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O arranjo produtivo de mel do estado de Alagoas e seu papel no

desenvolvimento local sustentável do sertão alagoano

Paulo da Cruz Freire dos Santos (UFAL) paulodacruz@feac.ufal.br


Josiane Minuzzi (UFSC) josiane@deps.ufsc.br
Nelson Casarroto Filho (UFSC) casarotto@deps.ufsc.br
Nicholas Joseph Tavares da Cruz (UFAL) admnicholas@gmail.com

Resumo: Estratégias de desenvolvimento que privilegiem as empresas locais trazem em si o


potencial de distribuir melhor a riqueza gerada e melhorar o padrão de vida da comunidade.
As empresas de pequeno porte tem merecido atenção especial por parte dos governos e os
Acertos Produtivos Locais (APLs), desempenham importante papel aumentando a
competitividade, para aqueles que estão dispostos a não atuar de forma separada, mas
através de associações entre os agentes e instituições que integram os sistemas produtivos no
âmbito local. A atuação de organizações governamentais e não governamentais, produziu
muitas estratégias para a ampliação de alternativas que revelem o desenvolvimento
socioeconômico. Uma das alternativas que trouxeram bons resultados é o fortalecimento de
Acertos Produtivos Locais (APLs) em todo o território do Brasil, abrangendo várias
atividades econômicas. Um bom exemplo da contribuição dos APLs para o desenvolvimento
regional automóvel-sustentável é o Arranjo Produtivo Local de Apicultura, localizado no
estado de Alagoas. O objetivo deste artigo é analisar esse caso como uma alternativa de
desenvolvimento socioeconômico. Os dados secundários e primários, obtidos em fontes
oficiais e entrevistas com produtores locais, mostraram que a vida dos produtores inseridos
no APL melhorou, devido principalmente ao aumento da renda familiar.
Palavras-chave: Arranjo produtivo local; Desenvolvimento sustentável; Apicultura.

1. Introdução
No sudoeste do Estado de Alagoas, em uma área de caatinga, produtores rurais estão
complementando sua renda com a exploração do mel de abelhas. Nessa região as famílias
rurais procuram seu sustento basicamente com a exploração da agricultura de subsistência e a
criação de pequenos animais. Tradicionalmente eles plantam milho, feijão, mandioca e criam
caprinos, ovinos e galináceos. Alguns poucos também criam algumas cabeças de gado
adaptadas a região. Devido à crônica falta de chuvas muitas vezes as colheitas não são feitas e
as pessoas perdem sua fonte de alimentação. Como alternativa de renda os produtores rurais
procuraram outros tipos de explorações e uma delas que está se destacando é a criação de
abelhas que tem dado sinais positivos quanto a geração de renda e desenvolvimento
econômico local.
Nessa região nasceu, foi organizado e está em franco desenvolvimento um Arranjo
Produtivo Local (APL) destinado a congregar esses produtores de mel. O arranjo está
espalhado por uma área de 4.737 km2 onde vive uma população de 264.584 pessoas, sendo
que aproximadamente 55% delas vivem na zona rural.
Nessa área, apesar dos avanços ocorridos nas últimas décadas, em termos sociais e
econômicos, o desenvolvimento sustentável ainda está distante. Isto pode ser observado pelo

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grau de alfabetização e pelos vários índices que mostram os níveis de pobreza,
desenvolvimento humano e desigualdade na distribuição de riqueza (Tabela 1). A taxa de
alfabetização é baixa, quando confrontada com a de regiões desenvolvidas do país, e o IDH
está muito longe do alcançado por municípios do sul do país como São Caetano do Sul que
supera a marca de 0,90.
TABELA 1 - Área dos municípios, taxas, índices, distribuição da população e PIB per capita no APL de apicultura do estado de Alagoas.

