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Guia de Produção de Conteúdos Acessíveis

1. Introdução.

O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) encontra-se presente


em qualquer instituição de ensino, tanto nas atividades administrativas, quanto em sala de
aula. Os principais atores deste processo usam aplicações de escritório comuns
(processadores de texto, criadores de apresentação, planilhas eletrônicas)
disponibilizando arquivos em formato como, por exemplo: TXT/DOC/ODT, PPT/ODP, XLS/
ODS e PDF, sem se dar conta que estes podem não estar acessíveis a todos.

Criar documentos acessíveis e bem estruturados eventualmente reduz as


dificuldades na compreensão do conteúdo produzido, efetivada pelos usuários de
Tecnologias Assistivas (TA), principalmente quando usam leitores automáticos de
conteúdo.

Neste sentido, este guia pretende apresentar-se como uma referência e/ou
ferramenta de trabalho orientadora na produção de conteúdos acessíveis. Além das
principais regras para a produção de documentos, serão também apresentadas algumas
sugestões de procedimentos que visam facilitar a navegação e compreensão da
informação.
2. Porquê e Para Quem Criar Conteúdos Acessíveis.

Quando se trata de aprendizagem, toda informação deve ser compreendida por


todos os alunos, independentemente do formato como ela é transmitida. Neste contexto,
deve ser ressaltado que, para minimizar as distinções entre por condições física,
cognitivas ou mesmo ocasionadas por fatores inerentes ao indivíduo, a informação deve
ser previamente formatada e não adaptada quando "houver a necessidade".

Obviamente deve-se pensar em criar conteúdos acessíveis a todos, com especial


atenção às necessidades específicas de cada perfil de usuários. Desta maneira, podem
ser destacadas três razões fundamentais para a produção de conteúdos acessíveis:

• Permitir o acesso à informação e/ou conteúdo a todas as pessoas, incluindo


pessoas com algum tipo de incapacidade;

• Aumentando o nível de "visibilidade" do conteúdo, permitir o acesso, a navegação


e a compreensão, das informações, por um maior número de pessoas;

• Acresce valor ao conteúdo. Principalmente por beneficiar todos os alunos e


qualquer outros usuários das instituições de ensino.

A acessibilidade visa o todo, garantindo o acesso à estudantes com perfis


específicos. Isto é conseguido quando o processo de criação de conteúdo tem como um
de seus fundamentos a observação das barreiras e das necessidades específicas do
público alvo, assim como na oferta de tecnologias assistivas.

A acessibilidade está relacionada com incapacidades pontuais ou permanentes do


indivíduo, e/ou com problemas relacionados à tecnologia ou ao meio. Assim, entre os
problemas relacionados com o meio, e observando os diversos perfis de estudantes,
podem ser listados as seguintes classes de pessoas:

• Que apresentam incapacidade do tipo sensorial (visual, auditiva, da fala), motora


ou cognitiva e neurológica;

• Que, pela idade avançada, apresentam dificuldades sensoriais e/ou motoras;


• Cuja língua materna não é a mesma da usada na produção do conteúdo e/ou do
ambiente de aprendizagem;

• Com algum tipo de incompatibilidade tecnológica;


• Com problemas técnicos relacionados com as redes de comunicação.

3. Padrões Internacionais e Locais.

3.1. WCAG 2.0.

WCAGs (Web Content Accessibility Guidelines) são recomendações de


acessibilidade para criação de conteúdo da Web, ou seja, são diretrizes que explicam
como tornar o conteúdo Web acessível a todos. Estas diretrizes foram desenvolvidas pelo
W3C (World Wide Web Consortium), através do WAI (Web Accessibility Initiative), em
colaboração com pessoas e organizações em todo o mundo.

A primeira versão - 1.0, foi lançada em 5 de maio de 1999 e a versão 2.0 em 11 de


dezembro de 2008. Mara maiores referência a lista a seguir disponibiliza alguns
documentos da WAI:

• WCAG: para conteúdo Web;


• ATAG (Authoring Tool Accessibility Guidelines): para ferramentas de autoria,
editores HTML, content management systems (CMS), blogs, wikis, etc;

• UAAG (User Agent Accessibility Guidelines): para navegadores Web, media


players e outros agentes de usuário;

• WAI-ARIA (Accessible Rich Internet Applications Suite): aplicações Web ricas e


acessíveis.

