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IV Simpésio de Hidrogeologia do Nordeste |! BOMBEAMENTO SOLAR Paslo Cesar de Souza Martins * SUMO A energia solar fotovoltaica pode técnica e economicamente substituir as atuais fontes convencionais de energia para fins de bombeamento nas comunidades rurais do NE. A dispersio ea distancia dessas mesmas fontes, torna-as alijadas do processo de desenvol- vimento como um todo, © presente trabalho demonstra, resumidamente, os pasos para se compreender 0 dimensionamento de um sistema de bombeamento fotovoltaico e os pariimetros de cil- culo exigidos num projeto. O autor apresenta (Anexo I) uma lista dos sistemas de bombeamento em operacio insta- Iados e projetados pelo mesmo. INTRODUGAO Estudos das Nagdes Unidas estimam que scriam necessitias quantias da ordem de 90 es de délares para resolver o problema de égua potavel no mundo. Se esses recursos estivessem disponiveis, Iveria de pronto, © problema da falta d’gua no planeta nfo se simplesmente, porque a 4gua potivel vem desde a década de 90 diminu- Paulatinamente em todo o mundo, Além do mais as taxas de crescimento populacional crescido vertiginosamente, dramatizando o problema, O semi-arido do NE brasileiro caracterizado por baixos indices médios anuais de ‘pitacao da ordem de 400 mm a 600 mm,distribuidos irregularmente por 2 a 3 meses ano e com a média anual de 2 000 horas de irradiagio solar favorece uma intensa otranspiracao, tornando ctitico e inse; longos periodos de seca. Diante desse quadro os mananciais de Aguas subterrneas revestem-se de singular im- cia, porém, a baixa disponibilidade energética limita a explotagio desses recursos, como set verificado pela Tabela 1, do indice de cletrificagio rural do NE, guro 0 actimulo das Aguas superficiais para su- jo Agrénomo. CPRM - Servigo Geolégico do Brasil. End: Rua das Petnambucanas, 297, Bairro cas, CEP 5201-010, Fax: Oxx81.2217456, Recife, PE, BR. E-mail: cprm@fiscpe.pe.gov.br 64] Xl Encontro Nacional de Perfuradores de Pogos Estado Numeros de Propriedades Total Eletrificadas, ‘Maranhao 533.906 9.891 Piaui 271.766 76.485 [Ceara 324.278, 60.897 Rio Grande do Norte 116.582 25.777 Paraiba 204.621 13.408, Pemambuco 358.879 766.070. ‘Alagoas 118.276 9.561 [Sergipe, 75.127 7.143, 94 Bahia 744.458 76.057, 70,2 Total 2.748.495, 384.789 14 Fonte: CELPE Tabela 1 - indice de eletrificagao rural no NE Nestas circunstincias a energia solar fotovoltaica pode satisfazer técnica e economic: mente as necessidades hidricas dos seres humanos e das atividades agropastoris nas divers localidades do NE. Segundo estudos da Sandia National Laboratories (Thomas, 1994), nos EUA o custo por Watt instalado decresce quando o sistema aumenta; comparando-se com o sistema a diesel ou 2 gasolina, para capacidades instaladas entre 100 ¢ 700 W os custos sio drastica- mente reduzidos. 2.- CARACTERISTICAS DO BOMBEAMENTO SOLAR a - Vaz6es instantdneas relativamente baixas ¢ ininterruptas na maioria do tempo, com forme a localidade; b - Alta rentabilidade do sistema. © custo total do sistema (custo inicial + custo de manutengio) é competitivo em relac a0 convencional, apesar do custo inicial ser bastante clevado.Deve-se acrescentar que n0= sistemas de bombeamento a motores de combustio interna os custos de manutengio cresce= a0 longo do tempo. ¢ - pontual e modular, ou seja, pode-se aumentar a poténcia do sistema confor demanda por energia ¢ instald-la onde se queita. 