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de Janeiro, o Presidente se convencen de que sua posic/áo es-
tava perdida e que ele devia deixar o cargo e abandonar st i>-
contra os severos protestos da oposicáo. Mas á medida que os
plano de empossar Julio Prestes em Novembro.9
rebeldes marchavam para o Rio de Janeiro, vindos do sul (Rio Urna junta militar governou o Rio de Janeiro de pleno
r!~»nrU r)n S"l). do norte (Paraíba) e do oeste (Minas Ge-
direito durante ú«t uúü, Jjstes f!e °"tregar finalmente o poder,
rais), Washington Luis ia se enrraqueceodo, a poiiío ac ¿«¡«aci-.- em 3 de novembro, a Getúlio Vargas, o líder iricontestávei d&
o comando militar do govérno. movimento de oposigáo. Qualquer inelinagáo por parte da
O presidente em exercício havia recebido do seu Ministro
junta para se perpetuar no poder, teria sido brevemente ata-
^e Ouerra, General Sezefredo dos Passos, a certeza de que íhada peía pressao ciesccrite dos rebeldes, cujas fórcas miiita-
podaría contar com as fórcas armadas para apoiá-io contra os
rs apertavam o céreo sobre a capital do país. Em seu discurso
rebeldes. Mas muitos generáis de patente mais elevada, ser-
por ocasiao da investidura de Vargas como chefe do Govérno
vindo no Rio, alarmaram-se com a perspectiva de urna guerra
Provisorio, o General Tasso Fragoso observou que os milita-
civil contra o que, agora, era urna formidável oposicáo arma-
res haviam decidido intervir, movidos pelo desejo de que "os
da nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Pa-
raná.O líder-dos-ofieiais dissidente^-chfife_ do_ Estado-Maior - brasileiros_.jiáo continuassem derramando o seu sangue pelo
vitória de urna causa que nao era a da consciéncia nacional'".10
do Exército, General Tasso Fragoso, esclareceu posteriormente
Como em 1889, quando a República sucedeu ao Imperio, o
as suas apteensoes: "Parecía que urna faísca elétrica havia
controle, no momento crítico, foi assumido pelos militares su-
atravessado a atmosfera política". E responsabilizou o Pre-
periores e entáo transferido para novos quadros de políticos
sidente "pelo estado de inquietacáo e desconfianca em que
civis. Em 1930, os comandantes do Exército e da Marinha en-
nos encontrávamos. Infelizmente ele enveredara por caminho
contraram-se colocados numa posi9§o que se deveria tornar
escabroso e ja causara grandes males ao país". Quanto a
cada vez mais familiar na subseqüente historia do Brasil: o
apoiar Washington Luís: "Ninguém desejava que seu füho ves-
tisse urna farda e fósse morrer na linha de frente por um 1 .}„ ^kíH-ní fináis da política interna.
hornería táo francamente divorciado dos interésses coletivos."7
_. Urnas tres semanas^ depois de haverem os rebeldes inicia-
do sua marcha sobre o Rio de Janeiro" Washington Luís-ainda--
nao quería reconhecer o quanto a sua autoridade havia caído.
Em fins de outubro, a revolta havia assumido tais proporgóes
que os generáis do Rio resolveram assumir o comando da
situagáo.
Os militares dissidentes, liderados pelos Generáis Tasso
Fragoso e Mena Barreta movimentaram-se, a 2A de outubro,
para tomar o poder ao Presidente éseus ministros militares. -
Tasso Fragoso explicou que os comandantes no Rio eram for-
9ados a agir porque "a agitagáo explodia em toda a parte", Vista da perspectiva de novembro de 1930, a revoluto
apresentando-lhes a amea§a de urna "revolugáo nacional como
jamáis tinham visto".8
Os generáis dissidentes la^aram um manifestó apelando
í-í a Washington Luís para que renuñciasse; chegaram mesmo a
for9ar urna entrevista para fazer-lhe o apelo pessoalmente.
—Sempre-íonfiante^JWashingtonJLuís_desprezou o ultimato. Só-
men'te depois da intervencáo pessoal do Cardeal Lemé, 3o RicT 25
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para o dia. O país permanecía esmagadoramente agrícola
(mais de 70 por cento dos trabalhadores estavam na agri- mas depois de um breve estágio como cadete passou a estudar
cultura, em 1920). Direíto, o treinamento preferido dos políticos brasileiros. De-
Havia dois fatóres, entretanto, que distingwiam os aconí^ pois de urna breve carreira como advogado no Rio Grande do
eiiüeütes-'átr-1S3&- as todas-as~íutas precedentes; pelo poder, na IttLeiStsm para a^psHtiea ssfná^l ü.eiü^aguídü cíeggase-
historia da República. Em primeiro lugar, a Revoluto de 30 deputado federal, em 1924. Subiu rápidamente no mundo po-
pos fim a estrutura republicana criada na década de 1890. lítico do Rio de Janeiro, ocupando o Ministerio da Fazeiída
Os revolucionarios arrombaram urna porta aberta. evirienciou- no govérno de Washington Luís, em 1926. O Rio Grande do
-So uiaís tarde, de vez que a República Velha desabou de re- olí» im»,i six^o cGiiícnípiauG coiií o ívniíistério da Fazenda
pente sob o peso de suas dissensóes internas e da pressáo de posto para o qual Vargas, como chefe da bancada gaucha na
urna crise económica em escala mundial. Em segundo lugar, Cámara Federal, era naturalmente indicado. Se bem que Var-
havia urna concordancia disseminada, antes de 1930, quanto á gas tenha sido Ministro por menos de dois anos, ganhou va-
necessidade urgente de urna revisáo básica no sistema políti- liosa experiencia política em nivel de gabinete, numa época
co. A. nwgnítude^désse--descoatentemeHto- com ^o—sistema' vi- em^que o novo presidente estava reorganizando de maneira
gente e a natureza exata dos remedios propostos variavam enor- radicáTá política financeira do govérno.
memente numa coalizáo de malhas frouxas contra a lideranca Em 1925, Vargas foi chamado de volta ao Rio Grande
situacionista da República Velha. Alguns dentre os revolucio- do Sul como governador, cortando desta forma sua ligacáo
narios almejavam pouco mais do que mudanzas constitucio- com as medidas financeiras federáis, que, em breve, viriam a
nais no mais exato sentido jurídico. Outros estavam prepara- se tornar desastrosamente impopulares. Vargas foi ^ovemador
dos para lutar por planos ambiciosos de modifíca9óes econó- sob a lideranca de Borges de Medeiros, durante táo tongo tem-
micas e sociais, abrangendo a reorganizado nacional, em larga po o chefe político do Rio Grande do Sul, ja entáo impedido
escala. O que os irmanava era urna vontade de experimentar por um acordó político recente, de se reeieger para o car^o'
novas formas políticas, numa tentativa desesperada de alijar Ao assumir o govérno no seu Estado natal, em pouco Vareas
o arcaico. O esfór?o resultou em sete anos de agitada jmpro- mostrou urna extraordinaria habilidade em unir as faccoes
— visafáOf-ineíttiBdo-uma"revoífá~fégióñal5sta em Sao Paulo, urna poJíticas-que-lá. se-g4«*reavam,-Fei-éste talento, mais do que
nova Constitui9áo, um movimento de frente popular, uní mo- qualquer outro, que deveria sustentar Getúlio nos seus primeí-
vimento fascista e urna tentativa de golpe comunista. Em 1937, ros anos de poder no Rio de Janeiro. Seus outros talentos so
um Brasil exausto terminou sua experimentacáo política e ini- se tornaram obvios mais tarde.11
ciou oito anos de regime autoritario sob o Estado Novo.
O hornera que presidiu a era inteira de 1930 a 1945 foi
GetúJio Vargas. Havia pouco no passado de Vargas^ antes.de_.. A Coalizáo "Revolucionaria"
•i930,—a- sugerir'que" ele~~esfava pasa, se tornar a figura domi-
nante da política brasileira durante os vinte e cinco anos se- urna compreensáo da política brasileira depois de 1930
guintés. Baixo, cheio de corpo, fumante inveterado de cha- requer urna análise mais detalhada da coalizáo heterogénea
rutos, parecia possuído por urna paixáo que mal se distin- que fez a Revolucáo de 1930.
guía da de outros membros da eüte política durante a Repú- A divisáo básica a ser efetuada é entre os partidarios, re-
blica Velha. Nascera em 1883, de urna rica familia de estan- volucionarios e nao-revolucionarios, da mudanca de poder. Se
Gíeíros, no Rio Grande do Sul, perto da fronteira com a Argen- bem que, mesmo os revolucionarios, como grupo, nao tivessem
tina, onde aínda permanece viva a tradifáo de guerra fron- programa algum definido, podem-se distinguir duas posicóes
teiriga. Primeiramente, Vai2aijmbarcoji_na_carreira- militar,— principáis.1- Primeiro, havia os constitucionalistas, que deseja-
-vanr~implantar os~~ideais~líbé'rais" clássicos — eieigóes livres.