População
Taxa
2000 PIB Índice
de
Área per IDH de Índice
alf.
Municípios capita Gini de
2007 (%)
2009 2000 pobreza
Urbana Rural Total 2006 2003
2000
2003
Água Branca 455 4.496 14.164 18.660 19.316 61,3 2.203 0,60 0,40 57,92
Delmiro Gouveia 605 33.563 9.432 42.995 46.599 71,1 15.399 0,65 0,42 61,71
Olho d'Água das
Flores 183 12.996 6.421 19.417 19.885 62,7 4.741 0,61 0,42 59,78
Olho d'Água do
Casado 323 3.887 3.172 7.059 8.139 54,9 2.445 0,54 0,38 56,93
Olivença 173 2.371 7.998 10.369 10.522 56,0 2.138 0,53 0,39 62,65
Palestina 49 3.014 1.509 4.523 4.878 64,3 2.168 0,57 0,35 56,32
Pão de Açúcar 659 10.806 13.545 24.351 23.855 61,4 2.406 0,61 0,40 55,64
Pariconha 261 2.404 7.682 10.086 10.209 58,3 2.161 0,55 0,39 55,17
Piranhas 408 1.340 18.667 20.007 23.910 63,0 2.059 0,54 0,41 44,38
Poço das
Trincheiras 303 1.557 11.665 13.222 12.205 52,9 1.748 0,50 0,37 50,56
Santana do
Ipanema 438 23.993 17.492 41.485 42.296 63,3 3.049 0,62 0,43 59,45
São José da Tapera 520 9.261 18.301 27.562 30.129 54,4 2.017 0,53 0,39 63,34
Sen Rui Palmeira 360 3.443 8.536 11.979 12.641 52,3 1.761 0,51 0,36 60,31
Fonte: IBGE e PNUD com elaboração dos autores.
Quando se observa os índices de pobreza e do Gini se tem a impressão de que as
dificuldades econômicas foram socializadas. Os índices do Gini municipais mostram valores
abaixo de 0,5, indicando menor concentração de riqueza quando comparados com o índice de
0,52 alcançado por Maceió, a capital do Estado, enquanto os índices de pobreza mostram
elevado percentual de pessoas que vivem em dificuldades financeiras. Pode-se deduzir daí que
na realidade existe alta concentração de pobreza.
Junte-se a isso a existência de secas periódicas, onde a falta de chuvas leva os
agricultores a perder suas colheitas e muitas vezes, os pequenos animais que criam, gerando
fome e desespero.
Uma das formas que foi encontrada para ajudar as pessoas residentes nessa região foi
o repasse de auxílios governamentais. Eles ajudam a manter as pessoas vivas, mas não as
ajudam a encontrar soluções para os anos que estão por vir.
Durante décadas, o serviço de extensão rural procurou introduzir novas técnicas de
manejo do solo, utilização de cultivares resistentes à seca, práticas avançadas de pastoreio,
captação e retenção de água das chuvas. Muitas dessas práticas foram absorvidas, mas com a
extinção do serviço de extensão rural e a falta de assistência técnica, muitos agricultores

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ficaram sem rumo e a espera de uma idéia que lhes mostrasse uma alternativa de trabalho e
renda.
Uma das alternativas surgidas foi a exploração da apicultura. Ações promovidas pelo
SEBRAE-AL (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do estado de Alagoas) e
vários órgãos governamentais permitiram que vários agricultores aprendessem técnicas de
manejo de apiários e fossem introduzidos nessa nova atividade.
Os pequenos agricultores encontraram na apicultura uma atividade econômica que lhes
traz renda, não é difícil de aprender, nem toma muito tempo, comparado com outras
atividades, pois em média só precisam dar atenção as abelhas a cada quinze dias. Por conta
dos vários treinamentos que já foram dados, com o objetivo de capacitá-los, eles já são
capazes de capturar enxames na caatinga e executar os vários processos próprios da atividade.
Dados da Agência do Estado (2009) revelam que aproximadamente 800 produtores se
dedicam hoje à apicultura em Alagoas. Essa atividade começou a ganhar relevância quando o
SEBRAE-AL começou a atuar junto a esses produtores. Hoje o SEBRAE-AL está presente
em 7 projetos ligados às atividades de criação de abelhas.
Mesmo com a existência de estiagens prolongadas, que diminuem a floração das
plantas e produz escassez de alimentação das abelhas, o clima seco do sertão de Alagoas,
aliado a uma vegetação bastante diversificada, composta de arbustos bem como de árvores de
pequeno e médio porte, favoreceu a produção de mel.
A atuação do SEBRAE-AL foi fundamental. Assuntos que antes eram desconhecidos
pelos produtores de mel passaram a fazer parte de suas conversas, como aspectos legais
ligados à produção e comercialização, qualidade, denominação de origem, etc., todos eles
repassados através de seminários. O resultado é que hoje vários já comercializam sua
produção engarrafada e com o rótulo de “Mel do Sertão”, a denominação de origem do
produto. Os seminários funcionaram também como uma forma de integrar técnicos e
produtores.
Esta integração entre os participantes de um mesmo setor da economia é um dos
principais fundamentos dos chamados Arranjos Produtivos Locais (APLs). É desta integração
e mudança de conhecimentos (learnig-by-interacting) que se obtém a especialização cada vez
maior dos produtores, além da aprendizagem continua e aperfeiçoamento da atividade
(JOHNSON; LUNDVALL, 2005).
Acertos Produtivos Locais são vistos como uma possibilidade para que pequenas
empresas e produtores autônomos de um mesmo setor da economia possam unir esforços,
através de associações entre os diferentes agentes e instituições que integram o sistema
produtivo local, para ganhar competitividade e alcançar maiores espaços no mercado.
Neste contexto, a atuação de organizações governamentais e não governamentais,
produziu muitas estratégias para ampliar as alternativas que revelem o desenvolvimento
sócio-econômico; entre elas o Arranjo Produtivo Local de Apicultura, localizado no sudoeste
do Estado de Alagoas (Figura 1).

