
mudanças necessárias para atingir seus objetivos.

Muitas vezes as pessoas ficam presas em suas teias de insatisfação.


Elas reclamam da vida que estão vivendo e, no entanto, nada fazem
para modificar isso. Todos nós conhecemos alguém que sinceramente
acredita que não há nada a fazer para melhorar sua situação. Essas
pessoas dizem coisas como “é tarde demais para recomeçar” ou “já
não tenho mais idade para isso”. Elas podem não saber consciente-
mente, mas mergulharam num atoleiro de negatividade, cercado de
barreiras construídas pela familiaridade e pelo conforto.

Você sabe quando tem uma sensação de aperto por dentro. Da mes-
ma forma, você sabe quando está apenas deixando o tempo passar: o
dia, a semana, o mês, o trimestre. Você sabe quando sente que falta
alguma coisa na sua vida. Quando a consciência dessa sensação aflora,
você só tem duas opções: pode tentar ignorá-la e insistir no seu sofri-
mento ou pode modificar as coisas.

A vida é o que se faz com ela. Poucas pessoas se dão conta deste fato
e a maioria fica presa numa rotina com poucos atrativos que, em geral,
dura anos e anos e, na maior parte das vezes, dura toda a vida.

As rotinas podem até ser cômodas, mas inibem e restringem. Você se


encontra numa situação semelhante? Pergunte a si mesmo qual foi o
progresso que fez nos últimos cinco anos. E nos últimos dez. Se alcan-
çou pouco ou nada, terá que introduzir mudanças que melhorem suas
possibilidades de sucesso no futuro.

O elemento principal do qual você precisa para sair do atoleiro da zona

150
de conforto é a disposição. Sem a disposição para melhorar sua situa-
ção, você não pode reunir a energia e a criatividade de que vai precisar
para modificar a vida.

A pessoa que você será no futuro depende do tipo de mudança que


você fará agora. Você está disposto a mudar para melhor ou prefere
ficar onde está?

Lembre que só cabe a você o que você quer da sua vida.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 151


“Não sei o que você espera da vida, mas,
seja o que for, o melhor é buscar.”
Ciro Pellicano
CRESCIMENTO É MUDANÇA

“Por que estamos na terra,


se não para crescer?”
Robert Browning

Não são muitas as pessoas que já leram o próprio obituário. Alfred


Nobel leu. Nobel estava doente já há algum tempo e alguém anunciou
falsamente que ele tinha morrido. Imagine sua surpresa quando abriu
o jornal de manhã e viu sua morte noticiada!

Ao ler os curtos parágrafos que resumiam sua vida e obra, ficou inco-
modado ao ver que era mencionado apenas como o homem que in-
ventara a dinamite. A nota descrevia toda a destruição que a invenção
causara. Nobel deplorou a ideia de ser lembrado como criador de algo
que fora usado para destruir tantas vidas.

Depois de ler o seu obituário, Nobel decidiu mudar sua vida. E resolveu
dedicá-la a um novo ideal: a busca da paz. Hoje lembramos de Alfred
Nobel não como o inventor da dinamite, mas como o fundador do prê-
mio Nobel da Paz.

A história de Nobel ilustra uma verdade importante: nunca é tarde de-


mais para mudar o rumo de sua vida.

Se não mudamos, não crescemos. Se não crescemos, não estamos re-


almente vivendo. O crescimento exige uma perda temporária de segu-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 153


rança. Isso pode significar o abandono de um padrão familiar e limita-
dor, de um emprego seguro, mas não gratificante, de valores em que
não se crê mais, de relacionamentos que perderam seu significado...
Como Dostoiévski afirmou: “Dar um novo passo e divulgar algo total-
mente novo são as coisas que as pessoas mais temem.”

Não consigo imaginar coisa pior do que viver uma vida estagnada, des-
tituída de mudança e de progresso.

A maioria das pessoas luta contra as mudanças, especialmente se elas


nos afetam pessoalmente. Como o romancista Leon Tolstói escreveu:
“Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a
si mesmo.” A ironia é que a mudança é inevitável. Todos têm de lidar
com ela. Por outro lado, o crescimento é opcional. Você pode optar por
crescer ou lutar contra isso, mas saiba de uma coisa: pessoas que não
querem crescer nunca alcançarão seu potencial.

Quanto você mudou... ultimamente? Digamos, na última semana? E


no último mês? O último ano, como foi? Você consegue ser bastante
específico? Sabemos que a tendência das pessoas é continuar na rotina
quando o assunto é crescer e mudar. Crescimento é uma escolha, uma
decisão que realmente pode fazer diferença na vida de uma pessoa.

A maioria não percebe que as pessoas bem ou malsucedidas não di-


ferem substancialmente em suas habilidades. Elas são diferentes no
desejo de alcançar seu potencial. E nada é mais eficiente que o com-
promisso com o crescimento pessoal quando o assunto é alcançar seu
potencial.

O que será dito no seu in memoriam? O que estará escrito em seu obi-
tuário? Alfred Nobel leu o seu próprio e mudou. Você pode começar a
concretizar algumas mudanças agora mesmo.

154
“Nunca subestime o seu poder de mudar
a si mesmo e nunca superestime o seu
poder de mudar os outros.”
H. Jackson Brown
CEDA E SEJA A MUDANÇA

“A felicidade que vem de nós mesmos é maior que


aquela que obtemos do que nos cerca... O mundo
em que o homem vive é moldado, principalmente,
pelo modo como ele o vê.”
Arthur Schopenhauer

Não tente mudar outras pessoas. Isso não funciona. Você irá desperdi-
çar sua vida tentando.

Uma de minhas histórias favoritas tem a ver com um casal de idosos


que visitava os netos. Toda tarde o avô deitava-se para tirar uma so-
neca. Certo dia, em um momento de pura travessura, as crianças de-
cidiram colocar um pouco de queijo no bigode dele. Logo depois, ele
acordou franzindo o nariz:

– Ora, este quarto está cheirando mal – exclamou, ao levantar-se para


ir à cozinha.

Não ficou ali por muito tempo até chegar à conclusão de que a cozi-
nha também estava com o mesmo cheiro. Decidiu sair para respirar ar
fresco. Mas para sua grande surpresa o ar fresco de nada adiantou, e
ele disse:

– O mundo inteiro está cheirando mal!

Essa é uma grande verdade. Quando temos “queijo” em nossas atitu-


des, o mundo todo cheira mal. Nós, como indivíduos, somos responsá-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 157


veis por nossa visão de mundo. Nossa atitude e nossa ação em relação
à vida ajudam a determinar o que nos acontece.

Seria impossível estimar o número de empregos perdidos, de promo-


ções não obtidas, de vendas não feitas e de casamentos destruídos por
causa de atitudes medíocres. Entretanto, quase todos os dias testemu-
nhamos empregos conseguidos, mas odiados, e casamentos tolerados,
mas infelizes, tudo porque as pessoas esperam a mudança dos outros
ou do mundo em vez de perceber que são responsáveis por seu pró-
prio comportamento.

Muitos de nós passamos tempo demais tentando mudar as pessoas de


nossas vidas, quando deveríamos ser a mudança que desejamos ver
nos outros.

Há um poema de autor não identificado que é uma grande lição sobre


como ceder e mudar:

“Ceder não significa parar de me preocupar, significa que eu não posso


resolver os problemas da outra pessoa.

Ceder não significa isolar-me, significa que não posso controlar a vida
da outra pessoa.

Ceder não é tornar as coisas mais fáceis, mas extrair lições das conse-
quências de nossos atos.

Ceder é admitir que tenho limitações, o que significa que o resultado


final não depende de min.

Ceder é não tentar modificar ou culpar outras pessoas; eu só posso


modificar a mim mesmo.

Ceder não significa deixar de prestar assistência; significa continuar a


demonstrar interesse.

Ceder não é jogar a culpa no outro, mas ter espírito de solidariedade.

158
Ceder não é julgar, mas admitir que a outra pessoa é um ser humano.

Ceder é não se intrometer tentando resolver problemas alheios e per-


mitir que as pessoas encontrem as soluções por conta própria.

Ceder é deixar de ser protetor; é permitir que a outra pessoa enfrente


a realidade.

Ceder não é rejeitar, mas aceitar.

Ceder não significa resmungar, censurar ou discutir, significa aceitar as


próprias falhas e corrigi-las.

Ceder não significa adaptar tudo conforme meus desejos, mas aceitar
cada dia como ele é e apreciar cada momento.

Ceder é não criticar nem controlar o outro, mas tentar me transformar


na pessoa que eu gostaria de ser.

Ceder não é arrepender-se do passado, mas adquirir experiência e vi-


ver para o futuro.

Ceder é temer menos e amar mais.”


Autor desconhecido

Viver é como receber uma por uma as peças de um mosaico ou de um


quebra-cabeça. O mosaico é a “realidade”. Não vem todo de uma vez
em uma caixa com uma bela embalagem. Vem peça por peça em paco-
tes onde está escrito “dias”.

Cada dia traz novas peças. Cada nova peça da sua própria contribuição
de um entendimento mais profundo ao quadro completo da realidade.