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:
govérno constitucional e plenas liberdades civis. A posicáo da mesma opiniáo. Se bem que os tenentes, como grupo, co-
constitucionalista liberal era mais forte no Estado de Sao Paulo _ me9assem a perder influencia depois de 1932, e virtualmente
. i^cacuatravá-sea apsio ruáis seguro" na péqüéna"mas crescente - desapars««ss«3í-ííepoís da 1934, íoi a pQsÍ9ác»_idenÜficada_¿-flíR^
classe rnédia de poucas cidades maiores. O seu precursor mais a sua ala mais militante que Vargas abra9ou depois de 1937.15
ilustre durante a República Velha foi Rui Barbosa, cuja mal- Com exce9áo dos tenentes, os adeptos de mudabas ra-
~ sucedida campanha contra o candidato rovernista em 1910 dicáis estavam fragmentados. A parca industrializa9ác do Bra-
cüusdiuiu o ponto aito da oposicáo liberal as máquinas par- sil e séu patrirhonialismo nao tiriliam produzido néniíum mo-
tidarias estaduais que manipulavam a sucessáo presidencial. Ao vimento de massas, ou mesmo urna Iideran9a política unificada
romper da era de Vargas, a posÍ9áo constitucionalista liberal de esquerda. O movimento sindical (de proporcóes extrema-
era melhor representada pelo Partido Democrático de Sao mente modestas em 1930) esta va destrocado por lutas entre
Paulo, organizado em 1926 e contrario ao candidato do Go- anarquistas, trotsquistas, comunistas e radicáis. O Bloco Ope-
vériKj_em__193Q,_ Julio—Prestes. rario, e Camnonés nao conseguiu exercer nenhuma influencia
Em segundo lugar, havia os nacionalistas semi-autoritá- significativa nos acontecimentos de 1930. O Partido Comu-
rios, cujas preocupacoes principáis eram a "regenerayáo na- nista desdenhou a revolu9§o, chamando-a de "luta entre duas
cional" e a moderniza9áo. Seus adeptos estavam querendo ex- faccóes da burguesía nacional, luta entre dois bandos do Ejér-
perimentar formas políticas nao-democráticas, de molde a obter— cito".18
—as modificacoes sociais e económicas sobre as quais falavam A "amea9a bolchevista" era, no entanío, urna preocupagáo
de modo vago porém apaixonado. Os principáis propositares importante da Iideran9a "burguesa". A junta militar, por exem-
dessa posicáo em 1930, eram os tenentes, que haviam en- plo, emitíu um manifestó a 27 de outubro, pedindo calma,
saiado urna serie de revoltas abortadas em 1922 e 1924 no Rio avisando a popula9áo para tomar cuidado porque os "elemen-
de Janeiro, em Sao Paulo e no Rio Grande do Sul.14 Sua in- tos perniciosos á ordern social procurara infiltrar no meio ope-
satisfacáo com a República Velha era mais profunda-do _que— rario idéias nocivas á paz pública".17 Essa preocupa9áo de
—a^causada pefórffácasso desta em preencher os ideáis consti- interceptar"quaiquer- "agüacáo" pro fetária =- -armr fui ya—de~
tucionaíistas liberáis delineados na Constituicáo de 1891. Éles potencial desprezível no Brasil da década de 30 —- tornou-se
esperavam urna rnudanca fundamental, aínda que imprecisa- mais marcante ñas cogitafóes de quase todos os setores da
mente articulada, na administra9áo pública, na assisténcia so- élite política tradicional depois da instalacao do Govérno
cial e no nivel da consciéncia nacional. Além disso, temiam Vargas.
recorrer a ele¡9Óes cedo demais depois da revolu9áo, porque Os partidarios "nao-revolucionarios" da ascensáo de Var-
sabiam que as tradicionais máquinas políticas__ estaduais,- sem gas ao poder, compunham-se de tres grupos. Aínda que ne-
—dúvida, mafiípüláriam quaisquer eíeÍ9Óes em beneficio pró- nhunr désses~ grupos se~ considerarse revolucionario, cada—nrrr
prio. Em suma, a doutrina tenentista era elitista e antipolítica. déles, com razóes próprias, opunha-se á lideranga política vi-
Ésses ambiciosos oficiáis jovens desejavam for9ar o surgimen- gente e estava preparado para ajudar, ou pelo menos aquies-
to do Brasil como nayáo moderna, e acreditavam que isso cer para a sua derrubada.
poderia ser conseguido a curto prazo, so com um quadro de Em primeiro lugar, havia os militares superiores. Gene-
teenocratas apolíticos, totalmente nao-comprometidos e dotados ráis como Tasso Fragoso, que encabeyara a junta que passou
de um senso inflexível de missáo nacional. Depois da revo- o poder a Vargas, estavam ressentidos com o que consídera-
Iu9áo, o ponto-de-vista tenentista ficou melhor representado vam medidas miopes e impopulares da élite política no po-
pelo Clube 3 de_^u^bnLj(jP_-maiie__recordava der. Estavam também inquietos com a pouca vontade dos
_ _ . — -o-- dia- em-
~ que~
u e
revolta de Vargas), urna organiza- govemos civis de examinar com mais benevolencia 15s requisé
cáo fundada em 1931, que incluía tanto militares quanío civis tos técnicos das fóryas armadas — a necessidade de novos
-25-
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com o duplo choque da suspensáo da compra dos
equipamentos e orgamentos mais generosos.18 Além disso, os P e n t e s e do declínio desastroso nos precos internacional*
militares tinham passadp a sentir-se alvo de propostas de po- de 5* ««re setembro de 19.9 eje.ro
Kacos"cÍ7Ís7^Tie prucuravanT~o séir auxiMo ñas'íjatalfaas poÍÍ-~ de Í930r eorño-cOTseqúénctó d^cnse_d« 1929, port3,PWfi^,
ticas, A eleÍ9§o do Presidente Artur Bernardas, em 1922, Washington Luís encontixm-se no pior dos mundos: a recerta
iniciou um período de dura peleja política, na qual o Exér- cambial caía e os possuidores de moeda brasileira comam para
cito havia sido mergulhado por um suposto insulto á honra ^rter «n« beS em ourp. O ouro do Brasil, ganho a
militar através de urna carta de Bernardes, publicada no jor- duras penas, e as reservas de divisas, se IH^aram rápida-
nal de oposí9áo Correio da Manhá, que mais tarde ficou pro- mente, e os plantadores de café jogavam a culpa dos seus
vado ter sido forjada.19 Mas a brecha entre os militares supe-
riores e a lideranca política ja tinha sido aberta. prejuízos na política do govémo. Apesar de Jubo Prestes ter
Durante a década de 20, os militares foram continuamente prometido «formular a política financeira do seu predecesor,
solicitados_a_concordar -com o estado d& sitio, a fim-de salvar- ele era-vítima inevitável do ressentimento dos plantadores de
os governos, tanto o federal quanto os estaduais. Irritava-os café contra o seu patrono.21
e perturbava-os o fato de que governos eleitos precisassem Finalmente, havia muitos membros dissidentes da élite po-
ser constantemente escorados. Essa frustragáo transbordou em lítica estabelecida, ansiosos para usar um golpe em causa
outubro de 1930 e apareceu como a causa final da saída pre- prónria. A sua dissensáo tinha origem, em muitos casos,
matura de Washington Luís da presidencia. Muitos oficiáis ern rivalidades políticas corriqueiras nos Estados e entre os
superiores, portante, acreditavam que a profundidade do des- Estados. Os líderes dos cías de oposicáo dentro da potoca
contentamento no país provava que o Brasil necessitava de estadual, por exemplo, exultariam em obter o poder local por
reformas em 1930. A sua preocupacáo nao deve ser confun-
dida com o zélo mudancista manifestado pelos tenantes. Estes meio de ¿m golpe militar no Rio de Janeiro. No plano na-
últimos estavam separados dos seus comandantes, nao so pela cional, os proprietários das máquinas pohticas em Minas Ge-
diferenja^déidade7Tílas~fambem"peías 'ámbiiyoes dé cárréira. rais e ño Ko Glande do-Sul, líderes -da-Alianca Liberaj^es-
e por urna diversa visáo do mundo.20 tavam irritados com a tentativa de Washington Luis para im-
Os plantadores de café também apoiavam a revolu9áo. Se nor outro paulista, Julio Prestes, no palacio presidencial. Bles
bem que o govérno federal estívesse empenhado em um pro- Soiavam a "revolucáo", nao porque quisessem modificacoe
grama de prote9áo ao café, o Presidente Washington Luís saciáis e económicas básicas, mas como urna justificativa para
insistía em manter para a moeda brasileira urna taxa fixa de o seu recurso á revolta armada contra os "de dentro , que nao
cambio, dando assim ao setor de exporta9áo urna receita de- haviam atendido aos; seus; interésses ñas Begociacóes para^a
cresceñte, a medida qué caíam os" presos "do café rió éxíeribr. escolha do candidato "do govérno^em 1929. Ésses^ polrbcos
Além disso, o govérno se recusava a tomar medidas especiáis frustrados, tanto nos Estados maiores quanto nos menores, de-
para evitar as execucóes das hipotecas resultantes do colapso veriam fornecer a continuidade indispensavel entre a Repubh-
íinanceiro. Recusava-se também a conceder mais crédito ao ca Velha e os estágios sucessivos da era de Vargas. De fato,
Instituto de Café do Estado de Sao Paulo, para a compra dos
estoques excedentes, resolvendo, ao invés disso, baixar o pre9O, a esséncia da habílidade política de Vargas era a capacidade
anteriormente fixo do café brasileiro no mercado internacional, de usar ésses políticos nao-ideológicos em seu proprio pro-
esperando com isso aumentar o total de vendas. Essa tática, veito _ 0 que implicava tanto em se manter no poder quanto
que contrariava completamente g^^tica^anteríoiijLWashing; em transformar o sistema político quédeles haviam ajudado a
ton Luís, fracassou, de vez que a procura do café estava real- derrubar em 1930.22
mente em declínio. Os plantadores de café estavam furiosos,
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—¿Q
Novas Fórgas Políticas
O grupo que sentía mais profundamente estar superada
-¿r-p«áítiea-de-elí£e-ae^Bras¿t-«Btes-de-ISSCv^ «aiceaíi'ava'sé-
^JMS^tí&SS.
