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RESUMO
Este artigo é o recorte de uma pesquisa de mestrado em desenvolvimento, que tem como propósito
analisar a acessibilidade de parques infantis escolares e de seus brinquedos. Dessa forma, este estudo
apresenta de forma sintetizada os temas que englobam este universo: inclusão escolar da criança com
deficiência e usuária de cadeira de rodas; acessibilidade ao parque infantil; design para acessibilidade e
tecnologia Assistiva; ergonomia no estudo pessoa - ambiente e ergonomia no ambiente construído. Por
fim, propõem-se a Metodologia Ergonômica para Ambiente Construído – MEAC –, que será utilizada para
analisar e investigar os parques, assim como alcançar os objetivos da pesquisa.
ABSTRACT
This article is a part of a Master’s research being developed, which has as its purpose analyse the
accessibility of school playgrounds and its toys. This way, the research presents in a concisely form, the
themes that encompass this area: school inclusion of handicap children and wheelchair users,
accessibility to the playground, design for accessibility and Assistive technology, ergonomy in the
individual’s study – environment and ergonomy in the built environment. Finally, the Ergonomic
Methodology for Built Environment – MEAC – that will be used to analyze and investigate the parks, as
well as reach the objectives from the research.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa investigará a acessibilidade em parques infantis existentes em escolas (figura 1),
identificando os problemas enfrentados por crianças com deficiência e usuárias de cadeira de rodas
nesses locais. Como fonte para o levantamento dos dados empíricos da pesquisa, elegeram-se as
escolas municipais da cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. Esta escolha deve-se pelo
interesse demonstrado pelo Setor de Educação Inclusiva, localizado na SMED – Secretaria Municipal de
Educação e Desporto do referido município, na presente pesquisa. Diante disto, autorizou previamente as
visitas às escolas, dispondo-se a contribuir para realização desse estudo colocando-se à disposição para
suprir quaisquer informações complementares. Como o foco desta pesquisa não consiste em fazer um
1
mapeamento dos P.C.R. - Pessoa em cadeira de rodas , do ensino municipal da referida cidade, não é
necessário visitar todas as escolas da rede de educação municipal em busca deste perfil de aluno. A
pesquisa limita-se ao estudo das necessidades enfrentadas por esses usuários ao utilizar o parque
infantil. Neste sentido, será feito um acompanhamento mais profundo de alguns casos, buscando por
padrões que ajudem a identificar fenômenos. E a partir da análise destes dados, propor diretrizes de
projeto para o espaço recreativo infantil voltado para a acessibilidade. Serão consideradas neste estudo
1 Sigla adotada pela NBR 9050/2004 para descrever Pessoa em cadeira de Rodas.
as crianças com deficiência que dependam exclusivamente da cadeira de rodas como principal meio de
locomoção.
Fonte: Autora
A motivação da presente pesquisa é sua relevância social, pois se acredita na inclusão e fortalecimento
da promoção dos direitos das pessoas com deficiência. Considerando o relatório “Características gerais
da população, religião e pessoas com deficiência” do IBGE - publicado em 29 de junho de 2012, referente
ao Censo Demográfico realizado em 2010 representam no Brasil mais de 45,6 milhões de pessoas com
deficiência. Isso equivale a 23,91% da população total brasileira. O Censo de 2000 apontava a existência
de 14,5% de pessoas com deficiência. Evidencia-se, portanto, um crescimento expressivo do número de
pessoas que declararam ter algum tipo de deficiência ou incapacidade física e motora. Por isso, os
estudos que buscam compreender e aplicar os conceitos como acessibilidade, ergonomia, inclusão e
tecnologia assistiva tornam-se cada vez mais importantes.
