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Belo Horizonte
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
2004
Belo Horizonte
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
2004
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________________________
PROF. Dr. NIVALDO NORDI – UFSCar
_________________________________________________________________
PROF. Dra. SÔNIA MISSAGIA – UFES
_________________________________________________________________
PROF.Drª SONIA NICOLAU DOS SANTOS (ORIENTADORA – PUC/MG)
Meus pais, que sempre e incondicionalmente acreditam nos meus sonhos e me apóiam mesmo
sem entender;
Meu marido, que mesmo tardiamente, compreendeu a minha enorme necessidade de estudar e
estudar e estudar...
Meus filhos maravilhosos e tão relegados ao segundo plano nestes últimos dois anos; que
consigam perdoar as minhas ausências (em todo o sentido da palavra);
Aos Guias da RPPN do Caraça, principalmente Neneco, que gentilmente dividiu a sua
“etnosabedoria” comigo em tantas conversas mato afora...
Aos moradores das comunidades de Santana do Morro, Sumidouro e Brumal, pessoas dotadas
de enorme paciência e senso de cooperação, que abriram suas casas e seus corações para a
intrusa que perguntava tanto e tantas vezes...
conhecimento sobre a fauna local por parte dos moradores do entorno de uma Unidade de
da mesma época da fundação do Caraça, no século XVIII e podem ser consideradas uma
pequena extensão do patrimônio histórico, cultural, arquitetônico e natural que ele representa.
citações, representando uma média de 4,47 citação/pessoa. Os mais citados são os animais
pertencentes à Classe Mammalia, com 460 citações, onde o tatu é citado 62 vezes. Quanto aos
animais que desapareceram da região, obteve-se um total de 160 citações, onde os mamíferos
perigosas, traiçoeiras e más entre as populações estudadas, que sentem uma grande aversão à
fonte nutricional em sua dieta. O animal mais citado foi o tatu, sendo utilizado na
alimentação e como zooterápico. Como zooterápico, são utilizadas apenas partes do corpo dos
animais sendo elas o couro, o rabo, o veneno, o sangue, o chifre, a pata e o óleo. O óleo é o
mais utilizado, com 42 citações. O sangue, o couro, o rabo, a pata e o chifre obtiveram 1
Partes ou produtos dos animais são utilizadas para diferentes doenças ou dores e, do mesmo
animal pode-se obter diversos tipos de remédios, sendo elas relacionadas ao aparelho
importante instrumento que pode ser utilizado para estabelecer programas de manejo e
educação ambiental que apreendam o ponto de vista cultural dos moradores para relacioná-los
The aim of this research was to identify and characterize the dwellers knowledge about
the local fauna of a Conservation Unit denominated as Caraça’s Natural Park, located in Catas
The boundary communities, Santana do Morro, Sumidouro and Brumal, are from the
same period of Caraça’s foundation, on 18th century and can be considered a small extension
of historical, cultural and natural patrimony that it represents. In the three communities, there
To data collect, semi-structured interviews was carried out in 141 residences. Dwellers
identified for the region 63 different animal types, from 622 mentions, representing mean of
4,7 mentions to each person. The most mentioned are animals concerned to Mammalian
Class, with 460 mentions, where armadillo is mentioned 62 times. Concerning to animals that
disappeared of region, a total of 160 mentions were obtained, where mammals obtained the
Among reptiles, the most mentioned were the snakes. They are considered dangerous,
treacherous and mean among studied populations, which feel great aversion to them. The
misconception that snakes arouse, allied to lack of scientific researches about reptiles –
mainly about snakes – can characterize a fragile conservation status to them in the area.
Concerning to fauna use from Caraça’s Natural Park boundary dwellers, nutrition and
medicinal use are the most significative, with 106 and 45 mentions respectively. The mentions
obtained about wild animal consumption by interviewed indicate that it can be an important
nutritional resource in their diet. The most mentioned animal were the armadillo, being used
in nourishment and as remedy. As remedy, only parts of the animals body are used, like
Leather, tail, blood, limbs and horn obtained 1 mention each and poison – extracted
exclusively from snakes – obtained 3 mentions. Animal parts or products are used to different
diseases or pains and from the same animal can be obtained various kinds of remedies, being
the diseases or pains related to body systems and skin and as antidote to snakes bites.
This results show that Santana do Morro, Sumidouro and Brumal dwellers know
mainly the animals that are used in some way or that are considered damaging or dangerous.
This research is an important instrument that can be used to establish handling and
environmental education programs that apprehend dwellers cultural point of view to relate it
Figura nº 5: Brumal: em destaque a Igreja de Santo Amaro com salão comunitário ao fundo 24
Gráfico n°5: Animais silvestres que aparecem nos sonhos dos moradores: ………………45
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 14
2. OBJETIVOS......................................................................................................................... 20
2.1. Objetivo Geral: .................................................................................................................. 20
2.2. Objetivos Específicos:....................................................................................................... 20
4. METODOLOGIA................................................................................................................. 26
4.1. Instrumento de Pesquisa.................................................................................................... 27
5. CAPÍTULO I
PERCEPÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA DE TRÊS COMUNIDADES
HUMANAS.............................................................................................................................. 30
5.1. Animais que existem atualmente na região segundo os moradores .................................. 30
5.2. Denominações locais para alguns animais ........................................................................ 34
5.3. Animais que desapareceram da região, segundo moradores ............................................. 37
6. CAPÍTULO II
A RELAÇÃO SER HUMANO E SERPENTES EM TRÊS COMUNIDADES HUMANAS 42
6.1. Répteis existentes na região, segundo moradores ............................................................. 42
6.2. Animais que aparecem nos sonhos dos moradores ........................................................... 45
7. CAPÍTULO III
USOS DA FAUNA EM TRÊS COMUNIDADES HUMANAS............................................. 52
7.1. Animais utilizados para alimentação................................................................................. 52
7.2. Utilização do couro/pêlo/pele/casco de animais................................................................ 54
7.3. Uso medicinal da fauna silvestre....................................................................................... 55
7.4. Uso para criação:............................................................................................................... 60
7.5. Uso para cruzamento ......................................................................................................... 61
7.6. Uso para artesanato............................................................................................................ 62
7.7. Uso para atividades místicas ............................................................................................. 63
7.8. Animais silvestres utilizados para enfeite ......................................................................... 64
7.9. Uso para xerimbabo (estimação)....................................................................................... 66
ANEXO II
Lista das espécies de aves existentes nos arredores da RPPN do Caraça, MG*...................... 77
ANEXO III
Lista das espécies de serpentes encontradas na RPPN do Caraça/MG* .................................. 88
ANEXO IV
Lista das espécies de Anuros encontrados na RPPN do Caraça/MG ....................................... 89
ANEXO V
Modelo do questionário referente à fauna, aplicado aos moradores de Santana do Morro,
Sumidouro e Brumal: ............................................................................................................... 91
Unidades de Conservação (UC’s) do Brasil podem ser agrupadas em três categorias diferentes
de manejo, sendo então definidas como uso indireto dos recursos – onde estão incluídas as
recuperação, por seu aspecto paisagístico ou para preservação do ciclo biológico de espécies
procedimento que culmina na RPPN. O decreto que criou as RPPN’s é bem claro quando
afirma que sua destinação não pode ser outra senão a de proteção integral dos recursos,
educação científica.