Figura 1. Área ocupada pelo APL.

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Fonte: IBGE, 2009; SEPLAN/AL, 2009 e elaboração própria.
O objetivo deste artigo é fazer uma análise desse APL - utilizando a técnica de estudo
de caso - que está se firmando como uma alternativa de desenvolvimento econômico. A
pergunta que se faz é: Quais são as estratégias que foram utilizadas para desenvolver essa
atividade localmente? Para respondê-la se abordam inicialmente os principais tópicos que
compõem o artigo: arranjos produtivos locais, desenvolvimento sustentável e seus efeitos na
renda familiar.
Em termos metodológicos o artigo é o resultado de uma pesquisa exploratória que
utilizou dados secundários (obtidos em fontes oficiais) e primários (entrevista com produtores
da região do APL). As considerações finais relacionam as alternativas consideradas de maior
êxito para o case e sugerem estudos futuros.
2. Revisão da literatura
A valoração do papel das pequenas empresas e seus empreendedores vem ganhando
cada vez mais espaço, seja em debates na academia ou na sociedade; principalmente quando
os mesmos estão concentrados em uma mesma região, dirigidos para determinado segmento
produtivo.
A literatura mostra que as características específicas encontradas em tais
aglomerações, oriundas de um contexto socioeconômico e cultural, são resultantes de uma
vocação regional, processo de aprendizagem coletiva e formação de fortes vínculos entre seus
agentes (MARSHALL, 1982; BRUSCO, 1990; PORTER, 2001; CASAROTTO; PIRES,
2001; LASTRE; CASSIOLATO, 2005).
Portanto, os nomes que tais aglomerações recebem – distritos industriais, clusters,
redes de empresas, sistemas locais de inovação, milieu innovateurs, entre outros – são uma
tentativa de identificar melhor a aglomeração de acordo com aspectos específicos, como
conhecimento acumulado, inovação, interações entre os agentes, coesão social, e aspectos
culturais e socioeconômicos. No Brasil, o termo mais difundido é Arranjo Produtivo Local
(APL).

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A denominação APL foi criada pelos organizadores da RedeSist - uma rede de
pesquisas ligada ao Instituto de Economia da Universidade Federal de Rio de Janeiro, no
Brasil. Ela se refere a um conjunto de atividades econômicas direcionadas para a análise de
interações, particularmente aquelas relacionadas à introdução de novos produtos e processos
(CASSIOLATO; LASTRE, 2002). Estes autores assim a definem:
Arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos,
políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas
– que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a
participação e a interação de empresas [...] e suas variadas formas de representação e
associação. Incluem também diversas outras organizações públicas e privadas
dirigidas para: formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas
e universidades; investigação, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e
financiamento (LASTRE; CASSIOLATO, 2003, p. 3-4).
Segundo o que dizem estes autores, é possível perceber que um arranjo produtivo local
propõe um modelo que engloba elementos tradicionais de economias de aglomeração como
cooperação, e inclue outros fatores como processos de aprendizagem, capacitação e inovação.
Tais fatores adicionais possuem como finalidade oferecer uma diferenciação e sustentação
para a competitividade do acerto. Eles consideram que os APLs são aglomerações produtivas
onde as articulações entre os agentes não são suficientemente desenvolvidas para serem
caracterizadas como um sistema.
Esse tipo de organização é uma oportunidade estratégica principalmente para
pequenos produtores em regiões pouco desenvolvidas e que apresentam baixo nível de
emprego. A estrutura e a organização do arranjo auxiliam seus participantes a superar
barreiras de crescimento, produzir e comercializar seus produtos em melhores mercados, com
mais oportunidades e condições mais favoráveis. Os resultados esperados através da
participação no arranjo são apresentados na figura 2.
Figura 2. Modelo de formação de um APL.