Em 2001, a Convenção de Guatemala, definiu o termo "deficiência" como “[...] restrição física, mental ou
sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais
atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”
(GUATEMALA, 2001, p.3). A partir da década de 1980, surgiram expressões menos pejorativas, como:
“pessoas deficientes”, atribuindo pessoas ao termo e logo a seguir alterou-se para “pessoas portadoras
de deficiência”, que logo foi alterado, pois as pessoas não “portavam” uma deficiência, a dificuldade
motora ou era permanente ou era temporária, não há como portá-la. Na década de 1990 adaptou-se o
termo para “pessoas com necessidades especiais”, “pessoas portadoras de necessidades especiais” ou
“pessoas especiais”, onde a necessidade passou a ser um valor permanente, atribuído ao indivíduo.
Estes termos foram substituídos, pela nomenclatura que até hoje é propriamente utilizada: Pessoa com
Deficiência – PCD (figura 2), estipulada em 2007 na Convenção dos Direitos das Pessoas Com
Deficiência.
FONTE: http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/assitencia_tecnica/acessibilidade/cad-3.pdf
A Constituição Federal (1988) estabelece, no art. 208 - inciso III, que pessoas com deficiência têm, entre
outros direitos: “atendimento educacional especializado, aos portadores de deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino”. A participação de alunos com deficiência na escola de ensino regular, dita
comum, oportuniza verificar como está o acesso a todos os âmbitos dessa estrutura de ensino. Para
Dischinger, Ely e Borges:
A inclusão escolar é um movimento mundial que condena toda forma de segregação e exclusão.
Ela implica em uma profunda transformação nas escolas, uma vez que envolve o rompimento de
atitudes de discriminação e preconceito, de práticas de ensino que não levam em consideração as
diferenças, e de barreiras de acesso, permanência e participação dos alunos com deficiência nos
ambientes escolares (2009, p. 21).
No momento que a escola acolher esses estudantes com deficiência, sem distinção, possibilitando sua
participação no mesmo nível que dos demais colegas, este terá possibilidades de participar ativamente
na sociedade ao iniciar a sua integração com os demais cidadãos já na idade escolar. Do modo que, se a
escola não oportunizar o acesso e participação desse aluno, este não conseguirá evoluir como cidadão.
Pode-se observar este apontamento na Convenção da ONU: “[...] pessoas com deficiência são aquelas
que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas” (ONU,
2007). No processo de inclusão escolar, destaca-se outro conceito que contribui de forma eficaz para sua
2
concretização: Tecnologia Assistiva (TA) .
3. TECNOLOGIA ASSISTIVA
O design de recursos para TA é projetado para suprir uma necessidade e também promover a ampliação
dos movimentos da PCD. Contudo, para o projeto de Tecnologia Assistiva ser eficaz em sua função, é
necessário que a criança com deficiência identifique-se e goste do produto de tecnologia assistiva
inserindo-o em seu cotidiano de forma permanente. Tecnologia Assistiva (TA), é atualmente utilizada
para definir uma enorme diversidade de recursos e serviços destinados a pessoas com deficiências. Para
Sassaki (2003), a Tecnologia é considerada assistiva quando é usada para auxiliar no desempenho
funcional de atividades, reduzindo incapacidades para a realização de atividades da vida diária e prática,
nos diversos domínios do cotidiano. O termo Tecnologia Assistiva foi regulamentado no Brasil pela CAT/
SEDH em 2007. A CAT – Comitê de Ajudas Técnicas/SEDH, instituído pela portaria 142 em 2006, veio
trazer sua contribuição no âmbito nacional através de ações para a pesquisa, desenvolvimento e
inovação dentro do contexto da tecnologia assistiva, este órgão junto com a SEDH formulou e aprovou o
seguinte conceito para TA:
O design para tecnologia assistiva mais do que promover a independência de movimentos das pessoas
com deficiência, proporcionará a acessibilidade desses indivíduos em diferentes situações e ambientes,
incluindo-os em atividades em todo âmbito social, inclusive no escolar.
2 Termo utilizado sempre no singular, por se tratar de uma área do conhecimento. Esta aprovação se deu por
unanimidade, na V reunião do CAT, em agosto de 2007 (CAT/ SEDH/CORDE, 2007a).