Juntamos as peças de formas diferentes porque cada um de nós per-


cebe a realidade à sua maneira. As qualidades mais necessárias para a
construção de uma visão adequada e exata são abertura e flexibilida-
de. A armadilha a ser evitada é a rigidez.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 159


“O melhor caminho para sair de uma
dificuldade é através dela.”
Will Rogers
O LADO BOM DA ADVERSIDADE

“A adversidade provavelmente faça mais


pelo nosso desenvolvimento do que
qualquer outro fator isolado.”
Alexander V. Solzhenitsyn

Alguns dos fatores que podem auxiliá-lo a alcançar o sucesso em sua


vida podem ser controlados, mas nem todos. Entre os fatores que
podem ser controlados estão: trabalho árduo, metas bem definidas,
concentração nos objetivos e obtenção dos recursos necessários para
atingi-los. Mas o fator que produz os mais altos níveis de realização hu-
mana talvez seja um que não podemos controlar e que tudo fazemos
para evitar – a adversidade.

Um grande sucesso tem um alto preço. O que vem de modo fácil geral-
mente tem pouco valor. Em qualquer atividade, as pessoas de sucesso
são as que se recusam a parar no meio do caminho. Você não chegará
ao seu destino sem passar por problemas, e isso não é uma exclusivi-
dade sua: todos enfrentam dificuldades.

O mundo não é justo; portanto, não se surpreenda se você for trata-


do injustamente. Todo o mal que o atinge pode ter um dentre dois
possíveis efeitos em sua vida: ou você ficará amargurado ou será apri-
morado. As pessoas amarguradas nunca vencem. Decida-se pela outra
alternativa que você vai se aprimorar. Cada montanha que você escalar
só tem a finalidade de torná-lo mais forte. As pessoas bem-sucedidas
sempre persistem na realização do seu objetivo, apesar dos reveses e

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 161


desapontamentos por que tenham de passar.

A águia é considerada uma das aves mais imponentes. Poucas conse-


guem subir as alturas que ela alcança. Já foi dito que a natureza teme
as tempestades, exceto as águias. Isso é porque as águias sabem que
poderão ser levadas a alturas maiores com menos esforço se enfren-
tarem os ventos contrários com o ângulo correto. Lembre-se: todo
vento contrário é uma oportunidade de subir mais, mas você tem que
enfrentá-lo com o ângulo certo, ou seja, com a atitude correta.

Um grande engano com respeito a realizar-se numa atividade é a cren-


ça de que alguns se tornam pessoas de sucesso porque as circunstân-
cias lhe foram favoráveis e porque o “grande momento” da sua vida
surgiu. Tomando isso como justificativa, muitos se desculpam de seu
insucesso; mas crer nisso é um dos principais motivos da derrota.

Podemos ter aversão às dificuldades quando elas surgem, mas elas nos
tornarão melhores. O escritor russo Alexander V. Solzhenitsyn decla-
rou que até a biologia nos ensina que o bem-estar contínuo não é bom
para ninguém. A adversidade, provavelmente, faz mais pelo desenvol-
vimento do qualquer outro fator isolado. Ela nos ajuda a concentrar a
nossa atenção em nosso alvo, a eliminar o supérfluo e a nos dedicar ao
que é realmente importante.

A adversidade fará com que os realmente dedicados trabalhem ainda


mais arduamente, tornando-os, assim, mais fortes e melhores. Se o su-
cesso for muito fácil, ficaremos mais fracos. Mesmo sabendo que isso
é verdade, e que o nosso propósito é atingir o nosso alvo, não é errado
querermos nos livrar dos obstáculos tanto quanto seja possível. É bom
evitar problemas desnecessários, mas teremos de ter a determinação
de superá-los quando ocorrerem, e deveremos agarrá-los como opor-
tunidades de crescimento.

Agora, antes de fazer qualquer coisa, pegue uma folha de papel e res-
ponda as seguintes perguntas:

162
1. Quais são seus objetivos?

2. Do que você precisa para se concentrar nesses objetivos?

3. Há pessoas negativas ao seu redor, que passam mais tempo falando


do que está errado do que sobre as oportunidades?

4. Como você vai substituir tais amigos ou associados por pessoas po-
sitivas?

5. Que obstáculos você prevê que poderiam impedi-lo de atingir seu


objetivo? Como você vai superá-los?

Guarde esse papel. Leia-o todo dia, meditando sobre cada item. Cuide
bem dele, porque um dia você vai querer colocá-lo em uma moldura.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 163


“Vês muitas estrelas no céu noturno, mas não as
enxerga quando o sol nasce. Dirias, por isso,
que não há estrelas no céu diurno?”
Ramakrisna
ALGUMAS PESSOAS TÊM OLHOS, MAS NÃO VEEM

“Em algumas coisas é preciso


acreditar para que sejam vistas.”
Ralph Hodgson

Está preparado para uma surpresa?

Você pisca vinte e cinco vezes por minuto. Cada piscada leva aproxima-
damente um quinto de segundo. Portanto, se você faz uma viagem de
automóvel que dura dez horas, a uma velocidade de 65 quilômetros
por hora, você dirige aproximadamente 32 quilômetros de olhos fe-
chados.

Eu conheço um outro fato muito mais surpreendente que este. Algu-


mas pessoas passam suas vidas de olhos fechados. Elas olham, mas
não enxergam realmente... não questionam... a visão é presente, mas
a percepção é ausente. Se a vida fosse uma pintura, veriam as cores,
mas não a genialidade das pinceladas. Se fosse uma viagem, notariam
a estrada, mas não a majestosa e tremenda paisagem. Se fosse uma
refeição, comeriam e beberiam, mas negligenciariam a notável beleza
da porcelana e o delicado toque de vinho no tempero. Se fosse um po-
ema, leriam o que está escrito na página, mas perderiam a paixão do
poeta. Retire a perspicácia e você repentinamente reduzirá a vida com
frequentes lampejos de enfado e indiferença.

As pessoas mais inteligentes podem, às vezes, estar cegas a uma visão

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 165


maior, especialmente se isso significa uma grande mudança no status
quo. Até o grande Mark Twain teve dificuldade em discernir entre boas
e más visões. Apesar da sua inteligência, ele foi apanhado pela
cegueira.

Uma tarde, Twain recebeu a visita de mais um homem em busca de in-


vestidores – um inventor carregando debaixo do braço uma engenho-
ca de aparência estranha. Ansioso e com bastante convicção, o homem
explicou o seu invento ao escritor, que ouviu polidamente, mas no final
disse que teria que recusar; já havia se queimado muitas vezes.

“Mas não estou pedindo que o senhor invista uma fortuna”, o visitante
alegou, “Pode ter a participação que desejar por 500 dólares”. Ainda
assim Mark Twain sacudiu a cabeça. Não estava disposto a se arriscar
em uma invenção que não fazia nenhum sentido para ele. Quando o
inventor resolveu ir embora com sua máquina, o escritor o chamou:
“Como é mesmo o seu nome?” “Bell”, o homem respondeu, com um
traço de melancolia na voz, “Alexander Bell”.

As pessoas sem perspicácia habitam principalmente no reino do ób-


vio... do esperado... do essencial. As dimensões que as interessam são
compridas e largas, mas não profundas. Por favor, entenda, não estou
criticando as pessoas que não conseguem se aprofundar... mas as que
conseguem, mas não querem. Não estou apontando meu dedo para a
inabilidade, mas, sim, para a recusa.

Isto me lembra uma história que ouvi sobre um fazendeiro que levou
seu cão a uma caçada. Com a arma carregada, sentou-se em algum lu-
gar escondido, à beira de um lindo lago. Quando alguns patos voaram
por cima de sua cabeça, ele atirou, acertando um dos patos, que caiu
exatamente no meio do lago. Seu cão jogou-se na água e, para surpre-
sa do fazendeiro, caminhou pela superfície daquele lago raso, pegou o
pato abatido e o deixou aos pés do fazendeiro. Imaginando estar ven-
do coisas, o fazendeiro atirou em outro pato e, assim como antes, para
seu espanto, o cão novamente pegou o pato e o trouxe ao fazendeiro.
Aquele homem mal podia esperar para voltar à cidade e contar a to-

166
dos o que seu maravilhoso cão era capaz de fazer. Então levou mais
dois amigos ao mesmo lago, onde abateram outro pato e mandaram
o “cão-maravilha” buscar o animal abatido. Bem diante dos olhos dos
três amigos, o cão fez exatamente o que fizera antes: atirou-se no Iago,
andou perto da superfície, pegou o pato e o deixou aos pés do fazen-
deiro.

Ansioso por receber cumprimentos, o fazendeiro olhou ao redor, na di-


reção de seus amigos, esperando uma reação. “Vocês não viram o que
meu cachorro é capaz de fazer?!”, exclamou o fazendeiro. “Vocês já
viram alguma coisa igual?”, perguntou, irritado. Um dos amigos parou,
pensou e resmungou: “Eu não acho que seu cachorro saiba nadar!”

Isto é o que eu chamo de não captar a ideia.

Eu desafio você: Abra seus olhos! Pense! Aplique! Escave! Escute!

Existe uma imensa diferença entre uma piscada necessária e a ceguei-


ra desnecessária.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 167


“A verdadeira medida do tempo não é o relógio.
A verdadeira medida do tempo se chama esperança.”
G. Elbling
DO FATALISMO PARA A ESPERANÇA

“Uma pessoa pode viver quarenta dias sem alimento,


três dias sem água, oito minutos sem ar,
mas nenhum minuto sem esperança.”
Autor não identificado

Contam por aí a história de um homem que percebeu que estava len-


tamente perdendo a memória. Ele procurou um médico e, após um
exame cuidadoso, este lhe disse que uma cirurgia no cérebro poderia
reverter a situação e fazê-lo recuperar a memória.