As diretrizes WCAG 2.0 estão organizadas em quatro princípios, cada qual


contendo recomendações. Cada recomendações possui critérios de sucesso que devem
ser seguidos. Para cumprimento dos critérios de sucesso, são disponibilizadas técnicas
específicas. Os quatro princípios são:

• Perceptível: a informação e os componentes da interface do usuário têm de ser


apresentados de forma que eles possam ser percebidos por todos;

• Operável: os componentes de interface de usuário e a navegação têm de ser


operáveis de várias formas;

• Compreensível: a informação e a operação da interface de usuário têm de ser


compreensíveis;

• Robusto: o conteúdo tem de ser robusto o suficiente para poder ser interpretado de
forma clara e concisa por diversos agentes do usuário, incluindo os recursos de
TA.
Mais sobre as WCAG 2.0

• WCAG 2.0;
• Lista com todas as técnicas da WCAG 2.0;
• Especificação WAI-ARIA.

3.2. e-MAG.

Além WCAG 2.0, usadas internacionalmente, muitos países vem desenvolvendo


suas próprias recomendações de acessibilidade. O governo brasileiro desenvolveu suas
próprias diretrizes, reunidas em um documento chamado de e-MAG (Modelo de
Acessibilidade em Governo Eletrônico). Este modelo é um documento com
recomendações a serem consideradas para que o processo de acessibilidade dos sítios e
portais do governo brasileiro seja conduzido de forma padronizada e de fácil
implementação. As principais características deste modelo são:

• Pragmático (estruturado de acordo com os problemas a serem abordados);


• Dividido por áreas de atuação;
• Define padrões de funcionalidades.
O e-MAG 3.1 surgiu da parceria entre o Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão e o Projeto de Acessibilidade Virtual do IFRS (Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul). A versão 3.1 do eMAG foi desenvolvida com
base na WCAG 2.0 e em outros documentos internacionais de acessibilidade, além de
pesquisas realizadas no âmbito do projeto de acessibilidade virtual e com o auxílio de
pessoas com deficiência.

Mais sobre o e-MAG

• O e-MAG;
• Alguns resultados do e-Mag.
4. Requisitos e Preocupações Comuns.

Nesta parte do text o são listadas as recomendações gerais, que devem ser
observadas para a criação de qualquer tipo de conteúdo. A implementação destas
recomendações eventualmente evitará interpretações errôneas da informação ou uma
perda de tempo na procura de soluções para transpor dificuldades.

Título Recomendações Motivos

Largura da página. A largura da página não deve ter Linhas de texto muito extensas
mais de 80 caracteres. Por dificultam a fixação da posição no
exemplo, uma página A4, vertical texto e a passagem para a linha
com margens de 2,5 cm, tamanho seguinte por parte de pessoas
de letra 12 e tipo de letra com algumas incapacidades de
Verdana, permite leitura ou de visão.
aproximadamente 75 caracteres
por linha.

Alinhamento. Alinhado à esquerda. Texto justificado, por exemplo,


assume diferentes espaçamentos
entre palavras, dificultando a
leitura a pessoas com
dificuldades cognitivas e de baixa
visão.

Tipo de letra. Devem ser usados os tipos de As letras serifadas ou estilizadas,


letra: Verdana, Arial ou Tahoma. por exemplo, dificultam a leitura a
pessoas com baixa visão, com
dislexia ou com incapacidades
cognitivas.

Tamanho de Letra. Para corpo de texto: tamanho 12 O tamanho de letra deve estar
ou 11, de acordo com o tipo da adequado com a finalidade do
letra usada. Para apresentações: documento e/ou do espaço físico
tamanho 24 ou 22, de acordo onde é apresentado.
com o tipo da letra. Os títulos
devem ter um tamanho igual ou
superior ao corpo de texto.

Espaçamentos. Entre linhas: um espaço e meio Pessoas com incapacidades


(1,5). Entre parágrafos: no cognitivas e baixa visão têm
mínimo, 1,5 vezes maior do que o dificuldade em acompanhar texto
espaço entre linhas - acrescenta- com linhas próximas umas das
se 1 espaçamento antes e depois outras.
do parágrafo.

Estilos. Utilize estilos (Cabeçalho 1, O uso de estilos ajuda a


Cabeçalho 2, ...) para organizar a compreender a estrutura do
estrutura do conteúdo (capítulos, conteúdo e facilita a navegação
títulos, subtítulos). (permite acesso rápido a uma das
secções do documento).
Título Recomendações Motivos

Quebra de página. Inserir Quebra de Página na linha As linhas em branco são lidas por
posterior ao fim do texto e deixar TAs, como leitores de vídeo. Se
uma linha em branco antes de deixar uma linha em branco após
inserir a quebra de página. Não o fim de texto, esta torna-se útil
deve ser usado a sequencia de para perceber que o texto
linhas em branco para passar terminou. Muitas linhas em
para a página seguinte. branco seguidas dificultam a
navegação.

