Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Juiz de Fora
2015
FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE JUIZ DE FORA
Juiz de Fora
2015
2
RESUMO
3
ABSTRACT
4
MAGALHÃES, Mariana Ferreira.Comunicação Institucional no Facebook: Uma análise
da fanpage “Prefeitura de Curitiba”. Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora, 2015.
5
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 07
5. CONCLUSÃO 32
REFERÊNCIAS 34
6
1. INTRODUÇÃO
7
2 A COMUNICAÇÃO PÚBLICA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
O conceito de comunicação pública é relativamente novo, sendo usado para falar sobre
a relação entre governo, Estado e sociedade. A percepção desse conceito está associada à
concepção de esfera pública na qual o “público” contesta livremente, ao mesmo tempo em
que sofre a influência dos setores sistêmicos, ou seja, uma “comunicação do público”, na qual
o povo como receptor daquela mensagem é participativo nas informações que serão
divulgadas, podendo opinar e contribuir com aquilo que é decidido pelo Estado.
De acordo com Brandão (2012) a comunicação pública engloba várias áreas, tais
como:
8
organizada e estratégica. Nesse conceito a comunicação pública tem como foco principal o
mercado, com a preocupação de vender e manter uma imagem, produto ou ideia, e ter um
retorno com essas ações;
9
“Este é um campo em que prevalecem as praticas comunitárias e provavelmente o
lugar onde se alcançou em interdisciplinaridade nunca conseguida no campo acadêmico ou no
mercado.” (BRANDÃO, 2012, p.7) Ou seja, essa estratégia de comunicação é a mais
democrática e social, sem ter que se comprometer com a indústria midiática, conseguindo
formas de relacionamento inusitadas com seus respectivos públicos, além de tomar um
posicionamento político muito mais claro e beneficente à população em geral.
Dentro dessas áreas, as mais relevantes para esse estudo que procura entender como
as relações e as formas de abordagem mudaram, são a comunicação organizacional e a
comunicação governamental, a primeira porque procura cuidar da imagem das instituições e
está presente no interior das organizações e seus públicos, visando principalmente o mercado,
enquanto a segunda é a forma de contato e manutenção da relação entre o governo e a
sociedade, sendo elas complementares para que a relação entre o estado e a população consiga
se manter de maneira firme e clara para que ambas as partes sejam conscientes dos
acontecimentos e decisões.
10
Brasil modernizou-se, melhorou sua infra-estrutura, criou o Ministério das comunicações,
formou empresas para ampliar e executar serviços e diversas outras melhorias tecnológicas,
mas essa base tão bem trabalhada não reflete em nada na sua postura com a sociedade. O
Governo continua agindo como se a divulgação de informações aos governados fosse um
favor e não um direito.
O subsídio para o modelo comunicacional atual surgiu em meados da década de 70,
com a Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República, quando o Brasil
passava por um momento com campanhas de opinião públicas bem elaboradas e de forte
cunho nacionalista. Esse modelo acompanhou a postura da Presidência de Emílio G. Médici e
ingressou em um compasso lento e gradual de abertura, quando as relações dos meios de
comunicação com a sociedade passaram a ser mais profissionais, no sentido de se tornarem
mais necessários e vantajosos (REGO, 1985). Ao assumir o Governo, o Presidente João B. O.
Figueiredo inspirou sua estrutura de comunicação em modelos internacionais, que buscavam
projetar a imagem do governo para a população, mas sem ouvir as contribuições que a mesma
tinha para o Estado (REGO, 1985), a comunicação entre o governo e a sociedade tinha como
emissor da mensagem somente o primeiro, sem que o segundo tivesse abertura e espaço para
responder e se posicionar diante as informações. Os conceitos básicos desse sistema se
mantem os dias atuais.
11
processo de comunicação entre a organização e seus diversos públicos. Tendo como
principais áreas, a comunicação institucional, a comunicação mercadológica, a comunicação
interna e a comunicação administrativa (KUNSCH, 2003).
Todos esses segmentos estão ligados, sendo que assim compõem um plano de
comunicação completo para uma organização, prezando a imagem dela através da
comunicação institucional, o relacionamento dos funcionários através da comunicação
administrativa e venda da imagem da mesma através da comunicação mercadológica.
O cenário organizacional atual tem mostrado diversos avanços, tanto estruturais e
tecnológicos, além de humanos e administrativos e, para tanto, exige novas mudanças de
postura e aperfeiçoamento dos profissionais que pretendem atuar nesse mercado. O
crescimento e a prosperidade de uma organização, bem como a manutenção da confiança na
sua política de atuação, assim como o respeito quer seja em relação ao seu pessoal, aos
clientes, fornecedores e acionistas, deve-se a um programa de comunicação bem estruturado
(TORQUATO, 1986).