3- SISTEMA DE BOMBEAMENTO SOLAR A Figural mostra a composi¢io da maioria dos sistemas de bombeamento sols fotovoltaicos. Figura 1 - Composigao dos sistemas de bombeamento solar fotovoltaico. IV Simpdsio de Hidrogeologia do Nordeste lias .1 - ARRANJO FOTOVOLTAICO 0 conjunto de médulos fotovoltaicos ligados em série e/ou em paralclo objetivando ‘atingir a poténcia necessadtia ao conjunto moto-bomba.Vale ressaltar que a ligagio em série fenta a tensio do arranjo PVjenquanto que a paralela incrementa a corrente. Os médulos sao constituidos de células fotovoltaicas feitas de um material semicondutor, mente, o silicio, Fundamentam-se no fendmeno fotovoltaico, no qual um foton de luz. a0 incidir sobre uma jung&o semicondutora gera uma forca cletromotriz continua. O arranjo é orientado faceando o norte verdadeiro com inclinagio, em relacéo 4 hori- ontal, de igual latitude ou latitude mais 10° ou 15° ,neste caso se otimiza a radiagfo solar nos 2 - INVERSOR Equipamento que transforma a corrente continua do atranjo PV em corrente alternada, bém chamado conversor DC/AC ou CC/CA. Opera com tensdes de entrada de 12 V, 24 V, 48 V ¢ 120 V continuos, convertendo-os 120 V ou 240 V alternados na freqiiéncia de 50 ou 60 Hertz, monofisicos ou trifsicos onforme a bomba. Sistemas mais simples de bombeamento usam motores de corrente continua geralmente £1000 Wp. Em ambos os casos, podem-se usar um equipamento chamado de PMP (seguidor de 4xima poténcia) entre o atranjo PV ¢ o inversor que otimiza o sistema em situagdes de baixa diacio solar, ou seja, ajusta a curva do conjunto moto-bomba com a do arranjo PV de modo nercorrer locus de maxima poténcia, mantendo o sistema em funcionamento,porém com scréscimo na vaziio. A eficiéncia dos atuais inversores é de 95%, funcionando a plena potén- 2 de saida, e de 75-80% a 50% da mesma, - CONJUNTO MOTO-BOMBA ‘As bombas podem ser do tipo centrifuga ou volumétrica. A centrifuga utiliza um meca- mo rotativo de alta velocidade, empurrando a agua para cima; a volumétrica tem como acipio o deslocamento longitudinal de uma peca encerrada num cilindro fechado que joga para a superficis ‘As centrifugas de superficie ou submersivel sto apropriadas para grandes vazées ¢ pouca didade. J4 as volumétricas sio requeridas para grandes profundidades ¢ baixas vazOes. adram-se nesse tipo as bombas de diafragma, pistio e as de cavalete (jack pumps). ‘A Figura 2 mostra os diversos tipos de conjunto moto-bomba em fungio da vazaio eda didade de bombeamento. 86 XIl Encontro Nacional de Perfuradores de Pogos BOMBA VOLUMETRICA 200 o PROF. POCO X VAZAO = 2000 m* STURBINA AC OU DC SUBMERSA (Bombas Centrifuges com miitiplos estégios) 0 BOMBA AC OU DC SUBMERSA s S PROFUNDIDADE DE BOMBEAMENTO (m) a 2 ° BOMBAS DC BOMBA MANUAL SUPERFICIAIS 0 ‘ a rn) 75 100 VAZAO m®; dia Figura 2 - Profundidade x vazo para diversos tipos de bomba (Tiba, 1999). 4-PARAMETROS DE DIMENSIONAMENTO Os principais parametros para de dimensionar um sistema de bombeamento sol2= fotovoltaico so: - carga hidrdulica; - eficiéncia dos componentes cletromecnicos: inversor, motor ¢ bomba; - nivel da radiagdo solar local. 4.1 - CARGA HIDRAULICA Semelhante ao sistema convencional necessita-se: da vazio de consumo, das caracteri cas hidrogeolégicas do pogo, da altura do sistema de armazenamento e das perdas hidréu nas tubulacées, A Figura 3 ilustra esses aspectos. IV Simpésio de Hidrogeologia do Nordeste | 187 AGUA SUBTERRANEA AGUA SUPERFICIAL, DETERMINAR: DETERMINAR: Diametro do pogo (#p) Lago, rio, acude, outros... Profundidade do pogo (P) Altura em relag&o ao nivel d’agua (A) Nivel estatico (h) Altura de sucgao (Ho) Nivel dinamico (H) Perdas hidraulicas Vazio maxima didria (Qe) Distancia (D) Perdas hidraulicas Diametro da tubulagao (pd) Altura em relac&o ao solo ( C ) Volume de armazenamento (V) Distancia (D) Diametro da tubulacao (od) Volume de armazenamento (V) Figura 3 - Esquema de um sistema de bombeamento. NIVEL DE RADIACAO SOLAR Devido a sazonalidade do recurso solar, escolhe-se o més de pior nivel de radiago como de projeto. EFICIENCIA DOS COMPONENTES jombas ¢ inversores atingem a maxima eficiéncia quando trabalham nas condigdes is dadas pelo fabricante. Certamente ao longo do ano essa eficiéncia sera menor evista. O carter estocistico da radiagio solar impede qualquer previsio segura da eficiéncia sses Componentes no ano. tesumo, para fins de projeto, a eficiéncia do sistema inversor-moto-bomba é da le 25% a 40%, 8 | xi Encontro Nacional de Perfuradores de