Idioma. Deve estar identificado o idioma A definição do idioma permite a


geral do documento e o idioma pronuncia correta no respetivo
específico no caso de existirem idioma, por TAs, como leitores de
palavras noutros idiomas. vídeo.

Fundo. Fundos simples. Não devem ser Fundos distratores ou marcas


usadas marcas d’água ou d’água dificultam a leitura e
imagens de fundo. podem alterar o sentido do texto.

Contraste. O contraste entre as cores do Contrastes muito baixos entre a


texto e fundo deve ter uma cor do texto e a cor de fundo
relação mínima de 4.5:1, sendo o dificultam a leitura e
ideal de 7:1. compreensão da informação a
pessoas com incapacidades
visuais e cognitivas.

Índice. Incluir um índice (especialmente O índice facilita a preparação da


em documentos longos) com leitura e aumenta a
hiperligações para as respetivas navegabilidade do documento.
páginas.

Hiperligações. Os textos das hiperligações A clareza e singularidade do texto


devem ser claros e únicos. Não de uma hiperligação facilitam a
deve ser usada a mesma palavra sua identificação. TAs, como
para diferentes hiperligações na leitores de vídeo, disponibilizam
mesma página (e.g.: botões como teclas de atalho para listar e
“voltar”, devem ter o texto “voltar saltar diretamente para as
à página 1”; “voltar à página hiperligações existentes no
2”, ...). conteúdo.

Destaques e referências. Devem ser usados vários meios O uso exclusivo da cor para
para [destacar, corrigir ou transmitir informações, corrigir
comentar]. Além da cor, devem texto ou utilizar como referência
ser usados colchetes [ ], não é perceptível por pessoas
sublinhado ou negrito. Deve com incapacidade visual.
indicar antes do destaque o
motivo do mesmo (e.g.
Comentário; Correção; Atenção;
Observação, etc.).

Tabelas. Devem ser usadas tabelas Algumas TAs, como leitores de


simples. vídeo, não conseguem ler
colunas múltiplas na ordem
correta nem transmitir
corretamente o conteúdo de
tabelas complexas.
Título Recomendações Motivos

Resumo de Tabelas. Anteceder tabelas com Sendo uma informação cruzada,


informações sobre a sua a pessoa cega precisa ter
organização (quantidade de informação prévia para poder
colunas/linhas), bem como o compreender a informação
resumo do seu conteúdo. constante em cada célula.

Resumo de gráficos. Anteceder gráficos com Informação sobre a estrutura e


informações sobre a sua conteúdo de gráficos pode evitar
organização e um resumo do a transposição de alguma célula,
conteúdo. além de ajudar na compreensão
do conteúdo.

Descrição de imagens. Devem ser usadas as A descrição permite que imagens


funcionalidades automáticas para sejam “vistas” por quem não vê.
colocação de legendas e As imagens contextualizadas são
descrição de imagens e outros fundamentais para alguns estilos
elementos gráficos. de aprendizagem.

Cabeçalho ou rodapé. Evita-se inserir informações Infelizmente, a maioria das TAs,


importantes no cabeçalho ou no como leitores de vídeo, ainda não
rodapé do documento. realiza a leitura de cabeçalho e
rodapé automaticamente.

Ortografia. Deve ser observada a grafia Erros ortográficos provocam


correta no documento. leitura incorreta por TAs, como
leitores de vídeo.

Numeração de Página. Sempre que possível deve-se Facilita a localização da


inserir numeração no início e no informação por parte do usuário.
final da página.
5. Criando um Documento de Texto Acessível.

Inicialmente ressalta-se que as recomendações gerais, devem ser seguidas para


criação e edição de qualquer conteúdo digital. No entanto, existem recomendações
específicas para cada tipo de documento.

É sabido que uma das aplicações mais usadas para processamento de texto é o
Microsoft Word, que disponibiliza seus documentos em formatos como DOC, DOCX, RTF
e outros. Mesmo sabendo das limitações e de algumas incompatibilidades com outros
editores, aconselha-se ouso do formato DTF, pois pode ser lido por qualquer processador
de texto. Outro formato aconselhado é o ODT, que é de código aberto. A tabela a seguir
lista as recomendações e seus respectivos elemento motivadores, para o
desenvolvimento deste tipo de documento.

Título Recomendação Motivo

Recomendações gerais. O criador ou mantenedor do A maioria das recomendações


documento deve cumprir com as gerais aplica-se a criação de
recomendações gerais deste documentos neste formato.
guia.

