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Fundamentos da Materia Organica do Solo Ecossistemas Tropicais & Subtropicais Editores: GABRIEL DE ARAUJO SANTOS Prof. Tit, Departamento de Solos - UFRRJ LEANDRO SOUZA DA SILVA Prof. Adj, Departamento de Solos - UFSM LUCIANO PASQUALOTO CANELLAS Prot. Assoc., Departamento de Solos - UENF FLAVIO A. DE O. CAMARGO Prof, Assoc., Departamento de Solos - UFRGS- 2# Edicdo Revisada e atualizada /AETROPOLE wgraficametrople.com.be comercialayaticametropae-com br teifox +55 (91) 3318.6355 Porto Alegra, julho de 2008 28 €Emissées de Gases de Efeito Estufa em Agroecossistemas € Potencial de Mitigacao FALBERNI S, COSTA, JOSILEIA A. ZANATTA & CIMELIO BAYER ‘© aumento das concentragées de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera tem causado 0 chanad efeito estufa antrépico, do qual urna das principais consequiéncias é o aumento médio da temperatura da terra cu aquecimento global. No Brasil, agrcultura é importan fonte dos ts principals gases de ele estufa, contriouindo com 75% das emissdes de didxido de C (CO,} emais de 90% das emissdes de metano (CH,}e de <6xido nitroso (N,O), rellexo das queimadas na regizo amazonica, da grande aree cultvaca € do reoanto de bovinos, ente oultas atividades. Nesse cendrio, a mitigacdo das emissoes ce GEE no Brasil envolve rnecessariamente a identificaco ou desenvolvimento de sistemas de produgéo agopecudria com potercal da retengaio de CO, aimostérico na matéia orgénica do solo e de redugao das errissbes de CH, aimostera, Nesse capitulo seré realizada uma breve discussio do efeito estufa e ce suas conseq fatores que atetam as emissdes e do potencial de elgumas praticas agricolas na sua mbigagdo, com énlase a agroecossistemas do subtrépico brasleiro. 28.1 AQUECIMENTO GLOBAL E OS GASES DE EFEITO ESTUFA Na atmosfera existem gases capazes de absonver a raciacio infravermelha emitida pelo solo, determinando um processo natural conhecido como efelto estufa. O efeilo estufa 6 responsdvel por manter a temperatura média do planeta em aproximadamente 15 °C, permitindo o desenvovvimento das muitas formas de vida existentes. Os princioais GEE s20 0 cidxido de carbon, o metano € » éxido nitroso, que juntos representam menos de 1% da composigao atmosférica. Contuda, 0 desenvolvimento industal ¢ a expanséo das fronteiras agricolas no mundo, notadamente partir de-meados do século XIX, tim acentuado a emissdo de GEE, promovendo assim um eleto estula adicional, que esta determinando midangas no balango energetico do sisieme terraalmostera. Desde a revolugao industrial, os niveis de CO, aumentaram de 260 pom para além de 379 ppm em 2005, enquanto 0 NO e CH, tiveram aumentos de 85 e 148%, respectivameri, para o mesmo perisdo (Figura 28.1). ‘Come resultado desse aumento na concentragao de gases ra atmoslera, alteragdes nas varitveis clmaticas tém sido verificadas ao longo do iiltno sécula, @ uma das consealiércias mais graves, indvada inclusive no itimo relatério do Painel Intergovernamental Sobre Mudangas Clinaticas - IPCC (2007), € 0 585 Fundamentes da Matéria Orginica do Solo 2° Eeigio aumento medio da temperatura dopleneta em, no minimo 1,8°C, a onal deste século, o que pode promover rmodificages sensiveis na atividads agricola de variae rides. As domais consequéncias projetadas a patirdas mudangas climaticas globeis ja observadas S20 prescupantes no que se refere a qualidade de vida ¢ sustentabiidade agricola e ambiental a longo prazo. 