criada pela Portaria nº 32, em 30 de março de 1994, pelo Decreto nº 98.914 (INSTITUTO
IBAMA) (Fig. n°1). Localiza-se nos municípios de Santa Bárbara e Catas Altas, no estado de
1
O uso indireto dos recursos exprime a não ocupação do espaço considerado para fins de exploração direta; o
uso direto dos recursos exprime a ocupação do espaço, considerado em sua plenitude racional, pelo ser
humano; e a reserva de destinação implica manter o espaço considerado incólume, de maneira a ser definido,
no futuro, seu uso racional (BRUCK et al., 1995 apud CABRAL & SOUZA, 2002).
20°05’S 43°28’W (VASCONCELOS & MELO JUNIOR, 2001). Possuem cerca de 11.233
hectares, onde 10.187,89 ha são área de preservação. Os restantes 1.045,11 ha são área de
Seu relevo, com altitudes de 800 a 2.050 metros íngremes, abrigam nascentes que
atingem as planícies, através de cachoeiras de enorme valor cênico. Sua hidrografia está
Atlântica (PAULA, 1997), a RPPN do Caraça resguarda uma cobertura vegetal diversificada
campo rupestre. A variedade de ambientes existentes na região propicia o habitat para uma
enorme riqueza faunística, com espécies raras e endêmicas, algumas ameaçadas de extinção
ameaçadas de extinção, o Caraça adotou uma delas, o Lobo-guará, como sua espécie-
bandeira, tornando-se ele um importante – senão o principal – atrativo para os turistas que ali
chegam.
2
No ano de 2003, cerca de 50.000 pessoas visitaram a RPPN do Caraça (Plano de Ação da PBCM para o Caraça
– 2003-2006).
Dessa forma, mantém-se uma rotina que se iniciou há quase 30 anos, quando toda
Igreja, sobe as suas escadarias em busca da carne colocada lá pelos funcionários do local ou
uma fonte atrativa e de ações de educação ambiental junto aos turistas. Busca-se, assim,
No entanto, os grupos que interagem com a RPPN do Caraça são mais complexos
e distintos, não se resumindo apenas aos turistas que por ali passam. As comunidades
humanas, em seu entorno, são elementos importantes que podem e devem ser incluídos em
seu plano de manejo e preservação natural. Porém, são indivíduos com percepções e culturas
realizado junto aos turistas, podem não ser adequados quando direcionados para as
anos, o interesse não apenas dos “amantes da natureza’, mas também de pesquisadores de
outrora, que viajavam pela região e, com maior ou menor intensidade, procuraram conhecê-la
e catalogá-la. Como por exemplo, Spix e Martius, que no século XIX visitaram o Caraça,
citando, em seus apontamentos, algumas espécies da fauna e flora que ali encontraram
(STRANG, 1981).
realizados na região da RPPN do Caraça. Dentre estes, os mais recentes são os de Talamoni
Sumidouro e Brumal, que, juntas, perfazem o total de 1.500 habitantes (SANTOS, 2003). São
rodeada por um ambiente degradado por minerações e carvoarias que, há cerca de 250 anos,
se refere ao meio ambiente e suas inter-relações. Diegues (1988) afirma que, sobretudo em
diversidade cultural.
ictiofauna (THÉ, 1999; MOURÃO, 2000), ou enfocando a dieta e os tabus alimentares e o uso
3
A população das três comunidades pode ser entendida como população tradicional segundo a conceituação
estabelecida por ARRUDA (1997) onde estas são caracterizadas por manterem um “modo de vida” diferente das
populações urbano-industriais e que, via de regra, mantêm com os recursos naturais uma relação de dependência
pautada no respeito aos ciclos naturais. Desta forma, o manejo dos recursos utilizados ocorre através de um
complexo de conhecimentos adquiridos pela tradição herdada dos mais velhos, resultando na adequação de uso e
manutenção dos ecossistemas naturais onde estão inseridos.
realizados. Entre eles, temos o de Fernandes-Pinto e Krüger (1999) sobre caça de subsistência
utilizam a fauna existente no local, bem como traços da percepção destas populações humanas
em relação à mesma.
espera-se contribuir para uma relação mais harmoniosa entre os conhecimentos locais e os
Caraça.
• Identificar os usos da fauna quanto a: alimentação; uso do couro; uso medicinal; uso
para xerimbabo; uso para criação; para cruzamentos com animais domésticos; para
Atlântica (PAULA, 1997). Constitui uma área de intensa riqueza natural que abriga diversas
(STRANG, 1981).