Hifenização. A hifenização no final das linhas As palavras hifenizadas no final


deve ser evitada, exceto quando das linhas podem causar
fizer parte da palavra. desconforto na leitura, assim
como também podem dificultar a
interpretação por TAs, como
leitores de vídeo.

Numeração automática. Não deve ser usada a Muitas das numerações geradas
funcionalidade de numeração automaticamente não são
automática para listas e outros reconhecidos pela maioria das
elementos. TAs, como leitores de vídeo.

Caixas de texto. Não devem ser usadas. Ao invés TAs, como leitores de vídeo,
disso, digita-se normalmente o ignoram caixas de texto, fazendo
texto e depois é inserida uma com que o usuário da ferramenta
borda ao redor do texto digitado. não tenha acesso ao conteúdo
inserido desta forma.

Marcadores em listas. Em listas de itens é aconselhado O uso de marcadores permite que


o uso de marcadores ou “Bullets”, leitores de tela avisem o usuário
assim como algum espaçamento quando da entrada em uma lista
e tabulação diferenciada para os de itens. Marcadores
itens. efetivamente visíveis, assim como
a tabulação diferenciada dos itens
também ajuda pessoas com baixa
visão.

Colunas. Deve ser evitada a divisão do Na navegação usando setas,


documento em colunas. muitas TAs, como leitores de
vídeo, passam apenas pela
primeira coluna de cada página.
Título Recomendação Motivo

Tabulações no início dos Defina (inicie) parágrafos, através Facilita a identificação do início
parágrafos. de tabulação. dos um parágrafos, tanto para as
TAs, como leitores de vídeo,
quanto para pessoas com baixa
visão.

Estilos. É aconselhado o uso de estilos Facilitam por agilizar a navegação


padronizados como os por TAs, como leitores de vídeo,
encontrados no MS-Word (Título assim como permitem que
1, Título 2, Corpo, ...). São usuários cegos percebam a
usados para formatar os objetos hierarquia do documento.
de texto ao invés de modificar a
formatação da fonte.
6. Criando uma Folha de Cálculo Acessível.

Em comparação ao documento de texto, a folha de calculo apresenta um mais


nível de complexidade, pois manipula lista de dados e equações matemáticas e lógicas
que irão definir de gráficos à organização dos dados, assim como de uma parte do texto
apresentado. Devido a este nível de dificuldade, as recomendações aqui apresentadas
fazem referência apenas a estrutura do documento. A tabela a seguir lista as
recomendações e seus respectivos elemento motivadores, para o desenvolvimento deste
tipo de documento.

Título Recomendação Motivo

Recomendações gerais. O criador ou mantenedor do A maioria das recomendações


documento deve cumprir com as gerais aplica-se a criação de
recomendações gerais deste documentos neste formato.
guia.

Dados em tabelas. Sempre devem ser identificados Estas informações de


os cabeçalhos de linha e coluna identificação devem ser
nas tabelas de dados. claramente destacadas de outro
texto, para permitir melhor leitura
e compreensão dos dados.

Nome das folhas. Cada folha de cálculo deve ser As folhas identificadas com os
identificada com um nome nomes pré-definidos (Folha 1,
significativo e representativo da Folha 2, ...) eventualmente
informação. podem ocasionar má
compreensão ao leitor.

Layout. Deve ser feita uma descrição As TAs, como leitores de vídeo,
Geral do layout, deixando claro a fazem leitura linear de cima para
direção do fluxo do texto (de cima baixo. Caso a estrutura do
para baixo, da esquerda para a documento estiver em um fluxo
direita, ...). diferente (p.ex. da esquerda para
a direita) o usuário necessita
desta informação para melhor
compreender o documento.

Células mescladas. Não devem ser usadas. Tabelas TAs, como leitores de vídeo,
são para dados e não para realizam a leitura de forma linear,
modificar layout. sem agrupar linhas ou colunas.

Gráficos e outras simbologias. Como qualquer elemento de Esta tarefa pode ser feita tanto no
leitura visual, estes devem ser próprio gráfico, através da
devidamente identificados e inclusão de títulos claros e
descritos (ter um equivalente concisos; assim como pela
textual). descrição textual para outros
símbolos, diagramas e imagens.
Título Recomendação Motivo

Dados visuais. Gráficos ou outros elementos Pessoas daltónicas não


visuais recorrem à cor para conseguem ver todas as cores.
mostrar informação e estas cores Além da utilização de cores
devem obedecer requisitos preparadas para alto contraste,
mínimos para inversão de cores e podem ser inseridas texturas
alto contraste. Muitos sistemas diferentes e descrição da
operacionais já implementam informação representada.
estas funcionalidades
automaticamente, bastando que o
criador do documento, ao definir
as cores, use destas ferramentas
para testar o seu documento.