– No entanto – disse o médico –, você precisa compreender que a ci-


rurgia é muito delicada. Se um nervo for lesado, isso poderá resultar
em cegueira total.

Um silêncio profundo encheu a sala.

– O que você prefere conservar – perguntou o cirurgião, tentando que-


brar o incômodo silêncio –, a visão ou a memória?

O homem ponderou sobre suas alternativas por alguns momentos e


então respondeu.

– A visão, porque eu prefiro ver para onde estou indo a lembrar onde
já estive.

Esse mesmo raciocínio é endossado pela pessoa que entende como a

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 169


vida está passando rapidamente e que, para sobreviver e prosperar,
ela precisa deixar o passado para trás. Você pode não esquecer o seu
passado, mas não precisa viver nele.

O passado é um assunto morto e não podemos ganhar impulso para


nos mover em direção ao amanhã se estivermos arrastando o passado
atrás de nós. Por mais importante que seja o seu passado, ele não é
tão importante quanto o caminho que você vê e prepara para o futuro.

Nossos esforços, portanto, devem se concentrar na tarefa de aguçar


nossa visão, e não em salvar nossa memória.

Você consegue, hoje, se lembrar do que fazia exatamente há um ano?


Sobre o que você estava falando? Você estava zangado ou feliz, ansioso
ou confiante? Pode ser que você guarde a vívida lembrança de algo
dramático que tenha ocorrido. Para a maioria de nós, porém, o que
nos preocupava naquele dia ficou nebuloso ou já se desvaneceu de
nossa memória consciente.

Quando não temos esperança no futuro, continuamos obcecados com


o passado e reféns do fatalismo, sem força para viver o dia de hoje.

O fatalismo é a atitude predominante na maioria das pessoas que vi-


vem arrastando o passado. Ele é expresso em frases como: “Sempre
foi assim, nada pode ser feito a respeito disso”; “Não se pode mudar o
mundo”; “É preciso aceitar a realidade.” Uma pessoa fatalista diz: “De
que adianta? No final, vamos perder. Somos vítimas do destino.” Essa
atitude leva-nos, facilmente, ao ressentimento, à amargura, à deses-
perança, ao desespero.

Mas preservar a visão é muito diferente do que cultivar uma memória


fatalista. É seu extremo oposto, é esperança. Uma pessoa com espe-
rança está disposta a deixar que coisas novas aconteçam e assume res-
ponsabilidades que ultrapassam possibilidades jamais cogitadas.

Ter esperança não quer dizer evitar ou ser capaz de ignorar o passado

170
de sofrimento. Na verdade, a esperança nasce no aprendizado com o
passado. O fundamento de nossa esperança é acreditar que algo me-
lhor irá acontecer. É crer que hoje é o primeiro dia do restante de sua
vida. Assim, de nada seve se inquietar pelo passado, pois não há nada
que você possa fazer a respeito. Mas você tem o dia de hoje, e é hoje
que começa tudo que está para acontecer.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 171


“Muitas coisas não ousamos empreender por
parecerem difíceis; entretanto, são difíceis
porque não ousamos empreendê-las.”
Sêneca
POR QUE DEVEMOS SAIR DA ZONA DE CONFORTO?

“De vez em quando é preciso subir num


galho perigoso, porque é lá que estão as frutas.”
Will Rogers

Por que você deve sair da sua zona de conforto? Por que, se lá é tão
quentinho e aconchegante? Eu lhe darei três boas razões:

A primeira razão é que você será obrigado a sair um dia, por mais que
resista. Ninguém passa a vida inteira sem encontrar dificuldades. A in-
certeza é um fato da vida, a única coisa da qual podemos ter certeza.

Não temos de nos entregar a precipitações óbvias ou riscos derrotis-


tas, mas podemos nos permitir correr riscos positivos em busca de
crescimento e progresso.

Não podemos simplesmente optar por uma vida calma, sem nenhuma
turbulência. Algum dia, em algum lugar, algo nos fará passar por um
teste para o qual não estaremos preparados e que gostaríamos de não
ter de enfrentar.

Corra riscos. Não espere sempre por uma garantia. Não temos de ou-
vir: “Eu não disse?” Depois de um erro, sacuda o pó e caminhe para o
sucesso.

A segunda razão é que, como seres humanos, acredito que procura-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 173


mos maneiras de nos refinar e melhorar. Temos, dentro de nós, a capa-
cidade e o desejo poderoso de melhorar nosso protótipo. E só pode-
mos fazer isso nos esforçando e testando.

Experimente. Tente algo novo. Dê mais um passo.

Temos estado presos há muito tempo. Temos nos segurado há muito


tempo.

Quando crianças, muitos de nós fomos reprimidos no direito de expe-


rimentar. Como adultos, não é diferente; continuamos nos privando
deste direito.

Agora, é hora de experimentar. Permita-se provar coisas novas. Deixe-


se tentar por algo novo. Sim, você cometerá erros, mas a partir desses
erros você conhecerá quais são seus valores.

Algumas coisas não apreciaremos. Isso é bom, pois saberemos um


pouco mais sobre quem somos e do que não gostamos.

Outras coisas nós apreciaremos. Elas funcionarão com nossos valores,


com quem somos e contribuirão com a descoberta de coisas importan-
tes e enriquecedoras para nossa vida.

A terceira razão pelo qual você deve sair da sua zona de conforto é
simplesmente porque sua vida se tornará muito mais interessante. Sei
que você não quer uma vida monótona, previsível, pois, se quisesse,
não estaria lendo este texto.

Quem leva uma vida segura e previsível nunca saberá que pessoa ex-
traordinária realmente é. Torne desafiadoras as circunstâncias de sua
vida para que sua grandeza possa subir à superfície.

174
“As oportunidades são como o nascer do sol;
se você esperar demais, vai perdê-las.”
William Arthur Ward
ASSUMINDO RISCOS E ROMPENDO BARREIRAS

“E o problema é que, se você não arrisca nada,


corre um risco ainda maior.”
Erica Jong

Experimentar algo novo pode ser assustador e até perigoso, mas pode
ser também uma das sensações mais estimulantes da vida.

Assumir um risco significa extrapolar sua zona de conforto e fazer al-


guma coisa sem garantias. Significa dar ouvido ao borbulhar, prestar
atenção nas bolhas internas da excitação. Honrar a luz em seus olhos.
Significa que você está fazendo uma coisa que não é lógica, racional,
nem sensata, mas, sim, intuitiva. Significa ir contra o bom senso tradi-
cional e realmente dar ouvidos ao canto de seu coração. Assumir um
risco não é imprudência, mas também não é necessariamente sempre
sensato. Em geral, fica mais ou menos no meio dos dois.

Os rompedores de barreiras são pessoas cheias de propósitos, que


acolhem a aventura e ficam forçando a si mesmas a sair de seu confor-
to estabelecido e entrar em zonas de alta realização. São pessoas que
aprendem a superar a força amortecedora do hábito e da rotina em
suas vidas, pessoas que transcendem o “bom o bastante” e aprendem
como exigir o melhor de si mesmas com frequência.

Correr riscos requer autoconfiança e disposição para cometer erros. Se


todas as expectativas se realizam ou não, há sempre uma exuberância

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 177


de coisas a aprender com a experiência.

Como você saberá que deve assumir um risco? Quando o chamado da


emoção for tão poderoso quanto um ímã, quando dominar você e não
soltar mais, quando você estiver pronto e disposto a aceitar o resulta-
do que vier. É assim que você saberá que é a hora da virada.

Entre o mundo seguro em que você está e a nova vida que deseja criar
existe um abismo. Cabe a você construir a ponte inicial entre esses
dois mundos. O desafio aparece depois de feito o que se tem de fazer.
Aí você descobre que depois de tudo o que fez – todo o raciocínio, a
pesquisa, a avaliação e a tomada de decisão – pode não saber de nada
até entrar na experiência.

O último centímetro ou quilômetro é a zona desconhecida. Você só


pode conhecer a resposta abandonando o que sabe e mergulhando
fundo. É nesse momento que temos a sensação de estar pulando no
vazio. Quando você ergue o pé da frente para avançar, o de trás preci-
sa sair do chão antes de o outro descer para a terra novamente. Essa
sensação de “perder o chão” é o momento em que assumimos o risco.
Sem nada embaixo e sem nada em que se agarrar. É preciso confiar
totalmente em si mesmo. A sensação é a mais próxima possível de um
voo emocional.

O anúncio da Nike diz: “Simplesmente faça!” Claro que é mais fácil


falar do que fazer, mas existe um ponto em que não resta mais nada
a fazer. Depois de satisfazer a necessidade de informação e de conhe-
cimento, responda todas as perguntas que estão na sua cabeça, peça
a opinião de todas as pessoas que conhece, procure na Internet, leia
tudo o que lhe cair nas mãos. É a hora de ir fundo ou desistir.

