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ECONOMIA BRASILEIRA NO SÉCULO XIX E ECONOMIA CAFEEIRA

O desenvolvimento da economia cafeeira no final do século XIX foi possível sem a existência de
movimentos demográficos, em virtude do acentuado crescimento populacional observado no conjunto dos
estados que compunham a região cafeeira.

A Estrada União e Indústria foi a primeira estrada de rodagem pavimentada ("macadamizada") da América
Latina. Buscava melhorar o escoamento da produção de café da região onde se situa atualmente Juiz de
Fora. Ligava Juiz de Fora a Petrópolis, e tinha 144 km de extensão, com doze estações de muda 1 um marco
de pedra a cada 6 km. Foi inaugurada em 23 de junho de 1861, quando ainda não havia ferrovia (que
somente chegaria a Três Rios em 1867 e a Juiz de Fora em 1875). Sendo assim, não havia como competir
com o sistema ferroviário.

O Sudeste tornou-se polo da industrialização brasileira devido à infraestrutura urbana e de transportes


desenvolvida pela economia cafeeira.
O surgimento das indústrias na região sudeste está vinculado à produção cafeeira decorrente da:
• Grande quantidade de trabalhadores da produção do café foi atraída para trabalhar nas indústrias que
iniciavam suas atividades.
• Rede de transportes, uma vez que as infraestruturas eram usadas para escoar a produção de café das
fazendas para os portos, com a introdução das indústrias esses mesmos trajetos serviam para transportar
matéria-prima e mercadorias.
• Do grande número de mão de obra imigrante presente no Brasil, esses já tinham experiências industriais,
pois a maioria era de origem europeia e nesse período a Europa já havia passado pelo processo de
industrialização.

A segunda metade do século XIX caracterizou-se pelo início da construção das estradas de ferro, pela
imigração estrangeira e pela fundação das casas bancárias, eventos impulsionados pela necessidade de
atender ao crescimento da economia cafeeira no Brasil.
"O café foi, desde os 1830s, o principal produto da economia brasileira. Com a expansão da economia cafeeira vieram
as modernizações como a construção da estrada de ferro (para transportar o café do interior até os portos de exportação),
o incentivo a imigração ( notadamente do Estado de São Paulo, bom 1880s, buscando incentivar a vinda de imigrantes
para trabalhar na lavoura, Em substituição a decrescente mão de obra escrava) e a fundação de casas bancárias. O
código comercial (25-jun-1850) inicia a implantação de um mercado regular de dinheiro, crédito e capital do Brasil.
Eram poucos os bancos no Brasil na primeira metade do século XIX. Após 1850, teremos a criação de dezenas de
bancos, e, a partir de 1860, os bancos hipotecários vão emprestar diretamente aos fazendeiros, sobretudo aos cafeeiros,
que vão investir para expandir as lavouras de café."

Na visão de Celso Furtado, contrariamente ao que ocorreu no setor açucareiro, cujas decisões de produção e
comercialização eram dissociadas, na economia cafeeira, os interesses da produção e do comércio estiveram
entrelaçados em razão de a vanguarda do café ser formada por empreendedores com experiência comercial, situação
que permitiu ao país tirar proveito da expansão do comércio mundial.
Celso Furtado faz claramente essa divisão, chegando a chamar os diretos de engenho de ruralistas e os cafeicultores
de homens com experiência comercial.
“Se se compara o processo de formação das classes dirigentes nas economias açucareira e cafeeira percebem-se
facilmente algumas diferenças fundamentais. Na época de formação da classe dirigente açucareira, as atividades
comerciais eram monopólio de grupos situados em Portugal ou na Holanda. As fases produtiva e comercial estavam
rigorosamente isoladas, carecendo os homens que dirigiam a produção de qualquer perspectiva de conjunto da
economia açucareira. As decisões fundamentais eram todas tomadas partindo da fase comercial. Assim isolados, os
homens que dirigiam a produção não puderam desenvolver uma consciência clara de seus próprios interesses. (...) A
separação de Portugal não trouxe modificações fundamentais, permanecendo a etapa produtiva isolada e dirigida por
homens de espírito puramente ruralista.
A economia cafeeira formou-se em condições distintas. Desde o começo, sua vanguarda esteve formada por homens
com experiência comercial. Em toda a etapa da gestação os interesses da produção e do comércio estiveram
entrelaçados. A nova classe dirigente formou-se numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras,
recrutamento de mão-de-obra, organização e direção da produção, transporte interno, comercialização nos portos,
contatos oficiais, interferência na política financeira e econômica. (...) Desde cedo eles compreenderam a enorme
importância que podia ter o governo como instrumento de ação econômica. Essa tendência à subordinação do
instrumento político aos interesses de um grupo econômico alcançará sua plenitude com a conquista da autonomia
estadual, ao proclamar-se a República.” (Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil, p. 171)