Hipertexto e hiperligações. O texto de uma hiperligação deve Hiperligações com legenda do


fazer sentido fora do contexto dos tipo "voltar" ou "clique aqui" serão
dados listados. naturalmente confusas para
usuário de TAs, principalmente
quando fazem referência à
operações com dados, como
"Organizar Nomes em Ordem
Alfabética".
7. Criando Apresentação de Slides Acessível.

O PowerPoint é uma das ferramentas de apresentação mais utilizada para


materializar apresentações orais de conteúdo, mas não é a única. Observa-se que as
principais funcionalidades usadas no desenvolvimento destes recursos estão presentes
nas principais ferramentas e notadamente estão voltadas à estética do complemento
visual à exposição oral.

A manutenção da acessibilidade em um documento não implica deficiência ou falta


de estética neste, trazendo assim, um certo desafio à criatividade do autor para produzir
documentos com estética visual agradável e ao mesmo tempo com conteúdo acessível a
todos. A tabela a seguir lista as recomendações e seus respectivos elemento motivadores,
para o desenvolvimento deste tipo de documento.

Título Recomendação Motivo

Recomendações gerais. O criador ou mantenedor do A maioria das recomendações


documento deve cumprir com as gerais aplica-se a criação de
recomendações gerais deste documentos neste formato.
guia.

Títulos. Todos os slides devem ter títulos A navegação/localização se torna


claros e descritivos. fácil se todos os slides tiverem
título. Em slides com mesmo
título, deve-se recorrer a
subtítulos. Em caso de slides sem
título e com efeitos de entrada de
tópicos, o slide pode não ser lido
por TAs, como leitores de vídeo.

Notas. Use o campo de notas para TAs, permitem alternar entre a


fornecer descrições mais apresentação e as notas.
detalhadas para imagens e outros
elementos gráficos.

Tamanho da fonte e quantidade Deve ser evitado colocar muito Usuários com baixa visão
de texto. conteúdo em um único slide. Isso poderão não conseguir ampliar
é feito selecionando um tamanho suficientemente um texto
razoável para a fonte. originalmente muito pequeno.

Modelos. Devem ser usados modelos de Efeitos de animação ou


apresentação padrão e simples. elementos distratores, que
dificultem a compreensão do
conteúdo, devem ser evitados.

Fundo. Deve ser priorizado o uso de A inclusão de Imagens ou


fundo liso, monocromático e sem texturas de fundo pode dificultar a
colunas. leitura do texto ou de outros
elementos gráficos,
principalmente para indivíduos
com baixa visão.
Título Recomendação Motivo

Formas automáticas. Não devem ser usadas caixas de O texto pode até ser lido, mas
texto embutidas. não na ordem que aparece. As
caixas de texto normalmente são
lidas por último em TAs.

Ordem de tabulação. Certifica-se que esteja correta. A Se a ordem de tabulação não


ordem de tabulação representa a estiver correta, a leitura do slide
sequência em que os elementos não será realizada de forma
recebem o foco ao se navegar coerente por TAs, como leitores
usando o teclado. de vídeo.

Transição entre slides. Podem ser usadas, mas devem As transições são ignoradas por
ser evitadas. algumas TAs, assim como podem
ocasionar confusão para pessoas
com dificuldades cognitivas.
8. Criando um Documento PDF Acessível.

Mesmo não sendo de direito, mas aparentemente um documento no formato PDF é


universal de fato. Muitos são os fatores que levaram a esta conclusão, fatores estes que
passam pela independência da aplicação que criou o documento original, indo até o fato
de que o formato garante que a formatação do documento ficará intacta, não interessando
qual leitor seja usado.

Os documento neste formato também são populares por poder conter diversos
elementos, entre eles texto, imagens, links, tabelas, formulários, etc. Além dos elementos
formadores do conteúdo, um documento PDF pode conter uma estrutura representativa
do conjunto de instruções que definem a lógica que engloba todos os elementos.

A Adobe, detentora do modelo, disponibiliza ferramentas para criação de PDF


acessíveis. Desta maneira, pode-se obter um documento PDF de duas formas: i) criado-o
a partir do Adobe Acrobat ou, ii) convertendo (salvar como, Exportar ou Imprimir) a partir
da aplicação geradora do formato original do documento (MS-Word, Apple Keynote, Open
Office, ...). A tabela a seguir lista as recomendações e seus respectivos elemento
motivadores, para o desenvolvimento deste tipo de documento.