Charles Lindbergh não desistiu quando decidiu voar sobre o Atlântico,


sozinho, num avião monomotor. Será que ele teve medo? Certamente
ele teria se nunca tivesse voado antes ou se não soubesse nada sobre
aviões; talvez ele tivesse um bom motivo para ficar ansioso. Ele certa-
mente seria considerado um tolo caso decidisse fazer a viagem sem

178
um planejamento prévio.

Mas nenhum destes fatores aconteceu no caso de Lindbergh. Ele era


um piloto e mecânico experiente que passava meses supervisionando,
pessoalmente, a construção de seu avião. Ele participou do planeja-
mento de cada detalhe de seu voo histórico. O resultado final foi uma
viagem segura, cumprida antes do tempo previsto e com combustível
sobrando.

De certa forma, “Lindbergh sortudo” criou a sua própria “sorte”.

E você? Se resolver que a oportunidade não serve para você, deixe


passar. Se resolver que quer aproveitá-la, então se aventure nesse
mundo desconhecido e assuma o risco.

Está preparado para dar este salto?

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 179


“Não há passageiros na nave espacial Terra;
somos todos tripulação.”
Marshall McLuhan
CONSTRUINDO O FUTURO

“O presente está cheio do passado


e cheíssimo do futuro.”
Leibnitz

Conto com seu espírito de tolerância, pois o que pretendo nesta men-
sagem é oferecer uma reflexão de ordem pessoal e com a qual, estou
certo, nem todos hão de concordar.

Esta reflexão diz respeito ao meu compromisso pessoal com a constru-


ção do futuro.

Começo a relembrar o que todos sabemos. Cada um de nós é um ser


diferente de todos os demais. Fisicamente, diferimos muito. Uns são
baixos, outros altos; uns magros, outros gordos; uns claros, outros mo-
renos; e assim por diante. Internamente, ou seja, no plano psicológico,
somos ainda mais diferentes. Nossas aptidões, nossos interesses, nos-
sos valores, nossas emoções etc., variam muito de pessoa a pessoa.
Mas, em que pesem todas as diferenças, somos também muito se-
melhantes. Pertencendo ao mesmo gênero e à mesma espécie, temos
muito em comum.

Somos o resultado dinâmico de uma certa hereditariedade, de uma


certa estrutura mais ou menos fixa, mais ou menos adquirida, mas
que, dificilmente, se modificará. Paralelamente, temos a circunstância
da vida, o lastro adquirido, fruto de todo um processo de educação

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 181


e de socialização. Mas o que realmente nos torna singulares é nossa
personalidade, este somatório integrado que faz com que cada um de
nós seja o que é. Não vamos aqui entrar na discussão sobre a natureza
e a dinâmica da personalidade, assunto que mesmo entre psicólogos
é sempre controverso. O importante é entender que cada ser, no dizer
de Karl Jaspers, “é uma história única, inconfundível e irrepetível”. Ou
seja, ao longo de toda a história houve e haverá milhões de outros
seres melhores e piores do que eu, semelhantes a mim, mas nunca
exatamente iguais a mim.

Nesse sentido, eu sou, e cada ser humano é, absolutamente único e


insubstituível. Por isso mesmo, coloca-se a questão do sentido da vida.
Será a vida de cada ser – não a vida, como um conceito biológico ge-
nérico, mas a vida individual, concreta existencialmente definida – um
mero produto do acaso? Um resultado meio aleatório de mutações em
curso? Um simples produto de mutações genéticas, modeladas pelos
fatores sociais? Ou terá a vida humana um sentido mais profundo, um
valor inalienável? E se assim for, qual será a nossa responsabilidade?

Tal questão que, no fundo, diz respeito à transcendência, está presen-


te no pensamento humano e na indagação filosófica há quase 3.000
anos e permanece atual. Diferentes pensadores em diferentes épocas
e em diferentes culturas oferecem suas respostas, criam novos ques-
tionamentos, mas a única resposta válida e da qual não podemos fugir
é a pessoal, aquela que cada ser produz no seu íntimo e na sua cons-
ciência. O que reflito é a minha resposta pessoal, para mim, decisiva,
fundamental e totalizante, mas não necessariamente passível de ser
imposta aos outros.

Sim, para mim, a vida tem um sentido. Não posso, não aceito, nem
quero me ver como um “rato num labirinto”, como simples “energia”
em transformação, como apenas um “resultado de condicionamen-
tos” ou como se fora um “dado jogado por Deus”. Eu sou o que sou e
nunca mais haverá ninguém exatamente idêntico a mim. Por isso sou
insubstituível. Posso ser sucedido e superado, mas não posso ser subs-
tituído. Se não reconhecer o sentido da minha vida e orientá-la na di-

182
reção contrária aos seus fins, estarei desperdiçando minha existência e
negando o valor da unicidade.

Sendo único e reconhecendo que a vida tem um sentido, também re-


conheço que não sou isolado, que há milhões de outros seres, cada
um único a seu modo, cada um com um sentido de vida, e que somos
todos interdependentes.

Decorre daí uma intensa responsabilidade (individual e coletiva). So-


mos corresponsáveis pela preservação de condições que permitam a
vida e pelos padrões globais que configurem uma certa qualidade de
vida, desde as questões ambientais de ordem geral até as questões so-
ciais, econômicas, culturais, espirituais e outras de interesse comum.
Essas condições dizem respeito à vida atual, mas também ao futuro.

A responsabilidade implica o agir. Não basta ver, não basta julgar, é


preciso agir. Muitas vezes, pessoas bem-intencionadas percebem os
cenários e seus desafios, mas nada fazem além do aumento de suas
angústias pessoais. Afinal, dizem essas pessoas, “eu sou pequeno, limi-
tado, não tenho poder nem estou em posição privilegiada para causar
diferença real”. Este é o erro. A filosofia chinesa já dizia que “mais vale
acender uma vela do que reclamar da escuridão”.

É verdade que apenas alguns poucos podem ter grande impacto, mas
também é verdade que todos nós, por mais simples que sejamos e
por menos poder que desfrutemos, podemos ter algum impacto. O ser
cidadão do mundo implica esta responsabilidade. Não sou responsá-
vel pelo mundo, nem mesmo pelo país, mas sou responsável por mim
mesmo e pela parcela de vida (o meio, as pessoas, as instituições) em
que atuo concretamente. Existe um velho aforismo, segundo o qual
raras vezes a vida nos oferece a oportunidade para sermos heróis, mas,
todos os dias, nos oferece a chance de não sermos covardes.

Agir localmente é exercitar esse pensamento. Pensar globalmente e


agir localmente é construir o futuro.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 183


“Você pouco dá quando dá de suas posses.
É quando dá de si próprio
que você realmente dá.”
Gibran Khalil Gibran
FAZENDO DIFERENÇA

“Bom não é ser importante.


O importante é ser bom.”
Roque Schneider

Quero começar este texto, pedindo a você que responda a um ques-


tionário. Não é necessário papel e caneta. Faça isso de cabeça. Este
miniteste está dividido em duas partes.

Este é o primeiro conjunto de perguntas:

1. Cite as cinco pessoas mais ricas do mundo hoje.

2. Cite os últimos vencedores da corrida de São Silvestre.

3. Cite as vencedoras do Concurso de Miss Brasil nos últimos cinco


anos. Muito difícil? Está bem. Então fale o nome da última vencedora.

4. Cite dez pessoas que ganharam os prêmios Nobel ou Pulitzer. (Está


bem, mencione apenas cinco! Ou três!)

5. Cite os seis últimos vencedores do Oscar de melhor ator ou atriz.

6. Cite os vencedores, na última década, das Copas do mundo de fu-


tebol. Ou, se for muito difícil, dê o nome dos melhores jogadores dos
cinco últimos jogos da Copa.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 185


Você provavelmente não saberia citar nem três nomes de cada uma
dessas categorias, muito menos de todos esses indivíduos. Por quê?
Apesar do sucesso na ocasião e das realizações significativas bem re-
compensadas, os prêmios famosos se vão, e a lembrança de quem os
recebeu desaparece rapidamente.

Vamos tentar, agora, a segunda parte do questionário:

1. Cite dois professores que fizeram a diferença em sua vida.

2. Cite três amigos que estiveram ao seu lado durante um período di-
fícil.

3. Cite uma ou duas pessoas que acreditaram em você e que pensam


em você como alguém de valor.

4. Cite cinco pessoas com quem gostaria de passar um final de semana


só por ser divertido estar com elas e a quem admira muito.

5. Cite três ou quatro heróis, vivos ou mortos, cujas vidas inspiraram e


encorajaram você.

Como foi dessa vez? Aposto que tirou “A”. Na verdade, se houvesse
tempo suficiente, você poderia ter citado mais nomes para cada per-
gunta. Por quê? Porque as pessoas que fazem a diferença na vida não
são aquelas com as credenciais mais impressionantes, nem as que
possuem maiores portfólios. Não são sequer indivíduos que ganharam
mais prêmios, nem aqueles cujos rostos aparecem nas capas de revis-
tas. Essas pessoas causam pouco impacto em nossas vidas. É por isso
que esquecemos os seus nomes. As que fazem a verdadeira diferença
são aquelas que se aproximaram de nós. Tornaram-se amigos queridos
e, em alguns casos, nossos heróis.