na populacáo urbana, pequeña mas em crescimento. Era a
classe media, como posicáo económica mais próxima dos pa- p c r en¿egos elemento! divergentes dentro da
dróes de compoitawento classista da Europa ocidenta! no sé- Durante-
cuio dezenove, émBórá bem distanciada désses padrees pek políticos e a necessidade .de
mentalidade política. Eram empregados no comercio, na in-
dustria leve, ñas profissóes liberáis e na burocracia. Aínda
que ésse grupo nao tívesse, de modo algum articulado plena- fo gansada em dezembro de 1930, para pumr
mente urna mentalidade de classe que os pudesse colocar em c m o s " la Repúbhca Velha, ™s chamou pouca a^n-
oposÍ9áo_consciente...á_ economía _da_exporiacáa_damiriada_-pela._ cao nao" P7o7ou nada e desaparecen antes do £Jm de 193L
agricultura, constituía afina! o maior grupo isolado de adeptos
do constitucionalismo liberal. O seu mais importante baluarte
nacional era a cidade de Sao Paulo.23
O principal objetivo político da classe media, tal como
expresso pelo constitucionalismo liberal, era urna representa-
cáo mais "auténtica": o voto deveria ser honestamente super-
visionado e as urnas apuradas honestamente. Se a exigencia
de alfabetízagác- íosse tornada obligatoria, isso significaría um
aumento de poder político para os eleitores da classe media, d u n caso d e policía"; deveria agora s e r "resolvía m e -
que tinham ñas cidades suas reservas políticas naturais. Nos
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"O~ " ~ " """""'1 "T **** ^* *•»"«*«-"•*»*****'*****"»•****•» **
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cia o controle de Vargas sobre os militares, dando-lhe poderes em se governar pelo processo democrático, ao mesmo tempo
sobre a promocáo de todos os oficiáis e onde deveriam servir. que advertindo contra a agita?ao "bolchevista" e a infiltra-
A terceira dava ao Presidente poderes temporarios de emer- ?áo ñas fileiras da apreensiva classe media. O Brasil, expli-
«encía gi-ida .rnaisres._ cava ele, íifiLa a- ielfciáade de naver escapado-"ir-angástia^
Métodos policiais impiedosos rápidamente eliminaram os dos povos europeus"; o país nao precisava de métodos
movimentos de esquerda em forma9áo. A lideranca do Par- totalitarios para repelír as "investidas oolchevistas"; ao invés
tido Comunista foi aprisionada (Luís Carlos Prestes escapen disso, podia fortalecer as suas tradi<;-óes democráticas, seguin-
aos seus captores st-c sszzgc de 1G38), s seus 'caU'iuviiós íb- do os "poderosos métodos de propaganda" áperfei^oadós na
ram invadidos. Nos meses que se seguiram á abortada re- Italia, em Portugal e na Alemanha. Sales Oliveira observa va
volta comunista, milhares de políticos suspeitos, tanto mili- com orgulho que um sistema de legislado social "capaz de
tares quanto civis, foram aprisionados. Para dramatizar a satisfazer os anseios das classes trabalhadoras" fóra implanta-
ameaca "subversiva", os prisioneiros foram concentrados em
do sem "pressáo de partidos poderosos nem a violencia e o
um antigo navio mercante, o "Pedro I", que_Joi convertido tumulto de grcves desesperad a s'l- Q_de.- que o-Brasil - precisava
~eñT]presí3ró^fluñianfe, Tundeado na baía frcnteira a um dos agora, insistia, era urna "robusta democracia social", fortale-
bairros mais populosos do Rio. No Distrito Federal o popular cida contra a subversáo, tanto da direita como da esquerda.'1
govérno reformista do Prefeito Pedro Ernesto foi suprimido.
O sistema político come?ara a fechar-se. O outro candidato era José Américo de Almeida, um an-
tigo tenentista, romancista e político, da Paraíba. Destacara-
Para todo o ano de 1936, a aquiescencia do Congresso se como um dos líderes da Alianca Liberal de 1930 é porta-
em legislar com poderes de emergencia continuou inabalável.
Quatro vézes durante aquéle ano, o Congresso votou para
voz das medidas nacionalistas autoritarias (tais como eram
defendidas pelos tenentes) nos dois primeiros anos após a
I
ampliar o estado de sitio por noventa días. A -repressao se Revolu?áo de 30. Na campanha presidencial de 1937, José
estendeu até mesmo a membros do Congresso: em marco, um Américo tentou mobilizar os eleitores da classe media, ar-
senador e quatro depurados foram presos, e em julho a Cá- gumentando que sómente pelo exercício do sufragio poderia
_mara_ concordou—com~ o- sea galgamente.; Env-setertrbrov
_ , .^.UVM<4W»IW . t-JLií a ^ l f l l l U I U, Ulii
-
A medida que a campanha prosseguia, os conselheiros esquerda, dramatizando com isso a "ameaca" da esquerda as
mais próximos de Getúlio argumentavam que so ele poderia classes medias, os políticos estaduais conservadores e os mi-
salvar o Brasil dos extremismos da direita e da esqueroa. Na litares. A libertino de prisioneiros continuou durante setem-
verdade, o apoio a urna especie Qualquer de solncáo "eontt- -bf&-.-J¥sifga-s-tínb-ou- tamb«ii_eni .contato,, .com fflLMglglljaa^
nuista" estava disseminado" entre as élites políticas e milita- confiantes de que sairiam vitoriosos no próximo embute elei-
res. Vargas precisara de bem pouco estímulo para se acre- toral. A candidatura de Plínio Salgado foi comunicada a Var-
ditar indispensável. Desde a revplta comunista de 1935, vinha eas em 14 de junho. Lutas de rúa entre os . camisas- verdes e
pensando na possibilidade de um rolne^ A faeilidade com cjue os seus desorganizáüüb provocadores >;«¿ csf|uerüa estouravasn
o Congresso Ihe dera poderes de emergencia, encorajava pro- repetidamente. Em agosto, treze mortcs resultaram de um
jfitos de um regüne autoritario que eliminasse as divididas for- conflito em Campos, cidade do Estado do Rio de Janeiro. A
jas políticas e deixaíse o presidente de máos livres para levar campanha presidencial achava-se agora sob urna nuvem cres-
a cabo a "reorganiza5§,o" do Brasil, da forma que Ihe aprou- cente de violencia antidemocrática.
vesse .
DuránfiTó pümeiro^seniéstfe^de I937,~Tárgas~ pos em prá- Em vista da drvisáo e da indecisáa dos políticos conserva-
tica um duplo estratagema: por um lado, parecia cooperar dores e do centro, Vargas sabia que a pósito do Éxercito
cora preparativos para a campanha presidencial, negociando seria crucial em qualquer tentativa de golpe. Desde a mu-
com líderes estaduais; contudo, ao mesmo tempo, trabalhava dan9a do Ministro da Guerra, em 1934, o Éxercito vinha eon-
por isolar os mais retratarlos dentre os mesmos. Urna nova seguindo restabelecer a disciplina que havia sido minada
serie de "intervencóes" foi efetuada, em Mato Grosso, Mara- durante as revoltas da década de 20, a revolugao de 30 e a re-
nháo e Distrito Federal, substituindo as liderancas eleitas por volta de Sao Paulo, em 1932. Em dezembro de 1936, o Ge-
homens da confíanca de Vargas. Dos tres maiores Estados, neral Eurit'O Dutra tornou-se Ministro da Guerra, asseguran-
cuja oposicáo Vargas temía, o Bao Grande do Sul ff>i o pri- do o apoio militar aos designios totalitarios. Em julho de 1937,
meiro a sentir a pressáo viuda do Rio de Janeiro. Em abril o General Gócs Monteiro, persistente defensor de um regimc
foi-colocado-em estado- de-~sftky~ auxiliando déste modo--os- mais_ccntralÍ2atlo c mais autoritario, foi nomcado Chofe do
adversários do Governador Flores da Cunha, que estava ten- Estado-Maior do Excicito, fbrtalecéhdb aínda "
tando jogar o peso do Rio Grande a favor da candidatura de Vargas. Nos cioís anos seguintes á revolta comunista de
de Armando de Sales- Oliveira. O Rio Grande do Sul foi um 1935, Góes Monteiro, a omínense gríse militar de Vargas, tinha
obstáculo importante ao plano de Vargas para desarmar a levado a cabo o seu próprio plano de neutralizar os Estados
oposi9§o, porque Flores da Cunha tinha a maior milicia es- cuja lideran^a poli tica -havia entrado em oposigáo ao govémo
tadual do Brasil sob seu comando. federal: Bahia (Juraci Magalháes), Pemambuco (Lima Ca-
- -Qs-políticos d,o Congresso-comeeavam- agora—a-sentir-as yalcantí), Rio Grande do Sul (Flores da Cunha) e Sao Paulo
possíveis implicacoes dos movimentos de Vargas. Tendo es- (os partidarios de^ Sales "Oliveira): Tara" Góes Monteiro e Du-
tado continuamente a dar a Vargas armas de emergencia íra, o objetivo era um "Éxercito forte dentro de um Estado
contra a esquerda, perceberam que a sua própria sorte ñas forte". Os esforcos de ambos para dar ao Éxercito nacional o
eleicóes dependía de um executívo mais flexível. Pela pri- monopolio da fór5a militar coincidiam com os planos de Var-
meira vez, desde novembro de 1935, o Congresso se recusou gas de urna ditadura pessoal.46
a renovar o estado de sitio, pedido em junho de 1937. Em vista Por meio de transferencias estratégicas, Góes Monteiro
disso, Vargas adotou urna nova estrategia, destinada a colo- entregou os altos postos militares, nos Estados cluvidosos, a
car os seus adversarios em posigáo insustentável, libertando comandantes com os quais poderia contar para isolar e, caso
neces~sário7^iíssuiriir"O^T:Dntróle~ das- milicias- estaduais--e—<das--
46 47
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fór9as federáis. Góes Monteiro fez, pessoalmente, urna visita lizada, por ordem de Góes Montciro c do comandante- local do
de inspegáo ao Rio Grande do Su!, em Janeiro de 1937, a fim Exército por ele indicado. A 18 de outubro, Flores da O.'miha
de se certificar de que o comando do Exército, la, pedería fugiu para o Uruguai, privando Sales Oliveira do si-u ni.iiur
cuidar das brigadas estaduais de Flores da Cunha. Mas Fló- aliado contra o golpe de Vargas.