3 Veja mais informações em: http://brasilacessivel.org.br/instituto.htm
É um dos países que mais se preocupa com a pessoa com deficiência, no que tange à existência
da vasta legislação para resguardar seus direitos. Por outro lado, o descaso e o descumprimento
destas leis pela sociedade equivalem à retroação de centenas de anos, sacrificando o exercício
dos direitos deste contingente social (FIESP/ OAB/SP, 2007, p.13).
Uma das diligências do Brasil, para introduzir a acessibilidade em novas construções, foi realizada
através da NBR 9050/1985 que determinou parâmetros necessários para que todos os indivíduos
possam se adaptar às condições oferecidas no espaço projetado, visando o conforto e a funcionalidade,
através de níveis de segurança ajustáveis a diferentes habilidades, facilitando o manuseio. Desde 1985,
a NBR 9050, passou por algumas revisões, sendo regulamentada sequencialmente em 1991-1994, 2000-
2004 e 2005A ABNT definiu que esta norma: “visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas,
independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira
autônoma e segura dos ambientes, edificações, mobiliários, equipamentos urbanos e elementos” (2005,
p. 1).
O que significa Acessibilidade Espacial? Este termo, utilizado no Manual de Acessibilidade Espacial
Escolar: o direito à escola acessível é descrito por Dischinger, Ely e Borges (2009) como:
Acessibilidade espacial significa bem mais do que apenas poder chegar ou entrar num lugar
desejado. É, também, necessário que a pessoa possa situar-se, orientar-se no espaço e que
compreenda o que acontece, a fim de encontrar os diversos lugares e ambientes com suas
diferentes atividades, sem precisar fazer perguntas (DISCHINGER, ELY e BORGES, 2009, p.22).
Segundo as autoras, a meta da acessibilidade espacial escolar é: “permitir que alunos, professores,
funcionários e demais usuários da escola tenham acesso a todos os locais, com conforto e segurança, e
possam participar das atividades neles existentes” (DISCHINGER, ELY, BORGES, 2009, p.69). A partir
desses apontamentos, realizou-se averiguações dos ambientes escolares identificando problemas de
acessibilidade. Estes registros são referência para futuros pesquisadores. A respeito dos problemas
existentes e identificando algumas soluções a serem adotadas para promoção do acesso aos ambientes
das escolas. Dischinger, Ely e Borges (2009, p.69), ressaltam que “o ambiente físico de uma escola deve
ser pensado de modo a evitar todo e qualquer risco de acidente, e que espaços e equipamentos devem
estar sob constante manutenção”. Dentre os problemas encontrados nas escolas de Ensino
Fundamental, destacam-se os que envolvem o parque infantil que segundo Dischinger e Borges (2009,
p.64) dificultam e até mesmo impedem o ingresso de crianças, sejam elas deficientes ou não. As autoras
apontam os seguintes problemas:
Nos estudos ergonômicos é necessário conhecer o usuário e o ambiente que ele participa, identificando
suas habilidades, capacidades e limitações humanas, conforme ressaltam Mont’Álvão e Villarouco
(2011). A análise Pessoa – Ambiente pode ser considerada, conforme Günther (2003, p.274) “[...] estudo
não (somente) consiste das relações unidirecionais, o impacto das pessoas sobre o espaço e o do
espaço sobre as pessoas, mas do processo de retroalimentação entre comportamento e experiência das
pessoas e o espaço físico.” A ergonomia aplicada no ambiente construído, conforme Vasconcelos et. al
(2012), não se restringem a projetar ambientes confortáveis e seguros para os usuários executarem suas
atividades, mas também em compreender as suas necessidades formais e estéticas. Essas
necessidades, conforme os autores são provocadas pelas sensações provocadas pelo ambiente e estão
relacionadas com as preferências e valores de cada usuário. Essa abordagem ergonômica do ambiente
construído, conforme Mont’Álvão e Villarouco (2011) contribui para melhorar entre outros problemas, a
acessibilidade em ambientes já instalados. Este se classifica, como um dos principais problemas
ergonômicos latentes em diferentes ambientes. Mont’Álvão e Villarouco (2011) destacam a avaliação do
ambiente construído através da MEAC – Metodologia Ergonômica para o Ambiente Construído. Este
método foi proposto por Vilma Villarouco em 2008, e propõem uma integração entre ergonomia e
ambiente, analisando a relação homem e espaço construído/ambiente.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da pesquisa bibliográfica documental, atrelada as orientações metodológicas que visam
identificar as dificuldades enfrentadas por crianças usuárias de cadeira de rodas ao tentar acessar e
utilizar os brinquedos dos parques infantis escolares almejasse alcançar as diretrizes para tornar esses
ambientes acessíveis a crianças usuárias de cadeira de rodas. Estas diretrizes serão geradas e
estruturadas de acordo com cada escola, e no final será realizado um comparativo entre elas, a fim de
reforçar as diretrizes de projetos aplicáveis a diferentes instituições de ensino. Atrelando a pesquisa
bibliográfica documental com a plicação da MEAC – Metodologia Ergonômica para o Ambiente
Construído, os resultados preliminares, aqui apresentados, referem-se somente a pesquisa documental.