Ou seja, a comunicação se tornou um processo vital para o sucesso de qualquer
instituição, já que para geração de lucro ela precisa realizar troca de informações com o
ambiente externo e interno, gerando assim um fluxo comunicacional.
Quando falamos da comunicação de um órgão governamental, relacionando
comunicação organizacional, os fatores mais importantes são sua divulgação mercadológica e
institucional.
A equipe de comunicação destes órgãos procura reforçar uma boa imagem
institucional e vender um bom rendimento e relacionamento em relação à sociedade. As
organizações modernas devem se preocupar com algo além de vender seu produto e mostrar
seus projetos, mas devem buscar construir uma identidade junto ao público consumidor, já
que ele se encontra cada vez mais exigente (KUNSCH, 2003). A comunicação institucional
É a responsável direta [...] pela construção e formação de uma imagem e identidade
corporativas fortes e positivas de uma organização [...] [ela] está intrinsecamente
ligada aos aspectos corporativos institucionais que explicitam o lado público das
organizações, constrói uma personalidade creditiva organizacional e tem como
proposta básica a influência político-social na sociedade onde está inserida
(KUNSCH, 2003, p. 164)
Nesse caso, ela deve agregar valor ao que a organização produz e contribuir para criar
um diferencial no imaginário de quem a acompanha. Ou seja, a equipe responsável deve
buscar conhecer a fundo o público alvo e não apenas despejar um conteúdo que pode não ser
agradável à maioria. Kunsch ressalta que:
12
Não importam muito as terminologias das ferramentas usadas, mas sim a essência, o
conteúdo. Um trabalho que se caracterize como sendo marketing social, voltado para
os interesses da sociedade, para causas sociais, ou de marketing cultural, que traz
contribuições para preservação da cultura ou da memória cultural do país,
certamente ajuda na construção de uma imagem favorável e na identidade
corporativa de uma organização. Essa manifestação pública, por meio de uma
atitude, é uma das expressões da comunicação institucional. (KUNSCH, 2003, p.
168)
Essas são as características para a construção de uma identidade corporativa, que tem
como papel ajudar a “administrar percepções”, isto é, fazer com que as pessoas vejam
determinada coisa e a associem com a instituição. Atualmente esse é o principal desafio das
organizações, criar uma estratégia que alcance e convença seus públicos-alvo, sendo isso, o
reflexo de uma sociedade extremamente competitiva, na qual várias ideias originais surgem,
mas poucas são realmente capazes de se destacar.
Talvez, o maior desafio de fato, seja atrair a atenção de quem usa esses meios de
comunicação para assuntos tão formais como política e comunicação de órgãos
governamentais. Para a construção de uma identidade corporativa reconhecível é necessário
que o profissional responsável alie estratégias de comunicação organizacional às estratégias
de marketing, seguindo até mesmo o conceito das Lovemarks em que o consumidor se
identifica com aquele produto muito além do prazer ou do serviço que ele presta, mas sim por
criar uma relação quase afetiva com o que ele representa. (RÊGO, 1985)
13
3 COMUNICAÇÃO PÚBLICA NA INTERNET: O INTERESSE PÚBLICO NA
REDE
Uma nova plataforma de abordagem exige também uma nova técnica de abordagem.
Afinal a internet apesar de proporcionar aos seus usuários uma gama de oportunidades e
informações, tem que oferecer aos mesmos uma forma atraente e interessante de receber essas
informações. Esse processo de adaptação da mensagem e do conteúdo em razão do novo meio
é chamado por Jenkins (2009) de convergência midiática.
Nesse cenário encontramos as redes sociais online, que proporcionam aos usuários da
web uma nova forma de relacionamento interpessoal e da sociedade com o poder
governamental.
14
relacionando através de plataformas mediadas pelo computador, um grupo de pessoas que
mantêm relacionamentos e interesses em comum. (ALBUQUERQUE, 2010)
Recuero (2009) expõe que as redes sociais são relações criadas pelos autores dessas
conexões, e que a nomenclatura mais adequada a plataformas como o Facebook é “site de
redes sociais” ou “redes sociais online”
[...] elemento importante para o estudo das redes sociais é compreender em que
medida se diferenciam dos chamados sites de redes sociais. Sites de redes sociais
são os espaços utilizados para a expressão das redes sociais na Internet. [...]