í€s - da-Gsalia- éssva- -ccst- sus- posi-jats -eattaqueeioá- deafef e-do- Dutra ^ e Góe*— Monteiro- «stavaaí—agora—trrtrtv rh—>n¡r-
Rio Grande do Sul. O estado de sitio implantado no Estado, fórca. Francisco Campos, revolucionario de .''JO, di- Minas Ce
em abril, havia ajudado os seus inimigos locáis. rais, vinha trabalhando ha algum tempo no esl>oco de nma
A altura de setembro de 1937, os comandantes militares nova Constirui?rio. Ao cornf^ar novemhro havia nm temor
dé Vargas haviam conseguido isolar a oposicáo nos üstados crescente entre os adeptos de Sales "Olívcira e José Amcrico de
principáis. Minas Gerais que, em abril do mesmo ano, havia Almeida, de que a eieicao marcada para Janeiro de .'1S podc-
firmado um pacto de defesa mutua com o Rio Grande do ria ser adiada ou cancelada. A 8 de novembro, o Ministro da
Sul e a Bahía, tornou-se cautelosa. Sao Paulo, tendo fornecido Justica, José Carlos de Macedo Soares, clemitiu-sc. ÍI;:via fi-
o principal candidato de oposÍ9§o, ficou tambera temeroso de nalmente percebido que a "reforma constitucional", (jtie vinha
_uma_JigacSQ_conLO.JRio^Grande_ do., Sul^ cuja "traicño" em~ sendo-discutida ativamente cntrc_os_ comandantes -.militares,-,
1932 havia deixado os paulistas impotentes diante das tropas estava para vir sob auspicios muito diferentes dos fine ele
de Vargas. havia imaginado. A data do golpe havia, na realkladc, sido
Os planos de golpe aguardavam agora algum novo movi- marcada, para 15 de novembro, quadragésiino oitavo aniver-
mento dramático no Rio de Janeiro. Impacientando-se com sario da proclamacáo da República.4"
os manejos^ de Vargas, Goes Monteiro recorreu a um estra- O curso dos acontecimentos tornou-se tao obvio que Satos
tagema conhecido: o Estado-Maior do Exército, de repente, OÜveira decidiu fazer um apelo de última hora nos militares.
"descobriu" um documento que se propunha a ser o plano de Em declaracao lida perante as dua.s casas do Congresso, a 9
combate de urna revolucáo comunista. Apresentaram urna fal- de novembro, o ex-govcrnador de Sao Paulo ataeou o "pe-
sificacáo grosseira conhecida como Plano Cohén, fabricada, queño grupo" em torno do Presidente, que tinha uní plano
como sugería o título, pelos integralistas e entregue a Góes preparado "longamente", para subvcrtcr as institnieóes bra-
Monteirc^pornninjficiaí integratísta.rxrCapitáoOhffipioMou^ ""sile'íras7 "Aó^TTxército^é a "Máritihá" cüfnpria" ñióiitaFlíuafdVf"
rao Filho. Foi levada a Dutra e Getúlio, que a aprovaram as urnas e velar para que o país obtenha ñolas um govemo
como pretexto para o seu golpe. A 30 de setembro, Dutra de autoridade... ,tlj
denuncíou a trama comunista revelada pelo Plano Cohén e, Sales Oliveira nao estava em pos¡9ao segura para ciar aos
no dia seguinte, 1.° de outubro, o Congresso concedeu a sus- militares tais licóes de democracia. Anteriormente, Ion vara o
pensao dos direitos constitucionais que havia negado a Var- "heroísmo abnegado" do Exército como resposta á ugressSo
gas em junho precedente. Minas Gerais apoiou a medida, "bolchevista".50 Observara com orgulho, em outubro de i 9.36,
eorrt o^ Río-Grande-do~Sul e Sao Paulo enr oposicáo.4^7L— que "o Parlamentó brasíléíró"demónsrrbu qúíT hob"terne"¡T~res~-
Os preparativos para o golpe estavam agora acelerados. ponsabilidade de dar ao executivo os meios de defender a
O deputado Negráo de Lima foi enviado com a missáo de na9áo em crises que a Constituidlo nao previu". Agora, o can-
preparar os Estados indecisos para apoiarem medidas federáis didato á presidencia via a sua própria carreira polítu-a e as
mais fortes. O Rio Grande do Sul permanecía como o obs- esperabas do constitucionalismo liberal ameacadas pelo mes-
táculo mais importante. A oposicáo local a Flores da Cunha mo destino que havia atingido a esquerda. O depoimento de
( a qual incluía o irmáo de Vargas, Benjamín), ja havia ini- Sales Oliveira termínava com um apelo aberto: "A naefio está
ciado os preparativos do impeachment contra o governador. voltada para os chefes militares: suspensa, espera o gesto que
A 14 de outubro, a milicia estadual rio-grandense foi federa- mata pu a palavra_que salvad51
48 49
O gesto nao demorou a. vir. Na manhá seguinte, as tro- incrementar as vendas no exterior e melhorar a receita
pas rodearam o Congresso e dispersaran» os seus membros com cambial.53
a noticia de que havia sido fechado. Vargas tomara a pre- Quanto aos militares, o comando do Exército vinha plane-
caugáo de primeiro confirmar que o governador de Sao Paulo, janclo urna solucáo autocrática para a crise política brasileira
Oardoso de Meló _NetoJ_n3o_endOTsaTO_.a_ _posiej|CL _.de_Salss_ destter a revota comunista"de novembro de ] 935 "Os milita-
Oliveira. Oito membros da Cámara dos Depurados ¡mediata- res superiores estavam céricos quanto á capacidade do Brasil
mente declararam seu apoio a Getúlio. Vargas tinha prepa- para suportar a confusa indecisüo da competicüo política
rado o terreno táo eficientemente nos Estados, que apenas aberta, e estavam assustados com a perspectiva de maiores
dc-ir gcvsrnsdcres tiversra que s¿i substituidos: jurací Ma- progressos por parte dos radicáis de esquerda — os quais, se
galhües na Babia, que renunciou em protesto, e Lima Caval- chegassem ao poder, poderiam afastar as Forjas Armadas da
cantí, em Pernambuco. Ao mesmo tempo. Vargas promul- posicüo de arbitros fináis dos conflitos políticos. Finalmente,
gava urna nova Constítuicáo, dando a si mesmo poderes auto- o golpe de 1937 foi possível porque a classe media, aquele
cráticos e prevendo um plebiscito para dentro de seis anos, grupo social pequeño mas importante, que manteria o equili-
a íim áe^scolheT^^_T^ide^e^^s_BQ^^s_dífetnzes cons- brio em qualquer sistema^ de~ eleicóes~h'vresrlimitadas aos eleí-
titucionais eram urna ímitacao dos modelos corporativistas e tores alfabetizados, ejtava confusa e dividida. Alguns eieito-
fascistas europeus, especialmente de Portugal e da Italia. res da classe medía permaneciam leáis ao seu tradicional cons-
Na sua transmissáo radiofónica de 10 de novembro, Var- titucionalismo liberal e depositavam suas esperancas em Ar-
gas explicou que o Brasil devia deixar de lado a "democracia mando de Sales Oliveira, na campanha de 1937. Outros. per-
dos partidos" que "ameafaá ünidadé patria". Descreveu o deram as esperancas no seu liberalismo e voltaram-se para o
Congresso como sendo um "aparelho inadequado e dispen- radicalismo, quer de direita, quer de esquerda. Ao fazer isso,
dioso", cuja contínuacáo era "desaconselhável ' . O Brasil nao com efeito, éles admitiam que as fórmulas liberáis nao se
tinha outra alternativa senáo instituir um "regime forte, de aplicavam mais ao Brasil e portante estavam preparados, mes-
paz, justica e de trabalho", concluiu o novo ditador, para rea- mo inconscientemente, a aceitar com poucos protestos o tipo
justar o organismo político as necessidades_econórnicas do .especial., de _autoritarismo__.qufi_Vargas. impós- súbitamente-era-
"pá'fs*'.~lrará^subhnhar o seu pontonle-vista, Vargas anunciava, novembro de 1937. O golpe de novembro de 1937 fechou o
no mesmo discurso, a decisáo do Brasil de suspender todos sistema político. Com ele, todas as previsóes de fórca eíeito-
os pagamentos de juros e amortizacóes da sua dúvida ex- ral, no pleito marcado para Janeiro de 1938, tomavam-se aca-
tema.-'-' Todos os partidos políticos foram abolidos a 2 de de- démicas.54
zembro e comecou a nova consolidafáo do poder federal. Os oficiáis superiores do Exército justificavam a reviravol-
O golpe de 10 de novembro foi a concretizagao do desejo, ta totalitaria bascados em que a livre comperÍ9áo política entra-
ha muito íempo evidente, deJVargas, de pennanecer no_cargo ra em falencia,íernande-se-mesmo^ perigosa para a unidade
além do seu prazo legal, que deveria expirar em 1938. Desde e a seguranca nacionais. A prova ¡mediata desta afirm<i9áo era
1935 vinha cíe manobrando seus adversarios para colocá-los a pressao para que o Executivo fósse fortalecido contra os
em posi9<lo de poder desacreditá-los ou reprimi-los, ao mesmo "extremistas". Vargas vinha manobrando astutamente para au-
tempo que cultivando cuidadosamente o apoio dos grupos mentar o seu próprio poder desde o tempo em que havia che-
de poder sólidamente estabelecidos, tais como os fazendeiros i;ado pela primeira vez á Presidencia, em 1930. De 193.5 a
de café e os militares superiores. Para apaziguar os fazen- 1937. no entanto, movera-se no vazio resultante do totaí co-
deiros, por exemplo, Vargas havia, em outubro de 1937, redu- lapso da alian9a de fór9as que derrubou a República Yelha
zido o teto dos preces do café brasileiro num estoco para em 1930.