Produtores dispersos Resultados Esperados

- Cooperação
- Maior poder de negociação
- Qualidade
Organização do Arranjo - Governabilidade
- Acesso a novos mercados
- Segurança
- Maiores lucros
- Aceso fácil ao crédito
- Assistência técnica
Entrada no Mercado - Menor possibilidade de
quebra
- Sucesso empresarial

Estabilização

Sustentabilidade do Local

Fonte: Elaboração própria.

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Para Amorim; Moreira; Ipiranga (2004) os arranjos produtivos locais se constituem em
uma forma incipiente de organização sistêmica entre pequenas empresas. Elas dizem que
quando houver uma transformação desta forma para outra de estrutura mais complexa, o
arranjo se torna um Sistema Produtivo Local (SPL).
Corroborando tal visão, Haddad (2002) argumenta que no Brasil, as economias de
aglomeração encontradas, denominadas de arranjos produtivos locais, são uma forma inicial
do que poderia ser trabalhado, através de políticas públicas, para se transformar em um
cluster ou um distrito industrial como nos moldes italianos. Segundo o autor, as principais
características estruturais dos arranjos no Brasil são concentrações geográficas com elevado
grau de especialização setorial constituídas por um grupo de micro e pequenas empresas sem
coordenação de uma ancora. Haddad (2002) diz que eles ainda apresentam baixo nível de
eficiência coletiva apoiada em economias externas e em ação conjunta, além de uma limitada
coesão e reduzida intensidade na divisão de trabalho.
Também relacionando desenvolvimento regional aos APLs, Tahim (2008) defende que
os mesmos representam grande potencial para a região onde estão localizados. Ao mesmo
tempo, alerta: para que o dinamismo econômico do APL promova efeito social favorável ao
local, é necessário verificar os avanços que podem ser obtidos a favor dos agentes envolvidos
no acerto e nas condições econômicas, sociais e ambientais da localidade, para promover
políticas públicas adequadas às necessidades do arranjo. Ele defende que as políticas públicas
sejam formuladas de acordo com as idiossincrasias de cada acerto, e não uma política em
massa, onde cada arranjo necessite se adaptar a ela.
Devido à pertinência e entrelaçamento dos arranjos produtivos locais com o
desenvolvimento regional, o segundo tópico também necessita maiores estudos.
Ainda não está devidamente documentada a influência da criação de empresas e novas
formas de organização dos produtores no desenvolvimento local e regional, mas as evidências
dos vários estudos já realizados indicam uma conexão entre essas variáveis (OECD, 2003).
Essas conexões aparecem em estudos realizados por Davidson; Lindmark; Olofsson (1994),
Reynolds (1994) e Reynolds; Storey; Westhead (1994). Convém, entretanto dizer que o estudo
de Reynolds (1994) mostrou que o surgimento de novos negócios exerce impacto, mas não é
o suficiente para gerar desenvolvimento regional. Torna-se necessária, portanto a presença de
outros fatores, como aqueles que serão analisados no próximo capítulo.
3. Considerações
Segundo Vilela (2003) ainda falta no estado de Alagoas um olhar mais atento para as
principais dificuldades dos apicultores. Uma alternativa possível seria organizar um foro de
entidades, públicas e privadas, para a discussão das principais questões e necessidades da
apicultura em Alagoas, com o intuito de procurar soluções eficazes para seus principais
problemas. Convém ressaltar que o estado de Alagoas não conta sequer com uma Federação
de Apicultores embora conte com uma Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de
Alagoas que atua também representando esse setor.
Segundo Freire (2009), Santos (2009), produtores localizados na região do APL, os
apicultores enfrentaram vários problemas. Segundo esses produtores entre outros podem ser
citados as colméias abandonadas pelas abelhas. Esse abandono muitas vezes é conseqüência
de ataque de predadores, falta de alimento e dificuldade das próprias abelhas em manter a
temperatura necessária dentro da colméia. A falta de alimento é o problema maior. Para evitar
que as abelhas morram, ou procurem outros locais para instalar-se, os apicultores têm que
alimentar seus enxames.