A grande diferença entre sites de redes sociais e outras formas de comunicação
mediada pelo computador é o modo como permitem a visibilidade e a articulação
das redes sociais, a manutenção dos laços sociais estabelecidos no espaço off-line
(RECUERO, 2009 p. 102-103).
Neste universo, é necessário que as empresas estejam atentas ao fato de que as redes
sociais passaram a ampliar as vozes dos consumidores,
A rede social deve funcionar não como apenas mais uma mídia, já que oferece
interação, instantaneidade e grande alcance da comunicação. Se no passado, bastava que as
organizações possuíssem um site corporativo com informações atualizadas, hoje isso é
insuficiente (SILVA, 2001).
Esses canais são uma plataforma onde as organizações podem divulgar eventos e
informações, estreitando sua relação com os usuários. Nesse sentido, as organizações,
instituições, ONGs e empresas têm procurado ampliar seus canais de atendimento ao público
15
nesses canais, no entanto, as dificuldades são inevitáveis devido à grande diversidade de
público encontrada nessas plataformas.
O principal a ser analisado nesse aspecto vai além da necessidade do uso dessas
ferramentas, e aborda a capacitação do profissional para desenvolverem conteúdos que
estejam de acordo com a imagem da empresa e principalmente que abordem o espectador de
maneira eficiente e interessante. Já que a comunicação digital vai muito além da simples
divulgação de uma informação, possibilitando ao usuário várias maneiras de corresponder e
responder a aquilo que é veiculado. O que mescla um processo comunicacional
estruturalmente hierárquico com outro que segue linhas transversais em rede.
16
O atual momento poderia ser caracterizado como um fenômeno de dupla mediação,
que entende como a apropriação do público às novas ferramentas digitais, em que as mesmas
se integram a atividades antes já estabelecidas, como no caso do uso de redes sociais por
instituições públicas. Essa relação organização/público já existia, mas sofre modificações de
acordo com a necessidade de alcançar e estabelecer uma comunicação com o público através
das redes sociais online. (MIÉGE, 2009)
Esse processo gera duas reflexões, que são: a incorporação do fenômeno das mídias
sociais no modo de se comunicar e a incorporação das chamadas competências digitais, que
exigem mudanças nos profissionais, na cultura empresarial e no modo de produção de
informação. (CORRÊA, 2009)
No que diz respeito à primeira reflexão, a incorporação das redes sociais nos processos
comunicacionais já existentes, deveria ser uma progressão natural. No entanto, muitos órgãos
ainda se encontram relutantes em estabelecer com o público uma comunicação de duas vias,
principalmente pela vulnerabilidade que isso representa. Em compensação, outras instituições
tem encontrados através do marketing digital uma maneira de se aproximar cada vez mais do
público, gerando ainda uma relação de identificação e carinho.
17
conteúdo pelo usuário, deslocando o emissor como pólo de mensagens no processo
comunicacional. (CORRÊA, 2009)
As mídias sociais além de permitirem a alimentação livre por parte de seus usuários e
a colaboração espontânea de quem se relaciona com esse conteúdo, conseguem uma
efetividade nunca vista em termos de transmissão de conceitos. O poder de comunicar, antes
restrito aos grandes grupos de mídia e aos conglomerados corporativos, passa a estar também
nas mãos do público.
18
antropológicos são mundo de significação e não categorias coisificadas que partilham entre si
objetos corporais.” (LÉVY, 1997 p. 186).
Uma rede é um conjunto de nós interligados. As redes são formas muito antigas da
atividade humana, mas atualmente essas redes ganharam uma nova vida, o
converterem-se em redes de informação, impulsionadas pela internet. As redes têm
enorme flexibilidade e adaptabilidade, características fundamentais para sobreviver e
prosperar num contexto de mudança permanente. (CASTELLS, 2004. p. 15)
19
Os relacionamentos estabelecidos na rede criam um novo conceito de comunidade, até
mesmo revolucionário por não representar um espaço físico onde essas relações sejam
estabelecidas, criando assim artefatos típicos e únicos dessa convivência. De maneira os
produtores de informação, como agências publicitárias e órgãos de assessoria de imprensa,
tem que correr atrás de um meio de atingir essa comunidade de maneira eficiente e de acordo
com a sua cultura.
Essas comunidades são instituídas principalmente através das redes sociais online,
sendo, atualmente, o Facebook uma das mais importantes.