50
Com o golpe de novembro de 1937, Vargas corr^ou a
segunda metade do seu dominio de quinze anos. Deveria Em maio de 1938, um pequeño bando de integralistas ar-
durar até que os militares forgassem a sua retirada em outu- mados, ajudados por alguns militares náo-integralistns e anti-
bro de 1945. A implantado do Estado Novo, versáo brasíleíra Vargas, ataeou o palacio presidencial. Se bem que urna parte
ateniisuaulo-ísotiélo -íaseistá -eufopeu^eníatizava^e' confíírnava" a guarda do palacio colahoraMe^em os atacantes e a-aüáe
ni9"o militar ¡ocal demorasse para mandar reforco¿ os Lar-
a divisáo ha muito tempo existente entre as duas principáis
posicóes inerentes ao movimento revolucionario de 1930. Des- das legalistas ajudaram Vargas e sua filha, Alzira, de arma
m punno, a conter os atacantes, até que fóssem levados pela
de a queda de Washington Luís, naquele ano, a política na-
poiicia.^ Agón,, V;irg*-¡ tinha a.mesma justificativa para re-
cional havia consistido uuma serie de acórdos precarios entre
primir os integralistas que a que Ihe havia sido fornecida pe-
os consíitucionalistas liberáis e os nacionalistas autocríticos, los comunistas em 1935. Ja que a sua Constituyo de próprio
presididos por políticos oportunistas (muitas vézes represen- punho. do Estado Novo, Ihe dava ampios poderes, o restante
tando as oligarquías locáis do tipo antigo), ou por idealistas da OTgamza9ao integralista (os clubes esportivos "náo-politi-
que se sentiam atraídos para ambas as direfoes. O sistema cos havumi sobrevivido ao decreto de 2 de dezembro de
político-abeítOs-eeHV-o-seu-rnstável" equilibrio dé fiSfpspfiHnlF" ly.rrhpode ser rápidamente -desmantelado e seus líderes" inri ~
sido desgastado pela violencia da esquerda e da direita. O sionados ou exilados. O último dos dois movimentos polítLs
golpe de 1937 detcrminou finalmente o caminho histórico do nacionais que haviam surgido no principio da década de 30
Brasil, numa conjuntura crítica. Os objetivos de bem-estar so- acabava de ser esmagado. De 1938 até fins de 1944 o Es-
cial e nacionalismo económico, muito debatidos no cometo da- tado Novo repousou no apoio das Fórp* Armadas, a'policía
quélá década, iriam ser agora perseguidos sob tutela autori- de Vargas e a desorganizado, a desmoralizado e a debÜita-
taria. O resultado foi um aprofundamento da dicotomía entre cao da oposicüo.
um constitucionalismo estreito que havia negligenciado as É importante compreender que, ao contrario dos seus men-
questóes económicas e sociais e urna preocupacáo com o bem- tores europeus em materia de fascismo, Vargas nao onmnizou
estar social de fundo nacionalista inequívocamente antidemo- nenhum movimento político para néle bascar seu redime au-
cráücaJ15 ^Jocrát|a^Jíio_iiavia_™rJMoljle^^^
Ao surgir do golpe, um grupo político parecía aínda des- tatío Novo nem quadros governamentais na sociedade bra-
frutar de plena liberdade: os radicáis de direita. Plínio Sal- sileúa O Estado Novo, na sua forma nao-diluida, entre 1937
gado e seus seguidores integralistas pensaram, erróneamente, c 194o (quando Vargas come?ou a preparar-se para a volta
que iriam ser os principáis beneficiarios do movimento de as eleisóes), representou um hiato no desenvolvimento da
Vargas. Seus arquíinimigos de esquerda haviam sido elimi- política partidaria, organizada em linhas classistas ou ideoló-
nados. Parecía agora que os integralistas deveriam fornecer gicas -urna política que, em si mesma, so havia comecado
_, os_jrpiadrQs_er-talve3V-a^liáeraBfa -do- novo Brasil. "Mas" Vár- ~ a tomar:_rprrna_no Brasil .em.come.5os..da-década de 30 Todos
gas nao tinha a intencáo de entregar a sua vitóría política aos os grupos de alguma significacao haviam sido desbaratados
camisas-verdes. O instrumento político ostensivo dos integra- : suprimidos. Os comunistas e radicáis de esquerd-i sofr°
listas, a Acáo Integralista Brasíleira, foi suprimido em 2 de ram a repressao mais brutal. Os integralistas desaparecerá™
dczembro de 1937, juntamente com todos os outros partidos dcvido a rcpressáo, cm parte, porque a lógica do sen autor-
políticos. No seu ressentimento subseqüente, os integralistas tansmo era minada pela fonna de ditadura mais brasilc-n
cié v argas.
ficaramñas _maosde_ Vargas, em circunstancias quase táo es-
tranhas quanto as que cercaram o abortado levante comu- Os constitucionalistas liberáis emudeceram Os comunis
nista de 1935. tas capitalizavam o seu sofrimento, conforme a dialétíca da
-lustoriu^Podia» esperar- que--a-ditadunr de- Vargas-prépanisse""
52
53
mais aínda as massas para a revoluto, ao passo que os libe- Novos Padrees de Govérno
ráis viam seus ideáis de eleicóes livres, liberdades civis e
justica ünparcial repudiados, sem levantarem protestos rele- O Estado Novo trouxe mudan9as irreversíveis as insti-
vantes. Ao prigiain? «>!h?r. godería narsoer ' tri-'jóe? da vida política e da administeacáo pública. Mais im-
tífica vam com as mudancas económicas e sociais semi-autori- portante ainda, Vargas transfbrmoufas"rela$5es entre o poder
tárias haviam perdido menos. Mas, se Vargas implantan al- federal e estadual e, com isso, aproximou muito mais o Brasil
gumas das idéias dos tenentes depois de 1937, e até mesmo de um govérno verdadeiramente nacional.
utilizou algims dos ex-líderes tpnertistas, e-rfes havism perdido Em 1945, o Brasil herdou um executivo federal que era
qualquer identídade como grupo, ou qualquer coeréncia como incomensurávelmente mais forte que o que os revolucionarios
posicáo política. haviam tomado em 1930. O processo pelo qual o govérno fe-
Em suma, o Estado Novo era um estado híbrido, nao deral era constantemente fortalecido, as expensas dos governos
dependente de apoio popular organizado na sociedade brasi- estaduais e municipais, comecou em novembro de 1930 e foi
leira e sem qualquer base ideológica consistente. Vargas es- acelerado depois de 1937. Havia um aspecto político e outro
"p^raví^ssumirr^pará^seü próprid provéifd^pdlítfco7~a 5iré93o " administrativo nesse processo; se berrrque os dois estivessem
das mudanfas sociais e do descimentó económico do Brasil. intimamente relacionados.