Título Recomendação Motivo

Recomendações gerais. O criador ou mantenedor do A maioria das recomendações


documento deve cumprir com as gerais aplica-se a criação de
recomendações gerais deste documentos neste formato.
guia.

Botão “Opções”. Normalmente ao gerar um PDF Estas opções eventualmente vão


surge um botão “Opções”. Clique garantir a navegabilidade no
nesse botão e ative as opções documento PDF, assim como a
semelhantes a “Incluir interpretação de informação
informações não imprimíveis”. estrutural e a descrição de
imagens e tabelas.

Quebras de páginas. Deve-se verificar se as tabelas, Se estes objetos de texto como


parágrafos e frases não ficam tabelas estiverem divididos por
divididas por quebras de página. quebras de página, estes podem
ser assumidos como duas
tabelas. O mesmo pode
acontecer com os parágrafos.

Digitalização. Arquivos ODF não devem ser Um arquivo de imagem não


criados a partir da digitalização de possibilita a interpretação do
uma imagem. conteúdo por TAs, como leitores
de vídeo.
Título Recomendação Motivo

Ordem de Leitura. Sempre que possível, uma ordem Quando esta opção é
de leitura deve ser explicitada ao selecionada, o leitor Adobe
documento. Nos leitores usar a determina a ordem de leitura de
opção ordem de leitura "Infer documentos não marcados
reading order from document". usando um método avançado de
análise de layout. Esta opção é
recomendada pois retorna
resultados mais precisos no uso
de TAs, como leitores de vídeo.
9. Criando uma Página Web Acessível.

Em primeiro lugar o desenvolvedor deve ter em mente que o mais importante para
a acessibilidade é o código HTML (HyperText Markup Language). Leitores de tela e outros
recursos de Tecnologia Assistiva interpretam o código HTML e seus elementos
semânticos.

Destaca-se que o primeiro passo para garantir acessibilidade ao conteúdo Web é


usar o código semanticamente correto, ou seja, cada elemento para o seu propósito,
seguindo-se os Padrões do W3C. A seguir a lista de recomendações para o
desenvolvimento deste tipo de documento.

Título Recomendação Motivo

Recomendações gerais. O criador ou mantenedor do A maioria das recomendações


documento deve cumprir com as gerais aplica-se a criação de
recomendações gerais deste documentos neste formato.
guia.

Títulos. Os cabeçalhos (títulos) em HTML Para quem enxerga, basta


são representados pelas tags diferenciar os títulos visualmente,
<h1> até <h6>. Assim, as tags pelo tamanho, tipo ou cor da
informam ao navegador que fonte. No entanto, para quem não
aquele elemento trata-se de um pode ver, essa diferenciação
cabeçalho (h vem do inglês visual perde seu propósito.
"header" - cabeçalho). O h1 deve
ser o título principal da página, ou
seja, deverá existir apenas um
elemento h1 em cada página. A
seguir, devem ser usados os
níveis subsequentes de título, de
maneira hierárquica, sem pular
um ou mais níveis. A
apresentação visual dos títulos
poderá ser modificada através
das folhas de estilo.

Links. Muitas pessoas usam apenas o Esse tipo de navegação é


mouse para navegar e nem especialmente importante para
imaginam que é possível navegar pessoas que não conseguem
através da tecla TAB do teclado utilizar o mouse, como é o caso
pelos elementos ativos de uma de pessoas com problemas
página. Isso inclui a navegação motores e de usuários com
de link em link. Quando o usuário deficiência visual, que navegam
chega ao link desejado, basta utilizando TAs, como leitores de
ativá-lo através da tecla ENTER. vídeo.
Título Recomendação Motivo

Sumário para conteúdos longos. Para conteúdos muito extensos, o Para quem usa o mouse para
ideal é que seja fornecido um navegar, parece uma tarefa
sumário com âncoras para as simples rolar a tela e chegar até o
seções do conteúdo. Ao final de conteúdo desejado. No entanto,
cada seção, é preciso haver um para quem utiliza o teclado ou
link que permita retornar ao outros dispositivos diferentes do
sumário. mouse, navegar por conteúdos
extensos acaba sendo uma tarefa
lenta e difícil.

Imagens. Deve ter descrição e/ou Pessoas cegas não terão acesso
contextualização. Minimizar ou ao conteúdo transmitido por uma
eliminar o uso de imagens imagem caso não tenha sido
decorativas. fornecida uma descrição para ela.
Dessa forma, é preciso descrever
de maneira apropriada todas as
imagens que transmitem
conteúdo.