É interessante que, quando se trata de heróis genuínos, a aparência


exterior nada significa. O QI deles ou o desempenho que tiveram na
escola não faz diferença alguma para nós. Nada disso importa. O que

186
vale são as qualidades notáveis que os tornaram memoráveis.

Permita-me fazer mais algumas perguntas. Sei que estou ficando bas-
tante pessoal. Quando tiver saído desta cena terrena, como as pessoas
se lembrarão de você? Que qualidade de caráter perdurará na memó-
ria delas, levando-as a dizer que a sua vida foi importante? Por que
desejariam parar diante do seu nome gravado em granito?

Algumas histórias são tão boas que vale a pena repeti-las. Esta eu li no
livro de Earl Nightingle, “Percepção – The way up”. Trata-se da história
de um jovem que decidiu fazer a diferença e aí descobriu que um único
ato de bondade transformou sua vida inteira.

“Numa noite tempestuosa, muitos anos atrás, um senhor idoso e sua


esposa entraram no saguão de um pequeno hotel na Filadélfia. O ho-
mem levou a esposa até uma poltrona e depois dirigiu-se à recepção.

– Todos os grandes hotéis da cidade estão cheios. Por favor, vocês te-
riam um lugar para nós?
O funcionário explicou que, como se realizavam três convenções na
cidade, não havia nenhum quarto disponível em nenhum lugar.

– Todos os nossos quartos também estão cheios, disse ele. Todavia,


não posso deixar um casal simpático como vocês sair na chuva à uma
da manhã. Estariam dispostos a dormir no meu quarto?

O homem replicou que não gostaria de privá-lo de seu quarto, mas o


recepcionista insistiu:

– Não se preocupe, eu me arranjo.

Na manhã seguinte, ao pagar a conta, o velho disse ao rapaz:

– Você é o tipo de pessoa que deveria gerenciar o melhor hotel do país.


Talvez um dia construa um para você.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 187


O rapaz olhou para o casal e sorriu. Os três acabaram rindo, e muito. A
seguir, ele os ajudou a levar as malas até a rua.

Dois anos se passaram, e o recepcionista já se esquecera do incidente,


quando recebeu uma carta daquele senhor. Nela, ele relembrava a noi-
te de tempestade e incluía uma passagem de ida e volta a Nova York.

Quando o moço chegou a Nova York, o homem levou-o à esquina da


Quinta Avenida com a rua Trinta e Quatro e apontou para um enorme
prédio, um verdadeiro palácio de pedras avermelhadas com torres e
vigias, como um castelo de fadas, elevando-se até o céu.

– Esse, disse o homem, é o hotel que acabei de construir para você


tomar conta.

– O senhor deve estar brincando, falou o jovem, sem saber se devia ou


não acreditar nas palavras do outro.

– Não estou brincando, não, respondeu o outro, com um sorriso tra-


vesso.

– Afinal de contas, quem é o senhor?

– Meu nome é William Waldorf Astor. Estamos dando ao hotel o nome


de Waldorf Astoria e você vai ser seu primeiro gerente.”
O nome do rapaz era George C. Boldt, e esta é a história de como ele
saiu de um pequeno e medíocre hotel na Filadélfia para se tornar ge-
rente do que era, então, um dos hotéis mais finos do mundo.

Astor sabia que a bondade demonstrada por Boldt fora espontânea,


sem pensar em tirar qualquer proveito dela, e por isso teve início uma
amizade que superou todas as barreiras de status social e financeiro. O
recepcionista – que certamente recebia apenas um modesto ordena-
do – decidiu ajudar um estranho por perceber a sua real necessidade.
Mal sabia ele que estava cedendo seu quarto a um dos homens mais
ricos daquele país. Ele poderia muito bem ser apenas mais um homem

188
de negócios à procura de um quarto naquela noite tempestuosa e fria.

Por outro lado, aquela semente de amizade, uma vez plantada, germi-
nou para o recepcionista na forma de um cargo muito superior e de
maior prosperidade financeira. Narrei esta historia aqui por uma única
razão.

Quer aqueles a quem ajudemos sejam pobres, ricos, de classe média,


negros, brancos, amarelos ou pardos, tudo o que se espera de nós é
que lhes estendamos uma palavra, um gesto de amizade. Se o fizermos
com o fito de obter lucro, já teremos recebido a nossa recompensa e
tudo termina aí. Mas, se nos mostrarmos generosamente solícitos e
compadecidos daqueles que nos rodeiam, seremos abençoados para
sempre.

Não ligue para as barreiras tolas levantadas pela sociedade ou pela


própria pessoa. Avance confiante e faça a diferença.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 189


“O pensamento cria, o desejo atrai e a fé realiza.”
Lauro Trevisan
OBSTINADO SIM, TEIMOSO NÃO!

“A experiência humana não seria tão rica e gratificante


se não existissem obstáculos a superar. O cume
ensolarado de uma montanha não seria tão
maravilhoso se não existissem vales sombrios a atravessar.”
Helen Keller

Você não vai encontrá-lo no manual nacional das espécies raras. Mas
é raro.

Assim como o mico-leão-dourado, a arara-azul e o tamanduá-bandei-


ra, os obstinados raramente são vistos em nossa paisagem. Aparições
ocasionais, contudo, têm sido reportadas em campi de faculdades, es-
critórios e fábricas. Olhando com cuidado, você encontrará até mesmo
dentro de sua casa. Na verdade, apesar de suas aparições serem es-
porádicas, os obstinados formam a coluna vertebral de qualquer coisa
que façam parte. Uma das razões de ser tão difícil localizá-los é que
nunca andam em bandos. São solitários.

O obstinado é alguém que aspira se sobressair, ser diferente. Um


obstinado está comprometido com a essência – completa e inequi-
vocadamente. Suas raízes de dedicação resultam em ricos frutos de
determinação, excelência e conquistas. Estabelecendo altos ideais,
os obstinados se dirigem diretamente para o alvo, absortos na paixão
pela qualidade – conseguida a quase qualquer preço.

É preciso ter coragem para suportar, persistir, não abandonar o que


foi começado. A obstinação é uma das mais raras formas de coragem.
Quando fazemos um plano e o levamos à frente com persistência,
mesmo diante de desapontamentos e dificuldades inesperadas, esta-
mos desenvolvendo a qualidade da coragem.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 191


O sucesso não acontece da noite para o dia. É o resultado de anos de
trabalho árduo, de altos e baixos, de terríveis momentos de incerteza.

Vemos pessoas cujo sucesso parece fruto da boa sorte, mas raramente
isso é verdade. Por exemplo, Fred Smith, fundador da Federal Express,
é uma dessas pessoas. Ele teve a ideia de fundar uma empresa que
entregasse encomendas em vinte e quatro horas, em todo o mundo,
quando ainda estudava em uma das melhores escolas dos Estados Uni-
dos. Seus professores, alguns dos maiores talentos nessa área, deram
uma nota baixa ao trabalho que ele escreveu sobre isso, dizendo-lhe
que era uma ideia ridícula, porque já havia o correio, que prestava esse
serviço.

Imperturbável, Fred gastou todo o dinheiro que tinha para montar seu
negócio. Estabeleceu como meta entregar cento e sessenta e sete pa-
cotes no primeiro dia, mas entregou apenas dois. Não viu isso como
fracasso. Sabia que, se pudera mandar dois pacotes sem nenhum pro-
blema, poderia mandar muito mais. Estava certo. Hoje a Fedex é um
negócio de um bilhão de dólares, e a renda pessoal de Fred é de cin-
quenta milhões de dólares por ano.

A escritora Joanna Rowling, criadora de Harry Potter, também perseve-


rou, vencendo as dificuldades. Quando escreveu o primeiro livro, cria-
va a filha pequena sozinha, e sua única fonte de renda era uma pensão
do governo. Escreveu o livro à mão, sentada a mesa de um café, com
a filhinha dormindo no carrinho ao seu lado. Depois de muitos meses,
quando terminou de escrever a história, enviou o manuscrito a um
agente que a rejeitou, alegando que era muito comprida para crianças.
Joanna não mudou a história, apenas mandou-a para outro agente,
que a adorou.

O livro tornou-se um fenômeno, amado por crianças do mundo todo, e


mudou o conceito a respeito de histórias infantis. Os direitos autorais
do filme foram vendidos para Hollywood por um milhão de libras. A
escritora Joanna está entre as mulheres mais ricas da Grã-Bretanha.

Nelson Mandela passou trinta anos na prisão por lutar pelos direitos
dos negros sul-africanos. Durante muitos desses anos, mantiveram-no
em horríveis condições

192
e diziam-lhe que não havia esperança de libertação para ele. No en-
tanto, ele conservou a coragem, a sabedoria e o otimismo. Quando
finalmente foi posto em liberdade, saiu da prisão com notável digni-
dade. Tornou-se presidente da África do Sul e é uma figura amada e
respeitada em todo o mundo.

Um dos princípios básicos da obstinação é saber quando deixar de per-


severar. Não exagere. Talvez você não deseje renunciar a uma ideia
ou a um projeto quando as circunstâncias assinalam que deve fazê-lo.
Uma pessoa pode ser inteiramente firme e sincera nas suas convicções
e, ao mesmo tempo, estar completamente equivocada.

