Província do Amazonas (Brasil, séc. XIX), escrito pelo historiador Tenner Inauhiny de Abreu dedica-se a um tema pouco comum na historiografia amazonense: as relações entre cultura e trabalho. O autor oferece ao leitor, atento às coisas da sua gente e às mazelas de seu povo, instrumentos para compreender historicamente a construção de diferenças Houve, no Amazonas, durante o período provincial (1850- e desigualdades sociais atravessadas pelos 1889), a presença em concomitância do trabalho livre e do discursos da raça e que emergiram no mundo trabalho escravo, reforçando a ideia de uma tradição do do trabalho na sociedade amazonense do trabalho compulsório que ultrapassou os limites da questão século XIX. Para desvelar esse universo, Tenner da liberdade jurídica ou da “qualidade” dos trabalhadores. Abreu narra a trajetória interessantíssima TENNER INAUHINY DE ABREU O próprio sistema escravista no Amazonas, mesmo com o de Daniel Pedro Marques de Oliveira, de é graduado em História (2002) quantitativo de escravos inferior a outras áreas do Império, origem negra, classificado como pardo nas e mestre em História (2012) estava disseminado pela sociedade e pautava-se em uma fontes. Daniel era padre e ex-escravo. Numa pela Universidade Federal do mentalidade bastante conservadora atingindo grupos de história impressionante, ele enfrenta vários Amazonas; é professor Assistente diversas etnias ou fenótipos (inclusive os brancos). As relações preconceitos em busca de participação política da Universidade do Estado de trabalho no período final do Império são compreendidas no cenário amazonense. Ajudava na fuga de do Amazonas; vinculado ao como um período de transição: do trabalho escravo escravos. Lutava para manter a liberdade Núcleo de Pesquisa de Migração (compulsório muitas vezes) para o trabalho livre. Construiu- de mulheres negras ameaçadas pelos ex- e Africanidades Caribenhas e se sobre determinados grupos (escravos, ex-escravos e os senhores. Criava escolas nas quais ensinava Latino-Americanas; desenvolve mestiços) uma ideologia a respeito do trabalho onde tais crianças desvalidas. Assim, consolidou sua estudos sobre História de grupos seriam opostos ao processo de formação do trabalho trajetória como vigário, professor e, por fim, América, atuando principalmente assalariado, demonstrando o atraso do período anterior. deputado provincial – quando a constituição nos seguintes temas: História O sistema escravista no Amazonas foi significativamente imperial proibia que libertos ocupassem tal Social, Amazonas, indigenismo, complexo, baseado numa mentalidade conservadora, que cargo público. É a síntese de uma sociedade doenças, escravidão, negros, explicaria o preconceito em relação a determinados grupos permeada por conflitos e contradições de racialização e mestiçagem, étnicos e raciais ainda em nossos dias. ordem étnica e racial. Para não tomar mais patrimônio, memória, mundos do tempo ao leitor, parabenizo a Editora da trabalho. Universidade do Estado do Amazonas pela publicação. E agradeço ao autor pela imensa honra de ter lido, contribuído e aprendido com esta obra. Obra que também é luta pela multiplicidade na igualdade, pela equidade na riqueza do diverso, pela liberdade de alterar as coordenadas das imposições de um real muitas vezes perverso, pela emancipação humana, enfim... Boa leitura!