A RPPN do Caraça pode ser considerada uma ilha de vegetação rodeada por um
ambiente degradado por minerações e carvoarias que, há cerca de 250 anos, submete o local a
Sumidouro possui cerca de 336 habitantes e 70 moradias e Brumal – a maior – possui 713
Em Santana do Morro (Figura nº 2), as casas são grandes com no mínimo quatro
cômodos servindo como dormitórios. Algumas são no estilo colonial de adobe, com técnicas
n°3), 24,1% das pessoas nasceu e sempre viveu ali (SANTOS, 2003).
salários mínimos por mês (24,14%). Ou seja, a grande maioria da população (72,44%) recebe
Na comunidade não existe escola e as crianças em idade escolar vão para outras
3.1.2. Sumidouro
(Fig. nº4). 21,4% das pessoas residem ali entre 20 e 30 anos (SANTOS, 2003).
Sumidouro possui escola com ensino fundamental (1ª a 4ª séries), recebendo além
das crianças que moram ali, também aquelas de Santana do Morro que estão nessa idade
escolar.
até um salário, 28,6% recebem até dois salários, 18% recebem até três salários e 14% recebem
mais de quatro salários mínimos por mês. Destes, 28% trabalha por dia e não possui carteira
3.1.3. Brumal
Brumal (Fig. nº5), é a maior comunidade dentre as três, com 312 casas e 713
Grande parte das pessoas (28,6%) residem ali entre 10 e 20 anos (SANTOS,
2002). É a única que possui escola com o ensino fundamental completo (até a 8a série). Há um
pequeno comércio. A renda familiar encontrada para o ano de 2003 em Brumal, estava assim
recebem até três salários, 11,9% recebem até quatro salários, 14,3% recebem mais de quatro
salários mínimos por mês. Das pessoas entrevistadas, 26,19% têm carteira assinada
(SANTOS, 2002).
Fig. nº5: Brumal: em destaque a Igreja de Santo Amaro com salão comunitário ao fundo
Fonte: MARTINS, Lívia (2002)
Santuário do Caraça e aos eventuais turistas que possuem propriedades nas comunidades.
próprio Santuário do Caraça, mantêm com este e com a natureza que as envolvem, uma clara
relação de dependência. Dependência esta que, no caso do primeiro, fica bem explícita na
ambientais, inibidoras de muitos hábitos culturais que aconteciam com freqüência, como a
Caraça.
Santana do Morro, Sumidouro e Brumal nos meses de agosto de 2002 até agosto de 2003,
questões abertas para propiciar ao entrevistado a liberdade de responder segundo sua própria
lógica e conceitos. As questões enfocaram o perfil dos moradores, a sua relação com a fauna
silvestre regional, os usos atuais e pretéritos desta fauna pelos moradores e, especialmente, a
foco foram as serpentes. Nestas entrevistas, procurou-se detectar junto a estes informantes,
quais as espécies de serpentes que existem no local, bem como a sua percepção sobre as
mesmas.
moradores não foram encontrados nas ocasiões das entrevistas ou recusaram-se a respondê-
todas as ruas existentes no distrito, a amostra foi assim definida: foi confeccionado um mapa
existentes no distrito. A partir da divisão da extensão total das ruas em metros e da quantidade
de domicílios em cada uma delas, obteve-se uma amostra onde, a cada 50 metros, era
As questões sobre a fauna da região, bem como seus objetivos, estão explicitadas
abaixo:
reconhecem.
ž Segunda questão: Que animais existiam há dez anos atrás e hoje não existem mais
aqui?
humana.
ž Uso medicinal: está relacionado com a preparação de remédios caseiros, onde, partes
diversos.
ž Objetivo: descobrir quais animais são mais utilizados na região e identificar o fim
ž Objetivo: Identificar quais animais estão mais presentes nos sonhos das pessoas e o
seu simbolismo.
dados simples organizados a partir do Excel e Word for Windows - 2000. A análise e
Sumidouro e Brumal percebem e conhecem a fauna local. Procura-se identificar, a partir das
respostas obtidas dos moradores, a lógica do pensamento por eles utilizada na caracterização
freqüência?”.
Para efeito deste estudo, foram analisados apenas os dados sobre a fauna silvestre.
Dos entrevistados, 141 no total, 139 pessoas responderam a esta questão e 02 não
responderam.
622 se referiam a animais silvestres. Destas, 460 citações se referiram a mamíferos; 99 a aves;
700
622
600
500 460
400
300
200
99
100 59
4
0
Mamíferos Aves Répteis Anfíbios Total
(57); a capivara (44); a onça (42). Comparando as indicações dos moradores com os
Talamoni (2001).
Para as aves, as mais citadas foram passarinhos (24), o jacu (17), a saracura (11), a
maritaca (7) e a seriema (7). Os jacus são considerados pragas pelos moradores, que dizem
que eles reproduzem muito e estão começando a invadir o ambiente urbano, causando
colhidos: “Eles (jacus) comem a roça toda”(moradora de Sumidouro); “Jacu tem tanto que
Por sua vez, entre os moradores, os répteis mais citados são as "cobras" (44). A
No que se refere aos répteis, não existe um levantamento científico para a região.
Para os membros da Subordem Ophidia, o que existe é um registro, feito pela Fundação
Ezequiel Dias (FUNED) em Belo Horizonte, M.G, que recebe estes animais oriundos da
RPPN do Caraça. Até novembro/2003, haviam sido registrados 73 indivíduos, em cinco (5)
(B. neuwiedi) (26), a cascavel (Crotallus durisus) (3), a boipeva (Waglerophis merreni) (1) e a
falsa coral (2) (Oxyrhopus sp). As 16 espécies restantes são categorizadas pela FUNED como
4
Estes animais são categorizados pela Fundação Ezequiel Dias como serpentes não-venenosas.
categorias e muitas vezes pequenos organismos são agrupados de forma errônea – quando são
analisadas sob o enfoque científico - de acordo com seu tamanho e semelhança física
(GUERRA, s.d.).
muitas vezes, em uma classificação folk, eles são designados em apenas duas categorias, de
acordo com o tamanho: "mico/sagui" (primatas de pequeno porte) e "macaco" (termo genérico
São designadas, de forma diferente, apenas as aves de porte maior. Conclui-se, portanto que,
onde obteve-se o maior número de designações de tipos diferentes de “aves pequenas” (16).
designação específica para estes animais pouco observada. Neste sentido, obteve-se apenas a
O mesmo acontece com os anfíbios citados, que são reconhecidos por duas
podem estar se referindo tanto a uma espécie distinta de animal como também à várias
leva-los a serem denominados com um único nome, que representaria várias espécies
relacionadas.
