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ASPECTOS DA CIVILIZAÇÃO INCAICA

Elenyr Cavadas
Professora Silva, A.C. (orientadora)

A ORIGEM - Os Incas construíram, por volta do século XIII, um dos maiores


impérios dos povos andinos, com cerca de 4.800km de extensão, que compreendia:
o planalto e a planície costeira dos Andes, os territórios do Peru, Equador, Bolívia,
Chile, Argentina e uma pequena parte ao sul do território Colombiano.
Anterior à construção de seu Império, os Incas tiveram origem há quatorze mil
anos, se calcula; “Por muito tempo desempenharam a figura de intrusos”, diz Henri
Frave, um dos maiores estudiosos sobre o tema. Eles teriam penetrado em nosso
continente ainda nos tempos pré-históricos, através estreito de Bering, e deram
origem à dinastia do “Grande Chimu”, antecessores da civilização Inca; seu
parentesco étnico com a raça mongólica indica uma provável origem asiática
(Siegfried Huber).
Conforme estudos arqueológicos, a formação do povo andino se deu a partir de
pequenos grupos nômades que percorrendo a costa central do Peru, por volta do
ano 3.500 a.C., se fixaram junto à embocadura dos rios que desciam da Cordilheira
andina. Especialmente, as tribos dos Chilcas e dos Paracas começaram a explorar
os produtos oceânicos e a terem as suas primeiras experiências agrícolas. As
aldeias interioranas, fixadas desde o VIII milénio nas cavernas dos altos Andes, e
que já haviam domesticado a lhama, animal que lhes fornecia a carne e a lã,
iniciaram, também nessa época, a desenvolver diversos outros cultivos.
O advento da agricultura deu início a profundas transformações no modo de vida
dos grupos sociais. Destacando-se nesse período a importante difusão do cultivo do
milho, que, por sua riqueza nutricional e produtividade, tornou as atividades
características dos nômades, sendo a caça, a pesca e a coleta, menos importantes,
o que contribuiu, para o surgimento de povoados fixos, que se multiplicaram e
aumentaram suas dimensões, transformando-se, assim, em impérios. As grandes
construções, como as de templos religiosos e as pirâmides, centralizavam diversas
civilizações, que através de sacerdotes, as sociedades agrárias adquiriam uma
unidade ideológica.
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Estas antigas culturas andinas, como a de Chavín, Paracas, Huari e Tiahuanaco


entre outras, foram o alicerce do desenvolvimento do grande Império da Civilização
Incaica. As cidades de Huari e Tiahuanaco que, situadas às margens do lago
Titicaca, no Peru, difundiram uma única cultura, teriam sido, durante dois ou três
séculos, as capitais de grandes estados andinos, e precursoras dos impérios Chimu
e Inca.

A Origem Mítica - Muitas lendas são creditadas a origem da Civilização Incaica.


Elas foram contadas de geração a geração, pelos povos andinos. Porém, todas
atribuem a Manco Capac e sua esposa-irmã Mama Ocllo o nascimento dessa
grande civilização.
A lenda mais conhecida e que, até hoje, faz parte das comemorações dos povos
andinos é a que conta que o Deus Sol compadecido do abandono e a barbárie como
viviam os homens, enviou seus filhos Manco Capac e Mama Ocllo para que
fundassem um grande império, ensinando, a esse povo, todos os conhecimentos
para que eles se tornassem uma grande civilização. Manco Capac e sua esposa-
irmã saíram do lago Titicaca e seguiram em direção ao norte, como ordenara Indi, o
Deus Sol. Foram seguidos pelos povos dos lugares por onde passavam. Ao
chegarem a uma primitiva aldeia, localizada no cerro Huanacari, no vale de Cuzco,
eles foram reverenciados como filhos do Deus Sol, dado os seus conhecimentos e
habilidades, se estabeleceu no vale.