15 300 L Didxido de carbone =u 10 E am 2 am 40s 8 200 ea gy Bee oo 2601 : pare aes 1 oy Concentracao atmostérica 4 2 Forzamento radiative (Wm?) ne aw {Oxide nitroso 0.15, oso Figura 281 Concenagiessiostieas ao eCO,,CH,eN,Oem i000 = & 0,05 tos Batosdednosiasés 6, gelo ce varios locals na 2270». oe il nie “e“Gpooninda % (asalado de IPCC, 207) eles se ‘mo 12001400 160016002000 ‘Ano Abaixo, 880 listadas algumas das principais consequéncias do aquetimento e que permitem visualizar inportncia do tema e urgencie na identiicagBo de praticas miigadoras desse processo em todos os setores 6a sociedad: redugdo da biodiversidade; ¥ aumento do nivel dos mares como resultado da diiatagdo térmica da massa de agua ccedinica e do ‘aumento do seu volume pelo apore de Aguas resultantes do degelo das calotas polares e geleiras de regides montanhosas, causando grandes alleragées nos ecossistemas costeiros ¢ perda da superficie em regides banhadas pele mar 7 mucangas climAticas de forma permanente eirreversiveis, imprimindo novos padres no regime da temperatura, dos ventos, das chuvas e da circulagao ds oceanos (possivel maior ndmero de ciclones); 7 redugdo no suprimento de Agua doce; + aurrento da freqiéncia ds tempestades e secas,afetando a cisponiblidade de Aqua as culturas. Esse efeito poderd ocorrer de forma distnta nas diferentes regioes, ¥ mucangas em sistemas ecol6gicos ¢ na socloeconomia, afetandoo fomecimento de alimentos e os recursos hidiicos, bem como a sade humana, 586 Fatberi de Souza Costa Josiéia Acoréi Zanata eCimiélio Bayer ¥ maior incidéncia de c&ncer de pele (i mada de ozénio também pelos produtos do éxido nitroso na estratostera; ‘Y aumento da biomassa terrestre e ocednica pela aceleragao da taxa folossintética e pelo cumento do teor de CO, dissolvido nos oceanos. Neste dtimo caso, podera haver sensivel aumento dos organismnos corn exo-esqueletos formads por carbonato de calcio; ‘7 aumento na incidénda de doencas e prolferagéo de insetos nocivos ou velores de doengas, o que oderé resutar em grandes alteraodes socials. éncia da destruigo d 282 CONTRIBUICAO DA AGRICULTURA NA EMlISSAO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NO BRASIL Globalmente, a agricultura 6 responsdvel por 23% das emissdes ce GEE de origem antrop oriundas de praticas agricolas (15%) e da mudanga do uso das terras (8%). De modo geral, as emissdes CH, (65%) € N.O (92%) sao relativamente mais importantes do que a emissao de CO, (26%) (Duxdury et a. 1993). Important salientar que as emissbes dos ciferentes gases & expressa sob 2 forma de equivalentedo gs CO, (equivalente CO,), 0 que considera opotencial de aquecimento individual de cada gas, sendo que oCH,€0N,O {ém, respectivamente, 23 e 296 vezes maior potencial de aquecimento (PAG) do que o CO, (IPCC, 2007). Porém, 0 cenério brasitsiro bastante diferente. Aproximadamente 75% do CO, @ mais de 90% dia emmissio anual de CH, ¢ NO sé0 derivados da agricutura no Brasil. Estimatvas indicam que anualmente 5&0 liverados & atmosfera 1.161 Tg de equivalente CO, de GEE, dos quals o CO,¢ o principal deles. Este conibui ‘com maisde 778 Tg CO, representando 67 % das emissées anuais, seguido pelo CH, com 20% e pelo N,O com 13% (EMBRAPA @ CNPMA, 2006). O desmatamento e 2 queima da biomassa vegetal, a producio de artoz inigado e de ruminantes, os solos agricolas e a queima de combustiveis fOsseis so apontados como as principaisfontes geradoras de gases do efeito estua (Figura 28.2). co, cH, NO ina de Figura 28.2 Principals atvdades oropecuarias relacionadas a omisséo de CO,, CH, © N,O no Brasil no ano de 1908 {adaptado de EMBRAPAICNPIMA, 2008), Em nivel regional e estadual, o cendrio sofre substanciais alteragdes em relacéo 20 cen bras A regido Sul do Brasil responde por 8% das emissées racionais de GEE comorigem na atividade agricola, dos uais 0 RS emite 43,3 Tg em equivalente de CO,, 0 cue corresponde a S5% da emissao total da regido Sul (Figura 283). Tantoa nivel regional como no estado, as emissdes de CH, representam a maior contrbuigao para sar Fundamentes de Matérl Orginics do Selo-2* Ediedo 08 GEE, sendo as prncipais fontes relacionadas & produgio animale ao cultvo de arrozirigado, que etualmente superior a um milhdo de hectares