A despeito das roupagens corporatívistas, o seu Estado Novo O govérno federal aumentava seus poderes na esfera admi-
era urna criajáo altamente pessoal.57 nistrativa por dois modos diferentes. Primeiro, muitas fun-
__________ O BrasiLmostrou ser incapaz de achar urna solucáo demo- cóes, previamente exereidas por governos estaduais e munici-
crática para as alternancias de paroxismo e paralisia que se pais, foram transferidas para a área de competencia federal.
haviam seguido á morte da República Velha. A medida que Antes de 1930, muitas das mais importantes funcóes de go-
passavam os oito anos de ditadura, o Brasil continuara a vémo tinham sido exereidas pelos Estados, que gozavam de
sofrer um processo de rápida modificacáo económica e so- ampia autonomía. Estados como Sao Paulo, por exemplo, es-
cial, que impossibilitava o retorno ao sistema político ante- tavam habituados a negociar diretamente empréstimos estran-
_j30r_a_iS8L_AQ-ftmudQ Estado JJóvo^eni 1945, .as-bases-so-— genros. a serem utilizados para melhoramentos tais como fer-
ciais da política mudaram irrevogávelmente. Se bem que o rovias e portos, ou para financiamento do programa de pro-
Brasil nao tivesse embarcado em um programa de completa te9áo ao café. Ñas áreas fundamentáis de educacao e tra-
industrializagáo, por volta de 1945 havia ja indicios significa- balho, a responsabilidade, durante a República Velha, era da
tivos. Acompanhando o seu limitado desenvolvünento eco- competencia quase exclusiva dos Estados, ¡mediatamente de-
nómico, havia um crescimento continuo da propor§áo entre pois da revolu9áo de 30, a situa9áo come90u a mudar. Ha
brasileiros que viviam ñas áreas urbanas e um rápido cresci- muitos anos, críticos da velha ordem vinham argumentando
... mentó no yplumejtotal da popula9áo_ alfabetizada. As_conse- que__as enormes necessidades sociais do Brasil exisniarn um es-
qüéncias políticas dessas mudabas económicas e sociais fo- fórco nacional, de parte de um govérno federal forte.3" Mes-
ram notáveis. Os dinámicos centros urbanos do triángulo de mo antes que a Constituidlo de 1934 codificasse csse novo
industrializa9áo, com as suas tres ponías localizadas em Belo papel, o govérno de Vargas, em sua fase provisoria, obteve.
Horizonte, Rio de Janeiro e Sao Paulo, criavarn um bloco im- por decreto de 11 de novembro de 1930, poderes mais ampios
portante de eleitores urbanos. Havia ainda grandes áreas do do que jamáis havia gozado qualquer govérno anterior. Dois
Brasil rural onde a velha política "de cabresto" persistía, mas novos ministerios foram criados em novembro de 1930 — o
a política nacional, se e quando fóssem realizadas ele¡9Óes do Trabalho, Industria e Comercio e o da Educacao e Saúde.
livres, se tornaría inevítavelmente um jógo mais aberto e me- e a supervisáo da produ9ao e exportacao de café foi trans-
£erida-dos—auspicios—estaduais para—os-federais,- era-troca—4e—
54 55
um mais alto nivel de apoio. Novos institutos federáis do
pinho, mate, e sal foram montados depois de 1937 (o Instituto exporta^áo" ) . Foi éste um passo importante para a criacao de
do Acucar e do Álcool fóra criado em 1933). Ésses cartéis pa- um mercado nacional."1 ^.
trocinados pelo govérno represen ravairi vma_J.tmisdK fc .res- . Justamente com o erescimento «¡oral da rcsponsahilidadc
— pcmsabmdades" redefaís érnn&éas sobre ^F quais govénio al-
gum havia anteriormente reclamado poderes.00 institucionalizada sob Vargas, com a criacao do DASP (De-
partamento Administrativo do Servico Público), organismo fe-
Isto leva ao segundo método pelo qual cresceu a predo- deral montado em 1938. O DASP tornou-sc um instrumento
minancia administrativa fsderaí; a atívidade em novas áreas. importante para a meihoria dos padrócs administrativos, mas
A era de Vargas Viu, no Brasil, um repudio da teoría do "gen- também um meio através do qual Vargas podia aumentar o
darme", segundo a qual o Estado deveria ser um policial, «eu controle (e, para os seus sucessores, os poderes do pre-
nao um participante. A crescente intervencáo federal, notada- sidente) sobre a. administraban federal. "-
mente na economía, requería novos órgáos federáis, os quais, Todos esses acréscimos ao poder e á competencia admi-
em retorno, enfraqueciam aínda mais o poder relativo dos nistrativa federal Jiycram grande repercussiio política. ü
—Estados~-B-Trrarricfpií>57~ ~AT própriédádé federal de industrias, cxccutivo federal ganliuu enormes possihilidades de empre-
tais como ferrovias e empresas de navegafáo, e empresas de guismo, tanto no sentido de controle das nomeaeñes pela fe-
economía mista, técnica preferida para estimular o investi- deracáo, c¡uanto no sentido do favoritismo ou da diserimina-
mento em industrias básicas, depois de 1938 — correspondía 9Üo inercntes ao excrcíeio dos creseentes poderes administra-
á direcáo dessa -política do Rio^ de Janeiro. Nesse sistema, as tivos: Incluía, por excmplo, o controle sobre empréstimos a
influencias regionais so se poderíam efetívar através dos ca- juros bai.xos do Banco do Brasil, projetos de obras públicas,
ñáis do govémo central. taxas múltiplas de cambio c controles de importacao. Ésse
Nova responsabilídade em duas outras áreas — previden- aumento dos meios de controle político da presidencia fe/-se
cia social e organizacáo dos sindicatos trabalhistas — aumen- sentir mais fortemente naquelas partes do país mais diná-
tou aínda mais o poder federal. Se bem que a atívidade fe- micas, politicamente falando: as áreas urbanas. Deste modo,
—deral-aessas--áreas~se~acáesaSsé~sob o" Estado Novo, e fósse Vargas- pódemsar o exeeulivo federal, - grandcm entF f DTtTTh?-"
considerada por Vargas como a pedra fundamental do seu eido, para fundar o que o Brasil nao tinlia conseguido antes
novo estilo político depois de 1943, tinha ela sido iniciada de 1930: um regime verdadeiramente nacional.
antes da Constítuicáo de 1934. Fontes de renda canalizadas O crescimento de novas instituicóes políticas em nivel fe-
através dos institutos de previdencia social e dos sindicatos deral, serviu a dois propósitos: foi parte do processo de uni-
trabalhistas, aínda que nao fazendo parte das rendas federáis, íicacíio administrativa de um país que se ampliava; e ajudou
eram, a despeito disso, transferencias supervisionadas Apelas a capacitar o presidente a articular urna rede nacional de alian-
- autoridades"f ederaisT^é "nao éstádüais ou municipais. A fina- cas políticas:—
lidade era aumentar o contato federal direto, em nivel local, O crescimento da centralízacáo sob Vargas foi urna rea$áo
désse modo minando os alicerces da "política dos governa- a descentralizado imposta pelos redatores da Constituíalo Re-
dores", que tinha vigorado antes de 1930. publicana de 1891, que desejavam desfazer o que encaravam
como urna dañosa supercentralizacüo do Imperio. Com exce-
O poder dos governos estaduais e municipais fóra des-
gastado pela restricáo de fontes tradicionais de receita tribu- 9áo dos paulistas, que ainda veneravam o seu regionalismo
taria . As jurisdigóes fiscais revistas pelas constituicóes de 1934 excepcionaJmeníe eficiente, a maior parte dos que reeeberam
e 1937, eliminando, nesse último caso, urna das rnaiores fon- de bom grado o fim da República Velha em 1930 esperava
por um Brasil mais centralizado. Isso era particularmente ver-
dadeíro com relagaó iis classes urbanas, Ijue nao haviam con-
56-
57
seguido obter, da élite política dominada pela agricultura, Foi esta manobra de desbancamcnto da oposicüo nos Es-
aquilo que elas consideravam como seu direito de represen- tados principáis que possibilitou a Vargas capitalizar a divi-
tagáo política. Tanto os constitucionalístas liberáis quanto os sao, a desmoral izagáo e a inepcia das fór9as políticas gera-
teneates.-sabiain-que-or stns'propósitos-tínhanr'maiorer pers^ das- pela re voiu'jío— de—30— Mesmo_aates-dG_gaIpe-uc— 15™^
pectívas de sucesso sob um regime federal mais forte. Se se Vargas demonstrara amplamente seus extraordinarios talentos
chegasse a urna escolha entre a anarquía e a autocracia, um de persuasüo política. Poucas vézes falhou em cultivar urna
número surpreendentemente grande de revolucionarios de 30 facfáo minoritaria em Estado onde a lideranga Ihe fósse hostil.