O tempo lhe dará a resposta, já que ele é o único fator que pode lhe
indicar se você deve ou não renunciar. Se já acabou o tempo que você
impôs para conseguir alguns resultados importantes e tangíveis e não
teve nenhuma recompensa por seus esforços, terá que reavaliar a si-
tuação. Esteja disposto a abandonar um projeto inútil; mas antes veri-
fique o que é que está mal. Determine se o seu projeto vale ou não a
pena. Não existe maior perda de tempo do que percorrer um caminho
que não leva a lugar algum. O tempo é seu bem mais precioso. Você
pode recuperar um dinheiro perdido, encontrar um velho amigo, le-
vantar um negócio que faliu, saber como fazer voltar a saúde perdi-
da, mas o tempo que se desperdiça foi perdido para sempre. Preserve
quando valha a pena e esqueça-se do seu projeto quando se tornar
inútil segui-lo. Só os fatos, sua experiência, seus instintos e seu próprio
juízo podem decidir se você pode (e deve) continuar.

Se o seu barco está afundando sem nada que você possa fazer, aban-
done-o. Algum dia terá outro.

Eu não posso lhe dizer quando deve continuar ou quando deve modi-
ficar os seus planos, nem quando deve abandonar o seu projeto para
sempre.

Só você pode determinar, por meio de análise periódica. Se suas metas


são as que realmente busca, se seus planos e ações obtêm recompen-
sas, persevere até atingir o que tanto procura.

Obstinação sim, teimosia nunca!

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 193


“Erros são parte do preço que pagamos
por uma vida plena.”
Sophia Loren
O ERRO É UM ASPECTO BÁSICO DO SUCESSO

“A vida é uma folha de papel em branco, em que cada um


de nós tem de escrever suas palavras, seja uma, sejam duas... e
depois cessar. Então, escreva algo de grandioso. Mesmo
que tenha tempo apenas
para uma linha, que ela seja sublime.
Não é crime errar. O crime é mirar baixo.”
James Russel Lowell

Erros acontecem. Você e eu os cometemos no passado e, infelizmente,


iremos cometê-los outra vez no futuro. Se você nunca cometeu erros
no seu trabalho, ou não está trabalhando há muito tempo ou não está
fazendo muita coisa.

A maneira como reagimos aos fracassos e aos erros é uma das deci-
sões mais importantes que tomamos todos os dias. De que maneira
você reage ao fracasso? A falha não significa que não se realizou nada.
Sempre há a oportunidade de aprender algo.

Todos nós falhamos e cometemos erros. Na verdade, as pessoas bem-


sucedidas sempre têm mais falhas que a média das pessoas comuns.
Em toda a História, todos os grandes personagens falharam em algum
momento da vida.

Qualquer um que esteja sempre realizando algo está ao mesmo tempo


correndo o risco de fracassar. É sempre melhor fracassar em alguma
coisa que ser excelente em não fazer nada. Um diamante com defeito
é mais valioso que um tijolo perfeito. As pessoas que não têm fracas-
sos também não têm vitórias.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 195


Certo dia, o diretor de um banco comunicou a um dos seus vice-dire-
tores que iria aposentar-se e que o escolhera para ser seu sucessor
na chefia da empresa. O jovem ficou extasiado pela honra que lhe era
conferida e, ao mesmo tempo, preocupado com a responsabilidade
inerente ao cargo. Assim que se refez do espanto, agradeceu:

– Obrigado, senhor!

Em seguida, num tom mais sério, disse:

– Sempre o admirei muito pela sua habilidade à frente dos negócios.


Qual é o segredo do seu sucesso?

O velho diretor pôs a mão no queixo, pensou um instante e em seguida


replicou:

– Saber tomar decisões acertadas.

– E como foi que o senhor aprendeu a tomar decisões acertadas? – In-


dagou o jovem.

Com um brilho diferente no olhar, o diretor respondeu:

– Tomando algumas erradas.

É impossível separar o fracasso do sucesso; são duas faces de uma


mesma moeda. Ninguém aprende a tomar decisões acertadas sem
antes fazer algumas erradas. Quem não assimila as lições dos erros
cometidos nunca poderá obter sucesso.

Falhamos de verdade somente quando não aprendemos com a experi-


ência. A decisão cabe a nós. Podemos escolher transformar um malo-
gro num poste de amarração ou num poste de sinalização.

Eis a chave para ficar livre da pressão das falhas e dos erros passados:
aprenda a lição e esqueça os detalhes. Ganhe com a experiência, mas
não fique remoendo mentalmente os detalhes insignificantes dela.
Edifique sobre a experiência e continue saindo-se bem na vida.

196
Quando você cometer um erro, admita-o. Não tente encobri-lo e fin-
gir que nunca aconteceu ou, ainda, que não foi realmente um erro. E,
pelo amor de Deus, nunca atribua a culpa a qualquer outra pessoa,
especialmente alguém que trabalha para você. Merecidamente, você
perderá o respeito dos seus patrões, dos seus empregados ou dos seus
sócios.

Lembre-se: Deus jamais vê qualquer um de nós como fracasso. Ele nos


vê apenas como aprendizes.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 197


“Fé é o pássaro que sente a luz e canta
quando a madrugada é ainda escura.”
Rabindranath Tagore
ASA QUEBRADA

“O pássaro com a asa quebrada


nunca mais voará tão alto.”
Hezekiah Butterworth

É bem provável que alguém que lê minhas palavras neste momento


esteja lutando uma batalha interior contra um fantasma do passado.
O esqueleto em um dos armários do ontem está começando a sacudir
cada vez mais alto. Colocar fita adesiva ao redor do armário e mover
a cômoda para frente da porta adianta muito pouco para abafar os
ossos barulhentos. Você se pergunta, possivelmente: “Quem sabe?”
ou pensa, provavelmente: “Eu já tentei de tudo... não posso vencer...
a festa acabou.”

A âncora que afundou seu barco está amarrada e presa no fundo. A


culpa e a ansiedade estão a bordo, apontando para a grande carcaça
escura do naufrágio. Elas se encarregam de perfurar buracos de pre-
ocupação no seu casco e você começa a afundar. Lá do fundo, pode
escutá-las cantando uma velha frase popular “o pássaro com a asa
quebrada nunca voará como antes...”.

Sente-se perdido e, às vezes, chega a pensar que está enlouquecendo?


É a noite escura da sua alma?

Se você está atravessando essa noite ou alguma vez já viveu esse mo-
mento, console-se, pensando que esse vácuo é muito importante, uma

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 199


etapa proveitosa e necessária de nossa jornada. Quando se planta uma
árvore, a terra precisa ser revolvida, amainada e preparada antes de
novas sementes poderem brotar; se assim não for, as ervas daninhas
destruirão as sementes. Da mesma forma, para que um edifício novo
possa ser erguido, as estruturas velhas, gastas e inúteis que ainda se
encontram no local devem ser demolidas. É necessário abrir espaço
para que algo novo e melhor possa entrar em nossa vida.

Embora pareça que estamos fora de controle ou submetidos a forças


maiores do que nós, é importante que lembremos que existe uma sa-
bedoria nos acontecimentos que atraímos. Tudo serve ao aprendizado,
ao crescimento, à cura. Deus sempre está muito presente, e nós não
estamos sós.

O pássaro voará em altura jamais alcançada. Apenas o fato de um pro-


vérbio ser velho não o torna confiável. Há mentiras veneráveis e anti-
gas rodando por aí que são tão perigosas e enganosas hoje quanto no
dia em que foram pronunciadas como verdadeiras.

Estou falando da frase de abertura deste texto, dita por um homem


chamado Hezekiah Butterworth. Ele não acreditava em Deus.

Essa frase pede fé, pede sabermos que tudo, de algum modo, nos
encaminha para o melhor. Não é o mundo que está ruindo, mas as
ilusões. O mundo de Deus nunca é abalado, pois está assentado em
sabedoria e amor, que é a única coisa indestrutível em todo o univer-
so. Se você se sente desiludido, coragem! Desilusão significa o térmi-
no de uma ilusão. Desiludir-se é a melhor coisa que pode acontecer a
qualquer um. Significa que algo falso foi desfeito e que a verdade está
disponível para ser descoberta. A verdade sempre cura. Só a ilusão é
dolorosa. Portanto, alegre-se, orgulhe-se, pois você teve a coragem de
aprender uma lição capaz de desmoronar a ilusão e substituí-la por
força e sabedoria maiores.

Os sofrimentos e as adversidades podem ferir nossas asas, mas isso


jamais nos impedirá de alcançar as alturas sublimes.

200
“Não sei o segredo do sucesso; mas o do
fracasso é querer agradar a todos.”
Herbert Bayard Swope
AVALIE-SE COM REALISMO

“Conhecer os outros é inteligência;


conhecer a si mesmo é sabedoria de verdade.”
Lao-Tzu

Leia livros de autoajuda, ouça um CD, assista a uma palestra motivacio-


nal e você ouvirá sobre os poderes maravilhosos que possui e as mira-
bolantes proezas de que é capaz. É verdade que você tem de acreditar
em si mesmo para ser bem-sucedido. Neste sentido, as mensagens de
incentivo são úteis.

Mas cuidado com esses processos que exaltam suas habilidades sem
conhecê-las. O que importa é conhecer-se de fato, com seus talentos e
seus limites, para ter um ponto de partida na realidade.