O Facebook é uma rede social digital lançada em 2004 com o objetivo de reforçar e
criar laços de amizade no ambiente virtual. Em 2012, a rede atingiu um bilhão de usuários
ativos. Sua missão é “fazer do mundo um lugar mais aberto e conectado”, destacando alguns
princípios como desenvolver aplicativos sociais e envolventes, ajudar os usuários a
compartilhar conteúdo expressivo e relevante, respeitar a privacidade, além de não iludir,
confundir, enganar ou surpreender os usuários. (FACEBOOK, 2014)
Esse estudo estuda principalmente a relação que as páginas criam junto aos seus
seguidores e a necessidade produzir material exclusivo a ser usado em sites de redes sociais
como o Facebook.
20
4 ANÁLISE DA FANPAGE “PREFEITURA DE CURITIBA”
A página no Facebook “Prefeitura de Curitiba” é a fanpage oficial da prefeitura do
município. Hoje, conta com cerca de 532.937 seguidores, sendo 2,8% moradores de outros
países. (SOCIALBAKERS, 2015).
A página foi criada em 2013, junto à gestão do atual prefeito da cidade. A equipe
responsável pela manutenção e alimentação da página é composta por sete profissionais de
diferentes áreas, sendo dois jornalistas, quatro publicitários, entre eles o coordenador da
equipe Marcos Giovanella e o ator Cláudio Castro. Parte integrante da Secretaria de
Comunicação, o departamento de Internet e mídias sociais gere todos os projetos do
município relacionados à web, atendendo as pessoas que se manifestam através da rede, além
de produzir todo o conteúdo utilizado.
A página começou a ganhar cada vez mais publicidade em virtude de suas postagens
diversificadas e com conteúdo produzido especialmente para internet com a utilização de
memes e ícones da cultura pop e geek.
A “Prefs” como é carinhosamente chamada pelos seguidores, criou uma nova forma
de comunicação entre meios governamentais e a sociedade nunca visto antes no Brasil.
Márcio Gionavanella diz que para criar o modelo utilizado na página se inspirou em exemplos
de comunicação governamental internacionais, buscando adaptar os aspectos positivos para a
realidade do internauta brasileiro (CASTRO, 2013).
A equipe trabalha com a alimentação integrada de diversas redes sociais, como
Facebook, Twitter e Instagram, usando em cada uma essas plataformas uma abordagem
direcionada e adaptada ao propósito da mensagem e as possibilidades que a rede oferece.
No Facebook especificamente, cria-se o relacionamento com o espectador, investindo
em postagens que estimulem o diálogo e a troca de informação entre o órgão em questão e o
público da cidade de Curitiba.
21
e no segundo pelo conceito de que o meio é a mensagem. Agregando essas duas ideias, o
objetivo é produzir mensagens que sejam legítimas, através de uma estética não-consensual.
Para compreender melhor o objetivo da página e o processo de criação de conteúdo da
equipe responsável, foram analisadas postagens no intervalo de tempo de 20 de abril e 26 de
maio de 2015, analisando sua abordagem tendo como base entrevista cedida por um dos
responsáveis pela criação de conteúdo da página, Álvaro Borba.
Nessa postagem o exemplo (FIGURA 01), o objetivo é incentivar a população a pedir
notas fiscais até mesmo em pequenas prestações de serviços. É uma postagem de conteúdo
importante, que na maioria dos casos seria abordado de maneira cansativa e desinteressante ao
leitor. Nesse caso, a página propõe uma representação leve e cômica do assunto na postagem
principal, e o desenvolvimento do mesmo é feito partir dos comentários feitos pelos
seguidores e as respostas oferecidas pela página.
Figura 1 – Postagem 19/05/2015
O diálogo com o seguidor é criado não na postagem em si, porque ela possui um
caráter mais cômico do que informativo, dessa forma, a página aprofunda o assunto em
22
questão através dos comentários, dessa maneira usa da comunicação de duas vias que a
plataforma do Facebook oferece, a informação é debatida com o cidadão, e não apenas
despejada sobre ele.
Dessa forma, podemos considerar que a página trabalha basicamente com três tipos de
abordagem: instrutiva, interativa e uma terceira que mescla as duas anteriores. A primeira tem
como objetivo transmitir a informação pela postagem principal, apesar de muitas vezes adotar
a linguagem coloquial como base de aproximação do público com a instituição, exemplo
dessa categoria são a mensagens relativas à data de vacinação, obras e etc. São postagens que
apesar da causalidade nas imagens, apresentam informações relevantes e de interesse público
em sua descrição.