optaría de bom grado pela última solucáo, ao menos implí- Mantendo assiduamente contatos políticos íntimos com a 'opo-
citamente. $Í9áo", Vargas pode oferecer a promessa de apoio federal, se
Na realidade, éles nao estavam com vontade de lutar con- a faccáo pró-Vargas alcan?asse o poder. Ja que as possibili-
tra a ditadura, sem primeiro ver o que esta poderia conseguir. dades de empreguismo do govérno federal estavam crescendo
De fato, muitas das inovacóes institucionais do Estado Novo enormemente, os favores federáis podiam ser de grande valor
_emni_apenas_~extensóes_ Jógicas- do- crescimento-do- execu tivo- para o político local. Poderiam significar- influencia -sobre as
federal, comecado na primeira fase de Vargas. Com excecáo crescentes operagóes das autoridades federáis na sua locali-
de urnas poucas instituigóes, como o Departamento de Impren- dade. Sem o apoio de Vargas, tal influencia seria muito mais
sa e Propaganda, o DIP, para a propaganda oficial e para a difícil. Depois do golpe de 1937, seria impossível. Mas, mes-
censura da imprensa, além da policía secreta, a estrutura admi- mo antes do Estado Novo, Vargas demonstrou o quáo efeti-
nistrativa do Estado Novo era urna respostá ao desafio a vamente sabia usar a persuasáo, a bajuia9áo e a promessa de
governar efetivamente e, rápidamente, transformar o país, tan- favores para explorar, em seu próprio beneficio, as tradicio-
to quanto era um conjunto de dispositivos para facilitar o nais lutas pelo poder no seio das liderancas políticas dos prin-
poder pessoal de Vargas. Éste fato ajuda a explicar porque cipáis Estados.
o Estado Novo comecou e terminou com tensóes sociais rela- Havia outros trunfos, com os quais Vargas jogava, ñas
tivamente pequeñas.63 snas negociacóes com os políticos estaduais.Pjira aqueles^ fiue_
Juñío~~corrf~as mudancas administrativas, quais eram as nutriam ambigóes nacionais, a bén9&o de Vargas era quase
técnicas políticas que Vargas usava para aumentar o seu pró- indispensável depois de 1935, e urna cond¡9ño vine qua non
prio poder e o do govérno federal? Urna vez empossado na depois de 1937. Com a responsabilidade federal crescendo rá-
presidencia, ern 1930, ele se colocara face-a-face com o pro- pidamente em tantos campos, como ficara comprovado pelos
blema ¡mediato de consolidar o novo poder do regime. Desde atos do govérno provisorio de 1930-34 e pela Constitu¡9ao de
1889 a política nacional tinha sido prerrogativa dos líderes dos 1934, qualquer político brasileiro que quisesse ajudar a diri-
Estados — Provincias no Imperio — mais poderosos. Minas -oir os destinos de seu país^tinha .que entrar ou_na__p.Qlítica_na-.._
~~Gefais"e~S3o"Paulo fbrairTbs"líderes nesfe sistema, com o Rio
Grande do Sul e o Rio de Janeiro crescendo de importancia, cional ou na adminístra9áo federal. E obvio o poder de ma-
e a Babia e Pernambuco declinando em poder relativo. De nobra que Vargas havia alcan9ado.
1930 até 1945, Vargas se esfor9ou para substituir esta quase- Um dos alvos constantes de Vargas era o extremo regio-
confederacáo por um executivo federal forte (redundando, nalismo de alguns Estados, do qual a revolta de Sao Paulo
naturalmente, em um maior poder pessoai de Vargas), a ex- em 1932 foi o exemplo mais edificante. Vargas apelava para
pensas das máquinas políticas estadu'ais. A meio caminho do o sentimento mais alto de nacionalismo, colocando-se assim
período, 1937, Vargas conseguirá, em escala notavel, neutra- em pos¡9ao de superar as paixóes regionais em confuto. De-
lizar os oligarcas políticos locáis que, anterionnente^dispunhain__ ppis do golpe de 1937, Vargas adotou urna tática mais di-
^Iá~l;Iiá\e~dapolítica nacional. reta: em fins de novembro de 19377 6 dítádor^réalizoíTlimá
59
^
cerimónia pública, na qual queimou as tradicionais bandeiras importante para muitos brasileiros que aprovavam em silencio
dos Estados. as medidas de Vargas, mas que queriam receber alguma cx-
Tanto antes quanto depois de 1937, Vargas fez uso fre- plicaciio racional para os atos do presidente."-"1
-Ss--Henv 4jut!-0- própsio. Vac«as_..iiáQ Jóssc- tLadQ-a_-ab'jE£n- -
anteriormente, dado a um governador de nomea9áo federal e tar um "culto do personalidade", permitía á sua agencia de
que era também investido de poderes legislativos, Quando propaganda (DIP), tanto através dos seus escritorios nacio-
os Estados se rebelavam, Vargas recoma a militares, como nais quanto estaduais, a cantar os seus louvorcs, em publíca-
interventores. Se bem que o seu poder fósse limitado peía coes como C Brasil de hoje, de ontem e de amanlul, ciij'o pri^
própria capacidade de obter a cooperacáo dos poderes locáis, meiro número foi publicado em 1939. Mesmo assim, Cctúlio,
alguns dos interventores mostraram-se representantes muitís- ¡ndubitávelmente, olhava essa adulacáo com ceticismo. Apro-
simo bem sucedidos da autoridade federal. Usando um pu- vava-a, na medida em que absorvia a energía de aiguns inte-
nhado désses estratagemas, Vargas pode, nos Estados princi- lectuais que, de outro modo, ficariam inquietos, preonchendo
pjíis, minar os clás^pqlíticos tradicionais¡ e criar, em lugar_déles., além do mais a JacuM deixada pela supressao da política de-
urna rede de alianzas locáis de orientafao nacional. Na época mocrática. Mas a confianza de Vargas nestes instrumentos em-
de Vargas, essas aliangas eram projetadas para serem leáis ao prestados do fascismo europeu, nao era, em sentido algnm,
próprio presidente. Talvez o caso típico do cultivo de urna ¡rreversível. Sabia muito bem que o espirito irreverente dos
lideranca estadual por Vargas fósse Minas Gerais, cujo inter- seus patricios, principalmente os cariocas, visava o ditador.
ventor, Benedito Valadares, foi- um aliado valioso nos prepa- Vargas, mais tarde, explicou que, durante os anos de 19:30 a
rativos para o golpe de 1937. Depois da queda de Vargas, em 1945, "o anedotário do povo foi meu guia, ¡ndicando-me o ca-
1945, essas lideran§as estaduais favoráveis mostraram reagir minho certo através do sorriso amavel e do suave veneno des-
bem as ordens de outros detentares do poder nacional, de- tilado pelo bom humor dos cariocas". Concluí dizendo que
monstrando que fóra montado um sistema de govémo nacio- foi éste "respeito profundo á inteligencia popular" que ''criou
nal capaz de sobreviver á ditadura.*4 a identidade de nossos espíritus e a comunbao entre A LIC,ÍIO
Ae^-expliear-o-sucesscr-polftico-Tfe'Vai'gas depois do~ govCTHe-e-a^ventade-do-^ove^.-"-''-—
é preciso também notar que ele conseguiu se transformar em A despeito da sua ¡modestia. Vargas íínha raxáo ao apon-
símbolo, aos olhos de muitos da nova gera£áo, de um senso tar o seu conhecimento magistral da psicología brasileiru como
de objetivo nacional. De 1930 a 1932, foi-Uie dado explorar um dos seus grandes trunfos políticos. Pessoas que visitaram
as idéias, o entusiasmo e a habilidade administrativa de um o Brasil durante o Estado Novo, como o jomalista John Gun-
grupo de jovens militares (os "tenentes"), e scus aliados civis, íher e o perito constitucionaüsta Karl Loewenstein, ficaram
tais como Oswaldo Aranha. Mesmo depois de muitos déles fascinados pelo modo com que o dominio político de Vareas
era, em parte^basetido- ua-sua- eapacidade-camaleorrica -dir per- 1
- se-haverem- desiíudidej-ea-terem sido-descartados-por-Varga-T,
havia outros políticos que identificavam suas esperabas com sonificar o caráter nacional. Os seus exasperados inimi^os ro-
o presidente revolucionario. Francisco Campos, de Minas Ge- tularam-no de "maquiavélico". Essa denominac/ao era exata;
rais, autor da Constituisáo de 1937, é o esemplo mais famoso. Getúlio também a tcria achado lisonjeira."7
Houve muitos outros, como José Américo de Almeida, da Pa- Nías, e o papel dos partidos políticos? Como foi observado
raíba. Alguns deveriam desertar Vargas, antes do golpe de na análise das novas fór9as políticas, o Estado Novo foi urna
1937. O apoio ponderado de jovens intelectuais, geralmente saída autocrátíca e nao-partidaria para a inexperiencia política
oriundos da classe media, ajudava a fornecer. a cada estágio, do Brasil e do subseqüente impasse político de meados da
urna aura de legitimidade a um líder que nao era dado á década de 30. Urna inovacáo auténtica no plano dos partidos
-autojustifrcaclKr^ideologica^ Tal~tégiíimidáde infelectuar^érá ~ ~ ~ ~
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nais. Nem os constítudonalistas liberáis nem os tenentes ha-
viam sido capazes de conseguir isso, antes que os primeiros mía urbana, bcm como um grande instrumento de empre-
partidos nacionais — os integralistas e os comunistas — inad- guismo para con verter adversarios em potencial em clientes
vertidamente deflagrassem o plano de Vargas para impor o políticos. O controle do governo sobre os sindicatos assumia