A DINASTIA INCA - A construção da cidade de Cuzco é atribuída a Manco Capac


que reinou durante um século, morrendo aos 144 anos. Tendo sido seu filho Chinca-
Roca seu primeiro sucessor. A historia incaica é organizada em torno das biografias
de 12-13 “reis incas” que herdaram o poder de pais para filhos.
A sucessão do império não passava necessariamente ao filho primogênito do
imperador, e sim, naquele que os dignitários julgassem mais capaz. Com isso, havia
uma grande disputa para assumir o império.
Segundo Siegfried, “O poder e o prestígio do soberano eram o alfa e ômega de
todas as coisas.” “O sangue sagrado que corria nas veias dos filhos do Sol não
deveria misturar-se com os dos mortais comuns”. Por isso, “O Inca devia,
obrigatoriamente, casar-se com sua irmã mais velha, para que se não deslustrasse
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o brilho divino”, preservando, assim, a pureza da dinastia, embora lhe fosse


facultativo manter várias concubinas.

O ESTADO - Os Incas construíram um governo forte e centralizado. “No início os


incas eram vistos como filhos do Sol. Mas Huaina Capac, um dos sucessores de
Manco Capac, se fez reconhecer como a própria encarnação do Sol e foi adorado
como deus vivo”, constituindo, desse modo, um Estado teocrático.
O soberano inca era assessorado por um conselho constituído de nobres,
sacerdotes e membros da família real. Os governadores de província representavam
o soberano junto às populações locais e em seu nome exerciam a justiça em todos
os assuntos que escapavam à competência dos chefes tradicionais. Eles garantiam
a manutenção da ordem inca, consolidando as influências pacificadoras e
civilizadoras que esta pretendia ter.
Com um sistema social de reciprocidade e redistribuição, os incas consolidaram
uma unificação com os antigos povos autônomos conquistados, que, gozavam de
certa liberdade, mas, tinham a obrigação de exercer um trabalho comunitário como
forma de tribiuto à religião e ao Estado. A terra era propriedade do Inca.

A POPULAÇÃO ANDINA - Formada por essa multiplicidade de pequenas


coletividades agropastoris, que constituía “a célula base da sociedade inca”. Cada
aldeia era habitada por um conjunto de famílias unidas por laços de parentesco ou
aliança, que representavam um a y l l u , membros de famílias nobres de Cuzco. Cada
unidade estava colocada sob a responsabilidade de um funcionário ou k u r a k a , de quem
dependiam os demais funcionários responsáveis pelas unidades imediatamente inferiores.
Esse chefe, geralmente o fundador do grupo, era quem distribuía as terras,
organizava os trabalhos coletivos e regulava os conflitos.
“O Império, a chefia centralizada e o a y l l u mantinham, assim, uma relação de
homologia”. (Frave, 1972).

A AGRICULTURA E A PECUÁRIA - Embora as técnicas de terraplenagem e


irrigação já fossem conhecidas e praticadas, os Incas desenvolveram essas
inovações anteriores. Tendo sido grande parte desses trabalhos de terraplenagem
agrária efetuada pelos incas.
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Construiram terraços nas encostas das montanhas essencialmente destinados a


permitir a cultura do milho. Esses terraços eram estruturas formadas por muralhas
de pedras superpostas e preenchidas com terra fétil, por vezes, trazida de muito
longe. Além do milho, os incas cultivaram também outras espécies de vegetais,
entre elas, batata, batata-doce, abóbora, algodão e a quinoa.
A atividade pastoril baseava-se na domesticação da alpaca, que lhes fornecia a
lã, e da lhama que lhes servia como animal de carga. Desses animais também
utilizavam a carne, que era cortada em fatias finas e secas ao sol; com a pele,
Confeccionavam sandálias, correias e bolsas, os ossos eram empregados na
fabricação de agulhas e diversos utensílios. E mesmo seus excrementos eram
usados em substituição à madeira, na queima, como combustível.