Figura 2 – Postagem sobre nova iluminação do parque
23
A segunda modalidade de abordagem tem como objetivo interagir com o seguidor
sem necessariamente transmitir algum fato. Exemplos são as postagens de “Boa noite,
Curitiba”, em que a página deseja boa noite a cidade por meio da publicação de um vídeo
musical via Youtube (FIGURA 3). Procurando agradar a todos os estilos, essa é uma
abordagem que visa intimizar o relacionamento entre o órgão municipal e as pessoas que lêem
as postagens. Outro exemplo dessa abordagem é o “Bom dia, Curitiba” em que se informa a
previsão metereológica do dia, brincando com a instabilidade do clima da cidade paranaense
(FIGURA 4).
24
ser considerado o mais popular e o motivo pelo qual a página se tornou conhecida e referência
em comunicação governamental no Brasil. Elas atraem a atenção do leitor para a página, e a
partir do momento em que a curtem, passam a ter informações também sobre as outras
abordagens.
Figura 5 – Postagem 04/05/2015
25
Figura 7 – Postagem 24/04/2015
A página, além da caracterização das publicações, constrói sua imagem por meio de
signos que fazem parte da identidade da página. Como por exemplo, o termo “Prefs” usado
para se referir à Prefeitura de Curitiba, é uma forma de ligação e intimidade com os leitores. A
criação da hashtag #curitilover que coloca todos os seguidores como amantes da cidade. Em
resumo, as hashtags são palavras-chave precedidas do símbolo #, no caso da página estudada,
a #curitilover é usada principalmente no relacionamento estabelecido com os fãs pelo
Instagram. Diariamente a Prefs sugere um tema para ser fotografado e publicado no
26
Instagram, e algumas das imagens são republicadas por meio da página do Facebook,
abrangendo ainda mais o conceito e propósito da hashtag usada.
Figura 8 – Postagem 15/05/2015
27
A aceitação do público à página é bem positiva, já que ela adere mais seguidores,
cerca de 24 693/mês (SOCIALBAKERS, 2015).
.
4.3 A influência da “prefs” para comunicação institucional digital
A Prefs foi o primeiro órgão governamental no Brasil a usar esse tipo de abordagem
em plataformas online. Em vista do sucesso obtido, não só em âmbito municipal, outras
instituições públicas desenvolveram abordagens semelhantes, como forma de aproximação
com o público e desenvolvimento da relação entre o estado a sociedade.
Exemplos dessa influência positiva são a páginas das Prefeituras de São Paulo e Rio
de Janeiro. Apesar de serem cidades consideravelmente maiores, com 44.035.304 e
16.461.173 habitantes, respectivamente, enquanto Curitiba possui 11.081.692 habitantes
(IBGE), a página que deu início a idéia tem seu público consolidado e receptivo, e apesar da
popularidade e demografia inferiores em relação ás outras capitais, a página alcança número
maior de seguidores.
A forma de abordagem diferenciada permitiu até mesmo que as páginas interagissem,
em setembro de 2014, a popularidade da página curitibana culminou em vários pedidos de
casamentos pelos fãs, em resposta a página fez uma postagem relevando que não poderia se
casar, em apoio a “Prefeitura do Rio Janeiro” fez um pedido de casamento à mesma (Figura
11), resultando a hashtag #AceitaCuritiba. O pedido acabou sendo aceito por fim (Figura 12),
mas a estratégia foi criar um movimento social em torno do matrimonio fictício, cada
instituição fez sua própria divulgação sobre o evento, a Prefeitura de Curitiba especialmente,
que é o objeto desse estudo, chamou o evento de “Casamento Vermelho”, em referencia a
uma seqüência da série de TV exibida pelo canal FX, Game of Thrones. (Figura 12)
28
Figura 11 – Postagem 20/09/2014
29
Figura 13 – Postagem 23/09/2014
Fonte: Site B9
O “casamento” teve abordagem própria por cada página, e contou com o apoio de
outras prefeituras, que se ofereceram como madrinhas e marcaram pontos de doação em suas
respectivas cidades (LAFLOUFA, 2014).
30
Apesar da grande aceitação do público, a página também recebe muitas críticas, por
vezes até mesmo dos próprios seguidores, quando relacionadas a postagens e a atuação da
Prefeitura da cidade. Um exemplo dessa disparidade entre a opinião pública e a página, foi
quando em resposta a pressão da bancada evangélica da cidade, a página retirou uma
postagem em que se manifestava a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Logo
em seguida, a atitude gerou a revolta dos seguidores, o que resultou na repostagem da
imagem. (Banda B, 2014) (Figura 14)
Figura 15 – Repostagem da imagem “polêmica”
31
5 CONCLUSÃO
A convergência midiática é uma realidade, o crescimento das reações via internet e
através dela se tornam cada vez mais presentes no dia a dia. Em visa disso, o desenvolvimento
do processo comunicacional é inevitável, e quando a referência é comunicação de instituições
governamentais, deve ser ainda mais urgente.
