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Não é exagero afirmar que a história do município de Vila Bela da Santíssima Trindade guarda

a essência da memória de Mato Grosso e do Brasil. Localizada a 540 km a oeste de Cuiabá,


fronteira com Bolívia, comemorou seus 260 anos com reconhecido respeito e orgulho, não só
pelas belezas e riquezas da região, mas pela determinação das pessoas que povoaram a
localidade e mantiveram as fronteiras brasileiras.

A memória está representada pelas ruínas da Catedral da Santíssima Trindade, erguida em


1771, a atual sede da Prefeitura de Vila Bela, onde foi instalada o quartel militar, os fortes
militares e os marcos dos tratados da região, como o de Jauru (que está em Cáceres) as sedes
das fazendas históricas e as comunidades quilombolas.

A atração cultural e turística, nos dias atuais, pelas festas do Congo, da dança do Chorado, nas
comemorações religiosas que misturam a cultura europeia, africana e indígena lembram os
primórdios da História brasileira. A resistência dos escravos e a formação de quilombos,
durante a colonização portuguesa, já demonstravam o desejo da liberdade, igualdade racial,
social e luta pelos direitos humanos.

Primeira capital de Mato Grosso, Vila Bela da Santíssima Trindade foi fundada em 19 de março
de 1752, pelo Capitão Dom Antônio Rolim de Moura, que chegou à região com ordens régias
para instituir o governo da Capitania de Mato Grosso, desmembrada da Capitania de São
Paulo.

Vila Bela foi escolhida especialmente para a instalação da primeira capital mato-grossense,
com projeto elaborado em Portugal. Pode ser considerada uma das primeiras cidades
planejadas do país. Até projeto para implantação da primeira Faculdade de Medicina no país,
na capital de Vila Bela, nesse período colonial, foi determinado pela coroa portuguesa, o que
não foi concretizado.

D. Rolim de Moura, primo do rei de Portugal, D. João V, recebeu a recomendação para “ter
vigilância e evitar desavenças com os vizinhos espanhóis”. O parentesco entre as famílias dos
reis de Portugal e Espanha, associado à habilidade e diplomacia de Rolim de Moura, evitou
confrontos com castelhanos e jesuítas, ao mesmo tempo em que fixou colonos na margem
esquerda do Guaporé, fundou aldeias jesuítas, expandindo mais ainda a fronteira portuguesa
ocidental.

Com a colonização portuguesa ultrapassando a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas


(1494), todas as questões de fronteiras foram resolvidas por tratados entre Portugal e
Espanha: o de Madri (1750), o marco de Jauru (1754), o de El Pardo (1761), de Ildefonso
(1777), entre outros.

Antes da criação da Capitania de Mato Grosso, Vila Real de Bom Jesus de Cuiabá (1727) era a
sede administrativa da região pertencente à Capitania de São Paulo. Ocorriam fortes pressões
da administração portuguesa e o esgotamento das minas auríferas. Foram os fatos
determinantes para a evasão da população cuiabana, no século XVIII, a procura de outros
lugares próximos e distantes. Tornou-se, assim, o centro irradiador e ponto de apoio de
caravanas que se espalhavam pelo território mato-grossense, fundando novas povoações.

O nome “Mato Grosso” surgiu em 1735, com a descoberta de minas de ouro na Chapada dos
Parecis, área de mata fechada entre os rios Jauru e Guaporé. Essa expansão territorial deu
origem ao Tratado de Madri (1750) com o famoso acordo “Uti Possidetis” ou seja, posse do
território onde estivesse efetivamente ocupando. A Coroa Portuguesa decidiu garantir a posse
do novo território, criando a capitania de Mato Grosso.

Capital de Mato Grosso de 1752 a 1820, Vila Bela da Santíssima Trindade teve grande destaque
político e econômico, garantindo a expansão e preservação do território fronteiriço. A partir de
1820, dividiu com Cuiabá a administração provincial. Foi o ano da descentralização política e
Vila Bela passou a denominar-se cidade de Mato Grosso.

Em 1835, a capital de Mato Grosso passa a ter sede em Cuiabá. A cidade de Mato Grosso
recuperou o nome definitivo de Vila Bela da Santíssima Trindade pela Lei Estadual nº 4.014, de
29 de novembro de 1978.

As divisões e emancipações de distritos dos municípios de Vila Bela e Cáceres, no final do


século XX, deram origem aos 22 novos municípios dessa região sudoeste mato-grossense, que
fazem parte da faixa fronteiriça de 500 km com a Bolívia.

Os acordos internacionais e a utilização das bacias hidrográficas para o transporte de pessoas e


mercadorias (ao norte, Guaporé-Madeira-Amazonas; ao sul, pelos rios Paraguai-Paraná; a leste
Paraguai-Cuiabá) foram, respectivamente, as bases para comunicação de Mato Grosso com a
Europa, com os países do atual Mercosul e com outras regiões brasileiras.

São históricos perfis socioeconômico de relações internas e internacionais, que perduram no


tempo e no espaço, pelas hidrovias em Mato Grosso e região central sul americana, iniciados
na fundação da Vila Bela da Santíssima Trindade.

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