seu poder__autoritáríq^Já_gue. Vargas_leye:granae-ja¡iüaao em— diversas formas, Primeiro, so os sindicatos reconhecidosjw'o
^ñao criar partido govemista algum, o Estado Novo nao pro- MTnisíend do Trabalho eram considerados legáis. A medida
duzíu novos partidos. O breve rancionamento do Código Eleí- que a organizando sindical aumentava, depois de 1941, sob
toral de 1932^ havia, contudo, demonstrado como seria impor- pressáo do governo, o Ministerio do Trabalho ficava em con-
tante a orgaaizaeáG partidaria, era regirne de eíeicóes iivres. dieóes do colocar seus agentes (mais tarde cognominado^ "pe-
A ligao nao se perdeu para Vargas, que, no entanto, adiou ao legos") cm posicóes de iideranna, excluindo assim os militan-
máximo possível qualquer pensamento de organizar o seu pró- tes operarios indepcndentes (cm especial os anarcosindicalis-
prio movimento político. O sistema "nao-político" do Estado tas e os comunistas), a ruantes durante o nascituro movimento
Novo oferecia o veículo perfeíto para os seus grandes talen- operario de antes de 1937. A "burocratizagáo" da estrutura
tos de conciliacáo e manipulacáo, que por sua vez dependiam sindical receben mais uma base institucional com a implan-
—de^wulac'tü^alteménte^pessoal, com adversarios e aliados. ta^üo-da—htxa- compulsoria de filiacña aos~sindicatos (impos-
Durante os dois últimos anos do Estado Novo (1943-45), to sindical), no montante de um dia de salario por ano, de-
Vargas teve suficiente largueza de visáo para perceber que a duzido da fóiha de pagamento do trabalhador. Os fundos eram
sua ditadura nao poderia sobreviver á guerra. O seu fascismo, entao distribuidos entre os sindicatos reconhecidos pelo go-
aínda que de segunda máo, estava condenado a ser sacudido verno através do Ministerio do Trabalho. Essa organizando
pela derrocada próxima do fascismo na Europa, para a derrota paternalista, imposta ao setor operario por Vargas, era parte
do qua! o Exército Brasileiro estava contribuindo com uma de uma cstrutura económica corporativista global, que o go-
Fórca Expedicionaria, Assim sendo, em 1943, Vargas apoiou vtVno do Estado Novo armou para toda a sociedade urbana.68
os esforcos de um de seus lugares-tenentes de maior confian- A terccira tática deveria ser um Partido Trabalhista, ba-
ca, o Ministro do Trabalho, Marcondes Filho, que comegou a scado na coalizáo dos sindicatos dominados pelo governo e das
_ j>ropor_ _as JbasesL dejinj-n&vo^^novimeiito- político -. —Vargas" es- forjas "progressista.^", f¡ue Vargas espera ya _JideraiV-adotarLda
tava prevendo o momento em que o sistema político sería rea- programas de industriaiizacao, nacionalismo económico e pre-
berto, e o poder repousaria no processo eleitorai. videncia social. Em um discurso de 1943, expendo os seus
Essa tentativa de edificar uma nova base política fazia planos políticos para o após-guerra, Vargas prometeu que os
parte de um esfóryo, em tres pontas-de-lan^a, da parte de trabailiaclorcs teriam um papel preeminente entre a "gente
Vargas, para preencher a esquerda do espectro político. Pri- nova, cheia cíe vigor e de esperaba, capaz de crer e de levar
meiramente, veio a vasta legislagáo da previdencia social (como avante as tarefas de nosso progrcsso". Em 1944, ele conciamou
^pojLexemplQr-a asslsténeía medicabas-aposentadorias e pén- os trabalhadores de Sao Paulo a se filiarcrn aos sindicatos--
sóes aos trabalhadores) da classe proletaria destinada a ga- supervisionados pelo govérno e dessa forma participaren) da
nhar a lealdade ao govérno paternalista que havia implantado necessária "modificarlo de mentalidade" exigida pela "rapidez
estes programas. A doutrina para justificar éste sistema era das transformu^óes da vida económica".™
o trabalhísmo, que Marcondes Filho enunciou nos famosos Os dois últimos anos do Estado Novo, em suma, faziam
programas radiofónicos, A Hora do Brasil, a partir de 1942. prever urna nova fase (a terceira), na carreira política de Var-
Alera disso, a nova esrrutura sindical era orientada sob con- gas. Durante a sua primeíra fase (1930-37), ele representou
trole cerrado do Ministerio do Trabalho, fornecendo dessa for- o duplo papel de arbitro político e de conspirador a cami-
ma ao govérno urna importante fonfe de influénciajia ecpnp- nho dos poderes clitatoriais. Na segunda, compreendeu a di-
Agora,- depoi.^de49435~Vargas-estavar
-;
com efeito, deitando os alicerces para sua última apai^áo como totais em divisas. Os controles de mercado eram conhecidos
líder "democrático", que podía confiar no apoio de um novo como planos de "valori/acüo", violentamente atacados por
movimento popular, e também de grupos mais estratificados, muitos seguidores brasileiros da estrita economía do lamez-
como os propriptirios nirais. os ínHusfr[aJs_de Sao Pau]o_e .3 /s/r;^-;|ii£_axípjvneEfav2ni que- tais tentativas de manipulay-r.-
"burocracFá.TPará que possamos compreender como o "terceiro" seriam a longo pra/o contraproducentes e serviriam a curto
Vargas foi capaz de voltar ao poder em 19.50, depois de ter prazo,7" apenas para irritar os clientes e credores do Brasil.
sido forjado a deixar o cargo, em 1945, devemos antes exa- Mas a tentacüo de aumentar ao máximo í» receita cambial era
minar agüelas inovacóes na área rl? política económica, as f-ortc demais, especialmente aos exportadores e aos govcn-.os
quais, juntamente com as modificacóes ñas instituÍ9óes polí- estaduais (no caso do café, Sao Paulo, Minas Gerais e Rio
ticas, deveriam fazer da era de 1930 a 1945 um divisor de de Janeiro) que éstos Estados controlavam. Os succssivos
aguas da moderna historia brasileira. govi'mos federáis ficavam divididos entre as possívcis van-
tagcns dos esquemas de valorixa^üo, por um lado e por outro
lado, os contra-argumrntos dos Üboralistas económicos (inclu-
—Novas Dtregóes^Económicas ~ siveAlguns Ministros da Fíizeñdá)"~ccretlores~é"clientes"esf-
trangeiros. Na altura dos anos 30, o Brasil estava cfetivamcnte
Sob a República Velha, a economía bmsileirn tinha sido engajado nesta forma de intervencáo estatal em um setor vital
altamente dependente de alguns produtos agrícolas — café, ca- da economía. Era urna situacüo algo paradoxal: o Brasil cx-
can, algodáo, e borracha. O Brasil exporta va estes produtos, portuva produtos primarios e importava podutos manufatu-
utilizando a decorrente receita cambial para importar quase rados, como sugeríam os principios do liberalismo económico.
todos os produtos manufaturados de seu consumo interno. Mas tentava, também, aumentar ao máximo sua vantagem re-
Era urna continuacáo do papel histórico do Brasil na econo- lativa através de controles de mercado — urna clara violacüo
mía mundial: o de fomecedor de produtos primarios tropi- da doutrina económica liberal da escola de Manchester.71
cais e subtropicais,.para as economías do Atlántico Norte. No Na área da industrializacao, contudo, os apologistas do
sáculo dezessete,_o_Brasil. je,.iornou-jrelaíivamente próspefo pura liberalismo-^comimicQ hnviam-gnnho~a_parada,- antes de
com as exportacoes de ajúcar para a Europa; no século de- 19^30. Verificavam-se, por parte dos defensores da industria-
zoito, o ouro e os diamantes substituirán! as exportacoes agrí- iizac/io, tentativas periódicas de ukancar tarifas de proíe9áo
colas, sem alterar a posicáo periférica do Brasil na economía mais altas e crédito mais liberal para a industria nascente.
mundial. Na segunda metade do sáculo dezenove, o café apa- Mas eram bastante mal sucedidos. Com excecño de uns pon-
receu como o novo grande produtor de divisas. eos itens, como os tecidos, oráticamente todos os produtos ma-
Mas o espectro da superproducao, e o concomitante pro- nufaturados eram importados. A intervengáo estatal em be-
blema das^violentas_flutuac{iei-de-pre^o,-iuivúim-se tornado- neficio da industria^ em contraste com a_seior__de- cxportacao,
agudos, no sáculo aíual. De molde a aumentar ao máximo a entrava em choque com a visáo predominante do papel "na-
sua receita cambial, o Brasil recorreu a prática de reíer es- tural" do Brasil como economía dependente, trocando pro-
toques de café e borracha (um importante produto de ex- dutos primarios por bens acabados.72
portacáo até a segunda década), do mercado mundial. Esta A crise de 1929 pos em relevo a dependencia do Brasil
política baseava-se na presuncáo de que a procura mundial em seus poucos produtos agrícolas de exporta§So. Num es-
de ambos os produtos, era relativamente insensível ao prego. íórco desesperado para compensar os cafeicultores pela desas-
Urna política de mercado que impedisse os estoques exceden trosa queda dos pre9os do produto, o govérno federal, depois
tes de causarem urna depressáo nesse mercado poderia manter de 1930, aumentou suas compras de excedentes de café. Se
_deyad£>s_JDs_pr£Cíis^a4m3enteHd0--a*sim-a^ queda nos- lucros- dos- fazendeiror fosse~ amplamen-
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