Não tente se convencer de que você é o Super-Homem ou a Mulher-


Maravilha. Ao tentar ser o melhor em tudo, você corre o risco de per-
der a confiança ao ter um desempenho mediano nas áreas em que não
se sobressai. O fracasso se tornará a sua “criptonita”, e o poder da sua
autoconfiança desaparecerá.

Há uma parábola que conta de um grupo de animais que decidiu fazer


algo significante para resolver os problemas do mundo novo. Para isso,
organizaram uma escola.

Eles adotaram um currículo de atividades que incluía corrida, escalada,

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 203


natação e voo. Para ficar ainda mais fácil de administrar o currículo,
todos os animais se matricularam em todas as matérias.

O pato era excelente em natação; de fato, melhor do que o seu instru-


tor. Mas conseguia apenas níveis suficientes no voo e era muito ruim
em corrida. Por ser lento na corrida, ele tinha que diminuir o horário
da natação e ficar depois da aula para praticar. Isso causou sérios da-
nos às membranas natatórias de seus pés e, assim, ele se tornou ape-
nas médio em natação. Mas o médio era bastante aceitável e assim
ninguém se preocupou com isso – exceto o pato.

O coelho começou como o primeiro em sua turma de corrida, mas de-


senvolveu uma contração nervosa nos músculos da perna por causa do
enorme esforço na natação.

O esquilo era excelente em escalada, mas encontrou constantes frus-


trações na classe de voo porque seu professor o fez começar os treinos
a partir do chão, em vez dos topos das árvores. Ele desenvolveu alguns
problemas musculares por causa do esforço excessivo e assim ficou só
com nota “C” em escalada e “D” em corrida.

A águia era aluna-problema e foi severamente disciplinada para ser


não conformista. Nas aulas de escalada, ela batia a todos, chegando
primeiro ao topo das árvores, mas insistia em usar seus próprios mé-
todos para chegar até lá...

A óbvia moral da história é simples – cada criatura tem seu próprio


conjunto de capacidades, nas quais é excelente por natureza, ao me-
nos que seja forçada a preencher um molde no qual não se encaixa.

Quando isso acontece, frustração, desânimo e até mesmo culpa tra-


zem mediocridade geral ou completa derrota. Um pato é um pato – e
somente um pato. Ele é feito para nadar, não para correr ou voar, e,
certamente, não para escalar. Um esquilo é um esquilo – só isso. Reti-
rá-lo do seu forte – a escalada – e esperar que nade ou voe, o deixará
louco. Águias são belas criaturas no ar, mas não em corrida a pé. O

204
coelho irá vencê-la todas as vezes, a menos que, obviamente, ela fique
faminta.

O que é verdade para as criaturas da floresta é verdade também para


os humanos. Deus não nos fez todos iguais. Ele nunca teve essa inten-
ção. Foi Ele quem planejou e fez as diferenças, as capacidades singula-
res e a variedade de dons ou talentos.

Se Deus fez de você um pato – então é um pato, amigo. Nade como


um louco, mas não tente modificar sua forma só porque corre camba-
leando ou agita suas asas sem conseguir voar muito bem. Além disso,
se você é uma águia, pare de criar expectativas quanto aos esquilos
voarem ou quanto aos coelhos construírem os mesmos tipos de ninho
que você.

Não existe nada mais libertador do que a verdade. Como sou?

Quais as áreas em que me destaco? E quais aquelas em que tenho


dificuldade? O que é que me dá prazer? Onde é que me sinto infeliz?
Não se trata de constatar isso para acomodar-se na situação, mas, sim,
investir no que desejo de fato desenvolver.

A melhor autoconfiança é baseada em uma avaliação realista de todas


as nossas habilidades. Só essa avaliação será capaz de iluminar os ca-
minhos para a realização pessoal.

Portanto, relaxe. Aproveite sua espécie. Cultive suas próprias capaci-


dades, seu próprio estilo. Aprecie os membros de sua espécie e de sua
sociedade como eles são, mesmo que seus visuais ou estilos possam
estar a quilômetros de distância dos seus. Coelhos não voam. Águias
não nadam. Patos são cômicos tentando escalar. Esquilos não têm pe-
nas.

Pare de comparar. Seja feliz sendo você mesmo! Existe bastante espa-
ço na floresta para todos.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 205


“Planejamento de longo prazo não lida
com decisões futuras, mas com o
futuro de decisões presentes.”
Peter Drucker
ESTABELECENDO METAS EM SETE PASSOS

“Obstáculos são aquelas coisas assustadoras que


você vê quando desvia os olhos de sua meta.”
Henry Ford

Entrar em ação para conseguir algo pelo que somos apaixonados pode
ser assustador. Mas, se você dividir o processo em partes que sigam
uma sequência lógica, verá que não há motivo para receio:

1. Descubra o que gosta de fazer. O que é importante para você? Qual


e sua paixão? O que é que você mais gostaria de conseguir?

2. Pesquise e reúna fatos. Assim que você descobre sua paixão, a pes-
quisa começa. Junte tudo o que puder encontrar em livros, revistas,
fitas de vídeo e também o que ouviu de pessoas que atuam no campo
que lhe interessa.

3. Estabeleça um plano de ação. Quais são os passos necessários? De-


senvolva um processo em etapas e anote-o. Tudo na vida precisa ser
feito em etapas. Se não souber que passos precisará dar para alcançar
sua meta, use o processo da visualização. Uma das maneiras de visu-
alizar o que precisa ser feito é fingir que nos encontramos no futuro,
que já alcançamos o que queríamos e que estamos olhando para trás e
perguntando o que tivemos de fazer para chegar onde estamos. Todos
os passos que der serão como placas no caminho, cada uma informan-
do que você está mais perto de seu objetivo.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 207


4. Estabeleça uma agenda. Estabeleça um prazo realista para cada eta-
pa do processo e/ou para a meta final. Uma agenda nos diz quanto
tempo podemos gastar em cada etapa e também nos mantém motiva-
dos e em movimento.

5. Comece. Dedique-se. Mergulhe de cabeça. Ganhe experiência. A


experiência é o maior mestre. Muitas ideias brilhantes continuam ape-
nas ideias porque as pessoas que as tiveram sentiram medo e não qui-
seram se arriscar.

6. Faça constantes avaliações. Examine o plano todas as semanas ou


todos os meses, para ver como está se saindo. Pode ser necessário
reformular o plano por causa de obstáculos imprevistos. Sou executivo
de uma grande multinacional e quando, com minha equipe, fazemos o
planejamento, estabelecemos metas baseadas no que desejamos rea-
lizar no prazo de um ano. Todos os anos escrevemos o que queremos
realizar e criamos um plano de ação. Tudo muito direto. Qual é nossa
meta? Que resultado esperamos? Quando esperamos ter esse resulta-
do? Que passos devemos dar para alcançar a meta? São as metas que
concentram nossa atenção no que é importante. Duas vezes por ano
nós a revisamos e fazemos modificações, pois pontos que eram impor-
tantes em dado momento podem ter se tornado menos importantes
depois.

7. Nunca desista. Pessoas demais perderam seus sonhos por falta de


vontade, de concentração ou de paixão. Os 5% que chegarão ao topo
em qualquer profissão são aqueles que sentem tanta paixão pelo que
querem que, sem se importar com o que terão de dar de si, repensam,
replanejam e refazem, porque acreditam em si mesmos e em seus ob-
jetivos.

208
“Se você perder a capacidade de rir,
perderá a de pensar.”
Clarence Darrow
POR FAVOR, NÃO TÃO SÉRIO!

“Brincar é condição fundamental


para ser sério.”
Arquimedes

A vida não foi feita para lutas. Ou será que foi? O que você acha? Como
é a sua? Se você achar que foi, ela será e se você achar que não foi, ela
não será. É tão simples assim?

Creio que sim. Sua vida é a soma de seus pensamentos e convicções a


respeito dela. A vida é da maneira que você acha que ela deve ser. Se
você aprendeu que a vida é uma luta, assim ela será. Uma ideia mui-
to arraigada sobre o jeito que a vida é pode guiá-lo durante toda sua
existência – até que você a veja e faça algo a respeito. Até lá, a vida é
exatamente o que você foi levado a acreditar. Na maioria dos casos, é
provável que ela seja “difícil”.

Recentemente, encontrei um pequeno comentário sobre um dos


meus personagens prediletos da história americana, o “mago de Men-
lo Park” – Thomas Alva Edison, o inventor. Ele foi, de fato, o homem
que teve quase 1.100 de suas invenções patenteadas.

Graças a esse gênio curioso e desbravador, temos luz acima de nossos


ombros, som emergindo de discos óticos, pequenas caixas que guar-
dam energia suficiente para dar partida nos carros, filmes que incluem
trilhas sonoras, pequenos cilindros de metal que permitem que nossa

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 211


voz seja ouvida por milhares de pessoas... e centenas de outros apare-
lhos que agora não damos valor. Nós não vivemos um dia sem utilizar
dos frutos da vida de Edison.

Nem todo mundo é tão próspero. Ou prático. Entre 1962 e 1977, Ar-
thur Pedrick patenteou 162 invenções. Parece expressivo até que você
descubra que nenhuma se tornou comercial. Nenhuma.

Entre suas maiores invenções estão:

– Uma bicicleta com capacidade anfíbia.

– Um dispositivo com o qual é possível dirigir o carro do banco de trás.