Assim, por exemplo, a denominação de “tatu”, pode ser uma referência a diversas
espécies deste animal que foram ou não, detectadas nos levantamentos científicos realizados
sendo esta característica relacionada com a fase reprodutiva do animal. Nessa fase ele é
quando o indivíduo é solitário, sendo descrito como “aparentando ser maior e mais gordo”.
(Fig. nº6). Esse período corresponde à fase não-reprodutiva do animal, quando ele não se
acasala mais.
Quati
Quati-mundéu Quati-de-vara
Fig. nº6: Denominação do quati descrita pelos moradores de Santana do Morro, Sumidouro
e Brumal, com base no ciclo biológico do animal.
Embora seja cientificamente uma única espécie, as diferentes fases de sua vida
especificamente, a essas fases. A percepção das pessoas acerca destes indivíduos também se
animal que causa mais danos do que o quati-mundéu, porque o primeiro anda em bandos, o
quando ela é reconhecida como sendo um tipo de quati (quati-de-vara) e não o outro tipo
(quati-mundéu).
18 não responderam e 35 não sabem quais animais não existem mais na região. Foram citados
um total de 169 animais silvestres e domésticos que não existem mais na região, segundo os
moradores. Destas, 160 citações se referiam a animais silvestres, o que equivale a 1,82
180
160
160
140
121
frequência (n)
120
100
80
PDF Creator - PDF4Free v2.0
60
33
40
20 4 2
0
Mamíferos Aves Répteis Anfíbios Total
Foram relacionados 44 tipos diferentes de animais, em 160 citações obtidas.
(Quadro nº3).
Dentre os mamíferos, o mais citado foi o tatu, com 26 citações; seguido da onça,
(21) e do lobo guará, (19). As aves obtiveram 33 citações, sendo as mais citadas o azulão e o
curió, com quatro citações cada um. O réptil mais citado foi o lagarto, com três citações, o
existem mais na região de Santana do Morro, Sumidouro e Brumal, foram analisados, obteve-
Quadro nº4: Animais que existem e animais que não existem mais na região de
Santana do Morro, Sumidouro e Brumal, segundo moradores.
Animais que existem n Animais que não existem mais n
Tatu¹ 65 Tatu 26
Lobo guará 57 Lobo-guará 19
Onça 42 Onça³ 25
Paca 44 Paca 15
Veado 38 Veado 10
Capivara 41 Capivara 01
Cobra² 45 Cobra 01
¹Incluindo as citações de nomes específicos.
²Incluindo as citações de nomes específicos.
³Incluindo as citações de nomes específicos.
também a mudanças nos componentes da fauna presente nas mesmas. Segundo os moradores,
alguns animais nativos, como o coelho (tapeti), estão desaparecendo da região devido à
ausência de hábitat propício a eles, bem como outros animais, como o porco-do-mato, vão
surgindo e se adaptando a ela. Isso leva a uma modificação da fauna que é percebida pelas
“Aqui era mato brabo. Eu desmatei pra poder comer. Aqui era um
pedaço de terra que não tinha valor, era só mato. A gente acaba com
a vida de um pra dar vida a outro”.(morador de Santana do Morro).
“Os coelhos sumiram por causa dos desmatamentos. Eles devem ter
virado a montanha, buscando outro lugar para viver”.(moradora de
Sumidouro).
diminuição.
Torna-se importante destacar os resultados obtidos sobre o tatu. Nas duas questões
ele foi o animal mais citado, com 65 e 26 citações respectivamente. Estas informações podem
ser explicadas pelo fato de ser o tatu um dos animais mais utilizados na região, seja na
animal mais presente na memória das pessoas, cujo aparente desaparecimento pode causar
A “cobra” e a capivara, por exemplo, foram muito citadas pelos moradores que afirmam que
“Um bicho que de uns dez anos para cá está aparecendo muito, é
cobra”. (Guia da RPPN do Caraça).
“Capivara já virou praga. Ela destrói tudo que é
plantação”(Morador de Santana do Morro)
próprios moradores dizem que: “Há uns quinze anos atrás tinha muito curió. A geada matou
forma ela se manifesta, para que se possa, futuramente, estipular planos de manejo na região
trabalhada.
às “cobras”, que segundo os moradores, “são animais que têm aparecido muito no local”.
Observou-se também que existe um forte antagonismo entre estes moradores e as “cobras”,
que são fontes de lendas e simbolismos, freqüentemente gerando medo entre estas pessoas.
estes animais e o simbolismo associado a eles. Para tal, uma pergunta direcionou este estudo,
sendo ela:
Montou-se então uma nova técnica, onde foram escolhidos nove informantes-
que eles conhecem um número maior de “cobras” do que o descrito no capítulo I, bem como
(Gráfico nº3).
70
59
60
50 45
Frequência (n)
40
30
20 13
10
1
0
Cobras lagarto lagartixa Total
Segundo os moradores entrevistados:“De uns dez anos pra cá, tem aparecido
região, alguns moradores descreveram quatorze (14) espécies, que são “cobras” (Gráfico nº4).
50 46
Frequência (n)
40
30
20 6
9 7
10 3 6 3 3 3
1 1 1 1 1 1
0
nove, seguido da caninana, com sete, da urutu e da jaracuçu, cada uma com seis. Quatro
citações consideram como “cobras” dois animais que não pertencem à Subordem Ophidia,
cerrados, campos e campos rupestres, bem como de áreas abertas e pastagens, sendo,
geralmente animais terrestres, pouco observados no alto das árvores (FREITAS, 2003).
dizem que “cobra gosta de ficar é em lugar limpo”, ou seja, em ambientes pouco florestados.
inúmeras lendas sobre estes animais, como verifica-se nos depoimentos abaixo:
“As cobra corre atrás da gente. Atrás do morro, mais lá longe, existe
a cobra de crista. Todo mundo fala que ela é grande e tem os olhos
vermelhos. Se ela te ver, ela corre atrás até que a gente joga para
ela alguma coisa da gente: chinelo, blusa..”.(Entrevistada de
Santana do Morro).