Sobre a b:
“O processo de industrialização começou no Brasil concomitantemente em quase todas as regiões. (...)
Entretanto, superada a primeira etapa de ensaios, o processo de industrialização tendeu naturalmente a
concentrar-se numa região. A etapa decisiva de concentração ocorreu, aparentemente, durante a Primeira
Guerra Mundial, época em que teve lugar a primeira fase de aceleração do desenvolvimento industrial.
(...) Os dados da renda nacional parecem indicar que esse processo de concentração se intensificou no
após-guerra.” (Furtado, Celso. Formação econômica do Brasil, 24 ed. Rio de Janeiro. P. 238.)
Sobre a c:
“(...) O fluxo de mão-de-obra da região de mais baixa produtividade para a de mais alta, mesmo que não
alcance grandes proporções relativas, tenderá a pressionar sobre o nível de salários desta última,
impedindo que os mesmos acompanhem a elevação da produtividade. Essa baixa relativa do nível de
salários traduz-se em melhora relativa da rentabilidade média dos capitais invertidos. Em consequência,
os próprios capitais que se formam na região mais pobre, tendem a emigrar para a região mais rica. A
concentração das inversões traz economias externas, as quais, por seu lado, contribuem ainda mais para
aumentar a rentabilidade relativa dos capitais invertidos na região de mais alta rentabilidade.” (Furtado,
Celso. Formação econômica do Brasil, 24 ed. Rio de Janeiro. P. 239-240.)

- A tendência à deterioração dos termos de troca afetou as economias latino-americanas durante todo o
século XIX em seu período agroexportador. Esse foi o motivo pelo qual o Brasil abandonou esse modelo
na década de 30 do século XX em prol de uma política industrial que favorecia bens com forte desempenho
no mercado internacional.

Na realidade, o que motivou a indústria foram choques adversos e transbordamentos ao longo das décadas
de 30 e 40 do século passado. Além disso, a industrialização se dá de forma fechada no Brasil, por uma
estrutura de PSI (processo de substituição de importações). Para manter os lucros do café, a máquina
pública foi utilizada. O que motivou a mudança do eixo dinâmico foram os choques em essência.
À época, o objetivo brasileiro era o abastecimento do mercado interno, ou seja, não havia preocupação
em se estabelecer uma política industrial que favorecia bens com forte desempenho no mercado
internacional; a preocupação era com o mercado interno e não com o mercado internacional.

Comentário feito com base na explicação do professor Daniel Sousa.


"... a recuperação da economia brasileira, que se manifesta a partir de 1933, não se deve a nenhum fator
externo, e sim à política de fomento seguida inconscientemente no país e que era um subproduto da
defesa dos interesses cafeeiros".

Celso Furtado - Formação Econômica do Brasil.


Obs.: até então a década de 30, o eixo dinâmico da economia brasileira era o setor externo e a partir desse
momento realizou-se o “Deslocamento do Eixo Dinâmico” do setor externo para o setor interno. O Brasil
não podia mais ser tão vulnerável aos acontecimentos internacionais, seria o mercado interno que faria o
Brasil crescer.
Lembrar que ao longo dos anos 30 a tendência global era de fechamento. Nessa época o crescimento do
PIB dos países era maior que o do comércio. O comércio internacional fechou, inclusive, diminuiu na
década de 30. Assim, o Brasil estava alinhado com o resto do mundo nesse ponto.

- Um dos efeitos da depressão mundial na economia brasileira, nos anos 30 do século passado, foi a
deterioração das relações de troca de produtos brasileiros no mercado internacional, isto é, a diminuição
nos preços dos produtos exportados e o aumento nos preços dos produtos importados pelo Brasil.
Os preços dos produtos de maior valor agregado, oriundos de economias mais desenvolvidas, tende a
aumentar, ao passo que os produtos de países agro-exportadores tende a diminuir, havendo um aumento da
diferença na relação de preços importação/exportação, o que é a deterioração dos termos ( termos = valores
totais de exp/imp) em si. Outra coisa que pode ajudar a resolver a questão: durante o PSI, iniciado no Brasil
em 29, e que vai até década 70 com a substituição de produtos intermediários e de capital em Geisel ( para
alguns autores o esgotamento se dá em Figueiredo, para outros no Plano Brasil Novo ), dificilmente o
choque externo contribuiria para um efeito negativo, uma vez que eram mediantes esses estrangulamentos
que, progressivamente, de setor para setor, a economia se industrializaria.

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