– Muitos inventos para golfe, incluindo uma bola que podia ser guiada
em pleno ar.

O grande projeto de Pedrick, que se descrevia como “um homem pen-


sativo”, era irrigar os desertos do mundo mandando um abastecimen-
to constante de bolas de neve da região polar através de uma gigan-
tesca rede de tubos.

Você está rindo. E também pensando: “Daniel está inventando isso...”.


Errado. Isso está documentado em um livro que li, de Stephen Pile,
propriamente intitulado “The book of failures” (O livro dos fracassos).
Você encontra coisas inacreditáveis ali.

Lembro-me de algo que aconteceu em 1978, durante uma grande gre-


ve do corpo de bombeiros na Inglaterra. Valorosamente, o exército in-
glês assumiu a tarefa de combate ao incêndio. No dia 14 de janeiro,
foram chamados por uma velhinha do sul de Londres para que resga-
tassem seu gato. Eles chegaram com rapidez, e com muito cuidado e
habilidade salvaram o animal. Eles se preparavam para ir embora, mas
a senhora estava tão agradecida que convidou o esquadrão de heróis
para um chá. Quando estavam saindo, acenando amavelmente com os
braços, eles passaram por cima do bichano e o mataram.

212
O prêmio de arma mais inútil de todos os tempos vai para os russos.
Eles inventaram o “cão-mina”. O plano era treinar cachorros para as-
sociar comida com fundo dos tanques, na esperança de que fossem
correr famintos contra as divisões Panzer. As bombas eram presas nas
costas dos cachorros, e estes eram colocados onde nenhuma compa-
nhia de proteção pudesse vê-los.

Infelizmente, os cachorros só associaram com comida os tanques rus-


sos. O plano começou no dia em que a Rússia se envolveu na Segunda
Guerra Mundial... e foi abandonado no dia seguinte. Os cachorros com
bombas nas costas forçaram uma divisão soviética inteira a recuar.

Tudo isso me trouxe à mente dois pontos muito curtos e simples:

1 - Não importa o quão sincero sejamos ou quão duramente trabalhe-


mos, alguns dias serão melhores se forem esquecidos. Lei de Murphy,
lembra-se?

2 - Algumas coisas que pareciam terrivelmente importantes e sérias na


hora tornar-se-ão absolutamente hilariantes depois de pouco tempo.

Alguma coisa parece terrivelmente importante para você hoje? Extre-


mamente séria e vital? Quase ao ponto da abstração? Conte seus dias.
Observe por outra perspectiva. Saiba que não vai demorar muito para
que você esteja olhando esta difícil questão de uma forma diferente.
Para ser bem sincero, no futuro você poderá rir de algo que consome
seu coração hoje.

Não sofra com coisas pequenas. Ninguém consegue vencer tudo o


tempo todo. Nem mesmo Edison... Pedrick... os gênios russos ou o
exército inglês...

Vamos aprender uma lição com aqueles cachorros que carregam uma
bomba nas costas. Alguns de nossos planos mais bem elaborados ex-
plodem em nossa cara. Então, quando a fumaça se dissipar, tente sorrir
em vez de chorar. A vida não é tão dura quanto você está imaginando.
Vamos, sorria!

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 213


“Só quero saber do que pode dar certo!”
Torquato Neto
HÁ VAGAS

“Meu pai me disse certa vez que há dois tipos


de pessoas: as que fazem o trabalho e as que
recebem o crédito por ele. E me disse para tentar
ficar no primeiro grupo, onde é menor a concorrência.”
Indira Gandhi

A crise gera desemprego, recessão, desencontro de ideias, radicalis-


mos. É como temos aprendido com as constantes crises no Brasil. Só
haverá mudança verdadeira quando houver transformação de valores,
pois no bojo de toda crise existe uma crise de valores. Por isso é tão
importante a capacidade de ver além da crise.

No entanto, é esta mesma crise que gera uma oportunidade que, em


tempos de bonança, nem lembramos que existe. Uma oportunidade
ilimitada, voltada a todos, sem distinção de sexo, cor, credo, nível cul-
tural, posição hierárquica ou profissão. Uma oportunidade que tanto é
dada ao governo como aos empresários, aos empregados, aos sindica-
tos, aos políticos e a todas as pessoas deste País.

E é justamente neste momento mais difícil da Nação, em que o desem-


prego é uma realidade, em que a recessão é uma ameaça, que as vagas
estão abertas.

Há vagas para aqueles que estejam dispostos a resgatar os maiores e


mais importantes valores do homem: a humildade, a caridade, o altru-
ísmo, o senso de comunidade, o cuidado com a família, o respeito à
condição humana e, sobretudo, a honestidade.

Há vagas, sim, senhores. Há vagas para quem esteja disposto ao sa-

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 215


crifício, ao trabalho cuja maior recompensa não seja medida em va-
lores taxados e passageiros. Mas pela constatação, todos os dias, de
que somos capazes de sair do desvio onde nos encontramos e retomar
o nosso caminho: o caminho do desenvolvimento, do progresso e do
crescimento comum a todos os brasileiros.

Há vagas para líderes que usem sua influência nos momentos certos
por razões certas; que assumam uma parcela um pouco maior da culpa
e uma parcela um pouco menor do crédito; que se liderem com êxito
antes de tentar liderar os outros; que continuem procurando a melhor
resposta em vez da convencional; que acrescentem valor às pessoas e
às organizações que lideram; que trabalhem para o benefício de ou-
tros, e não para o ganho pessoal; que se conduzam com suas cabeças
e aos outros com seus corações; que conheçam o caminho, sigam o
caminho e mostrem o caminho; que inspirem e motivem em vez de
intimidar e manipular; que percebam que sua disposição é mais im-
portante do que suas posições; que moldem opiniões em vez de seguir
pesquisas de opiniões; que compreendam que uma instituição é o re-
flexo de seus caráteres; que nunca se ponham acima dos outros, a não
ser no que diz respeito a responsabilidades; que sejam honestos tanto
nas pequenas coisas como nas grandes; que transformem os reveses
em sucessos; que sigam a bússola da moral que aponta para direção
certa, a despeito das tendências sociais.

E, para preencher estas vagas, não dependemos de alguém que nos


avalie, não teremos chefes, nem patrões, nem empregados. Teremos
apenas a voz de nossa consciência, medindo nossa capacidade de mu-
dar as coisas; de substituir a inútil lamúria pela determinação de fazer;
de substituir os braços cruzados pelas mãos construtivas; de substituir
a obstinada decisão de protestar contra o presente pela responsabili-
dade a favor do futuro; de substituir a mera e fácil acusação de defei-
tos pela constatação de nossas reais e indiscutíveis potencialidades.

São estas vagas que existem. Para todos os brasileiros. Vagas para um
grande trabalho, sediado em nossa cabeça, manifestado por nossa voz
e por nossas mãos. Um trabalho que exige equilíbrio e bom senso.
Sem a amargura do derrotismo nem a alienação do otimismo vazio.

216
Mas que se ampara, basicamente, na capacidade de pensar positiva-
mente.

Na capacidade de deixar de lado as pequenas questões, se compara-


das com a grande questão nacional.

Deixar de lado a vingança pessoal, que não faz o menor sentido, por-
que nada constrói e ainda ajuda a destruir o que nos resta.

Há vagas, sim, para quem esteja disposto a ceder um pouco de si para


todos: seja na compensação do seu trabalho, seja no lucro do seu ne-
gócio, seja no dogma da sua cor partidária.

Há vagas para quem esteja disposto à ação, a formar um mutirão, uma


grande corrente construtiva. Uma corrente que, ao mesmo tempo,
produza e proteja.

Uma corrente de união e consenso. Somente assim teremos condições


de retomar a consciência de grande Nação que somos.

A mesma Nação do qual nos orgulhamos em muitas oportunidades. A


mesma Nação que nos emocionou com muitas conquistas no campo
das ciências, das artes, dos esportes, da política. E que, de repente,
parece que estamos esquecendo.

Por isso tudo, há vagas para quem esteja disposto a resistir à ideia de
desistir de lutar por valores nobres. E que esteja disposto, também, a
abandonar o transe – hipnose da crise – gerado pelo bombardeio pes-
simista a que estamos submetidos todos os dias.

E que esteja disposto, ainda, a fazer parte com fé e confiança, deter-


minação, paciência, segurança e consciência absoluta de que, assim,
estaremos, todos os dias, encontrando soluções para os nossos pro-
blemas.

Ocupem suas vagas; com isso, estaremos ocupando, também, o Brasil.


Com gente disposta a fazê-lo cumprir o seu grande destino.

RECARREGANDO A BATERIA HUMANA 217


Em 2009, o meu primeiro livro, Insight, completou
dez anos. Durante estes dez anos f oram m uitos
leitores que escreveram sobre a importância deste
livro e m suas v idas, f oram m uitos leitores
agradecendo e d izendo f rases generosas t ais
como: “ o Insight m udou m inha v ida”. Isto
naturalmente deixa qualquer autor honrado, feliz e
motivado a continuar escrevendo. É exatamente
assim que me sinto. Muito obrigado.
Mas entendo que o que muda uma vida não é uma
simples leitura de u m livro. Este ato contribui de
maneira í nfima se comparado com a a titude, a
disposição e a vontade de crescer.

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