Com o advento da web 2.0, os cidadãos têm cada vez mais acesso a informação e a
curiosidade sobre a maneira como esses órgãos regem a sociedade também tende a aumentar.
Apesar da criação de sites e blogs institucionais, as redes sociais são as plataformas mais
utilizadas pela sociedade e mais ignoradas pelo Estado, talvez pela dificuldade de
administração da mesma.
No entanto a fanpage Prefeitura de Curitiba, consegue abordar o público da internet de
maneira leve e criativa, usando as duas vias de informação que são oferecidas pela web 2.0.
Além de transmitir a informação, ela consegue dialogar com a sociedade, e criar uma relação
de intimidade nunca antes estabelecida entre um órgão público e população.
Essa forma de abordagem não apenas cria um relacionamento mais afável entre a
Prefeitura e seus munícipes, ela agiliza o processo de resolução de problemas da cidade. A
principal característica da internet é a rapidez e instantaneidade em que a informações são
transmitidas, de modo que se o município se propõe a lidar com a comunidade através dessa
plataforma, também de buscar resolver os problemas divulgados pelos cidadãos através da
página, na mesma velocidade. É um processo de atendimento e pressão, porque a
disponibilidade do poder público nas redes sociais acaba exigindo que ele seja mais ágil.
Apesar da forma de diálogo adotada pela equipe receber algumas críticas, em que se é
dito que a comunicação pública deve ser mais sucinta e direta, a mesma desengessa um
modelo de comunicação que justamente pela tradicionalidade não alcançava todas as parcelas
da população e por vezes nem mesmo gerava o seu interesse.
A “Prefs” cativa principalmente o público que vê a internet como um meio de
convivência além do mero espaço de interação virtual, com referências e linguagem próprias
da rede, ela oferece um mix de entretenimento e informação transparente para a população, e
tem um retorno muito positivo em relação a isso.
A intimidade criada entre a página e o seguidor é evidente, fortalecendo o turismo na
cidade e reforçando um romance entre a cidade e seus moradores, com a criação e valorização
de uma mascote e do termo #curitilover, hashtag utilizada principalmente no aplicativo
Instagram. Para manter essa relação, a forma de abordagem adotada pela equipe desperta o
interesse pelas publicações em vários sentidos, porque além do serviço de utilidade pública
32
oferecido pela página, ela flerta com os gostos de seus seguidores ao transmitir essas
informações.
A influência da ideia sobre outras instituições mostra que abordagem para meio
governamentais, até então só usada fora do Brasil, pode dar certo quando adaptada a realidade
do internauta brasileiro e suas referências.
33
REFERÊNCIAS
34
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2009.
KUNSCH, M.M. KROHLING Planejamento de relações públicas na Comunicação
Integrada. São Paulo: Summus, 2003
KUNSCH, Margarida M. Krohling (Org.) Comunicação Organizacional. Vol. 1. Histórico,
fundamentos e processos. São Paulo: Saraiva, 2009.
KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Relações públicas e a modernidade: novos
paradigmas na comunicação organizacional. São Paulo: Summus, 1997.
LAFLOUFA, Jacqueline. O Casamento Vermelho das Prefs de Curitiba e do Rio. B9,
2014 Disponível em: <http://www.b9.com.br/51838/social-media/o-casamento-vermelho-das-
prefs-de-curitiba-e-rio/>. Acessado em: 20/05/2014
LÉVY, Piérre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1997
MEDIA, IBOPE. Estatística do número de pessoas com acesso à internet no Brasil.
Disponível em:
<http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOP
E&pub=T&db=caldb&comp=Noticias&docid=C71CF8CE73F1D284832572ED00730875>.
Acesso em: 12 maio 2015
MICONI, Andrea. Ponto de Virada: a teoria da sociedade em rede. In DI FELICE,
Massimo. Do Público Para as Redes. São Caetano do Sul: Difusão Editora 2008.