“Agora a cobra-correia engana a gente. Ela é comprida e fininha,
parecendo uma correia ou cinto e fica achatadinha no chão pra
ninguém ver ela no meio da puera. Aí quando a pessoa passa perto,
ela dá o bote.”(Moradora de Sumidouro).
“Cobra de pé: é parecido com uma lagartixa, só que é fina e cheia de
listas que mudam de cor de acordo com a luz. Ela fica em cima de
toco seco e tem cinco pés. O último pé fica pendurado atrás. O couro
dela é liso e brilhante”.(Moradora de Santana do Morro).
aliado à falta de conhecimento das espécies existentes no local, ter conseqüências desastrosas,
“Se tem um bicho que eu mato sem medo de polícia nem de nada, é
cobra. Esse bicho é mau, é ruim, tem que matar”. (Entrevistado em
Sumidouro).
92 disseram que sonham com animais, sejam eles domésticos ou silvestres, 44 disseram que
se referiam a animais silvestres, distribuídos em oito tipos diferentes, como pode ser
verificado no gráfico nº5, onde estão relacionados os animais silvestres mais freqüentemente
45 42
40
35
Frequência (n)
30 24
25
20
15
10 6
4 4
5 1 1 1 1
0
bra
o
tu
ca
tal
elh
Ta
To
pa
Co
Co
Dentre as citações obtidas de animais que aparecem nos sonhos dos moradores, as
“cobras” obtiveram mais da metade das mesmas, com 24, a seguir vem a onça (6), os pássaros
nos sonhos das pessoas, está também a importante informação da forma como ela aparece
nestes sonhos.
“Sonhar com cobra é sinal de coisa traiçoeira; se sonhar com cachorro é sinal de coisa
boa...”(Moradora de Sumidouro).
apresentado em relação às serpentes nem sempre é devido a alguma experiência vivida pela
pessoa, mas, quase sempre, a histórias de ataque a outrem ou a lendas, que reforçam, nas
Estas experiências vividas ou ouvidas são traduzidas como concepções que regem
as atitudes das pessoas, tornando-se um parâmetro interessante para avaliar o grau e o tipo de
Todo o folclore que envolve as serpentes, tornando-as seres misteriosos aos olhos
dos humanos, leva as pessoas a designarem como fazendo parte da fauna herpetológica local,
Geralmente, são animais que as pessoas não viram realmente, mas sempre
conhecem alguém que viu, o que mantém viva na imaginação delas, o temor de serem vítimas
deste animal.
emitindo um forte e prolongado chiado que produzem devido à expulsão do ar acumulado nos
ar expelido reproduz um som característico e alto (VIZOTTO, 2003) que serve para afugentar
o potencial inimigo.
a definirem etnoespécies que possuem exclusivamente esta faculdade, sendo o som produzido,
geralmente alto, transformado em canto, que é utilizado pela “cobra” para enganar as pessoas
SCHIMIDT, 1923; DIXON, 1983; LEMA, 1989; DI-BERNARDO & LEMA, 1990 apud
MESQUITA, 1997). A sua análise fornece também subsídios para o estudo evolutivo destes
organismos.
morfológica e, dentro desta, analisa-se somente o padrão e a disposição das cores nas escamas
epidérmicas.
observáveis. Embora, nessas classificações, possam ocorrer uma interação das duas
de famílias diferentes serem agrupadas, de acordo com alguns critérios como o padrão de
não-peçonhentas.
classificação utilizado.
pelos moradores das comunidades trabalhadas, é caracterizada pelo seu empirismo, fruto da
entrevistados, pois muitos deles afirmaram que todas as cobras são venenosas, por isso
Reconhecem também que o veneno das cobras é diferente de uma para outra,
sendo que algumas são mais venenosas, e outras não possuem veneno, como disse uma
moradora de Santana do Morro:“A cainana, a cobra-cipó não são bravas, não tem veneno,
inocular sua peçonha na presa pretendida. Isto pode ser feito tanto com uma mordida, os
dentes servindo então como condutores do veneno, como com o rabo, que em algumas cobras
Existem outras espécies de cobras que também não utilizam os dentes para atacar
sua presa, e sim, uma espécie de “baba”, que elas “cospem” e o local no corpo onde é
atingido, apodrece. “A cainana (caninana) joga uma “baba” ou espuma, que tonteia a pessoa
e escurece as vista. Onde cai na pessoa, apodrece a carne”. (Morador de Santana do Morro
– 45 anos – ex-caçador)
Da mesma forma que existem diversas maneiras utilizadas pelas cobras para
atacar as pessoas, existem também diversas formas de “curar” do seu veneno. Alguns
“remédios” manipulados por estas pessoas, podem ser empregados, bem como diversos mitos
relacionados aos cuidados que uma pessoa “ofendida” de cobra deve ter para não morrer. Os
As diversas formas de tratar alguém mordido por cobra retrata o importante papel
Apesar disso, poucos são os relatos de pessoas que foram mordidas por cobras na
região da RPPN do Caraça. Os moradores entrevistados acreditam que este fato é devido a
uma promessa feita por Nossa Senhora aos padres do Santuário do Caraça, de que as pessoas
deixam de temer as “cobras”, sendo que estas continuam a ser um símbolo do mal, que, de
acordo com elas, devem ser destruídas sempre que forem vistas.
comunidades, foi realizada junto aos moradores, uma entrevista estruturada, onde procurou-se
Para obter uma análise detalhada dos usos, subdividiu-se a questão sobre o uso da
fauna em nove categorias diferentes, da seguinte forma: uso alimentar; do couro; medicinal;
criação; cruzamento; artesanato; atividades místicas; atividades enfeite; estimação. Para efeito
desse trabalho, foram analisados apenas os dados referentes aos animais silvestres.
alguma fonte de proteína animal na alimentação e 12 pessoas responderam que não utilizam.