A RELIGIÃO E A CULTURA - Os deuses das antigas civilizações andinas eram de


concepções animistas ou simbolizavam forças naturais, como o raio, a lua, o condor,
a puma, a serpente, a raposa, entre outros. “Inti, o Deus Sol, era considerado o pai
da nobreza inca”, sendo Viracocha o Deus Supremo, o criador. Entretanto, os incas
incorporaram deuses e crenças dos povos que conquistaram como a Mama Pacha,
a terra; Mama Quilla, a Lua; Apu Illapu, senhor dos raios da chuva; Mama Cocha,
mãe do mar; entre outros.
Junto ao templo do Deus Inti, em Cuzco, ficavam as “Casas do Saber - onde os
meninos, filhos dos nobres, eram educados durante quatro anos, pelos amautas,
identificados como os sábios – e a “Casa das Escolhidas” ou “Casa das Virgens do
Sol”, onde viviam enclausuradas as meninas recrutadas, com idade entre 10 e 12
anos, para serem educadas pelas “amaconas”, e se dedicarem ao culto do Deus Inti,
ou serem escolhidas como esposas subsidiárias do Imperador ou ainda, por ele,
serem entregues a outros súditos que merecessem. Também eram destinadas aos
rituais de sacrifício humano. Quando libertas, elas se tornavam novas mamaconas.
A população recebia uma educação local e exclusivamente prática para seus
trabalhos.
Durante todo o ano eram realizadas diversas festividades. Uma de suas
principais festas era a da colheita de seus cultivos. Eram comuns as oferendas de
flores, vestes, bebidas, oferecidas aos Deuses. Entretanto, em ocasiões ou
acontecimentos especiais, praticavam grandes sacrifícios de animais ou sacrifício
humano.
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Os incas não tinham uma língua própria, e para unificar a diversidade linguística
adotaram a língua dos quéchuas, como idioma oficial em todo o seu território de
domínio. Como não conheciam a escrita, todos os feitos eram sempre cantados ou
recitados, nas celebrações, para que nunca se esquecessem, por funcionários
encarregados de guardar a memoria dos acontecimentos, e, assim, transmitindo-os
de geração a geração. Entretanto, tal memória, só constituía os feitos gloriosos.

A METALURGIA - Os Andes eram o mais importante centro metalúrgico da América


pré-colombiana. Os incas não conheciam o ferro e nem a roda. Utilizavam a pedra
para a fabricação de suas armas e ferramentas. Porém, dominavam a técnica de
obtenção do bronze e até mesmo a da platina que a Europa só chegou a conhecer
por volta de 1730. “Eram peritos na lavra de ornamentos de ouro e prata”. Os
artesões criaram peças admiráveis com esses metais, incluindo o cobre. A
fabricação dessas peças de metais conservou-se mais orientado para fins
ornamentais.

A CERÂMICA E A TECELAGEM - Também se destacam nesta civilização. As


peças de cerâmica são harmoniosas em suas proporções e frequentemente são
apenas pintadas em preto e branco sobre fundo vermelho. Na tecelagem, quase
todas as técnicas conhecidas atualmente já eram utilizadas entre os antigos
peruanos. Destacam-se pela excepcional qualidade as peças saídas das oficinas,
tais como o brocado, o bordado e a tapeçaria, decorados com motivos animais
demonstrando perfeita mestria a um gosto apurado.

OBRAS E CONSTRUÇÕES - De notáveis arquitetura e engenharia. Os incas foram


construtores de grandes de cidades. Usavam, além de tijolos secos, pedras brutas
unidas com terra que, com surpreendente técnica, erguiam paredes. Desse modo,
foram construídos os templos na cidade de Cuzco e a cidade sagrada de Machu
Pichu, descoberta somente em 1911.
A construção de uma grande rede de estradas e pontes, ligando Cuzco a cada
nova região conquistada, lhes proporcionou a eficiência administrativa, pois, tendo
distribuída em sua extensão, diversos estabelecimentos de armazenagem e serviços
de correio, possibilitavam a rapidez na comunicação e também o rápido
deslocamento de tropas por todo o território.

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