Documentos para download. Assim como o conteúdo de um O ODF é um formato aberto de


site deve ser acessível, o material documento que pode ser
disponibilizado para download implementado em qualquer
também precisa ser. Um dos sistema. Atualmente existem
formatos mais acessíveis é o diversos softwares, pagos ou
próprio HTML e, por isso, sempre gratuitos, que permitem a
que possível, os documentos utilização de documentos ODF,
devem ser disponibilizados neste suportados em diversos sistemas
formato. Também podem ser operacionais. O ODF engloba
usados arquivos para download formatos como:
no formato ODF (Open Document • ODT para documentos de
Format), tomando-se os cuidados texto.
para que sejam acessíveis. Se • ODS para planilhas eletrônicas.
um arquivo for disponibilizado em • ODP para apresentações de
PDF (Portable Document Format), slides.
deverá ser fornecida uma
alternativa em HTML ou ODF. É
necessário, também, informar a
extensão e o tamanho do arquivo
no próprio texto do link.

Contraste. Além de escolher cores que Uma relação de contraste


tenham uma boa relação de adequada entre o texto e o plano
contraste, é preciso tomar de fundo é fundamental para que
cuidado com imagens utilizadas todos possam visualizar as
de plano de fundo. Um fundo informações de forma clara e sem
decorado ou em forma de figura, grandes esforços. Além disso, um
como uma paisagem, por bom contraste é essencial para
exemplo, torna o conteúdo da pessoas com baixa visão, com
página de difícil visualização, daltonismo e usuários que
além de desviar a atenção do utilizam monitores
usuário. Se possível, deve ser monocromáticos.
evitado o uso de imagens como
plano de fundo ou planos de
fundo decorados, enfeitados, com
listras, círculos, bordas, marca
d’água, entre outros.
Título Recomendação Motivo

Utilização da cor ou outros As informações não podem ser Uma pessoa com dificuldade de
elementos visuais. transmitidas unicamente por meio visualização ou daltonismo teria
de características sensoriais, tais problemas para identificar, por
como cor, forma, tamanho, exemplo, um item de uma lista de
localização visual, orientação ou produtos, "marcado em vermelho"
som. para indicar uma diferenciação
como "indisponibilidade
momentânea".

Texto. Acessibilidade também consiste Facilitar a leitura e compreensão


em garantir que um texto possa correta do conteúdo, assim como
ser facilmente lido e o acesso por TAs, como leitores
compreendido por todos. Algumas de vídeo.
técnicas que podem auxiliar neste
sentido são:
• Desenvolver apenas um tópico
por parágrafo;
• Utilizar sentenças organizadas
de modo simplificado para o
propósito do conteúdo (sujeito,
verbo e objeto,
preferencialmente);
• Dividir sentenças longas em
sentenças mais curtas;
• Evitar o uso de jargão,
expressões regionais ou
termos especializados que
possam não ser claros para
todos;
• Usar palavras comuns no lugar
de outras pouco familiares;
• Usar listas de itens ao invés de
uma longa série de palavras ou
frases separadas por vírgulas;
• Fazer referências claras a
pronomes e outras partes do
documento;
• Utilizar, preferencialmente, a
voz ativa.
Título Recomendação Motivo

Multimídia. Para vídeos que não possuem A transcrição é uma alternativa


faixa de áudio é necessário para vídeos muito importante,
fornecer alternativa em texto, ou pois possibilita o acesso a todo o
seja, disponibilizar, junto ao conteúdo de um vídeo tanto para
vídeo, um arquivo para download pessoas com deficiência visual,
ou um link para a transcrição quanto para pessoas com
textual. Para arquivos apenas de deficiência auditiva, além de
áudio, também é essencial pessoas surdas e cegas, que
fornecer um arquivo para podem acessar o conteúdo da
download ou um link para a transcrição textual através de um
alternativa textual. Caso o vídeo display Braille. Além de essencial
possua faixa de áudio, além da para pessoas com deficiência
alternativa em texto, devem ser visual e auditiva, a alternativa em
fornecidas legendas. Se texto também é importante para
necessário, podemos fornecer, usuários que não possuem
ainda, uma faixa de equipamento de som, que
audiodescrição para o vídeo. É desejam apenas realizar a leitura
importante, também, que os do material ou não dispõem de
arquivos multimídia não iniciem tempo para assistir a um arquivo
automaticamente em uma página. multimídia. As legendas são de
É necessário que sejam fundamental importância para
fornecidas ferramentas para que garantir a acessibilidade a
o usuário possa iniciar, pausar, pessoas com deficiência auditiva.
reiniciar ou parar a apresentação
desses elementos.
10. Avaliação de Acessibilidade em Documentos Digitais

O processo de avaliação de acessibilidade em documentos digitais é fundamental


para garantir o maior nível de acessibilidade a estes documentos. Para execução deste
processo existem diversas ferramentas automáticas que são muito úteis no sentido de
agilizar o processo. No entanto, apesar de muito úteis, o uso exclusivo destas ferramentas
não é capaz de detectar todos os problemas de acessibilidade em um documento. Para
uma avaliação mais completa é necessária a análise manual, onde usuários especialistas
usam de guias e listas de checagem que determinam as regras, a ordem e a forma como
cada componente de um documento digital deve ser avaliado.