Dez pessoas não responderam a questão e nove disseram que não sabem qual tipo de animal
utilizam na alimentação. Quanto ao número de citações, a alimentação foi o item que obteve o
nº6).
120 106
100
Frequência (n)
80
60
40 30
26
20 12 10
7 5 5 4 3 2 1 1
0
Ve a
La o
rto
bra
tu
Co o
Po u
o
tia
Ca ca
to
tal
ad
elh
ar
mb
c
Ta
ma
Pa
ga
Ja
Cu
To
piv
Co
do
rco
Po
Dentre os animais silvestres, o tatu foi o mais citado (30) seguido da paca (26); da
capivara (12); do veado (10); do coelho (7); do lagarto e do gambá, cada um com cinco; do
porco do mato, com quatro; do jacu com três; do pombo com duas; e da cutia e da cobra, com
uma citação cada. As espécies mais relacionadas como de maior preferência alimentar ficam
determinante para que este fato ocorresse. “Em casa era tanta dificuldade que a gente usava
na dieta das pessoas entrevistadas, porém, para muitos, o progresso ocorrido na região e as
Leis Ambientais aliadas a uma percepção das modificações ambientais ocorridas no local,
são consumidas ou apresentam restrições em seu consumo, devido ao hábito que, acredita-se,
que elas têm de comer carne de defunto, como atestam alguns depoimentos abaixo:
respostas negativas referentes à caça e são um indicativo de que ela acontece sim, porém de
forma menos evidente que em alguns anos atrás, antes da criação da RPPN do Caraça.
animais, sejam domésticos ou silvestres e 49 disseram que não utilizam. 20 pessoas não
responderam a questão, 20 não sabem se existe este tipo de utilização dos animais em suas
comunidades.
Para tal finalidade foram relacionados seis tipos de animais em 18 citações obtidas
(Gráfico n°7).
20 18
18
16
Frequência (n)
14
12
10
8 6
5
6
4 3
2 1 1
2
0
ara
o
rto
o
tu
al
eh
ad
ric
Ta
tot
ga
piv
Co
Ve
ati
La
Ca
gu
Ja
O coelho foi o animal mais citado (6); seguido do veado (5); do tatu (3); do
As informações obtidas sobre o uso do couro de alguns animais, são quase sempre
referentes a sua utilização no passado, sendo esta prática pouco presente nos dias atuais.
Principalmente porque a sua utilização seria a comprovação de que ocorre caça, o que leva a
utilizam animais silvestres ou domésticos como zooterápicos e 50 disseram que não utilizam,
50
45
45
40
35
Frequência (n)
30
25 20
20 16
15
10
3 3 3
5
0
Tatu Capivara Lagarto Cobra Veado Total
citações onde o animal mais citado foi o tatu (20), seguido da capivara (16). O lagarto, veado
acontecia no passado, quando a fiscalização sobre os produtos, oriundos da fauna, não era tão
rigorosa. No entanto, a sua utilização ainda pode ser notada, embora não de maneira tão
freqüente.
Muitos afirmam que usam alguma parte do animal, apenas “quando acham ele
morto”.
elas o couro, o rabo, o veneno, o sangue, o chifre, a pata e o óleo. (Gráfico nº 9).
45 42
40
35
Frequeância (n)
30
25
20
15
10
5 1 1 1 3
1 1
0
Óleo Sangue Couro Rabo Veneno Chifre Canela
sangue, o couro, o rabo, a canela e o chifre foram citados uma vez cada, o veneno – retirado
Determinadas partes ou produtos dos animais são utilizados para diferentes tipos
de doenças3 ou dores, bem como do mesmo animal pode-se obter diversos remédios
3
Neste trabalho, a palavra “doença” será utilizada referindo-se tanto às enfermidades de origem personalística
(provocadas por um agente humano ou sobrenatural) quanto àquelas de origem naturalística (provocadas pela
intervenção de causas ou forças naturais). (FOSTER, 1983: In COSTA-NETO, 1999).
pessoa mordida foram também catalogadas, sendo descritas como “contra o veneno de cobra”
O rabo do tatu é utilizado como chá para dor de ouvido e para fazer coalhada. A coalhada
pode ser utilizada pura, sendo considerada “boa para o estomago”, bem como ser utilizada
para fazer queijo-de-minas, o que é mais comum. Para a análise dos dados referentes ao “uso
do rabo do tatu”, foram utilizadas apenas aquelas indicadas como zooterápico, sendo outras
30 28
25
frequência (n)
20
15
9
10
5 3 2
1 1
0
aparelho auditivo aparelho respiratório
aparelho locomotor sistema nervoso
doenças de pele contra veneno
Aparelho Locomotor, com três citações; Contra-veneno para picada de cobra, com duas
citações; do Sistema nervoso com uma; do Sistema Digestivo; e das Doenças de Pele também
análise destes dados, embora algumas das “doenças” citadas não sejam problemas
dermatológicos.
remédios e, sim, a simpatias, como por exemplo, o uso do sangue de tatu para ficar com a pele
bonita ou o uso do chifre do veado para retirar o veneno de cobra. No entanto, a sua definição
“como remédio” pelos moradores, levou a sua categorização junto aos mesmos.
comprovação da sua efetividade e, sim, pela forma como as pessoas deste local se relacionam
significativo, não ficando muito abaixo das fontes vegetais (MARQUES, 1997 apud
domésticos ou silvestres e 21 disseram que não criam nenhum tipo de animal. 11 não sabem
(Gráfico n°11).