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Outra dificuldade que pode ser citada é a pouca cooperação de forma organizada.
Segundo Pereira; Vilela (2003), o estado possui apenas 2 cooperativas, sendo que nenhuma
delas está dentro do território do APL. As associações, por sua vez, possuem de 10 a 50
associados, quanto mais de 60% de seus sócios não são ativos. Essa ausência da vida
associativa é ruim. A leitura que se faz indica falta de comprometimento e possivelmente seja
conseqüência da ausência de uma real conscientização do que significa participar de uma
associação e dos deveres de cada sócio.
Dados oficiais mostram que a produção de mel na região do APL oscilou,
apresentando acréscimos e diminuições (Tabela 2). Segundo alguns produtores locais os
dados oficiais não refletem a verdade, pois o quantitativo de mel produzido no APL foi maior.
Discordâncias a parte o que existe de fato é a ocorrência de uma nova atividade na região e
isto está transformando produtores que antes criavam abelhas por hobby em profissionais
desse tipo de exploração.

TABELA 2 - Produção de mel nos municípios do APL.

Prod. mel em kg. Prod. mel em kg. Diferença


Municípios
2005 2007

Água Branca 2.500 4.000 1.500


Delmiro Gouveia 4.350 2.944 - 1.406
Olho d’Água das Flores 700 2.081 1.381
Olho d’Água do Casado 4.200 5.400 1.200
Olivença 2.000 675 - 1.325
Palestina 2.000 666 - 1.334
Pão de Açúcar 60.000 25.692 - 34.308
Pariconha 500 412 - 88
Piranhas 5.000 5.390 390
Poço das Trincheiras 200 300 100
Santana do Ipanema 10.000 5.600 - 4.400
São José da Tapera 10.000 11.691 1.691
Senador Rui Palmeira 4.500 4.920 420
Fonte: IBGE. Pesquisa da Pecuária Municipal, 2005 e 2007 com elaboração dos autores.
Fora os pontos fracos locais, outros fatores que afetam a competitividade do setor e
diminuem as chances de um maior desenvolvimento são: a falta de recursos financeiros, que
acaba se tornando um obstáculo para as inovações tecnológicas; os custos conseqüentes da
logística para colocar o produto no mercado; e ainda a insuficiência do volume produzido, que
minimiza o acesso às grandes redes varejistas.
Como pontos fortes do setor, podem ser citados: a capacitação dos produtores; o
número de apicultores que começam a atividade sem necessitar financiamentos; o crescimento
do mercado nos últimos anos; a preocupação dos apicultores em seguir as recomendações
técnicas e o estímulo gerado por algumas prefeituras ao comprar o mel produzido dentro do
APL. Apesar da existência destes pontos fortes, ainda é necessário o oferecimento de cursos
de organização social e gestão do agronegócio.
Uma das ameaças que sofre o APL vem do desmatamento secular que sofre a região
onde ele está implantado. Em busca de novos espaços para utilização com plantio e criação de
gado os agricultores e criadores pouco a pouco foram destruindo os arbustos nativos.
Apesar da implantação de várias espécies frutíferas, elas são em número insuficiente