Até esta etapa foi possível identificar alguns dos problemas enfrentados por crianças deficientes e
usuárias de cadeira de rodas para acessar e brincar no parque infantil.
Seguindo o que regulamenta a NBR 9050, quanto ao acesso às dependências da escola (figura 4), e
4
conforme a NBR 14350 , recomendando mudanças e adaptações no parque escolar para torná-lo mais
acessível a todas as pessoas e também englobar adequações que possibilitem o seu uso, o “Manual de
Acessibilidade Espacial Escolar: o direito à escola acessível” sugere que:
1. O parque deve estar localizado em área afastada de atividades – como estacionamento, local de
carga e descarga, depósito de gás, etc. – que possam ocasionar acidentes;
4 Esta norma estará em vigor até 14.06.2013 após essa data será substituída pela 16071:2012, dividida em 7 partes.
Vide documento em: http://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=004468
2. Que seja possível que uma pessoa, em cadeira de rodas, chegue até o parque, utilize a área de
estar e aproxime-se dos brinquedos acessíveis através de um caminho pavimentado;
3. Alguns brinquedos possam ser utilizados por crianças com mobilidade reduzida, como tanque de
areia elevado e balanço em forma de calça;
4. A existência de brinquedos que estimulem os vários sentidos, como a audição e o tato, para
crianças com deficiência visual;
5. Que os brinquedos estejam em boas condições e possuam uma distância de segurança entre si;
6. Que as cores do piso e dos brinquedos sejam contrastantes entre si;
7. Que o piso esteja em boas condições e sem buracos;
8. Que existam bancos para os acompanhantes dos usuários do parque recreativo, em local com
sombra e que não atrapalhem os usuários nem a circulação;
9. Que o parque possua vegetação diversificada, como grama, arbustos e árvores, e segura: sem
espinhos e não venenosas;
Esses apontamentos referidos pelo Manual serão complementados com a Metodologia ergonômica
para ambiente construído apresentada neste estudo, gerando, assim, o diagnóstico da situação
existente nas escolas e a proposição das referidas diretrizes de projeto.
A utilização de métodos variados de pesquisa, divididos 2 blocos temáticos, atrelados a pesquisa
bibliográfica documental, contribuirá para este estudo obter dados mais fidedignos dos atuais problemas
enfrentados pelos alunos P.C.R ao tentar ingressar e utilizar o parque infantil escolar. Acredita-se que a
metodologia proposta permitirá analisar a acessibilidade no ambiente (parque infantil) já construído, e por
meio de registros com indicativos em resultados será possível formatar diretrizes para tornar os parques
escolares e seus brinquedos acessíveis e inclusivos.
NOTA
Este artigo foi extraído da qualificação de mestrado da autora, orientada pelo Profº Dr. Vilson João
Batista e Profº Dr. Fábio Gonçalves Teixeira. Será apresentado ao programa de Pós-Graduação em
Design como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design com Ênfase em Design &
Tecnologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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