18 16
16
14
Frequência (n)
12
10
8
6 4
4 3
2 2 2 2
2 1
0
oz
ito
aca
o
o
tal
elh
err
arr
iqu
To
rit
Co
ef
Ma
pa
per
od
Pa
Bic
citações. O mais citado foi o coelho (tapeti), com quatro citações; seguido dos pássaros, com
O costume de criar outros animais silvestres que não sejam pássaros pode não ser
comum, devido ao fato de que esta característica não faz parte da cultura local.“Bicho do
das finalidades para o qual alguns destes animais são mantidos em cativeiro. Em muitas
localidades, esta é uma prática comum, pois se acredita que os animais advindos deste
cruzamento são mais fortes e resistentes, como observado por Fernandes-Pinto e Kruger
domésticos, foi pouco observado. Dos 141 entrevistados, 18 responderam que utilizam esta
prática, 20 disseram que não utilizam nenhum animal para cruzamento, 12 não sabem se
Dos animais citados, os únicos animais silvestres foram o coelho (tapeti), que
obteve quatro citações e o passarinho com uma citação. Alguns moradores reconhecem que
possa ocorrer cruzamento entre espécies diferentes de animais silvestres, como descrito no
silvestres ou domésticos com esta finalidade, 62 responderam que não utilizam, 22 moradores
entrevistados não sabem se existe este tipo de utilização de animais em suas comunidades e
para isso, partes do animal que são bonitas ou adequadas para o trabalho manual da confecção
(Gráfico n°12).
12
10
10
Frequência (n)
4 3
2 2 2
2 1
0
Coelho Pássaros Tatu Veado Cobra Total
citações obtidas, o coelho foi o mais citado (3); seguido de tatu, “pássaros” e veado, com duas
casco. Assim, a pata do veado é utilizada para fazer cabide e o pé do coelho para fazer
domésticos para atividades místicas. Destes, 67 disseram que não utilizam nenhum tipo de
animal para este tipo de atividade, 22 não sabem se existe este tipo de utilização de animais
8
7
7
6
Frequência (n)
5
4
3
3
2
1 1 1 1
1
0
Lagarto Lobo guará Pombo Tatu Coelho Total
elas o lobo guará (1); o pombo (1); o lagarto teiu (1); tatu (1); e o coelho (3).
amuletos para dar sorte ou para afastar algum perigo quando se anda no “mato” ou também
fortuna. Já a presa do lobo guará é utilizada para afastar perigos, sejam eles naturais ou
sobrenaturais.
Outra utilização mística é aquela que envolve simpatias, como usar o casco do
tatu para plantar milho, para que outros animais não desenterrem as sementes. “O casco do
tatu é usado pra plantar milho. Dizem que milho plantado assim, bicho nenhum come e nasce
Nesta questão, 26 moradores disseram que utilizam animais ou parte deles para
enfeite, 65 disseram que não utilizam, 21 não sabem se existe este tipo de uso para os animais
enfeites. Muitas vezes, o animal como um todo tem este fim (Gráfico n°14).
14
12
12
10
Frequência (n)
4 3 3
2 2
2 1 1
0
Veado Coelho Cobra tatu Macaco Canário Total
obtiveram o maior número delas (3). A cobra e o tatu obtiveram duas citações cada um e, o
O tatu pode ser utilizado inteiro como enfeite bem como ter apenas o casco
utilizado para tal. Para o macaco foi relacionada apenas a pele, que depois de retirada é
presépios, muitas vezes, em tamanho natural. Nestes presépios, colocam além dos
personagens tradicionais, outros que fazem parte da cultura ou da fauna local, como mostra
alguns depoimentos colhidos:“A gente usa o veado e o coelho pra brinquedo e pra por no
enfeite”.(Moradora de Sumidouro).
Nesta questão, 74 moradores entrevistados disseram que fazem este tipo de uso e
12 disseram que não. Oito disseram que não sabem se em suas comunidades existe este tipo
45 42
40
35
Frequência (n)
30
25
20 16
15
10 5 6
4 2 2 2 3
5 1 1
0
co
ra
o
Ma z
Pa aio
ca
Pe o
tal
o
elh
uit
err
Ara
To
rita
arr
Mi
g
riq
Co
pa
ef
pa
od
Pa
Bic
citações. O coelho e o mico, únicos mamíferos citados, obtiveram duas citações cada um. As
aves foram os animais mais citados e, destes, os mais citados foram os pássaros (16), seguido
da maritaca (6), o papa arroz (5), o papagaio (4), o periquito (3), a arara (2), o sabiá (1) e o
estético-recreacional. As aves são, por isso, as mais utilizadas para este fim. No entanto, a sua
próprios moradores sabem dessa proibição e afirmam que a manutenção das aves em cativeiro
pássaros foram apreendidos pela polícia e depois soltos. “Tem muita gente por aí que tem
tudo”(Morador de Brumal).
e Brumal, o uso de animais silvestres é muito difundido e comum. Essa prática representa
fonte de proteína, remédios, diversão e, atualmente, fonte de renda para pessoas que, burlando
mais citadas e a forma como são denominadas, permitem que se reconheça a maneira como as
pertencentes à Classe Mammalia são os mais citados e, dentre eles, o tatu, o lobo guará, a
160 citações, em 44 tipos diferentes de animais. Os mamíferos foram os mais citados e, dentre
esses, sobressaíram o tatu, a onça, o lobo a paca e o veado. Existe similaridade de tipos de
animais e número de citações em ambas situações. Desta forma, pode-se concluir que
animais que são considerados úteis, danosos ou perigosos, sendo estes, os animais mais
citados.
e muitas vezes, estes são restritos a alguns grupos de animais, este tipo de trabalho junto à
futuramente, poderão ser confirmado a sua presença, em levantamentos feitos sob o enfoque
científico.
dizem que existem muitas cobras na região, sendo estes animais, um dos mais citados.
denominação genérica. Desta forma, em algumas situações, não foram determinadas a quais
espécies cientificas as pessoas estavam se referindo quando citavam, por exemplo, tatu,
quatro (4) espécies de tatus, duas (2) de veados e duas (2) de tamanduá. Além de 281 espécies
de aves.
uma percepção negativa dos moradores caracterizada por uma intensa repulsa e pavor em
perseguição, ataques surpresa, e no limite, representam a morte certa pelo veneno do qual são
portadoras. Verificou-se também que, estas percepções negativas estão alicerçadas não em
geração a geração. Não existe interação entre homem e serpente. O extermínio das serpentes é
as informações dos moradores locais como uma fonte privilegiada sobre as serpentes.