MIÉGE, Bernard. Cours“Tic’s entre innovation technique et encrage social”. São Paulo:
ECA-USP, 2009
OLIVEIRA, Luiz Henrique de. ‘Prefs’ compartilha post que cita cidade do MS e gera
revolta em internautas. Banda B, 2014. Disponível em:
<http://www.bandab.com.br/jornalismo/prefeitura-de-curitiba-compartilha-post-que-cita-
cidade-ms-e-gera-revolta-em-internautas/>. Acessado em: 27/05/2015
O'REILLY, Tim. What Is Web 2.0 - Design Patterns and Business Models for the
NextGeneration of Software: O'Reilly Publishing, 2005.
PINHONI, Marina. Curitiba é hoje cidade mais engraçada do Brasil; veja razão.
EXAME. COM, Disponível em http:<//exame.abril.com.br/brasil/noticias/curitiba-e-hoje-
cidade-mais-engracada-do-brasil-veja-razao>. Acessado em: 27/05/2015
PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição.
Porto Alegre: Sulina, 2007
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009
RHEINGOLD, Howard. The heart of the WELL. 1998
SILVA, Heloiza Dias da. Gestão da comunicação em redes sociais online. In: BUENO,
Wilson da Costa (Org). Comunicação Empresarial: planejamento e gestão. São Paulo:All
Print, 2011.
SocialBakers, Disponível em:
<http://www.socialbakers.com/statistics/facebook/pages/detail/515514761825666-prefeitura-
de-curitiba?country=brazil&accountCharts-
accounts=145247469014742%3B239665829565195>. Acessado em: 18/05/2015
TELLES, André. Revolução da Mídia Sociais. Mbooks, 2010. Disponível em: <
http://www.andretelles.net.br/downloads/a-revolucao-das-midias-sociais-andre-telles.pdf>
Acesso em: 20/11/2014
35
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 12ª Ed.
Petrópolis: Vozes, 2011.
TORQUATO DO REGO, F. G. Comunicação Empresarial/comunicação institucional:
conceitos, estratégias, sistemas, estruturas, planejamento e técnicas. São Paulo: Summus,
1986.
________________. Marketing Político e Governamental: Um roteiro para campanhas
políticas e estratégias de comunicação. São Paulo: Summus. 1985
VALENÇA, Suzana. Como a Prefeitura de Curitiba mantém a melhor página do
Facebook. Disponível em: <http://www.digai.com.br/2014/08/como-prefeitura-de-curitiba-
mantem-melhor-pagina-facebook/>. Acessado em: 21/05/2015
36
APÊNDICE A
Entrevista cedida via e-mail por Álvaro Borba, membro da equipe responsável pela página em
Outubro/2014
1. A equipe tem sete pessoas, correto? Qual a formação dos profissionais e como é a
divisão de tarefas? Se puder dizer, quais são as faixas salariais?
Temos sete pessoas e, mais recentemente, recebemos o auxílio de uma estagiária. Temos na
equipe dois jornalistas e quatro publicitários, incluindo o Marcos Giovanella, que coordena o
trabalho. Além disso, temos um ator. A menção ao ator pode parecer inusitada, então explico:
o Cláudio Castro é um autodidata da internet. Ele construiu boa parte da carreira nesse
ambiente e sabe usar as ferramentas.
Somos um departamento de Internet e Mídias Sociais dentro da Secretaria de Comunicação e
há bastante trabalho para ser dividido: gerimos todos os projetos do município que envolvem
internet, atendemos as pessoas que procuram os serviços do município usando essas
ferramentas e criamos conteúdo para as nossas redes - há várias outras, mais específicas, além
daquelas que tornaram nosso trabalho conhecido.
O mérito do projeto é usar cada ferramenta de acordo com o seu propósito. No Facebook,
criamos relacionamento. No Twitter, fazemos a mesma coisa e dispomos do Twitter Alerts;
uma funcionalidade reservada a órgãos públicos destinada a situações de emergência. No
Instagram, propomos concursos temáticos de fotografia, revelando talentos na área e belas
paisagens da cidade.
Quanto mais conteúdo oferecemos nessas redes, mais cidadãos nos procuram com demandas
sobre a cidade. Parte da equipe trabalha apenas para dar conta dessa demanda e o efeito que
isso tem sobre o restante da administração é incrível. Numa rede social, o cidadão não está
disposto a esperar por uma resposta. Precisamos respondê-lo com a velocidade da internet e,
para fazer isso, é necessário que a gestão pública opere nessa mesma velocidade. A conclusão
é óbvia: a simples presença da poder público nas redes sociais já exerce uma pressão para que
ele seja mais ágil. Internamente, somos os agentes dessa pressão. O Cláudio Castro se revelou
um especialista nisso – atendimento e pressão.
