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Pirólise

A pirólise é definida como o processo de degradação térmica (entre 300ºC e


1000 °C) de biomassa na ausência total ou gradual de oxigênio. Este processo é
realizado pela transferência de calor para a superfície da partícula, e posterior
condução para o interior da mesma. Resulta na produção de combustíveis
energéticos em três diferentes estados: sólido, líquido (óleo e água) e gasoso. A
proporção desses produtos depende dos parâmetros nos quais o processo foi
realizado e da natureza da matéria orgânica empregada. (YAMAN, 2004)

A pirólise lenta, também conhecida como carbonização, se caracteriza por


períodos longos de residência e baixas taxas de aquecimento. Vem sido utilizada
tradicionalmente na produção de carvão. O carvão vegetal é uma alternativa ao
carvão mineral, que é uma das maiores fontes de poluentes atmosféricos. Este
carvão pode ser empregado nas indústrias siderúrgicas, termoelétricas e químicas,
além de servir como aditivo na produtividade agrícola. (WANG, 2018). A fase líquida
está presente em menor proporção, apesar disso, pode-se afirmar que o bio-óleo
obtido neste tipo de processo é de melhor qualidade, já que pode ser por diferença
de densidade da fase aquosa. (DA SILVA, 2014)

A pirólise rápida, por sua vez, destina-se a converter a biomassa em uma


quantidade máxima de líquidos e gases. Neste caso, a matéria deve estar mais
finamente dividida, para que o calor a atinja em sua totalidade. Existe ainda a pirólise
flash, onde as taxas de aquecimento são muito altas e o tempo de reação é muito
baixo. Para este tipo, é necessário um reator especial. (BRIDGWATER, 2000)

A composição do bio-óleo, também conhecido por óleo pirolítico, é complexa.


Algumas funções químicas encontradas são: álcoois, fenóis, carboidratos, aldeídos,
cetonas e ácidos carboxílicos. Moléculas mais complexas também são encontradas,
tais como ésteres, derivados heterocíclicos e compostos fenólicos. (DJOKIC, 2012)

O óleo pirolítico tem características físicas e energéticas comparáveis às do


óleo diesel, isto é, de fácil utilização, transporte e elevada densidade energética (34,3
MJ.kg–1). (DA SILVA, 2014; HONGBIN, 2013)

Os gases produzidos geralmente são constituídos por CO2, CO e H2 e


hidrocarbonetos de baixo peso molecular (CxHy). Este gás pode substituir o gás
natural, ou ser misturado a ele para um melhor desempenho. (GLASS, 1998)
HTL e organosolv

Entre os diferentes processos e tecnologias que lidam com despolimerização


térmica, a liquefação hidrotérmica (do inglês hydrothermal liquefaction - HTL) é um
processo termoquímico que converte biomassa, em sua maioria, a uma fração
líquida usando somente altas pressões de água quente, ou misturas de água, co-
solventes e produtos químicos. O HTL é um processo úmido, que não requer a
secagem da matéria-prima, procedimento que é necessário para outros processos
termoquímicos, como gaseificação e pirólise. (ELLIOT, 2015)

Por exemplo, o HTL pode ser empregado no processo de fracionamento da


lignina, um composto renovável de alta importância. Para tal, esta lignina deve ser
previamente solubilizada e separada dos demais compostos orgânicos. O processo
organosolv, que pode ser encarado como um pré-tratamento, solubiliza a lignina em
uma mistura de solventes aquosos e orgânicos, sendo catalisado por substâncias
ácidas ou alcalinas. A lignina organosolv é obtida da polpa resultante do processo e
subsequente precipitação em água. (HONGBIN, 2013; MERKLEIN, 2016)

O processo de organosolv possui vantagens em comparação a outros


tratamentos. O processo Kraft, por exemplo, utiliza soluções de sulfeto para
solubilização da lignina. Empregado largamente em indústrias de papel e celulose,
este resulta em uma lignina com certo teor de enxofre, indesejável principalmente
por seu teor poluente. (H. TONG, 2018)

A maior compatibilidade ambiental do organosolv revela a sua relevância para


a produção de solventes e combustíveis verdes. A menor nocividade do processo
vem do uso de solventes orgânicos, que podem ser facilmente recuperados por
destilação. Deste modo, solventes derivados de enxofre são dispensados. (DE LA
TORRE, 2013)

A polpa resultante do organosolv, contendo hemicelulose e lignina dissolvida e


sendo livre de enxofre, oferece um material pronto para aplicações em
biocombustíveis. Além disso, a lignina obtida é altamente adequada para processos
de biorefinaria devido ao baixo peso molecular, que facilita a degradação posterior
por HTL. (DE LA TORRE, 2013)
Referências bibliográficas

[1] YAMAN, S. Pyrolysis of biomass to produce fuels and chemical feedstocks.


Energy Conversion and Management. V. 45, p. 651-671, 2004.

[2] H. Wang, X. Wang. Slow pyrolysis polygeneration of bamboo (Phyllostachys


pubescens): Product yield prediction and biochar formation mechanism. 2018.

[3] Silva, Raquel Vieira Santana da. Pirolise da torta da mamona – produção de
carvão ativado e óleo hidrotratado. 2014.

[4] A.V. Bridgwater, G.V.C. Peacocke. Renewable and Sustainable Energy


Reviews 4. p. 2-6, 2000.

[5] Djokic, M.R.; Van Geem, K.M.; Dijkmans, T.; Yildiz, G.; Prins, W.; Marin, G.B.
Quantitative analysis of crude and Stabilized bio-oils by comprehensive two-
dimensional gas-chromatography. Journal of Chromatography A, v. 1257, p. 131–
140, 2012.

[6] Klass DL. Biomass for renewable energy, fuels, and chemicals. San Diego,
CA: Academic Press, 1998.

[7] D.C. Elliott. Bioresource Technology. p. 147–156, 2015.

[8] C. Hongbin, W. Lei. Lignocelluloses feedstock biorefinery as petrorefinery


substitutes in Biomass Now - Sustainable Growth and Use. M. D. Matovic, Ed. 2013,
p. 347-388.

[9] M. J. de la Torre, A. Moral, M. D. Hernández, E. Cabeza and A. Tijero.


Organosolv lignin for biofuel, Industrial Crops and Products. vol. 45, p. 58-63, 2013.

[10] MERKLEIN, K; FONG, S. Biotechnology for Biofuel Production and


Optimization. 2016.

[11] TONG, H; Evolution of sulfur during fast pyrolysis of sulfonated Kraft lignina.
2018.

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