No que ser refere ao uso dos animais, como observado no Capítulo III, aqueles
utilizados na alimentação e/ou como zooterápico foram os mais citados pela população das
três comunidades.
maior que outros. Neste sentido, os animais mais utilizados pelas populações das
pássaros. O coelho foi registrado em oito das nove categorias de utilização analisadas e, o
tatu, embora presente em apenas seis, foi o animal que apresentou o maior número de citações
de utilizações, com 58. O uso para alimentação foi o que obteve o maior número de citações
(106), seguido do uso como zooterápico (45). O tatu é o animal mais citado em ambas
situações. O óleo é o produto mais utilizado (42), sendo retirado de mais de um tipo de
tatu é um animal muito caçado pelos moradores das comunidades. Sendo a caça proibida e
este fato sendo conhecido pelas pessoas da região que temem represálias das autoridades, dão
ao tatu uma outra utilidade: a de fonte de renda para aquelas pessoas que, não tendo medo de
desrespeitar as Leis vigentes, caçam o animal para vender sua carne e produtos utilizados
como zooterápicos. É importante, portanto, que, a partir dos resultados obtidos com este
trabalho, busque-se implementar novos estudos sobre a real pressão de caça existente sobre o
tatu, para que a partir daí, possa-se buscar medidas que busquem integrar o uso deste animal,
humana que convive e interage de alguma forma com um ambiente natural qualquer, é o
primeiro passo para o sucesso do manejo faunístico daquele local. É necessário, portanto,
integrar os conhecimentos científicos com os saberes e atitudes tradicionais, sendo que esta
pode ser considerada uma das principais formas de conservação dos sistemas naturais.
BEGOSSI, A. & BRAGA, F. M. S. Food taboos and folk medicine among fishermem from
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Tabela nº 1:
Lista das espécies de mamíferos da RPPN do Caraça, MG.*
(Continua)
Tabela nº 2:
Lista das espécies de aves existentes nos arredores da RPPN do Caraça, MG*
(Continua)
Oreophylax moreirae
joão-botina Phacellodomus
erythrophthalmus
ferrugineigula
joão-botina Phacellodomus
erythrophthalmus
erythrophthalmus
trepador-quiete Syndactyla rufosuperciliata
Tabela nº 3:
Lista das espécies de serpentes encontradas na RPPN do Caraça/MG*
Família Espécie
Nome comum Nome científico
Viperidae Jararaca B. jararaca
Viperidae jararaca-do-rabo-branco B. neuwiedi
Viperidae Cascavel C. durissus
Boidae Boipeva Wanglerophis merremii
Colubridae falsa-coral Oxyrhopus sp.
Tabela nº 4:
Lista das espécies de Anuros encontrados na RPPN do Caraça/MG
Família Espécie
Nome científico Nome comum
Bufonidae Bufo crucifer sapo-da-floresta; sapo-cururu
Bufo rubescens sapo-cururu
Centrolenidae Hyalinobatrachium aff. rã-de-vidro
Eurygnathum
Hyalinobatrachium uranoscopum rã
Leptodactylidae Adenomera sp. (gr. bokermanni) rã
Crossodactylus sp. rãzinha-do-riacho
Hylodes uai rã
Odontophrynus cultripes rã
Eleutherodactylus juipoca rãzinha-do-capim
Eleutherodactylus cf. izechsoni rãzinha
Eleutherodactylus cf. lacteus rãzinha
Eleutherodactylus cf. nasutus rãzinha
Eleutherodactylus sp.1 (gr. rãzinha
lacteus)
Eleutherodactylus sp.2 (gr. rãzinha
lacteus)
Leptodactylus furnarius rã
Leptodactylus fuscus rã-assobiadora
Leptodactylus jolyi rã
Leptodactylus ocellatus rã-manteiga; rã-paulistinha;
Physalaemus cuvieri sapo-cachorro; foi-não-foi
Physalaemus cf. evangelistai sapo
Physalaemus aff. olfersi sapo
Proceratophrys boiei sapo-de-chifre
Thoropa militaris rã-das-pedras; rã-bode; rã-das-
cachoeiras
Thoropa megatynpanum rã
Microhylidae Elachistocleis ovalis sapo-guarda
Hylidae Hyla albopunctata perereca
Hyla alvarengai perereca
Hyla arildae perereca-verde
Hyla circumdata perereca
Família Espécie
Nome científico Nome comum
Hyla elegans perereca
Hyla faber sapo-ferreiro; sapo-marteleiro;
Hyla martinsi perereca
Hyla minuta perereca
Hyla manusae perereca
Hyla polytaenia perereca
Hyla senicula perereca
Sninax duartei perereca
Scinax eurydice perereca
Scinax fuscovarius perereca-de-banheiro;
Scinax luizotavioi perereca
Scinax machadoi perereca
Scinax squalirostris perereca
Scinax aff. perereca perereca
Scinax sp. 1(gr. catharinae) perereca
Scinax sp. 2 (gr.catharinae) perereca
Scinax sp.3 (gr. catharinae) perereca
Phyllomedusa burmeisteri perereca-verde
Phasmahyla jandaia perereca
DATA:___/___/___
NOME DO ENTREVISTADOR: ________________________ No. QUESTIONÁRIO: ____
LOCAL: ( ) Santana do Morro ( ) Sumidouro ( ) Brumal
NOME DO ENTREVISTADO:
ENDEREÇO: ______________________________No._______
PONTO DE REFERÊNCIA: _____________________________
QUESTÕES:
1. Que animais existem aqui?
2. Que animais existiam há 10 anos atrás e hoje não existem mais aqui?
Uso alimentar:
Uso medicinal:
Continua
Enfeite:
Criação. Quais?
Cruzamento. Quais?