no estado do AS, scupa tim Brasit Sul FEMI Seles = Conversio Florestas EEE) Outros 5 Prndugio Aninat Arror Ierigado Figura 22 Palo de ansato ca age de elo etl (CO,,CH 00) presets om rare do a CO,, relacionadas a agrcultura no Brasil, na regio Sul e no estac 1do do Foe wrande do Sul (RS), tenda como Seto ano ob 1094 ataplado de EMBHAPAVENPHA, 2005) Onna reaido Sul eqiivalem 2 22% da emissao brasieira deste gas, o qual é emitido por processos tiretos @ indreios relacionados as condigdes de cma e solos, Das atuais 107 Gg NO emitidas par ano na reaiao Sul do Brasil, 0 estado do RSS responsével por 55%, sendo o maior emissor deste gés em nivel nacional. A principal fonte deste gs no RS so 0s solos agricolas, responsaveis por 17% da emsso estadual, 0 que deve, ao menos em pare, ester relacionado & eplicagao de fertlizantes nitrogenados. Esta pratca, vastanente adotada pelos agricutores, promove maior disponiblidadede substrato para os processos mmiorobiol6gicas de nitriticagao e desnitificardo, responsiveis pela produgdo ce NO no solo. 28,3 FATORES QUE AFETAM AS EMISSOES E POTENCIAL DE MITIGAGAO 28.3.1 CO, No $00, ¢ CO, € gerado ne decomposi¢o aerétia da matéria orgénica e/ou de res{duos vegetais por mmicrorganismos heterottficos e na respiragao de raizes (Paul & Clark, 1996). A emisséo de CO, do solo & atmasfera¢ ifluenciada por fatores ambientais (clmaticos e edéfcos) ao longo do ano e entre anos, e pelas praticas agricolas inerentes aos diferentes sistemas de manejo. As variacdes estacionais da temperatura do ar do S0l0, ¢ da umidade do solo, como resultado de preciptacoes pluvioméricas, modificam os processos mmicrobianos ea intensidade destes, alterando as emissdes de CO, independente do sistema de manejo do solo adotado, ‘As préticas de manejo do solo inflvenciam as varlaveis controladoras d estoque de C e da emisséo de 0, de solos agricolas. Um maior entendimento dessa influéncia tem motivado estudos em todos os ecossistemes os quais, entre outres objtivas, procuram identificar efou desenvolverpraticas que aumentem © estoqua da C @ reduzam a emissao do CO, do solo (Buyanoveky et al., 1966; Norman ot a., 1962; Kem & Johnson, 199%; Franzluebbers et al, 1985; Reicosky etal, 1995; Paustian etal, 1997; Dicket al, 1988; Janzen etal, 1998; Bayer etal, 2000a, 2000b; Duiker & Lal, 2000; Amado etal, 200!) 8 Falberi de Souza Costa, Josléia Acordi ZanattaeCimélo Bayer A aragio e a gradagem so as principals pratcas agricolas que estimulam a agao microbiana sobre a MOS e residuos vegetais pelo aumento da aeragao, maior contato solo/residvo vegetal eruptura des agregadas do solo, expondo material org&nico labil. Desta forma, é esperado que a emissio de CO, seja menor em solos, sob sistema de manejo sem mobilza¢ao do solo, em relagdo a sisterias que adotem essas pratices. Paralelamente, é importante destacar que a selego de espécies vegelais rara a composigdo de sistemas de consércios,rotado ou sucesséode culturas deve objetivar a produgao de alla quantidade de biomessa (Amado etal, 2001; Bayer et al, 2006). Os resultados esperados quanto 20s efeitos dos sistemas preparode solo e de ‘culturas nos fatores controladores das emissdes de CO, no sistema solo-atmosfera é esquematizado na figura 28.4. A egrets ae Ean Kia _, 60, i “alle mown d hes ‘msorate | Ucobera so {ampomtm do cb A con eicetson a A neagio C agin renee et ae Adesoco Crosses Vwe gmetad soo epee dsc | y ane Ls emaipatce > pire merbera —* UO; vo, P shogads UibearioC opin) Figura 28.4 Relagbes entre os sislamas de manejo e os fatores controladores da emissio de CO, do soled almostera. A redugdo das emissées de C-CO, para a atmosfera e sua retengona MOS em sistemas de manejo conservacionista do solo tém sido veriicadas em experimentos de longa duragzo, Sistemas de manejo, nos

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