Atualmente, pode-se dizer que existem diversas ferramentas "acessíveis" para


avaliação de acessibilidade. Produtos como editores de texto e navegadores Web já
contam com funcionalidades específicas para avaliação dos documentos em produção ou
já produzidos. Estas ferramentas trazem ao usuário comum a possibilidade que estes
testem e até mesmo tenham facilidade de produzir conteúdo acessível.

Com o intuito de exemplificar o processo, segue uma lista de passos para avaliar
um site Web.

• Verificar os códigos HTML e CSS quanto ao uso de diretivas acessíveis;


• Verificar o fluxo de leitura da página, usando um navegador textual ou um
aplicativo leitor de tela;

• Observar o fluxo de leitura das páginas desabilitando: estilos, scripts e imagens;


• Verificar o funcionamento correto das opções disponíveis na barra de
acessibilidade, como atalhos e contraste;

• Usar os recursos dos sistemas operacionais para verificação de contrastes e


outros recursos como "lupa";

• Executar a validação automática de acessibilidade, usando aplicativos de


avaliação e validação automáticas;

• Efetuar a validação manual, com uso de listas de checagem.


Pelo mundo todo, iniciativas governamentais relacionadas a avaliação de
acessibilidade são implementadas. Um exemplo disso é o padrão Brasileiro de
acessibilidade (e-Mag), que disponibiliza, entre outros, dois manuais de lista de
checagem, a saber:
• Checklist de Acessibilidade Manual para o Desenvolvedor;
• Checklist de Acessibilidade Manual para Deficientes Visuais.
No âmbito das iniciativas dos desenvolvedores de aplicações para Internet podem
ser destacadas as extensões de análise de acessibilidade para navegadores Web, onde
podem ser destacadas os seguintes aplicativos:

• Firefox: Accessibility Evaluation Toolbar;


• Chrome: Accessibility Developer Tools;
• Internet Explorer: Web Accessibility Toolbar for Internet Explorer.
Finalmente destaca-se que a W3C-WAI disponibiliza uma lista completa e
constantemente atualizada de ferramentas para avaliação de acessibilidade.
Conclusão

Atualmente é fundamental que a comunidade acadêmica passe a produzir


conteúdos corretamente estruturados e acessíveis, o que eventualmente irá aumentar o
nível de inclusão no processo de disseminação de conhecimento. Neste contexto, este
guia teve como foco a apresentação de recomendações dirigidas a todos que produzem e
disponibilizam conteúdos educacionais.

Outra característica deste guia é o seu caracter normativo, não pretendendo impor
qualquer tipo de procedimentos, pretendendo apenas listar recomendações e boas
práticas, assim como conscientizar quanto ao uso destas numa perspectiva operacional
aplicada aos formatos de conteúdo mais veiculados.
Documentos que Nortearam o Desenvolvimento deste Guia.

Além dos guias e documentos normativos já citados e com seus links


disponibilizados no corpo deste documentos, segue uma breve lista com mais referências
quanto ao assunto abordado.

• ADOBE. Accessing PDF Documents with Assistive Technology: A Screen Reader


User’s Guide. AFB Consulting, 2008.

• GONZÁLEZ, J.; MONTALVO, E,; LÓPEZ, E. & CABOT, A. Guide for creating
accessible digital content: Documents, presentations, videos, audios and web
pages. Publications Office of the University of Alcalá, 2015.

• RANALDI, F. & NISBET, P. Accessible Text: Guidelines for Good Practice. CALL
Scotland. The University of Edinburgh, 2010.

• SBIDM. Guia para P rodução de Conteúdos Digitais Acessíveis: Breve tutorial com
um conjunto de orientações técnicas para a produção e disponibilização de
conteúdos digitais acessíveis. Serviços de Biblioteca, informação documental e
museologia. Universidade de Aveiro, 2015.

• UNESCO. Guidelines for Inclusion: Ensuring Access to Education for All. United
Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, 2005.

Cássio D. B. Pinheiro (27/01/2017).

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