Falou mencionar o Colab.re, uma rede voltada a órgãos públicos. Usando a ferramenta, o
cidadão não apenas pede para arrumar o pavimento na rua. O pedido dele chega com
georreferenciamento e mais uma série de detalhes, o que facilita o atendimento.
2. No programa que ouvi, vocês contam que às vezes fazem dois modelos de postagem
somente para acompanhar a performance. Pode falar mais sobre isso? Como se dá o
envolvimento da equipe?
Não é um padrão, mas é verdade. Na criação de conteúdo, eu desenvolvi alguns testes dessa
maneira. Se eu compartilhar apenas a mensagem “Criança, só no banco de trás”, ela passa
batida. Se eu somar a essa mensagem uma imagem inesperada e/ou cativante, eu levo a
mensagem de conscientização muito mais longe. A metáfora que eu uso é a de um foguete:
com um uso apropriado da estética, eu amarro um foguete na minha mensagem inicial e faço
ela atingir grandes distâncias que seriam impossíveis de outra forma.
Pessoalmente, guardo na cabeça o Ruud Koopmans e, claro, o McLuhan. Eles precedem a
internet mas perceberam verdades universais a respeito da comunicação. O Koopmans tem
37
um estudo genial de 1991 que estabelece que a visibilidade de uma mensagem é determinada
pela equação entre ressonância e visibilidade. Não quero perder muito tempo com os
conceitos, mas a ideia básica é de que um assunto tem mais chance de ganhar ressonância e
visibilidade quando não há um consenso sobre ele. É uma coisa até meio óbvia: se tem
consenso total, não tem margem pra debate
Já o McLuhan, todo mundo sabe, é o cara que disse que o meio é a mensagem. A frase famosa
significa, entre muitas outras coisas, que a mensagem absorve as características da estética
com que foi emitida. Somando essas duas coisas, a minha conclusão natural é a de emitir
mensagens sempre plenamente legítimas (e o poder público não pode fazer diferente disso)
com uma estética não consensual. Dessa forma, a conversa sobre a estética utilizada leva a
mensagem adiante. O que eu chamo de “estética não consensual”, as notícias sobre a gente
chamam de “postagens bem humoradas”.
O resultado disso é que as postagens convocam uma conversa com/sobre humor. A gente faz
questão de participar dessa conversa, atuando nas caixas de comentários e no diálogo
personalizado e direto com o público. Nós protagonizamos esses diálogos e, com isso,
podemos facilmente levar o foco que começou na estética para a mensagem. Exemplo:
referência a antigo jogo de videogame é usada para falar de transporte público. As pessoas
começam a conversa graças ao jogo e nós vamos inserindo mais informações sobre transporte
público na caixa de comentários aos poucos.
O post apenas abre uma oportunidade conversacional. O grosso do trabalho aparece na
sequência. Pra finalizar, preciso pontuar que respondi com minhas referências pessoais. Essa é
a parte da minha bagagem pessoal que adaptei para usar no meu trabalho dentro da estratégia
assinada pelo Marcos Giovanella.
38
Acho que a questão é mais qualitativa. A preocupação não é só com o mero alcance de cada
postagem. Tão importante quanto abrir o diálogo é saber conduzi-lo para que ele seja
produtivo. Postar um determinado conteúdo é abrir o diálogo. Interagir com o público é
conduzir esse mesmo diálogo que foi aberto.
Acho que hoje a turma dá tanta palestra que tem pouco tempo de assistir, mas é gente
qualificada e que conhece a internet. O Marcos, antes de escrever a estratégia, fez uma
pesquisa muito grande. A pesquisa dele identificava qual era o comportamento que alguns
órgãos públicos gringos estavam tendo na internet e previa algumas tendências nesse campo.
Sabendo o que seria tendência num futuro próximo, o trabalho poderia buscar seu lugar na
vanguarda. Recentemente, a CIA abriu sua participação no twitter com uma postagem
humorística. Me perguntaram se eles estavam imitando a gente. É claro que não! O que
aconteceu é que as tendências identificadas pelo Marcos Giovanella se confirmaram. Como
ele conhecia as tendências, colocou a estratégia na frente delas.
Além do que já foi dito, eu destacaria o seguinte: é um projeto que entende que as redes
sociais servem para conversar com as pessoas. Parece tão óbvio, mas você ainda vê marcas
(públicas ou privadas) tratando a coisa como se fosse uma revista: colam o conteúdo numa
página e largam as caixas de comentários às moscas. Criam a oportunidade conversacional
apenas para desperdiçá-la depois.
39