Pogos 4.4 - METODOLOGIA DE CALCULO a- Energia Hidraulica: E,=QH.p.g Onde: E, - energia hidraulica; Q-vazao diaria; H - altura manomeétrica total; P - peso especifico da agua; g - aceleragao da gravidade. Assumindo p igual a 1000Kg/m®, e g como 9,8m/s?, tem-se: E, (KWh/dia) = 0,00272 x Q(m*dia) x H(m) b - Poténcia do Arranjo Fotovoltaico (PV): P,, (KW,) = E, (KWh/dia) /7,,, x G,(KWh/dia) onde: ime Nim» — rendimento do sistema inversor-motor-bomba; G, - radiagao solar diaria incidente c - Vazo Maxima Bombeada pelo Arranjo PV: Q,,,,(m*/h) = 367 x P,, (KW,) x Thy x 1(KWh/m?) / H(m) ‘max ° O termo 1(KWh/im) significa o mimeo de horas de pleno sol. Esta vazdo define 2 vazio do projeto considerando as condigées limite de bombeamento do poco. 5 - DISCUSSOES E CONCLUSOES Nas regides longinquas e desprovidas de qualquer fonte convencional de energia as dit fontes nfo convencionais de energia, especificamente a solar fotovoltaica, podem suprir técni- ca e economicamente as necessidades dessas comunidades. De acordo com a Proposta de Politica Nacional para o Desenvolvimento das Energi Renovaveis (Stemmer, 1995), as Regides Norte ¢ Nordeste sio as que apresentam condicdes mais favoriveis 4 utilizagio de fontes alternativas de energia, em razio da dificuldade de cons- truco de novos aproveitamentos hidrelétricos, utilizagio em larga escala de combustiveis £6: seis em sistemas isolados, contingente populacional elevado nas ‘teas rurais ¢ disponibilidade de recursos solares, edlicos ¢ de biomassa abundantes”. O mesmo documento conelui que, qualquer localidade distante de pelo menos 10 km d= rede elétrica, é mais vantajosa a opgio fotovoltaica, \V Simpésio de Hidrogeologia do Nordeste |189 6 - REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Stemmer, Gaspar Erich, Plano de Agio para o Desenvolvimento das Bnergias Renoviveis Solat, Hélica e Biomassa no Brasil, II Encontro para o Desenvolvimento das Energi as Solar, Eélica ¢ Biomassa no Brasil Brasilia-DF, Brasil, 1995, Thomas, Michael G, .La Opcién Solar Pata El Bombeo de Agua. Centro de Apoyo al Disefio de Sistemas Fotovoltaicos (Design Assistence Center). Sandias National Laboratories, Albuquerque, New Mexico, BUA. 1994, Tiba, Chigueru; Fraidenraich, Naum; Barbosa, Elielza Moura de Souza. Instalagio de sis- temas fotovoltdicos para residéncias rurais e bombeamento de Agua: texto para curso de instalador de sistemas fotovoltdicos, verso 2.0. Recife: Ed. Universitaria da UEPE, 1999. ANEXO I Exemplos de Bombeamento Solar no NE Instalados pelo Autor: Periodo de 1994 a 1995 1. Localidade: Pedra Preta Municipio: Japi - RN Poténcia instalada: 960W/p Insolagao: 5 KWh/m?.dia Bomba : SP 5A-7 GRUNDFOS Nivel Estatico: 5,10m Nivel Dinamico: 17m Vazio do Pogo: 18m*/dia Profundidade do Pogo: 40m Vaziio do Projeto: 3.130L/h 2. Localidade: Lama IT ‘Municipio: Japi - RN Poténcia instalada: 960Wp Insolagio: 5 KWh/m?.dia Bomba: SP 5A-7 GRUNDFOS Nivel Estatico: 3,10m Nivel Dindmico: 16m Vaziio do Poco: 29m*/dia Profundidade do Pogo: 42m Vazao do Projeto: 3.790L/h 3, Localidade: Lama I Municipio: Japi - RN Poténcia instalada: 960Wp Insolagao: 5 KWh/mé.dia Bomba: SP 8A-5 GRUNDFOS Nivel Estatico: 4,60m 1901 XII Encontro Nacional de Perfuradores de Pogos Nivel Dinamico: 7m Vaziio do Pogo: 43m?/dia Profundidade do Pogo: 40m Vazio do Projeto: 7.200L/h 4, Localidade: Campo Limpo Municipio: Japi - RN Poténcia instalada: 480W’p So : 5 KWh/m?.dia : SP 5A-TGRUNDFOS Nivel Estatico: 4,60m Nivel Dindmico: 7m Vaztio do Poco: 6m?/dia Profundidade do Pogo: 40m Vazio do Projeto: 1.309L/h 5. Localidade: Boa Vista Municipio: Parelhas - RN Poténcia instalada: 960Wp Insolagio: 5 KWh/m?.dia Bomba: SP 5A-7GRUNDFOS Acude: bomba submersa com flutuador Vazio: 20.000L/dia 6. Localidade: S.Rafael Municipio: Currais Novos - RN Poténcia instalada: 106Wp Insolagio: 5 KWh/m?.dia Bomba: Shurflo modelo 9300 Acude: bomba submersa com flutuador Vazio: 2.500L/dia

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