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em alguns locais, o que leva as abelhas a procurar sua matéria-prima em locais distantes. A
solução desse problema é complexa. Passa pela conscientização das pessoas assim como a
necessidade de manter vivo o ecossistema. Mas, como convencer quem não é apicultor a não
desmatar ou a coletar madeira para o uso doméstico? Uma ação que possivelmente produziria
resultados seria uma campanha governamental dirigida aos apicultores para que eles ampliem
seus espaços de alimentação para as abelhas através do plantio de espécies nativas propícias a
produção de mel, bem como de espécies frutíferas já adaptadas a região.
Parte dos problemas enfrentados pela apicultura no estado é decorrente do fato de que
ela é ainda uma atividade nova. Segundo Pereira; Vilela (2003), pesquisa realizada pelos
mesmos com 46 apicultores localizados nas principais regiões produtoras, mostrou que 60,8%
deles trabalhavam na atividade há pouco tempo.
Outra característica observada pela pesquisa foi o fato de que a apicultura é uma
atividade familiar, ou seja, não existe nela a presença de empregados, dado que todo o manejo
das colméias é realizado pelos membros da família.
Outras descobertas realizadas pela pesquisa do Pereira e Vilela foram: 96% desses
apicultores acreditam que sua opção por esse tipo de exploração como forma de sobrevivência
elevou sua qualidade de vida; 4,5% dos apicultores entrevistados têm na apicultura sua única
fonte de renda; a média de rendimentos dos apicultores entrevistados, hoje, é de 4,6 salários
mínimos; 46% desse lucros vem da apicultura; 98% dos apicultores entrevistados são
proprietários de um quantitativo de colméias que varia de 4 a 50.
Entre as ações que estão contribuindo para minimizar as dificuldades e maximizar
resultados positivos se destaca o “Projeto APL Apicultura do Sertão” desenvolvido por
instituições públicas e privadas com a coordenação do SEBRAE-AL. O publico objetivo se
concentra em apicultores, produtores, cooperativas, associações e organizações empresariais
no Sertão do estado de Alagoas nos municípios de Água Branca, Pariconha, Olho d´Água do
Casado, Delmiro Gouveia, Piranhas, São José dá Tapera e Pão de Açúcar.
Esse projeto tem como objetivo o desenvolvimento dos apicultores do sertão do estado
de Alagoas. Esse desenvolvimento, pelo que busca o projeto, envolve aspectos tecnológicos e
gerenciais, pois sua intenção é fazer a inserção desses apicultores na cadeia produtiva da
apicultura. Isso se dará pela formação e fortalecimento de associações e do aumento de
produção. A esse aumento da produção se buscará adicionar valor ao mel e subprodutos
produzidos nas colméias.
Considera-se que iniciativas deste porte, tragam melhorias para o setor incentivando
cada vez mais os apicultores, aumentando a renda familiar, melhorando a alimentação familiar
e diminuindo o êxodo rural.
4. Estratégias que poderiam desenvolver melhor o setor
O governo do estado de Alagoas poderia com as instituições do setor, aliadas à
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), viabilizar projetos que visassem o financiamento
de pesquisas, laboratórios e cursos de capacitação. Seria desejável ainda um laboratório de
análise que pudesse detectar a presença de resíduos químicos, possíveis contaminações, bem
como a qualidade do mel produzido no estado, o que facilitaria a inserção nos mercados
internacionais.
Entende-se que iniciativas que fortaleçam o setor podem incentivar produtores a
aumentar sua produção ou até mesmo iniciar a atividade. Portanto, um processo de maturação

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do APL se faz necessário, o que pode ser acelerado em função do crescimento e da
importância da apicultura no estado de Alagoas enquanto atividade econômica.
Desta forma, defende-se, aos moldes do que ocorreu nos distritos italianos, a
intervenção de instituições de ensino e pesquisa, fomento, assistência técnica, instituições
financeiras e governo do estado. Juntas, tais instituições podem desenvolver ações estratégicas
que contribuam para aumentar o grau de consciência cooperativa dos apicultores e procurar
recursos para dotar as associações de melhores condições de infra-estrutura e conhecimentos.
Ainda em se pensando em organizações associativas, uma das descobertas da pesquisa
feita por Vilela; Pereira (2003) é que ser afiliado a uma associação ou cooperativa traz
resultados econômicos para o apicultor. Seus lucros tendem a crescer em até 43% comparados
com o que ele aufere quando trabalha de forma isolada. Essa descoberta reforça a necessidade
de estimular os produtores a pensar em associativismo.
Apesar dos problemas que o APL tem enfrentado, como baixo nível de associação,
produção flutuante, logística incipiente, etc. não se pode negar um fato importante: a opção
pela apicultura permitiu a muitas pessoas encontrar um alternativa de renda que alterou suas
vidas para melhor. Esse fato e a organização dos apicultores e suas associações em um APL
por certo trarão cada vez mais melhores dias para eles.
O que se quis mostrar neste artigo foi o fato de que pessoas explorando determinada
atividade econômica podem ser agrupadas através de uma rede de contatos, para se apoiarem
e crescer juntas. É esse o papel do APL.
Foi através da associação desses apicultores que marca Mel do Sertão pode ser criada.
Hoje é possível encontrá-la em feiras e vários pontos de venda de mel. O sucesso não é só
conseqüência da atividade, mas também da forma como ela está organizada.
Referências
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22/maio/2009. Disponível em: <http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_4/2009/05/22/em_noticia_interna,
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